Pato Branco, 13 de fevereiro de 2015. No período de 30 de

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Pato Branco, 13 de fevereiro de 2015. No período de 30 de
Pato Branco, 13 de fevereiro de 2015.
No período de 30 de janeiro a 08 de fevereiro de 2015 foi realizado na
cidade de Lapa, no Paraná, o projeto VER-SUS.
Participei deste projeto como vivente e convivi com mais 31 pessoas
por 10 dias, fiz amigos que pretendo levar comigo e que sei que lutarão por um
Sistema de Saúde melhor!
Durante a vivência, ficamos alojados no Assentamento do Contestado
do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Por meio desta
experiência, pude desconstruir os preconceitos que eu trazia. O trabalho
coletivo, a agroecologia e a luta que estes trabalhadores traçam pela reforma
agrária, com certeza são exemplos de força e busca por uma sociedade mais
igualitária e com saúde.
No primeiro dia que chegamos ao Assentamento, houve à noite, a
abertura do projeto. Todos se apresentaram, e assim ficamos conhecendo
facilitadores e viventes, tanta gente diferente fazendo parte de um coletivo, e
buscando conhecer a realidade do SUS e os saberes populares. No fim da
abertura, os facilitadores nos explicaram como eram os horários de café da
manhã, almoço, lanches e janta do Assentamento, além de nos dividirem em
grupos responsáveis pelo preparo do café da manhã, limpeza dos banheiros e
por lavar as louças da janta. Foi uma prática muito interessante, pois fazer
parte da organização nos tirou do comodismo e facilitou muito a convivência, já
que estávamos ajudando uns aos outros nas tarefas.
Os dois dias seguintes foram uma etapa preparatória, conhecemos
nestes dias de formação, um pouco da saúde na cidade de Lapa que foi nos
mostrada pelas representantes municipais Pâmella e Amélia; a história do
assentamento com o Nei; discutimos sobre o projeto VER-SUS; falamos sobre
Saúde Pública com os professores Gustavo e Paula; assistimos o
documentário “O veneno está na mesa II” (que trata do beneficio da
agroecologia, e do quanto o agrotóxico é prejudicial a nossa saúde).
Ainda na formação, tivemos rodas de conversa sobre Privatização da
Saúde, com Bernardo Pilotto; Alteridade e Saúde, com Jefferson Cassiel; e
movimento social e movimento estudantil, com Guilherme Borgo e Isabela da
Cruz. Em seguida, fomos divididos em três grupos, onde cada grupo visitaria
alguns locais durante o dia, e a noite, nas rodas de conversa, apresentaria aos
outros grupos, o que foi visto. Estas visitas aconteceram durante cinco dias, de
02 (segunda) a 06 (sexta) de fevereiro. O grupo que fiz parte foi chamado por
nós de equipe “Semente Crioula”, visitamos durante estes dias a ESF Capão
Bonito; participamos da Reunião do Conselho Municipal de Saúde (todos os
grupos); visitamos a Unidade Mato Preto e tivemos uma roda de conversa com
faxinalenses locais; conhecemos a unidade de saúde e as práticas dos saberes
populares (bioenergia, agroecologia, ervas medicinais) do Assentamento do
Contestado; a ESF Vila São José; A Central de agendamento e SAMU;
Visitamos o Parque do Monge; Conhecemos o trabalho da Vigilância
epidemiológica; Fomos a Clínica da mulher/ Odontologia e posteriormente à
comunidade terapêutica.
Foram dias cansativos, mas a cada nova experiência, eu percebia que
valia a pena participar do projeto. Acompanhamos a ACS (Agente Comunitária
de Saúde) da ESF Capão Bonito, da ESF Vila São José e a vigilância
epidemiológica em algumas visitas às casas e fomos muito bem recebidos
(bem como em todos os lugares que visitamos), isso me deu força para lutar
por um SUS melhor para estes usuários.
Na sexta feira (06), tivemos uma roda de conversa para conhecer os
serviços de Assistência Social da rede da cidade da Lapa. Também realizamos
a devolutiva aos serviços visitados, que aconteceu no Teatro Municipal.
No sábado (07), tivemos a devolutiva às comunidades tradicionais
visitadas, que ocorreu no Assentamento. Houve uma roda de conversa para
retomar o VER-SUS, fizemos uma avaliação sobre nossa vivência (pontos
positivos e negativos) e à noite fomos para Lapa contemplar um teatro que
contava a história da cidade que estava comemorando o “Cerco da Lapa”.
Realizamos também a construção do relatório, que continuou no domingo de
manhã (08), encerrando nossas atividades no projeto VER-SUS.
Ao longo dos dias que passamos participando do projeto, encontramos
profissionais muito engajados com seu trabalho no SUS, mesmo relatando que
as dificuldades são muitas, sempre reforçavam que estavam na saúde pública
porque isso os deixava felizes, se sentiam realizados. Encontramos também
usuários do SUS que nos contaram sentirem falta de um Sistema de Saúde
que consiga atender mais pessoas, de forma mais rápida, mas que ainda
assim, consideram o SUS bom. Nos deparamos com a dificuldade de acesso
das comunidades à internet, à escola e ao transporte, e que seria ótimo se
esses problemas fossem solucionados; dificuldades também em consultas
especializadas, pois não há no município médicos especialistas para atender
todas as necessidades da população, e por isso, as pessoas tem de esperar
para conseguir atendimento em outros hospitais de cidades vizinhas;
Descobrimos comunidades que tem raízes culturais muito fortes, talvez não
muito preservadas, mas que estão presentes na construção de uma sociedade;
pessoas que utilizam ervas medicinais para ajudar na saúde; encontramos
pessoas lutam pela agroecologia, por alimentos sem agrotóxico, pois sabem
que a saúde vem da terra, do que comemos, do que bebemos e do que
respiramos.
O VER-SUS proporcionou a mim um novo olhar, uma nova opinião, um
novo caminho a seguir. Vi o quanto é importante cuidar da nossa saúde com
alimentos saudáveis, o quanto um chá pode ajudar ao invés de um remédio,
construí um novo conceito de coletividade, por meio da convivência com os
outros participantes, com o MST e comunidades em geral, e sei que a partir de
agora, eu como futura profissional, encontrarei muitas dificuldades para chegar
a uma saúde de qualidade, mas que com a ajuda de pessoas que buscam o
mesmo, podemos mudar nossa realidade. Além disso, o projeto contribuiu para
que eu saísse do comodismo, e pudesse dar valor a cada coisa boa que
acontece em minha vida e a cada conquista alcançada.
Quero agradecer a oportunidade de participar do VER-SUS, agradecer
a todos os viventes e facilitadores que foram ótimos companheiros e amigos
neste projeto, a cada pessoa que conheci e me mostrou uma perspectiva
diferente de viver, a cada mística e reflexão realizada em grupo... Foi
incrível!
Comprometo-me a estimular mais pessoas para participar desta experiência
rica e para se envolver na luta pela saúde pública melhor!
Versusian@ que luta, valoriza o saber popular!
Camila Trombetta.