Vivências acadêmicas interdisciplinares - SIIEPE

Transcrição

Vivências acadêmicas interdisciplinares - SIIEPE
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
Vivências acadêmicas interdisciplinares: experiências proporcionadas pelo PETSaúde da Família
Ivonete Teresinha Schülter Buss Heidemann
Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]
Lara Vandresen
Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]
Heloisa Del Castanhel Ubaldo
Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]
Renata Pires Bazzo
Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]
Eixo temático: Conhecimento Interdisciplinar
1. Introdução
O conceito de interdisciplinaridade surgiu no ínicio de século XX e se fortaleceu na década de 60,
como necessidade de transcender e atravessar o conhecimento fragmentado, embora sempre tenha existido,
em maior ou menor medida, certa aspiração à unidade do saber (MINAYO 2004; MENDES 2007).
No Brasil, a primeira tentativa de estruturação da atenção primária foi a partir do Programa de Ações
Integradas de Saúde (AIS), no ano de 1982 (ALEIXO, 2002). Seguiu posteriormente a proposta do Sistema
Único Descentralizado de Saúde (SUDS), tendo como resultado desta caminhada a implantação do Sistema
Único de Saúde (SUS), fruto do Movimento da Reforma Sanitária e formalmente instituído pela
Constituição Brasileira de 1988 (ALEIXO, 2002; BRASIL 1988).
A partir 1994, a criação do Programa de Saúde da Família (PSF) passou a se configurar como uma
proposta de assistência com enorme potencial para estruturar a Atenção Primária à Saúde (APS) em nosso
país (ALEIXO, 2002).
O trabalho interdisciplinar ficou mais evidente a partir desse momento, refletindo a procura por uma
nova concepção da APS com a redefinição do processo de trabalho, baseado em articulação e integração dos
profissionais de saúde, pressupondo o trabalho interdisciplinar (SCHERER, 2009).
Essa nova concepção de prática em saúde pautada na interdisciplinaridade acaba sendo introjetada,
em 2001, na formação dos novos profissionais, por meio da elaboração das Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN) (BRASIL, 2001). As DCN propunham uma quebra do modelo curricular tradicional em
detrimento de uma sólida formação básica, com preparo para os desafios das rápidas transformações da
sociedade, do mercado de trabalho e das condições de exercício profissional (BAZZO, 2012).
1
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
A graduação passa, então, a ser pensada de modo a integrar a escola aos serviços públicos, com
intuito de proporcionar e fomentar uma formação com responsabilidade social, compromisso e aptidão a
atender às necessidades concretas da população, buscar a produção de conhecimento e atendimento de
qualidade aos pacientes, tudo pautado na interdisciplinaridade das ações (CECCIM, 2004).
Em 2006, houve a reestruturação do PSF em Estratégia de Saúde da Família (ESF), no sentido de
garantir a reformulação do modelo de atenção à saúde, com o fortalecimento do trabalho interdisciplinar
(BRASIL, 2006).
O Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde (PET-Saúde), de 2009, corrobora com as novas
DCN e proporciona na graduação a oportunidade do trabalho interdisciplinar. O PET-Saúde foi estruturado
pelos Ministérios da Saúde e da Educação e é regulamentado pela Portaria Interministerial nº 1.802, de 26 de
agosto de 2008 e disponibiliza bolsas para tutores, preceptores e estudantes de graduação da área da saúde
(BRASIL, 2008).
Esse programa vem ao encontro da tentativa de recaracterizar o serviço de saúde na APS, com a
abordagem acadêmica reformulada a partir das DCN, por fim aproximando-se do novo modo de pensar
saúde. Isso se reflete através das ações estratégicas implementadas no país, tais como o Pró-Saúde I e II, o
Unasus e o PET-Saúde, com a finalidade de transformar os processos formativos, as práticas de saúde e as
práticas pedagógicas. Essas ações implicam em um trabalho articulado interinstitucional (em suas várias
esferas de gestão), fortalecendo a formação e o desenvolvimento do SUS por meio da construção da
educação permanente em saúde (BRASIL, 2009).
Nesse contexto, a Universidade Federal de Santa Catarina, no ano de 2010, iniciou um trabalho de
parceria com o município de Curitibanos – SC, selecionando acadêmicos das áreas de Enfermagem,
Medicina e Odontologia para realização de atividades teórico-práticas no âmbito da Saúde da Família. A
proposta era proporcionar uma vivência de situações distintas daquelas realizadas contidianamente na
capital.
Para Wosny et al (2010), UFSC e a Secretaria Municipal de Saúde de Curitibanos – SC
encontravam-se inseridas nesse processo de recaracterização do serviço de saúde na APS e essa parceria
buscou viabilizar experiências inovadoras no processo ensino-aprendizagem, tanto no âmbito do ensino
quanto no do serviço. Além disso, com esse programa foi possível expandir e fortalecer tal parceria,
desenvolvendo atividades conjuntas com padrões de qualidade de excelência, mediante grupos de
aprendizagem tutorial de natureza coletiva e interdisciplinar, definindo estratégias de atuação de acordo com
as necessidades do Sistema Único de Saúde – SUS.
2
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
2. Objetivo
O objetivo deste trabalho é compreender as práticas interdisciplinares de acadêmicos de cursos da
área da saúde no âmbito da ESF, vivenciadas por ocasião do PET-Saúde em Curitibanos-SC, e identificar o
impacto das atividades desenvolvidas para uma prática mais integral e humanizada, pautada pela
interdisciplinaridade, no âmbito do SUS.
3. Procedimentos Metodológicos
No período entre abril de 2010 e março de 2012, doze acadêmicos de Enfermagem, Medicina e
Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina - Campus Florianópolis, atuaram em Curitibanos SC, no PET-Saúde. A atuação dos acadêmicos foi voltada á práticas interdisciplinares, mas também, pautada
na lógica do ensino, pesquisa e extensão.
Sob o referencial Freireano, conhecido como Itinerário de Pesquisa (Freire, 1992) realizado em três
momentos: Investigação temática, Codificação e descodificação; e desvelamento crítico, respeitando os
princípios da dialética e da interdisciplinaridade, foram desenvolvidos dois Círculos de Cultura nas
Unidades Locais de Saúde (ULS). O Círculo de Cultura representa um espaço dinâmico de aprendizagem e
troca de conhecimentos, onde os sujeitos se reúnem no processo de educação para investigar temas de
interesse do próprio grupo. Ele leva à reflexão da realidade e da conjuntura para, na seqüência, decodificá-la
e reconhecê-la (Freire, 1992).
Além disso, com base na inter-relação do sistema de cuidado á saúde como um sistema cultural e
com a literatura de educação em saúde de Briceño-León (1996), os estudantes vivenciaram ações
interdisciplinares nas áreas de abrangência destas ULS.
No primeiro ano buscou-se conhecer a população, por meio de territorialização e de visitas
domiciliares, em conjunto com Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) e preceptores que atuavam nas ULS
do município, profissionais das áreas de enfermagem, medicina e odontologia, a fim de conhecer e integrar a
equipe do PET- Saúde à comunidade. Também foram promovidas campanhas de vacinação e realização de
grupos de gestantes e atividades de promoção da saúde.
No segundo ano, intensificaram-se as atividades assistenciais nas ULS, com realização de
interconsultas e procedimentos. Realizaram-se ainda dois Círculos de Cultura abordando o conceito saúdedoença da comunidade da ULS São José, do qual participaram profissionais de saúde, estudantes e
professores vinculados ao PET-SF e usuários da ULS.
A atividade dos Círculos de Cultura foi realizada em dois momentos.
3
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
Na primeira reunião, após um momento de formação de um círculo e apresentação de todos os
participantes, o grupo foi dividido em três para a realização da primeira fase, de Investigação, na qual ocorre
a busca dos temas geradores vividos pelo educando na sociedade, no seu meio cultural. É a descoberta do
universo vocabular, investigação dos principais temas, assuntos da realidade extraídos do cotidiano das
pessoas participantes dos círculos de cultura (HEIDEMANN, 2006). Utilizando cartolinas e revistas com
imagens, cada equipe produziu cartazes, de modo a reproduzir o que os sujeitos consideram que é Saúde,
bem como as estratégias utilizadas para se manterem saudáveis. Conforme os participantes selecionavam
imagens, os estudantes indagavam o motivo daquela escolha, de forma a encontrar uma palavra que a
representasse, a qual era escrita no cartaz sobre a imagem.
Na segunda etapa, os temas geradores são codificados e decodificados através do diálogo e vão
tomando consciência do mundo em que vivem. Os temas são problematizados, contextualizados,
substituídos em sua primeira visão mágica, por uma visão crítica e social do assunto discutido. (FREIRE,
1996). Neste momento, houve a formação do grande círculo para leitura dos cartazes construídos, reflexão
sobre os temas geradores e distribuição destes em novos cartazes intitulados Pontos Positivos e Pontos
Negativos da Comunidade São José.
Numa segunda reunião, a partir dos temas geradores já resumidos e divididos em positivos e
negativos, realizou-se o Desvelamento Crítico, fase que representa a tomada de consciência da situação
existencial e descobrem-se os limites e as possibilidades. Ocorre o processo de ação-reflexão-ação que
capacita as pessoas a aprender e evidencia-se a necessidade de uma ação concreta, cultural, política e social
visando ‘situações lim limites’ e superação das contradições (FREIRE, 1992). Aqui os sujeitos da pesquisa
discutiram como fortalecer os pontos positivos e melhorar os pontos negativos da saúde na comunidade
onde vivem.
Os aspectos legais e éticos que envolvem pesquisas com seres humanos foram respeitados, conforme
a Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Foi assinado o termo de consentimento livre e
esclarecido pelos responsáveis legais dos participantes dos Círculos de Cultura e não foram mencionados
nomes. O projeto foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina,
sob o protocolo 262/09 FR-277298.
4. Justificativa do Eixo
A escolha do eixo se fez a partir das vivências interdisciplinares de acadêmicos dos cursos da área da
saúde no âmbito do PET-SF.
4
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
O foco dos trabalhos foi o fortalecimento da APS, no cenário de ensino e prática do SUS, como
estímulo à formação de profissionais socialmente referenciados às necessidades e às políticas públicas de
saúde do país e a contribuicao para a melhoria da qualidade de vida da população.
5. Resultados e Discussão
Todas as atividades sejam entre os estudantes, entre estes e seus preceptores ou com a comunidade,
foram pautadas pelo conhecimento da segunda tese sobre a educação em saúde: “Não há um que sabe e
outro que não sabe, mas dois que sabem coisas distintas”, de Briceño-León (1996). Isso implica o
compartilhamento do saber entre as diferentes áreas profissionais em saúde e também entre os
conhecimentos acadêmicos e populares sobre o assunto, e de fato constitui um desafio a ser vivenciado e
superado.
No primeiro ano, por meio das atividades de territorialização, visitas domiciliares, desenvolvimento
de campanhas e de grupos, realização de oficinas sobre Higiene Corporal, Saúde Bucal e Adolescência e
Puberdade na escola local, foi possível conhecer e estabelecer um vínculo com a comunidade e com os
profissionais das ULS onde estavam inseridos – Cohab II e São José.
Para Briceño-León (1996), somente conhecendo os indivíduos e sua conjuntura “é possível realizar
uma ação eficiente e permanente em saúde” (Briceño-León, 1996). Isso engloba compreender suas crenças,
seus hábitos, as atividades realizadas em cada idade e em cada gênero.
A criação do vínculo entre os integrantes da equipe de Saúde de Família é fundamental para a
compreensão dos papéis de cada profissional, no sentido de oferecer o melhor atendimento aos usuários,
pautado pela interdisciplinaridade das ações. O vínculo estabelecido entre profissionais e comunidade é
igualmente fundamental, no sentido de que se percebam as necessidades e se criem estratégias para que o
atendimento seja cada vez mais efetivo.
A partir das ações realizadas ao longo de dois anos, foi possível conhecer o perfil populacional e
obter valiosas informações sobre seus hábitos, organização social e a maneira como o processo saúdedoença era estabelecido, identificando as potencialidades e os principais agravos à saúde da população,
concluindo a etapa de Desvelamento crítico. Conhecendo integralmente uma comunidade, torna-se possível
realizar ações de Promoção de Saúde e prevenção de agravos, abarcando a complexidade da construção da
saúde a partir da determinação social.
Do total de 236 pessoas, usuários cadastrados no centro de saúde São José, 55 aceitaram participar
dos Círculos de Cultura ao final do segundo ano de atividades do PET-Saúde Curitibanos 34 estiveram
presentes na primeira etapa e 21 estiveram presentes na segunda etapa. Além destes participantes, havia três
5
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
ACS, uma enfermeira e um dentista, preceptores do PET-Saúde, dois professores e cinco estudantes de
enfermagem, medicina e odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina.
A percepção do processo saúde-doença dos usuários do SUS em uma Unidade de saúde de
Curitibanos se traduz de forma qualitativa nas falas dos moradores dessa comunidade. Na dinâmica do
Círculo de Cultura, os participantes se tornam empoderados a colocar aquilo que pensam e perceber que o
seu ponto e vista é válido e reflete o pensamento dos demais, ou, mesmo que não haja concordância, existe
um espaço para se reconstruir o pensamento. Nessa perspectiva, a dinâmica de cartazes permitiu que os
participantes encontrassem imagens que representavam saúde sob o seu ponto de vista. Foram elaborados
três cartazes representativos, e com auxílio dos estudantes as imagens foram nomeadas. Em seguida, cada
grupo escolheu um representante que apresentou as ideias para os demais presentes.
A saúde foi abordada nos seus mais diferentes aspectos. Para um dos usuários, saúde é ter acesso a
um hospital que tenha estrutura para atender à população. Mas a empatia e eficiência dos profissionais
também contam. Ele disse: “Saúde é você chegar em um Hospital como os lá de Florianópolis e ser bem
atendido, ter amizade com os profissionais”. Já para uma usuária, “saúde é ter uma boa alimentação e ter a
família unida.”
Outra usuária disse que “praticar atividades físicas é a maneira de se manter com saúde”. Outra
participante mencionou que ter saúde é “ter bons pensamentos, viver em harmonia, em paz, compartilhar as
alegrias...quem faz a felicidade somos nós!”.
Foi levantada a importância de se ter lazer, passear, viajar e socializar-se. A questão do sono,
também: “dormir bem é preciso para manter-se saudável”, disse um participante da comunidade. Foi dito
também que “ser saudável é trabalhar; quando você trabalha mantém o corpo e a mente ativa e pode ser
independente”, e que “manter o ambiente em que vivemos limpo é importante para a nossa saúde”.
Para uma usuária, saúde é “Estar sem dor, e também ter acesso aos medicamentos”. Por outro lado,
também mencionou-se que “remédio não é só medicamento, amigo é remédio, ajuda é remédio, uma
palavra, a família...”.
Outro ponto abordado foi adotar uma alimentação saudável, consumindo frutas e legumes, verduras,
arnes grelhadas e evitar frituras. Uma pessoa sugeriu que “deveríamos ter uma horta para cultivar vegetais
para consumo sem utilizar agrotóxicos”.
Aproximando a questão religiosa, outra usuária disse: “Para se ter saúde é necessário ter fé e união”.
Ressaltou-se ainda a importância de se viver em harmonia com a natureza e com os animais; foi dito: “Ter
bichinhos de estimação pode prevenir a depressão”. Também apareceu a importância do cuidado com o
6
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
corpo, com higiene pessoal e uso do bloqueador solar na pele, e a necessidade de ter acesso a consultas com
o Dentista e com o Médico na Unidade de Saúde.
Por fim, foi mencionada a importância da família: “Amar e ser amada é importante para a saúde,
dizer 'Eu te amo' faz bem” e surgiram novas questões como a insegurança social. “Viver com medo de
assalto/ roubo não é saudável. É preciso ter uma boa casa para morar, com boas condições de saneamento e
com segurança.” E ainda foi levantado o aspecto de atividades físicas: “Ter saúde é brincar, é praticar
esportes. O campo de futebol do bairro não tem banheiros, vestiários, arquibancada...falta estrutura.”.
Também foi dito que ter bons professores e uma boa merenda na escola é importante e que as crianças estão
bem atendidas nesses aspectos ali na Comunidade.
Constata-se que por meio das respostas dos integrantes do grupo, que o conceito de saúde é uma
variável subjetiva que sofre influência da cultura, crenças, valores do individuo. O ser saudável versus o ser
doente faz parte do imaginário coletivo e se reestrutura com o passar dos tempos, assim como se entrelaçam
com os conceitos de qualidade de vida.
Para Fleck (2008), ainda que saúde e qualidade de vida tenham sido analisadas como
sinônimos, é pertinente ressaltar que a saúde é um domínio da qualidade de vida. Assim, a saúde está
associada à qualidade de vida, havendo diversos pontos de intersecção entre ambas. No entanto, o conceito
de qualidade de vida transcende a sinonímia de Saúde.
“Aspectos como o ambiente, a segurança, a moradia, a renda e a liberdade são amplamente
valorizados no que diz respeito à existência humana, e, entretanto, não são definidos como estado
de saúde. Ainda que tais indicadores possam afetar a saúde, a avaliação do estado de saúde não
inclui estes” (PATRICK, 2008).
Na etapa de Codificação e descodificação, reduziram-se os temas levantados pelo grupo a itens
chamados Pontos Positivos e Pontos Negativos da Comunidade. Como pontos positivos foram destacados o
trabalho de um profissional de odontologia que desenvolve um ótimo trabalho na Comunidade, mas foi
realocado; a Escola da Comunidade; o atendimento dos funcionários da Unidade de Saúde São José e a
estrutura física da Unidade de Saúde. Os pontos negativos foram: o esgoto a céu aberto; a ESF incompleta
na Unidade de Saúde São José; ausência de um local de lazer no bairro; falta de acesso aos serviços de saúde
e falta de profissionais; o horário de marcação de consultas muito restrito; a presença de muitos cachorros de
rua; a divisão social pela política e falta de organização social; o abandono do bairro, lembrado apenas em
período eleitoral pelos governantes ou candidatos do município.
No segundo Círculo de Cultura, foram recuperados estes pontos positivos e negativos da
Comunidade e o diálogo proporcionado pelos dois momentos nos Círculos gerou na população adscrita à
ULS a necessidade da criação de um Conselho Local de Saúde, com o fim de organizar e ir em busca das
7
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
referidas necessidades daquela população. Esse momento constribuiu para a sedimentação do Controle
Social, um dos princípios doutrinários do SUS, assegurado pela Constituição e pelas Leis Orgânicas da
Saúde (8.080/90 e 8.142/90). O Controle Social no SUS é um dos principais instrumentos para a promoção
da democratização da saúde, permitindo a participação efetiva da sociedade brasileira na busca da garantia
dos seus direitos (BRASIL, 2006).
6) Considerações Finais
As ações conjuntas e articuladas facilitaram o processo de integração ensino-serviço-comunidade na
prática interdisciplinar, com o compartilhamento de saberes, discussão de casos e integração entre as equipes
médica, de enfermagem e de odontologia.
O trabalho interdisciplinar realizado durante a graduação contribui para uma redefinição dos rumos a
serem tomados em relação à formação, à pesquisa e aos currículos dos cursos da saúde, visando a troca de
conhecimentos, técnicas e práticas que levem a um novo paradigma ético do trabalho em saúde.
Ao consideramos as acepções de promoção da saúde desenvolvida pela carta de Ottawa (1986), que
nos traz o processo continuo de empoderamento, compreendemos as definições de saúde da comunidade e
pensamos em melhorias na qualidade de vida.
Levando em conta as diretrizes e objetivos da Política Nacional de Promoção da Saúde que visam o
fortalecimento de ações que promovam a ampliação do conceito de saúde, concluímos que o trabalho
realizado pelo grupo PET-Saúde vai ao encontro a essa política ao buscar que a comunidade reflita sobre o
estilo de vida e seus determinantes para a saúde.
Ao realizar os círculos de cultura foi possível identificar como a saúde é compreendida pelos
moradores do bairro e a partir dessa compreensão começou-se a trabalhar o conceito de promoção da saúde
de forma mais aprofundada, considerando os determinantes de saúde-doença intimamente relacionados com
os estilos de vida dos indivíduos, do grupo em questão e de maneira mais ampla, da sociedade a qual
pertencem. Dessa maneira, entende-se que estamos em construção de novo fazer e entender saúde onde o
modelo biomédico, preventista e de saúde como ausência de doença são substituídos por uma concepção
ampliada de saúde que favoreça a sua promoção, por meio do trabalho interdisciplinar em saúde.
A experiência do trabalho realizado pelos estudantes do PET-Saúde trouxe a oportunidade de
protagonizar o processo de implementação do SUS, aproximar-se da população usuária deste Sistema e
reconhecer suas potencialidades e suas necessidades, bem como ter mais clareza dos desafios de se construir
um sistema de saúde público, gratuito e de qualidade. A prática do trabalho interdisciplinar faz parte desse
8
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
desafio e envolve a ruptura de uma persistente estrutura fragmentada da formação e a inclusão de fatores
essenciais como a integralidade e a humanização.
7. Referências
ALEIXO, José Lucas Magalhães. Atenção Primária à Saúde e o Programa de Saúde da Família: perspectiva
de desenvolvimento no início do terceiro milênio. Rev Mineira Saúde Pública 2002; 1(1): 1-16.
BAZZO, Roberta Pires. Interdisciplinaridade no ensino de graduação na área da saúde: percepção dos
estudantes. Trabalho de conclusão de curso – Universidade Federal de Santa Catarina, 2012.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
BRASIL. Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, a proteção
e a recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 20 set. 1990.
BRASIL. Lei no 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão
do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na
área da saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 31 dez.
1990.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de
Gestão da Educação em Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde / Ministério da Saúde,
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação em Saúde.
– Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 64 p.
BRASIL. Ministério Da Saúde. Secretaria De Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da
família no Brasil: uma análise de indicadores selecionados : 1998-2004. Brasília : Ministério da Saúde,
2006. 200 p.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Diretrizes nacionais para o
processo de educação permanente no controle social do SUS. Brasília: Editora do Ministério da Saúde,
2006. 40 p.
BRASIL. Ministério da Educação. CNE Conselho Nacional de Educação, Parecer nº CNE/CES 1300/01, de
06/11/2001 Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Farmácia e Odontologia. Diário
Oficial da União, Brasília 07/12/2001. Seção 1.
BRASIL. Portaria Interministerial nº 1.802, de 26 de agosto de 2008. Institui o Programa de Educação pelo
Trabalho para a Saúde – PET-Saúde. Brasília; 2008.
Briceño-Léon R.Tesis sobre la Educación Sanitaria para la Participación Comunitaria. Rio de Janeiro: Cad
de Saúde Pública, Rio de Janeiro 1996.
9
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
CECCIM, Ricardo Burg; FEUERWERKER, Laura Macruz. Mudança na graduação das profissões de saúde
sob o eixo da integralidade. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(5):1400-1410, set-out, 2004.
FLECK, Marcelo Pio de Almeida et al. A Avaliação de Qualidade de Vida: Guia para Profissionais da
Saúde. 1a. ed. Porto Alegre: Artmed, p. 28, 2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
HEIDEMANN, Ivonete T. S. Buss et al. Promoção à saúde: trajetória histórica de suas concepções. Texto
contexto - enferm. [online]. Vol.15, n.2, pp. 352-358, 2006.
MINAYO, Maria Cecilia de Souza . O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8a. ed. São
Paulo; Hucitec, 2004. 269p
MENDES, Eugênio Vilaça. Revisão Bibliográfica sobre Redes de Atenção à Saúde. Belo Horizonte, 2007.
Disponível em: http://new.paho.org/bra/apsredes. Acesso em 08/09/2013.
NUNES, Emília. Celebração do 25.º Aniversário da Carta de Ottawa. Rev. Port. Sau. Pub. [online]. Vol.29,
n.2, pp. 200-202, 2011.
PATRICK, D.L. A qualidade de vida pode ser medida? Como? In: FLECK, MPA et al. A avaliação de
qualidade de vida guia para os profissionais da saúde. Porto Alegre: Artmed, 2008. p 29-39.
SCHERER, Magda Duarte dos Anjos; PIRES, Denise; SCHWARTZ, Yves. Trabalho coletivo: um desafio
para a gestão em saúde. Rev. Saúde Pública [online]. Vol.43, n.4, pp. 721-725, 2009.
Wosny, Antônio de Miranda; Heidemann, Ivonete Teresinha Schülter Buss; cartana, Maria do Horto
Fontoura (org.). Projeto de pesquisa PET-saúde UFSC e secretaria municipal de saúde de
Curitibanos. Florianópolis: UFSC, 2010.
WHO. The Ottawa Charter for Health Promotion. Ottawa: Canadian Public Health Association, 1986.
10

Documentos relacionados