Proposta de implementação de um programa de marketing direto
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Proposta de implementação de um programa de marketing direto
Proposta de implementação de um programa de marketing direto em empresa de vinhos e espumantes Claiton Araujo Viana1 Resumo Este artigo apresenta um estudo que propõe a implementação de um programa de marketing direto na empresa di Vino, situada na cidade de Porto Alegre, atuante no comércio de bebidas, especificamente de vinhos e espumantes, com o objetivo de criar uma vantagem competitiva para a empresa perante seu mercado de atuação de varejo, direcionado ao consumidor final dos produtos. O ponto de partida está baseado em uma pesquisa bibliográfica sobre o assunto marketing direto, com a identificação de seus principais conceitos e, em um segundo momento, será abordada uma pesquisa de marketing, com a escolha da estratégia de estudo de caso, possibilitando a utilização de métodos mistos para a coleta de dados, para posterior análise de dados secundários e primários, iniciando com uma avaliação do banco de dados atual da empresa e encerrando com aplicação de survey, para investigação de perfis demográficos e comportamentais. São abordadas ferramentas de marketing que possibilitam a visualização da situação atual da empresa e a projeção de uma nova situação após a implantação do programa de marketing direto. A sugestão de melhorias e propostas de ação possui fundamento na pesquisa realizada junto aos clientes, buscando a identificação do perfil demográfico e comportamental, a percepção quanto à concorrência e o nível de satisfação com a empresa. Palavras-chave: Marketing direto. Pesquisa de marketing. Ferramentas de marketing. A proposal of implementation of a program of direct marketing in a wine and sparkling wines company Abstract This article presents a study which proposes the implementation of a direct marketing program in the company di Vino, located in Porto Alegre, and focused on the commerce of beverages, especially wine and sparkling wine. The objective of this direct marketing program is to create a competitive advantage to the company in the beverage retail market aiming at final consumers. The starting point is a bibliographical research on direct marketing and the identification of its basic concepts. The marketing research presented here is based on a case study which was carried out with different methods for data collection for later analysis of secondary and primary data, starting with an assessment of the current database of the company and finalizing with the implementation of a survey to investigate demographic and behavioral profiles. It covers marketing tools, enabling an understanding of the current situation of the company and the projection of a new 1 Graduando em Administração de Empresas pela Faculdade Porto-Alegrense – FAPA. E-mail: [email protected]. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 75 Claiton Araujo Viana situation after the implementation of the direct marketing program. The improvements and proposals suggested are based on research carried out with customers, seeking to identify the demographic and behavioral profile, the perception regarding competitors and the level of satisfaction with the company. Keywords: Direct marketing. Marketing research. Marketing tools. Introdução Atualmente, devido à alta competitividade de mercado, é imprescindível que as empresas busquem estratégias e práticas que não só auxiliem no aumento de receita. O foco principal não deve deter-se ao simples vender mais, e, sim, ao maior entendimento do principal elemento no ambiente da empresa: o cliente. É de vital importância o estudo de suas necessidades, de como atendê-las e também de como deve ser realizada a comunicação empresa-cliente, não visando somente à prospecção de novos consumidores, mas também à manutenção e à fidelização da carteira atual. Independentemente do segmento de negócios, da área de atuação (seja de produtos ou serviços) ou do porte (seja uma microempresa familiar ou uma multinacional com seu conselho de administração, com uma estratégia elaborada e atenta ao cliente), o simples vender mais se torna um resultado e uma consequência de uma abordagem eficaz de marketing. Este artigo visa a utilizar os conceitos e as estratégias do marketing direto na empresa di Vino, atuante no mercado de atacado e varejo de vinhos, espumantes, destilados, sucos, geleias, temperos, antepastos/ conservas e queijos, em Porto Alegre. A empresa di Vino foi fundada em 1998, porém seus proprietários atuavam desde 1983 como representantes comerciais da Vinícola Casa Valduga. O início da nova atividade propiciou dois novos canais de venda, somados à representação comercial: a atividade de distribuidor (para atendimentos de pequenos pedidos para empresas revendas) e a atividade de venda ao varejo. Destacam-se, dentro de sua carteira de clientes: bares, restaurantes, cafés, hotéis, motéis, distribuidores de bebidas, lojas especializadas, organizadores de eventos, empresas de cestas e presentes, floriculturas e delicatessens, denominados como “revenda”, situados em Porto Alegre, na Região Metropolitana e no litoral, e também seus clientes de varejo: o consumidor final, que, em 90% das ocorrências, possui domicílio comercial ou residencial na capital gaúcha. 76 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Proposta de implementação de um programa de marketing direto... Com a expertise adquirida durante os 12 anos de atuação, aliada à experiência de seus empreendedores, atuantes no segmento desde o início da década de 1980 junto às perspectivas favoráveis do setor, a di Vino pôde ambicionar a fuga dessa zona de conforto atual, buscando crescimento e expansão de suas atividades com planejamento e atenuando eventuais riscos que possam lhe afetar, otimizando o banco de dados de sua carteira de clientes. A questão principal de pesquisa desse estudo é como aplicar as técnicas de marketing direto para gerar uma vantagem competitiva e impulsionar os resultados da empresa di Vino, em seu mercado de atuação de varejo, ou seja, direcionado ao consumidor final, observando a adequação e a formatação dessa área do conhecimento de acordo com o porte e a capacidade de investimento da organização, buscando a comprovação de que a utilização das técnicas em estudo auxilia e oportuniza uma diferenciação no mercado. Dessa forma, o objetivo geral do artigo é a proposta de implementação de um programa de marketing direto na empresa di Vino, a ser atingido por meios dos seguintes objetivos específicos: a) Analisar a viabilidade e propor a implementação de uma base de dados para apoiar o programa de marketing direto. b) Investigar o perfil, a percepção e os dados comportamentais relativos à base atual de consumidores. c) Definir um conjunto de estratégias e ações de marketing para captação e relacionamento com clientes. d) Desenvolver uma sistemática de acompanhamento e mensuração das ações de marketing direto. A escolha pela estratégia de estudo de caso possibilitou a utilização de métodos mistos para a coleta de dados para posterior análise de dados secundários e primários. Inicia-se com uma avaliação do banco de dados atual da empresa e encerra-se com a aplicação da survey, para investigação de perfis demográficos e comportamentais. Um aspecto curioso sobre o marketing direto é a produção de poucos trabalhos acadêmicos dedicados exclusivamente ao assunto, pois, em geral, o tema é abordado simplesmente como mais uma ferramenta do marketing. Em contrapartida, segundo a Associação Brasileira de Marketing Direto (ABEMD), o mercado brasileiro de prestação de serviços de marketing direto foi estimado em R$ 19,5 bilhões no ano de 2008. Em vista disso, esse estudo também possui intenção de estimular novos trabalhos acadêmicos relacionados de forma exclusiva a esse assunto. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 77 Claiton Araujo Viana Primeiramente, será feita uma revisão teórica sobre o marketing direto. Em seguida, se demonstrará e se justificará a metodologia de pesquisa utilizada. Em um terceiro momento, serão apresentados e analisados os resultados, base para sugestão de melhorias e projeções de resultados. 1 Revisão teórica O fato de o marketing direto estar ligado à promoção de vendas fez com que recebesse a seguinte definição de Gosden (1991): conjunto abrangente que compreende a mala direta, o marketing telefônico ou telemarketing e a venda pelo correio. Para Bird (2000), o marketing direto pode ser definido como alguma atividade promocional que crie e utilize um relacionamento direto entre a organização e seu cliente como indivíduo. Amplamente difundido por Kotler, em seus livros, como sendo uma modalidade integrante do “P” da promoção, no composto de marketing, essa ideia sofre a contestação de Madruga (2006), que considera equivocada essa representação, pois, quando foi elaborado o conceito de “4 Ps”, o marketing direto não era considerado uma modalidade de marketing mais individualizada. Segundo o autor, a revolução do marketing direto possibilitou um marco, criando até um paradigma, no marketing moderno, diferenciando o marketing baseado na transação daquele baseado em relacionamento. A definição do instituto Direct Marketing Association (apud STONE, 1992, p.3), de que o marketing direto é um sistema interativo que emprega uma ou mais mídias de propaganda com o objetivo de produzir resposta ou transação mensurável, em qualquer localidade, é explicado por Stone (1992), observando as seguintes palavras-chave: a) “interativo”: comunicação individualizada entre a empresa e o cliente, atual ou potencial; b) “uma ou mais mídias”: pois não existe a restrição para utilização de apenas uma mídia, inclusive é comum a combinação de mídias, pois são frequentemente mais produtivas que a utilização de apenas uma; c) “resposta mensurável”: a mensuração está profundamente ligada ao marketing direto, pois, dessa forma, é possível avaliar o investimento e o retorno para cada ação; 78 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Proposta de implementação de um programa de marketing direto... d) “transação em qualquer localidade”: não existem mais barreiras para os negócios, pois as negociações podem se realizar em uma visita, pelo correio, via telefone e Internet. Por sua vez, Ogden (2007) salienta que as técnicas do marketing direto são utilizadas para sustentar um plano amplo de comunicação integrado de marketing (CIM), ou seja, o profissional da área deve desenvolver uma série de objetivos que complementem a campanha de CIM. O conceito do autor para marketing direto é criar um relacionamento entre o consumidor e o vendedor. Embora existam muitas formas de marketing direto, todas elas possuem características similares, segundo Kotler (2008): a) não público: possibilidade de especificação na mensagem para determinada pessoa; b) sob medida: adaptação da mensagem para a atração da pessoa visada; c) atualizado: devido à rapidez no envio da mensagem; d) interativo: possibilidade de alteração da mensagem de acordo com a resposta do cliente. No Brasil, o campo do marketing direto é representado pela ABEMD, cuja atuação inclui promoção, conduta ética e organização do setor. É uma entidade sem fins lucrativos, fundada em 1976, com um quadro de associados composto de empresas que utilizam e prestam serviços de marketing direto e também profissionais e estudantes. 1.1 Medindo o marketing direto Os autores Azevedo e Pomeranz (2004) citam instrumentos de análise para maximizar o controle, utilizando os seguintes elementos: a) Componente de custo: para a identificação do custo em uma ação de marketing, pode ser utilizado o índice custo por milhar (CPM), que demonstra o investimento necessário no desenvolvimento de ações de comunicação, utilizando a referência para uma audiência de 1.000 pessoas. A fórmula é apresentada da seguinte maneira: CPM = Custo da ação X 1.000/Número de pessoas atingidas. b) Componente de reposta: independentemente do tamanho da base de uma ação, os indicadores responsáveis pela medida do resultado de respostas do marketing são o R% (percentual de respostas) e as respostas por milhar (RPM). O primeiro demonstra uma relação Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 79 Claiton Araujo Viana c) d) ente o total de respostas e o número de pessoas atingidas. O segundo utiliza a mesma relação para uma base de 1.000 pessoas. Os dois índices são destacados com as seguintes apresentações: R% = (Número de respostas/Número de pessoas atingidas) X 100 e RPM = (Número de respostas/Número de pessoas atingidas) X 1000 ou RPM = R% X 10. Componente de custo por resposta (CPR): é a utilização combinada entre os indicadores CPM e RPM, possibilitando a medida e a comparação do custo por resposta em cada ação de comunicação. Possui a seguinte fórmula: CPR = CPM/RPM Retorno sobre o investimento: a maximização do número de respostas em um plano de comunicação é um elemento integrante do processo da análise financeira. Seu complemento envolve a medição do retorno sobre o investimento aplicado (ROI), calculado com a relação entre a contribuição sobre os lucros e o montante de recursos necessários para o desenvolvimento da campanha. A fórmula-raiz possui a seguinte exposição: ROI = Lucro/Investimento. É necessária a utilização de outras fórmulas para alcançar essa apresentação resumida: Lucro = Margem bruta total – Custo da campanha Margem bruta total = Público-alvo X Percentual de resposta X Margem do produto Custo total da campanha: Custo fixo + Custo variável Investimento = Custo total da campanha 1.2 Banco de dados e database marketing Para Aaker, Kumar e Day (2001), o banco de dados é uma lista contendo informações de transações e características dos consumidores, utilizada no cultivo dos clientes e desenvolvimento de perfis estatísticos de clientes potenciais com semelhanças aos atuais. A definição de Kotler (2008) é que banco de dados de clientes é um conjunto organizado de informações abrangentes sobre clientes atuais e potenciais, atualizado, acessível e acionável para propósitos de marketing como geração e qualificação de interessados, venda de um produto ou serviço de manutenção de relacionamento. 80 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Proposta de implementação de um programa de marketing direto... O banco de dados, conforme Nash (1994), pode ser formado com informações de origem em fontes internas, como pedidos, promoções e pesquisas, ou procedentes de fontes externas, como listas alugadas ou trocadas com outras empresas. De acordo com Azevedo e Pomeranz (2004), para aumentar o resultado das campanhas de comunicação, é necessária a utilização do banco de dados como uma tecnologia que transcenda o armazenamento de dados. É importante a transformação desses dados em conhecimento, permitindo abordagens direcionadas às necessidades e ao comportamento de segmentos específicos de consumidores. Segundo Nash (1994), o database marketing é um mecanismo do marketing direto, partilhando suas forças e fraquezas e dependente de sua ciência, estratégia e superstições. O autor cita como força principal a capacidade de mensurar ações e como fraqueza a relação de perda de espontaneidade e criatividade, devido à tendência de utilização de ações de outros indivíduos. O database marketing pode ser definido para Hughes (1998) como o gerenciamento de um sistema de banco de dados que, utilizando a coleta de dados relevantes sobre os clientes e prospects, permite a disponibilidade de melhores serviços e o estabelecimento de um relacionamento de longo prazo. Ao criar a fidelidade, é possível reduzir cancelamentos e aumentar a satisfação do cliente e as vendas. 1.3 Valor de tempo de vida do cliente (Lifetime value) Segundo Hughes (1998), o valor de tempo de vida (LTV) é definido como o valor líquido atual do lucro que será obtido sobre um novo cliente médio durante determinado período de anos, que poderá ser utilizado no desenvolvimento da estratégia e também da tática de marketing. O autor observa que o database marketing permite a ampliação do valor de tempo de vida através de cinco modos: a) Taxa de retenção: é mais econômico e fácil manter os clientes atuais do que encontrar novos. Existe uma tendência de perda natural de clientes, sendo necessárias estratégias que elevem a taxa de retenção. b) Taxa de recomendação: a utilização dos clientes atuais para influenciar outros a tornarem-se clientes. As estratégias podem influenciar esse processo e elevar a taxa de recomendação por meio de um sistema de recompensas e motivações. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 81 Claiton Araujo Viana c) Volume de vendas: clientes leais tendem a comprar mais. A influência aos clientes é realizar a oferta certa, para as pessoas certas, no momento certo. d) Custos diretos: redução de custos pela mudança dos canais de distribuição ou alterando o processo de renovação. e) Custos de marketing: redução de custos de marketing para clientes atuais ou prospects com a seleção por criação de modelos e análises de perfil. Nas situações em que é possível e desejável um relacionamento ininterrupto entre o comprador e o vendedor, é importante que o vendedor calcule o valor da vida útil de cada consumidor, pois assim será possível encontrar o valor de investimento aceitável no emprego da manutenção dos relacionamentos com seus clientes. 1.4 Recência, frequência e valor monetário (RFV) Segundo Hughes (1998), o RFV é um método de divisão dos registros de um banco de dados em categorias, para identificação dos compradores mais recentes, dos que compram com mais frequência e dos que gastam mais, é um modo de definição de perfis de acordo com o comportamento de compra. A utilização desse método é possível somente aos clientes atuais, devido à dificuldade de informações necessárias junto aos prospects. Outra necessidade é a posse de um banco de dados, pois as informações do RFV derivam dos registros de compras armazenados no banco de dados. Seguem identificação de cada variável do RFV, conforme Hughes (1998): a) recência: relaciona-se ao período de tempo em que o cliente efetuou sua última compra; b) frequência: refere-se ao número de vezes em que o consumidor efetua suas compras; c) valor monetário: é o cálculo do valor obtido de cada cliente, desde o início de seu relacionamento com a organização. Por sua vez, Azevedo e Pomeranz (2004) salientam que o modelo RFV é utilizado na identificação dos consumidores que compraram mais recentemente, ou seja, aqueles com as maiores chances de resposta às ações de marketing. 82 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Proposta de implementação de um programa de marketing direto... 1.5 O valor de cada consumidor Conforme Azevedo e Pomeranz (2004), há a possibilidade de indivíduos com necessidades iguais proporcionarem resultados financeiros totalmente diferentes para a marca. Por exemplo, existem consumidores que compram mais assiduamente, criando maior fonte de receita, outros recomendam os produtos ou serviços de sua preferência no seu círculo de relacionamento. Estes não só adquirem produtos e serviços, mas também os divulgam, aumentando as chances de futuras aquisições. Em vista disso, os autores concluem, primeiramente, que, sejam quais forem as necessidades do consumo, os indivíduos possuem valores distintos para a marca, pois, na verdade, são mais rentáveis do que outros. Essa rentabilidade pode ser caracterizada segundo seu impacto na receita ou despesa ou na maximização dos retornos das ações de marketing. Em um momento posterior, pode ser percebida em vista do valor individual de cada consumidor, reforçada a importância de identificação dos clientes mais valiosos, criando ofertas e comunicações diferenciadas para esse grupo. Os autores apresentam os três tipos principais de estratégias que são utilizadas pelas organizações para obter o melhor retorno com seus investimentos na área de marketing: a) Maximização de valor baseada no produto ou no serviço: o ponto de partida das ações é o portfólio de produtos. A base da lucratividade é a margem de lucro decorrente da sua oferta, ou seja, o foco é concentrado na maximização do volume de vendas, descartando o valor individual de cada consumidor no processo. b) Maximização de valor baseada no share of pocket: as ações são baseadas no potencial de gasto do consumidor (share of pocket). O conhecimento do potencial de compra de cada indivíduo e o valor despendido em suas compras recentes concentram as ações de marketing nos segmentos mais importantes. c) Maximização de valor baseada no LTV (lifetime value): o cálculo do valor do consumidor é estimado ao longo do período em que ele gera receita antes de abandonar a marca. Em geral, esse valor é alcançado somando-se, para cada indivíduo, todas as vendas realizadas e subtraindo-se dessa soma os custos dos produtos adquiridos, os custos operacionais e os descontos concedidos. Destaca-se uma condição necessária para calcular o LTV: a emGestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 83 Claiton Araujo Viana presa deve desenvolver uma comunicação individualizada ou direta com seu público e acompanhar o comportamento de compra de cada indivíduo. 2 Procedimentos de pesquisa/metodologia A estratégia de pesquisa será o estudo de caso, que, segundo informa Yin (2010), admite que os investigadores retenham as características holísticas e expressivas dos eventos da vida real (ciclos individuais de vida, comportamento de pequenos grupos, processos administrativos e organizacionais, mudança de vizinhança, desempenho escolar, relações internacionais e maturação das indústrias). De acordo com a obra de Yin (2010), o estudo de caso como método de pesquisa não é apenas uma forma de pesquisa qualitativa, pois pode utilizar uma mistura de evidências quantitativas e qualitativa ou mesmo ser limitado à evidência quantitativa. O estudo abordará, em uma primeira fase, uma pesquisa de natureza exploratória, na análise dos dados secundários, definidos por Aaker, Kumar e Day (2001) como informações já disponíveis, pois foram coletadas com outro propósito, não relacionados à pesquisa atual. A fonte desses dados será o sistema de informação utilizado na empresa e também fontes externas oriundas de entidades do setor. A pesquisa exploratória, segundo Malhotra (2006), é usada na obtenção de ideias e informações quanto ao problema enfrentado pelo pesquisador. Costuma ser conduzida nos estágios iniciais de um projeto ou quando o pesquisador depara com algum problema que não possui conhecimento. Apresenta processo flexível e não estruturado, possui uma amostra pequena e não representativa com a análise qualitativa dos dados primários, possuindo resultados experimentais que podem ser utilizados como início para uma pesquisa adicional. Em um segundo momento, o estudo utilizará uma pesquisa de natureza conclusiva descritiva, originando dados primários, definidos por Aaker, Kumar e Day (2001), como elementos coletados especialmente para determinada pesquisa. Os dados serão originados pela utilização de um questionário estruturado em uma amostra de clientes cadastrados. Para Malhotra (2001), a pesquisa conclusiva descritiva tem como finalidade a descrição de algo, normalmente características de mercado. O autor complementa salientado que essa categoria de pesquisa é 84 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Proposta de implementação de um programa de marketing direto... utilizada na identificação de perfis de clientes, estimando, por exemplo, determinado comportamento. 2.1 População e amostra Segundo Aaker, Kumar e Day (2001), uma população pode ser definida como um conjunto de indivíduos que possuem algumas características comuns em relação ao problema de pesquisa de marketing. A população de pesquisa é formada pelo cadastro de clientes da empresa di Vino, situada em Porto Alegre/RS, totalizando 2.025 compradores, segmentados com 1.511 consumidores finais (pessoa física), 23 corporativos e 491 revendas (pessoas jurídicas). O método escolhido é a amostragem não probabilística, conceituada por Malhotra (2009) como a técnica em que a escolha dos elementos da amostra é dependente do julgamento pessoal do pesquisador. A justificativa deve-se à utilização de uma abordagem exploratória na pesquisa e à redução de custos e de tempo, conforme cita o estudo de Aaker, Kumar e Day (2001). O tipo de amostragem não probabilística utilizado é por conveniência, em que, segundo Malhotra (2001), a escolha dos elementos da amostra é obtida pela conveniência do pesquisador. A justificativa da escolha é devido à facilidade de acesso à lista de clientes já cadastrados na empresa. A amostra apresentada neste estudo é composta por 73 consumidores. 2.2 Métodos de coleta de dados Durante o processo de pesquisa, foram utilizados dois métodos de coleta: análise de dados secundários, de origem interna e externa, e levantamentos de dados através de questionários estruturados. Com a análise de dados secundários de origem interna, para o cálculo do RFV, baseado no referencial teórico, foi analisado um relatório de vendas analítico do sistema de informação da empresa referente aos segmentos de atuação varejo, com período entre 31/08/2009 até 31/08/2010, permitindo, dessa forma, conhecimento sobre dados de recência, frequência e valor monetário do faturamento dos clientes. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 85 Claiton Araujo Viana Para o cálculo do LTV, com base no referencial teórico, foi analisado o mesmo relatório do cálculo do RFV, com o intuito de identificar o comportamento dos clientes nos períodos. Também foram analisados relatórios financeiros de despesas do mesmo período visando ao cálculo de custos na apresentação dessa teoria. A justificativa da escolha desse método deve-se à natureza exploratória dessa fase inicial de pesquisa, pois proporciona informações sobre o histórico do consumidor, destacando os clientes atuais de maior potencial, segundo Malhotra (2009). Outra justificativa referese à utilização de dados secundários de origem interna, ou seja, os registros internos da empresa, que, para Aaker, Kumar e Day (2001), são informações que possuem facilidade de disponibilidade e acesso e também são relevantes para a situação da empresa. A análise de dados secundários internos ocorreu no período entre 01/10/2010 e 10/10/2010. Com a análise de dados secundários externos, foi possível visualizar o cenário em que a empresa di Vino está inserida, pesquisando publicações das seguintes entidades: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), União Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA) e Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN) e Nielsen Brasil. Para Aaker, Kumar e Day (2001), uma das principais utilizações dos dados secundários é direcionada ao monitoramento do ambiente no qual a empresa está estabelecida. A análise de dados secundários externos ocorreu no período entre 10/10/2010 e 15/10/2010. Outro método de coleta utilizado na pesquisa foi o levantamento de dados, originando dados primários, através de questionários estruturados, também conhecidos como surveys. O objetivo principal do levantamento foi a identificação do perfil demográfico e comportamental e do estado de satisfação dos clientes. Esse levantamento foi aplicado de três formas diferentes, obtendo-se o seguinte resultado entre os consumidores finais: 5,48% via telefone, 86,30% via e-mail e 6,85% pessoalmente. As questões foram estruturadas, pois especificam o formato e o conjunto de respostas alternativas, com uso de perguntas de múltipla escolha, de questões dicotômicas e de questionamentos, utilizando uma escala, conforme cita Malhotra (2001). A justificativa pela escolha desse método deve-se à natureza conclusiva descritiva desta fase de pesquisa, e também, conforme comenta Malhotra (2009), às vantagens relacionadas à facilidade, pois são relativamente fáceis de aplicar, à confiabilidade, com a redução de variabilidade de resultados com o uso de alternativas predeterminadas 86 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Proposta de implementação de um programa de marketing direto... de múltipla escolha, e à simplicidade na codificação, na análise e na interpretação dos dados. A aplicação dos questionários ocorreu entre 15/09/2010 e 15/10/2010. Foi realizado um pré-teste de 10 entrevistas, corrigindo-se alguns detalhes referentes aos enunciados das questões, evitando a dúvida do respondente no processo de resposta. 2.3 Procedimentos de análise dos dados No levantamento de dados secundários, o procedimento de análise dos dados usado foi a análise documental, que, segundo Bardin (1997 apud MARCONI, 2009, p. 29) consiste no esclarecimento da especificidade e da análise de conteúdo, representando o conteúdo de uma forma diferente, trabalhando com documentos e realizando classificações-indexação, com o objetivo de representar a informação de forma condensada. O uso de dados secundários externos permitiu uma análise do setor, identificando índices brasileiros de consumo, comercialização, e importação. O processo que utilizou dados secundários internos constituía-se na identificação dos registros de faturamento para cada cliente durante determinado período para a classificação das informações para determinação do cálculo de RFV e LTV. Para o último também foram identificados registros financeiros de despesas para conhecimento do custo de operação da empresa. Os dados foram tabulados com a utilização de planilhas eletrônicas, no caso do RFV, para ordenação dos clientes de acordo com essa metodologia. Na tabulação referente a LTV, houve a análise da situação atual da empresa. As duas atividades seguiram as instruções da obra de Hughes (1998). A análise estatística univariada, indicando a frequência e a frequência relativa das respostas, foi o procedimento utilizado no exame de dados do levantamento através da survey. Conforme Malhotra (2001) a técnica é utilizada quando existem muitas medidas de cada membro da amostra, sendo cada variável examinada de forma isolada. Segundo o autor, a distribuição de frequência possui foco na contagem do número de respostas relacionadas a diferentes valores de uma variável, expondo essas contagens em termos de percentagens. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 87 Claiton Araujo Viana 3 Apresentação e análise dos dados No início desta seção, serão apresentados os resultados da pesquisa, informando o cenário de atuação, a situação atual da empresa quanto às metodologias de RFV e LTV para seu segmento varejo e também a tabulação de respostas da survey aplicado junto aos clientes. Na segunda parte da seção, serão apresentadas as sugestões de melhorias elaboradas pelo autor e uma projeção de resultados decorrentes. Observa-se que, em seu principal mercado de atuação, o ramo de vinhos, espumantes e suco de uva, o cenário atual é favorável, em vista de estatísticas apresentadas pelo setor. O principal aspecto aderente a esse panorama está na evolução do consumo de vinhos no país, que está em crescimento, com uma previsão para o ano de 2030 de 3,5 litros per capita, elevando o índice em 133% com relação ao ano de 1995, segundo o IBRAVIN. O estudo de Mello (2010) apresenta dados relevantes sobre a comercialização de vinhos e seus derivados. A análise relacionou dois anos, ou seja, criou um comparativo entre 2009 e 2008. No grupo “vinho fino de mesa”, ocorreu crescimento de 56,63%; entre os “espumantes”, houve crescimento de 14,57%; em relação ao “espumante moscatel”, crescimento foi de 31,42%; e em “suco integral”, 35,15%. Outro ponto favorável refere-se à alteração constatada no estudo Mudanças no Mercado Brasileiro 2010, realizado pela Nielsen Brasil (2010), no consumo do brasileiro, devido à estabilidade econômica, à menor taxa de desemprego e à queda da informalidade. O aumento do poder aquisitivo e o maior grau de confiança na classe C confirmaram o papel significativo no crescimento do varejo. Segundo a pesquisa, a classe média foi responsável, em volume de vendas, por 60% dessa expansão, demandando itens que não eram adquiridos e a compra de produtos de maior qualidade. Com a análise do RFV, foi possível identificar, para o segmento de varejo, a classificação de participação junto às faixas dessa teoria. A Tabela 1 apresenta a participação resumida de cada cliente nas faixas de RFV. 88 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Proposta de implementação de um programa de marketing direto... Tabela 1 – Participação resumida de clientes conforme teoria RFV. Faixas Consumidor Nº de clientes Participação 1 74 20,61% 2 64 17,83% 3 70 19,50% 4 63 17,55% 5 73 20,33% 6 Total 15 4,18% 359 100,00% Fonte: Elaborada pelo autor. Na representação da melhor faixa, ou seja, clientes que possuem os índices de recência, frequência e valor monetário mais elevados, há 20,61% dos clientes no segmento consumidor. Esse grupo de clientes pode ser utilizado como um grupo-piloto para mensurar as ações de marketing antes da aplicação a toda base de clientes. Com base nessa teoria, foi possível analisar o comportamento de cada consumidor durante o período de um ano, com o objetivo de segmentar o cadastro de clientes para o direcionamento das ações de marketing. O desafio das ações de marketing está orientado para elevar o posicionamento do cliente nessa classificação, permitindo seu acesso à faixa superior. A análise de LTV possibilitou verificar a taxa de retenção dos clientes, a média de vendas anual de cada cliente e os custos envolvidos no atendimento dos clientes. Com o estudo dessas variáveis em conjunto, chegou-se ao valor do tempo de vida de cada cliente. Essa metodologia permite o levantamento da situação atual junto aos clientes ativos da empresa, possibilitando, também, efetuar projeções com estimativas dos índices previamente citados antes das ações de marketing. Segue a Tabela 2, referente ao LTV da atividade varejo: Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 89 Claiton Araujo Viana Tabela 2 – Valor de tempo de vida (LTV): situação atual da atividade varejo. – 2010 2011 2012 2013 2014 – Receita Item/Ano – – – – – A Clientes 268 173 120 87 66 B Índice de retenção de clientes C Vendas média anual D Receita total 64,55% 69,36% 72,50% 75,86% 77,27% R$ 441,01 R$ 441,01 R$ 441,01 R$ 441,01 R$ 441,01 R$ 118.190,39 R$ 76.294,54 R$ 52.921,07 R$ 38.367,78 R$ 29.106,59 – Custos E Porcentagem de custo F Custos totais – – – – – 58,56% 58,56% 58,56% 58,56% 58,56% R$ 69.212,29 R$ 44.678,08 R$ 30.990,58 R$ 22.468,17 R$ 17.044,82 – Lucros – G Lucros brutos – – – – R$ 48.978,10 R$ 31.616,46 R$ 21.930,49 R$ 15.899,61 R$ 12.061,77 H Taxa de descontos 1 1,2 1,44 1,73 2,07 I Lucros em valores líquidos atuais (VLA) R$ 48.978,10 R$ 26.347,05 R$ 15.229,51 R$ 9.190,52 J Lucros acumulados em VLA R$ 48.978,10 R$ 75.325,15 R$ 90.554,65 R$ 99.745,18 R$ 105.572,12 K Valores líquidos atuais (VLA) R$ 182,75 R$ 281,06 R$ 337,89 R$ 372,18 R$ 5.826,94 R$ 393,93 Fonte: Elaborada pelo autor. Na Tabela 2, existe uma observação de um grupo de clientes em um período de cinco anos. A linha B mostra o índice de retenção de clientes, com base no número de clientes que retornam em comparação com o ano anterior – linha A. Na linha C, são exibidos os valores da venda média anual para cada cliente. A linha D refere-se à receita total dos clientes, obtida pela multiplicação das linhas A e C. Na linha E, são identificados o percentual dos custos em relação à receita, sendo o produto dessa multiplicação (linhas D e E) disponível na linha F. Na linha G, subtraem-se da receita total (linha D) os custos totais (linha F). A linha H representa a taxa de desconto, necessária para descontar as quantias a receber no futuro. Nesse estudo, foi utilizado um índice de 20%, calculado com base na taxa de juros adicionando uma margem de segurança para riscos, conforme a teoria de Hughes (1998). A linha I representa esse desconto, com a divisão da linha G pela linha H. A linha J é a soma do valor líquido atual do ano atual com o mesmo valor do ano anterior. A linha K, obtida pela divisão da linha J pelo grupo original de clientes, representa o valor de tempo de vida, ou seja, 90 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Proposta de implementação de um programa de marketing direto... a média dos lucros que se espera receber após determinado período, em anos, de cada novo cliente obtido. A aplicação da survey, por sua vez, permitiu um enriquecimento do banco de dados dos clientes, com o registro de informações relacionadas ao perfil demográfico e comportamental dos clientes. Também foi possível observar, junto aos respondentes, a percepção do diferencial da empresa di Vino em relação aos seus concorrentes e constatar o nível de satisfação dos compradores. Na primeira parte, o objetivo é a identificação do perfil demográfico. Na forma de coleta da survey, observa-se que o e-mail, com 86,30%, foi a mais utilizada nesse processo. Como resultado, as informações alcançadas junto aos entrevistados referem que 63,01% pertencem ao sexo masculino; 49,32% estão na faixa etária entre 41 e 60 anos; 41,10% possuem pós-graduação; 26,03% informaram estar na faixa superior a R$ 8.500,00 de renda mensal e 56,16% possuem filhos. Na segunda parte da survey, o foco é dirigido para o perfil comportamental, com 67,12% dos entrevistados preferindo a compra em lojas especializadas; 95,89% realizam a compra de forma presencial; 68,49% preferem realizar o pagamento via cartão de crédito; 84,93% citam o e-mail como melhor forma para contatos; 94,52% informam que o consumo é o principal destino das compras; 93,15% consomem os produtos em casa; 39,73% declaram o consumo de até uma garrafa por semana; 94,52% preferem o consumo do vinho tinto; 91,78% citam a redução de preço como melhor opção de oferta; 41,10% conheceram a empresa por indicação, sendo a própria vinícola Casa Valduga e o consumidor final já clientes responsáveis pela indicação, ambos com índices de 43,33%; 80,82% são leitores do jornal Zero Hora; 39,73% são ouvintes da Rádio Gaúcha; 68,49% dos respondentes relataram aceitação em participar de um programa de fidelização, com 88% destacando que o benefício de desconto possui maior preferência para o programa. A terceira parte da survey considera uma questão de destaque na pesquisa, pois identifica a percepção do cliente para a constatação de existência de diferenciais da empresa di Vino frente aos concorrentes. O atendimento foi o principal diferencial relatados pelos entrevistados (57,33%); outro diferencial importante relaciona a qualidade dos produtos oferecidos com o indicador de 94,74%. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 91 Claiton Araujo Viana A quarta parte da survey foca a identificação do nível de satisfação dos clientes em relação a algumas variáveis. Quanto à variável recebimento de informações, os níveis satisfeito e muito satisfeito apresentarem os índices de 41,10% e 17,81%, respectivamente; quanto à variável atendimento dos funcionários, 52,05% dos respondentes estão satisfeitos e 32,88% muito satisfeitos; a variável produtos disponíveis estabelece 52,05% das respostas no nível satisfeito e 32,88% no nível muito satisfeito. O último dado da pesquisa cita que 95,89% dos participantes possuem a tendência de indicar a empresa di Vino para outras pessoas. 3.1 Sugestões de melhorias Esta seção abordará a sugestão de melhorias elaboradas pelo autor após o desenvolvimento das etapas anteriores do trabalho. Serão divididas em sugestões gerais, para todas as atividades da empresa, e sugestões específicas, direcionadas somente à atividade varejo. Seguem abaixo sugestões de melhorias de caráter geral: a) Desenvolvimento de um plano de negócios na empresa, permitindo revisão das atividades atuais, identificação de ameaças e oportunidades, condução de planos de ação e definição de metas. b) Programa de treinamento e capacitação: desenvolvimento profissional dos funcionários com participação em cursos, principalmente oferecidos pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), com o objetivo de manter e elevar o diferencial, frente à concorrência, relacionado ao atendimento. c) Manter a participação em feiras do setor, principalmente na do Dia Estadual do Vinho e na Feira de Espumantes, realizadas pelo IBRAVIN e pela Phoenix Produções, pois são eventos que permitem a elevação do faturamento em um curto período de tempo e prospecção de novos compradores. d) Plano de mail-marketing: envio de campanhas quinzenais com realização de pré-teste com grupo-piloto, formado por clientes que estão na faixa superior de classificação, de acordo com o cálculo de RFV, e utilização do canal para envio de notícias de caráter institucional. É necessária constante revisão do banco de dados para manter o registro de e-mails atualizado. 92 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Proposta de implementação de um programa de marketing direto... e) Plano de envio de mala direta para clientes sem registro de e-mail no cadastro. f) Otimização do website: na página inicial, deve constar a campanha promocional vigente. Sugere-se incluir um link referente a notícias. Ampliar campos de cadastros do site. g) Exploração do mercado corporativo. Deve-se buscar uma equipe de vendas especializada. h) Reserva de marketing para anúncios. É preciso planejar a reserva de uma verba de marketing mensal de 1% sobre o faturamento, para que possa ser utilizada em anúncios em jornal e rádio para o período de inverno e final de ano. De acordo com a aplicação da survey, os principais veículos são o jornal Zero Hora e a Rádio Gaúcha. A seguir, são elencadas sugestões de melhorias direcionadas ao consumidor final: a) Participação nas principais redes sociais: Orkut, Facebook e Twitter. É preciso criar campanhas promocionais específicas para as redes sociais. b) Projeto aniversário: durante o mês de seu aniversário, o cliente possui vantagens de descontos limitados a 10% e recebimento de brindes, como, por exemplo, abridores e baldes de gelo personalizados; c) Projeto profissão: durante a semana relacionada a sua profissão, o cliente possui vantagens de descontos, limitados a 10%. d) Programa member-get-member: projeto direcionado inicialmente aos clientes identificados pela aplicação da survey, que possuem aceitação positiva na indicação da empresa di Vino. Isso garante benefícios de descontos nas compras de espumantes e kits para presente durante os meses de novembro e dezembro. O desconto oferecido é relacionado ao número de indicações efetivas, ou seja, indicados que efetuaram compras. A cada duas indicações efetivas, o cliente responsável pela indicação recebe 1% de desconto em suas compras; a cada quatro indicações efetivas, o cliente responsável pela indicação recebe 2% de desconto em suas compras, progredindo dessa forma sucessiva. O programa possui faixa de desconto limitada a 10%, que é equivalente à recomendação de 20 indicados. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 93 Claiton Araujo Viana e) Programa de fidelização: projeto direcionado inicialmente aos clientes identificados pela aplicação da survey, que possuem aceitação positiva na participação do programa. É constituído por benefícios de descontos nas compras de espumantes e kits para presente durante os meses de novembro e dezembro para clientes que tenham realizado, no mínimo, uma compra mensal durante o ano, identificados como fidelizados. O programa possui faixa de desconto-limite de 15%; h) Projeto de permuta de mailing com clientes de revendas, principalmente restaurantes, bares e cafés. Caso não seja possível efetivar essa operação, buscam-se empresas para aluguel de listas. Observa-se que a escolha do desconto-limite de 10% relacionado ao projeto aniversário e profissões dos consumidores finais é o índice máximo de desconto permitido, devido à margem de lucro reduzida que a empresa possui. A escolha de aplicação do desconto nos períodos de novembro e dezembro para o programa de fidelização direcionado aos consumidores finais deve-se à criação de vantagem aos clientes frente à concorrência durante esse período de compras. A escolha do desconto-limite de 15% para os programas citados, apesar da margem de lucro reduzida que a empresa possui, é possível devido ao aumento de faturamento do período e também à negociação de descontos junto aos fornecedores relacionados ao volume de compras do final de ano. As ações propostas devem possuir acompanhamento, permitindo a análise e a mensuração via instrumentos de análise: custo por milhar, respostas por milhar e retorno sobre o investimento. 3.2 Projeções de resultados A aplicação das melhorias sugeridas anteriormente permitirá à empresa elevar o faturamento em seus mercados de atuação. Como causas principais, podem ser citadas a possibilidade de acompanhamento do índice de clientes recomendados; melhores índices de retenção de clientes; melhores índices de vendas médias; elevação significativa dos índices de LTV. A Tabela 3 apresenta projeção realizada para o segmento de consumidor final. 94 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Proposta de implementação de um programa de marketing direto... Tabela 3 – Valor de tempo de vida (LTV): Situação projetada para atividade de varejo. – 2010 2011 2012 2013 2014 – Receita Item/Ano – – – – – A Taxa de referência 5% 5% 5% 5% 5% B Clientes recomendados C Total de clientes D Índice de retenção de clientes E Vendas média anual F Receita total – Custos G Porcentagem de custo - 13 10 8 7 268 201 161 137 123 70,00% 75,00% 80,00% 85,00% 90,00% R$ 485,11 R$ 485,11 R$ 485,11 R$ 485,11 R$ 485,11 R$ 130.009,43 R$ 97.507,07 R$ 78.005,66 R$ 66.304,81 R$ 59.674,33 – – – – – 58,56% 58,56% 58,56% 58,56% 58,56% H Custos diretos R$ 76.133,52 R$ 57.100,14 R$ 45.680,11 R$ 38.828,10 R$ 34.945,29 I Atividades de marketing direto R$ 2.680,00 J Custos totais R$ 78.813,52 R$ 59.110,14 R$ 47.288,11 R$ 40.194,90 R$ 36.175,41 – Lucros K Lucros brutos L Taxa de descontos – R$ 2.010,00 R$ 1.608,00 – – R$ 1.366,80 – R$ 1.230,12 – R$ 51.195,91 R$ 38.396,93 R$ 30.717,54 R$ 26.109,91 R$ 23.498,92 1 1,2 1,44 1,73 2,07 M Lucros em valores líquidos atuais (VLA) R$ 51.195,91 R$ 31.997,44 R$ 21.331,63 R$ 15.092,44 R$ 11.352,14 N Lucros acumulados em VLA O Valores líquidos atuais (VLA) R$ 51.195,91 R$ 83.193,35 R$ 104.524,98 R$ 119.617,41 R$ 130.969,55 R$ 191,03 R$ 310,42 R$ 390,02 R$ 446,33 R$ 488,69 Fonte: Elaborada pelo autor. Na Tabela 3, existe a observação de clientes durante um período de cinco anos, porém, dessa vez, estão sendo aplicadas as ações de marketing sugeridas. A linha A é a taxa de referência, avaliada em 5%. Essa projeção supõe que o programa de marketing direto proporcionará um aumento de 5% na base de clientes. Salienta-se que essa é uma projeção mínima. A linha B representa o número de clientes recomendados. A linha C demonstra o total de clientes originados pela soma de clientes da base e clientes recomendados. A linha D representa o índice de retenção de clientes, com uma suposição de índices progressivos. Na linha E, destaca-se o valor das vendas com média anual, projetando um valor superior em 10% ao relacionado às vendas atuais. A receita total (linha F) é obtida pela multiplicação da linha C, número de consumidores, pela linha E, venda Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 95 Claiton Araujo Viana média anual. A linha G representa o percentual que o custo de operação representa sobre a receita. Na linha H, existe a multiplicação desse percentual pela receita total, linha F. Na linha I, visualiza-se o custo das atividades de marketing direto, calculado em R$ 10,00 por cliente, incluindo-se nesse valor o custo de material humano e físico para o desenvolvimento dos programas, como, por exemplo, horas trabalhadas, servidor para disparo de mail-marketing, custo de impressão e custos do correio para envio de mala direta. A linha J apresenta a soma total de custos, oriundos da soma das linhas H e I. Na linha K, subtraem-se da receita total (linha F) os custos totais, linha J. A linha L representa a taxa de desconto, necessária para descontar as quantias a receber no futuro. Neste estudo foi utilizado um índice de 20%, calculado com base na taxa de juros, adicionando-se uma margem de segurança para riscos conforme a teoria de Hughes (1998). Na linha M, está representado esse desconto, com a divisão da linha K pela linha L. A linha N é a soma do valor líquido atual do ano atual com o mesmo valor do ano anterior. A linha O, que é obtida pela divisão da linha N pelo grupo original de clientes, representa o valor de tempo de vida, ou seja, a média dos lucros que se espera receber após determinado período, em anos, de cada novo cliente obtido. A Tabela 4 permite a visualização de comparação da situação atual com a situação projetada da atividade varejo, destacando um crescimento de 1.044,44% no valor de tempo de vida do consumidor em 2014 com relação a 2010, cálculo obtido após a multiplicação do valor monetário de aumento pelo número de clientes fixo, baseado no ano de 2010, conforme a obra de Hughes (1998). Tabela 4 – Valor de tempo de vida: comparativo atividade varejo. – – 2010 2011 2012 2013 2014 A Sem Marketing Direto R$ 182,75 R$ 281,06 R$ 337,89 R$ 372,18 R$ 393,93 B Com Marketing Direto R$ 191,03 R$ 310,42 R$ 390,02 R$ 446,33 R$ 488,69 R$ 8,28 R$ 29,36 R$ 52,13 R$ 74,15 R$ 94,76 C Aumento D Número de Consumidores 268 268 268 268 268 E Aumento X Consumidores R$ 2.219,04 R$ 7.868,48 R$ 13.970,84 R$ 19.872,20 R$ 25.395,68 Fonte: Elaborada pelo autor. 96 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Proposta de implementação de um programa de marketing direto... Na Tabela 4, ressalta-se, na linha A, o valor do LTV sem a utilização do marketing direto, ou seja, a situação atual da empresa. Na linha B, observa-se o valor do LTV com a implementação do marketing direto. A linha C demonstra o valor monetário de aumento, obtido pela subtração da linha B pela linha A. A linha D informa o número de clientes da empresa, com valor fixado de acordo com a situação do ano de 2010. A linha E apresenta o valor monetário total, alcançado pela multiplicação do valor de aumento (linha C) pelo número de clientes (linha D). Considerações finais O grande desafio deste artigo foi relacionar as estratégias de marketing de acordo com o porte e o poder de investimento da empresa. Essa adequação comportará a criação de uma vantagem competitiva para a organização, sem comprometimento de seu fluxo de caixa. O resultado foi bastante positivo, pois comprovou que as estratégias de marketing direto não pertencem apenas às grandes corporações, sendo possível sua adaptação a qualquer empresa, independentemente do porte ou segmento de atuação. O conteúdo deste estudo apresenta pesquisas bibliográficas e de marketing, que propiciaram um embasamento teórico e conhecimento do cenário no qual a empresa está inserida, pontos fundamentais para a sugestão de melhorias. Em vista da natureza exploratória da pesquisa, a estratégia de estudo de caso possibilitou a imersão no universo da empresa, permitindo a utilização de métodos mistos para a coleta de dados, para posterior análise de dados secundários e primários. O ponto de partida foi o estudo do banco de dados atual de clientes da empresa, um valioso ativo em vista do tempo de atuação da organização, analisando o histórico individual de cada comprador e aplicando a análise de RFV para identificação dos alvos principais para as ações e LTV para visualização do valor de tempo de vida dos clientes ativos. A investigação de perfis demográficos e comportamentais, aliados ao exame da percepção do consumidor em comparação com os concorrentes, e a pesquisa do nível de satisfação, obtidas através da survey, ampliaram de forma qualitativa o banco de dados da organização. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 10, p. 75-99, jul./dez. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 97 Claiton Araujo Viana O trabalho permitiu um enriquecimento no relacionamento direto com os clientes, criando uma percepção positiva da empresa junto a estes, tendo em vista que os contatos durante o processo de pesquisa apontavam o empenho da organização na ampliação do conhecimento sobre seus compradores, e não apenas o interesse diretamente comercial. O conjunto de estratégias e ações de marketing propostas apresenta foco no relacionamento com os clientes atuais e na posterior captação de novos clientes para elevar o faturamento da empresa. Em um novo momento, inclusive, a empresa poderá desenvolver uma pesquisa junto a não clientes, ampliando o conhecimento de todo o mercado de atuação. Porém, é de grande importância que cada ação proposta possua acompanhamento individual, buscando mensurar, principalmente, o índice de retorno sobre o investimento. Em vista do comparativo efetuado entre a situação atual e a projeção de resultados com a implantação do programa de marketing direto, é evidente a constatação de viabilidade, operacional e financeira da proposta, oportunizando à empresa o alcance da vantagem competitiva em seu mercado de atuação e, consequentemente, o crescimento e a expansão de seus negócios. Este estudo também possui intenção de estimular novos trabalhos acadêmicos relacionados de forma exclusiva ao marketing direto. Recebido em abril de 2011. Aprovado em novembro de 2011. Referências AAKER, David A.; KUMAR, V.; DAY, George S. Pesquisa de marketing. São Paulo: Atlas, 2001. ABEMD – Associação Brasileira de Marketing Direto. Indicadores ABEMD 2009. São Paulo, 2010. Disponível em: <http://www.abemd.org.br/indicadoresAbemd.aspx>. 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