final piracema - Pousada Barra do Aricá

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final piracema - Pousada Barra do Aricá
PIRACEMA
A piracema é um fenômeno que ocorre com diversas espécies de
peixes ao redor do mundo. A palavra vem do tupi e significa “subida
do peixe”. A piracema é o período em que os peixes sobem para a
cabeceira dos rios para realizar sua reprodução.
Contra a corrente
Alguns peixes sobem até 600 quilômetros de rio para procriar
 1 - No período de chuvas, os cardumes iniciam a subida dos
rios para a desova. Peixes como o curimbatá e o dourado
migram mais de 600 quilômetros até o local da reprodução.
No trajeto, o testículo dos machos aumenta de tamanho, fica
repleto de sêmen e esbranquiçado. Nas fêmeas, o aspecto
amarelado das ovas indica a presença de vitelo, rica reserva
de alimento presente nos óvulos que sustentará os futuros
peixinhos
 2 - Na hora da fecundação, a fêmea lança todo o seu conjunto
de óvulos no fundo do rio. O número varia bastante: a piava
desova em média 160 mil óvulos, enquanto para a fêmea de
dourado o total pode ultrapassar 1,5 milhão. O próximo passo
é dado pelos machos, que despejam sucessivos jatos de
sêmen sobre os óvulos, dando origem a ovos fertilizados.
 3 - Após a fecundação, os peixes iniciam o caminho de volta.
Os ovos são hidratados pela água, aumentam três vezes de
tamanho e são carregados pela correnteza. A maioria não
resiste e se torna alimento de peixes carnívoros. Só os que
alcançam as águas calmas de várzeas e lagoas marginais é
que conseguem sobreviver - menos de 1% do total
 4 - Poucas horas após a fecundação, a larva rompe a casca
do ovo e durante três dias tem a reserva de vitelo como
principal alimento. Após duas semanas, o peixe, com pouco
mais de 1 centímetro, já tem nadadeiras e escamas e
consome micro-organismos aquáticos das lagoas marginais,
locais ricos em alimentos e que funcionam como verdadeiros
berçários
A duração da viagem varia bastante. Peixes como as piavas não
vencem mais do que 3 quilômetros por dia, mas há registros de
curimbatás e dourados que chegaram a rasgar mais de 40
quilômetros de rio em apenas 24 horas. Para todos, porém, a
jornada é cheia de perigos. Além de superar cachoeiras,
predadores e outros obstáculos naturais, esses animais precisam
também vencer a pesca predatória.
Um grande obstáculo à piracema é a presença de barragens. Os
peixes, ao tentarem subir o rio, encontram esse obstáculo e, muitas
vezes, ferem-se gravemente, além de ficarem muito exaustos. É
nesse momento que muitos predadores se fartam de alimento.
Mesmo quando os peixes conseguem se reproduzir as larvas e
ovos não conseguem sobreviver nos reservatórios. Além disso, há
as turbinas que podem causar a morte tanto dos peixes quanto dos
ovos e larvas.
Vale destacar que, geralmente, as barragens apresentam sistemas
para a transposição de peixes com a finalidade de diminuir os
impactos relatados. Esses sistemas consistem normalmente em
uma espécie de escada que facilita a subida e descida dos peixes.
Essa escada foi bastante útil nos países do Hemisfério Norte,
entretanto, nos países da América do Sul, não teve tanto sucesso.
Pesquisas sugerem que a escada para peixes poderia favorecer a
extinção desses animais, pois cardumes inteiros seriam atraídos
para locais relativamente pobres. Alguns pesquisadores concluíram
que, em algumas dessas barragens, os peixes sobem o rio, porém
não descem. Isso porque o ambiente pós-barragem não é
adequado para desova e nem para o desenvolvimento de alevinos.
"Os peixes de piracema viram presas fáceis, pois sobem os rios em
grandes cardumes", A solução é proibir a pesca na época da
migração e da reprodução, o chamado defeso, que geralmente vai
de novembro a fevereiro. A cada ano, o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) publica uma
portaria estabelecendo quais espécies não podem ser pescadas
nesse período.
Dança nupcial
Na hora do acasalamento, a iniciativa é das fêmeas.
Durante o trajeto da piracema, os peixes "namoram" até quatro
horas antes de iniciarem o processo de fecundação. Esse período
de paquera entre machos e fêmeas parece um verdadeiro balé
aquático. Nadando no meio do rio, os machos são tocados por duas
fêmeas, que vêm pelas laterais. Os peixes se roçam, nadam em
círculos e emitem um ruído estridente, enquanto lançam óvulos e
sêmen no fundo do rio
A Piracema e a importância do Defeso
Os cuidados pela regeneração e pela multiplicação dos peixes
É tempo de respeitar o defeso. Incompreendida muitas vezes por
turistas e também pelos próprios ribeirinhos, o tempo de piracema é
de essencial importância para revitalização dos rios e lagos. Mas
qual a importância do defeso da piracema? É justamente para
preservar a vida nos rios. Defeso é o período de restrição da pesca
em águas interiores imposto pelo poder público. É uma medida de
comando e controle que visa a colaborar com a proteção e
manutenção dos estoques pesqueiros nos rios brasileiros, uma vez
que mais de 80% das espécies de peixes nativos das bacias
hidrográficas brasileiras são reofílicas, ou seja, realizam as
migrações para se reproduzirem. E, nesta migração os peixes se
tornam presas fáceis de pescadores que interrompem o processo
reprodutivo das espécies.
Instinto animal
O instinto animal luta pela sobrevivência e faz um esforço fantástico
para perpetuar a espécie. Esse é um instinto muito forte que
começa antes, muito antes da reprodução propriamente dita
acontecer. Assim, os animais interpretam os sinais ambientais de
que a estação favorável está para chegar. São justamente os dias
mais quentes, as chuvas mais frequentes, a água mais oxigenada.
Tudo isso é um sinal que o instinto deles sabe captar. E o que
acontece? Os machos e as fêmeas dispersos em pontos diferentes
dos rios como os lagos, baías e áreas de alimentação deixam esses
pontos de sossego e vão para as calhas dos rios. Deslocam-se
milhares de quilômetros formando cardumes que se dirigem às
áreas de desova, onde estarão próximos, maduros, prontos para o
acasalamento. A fecundação dos peixes migradores é externa, e a
elevada concentração de machos e fêmeas aumenta as chances de
fertilização no ambiente aquático.
E a lei da natureza continua: os milhões de ovos e larvas, como
nuvens suspensas na coluna d'água, serão vítimas de predadores,
da escassez de alimentos e de muitas outras condições adversas.
Na verdade poucos chegarão à fase adulta. A dispersão dos ovos,
embriões e larvas para as margens dos rios, feita pelas correntes,
concorre para que encontrem maior quantidade de alimento e
proteção, reduzindo essa perda.
E por que existem restrições à pesca?
O instinto de perpetuar a espécie fala mais alto, por isso durante a
piracema, o apelo para reprodução é tão intenso que os peixes se
descuidam de suas estratégias de proteção e ficam muito
vulneráveis. Tornam-se presa fácil. "A viagem de centenas de
quilômetros os deixa extenuados. Aí os pescadores aproveitam-se
dessa fragilidade para capturá-los facilmente. e em grandes
quantidades. "Agindo desse modo, interferem em todo o processo
de perpetuação da espécie e renovação dos estoques, que será
sentido na diminuição do tamanho dos peixes e na quantidade
disponível para a pesca nos anos subsequentes, por isso é tão
importante a proteção dos peixes na época da piracema",
acrescenta o diretor do IBAMA e alerta: "Até a viagem de barco - só
a passeio pelo rio - já é prejudicial. Os motores das embarcações
não só dispersam cardumes, como provocam movimento das águas
que acabam por influenciar no número de ovos fecundados,
evidente que prejudicando terrivelmente a reprodução".

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