CARACTERIZAÇÃO DA ICTIOFAUNA, CRUSTÁCEOS

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CARACTERIZAÇÃO DA ICTIOFAUNA, CRUSTÁCEOS
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
PÓS-GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA BIOLÓGICA
CARACTERIZAÇÃO DA ICTIOFAUNA,
CRUSTÁCEOS DECÁPODOS E AVALIAÇÃO DO
REJEITO DA PESCA DO CAMARÃO ROSA
(Farfantepenaeus paulensis) DO PARQUE NACIONAL
DA LAGOA DO PEIXE, RS, BRASIL.
DANIEL LOEBMANN
Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Oceanografia Biológica da
Fundação Universidade Federal do Rio Grande,
como requisito parcial à obtenção do título de
MESTRE.
Orientador: Dr. João Paes Vieira
RIO GRANDE – Dezembro de 2003
i
AGRADECIMENTOS
Esta dissertação só pode ser desenvolvida pelo fato de que sempre existiu um
trabalho em equipe do Laboratório de Ictiologia e amigos que sempre, de uma maneira
ou outra, contribuíram para elaboração deste manuscrito.
Quero principalmente deixar meus sinceros agradecimentos a:
Meu orientador e amigo João P. Vieira que, além de cumprir integralmente com
seu papel de orientador, sempre esteve envolvido positivamente em minhas atividades
profissionais e particulares.
Aos meus pais que sempre acreditaram na execução deste trabalho apoiando em
todos os momentos (inclusive na hora que acabou a bolsa).
A minha ex-namorada e amiga Samantha E. Martins, que sempre colaborou e
me apoiou ao longo desta trajetória e proporcionou a mim os dias mais felizes da minha
vida enquanto estivemos juntos.
Aos colegas de Laboratório por participarem de diversas etapas desta
dissertação, principalmente ao Fabio L. Rodrigues pelas criticas e sugestões, Alexandre
Garcia e Fábio Roselet (por me ajudarem nos momentos finais). Ao Marcio, Biba,
Raseira, pelo exaustivo trabalho de campo realizado durante o verão na área do Parque.
Aos membros da Pingüins da Fiel e ao Corinthians pelos inúmeros títulos que
pude comemorar ao longo destes anos.
A minha outra ex-namorada Salette A. de Figueiredo por sempre me apoiar
durante nossos longos anos de sincera amizade e pelos cuidados especiais dados à
minha cadela Mary Help durante minhas prolongadas saídas.
A Márcia, mulher de meu orientador, que compartilhou pacientemente seu
marido comigo em alguns fins de semana e horários extra-oficiais.
Ao Christian pela amizade e apoio logístico de software e hardware.
Aos colegas de outros laboratórios, entre eles, Stefan, pelos inúmeros churrascos
assados às sextas-feiras, Marcio Cabeção, Alexandre (elasmo) Indianara, Kiti, Graziela
(fisiologia), Chico, Mineiro, Manoela, Neve, etc...
A laboratorista Ana Catarina do DCMB.
Ao sargento Gomes e família, pelo carinho e atenção prestados durante minha
estadia no Farol de Mostardas.
Aos pescadores do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, pela colaboração
durante as amostragens realizadas.
Aos motoristas das Viaturas Giba, Valdir e Candinho.
Aos funcionários do IBAMA de Mostardas, especialmente à Luisa Lopes, Eda e
Ereno, pelo fornecimento do material e apoio necessários.
A FURG, pelo apoio logístico.
A MSc. Maria Lucia Antunes pelas valiosas informações sobre a pesca do
Camarão e auxílio de trabalho de campo.
A banca examinadora pelas valiosas críticas.
As instituições financiadoras pelo consentimento da Bolsa de trabalho, mesmo
diante das dificuldades de nosso país.
Aos professores do Programa de Pós-graduação em Oceanografia Biológica.
Aos Doutores Luiz Roberto Malabarba e Carlos Alberto Santos de Lucena pela
confirmação na identificação da ictiofauna límnica.
ii
SUMÁRIO
RESUMO......................................................................................................................... 1
ABSTRACT..................................................................................................................... 3
INTRODUÇÃO GERAL ............................................................................................... 5
Objetivos Gerais ........................................................................................................... 6
I - LISTA DE FAUNA (PEIXES E CRUSTÁCEOS DECÁPODOS) DO PARQUE
NACIONAL DA LAGOA DO PEIXE, RS, BRASIL. ................................................. 8
1. Introdução ................................................................................................................. 8
2. Material e Métodos ................................................................................................... 9
2.1 Área de Estudo.................................................................................................. 10
2.2 Desenho Amostral............................................................................................. 11
3. Resultados............................................................................................................... 13
4. Discussão ................................................................................................................ 20
II - DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA ICTIOFAUNA DA LAGOA DO PEIXE,
RS, BRASIL .................................................................................................................. 24
1. Introdução ............................................................................................................... 24
2 Material e Métodos .................................................................................................. 25
2.1 Área de Estudo.................................................................................................. 25
2.2 Desenho Amostral............................................................................................. 26
2.3 Análise dos dados ............................................................................................. 28
3 Resultados................................................................................................................ 29
4 Discussão ................................................................................................................. 38
III - O IMPACTO DA PESCA DO CAMARÃO-ROSA Farfantepenaeus paulensis
(PEREZ-FARFANTE, 1967) (DECAPODA, PENAEIDAE) NAS ASSEMBLÉIAS
DE PEIXES E CRUSTÁCEOS NO PARQUE NACIONAL DA LAGOA DO
PEIXE (RS, BRASIL)................................................................................................... 43
iii
1. Introdução ............................................................................................................... 43
2. Material e Métodos ................................................................................................. 46
2.1 Área de Estudo.................................................................................................. 46
2.2 Desenho Amostral............................................................................................. 47
2.3 Análise dos dados ............................................................................................. 48
3. Resultados............................................................................................................... 53
3.1 A composição das capturas............................................................................... 53
3.2 O esforço de pesca ............................................................................................ 57
3.3 Avaliação da espécie-alvo ................................................................................ 58
3.4 Estimativa dos itens presentes nas capturas no período amostrado.................. 61
3.5 Avaliação do impacto na população do Siri-Roxo Callinectes danae.............. 63
3.6 Avaliação da captura acessória ......................................................................... 63
3.7 Avaliação do impacto na ictiofauna rejeitada................................................... 64
3.8 A composição da ictiofauna acompanhante e as espécies potencialmente
afetadas ................................................................................................................... 66
3.9 As estruturas de tamanho e o impacto sobre as três espécies mais abundantes 69
3.9.1 Jenynsia multidentata ................................................................................ 69
3.9.2 Micropogonias furnieri.............................................................................. 70
3.9.3 Brevoortia pectinata .................................................................................. 70
4. Discussão ................................................................................................................ 73
4.1 A composição das capturas e a arte de pesca.................................................... 73
4.2 Produção X Produtividade ................................................................................ 79
4.3 O esforço de pesca ............................................................................................ 80
4.4 Considerações Finais ........................................................................................ 82
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 85
iv
LISTA DE FIGURAS
vii
Figura 1.1 – Área de estudo: 1) Setor 1 = Lagoas Pai João e Veiana; 2) Setor 2 = Arroio
tributário da Lagoa do Peixe e; 3) Setor 3 = Lagoa do Peixe. Fonte: IBAMAMostardas.
11
Figura 2.1 – Abundância percentual e biomassa percentual para as espécies mais
importantes na zona rasa (todos os setores) da Lagoa do Peixe.
33
Figura 2.2 – Abundância percentual e biomassa percentual para as espécies mais
importantes na zona profunda (todos os setores) da Lagoa do Peixe.
33
Figura 2.3 – Análise de agrupamento baseada Índice de Importância Relativa para os
setores da Lagoa do Peixe
34
Figura 3.1 – Área de estudo: 1) Setor Chica; 2) Setor Capitão- Rosa; 3) Setor Paiva;
4) Setor Lagamarzinho; 5) Setor Costa e; 6) Setor Véia Terra. Fonte: IBAMAMostardas.
45
Figura 3.2 – Desenho esquemático do Aviãozinho. (Fonte: Enge Pesca). 1 = Atrativo
luminoso; 2 = Tralha superior; 3 = Tralha inferior; 4 = Calões de sustentação;
5 = Saco da rede e; 6 = Aros de sustentação do saco.
Figura 3.3 – Composição percentual das capturas de cada item analisado.
45
54
Figura 3.4- Composição percentual das capturas de cada item analisado para cada setor.
Valores baseados na CPUE de cada rede em cada setor das amostragens.
54
Figura 3.5 – Captura média total (∑CPUE (Espécie alvo + Captura Acessória + Rejeito
de Pesca)) (rede/dia) em gramas para cada setor amostrado. Setores em preto
representam a região pré-limnica da Lagoa do Peixe e; Setores em branco
representam a região estuarina.
57
Figura 3.6 – Captura mensal de Camarão – Rosa expressos em (Kg/rede/dia) com seus
respectivos intervalos de confiança (p>0,05) para toda a safra.
60
v
Figura 3.7 – Estimativas da biomassa total de camarão-rosa por setor. O esforço é o
mesmo para as duas estimativas, no entanto, a CPUE (captura média por dia por
rede) são calculadas sobre os dados amostrados e dados do IBAMA.
60
Figura 3.8 - Interação entre os fatores (FONTE 1 = IBAMA e FONTE 2 = Amostragem
com pescador voluntário) mostrando as média e intervalos de confiança (I.C. 95%)
para fonte de dados de cada local amostrado.
62
Figura 3.9 – Índice de Importância Relativa (IIR%) graficado. Eixo do Y os valores
acima representam a abundância percentual (PN%) de cada espécie e os valores
abaixo representam a contribuição em peso (PN%) de cada espécie. Eixo do X é a
freqüência de ocorrência percentual (FO%) para cada espécie. Notar que quanto
maior a área do retângulo formado pelas três variáveis, maior será a importância da
espécie
67
Figura 3.10 – Composição da CPUE (número médio de indivíduos por rede) por classe
de comprimento (10mm CT) das capturas para os setores amostrados na Lagoa do
Peixe, destacando as três espécies mais importantes. Código das espécies BREPEC
= B. pectinata; MICFUR = M. furnieri e; JENMUL = J. multidentata.
69
Figura 3.11 - Composição da CPUE (número médio de indivíduos por rede) por classe
de comprimento (10mm CT) das capturas para os setores amostrados na Lagoa do
Peixe de B. pectinata (BREPEC), M. furnieri (MICFUR) e J. multidentata
(JENMUL).
72
Figura 3.12 – Comparação entre as estimativas das proporções dos itens. A = Baseado
nos valores de CPUE encontrados nas amostras com pescadores voluntários e;
B = Baseado nas estimativas e considerando os valores encontrados para corvina e
savelha como rejeito de pesca.
83
vi
LISTA DE TABELAS
Tabela I – Esforço de pesca (número de amostras) aplicado para cada setor amostrado
durante o estudo (CER = Rede de Cerco; PIC = Rede Picaré; TRF = Tarrafa;
RQU = Rede Quadrada e; AVI = Aviãozinho)....................................................... 13
Tabela II - Lista de espécies capturadas com suas respectivas famílias para cada arte de
pesca. COD 0 = Dados históricos; 1 = Sistema Pai João – Veiana; 2 = Setor 2;
3 = Lagoa do Peixe. AVI = Aviãozinho; CER = Rede de cerco; PIC = Picaré;
PUÇ = Puçá; QUA = Rede Quadrada; TAR = Tarrafa. PN% = Percentual numérico
da abundancia específica e FO% = Freqüência de Ocorrência Percentual
Específica. Em negrito estão as espécies com primeiro registro para o PNLP. ..... 16
Tabela III - Lista de crustáceos decápodos capturados para cada arte de pesca.
AVI = Aviãozinho; CER = Rede de cerco; PIC = Picaré; PUÇ = Puçá; QUA =
Rede Quadrada; TAR = Tarrafa. Em negrito estão as espécies com primeiro
registro para o PNLP............................................................................................... 19
Tabela IV – Esforço de pesca (número de amostras) aplicado para cada setor amostrado
durante o estudo (CER = Rede de Cerco; PIC = Rede Picaré; TRF = Tarrafa;
RQU = Rede Quadrada e; AVI = Aviãozinho)....................................................... 27
Tabela V – Padrão de distribuição das espécies encontradas na Lagoa do Peixe. ......... 32
Tabela VI - Freqüência de ocorrência (FO); Percentual numérico (PN%); Percentual em
peso (PW%) e; Captura por unidade de esforço (ind/rede) (CPUE) de cada espécie
capturada por Aviãozinho e/ou Picaré para as quatro zonas determinadas pela
análise de agrupamento. Em negrito, contribuições acima da média. .................... 36
Tabela VII - Esforço total (número de redes em cada mês por setor ao longo da safra)
baseado nas planilhas estatísticas do IBAMA. ....................................................... 58
vii
Tabela VIII - Capturas mensais totais de Camarão-Rosa em cada setor da Lagoa do
Peixe. Dados obtidos das planilhas estatísticas do IBAMA-Mostardas. ................ 59
Tabela IX - Comparação dos esforços aplicados no período amostrado (Esforço 1),
durante toda a safra (Esforço 2) e contribuição percentual (%) para os setores que
foram utilizados para estimar as capturas totais de cada item. ............................... 61
Tabela X – Estimativas totais do período amostrado dos itens capturados para cada
local. Os intervalos foram gerados baseados nos valores encontrados nas amostras
e extrapolados sobre os dados fornecidos pelo IBAMA. Estimativa 1 = Captura
mínima estimada; Estimativa 2 = Captura média estimada e; Estimativa 3 –
Captura máxima estimada. Os valores das estimativas estão em quilogramas. ..... 65
Tabela XI - Número total de indivíduos coletados (Ntot); Percentual numérico (%Ntot);
Freqüência de Ocorrência (FO); Freqüência de Ocorrência ajustada a 100% (FO%
aj.); Biomassa capturada de cada espécie (W); Percentual da Biomassa (% W) e,
Índice de Importância Relativa (IIR%)................................................................... 68
1
RESUMO
O presente trabalho esta dividido em três capítulos. O primeiro capítulo, baseado
na bibliografia disponível e em coletas de campo, apresenta uma lista taxonômica de
peixes e crustáceos decápodos da região do entorno do Parque Nacional da Lagoa do
Peixe (PNLP – 31°21'S; 051°02'W), RS. Através de amostras sazonais durante os anos
de 2001 e 2002, e levantamentos bibliográficos, constatou-se que a ictiofauna do PNLP
esta representada por 73 espécies de peixes e 14 espécies de crustáceos decápodos,
sendo 51 espécies de peixes, e três de crustáceos decápodos, citadas pela primeira vez.
Com exceção da baixa abundância de Ariidae, e a provável ausência dos bagres do
gênero Netuma, a fauna de peixes e crustáceos decápodos do PNLP se assemelha a dos
demais estuário do RS. Em se tratando de um Parque Nacional, merece destaque a
presença do crustáceo Chasmagnatus granulata dentro da área do Parque, uma vez que
esta espécie esta atualmente classificada como vulnerável dentro do RS. O segundo
capítulo analisa, e descreve quantitativamente, a distribuição espacial e a abundância
relativa da ictiofauna ao longo do gradiente salino da Lagoa do Peixe. Em função de
apresentar uma barra intermitente, que permite a entrada de água salgada dentro de um
sistema alimentado constantemente por água de baixa salinidade, oriunda de banhados e
arroios, a Lagoa do Peixe apresentou uma ictiofauna composta de espécies límnicas,
estuarino-relacionadas e marinhas. Baseado na composição específica desta ictiofauna,
a Lagoa do Peixe pode ser compartimentada em quatro zonas: pré-límnica rasa, prélímnica profunda, estuarina rasa e estuarina profunda. A variabilidade espacial na
composição da ictiofauna revela que existe uma mudança gradual na dominância das
principais espécies; havendo uma substituição gradativa das espécies marinhasestuarino relacionadas por espécies de água doce, e uma redução pronunciada nas
2
abundâncias das espécies na zona rasa. A presença geográfica da barra no centro da
Lagoa do Peixe promoveu uma divisão espacial ambiental da Lagoa do Peixe atípica,
pois tanto para o Norte como para o Sul, há presença de uma zona pré-límnica. Este
comportamento faz com que a Lagoa do Peixe apresente uma ictiofauna semelhante nos
extremos Norte e Sul, separados por água de alta salinidade dos setores centrais. O
último capítulo é uma avaliação do impacto da pesca do camarão-rosa Farfantepenaeus
paulensis sobre a assembléia de peixes e crustáceos do PNLP. Constatou-se que, em
média, a composição nas capturas da pesca do camarão-rosa com a arte de pesca
aviãozinho, é semelhantes àquelas descrita em outros estuários do RS, quando
considerada apenas a proporção de cada item analisado (Camarão 53%: Captura
Acessório 24%: Rejeito 23%). No entanto, conforme descrito no CAP 2, a composição
da fauna acompanhante apresenta diferenças pronunciadas ao longo do gradiente
estuarino. As estimativas potenciais de impacto nas capturas acessória e rejeito
apresentaram valores, do ponto de vista pesqueiro, bastantes satisfatórios, o que sugere
que a decisão de proibir a pesca no PNLP deve ser baseada na atividade pesqueira, em
si, e não no seu impacto sobre a fauna acompanhante.
3
ABSTRACT
The current work is subdivided in three major chapters. Based on several distinct
sampling gears, the first chapter shows a taxonomic list of the decapod crustacean and
fish assemblages inhabiting the lagoons of the Lagoa do Peixe National Park. Seasonal
sampling, during 2001 and 2002, and a review of the current literature, showed that the
ichthyofauna in the park comprises 73 fishes and 14 decapod crustaceans. Most fishes
(51 species) and three crustaceans were recorded for the first in the area. In spite of the
low abundance of Ariidae, or even the absence of the marine cat-fishes genus Netuma
the fish-fauna of the PNLP is very similar to the other estuary of the Rio Grande do Sul
state. Regarding the decapods crustaceans, it is worth noting the occurrence of
Chasmagnatus granulata inside the park. This specie is currently considered vulnerable
at the Rio Grande do Sul state. The second chapter deal with the relative abundance and
spatial distribution along the estuarine gradient of the Lagoa do Peixe. Due to the fact
that this system has an intermittent mouth open to the sea, which allow the mixing of
the entering salt water with the fresh water coming from floodplains and streams that
drain into the park, the Lagoa do Peixe’s ichthyofauna was composed of limnetic,
marine and estuarine-related species. Based on fish species composition, the Lagoa do
Peixe National Park can be divided in four zones: pre-limnetic shallow-waters, prelimnetic deep-waters, estuarine shallow-waters and estuarine deep-waters. The
variability in fish composition across the estuarine and pre-limnetic zones were
characterized by a gradual change in the dominance patterns, a gradual replacement of
marine to fresh water species and a pronounced reduction in fish abundance at the
shallow waters. The localization of the mouth opened to the sea near the center of the
system induced an uncommon spatial distribution of fresh water, resulting in the
4
presence of pre-limnetic zones both at the north and south of the national park. This
feature could explain why the Lagoa do Peixe has a similar ichthyofauna both at the
north and south sites, which differs from the one found in the higher salinity waters of
the middle zone (near the mouth). The last chapter is an evaluation of the by-catch
impact of the pink shrimp Farfantepenaeus paulensis fishery on the fish and decapod
crustacean assemblages of the Lagoa do Peixe National Park. The proportion of target
species (pink shrimp 53%) and by-catch (47%) was similar to other fyke-net fishery on
others estuaries of Rio Grande do Sul state. But, as show on Chapter 2, the by-catch
composition change form estuarine to pre-limnetic zones. The potential damage of the
pink shrimp fishery at Lagoa do Peixe National Park will probably be due to the
intensity of the fishery rather than the composition of the by-catch.
5
INTRODUÇÃO GERAL
O Parque Nacional da Lagoa do Peixe foi criado em 1986 e está situado na
planície costeira do Rio Grande do Sul, entre a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico.
Sua área abrange os municípios de Tavares (80%), Mostardas (17%) e São José do
Norte (3%). Segundo seu plano de manejo (KNAK 1998), esta Unidade de Conservação
(UC) possui uma área de 344 Km², sendo sua extensão de 62 km e sua largura média de
6 km, apresentando temperatura média anual entre 18 e 20 ºC e precipitações médias
anuais de 1.186 mm. Com exceção de um extenso cordão de dunas costeiras, a
topografia é praticamente plana, e o solo é formado basicamente por areias quartzosas
de origem marinha.
Esta UC se estende desde as lagoas de água doce Pai João e Veiana (31°02’S;
050°77’W) ao norte, até o sul da Lagoa do Peixe (31°48’S; 051°15’W). A existência de
várias unidades ambientais (marismas, banhados, ilhas, lagoas interiores de água doce,
laguna, dunas, praias interiores e oceânicas, planos intertidais, infralitoral vegetado e
não vegetado, pradarias de algas e fanerógamas submersas, canal, campos e mata de
restinga) (KNAK 1998) fornecem ao PNLP características peculiares que lhe conferem
grande importância em nível mundial, de modo que já foram atribuídos ao PNLP o
status de Reserva da Biosfera, Sítio Ramsar e Reserva Internacional de Aves Limnícolas
(COSTA et al. no prelo).
A ictiofauna de estuários em toda a costa do Rio Grande do Sul já foi estudada por
diversos pesquisadores (CHAO et al. 1982; CHAO et al. 1985; VIEIRA & CASTELLO
1996; PEREIRA et al. 1998; VIEIRA et al. 1998; VIEIRA et al. 1998; RAMOS 1999;
GARCIA et al. 2001; RAMOS & VIEIRA 2001; RASEIRA 2003; VIEIRA &
LOEBMANN 2003). No entanto, a Lagoa do Peixe ainda é pouco estudada em função
6
das dificuldades em se estabelecer um esforço de coleta sistemático, associados a
fatores como distância, alojamentos precários, difícil acesso e deslocamento. Até o
momento, existem somente três referencias descrevendo superficialmente e ictiofauna
da Lagoa do Peixe (DE BEM JR. & LAURINO 1994; LOEBMANN et al. 2001;
RAMOS & VIEIRA 2001).
O baixo número de espécies de peixes registrados até o momento (seis espécies na
Lagoa Pai João e 18 na Lagoa do Peixe) (DE BEM JR. & LAURINO 1994;
LOEBMANN et al. 2001; RAMOS & VIEIRA 2001) mostra que estas lagoas ainda não
são suficientemente conhecidas, além do que, aspectos relacionados com a estrutura da
assembléia de peixes, como distribuição espacial e abundância relativa das espécies, não
foram ainda considerados, o que nos incentivou a realização deste trabalho.
Ao longo dos anos esta UC vem sofrendo constantes alterações antrópicas
certamente impactantes, como plantações de Pinnus sp, pesca, caça, formação de
balneários, lixo urbano, entre outros (KNAK 1998). A fragilidade desta UC aos
crescentes fatores antrópicos, leva o PNLP a necessitar, de imediato, de pesquisas em
diversas áreas com o objetivo de melhorar a compreensão deste ecossistema costeiro,
fornecendo subsídios importantes para o manejo e preservação deste santuário
ecológico. Levando em consideração que a pesca no PNLP está incluída entre os fatores
que podem prejudicar o meio ambiente, este trabalho também enfocou a questão da
pesca artesanal do Camarão-Rosa (Farfantepenaeus paulensis) na Lagoa do Peixe.
Objetivos Gerais
•
Catalogar a fauna de peixes e crustáceos decápodos presentes no PNLP.
•
Caracterizar a distribuição espacial de peixes na Lagoa do Peixe.
7
•
Determinar as espécies da ictiofauna mais importantes na estrutura desta
assembléia.
•
Avaliar o impacto causado pelas redes do tipo Aviãozinho, utilizadas pelos
pescadores residentes no entorno do PNLP na pesca do Camarão-Rosa, sobre a fauna de
crustáceos e peixes capturados.
De acordo os objetivos expostos esta dissertação é constituída de três capítulos. O
primeiro capítulo, baseado na bibliografia disponível e em coletas de campo, apresenta
uma lista taxonômica de peixes e crustáceos decápodos da região do Parque Nacional da
Lagoa do Peixe (PNLP). O segundo capítulo analisa e descreve quantitativamente a
distribuição espacial e abundância relativa da ictiofauna ao longo do gradiente salino da
Lagoa do Peixe. O último capítulo é uma avaliação do impacto da pesca do camarãorosa Farfantepenaeus paulensis sobre a assembléia de peixes e crustáceos do PNLP.
8
I - LISTA DE FAUNA (PEIXES E CRUSTÁCEOS DECÁPODOS) DO PARQUE
NACIONAL DA LAGOA DO PEIXE, RS, BRASIL.
1. Introdução
A planície costeira do extremo sul do Brasil corresponde a uma zona
biogeográfica de transição temperada-quente, devido à influência da Convergência
Subtropical no Oceano Atlântico Sudoeste (SEELIGER et al. 1997). Sua extensão é de
aproximadamente 640 Km, sendo seus limites geográficos a Barra do Chuí (33ºS e
53ºW) ao sul e a desembocadura do Rio Mampituba (29ºS e 49ºW) ao norte. Esta região
apresenta cerca de 50 lagoas costeiras, sendo que a maioria delas são alongadas,
paralelas a praia e de pouca profundidade (RAMBO 1994) e, a feição dominante da
planície é o complexo Lagoa dos Patos-Mirim, com aproximadamente 14.000 km2
(SEELIGER et al. 1997).
Localizado no segmento mediano desta Planície costeira, entre a Lagoa dos Patos
e o Oceano Atlântico, foi em 1986, sob sugestão do Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal – IBDF, hoje denominado Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, criado o Parque Nacional da
Lagoa do Peixe (PNLP) (Fig. 1.1). Atualmente, o PNLP possui status de Reserva da
Biosfera, Sítio Ramsar e Reserva Internacional de Aves Limnícolas.
Dentro da área do PNLP destacam-se dois corpos de água importantes, as lagoas
límnicas e interconectadas Pai João e Veiana, e a Lagoa do Peixe caracterizada como
um ambiente lagunar-estuarino que possui comunicação intermitente com o mar
(KNAK 1998).
Levantamentos faunísticos regionais são imprescindíveis para uma melhor
compreensão da estrutura, funcionamento e variabilidade natural das comunidades,
9
constituindo um requisito fundamental para o estabelecimento de programas de
monitoramento costeiro (MORGADO & AMARAL 1989). Tendo em vista que a área
de estudo trata-se de um Parque Nacional, e que existe atividade de pescadores
artesanais na Lagoa do Peixe, levantamentos e monitoramentos de flora e fauna se
fazem extremamente necessários para detectar possíveis alterações que possam causar
mudanças prejudiciais ao meio ambiente.
Trabalhos preliminares de crustáceos decápodos (SANTOS et al. 2000) e da
ictiofauna (DE BEM JR. & LAURINO 1994; LOEBMANN et al. 2001; RAMOS &
VIEIRA 2001); revelaram a presença, na Lagoa do Peixe, de organismos de origem
marinha e límnica. Isto é possível devido à ligação temporária com o oceano e do aporte
de água doce proveniente de banhados e sangradouros que drenam água para a Lagoa do
Peixe. No entanto, o baixo número de espécies de peixes registrados até o momento
(seis espécies na Lagoa Pai João e 18 na Lagoa do Peixe) pode estar indicando que estas
lagoas ainda não são suficientemente conhecidas, o que incentivou a realização deste
trabalho.
2. Material e Métodos
Este trabalho apresenta uma relação das espécies de crustáceos decápodos e
peixes coletados durante os anos de 2001 e 2002 pela equipe de pesquisadores do
Laboratório de Ictiologia (Departamento de Oceanografia da Fundação Universidade
Federal do Rio Grande). As coletas foram autorizadas pelo IBAMA, através da licença
de n° 074/2001. Além disso, foram utilizados dados bibliográficos históricos para
complementar as informações (DE BEM JR. & LAURINO 1994; SANTOS et al. 2000;
LOEBMANN et al. 2001).
10
A lista das espécies coletadas, com suas respectivas famílias, foram ajustadas em
função de sua filogenia, baseado nos bancos de dados fornecidos pelo site
www.fishbase.org (FROESE & PAULY 2003) e por manuais de identificação
especializados
(FIGUEIREDO
&
MENEZES
1978;
1980;
MENEZES
&
FIGUEIREDO 1980; 1985). Também foram considerados os tipos de amostradores nos
quais cada espécie foi capturada.
2.1 Área de Estudo
Para descrição da ictiofauna do PNLP, os dados foram agrupados em três setores:
Setor 1 - Compreende amostras das lagoas de água doce Pai João e Veiana, que
estão localizadas no extremo norte do PNLP (31°02’S; 050°77’W). Neste ambiente
exclusivamente límnico, a profundidade média é cerca de 3m com a maior parte de sua
superfície coberta de aguapés, sendo de difícil navegação;
Setor 2 - Compreende amostras em um ponto de coleta localizado próximo à
estrada que liga o balneário Praia-Nova a Mostardas (31°06’S, 050°50’W), representado
por um arroio tributário da Lagoa do Peixe que, assim como nas Lagoas Pai João e
Veiana, é um ambiente tipicamente límnico.
Setor 3 - Compreende amostras na Lagoa do Peixe, representado por quatro
pontos de zona rasa (< 1m) e seis pontos de zona profunda (entre 1 e 2m). Este setor
pode ser classificado como um ambiente lagunar semifechado, onde ocorrem trocas e
variações nas características físico-químicas, devido ao intercâmbio com seus sistemas
vizinhos. Esta classificação é em função da barra da lagoa, que apresenta comunicação
intermitente com o Oceano Atlântico, e geralmente permanece fechada durante alguns
meses do ano. A lagoa acumula água de banhados e lagoas adjacentes, e quando rompe
em direção ao mar se comporta como um estuário (SCHWARZBOLD & SCHÄFER
11
1984). Esta Lagoa possui um espelho da água de aproximadamente 35 Km2 e sua
profundidade é pequena (média de 30cm), podendo chegar a 2m nos canais e na barra.
Figura 1.1 – Área de estudo: 1) Setor 1 = Lagoas Pai João e Veiana; 2) Setor 2 = Arroio
tributário da Lagoa do Peixe e; 3) Setor 3 = Lagoa do Peixe. Fonte: IBAMAMostardas.
2.2 Desenho Amostral
Amostras sazonais foram realizadas durante o inverno e primavera de 2001 e
verão e outono de 2002. Durante o verão houve intensificação das amostragens, pois foi
possível realizar coletas mensais, e ainda incluir o rejeito da pesca do camarão-rosa com
rede tipo “Aviãozinho”. O material coletado foi fixado em campo com formoldeído a
4 % e posteriormente triado em Laboratório.
Em decorrência dos diferentes tipos de ambientes, e também em função do
propósito deste trabalho, utilizavam-se diversas artes de pesca para uma melhor
12
descrição da ictiofauna e fauna acompanhante de crustáceos. As artes de pesca
utilizadas foram:
1. Picaré - Rede manual de arrasto de praia (9 metros de comprimento, com
malha de 5mm nos 3 metros centrais e 12mm nas laterais), com 1,5 metros
de altura. Este amostrador perfaz por amostra uma área varrida de
aproximadamente 60m2, tendo sido feitas 129 amostras;
2. Cerco - Rede manual de arrasto de praia (20m de comprimento com
panagem única de 12mm), com 0,6m de altura, que varre uma área de
aproximadamente 100m2, totalizando 38 amostras;
3. Tarrafas – 3a) De olho ou argolas – utilizou-se uma de abertura circular de
20m e malha de 12mm e uma de abertura circular de 17 metros e malha de
50mm); e 3b) De rufo (abertura circular de 8m e malha de 13mm),
totalizando 26 amostras;
4. Aviãozinho - Rede passiva com atrativo luminoso utilizada pelos
pescadores artesanais da região, malha de 12mm no funil, utilizada durante
a noite por aproximadamente 12 horas, totalizando 48 amostras
provenientes de 1.632 redes;
5. Puçá - Abertura semicircular de aproximadamente 110cm com malha de
5mm totalizando duas amostras;
6. Rede Quadrada - Rede que possui uma boca com armação de cano (PVC)
formando um quadrado de 0,8 m de lado, toda a panagem é de malha de
5mm e a rede é arrastada com auxílio de um cabo, varrendo
aproximadamente 8 m2, totalizando 17 amostras.
13
O número de amostras realizadas de cada arte de pesca para cada setor está
descrito na TAB. I.
Tabela I – Esforço de pesca (número de amostras) aplicado para cada setor amostrado durante o
estudo (CER = Rede de Cerco; PIC = Rede Picaré; TRF = Tarrafa; RQU = Rede Quadrada e; AVI
= Aviãozinho).
SETOR 1
SETOR 2
SETOR 3
CER PIC TRF PUÇ RQU AVI
2
3
6
1
13
38 126 20
1
2
48
Para cada espécie, foi calculado o grau de importância relativa em cada
amostrador por meio da freqüência de ocorrência percentual (FO%) e sua percentagem
numérica (PN%). Desta maneira, as espécies foram classificadas em: 1) espécies
ocasionais - não ultrapassaram valores acima da média de PN% e FO%; 2) espécies
freqüentes e não abundantes - valores de PN% menor que a média de PN% e valores
FO% acima da média de FO% e; 3) espécies freqüentes e abundantes - valores de PN%
e FO% acima da média.
3. Resultados
Levando em consideração todos os amostradores utilizados ao longo de todo o
ano e todos os pontos amostrados, foram coletados um total de 54.138 peixes
representados por 68 espécies de teleósteos distribuídas em 26 famílias (Tabela II).
Durante as amostragens não foi registrada a presença de elasmobrânquios.
Gymnotus carapo foi à única espécie capturada no sistema Lagoa Pai JoãoVeiana (Setor 1) que não ocorreu no sistema Lagoa do Peixe (Setores 2 e 3). O sistema
Lagoa Pai João-Veiana apresentou um menor número de espécies (S=15) em relação ao
sistema Lagoa do Peixe (S=67), sendo 33 consideradas espécies límnicas, 15 espécies
estuarino-relacionadas e 19 espécies marinhas. As espécies límnicas Astyanax fasciatus,
14
Callichthys callichthys, Cheirodon ibicuhiensis, Cyphocarax saladensis, Mimagoniates
inequalis e Pseudocorynopoma doriae ocorreram exclusivamente no setor 2.
Das 73 espécies listadas (TAB. II), 51 destas são citadas pela primeira vez (em
destaque na mesma tabela), e devem, portanto, ser consideradas como primeiro registro
para o PNLP. Nove espécies ainda não haviam sido catalogadas para estuários do Rio
Grande do Sul, sendo seis marinhas (Albula nemoptera, Epinephelus guaza,
Mycteroperca rubra, Sardinella aurita, Uraspis secunda e uma espécie de Sciaenidae
não identificada), e três estuarinas (Awaous tajasica, Dormitator maculatus, Eleotris
pisonis).
O aviãozinho foi o amostrador que mais contribuiu com os novos registros,
sendo que das espécies capturadas pela primeira vez, 33 estavam presentes neste tipo de
arte de pesca e 19 destas foram exclusivas desta arte de pesca. As espécies mais
freqüentes (FO%) e abundantes (PN%) no aviãozinho foram Brevoortia pectinata
(FO% = 68,8; PN% = 42,5), Micropogonias furnieri (FO% = 60,4; PN% = 16,7) e
Jenynsia multidentata (FO% = 81,3; 14,6%).
Na rede de Cerco, dentre as espécies freqüentes e abundantes destaca-se
novamente B. pectinata (FO% = 26,3; PN = 21,7%), seguida de Astyanax
eingemanniorum (FO% = 34,2; PN% = 17,7), Mugil platanus (FO% = 55,3; PN% =
14,1) e Odontesthes argentinensis (FO% = 52,6; PN% = 13,5). A rede Picaré teve M.
platanus (FO% = 74,5; PN% = 65,9) como única espécie dominante, o mesmo
aconteceu com o Puçá que teve Phalloceros caudimaculatus representando 95,75% de
percentagem numérica. A rede quadrada esteve representada principalmente por P.
caudimaculatus (FO% = 23,5; PN% = 58,6) e Hyphessobrycon bifasciatus (FO% =
58,8; PN% = 7,9). Já a Tarrafa teve Oligosarcus jenynsii (FO% = 46,2; PN% = 38,0),
15
O. argentinensis (FO% = 34,2; PN% = 16,2) e A. eingemanniorum (FO% = 50,0 PN% =
14,6), como as espécies mais freqüentes e abundantes.
A fauna acompanhante de crustáceos registrou um total de oito espécies (Tabela
III). Destas, três são citadas pela primeira vez para o PNLP, são elas: Macrobrachium
borelli, Paleomonectes argentinenus e Rhithropanopeus harrissii. Merece destaque
ainda a presença de F. paulensis e Callinetes sapidus em todas as amostras de
Aviãozinho. Os outros amostradores sempre apresentaram valores de FO% de
crustáceos inferiores a 50,1%.A rede tipo picaré foi a única rede que capturou todas as
espécies de crustáceos.
16
Tabela II - Lista de espécies capturadas com suas respectivas famílias para cada arte de pesca. COD 0 = Dados históricos; 1 = Sistema Pai João – Veiana; 2 = Setor 2; 3 = Lagoa
do Peixe. AVI = Aviãozinho; CER = Rede de cerco; PIC = Picaré; PUÇ = Puçá; QUA = Rede Quadrada; TAR = Tarrafa. PN% = Percentual numérico da abundancia específica
e FO% = Freqüência de Ocorrência Percentual Específica. Em negrito estão as espécies com primeiro registro para o PNLP.
FAMÍLIA
ESPÉCIE
AVI
COD
PN%
CER
FO%
ELOPIDAE
Elops saurus Linnaeus, 1766
3
<1
6,3
ALBULIDAE
Albula nemoptera (Fowler, 1911)
3
<1
4,2
ENGRAULIDAE
Anchoa marinii (Hildebrand, 1943)
ENGRAULIDAE
Lycengraulis grossidens (Agassiz, 1829)
0;3
<1
6,3
CLUPEIDAE
Brevoortia pectinata (Jenyns, 1842)
0;3
42,6
68,8
CLUPEIDAE
Harengula clupeola (Cuvier, 1829)
3
<1
14,6
CLUPEIDAE
Platanichthys platana (Regan, 1917)
3
<1
47,9
CLUPEIDAE
Sardinella aurita Valenciennes, 1847
3
<1
2,1
PN%
PIC
FO%
3
CURIMATIDAE
Cyphocarax saladensis (Meinken, 1933)
CURIMATIDAE
Cyphocarax voga (Hensel, 1870)
1;2;3
<1
16,7
ERYTHRINIDAE
Hoplias malabaricus (Bloch,1794)
0;1;2;3
<1
25,0
CHARACIDAE
Astyanax alburnus (Hensel, 1870)
3
21,7
26,3
PN%
PUÇ
FO%
PN%
QUA
FO%
CHARACIDAE
Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)
0;1;2
CHARACIDAE
Astyanax eingemanniorum (Cope, 1894)
1;2;3
CHARACIDAE
Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819)
2
CHARACIDAE
Characidium rachovii Regan, 1913
1;2
CHARACIDAE
Cheirodon ibicuhiensis Eingenmann, 1915
CHARACIDAE
Cheirodon interruptus (Jenyns, 1842)
2;3
CHARACIDAE
Hyphessobrycon bifasciatus Ellis, 1911
1;2;3
CHARACIDAE
Hyphessobrycon boulengeri (Eigenmann, 1907)
2;3
CHARACIDAE
Hyphessobrycon luetkenii (Boulenger, 1887)
2;3
1,7
18,8
17,7
CHARACIDAE
Hyphessobrycon meridionalis Ringuelet et al., 1978
3
CHARACIDAE
Mimagoniates inequalis (Eigenmann, 1915)
2
CHARACIDAE
Oligosarcus jenynsii (Günther, 1864)
0;2;3
CHARACIDAE
Oligosarcus robustus Menezes, 1969
3
8,3
<1
<1
<1
25,0
2,2
2,6
2,6
18,4
FO%
<1
3,1
1,0
7,7
1,0
10,9
5,9
3,8
<1
4,7
<1
<1
4,3
26,4
2
<1
PN%
<1
2,6
34,2
FO%
<1
2
<1
PN%
TAR
<1
50,0
<1
5,9
3,6
23,5
3,3
38,5
<1
23,5
<1
3,8
<1
5,9
<1
11,5
4,7
58,8
14,6
50,0
<1
7,7
38,0
46,2
1,5
3,8
<1
11,8
<1
4,7
<1
50,0
<1
11,8
<1
100,0
7,9
58,8
<1
18,6
<1
2,3
<1
6,2
<1
<1
<1
9,3
<1
50,0
1,8
50,0
1,1
17,6
6,6
23,5
<1
11,8
17
FAMÍLIA
ESPÉCIE
AVI
COD
CER
PN%
FO%
<1
2,1
CHARACIDAE
Pseudocorynopoma doriae Perugia, 1891
2
ARIIDAE
Genidens genidens (Valenciennes, 1839)
3
PIMELODIDAE
Pimelodella australis Eigenmann, 1917
2;3
<1
2,1
PIMELODIDAE
Rhamdia sp (Quoy & Gaimard, 1824)
0;2;3
<1
20,8
CALLICHTHYDAE
Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758)
0;2
CALLICHTHYDAE
Corydoras paleatus (Jenyns, 1842)
2;3
<1
8,3
CALLICHTHYDAE
Hoplosternum littorale (Hancock, 1828)
2;3
<1
4,2
GYMNOTIDAE
STERNOPYGIDAE
Gymnotus carapo Linnaeus, 1758
Eigenmannia virescens (Valenciennes, 1842)
GADIDAE
Urophycis brasiliensis (Kaup, 1858)
3
<1
2,1
ANABLEPIDAE
Jenynsia multidentata (Jenyns, 1842)
0;1;2;3
14,6
81,3
POECILIIDAE
Cnesterodon decemmaculatus (Jenyns, 1842)
POECILIIDAE
Phalloceros caudimaculatus (Hensel, 1868)
POECILIIDAE
Phalloptychus januarius (Hensel, 1868)
ATHERINIDAE
Atherinella brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824)
ATHERINIDAE
Odontesthes argentinensis (Valenciennes, 1835)
ELEOTRIDAE
PN%
<1
PIC
FO%
7,9
PN%
<1
<1
PUÇ
FO%
5,4
5,4
PN%
<1
<1
QUA
FO%
50,0
50,0
1
1;2
7,3
44,7
9,1
<1
<1
<1
2,6
1,2
8,5
3
1;2;3
3
69,0
<1
4,2
<1
2,6
<1
7,0
0;3
<1
27,1
7,3
28,9
1,9
38,0
0;3
5,3
70,8
13,5
52,6
2,8
34,9
Dormitator maculatus (Bloch, 1792)
3
<1
3
<1
2,1
ELEOTRIDAE
Eleotris pisonis (Gmelin, 1789)
CENTROPOMIDAE
Centropomus parallelus (Poey, 1860)
3
SERRANIDAE
Epinephelus guaza (Linnaeus, 1758)
3
<1
8,3
TAR
PN%
FO%
<1
5,9
<1
11,8
3,6
29,4
<1
5,9
<1
11,8
<1
50,0
2,3
41,2
95,7
100,0
58,6
23,5
7,2
5,9
<1
5,9
PN%
FO%
<1
3,8
<1
3,8
<1
11,5
16,2
34,6
<1
3,8
SERRANIDAE
Mycteroperca rubra (Bloch, 1793)
3
<1
4,2
POMATOMIDAE
Pomatomus saltatrix (Linnaeus, 1766)
3
<1
6,3
CARANGIDAE
Selene vomer (Linnaeus, 1758)
3
<1
6,3
CARANGIDAE
Trachinotus carolinus (Linnaeus, 1766)
3
<1
14,6
<1
5,3
<1
<1
<1
3,8
<1
10,5
<1
7,0
<1
3,8
CARANGIDAE
Trachinotus marginatus Cuvier, 1832
0;3
<1
6,3
CARANGIDAE
Uraspis secunda (Poey, 1860)
3
<1
2,1
GERREIDAE
Eucinostomus lefroyi (Goode, 1874)
0
GERREIDAE
Eucinostomus gula (Quoy & Gaimard, 1824)
0
18
FAMÍLIA
ESPÉCIE
CER
PIC
PUÇ
PN%
FO%
PN%
FO%
PN%
FO%
3
3,7
60,4
<1
2,6
<1
0;3
16,7
60,4
<1
13,2
3
<1
2,1
3
<1
2,1
GERREIDAE
Eucinostomus melanopterus (Bleeker, 1863)
0
GERREIDAE
Eucinostomus argenteus Baird & Girard 1855
SCIAENIDAE
Micropogonias furnieri (Desmarest, 1823)
SCIAENIDAE
Pogonias cromis (Linnaeus, 1766)
SCIAENIDAE
AVI
COD
PN%
FO%
QUA
PN%
TAR
FO%
PN%
FO%
1,6
<1
3,8
<1
3,1
1,4
11,5
42,3
SCIAENIDAE
SCIAENIDAE
Menticirrhus littoralis (Holbrook, 1855)
0
Stellifer brasiliensis (Schultz)
3
<1
2,1
CICHLIDAE
Cichlasoma facetum (Jenyns, 1842)
3
<1
6,3
CICHLIDAE
Cichlasoma portalegrense (Hensel, 1870)
1;2;3
<1
6,3
<1
<1
<1
23,5
CICHLIDAE
Crenicichla lepidota Heckel, 1840
1;2;3
<1
4,2
<1
<1
<1
23,5
CICHLIDAE
Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824)
0;1;2;3
7,5
58,3
8,8
23,7
<1
14,0
<1
23,5
6,2
MUGILIDAE
Mugil curema Valenciennes, 1836
0;3
<1
8,3
3,6
21,1
2,1
6,2
MUGILIDAE
Mugil gaimardianus Desmarest, 1831
0;3
<1
8,3
1,1
10,5
<1
1,6
<1
3,8
MUGILIDAE
Mugil platanus Gunther, 1880
0;3
2,6
68,8
14,1
55,3
74,5
65,9
<1
5,9
5,1
38,5
GOBIIDAE
Awaous tajasica (Lichtenstein, 1822)
3
<1
1,6
GOBIIDAE
Gobionellus oceanicus (Pallas, 1770)
3
<1
39,6
GOBIIDAE
Gobionellus shufeldti (Jordan & Gilbert, 1887)
<1
2,3
PLEURONECTIDAE
Oncopterus darwinii Steindachner, 1874
0
BOTHIDAE
Citharichthys spilopterus Günther, 1862
0;3
<1
4,2
1,8
11,5
BOTHIDAE
Paralichthys orbignyanus Valenciennes, 1839
3
<1
6,3
0;3
<1
2,6
<1
2,6
N° TOTAL DE INDIVÍDUOS COLETADOS
13991
1897
34612
776
2172
724
22
N° DE ESPÉCIES COLETADAS POR AMOSTRADOR
46
22
32
9
24
N° DE ESPECIES COM PRIMEIRO REGISTRO PARA O PNLP
33
10
18
8
17
9
N° DE AMOSTRAS REALIZADAS COM CADA AMOSTRADOR
48
38
129
2
17
26
19
Tabela III - Lista de crustáceos decápodos capturados para cada arte de pesca. AVI = Aviãozinho;
CER = Rede de cerco; PIC = Picaré; PUÇ = Puçá; QUA = Rede Quadrada; TAR = Tarrafa. Em
negrito estão as espécies com primeiro registro para o PNLP.
ESPÉCIE
AVI
CER
PIC
Farfantepenaeus paulensis Perez-Farfante, 1967
100,0
18,4
18,6
2,6
13,2
Paleomonectes argentinus Nobili, 1901
Macrobrachium borelli (Nobili, 1896)
5,9
7,7
17,6
11,8
21,1
16,3
Callinectes sapidus Rathbun, 1896
100,0
34,2
31,0
Rhithropanopeus harrissii Gould, 1841
TAR
17,6
72,9
Cyrtograpsus angulatus Dana, 1851
50,0
QUA
1,6
Callinectes danae Smith, 1869
Chasmagnathus granulata Dana, 1851
PUÇ
50,0
7,7
26,9
2,3
2,1
13,2
3,9
7,7
0,8
19
20
4. Discussão
Comparando com os dados históricos da ictiofauna (DE BEM JR. & LAURINO
1994; LOEBMANN et al. 2001; RAMOS & VIEIRA 2001) somente as espécies
marinhas Menticirrhus littoralis, Oncopterus darwini, Eucinostomus melanopterus, E.
gula e Ulaema lefroy (Tabela II) não foram coletados durante este trabalho. Assim
sendo, a compilação de dados históricos associados aos registros do presente trabalho
elevam a lista para 73 espécies. O baixo número de espécies encontrados no sistema
Lagoa Pai João-Veiana deve ser atribuído principalmente a dois fatores: 1) o uso restrito
de amostradores dificultado pelas características desta lagoa e; 2) o baixo esforço
amostral, com apenas duas expedições.
A espécie Gymnogeophagus rhabdotus citada por (DE BEM JR. & LAURINO
1994) aparentemente apresentou problemas de identificação, sendo considerada aqui
como Geophagus brasiliensis, uma vez que este ciclídeo foi bastante comum nas
amostragens e são muito semelhantes entre si. Além do mais, nenhum indivíduo de G.
rhabdotus foi capturado durante as recentes amostragens de 2001 e 2002.
Os amostradores embora impossíveis de serem comparados entre si em
decorrência de suas características e esforços amostrais distintos, devem ser
considerados complementares, pois além das espécies capturadas por mais de um
amostrador apresentarem diferentes proporções, nenhuma das espécies foi coletada em
todos os amostradores.
A ictiofauna do PNLP é muito mais rica do que já se tinha registro, uma vez que,
este levantamento aumentou cerca de duas vezes o número de espécies registradas. A
maior contribuição de novos registros por parte da rede Aviãozinho, parece estar
relacionado ao fato deste amostrador ter sido utilizado tanto na zona rasa como na zona
20
21
profunda. Além disto, as amostras eram provenientes de várias redes (1.632 no total)
que ficavam 12 horas dentro dá água, totalizando assim, um esforço de pesca muito
superior aos dos outros amostradores.
A dominância de M. platanus na arte de pesca Picaré é explicada pelo fato de
que, em apenas cinco amostras provenientes de um único dia, foram capturados 18.234
indivíduos com menos de 33mm de comprimento total. A formação de densos cardumes
de juvenis desta espécie é comum na costa do Rio Grande do Sul, sendo a espécie
dominante nas águas rasas estuarinas (RAMOS & VIEIRA 2001).
Em relação à fauna de crustáceos decápodos, SANTOS et al. (2000) cita 11
espécies para o PNLP. Nas coletas analisadas para o presente trabalho não foram
observadas as espécies Loxopagurus loxochelis, Uca uruguayensis, Ocypode quadrata,
Areaneus cribarius, Callinectes bocourti e Artemesia longinaris. Destas, C. boucorti,
não é uma espécie comum para a área do PNLP, justificando sua ausência em nossas
amostras. As outras espécies que não foram encontradas ao longo de nossas
amostragens são típicas de ambiente marinho-praial (O. quadrata), marinho (A.
longinaris, L. loxochelis e A. cribarius), e de marismas (U. uruguayensis), locais onde
não foram realizadas amostras.
As três espécies consideradas como novas ocorrências para o PNLP
(Macrobrachium borelli, Paleomonectes argentinus e Rhithropanopeus. harrisii) são
encontradas em lagoas costeiras do Rio Grande do Sul (BUCKUP & BOND-BUCKUP
1999), sendo a última considerada introduzida por água da lastro de navio (D'INCAO &
MARTINS 1998).
Neste trabalho, não se levou em consideração a abundância relativa da fauna de
crustáceos, visto que Farfantepenaeus paulensis, Callinectes sapidus e Callinectes
21
22
danae são espécies comercializadas pelos pescadores locais, não tendo sido possível
determinar a importância relativa destas capturas. No entanto merece destaque a grande
biomassa destas espécies, que representam importantes recursos pesqueiros para a
comunidade local.
O caranguejo-gatanhão Chasmagnathus granulata também merece destaque,
visto que atualmente apresenta status de vulnerável de acordo com a Lista Vermelha da
Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul (FONTANA et al. no prelo). No
PNLP está espécie pode ainda ser encontrada em grande abundância, estando
intimamente associadas aos marismas das margens da Lagoa do Peixe (SANTOS et al.
2000).
Fazendo uma comparação entre os estuários do Rio Grande do Sul (CHAO et al.
1982; PEREIRA et al. 1998; RAMOS & VIEIRA 2001; RASEIRA 2003; VIEIRA &
LOEBMANN 2003), podemos observar que as espécies das assembléias de zona rasa
são sempre dominadas pelas mesmas espécies, independente do estuário. Já na zona
profunda, a situação pode ser considerada diferente, pois para todos os estuários (Rio
Mampituba, Complexo Tramandaí – Armazém – Custódia, Lagoa dos Patos e Chuí) é
marcante a presença dos bagres Netuma barba e Genidens genidens, enquanto que na
Lagoa do Peixe, foram observados apenas dois indivíduos de G. genidens.
Das nove espécies citadas pela primeira vez para estuários do Rio Grande do
Sul, a maioria delas ainda nem havia sequer sido registrada para o estado. Com exceção
de A. tajasica, todas foram capturadas na pesca do camarão-rosa durante o verão e, de
acordo com a literatura (FIGUEIREDO & MENEZES 1978; 1980; MENEZES &
FIGUEIREDO 1980; 1985; FROESE & PAULY 2003) seus registros são para menores
latitudes, sugerindo que a aparição destas espécies no estuário da Lagoa do Peixe parece
22
23
estar associado a águas quentes da corrente do Brasil que atingem a região durante o
verão (RAMOS 1999).
23
24
II - DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA ICTIOFAUNA DA LAGOA DO PEIXE,
RS, BRASIL
1. Introdução
A planície costeira do extremo sul do Brasil corresponde a uma zona
biogeográfica de transição temperada-quente, devido à influência da Convergência
Subtropical do sudoeste Atlântico (SEELIGER et al. 1997). Sua extensão é de
aproximadamente 640 Km, sendo seus limites geográficos a Barra do Chuí (33ºS e
53ºW) ao Sul e a desembocadura do Rio Mampituba (29ºS e 49ºW) ao Norte. Suas
lagoas costeiras representam cerca de 40% da área total da zona costeira do Rio Grande
do Sul (SILVA & HARTMANN 1990), e a feição dominante da planície é o complexo
Lagoa dos Patos-Mirim com aproximadamente 14.000 km2 (SEELIGER et al. 1997).
O Parque Nacional da Lagoa do Peixe (PNLP) está localizado no segmento
mediano desta Planície, entre a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico, e foi criado em
1986 por sugestão do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, hoje
denominado Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA). Atualmente, o PNLP possui status de Reserva da Biosfera, Sítio Ramsar e
Reserva Internacional de Aves Limnícolas. Dentro da área do PNLP destaca-se como
principal corpo d’água a Lagoa do Peixe, que é caracterizada como um ambiente
lagunar devido sua comunicação intermitente com o mar.
Levantamentos preliminares da ictiofauna do PNLP (DE BEM JR. & LAURINO
1994; LOEBMANN et al. 2001; CAPÍTULO I), revelaram que a ligação temporária
com o oceano permite a entrada na lagoa de organismos de origem marinha, e que o
aporte de água doce, proveniente de banhados e sangradouros, permitem também o
estabelecimento de uma ictiofauna límnica na Lagoa do Peixe. No entanto, aspectos
24
25
relacionados com a estrutura da assembléia de peixes, como distribuição espacial e
abundância relativa das espécies, não foram ainda considerados.
A necessidade de obter informações científicas adicionais sobre a ictiofauna do
PNLP, aliada às dificuldades em se estabelecer um esforço de coleta sistemático, em
virtude de diversos fatores como distância, alojamentos precários, difícil acesso e
deslocamento, justifica por si só, o desenvolvimento deste trabalho. Além disso, a
compreensão da ecologia dos organismos, sobretudo daqueles que apresentam seus
ciclos de vida associados aos estuários, é fundamental para aprimorar o manejo e a
conservação destes recursos renováveis (VIEIRA & PEREIRA 1997).
2 Material e Métodos
2.1 Área de Estudo
A Lagoa do Peixe pode ser classificada como um ambiente lagunar semifechado,
onde, devido ao intercâmbio com seus sistemas vizinhos, ocorrem trocas e variações nas
características físico-químicas da água. A barra da Lagoa do Peixe apresenta
comunicação intermitente com o Oceano Atlântico, e geralmente permanece fechada
durante alguns meses do ano, acumulando água de banhados e lagoas adjacentes.
Atingido determinado nível, a barra se rompe em direção ao mar, e leva a lagoa a se
comportar como uma laguna (SCHWARZBOLD & SCHÄFER 1984). Esta Laguna
possui um espelho de água de aproximadamente 35 Km2 e sua profundidade média é
baixa (cerca de 30cm), podendo chegar a 2m nos canais e na barra. A Lagoa do Peixe
foi compartimentada em dez pontos sendo quatro deles considerados como zona rasa
(Barra, Manduca, Guaritas e Talha Mar) e seis de zona profunda (Chica, Capitão - Rosa,
Paiva, Lagamarzinho, Costa e Véia Terra).
25
26
Um arroio tributário da Lagoa do Peixe próximo da estrada que liga o balneário
Praia-Nova a Mostardas (31°06’, 050°50’), também foi amostrado e, em função de
terem sido utilizados amostradores diferentes daqueles usados na Lagoa do Peixe, os
dados ali obtidos foram somente considerados qualitativos. Apenas um ponto foi
amostrado deste arroio.
2.2 Desenho Amostral
Amostras sazonais foram realizadas durante o inverno e primavera de 2001 e
verão e outono de 2002. Durante o verão houve intensificação das amostragens, pois foi
possível realizar coletas mensais, e ainda incluir o rejeito da pesca do camarão-rosa com
rede tipo “Aviãozinho”. As coletas foram autorizadas pelo IBAMA, por meio da licença
de n° 074/2001. O material coletado foi fixado em campo com formoldeído a 4 % e
triado em Laboratório.
Em decorrência dos diferentes tipos de ambientes, e também em função do
propósito deste trabalho, utilizaram-se diversas artes de pesca para uma melhor
descrição da ictiofauna e fauna acompanhante de crustáceos. As artes de pesca
utilizadas foram:
1. Picaré - Rede manual de arrasto de praia (9 metros de comprimento, com
malha de 5mm nos 3 metros centrais e 12 mm nas laterais), com 1,5
metros de altura. Este amostrador perfaz, por amostra, uma área varrida de
aproximadamente 60 m2, tendo sido feitas 129 amostras;
2. Cerco - Rede manual de arrasto de praia (20m de comprimento com
panagem única de 12mm), com 0,6m de altura, que varre uma área de
aproximadamente 100m2, totalizando 38 amostras;
26
27
3. Tarrafas – 3a) De olho ou argolas – utilizou-se uma de abertura circular de
20m e malha de 12mm e uma de abertura circular de 17 metros e malha de
50mm); e 3b) De rufo (abertura circular de 8m e malha de 13mm),
totalizando 26 amostras;
4. Aviãozinho - Rede passiva com atrativo luminoso utilizada pelos
pescadores artesanais da região, malha de 12mm no funil, utilizada durante
a noite por aproximadamente 12 horas, totalizando 48 amostras
provenientes de 1632 redes;
5. Puçá - Abertura semicircular de aproximadamente 110cm com malha de
5mm totalizando duas amostras;
6. Rede Quadrada - Rede que possui uma boca com armação de cano (PVC)
formando um quadrado de 0,8m de lado, toda a panagem é de malha de
5mm e a rede é arrastada com auxílio de um cabo, varrendo
aproximadamente 8m2, totalizando 15 amostras.
O número de amostras realizadas de cada arte de pesca para cada setor esta
descritos na TAB. IV.
Tabela IV – Esforço de pesca (número de amostras) aplicado para cada setor amostrado durante o
estudo (CER = Rede de Cerco; PIC = Rede Picaré; TRF = Tarrafa; RQU = Rede Quadrada e; AVI
= Aviãozinho)
MANDUCA
CHICA
CAPITÃO ROSA
BARRA
GUARITAS
PAIVA
LAGAMARZINHO
COSTA
TALHA MAR
VÉIA TERRA
PONTE NORTE
CER
17
PIC
30
TRF
4
PUÇ
RQU
AVI
4
6
20
40
27
7
2
1
2
8
11
10
1
29
7
3
6
9
1
13
27
28
2.3 Análise dos dados
A Lagoa do Peixe foi dividida em zona rasa (< 1m) e zona profunda (entre 1 e
2m) para as analises quantitativas. Para a zona rasa foram consideradas apenas as
amostras provenientes da rede picaré (setores Manduca, Barra, Guaritas e Talha Mar) e
para as zonas profundas as amostras provenientes das redes de aviãozinho (setores
Chica, Capitão Rosa, Paiva, Lagamarzinho, Costa e Véia Terra).
Para fins comparativos aplicou-se a captura por unidade de esforço (CPUE),
com o propósito de observar possíveis mudanças de espécies dominantes ao longo da
Lagoa do Peixe. Em função dos dados de fundo e raso serem oriundos de amostradores
diferentes, as comparações de capturas não puderam ser feitas entre assembléias de
fundo e raso, ou seja, os dados só foram comparáveis entre setores que utilizaram os
mesmos amostradores.
Para cada espécie, foi calculado o grau de importância relativa em cada
amostrador por meio da freqüência de ocorrência percentual (FO%) e sua
percentagem numérica (PN%). Desta maneira, as espécies foram classificadas em:
1) espécies ocasionais - não ultrapassaram valores acima da média de PN% e FO%;
2) espécies freqüentes e não abundantes- valores de PN% menor que a média de
PN% e valores FO% acima da média de FO% e; 3) espécies freqüentes e
abundantes - valores de PN% e FO% acima da média.
Calculou-se o Índice de Importância Relativa (IIR% = FO% x (PN% + PW%))
(VIEIRA et al. 1996), que leva em consideração a freqüência de ocorrência percentual
(FO%), a abundância relativa numérica percentual (PN%) baseada no valor da CPUE
em número, e a biomassa relativa percentual (PW%), baseado na CPUE em peso. Com
base nos valores do IIR% aplicou-se uma análise de agrupamento, com o propósito de
28
29
agrupar os locais de coleta quanto à sua semelhança. O método de Complete Linkage foi
empregado com distâncias baseadas em City-Block (Manhattan distances).
3 Resultados
A utilização dos seis aparelhos de coleta nos 11 setores (10 setores da Lagoa do
Peixe mais o arroio tributário Ponte Norte) resultou na coleta de 53.968 peixes
pertencentes a 25 famílias e 67 espécies (Tabela V). No setor Capitão-Rosa foi
registrado o menor número de espécies (S = 12) e no setor Ponte Norte o maior
(S = 26), este último favorecido pelo grande número de espécies límnicas (Astyanax
bimaculatus, Astyanax fasciatus, Callichthys callichthys, Cheirodon ibicuhiensis,
Mimagoniates inequalis, Pseudocorynopoma doriae, Cyphocarax saladensis e
Eigenmannia virescens) exclusivas deste setor. Jenynsia multidentata foi encontrada em
todos os setores da lagoa e algumas outras espécies apresentaram ampla distribuição
(Atherinella brasiliensis, Gobionellus oceanicus, Platanichthys platana, Odontesthes
argentinensis).
De modo geral, a distribuição espacial das espécies (TAB. V) apresentou três
padrões: 1) o grupo das espécies consideradas límnicas foi o mais rico em espécies
(S = 33) e tendeu a se distribuir nos extremos Norte e Sul da Lagoa do Peixe; 2) o grupo
das espécies estuarino-relacionadas apresentou a menor riqueza (S = 15), mas
apresentou a maior distribuição espacial, sendo algumas encontradas em toda a Lagoa
do Peixe e; 3) o grupo das espécies marinhas apresentou uma riqueza de espécies
intermediária (S = 19) e tendeu a se concentrar na região central da Lagoa do Peixe.
As amostras que foram utilizadas para análises quantitativas foram representadas
por 47.805 indivíduos e 56 espécies (13.957 indivíduos e 46 espécies capturados na
29
30
pesca com aviãozinho e 33.848 indivíduos e 33 espécies capturados na pesca com
Picaré).
Na zona rasa a tainha Mugil platanus, foi à espécie mais abundante em número,
compreendendo
76,4%
dos
indivíduos
capturados,
seguida
do
barrigudinho
J. multidentata (9,3%), do lambari Astyanax eingenmaniorum (4,4%) e dos peixes-rei
O. argentinensis (2,9%) e A. brasiliensis (1,9%). Juntas estas espécies perfizeram
94,9% do número total de peixes capturados nas zonas rasas (Fig. 2.1).
Na zona profunda, a savelha Brevoortia pectinata foi à espécie mais abundante
em número, compreendendo 42,5% dos indivíduos capturados. Outras espécies também
foram abundantes, tais como a corvina Micropogonias furnieri (16,7%), o barrigudinho
J. multidentata (14,6%), o cará Geophagus brasiliensis (7,6%), o peixe-rei
O. argentinensis (5,3%), o carapicu Eucinostomus argenteus (3,7%) e a tainha M.
platanus (2,6%), que totalizam 93,8% do número total de peixes capturados nesta zona
(Fig. 2.2).
Com relação à biomassa capturada, um total de 157.377g de peixes foram
coletados, sendo 143.462g provenientes da pesca com aviãozinho e 13.915g nas
amostragens com Picaré. Na zona rasa, M. platanus representou 38,3% do total
capturado, A. eingenmaniorum contribuiu com 23,9% da captura total, J. multidentata
representou 14,2%, O. argentinensis 9,6% e A. brasiliensis 3,3%. Todas estas espécies
somadas representaram 89,3% da biomassa total de peixes capturados nesta zona
(Fig. 2.1). Já na zona profunda, B. pectinata foi a espécie de maior biomassa,
compreendendo 42,8% do peso total capturado. Outras espécies também foram
importantes, tais como: Geophagus brasiliensis (13%), Hoplias malabaricus (11,8%),
M. furnieri (11,5%), J. multidentata (5,2%), O. argentinensis (5%), E. argenteus (2,2%)
30
31
e M. platanus (1,6%). Um total de 93,1% do peso total capturado na zona profunda da
Lagoa do Peixe foi representado por estas espécies (Fig. 2.2).
A análise de agrupamento, baseada no Índice de Importância Relativa, agrupou
os 10 setores estudados (Fig. 2.3), em quatro grandes zonas: Zona Pré-límnica rasa,
Zona Pré-límnica profunda, Zona Estuarina rasa e Zona Estuarina profunda, sendo que,
as duas primeiras foram representadas pelos setores dos extremos Norte (Talha Mar,
Véia Terra) e Sul (Manduca, Chica e Capitão Rosa) da Lagoa do Peixe, e as duas
últimas representadas pelos setores centrais da Lagoa do Peixe próximos à
desembocadura (Barra e Guaritas para o raso; Paiva, Lagamarzinho e Costa, para o
profundo)
31
32
Tabela V – Padrão de distribuição das espécies encontradas na Lagoa do Peixe.
ORIGEM
E
S
P
É
C
I
E
S
L
Í
M
N
I
C
A
S
E
S
T
U
A
R
I
N
A
R
E
L
A
C
I
O
N
A
D
A
S
V
I
S
I
T
A
N
T
E
S
M
A
R
I
N
H
O
S
FAMÍLIA
NOME CIENTÍFICO
CICHLIDAE
CHARACIDAE
CHARACIDAE
CHARACIDAE
CALLICHTHYDAE
CURIMATIDAE
POECILIIDAE
CHARACIDAE
CICHLIDAE
ERYTHRINIDAE
PIMELODIDAE
POECILIIDAE
CHARACIDAE
CICHLIDAE
PIMELODIDAE
CALLICHTHYDAE
CHARACIDAE
CALLICHTHYDAE
CHARACIDAE
CHARACIDAE
CHARACIDAE
CHARACIDAE
CHARACIDAE
CHARACIDAE
CHARACIDAE
CHARACIDAE
CHARACIDAE
CICHLIDAE
CURIMATIDAE
ELEOTRIDAE
STERNOPYGIDAE
POECILIIDAE
GOBIIDAE
Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824)
Astyanax eingemanniorum (Cope, 1894)
Hyphessobrycon bifasciatus Ellis, 1911
Oligosarcus jenynsii (Günther, 1864)
Corydoras paleatus (Jenyns, 1842)
Cyphocarax voga (Hensel, 1870)
Phalloceros caudimaculatus (Hensel, 1868)
Hyphessobrycon luetkenii (Boulenger, 1887)
Cichlasoma portalegrense (Hensel, 1870)
Hoplias malabaricus (Bloch,1794)
Pimelodella australis Eigenmann, 1917
Phalloptychus januarius (Hensel, 1868)
Cheirodon interruptus (Jenyns, 1842)
Crenicichla lepidota Heckel, 1840
Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824)
Hoplosternum littorale (Hancock, 1828)
Hyphessobrycon boulengeri (Eigenmann, 1907)
Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758)
Astyanax alburnus (Hensel, 1870)
Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)
Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819)
Characidium rachovii Regan, 1913
Cheirodon ibicuhiensis Eingenmann, 1915
Hyphessobrycon meridionalis Ringuelet, Miquelarena & Menni, 1978
Mimagoniates inequalis (Eigenmann, 1915)
Oligosarcus robustus Menezes, 1969
Pseudocorynopoma doriae Perugia, 1891
Cichlasoma facetum (Jenyns, 1842)
Cyphocarax saladensis (Meinken, 1933)
Dormitator maculatus (Bloch, 1792)
Eigenmannia virescens (Valenciennes, 1842)
Cnesterodon decemmaculatus (Jenyns, 1842)
Awaous tajasica (Lichtenstein, 1822)
MUGILIDAE
BOTHIDAE
CENTROPOMIDAE
ENGRAULIDAE
MUGILIDAE
MUGILIDAE
SCIAENIDAE
ELIOTRIDAE
ARIIDAE
GOBIIDAE
ATHERINIDAE
CLUPEIDAE
GOBIIDAE
ATHERINIDAE
ANABLEPIDAE
Mugil gaimardianus Desmarest, 1831
Paralichthys orbignyanus Valenciennes, 1839
Centropomus parallelus (Poey, 1860)
Lycengraulis grossidens (Agassiz, 1829)
Mugil curema Valenciennes, 1836
Mugil platanus Gunther, 1880
Micropogonias furnieri (Desmarest, 1823)
Eleotris pisonis (Gmelin, 1789)
Genidens genidens (Valenciennes, 1839)
Gobionellus shufeldti (Jordan & Gilbert, 1887)
Odontesthes argentinensis (Valenciennes, 1835)
Platanichthys platana (Regan, 1917)
Gobionellus oceanicus (Pallas, 1770)
Atherinella brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824)
Jenynsia multidentata (Jenyns, 1842)
CLUPEIDAE
GERREIDAE
BOTHIDAE
CARANGIDAE
CARANGIDAE
CARANGIDAE
SERRANIDAE
CLUPEIDAE
ELOPIDAE
POMATOMIDAE
CARANGIDAE
CLUPEIDAE
ALBULIDAE
ENGRAULIDAE
GADIDAE
SCIAENIDAE
SCIAENIDAE
SCIAENIDAE
SERRANIDAE
Brevoortia pectinata (Jenyns, 1842)
Eucinostomus argenteus Baird & Girard 1855
Citharichthys spilopterus Günther, 1862
Trachinotus carolinus (Linnaeus, 1766)
Trachinotus marginatus Cuvier, 1832
Selene vomer (Linnaeus, 1758)
Epinephelus guaza (Linnaeus, 1758)
Harengula clupeola (Cuvier, 1829)
Elops saurus Linnaeus, 1766
Pomatomus saltatrix (Linnaeus, 1766)
Uraspis secunda (Poey, 1860)
Sardinella aurita Valenciennes, 1847
Albula nemoptera (Fowler, 1911)
Anchoa marinii (Hildebrand, 1943)
Urophycis brasiliensis (Kaup, 1858)
Pogonias cromis (Linnaeus, 1766)
MANDUCA
PRÉ-LÍMNICO (ZONA SUL)
CHICA
CAPITÃO
GUARITAS
BARRA
ESTUARIO (ZONA CENTRAL)
PAIVA
LAGAMAR
COSTA
PRÉ-LÍMNICO (ZONA NORTE)
TALHA MAR
VEIA TERRA
LÍMNICO
PONTE NORTE
Stellifer brasiliensis (Schultz)
Mycteroperca rubra (Bloch, 1793)
32
33
Mugil platanus
76,4
38,3
Astyanax eingenmaniorum
4,4
Jenynsia multidentata
23,9
9,3
PESO
NÚMERO
Odontesthes argentinensis
14,2
2,9
Atherinella brasiliensis
9,6
1,9
Outros
3,3
5,1
80
60
40
10,7
20
0
20
40
60
80
%
Figura 2.1 – Abundância percentual e biomassa percentual para as espécies mais
importantes na zona rasa (todos os setores) da Lagoa do Peixe.
Brevoortia pectinata
42,5
42,8
Micropogonias furnieri
16,7
Jenynsia multidentata
11,5
14,6
Geophagus brasiliensis
5,2
7,6
Odonthestes argentinensis
13
5,3
5
PESO
NÚMERO
Eucinostomus argenteus
3,7
Mugil platanus
2,2
2,6
Hoplias malabaricus
1,6
0,9
Outros
11,8
6,2
50
40
30
20
10
6,9
0
10
20
30
40
50
%
Figura 2.2 – Abundância percentual e biomassa percentual para as espécies mais
importantes na zona profunda (todos os setores) da Lagoa do Peixe.
33
34
Oligosarcus jenynsii, G. brasiliensis, H. malabaricus foram as espécies
encontradas em maior freqüência, peso e número na Zona Pré-límnica profunda.
Merecem ainda destaque as espécies A. eingenmaniorum, B. pectinata, J. multidentata e
P. platana, que foram espécies abundantes e freqüentes nesta zona. Desta forma,
observa-se que, com a exceção de P. platana e B. pectinata, as espécies mais
importantes são tipicamente límnicas. Na Zona Pré-límnica rasa, A. eingenmaniorum,
G. brasiliensis, J. multidentata, M. platanus e O. jenysii, foram as espécies de maior
importância, ou seja, com exceção de M. platanus, a composição especifica das espécies
mais abundantes e freqüentes foi semelhante tanto para o raso, como para o fundo
(Tabela VI).
Complete Linkage
City-block (Manhattan) distances
Barra
Guaritas
Costa
Lagamarzinho
Paiva
Manduca
Talha mar
Capitão Rosa
Chica
Veia Terra
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
(Dlink/Dmax)*100
Figura 2.3 – Análise de agrupamento baseada Índice de Importância Relativa para os
setores da Lagoa do Peixe
34
35
Na Zona Estuarina rasa, a alta abundância específica de M. platanus, fez esta
espécie ser a única com valores acima da média neste critério de corte. No entanto, as
espécies J. multidentata e O. argentinensis foram importantes em peso e estiveram
presentes em aproximadamente 50% das amostras. Ou seja, este setor tem como
característica marcante, poucas espécies abundantes e freqüentes, com predomínio de
espécies estuarino-relacionadas. A última zona (Estuarina profunda), foi representada
principalmente pelas espécies B. pectinata, E. argenteus, J. multidentata, M. furnieri e
O. argentinensis.
Com relação a CPUE de cada setor (Tabela VI), nota-se que a zona rasa
apresentou uma CPUE muito maior em relação às outras zonas, influenciada
principalmente pelas elevadas capturas de M. platanus (CPUE = 381,76 ind/rede). Já na
zona profunda, B. pectinata apresentou os maiores valores de captura por unidade de
esforço na zona central (CPUE = 5,88 ind/rede) e, com o afastamento da
desembocadura houve diminuição da CPUE e substituição das espécies, sendo que,
espécies de origem límnica (A. eingenmaniorum, G. brasiliensis) e estuarinorelacionadas (J. multidentata), passaram a ter maiores capturas.
35
36
Tabela VI - Freqüência de ocorrência (FO); Percentual numérico (PN%); Percentual em peso (PW%) e; Captura por unidade de esforço (ind/rede) (CPUE) de cada
espécie capturada por Aviãozinho e/ou Picaré para as quatro zonas determinadas pela análise de agrupamento. Em negrito, contribuições acima da média.
Nome Científico
Albula nemoptera
Estuarino Profundo
Estuarino Raso
Pré-limnico Profundo
Aviãozinho
Picaré
Aviãozinho
FO%
PN%
PW%
CPUE
6,9
0,0
0,0
0,0
Anchoa marinii
FO%
PN%
PW%
CPUE
1,5
0,0
0,0
0,1
FO%
PN%
PW%
Pré-limnico raso
Picaré
CPUE
Astyanax alburnus
Astyanax eingemanniorum
Atherinella brasiliensis
31,0
0,1
0,1
0,0
1,5
0,0
0,0
0,1
46,3
1,3
4,9
5,6
38,5
89,7
54,1
62,2
5,9
19,4
1,1
2,9
4,9
46,2
7,7
Cichlasoma portalegrense
Citharichthys spilopterus
6,9
0,0
0,0
PW%
CPUE
1,7
0,1
0,1
0,1
25,2
3,8
0,6
54,2
29,0
54,8
0,0
0,0
30,5
5,5
1,2
4,8
3,4
0,0
0,2
0,0
1,7
0,0
0,0
0,0
10,2
0,8
0,3
0,7
1,7
0,0
0,5
0,0
1,7
0,0
0,0
0,0
8,5
0,4
0,4
0,3
6,2
2,0
0,2
0,6
0,4
0,0
0,4
0,3
0,0
Corydoras paleatus
1,5
0,0
0,0
0,0
Crenicichla lepidota
1,5
0,0
0,3
0,0
Cyphocarax voga
23,1
30,8
3,4
0,0
0,0
0,0
Elops saurus
10,3
0,0
0,1
0,0
Epinephelus guaza
13,8
0,0
0,1
0,0
Eucinostomus argenteus
82,8
4,6
3,1
0,5
0,5
0,0
0,0
0,2
0,3
0,0
2,2
1,7
0,1
Eleotris pisonis
38,5
1,1
0,3
0,0
3,4
0,0
0,0
0,0
30,5
2,6
4,7
2,2
3,4
0,0
0,1
0,0
Geophagus brasiliensis
31,0
0,2
0,8
0,0
69,2
24,7
22,4
0,6
Gobionellus oceanicus
41,4
0,2
0,4
0,0
15,4
0,2
0,1
0,0
24,1
0,3
1,0
0,0
Genidens genidens
Gobionellus shufeldti
Harengula clupeola
Hoplosternum littorale
6,9
0,0
0,3
0,0
Hoplias malabaricus
3,4
0,0
0,1
0,0
Hyphessobrycon bifasciatus
Hyphessobrycon boulengeri
FO%
PN%
PW%
CPUE
50,0
0,6
0,5
0,1
16,7
0,0
0,0
0,0
16,7
0,0
0,1
0,0
100,0
37,3
71,1
3,7
83,3
0,4
0,5
0,0
0,0
Cnesterodon decemmaculatus
Dormitator maculatus
PN%
0,1
Cheirodon interruptus
Cichlasoma facetum
FO%
23,1
Awaous tajasica
Brevoortia pectinata
Aviãozinho
7,5
0,1
0,1
0,3
53,8
12,3
55,7
0,3
15,4
2,6
0,1
0,1
5,1
0,1
0,1
0,1
27,1
0,9
0,5
0,8
1,7
0,0
0,0
0,0
36
37
Nome Científico
FO%
Estuarino Profundo
Estuarino Raso
Pré-limnico Profundo
Aviãozinho
Picaré
Aviãozinho
PN%
PW%
CPUE
FO%
PN%
PW%
CPUE
FO%
PN%
PW%
Pré-limnico raso
Picaré
CPUE
Hyphessobrycon luetkenii
57,2
25,5
5,6
0,0
1,7
0,0
0,0
0,0
16,7
0,0
0,2
0,0
0,0
52,5
5,5
3,0
4,8
100,0
3,1
1,3
0,3
50,0
0,5
0,6
0,0
33,3
0,6
0,1
0,1
16,7
0,0
0,0
0,0
33,3
0,1
0,1
0,0
46,2
5,2
0,6
0,1
Lycengraulis grossidens
6,9
0,0
0,1
0,0
6,0
0,0
0,7
0,1
7,7
0,1
0,1
0,0
Micropogonias furnieri
86,2
21,5
16,7
2,3
4,5
0,0
0,1
0,2
15,4
0,6
0,4
Mugil curema
13,8
0,4
0,2
0,0
11,9
2,5
2,9
10,9
Mugil gaimardianus
13,8
0,6
0,5
0,1
3,0
0,0
0,0
0,0
Mugil platanus
75,9
2,7
2,1
0,3
80,6
89,1
65,6
381,8
7,7
0,5
0,4
6,9
0,0
0,0
0,0
55,2
2,4
14,7
10,2
7,2
0,7
0,0
Paralichthys orbignyanus
6,9
0,0
0,0
0,0
23,1
0,3
0,1
0,0
13,6
5,5
2,9
4,8
53,8
12,9
7,1
0,3
16,9
0,3
5,1
0,3
7,7
0,1
0,2
0,0
Phalloceros caudimaculatus
3,0
0,0
0,0
0,1
11,9
0,4
0,1
0,3
Phalloptychus januarius
3,0
0,0
0,0
0,0
11,9
0,3
0,1
0,3
1,5
0,0
0,1
0,1
Pimelodella australis
Platanichthys platana
Pogonias cromis
Pomatomus saltatrix
51,7
0,6
0,1
0,1
3,4
0,0
0,1
0,0
10,3
0,0
0,1
0,0
3,4
0,0
0,3
0,0
Rhamdia sp
Sardinella aurita
Sciaenidae
3,4
0,0
0,0
0,0
Selene vomer
6,9
0,0
0,0
0,0
Stellifer brasiliensis
3,4
0,0
0,1
0,0
24,1
0,1
0,5
0,0
1,5
0,0
0,2
0,1
Trachinotus marginatus
3,4
0,0
0,0
0,0
13,4
0,5
0,2
2,1
Uraspis secunda
3,4
0,0
0,0
0,0
Urophycis brasiliensis
3,4
0,0
0,1
0,0
Trachinotus carolinus
CPUE
100,0
12,4
0,0
PW%
0,1
7,3
6,7
2,0
39,3
2,9
0,0
0,9
0,0
49,3
3,4
2,3
PN%
23,3
0,8
96,6
13,6
FO%
0,1
3,4
Oligosarcus jenynsii
CPUE
45,2
7,3
Odontesthes argentinensis
PW%
1,7
89,7
Mycteroperca rubra
PN%
93,2
Hyphessobrycon meridionalis
Jenynsia multidentata
Aviãozinho
FO%
7,7
0,1
0,0
0,0
11,9
0,6
1,7
0,5
53,8
4,4
0,2
0,1
8,5
0,2
0,1
0,2
46,2
1,5
3,7
0,0
7,7
0,1
0,0
0,0
37
38
4 Discussão
O presente estudo descreve as associações de peixes das zonas rasas e profundas
da Lagoa do Peixe. A análise dos dados possibilitou a divisão ecológica deste
ecossistema em dois grandes compartimentos (zona pré-límnica e zona estuarina) que,
por sua vez, podem ser divididos, em função da profundidade relativa, em zonas rasas e
zonas profundas. Ressalta-se que o setor Ponte Norte, embora não incluído na análise
quantitativa, deve ser considerado uma quinta zona a qual denominamos aqui de zona
límnica.
A análise das amostras identificou três grandes grupos: espécies de origem
límnica, estuarina e marinha. Esta diversidade é decorrente da característica da Lagoa
do Peixe que possui uma penetração de água salgada na zona central, onde, foram
registrados altos valores de salinidade (S=34) e, em seus extremos, arroios e banhados
contribuem com uma massa de água de baixa salinidade (S<0,1). Esta estratificação,
evidentemente, resultou em uma diferenciação na composição ictiofaunística ao longo
da lagoa, sendo que, além de existir uma tendência da ictiofauna límnica se encontrar
nos extremos e uma ictiofauna marinha e estuarina no centro, observou-se que a
ictiofauna capturada nos extremos em geral é representada por indivíduos adultos,
enquanto que a ictiofauna da zona central é representada principalmente por juvenis.
Segundo KENNISH (1990), a composição específica das populações de peixes
estuarinos muda constantemente e drasticamente em razão da variabilidade das
condições ambientais e dos limites específicos de tolerância de determinadas espécies às
alterações no ambiente. O número de famílias que contribuem para a composição da
fauna de peixes estuarinos geralmente é muito pequeno, uma vez que poucas espécies
podem sobreviver nestes ambientes (HAEDRICH 1983). No caso da Lagoa do Peixe,
38
39
das 26 famílias encontradas, 23 estavam presentes na zona estuarina, contrariando o
padrão encontrado para a maioria dos estuários.
Esta aparente riqueza de espécies encontrada dentro da Lagoa do Peixe é reflexo
de muitas espécies ocasionais ali encontradas em função do agrupamento dos dados
coletados ao longo de um ano. A variabilidade de espécies ocasionais em estuários está
ligada às mudanças bruscas das características físico-químicas da água. Por esta razão a
maioria das espécies de peixes que são encontrados em estuários ali permanecem por
um curto período de tempo, como fazem os peixes de água doce, peixes diadrômicos,
peixes marinhos não-dependentes e peixes marinhos dependentes (MOYLE & CECH
1988).
A distribuição de peixes em estuários (DAY et al. 1989; VIEIRA & MUSICK
1994; VIEIRA & PEREIRA 1997) pode ainda ser dividida em assembléias de peixes
quanto ao local em que podem ser encontradas, tais como: associações de águas rasas,
associações de águas profundas e associações pelágicas. As zonas rasas dos estuários
abrigam o maior contingente da ictiofauna tipicamente estuarina. Nelas vivem peixes de
pequeno porte (adultos geralmente com menos de 10 cm) ou juvenis de espécies
marinhas, constituídas principalmente pelas famílias Atherinidae, Mugilidae, Gerreidae,
Cyprinodontidae e Anablepsidae (VIEIRA & MUSICK 1993). Na zona estuarina rasa
da Lagoa do Peixe isto pode ser confirmado, pois através dos valores encontrados pelo
calculo do IIR%, observamos que as espécies mais importantes para esta associação
foram Atherinella brasiliensis e Odontesthes argentinensis, ambos atherinídeos, Mugil
platanus (Mugilidae) e Jenynsia multidentata (Anablepsidae).
Já na zona profunda, as espécies Brevoortia pectinata, Geophagus brasiliensis,
J. multidentata, Micropogonias furnieri e O. argentinensis como espécies importantes
39
40
em pelo menos um dos setores estuarinos de fundo estudados, diverge do padrão
encontrado para outros estuários, onde espécies como J. multidentata, G. brasiliensis e
B. pectinata não fazem parte desta associação, que é representada principalmente por
cianídeos e arídeos (VIEIRA et al. 1998). Isto é explicado pelo fato de que na Lagoa do
Peixe, a chamada “zona profunda”, não é tão característica como, por exemplo, na
Lagoa dos Patos, onde as profundidades dos canais são bem maiores do que no estuário
aqui estudado. Desta forma, na zona profunda da Lagoa do Peixe, há uma mistura de
espécies de associações de meia água (B. pectinata), de raso (J. multidentata) e de
fundo (M. furnieri). A presença de G. brasiliensis, uma espécie secundária de água doce
capaz de tolerar altas salinidades, já é conhecida na comunidade científica, sendo que
GARCIA & VIEIRA (1997) descrevem esta espécie como uma dominante das pradarias
de Ruppia maritima no estuário da Lagoa dos Patos e ANDREATA et al. (1989),
consideram esta espécie como estuarino residente na Laguna de Marapendi, RJ.
A variabilidade na composição da ictiofauna encontrada nos setores da zona
estuarina à zona pré-límnica apresentou as seguintes características: 1) existiu uma
mudança gradual na dominância das principais espécies; 2) houve uma substituição
gradativa das espécies marinhas por espécies de água doce e; 3) ocorreu uma redução
drástica nas abundâncias das espécies, fato observado somente na zona rasa. Segundo
RASEIRA (2003), este padrão já foi descrito para outros estuários como em
Chesapeake Bay, EUA, onde WAGNER & AUSTIN (1999), encontraram um forte
padrão longitudinal entre o limite superior do estuário e a região de água doce, a qual
determina o limite onde ocorre um marcado aumento na taxa de troca de espécies. Outro
exemplo foi descrito por PETERSON & ROSS (1991), que reportam uma série de
substituições de espécies marinhas por espécies de água doce com o afastamento de
40
41
zonas de maior influência do mar. Resultados semelhantes também foram encontrados
na fauna de outras regiões temperadas e tropicais (WEINSTEIN et al. 1980;
WINEMILLER & LESLIE 1992).
O menor número de espécies estuarino-relacionadas (S=15), sendo apenas
J. multidentata e A. brasiliensis consideradas estuarino residentes, ou seja, que se
desenvolvem e completam seu ciclo de vida no estuário (ROZAS & HACKNEY 1984;
VIEIRA & MUSICK 1993), é explicado pelo fato de que poucos animais conseguem
desenvolver mecanismos fisiológicos complexos para viver em ambientes que
apresentam grandes variações físicas como os ambientes de águas salobras. Tais
espécies normalmente apresentam uma baixa taxa de especiação quando comparadas
com espécies marinhas ou de água doce (DEATON & GREENBERG 1986; RASEIRA
2003).
As espécies de água salgada normalmente toleram maior variação de salinidade
que as de água doce, tendo uma maior tolerância à água doce. Desse modo, as espécies
marinhas não têm uma barreira tão pronunciada em direção a uma região de baixa
salinidade, quando comparada com a maior dificuldade fisiológica das espécies de água
doce em direção a regiões de maior influência marinha (KEUP & BAYLESS 1964;
WAGNER 1999). Espécies primárias de água doce sensu MYERS (1938) ficam mais
restritas a regiões límnicas, mas as secundárias de água doce, podem ocorrer
ocasionalmente na água salgada (HELFMAN et al. 1997). Das 33 espécies límnicas
encontradas na Lagoa do Peixe, apenas nove foram encontradas na zona estuarina,
sendo que quatro destas foram somente encontradas no setor Guaritas que recebe água
de um sangradouro após a ocorrência de chuva. Já das 19 espécies marinhas coletadas,
41
42
somente quatro ocorreram na região pré-límnica evidenciando a preferência destas
espécies em se estabelecerem na região estuarina.
Em geral, as espécies da zona estuarina rasa apresentaram um tamanho pequeno,
em torno de 20 a 30 mm, sendo que a grande maioria dos indivíduos eram juvenis,
como a espécie M. platanus. Esses dados são semelhantes aos encontrados para a zona
estuarina do estuário da Lagoa dos Patos (RAMOS 1999; GARCIA et al. 2001),
caracterizando essas áreas como zonas de criação para diversas espécies de peixes.
Como conclusão, devemos salientar que o PNLP abriga uma ictiofauna
diversificada em função de apresentar uma barra intermitente que permite a entrada de
água salgada dentro de um sistema alimentado constantemente por água de baixa
salinidade oriunda de banhados e arroios. A presença geográfica da barra no centro da
Lagoa do Peixe promove uma divisão espacial da Lagoa do Peixe atípica quando
comparados aos outros estuários do Rio Grande do Sul, pois tanto para o Norte como
para o Sul, há presença de uma zona pré-límnica. Este comportamento faz com que a
Lagoa do Peixe apresente uma ictiofauna semelhante nos extremos Norte e Sul,
separados por água de alta salinidade dos setores centrais.
42
43
III - O IMPACTO DA PESCA DO CAMARÃO-ROSA Farfantepenaeus paulensis
(PEREZ-FARFANTE, 1967) (DECAPODA, PENAEIDAE) NAS ASSEMBLÉIAS
DE PEIXES E CRUSTÁCEOS NO PARQUE NACIONAL DA LAGOA DO
PEIXE (RS, BRASIL).
1. Introdução
Por mais de um século as pescarias artesanais constituem a base sócio-econômica
para os pescadores da região costeira do Rio Grande do Sul, que são beneficiados pelas
condições naturais de migrações de crustáceos e peixes para dentro e para fora dos
estuários. No entanto, os pré-requisitos para um efetivo manejo das atividades
pesqueiras nos estuários vem sendo negligenciados em favor de lucros financeiros
imediatos (HAIMOVICI et al. 1998).
O sistema hídrico costeiro do Rio Grande do Sul é composto por lagunas, lagoas
costeiras, lagoas interiores, rios, riachos, arroios e canais que formam uma complexa e
peculiar rede hidrológica, com muito de sua dinâmica e morfologia ainda desconhecidas
(RAMOS 1999). Ao longo da costa, pela ação do vento predominantemente Nordeste,
há a formação de barreiras arenosas múltiplas com diferentes gradientes morfológicos
que vão desde lagoas profundas até as rasas (SCHWARZBOLD & SCHÄFER 1984). O
rompimento para o mar de alguns destes sistemas hídricos deu origem aos diversos
estuários da costa do Rio Grande do Sul.
De todas as lagoas costeiras e sistemas estuarinos do Rio Grande do Sul, a Lagoa
do Peixe (31º36’S; 051º04’W) é o único que apresenta ligação efêmera com o Oceano
Atlântico. Normalmente, a barra da Lagoa do Peixe permanece fechada durante alguns
meses do ano, acumulando água de banhados e lagoas adjacentes até romper-se em
direção ao mar, provocando a entrada de água salgada transformando assim, a lagoa em
um estuário (SCHWARZBOLD & SCHÄFER 1984). Desta forma, a lagoa pode ser
43
44
caracterizada como um ambiente lagunar semifechado, onde há trocas e variações nas
características físico-químicas da água, devido à influência de seus sistemas vizinhos.
Nos últimos anos, quando a barra não rompe naturalmente, ela é aberta pela intervenção
do homem, para a entrada de larvas de camarão-rosa (Observação pessoal dos autores).
Toda a extensão da Lagoa do Peixe (35 km2), é parte integrante do Parque
Nacional da Lagoa do Peixe (PNLP) (Fig. 3.1). O PNLP foi criado pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em 1986
e, desde sua criação, são freqüentes os conflitos entre a direção do parque e os
pescadores residentes, pois, de acordo com a Lei dos crimes ambientais 9.605-98 e pelo
Decreto 4340-9.985 de 22/08/02 (Lei SNUC – Sistema Nacional de Unidades de
Conservação) é proibida à pesca dentro de Parques Nacionais. No entanto, até o
momento não se encontrou solução para este problema, e a pesca artesanal-profissional,
com redes do tipo “Aviãozinho”, para captura do camarão-rosa Farfantepenaeus
paulensis, está provisoriamente e excepcionalmente autorizada para os pescadores
moradores do entorno do PNLP.
O aviãozinho consiste em uma rede cilíndrica com a parte posterior do corpo em
forma de funil (saco), onde a panagem é sustentada por aros de ferro. A rede é fixa por
estacas (calões) em águas rasas (prof. <2 m). A pesca é efetuada durante a noite
(aproximadamente 12 horas), por meio da atração luminosa, proporcionada por
lampiões a gás presos no calão que fixa o fundo dos sacos das redes (VIEIRA et al.
1996) (Fig. 3.2). O tamanho da malha segue o recomendado pela portaria do IBAMA n°
09-N/93, que regulamenta o uso de malha de tamanho 24 mm de distância entre nós no
saco da rede.
44
45
6
5
4
3
2
1
Figura 3.1 – Área de estudo: 1) Setor Chica; 2) Setor Capitão- Rosa; 3) Setor Paiva; 4)
Setor Lagamarzinho; 5) Setor Costa e; 6) Setor Véia Terra. Fonte: IBAMAMostardas.
4
1
5
4
2
3
6
Figura 3.2 – Desenho esquemático do Aviãozinho. (Fonte: Enge Pesca). 1 = Atrativo
luminoso; 2 = Tralha superior; 3 = Tralha inferior; 4 = Calões de sustentação;
5 = Saco da rede e; 6 = Aros de sustentação do saco.
45
46
Apesar das tentativas de ordenar e minimizar os impactos da pesca do camarãorosa no PNLP, sabe-se que a seletividade em pescarias de camarão geralmente é baixa,
de modo que muitas espécies de peixes e outros crustáceos acabam sendo capturados
acidentalmente (SILVA 1984; VIEIRA et al. 1996; MARQUES 1997). Neste sentido, o
objetivo deste estudo foi avaliar o impacto que a pesca do camarão-rosa causa nas
assembléias de peixes e crustáceos capturados pela rede tipo aviãozinho na Lagoa do
Peixe.
2. Material e Métodos
2.1 Área de Estudo
A Lagoa do Peixe possui profundidade média inferior a 50 cm, exceto nos canais
e em sua barra, cujas profundidades são superiores a 2 m (KNAK 1998). A Lagoa do
Peixe é localmente dividida em vários setores (aproximadamente 13) sendo que, neste
trabalho, seis setores foram amostrados (Fig. 3.1) e estão abaixo descritos em ordem
geográfica do Sul para o Norte:
1) Setor Chica - Setor mais ao Sul da lagoa, fortemente influenciado pela água
doce dos banhados. Geralmente apresenta baixas salinidades o que dá a este setor
características de um ambiente pré-límnico. No ano amostrado este setor não apresentou
salinidades superiores a 5.
2) Setor Capitão - Rosa – Setor localizado na região Sul da Lagoa do Peixe,
porém mais próximo da Barra, o que faz com que esta região apresente uma maior
influência de água salgada com relação ao setor Chica. No ano amostrado este setor
apresentou salinidades altas oscilano de 26 a 30.
46
47
3) Setor Paiva – É o setor amostrado mais próximo da barra. Localizado na região
Centro-Norte da Lagoa do Peixe, o setor Paiva é tipicamente estuarino, quando a barra
encontra-se aberta, apresentando altos valores de salinidade. No ano amostrado a
salinidade neste setor oscilou entre 30 a 34.
4) Setor Lagamarzinho – Embora mais distante da barra da lagoa, quando
comparado com o setor Paiva, o Lagamarzinho também apresenta características
estuarinas devido à inexistência de qualquer tipo de barreira física entre ambos. Nossas
coletas de água registraram valores de salinidade oscilando entre 25 a 34.
5) Setor Costa - Setor localizado na região Norte da Lagoa do Peixe. Os valores
de salinidade deste setor ficaram entre 13 e 14. Sua proximidade com o setor
Lagamarzinho da a ele uma característica estuarina.
6) Setor Véia Terra – Setor mais ao Norte da lagoa que apresentou baixos valores
de salinidades (S = 5 - 7). Assim como nos setores ao Sul, o aporte de água doce para o
setor Véia Terra caracteriza um ambiente pré-límnico.
2.2 Desenho Amostral.
Durante a safra de 2002 foram efetuadas coletas diárias no período de 01/02/2002
a 06/03/2002, sendo que foi amostrado um setor para cada dia de coleta. Sempre que
possível os setores, assim como os pescadores, eram escolhidos aleatoriamente. Para
evitar que o rejeito de pesca fosse subestimado em função da seleção por parte dos
pescadores, todas as amostras foram acompanhadas em tempo integral.
Durante a amostragem com os pescadores voluntários, a equipe se deslocava até
as suas redes com a embarcação própria dos pescadores. No local de pesca as redes
eram contadas, abertas e todo o produto pescado era colocado no bote. Ao chegar na
47
48
margem da lagoa o pescado era então selecionado com base na sua importância
comercial e dividido em: a) espécie alvo; b) captura acessória e, c) rejeito de pesca.
No próprio local, com a balança dos compradores, eram mensurados os pesos
totais de camarão-rosa, do siri grande (comercializado), do siri pequeno (que era
devolvido a água após este procedimento), e dos peixes que seriam comercializados. A
ictiofauna acompanhante (rejeito), que não tinha interesse comercial, era levada in
natura para a base de estudos da Fundação Universidade Federal do Rio Grande
(FURG) sediada no Farol de Mostardas, próximo aos limites do PNLP. No laboratório
as espécies do rejeito foram identificadas ao nível de espécie, medidas individualmente,
contadas e pesadas.
Para estimativas do esforço de pesca e captura total de camarão-rosa foram
utilizados dados originados das planilhas estatísticas fornecidas pelo IBAMA –
Mostardas, onde nelas constavam a produção diária de cada pescador (Kg de camarãorosa), o esforço diário de cada pescador (redes/dia) e o setor onde as redes eram
colocadas. Estas planilhas devem ser preenchidas, diariamente, por todos os 165
pescadores autorizados pela administração do PNLP a pescar nesta UC, e entregues
mensalmente. Para tentar minimizar a presença de redes clandestinas dentro da Lagoa
do Peixe, as redes são individualmente identificadas com lacres, fornecidos pela
administração do PNLP, com código impresso que identifica o pescador e cada uma de
suas redes. Neste sentido é possível dispor, em teoria, da captura total de camarão-rosa,
número de pescadores e redes, por dia e por local de pesca.
2.3 Análise dos dados
As proporções de cada item obtido nas amostragens de campo foi analisada
seguindo metodologia proposta por ALVERSON et al. (1994), que consiste em avaliar
48
49
a proporção de pescado (espécie alvo : captura acessória: rejeito de pesca ou descarte).
Este método foi aplicado para a Lagoa do Peixe como um todo, e separadamente para
cada setor.
Para efeito comparativo os dados coletados foram padronizados e expressos por
uma unidade de abundancia relativa (captura por unidade de esforço – CPUE),
calculados a partir da razão entre a captura total, em peso ou em número, pelo número
total de redes amostradas, onde: CPUE total = ∑CPUE (Espécie alvo + Captura
Acessória + Rejeito de Pesca), em cada série de redes amostradas.
Diferenças
nas
CPUEs
transformadas
(Log
CPUE+1)
foram
testadas
estatisticamente por ANOVA paramétrica (p<0,05) e os pressupostos estatísticos
(homogeneidade e normalidade) foram testados pelo teste de Kolmogorov-Smirnov e de
Cochran, respectivamente, e por representações gráficas (Normal Probability Plot). Nas
análises onde os pressupostos de homogeneidade de variância e normalidade não
tenham sido satisfeitos completamente, a ANOVA paramétrica foi aplicada do mesmo
modo, porque a validade do teste e as probabilidades associadas com a distribuição F
são pouco afetadas pelas violações dos pressupostos do teste (UNDERWOOD 1997).
As estimativas de captura total e os intervalos de confiança das capturas totais, de
cada item, foram construídos de acordo com as recomendações propostas por
BUCKLAND et al. (1993) que sugerem que, para dados de densidades, como por
exemplo as CPUEs, os intervalos de confiança estimados devem ser calculados através
de
uma
estatística
denominada
C,
que
é
obtida
através
da
fórmula,
C = exp[za × dp (log( y ))] , onde za é o valor de t de student (1,96, neste caso) e dp é o
desvio padrão das CPUEs transformados (Log CPUE+1). Desta forma, os intervalos
foram descritos como:
y
≤ y ≥ y × C , onde y é a média das CPUEs de cada intervalo a
C
49
50
serem criados. O intervalo gerado desta maneira é positivo (o valor mínimo está sempre
acima de zero), porém é assimétrico, pois os valores mínimos sempre estão
representados mais próximos da média em relação aos valores máximos.
Os resultados analisados estão representados por três grandes conjuntos de dados:
1) Dados obtidos através da amostragem realizada conforme descrito no desenho
amostral. Este conjunto de dados é composto por proporções de espécie alvo:
captura acessória: rejeito de pesca ou descarte;
2) Dados das capturas totais de camarão-rosa ao longo da safra e esforço total de
pesca em cada setor fornecido pelas planilhas estatísticas do IBAMAMostardas e;
3) Matriz de dados gerada pelas extrapolações das capturas acessórias e rejeito de
pesca, baseadas nos dados do primeiro conjunto sobre os dados de esforço de
pesca obtidos do segundo conjunto, para o período estudado (01/02/2002 e
06/03/2002). Este recurso foi necessário, pois o primeiro conjunto de dados
não avalia o esforço de pesca total, enquanto que o segundo conjunto não
contém informações sobre as capturas acessórias e rejeito de pesca.
Com o objetivo de determinar as espécies de peixes (captura acessória ou rejeito)
mais afetadas pela pesca do camarão-rosa foram adotados os seguintes procedimentos:
1
-
Foi
utilizado
o
Índice
de
Importância
Relativa
( IIR% = FO % × (PN % + PW % ) ) (VIEIRA et al. 1996), que leva em consideração a
freqüência de ocorrência percentual (FO%), a abundância relativa numérica percentual
(PN%) baseada na CPUE em número, e a biomassa relativa percentual (PW%), baseado
na CPUE em peso de cada espécie, como indicador das espécies mais afetadas.
50
51
2 - Para as três espécies consideradas mais afetadas de acordo com o IIR%
(o Barrigudinho Jenynsia multidentata (Jenyns, 1842), a Savelha Brevoortia pectinata
(Jenyns, 1842) e a Corvina Micropogonias furnieri (Desmarest, 1823)) foram avaliados
aspectos de sua biologia e importância na pesca. Foram calculadas estimativas da
quantidade em peso e em número de indivíduos que foram mortos durante o período
estudado. Para estas estimativas se fez necessário:
Calcular a CPUE por classe de comprimento (CPUE-CC), proposta por VIEIRA
(1991), VIEIRA et al. (1996). Este método permite visualizar diferenças de tamanhos
de indivíduos juntamente com a abundância, com base na distribuição de freqüência por
classe de comprimento dos indivíduos medidos (amplitude de classe de 10 mm CT) por
amostra. A abundância das espécies por classe comprimento (CPUE-CC) foi calculada
para todo o período. O número de indivíduos de cada classe de comprimento foi
multiplicado por um fator de ponderação FP =N/n; onde N é o número de indivíduos
capturados na amostra e n o número de indivíduos medidos. No caso particular onde
N=n (todos os indivíduos da amostra foram medidos) o valor de FP é igual a um
(FP=1). Os somatórios do número total de indivíduos estimados por classe de 10mm CT
foi dividido pelo esforço amostral (número de redes amostradas) gerando o CPUE-CC.
A partir deste ponto, três diferentes critérios foram adotados para concluir as
estimativas. Tal procedimento foi necessário em vista dos seguintes fatores:
•
As capturas de J. multidentata são exclusivamente representadas por sua
população adulta e esta espécie não é utilizada em nenhum tipo de pescaria;
•
Brevoortia pectinata tem baixo valor comercial e suas capturas pela frota
pesqueira têm como destino final a produção de farinha de peixe e, portanto,
51
52
não existe a informação sobre o tamanho mínimo que esta espécie é capturada
e;
•
Micropogonias furnieri é aproveitada comercialmente quando atinge cerca de
300 mm de comprimento, a denominada “idade de primeira captura”.
Levando em consideração que a maioria dos indivíduos capturados de B.
pectinata e M. furnieri foram juvenis (CT < 210 mm), utilizou-se a curva de
sobrevivência proposta por GULLAND (1971): ( N b = N a × e − M ×t ) para estimar o
número teórico de indivíduos que chegariam a uma idade de primeira captura pela pesca
artesanal. Para as duas espécies, baseado nas estimativas de rejeito de pesca (número
médio de indivíduos capturados por rede) e no esforço total de pesca para o período
(número total de redes utilizadas no período), estimou-se o número médio de indivíduos
capturados no período estudado (Na). Estimou-se, também, Nb (múmero de indivíduos
que a partir de Na chegariam ao tamanho viável para serem pescados após um tempo t,
sendo t o tempo teórico em anos para atingir a idade média de primeira captura.
Utilizou-se os índices de mortalidade natural (M = 0,23 para M. furnieri (MARQUES
1997) e M=1,1 para B. pectinata baseado em Brevoortia patronus Goode, 1878,
(VETTER 1988)). Ressalta-se que as informações sobre os valores de M para B.
pectinata não estão disponíveis na literatura, e como forma de aproximação utilizou-se
o valor de mortalidade natural de B. patronus (VETTER 1988).
Baseado na literatura estimou-se o peso médio individual (W) que cada indivíduos
teria se não fosse capturado na pesca do camarão-rosa e atingisse a “idade de primeira
captura”. Este valor é de 287 g para M. furnieri (MARQUES 1997) e de 410 g para B.
pectinata (HAIMOVICI & VELASCO 2000). O produto de Nb e W gera o valor da
52
53
biomassa teórica disponível para a pesca, caso os indivíduos não tivessem sido
capturados pela pesca do camarão-rosa.
3. Resultados
3.1 A composição das capturas
Seguindo a metodologia proposta por ALVERSON et al. (1994), as amostragens
feitas ao longo da safra permitiram separar o pescado em três categorias e cinco itens: 1)
espécie alvo (camarão-rosa F. paulensis); 2) espécie acessória de interesse comercial,
subdividido em (2A) siri-azul Callinectes sapidus Rathbun, 1896, e (2B) peixes de valor
comercial
(Traíra
Hoplias
malabaricus
(Bloch,1794),
Linguado
Paralichthys
orbignyanus Valenciennes, 1839, Jundiá Rhamdia sp, Tainha Mugil platanus Gunther,
1880, entre outros); 3) rejeito de pesca, subdividido em (3A) rejeito de crustáceos
(dominado pelo siri-roxo Callinectes danae Smith, 1869) e (3B) rejeito da peixes
(espécies sem interesse comercial ou de pequeno tamanho).
Baseado nos itens acima mencionados, a composição percentual para todos os
setores (Fig. 3.3) foi dominada pelo camarão-rosa F. paulensis (53,9%), seguida pelo
siri-azul C. sapidus (22,0%). O rejeito de pesca total ficou na ordem de 16,8% para
crustáceos e 5,6% para peixes, sendo que apenas 1,6% dos peixes capturados foram
comercializados.
53
54
Peixe
comercializado
2%
Rejeito de peixe
6%
Siri-Azul
22%
Camarão
53%
Siri-Roxo
17%
Figura 3.3 – Composição percentual das capturas de cada item analisado.
No entanto, foi observado que as composições e proporções das capturas
apresentavam diferentes características para cada setor (Fig. 3.4), conforme descrito
abaixo:
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
CHICA
Camarão
CAPROSA
PAIVA
Peixe comercializado
LAGAMAR
COSTA
Rejeito de peixe
Siri-Azul
VTERRA
Siri-Roxo
Figura 3.4- Composição percentual das capturas de cada item analisado para cada setor.
Valores baseados na CPUE de cada rede em cada setor das amostragens.
54
55
1) Setor Chica – Segundo as estatísticas do IBAMA-Mostardas no ano
amostrado este setor foi o que teve menor número de pescadores (n=9) e a menor safra
(34 dias de pesca), tendo uma produção registrada de 1.058,5 Kg de camarão-rosa, tal
particularidade resultou em um baixo número de amostras de campo (n = 4). Observouse neste local que a proporção de espécie-alvo foi baixa (7,9%) sendo que as capturas
acessórias, tanto de siri-azul (58,5%) e dos peixes (23,0%) predominaram nas redes.
Neste setor não foi observada a presença de C. danae resultando num valor de 0% de
rejeito de crustáceos. Por outro lado, o rejeito de peixes foi o mais alto de todos os
setores com 10,6%.
2) Setor Capitão - Rosa – Segundo as estatísticas do IBAMA-Mostardas este
setor teve também um baixo número de pescadores (n=22), porém apresentou uma
safra mais longa que o setor Chica (107 dias de pesca), tendo uma produção registrada
de 11.100,5 Kg de camarão-rosa. Nas amostragens de campo dois itens não foram
encontrados: peixes de valor comercial e C. danae. Da mesma forma que o setor Chica,
houve predomínio de siri-azul nas redes amostradas (53,0%). Porém, neste setor já foi
possível observar uma maior captura da espécie alvo com 39,9% do total amostrado. O
rejeito de peixes representou 7,1%. Apenas 6 amostras foram realizadas em função da
dificuldade de acesso na área.
3) Setor Paiva – Segundo as estatísticas do IBAMA-Mostardas este setor
apresentou o maior número de pescadores (n=53) e maior safra (120 dias de pesca),
com uma produção registrada de 61.602,7 Kg de camarão-rosa. O setor Paiva tem a
espécie-alvo como principal item nas amostras (64,2%). Diferente dos setores acima
mencionados há um predomínio de siri-roxo C. danae (26,7%) em relação ao siri-azul
55
56
C. sapidus (3,3%). Não houve captura de peixes de valor comercial. O rejeito de peixes
girou na ordem de 5,7%.
4) Setor Lagamarzinho – Com 49 pescadores e safra de 97 dias obteve uma
produção registrada de 44.480,1 Kg de camarão-rosa. Neste setor as amostragens de
campo foram semelhantes àquelas encontradas no setor Paiva, tanto em relação à
proporção como em relação à composição dos itens. A espécie-alvo teve 61,3% de
contribuição em peso seguidas pelo siri-roxo C. danae (19,2%), siri-azul C. sapidus
(13,2%) e rejeito de peixes com 6,2%.
5) Setor Costa – Neste setor foi registrado um total de 27 pescadores ao longo
de 63 dias de pesca, com uma produção de 13.910,5 Kg de camarão-rosa. A espéciealvo e o siri-azul tiveram praticamente a mesma captura com 40,9% e 40,2%,
respectivamente. Houve diminuição do siri-roxo C. danae (17,0%) e o rejeito de peixes
foi o menor de todos os setores com apenas 1,9%. Não houve comercialização de
peixes.
6) Setor Véia Terra –No ano amostrado este setor esteve representado por 44
pescadores ao longo de 68 dias de pesca, totalizando uma produção registrada de
20.587,7 Kg de camarão-rosa. Neste local a espécie-alvo foi o principal item (63,5%).
As proporções de siri-roxo e siri-azul ficaram na ordem de 1,6% e 20,3%
respectivamente. As proporções de peixes comercializados e peixes rejeitados foram
semelhantes com 6,7 e 7,8%, respectivamente.
Considerando a produtividade de cada setor, ou seja, a quantidade total de
pescado capturado por rede, representado por ∑CPUE (Espécie alvo + Captura
Acessória + Rejeito de Pesca) (Fig. 3.5), podemos observar que o Setor Paiva
apresentou o maior CPUE médio (3.221,21 g/rede/dia) seguidos pelos setores Costa
56
57
(CPUE = 1.768,85 g/rede/dia) e Lagamarzinho (1.548,57 g/rede/dia). Os setores
considerados ambientes pré-límnicos (Chica e Véia Terra) foram os que apresentaram
menor produtividade, com valores médios de CPUE de 715,53 g/rede/dia e 871,39
g/rede/dia, respectivamente. Testados estatisticamente, através de uma análise de
variância (p<0,05), observou que o setor Paiva apresenta médias significativamente
maiores em relação a todos os outros setores. Os setores Lagamarzinho e Costa
mostraram-se estatisticamente iguais entre si, o mesmo acontecendo com os setores
Chica, Véia Terra e Capitão - Rosa.
3500
CPUE médio por rede por
dia em gramas
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
CHICA
CAPITÃO
PAIVA
LAGAM AR
COSTA
VTERRA
Figura 3.5 – Captura média total (∑CPUE (Espécie alvo + Captura Acessória + Rejeito
de Pesca)) (rede/dia) em gramas para cada setor amostrado. Setores em preto
representam a região pré-limnica da Lagoa do Peixe e; Setores em branco
representam a região estuarina.
3.2 O esforço de pesca
Para cálculo do esforço de pesca, o presente estudo levou em consideração os
dados encontrados nas planilhas estatísticas do IBAMA-Mostardas. Comparando o
esforço de pesca aplicado em todos os setores no período de estudo (01/02/2002 –
06/03/2002) observou-se que a área de estudo representou 93,3% do esforço aplicado
57
58
neste período. Com bases nas planilhas, chegou-se a um esforço de 201.050 redes
utilizadas na safra (Tabela VII), o que representa uma média de cerca de 1.678 redes/dia
para os 120 dias de safra. O esforço aplicado na zona estuarina (Paiva e Lagamarzinho)
representa 54,9% do esforço total. Os dois primeiros meses de safra corresponderam a
cerca de 82,1% (2.755 redes/dias) do esforço total, e nos meses de abril e maio
observou-se uma queda abrupta no esforço de pesca com 29.230 e 6.740 redes/mês,
respectivamente.
Tabela VII - Esforço total (número de redes em cada mês por setor ao longo da safra) baseado nas
planilhas estatísticas do IBAMA.
LOCALIDADE
FEVEREIRO
MARÇO
ABRIL
MAIO
TOTAL
CHICA
1.450
660
CAPITÃO ROSA
9.990
3.230
2.250
400
15.870
2.110
PAIVA
25.310
22.370
11.520
3.420
62.620
LAGAMARZINHO
13.740
27.630
6.080
420
COSTA
7.280
9.400
200
16.880
VELHA TERRA
23.880
4.660
240
28.780
DIVERSOS LOCAIS
5.500
9.980
8.940
2.500
26.920
TOTAL
87.150
77.930
29.230
6.740
201.050
47.870
3.3 Avaliação da espécie-alvo
Baseado nas planilhas estatísticas do IBAMA-Mostardas foi possível estimar a
safra de camarão-rosa. Conforme podemos observar na tabela VI, a safra ficou na
ordem de 182 toneladas. Ao longo dos meses a captura diminuiu constantemente sendo
que nos meses de fevereiro e março o volume de pesca foi muito maior, representando
45,0% e 36,7% do volume total capturado, respectivamente. É importante ressaltar que
nos primeiros três dias de pesca as capturas foram bem maiores perfazendo um total de
12.796,5 Kg de camarão-rosa o que representa cerca de 7,0% do total da safra.
58
59
As CPUEs em peso (Kg médio de camarão/rede/mês) (Fig. 3.6) foram testados
através da análise variância (p<0,05) para comparar os resultados de CPUE obtidos
para cada mês. Embora as capturas diminuam com o decorrer da safra (Tab. VIII),
observou-se que, para os três primeiros meses de safra, os valores de CPUE não foram
estatisticamente diferentes em si e foram maiores que o mês de maio (Fig. 3.6;
p < 0,01). Assim como a produtividade (Fig. 3.5) os maiores valores de CPUE para
F. paulensis foram observados na região estuarina (Fig. 3.7).
LAGOA DO PEIXE
Tabela VIII - Capturas mensais totais de Camarão-Rosa em cada setor da Lagoa do Peixe. Dados
obtidos das planilhas estatísticas do IBAMA-Mostardas.
LOCALIDADE
FEVEREIRO
MARÇO
ABRIL
MAIO
TOTAL
CHICA
698,5
360,0
0,0
0,0
1.058,5
CAPITÃO ROSA
7.092,5
2.365,0
1.485,0
158,0
11.100,5
FORMIGA
895,0
1.142,0
774,0
0,0
2.811,0
NATALICIO
118,5
0,0
0,0
0,0
118,5
CAMBOTA
1.460,0
5.905,0
5.929,0
944,0
14.238,0
BARRA
0,0
3.122,0
1.876,0
178,0
5.176,0
PAIVA
29.730,5
17.503,2
11.896,0
2.101,0
61.602,7
LAGAMARZINHO
16.306,5
24.564,6
3.519,0
90,0
44.480,1
COSTA
5.537,5
8.316,0
57,0
0,0
13.910,5
VELHA TERRA
18.221,2
3.070,5
971,0
0,0
22.262,7
OUTRAS
1.756,2
248,5
2.738,0
149,0
4.891,7
TOTAL
81.816,4
66.596,8
29.245,0
3.620,0
181.650,2
59
60
1,2
Mean
±SE
±0,95 Conf. Interval
1,0
LOG CPUE+1
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
FEVEREIRO
MARÇO
ABRIL
MAIO
MÊS
Figura 3.6 – Captura mensal de Camarão – Rosa expressos em (Kg/rede/dia) com seus
respectivos intervalos de confiança (p>0,05) para toda a safra.
70
Peso estimado em
toneladas
60
50
40
30
20
10
0
CAPITÃO ROSA
PAIVA
Dados IBAMA
LAGAMARZINHO
COSTA
VÉIA TERRA
Dados das Amostragens
Figura 3.7 – Estimativas da biomassa total de camarão-rosa por setor. O esforço é o
mesmo para as duas estimativas, no entanto, a CPUE (captura média por dia por
rede) são calculadas sobre os dados amostrados e dados do IBAMA.
60
61
3.4 Estimativa dos itens presentes nas capturas no período amostrado
Para estas estimativas optou-se pela retirada do setor Chica devido ao baixo
número de amostras realizadas nesta localidade. As estimativas de capturas totais de
camarão-rosa nos setores amostrados puderam ser estimadas pelas CPUEs das amostras
de campo e das planilhas estatísticas do IBAMA-Mostardas. Tais comparações foram
necessárias para obter a projeção dos itens coletados, durante as amostragens, sobre o
esforço de pesca estimado pelos dados das planilhas estatísticas do IBAMA. Conforme
podemos observar na figura 3.7, nota-se que os valores de captura total do IBAMA,
com exceção do setor Paiva, mostraram-se maiores quando comparados aos dados de
nossa amostragem. Os setores em que se observaram maiores diferenças foram Paiva e
Véia Terra com 32,75 e 11,22 toneladas de diferença entre as estimativas,
respectivamente.
Considerando as flutuações de CPUEs mensais já discutidas anteriormente, as
estimativas foram calculadas sobre o esforço de pesca realizado durante o período
amostrado (01/02/2002 – 06/03/2002). De acordo com os dados das planilhas
estatísticas do IBAMA (Tabela IX), este esforço girou na ordem de 95.220 redes nos
setores amostrados, cerca de 55,2% do esforço total destes setores.
Tabela IX - Comparação dos esforços aplicados no período amostrado (Esforço 1), durante toda a
safra (Esforço 2) e contribuição percentual (%) para os setores que foram utilizados para estimar
as capturas totais de cada item.
SETOR
CAPITÃO - ROSA
PAIVA
LAGAMARZINHO
COSTA
VELHA TERRA
TOTAL
Esforço 1
11.170
30.630
19.040
9.240
25.140
95.220
Esforço 2
15.870
62.940
47.870
16.880
28.780
172.340
%
70,38
48,7
39,8
54,7
87,3
55,2
61
62
A análise de variância indicou diferença significativa (p < 0,05) entre os setores,
porém observa-se um padrão semelhante entre os dados provenientes das amostragens
com pescadores voluntários e planilhas estatísticas do IBAMA (Fig. 3.8). Apenas os
dados provenientes do setor Paiva podem ser considerados superestimados em nossas
projeções. Para confirmar o padrão encontrado, foi aplicado o teste de comparações
Post-hoc (Teste de Tukey) e observou-se que os dados, de ambas as fontes, para cada
setor são estatisticamente iguais ao nível de 95%, o que dá suporte estatístico para
comparação e projeção do rejeito de pesca sobre a safra.
0,68
0,66
0,64
LOG (CPUE+1)
0,62
0,60
0,58
0,56
0,54
0,52
0,50
CAPITÃO ROSA
PAIVA
FONTE
LAGAMARZINHO
1
FONTE
COSTA
VÉIA TERRA
2
Figura 3.8 - Interação entre os fatores (FONTE 1 = IBAMA e FONTE 2 = Amostragem
com pescador voluntário) mostrando as média e intervalos de confiança (I.C. 95%)
para fonte de dados de cada local amostrado.
62
63
3.5 Avaliação do impacto na população do Siri-Roxo Callinectes danae
A biomassa total de C. danae nas amostras foi na ordem de 427 kg. O Paiva foi
o setor onde se observou maior CPUE desta espécie (CPUE =861,6 g/rede; 75,2% de
toda a captura deste item), seguidos pelo setor Costa (CPUE = 301,0 g/rede) e
Lagamarzinho (CPUE = 297,2 g/rede). O CPUE médio ficou em torno de 295,60 g/rede.
De maneira geral, os indivíduos são de ambos os sexos e adultos e, embora muito raro,
encontraram-se exemplares de fêmeas ovadas nas amostras.
Os resultados extrapolados sobre o esforço aplicado sugerem que, durante o
período amostrado, a biomassa total de siri-roxo, capturada nos setores amostrados, foi
na ordem de 22,60 a 56,57 ton, com média em 35,38 ton. (Tabela X).
3.6 Avaliação da captura acessória
O total de Callinectes sapidus capturado nas amostras foi na ordem de 494 kg e
o CPUE médio ficou em torno de 351,03g/rede. No setor Costa foi onde se observou o
maior CPUE desta espécie (CPUE = 713g/rede), seguidos pelo setor Capitão - Rosa
(CPUE = 557,80g/rede). As estimativas de captura de C. sapidus foram, semelhantes
àquelas encontradas em C. danae, ficando entre 13,29 a 57,27 ton. com média em 24,34
ton. (Tabela X).
Para os setores analisados somente a Véia Terra apresentou capturas de peixes
comercializáveis (0,16 a 11,82 ton., com média em 1,38 ton.) (TAB. X). Cabe ressaltar
que poucos são os atravessadores que se interessam em comprar este subproduto da
pesca, visto que há uma maior dificuldade de comercialização do mesmo na região.
63
64
3.7 Avaliação do impacto na ictiofauna rejeitada
A ictiofauna impactada foi analisada pela CPUE em número e em biomassa.
Constatou-se que a CPUE em biomassa média (gramas/rede) de ictiofauna rejeitada foi
de 109,51 g/rede, oscilando entre 35,01 g/rede (Costa) até 258,23 g/rede (Paiva),
enquanto que, o número médio de peixes rejeitados por rede foi de 8,72 ind./rede, com
valores médios para cada setor oscilando entre 2,09 ind./rede (Véia Terra) até 14,00
ind./rede (Paiva).
Baseado nos resultados de CPUE médios da biomassa capturada de cada setor estimouse que a biomassa média capturada no período de estudo foi da ordem 12,76 toneladas
com valores mínimos e máximos estimados entre 4,77 e 60,94 toneladas,
respectivamente (Tabela X). As estimativas máximas foram influenciadas pelas grandes
flutuações encontradas no setor Paiva, onde se registraram valores máximos e mínimos
de CPUE de 12,39 g/rede até 1599,41 g/rede, respectivamente.
Com relação às estimativas de número de indivíduos mortos no período chegouse a um valor médio de 965.874 indivíduos para os setores amostrados (com exceção ao
setor Chica), sendo que as três espécies mais importantes (o barrigudinho Jenynsia
multidentata, a corvina Micropogonias furnieri e a savelha Brevoortia pectinata)
representaram 76,4% da captura em número total.
64
65
Tabela X – Estimativas totais do período amostrado dos itens capturados para cada local. Os intervalos foram gerados baseados nos valores encontrados nas
amostras e extrapolados sobre os dados fornecidos pelo IBAMA. Estimativa 1 = Captura mínima estimada; Estimativa 2 = Captura média estimada e;
Estimativa 3 – Captura máxima estimada. Os valores das estimativas estão em quilogramas.
CAMARÃO DO
REJEITO
PEIXES (REJEITO)
PEIXES
(VENDIDOS)
SIRI GRANDE
SIRI PEQUENO
LOCAL
CAPITÃO ROSA
PAIVA
LAGAMARZINHO
COSTA
VELHA TERRA
TOTAL
CAPITÃO ROSA
PAIVA
LAGAMARZINHO
COSTA
VELHA TERRA
TOTAL
CAPITÃO ROSA
PAIVA
LAGAMARZINHO
COSTA
VELHA TERRA
TOTAL
CAPITÃO ROSA
PAIVA
LAGAMARZINHO
COSTA
VELHA TERRA
TOTAL
CAPITÃO ROSA
PAIVA
LAGAMARZINHO
COSTA
VELHA TERRA
TOTAL
#
MÉDIA
6
8
11
10
9
44
6
8
11
10
9
44
6
8
11
10
9
44
6
8
11
10
9
44
6
8
11
10
9
44
396,41
2036,88
971,10
637,03
571,84
922,65
89,82
258,23
100,82
35,01
63,67
109,51
0,00
0,00
0,00
0,00
54,82
10,96
557,79
104,88
199,83
713,83
178,83
351,03
0,00
869,04
295,70
297,97
15,26
295,60
I.C.
226,07
1408,03
734,15
451,37
393,06
642,54
41,25
74,98
61,98
17,45
26,92
44,52
695,08
2946,60
1284,54
1235,12
831,93
1398,65
195,56
889,37
164,00
70,26
150,57
293,95
6,39
6,39
346,36
15,00
124,30
420,37
107,80
202,77
470,05
470,05
898,30
733,29
321,25
1212,15
296,65
692,33
524,33
229,06
225,35
3,80
245,63
1440,37
381,73
394,01
61,29
569,35
MÍN
MÁX
DESVPAD
150,00
725,00
510,20
323,53
233,33
150,00
32,64
12,39
37,12
7,17
10,39
7,17
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
218,75
0,00
81,63
172,41
68,97
0,00
0,00
294,12
172,41
166,67
0,00
0,00
640,00
2681,82
1500,00
1733,33
958,33
2681,00
353,24
1599,41
175,55
90,83
152,17
1599,41
0,00
0,00
0,00
0,00
178,57
178,57
800,00
227,27
531,91
1433,33
535,71
1433,33
0,00
1466,67
408,33
411,76
42,86
1466,67
231,64
653,85
294,07
431,56
236,46
369,51
129,08
543,43
52,90
27,75
55,62
161,76
0,00
0,00
0,00
0,00
70,74
14,15
250,18
79,47
130,98
417,50
139,76
203,58
0,00
461,55
83,31
89,29
18,79
130,59
Est. Mínima
2525,25
43127,83
13978,16
4170,68
9881,46
73683,38
460,81
2296,52
1180,15
161,23
676,87
Est. Média
4427,89
62389,69
18489,81
5886,14
14375,94
105569,47
1003,28
7909,54
1919,64
323,54
1600,65
Est. Máxima
7764,04
90254,32
24457,66
11412,51
20914,69
154803,23
3945,69
48989,98
3342,47
839,24
3825,47
4775,57
0,00
0,00
0,00
0,00
160,72
12756,65
0,00
0,00
0,00
0,00
1378,15
60942,85
0,00
0,00
0,00
0,00
11817,10
160,72
3868,82
459,47
2366,76
3884,22
2710,09
1378,15
6230,56
3212,46
3804,81
6595,77
4495,71
11817,10
10034,04
22460,71
6116,61
11200,24
7457,84
13289,34
0,00
16060,32
4361,31
2082,20
95,54
24339,30
0,00
26618,75
5630,17
2753,27
383,68
57269,44
0,00
44118,56
7268,18
3640,62
1540,88
22599,36
35385,88
56568,24
N° REDES
11170
30630
19040
9240
25140
95220
11170
30630
19040
9240
25140
95220
11170
30630
19040
9240
25140
95220
11170
30630
19040
9240
25140
95220
11170
30630
19040
9240
25140
95220
65
66
3.8 A composição da ictiofauna acompanhante e as espécies potencialmente
afetadas
As 48 amostras provenientes de 1.632 redes resultaram na captura de 45
espécies pertencentes a 23 famílias de peixes num total de 13.988 indivíduos (Tabela
XI). Considerando os valores de abundância das espécies coletadas temos B. pectinata
como a espécie mais abundante em número, compreendendo 42,5% dos indivíduos
capturados. Temos ainda como abundantes M. furnieri (16,7%), J. multidentata
(14,6%), o cará Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) (7,6%), o peixe-rei
Odontesthes argentinensis (Valenciennes, 1835) (5,3%), o carapicu Eucinostomus
argenteus Baird & Girard 1855 (3,7%) e a tainha Mugil platanus (2,6%), totalizando
93,8% do número total de peixes capturados (Fig. 3.9).
Com relação aos valores totais de biomassa de cada espécie, B. pectinata foi,
novamente, a espécie dominante , compreendendo 42,8% do peso total capturado.
Geophagus brasiliensis (13%), a traíra Hoplias malabaricus (11,8%), M. furnieri
(11,5%), J. multidentata (5,2%), O. argentinensis (5,0%), E. argenteus (2,2%) e M.
platanus (1,6%) totalizaram 93,1% do peso total capturado. Um grande número de
espécies apresentaram alta freqüência de ocorrência, com destaque para J. multidentata
(80,8%), B. pectinata e O. argentinensis ,ambos com 68,0%.
Cada setor apresentou variação na composição de ictiofauna, sendo que: 1) no
setor Chica, dominaram espécies de origem límnica como G. brasiliensis, H.
malabaricus, Oligosarcus jenynsii (Günther, 1864) e Astyanax eingenmaniorum (Cope,
1894); 2) no setor Capitão - Rosa, apenas duas espécies dominaram G. brasiliensis e J.
multidentata; 3) nos setores Paiva e Lagamarzinho, espécies estuarino relacionadas e
visitantes marinhas foram as mais importantes, destacando-se B. pectinata, M. furnier,
66
67
O. argentinensis e E. argenteus; 4) no setor Costa as espécies dominantes foram J.
multidentata, B. pectinata, O. argentinensis, M. furnieri, E. argenteus e; 5) no setor
Véia Terra sete espécies foram classificadas como freqüentes e dominantes (em peso
e/ou número), G. brasiliensis, H. malabaricus, O. jenynsii, A. eingenmaniorum, B.
pectinata e J. multidentata.
Baseado nos valores calculados para o IIR% (Fig. 3.9) observa-se que B.
pectinata e M. furnieri, com as maiores capturas nos setores centrais da lagoa, são
espécies de interesse comercial, porém não são aproveitadas devido ao pequeno
tamanho, representando, desta forma, as espécies que sofrem maior desperdício neste
tipo de pescaria. Jenynsia multidentata é capturada em grande número, porém devido ao
seu pequeno tamanho se torna menos importante na biomassa total.
50
BREPEC
40
PN%
30
20
JENMUL
10
0
68,75%
60,42%
ODOARG EUCARG
70,83% 60,42%
81,25%
MUGPLA
68,75%
58,33%
PW%
-10
MICFUR
-20
GEOBRA
HOPMAL
25,00%
-30
-40
-50
Figura 3.9 – Índice de Importância Relativa (IIR%) graficado. Eixo do Y os valores
acima representam a abundância percentual (PN%) de cada espécie e os valores
abaixo representam a contribuição em peso (PN%) de cada espécie. Eixo do X é a
freqüência de ocorrência percentual (FO%) para cada espécie. Notar que quanto
maior a área do retângulo formado pelas três variáveis, maior será a importância da
espécie
67
68
Tabela XI - Número total de indivíduos coletados (Ntot); Percentual numérico (%Ntot); Freqüência
de Ocorrência (FO); Freqüência de Ocorrência ajustada a 100% (FO% aj.); Biomassa capturada
de cada espécie (W); Percentual da Biomassa (% W) e, Índice de Importância Relativa (IIR%).
ESPÉCIE
Ntot
% Ntot
FO
FO% aj.
W
%W
IIR %
Brevoortia pectinata (Jenyns, 1842)
5958
42,594
33
8,049
61372,3
42,78
5869,66
Micropogonias furnieri (Desmarest, 1823)
2332
16,671
29
7,073
16503,2
11,50
1702,30
Jenynsia multidentata (Jenyns, 1842)
2041
14,591
39
9,512
7475,7
5,21
1608,95
Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824)
1055
7,542
28
6,829
18717,2
13,05
1201,09
Odontesthes argentinensis (Valenciennes, 1835)
740
5,290
34
8,293
7197
5,02
730,10
Eucinostomus argenteus Baird & Girard 1855
513
3,667
29
7,073
3115,6
2,17
352,79
Hoplias malabaricus (Bloch,1794)
129
0,014
12
2,927
16866,9
11,76
294,31
Mugil platanus Gunther, 1880
362
2,588
33
8,049
2314,5
1,61
288,85
Oligosarcus jenynsii (Günther, 1864)
137
0,979
12
2,927
2174,7
1,52
62,39
Astyanax eigenmanniorum (Cope, 1894)
240
1,716
9
2,195
1144,7
0,80
47,13
Platanichthys platana (Regan, 1917)
107
0,765
23
5,610
183,5
0,13
42,78
Gobionellus oceanicus (Pallas, 1770)
37
0,265
19
4,634
461,9
0,32
23,22
Rhamdia sp
17
0,122
10
2,439
1114,6
0,78
18,72
Harengula clupeola (Cuvier, 1829)
36
0,257
7
1,707
1018,7
0,71
14,11
Atherinella brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824)
26
0,186
13
3,171
230,3
0,16
9,38
Cyphocarax voga (Hensel, 1870)
23
0,164
8
1,951
498,6
0,35
8,53
Mugil gaimardianus Desmarest, 1831
71
0,508
4
0,976
500
0,35
7,13
Trachinotus carolinus (Linnaeus, 1766)
10
0,071
7
1,707
453,2
0,32
5,65
Hoplosternum littorale (Hancock, 1828)
2
0,922
2
0,488
308
0,21
4,74
Mugil curema Valenciennes, 1836
46
0,329
4
0,976
241,9
0,17
4,15
Hyphessobrycon bifasciatus Ellis, 1911
27
0,193
4
0,976
29,3
0,02
1,78
Cichlasoma facetum (Jenyns, 1842)
6
0,043
3
0,732
129,5
0,09
0,83
Epinephelus guaza (Linnaeus, 1758)
5
0,036
4
0,976
83,7
0,06
0,78
Lycengraulis grossidens (Agassiz, 1829)
4
0,029
3
0,732
120,3
0,08
0,70
Sardinella aurita Valenciennes, 1847
5
0,036
1
0,244
311
0,22
0,53
Cichlasoma portalegrense (Hensel, 1870)
4
0,029
3
0,732
76,2
0,05
0,51
Pomatomus saltatrix (Linnaeus, 1766)
4
0,029
3
0,732
74,6
0,05
0,50
Elops saurus Linnaeus, 1766
3
0,021
3
0,732
75
0,05
0,46
Paralichthys orbignyanus Valenciennes, 1839
1
0,007
3
0,732
93,5
0,07
0,45
Crenicichla lepidota Heckel, 1840
2
0,014
2
0,488
100,4
0,07
0,35
Corydoras paleatus (Jenyns, 1842)
5
0,036
4
0,976
6,8
0,00
0,34
Trachinotus marginatus Cuvier, 1832
4
0,029
3
0,732
12
0,01
0,23
Urophycis brasiliensis (Kaup, 1858)
1
0,007
1
0,244
142,7
0,10
0,22
Pimelodella australis Eigenmann, 1917
5
0,036
2
0,488
12,9
0,01
0,19
Phalloptychus januarius (Hensel)
13
0,093
1
0,244
3,6
0,00
0,20
Selene vomer (Linnaeus, 1758)
3
0,021
3
0,732
10,4
0,01
0,18
Albula nemoptera (Fowler, 1911)
2
0,014
2
0,488
39,9
0,03
0,18
Mycteroperca rubra (Bloch, 1793)
2
0,014
2
0,488
31
0,02
0,15
Genidens genidens (Valenciennes, 1839)
3
0,021
1
0,244
71,2
0,05
0,15
Citharichthys spilopterus Günther, 1862
2
0,014
2
0,488
12,7
0,01
0,10
Pogonias cromis (Linnaeus, 1766)
1
0,007
1
0,244
54,9
0,04
0,09
Stellifer brasiliensis (Schultz)
1
0,007
1
0,244
52,8
0,04
0,09
Eleotris pisonis (Gmelin, 1789)
1
0,007
1
0,244
9,5
0,01
0,03
Uraspis secunda (Poey, 1860)
1
0,007
1
0,244
2
0,00
0,02
Sciaenidae
1
0,007
1
0,244
1
0,00
0,02
Total geral
13.988
100
410
100
143.449,40
100
12305,06
68
69
3.9 As estruturas de tamanho e o impacto sobre as três espécies mais
abundantes
A análise das curvas das CPUEs por classe de comprimento (CPUE-CC) (Fig.
3.10) demonstraram que as maiores capturas estiveram presentes entre os
comprimentos totais de 60 a 120mm, representando 77,8% da captura total. Esta
amplitude de tamanho está representada por 30 espécies sendo que as três espécies mais
abundantes (J. multidentata, M. furnieri e B. pectinata) representam juntas 74,8% da
abundância total desta amplitude de comprimentos.
1,8
1,6
1,4
1,2
C
P 1,0
U 0,8
E
0,6
0,4
0,2
90
10
0
11
0
12
0
13
0
14
0
15
0
16
0
17
0
18
0
19
0
20
0
21
0
22
0
23
0
24
0
25
0
26
0
27
0
28
0
29
0
30
0
70
80
40
50
60
20
30
0,0
Classe de CT (10mm)
BREPEC
MICFUR
JENMUL
OUTRAS
Figura 3.10 – Composição da CPUE (número médio de indivíduos por rede) por classe
de comprimento (10mm CT) das capturas para os setores amostrados na Lagoa do
Peixe, destacando as três espécies mais importantes. Código das espécies BREPEC
= B. pectinata; MICFUR = M. furnieri e; JENMUL = J. multidentata.
3.9.1 Jenynsia multidentata
Jenynsia multidentata está representada por uma única moda de comprimento
entre 50-89 mm (Fig. 3.11). O CPUE médio total foi de 1,00 ind/rede/dia que
69
70
multiplicado pelo esforço total no período (f = 95.220 redes) gera uma captura total
estimada para o período de cerca de 95.620 indivíduos. A estimativa do limite de
confiança baseada na estatística C, varia de um mínimo de 64.418 e um máximo de
144.280 indivíduos de J. multidentata capturados acidentalmente nesta pescaria. Os
setores Capitão - Rosa e Costa representam juntos cerca de 74,0% da captura total desta
espécie. Os valores estimados de biomassa total capturada estão na ordem de 236,5 a
529,5 Kg, o que representa cerca de 0,0002% das capturas totais estimadas de todos os
itens.
3.9.2 Micropogonias furnieri
No caso de M. furnieri os indivíduos capturados, em sua grande maioria são
representantes da idade 0 (<110mm de CT) que representam 96,6% da captura total da
espécie. As projeções totais para M. furnieri de idade 0 foram na ordem de 94.426 até
273.400 indivíduos capturados no período estudado, com média em 160.510
indivíduos.
Ao aplicarmos a taxa de mortalidade da corvina (M = 0,23) na expressão
N b = N a × e − M ×t , temos, ao final de dois anos (período no qual esta espécie passa a ter
tamanho de interesse comercial), que o número total de indivíduos restantes seria de
59.610 até 172.593. Projetando estas estimativas para o peso médio da corvina com
dois anos de idade (287 g) temos então que a biomassa potencial total seria de 17,1 a
49,5 toneladas. Estes valores, quando comparados com as estimativas totais de captura
da pesca do camarão-rosa passam a representar entre 7,9% e 19,8% da captura total.
3.9.3 Brevoortia pectinata
A representação gráfica da CPUE-CC (Fig. 3.11) de B. pectinata mostra três
modas de comprimento. As duas primeiras modas (60-70mm e 90-110mm) podem ser
70
71
consideradas como indivíduos de idade 0 (<119 mm de CT) e representam as classes de
maior captura. Estima-se que a captura total da idade 0 é de 418.796 indivíduos (Min =
172.263 e Máx = 1.028.638) o que corresponde à cerca de 88,3% do total capturado. A
terceira moda (160-199mm de CT) pode ser considerada de idade I e apresenta menores
abundâncias (Média = 51.541; Min = 21.200 e Máx = 126.596) correspondendo a cerca
de 10,9% do total capturado. Os indivíduos de idade II (> 200 mm) representam cerca
de 0,8% do total capturado.
Ao aplicarmos a taxa de mortalidade para B. pectinata (M=1,1) temos, para
idade 0, que após dois anos o número total de indivíduos que chegará à fase
comercialmente viável (período no qual a espécie passa ter um peso médio individual
de 410g) é de 19.087 até 113.977 indivíduos. O mesmo raciocínio, quando aplicado à
classe de idade I, resulta em estimativas de 7.057 a 42.140 indivíduos. A soma das
estimativas da classe de idade 0 e idade I, projetadas para a classe de idade II estão na
ordem de 26.144 a 156.116 indivíduos. Projetando estas estimativas sobre o peso médio
individual de 410g temos então que a biomassa potencial total de B. pectinata afetada,
está entre 10,71 a 64,00 toneladas. Estes valores, quando comparados com as
estimativas totais de captura da pesca do camarão-rosa passam a representar entre 4,6%
e 22,4% da captura total.
71
72
0,9
0,8
CPUE (Ind./Rede)
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
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10
0
11
0
12
0
13
0
14
0
15
0
16
0
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0
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0
19
0
20
0
21
0
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0
23
0
24
0
25
0
26
0
27
0
28
0
29
0
30
0
80
70
60
40
50
30
20
10
0,0
Classe de comprimento (CT=10mm)
JENMUL
0,9
0,8
CPUE (Ind./Rede)
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
90
10
0
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0
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0
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0
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0
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0
16
0
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0
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0
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0
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0
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0
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0
23
0
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0
25
0
26
0
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0
28
0
29
0
30
0
80
70
60
50
40
30
20
10
0,0
Classe de comprimento (CT=10mm)
MICFUR
0,9
0,8
CPUE (Ind./Rede)
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
90
10
0
11
0
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0
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0
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0
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0
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0
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0
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0
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0
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0
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0
24
0
25
0
26
0
27
0
28
0
29
0
30
0
80
70
60
50
40
30
20
10
0,0
Classe de comprimento (CT=10mm)
BREPEC
Figura 3.11 - Composição da CPUE (número médio de indivíduos por rede) por classe
de comprimento (10mm CT) das capturas para os setores amostrados na Lagoa do
Peixe de B. pectinata (BREPEC), M. furnieri (MICFUR) e J. multidentata
(JENMUL).
72
73
4. Discussão
4.1 A composição das capturas e a arte de pesca
Os resultados das proporções dos itens capturados pela pesca de camarão-rosa
com aviãozinho para a Lagoa do Peixe (compilação dos dados de todos os setores
amostrados) indicam que a contribuição percentual média da espécie-alvo (F.
paulensis) é semelhante à observada na Lagoa dos Patos e Tramandaí (VIEIRA et al.
1996; MARQUES 1997), onde as capturas da espécie-alvo geralmente são maiores que
50,0%. Os altos valores percentuais da espécie-alvo, neste tipo de pescaria, sugere que
a arte de pesca é bastante eficiente, se comparada aos arrastos de fundo para pesca de
camarão, utilizados em todo o mundo, onde mais de 80,0% das capturas totais são
consideradas descartes (ANDREW & PEPPERELL 1992; ALVERSON et al. 1994).
No entanto, assim como no rejeito da pescaria de arrasto, devemos considerar que uma
grande parcela do rejeito de peixes capturado pelo aviãozinho é constituída de juvenis
de peixes. A maioria destes indivíduos, devido ao seu pequeno tamanho, são inviáveis
para a comercialização. Tais capturas são remoções reais do estoque, sendo necessário
avaliar os descartes segundo uma ótica que considere a estrutura de tamanho e o
número de indivíduos rejeitados, e não simplesmente o peso (VIEIRA et al. 1996;
CHEN & GORDON 1997; MARQUES 1997).
Desta forma a análise dos dados de CPUE-CC por espécie permitiu um
refinamento das estimativas, pois com ela foi possível visualizar numericamente os
indivíduos capturados em cada idade. Esta informação é importante, pois só assim
podemos ter uma estimativa mais aproximada do verdadeiro impacto, pois com ela
podemos avaliar a probabilidade das espécies com potencial pesqueiro deixarem de
tornar rejeito e passar a serem pescadas comercialmente. Esta transformação da espécie
73
74
de rejeito para comercializada, envolve uma considerável perda em número de
indivíduos, devido a mortalidade natural de cada espécie, mas, por outro lado, adquire
um ganho em biomassa que em alguns casos compensa tais perdas em número.
Jenynsia multidentata é considerada uma espécie freqüente e amplamente
distribuída nas lagoas costeiras do RS (RAMOS & VIEIRA 2001). Das três espécies
mais afetadas em termos de abundância na pesca do camarão-rosa, J. multidentata, ao
contrário das outras duas espécies mais abundantes, tem suas classes de comprimento
representadas por sua população adulta. Tal característica nos permite concluir, para
esta espécie, que a biomassa capturada é igual à biomassa potencialmente impactada.
Por não ter interesse comercial, J. multidentata não é espécie-alvo nem captura
acessória, além disto, seu pequeno tamanho faz com que exista uma seletividade, dando
chance de escape aos indivíduos de comprimentos totais inferiores a 30mm (tamanho
que pode ser considerado comum para esta espécie). O principal aspecto negativo da
captura acidental desta espécie deve-se ao fato de que os indivíduos maiores que 30mm
geralmente são fêmeas e, considerando que esta espécie é vivípara, muitos destes
indivíduos poderiam estar carregando filhotes. Embora tal informação não tenha sido
coletada neste trabalho, GARCIA et al. (2003) sugerem, para o estuário da Lagoa dos
Patos, que esta espécie possui dois períodos reprodutivos. O principal ocorre de
dezembro a março, período na qual é efetuada parte da pesca do camarão-rosa. De
qualquer forma, os resultados encontrados não evidenciam impacto na população de J.
multidentata pela pesca do camarão-rosa.
A Corvina M. furnieri é uma espécie que vive em águas costeiras, sendo que
seus estoques são de grande importância econômica nas pescarias do Brasil, Uruguai e
Argentina (HAIMOVICI et al. 1997). No estuário da Lagoa dos Patos é a espécie mais
74
75
capturada na pesca artesanal (CASTELLO 1986; CHAO 1986), principalmente a partir
dos dois anos de idade, com duas modas expressivas em 200 e 400mm CT (REIS
1992).
Comparando os resultados obtidos para a pesca artesanal da corvina na Lagoa
dos Patos, que segundo MARQUES (1997) tem média de 6893,3 ton/safra, os valores
estimados de biomassa potencialmente capturada são relativamente baixos, pois na pior
das hipóteses o volume de corvina morto acidentalmente nos Aviõezinhos, no período
estudado, seria na ordem de 0,7% da captura da pesca artesanal do Rio Grande do Sul.
Por outro lado, ao compararmos com as estimativas de captura acessória de peixes
encontradas para a Lagoa do Peixe, podemos observar que os valores estimados para
corvina (17,1 - 49,5 ton) são bem superiores, pois a estimativa máxima de peixes
comercializados ficou na ordem de 11,8 toneladas. A quantidade de juvenis de M.
furnieri capturados nos aviõezinhos, ao contrário da Lagoa dos Patos, não tem efeito
local sobre o estoque adulto, uma vez que, a pesca da corvina como espécie-alvo,
dentro da Lagoa do Peixe, não é realizada.
Ao contrário do Estuário da Lagoa dos Patos, onde se observa que M. furnieri é
a espécie mais capturada seguida de Netuma barba (VIEIRA et al. 1996), a Savelha B.
pectinata deve ser considerada a espécie mais afetada na Lagoa do Peixe, tanto em
número, como em biomassa. As capturas desta espécie variaram ao longo da Lagoa do
Peixe, em decorrência de ser uma espécie tipicamente marinha que se concentra nos
setores de maior salinidade.
Do ponto de vista pesqueiro B. pectinata tem baixa valor comercial na costa do
Rio Grande do Sul, no entanto, é freqüentemente usada na fabricação de farinha de
peixe. De acordo com (HAIMOVICI et al. 1997), esta espécie representou cerca de
75
76
15,0% de toda o desembarque de peixes estuarinos e demersais de plataforma entre os
anos de 1975-94, com uma média de 3.862 ton/ano.
De qualquer forma, assim como os resultados encontrados para as outras duas
espécies mais abundantes, a pesca do camarão-rosa parece não afetar negativamente a
população de B. pectinata e, provavelmente, a frota pesqueira, que atua ao longo de
toda a costa do Sul do Brasil, deve ser a principal responsável pelas capturas acidentais
desta espécie.
Peixes comercializados foram capturados apenas nos extremos da lagoa (setores
Véia Terra e Chica). Isto é explicado pelo fato de que nas amostragens, os peixes de
interesse comercial, eram de origem límnica (traíra H. malabaricus e o jundiá Rhamdia
sp) e, conforme já descrito anteriormente, estes setores recebem águas de baixa
salinidade (S < 0,1) provenientes de banhados e arroios.
A salinidade, portanto, pode ser considerada o principal fator controlador da
composição de pescado na rede. Por exemplo, o siri-roxo C. danae, esteve em maiores
proporções nos setores mais próximos da barra da Lagoa do Peixe, com diminuição
gradativa quanto mais próximo dos extremos da lagoa, tanto para o norte como para o
sul, enquanto que o contrario foi observado para o siri-azul C. sapidus.
As flutuações nas proporções da espécie-alvo são diferentes entre as safras, pois
em alguns setores em que a pesca do camarão-rosa foi escassa este ano, são
tradicionalmente conhecidos como bons locais de captura. Tais flutuações não devem
ser confundidas com algum impacto de origem antrópica, uma vez que não há indício
de nenhuma fonte poluidora neste local, assim como, em toda a Lagoa do Peixe.
Com relação à composição da ictiofauna, traçando um comparativo com a
Lagoa dos Patos, a composição pode ser considerada bastante diferente, sobretudo as
76
77
espécies mais freqüentes e abundantes. Das cinco espécies mais importantes para a
Lagoa dos Patos (M. furnieri, B. pectinata, Netuma barba, Lycengraulis grossidens
(Agassiz, 1829) e Genidens genidens (Valenciennes, 1839)) (VIEIRA et al. 1996),
apenas as duas primeiras são importantes para a Lagoa do Peixe. Duas espécies também
são consideradas importantes para Lagoa dos Patos e nem sequer foram capturadas na
Lagoa do Peixe, são elas: Parapimelodus nigribaris (Boulenger, 1889) e Catathyridium
garmani (Jordan, 1889). As espécies não presentes na Lagoa do Peixe são típicas de
meia água (L. grossidens), ou de fundo (bagres e linguados) (CHAO et al. 1985). A
baixa profundidade da Lagoa do Peixe parece ser o fator determinante para estas
espécies que não ocorreram na Lagoa do Peixe.
Cabe ainda lembrar que embora a proporção do rejeito de peixe seja o item mais
constante, sua composição é extremamente diferente ao longo dos setores. De modo
geral, a principal diferença entre a ictiofauna capturada nos extremos da Lagoa do
Peixe e a ictiofauna capturada pelo aviãozinho na região central é que a maioria dos
indivíduos dos extremos são adultos de suas respectivas espécies, enquanto que na zona
central, o predomínio é de juvenis. Portanto é coerente dizer que a biomassa potencial
de rejeito de peixes morta na pesca nos setores extremos é simplesmente a biomassa de
peixes total capturada. Por outro lado, devido ao predomínio de juvenis capturados na
zona central, se fez necessário uma avaliação em número de indivíduos e estrutura de
tamanhos, para que se possam estimar as possíveis biomassas potenciais a que estes
indivíduos poderiam chegar se não fossem acidentalmente capturadas por esta pescaria.
Cabe ressaltar que a sobrevivência da ictiofauna capturada está ligada tanto a
fatores biológicos, tal como a mortalidade diferente para cada espécie, como a fatores
operacionais, sobretudo pelo tempo de duração da operação da pesca, tempo de
77
78
exposição do pescado fora d’água e grau de manipulação do pescado depois de efetuada
a despesca (ANDREW & PEPPERELL 1992). No caso em questão, o costume dos
pescadores de separarem o pescado em seus acampamentos e casas impede a
sobrevivência de peixes.
O siri-roxo C. danae, por não possuir interesse comercial, pois, segundo os
pescadores locais, sua carne não pode ser aproveitada, é considerado como uma “praga”
para os pescadores, devido ao fato que os siris danificam as redes de pesca. De modo
geral, os pescadores da região preferem separar seu pescado em suas residências ou
acampamentos e sempre costumam evitar a devolução dos siris-roxos para água que, ao
contrário da maioria dos peixes, sempre chegam vivos após a despesca. Além disto, a
maioria dos pescadores utiliza-se de pedaço de madeira com pregos na ponta
(localmente conhecido por “batedor”) para separar os siris do camarão-rosa. Tal
ferramenta perfura a carapaça do siri e compromete a sobrevivência dos mesmos. Não
há registros sobre as flutuações de biomassa de C. danae na Lagoa do Peixe ao longo
dos anos, e as estimativas de captura anual de 35,38 toneladas parecem não estarem
afetando a população residente desta espécie. De qualquer forma, alguns pescadores
utilizam-se de uma grade na qual se consegue a separação do camarão e dos siris, pois o
camarão cai no fundo de um monobloco enquanto que os siris ficam retidos na grade.
Pelas nossas observações, tal artefato é bastante eficiente, e sugerimos para as
autoridades competentes, a implantação dos mesmos para as próximas safras, visando
minimização do impacto sobre a população de C. danae.
As capturas do siri-azul (C. sapidus) demonstraram que este recurso, embora
indesejável pela maioria dos pescadores, contribui, na maioria dos casos,
expressivamente, no orçamento final, podendo atingir rendimentos superiores ao do
78
79
camarão-rosa. Conforme já descrito anteriormente, esta espécie apresentou uma
tendência a se distribuir nos extremos da Lagoa do Peixe. Isto é explicado pelo fato de
que C. sapidus, ao contrário de C. danae, está melhor adaptado para suportar águas de
baixa salinidade, podendo ser encontrado até em ambientes límnicos (SANTOS 2002).
4.2 Produção X Produtividade
Com relação às estimativas de CPUE total, houve uma tendência de maior
produtividade na zona estuarina da Lagoa do Peixe. A produção total de camarão-rosa
também foi maior na região estuarina, assim como os valores de CPUEs da espécie
alvo. Isto pode ser explicado pelo fato de que os estuários suportam grandes estoques de
juvenis de peixes e crustáceos (KENNISH 1990). A abundância de alimento e a
proteção contra predadores nas águas rasas certamente influenciam na evolução do
padrão reprodutivo e migratório dos peixes e crustáceos que usam os estuários como
zona de crescimento na fase juvenil (MILLER & DUNN 1980; CASTELLO 1986;
LONERAGAN et al. 1989; POTTER et al. 1990; HOUDE & RUTHERFORD 1993;
VIEIRA & MUSICK 1993; 1994). Dos aproximadamente 30 Km2 da Lagoa do Peixe,
cerca de 50% foi considerada zona estuarina e produz 71,3% da CPUE total de
camarão-rosa.
Todos os anos, através de amostragens nos setores da Lagoa do Peixe, um
técnico especializado contratado pelo IBAMA determina a abertura da safra. O critério
utilizado para abertura da safra é quando mais de 70% dos indivíduos de todos os
setores possuem o tamanho de 90mm de comprimento rostro-telson (tamanho mínimo
permitido para a pesca). Para atingir este comprimento, as larvas levam em torno de
três meses após se estabelecerem dentro de um estuário. O período de penetração das
79
80
larvas nos estuários do Rio Grande do Sul ocorre desde a primavera até o outono, com
pico de abundância no verão (CALAZANS 1978).
Os elevados valores de captura de camarão–rosa nos primeiros dois meses de
safra 2002 se deveu ao maior esforço de pesca, e à maior disponibilidade do recurso,
tanto em número quanto em biomassa, esta última bastante influenciado pelo chamado
camarão residual (camarão-rosa da safra anterior que não migrou para o oceano e que
apresenta maior tamanho e peso). O decréscimo na abundância de F. paulensis no
decorrer da safra é explicado pela diminuição, e até o término, do recurso em alguns
setores da lagoa. Por outro lado, pescadores que colocaram suas redes em locais
privilegiados, puderam continuar pescando até abril. Como conseqüência observa-se
uma diminuição na captura total e no esforço, mas uma aparente estabilidade no CPUE,
explicando assim os valores de CPUE semelhantes para os três primeiros meses de
safra.
4.3 O esforço de pesca
Com relação ao esforço de pesca existem registradas no IBAMA um total de 4180
redes tipo aviãozinho. Isto significa que, se todos os pescadores pescassem com todas
suas redes devidamente registradas em todos os dias da safra (em torno de 120 dias)
poderíamos supor que o esforço total de pesca seria de 501.600 redes por safra (=4.180
redes x 120 dias). No entanto, existem fatores que contribuem para que o esforço não
seja constante. Estes fatores podem ser divididos em dois grupos distintos:
A) Aqueles que contribuem para uma sub-estimativa do esforço de pesca.
•
Uso de redes sem lacres – observou-se que alguns pescadores utilizam
mais redes que o permitido pela direção do IBAMA;
80
81
•
Pescadores clandestinos – antes e durante a safra, pescadores de outras
localidades (Santa Catarina, São José do Norte, Rio Grande, Tramandaí,
entre outros), e pescadores locais, que não possuem autorização do
IBAMA, pescam clandestinamente;
•
Roubos das capturas - houve relatos de que pescadores clandestinos,
durante a noite, despescavam redes com lacre de pescadores locais. Tais
registros foram esporádicos e parecem não afetar significativamente os
resultados;
•
Uso de redes alternativas - existe, embora em número bastante reduzido
quando comparados a outros estuários do Rio Grande do Sul, o uso de
redes do Tipo “Coca” (rede de arrasto manual em forma de saco com
atrativo luminoso). Esta arte de pesca é proibida pela legislação ambiental.
B)
Aqueles que contribuem para uma redução efetiva do esforço estimado:
•
Redes em manutenção – conforme o decorrer da safra observa-se que
inúmeras redes são retiradas da água para serem reformadas;
•
Diminuição da abundância do camarão-rosa – Ao longo da safra
observou-se que há uma diminuição da abundância de camarão-rosa em
certos setores, podendo chegar até uma suspensão da pesca por alguns
pescadores de pescar em função da escassez da espécie-alvo;
•
Motivos diversos - diariamente há casos de pescadores que não colocam
suas redes por vários motivos (viagem, doença, etc), contribuindo assim
para decréscimo do esforço;
Mesmo sabendo da existência dos fatores supramencionados, a mensuração dos
mesmos é complexa e, portanto, optou-se em utilizar os dados fornecidos pelas
81
82
planilhas estatísticas do IBAMA. Os dados de esforço devem ser considerados
subestimados, pois não registram redes e pescadores clandestinos. Sendo assim, todos
os resultados mostrados aqui dão uma idéia mínima do impacto desta pescaria sobre os
recursos naturais envolvidos.
Muitas discussões vem sendo colocadas nas assembléias entre IBAMA e
pescadores credenciados sobre o número de redes que devem ser liberadas para a safra.
Não se sabe ao certo se as 4.180 redes/dia devem ser consideradas como um número
aceitável para a Lagoa do Peixe. Para a Lagoa dos Patos VIEIRA et al. (1996)
estimaram 15.866 redes/dia, numa área potencial de 244,2 km2 ao longo do estuário o
que representa cerca de 65 redes por km2. Na Lagoa do Peixe as 4.180 redes autorizadas
teriam uma área aproximada de 30 km2, o que significa dizer que a densidade de redes
na Lagoa do Peixe estaria na ordem de 139,3 redes por km2, aproximadamente duas
vezes mais ao encontrado na Lagoa dos Patos. A maior densidade de redes na Lagoa do
Peixe está relacionada à possibilidade de se pescar em praticamente toda a sua área, ao
contrário da Lagoa dos Patos, onde há locais em que a profundidade não permite a
utilização deste tipo de arte de pesca, sendo substituídas por artes de pesca clandestinas.
4.4 Considerações Finais
Cabe lembrar que alguns setores da Lagoa do Peixe não foram amostrados e, o
período estudado, representou cerca de 55,2% do esforço total da safra. Desta forma,
seria coerente dizer que as estimativas de mortalidade de peixes e crustáceos poderiam
ser o dobro do valor estimado.
As projeções finais sugeridas neste trabalho (Fig. 3.12), embora não tenham
sido aplicadas a todas as espécies de peixes, dão uma idéia mais aproximada do
verdadeiro impacto que esta pesca causa dentro desta UC. Mesmo considerando, desta
82
83
maneira, que o rejeito de peixes passa a ser o segundo item mais capturado nesta pesca,
o valor de 45,0% da captura total para a espécie-alvo é satisfatório, do ponto de vista
pesqueiro, se comparado com o rejeito da pesca de arrasto de camarão. Sendo assim, se
tratando de um Parque Nacional, este tipo de pescaria seria o menos impactante
possível, já que por razões políticas ou sócio econômicas, ainda é permitida a pesca
dentro desta UC.
S avelha
11%
Barrigudinho
0%
Corvina
13%
Rejeito de peixe
3%
Peixe Comercializado
1%
S iri-Azul
11%
Camarão
45%
S iri-Roxo
16%
Figura 3.12 – Comparação entre as estimativas das proporções dos itens. A = Baseado
nos valores de CPUE encontrados nas amostras com pescadores voluntários e; B =
Baseado nas estimativas e considerando os valores encontrados para corvina e
savelha como rejeito de pesca.
De qualquer forma, a principal questão é determinar se a população de F.
paulensis, que usa a Lagoa do Peixe como uma das suas zonas de criação, se
preservada, poderá garantir um recrutamento suficiente ao estoque adulto, a ponto de
compensar as retiradas desta espécie em todos os outros estuários do Sudeste-Sul do
Brasil. Como ainda não há resposta para esta questão fica a sugestão de manter o
83
84
monitoramento do número de redes, o credenciamento dos pescadores e o
acompanhamento da pesca do camarão-rosa através de novos estudos.
84
85
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