UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE – UNIVALE
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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE – UNIVALE
UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE ÁREA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA SAÚDE-ACBS CURSO DE ENFERMAGEM Daniela Pereira da Cruz Kíssila do Carmo Pinho Sarah Fabri Chaves Rafaella Ferreira de Oliveira FATORES QUE LEVAM AO DESMAME PRECOCE: Uma revisão da literatura Governador Valadares 2009 DANIELA PEREIRA DA CRUZ KÍSSILA DO CARMO PINHO SARAH FABRI CHAVES RAFAELLA FERREIRA DE OLIVEIRA FATORES QUE LEVAM AO DESMAME PRECOCE: Uma revisão da literatura Trabalho de conclusão de curso para obtenção do grau de bacharel em Enfermagem, apresentada à Faculdade das Ciências da Saúde-FACS da Universidade Vale do Rio Doce– UNIVALE. Orientadora: Prof.ª Ms. Ana Carolina de Oliveira Martins Moura. Governador Valadares 2009 DANIELA PEREIRA DA CRUZ KÍSSILA DO CARMO PINHO SARAH FABRI CHAVES RAFAELLA FERREIRA DE OLIVEIRA FATORES QUE LEVAM AO DESMAME PRECOCE: Uma revisão da literatura Trabalho de conclusão de curso para obtenção do grau de bacharel em Enfermagem, apresentada à Faculdade das Ciências da Saúde-FACS da Universidade Vale do Rio Doce– UNIVALE. Governador Valadares, _____ de ______________ de_____. Banca Examinadora: _______________________________________________ Examinadora: Profª Enfª Denise Dias Cardoso Universidade Vale do Rio Doce ____________________________________________ Examinadora: Profº Enfº Carmem Rita Augusto Universidade Vale do Rio Doce ____________________________________________ Examinador: Profª Enfª Ana Maria Germano Universidade Vale do Rio Doce Dedicamos este trabalho a todas mulheres... guerreiras, sensíveis, por vezes oprimidas. Mulheres que são mães, que com carinho oferecem a seus filhos alguma felicidade, seja num olhar, sorriso ou gesto desenhado pelo amor!. AGRADECIMENTOS A Deus, que traçou os nossos caminhos e nos deu a oportunidade de renascer a cada dia, nos iluminando, dando-nos coragem e força para superar os obstáculos, nunca nos deixando desistir, quando muitas vezes achávamos que não fôssemos conseguir. Aos nossos pais, pelo carinho e incentivo, exemplos de esperança, luta e perseverança. A vocês, que se doaram inteiros e renunciaram aos seus sonhos, para que pudéssemos realizar os nossos; pela longa espera e compreensão, pois sabemos dos seus momentos de sofrimento e dedicação para que trilhássemos, sem medo, o caminho até aqui. Aos colegas de turma, pelos momentos de convívio, amizade e companheirismo. À Universidade Vale do Rio Doce e seus professores, que se esforçaram para o contínuo aprendizado e formação, deixando-nos orgulhosos de fazer parte dessa história. À nossa querida professora orientadora Ana Carolina de Oliveira Martins Moura, pelo acolhimento desde o primeiro momento. Com carinho e paciência compartilhou conosco suas experiências e sabedoria, fazendo críticas e sugestões para alcançarmos êxito nesse momento, abrindo-nos as portas para o crescer e o saber. A todos que direta ou indiretamente tornaram este sonho realidade. Muito Obrigada! “Os que confiam no Senhor serão como o monte de Sião, que não se abala, mas permanece para sempre.” Salmo 125: 1 RESUMO Recomendado pela UNICEF e OMS como um alimento completo o leite é capaz de suprir todas as necessidades do bebê quando oferecido exclusivamente até os seis meses de idade. Sabendo-se que no Brasil existem enormes descrepâncias sociais e que as taxas de desmame precoce encontra-se acentuada, é de estrema importância que os profissionais que atuam com a saúde materno-infantil tenham atitudes e um olhar diferente frente a essas taxas, fazendo com que o desmame atenue. Objetivou-se identificar os fatores que levam as nutrizes a desmamarem seus filhos precocemente e assinalar a atuação do profissional enfermeiro frente a esse processo. Usou como metodologia a revisão sistemática da literatura científica, e teve como base matéria já publicada sobre o tema em livros, artigos científicos, publicações periódicas e materiais na Internet disponíveis nos seguintes bancos de dados: MEDLINE, SCIELO, LILACS, e site do Ministério da Saúde. Após analise delimitou-se 53 artigos, publicados no período de 1999 a 2009. Na execução do trabalho, foram realizadas etapas de fichamento de resumo, análise e interpretação do material, bibliografia, revisão e relatório final. Assim, foi possível a identificação de fatores, físicos, biológicos, sociais, culturais e psicológicos que contribuem para a ocorrência do desmame precoce. A atuação do profissional enfermeiro frente a esses fatores, que variam com o decorrer do tempo, deve ser reavaliada, uma vez que necessita de um olhar mais cuidadoso e diferenciado. Contudo, o processo de amamentar ancora-se em experiências que determinam e superam os diferentes obstáculos para alcançar o sucesso do aleitamento exclusivo, tornando indispensável a participação do profissional enfermeiro na proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno. Palavras chave: Aleitamento materno. Desmame precoce. Enfermagem. ABSTRACT Recommended by UNICEF and OMS as a complete food, breast milk is able to meet all the needs of the baby when offered exclusively until six months of age. Knowing that in Brazil there are enormous social discrepancy and the rate of early weaning is marked, it is of extreme importance that professionals working with maternal and child health, and attitudes have a different look forward to these rates, making that weaning attenuates. Aimed to identify factors that lead mothers to wean their children early and check the performance of the professional nurse in the face of this process. Its methodology of systematic review of scientific literature, which was based on materials already published on the subject, such as books, papers, periodicals and materials on the Internet available in the following databases: MEDLINE, SCIELO,LILACS, and site of the Ministry of Health after analysis narrowed to 53 articles published from 1999 to 2009. For the organization of the material were carried out the steps of categorizing summary, analysis and interpretation of material, bibliography, review and final report. It was possible to identify physical, biological, social, cultural and psychological factors that contribute to the occurrence of early weaning. The performance of the professional nurse in the face of these factors that vary over time, should be reassessed, since that requires a closer look and differentiated. However, the feeding process is anchored in experiences and determine if it overcome the various obstacles to achieve success of exclusive breastfeeding, making it essential to the participation of nursing professionals in protecting, promoting and supporting breastfeeding. Keywords: Weaning. Breastfeeding. Nursing. LISTA DE SIGLAS AM – Aleitamento Materno AME – Aleitamento Materno Exclusivo AMM – Aleitamento Materno Misto CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas MS – Ministério da Saúde OMS – Organização Mundial da Saúde PNDS- Pesquisa Nacional de Demográfica e Saúde da Criança e da Mulher UNICEF – Fundo das Nações Unidas para Infância UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10 2 OBJETIVOS ......................................................................................................... 12 2.1 OBJETIVO GERAL: ............................................................................................ 12 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS: ............................................................................. 12 3 ALETAMENTO MATERNO E O DESMAME PRECOCE .................................... 13 3.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MAMA .............................................................. 15 3.2 COMPOSIÇÃO DO LEITE.................................................................................. 17 3.3 TIPOS DE ALEITAMENTO................................................................................. 18 3.4 VANTAGENS DO ALEITAMENTO MATERNO .................................................. 18 3.5 FATORES QUE LEVAM AO DESMAME PRECOCE ......................................... 21 3.5.1 Fatores demográficos ................................................................................... 21 3.5.2 Fatores Culturais ........................................................................................... 23 3.5.3 Fatores socioeconômicos ............................................................................ 24 3.5.4 Fatores associados ao pré-natal ................................................................. 26 3.5.5 Fatores relacionadas à assistência pré-natal imediata ............................. 27 4 ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO ALEITAMENTO MATERNO ........................ 30 5 DISCUSSÃO ........................................................................................................ 33 6 METODOLOGIA .................................................................................................. 38 7 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 40 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 42 10 1 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, as políticas de saúde da criança no Brasil tem priorizado ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento natural, estratégia fundamental para melhorar a saúde das crianças brasileiras e reduzir a mortalidade infantil no país. O Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) calcula que o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida pode evitar, anualmente, 1,3 milhão de mortes de crianças menores de cinco anos, sendo que os bebês até os seis meses não precisam de chás, sucos, outros leites, nem mesmo de água. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), por ser um alimento completo, o leite humano deve ser oferecido exclusivamente desde o nascimento até os primeiros seis meses de vida e sua continuidade com alimentos complementares é recomendada até dois anos ou mais, realidade que está longe de ser alcançada em nosso país (BRASIL, 2009). O desmame precoce é definido como a interrupção permanente da prática do aleitamento materno antes dos seis meses de vida, sendo ainda uma problemática bastante comum em diversos países (SILVEIRA, 2006). Sabendo da importância da amamentação no início da vida da criança, inúmeras ações são desenvolvidas em todo o mundo e inserem-se em uma tendência internacional de proteção ao binômio mãe e filho. Apesar, no Brasil, 97% das lactantes iniciarem o aleitamento materno nas primeiras horas de vida do bebê, deixam de fazê-lo precocemente, segundo a Pesquisa Nacional de Demográfica e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS-1996) (RAMOS; RAMOS, 2007). Segundo Montrone e Arantes (2000) o desmame precoce estabelece uma relação direta com a morbimortalidade infantil, tendo uma significativa importância política na medida em que se estima que a promoção da prática exclusiva possa salvar um milhão de vidas por ano no país. E que, além disso, possa contribuir para a prevenção de seis milhões de mortes de crianças menores de doze meses a cada ano no mundo. Partindo desse aspecto, percebe-se que o aleitamento materno depende de fatores que podem influir positiva ou negativamente no seu sucesso. Alguns desses fatores estão diretamente relacionados à mãe, como as características de sua 11 personalidade e sua atitude frente à situação de amamentar, ao passo que outros se referem à criança e ao ambiente, como, por exemplo, as suas condições de nascimento e o período pós-parto havendo, também, fatores circunstanciais, como o trabalho materno, atitudes adversas de empregadores, propagandas enganosas, o marketing agressivo das indústrias e comerciantes de alimentos infantis, mamadeiras e chupetas, a legislação omissa ou inadimplida e as condições habituais de vida (FALEIROS; TREZZA; CARADINA, 2006 apud ARAÚJO et al., 2008). Em virtude das observações realizadas e da inserção direta na problemática suscitada, e levando em consideração as recomendações da Organização Mundial de Saúde, é que nos sentimos motivados a desempenhar este estudo, partindo da seguinte questão norteadora: Quais os fatores que levam as mães a desmamarem seus filhos precocemente? Sobre a hipotética evidenciada e com desígnio de responder a esse questionamento, objetivou-se: identificar os motivos que levam as mulheres a desmamarem seus filhos precocemente e assinalar a atuação do enfermeiro no incentivo ao aleitamento materno. A enfermagem, no papel que desempenha, poderá levantar estratégias e trabalhos que visem à diminuição das taxas de desmame precoce. Portanto, na medida em que se conhecem os motivos que possam contribuir com o desmame precoce, pode-se atuar melhor no sentido de prevenção desses fatores de forma mais direcionada e, deste modo, mais eficaz. 12 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL: Identificar através da revisão os fatores que levam as nutrizes a desmamarem seus filhos precocemente. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Descrever os fatores que interferem no processo de aleitamento materno; Assinalar a atuação do enfermeiro no incentivo ao aleitamento materno. 13 3 ALEITAMENTO MATERNO E O DESMAME PRECOCE Atualmente, ao lidar com a importância do aleitamento materno em um cenário de saúde pública no Brasil, verifica-se uma razoável complexidade e um igualitário consenso: o processo de amamentação na sociedade brasileira é visivelmente regido por diferentes teorias, tabus, contexto social e político. Nesse sentido, busca-se atribuir algumas definições plausíveis para se distinguir melhor os diferentes conceitos referentes ao aleitamento. Embora muitas vezes usemos tais termos indiscriminadamente, é fundamental, do ponto de vista científico, que haja uma uniformização com relação às definições dos diversos padrões de aleitamento materno, para que possamos diferenciar distintas opiniões entre amamentação, aleitamento materno e lactação, e estabelecer aceitáveis conceitos. Amamentação: ato de a nutriz dar o peito e o lactente mamá-lo diretamente; Aleitamento Materno: todas as formas do lactente receber leite humano ou materno e o movimento social para a promoção, proteção e apoio a esta cultura, Lactação: o fenômeno fisiológico neuroendócrino (hormonal) de produção de leite materno pela puérpera no pós-parto; independente dela estar ou não amamentando (CARVALHO; TAMEZ, 2002). No entanto, Almeida e Novak (2004), delibera o aleitamento materno como sendo um conjunto de processos fisiológicos, nutricionais e comportamentais, que envolve todo o processo de produção do leite pela mãe e ingestão de leite pela criança, seja ele do seio ou extração artificial. Por outro lado, Sales e Seixas (2008) definem o aleitamento materno quando as crianças recebem leite humano, com ou sem alimentos complementares de qualquer natureza. Segundo o Dicionário Aurélio dá-se a denominação de amamentação ao ato ou efeito de amamentar, ou seja, dar de mamar, aleitar ao seio. O ato de amamentar pode ser complexo, pois depende de informação, apoio, desejo da mãe e também que o bebê sugue as mamas (FERREIRA, 2000). A ocorrência automática da fisiológica hormonal constitui o processo de lactação – produção do leite, enquanto a amamentação é um conjunto de fenômenos psíquicos, sociais e culturais, podendo assim esta prática ser influenciada pelo meio externo em que a nutriz está inserida. 14 No que se refere ao conceito de desmame precoce, Brasil (2003) o denomina como o processo que se inicia com a introdução de qualquer alimento na dieta da criança que não seja o leite materno e que termina com a suspensão completa do leite materno. O processo pelo qual o bebê abandona o peito e substitui a amamentação por alimentos sólidos, através de outras fontes alimentares é considerado desmame completo. Logo, a substituição gradual de uma alimentação exclusivamente leitosa para uma alimentação diversa antes dos seis meses, considera período de desmame. Sendo o aleitamento parte do desenvolvimento da criança e ao mesmo tempo um ato de carinho e intimidade entre a mãe e o bebê, e onde ambos têm participação da ação, o processo de desmame deve ocorrer quando no mínimo a criança estiver pronta para aceitá-lo conferindo também os limites da idade na qual se encontra. Não sendo apenas uma escolha da mãe. Segundo Giugliani (2000), o desmame pode ocorrer de quatro maneiras, abrupto, planejado ou gradual, parcial e natural. O desmame natural é o ideal, o bebê se auto desmama espontaneamente, geralmente acontece de forma gradual entre os dois e quatro anos, dificilmente antes de um ano, é comum que algumas crianças passem pela chamada “greve de amamentação”, esta greve não é um súbito desmame natural, mas uma condição não usual causada, por exemplo, por alguma doença, surgimento da dentição, ou algum outro fator que não ultrapassa mais que dois a quatro dias. Caso ocorra uma nova gravidez durante o período de lactação e o leite venha a alterar seu gosto ou volume, o lactente pode se sentir incomodado e se auto desmamar. Quando a mãe inesperadamente decide interromper a amamentação, denominamos tal ato de desmame abrupto. Além de ser um ato desencorajado, visto que não somente a criança esta despreparada para a suspensão da amamentação, traz consigo sentimentos de insegurança, rejeição e abandono, bem como algumas intercorrências para a mãe. Carvalho e Tamez (2002) relatam que as atitudes tomadas pelas mães, como dormir fora de casa, aplicar produtos desgostáveis nos seios, a fim de realizar o desmame abrupto implica em conseqüências desagradáveis para as mães como ingurgitamento, obstrução dos ductos, mastite e até mesmo confusão de sentimentos como alívio, culpa, tristeza, dentre outros. Quando diante de alguma situação inesperada a mãe necessita desmamar seu filho subitamente é de extrema 15 importância que o profissional de saúde respeite e ajude a mãe nesse processo para que a mesma não realize o desmame abrupto e para que os dois juntamente com a família trilhem o caminho do desmame gradual ou planejado. Dessa maneira, a mãe pode optar por restringir certos horários e locais para as mamadas da criança, sem gerar ansiedade ou tristeza em mãe e filho. O desmame parcial é apontado nos casos em que a mãe por fatores como trabalho necessita amamentar parcialmente a criança, intercalando períodos de amamentação e alimentação complementar, adotando a prática do aleitamento materno predominante. Dificilmente a sociedade entende o desmame como um período que pode ser conflitual no ciclo de vida da mulher e da criança. As nutrizes devem estar preparadas para as mudanças físicas e emocionais que o desmame pode desencadear (GIUGLIANI, 2000). 3.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MAMA Para compreender melhor o processo de amamentação, faz-se necessário reconhecer a importância da anatomia e fisiologia das glândulas mamárias. As mamas ou seios são estruturas complexas anexas a pele especializada na produção de leite, uma proeminência característica da parede torácica anterior, normalmente mais desenvolvida nas mulheres. Barros, Marin e Abrão (2002) mencionam que as mamas necessitam passar por transformações para que possam exercer o armazenamento e liberação do leite, cumprindo assim seu papel fisiológico e nutricional. Constituídas por parênquima de tecido glandular (glândula mamária) e de tecido fibro-adiposo (estroma) e tecidos conectivos (vasos, nervos e pele), situam-se entre a segunda e sexta costela, estendendo-se desde do esterno até a linha axilar média anterior (RANDOW; ARRUDA; SOUZA, 2008). O tecido glandular ou alvéolos, como são chamados, contém as células produtoras do leite, cerca de 8 a 20 lóbulos se agrupam e formam os alvéolos, esses são rodeados por tecido mioepitelial (pequenos músculos) que ao contraírem-se ejetam o leite nos ductos que o transportam até ao mamilo. A pele que cobre a mama modifica-se no centro para formar o mamilo onde os ductos terminam em 16 pequenos orifícios. As glândulas mamarias estão localizadas no tecido subcutâneo da parede torácica anterior, e possui margens bem definidas, lateral e inferiormente. Entre as mamas identifica-se o sulco intermámario e abaixo o sulco inframámario. Na maior projeção da mama localiza-se a papila mamaria (mamilo), circundada por pele pigmentada – a aureola. Composta ainda por 20 glândulas (lobos), drenadas por um ducto lactífero que se abre na papila mamária, cada ducto possui um seio lactífero (uma porção dilatada) e uma a área (clivagem) na linha mediana (MATUHARA; NAGANUMA, 2006). Segundo Santos, Silva e Althoff (2005) a fisiologia da lactação se divide em 3 períodos, primeiro a fase mamotrófica ou mamogênica; fase galactogênica ou da lactação; galactopoiese. O leite materno é produzido através da ação de hormônios e reflexos (fenômenos neuroendócrinos). Desde o nascimento a maioria dos seus ductos lactíferos já estão formados. Porém suas glândulas mamárias permanecem „em repouso‟ até a puberdade. Nesta etapa dá-se inicio à fase mamotrófica que é responsável pelo desenvolvimento e crescimento das mamas através da ação dos hormônios estrogênio e progesterona produzida pelo ovário. Durante a gravidez, as glândulas mamárias preparam-se para a fase da lactação, e a produção de leite ocorre devido à ação da prolactina sobre as glândulas. A sucção do bebê ao mamilo é a responsável pela ejeção do leite; ao sugar o seio a hipófise posterior é estimulada a liberar ocitocina, a qual contrai os alvéolos e os canais galactóforos da mama eliminando o leite (CARVALHO; TAMEZ, 2002). A prolactina aumenta homogeneamente durante a gravidez, porém é inibida pela presença dos estrogênios e progesterona. Após o nascimento do bebê, com a expulsão da placenta, ocorre uma queda desses hormônios, possibilitando o aumento do nível da prolactina, iniciando assim a produção do leite. A galactopoiese é a fase responsável pela manutenção da lactação que depende de fatores neuroendócrinos que sofrem estimulação pelo ato de sucção do bebê sobre o mamilo. Quanto mais o bebê sugar, maior será a estimulação nas terminações nervosas, provocando o reflexo da ejeção, ou seja, „descida‟ do leite (MATUHARA; NAGANUMA, 2006). 17 3.2 COMPOSIÇÃO DO LEITE O leite materno ou leite natural é o único alimento que consegue garantir a quantidade e qualidade ideais de nutrientes para a criança, apresentando a quantidade certa de proteínas, lipídeos, hidratos de carbono, sais minerais, oligoelementos e vitaminas (SOKOL, 1999). O leite humano possui inúmeros fatores imunológicos que protegem a criança contra infecções, como IgA e outros de proteção, tais como anticorpos IgM e IgG, macrófagos, neutrófilos, linfócitos B e T, lactoferrina, lisosima e fator bífido. (BRASIL, 2009). Tamez e Silva (2002) reafirma os fatores imunológicos do leite, e acrescenta ainda que possui um grande número de hormônios como esteróides, tiroxina, gonadodrofinas, prolactinas, eritropoetina, melatonina, sendo que a sua maior fonte de carboidratos é a lactose, facilmente digerível, oferecendo 40 a 50% do total calórico proveniente da gordura. Nos primeiros dias após o parto, o leite materno é chamado colostro, de apresentação amarelada, espessa e de alta densidade, contém maior quantidade de proteínas e menos gorduras e ainda possui 10 vezes mais caroteno que o leite maduro, proporcionando a imunidade passiva ao recém-nascido. Por volta do sétimo ao décimo quinto dia após o parto, o leite passa pelo período de transição do colostro para o leite maduro, variando em volume e composição (RANDOW; ARRUDA; SOUZA, 2008). É importante que o bebê, a cada mamada, esvazie bem pelo menos uma das mamas para que possa receber o leite anterior e o posterior mais rico em energia (calorias) o qual sacia melhor a criança. (CRUZ; SOUZA, 2005 apud RANDOW; ARRUDA; SOUZA, 2008). O incentivo ao aleitamento materno exclusivo deve ser visto como qualidade de vida e saúde da criança, bem como de seus familiares. Entretanto, apesar de muitas mulheres conhecerem a função do leite materno, ainda é pequeno o número daquelas que o oferecem com exclusividade para o seu filho (FALEIROS; TREZZA; CARANDINA, 2006). 18 3.3 TIPOS DE ALEITAMENTO O fato é que a criança que recebe leite direto da mama ou por ordenha, independente de receber outros alimentos ou não, encontra-se em aleitamento materno. Quando esta recebe somente leite provido direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte (ama-leite), sem outros líquidos ou sólidos, deparamos com um lactente em aleitamento materno exclusivo. Por vez que a criança recebe água ou outros líquidos a base de água como chás, sucos, mas a base da alimentação é o leite materno, entendemos por aleitamento materno predominante. O chamado aleitamento complementado ocorre quando, além do leite, o bebê recebe alimentos sólidos ou semi-sólidos com intuito de complementar, ao invés de substituir o nutrimento do mesmo. Por último, temos o aleitamento materno misto ou parcial à criança que recebe leite materno e outros tipos de leite (BRASIL, 2009) 3.4 VANTAGENS DO ALEITAMENTO MATERNO Depois que a criança deixa o útero da mãe, de acordo com Lopes (2002) apud Detogni, Guerra e Marques (2006), o organismo dela não está pronto para viver independente do organismo materno, sendo que neste período a criança tem uma maior afinidade à mãe, necessitando ainda mais dela. O aleitamento materno proporciona vantagens nutricionais, imunológicas, psicológicas e econômicas reconhecidas e inquestionáveis (NASCIMENTO, 2004). De acordo com Brasil (2007), o leite materno é o alimento mais apropriado para os bebês. Ele fornece toda a energia e os nutrientes que o recém-nascido necessita nos primeiros meses de vida e continua a fornecer até o segundo ano de vida. O leite materno promove o desenvolvimento sensor e cognitivo da criança, além de protegê-la contra doenças crônicas e infecciosas; contém linfócitos e imunoglobulinas que ajudam o bebê a combater infecções. Bervian; Fontana e Caus (2008) descreve que as vantagens do aleitamento materno para o bebê são inúmeras e que estão vinculadas ao fato de suprir as necessidades da criança, por aproximadamente os seis primeiros meses de vida, estabelecendo um maior vínculo entre o binômio mãe e filho, favorecendo 19 resistência no combate a infecções, reduzindo as malformações dos dentes, estimulando a musculatura que envolve a fala e promovendo segurança e tranquilidade ao bebê. Segundo Jones et al. (2003) apud Brasil (2009) o leite materno apresenta inúmeros fatores que protegem contra infecções e reduzem a morte entre as crianças amamentadas. Estima-se que a amamentação exclusiva pode evitar 13% das mortes em crianças menores de 5 anos em todo mundo. Nos primeiros dias pós-parto, acontece a produção do colostro que é um leite rico em anticorpos e células brancas, que é de grande benefício, capaz de satisfazer suficientemente o lactente. Diferentemente dos outros leite, o colostro apresenta uma taxa inferior de açúcares e gorduras (BARROS et al., 2002 apud RANDOW; ARRUDA; SOUZA, 2008). O aleitamento exclusivo favorece a vida do bebê, por ser fonte de proteína, sendo 100% absorvido pelo organismo, fornecendo gordura que é a energia, oferecendo proteção contra diarréia, infecções respiratória, melhorando o desenvolvimento neurológico e cognitivo, protegendo o lactente contra diabetes e linfomas (TAMEZ; SILVA, 2002). Como comprovaram os estudos de Horwood e Fergusson (1998) apud Hames (2006), crianças que foram amamentadas por mais tempo têm melhor performance na escola e conceitos mais elevados. Segundo os autores, quanto mais tempo as crianças são amamentadas, maiores as notas que recebem nas avaliações. Lang (2000) alerta que o aleitamento reduz de modo significativo os índices de morbidade e mortalidade infantil. De acordo com Dewey (2003), apud Brasil (2009) os indivíduos amamentados possuem uma chance 22% menor de apresentar sobrepeso/obesidade devido o aleitamento materno exclusivo a longo prazo. Bengson (2000) apud Hames (2006) descreve que a amamentação prolongada funciona como um aconchego para a criança, ajudando-a na transição da agitação para a calmaria entre uma atividade e outra. É um importante fator que fortalece o vínculo entre mãe/criança. O aleitamento materno também oferece vantagens às mães, como mostra Schneider (1987) apud Hames (2006), reduz o risco de câncer de ovário. Blaauw, 20 (1994) apud Hames (2006), diz que a amamentação reduz o risco de câncer de mama. Outras vantagens que a amamentação proporciona à mulher refere-se a elevação dos níveis de prolactina e ocitocina que, paralelamente funcionam como opiáceos naturais, produzindo uma sensação de relaxamento e bem-estar para a mãe. Esses hormônios, agindo ligados, levam a uma sensação de calmaria, podendo ajudá-las a lidar com transformações típicas do comportamento das crianças (ODENT, 2000 apud HAMES, 2006). O leite materno garante vantagens econômicas para as famílias, menos gastos com cuidados médicos, menor custo com alimentação artificial, e ainda garante melhor saúde, nutrição e bem-estar para lactente e sua família (ORQUIZA, 2005). Assim, o aleitamento materno exclusivo proporciona vantagens inquestionáveis de crescimento, desenvolvimento e saúde para a criança, onde mãe e filho conseguem manter um contato íntimo de confiança, gerando uma melhor qualidade de vida de ambos. A Consolidação das leis trabalhistas – CLT regida pela Lei nº 9.799, de 26.5.1999, dispõe no capitulo III seção I da duração e condições de trabalho da mulher, no que se refere a jornada de trabalho, acesso ao mercado dentre outros e confere ainda no Art. 373-A. parágrafo V – que o empregador é impedido de adotar critérios subjetivos para deferimento de inscrição ou aprovação em concursos, em empresas privadas, em razão de sexo, idade, cor, situação familiar ou estado de gravidez. A seção IV que trata dos métodos e locais de trabalho no Art. 389 § 1º estabelece que onde trabalharem pelo menos 30 (trinta) mulheres, com mais de 16 (dezesseis) anos de idade, deverá conter local apropriado onde seja permitido às empregadas guardar sob vigilância e assistência os seus filhos no período da amamentação. Ao contrário, somente poderá ser suprida tal exigência por meio de creches distritais mantidas, diretamente ou mediante convênios, com outras entidades públicas ou privadas, pelas próprias empresas, em regime comunitário, ou a cargo do SESI, do SESC, da LBA ou de entidades sindicais ditadas no parágrafo 2 A Proteção a Maternidade disposta na seção V refere aos direitos da mulher grávida e nutriz, e garante, em seu Art. 392, o direito da gestante à licença- 21 maternidade de 120 (cento e vinte) dias, sem prejuízo do emprego e do salário (BRASIL, 1943). 3.5 FATORES QUE LEVAM AO DESMAME PRECOCE 3.5.1 Fatores demográficos Idade materna Faleiros Trezza e Carandina (2006) aponta a idade materna mais jovem à menor duração do aleitamento, condicionada por algumas dificuldades, correlacionada muitas das vezes a um nível educacional mais baixo e poder aquisitivo menor. Além desses aspectos, autores como Gigante, Victora e Barros (2000) apud Faleiros, Trezza e Carandina (2006) avaliam que as adolescentes, por sua vez, aliam a insegurança e a falta de confiança em si mesmas para desprover seu filho da alimentação materna. O egocentrismo próprio dessa idade e os problemas com a auto-imagem contribuem pra um menor índice de aleitamento. Tipo de parto Faleiros, Trezza e Carandina (2006) dizem que, quanto ao tipo de parto, parece haver maior facilidade para a lactação precoce e efetiva no parto vaginal, uma vez que não há o fator dor incisional ou o efeito pós-anestésico da cesárea, dificultando, portanto, as primeiras mamadas. No parto normal, o primeiro contato mãe-filho ocorre imediatamente, enquanto que na cesárea, dificilmente a criança vai até a mãe antes das primeiras seis horas pós-parto, propiciando a introdução de fórmula láctea ou glicose para o recém-nascido já no berçário e, o que é pior, em mamadeira. Carrascoza, Costa Júnior e Moraes, (2005) também observaram que a cesariana foi um fator de risco para o início da lactação, pois esse tipo de parto implicou o aumento do uso de anestésicos e analgésicos que retardaram o primeiro contato mãe-filho e o estabelecimento da amamentação. Além disso, acarretou uma 22 recuperação mais difícil, gerando maior desconforto físico da mãe ao lidar com o bebê. Ainda assim, há pouca associação entre o tipo de parto e a duração da amamentação, de acordo com o trabalho de Barros et al. (1998) apud Carrascoza, Costa Júnior e Moraes (2005) que não encontraram diferença na prevalência de amamentação natural relacionada ao de tipo de parto. Presença paterna Faleiros, Trezza e Carandina (2006) apontam para o fato de que as mães que têm uma união estável e o apoio de outras pessoas, especialmente do marido ou companheiro, exercem uma influência positiva na duração do aleitamento materno. Tanto o apoio social e econômico, como o emocional e o educacional são muito importantes, sendo o companheiro a pessoa mais importante nesses diferentes tipos de apoio. A atitude positiva do pai desempenha maior efeito na motivação e na capacidade da mãe para amamentar. Avaliando esses estudos, pode-se dizer que é importante sensibilizar os pais sobre as vantagens do aleitamento materno e do seu real significado, iniciando-se esse processo educativo já na infância e adolescência. Portanto, isso ajudaria não só os pais a optarem mais pelo aleitamento materno, como também a manejar melhor a nova situação do casal, promovendo, inclusive, satisfação e sucesso no aleitamento. Número de filhos Faleiros, Trezza e Carandina (2006) afirmaram que a influência da paridade materna na duração do aleitamento é um fator bastante discutível na literatura. Com alguns estudos, sugerem que as primíparas, ao mesmo tempo que mais propensas a iniciar o aleitamento, costumam mantê-lo por menos tempo, introduzindo precocemente os alimentos complementares, parecendo haver para as multíparas uma forte correlação entre o modo como seus filhos anteriores foram amamentados e como este último o será. Analisou-se também que as mães desmamavam precocemente os primogênitos e mantinham o aleitamento materno tanto mais prolongado quanto maior o número de ordem da criança na família. Isso está relacionado à insegurança da “mãe de primeira viagem”, mais jovem, com menor grau de instrução e menor experiência de vida. Em se tratando de ter ou não uma experiência anterior com aleitamento materno, as mães que tiveram uma 23 experiência prévia positiva, tem mais facilidade para estabelecê-lo e com maior duração com os demais filhos. 3.5.2 Fatores Culturais [...] o homem recebe dois tipos de herança ao nascer: a herança cultural e a genética. A cultural transmite costumes, hábitos, valores e idéias, enquanto que a genética, as características físicas. Neste sentido o fator cultural constrói o saber do homem. As crenças e os tabus fazem parte desta construção como herança sociocultural, determinando diferentes significados do aleitamento materno para a mulher. A decisão de amamentar ou não o seu bebê, alimentar-se ou não de determinados alimentos no puerpério depende do significado que a mulher atribui a esta prática (ICHISATO; SHIMO, 2001) Mamadeira e chupeta No Brasil, 52,9% das crianças utilizam chupeta segundo o Ministério da Saúde (MS); a "confusão de sucção" causada pelas diferenças de sucção da chupeta e do seio intervém no sucesso do aleitamento materno, além de prejudicar a produção do leite materno e mamarem com menos constância. O estudo de Melo et al. (2002) apud Ramos e Ramos (2007) confirmou que mais de 80% das mulheres têm o intento de adquirir mamadeira e chupeta e mais de 60% pretendem utilizar os mesmos. Cotrim et al. (2002) apud Ramos e Ramos (2007) ressaltaram que aumentava a prevalência do uso de mamadeira naqueles que usavam chupeta e que esses dois fatores podem levar a um futuro desmame. Buscando conhecer as representações da chupeta, evidenciou-se que as mães acham que a chupeta simboliza a criança e funciona como um calmante para o bebê e uma ajuda para a mãe, além de ser um hábito que passa de uma geração a outra (SERTÓRIO; SILVA, 2005 apud RAMOS; RAMOS, 2007). A utilização da chupeta é uma prática enraizada culturalmente, por isso justifica-se a dificuldade em extingui-la entre as crianças, sendo necessário haver uma conscientização junto às mães, esclarecendo e alertando quanto aos danos do uso da chupeta. Influência das Avós 24 As avós são cuidadoras de maior peso, valorizadas e respeitadas por sua experiência, transmitindo seus conhecimentos e culturas as filhas e netas. O que deprime esta prática, é quando incentivam o uso de água, chás e outros. Acredita-se que essas atitudes estejam relacionadas com o contexto histórico vivido por elas, trazendo consigo as vivencias adquiridas durante o momento em que aleitaram seus filhos, carregado por mitos, crenças, valores e tabus enraizados e culturalmente aceitos no seu contexto social (TEIXEIRA et al., 2006) Segundo o mesmo autor a influência de avós e outros problemas com a mama, o uso de chupeta e mamadeira, são identificados como desencadeadores para o processo de desmame precoce Nesse contexto, pode-se dizer que a gestação, o parto e a amamentação são eventos em que as pessoas parecem sempre querer deixar prevalecer a sua opinião do vivido (HAMES, 2006). 3.5.3 Fatores socioeconômicos Renda Familiar Kummer et al. (2000) apud Carrascoza, Costa Júnior e Moraes (2005) identificaram uma menor duração da amamentação em populações de baixa condição socioeconômica. Por outro lado, Faleiros; Trezza; Carandina (2006) mencionam que em países não industrializados, as mulheres de classes menos favorecidas, de baixo e médio poder aquisitivo, amamentam mais que as de melhor nível socioeconômico, sendo dessa forma o aleitamento uma prática capaz de garantir a saúde do bebê sem gastos financeiros. Em controvérsia, nas regiões brasileiras mais desenvolvidas, o padrão de aleitamento é semelhante ao dos países desenvolvidos, ou seja, mulheres de melhor nível socioeconômico amamentam por mais tempo (FALEIROS; TREZZA; CARANDINA, 2006) 25 Escolaridade materna Em estudo realizado por Damião (2008), constatou-se que no que se refere à escolaridade/grau de instrução há prática do aleitamento materno exclusivo (AME). Mães com maior escolaridade (3° grau completo) tiveram maiores presenças de AME 34,1% em relação às com menores estudos (1 grau incompleto), 20,1%. Faleiros, Trezza e Carandina (2006) identificam que o grau de instrução/escolaridade materna afeta a motivação para amamentar. Mães de classes menos favorecidas, com menor grau de instrução, só decidem amamentar mais tarde, consequência de um pré-natal tardio. Ao contrário mães com maior acesso a informações e com boa instrução tendem a amamentar por um período maior. Além desses, cabe salientar que uma maior vulnerabilidade das mulheres de menor escolaridade pode estar pautada ao menor acesso dessas ao suporte familiar/social, bem como acesso a serviços de atenção à saúde e à inserção formal no mercado de trabalho, usufruindo de benefícios legais como a licença maternidade (DAMIÃO, 2008). Tais comprovações nos fazem crer que o conhecimento materno sobre o processo de amamentação-desmame precisaria ser viabilizado, através de um cuidado baseado no apoio e na educação em saúde, comprometida e individualizada à cada situação vivenciada pela mulher, encontra-se muito aquém do desejado pelas mesmas (HAMES, 2006). Trabalho materno O trabalho materno influencia no processo de amamentação. Mesmo não se apresentando como barreira específica ao aleitamento, quando as mães não trabalham fora ou deixam de fazê-lo após o nascimento de seus bebês. O não cumprimento da Legislação Trabalhista por parte dos empregadores, assim como falta de orientação quanto a ordenha mamaria e armazenamento do leite para ser ofertado ao seu bebê durante sua jornada de trabalho são apontados como fator contribuinte para o desmame precoce (FALEIROS; TEREZZA; CARANDINA, 2006). Por outro lado, Gielen et al. (2006) apud Faleiros, Trezza e Carandina (2006) consideram que, o respeito à licença gestante, creche ou condições para o aleitamento no local e horário do trabalho, jornada de trabalho, bem como tipo de ocupação da mãe são condições favoráveis à manutenção do aleitamento. 26 Para Faleiros, Trezza e Carandina (2006) os planos de retorno ao trabalho, não parecem interferir com a decisão de iniciar o aleitamento, porém, se esse retorno ocorre já nos primeiros dois a três meses após o parto, isso parece dificultar o seu sucesso. Muitas vezes, essa volta precoce ao trabalho resulta de pressões, principalmente no caso das mães não registradas, pelo medo de perder seus empregos. Observou-se, também, que a maioria das mães desconhecia seus direitos trabalhista ou conhecia muito pouco sobre o assunto. 3.5.4 Fatores associados ao pré-natal Orientação sobre amamentação Granzoto et al. (1992) apud Carrascoza, Costa Júnior e Moraes (2000) reconhecem o pré-natal como uma variante eficiente na prevenção do desmame precoce. A transmissão de informações acerca do exercício dos direitos da mulher e a preparação para seu manejo frente a amamentação possibilita reflexão sobre esta prática e auxílio na decisão de amamentação. A atenção à mulher e à criança no pré e pós-natal deve ser capaz de acolher e interferir precocemente, oferecendo-lhe escuta e orientação sobre as dificuldades do início desta prática. Suas expectativas e desejos, não só em relação à amamentação, mas também a outros aspectos, conferem integralidade das ações o que é uma competência básica dos programas de atenção à saúde da mulher e da criança. Esta sensibilização em grande parte dos casos é satisfatória para ajudar a mulher a superar os obstáculos deste momento, devendo acompanhar e orientar a nutriz adequadamente sobre o manejo da lactação, segundo a individualidade de cada nutriz (DAMIÃO, 2008). Desejo de amamentar O fato de muitas vezes a mãe falhar na amamentação, mesmo tendo um forte desejo de realizá-lo, pode ser devido à falta de acesso à orientação e ao apoio adequado de profissionais ou de pessoas mais experientes dentro ou fora de sua família. Ainda que o Brasil tenha desenvolvido as medidas de proteção e promoção à amamentação, ainda estamos longe de chegar ao ideal de que todas as mulheres 27 tenham o conhecimento e o apoio para poderem decidir amamentar seus filhos; o que se precisa agora é estar alerta para as dificuldades que ela enfrenta para amamentar e como se pode ajudá-la nesta tarefa (BRASIL, 2002). 3.5.5 Fatores relacionadas à assistência pré-natal imediata Alojamento conjunto A favorável dinâmica emocional do puerpério, que se configura como conflitual, traz à tona emoções maternas. Através de mecanismos psicossomáticos específicos, estas emoções comprometem a lactação. Se de um lado, a tranqüilidade e a confiança da mulher facilitam o processo, por outro, a ansiedade, o medo, a fadiga, a dor e a tensão o dificultam, uma vez que bloqueiam o reflexo da liberação do leite pela inibição hipotalâmica da secreção de ocitocina e pela liberação de epinefrina, que impede a ação da ocitocina nas células mioepiteliais (MALDONADO, 1984 apud HAMES, 2006). Milliet (1993) apud Hames (2006), ao relatar o atendimento psicológico no puerpério, cita que para as mulheres parece ser indispensável um espaço para serem ouvidas em seus sentimentos, dúvidas e dificuldades; momentos que funcionam como possibilidade de desenvolvimento, propiciando uma re-descoberta da situação vivida, o que lhes acarreta tranqüilidade e bem estar, repercutindo diretamente na criança e na duração do aleitamento materno. Assegura ainda que toda a intervenção que promove a relação da mãe com a criança, desmistificando esteriótipos e fortalecendo os sentimentos de competência materna, favorecem a saúde psíquica de ambos. Auxílio dos profissionais de saúde É essencial que os profissionais de saúde permaneçam atentos aos sinais da mulher, pois retratam suas emoções; esses sinais são indicativos do curso que ela poderá imprimir ao processo de amamentação e às dificuldades que a mesma enfrenta nas interpretações acerca dos elementos que interagem em seu contexto. Leite, Silva e Scochi (2004) apontam a importância dos cursos de aconselhamento em amamentação, esquematizado pelo UNICEF, em conjunto com a OMS com o desígnio de valorizar a mulher como promotora da amamentação, 28 facilitando a aplicação da comunicação não-verbal entre mãe e filho e, ainda, prolongando a amamentação materna exclusiva. A mulher precisa ser auxiliada, para poder realizar o seu papel de mulher, mãe e nutriz, e este apoio será ativo, quanto maior for a competência do serviço em lidar com os conflitos e as dúvidas que colocam à mulher (SILVA, 1997 apud HAMES, 2006). Estudos realizados por Hames (2006) demonstram que durante o atendimento pré-natal, a educação em grupo se mostrou efetiva. As visitas domiciliares que enfocavam as preocupações maternas relativas ao processo de amamentação e as ajudavam a resolver as dificuldades com o envolvimento dos familiares, como parte importante do apoio ao aleitamento, foram de grande valia no período pós-parto e na manutenção da amamentação por períodos mais prolongados. A educação em saúde individualizada foi efetiva neste período, o que caracteriza a individualidade dos sujeitos no processo de amamentar. No apoio à prática da amamentação através da educação em saúde é indispensável considerar que a mulher vivencia a sua experiência e que, independente de estar desenvolvendo há minutos, dias ou meses, ela possui conhecimentos e valores que precisam ser considerados. Esta rede da mulher nutriz com o mundo é uma realidade tão concreta que se sobrepõe a outros tipos de discursos teóricos. Só desta forma estará despertando esta mulher para uma opção consciente e crítica do amamentar (DIAS, 1999 apud HAMES, 2006). Desde a infância, a sociedade educa a mulher para ser mãe, contudo, não fornece o apoio necessário para que a maternidade não seja um sacrifício, e sim, uma experiência rica e agradável. Amamentar não deve significar escassez da liberdade feminina e sofrimento. Devemos, enquanto sociedade, garantir à mulher nutriz o direito de trabalhar, estudar, divertir-se, passear, namorar e continuar amamentando pelo tempo que desejar (WABA, 2003 apud HAMES, 2006). Dificilmente a sociedade entende o desmame como um momento que pode ser vivido como conflitual no ciclo de vida da mulher e da criança. Quando ignoramos a existência dos conflitos e dificuldades, colocamos em risco o bem estar destas crianças e de suas mães. “É preciso que a mulher, em nossa sociedade, tenha peito para prosseguir amamentando ou dar continuidade ao aleitamento.” (ÁVILA, 1998, apud HAMES, 29 2006, p. 178). Precisamos descobrir que atrás de um par de mamas existe uma pessoa, uma mulher, uma mulher e mãe, uma mulher, mãe e nutriz (HAMES, 2001). Contudo isto não é fácil, uma vez que é longo e complexo o caminho trilhado para a incorporação da cultura do desmame precoce e a descrença no poder da amamentação no Brasil. Dificuldades iniciais Segundo Barros et al. (1994) apud Percegoni et al. (2002) a ausência de conhecimento das mulheres sobre as intercorrências mamarias que podem ocorrer, ocasionam insucesso do ato de amamentar, questões estas devem ser discutidas tanto no pré como no pós natal. Em relação às formas de prevenção e resolução dos problemas comuns na amamentação acerca das intercorrências mamarias, pode-se dizer que embora as puérperas saibam da importância do aleitamento para o desenvolvimento da criança elas desconhecem questões e técnicas simples no que diz respeito aos cuidados e preparo das mamas. 30 4 ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO ALEITAMENTO MATERNO De acordo com o que é preconizado pelo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, presente na Resolução do Cofen n° 240/2000, a enfermagem é a profissão que tem o compromisso com a saúde do ser humano, atuando na proteção, promoção, recuperação e reabilitação da saúde das pessoas, respeitando os princípios éticos e legais. O enfermeiro é o profissional que mais estreitamente se relaciona com a mulher durante o ciclo gravídico-puerperal e tem fundamental importância nos programas de educação em saúde, durante o pré-natal, ele deve aconselhar a gestante para o aleitamento, de modo que no pós-parto o processo de adaptação da puérpera ao aleitamento seja facilitado e tranquilo, evitando qualquer dúvida, dificuldade e complicações possíveis (BRASIL, 2002). Para Tamez e Silva (2002), uma equipe de enfermagem bem instruída no processo da lactação pode influenciar a incidência do mesmo na comunidade em que atua, sendo indispensável investir no preparo e aprimoramento desses profissionais. No que diz respeito à amamentação, é imprescindível atentar às necessidades de cada mulher, de forma individual. O papel do profissional de saúde é grandemente importante na introdução da educação sobre o aleitamento materno já nos primeiros meses do período prénatal, sendo que o compromisso com o conhecimento técnico-científico é de fundamental importância no sucesso. No entanto, Almeida et al. (2004) consideram que a maioria dos prénatalistas que recomendam o aleitamento materno às mães que ainda não se decidiram, poucos falam sobre o assunto no primeiro trimestre e muitos indicam a complementação com fórmulas lácteas. Com isso, infelizmente, o próprio profissional de saúde colabora para o desmame precoce. Para Nakano et al. (2007) apud Azeredo et al. (2008), o papel que o enfermeiro desempenha pode ter influência negativa no estabelecimento e sustentação do aleitamento materno, caso os profissionais não sejam aptos a enxergar além do manejo clínico, com isto não oferecer o suporte adequado às mães. Gonzalez (2003) apud Libório (2009) enfatiza que a função do enfermeiro diante do aleitamento materno é o de guiar as mães sobre as vantagens que o 31 aleitamento proporciona, incentivando-a a amamentar, sendo importante destacar sobre os cuidados com a mama a fim de evitar qualquer problema que possa atrapalhar a amamentação. Durante o pré-natal as mamas da gestante devem ser palpadas para detectar complicações, como flacidez, mamas ingurgitadas e dolorosas e outras alterações, orientando sobre técnicas de amamentação que permita ao bebê sugar melhor em uma posição confortável para ambos. Os conhecimentos, a experiência prática, as crenças e a vivência social e familiar da gestante são levadas em consideração, a fim de gerar educação em saúde, garantir vigilância e efetividade durante a assistência à nutriz no pós-parto. Tamez e Silva (2002) descrevem que a decisão de amamentar ou não já deverá ter sido adotada no período pré-natal, fator que predispõe a mãe a ter êxito ou não ao amamentar seu filho após o parto. As mães que recebem ajuda dos profissionais e que acreditam na amamentação como a forma natural de amamentar seu filho tem maior probabilidade de obter sucesso no aleitamento materno exclusivo. De acordo com o mesmo autor, no parto e puerpério normas que motivam a amamentação logo após o nascimento, ainda na sala de parto ou de recuperação, tem comprovado influenciar a incidência do aleitamento materno e sua duração. É indicado o alojamento conjunto, onde o bebê estará a todo momento em companhia da mãe e terá acesso ao seio em livre demanda, sem horários rigorosos para amamentação, aumentando assim a produção de leite, evitando o uso de suplementos, além dos fatores psicológicos benéficos como promoção do vínculo mãe-filho. É importante estabelecer uma „parceria de confiança‟ com a mãe, ajudando-a a melhorar sua estima e confiança no ato de amamentar, tornando-a independente. Deve-se providenciar um clima de aprendizagem, envolvendo a mãe no cuidado do recém- nascido, ensinando como resolver as dificuldades que por ventura apareçam, e como adotar a decisão correta. Após a alta hospitalar, as mães devem ser instruídas a comparecer com o recém-nascido para a reavaliação, pois é nos primeiros dias, em casa, que surgem problemas e dúvidas que podem dificultar a amamentação. É indispensável que o profissional de saúde repita os ensinamentos do pré-natal e oriente a mãe quanto ao desmame. É necessário atentar para a presença de fatores de risco para o desmame precoce e trabalhar profundamente com as mães que os apresente. Acredita-se que fatores emocionais, como motivação, autoconfiança e tranquilidade são essenciais para uma amamentação bem sucedida. Por outro lado, 32 a dor, o desconforto, o stress, a ansiedade, o medo e a falta de autoconfiança podem impedir o reflexo de ejeção do leite, prejudicando a lactação. Quando a mãe é saudável, bem nutrida, tem a oportunidade de amamentar com sucesso, por isso, é preciso que o enfermeiro oriente a alimentação de cada nutriz de acordo com sua realidade (GIUGLIANI, 2000). Faleiros, Trezza e Carandina (2006) destacam que o ato de amamentar não deve ser visto como responsabilidade exclusiva da mulher; a lactante e os, profissionais de saúde, devem procurar, frente aos fracassos da amamentação, suporte nas questões biológicas e técnicas, competindo a tarefa de garantir à mãe uma escuta ativa, diminuir suas dúvidas, entender, esclarecer e aconselhar a amamentação como um ato de prazer e não uma obrigação. Os profissionais devem estar em formação permanente, por meio de cursos, capacitações e atualizações, pois, desta forma, o domínio das técnicas da amamentação constitui um mecanismo que propicia a habilidade ao dialogar, facilitando a comunicação entre profissionais, gestantes e nutrizes (REZENDE; SAWAIA; PADILHA, 2002 apud AZEREDO et al., 2008). O homem é capaz de fluir constantemente e se relacionar com episódios do tempo, cultura, pautado a cada momento ao bem-estar psíquico-corporal, embora possa viver, temporariamente, e às vezes por um longo tempo, em espaços de malestar que, se não desaparecem, modificam ou acabam com seu viver (HAMES, 2006). Assim, o aleitamento materno é um assunto de Saúde Pública de primeira grandeza, sendo definitiva, única e indispensável a função que o enfermeiro pode, e deve, desempenhar na proteção, promoção, apoio ao aleitamento materno e prevenção de doenças, com objetivo de diminuir o desmame precoce e aumentar a incidência e a duração do aleitamento materno. 33 5 DISCUSSÃO É notório o modo expressivo no qual o desmame precoce ocorre em nosso meio, bem como é indiscutível afirmar que o leite materno é o melhor e mais adequado alimento para o bebê. Embora o conhecimento das mães sobre as vantagens, o poder imunológico e nutritivo do leite, muitas ainda acabam interrompendo a amamentação precocemente (PEREIRA; NADER, 2005). Em comparação à influência do pré-natal na duração da amamentação natural, a literatura aponta divergências de acordo com Granzoto et al. (1992) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005), que identificaram o pré-natal como uma variável eficiente na prevenção do desmame precoce, enquanto Gomes et al. (1992) e Giugliani et al. (1995) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005) apontaram que o grau de conhecimento adquirido pela mãe durante a gestação não está relacionado ao sucesso da amamentação e à duração do aleitamento materno. De acordo com Weiderpass et al. (1998) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005) há ausência de associação entre o tipo de parto e a duração da amamentação que também não encontrou diferença na prevalência de amamentação natural conforme o tipo de parto. Por outro lado Rowe-Murray e Fisher (2002) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005) contrariam os resultados desta pesquisa e do autor acima citado. Observaram que a cesariana foi um fator de risco para o início da lactação, pois esse tipo de parto provocou o aumento do uso de anestésicos e analgésicos que retardaram o primeiro contato mãe-filho e o estabelecimento da amamentação. Além disso, acarretou uma recuperação mais difícil, gerando maior desconforto físico da mãe ao lidar com o bebê. Estudos apontam que mães que já amamentaram com sucesso têm maiores chances de realizar a amamentação, enquanto aquelas que nunca tiveram tal experiência têm maior possibilidade de desmamarem seu filho precocemente. Confirmando isso, Barros et al. (1995) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005) verificaram que mães que possuem mais de um filho amamentam com maior freqüência. Lawoyin, Olawuyi e Onadeko (2001) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005), bem como Venâncio et al. (2002) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005) identificaram que mulheres primíparas tinham maiores chances de desistir do aleitamento materno antes de a criança completar quatro meses de vida e estavam mais predispostas a inserir outro tipo de alimento na dieta de seus filhos antes do 34 sexto mês de vida. Meyerink e Marques (2002) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005) enfatizaram que o sucesso no aleitamento materno foi dez vezes maior entre as mães com experiência, do que naquelas que não amamentaram um filho anteriormente. Por outro lado, Ekström, Widström e Nissen (2003) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005) não acharam diferença na extensão da amamentação quando confrontaram um grupo de primíparas com outro de multíparas até que as crianças completassem três meses de vida. O estudo de Arantes (1995) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005) ressaltou que a mulher não pode ser rotulada de experiente ou inexperiente pelo fato de ter ou não vivenciado a amamentação, pois cada experiência compreende aspectos individuais que são singulares a cada mãe e principalmente a cada filho amamentado. Resultados deste estudo também permitem sugerir que quanto maior a estabilidade conjugal, maior a chance de a mãe estender a amamentação natural, diminuindo os riscos da ocorrência de desmame precoce. Spinelli et al. (2002) e Gonçalves et al. (2003) apud Ramos e Ramos (2007) ressaltaram que as mães que já tiveram a experiência anterior de aleitar naturalmente algum filho tendem a amamentar o seu filho atual por um período maior. O estudo de Ramos e Almeida (2003) apud Ramos e Ramos (2007) fortaleceu o achado anterior, pois do mesmo modo aponta que a falta de experiência é fator de risco para o desmame precoce. De modo parecido, Zimmermam e Guttman (2001) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005) verificaram que o sucesso e a duração do aleitamento materno está ligado ao equilíbrio conjugal dos pais, isto é, mães casadas tem maior probabilidade de iniciar e estender a amamentação natural. Cernadas et al. (2003) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005) assinalaram que o suporte familiar instituía um aspecto bem relevante na prática do aleitamento natural, sendo que o principal envolvido era o companheiro; que mães que eram motivadas, encorajadas, e que auferiam de um apropriado apoio familiar apresentavam maiores chances de desempenhar a amamentação natural com sucesso, pelo menos, até o sexto mês de vida da criança. A literatura é relativamente contraditória ao associar a idade materna com a duração da amamentação natural. Os trabalhos de Gigante, Victora e Barros (2000), Lawoyin, Olawuyi e Onadeko (2001) e Zimmermam e Guttman (2001) apud 35 Carrascosa, Júnior e Moraes (2005) confirmam os dados obtidos neste estudo: a prevalência de amamentação natural é maior com o aumento da idade materna. Já os trabalhos de Venâncio et al. (2002) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005), bem como de Cernadas et al. (2003) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005), não encontraram relação entre aleitamento materno e idade da mãe. Os trabalhos de Kummer et al. (2000) e Li et al. (2000) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005) coligaram uma menor duração da amamentação em populações de baixa condição socioeconômica, confirmando os dados do presente estudo. Por outro lado, o trabalho de Gigante, Victora e Barros (2000) apud Carrascosa, Júnior e Moraes (2005) não identificou relação entre a duração do aleitamento materno e a condição socioeconômica. E semelhantemente para Escobar et al. (2002) a renda familiar não foi uma variável estatisticamente significante, o que é compatível com os resultados obtidos em trabalhos prévios. A relação entre a escolaridade materna e o tempo de amamentação é um tema complexo na literatura. Embora alguns estudos não tenham evidenciado associação entre esses fatores a maioria demonstra que há influência. O trabalho materno apresentou resultados controversos em relação a maiores ou menores chances para o desmame. Apesar de não ser apontado como o principal determinante para o desmame, alguns autores encontraram que as mães que trabalham fora do lar têm maiores dificuldades de amamentar seus filhos, principalmente de forma exclusiva (RAMOS; ALMEIDA, 2003; VIEIRA et al., 2004; VANNUCHI et al., 2005 apud CARRASCOSA; JÚNIOR; MORAES, 2005). De modo contrário, Escobar et al. (2002) demonstraram que as mães que trabalham fora de casa amamentaram durante maior período de tempo; isso poderia ser explicado pelo fato de que as mães que trabalham fora de casa também apresentam maior nível de escolaridade. Venâncio et al. (2002) apud Ramos e Ramos (2007) mostram ainda que o trabalho informal e o desemprego também pode contribuir com o desmame precoce, já que essa nutriz geralmente tem que trabalhar para ajudar financeiramente em casa. No que diz respeito às leis de proteção à nutriz trabalhadora, Audi et al. (2003) apud Ramos e Ramos (2007) constataram que 24% das mães trabalhadoras estudadas tiveram licença-maternidade, e Percegoni et al. (2002) apud Ramos e Ramos (2007) observaram que 84% das mães não conheciam as leis de proteção à 36 nutriz trabalhadora, sendo este mais um ponto negativo para que as leis possam ser cumpridas. Em 1983, pesquisas realizadas no Texas, Estados Unidos, apontam a avó materna como a fonte de apoio mais respeitável para o início da amamentação entre mulheres de origem mexicana, porém em Porto Alegre, RS, estudos realizados atualmente sugeriram que as avós pudessem influenciar negativamente na duração da amamentação (TAMEZ; SILVA, 2002). Discutindo o conhecimento das mães sobre questões fundamentais da amamentação contatou-se que em sua maioria são insuficientes, não permitem o sucesso completo do aleitamento materno e, portanto, há o desmame (SANDREPEREIRA et al., 2000; PERCEGONI et al., 2002 apud RAMOS; RAMOS, 2007). Do mesmo modo, avaliações feitas com equipes do Programa de Saúde da Família confirmaram que as ações desses grupos, no que diz respeito ao conhecimento para o manejo da amamentação natural, ainda são deficientes (CICONI et al., 2004; DUBEUX et al., 2004 apud RAMOS; RAMOS, 2007). Falas como „leite fraco‟, „pouco leite‟ e „leite seco‟ no diálogo materno compõe falas imediatas das nutrizes e/ou mães para o desmame precoce. Essas mães aproveitam alguns parâmetros, como a quantidade de leite drenado e o estado de saciedade da criança após a mamada, além da opinião de parentes e vizinhos que já passaram pela mesma experiência, na definição dos critérios que elas assumirão para si. Contudo, a literatura é enfática ao considerar que tais justificativas configuram-se construções sociais que refletem a interpretação da nutriz a respeito de seus primeiros contatos com o ato de amamentar e a ausência de práticas assistenciais de saúde adequadas ao segmento materno-infantil no que se refere à informação acerca do processo normal de lactação. O desacordo entre as respostas dos diferentes autores ilustra a contradição da equipe de saúde quanto à priorização dos motivos para o desmame, o que possivelmente irá refletir na atenção prestada por meio das orientações e da prática (AZEREDO et al., 2008). Giugliani (2000) menciona que no contexto do processo de cuidar, o enfermeiro encontra no aleitamento materno situações que devem ser diagnosticadas, cujas intervenções estão no âmbito de resolução da enfermagem, isto é, são ações independentes. Portanto, o enfermeiro deve estar consciente e 37 disponível para atuar diretamente com as puérperas, observando a primeira mamada e a pega, prevenindo futuras complicações. O enfermeiro é o profissional que comprovadamente está mais habilitado e capacitado para desfazer os mitos e tratar as complicações; prevenção é uma das filosofias básicas da enfermagem. A sua assistência é decisiva para o início, manutenção e sucesso do aleitamento materno. O comprometimento efetivo do profissional da saúde no que se refere à mulher em seu processo de amamentação-desmame consiste em um processo educativo constante e continuo que seja capaz de identificar e resolver os escopos ditados pela população, expressos de diversos modos, conforme características próprias de cada indivíduo, do grupo e comunidade a que pertencem. 38 6 METODOLOGIA O desenvolvimento deste estudo pautou-se numa pesquisa bibliográfica, do tipo descritivo de olhar qualitativo. Considerando a relevância e abordagem do tema, procurou-se conhecer a visão de alguns autores a respeito do assunto, possibilitando atender deste modo aos objetivos proposto de conhecer os fatores que levam as mães a desmamarem precocemente seus filhos, identificando os principais fatores e a atuação do profissional enfermeiro nesse contexto. Para Marconi e Lakatos (2003), a pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, precede a compreensão de toda bibliografia já tornada pública em relação a uma questão científica. O objetivo principal de colocar o pesquisador em contato direto com o que já foi descrito sobre o assunto assinalado, permitiu-nos identificar e sistematizar através de uma reflexão crítica, o desígnio proposto. Cervo e Bervian (2006) colocam, ainda, o estudo descritivo, como uma dos formatos de estudo que consente observar, analisar, registrar, descrever e correlacionar fatos sem interferir no ambiente analisado, tratando das características, propriedades ou relação existente na realidade pesquisada. “A pesquisa qualitativa se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, trabalha com o universo de significados, das ações e relações humanas.” (MINAYO, 2008, p. 407). Para o desenvolvimento da pesquisa e melhor compreensão do tema, este Trabalho de Conclusão de Curso foi elaborado a partir dos registros, análise e organização dos dados bibliográficos, instrumentos que permitiram uma maior compreensão e interpretação crítica/científico das fontes obtidas. A elaboração da pesquisa teve como ferramenta norteadora material já publicado sobre o tema livros, artigos científicos, publicações periódicas e materiais na Internet disponíveis nos seguintes bancos de dados: MEDLINE, SCIELO, LILACS, sites do Ministério da Saúde e acervos disponíveis na Biblioteca Central da Universidade Vale do Rio Doce. Cuja amostra constou de artigos, publicados no período de 1999 a 2009. Foram encontradas como resultado 6.332 referências, utilizando-se como descritor a palavra desmame precoce. Destas, 2.615 na Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), 3.466 na Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), 251 na Scientific Electronic Library Online (SCIELO). 39 Após essa consulta delimitou-se a utilização dos 53 artigos, tendo sido analisados 115 resumos. Foram utilizados como métodos de exclusão: textos repetidos e em outro idioma que não o português. Para a organização do material, foram realizadas etapas e procedimentos do Trabalho de Conclusão de Curso onde se buscou a identificação preliminar bibliográfica fundamentada, fichamento de resumo, análise e interpretação do material, bibliografia, revisão e relatório final. Assim, o objetivo do estudo foi apresentar uma revisão sistemática da literatura científica, designada revisão integrativa. Baseanda nos conceitos gerais e etapas, bem como aspectos relevantes sobre a aplicabilidade deste método para a pesquisa na saúde e enfermagem. Segundo Cooper (1989) apud Ursis e Gavão (2006), a revisão integrativa é o método mais amplo na modalidade de pesquisa de revisão, acerca de questões teóricas ou empíricas que permite a busca, a avaliação crítica e a síntese das evidências disponíveis do tema investigado, sendo o seu produto final o estado atual do conhecimento do tema investigado, implementação de intervenções efetivas na assistência à saúde e a redução de custos, bem como maior entendimento acerca de um fenômeno ou problema de saúde. Em relação à sua importância, estudiosos afirmam que esse recurso pode criar uma forte base de conhecimentos, capaz de guiar a prática profissional e identificar lacunas que direcionam para o desenvolvimento de futuras pesquisas, segundo Hek (2000), constitui-se em um método moderno para a avaliação simultânea de um conjunto de dados. 40 7 CONCLUSÃO Neste estudo, procuramos, a partir da identificação de fatores que levam ao desmame precoce, explorar os aspectos envolvidos nesse processo como determinantes ou não da continuidade da amamentação exclusiva. Ainda que o assunto seja tema de constantes discussões muito ainda se tem a pesquisar, pois, apesar do conhecimento de muitas das vantagens do aleitamento, evidencia-se grande desconhecimento no que se refere ao processo fisiológico, aliado aos tabus. Acreditamos que seja importante conhecer todo o contexto em que essa mãe, mulher, nutriz está inserida, para que se possa atuar de forma mais eficaz. A complexa determinação da amamentação é condicionada por fortes e diferentes questões socioculturais, ambientais, psicológicas e fisiológicas, sendo ampla a rede de fatores e multiplicidade de questões que interferem nessa prática. É necessário percebermos as dificuldades encontradas por essas mães, assim como a necessidade de atenção, apoio e humanização. Quando sensibilizadas e proporcionado apoio holístico a essas mães, elas são motivadas a aleitar seus filhos por maior tempo; percebe que o incentivo é eficaz quando se oferece suporte à mulher, sua família e comunidade. Nos bancos de dados pesquisados para esse trabalho de conclusão de curso, pouco se tem falando sobre a atuação do enfermeiro frente aos fatores que levam as mães a desmamarem seus filhos precocemente. Visto que os fatores do aleitamento materno são dinâmicos para o sucesso ou não do aleitamento materno exclusivo, soluções devem ser pesquisadas para este problema tão comum em nosso país. Devido as culturas enraizadas e aos fatores que levam a ocorrência do desmame precoce, pouco se tem notado sobre pesquisas e estudos envolvendo os profissionais de enfermagem, para que as taxas do desmame tenham um declínio. Um diagnóstico local real e atualizado, associado a intervenções coletivas, pautado por um planejamento e intervenções plausíveis de acordo com os eventos existentes, semelhante às características da população local, permite realizar qualificação do atendimento prestado, integração de estratégias de promoção e treinamento do profissional enfermeiro. É de fundamental importância que a mulher sinta-se auxiliada nas suas dúvidas e possíveis dificuldades, para que possa assumir com mais segurança o papel da mãe e fornecedora do leite de seu filho, competindo aos profissionais 41 enfermeiros e aos serviços de saúde a obrigação de realizar um atendimento de qualidade a essas mães, tornando a amamentação um ato exclusivo de prazer. Tendo em vista a dimensão do assunto, percebemos os diferentes significados expostos no que se refere ao processo de amamentar-desmamar, surge além dos julgamentos comuns e individuais, os condicionantes e compreensão dos nexos da sociedade, o que torna particular e polêmico o ato, a decisão materna em amamentar. REFERÊNCIAS ALMEIDA, João Aprigio Guerra; NOVAK, Franz Reis. Amamentação: um híbrido natureza-cultura. J. de Pediatria. Rio de Janeiro, v. 80, n. 5, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S002175572004000700002&script=sci_arttext> . Acesso em: 01 Maio 2009. __________; NOVAK, Franz Reis. Aleitamento materno, amamentação, relação natureza-cultura. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, v. 80, n. 5, p. 119-125, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/jped/v80n5s0/v80n5s0a02.pdf> Acesso em: 22 abr. 2009. ARAÚJO, Maria de Fatima Moura de. et al. Custo e economia da prática do aleitamento materno para a família. Revista Brasileira de Saúde Materno-Infantil. 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