Nota Introdutória - Escola Secundária de Camões

Transcrição

Nota Introdutória - Escola Secundária de Camões
Ficha técnica
Organização
Lídia Teixeira
Teresa Saborida
Autoria
Duarte Bénard da Costa – 11º L; Joana Rato – 11º L;
Adriana Jorge – 12º E; Catarina Letria – 12º L; Maria
Beatriz Viana – 12º L; Cláudia Cerqueira – 11º A; Joana
Carvalhinho – 12º L; Joana Rocha – 10º B; João Ferreira
– 12º J; Luís Tojo – 10º L; Nuno Martim Gonçalves – 12º
L; Samuel Duarte – 12º L; Tiago Farinha – 10º C
Edição
Escola Secundária de Camões
10ª edição abril 2015
Disponível em
http://www.escamoes.pt/ebook/#%21/page_SOLUTIONS
Copyright
Escola Secundária de Camões
Capa
Lino Neves
i
Índice
Ficha técnica ....................................................................................................... i
Índice ................................................................................................................... ii
Índice de Autores ............................................................................................... iii
Nota Introdutória ................................................................................................. 1
1º Prémio ............................................................................................................ 2
2º Prémio ............................................................................................................ 4
3º Prémio ............................................................................................................ 6
Menção Honrosa ................................................................................................ 7
Menção Honrosa ................................................................................................ 8
Oh, Divinas Senhoras......................................................................................... 9
Pelo Tejo vai-se para o mundo ......................................................................... 10
O rio que vive ................................................................................................... 11
Acordei e vivia no banco ainda junto ao tejo… ................................................. 13
Procuro-te no Tejo ............................................................................................ 14
Tejo, leva-me contigo ....................................................................................... 16
Incertezas ......................................................................................................... 18
Neste rio de lágrimas........................................................................................ 20
Pelo Tejo vai-se para o mundo ......................................................................... 21
Abraço o todo sem querer ................................................................................ 22
Manhã no Teu Negro Mar de A(s)trofios .......................................................... 23
Elogio ............................................................................................................... 27
Uma praia à beira do rio Tejo ........................................................................... 28
À entrada do cabo ............................................................................................ 30
Cais Gás(*) ....................................................................................................... 32
Outro dia se estende no horizonte ................................................................... 34
Dizem que de lá se vai para o mundo .............................................................. 36
Vejo-o quando amanhece ................................................................................ 37
ii
Índice de Autores
Duarte Bénard da Costa - 11º L ......................................................................... 2
Joana Rato - 11º L.............................................................................................. 4
Adriana Jorge - 12º E ......................................................................................... 6
Catarina Letria - 12º L ........................................................................................ 7
Maria Beatriz Viana - 12º L ................................................................................. 8
Adriana Jorge - 12º E ......................................................................................... 9
Catarina Letria – 12º L...................................................................................... 10
Cláudia Cerqueira - 11º A................................................................................. 11
Duarte Bénard da Costa - 11º L ....................................................................... 13
Joana Carvalhinho – 12º L ............................................................................... 14
Joana Carvalhinho – 12º L ............................................................................... 16
Joana Rato - 11º L............................................................................................ 18
Joana Rocha - 10º B ........................................................................................ 20
Joana Rocha - 10º B ........................................................................................ 21
João Ferreira – 12º J ........................................................................................ 22
Luís Tojo – 10º L .............................................................................................. 23
Maria Beatriz Viana – 12º L .............................................................................. 27
Matilde Sousa de Fonseca – 11º C .................................................................. 28
Nuno Martim Gonçalves – 12º L ....................................................................... 30
Pedro Freire de Castro – 11º J ......................................................................... 32
Samuel Duarte – 12º L ..................................................................................... 34
Tiago Farinha – 10º C ...................................................................................... 36
Tiago Farinha – 10º C ...................................................................................... 37
iii
Nota Introdutória
Esta 10ª edição do Concurso Literário Camões vem mais uma vez provar que a
escola tem cumprido um dos seus objetivos, o de estimular, junto dos alunos,
as capacidades criativas de leitura e de escrita.
Nesta edição, regista-se uma participação assídua e empenhada dos alunos
que responderam ao desafio lançado. Acresce o facto de, este ano, o número
de textos a concurso ter aumentado em relação a edições anteriores, provando
que, como nos diz o poeta, tem valido a pena, porque a “alma” dos alunos tem
correspondido.
A todos os seus autores, por igual, a nossa gratidão. Sentimento que tornamos
extensivo a quantos, formal ou informalmente, colaboraram e tornaram possível
esta iniciativa.
Lídia Teixeira
Teresa Saborida
A comissão organizadora
(abril 2015)
_______________________________
Nesta coletânea são reproduzidos todos os textos apresentados a concurso e considerados
válidos pelos júris – em primeiro lugar, os textos premiados e, em seguida, os restantes,
ordenados por ordem alfabética do nome dos seus autores.
1
1º Prémio
Duarte Bénard da Costa - 11º L
levados numa barcaça rio acima
com silêncio olhávamos o crepitar
da cidade
não era precisa a luz das tochas
já tão alto acordavam as chamas
iluminavam a nossa subida
já tão altas
o barqueiro insistia contra o curso das águas
o tejo precipitava-se em auxílio
à cidade na tentativa de extinguir
o fogo e se aquecer
as ondas abatiam-se sobre as labaredas
como os ramos de um chorão se inclinam
à fogueira e estremecem
saudávamos os murmúrios do rio
conscientes que corriam à fonte
da nossa fuga
2
a barcaça atracou e deixámos o barqueiro
que roubara as nossas moedas ao fogo
e no-las cobrara
súbito descemos pelo solo a uma estrada
acampados vimos o barqueiro voltar
ir e voltar sempre
continuámos a pé na margem
percorremos o bulício do rio
que cantava o calor das chamas
deitámo-nos
os rumores subiam o rio
amanhecia e subiam ainda
contando o reconforto
a extinção das labaredas
e da cidade
pensámo-nos um chorão
de ramagens inclinadas sobre a fogueira
tacteantes pelo alívio das chamas
3
2º Prémio
Quo vadis?
Joana Rato - 11º L
por vezes atravesso o rio sem olhar para trás.
é um remorso constante
abandonar a pátria sem sequer
agradecer
aos solos
que outrora fecundaram
partir, escrava do esquecimento,
(o absurdo olvidar de uma manhã em que o Céu me foge)
o ritmo compassado das marés
e os rumos incertos,
sempre
incertos.
sôfrega vivo eu!
o Tejo é meu pai e minha musa, desejo outra vez abúlico,
agora perene; Eu sou a chuva.
não olho para trás;
4
sei da bonança que me espera
não hesito nunca!
decerto novos rostos se afigurarão no meu regaço
e quando chegar, venturosa, sedenta,
- porque um só rio não embala a sede incerta –
será o dilúvio! Venham marés, torpedos, ergam-se as montanhas!
esconda-se o sol!
brilhem os espelhos!
e que todo o mundo me cante, num coro infame,
sempre submisso, e me coroe
rei dos Rios e das Mulheres!
5
3º Prémio
Adriana Jorge - 12º E
E olho
Mergulho
Mais fundo
Abismo
E olho
E sonho
Mais alto
Sorriso
E olho
Viajo
Mais longe
Saudade
E olho
E crio
Meu mundo
Loucura
E olho
Navego
Meu rio
Verdade
E olho
Meu Tejo
Meu sangue
Vontade
6
Menção Honrosa
Catarina Letria - 12º L
[Exemplo de Littérature Définitionnelle, segundo OuLiPo]
Pelo Tejo vai-se para o Mundo
Pelo Tejo é-se levado para o conjunto de
espaço corpos seres
que a vista pode abranger
Pelo Tejo é-se arrastado para a reunião das partes que constituem um todo
de extensão indefinida
porções distintas de matéria
aquilo ou aqueles que são
e que o órgão visual tem a faculdade
de abraçar
7
Menção Honrosa
Maria Beatriz Viana - 12º L
« [...]as pontes semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios,
cintilantes ao sol com um fulgor de facas[...] » (Marinetti)
Para que um dia sejas pleno: um
Rio fluente e capaz de conduzir o que não quer guia,
Põe as pontes resplandecentes que te trespassam como facas em terra e
Transborda de Esperança as almas inquietas.
Sê, Tejo, como o Mississippi um misi-ziibi.
E leva para o kósmos aqueles que em ti depositam seu entusiasmo.
8
Oh, Divinas Senhoras
Adriana Jorge - 12º E
Oh, Divinas Senhoras!
Tantos antes de mim
Vos pediram inspiração,
Mas a vós apelo agora
Para minha salvação.
Oh, Belas Tágides!
A vós imploro, suplico.
Tanta dor, tanta desgraça
Ajudai-me nesta loucura
Que me toma, que me abraça.
Oh, Ninfas do meu rio!
Rogo-vos, levai-me convosco.
Foi tudo o que sempre quis,
Encontrar outro lugar
Onde pudesse ser feliz.
Oh, Deusas deste Tejo!
Deixai meu corpo afundar,
Mas salvai minha alma
Ao ritmo das marés,
Eternamente, a navegar.
9
Pelo Tejo vai-se para o mundo
Catarina Letria – 12º L
Pelo Tejo vai-se para o Mundo
Pelo Tejo se vai para o Mundo
Pelo Tejo para o Mundo se vai
Se vai para o Mundo pelo Tejo
Se vai pelo Tejo para o Mundo
Para o Mundo se vai pelo Tejo
Tejo pelo Mundo para o se vai
Poema mais subordinado não podia ser.
10
O rio que vive
Cláudia Cerqueira - 11º A
O Tejo vai correndo
E os navios vão flutuando
As gaivotas vão voando
E os carros atravessando (a ponte)
Um Rio pode levar-te a muitos lugares
Mas o Tejo é especial…
Desce um pouco, estás em África, encontras ouro, és português
Continuas a viagem para o lado, chegas à Índia, encontras especiarias, és
português
Sobes um pouco, chegas à China, encontras pérolas, és português
Viajas para oeste, encontras a América, os diamantes, és português
Vais para o mundo, és português…
O Tejo é um mar de possibilidades
Nele, podes encontrar um mundo submarino
A escuridão eterna
Ou, mesmo, o infinito.
É inspiração para poetas
É nostalgia para depressivos
É romântico para apaixonados
É solidão para solitários
As águas cristalinas do Rio
Refletem a beleza do céu
Refletem a pureza do Sol
Refletem a sombra dos grandiosos navios
E refletem a beleza do teu mundo,,,
11
O rio Tejo é o espelho da alme de Lisboa
Ouve o fado
Saboreia o vinho
E observa o Castelo no seu trono altivo,
Depois, à noite, no final do seu percurso
Observa as luzes dos anjos
Vê as luzes humanas
E adormece, para nunca mais correr…
12
Acordei e vivia no banco ainda junto ao tejo…
Duarte Bénard da Costa - 11º L
acordei e vivia no banco ainda junto ao tejo. enquanto o dia era eu ia com as
marés do rio e vinha depois
descia às águas contemplava. à noite fazia por suar num gesto de purificação
do homem
durante uns momentos o tejo viveu à minha beira eu tive morada no banco
junto ao rio e muita gente passou por
porque as pessoas passavam de dia para dia mergulhava-me no cerne do rio
abeirado à noite era ininterrupto o olhar. atravessava oceanos ocupava uma
parte imóvel do rio e reconhecia-me tépido
madrugada falam-me uns. levam-me para um. quarto com cama sem rio.
rebolei e morri-me até que me reencontraram não-vivo para me lançarem ao rio
éramos ainda amigos mas perdera o banco. e as noites de viagem os longos
bafos de nevoeiro a madrugada no regresso de todos os dias. o rio cessara-me
o seu curso
(...) águas movediças (...)
deixava boiar-me olhava o banco ia pela corrente. fui-me em viagem ao serágua. segui as veredas do rio até ao profundo e diminui até ser tejo e
recuperar-me o curso e as noites
13
Procuro-te no Tejo
Joana Carvalhinho – 12º L
Quando era criança, sempre me foi dito:
Tudo o que o vento leva, com o seu sopro volve.
Tudo o que o Tejo leva, com as suas ondas volve.
Assim, sempre que algo perdia,
Sentava-me junto ao Tejo, esperando que me devolvesse
Quanto me tinha roubado.
Também a ti te procurei de volta no Tejo.
Talvez as ondas te devolvessem,
E tu viesses ao encontro de mim.
A felicidade é uma estrela inatingível.
Até lá me conduziste tu, de mãos dadas.
Hoje, sem ti e sem ninguém,
Retorno eu, de mãos vazias.
Quantas coisas belas me disseste!
Quando as recordo, esboço um enorme sorriso.
E é nesse sorriso que cabe toda a minha infelicidade.
Talvez um dia voltes,
O nosso amor era eterno,
Mas a esperança é eterna no seu vício.
14
E então, quando a Terra for consumida em chamas,
Quando a Terra for engolida pelo mar,
O nosso amor será eterno?
15
Tejo, leva-me contigo
Joana Carvalhinho – 12º L
Tu, que viajas pelo Mundo!
Oh Tejo, leva-me contigo!
Tento enlaçar as minhas mãos nas tuas ondas
Mas a água escorre-me pela palma da mão.
Sacia-me esta sede...
Esta sede de Liberdade!
Poder beber a tua água,
Viajar nas tuas ondas!
Quero ver aquilo que contemplas,
Sentir esses odores que desconheço,
Quero unir-me a ti
E sentir que somos um só.
Mas
As tuas ondas vão, partem,
E eu aqui me conservo, expectante,
Esperando o teu regresso,
Aguardando notícias tuas.
Não somos idênticos.
Somos substâncias diferentes,
16
Compostos de uma matéria
Que não é igual.
Tu vais, eu fico.
Eu fico, tu vais.
Por onde andas?
Não fujas de mim assim.
Oh, como és livre, Tejo!
Leva-me contigo,
Vamos passear.
17
Incertezas
Joana Rato - 11º L
Ao anoitecer gelado
um
impulso
de
ti
o Tejo
corre à minha frente sem fim
estou incerta do seu rumo; tudo o que sei é que
o Tejo
corre e apanha o ritmo das marés
(esta única certeza possui-me)
os barcos
percorrem o rio
percorrem o Tejo
as janelas abrem-se
o sol acorda
o mundo desperta!
os barcos! os barcos! os barcos!
para quê para que terra vamos nós
estou em mim onde a frescura sempre aquece
18
e o vento sempre mente,
baixinho....
o Céu foge-me das mãos porque
esverdeia
consomem-me
as certezas
e
as incertezas
de um mundo infeliz.
19
Neste rio de lágrimas
Joana Rocha - 10º B
Este Tejo de arrependimentos
No qual as minhas palavras se afundam
Deixo as minhas preces de amarguras
A cargo dos meus pobres versos.
Sítio mais belo
Onde todos os corações desesperam
Já por aqui passaram todos os grandes
Que nesta História permaneceram.
Minhas palavras desvaneceram,
E esse rio mais puro se tornou
Não quero mais nenhum lugar
Senão aquele porto que lá ficou.
Naquela maré
Toda a minha vida se contou
Já não há mais poeta
Nesta alma de tanta dor.
20
Pelo Tejo vai-se para o mundo
Joana Rocha - 10º B
Neste mundo perdido
Corre um rio que já encantou,
Corre um rio que já maravilhou,
Corre a alma de cem esperanças
Escondidas nessas águas de boas aventuranças.
Neste Tejo tão só
Contam-se mil histórias,
Que mais tarde
Vingaram mil vitórias!
Neste rei emproado
De tantas ousadias,
Há um mundo atordoado
Que procura viver as suas fantasias.
Há ainda quem ache
Que Pelo Tejo vai-se para o mundo
Mas na realidade já ninguém vive
Nesse sonho profundo!
21
Abraço o todo sem querer
João Ferreira – 12º J
Abraço o todo sem querer
Avanço e recuo no espaçamento rugoso
Que é o tempo, a dançar,
Estrangulo o fraco e tímido nodoso,
Impossível não, é só o desaguar.
Vera Cruz passou. Disse-te adeus,
Continuo ali, sentado ao lado
Das duas colunas indicadas a Deus.
Desejo a tua felicidade, de como és beijado!
Oh! Do Reino Ibérico fazes plebeus!
Na tua frente estão unidos, sem medo.
Os escravos estendidos e os senhores –
Das colónias tudo trazem – tristeza cedo.
Diamante bruto, água pura sem horrores.
Amigo nada efémero de choro ledo…
O infante está no cimo perante o ouro.
Rio abençoado pelos braços da paz,
Da fábrica da luz, no escoadouro.
Pontes e fragatas contemplam-te, rapaz!
Tu, camarote do mundo de eterno namoro.
22
Manhã no Teu Negro Mar de A(s)trofios
Luís Tojo – 10º L
A Introdução
Nunca sei por onde começar…
E perco-me muitas vezes nas conclusões
A que acabo por chegar.
São demasiadas linhas de pensamento,
Sou um novelo enrolado para dentro
E escrever, para mim,
É um bocado como tricotar.
É estar com o meu gato a brincar.
Nem que sejam só estas rimas tolas que aqui estão
Para rimar, por rimar.
É confundir o pensar de quem tenta decifrar
O que escrever é realmente para mim.
Mas quem é que quer ou precisa de saber?
Isto está escrito só porque sim,
E até que me dá prazer…
E esta merda toda está escrita só para mim!
É a minha diarreia mental, emocional, psicológica,
Do Bem, do Mal, ilógica,
Racional, lógica, sensacional (irracional),
Fundamentada, fumada, fundamental,
Do Tudo, do Nada,
Criativa, e como a maioria dos objetos,
Pouco objetiva, sem sentido,
Como está a minha vida, que vou retratando nestes
Dejetos de poesia sentida, fruto da minha imaginação.
23
Simbiose
O teu olhar pérfido e perturbador,
És um reflexo, um fantasma, é tua, a minha dor.
Foram aos Cabos das Tormentas
Foram aos Cabos das Tormentas
E tiraram-lhes o Cobre,
Por eu ainda (me) Ser,
És horrível, mas nobre.
Não é misericórdia; não deixas de ser perigoso;
Oh! Tu que és vários e tantos, és todos os outros!
Oprimido pelo teu escárnio e perseguição,
A minha Natureza, a tua maldição,
Paranóia em pânico, minha própria inquisição,
Toda na teoria,
Sobre grande conspiração que alimentas freneticamente;
Oh! O teu olhar pérfido, o teu traço demente…
O meu Ser sufocado, o meu Ser consciente…
Os teus mecanismos, como te estimas,
Como (me) controlas,
Como rimas,
A tristeza com que sentes!
Os teus olhos fundos … Nunca justos ou clementes.
Apêndice da Simbiose
Condenado a vaguear pelas marés vastas,
Nefastas,
Dos fios de esparguete, neste Mar de Solidão,
Vejo-vos todos a desvanecer
Com uma efervescência subjetiva, axiológica,
Nem todos em vão;
Um a um, no lento desaparecer
De uma ideia ilógica,
24
Reflexo da minha, da tua maldição
“Bendita” pelo seu motivo,
O pensar, emotivo,
De uma firme e sádica aparição.
A Sombra que me persegue para onde navego,
Assombra-me e esconde-me o
Para onde quero ir;
Desmotivado,
Pelo Tudo, pelo Nada,
A vontade (in)cessante de partir.
Português e Café (II)
O pacote de açúcar inteiro…
Um cigarro e dois dedos de conversa.
Nesta mesa não há cinzeiro,
E pouco ou nada me interessa.
Só o Tejo
Faz a minha manhã parecer menos
Submersa.
Português e Café (I)
“ Os putos querem carne e Coca-cola! “
As Águas que Não Voltam
Como desaparecem os pontos negros,
Das faces brancas do meu quarto?
Deformo feições com mil e um golpes,
25
Arrastas-me pelos teus salões,
Atrelado.
Ensinas-me a observar, atentamente,
Realmente cruel,
Transversal ao meu Ser, ao meu Estar,
Desnecessariamente fiel.
Não me levas de volta …?
Para onde e quando a minha pessoa,
A sítio algum pertencia…
Para a minha inocente mentalidade sandia,
Repetidamente, corrigida, repetidamente;
A Besta dormia.
Nada era só,
Tudo era somente.
Pedras ao Rio
Almôndegas, caneca, putas, cães, meio-cheio, ração,
Síndrome, pernas, curtas, pães, atordoado, sem razão,
Interações, iogurte, mão para cima, meio-vazio, transcrição,
Bilhete, desodorizante, mancha, pêndulo, no chão,
Há flores, tudo brilha, fedor nojento, pacote de sumo, travessão
Pedra, pedregulho, abananado,
Parvo, pardo, não estou sóbrio ou pedrado,
Minimamente regado,
Tudo é confuso,
Tudo é gado!
26
Elogio
Maria Beatriz Viana – 12º L
Ergam-se!
Deixem o ar percorrer os vossos troncos,
E a brisa fazer surgir as vossas pétalas.
Deixem a chuva para trás, já que ela
não pode fazer nada, mesmo que o inverno persista.
Afastem as nuvens: deixem avançar o Sol e deixem-se
arrebatar pela sua luz, sejam dignos
de tal fulgor. Deixem-se
entusiasmar com este clamor
que surge do horizonte.
E deixem a fonte do mais belo rio
correr. Deixem que ele vos inunde
de clareza, de frescura, de luz. Deixem que ele inunde tudo.
Deixem que o seu curso seja o vosso caminho,
permitam que ele
vos conduza.
Deixem que ele seja o vosso alicerce e deixem
que ele vos arraste
para a vida.
Deixem que a sua água passe a ser
apenas vossa, ou então deixem-se confundir
para serem apenas um; para que juntos
sejam um rio.
27
Uma praia à beira do rio Tejo
Matilde Sousa de Fonseca – 11º C
Uma praia à beira do rio Tejo
A luz da sua lua nas águas vejo.
A areia virgem, nua e despida
Dançando com a brisa de verão.
Bela paisagem, parece ter vida
Confidente desta minha paixão.
Pouco antes nas águas me banhara
E a minha pele ainda não secara.
As gotas escorriam do cabelo
Ao longo da curvatura das costas
Do incompleto nu este apelo
Chamando a figura sua oposta.
E ele chega caminhando, ligeiro,
Sobre a areia. Um sorriso matreiro
O seu rosto sensual ilumina.
Como eu amo o homem que tenho em frente
O brilho dos seus olhos me fascina
Nossos lábios se unem num beijo ardente.
Envolve-me nos seus fortes braços
Movemo-nos em breves compassos
Sentimos o corpo contra o corpo
28
Sentimos a pele contra a pele,
Seus fortes braços que dão conforto
E me puxam devagar p’ra ele.
Os nossos músculos contraem
E em seguida descontraem
Ele lambe-me o seio cálido,
O meu corpo acariciando.
Num ritmo cada vez mais rápido
Enquanto me vai penetrando.
Ondas de prazer intensas
Inexprimíveis, imensas
Num frémito que se funde
E se espalha p’lo meu ser
Um ardor que se difunde
Até tudo exceder.
29
À entrada do cabo
Nuno Martim Gonçalves – 12º L
À entrada do cabo,
Abrem-se as portas do novo flúmen navegado.
Aqueles recantos que poucos veem,
Margens tão belas e tão claras,
Traçadas pelo definido sol quente de inverno.
As asas das aves pairam nas correntes,
Os barcos levam-se na maré…
Recordo assim os meus tempos de passagem naquelas beiras,
Onde os barcos de madeira,
Atravessavam sem pé.
As águas rasas e transparentes,
Enchem-se de peixes voadores da imaginação.
Todo o mundo via!
Todo o mundo notava!
Proliferando-se em agitação!
Os ares...
Os ares…
Sempre tão puros de si próprios...
Tempos esses foram outros,
Livres do fumo das fabricas,
Da tristeza dos escoamentos.
E assim do Tejo partiu a liberdade,
A vontade do homem de se querer na aventura.
30
Em busca do novo mundo,
Em busca do seu direito,
Em busca da sua cultura.
31
Cais Gás(*)
Pedro Freire de Castro – 11º J
Adjacente ao Cais do Sodré,
Entre armazéns e cafés,
Olhos tristes fitavam o chão.
Vi Caeiro no chão gravado,
Sobre o belo, ali ao lado,
Tejo, o rio português.
Repousei na orla de pez.
Escutei a mudez do rio.
Ao rio lancei a esperança,
Ao rio lancei os sonhos,
Ao rio lancei esta alma,
Guardando só em mim a calma
Que, num tom escuro de vingança,
Ao atirar esta lança
Ela não irá regressar,
Se perca no mundo e no mar,
Pelo Tejo vá para o Mundo,
Mergulhe num sonho profundo,
Se afogue em nada pensar.
Esperança, sonhos e alma
32
Entre os dedos e a palma
Lancei, não os querendo salvar.
(*) Cais onde, no chão, se encontra inscrito o poema “O Tejo é mais belo que o rio que
corre pela minha aldeia” de Alberto Caeiro.
33
Outro dia se estende no horizonte
Samuel Duarte – 12º L
Outro dia se estende no horizonte.
Alguma criação humana será comparável
Ao som desta melodiosa água
Que levemente se debruça neste cais,
Avançando em vagas, interminável.
Suspiro de contentamento.
Os gritos de gaivotas, presentes no ar,
Indicam que temporal há de vir,
Mas de aqui não me moverei,
Deste meu Tejo, que me faz suspirar.
Vejo ao longe uma velha barcaça.
Em criança lembro-me de navegar numa,
Com meu irmão e minha irmã,
Navegavamos um mar de fantasia
Com piratas e tesouros e risos, olvidando-nos
Que a vida era como nós: Uma criança.
Saboreio nos lábios a brisa marítima.
Zéfiro brinca com meus poucos e alvos cabelos.
Ah, Zéfiro… Continuas imutável,
Sempre com gozos e brincadeiras,
34
Perdoa-me velho companheiro,
Pois agora sou do tempo uma vítima.
E tu, Tejo, que lentamente passas.
Viste-me crescer, comigo brincaste,
Nas tuas águas banhaste,
No teu íntimo me fizeste acreditar,
Durante a vida me acompanhaste,
E agora, num último suspiro,
Me vês partir.
35
Dizem que de lá se vai para o mundo
Tiago Farinha – 10º C
Dizem que de lá se vai pró mundo,
Mas será que devo acreditar?
Sempre aqui no meu cantinho,
Sem me aventurar.
Sempre lá quis velejar,
Sem ter de me preocupar,
Andar pelo mundo fora,
Sim! Está na hora.
Olhava pela janela,
E só pensava nela,
Naquela paisagem de encantar.
Falo do Tejo,
Onde agora velejo,
Pois finalmente tive a coragem de por lá passar.
36
Vejo-o quando amanhece
Tiago Farinha – 10º C
Vejo-o quando amanhece,
Esse rio magnífico.
Vejo-o quando anoitece,
O Tejo, pacífico.
Lá ao fundo, vejo a foz,
E não é que oiço uma voz?
É a minha amada, que me chama,
A dizer que me ama,
E que encontrou a terra de Oz.
Dizem que pelo Tejo se vai pró mundo,
Por isso olhei bem fundo,
Sem nada encontrar,
A não ser uma terra de embasbacar.
Aqui decidimos assentar, viver e perecer,
Neste mundo desconhecido,
Onde havemos de ter o descanso merecido.
37

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