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GLOBAL SCIENCE AND TECHNOLOGY (ISSN 1984 - 3801) QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DO AR EM AMBIENTES DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO DO SUDOESTE GOIANO Maria Aparecida Silva de Medeiros1, Josileide dos Santos Lima1, Nathalia Silva Ferreira1, Luciana Cristina Vitorino1, Michellia Pereira Soares1* RESUMO: O ar atmosférico atua como um meio de dispersão de microrganismos, alguns dos quais oferecem riscos à saúde humana. Neste estudo, foi avaliada a concentração de bioaerossóis fúngicos e bacterianos em diferentes ambientes de uma instituição de ensino, localizada no sudoeste goiano, relacionando-a com a concentração presente no meio externo. Ainda foi analisado, o crescimento populacional dos microrganismos obtidos do ar desses ambientes e também o ar externo e interno de três ambientes da instituição, por meio de placas de sedimentação. As médias de UFCs fúngicas em PDA apresentaram valores entre 31 e 46 para todos os ambientes analisados. As maiores médias foram encontradas no ambiente externo da cantina, representando um total 1,8 x 103 UFC.m-3, a 72h de incubação. A concentração de bioaerossóis no ar interno da cantina era 71,5% inferior ao valor encontrado no ar externo da mesma. A relação I/E encontrada para a cantina e banheiro masculino foi acima de 1,0, indicando que pode estar havendo acúmulo de contaminantes no ar interior desses ambientes. Palavras-chave: fungos, bactérias, crescimento populacional, poluição atmosférica. MICROBIOLOGICAL QUALITY AIR IN ENVIRONMENTS OF A INSTITUITION OF EDUCATION OF SOUTHWESTERN THE GOIÁS ABSTRACT: Atmospheric air acts as a means of dispersal of microorganisms, some of which pose risks to human health. In this study, we evaluated the concentration of fungal and bacterial bioaerosols in some environments, in one institution of education located in southwestern the Goiás, relating it to the concentration present in the external environment. Was also analyzed, the population growth of microorganisms obtained from air these different environments. We assessed the air outside and inside of three environments of the institution, by sedimentation plates. Mean fungal CFUs in PDA showed values between 31 and 46 for all environments analyzed. The highest averages were found in the external environment of the canteen, accounting for an overall 1.8 x103 CFU.m-3, in 72h incubation. The concentration of bioaerosols in indoor air of the canteen was 71.5% lower than the value found in outdoor air of the same. The I/E ratio found in the canteen and the men's room was above 1.0, indicating that there may be accumulation of these contaminants in indoor air environments. Keywords: fungi, bacteria, population growth, air pollution. ____________________________________________________________________________________________________ 1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Rio Verde. Rod. Sul Goiana, Km 01, Zona Rural, Caixa Postal 66, Rio Verde (GO). CEP: 75901-970. *E-mail: [email protected]. Autor para correspondência. Recebido em: 04/06/2012. Aprovado em: 26/11/2012. Gl. Sci Technol., Rio Verde, v. 05, n. 03, p. 36–46, nov/dez. 2012 Qualidade microbiológica... Sudoeste Goiano INTRODUÇÃO Diversos estudos reconhecem o ar do ambiente como fonte de propagação de microrganismos (SOUSA & FORTUNA, 2011; PEREIRA et al., 2005). Matéria particulada (poeira), taxa de ventilação e ocupação, natureza e grau da atividade exercida pelas pessoas que ocupam um espaço físico são alguns determinantes do nível de contaminação do ar (LUOMA & BATTERMAN, 2001). Acredita-se que a transmissão de microrganismos aos seres humanos, ocorra através de gotículas geradas a partir da fonte ambiental (ISHIMATSU et al., 2001), essas gotículas em suspensão, tipicamente contêm micróbios e fragmentos celulares, combinados com subprodutos do metabolismo celular (BOECHAT & RIOS, 2011). Sendo conhecidas como bioaerossóis, elas podem funcionar como carreadores de vírus, fungos e bactérias. Os contaminantes biológicos utilizamse de partículas de matéria (pólen, fragmentos de insetos, escamas de pele humana e pelos) como substrato para se multiplicar (DANTAS, 1998), por isso, se a renovação do ar em um ambiente não for satisfatória, ele torna-se viciado, pois recircula, propiciando a colonização de microrganismos que podem oferecer riscos à saúde dos usuários (SOUSA & FORTUNA, 2011). Ainda não existem valores de referência estabelecidos para os bioaerossóis encontrados no ambiente interno de escolas, prédios de escritórios e residências (STETZENBACH et al., 2004), mas a poluição do ar interior em ambientes não-industriais tem sido observada em estudos realizados em domicílios (CARTAXO et al., 2007), instituições de ensino (MESQUITA & ARAÚJO, 2006; MORAIS et al., 2010), hospitais (LEUNG et al., 2006), centros comerciais (COSTA et al., 2000), e aeroportos (SILVEIRA, 2002). Dados comprovam que o ar interior dos ambientes fechados pode ser mais poluente do que o ar exterior (LEE, 2006). Lacerda et al. (2003) descreve que o 37 fenômeno de recirculação de ar é responsável pelo aumento de microrganismos na ordem de 1.000 a 100.000 vezes em relação ao ar externo. Considera-se que a contaminação microbiológica do ar de ambientes internos tenha como fonte o meio externo e as geradas no próprio ambiente. De acordo com Rizzo et al. (1999), a precariedade do sistema de esgoto sanitário brasileiro permite que uma imensa carga de bactérias gram negativas seja despejada diariamente em nossas ruas, sendo assim, antígenos bacterianos podem também ser carreados para o interior de residências ou ambientes de trabalho na sola de sapatos. Além disso, seres humanos transportam microrganismos na boca, na pele e nas mãos (MOSCATO, 2000). Leite et al. (1989) isolaram enterobactérias das mãos de 97,9% dos manipuladores de alimentos de estabelecimentos comerciais analisados na cidade de Araraquara – SP. A disseminação de bactérias patogênicas pelo ar e poeira não ocorre com grande frequência, no entanto, algumas bactérias esporulantes, tais como Mycobacterium tuberculosis e Staphylococcus aureus, são potenciais contaminantes aerógenos e tem a inalação como mecanismo principal, para a sua veiculação (SILVA et al., 2002). A via de dispersão utilizada pelos fungos em sua disseminação é o ar atmosférico onde os propágulos podem ser levados a grandes distâncias pelo vento (TRABULSI et al., 2008). Um grande número de fungos anemófilos desempenha papel importante na patologia médica (FLORES & ONOFRE, 2010). Processos alérgicos como renite, asma alérgica (caso de aspergilose broncopulmonar alérgica), alveolite alérgica extrínseca (quase sempre doenças ocupacionais), sinusite alérgica não invasiva e micoses pulmonares bem determinadas são algumas das manifestações eventualmente provocadas pela microbiota fúngica exógena (JOSEP et al., 1999). No Brasil, poucas são as pesquisas disponíveis que relacionam os problemas ambientais de edifícios onde o fluxo de Gl. Sci Technol., Rio Verde, v. 05, n. 03, p. 36–46, nov/dez. 2012 38 pessoas é alto e sua interface com a saúde. A atual legislação brasileira, só se pronuncia sobre a qualidade do ar interior, em ambientes climatizados artificialmente, de uso público e coletivo, estabelecendo limites aceitáveis de contaminação microbiológica apenas para fungos (BRASIL, 2003a). O valor máximo recomendável para essa contaminação deve ser <750 UFC.m-3 de fungos; se esse valor for ultrapassado o ambiente é considerado impróprio para a saúde (BRASIL, 2003a). Sobre contaminação bacteriana não há ainda uma legislação pertinente. Em decorrência da necessidade de se determinar a qualidade microbiológica do ar, e com isso, avançar nos conhecimentos sobre disseminação atmosférica de inóculo, esse estudo propôs avaliar a concentração de bioaerossóis fúngicos e bacterianos em algumas áreas internas de, uma instituição de ensino do sudoeste goiano relacionando-a com a concentração presente no ambiente externo, bem como analisar o crescimento populacional da microbiota obtida por meio do teste de sedimentação em placa. MATERIAL E MÉTODOS Foram avaliados o ar externo e o ar interno de três ambientes diferentes da instituição de ensino no horário noturno, sendo estes, a cantina, um banheiro feminino e um banheiro masculino. Foi considerado ambiente externo para os dois banheiros, corredores, onde o fluxo de ar e pessoas é intenso. As amostras foram coletadas no período do verão, em horários em que os ambientes estavam sendo utilizados. Os dados meteorológicos para o dia da realização da coleta informavam noite nublada, com temperatura mínima de 20ºC (INSTITUTO CLIMATEMPO, 2011). O ar externo e interno dos ambientes foi avaliado pela técnica de sedimentação em placas (CARDOSO et al., 2009), utilizando-se triplicatas de placas de Petri de 90 mm de diâmetro dispostas a um metro de qualquer obstáculo, pelo tempo de 30 min (PASQUARELLA et al., 2007; PASQUARELLA et al., 2000). Os meios de cultura utilizados foram ágar macConkey (Digestão péptica de tecido animal 200g, sais biliares 1,5g, cloreto de sódio 5g, lactose 10g, vermelho neutro 0,03g, cristal de violeta 0,001g , ágar 13,5g e água q.s.p. 1000mL), para contagem de bactérias fermentadoras ou não de lactose, e BDA (Infusão de 200g de batata, dextrose 20g, ágar 15g e água q.s.p. 1000mL) específico para o isolamento de fungos. As placas foram acondicionadas em caixas de isopor térmicas, sob condições assépticas, e posteriormente incubadas em estufa bacteriológica a 37°C. A média das Unidades Formadoras de Colônias foi calculada após 24, 48 e 72 horas de incubação. A leitura realizada para a determinação do número de Unidades Formadoras de Colônias foi feita segundo Pasquarella et al. (2000). O limite aceitável da contagem total de bactérias heterotróficas mesófilas é de 2 ≤7,5x10 UFC.m-3 (BRASIL, 2003b). Para determinar a contagem em UFC.m-3 foi seguido a formulação de Friberg, Friberg e Burman (1999) que compreende a relação numérica do produto da contagem de unidades formadoras de colônias depositadas em uma superfície por um determinado tempo, com a área exposta sobre a média de ar na superfície. Foi atribuída a proporção 23:1 para média de ar na superfície por ter sido um processo de sedimentação espontânea. Os dados de crescimento populacional em placa foram avaliados para microrganismos totais, e também separadamente para bactérias e fungos, sendo submetidos a análise de variância, e posteriormente utilizados na confecção de regressões. As médias relativas ao número de UFCs em cada ambiente analisado foram comparadas pelo teste de TUKEY a 5% de probabilidade, com o auxílio do software SISVAR (FERREIRA, 2003). Gl. Sci Technol., Rio Verde, v. 05, n. 03, p. 36–46, nov/dez. 2012 Qualidade microbiológica... Sudoeste Goiano RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise de regressão da quantidade de UFCs bacterianas e fúngicas nas placas de contagem revelou comportamento linear para o tempo de incubação, nos dois meios de cultura analisados (Figura 1). A média de UFCs bacterianas em meio BDA foi superior, nas placas de sedimentação provindas da cantina externa, em todos os tempos analisados. O mesmo, não aconteceu em meio macConkey, onde o maior número de UFCs bacterianas proveio do banheiro 39 feminino interno, sendo todas essas bactérias, lactase negativas, o que foi concluído pela ausência de cor das colônias (LIMA et al., 2011). Esse caráter é típico de algumas enterobactérias patogênicas como Salmonella, e espécies Proteus, que não podem fermentar lactose (ÁVILA & GALLO, 1996). Entre todos as amostras analisadas em macConkey, as únicas onde foi possível evidenciar a presença de bactérias lactase positivas, foi nas provindas do ambiente interno do banheiro masculino (Figura 2). Figura 1 - Número médio de Unidades Formadoras de Colônias nas placas de contagem para o ar dos diferentes ambientes analisados em uma instituição de ensino do sudoeste goiano, após 24, 48 e 72 horas de incubação. (A) UFCs bacterianas em BDA; (B) UFCs fúngicas em BDA; (C) UFCs bacterianas em macConkey; (D) UFCs fúngicas em macConkey; (CI) Cantina área interna; (CE) Cantina érea externa; (BMI) Banheiro masculino área interna; (BME) Banheiro masculino área externa; (BFI) Banheiro feminino área interna; (BFE) Banheiro feminino área externa. No último tempo de análise, a média analisados, sendo que colônias desse tipo, de UFCs fúngicas em BDA mostrou valores apareceram já no primeiro dia de incubação entre 31 e 46 para todos os ambientes (Figura 1), já em macConkey, a germinação Gl. Sci Technol., Rio Verde, v. 05, n. 03, p. 36–46, nov/dez. 2012 40 de esporos sedimentados, só ocorreu a partir do segundo dia de incubação, esse fato pode estar relacionado à seletividade apresentada por ágar macConkey, visto que este apresenta especificidade no isolamento de enterobactérias (CHERNAKI-LEFFER et al., 2002). Esse mesmo fator pode estar relacionado à média baixa de UFCs fúngicas que se desenvolveram nas placas de sedimentação, relativas a todos os ambientes testados. Figura 2 - Placas de petri evidenciando o crescimento de bactérias lac- nas amostras provindas do ambiente interno do banheiro feminino (BFI) e bactérias lac+ (placa da esq.) em amostras provindas do ambiente externo do banheiro masculino, ambos presentes em uma instituição de ensino do sudoeste goiano. Crescimento obtido após 72h de incubação. A legislação vigente, através da Resolução nº 9 da ANVISA, especifica que a leitura, ou contagem das UFCs fúngicas, deve ocorrer após sete dias de incubação. Contudo, estudos comprovam que a superfície do meio de cultura na placa de Petri pode ser coberta pelo micélio em períodos mais curtos de tempo, o que impossibilita a contagem das colônias. Para tanto, recomenda-se que a resolução especifique o monitoramento diário das placas, até que o número de colônias se estabilize, o que ocorre em prazo menor do que sete dias (QUADROS et al., 2009). A figura 3 demonstra o crescimento amplo de algumas colônias fúngicas, impossibilitando a obtenção de dados relativos a uma incubação superior a 72 horas. Gl. Sci Technol., Rio Verde, v. 05, n. 03, p. 36–46, nov/dez. 2012 Qualidade microbiológica... Sudoeste Goiano 41 Figura 3 - Placas de petri mostrando o crescimento colonial de bioaerossóis obtidos do ar dos diferentes ambientes analisados em uma instituição de ensino do sudoeste goiano. Cantina área interna (CI); Cantina érea externa (CE); Banheiro masculino área interna (BMI); Banheiro masculino área externa (BME); Banheiro feminino área interna (BFI); Banheiro feminino área externa (BFE). Crescimento retratado após 72h de incubação. A comparação das médias de concentração de bioaerossóis em ágar macConkey, não mostrou diferença significativa entre os ambientes analisados. No entanto, o mesmo não aconteceu com as amostras sedimentadas e BDA, para as quais as maiores médias foram encontradas nas placas de sedimentação provindas do ambiente externo da cantina (Figura 4). Neste ambiente, foi contabilizado um índice total de 1,4x103 UFC.m-3, às 48h de incubação e 1,8x103 UFC.m-3, às 72h de incubação. Esses valores estão muito acima do limite aceitável 2 pela ANVISA (≤7,5x10 UFC.m-3). A concentração de bioaerossóis no ar interno da cantina foi 71,5% inferior ao valor encontrado no ar externo da mesma. Esses resultados podem ser explicados pela alta incidência de correntes de ar no ambiente externo da cantina, essas correntes transportam a microbiota em material particulado, além disso, o deslocamento de pessoas ou de veículos preenche o ar com microrganismos que depositam-se nas superfícies (DAHAN & PITTET, 2002). Portanto, entende-se que a concentração de microrganismos seja superior nos ambientes externos (QUADROS et al., 2009). Gl. Sci Technol., Rio Verde, v. 05, n. 03, p. 36–46, nov/dez. 2012 42 Figura 4 - Concentração média de bioaerossóis (UFC.m-3 de ar) nos diferentes ambientes analisados em uma instituição de ensino do sudoeste goiano e concentração de colônias fúngicas e bacterianas nas amostras. (A) Dados obtidos às 48 h de incubação em meio BDA; (B) Dados obtidos às 72 h de incubação em BDA. Letras maiúsculas comparam os ambientes e minúsculas comparam a concentração de fungos e bactérias. Médias representadas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste Tukey (5%). A concentração de bioaerossóis bacterianos nas amostras coletadas a partir do ambiente externo da cantina foi superior à concentração de fungos, sendo que as bactérias perfizeram 88% do total destes, após 48 h de incubação e 75% após 72 h. O mesmo aconteceu com as amostras obtidas do ambiente interno do banheiro feminino, onde as bactérias corresponderam a 63% dos bioaerossóis após 48 h de incubação e 57% após 72 h. A concentração de bactérias foi inferior à de fungos apenas nas amostras provindas do ambiente interno do banheiro masculino e nas provindas do ambiente externo do banheiro feminino. Esses resultados foram atingidos, mesmo usando-se como meio de cultivo o BDA, que é um meio seletivo para fungos. É possível que a não adição de antibacterianos a esse meio tenha influenciado no aparecimento de grande número de bactérias, com relação ao pequeno número de fungos (SOUZA et al., 2004). A relação entre a concentração de fungos filamentosos observada nos ambientes internos e no ambiente externo (I/E), após 48 e 72 h, encontrava-se abaixo do valor máximo recomendado pela resolução RE 9 da Anvisa, que é de 1,5, (Tabela 1). Kim e Kim (2007) também obtiveram valores similares para a relação I/E em edifícios públicos na Coreia. Quadros et al. (2009) sustentam que um resultado superior a 1,0 para esta relação permitiria assumir que há acúmulo de contaminantes biológicos no ambiente interno, o que pode ser observado nos valores I/E da cantina e do banheiro masculino obtidos nesse trabalho (Tabela 1). Desta forma, critica-se a relação I/E ≤ 1,5 que indica que o ambiente interno pode ter uma concentração de microrganismos 50% maior que o ambiente externo. Devido a fatores ambientais, a concentração de bioaerossóis em ambientes internos é bastante variada (BEAUMONT et al., 1985), porém se um ou mais gêneros são encontrados em maiores concentrações no ambiente interno que a observada no externo a fonte de amplificação precisa ser identificada e eliminada (JENSEN & SCHAFER, 2003). Gl. Sci Technol., Rio Verde, v. 05, n. 03, p. 36–46, nov/dez. 2012 Qualidade microbiológica... Sudoeste Goiano 43 Tabela 1 - Relação entre a concentração de fungos filamentosos no ar interno e no ar externo dos diferentes ambientes analisados em uma instituição de ensino do sudoeste goiano Ambiente I/E (48h) I/E (72h) Cantina 1,1 1,2 Banheiro Masculino 1,0 1,1 Banheiro Feminino 0,6 0,7 Excetuando-se o ar coletado no ambiente externo da cantina, o ar de todos os outros ambientes analisados neste trabalho, demonstraram concentrações de bioaerossóis condizentes com o permitido pela legislação vigente. Morais et al. (2010) também estudaram a qualidade microbiológica do ar interno em uma instituição de ensino superior brasileira, sendo detectado que 51% das salas de aula apresentavam contagens bacterianas acima do limite aceitável. Houve uma maior frequência de Staphylococcus aureus (100%), seguido de Staphylococcus coagulase negativo (88,2%) e Escherichia coli (78,4%). Por outro lado, Dacarro et al. (2003) avaliaram a qualidade microbiológica do ar interior em um colégio, durante aulas de treinamento físico, detectando menor contagem de fungos em edifícios modernos, equipados com ventilação forçada. Mediante as condições atuais das salas de aula e laboratórios da instituição de ensino analisada nesse trabalho, reconhecemos que dados futuros devem ser colhidos no sentido de melhor caracterizar a qualidade do ar interno, bem como de identificar possíveis riscos de contaminação dos para os alunos dessa instituição. amplo das colônias fúngicas impossibilitou a obtenção de dados relativos a uma incubação superior a 72 horas e no ambiente externo da cantina foram encontradas valores de UFCs muito acima do limite aceitável pela ANVISA. No entanto, a relação entre a concentração de fungos filamentosos observada em todos os ambientes internos e externos (I/E), após 48 e 72 h, encontrava-se abaixo do valor máximo recomendado pela mesma. REFERÊNCIAS ÁVILA, C. R.; GALLO, C. R. Pesquisa de Salmonella spp. em leite cru, leite pasteurizado tipo c e queijo "minas frescal" comercializados no município de Piracicaba SP . Scientia Agricola, Piracicaba, v.53, n.1, p.159-163, 1996. 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Sci Technol., Rio Verde, v. 05, n. 03, p. 36–46, nov/dez. 2012 44 coletivo. Brasília (DF): Diário Oficial da Hospital Infection, Londres, v.51, n.2, p.79União; 20 jan. 2003. 84, 2002. BRASIL. Ministério da Saúde. Consulta Pública nº109, de 11 de dezembro de 2003. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 dez. 2003(b). Disponível em: <http:// www4.anvisa.gov.br/base/visadoc/CP>. Acesso em 31 de jan. 2012. FERREIRA, D. F. SISVAR - versão 4,3. DEX/UFLA - Lavras, MG, 2003. CARTAXO, E. F.; GONÇALVES, A. C. L. C.; COSTA, F. R.; COELHO, I. M. V.; SANTOS, J. G. Aspectos de contaminação biológica em filtros de condicionadores de ar instalados em domicílios da cidade de Manaus – AM. Revista Engenharia Sanitária, v.12, n.2, p.202-211, 2007. Hospital Infection, Londres, v. 42, p. 287293, 1999. FLORES, L. H.; ONOFRE, S. B. Determinação da presença de fungos anemófilos e Leveduras em unidade de saúde da cidade de Francisco Beltrão – PR. SaBios: CARDOSO, A. L. S. P.; TESSARI, E. N. C.; Rev. 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