As Palavras de Paulo Moura

Transcrição

As Palavras de Paulo Moura
CORREIO DA PARAÍBA
CADERNO 2
Paraíba
As palavras de
Quarta-feira, 27 de julho de 2011
C1
Paulo Moura
Livro sobre o grande instrumentista brasileiro traz depoimentos dados à sua mulher, Helena Grynberg
DIVULGAÇÃO
KUBITSCHEK PINHEIRO
Depois do CD Alento com
selo da Biscoito Fino, sai agora
mais uma homenagem - desta
vez, literária - a um dos maiores
nomes da música instrumental
brasileira: Paulo Moura. O livro
Paulo Moura, um Solo Brasileiro
(Editora Casa da Palavra), que
foi impresso na paraibana Gráfica Santa Marta, é uma entrevista inédita, fruto de uma série
de conversas com sua esposa, a
escritora e psicanalista Halina
Grynberg.
Grynberg compilou as entrevistas e as transformou nesta
obra, que inaugura a primeira
ação do recém criado Instituto
Paulo Moura, em prol da música instrumental brasileira. O
primeiro lançamento aconteceu
na Festa Literária Internacional
de Paraty, a Flip.
Durante um ano e meio, a
autora coletou o material que
agora desvela a essência artística e sensível de Paulo Moura. Divagações com relação à
família, tradições musicais que
o marcaram, inovações estéticas
que vanguardeou, reflexões conceituais sobre o seu savoir-faire profissional, e a devoção intensa à arte e ao desejo de criar
um solo brasileiro; uma musica
instrumental popular brasileira
feita da miscigenação do samba, choro, musica erudita e jazz
brasileiros - iluminada pela ritmica afrobrasileira que jamais
cansou de refinar.
No período da elaboração do
livro, Halina, que foi casada com
o regente, saxofonista, compositor, clarinetista e arranjador de
choro, samba e jazz durante 26
anos e também era sua empresária e produtora musical, captou com sensibilidade e precisão
o melhor de sua essência. Só
lendo para crer.
“Ninguém jamais entrevistou o Paulo com foco em questões difíceis para ele, muito pessoais, como a relação com o pai”,
afirma Halina. “Eu me lembro
que, às vezes, à noite, quando
todo mundo já estava dormindo,
ele ficava na sala tocando alguma coisa, ficava por lá meio que
estudando, tocando, talvez até
escrevendo alguma coisa dele
mesmo, tocando baixinho, e eu
dormia com aquele som”, relembra a escritora.
Em entrevista ao CORREIO,
Halina conta que o livro não é
um ensaio biográfico. “É o retrato de uma vida dedicada ao desejo de ocupar a cena artística
como musico instrumental, na
Paulo Moura e a esposa Helina Grynberg: ela o entrevistou sobre questões difíceis, como o relacionamento do instrumentista com o próprio pai
frente, no centro do palco, sem
estar encoberto ou escondido no
estúdio de gravação. Ela criava a
cena como uma estrela”, afirma.
De acordo com ela, conversar com Paulo Moura era perseguir uma estética do improviso.
“Nada é como parece ter sido.
Paulo é invenção infinda, imensidão criativa que recusa a linearidade”, descreve a autora, que
levou pouco mais de um ano e
meio pra finalizar a produção
do livro, que também conta com
texto de apresentação do escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo.
Num dos momentos hilariantes do livro, Paulo dispara:
“Eu estava estudando a minha
clarineta lá em casa, quando fiquei sabendo de um programa
de calouros na Rádio Tupi. O
vencedor ganharia um par de sapatos (risos). Concorri e ganhei.
Fiz um solo de ‘Lady be good’
na clarineta. Mas o interessan-
te disso é que, para receber esse do pelo próprio Paulo Moura por
sapato, tive que ir lá várias vezes ser, assim como ele, um obstifalar com a direção do programa, nado pela excelência, dedicação
gastei muito a sola
e improvisação ao
do meu sapato veutilizar arranjos e
lho, foi complicado
estilos
variados.
eles soltarem esse
O processo para a
par de sapatos para
produção e finalimim...”, diverte-se
zação do CD levou
relembrando a hiscinco anos.
tória.
As músicas do
Entre as preCD encartado com
ciosidades também
direção de Paulo
encontradas no liMoura são: “Mulavro, tem destaque
tas, etc e tal” (Paulo
o ensaio de fotoMoura), “Caravan”
grafias do estúdio
(Juan Tisol/Duke
do músico, ainda
Ellington), com arintacto como Paulo PAULO MOURA, UM SOLO BRA- ranjo de Moura,
deixou, com as pe- SILEIRO, de Halina Grynberg. “Coquetel”
(Anças, instrumentos Casa da Palavra. 240 páginas. dré
Sachs/Paulo
e partituras, eter- R$ 44.
Moura/Benita Minizados em fotos de
chahelles), “ChoriAlex Forman.
nho para Mignone”
O livro acompanha o CD (Paulo Moura/André Sachs),
Fruto Maduro, produzido por “Macunaima” (Paulo Moura/
André Sachs, parceiro escolhi- André Sachs), “Andina” (André
Sachs/Paulo Moura), “Trem do
Moura” (André Sachs/Paulo
Moura), “Obstinado” (André Sachs/Paulo Moura), “Mantenha
o groove” (André Sachs/Paulo Moura) e “Chroma 2” (Paulo
Moura).
Paulo gravou 40 discos e tocou com mestres da música brasileira como Ary Barroso, Dalva
de Oliveira, Elis Regina, Milton
Nascimento e Sergio Mendes.
Também acompanhou astros internacionais como os históricos
Lena Horne, Cab Calloway, Nat
King Cole, Ella Fitzgerald, Cannonball Adderley, Sammy Davis Jr e Marlene Dietrich. Com
mais de 40 discos lançados, ele
ganhou o Grammy em 2000 por
Pixinguinha: Paulo Moura e os
Batutas. Em 2009, ele se apresentou na Tunísia e no Equador
e lançou o CD AfroBossaNova.
Afinal, quem era Paulo
Moura? “Era um sopro divino”,
fecha.

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