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Transcrição

Clique e saiba mais - Via Verde | Consultoria Agropecuária em
de excelência
Certificações atestam boas práticas
agrícolas na produção de café na Região
do Cerrado Mineiro, considerada a mais
sustentável do Brasil
Já foi o tempo em que o café produzido no Cerrado Mineiro era encarado como
mera commodity, termo aplicado a produtos
primários sem valor agregado e sujeitos a
todo tipo de instabilidade do mercado internacional. Hoje, ele se diferencia por ter um
sistema de produção justo, sustentável, que
inclui ações e processos voltados à preservação da mata ciliar, proteção da vida silvestre,
consumo consciente dos recursos hídricos e,
ainda, garantia das melhores condições de
trabalho para a mão de obra do campo. Esse
é o café que vem do Cerrado Mineiro, região
que concentra o maior número do mundo de
propriedades rurais certificadas com o selo
Rainforest Alliance, segundo balanço do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e
Agrícola (Imaflora). Entre os mais reconhecidos no exterior, este selo atesta que a produção é ecológica, social e economicamente
correta e atende a uma série de requisitos
internacionais de boas práticas.
Hoje, dos 370 mil hectares de plantações de
café que estampam o selo Rainforest Alliance
em diversos países, 38 mil se encontram em
Minas, pouco mais de 10% do total. Se considerada apenas a produção nacional, 51%
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de todo o café certificado do Brasil foi colhido em um dos 55 municípios espalhados
pelo Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste
do estado. “Dos 170 mil hectares de área
plantada apenas no Cerrado, 22% já têm a
chancela da Rainforest Alliance. Ao todo,
são 170 fazendas certificadas que fornecem
ao mercado cerca de 1,3 milhão de sacas por
ano”, detalha Eduardo Trevisan Gonçalves,
secretário executivo adjunto do Imaflora, que ratifica que a primeira certificação
Rainforest Alliance para café no Brasil foi
concedida em 2002 para uma propriedade
da região mineira.
Conscientes e dispostos a atender à demanda cada vez mais recorrente do mercado
por produtos sustentáveis, empresários do
agronegócio buscam se adequar a esse cenário. “O consumidor atual tem hábitos diferentes. Além de optar por um grão de qualidade, ele quer ter certeza que aquele produto
contribui para o mundo em que vivemos”,
explica o analista do Sebrae Minas, Marcos
Geraldo Alves da Silva.
Com um forte apelo ambiental e social,
o Rainforest Alliance atende exatamente a
essas novas exigências e, por isso, é cada vez
mais requisitado na região como forma de
chancelar a conformidade do produto. Amparado em dez grandes pilares, o certificado
exige, entre outros diferenciais, conservação
de ecossistemas, proteção da vida silvestre,
manejo e conservação do solo, boas condições de trabalho e boas relações com a comunidade. “O protocolo tem uma bandeira
ecológica e social muito forte. Isso significa
dizer que aquela propriedade usa os recursos hídricos e defensivos de maneira correta,
preza pelo bem-estar da mão de obra, não
utiliza trabalho infantil ou escravo e atende
a todos os demais requisitos. Quem compra
tem a garantia de estar consumindo um produto justo, correto”, afirma o analista.
O Rainforest Alliance é um importante
selo, mas não é o único da categoria. Outras
certificações, como a Fairtrade e UTZ, que
também apresentam um caráter socioambiental predominante, ajudam a diferenciar o
produto sustentável dos demais. “O objetivo
principal do Fairtrade é garantir que o pequeno produtor, aquele da agricultura familiar, tenha acesso a preços justos na hora de vender
seu produto. Isso viabiliza a manutenção das
pessoas na atividade agrícola e evita o êxodo. Já
o UTZ trata da responsabilidade na produção”,
detalha Marcos da Silva. Estima-se que, na atualidade, 40% de todas as propriedades do Cerrado já possuem algum tipo de certificação.
Além dos impactos social e ambiental
imediatos, os produtores também calculam
o retorno financeiro do investimento realizado na implantação de boas práticas agrícolas. Além de um preço mais alto na saca, eles
ainda têm acesso a mercados internacionais
exigentes e que dão preferência ao café certificado. Considerando que 70% de toda a
produção do Cerrado Mineiro é exportada,
abrir novos mercados é fundamental para a
perenidade do negócio.
A Rainforest Alliance na Região do Cerrado Mineiro
38
170
1,3
mil hectares de
café certificado
propriedades
rurais
milhão de sacas
por ano
Para ser certificado, é preciso ter:
1. Sistema de gestão social e ambiental
2. Conservação de ecossistemas
3. Proteção da vida silvestre
4. Conservação dos recursos hídricos
5. Tratamento justo e boas condições de trabalho
6. Saúde e segurança ocupacional
7. Relações com a comunidade
8. Manejo integrado dos cultivos
9. Manejo e conservação do solo
10. Manejo integrado dos resíduos
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SUSTENTABILIDADE
Fotos: Pedro Vilela / Agência i7
Parceiro histórico dos produtores rurais
da região, o Sebrae Minas é um dos fomentadores de alternativas que garantam maior
rentabilidade aos negócios. “Promover a
abertura de novos mercados e criar um ambiente favorável estão entre as nossas vertentes de atuação. Queremos que o produtor
agregue valor ao seu produto e fique menos
sujeito às oscilações da Bolsa de Valores e,
assim, se torne mais competitivo e tenha
acesso a mercados internacionais”, afirma
Marcos da Silva.
Em dezembro de 2013, o Cerrado Mineiro foi a primeira região do Brasil a receber
a Denominação de Origem pelo Instituto
Nacional de Propriedade Intelectual (INPI),
e as certificações reforçam o investimento
contínuo dos empresários em alternativas
que valorizem ainda mais o grão. “Esta é uma
forma de diferenciar o café de qualidade de
um convencional”, acrescenta o analista.
“A procura pelo nosso café é
maior do que a da concorrência.
Também temos mais facilidade
de fazer mercado futuro e
garantir um valor diferenciado
pela saca de 60 kg”
Gláucio de Castro, proprietário da
fazenda Macaúbas de Cima
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ORGANIZAÇÃO EM GRUPO I Para que o produtor atenda a essas exigências e coloque à venda um produto diferenciado, entra em cena o
Sebraetec, programa do Sebrae que promove
o acesso de micro e pequenas empresas a soluções inovadoras. No caso do setor agrícola, ele
recebe orientação para a auditoria do Imaflora de forma a cumprir os requisitos. “Para ter
esse apoio, os empresários devem participar do
Educampo, metodologia do Sebrae Minas que
beneficia cerca de 350 pessoas, todos os meses,
com orientações sobre gestão e competitividade do negócio. A intenção é que os participantes entendam a sua propriedade como uma
empresa”, explica Marcos da Silva. O projeto
Educampo é promovido por meio de entidades
parceiras, como cooperativas e agroindústrias,
e da formação de grupos de cafeicultores com
interesses comuns.
É justamente por meio dessa formação que
grande parte dos produtores do campo tem acesso às certificações. Segundo o Imaflora, dos atuais
38 mil hectares certificados no Cerrado Mineiro,
20 mil são de empreendedores organizados em
grupos que contam com a assistência direta do
Sebrae Minas. Somente em 2014, 96 certificados
Rainforest Alliance e 62 Fairtrade foram conquistados na região com o apoio da instituição.
Gláucio de Castro, vice-presidente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado e proprietário da fazenda Macaúbas de Cima, em Patrocínio, está entre os beneficiados pelo sistema de
certificação em grupo. “Faço parte da primeira
turma da Educampo formada na região, em
2005. Decidimos buscar a certificação juntos, já
que, individualmente, é muito oneroso. Ainda
tem o fato de que, se uma das propriedades não
cumprir as exigências, todos perdem a certificação, mas já temos o selo Rainforest Alliance há
cinco anos e sempre atendemos aos requisitos
das renovações realizadas anualmente”, comemora o empreendedor.
Com área plantada de 312 hectares, ele calcula uma produção anual de 12 mil sacas e garante que o atestado de boas práticas agrícolas
ampliou seu mercado consumidor. “A procura
pelo nosso café é maior do que a da concorrência. Também temos mais facilidade de fazer
mercado futuro e garantimos um valor diferenciado pela saca de 60 kg, que, no meu caso, chega a R$ 10 a mais por unidade”, diz.
Os 10 anos de trabalho contínuo com o
Sebrae Minas também explicam boa parte dos
resultados atuais. “Foi com o apoio dos consultores que me preparei para chegar ao nível que
estou hoje. Fiz curso de gerenciamento, participei do Programa Sebrae de Qualidade Total
Rural (PSQT Rural), qualifiquei a minha equipe e tive todo o suporte para conquistar a certificação, desde identificar as melhorias necessárias até conseguir subsídio para as auditorias.”
GESTÃO SOCIOAMBIENTAL I Eduardo Pinheiro
Campos, proprietário da Fazenda Dona Neném, de 620 hectares, em Presidente Olegário,
também encontrou, no Sebrae Minas, o apoio
necessário para alcançar patamares de excelência reconhecidos nacionalmente. No ano
passado, foi o primeiro colocado na VI Prova
de Cafés Certificados Imaflora – Rainforest
Alliance Certified, na categoria Secagem Natural. “O meu primeiro contato com a questão
“Além de uma saca entre
R$ 20 e R$ 30 mais cara do que
uma convencional, temos uma
organização muito maior da
fazenda em termos de gestão de
pessoas e financeira e uma grande
segurança frente à legislação
ambiental e trabalhista”
Eduardo Campos, proprietário da
Fazenda Dona Neném
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Também desenvolvemos uma ótima noção
de como estamos frente às fazendas vizinhas,
inclusive, em relação ao custo de produção”,
detalha Eduardo Campos. Atualmente, ele
está envolvido em um trabalho de torrefação
de café de alta qualidade. “Além de uma saca
entre R$ 20 e R$ 30 mais cara do que uma
convencional, temos uma organização muito maior da fazenda em termos de gestão de
pessoas e financeira e uma grande segurança
frente à legislação ambiental e trabalhista.”
“Os produtores conseguem em
torno de 1% a 3% a mais no
valor da saca, percentual que
pode chegar até 5%.
Isso varia muito de acordo
com a qualidade do produto”
João Ferreira Júnior,
Expocaccer
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da melhoria da qualidade do café ocorreu há
quase 15 anos. De lá para cá, percebi que tinha
que me certificar e que se tratava de uma exigência do próprio mercado”, recorda.
No início, ele reconhece que a ideia de
implantar uma política social, econômica e
ambiental em sua propriedade era desafiadora. “Achávamos que era muito trabalho,
mas resolvemos encarar. Hoje, vemos, com
clareza, os benefícios, que colocam a fazenda no caminho certo”, garante. Além de recuperar áreas de preservação permanente,
ele fez uma série de investimentos, que incluíram, até mesmo, a proteção da estrada
municipal que corta a propriedade durante
o processo de pulverização. “Também treinamos nossos funcionários e promovemos
ações sociais, como a criação de uma escola
de informática e outra de futebol, além de
medidas de integração.”
Todos esses passos foram seguidos de perto pela equipe do Sebrae Minas na região.
“Foram os profissionais da instituição que
elaboraram os cursos e as palestras necessários para qualificação dos funcionários, como
o de máquinas agrícolas e de alimentação.
PREÇO COMPETITIVO I Responsável pela venda do café que chega à Cooperativa dos Produtores do Cerrado (Expocaccer), em Patrocínio, a segunda maior exportadora do Brasil,
João Ferreira Júnior garante que, atualmente,
produtos com o selo Rainforest Alliance obtêm os prêmios mais significativos do mercado e, consequentemente, são mais bem-remunerados. “Os produtores conseguem em torno
de 1% a 3% a mais no valor da saca, percentual
que pode chegar até 5%. Isso varia muito de
acordo com a qualidade do produto”, explica o
responsável pela venda da cooperativa.
Enquanto uma saca regular era comercializada por R$ 490 no final de março deste
ano, outra, com a certificação Rainforest, era
negociada a R$ 505. “É um pré-requisito, por
exemplo, para empresas como a Nespresso,
que paga quase 3% a mais por essa saca”, afirma João Ferriera. Segundo acordo firmado
com a Rainforest mundial, 80% de todo o café
comprado pela Nespresso atualmente possui a
certificação. Considerando que se trata de uma
das maiores compradoras de café do mundo,
juntamente com a Starbuck’s, os produtores
rurais interessados em garantir uma fatia desse
mercado devem estar preparados.
Em geral, necessita-se de seis meses a um
ano para conquistar um certificado e, para
mantê-lo, é preciso passar por uma auditoria
anual. Porém, não é preciso atender a todas as
regras de uma única vez. Na maioria dos casos,
os produtores fazem acordos para implementação no curto e médio prazo e devem comprovar que estão cumprindo a agenda. De acordo
com a Imaflora, o Cerrado Mineiro tem uma
vantagem frente às demais regiões produtoras
de café do Brasil. O fato de explorar a atividade agrícola há apenas 40 anos justifica a busca
incessante dos empresários por boas práticas,
adequação à legislação e empenho constante
na melhoria da qualidade do produto.
Em todo o estado, o café está entre as culturas agrícolas mais envolvidas nas ações de
certificação. Somente pelo Certifica Minas
Café – iniciativa do governo estadual executada pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento por meio da Empresa
de Assistência Técnica e Extensão Rural do
Estado de Minas Gerais (Emater-MG) e do
Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) –
1.700 propriedades já adotaram boas práticas
de produção, gestão moderna e política de
preservação ambiental. O IMA, responsável
pela certificação de origem e qualidade dos
produtos agropecuários e agroindustriais do
estado, também promove certificações de algodão, leite, cachaça, produtos orgânicos e
queijo mineiro, com o intuito de que, assim
como o café, esses produtos se diferenciem
no mercado e gerem mais riqueza para o
agronegócio mineiro.
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