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As conseqüências do uso indiscriminado do metilfenidato por estudantes universitários – uma revisão
bibliográfica
dezembro/2015
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As conseqüências do uso indiscriminado do metilfenidato por
estudantes universitários – uma revisão bibliográfica
Francisco José da Silva Sousa Junior – [email protected]
Atenção Farmacêutica e Farmacoterapia Clínica
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Fortaleza, CE, 20 de abril de 2015
Resumo
A venda do metilfenidato no Brasil aumentou em 2816% entre os anos de 2000 e 2010, visto
que foram vendidadas 71 mil caixas desse medicamento em 2000 e 2 milhões em 2010.
Contudo, este medicamento é um estimulante comercializado desde os anos 1950 na Suíça,
Alemanha e Estados Unidos, e mais conhecido comercialmente no Brasil como Ritalina®
(Novartis) e Concerta® (Janssen-Cilag), e autorizado legalmente apenas para tratar doenças
como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Porém o aumento do
consumo deste consumo pode estar associado aos resultados que ele propõe como melhor
concentração, coordenação motora e controle dos impulsos, o que tem contribuído para que
estudantes universitários passem a fazer uso deste medicamento para melhorar seus
desempenhos acadêmicos. Deste modo, a presente pesquisa busca elucidar a seguinte
questão: quais as consequências do uso indiscriminado do metilfenidato em pessoas
saudáveis, a exemplo dos estudantes universitários? Diante disso esta pesquisa tem o objetivo
de compreender o uso de metilfenidato por estudantes para melhorar o rendimento
acadêmico, se pautando nas seguintes hipóteses: houve um aumento considerável do uso do
metilfenidato, pois o mesmo está sendo usado tanto para o tratamento de patologias da
atenção como para melhoria de funções cognitivas em pessoas saudáveis. A utilização deste
medicamento por pessoas saudáveis pode apresentar consequências obscuras, não previstas
para este público que não tem necessidade de fazer uso deste fármaco. Este estudo é uma
revisão bibliográfica. Os resultados encontrados indicam que o aumento considerável de
vendas deste fármaco no país pode estar relacionado a expansão do uso deste medicamento
para além do tratamento de patologias da atenção, mas também para fins recreativos,
estéticos e, principalmente, para a melhoria de funções cognitivas em pessoas saudáveis. Por
isso, é crescente nos últimos anos o uso do metilfenidato entre estudantes universitários, que
afirmam saber como obter este fármaco mesmo sem prescrição médica e pretendem
permanecer utilizando-o, ou até aumentar sua dose, apesar dos efeitos colaterais relatados,
por acreditarem que os benefícios compensam esses malefícios. Logo, é necessário que as
instituições de ensino invistam em campanhas de conscientização sobre o consumo
indiscriminado do metilfenidato entre esses estudantes, além de outras formas de aumentar o
desempenho acadêmico sem fazer uso deste fármaco, bem como os órgãos fiscalizatórios
precisam aumentar o controle da dispersão desta droga nas farmácias brasileiras.
Palavras-chave: “Metilfenidato”, “Estudantes Universitários”, e “Automedicação”.
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
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1. Introdução
Desde 1950, a sociedade contemporânea vive a terceira revolução industrial, denominada de
técnico-científica, em que se prioriza o conhecimento, a criatividade e a inovação, onde novas
formas de produzir e lucrar originaram novas tecnologias que tem repercutido em todas as
áreas, inclusive na de Saúde, com o desenvolvimento e a mecanização da indústria
farmacêutica e a criação de dispositivos que conseguem ter uma melhor visualização do
funcionamento físico-químico do cérebro, possibilitando que as disfunções deste órgão, que
acarreta em comportamentos desviantes da norma social, possam ser tratados através de
psicotrópicos (SILVA et al., 2012).
É neste contexto que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH),
considerado um transtorno neurocomportamental, que consiste em um padrão persistente de
desatenção e/ou hiperatividade, ocorrido por distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e
comportamentais, que interfere em pelo menos duas áreas de atuação da criança, como lar,
colégio e grupos de amigos, passou a ser tratado, principalmente, pelo fármaco metilfenidato
(CARNEIRO et al., 2013).
O metilfenidato é um fármaco do grupo dos anfetamínicos, sendo por isso classificado como
estimulante do sistema nervoso central que tem como mecanismo de ação o estímulo direto de
receptores alfa e beta adrenérgicos ou à liberação, indiretamente, de dopamina e noredralina
nos terminais sinápticos, o que resulta em melhor concentração, coordenação motora e
controle dos impulsos (CARNEIRO et al., 2013; MOTA & PESSANHA, 2014).
Por isso, é crescente nos últimos anos o uso de psicoestimulantes como o metilfenidato entre
estudantes universitários, especialmente os de estudos acadêmicos de elevado estresse (CRUZ
et al., 2011).
Contudo, o uso desse fármaco é autorizado legalmente apenas para tratar pessoas com
transtornos e doenças, como o TDAH e a narcolepsia, um raro transtorno do sono. Isso ocorre
porque o metilfenidato está incluído na Convenção de Substâncias Psicotrópicas da ONU
ocorrida em 1971, na qual vários países, assim como o Brasil, assumiram o compromisso de
fornecer este medicamento mediante um controle especial, ou seja, através de receita médica,
visto que o mesmo apresenta risco de abuso e dependência (BARROS & ORTEGA, 2011).
Porém, apesar desta restrição, pessoas saudáveis tem utilizado o metilfenidato e outros
fármacos para melhorar o funcionamento do cérebro e aprimorar o desempenho cognitivo, o
que ganhou o apoio em dezembro de 2008 doa autores Henry Greely, Barbara Sahakian, John
Harris, Ronald C. Kessler, Michael Gazzaniga, Philip Campbell e Martha J. Farah, que
publicaram na revista Nature, um artigo onde defendem esta aplicação e sugeriram estratégias
para ajudar a sociedade a aceitar seus benefícios (BARROS & ORTEGA, 2011).
Todavia, Silva et al,. (2012) aponta que a própria bula do medicamento que contém
metilfenidato revela uma fragilidade ligada ao mecanismo de ação, a existência de uma
imprecisão quanto a sua ação no organismo, mostrando uma contradição na sua prescrição,
mesmo ela sendo largamente defendida. Vilaça & Palma (2013) cita o bioconservador
Fukuyama, que apesar de defender o desvio do uso de fármacos de fins terapêuticos para de
melhoramento, afirma em um trabalho de 2002, que o uso do metilfenidato é obscuro, visto
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que o comportamento que ele visa a tratar não é propriamente uma doença, e, portanto, não há
nenhuma linha clara entre o que se poderia chamar de usos terapêuticos e melhoradores do
metilfenidato. Além disso, Mota & Pessanha (2014) lembra que o metilfenidato é uma
anfetamina, e como tal apresenta efeitos colaterais como taquicardia e insônia, e cujo uso
indiscriminado pode causar dependência.
Deste modo, a presente pesquisa busca elucidar a seguinte questão: quais as consequências do
uso indiscriminado do metilfenidato em pessoas saudáveis, a exemplo dos estudantes
universitários?
Logo surge o interesse em desenvolver uma revisão bibliográfica sobre o uso deste fármaco
no Brasil, considerando a autorização legal para indicar e fornecer este medicamento e os
usos não médicos que estão impulsionando o consumo do metilfenidato no país. Para isso,
este estudo se pauta nas seguintes hipóteses: houve um aumento considerável do uso do
metilfenidato, pois o mesmo está sendo usado tanto para o tratamento de patologias da
atenção como para melhoria de funções cognitivas em pessoas saudáveis. A utilização deste
medicamento por pessoas saudáveis pode apresentar consequências obscuras, não previstas
para este público que não tem necessidade de fazer uso deste fármaco.
Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo geral compreender o uso de metilfenidato
por estudantes para melhorar o rendimento acadêmico, e como objetivos específicos: explicar
do que se trata o metilfenidato, descrever as indicações para o uso deste fármaco e identificar
o uso indiscriminado deste medicamento entre estudante universitários.
Desta forma, esta pesquisa busca contribuir para a discussão sobre o consumo indiscriminado
do metilfenidato entre estudantes universitários, pessoas saudáveis que não precisam desta
medicação, mas a consomem como forma de obter uma melhor performance cognitiva em
uma sociedade que estimula este ideal social, muitas vezes sem analisar os malefícios que tal
automedicação pode trazer.
2. Método adotado
A pesquisa pode ser considerada como um processo no qual o pesquisador tem “uma atitude e
uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e
permanente” (MINAYO, 1994:23). Visto que o processo de pesquisa se constitui em uma
atividade científica básica que, através da indagação e (re)construção da realidade, alimenta a
atividade de ensino e a atualiza frente à realidade (MINAYO, 2001).
Com isso, a pesquisa bibliográfica, segundo Lima & Mioto (2007), implica em um conjunto
ordenado de procedimentos de busca por soluções, atento ao objeto de estudo, e que, por isso,
não pode ser aleatório. Uma vez que a pesquisa bibliográfica possibilita um amplo alcance de
informações, além de permitir a utilização de dados dispersos em inúmeras publicações,
auxiliando também na construção, ou na melhor definição do quadro conceitual que envolve o
objeto de estudo proposto (GIL, 1994).
Desta forma, este trabalho se trata de uma pesquisa bibliográfica, considerado um
procedimento metodológico importante na produção do conhecimento científico capaz de
gerar, especialmente em temas pouco explorados, a postulação de hipóteses ou interpretações
que servirão de ponto de partida para outras pesquisas (LIMA & MIOTO, 2007).
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Neste sentido, o levantamento bibliográfico ocorreu no mês de janeiro de 2015, e foi realizado
a partir das seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde (Lilacs) e no repositório Scientific Electronic Library Online (Scielo) com
publicações nacionais nos anos de 2010 a 2015. Foram utilizados os seguintes descritores
definidos pelo DeCS - Descritores em Ciências da Saúde: “Metilfenidato”, “Estudantes
Universitários”, e “Automedicação”.
Para a escolha dos artigos, foram utilizados como eixos norteadores os objetivos da pesquisa e
os seguintes critérios de inclusão: artigo completo, disponível nos meios eletrônicos,
gratuitamente, nas referidas bases de dados, com data de publicação entre 2010 e 2015, nos
idiomas português, tendo sido excluídos os artigos que não contemplavam o objetivo do
estudo.
3. O TDAH e o metilfenidato
O metilfenidato é um estimulante comercializado desde os anos 1950 na Suíça, Alemanha e
Estados Unidos. Apesar de não existir um diagnóstico específico para seu uso, essa
medicação era indicada para tratar a fadiga presente em vários quadros psiquiátricos, como
também para tratar o cansaço em idosos (ORTEGA et al., 2010).
Entretanto, este fármaco mais conhecido comercialmente no Brasil como Ritalina® (Novartis)
e Concerta® (Janssen-Cilag) passou a ser um dos psicofármacos mais utilizados na psiquiatria
infantil, frequentemente receitado para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH), tanto em crianças como, mais recentemente, em adolescentes e
adultos (SILVA et al., 2012).
O TDAH foi um termo utilizado pela Academia Americana de Psiquiatria, em 1980, para
designar todos os outros termos anteriormente utilizados, que se referiam a diferentes
diagnósticos relacionados a distúrbios de aprendizagem e a desvios de comportamento. Este
transtorno é geralmente entendido como uma complexa desordem comportamental que
envolve um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade caracterizado por distúrbios
motores, perceptivos, cognitivos e comportamentais, que surge ainda na infância, antes dos
sete anos de idade e compromete em diferentes graus pelo menos duas áreas de atuação da
criança, como vida social, emocional, escolar e/ou familiar (SILVA et al., 2012; CARNEIRO
et al., 2013).
De acordo com um estudo do Projeto Atenção Brasil estima-se que a prevalência mundial do
TDAH seja de 5,3% e a do Brasil de 4,1%, sendo mais frequente em meninos. Por muito
tempo, o TDAH foi considerado exclusivo da infância, que era superado na adolescência, mas
diversas pesquisas atuais afirmam que dois terços das pessoas que apresentam o transtorno
continuam com ele por toda a vida e somente um terço consegue superá-lo (CAVALCANTI,
2013).
Neste sentido, o metilfenidato é uma substância classificada como estimulante do sistema
nervoso central, que apresenta efeitos mais proeminentes sobre a atividade mental do que a
motora. Embora sua ação ainda não esteja clara, seu mecanismo de ação está relacionado ao
estímulo direto de receptores alfa e beta adrenérgicos ou à liberação, indiretamente, de
dopamina e noradrenalina nos terminais sinápticos, o que aumentaria o desempenho de
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funções executivas que auxiliam a realização de tarefas cognitivas, além de diminuir a fadiga
(CARNEIRO et al., 2013; BARROS & ORTEGA, 2011).
Desta forma, o metilfenidato é um psicotrópico, e como tal pode ser classificado em um dos
três grupos: psicolépticos, psicoanalépticos e psicodislépticos, sendo o metifenidato
enquadrado no segundo grupo, onde se reúnem os estimulantes e os antidepressivos. Logo,
sendo um estimulante, da família das anfetaminas, assim como a cocaína, se consumido em
certa dosagem, se prevê que auxilie no desempenho de tarefas escolares e acadêmicas, pois
aumenta a atividade das funções executivas, o que acarreta em uma maior capacidade de
concentração, além de atuar como atenuador da fadiga, apesar de existir uma inespecificidade
na abrangência dos sintomas ao qual o medicamento se propõe a tratar, revelada na própria
bula do medicamento, o que mostra uma contradição na sua prescrição, apesar de ser
altamente recomedado por psiquiatras (SILVA et al., 2012).
Contudo, vale ressaltar que o metilfenidato está incluído na Convenção de Substâncias
Psicotrópicas de 1971 da Organização das Nações Unidas. De acordo com esse compromisso,
também assumido pelo Brasil, o uso sem indicação médica desse fármaco não é autorizado
legalmente, visto que essa medicação precisa de um controle especial, pois apresenta risco de
abuso e dependência química. Além disso, este medicamento é rapidamente absorvido após a
administração oral, atinge a concentração plasmática máxima em cerca de 2h e seu limite de
dose para adultos é de 90 mg por dia. Com isso, sua utilização está restrita ao uso terapêutico
o que caracteriza os outros usos como algo ilegal (MOTA & PESSANHA, 2014).
Outra ressalva para o consumo indiscriminado deste fármaco é que o metilfenidato apresenta
algumas interações medicamentosas, tais como o aumento dos níveis plasmáticos de:
anticonvulsivantes (fenobarbital, fenitoína, primidona), antidepressivos inibidores da
recaptação seletiva da serotonina, antidepressivos tricíclicos (imipramina, clomipramina,
desipramina) e inibição do metabolismo de anticoagulantes cumarínicos (varfarina). Além
disso, seu uso também pode causar interações medicamentosas sérias com: agonista alfa 2 de
ação central, clonidina e diminuir os efeitos dos anti-hipertensores, principalmente os antihipertensivos de ação central, e geralmente se associado com inibidores da
monoaminooxidase (MAO) pode causar grave hipertensão ou crise hipertensiva (MOTA &
PESSANHA, 2014).
4. O uso do metilfenidato por estudantes universitários
Cruz et al., (2011) analisaram as características de uso do metilfenidato entre os estudantes de
Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no ano de 2009, onde foram incluídos
ao acaso 186 (18,1%) estudantes dos seis anos do curso médico (n=1.025), sendo 58,1% dos
entrevistados do sexo masculino e a média de idade foi 22,5 ± 2,8 anos. A maior parte
(n=133) dos alunos reside com a família (71,5%) e 46,7% afirmaram ter coeficiente de
rendimento (CR) escolar igual ou superior a 8.
Dentre os estudantes entrevistados por Cruz et al., (2011), 8,6% (16/186) afirmaram já terem
feito uso de metilfenidato sem prescrição médica em algum momento na vida, sendo maior o
consumo pelos alunos do sexo masculino (13% vs. 2,6%). A maioria dos estudantes que
afirmou já terem utilizado este medicamento apontaram que a razão para o uso foi o aumento
de rendimento escolar (87,5%) e dentre esses estudantes, 7,5% sabiam onde comprar o
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metilfenidato sem prescrição médica, além disso, 35,5% dos entrevistados sabe de outros
universitários que fazem o uso inadequado do metilfenidato ou consideram que o consumo
dessa substância seja feita de forma abusiva (32,8%).
Pergunta
Você conhece algum estudante desta faculdade que faz mau uso da
ritalina?
Você sabe onde pode comprar ritalina sem receita médica?*
Já usou outro tipo de anfetamina?
n (%)
Sim
Não
6 (35,5)
120 (64,5)
14 (7,5)
8 (4,3)
171 (92)
178 (95,7)
Na sua opinião, a ritalina é uma droga utilizada de forma abusiva
61 (32,8)
110 (59,1)
nesta faculdade?*
Sua razão para usar ritalina é melhorar seu rendimento na
2 (12,5)
14 (87,5)
faculdade?**
(*) A soma não corresponde a 100% devido ao preenchimento incompleto dos questionários; (**) nesta
pergunta, foram analisadas só as respostas daqueles usuários de metilfenidato.
Tabela 1 – Principais respostas dos estudantes de Medicina da UFBA às perguntas do questionário aplicado
(Cruz et al., 2011:5)
Tais dados sugerem que o número de pessoas que já fizeram uso deste medicamento possa ser
ainda maior do que o encontrado na pesquisa, ressaltando-se o preocupante fato de que 7,5%
dos entrevistados sabem onde comprar metilfenidato sem receita médica (7,5%), apesar do
fato de existir a legislação de que para adquirir este medicamento, assim como anfetaminas, é
exigida notificação de receita A (cor amarela), de difícil acesso até mesmo para médicos. O
que demonstra a falta de fiscalização quanto ao acesso das pessoas aos remédios controlados
no nosso país.
Carneiro et al., (2013) realizaram um estudo transversal, com 156 alunos do curso de
Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda, localizado na cidade de Volta Redonda,
no Estado do Rio de Janeiro, no período de agosto a novembro de 2011 a fim de identificar a
prevalência do uso indiscriminado da substância metilfenidato entre esses estudantes.
Entre os participantes, 72 (45%) eram do sexo feminino e 88 (55%) do sexo masculino, sendo
que 94,23% (147) desses participantes já ouviram falar da droga metilfenidato e 62,82% (98)
do total conhecem o mecanismo de ação (CARNEIRO et al., 2013).
Quanto ao uso indiscriminado deste medicamento, 23,72% (37) relatam que já fizeram ou
fazem o uso indiscriminado da droga e apenas 2,56% (4) utilizam a medicação sob prescrição
médica para o tratamento de TDAH (CARNEIRO et al., 2013).
Dentre as pessoas que utilizam o medicamento indiscriminadamente, 22 são homens,
representando 25% da amostra masculina, e 15 são do sexo feminino, representando cerca de
20% das mulheres que participaram da pesquisa (CARNEIRO et al., 2013).
Das pessoas que fazem o uso indiscriminado, 64,86% (24) informaram ter apresentado efeitos
colaterais, sendo os mais frequentes, taquicardia (24%) e ansiedade (24%) seguidos de
tremores (20%), perda de apetite (17%) e boca seca (15%). Mas mesmo apresentando efeitos
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colaterais, 27,03% (10) continuam fazendo o uso da droga de acordo com as necessidades
acadêmicas, além de 51,35% (19) afirmarem sentirem-se cansados após o término do efeito
(CARNEIRO et al., 2013).
Figura 1 – Efeitos colaterais mais frequentes em função do uso de metilfenidato
(Carneiro et al., 2013:56)
Desses 23,72% (37) que fazem uso indiscriminado do metilfenidato, 13,51% (5) usam o
fármaco pra estudar para todas as provas do período letivo, e 10,81% (4) tiveram que
aumentar a dose da droga para tentar obter o mesmo efeito de quando iniciou o uso
(CARNEIRO et al., 2013).
Isso ocorre porque 86,49% (32) dos que usam indiscriminadamente relataram melhora do
poder de concentração e ainda 54,05% (20) observaram uma melhora do rendimento
acadêmico quando começam a usar este medicamento (CARNEIRO et al., 2013).
A partir das informações coletadas, é preocupante o aumento progressivo do uso do
medicamento, visto que o metilfenidato é um fármaco do grupo dos anfetamínicos, que são
consideradas drogas de abuso e a probabilidade de dependência a esse tipo de drogas é
considerada forte, o que parece não ser levado em consideração por esta população, que
aumenta constantemente seu uso para melhorar os efeitos.
Mota & Pessanha (2014) ao entrevistar 150 universitários de Campos dos Goytacazes, RJ, dos
cursos de farmácia e medicina de ambos os sexos, no segundo semestre de 2012, onde 65%
dos entrevistados foram do sexo feminino e 35% do sexo masculino, e 60% dos universitários
estavam na faixa etária entre 21 e 25 anos, 34% entre 18 e 20 anos, 4,6% entre de 26 e 30
anos e 1,4% acima de 30 anos, identificaram que 60% dos universitários responderam que já
utilizaram o metilfenidato durante a faculdade, enquanto 40% relataram nunca terem utilizado
o medicamento. Dos universitários que afirmam que já utilizaram o fármaco, 51% pertencem
ao curso de medicina e 49% cursam farmácia.
A maioria dos universitários recebeu indicação de colegas de faculdade (46%), amigos (33%),
farmacêuticos (10%), médicos (9%) e/ou familiares (2%) para utilizar este medicamento. E
em 93,4% dos casos, os universitários começaram a utilizar o metilfenidato após o ingresso na
universidade e 6,6% relataram já ter utilizado antes (MOTA & PESSANHA, 2014).
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É possível verificar que 79% dos alunos adquiriram o medicamento em drogaria, 11% através
de doação de amigos e 10% por meio de amostra. Nota-se que 87% fez aquisição do
medicamento sem prescrição médica e 13% adquiriram o fármaco com receita médica
(MOTA & PESSANHA, 2014).
Em relação à dosagem de metilfenidato utilizada pelos universitários: 90% relataram utilizar o
metilfenidato de 10mg, 6,6% utilizaram o de 20mg e 3,7% utilizaram o de 40mg. Com a
relação à posologia do metilfenidato, as mais utilizadas são de 12/12 horas (39%), de 6/6
horas (30%) e de 4/4 horas (10%) (MOTA & PESSANHA, 2014).
Quantos aos motivos apresentados por universitários para o uso de metilfenidato: 92%
utilizaram em época de prova e 8% utilizaram para melhorar o rendimento na sala de aula e
nos estágios (MOTA & PESSANHA, 2014).
Em relação aos efeitos colaterais, 86,6% dos universitários afirmaram já terem apresentado
algum tipo de efeito colateral relatado na bula do metilfenidato e 13,4% afirmaram nunca ter
apresentado efeito colateral (MOTA & PESSANHA, 2014).
Os efeitos colaterais mais frequentes após utilização do metilfenidato apontado por 86,6% dos
universitários foram: insônia (58%), irritabilidade (53%), diminuição de apetite (46%),
ansiedade (46%), náuseas (44%), cefaléias (38%), euforia (33%), dor abdominal (27%),
tiques (24%), tristeza (23%), desinteresse (19%), tonteira (19%) e choro (14%) (MOTA &
PESSANHA, 2014).
Os universitários continuam utilizando o metilfenidato no momento em 64,4% dos casos e
35,5% relataram não estar utilizando o fármaco. Dentre os universitários que não estão
utilizando o metilfenidato, 65,7% relataram que é devido à dificuldade de encontrar o fármaco
no mercado e por doenças e 34,3% devido aos efeitos colaterais (MOTA & PESSANHA,
2014).
Porém, 57,7% das respostas os universitários afirmaram que ao término do curso pretendem
continuar utilizando o metilfenidato e os principais objetivos para isso são: concurso público
(53,8%), residência (69,2%), mestrado / doutorado (28,8%) e entrevista de emprego (5,7%)
(MOTA & PESSANHA, 2014).
Quando questionados sobre a eficácia do metilfenidato, ou seja, se durante as vezes que
utilizaram o medicamento seus objetivos foram todos alcançados, 91% afirmaram que sim,
enquanto 9% responderam que não. Tal dado colabora para que os mesmos, apesar dos efeitos
colaterais, pretendam continuar utilizando o medicamento (MOTA & PESSANHA, 2014).
5. O metilfenidato e o aprimoramento cognitivo.
O metilfenidato é uma substância estimulante, do grupo das anfetaminas e é classificado
como droga psicotrópica. Por isso este medicamento é considerado, assim como as
anfetaminas, droga de abuso, visto que a probabilidade de dependência a este tipo de drogas é
considerada forte (MOTA & PESSANHA, 2014)
Logo, o metilfenidato é um remédio controlado, que é indicado, sobretudo, para o tratamento
de pessoas com TDAH. Porém, são conhecidos ao menos três usos “não médicos” desse
remédio: o recreativo, para aumentar o tempo de vigília e disposição; o estético, para auxiliar
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o emagrecimento; e o aprimoramento cognitivo, para melhorar o desempenho cognitivo
profissional e acadêmico. Com isso, pessoas saudáveis (que não apresentam doença que
justifique o uso do medicamento), apesar da restrição citada, passaram a utilizar esse fármaco
para melhorar a capacidade de concentração, atenção e estado de alerta (ORTEGA et al.,
2010; BARROS & ORTEGA, 2011)
Essa prática tornou-se alvo de preocupação em países como Canadá, Estados Unidos e
Inglaterra e foi denominada de “Aprimoramento Cognitivo Farmacológico”, ou
“aperfeiçoamento cognitivo”, visto que a origem do termo deve-se a possibilidade de uma
droga “aperfeiçoar” artificialmente uma capacidade já presente, o que levanta questões éticas
acerca do uso de drogas psicoestimulantes em indivíduos saudáveis para aprimorar
artificialmente a função cognitiva (ORTEGA et al., 2010; MOTA & PESSANHA, 2014).
A potencialização do desempenho cognitivo apresentado pelo medicamento atrai pessoas
submetidas a situações que exijam uma maior capacidade neste sentido. Por isso os
universitários, devido a suas obrigações e cobranças internas, representam grande parcela dos
usuários que utilizam o metilfenidato como “aperfeiçoamento cognitivo”, visto a maioria não
apresentar indicações clínicas, como TDAH que justifique o consumo deste medicamento
(CARNEIRO et al., 2013).
De acordo com o Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos (IDUM), a
venda do metilfenidato aumentou em 2816% entre os anos de 2000 e 2010: em 2000 foram
vendidas 71 mil caixas desse medicamento e em 2010 o número passou para 2 milhões.
Ressalta-se que na maioria dos casos, o seu uso não está relacionado à doença, mas ao alcance
de melhor performance de jovens e adultos nos estudos ou como estimulante em baladas e
festas. Dessa forma, os universitários possuem o maior índice de uso desses medicamentos,
muitas vezes conseguidos sem prescrição médica, de forma ilegal e consumidos de maneira
abusiva (CAVALCANTI, 2013).
Este crescimento da venda do metilfenidato, inclusive de forma ilegal, pode ter sido
influenciado pela explosão publicitária no mundo sobre o TDAH e a Ritalina® a partir do
final da década de 80 (CAVALCANTI, 2013). Neste contexto, Ortega et al. (2010)
analisaram os principais periódicos brasileiros de psiquiatria, assim como os principais jornais
e revistas de grande circulação, no período entre 1998 e 2008, e identificaram 103 publicações
sobre o metilfenidato, sendo 72 reportagens publicadas nos jornais e revistas de grande
circulação e 31 artigos dos periódicos de psiquiatria. Ressalta-se que na Folha de São Paulo,
que se direciona a leitores informados, com condição financeira mais elevada, foram
encontradas 32 reportagens sobre o tema, enquanto no Jornal Extra, dedicado às classes
populares, não houve nenhuma reportagem sobre este medicamento no período analisado.
A predominância do tema discutido nas publicações científicas e nas reportagens destinadas
ao grande público é, de fato, o uso do metilfenidato para tratamento do TDAH. Todavia, os
benefícios do uso do metilfenidato, como a remissão dos sintomas do TDAH (dificuldades de
concentração e impulsividade), melhoria do desempenho escolar e acadêmico, são abordados
em 74% dos artigos científicos e em 40% das reportagens destinadas ao grande público
(ORTEGA et al., 2010).
Já os efeitos colaterais do uso do metilfenidato aparecem em 40% dos periódicos científicos e
em 22% das publicações leigas, apesar dos artigos científicos apresentarem mais detalhes
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sobre estes efeitos, a permanência do transtorno e os efeitos do uso prolongado da medicação
não são mencionados em nenhum artigo que aborda os efeitos colaterais, nem em qualquer
outro artigo. Além disso, o tempo de uso da medicação é raramente abordado nos dois tipos
de publicações, e o questionamento sobre o risco de dependência ao estimulante com o uso
prolongado é, quase sempre, sobreposto pela discussão sobre os benefícios do medicamento
em evitar futura dependência de drogas ilícitas (ORTEGA et al., 2010).
Diante disso, Barros & Ortega (2011) investigaram as representações sociais de 20 estudantes
universitários, sete homens e 13 mulheres, entre 18 e 25 anos, oriundos de cursos das áreas de
saúde e humanas, sobre o uso de metilfenidato para aprimorar o desempenho cognitivo em
pessoas saudáveis.
A análise dos dados revelou que a maioria dos entrevistados não tinha informação prévia
sobre o tema apesar de conhecer a prática do “aprimoramento cognitivo” através do uso do
café e de outros remédios, sem ser o metilfenidato. Mas quando questionados acerca das
motivações que levavam uma pessoa a usar medicamentos para otimizar o rendimento
acadêmico, a “pressão social” foi a principal categoria citada, uma vez que a cobrança social
exige um ritmo intenso e uma postura competitiva, tanto com os outros como consigo mesmo
que contibui para a pessoa às vezes enxergar o uso de medicamentos como o único recurso
viável para ela ter um desempenho que é cobrado dela. E que cumprir a exigência social de
excelente performance é importante por este ser o principal meio de inserção no grupo,
buscando tornar-se o melhor para conseguir realizar os desejos (BARROS & ORTEGA,
2011).
A segunda categoria mais discutida foi a “segurança no uso do medicamento”, alguns
entrevistados entenderam que a legalização de um remédio depende de pesquisas que
confirmem sua segurança e como o metilfenidato já foi aprovado para o tratamento do
TDAH, entendem que não haveria problemas em usá-lo para aprimoramento. Outros
acreditam que o uso de um remédio para fins diferentes do original precisaria de mais
pesquisas para esta nova aplicação. Além disso, foi lembrado que a segurança de um fármaco
em geral depende de suas interações com outras substâncias e com o estado físico da pessoa e
que só conhecer os possíveis riscos não torna o uso do fármaco seguro (BARROS &
ORTEGA, 2011).
A terceira categoria mais citada trata dos “objetivos do aprimoramento cognitivo”, que,
segundo os participantes, seriam: ampliar capacidades como ficar mais ativo e mais atento;
melhorar o desempenho de tarefas e atividades que envolvam habilidades cognitivas; e,
finalmente, atender o excesso de expectativas sociais de performance tanto para estar inserido
no grupo como também para destacar-se (BARROS & ORTEGA, 2011).
Outra categoria que surgiu de forma significativa foi o “direito de escolher o
neuroaprimoramento farmacológico”, onde alguns argumentaram que as pessoas deveriam ter
o direito de decidir pela prática enquanto outros afirmaram que as pessoas não deveriam ter
esse direito, e quase todos concordaram que a propaganda seria uma forma de coerção social
para o uso do medicamento (BARROS & ORTEGA, 2011).
Por isso a categoria seguinte “a influência dos interesses comerciais da indústria farmacêutica
na liberação e incentivo à prática” também foi debatido e houve certa unanimidade nas falas
do grupo sobre: a possível negligência com a segurança do remédio para aumentar os lucros
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da empresa; a forte influência da indústria farmacêutica e da publicidade na criação de
demanda por um produto; a possibilidade de a comercialização desse produto intensificar
ainda mais desigualdades socioeconômicas; o risco de a publicidade funcionar como uma
coerção para o neuroaprimoramento farmacológico; e a possibilidade de dependência
psicológica, seja pelo hábito de usar o “facilitador”, seja pelo incentivo da indústria
farmacêutica (BARROS & ORTEGA, 2011).
Quanto à “honestidade de usar o neuroaprimoramento farmacológico”, houve a compreensão
de que essa prática é desleal, pois o remédio melhoraria uma capacidade que a pessoa não tem
naturalmente, como uma estudante justificou “A academia não é um esporte que necessite de
doping (...) pois todo mundo pode chegar junto no mesmo lugar, né?” (BARROS &
ORTEGA, 2011:357).
Sobre a “distribuição igualitária do metilfenidato” houveram divergências, visto que alguns
participantes afirmaram que o aprimoramento cognitivo farmacológico não deve estar
disponível para todos. Porém, a maioria acredita que o uso de um “aprimorador cognitivo”
poderia ser liberado se algumas “condições” fossem garantidas como: a segurança no uso do
remédio, a ampliação da consciência do público; e a real disponibilidade do fármaco para
todos (BARROS & ORTEGA, 2011).
E, finalmente, a respeito da “medicalização da condição humana”, os entrevistados
concordaram que a possibilidade de usar um remédio (metilfenidato) para otimizar a
performance cognitiva é uma expressão da atual tendência de pensar os problemas e limites
pessoais como condições médicas que podem ser corrigidas por um fármaco, e que isso se
deve ao excesso de prescrição médica e a banalização no uso de remédios em decorrência da
automedicação (BARROS & ORTEGA, 2011).
É preocupante o fato de estudantes de medicina, que estudam os medicamentos, seus efeitos e
as prescrições, representem o grupo de estudantes que mais comumente faz uso
indiscriminado da droga, sem se preocupar com os efeitos colaterais, onde se destacam
anorexia e insônia, seguidas de dor abdominal e cefaléia, em curto prazo e a dependência, em
longo prazo. O fato desses estudantes serem sobrecarregados com vasto conteúdo e pelos
momentos de estresse, que correspondem principalmente ao período de avaliações não
justifica o uso indiscriminado do metilfenidato pelos mesmos, mas demonstra a necessidade
das universidades adotarem meios dos estudantes lidar com o estresse e a pressão do curso
(CARNEIRO et al., 2013).
Por isso, Mota & Pessanha (2014), sugeriram que as instituições realizassem um trabalho de
conscientização dos universitários sobre o uso do metilfenidato ressaltando que o uso sem
indicação médica é prejudicial à saúde. Além disso, é importante também realizar um trabalho
informativo com farmacêuticos e donos de drogarias sobre as vendas do metilfenidato sem
receita, já que na Portaria 344/98 o metilfenidato faz parte do grupo das anfetaminas e só
pode ser vendido com retenção de receita A, mas como os jovens tem demonstrado facilidade
em adquirir este medicamento sem esta receita, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), quer ampliar o controle dessa droga consumida indiscriminadamente em larga
escala em diversos estados brasileiros.
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6. Conclusão
O uso do metilfenidato, fármaco associado ao tratamento do TDAH, teve um aumento de
vendas considerável no país, fato que pode estar relacionado a expansão do uso deste
medicamento para além do tratamento de patologias da atenção, mas também para fins
recreativos, estéticos e, principalmente, para a melhoria de funções cognitivas em pessoas
saudáveis.
Isso demonstra que embora este medicamento psicoestimulante, da família das anfetaminas,
tenha sua aquisição restrita, alguns estudantes universitários, das pesquisas analisadas, que
admitiram usar ou conhecer outros estudantes que fazem uso deste medicamento para
melhorar seus desempenhos acadêmicos, afirmaram saber como obter este fármaco mesmo
sem prescrição médica.
É importante ressaltar que a utilização deste medicamento pode apresentar efeitos colaterais,
tais como taquicardia e insônia, além de algumas interações medicamentosas, e, a longo
prazo, dependência. Os universitários dos trabalhos selecionados que afirmaram fazer uso
deste medicamento relacionaram ainda alguns outros efeitos colaterais, demonstrando que os
riscos desse medicamento em pessoas saudáveis podem apresentar consequências obscuras,
ainda não estudadas e previstas para este público que não tem necessidade de fazer uso deste
fármaco.
Contudo, esses mesmos estudantes que relataram sentirem os efeitos colaterais, a maioria
relatou que apesar disso pretende permanecer utilizando o medicamento, ou até aumentar sua
dose, devido aos benefícios do mesmo compensar esses malefícios, discurso similar ao
encontrado nas publicações sobre o metilfenidato em periódicos científicos e em outros
voltados para o grande público.
Desta forma, observou-se que há uma grande publicidade acerca do tema, acrescida ao ideal
da sociedade que estimula as pessoas a conseguir uma melhor performance cognitiva, o que
contribui que estudantes universitários decidam pela automedicação para conseguir os
resultados esperados para eles, sendo por isso necessário que as instituições de ensino
invistam em campanhas de conscientização sobre o consumo indiscriminado do metilfenidato
entre esses estudantes, além de outras formas de aumentar o desempenho acadêmico sem
fazer uso deste fármaco, bem como os órgãos fiscalizatórios precisam aumentar o controle da
dispersão desta droga nas farmácias brasileiras.
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