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Sistema da Qualidade e Metrologia em Química: Treinamento de RH na Universidade Villa de Paula, P.R. (IBILCE/UNESP/São José do Rio Preto) Furlan, Elaine G. M. (UFSCar) Hojo, Ossamu (IQ/UNESP/Araraquara) Fernando Fertonani (IBILCE/UNESP/São José do Rio Preto/Brasil) Marques dos Santos, C.C. (IAL- São José do Rio Preto) Batistuti, José Paschoal (Faculdade de Farmácia/UNESP/Araraquara) Resumo O presente estudo retrata a pró-atividade de docentes, discentes e do setor privado, representado pelas empresas parceiras, no ensino da metrologia na universidade. O estudo está baseado nos métodos provenientes do Team Teaching e em outros que contemplam o ensino, em busca de inovação e melhoria no tocante ao aprendizado universitário. Para tanto, o estudo demonstra a necessidade de revisão de conceitos de modo a diminuir a visão determinística aumentando a visão probabilística de mundo, que o meio acadêmico brasileiro, principalmente nos cursos das áreas de ciências exatas e biológicas, aplica na formação de recursos humanos. O estudo da Metrologia em Química bem como do Sistema da Qualidade iniciado na graduação e continuado na pós-graduação, perfaz a iniciativa inovadora de ensino, uma vez que os referidos temas fazem parte do cotidiano de boa parte dos recursos formados pela universidade. Assim, o presente estudo tem como objetivo maior permitir uma ruptura de paradigmas entre docentes e discentes quanto a compreensão de suas incompatibilidades de desempenho de modo a prestigiar a coletividade com recurso humano devidamente versado no sistema da qualidade. Desde o início do estudo, em 1999, até o presente momento os resultados obtidos são substancialmente satisfatórios dos quais seguem: 1- Cumplicidade entre o corpo docente mitigando assim o isolamento acadêmico; 2- Oportunidade de diversificação de métodos de trabalho em conjunto com docentes de outros departamentos e profissionais do setor privado; 3- Independência no tocante a manifestação de pontos de vista por parte do corpo discente, sendo esse tratado como agente ativo na equipe de trabalho. 4- Formação de RH devidamente iniciado no Sistema da Qualidade e na cultura Metrológica. 5- Desoneração do setor privado quanto à disponibilização de recursos na formação profissional do discente recém-contratado. Introdução O presente estudo tem por objetivo promover ampla divulgação de um trabalho que é desenvolvido há anos por um grupo de docentes instalados em diversas instituições de ensino. Neste grupo de heterogeneidade impar um objetivo lhes é comum: o desenvolvimento de uma proposta inovadora para ser aplicada ao Ensino Universitário. No ano de 1999 a disciplina intitulada “Introdução a Metrologia em Química” foi introduzida como curso de atualização e oferecida aos discentes de graduação das universidades públicas paulista. A UNESP, campus de Araraquara, foi a primeira a oferecer a disciplina em caráter de disciplina optativa aos discentes do Instituto de Química, IQAraraquara. A princípio, o objetivo fora de introduzir “a Cultura Metrológica e o Sistema da Qualidade” aos discentes de modo a vislumbrar uma mudança cultural. Para tanto, o pensamento determinístico, praticado na academia brasileira, comumente nas áreas das ciências exatas e biológicas, foi substituído pela ótica probabilística. Na ótica probabilística há maior tolerância à incapacidade técnica, quando detectada, e docente e discente trabalham juntos no tocante a melhoria das faltas por meio de treinamento e diálogo. A ruptura de paradigma também permite a inserção do conceito de incerteza ao discente dando a esse uma nova visão de mundo. A ótica probabilística, quando aplicada ao acadêmico, possibilita uma expressiva melhora na convivência dentro da academia contribuindo assim na melhora da formação de RH. Com a melhor formação dos discentes, devidamente treinados e preparados para a propagação da Cultura Metrológica e do Sistema da Qualidade, estes também carregam consigo valor agregado desonerando o setor privado quanto à capacitação do recém-contratado. Para tanto, o grupo de docentes responsáveis pelo desenvolvimento da disciplina de “Metrologia em Química e Qualidade” trabalhou de modo a contemplar a coletividade. Após longo período de discussão sobre a necessidade da multidisciplinaridade a solução encontrada foi a de congregar diversas áreas da academia, principalmente dentro da mesma instituição. Na academia é de veras comum pesquisadores, especialistas em suas áreas, desenvolverem trabalhos sozinhos e as vezes até desarticulado no tocante ao real potencial do estudo e do corpo que compõe a instituição. Isso ocorre justamente por conta da ótica determinística praticada na academia, o que de certa forma é contraproducente limitando o impacto de um determinado estudo ou trabalho. Frente a este desafio, o grupo sendo constituído de um corpo docente com longa experiência acadêmica, de pesquisa e de desenvolvimento pessoal, lançou uma proposta inovadora. A proposta fora completamente vinculada a uma iniciativa tímida, porém muito bem recebida pelos discentes da comunidade universitária: elaborar projetos de pesquisa que destacam a participação coletiva de discentes e docentes, desde a elaboração, discussão dos modelos e técnicas e dos resultados, além da extensão dos trabalhos às empresas parceiras. A fim de conquistar o objetivo proposto, foi escolhido o modelo Tean Teaching possibilitando assim a adequação de diversos métodos. O modelo estimula a participação dos docentes, discentes, inclusive os egressos inseridos no mercado de trabalho, e das empresas parceira. Perspectiva de mudança cultural no ensino dentro da academia A aplicação do Tean Teaching determina que o docente tenha uma postura menos autoritária e individualista (Gonçalves, 2004). A adoção dessa postura permite ao docente melhora substancial no seu relacionamento com os outros docentes bem como otimiza a sua relação com os discentes. Além do aperfeiçoamento do relacionamento interpessoal docentedocente e docente-discente, a Tean Teaching contribui para a distribuição das responsabilidades dentro do grupo em questão de modo a mitigar sobrecarga de funções. Uma vez que há distribuição das atividades o atendimento das metas propostas para o trabalho é obtido com maior efetividade. Em outras palavras, no caso do ensino superior, as atividades entre docente e discente começam na preparação do trabalho e se estende para o convívio dentro da sala de aula. A participação ativa dos discentes juntamente com os docentes permite ao grupo avaliação e reflexão constantemente onde ações corretivas necessárias sejam tomadas de modo a buscar a melhoria contínua, fato que demonstra uma possível mudança cultural. De acordo com Pérez Gomes (1998) cultura é um conjunto de significados, expectativas e comportamentos onde há o compartilhamento social desses facilitando e ordenando substancialmente às mudanças sociais, produções simbólica e material bem como as realizações individuais e coletivas do grupo que partilha da mesma cultura. Sendo assim, os valores, significados, sentimentos e tudo o que envolva a comunidade serão frutos dos resultados obtidos pela construção social. Portanto, a cultura vivenciada dentro da academia é o reflexo da conduta e dos hábitos praticados dentro da própria instituição, sejam esses positivos ou deletérios. Tomando a idéia de cultura e comunidade dissertada, a mesma reflexão pode ser feita quanto a vivência dentro de uma empresa, sendo esta também uma instituição. A universidade quanto instituição de ensino não pode ser tida como algo diferente de uma escola. Dessa forma, também se aplica a está os conceitos encontrados na cultura escolar. Em História da Educação, Julia (2001) disserta que a cultura escolar é “um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas” (p. 10). Segundo a autora, os elementos essenciais à constituição da cultura escolar são: o espaço escolar específico, cursos graduados em níveis e o corpo profissional. Portanto, a cultura escolar está alicerçada em três que sustentam seu trabalho para o entendimento dessa cultura: “A primeira via seria interessar-se pelas normas e pelas finalidades que regem a escola; a segunda, avaliar o papel desempenhando pela profissionalização do trabalho de educador; e a terceira, interessar-se pela análise dos conteúdos ensinados e das práticas escolares” (Julia, 2001, p.19). Ainda de acordo com Julia (op. cit) é importante salientar a importância das transferências culturais que foram operadas pela escola e as marcas que esta deixou nos indivíduos que por ela passaram. Neste sentido, a proposta do trabalho coletivo e participativo foi pensada como uma forma de provocar discussões e possíveis mudanças nas práticas do ensino superior, proporcionando aos discentes e docentes alternativas para aprender e para ensinar, ou seja, um olhar ampliado sobre situações cristalizadas com perspectivas de mudanças culturais. Dentro do ambiente educacional, o modo de pensar e agir determina as estratégias a serem aplicadas na elaboração da disciplina e das aulas. O pensar e o agir também determina a interação entre os indivíduos desta comunidade além de construirem os rituiais e os mitos frutos do discurso e das ações que organizam o dia a dia da instituição (Frago, 1998). Segundo Frago (op. cit.) a historiografia educativa, em parte, tem se preocupado mais com as normas que regularizam a educação do que com a realidade das práticas escolares. A escola oferece, em certas ocasiões, a imagem de organização uniforme, sem capacidade de gerar uma cultura interna específica e autônoma. Neste sentido, destaca-se a importância de desenvolver e construir propostas com perspectivas de autonomia para possíveis alterações culturais no ambiente escolar. A partir da reflexão sobre cultura escolar, aceitando que a universidade também seja uma escola, uma atitude inovadora foi tomada. Para isso, docentes e discentes foram ouvidos e seus modos de pensar e agir dentro da universidade foram a principal referência para dar início à mudança cultural. Dessa forma foi possível identificar as expectativas de docentes e discentes no tocante ao curso a disciplina. A cultura praticada na universidade, assim como na escola, forma os discentes e estes reagem aceitando ou recusando, criando situações inesperadas de acordo com cada docente que participa do processo de formação. Nos contatos entre pares ou entre docentes e discentes as variáveis que compõem a cultura são veiculadas, questionadas, reafirmadas ou modificadas. Para tanto a necessidade de diversificação e adequação dos mecanísmos aplicados ao ensino e ao treinamento se mostram importantes. Na universidade e no meio que absorverá o RH formado por esta, o aprendizado é constante. Tal fato reafirma a necessidade de diversificação e adequação dos métodos usados, uma vez que o indívido escolheu uma carreira. Neste contexto o conhecimento adiquirido ao longo do processo de formação auxiliará na construção das identidades profissionais. De forma ciclica a busca pela melhoria contínua, cultivada no indivíduo com boa formação e bem treinado, passa a fazer parte do seu cotidiano. Portanto, dentra as propostas para o desenvolvimento deste trabalho estão: a preocupação com uma formação profissional e pessoal do discente dentro do Sistema da Qualidade; a diversificação dos métodos aplicados ao ensino e treinamento que construirão o conjunto de ideias e referenciais; proporcionar trocas de experiências e novas formas de atuação no na academia que serão refletidas nas empresas. E, neste sentido, concordamos com Saric e Soares (2009) quando afirmam que o modelo do Team Teaching não deve ser imposto pela instituição. O modelo deve ser adequado pelos docentes ou responsáveis pelo treinamento de acordo com necessidade de procurar novos rumos para a prática profissional, com o objetivo de expandir os horizontes em relação ao ensino e treinamento. Tanto na universidade com nas empresas, a aplicação do modelo é possível, pois em ambos ambientes investigar, desenvolver e aprimorar técnicas e conhecimentos requer inovação. O modelo Team Teaching permite ser aplicado em diversas categorias, como é apresentado nos estudo realizado por Maroney (1995). O modelo também já teve suas vantagens e desvantagens dissertadas por Goetz (2000). Porém, o presente trabalho apenas vislumbra o compartilhamento de uma experiência de aprendizado, que apresentou bons resultados, usando o modelo Tean Teaching no ensino dentro da universidade. O contexto de uma proposta inovadora para o Ensino Superior brasileiro A proposta de trabalho que desenvolvemos e divulgamos neste espaço começou como uma disciplina optativa que era oferecida anualmente para o curso de graduação em Química, no de 2002, no Instituto de Química da UNESP/Araraquara. Essa disciplina resultou de algumas atividades desenvolvidas desde 1998 com a inserção do tema Qualidade na disciplina de Química Analítica Quantitativa, com 8 horas-aula dedicadas ao tema. A partir de 2002 a disciplina “Metrologia em Química e Qualidade” foi inserida na estrutura Curricular dos Cursos de Licenciatura e Bacharelado em Química e Bacharelado em Química Tecnológica, na modalidade de disciplina optativa. Portanto a opção por uma disciplina optativa e com esta proposta baseou-se no princípio de que os discente cursando os dois últimos anos, que escolhessem cursá-la, estariam suficientemente seguros de suas escolhas. E esse princípio ponderou tanto em relação à atuação profissional, quanto da importância e/ou necessidade de cursar uma disciplina diferenciada em relação aos padrões presentes no ambiente acadêmico. A princípio o número de discentes foi limitado a apenas vinte de modo a permitir um trabalho com mais proximidade e interação. No ano seguinte a disciplina foi inserida no Curso de Pós-Graduação (PG) em Química da UNESP campus de Araraquara, como disciplina em Tópicos Especiais, não obrigatória, de início, com carga horária de 120 horas-aula. A inserção da disciplina na Pós-Graduação se deu principalmente pela demanda e interesse dos discentes e de alguns egressos do curso de Química que já estavam atuando no mercado de trabalho. Posteriormente, em 2005, foi elevada a condição de disciplina regular do programa de PósGraduação, por sugestão da CAPES, entidade que gerencia os cursos de Pós-Graduação no Brasil. Na atualidade, a disciplina é oferecida nos Campi de Araraquara e de São José do Rio Preto, na Graduação e na Pós-Graduação. Em relação à participação docente há colaboração de docentes que atuam na UNESP campus de Araraquara no Instituto de Química (Departamentos de Química Analítica, Bioquímica e Química Tecnológica), UNESP campus de Araraquara na Faculdade Ciências Farmacêutica (Departamento de Alimentos e Nutrição); UNESP campus de São José do Rio Preto (Departamento de Química e Ciências Ambientais); UFSCar campus de Araras-SP (Departamento de Ciências da Natureza, Matemática e Educação); Universidade de São Paulo que trabalham em colaboração com algumas empresas parceiras tais como: OXITENO/SP; OIKOS-Aguapé Controle Ambiental – Pirassununga/SP; Espaço Magistral - Lasaem Ltda. – Araraquara/SP; Grupo IVAI A&A; Instituto Adolfo Lutz – São José do Rio Preto/SP, INMETRO – Xerém/ RJ e Grupo são Martinho A&A - Ribeirão Preto/ SP. O desenvolvimento da disciplina é dividido em módulos os quais são ministrados por docentes das universidades e tem seu conteúdo complementado pelos colaboradores das empresas parceiras. A participação dos colaboradores tem como premissa trazer para os discentes a vivência e a pratica empresarial uma vez que esses são, em geral, pessoas em diferentes níveis de atuação no mercado permitindo evidenciar as diferentes maneiras de se tratar e apresentar conteúdos, traduzindo a cultura de cada empresa. Deve ser observado que o grupo planeja, acompanha o desenvolvimento e avalia todas as atividades que compõem a disciplina, com ênfase a instigar a participação discente nas situações de sala de aulas, propiciando interações com os docentes, colaboradores e pares. Embora pareça bastante técnica a descrição da disciplina, faremos uma breve exposição dos tópicos com a intenção de demonstrar a abrangência de temáticas sociais, históricas e culturais. As temáticas são trabalhadas por conteúdos específicos abordados por diferentes métodos, incluindo a participação de mais de um docente responsável ou considerado especialista em um determinado assunto. O primeiro tópico abordado trata de questões a respeito do que é a Metrologia em Química, para que ela serve e qual a sua relação com o indivíduo (cidadão e/ou profissional). Dentre essas questões são discutidos aspectos relacionados ao cotidiano de como estão distribuídos os Sistemas Metrológicos no mundo. Também é discutida qual relação dos Sistemas Metrológicos com o mundo globalizado e com as possibilidades de comércio nacional e internacional, considerando as mudanças ocorridas no pós-guerra (segunda guerra mundial). A abordagem do pós-guerra compreende as barreiras alfandegárias e principalmente barreiras técnicas bem como um entrave no comércio mundial aplicado aos países emergentes. Além disso, um destaque importante neste tópico é a apresentação do INMETRO como órgão oficial da Metrologia no Brasil e a participação dos colaboradores e multiplicadores da Cultura Metrológica. No tópico segundo são tratados os aspectos históricos da Metrologia abordando os aspectos da Metrologia praticada no início das civilizações, descritos nos textos antigos, em diferentes culturas, evoluindo para a idade moderna e contemporânea. São apresentadas as medidas e medições, os sistemas de medições empregados por Portugal durante o Brasil Colônia e no Brasil Imperial. É enaltecida a importante visão e sensibilidade de D. Pedro I e D. Pedro II, Imperador do Brasil e o trabalho de Cândido Batista de Oliveira (Deputado da Assembleia Geral do Império). Na oportunidade, propondo como premissa básica para a inserção do sistema métrico no Império, a mudança cultural a qual deveria ser trabalhada pelo sistema escolar presente no Império. Este e o módulo anterior são trabalhados com textos adicionais para atividades extras em sala de aulas e são importantes para se estabelecer uma referência histórica para toda a Cultura Metrológica. Deve ser lembrado que toda a Metrologia é fundamentada em padrões rasteáveis, isto é, padrões que se referendam a uma origem comum e única. No terceiro tópico é abordada a temática da Qualidade iniciando pelas definições da qualidade e a apresentação na norma ISO 9000, de modo a trabalhar as relações qualidadeindivíduo-coletivo. São tratadas questões a respeito da pirâmide da qualidade baseada no Programa 5’ S e na evolução do conceito da Qualidade. Quanto a evolução do conceito de Qualidade são abordadas as eras da qualidade e seus grandes mestres, as ferramentas básicas da Qualidade tais como o diagrama de Pareto e o de Ishikawa, até atingir o conceito de Sistema da Qualidade e suas ferramentas para a implementação nas Empresas e nas Universidades. Nesta etapa há uma participação mais intensiva de alguns colaboradores, responsáveis pela área da Qualidade e Metrologia em Química. Eles apresentam a Empresa e seu sistema da qualidade, abordando os aspectos técnicos e culturais, apontando as dificuldades e os caminhos do processo e tratando da aplicação de ferramentas e da norma ABNT NBR ISO 9001:2008 como modelo do sistema da qualidade. Um dos objetivos deste tópico é evidenciar as diferenças de visão, acadêmica e empresarial e isso é muito estimulado nas discussões e perguntas que surgem por parte dos discentes, que também trazem suas próprias experiências, seja na vida acadêmica ou profissional. Novamente, este tópico é complementado com leituras e atividades extras para a sala de aula como, por exemplo, a abordagem da chegada e difusão da Cultura da Qualidade no Brasil contemporâneo, no início dos anos 80, a partir de textos de jornais da época, revistas científicas e técnicas bem como de livros publicados nesse período. Este tópico é fundamental para resgatar os valores de respeito ao próximo com a qualidade focada no cliente, ambiente de trabalho com ética, transparência e padronização, limpeza do ambiente de trabalho em consonância com o 5S, rastreabilidade, procedimentos operacionais padrão e a busca contínua de bom relacionamento interpessoal. Assim a melhoria contínua, comprometimento e disciplina são cultivados, sendo esses fundamentais para quaisquer formas de produção e trabalho. No quarto tópico faz-se a abordagem da utilização das ferramentas para a implementação do Sistema da Qualidade em laboratórios de ensaios e de calibração, baseada na norma ABNT NBR ISO IEC 17025:200. Dessa forma, este é um dos tópicos mais técnicos e específicos da disciplina e da proposta, pois promove uma discussão com profundidade e em conexão e comparação direta com a ABNT NBR ISO 9001:2008. Contudo, procura-se explorar também, alguns aspectos históricos do surgimento da norma, como resultado da fusão de outras as normas. Ao longo desta exploração são retomadas algumas questões filosóficas da Qualidade tratadas no tópico três e aqui focadas no que tange a formação das pessoas quanto ao seu caráter. A questão cultural e suas relações com os bons e, ou maus hábitos no trabalho, na dependência única do eu do indivíduo é profundamente trabalhada. No decorrer do quarto tópico ainda são empregados os requisitos de treinamento com base na norma ABNT NBR ISO 10015, focando na competência, conscientização e treinamento. Também recebe atenção especial a educação e o treinamento, para o qual, o conceito de competência inclui o comportamento, além de conhecimentos e habilidades, incluindo assegurar que o pessoal tenha ciência e esteja consciente quanto à pertinência e a importância das suas atividades e de como elas contribuem para atingir os objetivos da qualidade. Este tópico é iniciado pelos docentes da disciplina e, posteriormente, conta com a participação de vários colaboradores com a apresentação dos programas de acreditação dos ensaios no INMETRO, explicitando as necessidades e as dificuldades no treinamento de pessoal, nas questões da mudança cultural, as quais estão atreladas a visão da qualidade, tanto individuais como coletivas. As dificuldades com a organização das documentações e das execuções dos métodos de análises em conformidade com os procedimentos operacionais padrões, dentre outros também são explicitadas. Da mesma forma que se procede nos tópicos anteriores, trabalhos retirados da literatura pertinente discutindo as questões da relação de poder no trabalho, as questões de fraudes e arranjos em resultados são tratadas. Estas questões recebem atenção especial, principalmente pelas facilidades das inovações no mundo digital além de outras discussões atreladas à importância na busca pela competência e pela acreditação de ensaios por laboratórios nacionais e internacionais. A importância das redes metrológicas do Brasil, originadas do sistema metrológico vigente no Império, é tratada na forma de textos para leituras complementares em trabalhos extras à sala de aulas. Também são apresentadas as questões internacionais de tratados que o Brasil procedeu com o IAF (International Accreditation Forum), no ano de 1999, e com o ILAC (International Laboratory Accreditation Cooperation), no ano de 2000, e a consequente derrubada de barreiras técnicas desde então. Este tópico é, portanto, esmiuçado no que tange aos conceitos presentes na norma ABNT NBR ISO IEC 17.025, mais especificamente os itens 5.3-Acomodações e Condições Ambientais; 5.4- Métodos de Ensaios e Calibração e Validação de Métodos e 5.4.6- Cálculo da Estimativa da Incerteza da Medição; 5.6- Rastreabilidade de Medições; 5.9- Garantia da Qualidade de resultados de ensaios...; 5.10- Apresentação dos Resultados. Estes itens são tratados pelos Docentes da disciplina e, novamente, são feitas inserções dos Colaboradores das empresas. O colaborador do Instituto Adolfo Lutz aborda prioritariamente o item Validação de Método Analítico, no entanto, faz todo um cenário abordando os demais itens (Acomodações e Condições Ambientais, Rastreabilidade das Medições e a Apresentação dos Resultados) em apresentação de casos, com situações inusitadas, vividas ao longo do tempo do Instituto. O item Cálculo da Estimativa da Incerteza e sua relação com todos os demais itens da norma e da qualidade, discutidos nos tópicos anteriores, são retomados, de modo a deixar claro para os discentes que sem qualidade, e um Sistema da Qualidade, as medições podem estar comprometidas em sua essência. Nesta parte do tópico, os docentes procedem ao desenvolvimento teórico da validação e do levantamento das fontes de incerteza, o cálculo da estimativa da contribuição de cada fonte e a combinação de todas as fontes pertinentes, passíveis de serem calculadas e, ou não, para a obtenção da incerteza final da medição. Nesta etapa é empregado o método analítico, clássico, de preparação e determinação da concentração em matéria (mol L-1) de uma solução aquosa de hidróxido de sódio (NaOH), de concentração de aproximadamente 0,1 mol L-1. Esta prática fundamental, portanto, tratada em todos os cursos de graduação em Química, como exemplo teórico e prático de uma das aplicações da Química Analítica Inorgânica Quantitativa, no entanto, explorada, apenas do ponto de vista do ensino do princípio básico da medição em Química. Neste estágio, os discentes são munidos de material institucional para o acompanhamento e discussões e do exercício prático das etapas que envolvem o processo de medição, a estimativa das fontes e dos valores das estimativas das incertezas individuais de cada fonte e sua combinação para obter-se a incerteza global da medição. Neste sentido, este último tópico é fundamental para reforçar a necessidade de bons conhecimentos técnicos. Consequentemente, fica evidente a necessidade de um aprendizado responsável e comprometido com a busca do saber e da compreensão dos fenômenos que envolvem a medição e os sistemas de medição. Assim, a importância disso para um desenvolvimento sustentável e o valor estratégico da boa formação frente às demandas do mundo e do mercado de trabalho é trabalhada indiretamente, porém constantemente. Portanto, é neste panorama que se caminha para o fechamento dos tópicos da disciplina, que se propõe ocorrer em círculos concêntricos. A disciplina parte de uma apresentação macroscópica da Metrologia em Química e suas relações com o mundo globalizado. Então, ela converge para a criação de um cenário propiciado a partir da apresentação do tema qualidade, em sua perna filosófica (conscientização do indivíduo-qualidade-coletivo) e suas ferramentas para a implementação do Sistema da Qualidade (inteligível para o colaborador). Dessa forma a importância do domínio do conteúdo destas ferramentas, em específico a norma NBR ABNT ISO IEC 17025, dos aspectos de um gerenciamento sólido e integrado dos itens 4 e 5 da norma, e de suas relações com o domínio dos processos de validação e da estimativa do cálculo da incerteza da medição é evidenciado. Assim, entender que a Química Analítica Quantitativa Inorgânica, trata-se de uma ferramenta importante para a metrologia e para a consecução da qualidade dos resultados analíticos é fundamental. Cada indivíduo passa então a reconhecer o papel do analista dentro de todo este processo, fornecendo uma visão global de sua participação nas relações de comercio nacional e internacional. Em outras palavras, o objetivo é explorar as questões dos valores, rituais, hábitos, posturas, posicionamentos, reflexões e todos os aspectos que estão diretamente ligados ao comportamento e ações humanas dentro de um contexto de ensinoaprendizagem e desempenho profissional, demonstrando maior abrangência que simplesmente o domínio técnico ou específico do conhecimento científico. A avaliação desta disciplina, ministradas por diferentes professores e com a participação de competências proveniente de empresas, se processa de modo a aquilatar o desenvolvimento do discente ao longo do tempo. Assim, inicialmente, após a apresentação do tópico dois, os discentes são levados para o laboratório de Química Analítica Inorgânica da instituição para receberem os procedimentos operacionais para a execução de uma prática de Química Analítica Quantitativa, citada acima. Os docentes acompanham e registram o desenrolar da atividade, apresentada sem combinação prévia com os discentes, mas aplicada de forma intencional considerando que, neste caso, é importante obter-se o “instante zero”, o ponto de partida, no qual, cada indivíduo vai desenvolver o procedimento analítico que acredita saber fazê-lo com competência. O discente é encarregado então de fazer a apresentação dos resultados na forma de relatório, modo mais usual e tradicional, que ao longo dos tempos está sendo desenvolvido e aplicado como uma prática cristalizada nos cursos de Química. Esta atividade é novamente experimentada nas semanas finais da disciplina, momento em que se espera que seja possível à reflexão e discussão dos métodos e dos conteúdos desenvolvidos durante o curso. Está aí o momento para a justa observação dos indivíduos em sua capacidade de apreender o conhecimento, apresentado e discutido em sala de aula, e colocá-lo em prática. Agora com conhecimento de causa, domínio de conteúdo e possíveis percepções de diferentes abordagens e maneiras de explorar um determinado assunto ou tema e conhecimento, é o momento de ousar e deixar fluir as possibilidades de mudanças de concepções e aspectos instaurados culturalmente. Espera-se um verdadeiro salto, por parte dos discentes! Esta segunda etapa de avaliação também é gravada e posteriormente discutido os dois momentos da realização desta atividade, proporcionando aos discentes mais um momento de reflexão coletiva, uma vez que todo o grupo participa com observações e análises. Além disso, é discutida com os discentes a importância das leituras de textos complementares aos temas apresentados em sala de aulas e de elaborarem uma resenha crítica. A resenha é desenvolvida individualmente e entregue em papel timbrado da Unidade e em acordo a um modelo apresentado ao mesmo. Esta resenha crítica compele o aluno a fazer a conexão entre os temas abordados em aula, com os temas dos artigos e com as buscas solicitadas em temas disponíveis na internet. Os temas das resenhas são entregues ao final de cada tópico e é dado um prazo de uma semana para o retorno das mesmas, com o desencadeamento das discussões e reflexões que se supõem gerar. Assim, são feitas várias avaliações ao longo da disciplina e os resultados demonstram baixos índices de reprovação. As atividades buscam contemplar tanto os tópicos quanto a combinação dos exercícios práticos em laboratório, associado aos avanços observados na capacidade dos discentes em apresentar resenhas críticas, resultados de discussões intra e extra sala de aulas. Assim, é possível avaliar de forma continua o desenvolvimento dos discentes, dos docentes e da própria disciplina, uma vez que o processo é discutido de forma a evidenciar possíveis mudanças conceituais, de comportamento, de atitude, enfim nas práticas, rotinas e valores que permeiam o ambiente universitário, suas modalidades de aprender e ensinar. Também é avaliado como o novo cenário pode ser alterado ou sedimentado de acordo com as experiências vivenciadas. Além disso, procura-se explorar a participação dos colaboradores das Empresas para evidenciar as condições e exigências do mundo do trabalho quanto ao RH proveniente da Universidade. Fatos os quais devem ser mencionados é o grande volume de atividades que necessitam de discussão e correção ao longo da disciplina, incluindo a avaliação dos vídeos. Portanto, outro aspecto importante a ser destacado é a previsão de orçamento para o deslocamento dos envolvidos nesta disciplina, com distâncias em média de 180 km. No entanto, o grupo, incluindo as Empresas parceiras tem colaborado de forma importante na solução de muitas das dificuldades. Enfim, a possibilidade de se ter uma disciplina ministrada por vários agentes, visa apresentar, por meio de uma experiência viva e vivida ao longo da disciplina, a possibilidade e a necessidade de se trabalhar em equipes, respeitar todas as áreas de conhecimentos e as suas diferenças. Assim é contemplada a valorização do trabalho humano harmônico para o desenvolvimento de uma tarefa, neste caso, ministrar uma disciplina com elevada especificidade técnica por um lado e com uma grande busca por constantes mudanças culturais, marcadas pelo tempo nos espaços universitários de Ensino Superior por outro. Algumas reflexões e desdobramentos Os resultados desta abordagem de ensino têm apresentados vários benefícios aos docentes envolvidos. Dentre os resultados, o surgimento de um ambiente de apoio superando o isolamento acadêmico e a oportunidade em diversificar formas e métodos de trabalho em conjuntos com profissionais de outros departamentos ou instituições e até mesmo das empresas merecem destaque. Além disso, essa experiência tem refletido positivamente nos discentes, proporcionando maior independência a exposição de diferentes pontos de vista e habilidades de mais de um docente, desenvolvendo uma compreensão mais apurada do conhecimento. Portanto, é uma iniciativa ousada mas que tem se mostrado bastante fértil no sentido de mudança cultural dentro da universidade, um ambiente que historicamente imprime marcas em seus agentes, conforme discutido por Julia (2001). Neste sentido, a oportunidade de proporcionar maior integração entre seus agentes de forma a melhorar significativamente a aprendizagem dos discentes além de impactar como facilitador para colocação no mercado de trabalho é um dos aspectos que também merece destaque. Adicionalmente, outro ponto fundamental a considerar como um desdobramento positivo deste trabalho é que ao longo dos últimos anos, temos acompanhados alguns egressos que ressaltam a pertinência e a aplicação do conteúdo desenvolvido na disciplina. Sobretudo destacam ainda a importância de promover um espaço e um período de tempo durante o curso onde é possível discutir questões, analisar comportamentos individuais e coletivos e suas implicações no ambiente de trabalho e na sociedade. Muitos relatam que mudaram a sua forma de ver o mundo, sendo mais criteriosos com os hábitos de consumo e mais atenciosos com os relacionamentos profissionais e muitas vezes pessoais. Isso demonstra um enorme reconhecimento por parte dos discentes, alimentando a continuidade do trabalho e promovendo a participação deles como fontes de inspiração para os discentes ingressantes. Conforme evidenciado por Julia (2001), isso retrata modos de pensar e agir que demonstram algumas transferências culturais que foram operadas na escola (universidade) e as marcas deixadas nos indivíduos (discentes). De modo a proceder ao acompanhamento dos discentes formados que passaram por esta disciplina, a equipe de Docentes e Colaboradores mantém um endereço eletrônico para comunicação com os egressos. Muitos são os retornos de discentes que estão colocados em empresas e institutos de pesquisa que relatam a importância da disciplina como um diferencial para a busca do mercado de trabalho e para a sua adaptação às atividades das empresas já inseridas no sistema global da qualidade e da Metrologia em Química. Com isso, entendemos que os esforços para o desenvolvimento de atividades inovadoras no ensino superior estão proporcionando aos envolvidos possibilidades de mudanças culturais e de aprendizagens aos atores envolvidos possibilitando formas de pensar e agir diante de práticas cristalizadas. Na atualidade, a equipe também tem desenvolvido muitos trabalhos com discentes no tema Metrologia em Química, em monografias e dissertações de mestrado, as quais tem resultado em apresentações orais dos trabalhos completos e a sua publicação nos anais de congressos. Além disso, verifica-se uma crescente procura pela disciplina e pelo tema tanto entre os discentes do curso de Química, como de outros cursos de áreas relacionadas, farmácia engenharias como a química, de produção, civil, de materiais, entre outras. Também chama a atenção o fato de discentes, egressos e que já estão inseridos ou tentando se inserir no mercado de trabalho, procurarem participar da disciplina. Outro indicador do sucesso e da divulgação do trabalho é a solicitação de escolas técnicas estaduais para a equipe ministrar cursos de curta duração, de 16 a 24 horas-aula em suas unidades. Desse modo à difusão cultural da Metrologia em Química & Qualidade, proposta inicial do grupo das universidades do Comitê Brasileiro de Metrologia em Química quando da sua criação, é estabelecida. Recentemente, com as mudanças ocorridas na UNESP, foi possível a integração de turmas dos cursos de graduação e de pós-graduação em Química. Desta forma, aproveitando tais mudanças a disciplina está sendo reformulada de modo a ocorrer conjuntamente na graduação e na pós-graduação, envolvendo discentes dos dois níveis. Tal junção já tem demonstrado maior integração dos discentes refletindo numa melhora na qualidade dos trabalhos solicitados e no aproveitamento geral por parte dos discentes, em especial os graduandos. Percebeu-se, ainda, que os discentes de pós-graduação, em geral, assumem a posição de liderança e coordenação dos trabalhos, dessa forma ajudando a organizar as atividades por meio de uma gestão voluntária, consequentemente melhorando a qualidade final dos trabalhos. São ações deste tipo, sempre procurando melhorias e aprimoramento da disciplina e dos cursos que alimentam o trabalho dos atores universitários, sempre priorizando discussões, análises e decisões coletivas. Neste sentido, com o intuito de promover debates que cercam o papel estratégico das instituições, assim como, discussões a respeito da integração na região, deseja-se que este trabalho desencadeie perspectivas para a melhoria do Ensino Superior na região e novas políticas públicas com possibilidades de mudanças culturais, isto é, preocupações voltadas para o respeito às diversas formas de expressões culturais e comportamentais. Referências Bibliográficas: ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005 Requerimentos gerais para Laboratórios de Ensaio e Calibração ABNT NBR ISO 9001:2008 Sistemas de gestão da Qualidade - requisitos ABNT NBR ISO 10015 - Diretrizes para treinamento Becker, H. S.; Geer, B. 1997. La culture étudiante dans lês faculties de medicine. In: FORQUIN, J. C. Les sociologies de l´éducation américains at britanniques. Paris, De Boeck & Larcier. p. 271 – 283. Goetz, K. 2000. Perspectives on Team Teaching. Egallery, 1 (4) [retrieved 1 Sep 2004, verified 29 Jan 2005] http://www.ucalgary.ca/~egallery/goetz.html Gonçalves, Mª. Lurdes. 2004. Team Teaching: formação em trabalho colaborativo. Colóquio sobre Formação de Professores: Mudanças educativas e curriculares e os Educadores/Professores? Universidade do Minho. Braga. http://portfolio.alfarod.net/doc/artigos/2.Teamteaching.pdf Julia, D. 2001. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História da Educação, nº 01, p. 09 – 43. Maroney, S. 1995. 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