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41ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia 19 de Julho a 22 de Julho de 2004 - Campo Grande, MS RENDIMENTOS DE CARCAÇA E DE CORTES CÁRNEOS DE CORDEIROS SANTA INÊS ALIMENTADOS COM DIETAS CONTENDO SUBPRODUTOS AGROINDUSTRIAIS1 GUARACIABA Z.M. SANTANA2, JOSÉ NEUMAN MIRANDA NEIVA3, AFONSO DE LIGUORI OLIVEIRA4, IRAN BORGES5, SALETE ALVES DE MORAES6,ANA CRISTINA HOLANDA FREIRE7, DAVI CAVALCANTI DE AQUINO8 , CINTIA RENATA LIMA DE SÁ9 1 Estudo financiado pelo PROCAD/CAPES convênio UFC/UFMG Aluna de mestrado em Medicina Veterinária da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 3 Professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará (UFC) 4 Professor do Departamento de Tecnologia e inspeção de Produtos de Origem Animal Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 5 Professor do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 6 Aluna de doutorado em Ciência Animal do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 7 Aluna de doutorado em Ciência Animal do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 8 Aluno de graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Ceará (UFC) 2 9 Aluno de graduação em Agronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC) RESUMO Foi avaliado o rendimento de carcaça e de cortes cárneos de cordeiros Santa Inês alimentados com dietas contendo silagem de capim elefante adicionadas de subprodutos do processamento de frutas. Os animais foram distribuídos em quatro tratamentos: (T1) silagem de capim elefante (Pennisetum purpureum Schum); (T2) sil. de capim elefante com inclusão de subproduto de acerola (Malpighia glabra); (T3) sil. de capim elefante com inclusão de subproduto de caju (Anacardium occidentale) e (T4) sil. de capim elefante com inclusão de subproduto de abacaxi (Ananas comosus var.L). Todos os animais receberam concentrado (1,8% do pv) com 23,5 % de proteína bruta (PB). Ao final do experimento, os animais foram pesados (PVCJ) e abatidos, após o abate foi obtido o peso da carcaça quente (PCQ) e após serem refrigerados por 24 horas a 4(0) C foi obtido o peso da carcaça fria (PCF), calculando o rendimento comercial (RC) e verdadeiro (RV) de carcaça. Foram realizados os seguintes cortes: pescoço (PES), peito (PEI), paleta (PAL), carré dianteiro (CAD), carré traseiro (CAT), lombo (LOM), perna (PER) e costela/fralda (COSF). Cada corte foi pesado para cálculo de rendimento.Os resultados obtidos neste trabalho mostram que não foram observadas diferenças significativas (p>0,05) para RC e RV. Para o peso de cortes foram observados diferenças significativas (p<0,05) com maiores pesos para lombo LOM, PAL e CAT e para rendimento de cortes, apenas PAL apresentou diferença estatística, com os tratamentos 3 e 4 apresentando maiores valores. PALAVRAS-CHAVE Lombo, nutrição, ovinos, paleta CARCASS AND COMMERCIAL SLAUGHTER YIELDS OF SANTA INES LAMBS FED WITH DIETS CONTENT BY-PRODUCTS AGROINDUSTRY1 ABSTRACT Evaluated carcass and commercial slaughter yields of Santa Ines lambs fed with silage of elephant grass content by-product the agro-industry of fruits. The animals had remained confined for a period of 70 days, The lambs had been distributed in four treatments: Treatment 1 (T1) silage of elephant grass (Pennisetum purpureum Schum); Treatment 2 (T2) silage of elephant grass with inclusion of acerola by-product (Malpighia glabra); Treatment 3 (T3) silage of elephant grass with inclusion of cashew by-product i (Anacardium occidentale) and Treatment 4 (T4) silage of elephant grass with inclusion of pineapple by-product (Pineapple comosus var.L). All the animals had received concentrate (1.8% of pv) with 23,5 % of crude protein (PB). To the end of the experiment, the animals had been weighed (PVCJ) and slaughtered, after it was gotten the weight of the hot carcass (PCQ) and after was obtained the weight of the cold carcass (PCF), calculating the commercial yield (RC) and true (RV) of carcass. The parts of neck (PES), back chest (PEI), palette (PAL), CA 045 - pág. 1 41ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia 19 de Julho a 22 de Julho de 2004 - Campo Grande, MS “carré front” (CAD), “carré traseiro” (CAT), loin (LOM), leg (PER) and rib/flank (COSF) were separated and weighted. The resulted gotten in this work shows that significant differences (p>0,05) for RC and RV had not been observed. For the weight of cuts significant differences (p<0,05) with bigger weights for LOM had been observed, the PAL and CAT and for income of cuts, the only PAL presented difference statistics, with treatments 3 and 4 presenting bigger values. KEYWORDS Loin, nutrition, sheep, palette INTRODUÇÃO Em resposta a incentivos governamentais, o número de agroindústrias na região Nordeste tem crescido, incrementando a produção de subprodutos, os quais podem se tornar fonte de poluição ambiental e até mesmo comprometer a higiene do parque industrial. Tal fato ressalta a importância de se pesquisar uma maneira racional de utilizar os mesmos, uma vez que podem ser de grande utilidade na alimentação animal contribuindo para minimizar os custos de produção. O custo de mantença dos animais, a conformação e a composição da carcaça são pontos muito importantes e devem ser considerados quando se programa fazer a introdução de uma nova raça, ou até mesmo introduzir novos alimentos na dieta dos animais, uma vez que estas características influenciam, de forma significativa, o rendimento de carcaça, a qualidade da carne e o retorno econômico do sistema de exploração. Segundo Osório & Osório (2001) existem fatores determinantes das características de qualidade da carcaça, tais como; raça, sexo, idade, alimentação, sanidade e manejo. O presente trabalho teve como objetivo avaliar o rendimento de carcaça e de cortes cárneos de cordeiros Santa Inês alimentados com dietas contendo subprodutos do processamento de frutas. MATERIAL E MÉTODOS A dieta oferecida aos animais era dividida em quatro tratamentos: (T1) Silagem de Capim Elefante (grupo controle), (T2) Silagem de Capim Elefante com inclusão de subproduto de acerola (7,0 %), (T3) Silagem de Capim Elefante com inclusão de subproduto de caju (10,5%) e (T4) Silagem de Capim Elefante com inclusão de subproduto de abacaxi (10,5%). O concentrado fornecido foi semelhante para todos os animais do experimento (23,5% PB), sendo que este era fornecido na proporção de 1,8 % do peso vivo, e para tal procedimento os animais eram pesados semanalmente quando se ajustava o fornecimento do concentrado. O volumoso era fornecido ad libitum permitindo 20% de sobras. Os animais foram abatidos após setenta dias de confinamento, com aproximadamente 7-8 meses de idade, sendo pesados um dia antes do abate (peso vivo sem jejum = PVSJ). Após jejum de aproximadamente 16 horas, e dieta hídrica, os animais foram novamente pesados (peso vivo com jejum = PVCJ). Os animais foram abatidos em frigorífico comercial, sob Inspeção Estadual de acordo com as normas da Inspeção Federal (BRASIL, 1997). Após o abate e a evisceração, foi tomado o peso da carcaça quente (PCQ), a qual permaneceu por um período de 24 horas resfriando em câmara fria (2 a 4 “0” C). Posteriormente a carcaça foi novamente pesada, obtendo-se o peso da carcaça fria (PCF). Avaliou-se dois tipos de rendimento de carcaça: O rendimento verdadeiro (RV), que considera o peso da carcaça quente em relação ao peso de abate após jejum, e o rendimento comercial (RC), que considera o peso da carcaça fria em relação ao peso de abate após jejum (Osório, et al 1998). Após refrigeração as carcaças foram enviadas para um estabelecimento comercial (casa de carnes) também sob Inspeção Estadual onde foram Após as medidas necessárias na carcaça, esta foi dividida em cortes. No estado do Ceará, não se emprega normalmente, nenhum sistema de classificação e tipificação, dessa forma os cortes obtidos foram cortes comerciais já realizados pelo estabelecimento comercial visando melhorar a apresentação do produto e sua aceitação pelo consumidor (figura 1). Foram realizados os seguintes cortes na meia carcaça esquerda: Perna, Pescoço, Paleta, Carré Dianteiro, Carré Traseiro, Lombo, Peito e Costelas/ Fralda. Todos os cortes foram pesados separadamente para proceder ao cálculo do rendimento, que é determinado pelo peso do corte (PC) em relação ao peso CA 045 - pág. 2 41ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia 19 de Julho a 22 de Julho de 2004 - Campo Grande, MS da carcaça fria (PCF), expresso em porcentagem. O teste estatístico utilizado para comparação das médias foi o Teste SNK ao nível de significância de 5%. Foram realizadas Correlações de Pearson entre os parâmetros observados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com relação aos rendimentos de carcaça verdadeiro e comercial, os valores da tabela 1 permitem observar que não houve diferença significativa entre os tratamentos para estes parâmetros, sendo que maiores valores de rendimento tanto verdadeiro quanto comercial foram observados nas carcaças do tratamento 4. Os valores de rendimento de carcaça verdadeiro e comercial do presente estudo foram próximos aos observados por Furusho-Garcia et al. (1998) que também utilizaram subproduto de caju como parte da dieta dos animais. Em relação aos rendimentos em cortes cárneos, apenas a paleta apresentou diferenças significativas (p<0,05) entre os tratamentos, sendo que o tratamento 2 apresentou o menor valor. O maior rendimento observado para paleta foi dos animais do tratamento 3 (silagem de capim elefante com subproduto de caju), este fato levanta a hipótese de efeito de andrógenos devido presença de fungos nesta silagem levando a desenvolvimento sexual secundário dos animais que tem como conseqüência maior desenvolvimento da paleta. Entretanto, são necessários maiores estudos para confirmar esta hipótese. Furusho–Garcia (2001) encontrou os seguintes valores de rendimento para Perna (14,31 %); paleta (7,28 %); pescoço (7,7%); costela/frada (8,6 %); lombo (5,75 %) e carré (8,6 %) na carcaça de cordeiros machos Santa Inês abatidos com média de 25 kg de peso vivo, estes valores foram próximos aos obtidos neste experimento, considerando que a autora admitiu rendimento de perna, paleta e lombo apenas da meia carcaça. Os demais cortes não apresentaram diferenças significativas entre os tratamentos concordando com a literatura consultada, onde foram encontradas as seguintes variações nos valores dos cortes: Perna, de 13,81 a 16,58 %; paleta, de 7,28 a 9,08%; pescoço de 7,5 a 7,7%; costela de 8,6 a 9,84% e lombo de 2,94 a 5,75% (Perez et al., 1998; Furusho-Garcia et al., 1998; Perez et al., 2000a). Os dados relatados por estes autores foram semelhantes aos obtidos no presente experimento, todavia, é importante observar que os rendimentos apresentados de perna, paleta e lombo se referem apenas à meia carcaça. CONCLUSÕES Os subprodutos de frutas podem ser utilizados na silagem de capim elefante como parte da dieta de cordeiros produzindo carcaças com características satisfatórias de rendimento. Os diferentes subprodutos utilizados exercem influencia nos rendimentos de paleta, sendo que a paleta dos animais do tratamento 3 apresentou maior valor sugerindo um possível efeito androgênico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Ministério da Agricultura, Brasília, 1997. 2. FURUSHO-GARCIA, I.F.F., OLALQUIAGA PÉREZ, J.R.O ., LIMA, G.F. da C., KEMENES, P.A . Componentes corporais de cordeiros Santa Inês com dieta contendo pedúnculo de caju. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35., 1998, Botucatu (SP). Anais..., p.564-566,1998. 3. FURUSHO-GARCIA, I.F. Desempenho, características da carcaça, alometria dos cortes e tecidos e eficiência da energia, em cordeiros Santa Inês e cruzas com Texel, Ile de France e Bergamácia. 2001. 316p. Tese (Doutorado em Zootecnia – Nutrição de ruminantes), Universidade Federal de Lavras, Lavras. 4. OSÓRIO, J.C.S., OSÓRIO, M.T.M., JARDIM, P.O .da C. et al. Métodos para avaliação da produção de carne ovina: “IN VIVO” e na carcaça. Pelotas: Editora Universitária/URPEL, 1998.107p. 5. OSÓRIO, J. C. S.; OSÓRIO, M. T. M. . Sistemas de avaliação de carcaças no Brasil. In: SIMPÓSIO MINEIRO DE OVINOCULTURA: Produção de carne no contexto atual, 1, Lavras.Anais...Lavras – MG., p. 49-62, 2001. CA 045 - pág. 3 41ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia 19 de Julho a 22 de Julho de 2004 - Campo Grande, MS 6. PEREZ, J.R.O ., MARTINS A.R.V., OLIVEIRA, M.V.M., BRESSAN, M.C. Composição dos principais cortes da carcaça de cordeiros alimentados com dejetos de suínos em confinamento. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 37a, 2000, Viçosa (MG). Anais...Viçosa (MG), 2000a.(CD ROM). Tabela 1. Médias para peso vivo com jejum (PVCJ), peso de carcaça quente (PCQ), peso de carcaça fria (PCF) em quilogramas (kg) e Rendimento verdadeiro (RV), Rendimento comercial (RC) e rendimento de cortes em porcentagem (%). Variáveis PVCJ PCQ (kg) PCF (kg) RV RC PER PES PAL CAD CAT LOM PEI COF T1 B 24,64 A 10,46 A 10,24 A 42,44 A 41,50 A 29,68 A 7,75 AB 17,93 A 8,62 A 8,45 A 7,67 A 9,92 A 9,88 T2 B 24,50 A 10,34 A 10,15 A 41,96 A 41,18 A 29,49 A 8,35 B 17,01 A 7,14 A 8,68 A 8,50 A 10,30 A 10,51 T3 AB 26,40 A 10,92 A 10,74 A 41,30 A 40,50 A 29,88 A 7,82 A 19,55 A 6,99 A 8,56 A 8,27 A 8,30 A 10,62 T4 A 30,38 A 13,52 A 13,23 A 44,40 A 43,46 A 29,40 A 7,41 A 18,97 A 7,81 A 8,83 A 8,31 A 8,97 A 10,28 CV 12.66 17.19 17.06 7.92 7.96 4,51 7,74 6,36 13,70 4,76 6,26 16,04 9,87 Médias seguidas de letras diferentes diferem entre si por comparação pelo teste SNK, ao nível de significância de 5%. PER= perna; PES= pescoço; PAL= paleta; CAD= carré dianteiro; CAT= carré traseiro; LOM= lombo; PEI= peito; COF= costela/fralda. CA 045 - pág. 4 41ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia 19 de Julho a 22 de Julho de 2004 - Campo Grande, MS Figura 1. Cortes realizados na meia carcaça esquerda CA 045 - pág. 5