compreensão e produção de textos

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compreensão e produção de textos
COMPR. E PRODUÇÃO DE TEXTOS
COMENTÁRIO GERAL DA PROVA DE COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS
Tecnicamente, quanto a gêneros e temas, a prova mantém o padrão já conhecido, sem novidades, sem
sustos e sem surpresas – boas ou más.Lamentavelmente. No ano passado, o exame foi aberto com uma
questão inovadora, a transformação de um poema em notícia. Nesta prova, nada de novo: as modalidades de
sempre sobre temas de sempre – meio ambiente (duas questões) e TICs. Sobraram uma questão sobre ética
na ciência (tema e autor repetitivos, em texto de 2013!) e uma questão interessante sobre brasilidade, ainda
que redundante com relação ao ano passado.
Outro ponto a ser considerado, além da ausência de maior abrangência temática, é a falta de atualidade
nas questões, uma vez que a prova foi "fechada" em setembro e deixou de lado relevantes contextos de
discussão mais recentes.
Julgamos imperativo a UFPR dar-se conta de que o seu exame não é apenas uma prova de seleção. A
UFPR precisa assumir a responsabilidade de ser um dos principais norteadores de diretrizes para o Ensino
Médio, não só em Redação, mas também em Língua Portuguesa e em Literaturas de língua portuguesa.
Professores de Compreensão e Produção de Textos do Curso Positivo.
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VERSÃO 01
A personagem de uma charge de Benett (Gazeta do Povo, 08/07/2015), pequenina diante de um
gigantesco smartphone, observa-se, com tristeza, refletida na tela. O plano verbal esclarece: Narciso.
Bastante pertinente a comparação com o mito. Vivemos sim tempos narcísicos – tão voltados a nós
mesmos estamos. Contudo, o Narciso tecnológico – que posta selfies a todo momento, conta com um
espelho de diversas faces, que lhe permite contemplar-se, ser contemplado e aferir, por meio dos “likes”
recebidos, o grau de aprovação da imagem – corresponde a um “Narciso às avessas”, expressão
cunhada pelo dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues, para definir os que não encontram pretextos
para a autoestima. Voltam-se para si mesmos, mas precisam que seu perfil editado seja apreciado no
Twitter ou no Facebook. Caso contrário, faz-se imperativo postar nova edição.
VERSÃO 02
"Narciso acha feio o que não é espelho", já cantava Caetano Veloso bem antes da invenção do telefone
celular, que virou smartphone e que mudou completamente as formas de interação social. A relação com
o outro praticamnete inexiste. Essa é a intertextualidade a que o cartunista Benett (Gazeta do Povo,
08/07/15) em charge que exibe um homem infeliz contemplando-se num smartphone.
Hoje, entre os que visitam o Louvre, em Paris, poucos aproveitam a oportunidade de olhar - de
perto e ao vivo - uma obra de arte secular, como a Monalisa de da Vinci.. Ao contrário, dão as costas à
tela para fazer uma "selfie". O "bobo-alegre" não consegue se libertar de seu próprio umbigo mortal
nem diante de algo imortal.
Não deve ser coincidência que teses humanistas coletivistas, na política, têm perdido espaço para
ideologias individualistas. O mundo do espelho, a meu ver, está ficando muito mais feio .
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VERSÃO 1
É de Nelson Rodrigues a crítica de que o Brasil sofria de um “complexo de Vira-Latas”, nome mais a
seu gosto para o que historiadores consideram “síndrome de país colonizado”. O fato é que dos colares e
quinquilharias portuguesas até as camisetas “pop’s” da balada, bom é o que vem de fora, o importado. Já as
mazelas – tão comuns a tantos outros países – essas sim ganham nacionalidade: brasileira. Corrupção?
Nasceu com o país! Jeitinho? Brasileiro safado! Pouco se lembram de Berlusconi ou da eficiência dos E V A
em burlar leis internacionais. E a atitude não é sutil. Para o Observatório da Imprensa, o estudante de
Oxford, Adam Smith, questiona por que o brasileiro não altera o sistema. Ora, não sabe que tal poder, só
com disciplina japonesa. Já o brasileiro, esse seguirá, complexado e virando latas.
VERSÃO 2
Há em Sampa mulheres com o cabelo descolorido. Complexo de vira-lata? Também há em Tóquio. Há
negras americanas lindas e famosas, como Beyoncé, com o cabelo descolorido. Estigmatizam-nos como portadores
de baixa autoestima e esperam que a solucionemos, como faz o estudante de Oxford Adam Smith
(pragmatismo.com.br – 14/05/2015). Ora, seria por falta de amor próprio que comemos hambúrguer do Mac
em vez de tapioca? Que tomamos coca em vez de suco de caju? Não estariam esquecendo o imperativo da
grande indústria do mundo globalizado? Da grande publicidade? Orgulhando-nos, sim, paulatinamente da
nossa brasilidade: saltou, segundo o IBGE, em cerca de 5 p. p o número de auto declarados pardos; parecem
nunca ter sido tão abundantes as vastas cabeleiras “black power” em nossas ruas. Deixem de classificar-nos!
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VERSÃO 1
A questão está nas ruas há tempos e tem sido plataforma (e por que não pesadelo?) de alguns
políticos brasileiros na tentativa de civilizar um pouco mais a ideia de mobilidade urbana e trânsito no
Brasil.
Alternativas econômicas, saudáveis ou politicamente corretas, o transporte coletivo - em sua
maior capacidade de abrangência - e as bikes - não poluentes e um instrumento de vida mais
saudável - poderiam parecer a solução óbvia em meio ao oceano de carros que estrangula a malha
viária brasileira.
Agora, vá propor isso aos que sofrem o dia a dia na precariedade de ônibus, trens e metrôs em
nossas cidades ou precisa pedalar sob o olhar raivoso que vê o ciclista como um estorvo a quem,
segundo a propaganda, "como todo brasileiro, ama carro". "Carona solidária", "carro em casa" ainda
soam apenas como um germe de boa intenção e concretude. A diferença entre os modais é clara; a
indiferença é a questão.
VERSÃO 2
O infográfico publicado em Planeta Sustentável, da Abril, traz uma pirâmide que compara o espaço
utilizado por três meios diferentes (do topo para baixo: ônibus, bicicletas e automóveis) para transportar 30
pessoas. A diferença-física-é enorme. Não é à toa que cidades como Paris e Madri adotaram neste ano políticas
de restrição à circulação de veículo. Mas, para que novos planos de mobilidade urbana funcionem, não só nas
terras das prefeitas Hildalgo e Carmena, devem-se levar em conta aspectos positivos e negativos da utilização
de cada tipo de veículo, bem como investir em programas de compartilhamento, como já vem ocorrendo na
Europa. Nota-se que opção pelo transporte coletivo, quando de qualidade , ou seja, seguro e prático, garante
menos congestionamento e poluição. Para os que se interessam também pelo exercício, há a possibilidade da
utilização da bicicleta, que prevê visitas menos frequentes ao médico, mas necessita, além de um ajudinha do
clima, de uma malha de ciclovias adequada, abrangente e livre de assaltos. O automóvel é o meio mais
poluente e complicador do trânsito, mas pode ser utilizado em projetos de carona solidária e, não se pode
esquecer, ainda é largamente adotado por idosos e pessoas portadoras de necessidades especiais.
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VERSÃO 1
Liberdade vigiada. Basicamente essa é a conclusão que se pode extrair da entrevista do astrofísico
Marcelo Gleiser ao jornal Zero Hora (13/10/13). Provocado a discorrer sobre os limites éticos à ciência,
Gleiser parte do livro “Frankenstein”, de Mary Shelley, para discutir que muitas vezes estamos
tecnologicamente prontos, mas não moralmente, para realizar.
Embora defenda a liberdade total para a pesquisa científica, paradoxalmente o cientista entende
que certas questões, como a clonagem, devem ser monitoradas. Para tanto, defende uma união entre o
poder Judiciário e um corpo de notáveis indicados pelo governo para decidir e regulamentar limites
éticos e morais à ciência e à tecnologia. Apesar disso, conclui lamentando que a liberdade, em algum
momento, há de prevalecer sobre quaisquer formas de controle.
VERSÃO 2
A partir de uma referência à obra “Frankenstein”, cujo enredo explora os limites do
controle humano sobre a experimentação científica, o físico Marcelo Gleiser discute a
ética na ciência em entrevista ao jornal Zero Hora (13/10/2013). Ele evidencia a
problemática do limite moral nas pesquisas. Defende que, embora não haja maturidade
moral para certas questões, deve ser garantida uma total liberdade à pesquisa científica.
Além disso, acrescenta o professor, necessário será um controle ou monitoramento por
órgãos especiais, formado pelo Judiciário e um corpo de cientistas credenciados para
estabelecer as regras.
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VERSÃO 1
“Um inadiável acerto de contas com a Mãe Terra”. Eis o título – e a tese – do artigo do
Frei Leonardo Boff publicado no Jorbal do Brasil online. Boff se pauta na encíclica do Papa Francisco
para fundamentar sua defesa de que todas as pessoas devem envolver-se na solução dos problemas
ambientais, o que o pontífice considera uma “conversão ecológica”. Aqui, ambos compartilham da
premissa de que a forma como se vê ecologia deve ser alterada, pois colocá-la como dependente ou a
serviço do homem, e tão somente ligado ao ambiental, impede avanços. Boff, inclusive, elogia a atitude
do Santo Padre de não isentar católicos e a própria Igreja de culpa pela atual situação e corrobora que
somente ser racional frente aos problemas causados pelo homem à natureza não basta. Destaca o
teólogo brasileiro a fala do Papa Francisco, para quem só com “paixão” são possíveis alterações de
comportamento.
VERSÃO 2
É preciso quebrar o paradigma da modernidade, segundo o qual a natureza está a serviço do
homem, que destruiu seus bens naturais. Isso é o que defende o teólogo Leonardo Boff no artigo “Um
inadiável acerto de contas com a Mãe Terra” (site do Jornal do Brasil). Boff opina sobre a encíclica do
Papa Francisco sobre “O cuidado da Casa Comum”. Para o articulista, o Papa percebeu a urgente
necessidade de todos cooperarmos com a Terra e propôs, além da economia “verde”, a ecologia “integral”,
em uma visão holística. Boff compactua com a encíclica do Papa. Nela, o Santíssimo faz um apelo à
emoção – responsável pela inovação – em detrimento da razão. Sua encíclica tem como objetivo atingir
toda a humanidade (não só os cristãos), conclamando a um novo estilo de vida, o que exige uma
revolução no modo de produção e do consumo. O articulista deixa claro que sua Santidade não exime
a Igreja de culpa, visto que o longo período teocêntrico levou à visão antropocêntrica, tão fortemente
criticada em sua encíclica.
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