prod e compreensao de textos-corrigida Positivo

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prod e compreensao de textos-corrigida Positivo
COMPR. E PRODUÇÃO DE TEXTOS
COMENTÁRIO GERAL DA PROVA
Se é possível manter elogios a esta prova, o primeiro seria a volta de compreensão de um
texto de gênero literário, como se vê na questão 5. Outro ponto positivo é a adoção de um eixo
temático – TICs (tecnologias de informação e comunicação) – presente de forma explícita em três das
questões (1, 4 e 5). As outras duas, embora não tratassem diretamente desse tema, passaram por
discussões a ele vinculadas (mídia na questão 2 e massificação cultural na 3). Por fim, reitere-se a conhecida
diversidade de gêneros e fontes.
A nossa contribuição crítica, deste lado do processo seletivo, infelizmente não pode se limitar aos
elogios.
Não há como não notar o “cochilo” de revisão – inclusive com a mesma fonte (revista Época) –
reincidente em relação à primeira fase. Se o colunista Jairo Bouer virou “Jorge”, na prova de 3 de novembro,
o colunista Luís Antônio Giron, nesta segunda fase, vem como “Guiron”.
A questão 1 traz um infográfico com informações nitidamente desatualizadas e com uma quantidade
desnecessária de dados expostos de forma difusa. A intenção da proposta poderia ser muito mais valorizada
se houvesse um gráfico em sintonia com o momento atual e a própria realidade dos candidatos – para quem
Orkut e MSN estão há muito sepultados.
O aspecto a se lamentar mais uma vez, finalmente, é o fato de que a comunidade local de
vestibulandos pareça se dedicar muito mais ao estudo de Literatura para provas em que ela realmente é
valorizada em sua capacidade de seleção, como as da UFSC, UEM, Fuvest, e padeça por uma abordagem
muito limitada na UFPR. Por que uma lista com dez obras se restringe a meia dúzia de questões de múltipla
escolha na primeira fase e está ausente de uma prova de compreensão e produção de textos tão boa e
abrangente como esta? A presença de Drummond neste exame parece menos relacionada ao fato de ele ser
um autor da lista de obras do que ao próprio tema em si.
Professores de Compreensão e Produção de Textos do Curso Positivo.
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COMPR. E PRODUÇÃO DE TEXTOS
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COMPR. E PRODUÇÃO DE TEXTOS
VERSÃO A
O uso da internet no Brasil cresceu vertiginosamente nos últimos anos em detrimento
de outras tecnologias. Constata-se tal informação em infográfico no site “o jornalista.com”
criado a partir de dados do IBGE (Censo 2010), Ibope Net Ratings e F/Nazca. De acordo com
os números, no Brasil, em 2010, havia mais de 81,3 milhões de internautas e 60% da
população (190 milhões) declararam abolir alguma mídia tradicional em favor da internet.
Interessante notar que, quanto menor a idade, maior a busca de informações pela rede. Entre
os usuários de 12 a 15 anos, 51% declararam usar a internet, 43% a TV e mínimos 2% o
rádio. Em outro extremo, entre os idosos, apenas 2% disseram se informar via rede e 73% via
telinha. Os índices mostram que a visão geral do brasileiro sobre informatividade e
comunicação na internet foi positiva, pois 93% dos usuários afirmaram se sentir mais
informados e 88% mais comunicativos depois da internet. A tendência dos números é de
evolução da internet cada vez mais na vida dos brasileiros.
VERSÃO B
Quem são e o que buscam os 81 milhões de brasileiros usuários da internet? O site
ojornalista.com busca em fontes como o Censo 2010 respostas a tais questionamentos.
Segundo os dados, os internautas não se diferenciam pelo gênero, mas por idade – a
grande maioria tem de 12 a 15 anos. Tal marca explica o fato de que entre os motivos que
levam ao uso, 42% apontem games, além, de salas de bate-papo como Orkut (40%) e
MSN (32%). São, aliás, nessas redes sociais que 5 a cada 10 internautas buscam
informações. Nesse ponto, o levantamento constatou uma tendência: a troca progressiva
do controle remoto pelo mouse – se entre o público com mais de 16 anos a TV ainda é a
fonte de informação para mais da metade, 6 a cada10 adolescentes de 12 a 15 anos já a
trocaram pela Web. Por fim, o infográfico destacou que, independente de gênero, idade ou
mesmo do que buscam, dos 81 milhões de usuários, 76 estão bastante satisfeitos com a
vida pós-internet.
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COMPR. E PRODUÇÃO DE TEXTOS
VERSÃO A
“As vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”. O humor crítico de Luiz
Fernando Veríssimo denuncia o que recorrente se percebe: os jornais ocultam, mascaram,
manipulam. É justamente a falta de compromisso desses periódicos com a verdade que Quino
critica em uma de suas tiras (Toda Mafalda, Martins Fontes, 2008). Em diálogo com Mafalda,
que atentamente lê uma página de jornal, a pequena Liberdade afirma que os meios de
comunicação criam metade do que publicam. Nisso, Mafalda, ainda esperançosa, dobra a página e
possa a ler apenas a outra metade. Eles também “não dizem metade do que acontece”, completa
Liberdade. Logo, eles “não existem”. Convencida, a astuta personagem abandona então o jornal,
meio pensativa, meio decepcionada – sequência de ações que vai conferindo graça à tira.
VERSÃO B
Os jornais não existem, ou seja, o jornalismo de qualidade sucumbiu
devido à mentira e à omissão. Essa é a crítica presente em uma das tiras de
Quino (coletânea “Toda Mafalda”). Para manifestar sua opinião, o cartunista
retratou a garota Liberdade que, indignada, após Mafalda comentar uma
notícia, afirma os jornais inventarem metade das notícias (Mafalda dobra o
jornal). Por outro lado, eles não diriam nem a metade do que ocorre (Liberdade
sacode uma das metades). Se Mafalda é tão esperta e crítica, agora ficou sem
graça: eis o humor.
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COMPR. E PRODUÇÃO DE TEXTOS
VERSÃO A
Foi no contexto da indicação de seu longa-metragem – “O som ao redor” – pelo New York
Times, como um dos 10 melhores do ano, que o cineasta Kleber Mendonça Filho foi entrevistado
pelo I6 sobre como fazer com que mais brasileiros apreciem seu filme. Negando que os caminhos
sejam, ao menos num primeiro momento, incentivos como “Vale-Cultura”, Mendonça Filho
destaca o papel da educação de base. Sua justificativa é de que apenas com melhor escolaridade é
que o público de “O som ao redor” – hoje limitado a um nicho intelectualizado – poderia
expandir-se, anulando a influência poderosa da atual massificação cultural que faz obras como
“O Hobbit” serem vistas alienadamente, apenas por serem mais propagandeadas.
VERSÃO B
A massificação da cultura afasta o público brasileiro de filmes como “O Som
ao Redor”, pequena produção listada entre os 10 melhores do ano pelo “The New
Yourk Times”. Isso é o que explica Kleber Mendonça Filho em entrevista ao IG.
O cineasta comenta que o mercado convence os espectadores a optarem pelas
grandes produções. Segundo Mendonça Filho, bom seria se esse público se
desvencilhasse de tal manipulação e pudesse apreciar produções fora do círculo
midiático. Quanto ao Vale-Cultura, afirma que, embora tenha um viés positivo, a
falta de educação cultural de base dificulta seu bom aproveitamento pelo cidadão.
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COMPR. E PRODUÇÃO DE TEXTOS
VERSÃO A
Parodiando o famoso dito “Penso, logo existo, de Descartes, Luís A. Giron
considera que agora valeira dizer “Curto, logo existo”, expressão que intitula seu texto
publicado na revista Época (01/8/13). Para o autor, no entanto, esse existir é falso. A
fim de sustentar essa tese, afirma-se que, se informações divulgadas nas redes sociais
não gerarem repercussão, esse alguém não existe. Além disso, mesmo que tal
repercussão ocorra, a falsidade que permeia a internet anula até a possível boa-fé,
conclui Giron.
VERSÃO B
O “eu” de verdade, real, não existe mais. É a tese que Luís Antônio Giron defende em sua
coluna na revista Época (01/08/13). Na cultura contemporânea – de culto ao consumo e às
celebridades – o sujeito real se dilui no “perfil” das redes sociais. Não se trata, contudo, de uma
nova existência e sim de uma representação. Não há necessariamente correspondência entre
quem se é na vida real e quem se pretende ser no “perfil” virtual. Segundo Giron, mesmo que haja
boa fé – por parte de quem se anula para alimentar de emoções e opiniões seu alter ego digital –,
esses ambientes virtuais favorecem a falsidade, a mentira, a vigarice por trás das “máscaras nas
redes sociais”.
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COMPR. E PRODUÇÃO DE TEXTOS
VERSÃO A
Nada de novo no reino das palavras: de tempos em tempos, sua decadência e até seu fim são
cantados de forma apocalíptica pelos novidadeiros de plantão. Tom Brady é o profeta da vez. O colunista
do NYT, em texto reproduzido pelo site do Observatório de Imprensa, parece se assustar - e assustar com a constatação de que a imagem pode substituir a palavra escrita na forma como nos comunicamos.
Calma, Tom. É certo que o rádio cedeu espaço à televisão, que o dividiu com a net, e por aí vai, mas estão
todos aí, não? E a plataforma digital não é, por excelência, um terreno também da palavra escrita? E as
pesquisas mostrando que jovens leem muito mais pela internet, em seus celulares e tablets? E os jornais
migrando da versão impressa para a digital, com todas as suas cores, formas e interação sustentando a
palavra escrita? Muito antes de se questionar um suposto risco nesse sentido, o poeta já nos dava a
chave do problema: a palavra estará sempre lá, nos esperando, enquanto tivermos a invencível condição
de seres humanos que (con)vivem e se comunicam. Elas sequer agonizam e jamais morrerão. E se no
principio era o Verbo, hoje e no futuro estará o Verbo - novo, revitalizado, reinante.
VERSÃO B
Trinta fotos da viagem à Disney no Face. Uma foto pessoal no Instagram. Ela é linda. Ele
será seu seguidor. No outdoor: um corpo malhado – 70 mil likes – Academia qualquer. Estará
criado o desejo de frequentá-la. Eis a era da imagem, descrita por Tom Brody, segundo o
Observatório da Imprensa (23/07/2013). Os flashs, de fato, coadunam-se perfeitamente a um
mundo que precisa de celebridades instantâneas, que ajudam a vender instantaneamente. E as
palavras, “com suas mil faces secretas”, metaforizadas por Drummond em “Procura da poesia”?
Ora, quem tem tempo de se embrenhar “surdamente” por estas veredas? Obras extensas como
“Ulisses”, “Eneida”, apenas emoldurarão empoeiradas prateleiras de bibliotecas. Precisaremos cada
vez mais de uma linguagem econômica. E aos que quiserem a arte escrita, os haicais não
bastarão. O verbo, outrora instrumento primoroso de trabalho, ornamentará ao menos a lápide
do poeta, como queria Leminski, este já um minimalista: “ Aqui jaz um grande poeta. Nada
deixou escrito. Este silêncio, acredito, são suas obras completas.”
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