Eugénio de Paula Tavares - Embaixada de Cabo Verde
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Eugénio de Paula Tavares - Embaixada de Cabo Verde
Dia Nacional da Cultura de Cabo Verde Evocação do Poeta Eugénio de Paula Tavares Palácio Foz - 18 Outubro 2010 A Embaixada de Cabo Verde e a Fundação Eugénio Tavares, no Dia Nacional da Cultura de Cabo Verde, prestam homenagem à memória do expoente máximo da poesia de língua crioula, jornalista e prosador, que dominou o cenário cabo-verdiano do primeiro quartel do século XX. Eugénio Tavares O que levou o poeta, desde uma torturada Guiné, onde viviam os pais, Francisco de Paula Tavares e Eugénia Roiz Nasolini Barbosa Tavares, e um irmão, até ao Fogo, após ter atravessado, no ventre materno, o largo Atlântico e, posteriormente, o mar do canal, com destino à Brava, onde nasce, é fumo branco de um concílio de deuses, de que os seres humanos apenas apontam suposições, testemunhos que os ventos trazem e levam e os céus e o tempo deles sorriem. É a hora da Brava desde que a boca de um vulcão a soprou sobre as vagas e fez dela senhora das águas do mar eterno. Nenhuma terra prometida a suplanta. O Porto de Furna em 1900 A Badinha Não fora o respeito pela morte da mãe, durante o parto, e a do pai na lonjura quatro anos depois, a palavra “órfão” seria de todo abusiva para quem teve o colo e o coração da Badinha, Eugénia da Vera Cruz Medina e Vasconcelos, irmã do médico bravense José Maria da Vera Cruz, a musa das musas. A Badinha Um dia caíra em teu níveo seio demasiado botão que d’uma linda roseira arrancara violento tufão. As tuas carícias deram-lhe a vida, e o anélito teu foi o bálsamo que deu força, alento ao débil peito seu! E a carmínia bonina transformou-se rapidamente em flor, que se esforça por derramar a jorros reconhecido odor! O imaculado anjo da caridade, que do Olimpo desceu és tu! E a flor, que, meiga e carinhosa, embalaste, sou eu! (1882) Brava, S. Vicente e Santiago Depois da revelação do grande talento de Eugénio, na sua ilha natal, a necessidade de um contacto com outros mundos começou a ser equacionada entre familiares e a população bravense. São Vicente foi o destino escolhido. Mindelo nos finais do Séc. XIX Parte então para a vila do Mindelo onde se emprega numa casa comercial, que funciona também como consulado dos Estados Unidos. Em 1888 é colocado como Recebedor da Fazenda Pública no Concelho do Tarrafal, onde encontra o Cabo Verde vernáculo e profundo. No exercício desta função denuncia os problemas do povo e reivindica os seus direitos, perante o Governador. Esta frontalidade revelar-se-á determinante na forma como, mais tarde, viria a ser tratado. Santiago – Vendedor de palha “…Eu exijo para o povo aquilo que, de direito sei ser do povo; porque, sobre o facto de lhe ser negado provar que lhe não seja devido pode muito bem o não dar hoje, preparar o ter que dar amanhã…Por isso exijo; não peço. Quereis saber quem sou eu para exigir? Sou uma vontade e, por conseguinte, uma força.” Desiludido com a política, regressa à Brava continuando a exercer o mesmo cargo: o de Recebedor da Fazenda. Estamos em 1890. Cinco anos depois publica Manidjas (Canções) em crioulo. Em 1899, na Revista de Cabo Verde, editada em Lisboa, começa a publicar textos. Serpa Pinto Cesário de Lacerda Ventos de mudança aproximam-se: enquanto Serpa Pinto elevara Eugénio Tavares à categoria de Delfim, Cesário de Lacerda, em 1900, manda buscar um vaso de guerra de Lisboa para prender o poeta alegando um desfalque que esconde a verdadeira motivação: a oposição às suas medidas retrógradas. Pelo silêncio da noite o barco chega a Furna. Os marinheiros desembarcam e dirigem-se para Nova Sintra cercando, de imediato, a casa do poeta. Não está ali. Encontra-se em casa de um compadre numa festa. Cercado, disfarça-se de velha e foge por entre os sitiantes. O tempo passa e Eugénio continua em fuga a coberto do povo. Entretanto, na Furna, o pai adoptivo de Eugénio, José Maria da Vera Cruz, negoceia o destino do filho com o comandante do vaso de guerra que acaba por zarpar sem o prisioneiro. Dias depois larga do mesmo porto a barca B.A. Brayton, com destino aos E.U.A., levando a bordo o poeta para um longo e amargurado exílio. Funda em New Bedford o Jornal Alvorada mantendo a sua edição por um período de sete anos. Em 1910 dá-se, em Santiago, a revolta dos rendeiros, em Ribeirão Manuel. Em Portugal é proclamada a República a 5 de Outubro. Eugénio regressa do exílio e desembarca em S. Vicente. Inicia nesse mesmo ano a sua colaboração em jornais: Manduco, fundado por Pedro Cardoso, na ilha do Fogo, Independente da Praia, o Futuro de Cabo Verde, Progresso e Mindelense de S.Vicente. Funda, em 1911, o semanário Voz de Cabo Verde. No ano seguinte escreve no Correio Português, de New Bedford. Em 1913 escreve para a Tribuna, da Brava. Corria o ano de 1914 quando compõe um hino dedicado à República. As Cartas Caboverdeanas são publicadas, na Praia, em 1915 e em 1916 também se fica a conhecer o Amor que Salva (Santificação do Beijo) e Mal de Amor: Coroa de Espinhos. José Martins da Vera Cruz morre no ano de 1920. Dois anos depois Eugénio regressa à Brava, depois de ter sido julgado e absolvido. Cria, então, com um grupo de companheiros, a maior escola primária da colónia: a Escola Governador Guedes Vaz. É, nessa mesma ocasião que funda a Troupe Musical Bravense. Troupe Musical Bravense Visita do Governador Guedes Vaz à Brava O Governador da Colónia, Guedes Vaz, visita a Brava e formaliza um pedido desculpas a Eugénio Tavares, em relação às desonras sofridas a mando de Cesário de Lacerda, decorria o ano de 1927. Pouco tempo depois retira-se para a Praia da Aguada e entretanto, nesse retiro, apesar da sua ligação à Igreja do Nazareno, que ajudou a fundar na Brava, convida o padre Nogueira para abençoar a fonte porque a água estava ali a faltar. Foi uma grande peregrinação. A partir desse dia, raras vezes aparece na Vila onde acaba por morrer a 1 de Junho de 1930. O Cortejo Fúnebre de Eugénio Tavares 1932 - Em Fevereiro, por iniciativa do escritor português José Osório de Oliveira, amigo de Eugénio, é publicado pela Livraria J. Rodrigues & Cª. de Lisboa, o volume Mornas – Cantigas Crioulas, de acordo com uma selecção e com um prefácio que o autor fizera poucos meses antes da sua morte, em Nova Sintra. 1940 - No âmbito das comemorações portuguesas do duplo centenário, dos oitocentos anos da Fundação e dos trezentos da Restauração, o Governador de Cabo Verde desloca-se à Brava para inaugurar o mausoléu de Eugénio Tavares. 1969 - A «Liga dos Amigos de Cabo Verde», em Luanda, publica a 2ª edição de Mornas, com uma Adenda em português. 1974 - Pelos acordos de Londres e de Argel, Portugal reconhece o direito à independência de Cabo Verde. 1995 - Em 6 de Maio, no Palácio Valenças, em Sintra (Portugal), é feito o anúncio público, seguido da leitura de estatutos e da escritura pública, da criação da «Fundação Eugénio Tavares». 1995 - O Presidente da República de Cabo Verde, Dr. António Mascarenhas Monteiro, concede-lhe, a título póstumo, a mais alta condecoração na área da cultura: o primeiro grau da “Ordem do Dragoeiro”. Corsino Fortes declara a ressurreição de Eugénio Tavares. 1997 - A Câmara Municipal de Lisboa evoca Eugénio Tavares nos 50 anos da estreia do “Mar Eterno” na Radiodifusão Portuguesa na voz de Fernando Queijas. 1998 - O Instituto Camões em Portugal leva “Mar Eterno” à “Expo 98”, entre Camões e Pessoa, enquanto o poema é traduzido em cinco línguas europeias. 2002 - Em 24 de Junho, é inaugurado na Praça Eugénio Tavares, da Vila Nova Sintra, na ilha Brava, o monumento ao poeta, «Homenagem da comunidade cabo-verdiana da diáspora e da associação Amidjabraba». A última foto de Eugénio Tavares no Jardim em Nova Sintra “Força de Cretcheu” Embaixada de Cabo Verde Fundação Eugénio Tavares