Manchester do Cariri
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Manchester do Cariri
Juazeiro Manchester do Cariri Jota Alcides Horizonte Editora Brasília - DF 1999 1 2 Jota Alcides Juazeiro Manchester do Cariri Movimento Cultural Brasileiro Horizonte Editora Brasília - DF 1999 3 Copyright by Jota Alcides ALCIDES, Jota. Manchester do Cariri - Juazeiro na Revolução dos Campeões. Brasília, Horizonte, 1999 96 Páginas 1. Futebol, Brasil. 2. Gestão Empresarial: Futebol. 3. Marketing: Futebol. I Título CDU &96.33 Prefácios do jornalista Armando Ferrentini, um dos maiores especialistas em Marketing do Brasil, e do bicampeão mundial, mestre Nilton Santos, “a enciclopédia do futebol”. Direitos reservados ao Autor 4 Dedicatória Aos jornalistas, escritores e professores Geraldo Menezes Barbosa, ex-diretor da Rádio Progresso de Juazeiro, e Aldemir Sobreira, ex-diretor do jornal Tribuna de Juazeiro, dois dos expoentes da imprensa do Cariri na segunda metade deste século XX, que me abriram as portas para o fascinante mundo da informação, oferecendo-me oportunidade, treinamento, ensinamento, exemplo, amizade, estímulo, apoio e aplauso nos primeiros passos em caminhos da mídia impressa e eletrônica, além da generosidade de dedicados e aplicados amigos e mestres, minha profunda gratidão, terna e eterna gratidão na memória longa do coração. 5 6 Sumário Apresentação ............................................................................. 09 Prefácio de Armando Ferrentini ................................................ 19 Prefácio de Nilton Santos .......................................................... 23 01. Berço do Footbusiness ................................................. 27 02. Juazeiro Potencial ......................................................... 33 03. Explosão no Romeirão ................................................. 41 04. Vitória Prenunciada ...................................................... 47 05. Consagração Impressa .................................................. 53 06. Juzeiro Competitivo ..................................................... 57 07. Superbolão de negócios ................................................ 65 08. Efeito Globolarização ................................................... 73 09. Juzeiro Campeão .......................................................... 79 10. Bolsa de Valores ........................................................... 85 11. Manchester do Cariri .................................................... 91 Resultados ................................................................................. 99 Referências .............................................................................. 101 7 8 Apresentação Quando se alcança o estágio de mais de três décadas consecutivas de atividades profissionais, em qualquer segmento econômico ou empresarial, fica-se, inevitavelmente, vulnerável aos impulsos naturais do processo de flash memory ou nostálgica retrospectiva. Menos por inflamável presunção e mais por agradável evocação do tempo passado de utopias, desafios, superações e eventuais sucessos. Principalmente, quando dedicados, todos esses anos, ao mesmo negócio e ao mesmo ideal. É o que acontece comigo, agora, após 32 anos como jornalista, tendo atuado como executivo em jornais, rádios e televisões de importantes redes brasileiras de comunicação. Fixado há 20 anos em Brasília, com a satisfação de quem teve e pôde aproveitar alternativas e oportunidades em ambiente de desigualdades próprias de uma entropia social redutora de perspectivas, volto ao Nordeste com uma escala técnica de revisita ao Juazeiro do Norte, Terra do Padre Cícero, no Vale do Cariri, cenário de um novo fato social, sem caráter milagroso, com repercussão cultural e econômica. Quase instintivamente, olhando, pelo retrovisor do tempo, flagro-me meio contemplativo, meio saudosista, após ter percorrido intensa jornada e sido, com muita honra, Editor Principal da Rede Globo de Televisão no Nordeste, Diretor-Editor do Jornal do Commércio, em Pernambuco, e Editor-Chefe do Correio Braziliense, no Distrito Federal, entre outros cargos em empresas jornalísticas de referência nacional. 9 Mais do que proustianamente, prazerosamente, entregome à recordação de que foi há 32 anos o início de tudo, precisamente no Juazeiro do Cariri, movido por sonhos e ideais que se realimentaram testados em frustrações e realizações e se fortaleceram na defesa de causas nobres e na alegria de conquistas realmente gratificantes. Mais satisfação ainda porque o começo deu-se pelo do Interior, reconhecidamente de cultura profissionalizante multifuncional, por suas características próprias de maiores exigências de mobilidade para a produção generalista, de menores pressões quanto à competitividade e de maiores espaços para liberdade de ação e de criatividade. E porque tive o futebol como porta de entrada para o jornalismo. Colocou-me o destino diante dessa porta em 1962, quando era apenas um adolescente de 12 anos, estudante do Colégio Salesiano Padre Rinaldi, em Carpina, na Zona da Mata de Pernambuco, a 60 quilômetros do Recife. Despertado vocacionalmente para o mundo da notícia, ali tentava e conseguia fazer ingênuas narrações de futebol, documentando em gravador profissional os jogos de campeonato intercolegial, cujos lances mais emocionantes eram reproduzidos, para alegria da estudantada, como atração dos espetáculos artísticos nas noites de domingo no teatro salesiano. Entre 1967 e 1969, o que era apenas uma brincadeira infanto-juvenil fantasiosa em Carpina, Pernambuco, virou realidade caprichosa do destino adulto, em Juazeiro do Cariri. Do Juazeiro araripeiro, canavieiro, açucareiro, hospitaleiro, romeiro, cordeleiro, violeiro, vaqueiro, bacamarteiro, festeiro, forrozeiro e também futeboleiro. 10 Em Juazeiro, nessa época com cerca de 100 mil habitantes, tive a chance de participar de muitas radiojornadas esportivas, escalado na equipe da Rádio Progresso, Emissora Caririense de Educação e Cultura, inaugurada em 1º de maio de 1967 e dirigida por Geraldo Menezes Barbosa, executivo de múltiplas atividades sociais e culturais, dividido entre a imprensa, a medicina, o magistério e a literatura. Mas, especialmente, um homem atento aos novos talentos. Comecei pelo começo. Primeiro, como plantonista esportivo, em seguida repórter esportivo, redator esportivo e, depois, como cronista esportivo, um exercício ousado para a inexperiência de um jovem em formação, mas absolutamente possível em ambiente propício para descoberta, valorização e desenvolvimento de novos profissionais, como é o caso do jornalismo no Interior. Em busca de um horizonte além do radioesportivo, mais identificado com aspirações e propósitos acalentados, desloqueime, imediatamente para o radiojornalismo, lançando o RádioRepórter Cariri, que foi um sucesso regional de audiência e credibilidade, e daí, rapidamente, para o jornalismo impresso. Como desejava, tornei-me imensamente envolvido em compromissos com Rádio Progresso de Juazeiro, Tribuna de Juazeiro, Tribuna do Ceará, Rádio Verdes Mares, Ceará Rádio Clube, Unitário, Correio do Ceará e Diário de Pernambuco, quase tudo ao mesmo tempo. Dessa maneira, passei a ocupar, gradativamente, maiores espaços nos meios jornalísticos do Cariri, Fortaleza e Recife. Foi assim que me aproximei de alguns profissionais de prestígio na imprensa metropolitana: Edilmar Norões, Mardônio Sampaio, Cirênio Cordeiro, Antonio Marrocos, Francisco Maia, Narcélio Limaverde e Nazareno Albuquerque, na capital cearense; 11 e Gomes Neto, Anchieta Hélcias, Antonio Camelo, Tavares Maciel, Ivan Lima, Adonias Moura, Artur Malheiros e Stélio Gonçalves, na capital pernambucana. Depois deles, vieram muitos e muitos amigos jornalistas em Fortaleza e no Recife. Enquanto permanecia em temporada no Cariri pensando no futuro e aspirando exercer o jornalismo na capital de Pernambuco, opção previamente escolhida e conscientemente amadurecida, sob influência do passado adolescente, procurava acumular conhecimento e aperfeiçoamento nas funções de repórter, redator e cronista fazendo ampla cobertura dos acontecimentos esportivos, sociais, culturais, políticos e econômicos dessa região centronordestina. Considerado o aglomerado urbano de maior crescimento no Ceará e um dos maiores do interior do Nordeste, Juazeiro do Norte desse tempo contava com um jornal - Tribuna de Juazeiro, sob direção do professor e jornalista Aldemir Sobreira - e duas emissoras de rádio - ZYB 35 Rádio Progresso e ZYH 21 Rádio Iracema, esta última pioneira, no ar desde 1951e dirigida por Coelho Alves, em várias décadas um dos mais afamados radialistas do Ceará. Esses veículos de comunicação garantiam promoção e apoio ao futebol da cidade, também o mais evoluído do Cariri. Sob o patrocínio e a organização da LDJ-Liga Desportiva Juazeirense, o campeonato de Juazeiro já era um dos mais vibrantes do Interior do Ceará com seus dois times mais competitivos - Icasa e Guarany - sempre alternando as decisões e os títulos de campeões. Eles empolgavam a cidade, mas a cidade não contava com um estádio adequado que pudesse estimular e adiantar o desporto regional. O único espaço existente para o futebol profissional, Estádio da LDJ, no bairro de São Miguel, próximo ao centro de Juazeiro, era mais do que acanhado, muito pobre mesmo, extremamente necessitado. 12 Potencialmente, no entanto, Juazeiro do Norte e Crato, os dois centros mais desenvolvidos da região, estavam preparados e mobilizados para nova transformação. Com apoio de abnegados, talentosos, valentes e diligentes profissionais de imprensa operando com responsabilidade social, defesa das causas regionais e visão de futuro. Em Juazeiro, era tempo de Geraldo Menezes Barbosa, Aldemir Sobreira, Coelho Alves, Carlúcio Pereira, Daniel Walker, Abraão Batista, Maria dos Remédios, Walter Barbosa, Sílmia Sobreira, Aguinaldo Carlos, José Carlos Pimentel, João Sobreira, Souza Menezes, Geraldo Alves, Alcelir Sobreira, Fran Barbosa, Dário Coimbra, Donizete Sobreira, Jackson Barbosa, Assis Sobreira, Ideval Pedroso, Dino Leopoldo, Maciel Silva, Assis Ferreira, Pedro Duarte, Geraldo Batista e outros tantos entusiastas do mundo da informação. Em Crato, era tempo de Lindemberg de Aquino, Humberto Cabral, Elói Teles, Heron Aquino, Jurandir Timóteo, Hamilton Lima, Antonio Vicelmo, Elton Aguiar, J. David, Carlos Miranda e Campos Júnior, vinculados ao jornal e às emissoras Rádio Educadora do Cariri e Rádio Araripe do Crato, esta dos Diários Associados, pioneira no interior do Ceará, no ar desde 1950, e da qual fui chefe de jornalismo antes de ingressar no mercado do Recife. Destacavam-se em Juazeiro, na imprensa esportiva, José Boaventura, Luiz Carlos de Lima, Wilton Bezerra, Jussier Cunha, Wellington Amorim, Dalton Medeiros, Jussier Lima, Robledo Pontes, Francisco Foguinho, Carlos Alencar, Lucier Menezes, João Eudes, Cícero Antonio, Albes Filho, Wanderley Brás e Wellington Oliveira, radialistas operosos, habilidosos e voluntariosos. De todos tive o privilégio da companhia e da amizade em memoráveis jornadas esportivas no velho e empoeirado Estádio da LDJ. 13 Graças aos persistentes e veementes apelos desses atentos profissionais, promovendo frequentes campanhas pelo progresso do futebol caririense, Juazeiro do Norte ganhou em 01 de maio de 1970 um moderno estádio de futebol, no bairro do Pirajá, construído e inaugurado pelo prefeito Mauro Sampaio: o Romeirão, com capacidade para 30 mil pessoas, um dos mais bem equipados do interior do Nordeste. Encontrava-me, nessa época, novamente em Pernambuco, já então trabalhando como redator de telejornalismo, na TV Universitária do Recife, e de cinejornalismo, na Cinearte Estudios S.A., uma produtora cinematográfica pernambucana de Mayerber de Carvalho, também diretor artístico da mencionada televisão, pertencente à Universidade Federal de Pernambuco e pioneira da rede educativa no Brasil. Convidado e devidamente credenciado pelas duas organizações, compareci à festa inaugural do Romeirão, que teve como atração principal o jogo entre a equipe do Fortalezae o time do Cruzeiro, de Belo Horizonte. Deu Cruzeiro 1X0. Produzi roteiro, redação e edição de um documentário cinematográfico de curtametragem sobre o evento, que foi exibido em salas de cinema do Nordeste. Projetava, tal documentário, além da beleza e da grandeza do novo estádio, a vibração de progresso que tornava ainda mais interessante e atraente a cidade de Juazeiro do Norte, fundada pelo Padre Cícero Romão Batista, seu primeiro prefeito em 1911 e líder carismático, além de santo milagreiro, dos sertanejos do Nordeste. Com o Romeirão, Juazeiro ganhou um novo símbolo de sua pujança e de sua prosperidade, fortalecendo sua vocação de liderança regional no Vale do Cariri. Pelo seu surpreendente desenvolvimento urbano, social e econômico em duas décadas, de 1950 a 1970, exibindo os maiores 14 índices de crescimento do Ceará, sob impulso de forte turismo religioso, que lhe deu fama de Meca do Nordeste, Juazeiro do Norte ficou conhecida, também, no vasto sertão, como Manchester do Cariri. Quase na virada para o ano 2000, essa denominação reforçou-se pelo dínamo do seu futebol: o Juazeiro Empreendimentos Esportivos Ltda., mais nova força do futebol centronordestino, fundado em 12 de outubro de 1998, primeiro clubeempresa do interior do Norte e Nordeste do Brasil, batizado com o nome fantasia de Juazeiro Esporte Clube, tema de abordagem deste livro. Um retrospecto do Campeonato de Futebol Cearense de 1999, iniciado em 1998, evidencia que o Juazeiro tem dado passos firmes no caminho seguro de gestão empresarial com ação empreendedora, motivadora e transformadora, projetando e ampliando a nova imagem da próspera Manchester do Cariri.O Futebol veio agregar-se ao binômio Religião-Trabalho, que historicamente fez Juazeiro crescer e progredir, formando o novo trinômio animador do seu desenvolvimento. Mais do que isso, o cenário em retrospecto revela que a Revolução dos Campeões chegou ao Cariri. Um modesto clube interiorano do Brasil faz bonito adotando parâmetros de grande clube-empresa e gera sinais de transformação social, cultural e econômica. Sob a emoção do futebol, foco central deste documentário resenhoso e despretencioso, mas feito com sentido de sincera homenagem aos que fizeram e fazem Juàzeiro vibrar com lances criativos, jogadas ousadas e gols de progresso. Para encerrar, sinceros agradecimentos aos meus amigos prefaciadores, dois mestres guerreiros e vitoriosos. Ao jornalista e publicitário de São Paulo, Armando Ferrentini, ex-presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil, diretor das revistas Propaganda, Marketing 15 e do jornal specializedo Propaganda & Marketing. Connheci-o em 1979. Então, como Assessor de Imprensa do Ministério da Educação e Cultura, recebi Ferrentini, entusiasmado com um pioneiro e revolucionário projeto de marketing e gerenciamento para reorganizes do futebol brasileiro. Portanto, pioneiríssimo. Ao jogador bicameral mundial de futebol Nilton Sanos, a Enciclopédia, de presença gloriosa nas Copas do Mundo em gramados da Suiécia e do Chile, em 1958 e 1962. Ídolo e mito, eleito em Paris, em 1998, o lateral-esquerdo da Seleção Mundial do Século, Nilton Santos mora há 12 anos em Brasília onde é diretor e professor de uma concorrida Escolinha de Futebol e reverencedo por várias gerações de admiradores. Surpreso com o exemplo e o desempenho do Juazeiro, reconhece, em seu depoimento, que o futebol-sonho acabou e chegou, definitivamente, a Era do futebol-empresa. Minha gratidão aos dois pelo privilégio e pela honra de seus prefácios valiosos e enriquecedores deste trabalho. Finalmente, uma ressalva importante: de formação acadêmica e experiência em comunicação, gestão empresarial, tecnologia da informação e marketing: não sou cronista esportivo. Em matéria de futebol nas linhas do gramado, considero-me tão somente um curioso entre os 160 milhões de técnicos brasileiros. Isto é, não entendo patavina, apenas o suficiente para saber quem está jogando melhor ou pior, amarrando o jogo ou buscando a vitória. O suficiente para xingar perna-de-pau e para aplaudir bola na rede. Brasília, setembro de 1999 Jota Alcides 16 17 Com 250 mil habaitantes, Juazeiro é uma das principais cidades do interior do Nordeste. 18 Prefácio de Armando Ferrentini Conheci o empresário e investidor Rupert Murddoch, australiano naturalizado norte-americano, durante o Congresso Mundial de Publicidade que a IAA - Associação Internacional de Propaganda, promoveu em Joannesburg, no início dos anos 80. Um homem brilhante, com cifrões nos olhos. Murdoch já havia investido em ações da grande mídia estadunidense, inglesa e australiana, através da sua News International, e começaria a diversificar suas preferências, passando a controlar 50% da 20th Century Fox, tornando-se, graças ao seu talento de enxergar antes, um dos magnatas mais célebres do mundo inteiro. Pois não é que Murdoch, recentemente, voltou suas vistas para o futebol, tentando comprar o Manchester United, só não o conseguindo porque a liga britânica (onde o futebol nasceu), mais realista que Sua Majestade, não permitiu. Por que um sujeito como Murdoch, com tanto lugar para colocar seu dinheiro, imaginou logo um clube de futebol? Porque Murdoch sabe que o showbiz é o grande negócio deste final de século e o futebol, esporte rei, é o filé mignon do showbiz, podendo transformarse no meganegócio do início do novo Milênio, ajudado pela globalização. Esse Manchester United, escolhido pela cabeça racional de Murdoch, faturou cerca de 400 milhões de dólares em 1998, provavelmente com um lucro (não revelado) de 100%. Ora, que segmento econômico legal proporciona esse retorno hoje em dia, quando os governos mais e mais avançam no que sobra como lucro de qualquer operação comercial? 19 Se Murdoch não conseguiu o seu intento de comprar o Manchester, valorizou ainda mais a grife do esquadrão inglês e eu, como palmeirense, morro de medo de pensar que é contra esse time que o meu Palmeiras vai disputar, dia 0 de novembro, a Copa Toyota em Tóquio, que confere ao ganhador o título (embora não reconhecido pela Fifa), de campeão do mundo interclubes. Mas, o Palmeiras também passou, a partir de 1992, por uma experiência empresarial até então inédita no Brasil: celebrou um contrato de co-gestão com a Parmalat, que possibilitou a ambos grandes conquistas. A Parmalat aumentou consideravelmente a sua participação no mercado brasileiro, mesmo enfrentando a idiossincrasia dos torcedores adversários. O Palmeiras, que estava na fila há 16 anos (seu último título havia sido conquistado em 1976, o de campeão paulista), conseguiu tirar o pé da lama, obtendo em 1993 a 1994 os títulos inéditos para qualquer clube brasileiro até aqui, de campeão e bicampeão regional e campeão e bicampeão nacional. De lá para cá, livre do fardo que a longa fila proporciona (vejam o caso do Santos, outrora tantas vezes campeão e agora amargando uma duríssima estiagem), o Palmeiras-Parmalat obteve outros títulos importantes, até conseguir a Libertadores este ano, troféu que perseguia desde 1961(o Palmeiras é o time brasileiro com o maior número de participação na Libertadores). Claro que ninguém duvida dos bons frutos de uma gestão empresarial em um clube de futebol. Por isso, a Lei Pelé estabeleceu que os clubes brasileiros terão que procurar, obrigatoriamente, este caminho, definindo como deadline o mês de março do próximo ano. Vejam o exemplo recente do Corinthians, onde a multinacional Hicks Muse assumiu sua gestão financeira colocando a casa em ordem e canalizando para o gramado a força da Fiel, que é inegável. Em pouco tempo, o Corinthians conseguiu equilibrarse e hoje é a sensação do Campeonato Brasileiro. 20 Este preâmbulo foi proposital, para deixar claro que negócios que movimentam milhões de dólares não podem ser mais dirigidos sem profissionalismo. Nesse aspecto, o mundo ficou complicado e requer cada vez mais competência. O enfoque que Jota Alcides dá nesse livro Manchester do Cariri, fazendo um contraponto do poderoso clbe inglês com o modesto mas ambicioso Juazeiro Esporte Clube pode se transformar em um instrumento de catequese para dirigentes teimosos, que relutam em deixar de lado suas grandes paixões no gerenciamento dos clubes que comandam. Lógico que, com o advento da Lei Pelé, isso ocorrerá de forma compulsória, mas o convencimento de cada um desses torcedores de carteirinha pode estar nas páginas desta obra impecável de Jota Alcides, brilhante texto com aquela condição sempre apregoada por Thomás Edison: “Criatividade é 90% de transpiração e 10% de inspiração”. O autor transpirou para desenvolver este trabalho, em um esforço de pesquisa que ficamos imaginando o quanto lhe custou. Mas, o produto final é excelente, com uma visão geral da atualidade do futebol brasileiro dentro do que poderíamos chamar de marketing esportivo e a vantagem de dissecar o assunto escolhendo um “case” que está se apresentando como um grande exemplo de sucesso quando há sobretudo vontade e planejamento. Deve-se levar em conta que o projeto do Juazeiro tem pouco mais de um ano, um tempo diminuto para exibir os resultados que o simpático clube do Cariri já apresentou. São Paulo, setembro de 1999 Armando Ferrentini 21 22 Juazeiro avança entre as 199 Cidades Brasileiras de Centralidades mais Expressivas Prefácio de Nilton Santos Foi com muita satisfação, mas também com surpresa, que tomei conhecimento, com a leitura deste novo livro do jornalista Jota Alcides, da existência do Juazeiro Empreendimentos Esportivos, no Vale do Cariri, no Nordeste brasileiro. Todos sabemos que, dentro de alguns meses, a Lei Pelé terá que ser efetivamente implantada, tornando empresas todos os clubes que quiserem continuar competitivos. Que o futebol brasileiro precisa de mais organização isto está claro nas nossas cabeças; que precisa se modernizar, que precisa tentar se equiparar aos europeus no que diz respeito à organização, também sabemos. Por outro lado, acompanhando as dificuldades financeiras, maiores ou menores, enfrentadas por todos os clubes do Brasil chamados grandes, é que fico pensando: o que será dos pequenos, então, na hora de se adaptarem à nova Lei? A primeira vez que tomei conhecimento e pude ver, de perto, um começo de organização no futebol brasileiro foi na Copa de 1958, com Paulo Machado de Carvalho, empresário bem sucedido, à época, na área de comunicações em São Paulo, Paulo Machado chegou com conceitos novos e implantou no comando da Seleção Brasileira os métodos em que acreditava. Talvez os mesmos que usava para administrar seus negócios particulares. Ao final, pudemos atestar que deu certo. Fomos campeões. Só hoje eu vejo que deu certo somente dentro de campo. Éramos 23 um grupo formado pelos melhores jogadores do País e só precisávamos de uma boa dose de incentivo e desenvolvimento do espírito de coletividade. Fora do campo, porém, o Dr. Paulo, mesmo sendo um empresário e tendo colocado sua experiência em prática no comando da Seleção, foi amador na hora de pensar na premiação da equipe. Ou melhor, não fez um planejamento financeiro adequado e levou em conta somente o amor à camisa na hora de nos pagar pela conquista do título. Ou talvez, ainda, ele estivesse certo ao seguir os conceitos empresariais da época que só visavam o lucro dos negócios sem se preocuparem com a satisfação dos funcionários. Mas, o “futebol-sonho” acabou. Ou os clubes se enquadram e buscam o “futebol-empresa” ou, dificilmente, conseguirão sair do buraco financeiro a que chegaram. A surpresa que tive com relação ao Juazeiro Empreendimentos Esportivos é exatamente o fato de tratar-se de um clube considerado pequeno, do interior do Nordeste, que saiu na frente dos grandes clubes adotando a gestão de empresa. Fez um trabalho de composição de equipe aproveitando as “pratas da casa” e valorizando um treinador, dando-lhe liberdade e tempo para mostrar seu serviço. O resultado foi, sem dúvida, o esperado: a conquista do vice-campeonato. O time quase foi campeão estadual passando à frente dos mais tradicionais clubes do Estado. Aliás, tradição realmente não ganha jogo. O meu Botafogo é a prova disso. Grande no passado e quase rebaixado no presente. Os dirigentes do Juazeiro apostaram numa organização moderna que acredita na ascensão de valores; que acredita num 24 trabalho de base; que acredita que o treinador da equipe não pode ser trocado somente por perder uma partida; que os resultados de um trabalho bem feito virão automaticamente acontecer a médio e longo prazos; que a torcida é muito importante porque é ela que ajuda a fazer o espetáculo; que para ela crescer é preciso rever os preços dos ingressos, acompanhando os efeitos da crise no País. Com tudo isto sendo pensado e respeitado, o resultado só poderia ser este mesmo. Só espero que esta direção do Juazeiro mantenha a firmeza de propósito ao transformar o clube em empresa e não se afaste dos fundamentos básicos. Não se corrompa, mantendo esta equipe na segunda temporada sem se deslumbrar com as boas propostas que fatalmente vão chegar para os seus melhores jogadores e, assim, desmoronar a equipe só para ganhar dinheiro. O importante é que, quando se pensar em renovar estes valores que lá estão, já se tenha outras “pratas da casa” para o lugar, não deixando assim cair o nível técnico da equipe. O que sei é que o terceiro Milênio está aí e todos terão que se adaptar à nova Lei. O futuro, a exemplo do Juazeiro, chegou. E só sobreviverão os clubes que se adaptarem às exigências da nova realidade. Brasília, agosto de 1999 Nilton Santos 25 26 Progresso de Juazeiro, animado por Religião e Trabalho, agora tem a força do Futebol. 01 Berço do Footbusiness Foi um grande espetáculo! Foi realmente emocionante! Foi uma daquelas noites que entram para a história com as marcas indeléveis de tensão, ímpeto, força, raça, determinação, empolgação, vibração, vitória e glória, próprias de jornadas heróicas, proporcionando um turbilhão de emoções e reafirmando velho axioma inglês: o verdadeiro heroísmo consiste em persistir por mais um momento quando tudo parece perdido. Quarta-feira, noite do dia 26 de maio de 1999. Milhares de torcedores no Estádio Nou Camp, em Barcelona, Espanha, e milhões em todo o mundo, pela televisão, viram o campeão da Inglaterra, Manchester United, em jogo de competitividade, ofensividade e velocidade, derrotar o Bayern de Munique, campeão alemão. Mesmo tendo levado um gol aos cinco minutos do primeiro tempo, o clube inglês não se abateu e encarou o jogo todo tentando e atacando, atacando e tentando. Finalmente, como surpreendente rolo compressor, empatou aos 45 minutos do segundo tempo e ganhou de virada aos 47, nos dois preciosos minutos finais de descontos, repetindo a façanha de 1968 e conquistando o título de bicampeão da Copa dos Campeões da Europa. Pela conquista da tríplice coroa no mesmo ano - campeão inglês, campeão da Copa da Inglaterra e campeão da Copa de 27 Campeões da Europa - quatro dias depois ainda rolava muita festa na Inglaterra, principalmente em Manchester, sede do clube fundado em 1878. O entusiasmo coletivo provocou até uma nota oficial do primeiro-ministro britânico Tony Blair: Foi uma vitória fantástica, com um final incrível! Um dos mais competentes, experientes e respeitados cronistas esportivos do Brasil, o jornalista e escritor Armando Nogueira, autor de Bola na Rede, vendo o jogo com olhos de analista esportivo, naturalmente, assim se manifestou em sua coluna no Jornal do Brasil e outros diários em rede nacional:”Uma vitória inglesa que, se não for bem contada, ninguém acredita. Pois o triunfo do Manchester só se explica como prodígio”. Mais Armando, não resistindo a uma bela incursão filosófica: “Vitória da equipe que ignorou solenemente o cronômetro. Vitória da mente que não desesperou jamais. Vitória da arte de desafiar os caprichos do destino”(1) Certo, absolutamente certo, o mestre Armando Nogueira. Mas, seria somente isso? Não teria sido muito mais do que uma vitória da arte? Seria o Manchester campeão apenas um desafio aos caprichos do destino? Ou o Manchester seria o resultado de eficiente gestão empresarial? Ou ainda uma empresa de marketing vitorioso e vitoriosa em marketing? Se assim fosse colocada a questão para o Dr. Edwards Deming, o homem que descobriu a qualidade e liderou uma profunda revolução na administração das maiores empresas e corporações nos Estados Unidos e no Japão, na segunda metade deste século, certamente ele definiria o desempenho do futebol do Manchester como resultado de um sistema: “Um sistema é uma rede de componentes independentes que trabalham em conjunto para tentar realizar o objetivo do sistema. Um sistema deve ter um objetivo. Sem objetivo, não existe 28 sistema. O objetivo do sistema deve ser claro para qualquer pessoa que se encontre no sistema e incluir planos para o futuro. O segredo é a cooperação entre os componentes em direção aos objetivos da organização”.(2) Sistema. Esta definição do Dr. Deming, que não entendia de futebol, mas era mestre insuperável na gestão de negócios, parece uma definição plausível para o caso do Manchester United, o clube de futebol mais rico do mundo, cujos objetivos de organização ultrapassam os limites dos gramados e atingem, fortemente, o mercado financeiro, como negócio altamente lucrativo. Um clubeempresa que funciona como sistema modelar de gestão no mundo do futebol. Outro competente, experiente e prestigiado cronista da imprensa brasileira, campeão no esporte de analisar os fenômenos dos negócios e do mundo financeiro, Joelmir Beting, viu o desempenho do vitorioso Manchester de outro ângulo, naturalmente, com olhos de analista econômico: “O paradígma da profissionalização do futebol fora do campo é o Manchester United, da cidade inglesa que viu nascer a Revolução Industrial do século XVIII, apontado, desde 1997, como o clube mais rico do mundo. Literalmente. Pioneiro da abertura do capital, com ações negociadas em Bolsa, o centenário clube valia no mercado acionário da City londrina nada menos de US$ 1 bilhão 700 milhões na tarde nublada de quarta-feira, antes da final da Copa Européia de Campeões”. (3) Mais mestre Joelmir, não resistindo aos encantos de explosão popular em Manchester e de euforia na Bolsa de Londres: Na tarde de sexta-feira (após o jogo), o estoque de ações do clube em poder do público investidor já havia do saltado para US$ 1 bilhão e 900 milhões. Uma alta acumulada de 14% em dois pregões. Em resumo: uma tremenda máquina de fazer gols e dinheiro. 29 Explosão de alegria popular e de vibração dos empresários investidores de Manchester, na Inglaterra, registraram-se exatamente uma semana depois da explosão de alegria popular e de vibração dos empresários investidores de Juazeiro do Norte, no Brasil, maior cidade do Vale do Cariri, distante 560 quilômetros de Fortaleza e igualmente do Recife, ao sul do Ceará, fronteira com Pernambuco, Paraíba e Piaui. Motivo: sucesso técnico, financeiro e administrativo do novo Juazeiro Esporte Clube, inclusive superando grandes e tradicionais agremiações da Capital, na disputa acirrada da Primeira Divisão do Campeonato Estadual de 1999, com outros nove times: Ceará, Fortaleza, Ferroviário, Tiradentes, Uniclinic, Itapipoca, Uruburetama, Quixadá e Limoeiro. Um sucesso para ser comemorado, bem comemorado. Mas, o que tem a ver Manchester, cidade da rica Inglaterra, com Juazeiro do Norte, cidade brasileira do pobre Nordeste? Que ousadia de semelhança pode haver entre o poderoso Manchester, centenário clube do futebol inglês, com o modesto Juazeiro, clube recém-nascido no futebol caririense? Os dois não se parecem nem mesmo nas cores de seus uniformes: O Manchester é um esquadrão rubro, o Juazeiro é um esquadrão azul. Por que, então, a comparação? Cabe comparação? Em verdade, como modelo internacional de clube sob gestão empresarial, o Manchester é uma inspiração motivadora com o selo da Inglaterra, de onde o pioneiro Charles Miller trouxe o futebol pra o Brasil, aqui desenvolvido com o incentivo e o apoio de Charles Williams, Quincey Taylor, Harry Welfare, Archibald French e outros que deixaram a influência inglesa na transformação desse esporte em preferência nacional. Falta muito para que o caso do Juazeiro possa ser enquadrado como projeto definido, acabado ou semi-acabado de 30 gestão estratégica, administração por objetivos, cultura corporativa, logística empresarial, administração participativa, gestão de qualidade ou ainda de outras tendências modernas de gerenciamento estratégico e desenvolvimento empresarial. Falta ao Juazeiro, ainda, uma estrutura organizacional azeitada e eficiente para atender, corretamente, todas as demandas inevitáveis de uma empresa em crescimento, incluindo produção, finanças, servidores, planejamento, qualidade, competitividade, promoção, tecnologia, informação, relações comunitárias, relações comerciais, relações institucionais, marketing, pesquisa e desenvolvimento. Falta ao Juazeiro, sobretudo, uma política estratégica e consistente de marketing. De marketing global, não exclusivamente de marketing esportivo, indispensável ao desenvolvimento dos negócios, como ensina ilustre professor norte-americano da Universidade de Harvard, Theodore Levitt: “Marketing engloba todas as grandes coisas estimulantes e todas as pequeninas coisas perturbadoras, que têm de ser feitas na organização inteira, para que possa levar a cabo a finalidade empresarial e atrair e manter clientes. Isto significa que marketing não é apenas uma função empresarial, é uma visão consolidada do processo empresarial inteiro.”(4) Entretanto, como organização que aprende, de apenas um ano em funcionamento, o Juazeiro um projeto de bom começo na direção da gestão estratégica, entendida como o processo de buscar a compatibilização da empresa com seu ambiente externo, através de atitudes de planejamento, implementação e controle, consideradas as variáveis técnicas, econômicas, informacionais, psicológicas e políticas. (5) Exagero de exegese? Comparação esdrúxula? 31 Não é o que pensam os habitantes da Manchester do Cariri. Que seja apenas um epíteto ou apenas um epônimo, mesmo sujeito a uma epítrope, o importante, para eles, é que Manchester e o Manchester servem de inspiração para Juazeiro do Norte e o Juazeiro manterem-se em progresso com otimismo, ousadia e determinação no presente e confiança no seu potencial de futuro. Philip Kotler, professor norte-americano, autor de vários best sellers, entre eles, Administração de Marketing Marketing Estratégico, e considerado mundialmente o pai do marketing, costuma registrar em suas conferências uma advertência fulminante de pensador citado como anônimo: “Há três tipos de empresas: as que fazem acontecer, as que ficam olhando tudo acontecer e as que ficam imaginando o que aconteceu.”(6) Parece que a mensagem de Kotler chegou e ganhou espaço definitivo em Juazeiro do Cariri. Seu principal clube de futebol é modesto ainda e apenas em estrutura organizacional e física, mas audacioso e inovador em gerenciamento administrativo, treinando e operando um conjunto de práticas componentes de modelagem da moderna gestão empresarial. Desse modo, enquanto os clubes mais tradicionais do Ceará, com marcas fortes na história do próprio futebol brasileiro, estão olhando tudo que acontece de mudanças no cenário esportivo nacional e mundial, o Juazeiro, organizando-se como clube empresa constituído em Sociedade Anônima, está mostrando sua força de competividade e acontecendo. Dentro e for a das linhas dos gramados. 32 02 Juazeiro Potencial De acordo com estudo do IBGE ( 7), feito em 1997, sobre o que chama de Rede de Lugares Centrais do Brasil, considerando os centros urbanos posicionados como pontos de convergência de múltiplas redes geográficas que recobrem o território nacional, Juazeiro do Norte está incluída entre as 199 Cidades Brasileiras de Centralidades mais Expressivas, no mapa de 5.507 municípios do País. Dessas cidades brasileiras, inclusive capitais, classificadas por suas centralidades média, forte, muito forte e máxima, o estudo seleciona 55 no Nordeste, destacando em nível máximo Recife, Fortaleza e Salvador. Em nível muito forte estão São Luis, Teresina, Juazeiro do Norte, Natal, João Pessoa, Campina Grande, Caruaru, Maceió, Aracaju, Feira de Santana, Itabuna e Vitória da Conquista. Como se observa, citado estudo confirma a tendência de permanência da onipresença dominante das metrópoles regionais (Recife, Fortaleza e Salvador), mas já revela expansão e crescimento de outras cidades, como Juazeiro do Norte, desempenhando importante papel de influência regional no Nordeste. Em relação aos centros mais desenvolvidos de outras regiões do País, Juazeiro está colocado no mesmo nível de expressividade regional de Juiz de Fora, em Minas, Ribeirão Preto, em São Paulo, Londrina, no Paraná, Blumenau, em Santa Catarina, e Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. 33 Evidentemente, esse desempenho positivo e essa notável evolução na rede urbana brasileira não permitem comparação entre Manchester e Juazeiro, Juazeiro e Manchester, em dimensões de equivalência, sob qualquer ângulo. Seria um exercício desprezível em parâmetros e desprezado em fundamentos. Mas existem algumas suaves analogias. E, como diz velho adágio popular, quem procura com boa vontade acaba achando. Manchester, fundada em 1200, às margens do rio Irwell, é o segundo maior centro urbano da Inglaterra, depois de Londres, com mais de l milhão de habitantes e 2 milhões 600 mil em sua região metropolitana. Juazeiro, banhado pelo rio Salgadinho, cidade desde 1911, é o segundo maior centro urbano do Ceará, depois de Fortaleza, com 250 mil habitantes, estimativa de 1998, e quase 1 milhão em sua região de influência, o Cariri. Manchester é o principal centro industrial do interior da Inglaterra, com seus parques fabris têxteis, metalúrgicos e químicos. Juazeiro é o principal centro industrial do interior do Ceará. Juazeiro não se resume, como o Brasil do Sul imagina, ao fenômeno religioso do Padre Cícero, com sua estátua de 25 metros de altura, segundo maior do País depois da do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, e seus 1 milhão e 500 mil visitantes por ano, vindos de todo o Nordeste. Pulsante centro comercial e industrial, Juazeiro tem apresentado, também, nos últimos anos, significado progresso em seu perfil educativo-cultural. Além de cinco Faculdades – três instaladas (Engenharia de Edificações, Engenharia da Produção e Matemática) e duas em implantação (Administração de Empresas e Medicina) - e uma Escola Técnica Federal, Juazeiro contava, em 1998, segundo dados da Secretaria de Educação do Ceará, com 169 escolas oficiais e particulares, 72 mil estudantes de 1º e 2º graus, 2.400 professores de ensino médio e 372 professores com pós-graduação e mestrado. 34 Estudos e diagnosticos das Secretarias de Planejamento de Educação do Estado do Ceará e informes básicos do Instituto de Planejamento do Ceará-Iplance, relativos ao ano de 1998, revelam os seguintes números de Juazeiro: * 250 mil habitantes * 123.337 eleitores * 512 escolas oficiais e particulares * 118 mil estudantes em todos os níveis * 72 mil estudantes de 1º e 2º graus * 2.400 professores de ensino médio * 372 professores com pós-graduação e mestrado * 52 mil consumidores de energia * 49 mil domícios com ligações d’água * 17 mil automóveis * 14 mil terminais telefônicos * 5 mil telefones celulares * 3.643 estabelecimentos comerciais * 619 estabelecimentos industriais Durante as décadas de 1950 a 1970, foi estupendo o crescimento comercial e industrial de Juazeiro, superando os índices de desempenho de todo o interior do Ceará. Com suas prósperas indústrias de produtos metalúrgicos, eletrônicos, têxteis, cerâmicos, mobiliários, calçadistas, gráficos, alimentícios, além de bebidas, óleos vegetais, borracha, plásticos e embalagens, ganhou a denominação de Manchester do Cariri. Da mesma forma que Juiz de Fora, em Minas Gerais, em igual período, conquistou fama de Manchester Mineira, por apresentar extraordinário surto de desenvolvimento econômico. Manchester tem no seu clube de futebol homônimo uma grande força de projeção nacional e mundial: o Manchester United hoje a maior referência internacional de sucesso como clubeempresa. Juazeiro tem no seu clube de futebol homônimo uma grande força de projeção no Nordeste: o Juazeiro a maior referência regional de sucesso no Ceará como ensaio de clube-empresa. 35 Embora sejam gigantescas as diferenças entre as duas cidades e seus clubes de futebol, elas revelam, respeitando-se as devidas distâncias e proporções, históricas, culturais e econômicas, algo de semelhante em um ponto fundamental: competitividade. Mas, e as fantásticas diferenças de experiência acumulada, cultura de mercado e recursos disponíveis? Antes de qualquer e compreensível interpretação irônica - tal qual presunção e água benta cada qual toma a contento parece conveniente, recomendável, sugestivo e salutar conferir observação de Charles Margerison, em seu estudo sobre gerenciamento e desenvolvimento de grupos de trabalho, como um clube de futebol. Segundo ele, quanto mais os membros de um grupo se interessam e se envolvem na determinação para alcançar seus objetivos, mais possibilidades existem de que esses objetivos sejam alcançados, independentemente das circunstâncias: Os resultados positivos obtidos por grupos revelam oportunidades relativamente diferentes que estabelecem, para cada um, o seu próprio rítmo de trabalho.(8) Ou seja, cada grupo adota seu ritmo conforme permitem as circunstâncias, evidentemente incluídas as de natureza histórica, social, cultural e econômica. Uma comprovação disso nos é fornecida por Levitt, reportando, como fato expressivo, as grandes inovações de gerenciamento empresarial e desenvolvimento de negócios nos Estados Unidos, pós-Segunda Guerra Mundial. Muitas das inovações mais importantes tiveram origem em novas e pequenas empresas, que se revelaram e se firmaram por mudança de estilo administrativo e por façanhas, ousadias e vitórias contra a incerteza. Eis algumas: Polaroid, Xerox, 36 McDonald’s, IBM, Texas Instrument, Digital Equipment Corp. Empresas que nasceram bem pequenas, quase familiares e se tornaram gigantes. Por isso mesmo, respeitando as dimensões do seu ambiente histórico, social e econômico de existência e realização, Juazeiro anima-se com sua nova força propulsora - o Juazeiro que lhe permite vibrar com o presente e sonhar com o futuro, pensando grande no exemplo de Manchester, histórica cidade inglesa, com o sucesso do seu Manchester United. Existem razões, causas e justificativas para Juazeiro assim pensar, sentir e agir. Primeiro, desde o alvorecer da revolução industrial, Manchester sempre esteve sob impulsos de idéias inovadoras e percepções novas de produção e de mercado, geradoras de investimentos e desenvolvimento, tornando-a símbolo de modernidade e competitividade no mercado europeu. Desde sua fundação, Juazeiro sempre esteve sob impulsos de novas oportunidades e perspectivas de avanço no mercado do Nordeste pela sua notável vocação para o progresso competitivo, comercial e industrial. Segundo, como no Manchester,transformado há muito tempo em padrão internacional de clube-empresa, os dirigentes do Juazeiro descobriram que o footbusiness tem o perfil potencial que interessa aos empresários, pela sua capacidade de influenciar e gerar produção, negócios, empregos, renda e dinamismo em outras atividades sociais, econômicas e culturais, alavancando o desenvolvimento geral. E terceiro, considerando-se e avaliando-se apenas o desempenho de seus clubes, projeções maiores das identidades de suas próprias cidades, assim como o Manchester o novo trackball europeu, o Juazeiro é o novo trackball cearense. 37 É o que se pretende mostrar e justificar nesse relato tendo como foco central o sucesso do Juazeiro Empreendimentos Esportivos, o primeiro clube-empresa do interior do Norte e Nordeste do Brasil, um clube pequeno com jeito de grande, explosivo dentro de campo, nova e promissora revelação na Pátria de Chuteiras. 38 39 Centro de negócios, Juazeiro exerce influência sobre região de 1 milhão de habitantes 40 03 Explosão no Romeirão Foi um grande espetáculo! Foi realmente emocionante! Foi uma noite daquelas que agitam o espírito da massa, ao final do exaustivo caminho da vitória, produzindo uma explosão de alegria coletiva e de glorificação humana. Ou, usando uma expressão de Armando Nogueira, estilista de pena redonda, foi uma noite de gloriosa santificação coletiva. Quarta-feira, noite de 19 de maio de 1999. Em todo o Brasil, mais de 40 milhões de torcedores estavam ligados na Rede Globo de Televisão, acompanhando o jogo do Palmeiras contra o River Plate, no estádio Monumental Nuñez, em Buenos Aires. Era um jogo importante para o Brasil. O Palmeiras precisava vencer por dois gols de diferença para ir à final da Copa Libertadores da América. Mas, o jogo, truncado, nervoso, ainda estava zero a zero. De repente, o narrador Galvão Bueno abriu espaço na transmissão internacional e anunciou: O Juazeiro é o campeão do segundo turno do Campeonato Cearense. Derrotou o Ceará, no Romeirão, por 1 a 0. Vejam aí, gol de Ailton, cobrando penalti marcado sobre Maradona. O Juazeiro conquista o título por antecipação. É festa em Juazeiro. Era um fato inédito na história do futebol do Ceará. Pela primeira vez um time do Cariri ganhava esse título, desbancando 41 uma equipe tradicional de Fortaleza, várias vezes campeã do Estado. O clima de festa tomou conta de Juazeiro do Norte, cidade famosa no Brasil como Terra do Padre Cícero. Por que tanta euforia? Por que tanta celebração? Em verdade, o Juazeiro acabara de vencer 85 anos de história rica de títulos do Ceará Sporting: Campeão estadual 31 vezes; Bicampeão (1931-1932); Bicampeão (1941-1942); Bicampeão (1957-1958); Tricampeão (1961-1962-1963); Bicampeão (1971-1972); Tetracampeão (1975-1976-1977-1978); Bicampeão (1980-1981); Bicampeão (1989-1990); Bicampeão (1992-1993); Tricampeão (1996-1997-1998); Campeão do Nordestão (1969); e vice-campeão da Copa do Brasil (1994). Milagre? Façanha? O Juazeiro acabara de derrotar o mais glorioso time da história do futebol cearense. Enquanto mais de 12 mil pessoas vibravam sem parar dentro do Romeirão, outros milhares ocupavam ruas, praças, bares e restaurantes de Juazeiro do Norte comemorando com extraordinário e incontido entusiasmo. Em Fortaleza, os torcedores do Ceará Sporting, vendo o jogo transmitido pela TV Diário, não quiseram acreditar. Ficaram simplesmente desolados. Como seu time alvinegro, de tantas glórias e tradições, podia ter sido abatido pelo Juazeiro, estreante no Campeonato Estadual? Como aceitar o do futebol cearense derrubado pelo caçula? 42 Perplexidade e breakdown geral entre os alvinegros de Porangabuçu, bairro onde fica a sede do clube em Fortaleza: Como o , um time de bons e experientes jogadores, com uma folha mensal de R$ 100 mil, pôde cair e perder o título diante de um time cuja folha de pagamento não chega aos R$ 20 mil mensais? Em Fortaleza, clima de frustração, indignação, tristeza e revolta. Em Juazeiro do Norte, clima de celebração, vibração e alto astral. Quando o árbitro Dacildo Mourão encerrou o jogo, o povo do Juazeiro já se encontrava pulando de alegria em plena praça Padre Cícero, mais tradicional espaço público no centro da cidade, animado por trio elétrico. Dirigentes, jogadores e comissão técnica juntaram-se ao povo em plena criação de agitada folia, como diria o romancista José Lins do Rego, definindo o futebol como agente de confraternidade. Festejado pela torcida, o diretor-executivo do Juazeiro, Kléber Lavor foi desabafando: No Juàzeiro pode-se até ganhar pouco, mas se recebe em dia. Aqui se promete e se cumpre e não temos ações na Justiça Trabalhista. Nossos jogadores foram heróis. Mas é preciso agradecer à nossa torcida. Ela fez a diferença lotando o Romeirão. (9) Delírio da torcida eufórica, eletrizada, em alucinação! Quase no mesmo tom do presidente, o técnico Flávio Araújo também aproveitou para vender o seu peixe: Aqui temos seriedade e valorização da prata da casa. O Juazeiro venceu o segundo turno porque foi melhor. Já merecíamos ter ganho o primeiro turno. (10) . Mais delírio da torcida totalmente incontrolável! Desabafos do presidente e do técnico do Juazeiro tinham forte justificativa. O time do Cariri chegou ao título de campeão do segundo turno do Campeonato Cearense como líder geral da competição, somando 51 pontos, dez a mais que o Ceará. 43 E foi o único invicto no triangular final de decisão do segundo turno. Editor de esportes de Tribuna do Ceará, José Flávio Teixeira registrou: “O Juazeiro foi merecedor da conquista. É campeão do Returno e carimbou sua vaga para a final do Campeonato de 99. O Cariri está em festa”(11). Uma grande festa da torcida com direito à paródia de marchinha carnavalesca: Êta esquadrão de ouro, com o Juazeiro não há quem possa! Da capital, os torcedores do Fortaleza, sonhando e apostando na possibilidade real de conquistar o terceiro turno, aproveitaram para zombar dos seus rivais, os torcedores do Ceará, reforçando a euforia caririense com a paródia à música do eterno Rei do Baião, araripense quase caririense, Luiz Gonzaga, dedicada ao Juazeiro: Juazeiro! Juazeiro! Onde anda o meu amor? Juazeiro! Juazeiro! Seu freguês e o vovô. Ai, Juazeiro! Do segundo é campeão Ai, Juazeiro! O terceiro é do Leão! Com o Juazeiro vencedor do segundo turno, superando o Ceará, dono do primeiro, restava ao Fortaleza a esperança de ganhar o terceiro turno para se credenciar à final do campeonato. Mas, o clube caririense há muito tempo vinha avisando aos grandes e tradicionais clubes de Fortaleza que não estava de brincadeira e tinha disposição, determinação e garra para a vitória. Mais do que resultado de excelente performance, isso representava um prêmio para a cidade, especialmente um prêmio para um cidadão solene, sóbrio, meio taciturno, mas de enorme liderança popular. Em 1970, como prefeito de Juazeiro, ele havia 44 inaugurado o Colosso do Pirajá, confiante no crescimento e no sucesso do futebol da cidade. Exatamente 29 anos depois, coincidentemente como prefeito de Juazeiro, novamente, em 1999, podia agora festejar a confirmação de sua expectativa e a certeza da visão de futuro. Mauro Sampaio, médico, líder popular caririense, deputado federal em várias legislaturas, imortalizado como nome oficial do estádio Romeirão, palco do sucesso do Juazeiro! Vitória do Juazeiro. 45 46 Dentro e fora do Romeirão, o futebol de Juazeiro faz sucesso como emprendimento 04 Vitória Prenunciada O campeão sabe que derrotas e vitórias fazem parte da vida. Sabe que perder é consequência da própria existência. Sabe fazer das derrotas o início das grandes revoluções em sua vida. Sabe também fazer com que suas vitórias sejam vitórias de todos. Sabe fazer das suas vitórias caminho para todos. Celebra suas vitórias, mas não se embriaga com elas. Por isso é um campeão!(12) Conselheiras e estimulantes palavras de orientação e apoio, não? Escritas pelo consultor organizacional e conferencista Roberto Shinyashiki, em sua Revolução dos Campeões, poderiam ter sido escolhidas como mensagem obrigatória nas preleções de cada disputa do campeonato envolvendo dirigentes e técnicos do Juazeiro, um clube consciente da sua capacidade de triunfar, mas devidamente controlado para não se embriagar com as vitórias. Durante o dia 19 de maio, o Juazeiro concentrado para o jogo da noite contra o , demonstrava absoluta tranquilidade e plena segurança, mas sem desqualificar ou desprezar os adversários na competição e sem alterar o seu comportamento de modéstia e humildade observado pelos mais atentos nos clubes e na crônica esportiva de Fortaleza. Embora fosse um jogo decisivo para o Campeonato, os principais jornais da Capital não lhe deram muito destaque em suas primeiras páginas naquele dia. O Diário do Nordeste, de maior 47 circulação no Estado, com 27 mil exemplares, trouxe apenas uma pequena chamada no canto direito do alto de sua primeira página anunciando: Futebol - Juazeiro X Ceará direto pela TV Diário. Da mesma forma e igualmente no canto direito do alto de sua primeira página, O Povo, com circulação de 22 mil exemplares, trouxe também uma chamada - Ceará e Juazeiro podem definir returno hoje. Em Juazeiro do Norte, como não podia deixar de ser, o Jornal do Cariri, único diário editado na região, circulou com sua manchete principal, em duas linhas fortes no alto da primeira página, refletindo a expectativa e o sentimento dos habitantes da cidade: JUAZEIRO E CEARÁ NA DISPUTA PELO TÍTULO, acima do seguinte texto: Dependendo de uma vitória para conseguir o título do segundo turno do Campeonato Cearense, a equipe do Juazeiro Empreendimentos Esportivos entra em campo, hoje à noite, no Estádio Romeirão, contra o Ceará Sporting, certo de sua responsabilidade de manter o título na Terra do Padre Cícero. Dois mil ingressos foram colocados de reserva para que nenhum torcedor perca a grande festa decisória. Para o técnico Flávio Araújo, chegou a oportunidade do time juazeirense conquistar um turno da competição, já que jogará em casa.(13) Abaixo desse texto, uma foto vertical mostrando em treinamento-apronto os jogadores Maradona e Bujica, como duas esperanças de gol do Juazeiro. Maradona, sim, não o Maradona argentino, apenas Maradona do Cariri, mas, mesmo assim, um Maradona, um craque, dos melhores do futebol do Nordeste. Na mesma edição, em sua página esportiva, o Jornal do Cariri apresentou reportagem com a seguinte manchete: Juazeiro e Ceará fazem jogo decisivo. Dizia que o Juazeiro estava pronto para conquistar uma vitória e a diretoria do clube havia colocado 48 8.300 ingressos à venda, sendo cinco mil para as gerais, ao preço de R$ 3, três mil para as arquibancadas, a R$ 5, e as cadeiras cativas ao preço de R$ 10. Confirmava uma reserva de dois mil ingressos para nenhum torcedor ficar sem assistir o jogo. Destacava-se, na mesma matéria, o técnico do Juazeiro, Flávio Araújo, entusiasmado, dizendo que a equipe estava motivada para mais uma vitória diante do Ceará: Tenho certeza de que a equipe fará um grande jogo. E dava a escalação do Juazeiro: Ivanoé, Lelo, Allan, Ronaldo Angelim, Esquerdinha; Júnior Umirim, Neném Ipu, Dove, Maradona; Ailton e Bujica. Era o time de confiança toda a população da cidade, vibrando sob o manto de Juamor - a grande e devotada torcida organizada do Juazeiro. Em Fortaleza, os jornais também deram ao jogo o espaço merecido em suas páginas internas esportivas: Manchete do Diário do Nordeste: JUAZEIRO E CEARÁ PODEM DECIDIR RETURNO, com o subtítulo Jogo no Romeirão é aguardado com grande expectativa na zona do Cariri. O texto ressaltava a condição do Juazeiro, líder do triangular decisivo do segundo turno do Campeonato, com cinco pontos, seguido do Ceará com três e do Uniclinic, com apenas dois, já eliminado. Segundo o Diário do Nordeste, o clima para a partida no Romeirão era de decisão e o Ceará estava preparado para a batalha, mas cauteloso: Motivados pela vitória do último jogo, os atletas alvinegros se mostram confiantes num resultado satisfatório hoje, embora reconheçam a boa fase do time local que, inclusive, no último confronto, derrotou o alvinegro, no Castelão, de virada, por 2x1. Ainda no Diário do Nordeste, esse prognóstico: No time do Juazeiro, a palavra de ordem é vencer. Os 49 jogadores estão conscientizados de que só interessa a vitória e, por determinação do técnico Flávio Araújo, partirão para cima do Ceará e tentarão liquidar logo de início com as chances do adversário. Manchete do jornal O Povo: CEARÁ QUER DEFINIR RETURNO LOGO HOJE. O texto informava que o Ceará havia viajado no dia anterior para Juazeiro do Norte cheio de otimismo e com o técnico Marcelo Vilar prometendo vitória: Respeitamos o Juazeiro, mas nosso objetivo é resolver logo esse assunto, dizia ele confiante mas sem esconder uma ponta de cautela. De acordo com O Povo, membros da Diretoria e do Conselho Deliberativo do Ceará decidiram apoiar o time, ostensivamente, e confirmaram presença nos vôos de Fortaleza para Juazeiro do Norte no final da tarde, horas antes do jogo. Queriam evitar que a ausência deles pudesse influir negativamente e contribuir para uma indesejável derrota. Em destaque abaixo da manchete de página, O Povo trazia o outro lado da história: MOTIVADO, JUAZEIRO CRÊ NA VITÓRIA. Segundo o jornal, o Juazeiro tinha apenas um desfalque - volante Dadá para o jogo decisivo contra o Ceará e que todo o elenco se encontrava animado com a possibilidade de conquistar o segundo turno em casa diante da torcida. Tenho certeza que a equipe fará um grande jogo. Tentamos conquistar o primeiro turno e não conseguimos. Essa é a nossa grande oportunidade, previa o técnico Flávio Araújo. Em função do grande interesse despertado pelo jogo, transformado em verdadeira batalha, na expectativa dos torcedores dos dois clubes, pela primeira vez a TV Diário (canais 15 e 22), de Fortaleza, resolveu fazer uma transmissão ao vivo de futebol do interior para a capital. E publicou anúncio forte de meia página no 50 Diário do Nordeste, com um apelo irônico aos torcedores da Capital: Ceará X Juazeiro. Neste jogo, não basta torcer. Tem que rezar! Garantida a condição técnica para lançar a imagem do caminhão da TV desde o Romeirão até o satélite e daí para a sede da emissora em Fortaleza, deslocou-se para Juàzeiro do Norte uma equipe de cobertura do jogo liderada pelo narrador Tom Barros e integrada pelo comentarista Paulo César Norões e pelo repórter Daniel Praciano. Eles testemunharam e documentaram em vídeo para a história do futebol alencarino, a vitória do Juazeiro sobre o Ceará, uma verdadeira consagração para o clube do Cariri. 51 52 05 Consagração Impressa Comemorações da vitória sobre o pelo povo do Cariri, romperam a madrugada e abriram o dia seguinte com uma manhã colorida de azul, cor básica do time campeão. Juazeiro do Norte parecia transformado em Capital do Estado e sua façanha estava estampada nos principais jornais de Fortaleza, lidos àvidamente pelos torcedores do Cariri: JUAZEIRO É CAMPEÃO E RIVER VENCE, título no alto da primeira página do jorna Tribuna do Ceará, ao lado de foto do jogo em Buenos Aires, onde, também na noite anterior, o Palmeiras havia sido derrotado pelo River por l a 0. JUAZEIRO CAMPEÃO, título do jornal O Povo, no alto de sua primeira página, com foto do jogo no Romeirão em noite histórica para o futebol do Cariri. JUAZEIRO É O CAMPEÃO, título no alto da primeira página do jornal Diário do Nordeste, com foto do jogo mostrando o Ceará derrotado diante de um time que soube se impor com mais iniciativa. JUAZEIRO FAZ BONITO E FICA COM O TÍTULO, manchete de primeira página do Jornal do Cariri, sobre cinco fotos com lances do jogo e realçando a vibração da torcida no Romeirão. O texto: Com apenas sete meses de fundado, o Juazeiro Empre53 endimentos Esportivos conquistou o segundo turno do primeiro Campeonato Cearense que disputa. O gol que deu o título do turno ao tricolor juazeirense foi marcado por Ailton, cobrando pênalti, sofrido por Maradona, aos 16 minutos do segundo tempo. Quando o jogo chegou ao final, alguns jogadores do Ceará Sporting tentaram agredir o árbitro Dacildo Mourão. A torcida do Juazeiro invadiu o campo para comemorar a conquista junto dos atletas juazeirenses. A renda da partida não foi divulgada.(14) Foi divulgada no dia seguinte: R$ 29.633,00, público pagante de 8.029 torcedores que, com outros milhares em todo o Cariri, ainda vibravam com os desdobramentos das manchetinhas de primeiras páginas nas páginas esportivas dos jornais de Fortaleza destacando o sucesso da campanha do Juazeiro: Juazeiro conquista o 2º Turno. Equipe do Cariri está na final do Campeonato Cearense, manchete da página esportiva do Diário do Nordeste. Em resumo: o Ceará começou dominando o jogo,depois o Juazeiro igualou as ações e passou a ter mais iniciativa. Vitória heróica dá returno ao Juazeiro, manchete da página esportiva de O Povo. Em resumo: o jogo no primeiro tempo foi truncado e no segundo o Ceará voltou recuado, o Juazeiro tomou conta da partida e fez pressão constante até a vitória. Juazeiro é campeão do Returno, manchete da página esportiva da Tribuna do Ceará. Em resumo: o Juazeiro foi melhor na partida e o Ceará foi incompetente para empatar a partida, preferindo colocar a culpa da derrota na arbitragem de Dacildo Mourão. Segundo turno é do Juazeiro, manchete da página esportiva do Jornal do Cariri. Em resumo: o Juazeiro buscou o gol desde o início da partida, teve pelo menos três chances reais de abrir o placar no primeiro tempo, encontrou sempre intensa 54 marcação do e no segundo tempo partiu para o tudo ou nada, alcançando a vitória num jogo de fortes emoções. E os jornalistas esportivos de Fortaleza, o que disseram no dias seguintes ao jogo no Romeirão? Cronista Tom Barros: “A vitória do Juazeiro veio apenas ratificar a boa campanha que o time está fazendo no Campeonato Cearense. O segundo turno ficou em boas mãos. O time mostrou personalidade, lutou por cada espaço do campo e provou que camisa não ganha jogo. O Ceará em momento nenhum deu a impressão de que iria sair de campo com a vitória...O Juazeiro teve mais volume de jogo durante os 90 minutos...O Ceará teve muito tempo para a reação. O gol de Ailton, cobrando pênalti, aconteceu aos 16 minutos do segundo tempo...Esperava-se que o Juazeiro se encolhesse, como time pequeno, para segurar o resultado. Ledo engano...O Ceará em nenhum momento deu a impressão de que poderia empatar o jogo. Parabéns ao Juazeiro!”(15) Cronista Carlos Alberto Farias: “O Juazeiro Empreendimentos Esportivos Ltda. conquistou, com méritos, o segundo turno. O Ceará Sporting não teve competência sequer para chutar em gol. Importante é ressaltar o trabalho dessa jovem e briosa equipe que, unindo o desporto juazeirense, fez uma notável campanha, sendo inclusive a que somou maior número de pontos em todo o decorrer do certame. Méritos, portanto, para o azulão que entra na briga para colocar ventilador na farofa do alvinegro, que está mais longe do tetra após este resultado. Destaque também para esse notável desportista que é Kleber Lavor, o homem que conseguiu estruturar administrativamente a agremiação”. (16) Cronista Alan Neto: “Estaria se cometendo a maior injustiça do mundo se o 55 Juazeiro não fosse o campeão do segundo turno, por uma série de motivos e razões. O principal de todos: o Juazeiro é, de há muito, o melhor time do Campeonato, o que maior número de pontos acumulou ao longo da competição, totalizando 51, uma vantagem realmente inconteste. Até que enfim e não já era sem tempo, o Juazeiro ganhou e ganhou merecidamente, disso não se tem a menor sombra de dúvida. E quis o destino (ou terá sido Meu Padim lá de cima?) que a partida decisiva fosse no Romeirão, com a presença maciça dos torcedores juazeirenses, para que a festa fosse bonita e completa. O Juazeiro estava merecendo tudo isso e algo mais”(17) Para os torcedores do Cariri, algo mais era a presença do Juazeiro na mídia esportiva nacional. Como havia acontecido na noite do jogo, a Rede Globo mostrou para todo o Brasil no dia seguinte, no horário do Globo Esporte, ao lado da derrota do Palmeiras por 1 X 0 diante do River Plate, em Buenos Aires, a festa do Juazeiro pela vitória também de 1 X 0 sobre o Ceará. Para um clube do interior, muito inferior em estrutura e recursos em relação aos da capital, aquilo era algo mais saboreado junto com o sucesso. O Juazeiro deixou os torcedores da Capital sem fugir nem mugir e poderia muito bem ter mandado publicar um anúncio de meia página nos jornais de Fortaleza respondendo ao apelo anterior de marketing esportivo: Não basta rezar, tem que jogar! 56 06 Juazeiro Competitivo Depois de surpreender impondo derrota ao Ceará na decisão do segundo turno do Campeonato Cearense de 1999 e abrir uma crise no clube alvinegro, provocando a demissão do técnico alvinegro Marcelo Vilar, substituído por Arnaldo Lira, numa operação emergencial para abafar rebelião da torcida, o Juazeiro começou o terceiro turno assustando e perturbando o Fortaleza. Nos principais jornais da Capital, de 31 de maio, segunda-feira, estava, em manchetes, a vingança dos torcedores alvinegros de Porangabuçu sobre os torcedores tricolores do Pici. JUAZEIRO VENCE E PROVOCA CRISE NO FORTALEZA JUAZEIRO DERROTA O FORTALEZA POR 2 X 1! SÓ DÁ JUAZEIRO! JUAZEIRO DETONA CRISE NO FORTALEZA! Cobertura do Diário do Nordeste ao jogo realizado no dia anterior, domingo, no Estádio Presidente Vargas, na Capital, com público de 3.408 pagantes e renda de R$ 15.418,00, dizia: O desfigurado time do Fortaleza, que se revestiu de nove contratações sem a qualidade esperada por sua torcida, não resistiu ao futebol competitivo do Juazeiro, perdendo por 2 X 1 ontem, no PV, e complicando suas pretenções de classificação para a fase seguinte do terceiro turno do Campeoanto Cearense. O resultado detonou uma crise no clube tricolor e deixou o Juazeiro disparado na liderança do terceiro turno, com seis pontos em dois jogos. 57 Mais ou menos no mesmo tom, O Povo ressaltava em sua cobertura: O Juazeiro provou, mais uma vez, que é o melhor time do atual Campeonato Cearense. Jogando com personalidade, o time juazeirense deu um show de bola e derrotou o Fortaleza por 2 X 1 ontem, no Estádio Presidente Vargas. Já no primeiro tempo o placar dava a vantagem de dois gols para o Juazeiro. Desorganizado, o tricolor não teve forças para reagir e somente diminuiu no final do jogo, mas já era tarde. A derrota abriu uma séria crise no time do Pici. O técnico José Gali Neto está ameaçado de demissão. A torcida protestou após o jogo e chamou os jogadores de mercenários, numa alusão ao pacote de jogadores trazidos pelo técnico do Fortaleza do interior paulista. Que relatavam mais os jornais de Fortaleza? Que o Juazeiro, além de ter sido melhor, tinha dado olé! Que o tricolor do Pici havia sofrido uma derrota vexatória. Que o Juazeiro ainda tinha se dado ao luxo de perder algumas oportunidades de gol. Que estava aberta uma grave crise no Fortaleza. Que o presidente do Fortaleza, Leonel Alencar, havia exigido dos jogadores “vergonha na cara”. Que outros dirigentes pediram a imediata demissão do técnico Galli Neto. Que alguns jogadores, abatidos e revoltados com as cobranças, queriam rescisão de contratos. Que o Fortaleza tinha sido vaiado por quatro mil torcedores gritando: Mercenários, mercenários, Leão é tradição, não é humilhação! Que o policiamento teve que fazer intervenção para proteger os jogadores de agressões da torcida. Só faltaram dizer que o patinho feio - o Juazeiro - havia virado cisne. Com severas críticas ao desempenho do Fortaleza, os cronistas da Capital concentraram suas atenções nos erros cometidos pela equipe do Pici, que deixou a torcida irritadíssima, 58 vaiando o time e chamando o técnico de burro. Mas, o cronista Alan Neto fez questão de ressaltar: É preciso ficar muito claro o seguinte: o Juazeiro venceu por 2 X 1 porque foi sempre melhor em campo. Não esquecer mais um detalhe. Qual? O Juazeiro, como time de futebol, está quilômetros de distância - como daqui ao Cariri - em matéria de entrosamento, do Fortaleza. E em futebol, qualquer leigo sabe, quem tem entrosamento, tem tudo. Mais Alan Neto, alertando os torcedores para a seguinte observação: O que faltou ao tricolor sobrou aos comandados de Flávio Araújo. Vamos aos exemplos? Pois não: faltou ao Fortaleza, além de entrosamento que o time não tem nenhum, mais categoria, mais personalidade. Uma cara que, também, inexiste. Uma caricatura, sim. O Juazeiro tem tudo isso e mais alguma coisa. Exemplos: sabe do seu potencial, está cheio de moral, não tem medo de encarar os grandes. (18) Depois de destacar que o Juazeiro ganhou do Fortaleza com mérito, mais uma vez, firmando sua superioridade de forma serena e competente, mesmo deixando de ter a seu favor um pênalti certo que o árbitro não marcou e errou, o cronista Tom Barros aduziu esta apreciação técnica: O Juazeiro tem como ponto forte o trio Dadá, Dover e Maradona. Os tres trabalham bem as tramas que nascem a partir da intermediária. Maradona continua sendo o melhor iniciador das situações criativas. Ele foi um dos destaques do jogo. (19) Dias terríveis para o Fortaleza, os dias seguintes. Pressão sobre pressão! Dias de muita tensão para o presidente do clube, Leonel Alencar, e seus companheiros de diretoria. Além da derrota para o Juazeiro, os dirigentes tiveram que enfrentar o descontentamento da equipe com o atraso de tres meses de salário. 59 Como estava previsto, alguns jogadores criticados e insatisfeitos pediram rescisão de contrato e foram atendidos. Apesar das reclamações generalizadas, ficou decidida a manutenção do técnico Galli, que recebeu mais um crédito de confiança para tentar uma reação em plena crise. Pressão sobre pressão! Estava tudo isso ocorrendo poucos dias depois de o Juazeiro ter provocado enorme abalo no Ceará Sporting, derrotado na decisão do segundo turno do Campeonato. Queda do Ceará e queda do Fortaleza, duas maiores e mais tradicionais forças do futebol da Capital, diante do novo Juazeiro. Que estaria acontecendo? Uma revolução? Mesmo enfrentando a pior crise de sua história de 85 anos e hostilizado pela torcida revoltada, o Ceará partiu para o apelo e o grito de socorro exatamente a quem não deveria estar causando tanto aborrecimento, a sua própria torcida. Mas, não havia outra saída imediata. Para o presidente do clube, Átila Bezerra, e sua diretoria, era a última cartada jogando suas esperanças de recuperação do desempenho alvinegro. Com seu objetivo de conquistar o tetracampeonato ameaçado pelo Juazeiro e por tremenda crise financeira, o Ceará resolveu, além de mandar celebrar missas clamando ajuda dos céus, fazer campanha de arrecadação por telefone pedindo doações de R$ 3 e R$ 5, dos torcedores mais abastados. Mais do que angustiado, o Ceará sentia-se perdido. Parecia ter perdido o Cruzeiro do Sul no céu de Porangabuçu. Justificativa do dirigente Sacha Jucá: Só tirando um pouco de muitos é que o Ceará poderá chegar ao tão sonhado tetra. (20) Será que doações por telefone resolverão o grave problema do Será que sorteios de televisores vão resolver? Será que a venda de camisas oficiais pode tirar o time da crise? 60 Provavelmente, não. Como lembra Charles Margerison, todas as organizações existem dentro de um sistema social mais amplo e para garantirem sobrevivência têm que responder às mudanças nas esferas políticas, social e econômica. O conceito vale também para as organizações de futebol. Evidenciava-se faltar ao Fortaleza evolução, ou seja adaptação ao rítmo de mudanças no futebol brasileiro e mundial. Não apenas de ordem gestora, mas também de ordem técnica. Ficou para trás a velha ordem de não correr riscos ou da palavra-chave pegada para garantir vitórias. De acordo com o tricampeão mundial e agora cronista esportivo Tostão, entrou em vigor outra ordem: A prudência está sendo menos valorizada do que a ousadia. O futebol está voltando a ser novamente alegre, criativo, e aumentou o número de gols no Brasil e no Mundo. A palavrachave agora é talento, no lugar de pegada.(21) Entre os próprios dirigentes e torcedores do, havia uma convicção: o problema não era apenas circunstancial, financeiro, era estrutural e exigia mudança. Agora, existia no futebol do Ceará um clube com cara e fôlego de empreendimento - o Juazeiro - e ser campeão já não era mais uma consequência natural sempre aguardada e tida como certa pelo ou pelo Fortaleza ao longo de mais de oito décadas. Em artigo na página de opinião de O Povo, o jornalista Paulo Rogério fez criteriosa avaliação, aproveitando a passagem dos 85 anos de história do Ceará Sporting, sem festejos da torcida alvinegra: Ao contrário da maioria dos clubes de sua idade, o Ceará nunca deixou de ser um mero time de futebol. Com essa proposta ganhou vários títulos e criou uma marca no futebol brasileiro. Mas, como clube de esportes, nunca ofereceu nada ao torcedor 61 apaixonado por suas cores. As comparações com outros clubes, principalmente do Nordeste, são inevitáveis. Em Pernambuco, por exemplo, o Náutico e o Santa Cruz, equipes tão veteranas quanto o Ceará, deixaram de ser apenas times há muito tempo. Hoje eles oferecem aos seus sócios uma sede com completa infraestrutura como piscinas, quadras e estádios prontos para receber jogos da própria Seleção Brasileira.(22) Com seu posicionamento objetivo e competitivo, o Juazeiro começou a provocar turbulência, influência e pressão nas gestões do Fortaleza, cujos dirigentes e torcedores até então imaginavam seus clubes com o poder de Canuto (995-1035), aquele rei dinamarquês da Inglaterra, cujos súditos acreditavam que ele podia deter as ondas do mar. Graham Hooley e John Saunders lembram essa história em Posicionamento Competitivo para ilustrar que as mudanças criam oportunidades para as empresas inovadoras e ameaças para aquelas que, a exemplo de Canuto, tentam evitá-las ou detê-las. (23) Em 23 de junho, novamente o Juazeiro derrotou o Fortaleza, por 2 X 1, dentro do Romeirão, e assumiu a liderança geral do terceiro turno do campeonato com 20 pontos ganhos em nove jogos, seguido do Ceará,19 pontos, Fortaleza 16, Ferroviário 14, Tiradentes 13, todos da Capital. Em 27 de junho, ao terminar a primeira fase de classificação do terceiro turno, os números confirmavam Juazeiro na liderança geral de todo o campeonato com 72 pontos, seguido do Ceará com 64 e Fortaleza com 60 pontos. Ratificavam a incontestável campanha de eficiência e competitividade do Juazeiro avançando rumo ao pódium de liderança do futebol no Estado. Mais do que uma ameaça, o Juazeiro passou a ser uma espécie de síndrome para o Ceará, Fortaleza, Ferroviário e 62 Tiradentes, principais clubes da Capital. Mesmo maiores e mais equipados, eles começaram a sentir em seus próprios campos e em suas próprias redes que não podiam impedir o Juazeiro de acontecer e o jeito era tomar o caminho das mudanças, o caminho do clubeempresa e do futebol-negócio. 63 64 07 Superbolão de Negócios Como o Juazeiro, um clube pequeno do Interior, conseguiu engolir os grandalhões da Capital e conquistar, por antecipação, o segundo turno do Campeonato Cearense? Como o Juazeiro pôde realizar tão excelente campanha registrando, ao final dessa fase, uma liderança de 51 pontos contra 44 do Fortaleza e 41 do Ceará, os dois veteranos e grandões do futebol cearense? Quando o Juazeiro despontou no primeiro turno do Campeonato, obtendo vitórias sobre Ceará e Fortaleza, deixou vingar a impressão, entre torcedores e cronistas da Capital, de que poderia ser um fenômeno acidental ou, como os adversários preferiam denominar, um fantasma do interior. Como o resultado final do segundo turno demonstroulhes que o combate não se dava por exorcismo, nem dentro nem fora de campo, dirigentes, técnicos e jornalistas esportivos de Fortaleza dedicaram-se a buscar outras interpretações mais consistentes. Juazeiro Empreendimentos ensina o pulo do gato, garantia o Diário do Nordeste em manchete de sua página esportiva dois dias depois do feito caririense. Segundo a reportagem, as condições financeiras do Ceará Sporting e do Juazeiro revelavam uma grande disparidade, a partir das respectivas folhas de pagamento. Enquanto os salários mensais dos jogadores derrotados 65 do chegavam a R$ 69.500, os salários dos jogadores vitoriosos do Juazeiro atingiam R$ 10 mil, praticamente o salário mensal de apenas um jogador do alvinegro da Capital, Sandro Sotili, atacante vindo de São Paulo com fama de artilheiro, mas integrando o banco de reservas. Parecia muito claro que dinheiro não era uma justificativa aceitável para explicar a queda dos milionários jogadores do perante os assalariados jogadores do Juazeiro. Se sobrava dinheiro para os alvinegros, faltava garra. Se faltava dinheiro para os juazeirenses, sobrava determinação. Aí estava a grande diferença.(24) Duas outras justificativas, uma de natureza financeira e outra de gestão técnica, começaram a ganhar maior peso no entendimento sobre o sucesso do Juazeiro Em 1998, diante de grande crise financeira, os dirigentes do Icasa - nascido sob o patrocínio de uma indústria caririense de algodão - decidiram extinguir esse tradicional clube juazeirense com várias décadas de atividades no futebol do Cariri e fundaram o Juazeiro Empreendimentos Esportivos S.A. primeiro clube organizado no Ceará com visão e objetivo empresariais. Quase como aviso de leitura obrigatória, o Juazeiro estava revelando-se, na sua própria razão social, tratar-se de um clube de futebol administrado por gestão diferente, com gerenciamento empresarial e foco na qualidade, no resultado e na concorrência. Para isso, cuidaria do futebol como negócio e como todo negócio, precisaria de investimentos e paciência para aguardar o retorno. Em negócio de futebol, o elemento paciência já estava caracterizado pela prolongada presença do técnico Flávio Araújo, no comando do time há mais de um ano - antes mesmo da transformação do Icasa em Juazeiro coisa rara no futebol cearense, 66 que costuma trocar de técnico como se troca de camisa, segundo o Diário do Nordeste. Cronista de O Povo, impressionado com o desempenho do time do Cariri, Marconi Alves também percebeu que o Juazeiro, além de jogar bom futebol, apresentava-se com organização profissional: O Juazeiro é enjoado mesmo em campo. Simples, pequeno, mas organizado. Paga em dia os salários, respeita os seus profissionais e joga o feijão com arroz. No final, tudo se transforma em um baião de dois arretado. É esse time criado há bem pouco tempo que está deixando os grandões de olhos arregalados. Todos se perguntam: o que eles fazem que nós não conseguimos fazer? Respondo: têm os pés no chão. Caso fosse novamente consultado sobre intrigante dilema no âmbito do Fortaleza, ambos buscando descobrir o que estava faltando fazer para vencer o Juazeiro - o Dr. Deming, certamente, responderia,esbravejando: Ge-ren-ci-a-men-to! Ge-ren-cia-men-to! Ge-ren-ci-a-men-to! Do lado do Juazeiro, passou a chamar mais atenção dos cronistas, como Marconi Alves, o firme apoio e o decidido envolvimento dos empresários para garantir a força do time campeão: Fazer futebol no Interior não é nada fácil. Logo agora quando a crise é uma palavra fácil na boca das pessoas. Lá, os dirigentes saem de loja em loja pedindo o apoio dos empresários. Sem muita pressa, venderam quatro mil ingressos antecipados e garantiram boa receita. O dirigente Klélber Lavor, sempre lutador, está deixando a sua marca.(25) Que marca é essa? Poderia ser a marca de um Hércules furioso, tendo que matar um javali ou um leão por dia, mas é a marca do novo espírito 67 de gestão empresarial. Será exagero dizer que o Juazeiro é um clube-empresa sob gestão moderna, subordinada aos princípios e parâmetros de planejamento estratégico e de gestão estratégica. Com certeza, vai chegar lá. Mas, o Juazeiro tem demonstrado excelente desempenho de gerenciamento por objetivos, obtendo resultados positivos sob impulsos de vantagem competitiva. É a marca do novo espírito de gestão que começa a ter efeitos no futebol brasileiro, antecipando a aplicação da Lei Pelé, aprovada para entrar em vigor em 24 março do ano 2000. A partir de então, os clubes brasileiros serão obrigatoriamente transformados em empresas e constituidos em sociedades anônimas, tendo que apresentar balanço anual, como qualquer empreendimento sério. Alguns estão saindo na frente, principalmente os maiores clubes do futebol brasileiro - Flamengo, Vasco, Corintians, São Paulo. Uma reportagem especial sobre a indústria do futebol - Times viram mina de diamante -assinada por Ricardo Gonzalez e públicada por O Dia, jornal de maior circulação no Rio de Janeiro em 1999, com 550 mil exemplares aos domingos e 450 mil nos dias úteis, mostrou com amplitude e profundidade, os números milionários que já estão rolando nos gramados: US$ 250 bilhões - valor movimentado anualmente pelo futebol, quase 35% do Produto Interno Bruto do Brasil, e que supera em quase 50% o faturamento anual da General Motors; 150% - valorização do capital da holding Enic, que comprou ações de cinco times europeus; 400% - expectativa de lucro da Hicks, Muse, Furst & Tate, com a criação de uma TV a cabo brasileira só para transmitir futebol; US$ 30 bilhões - valor pago pelas televisões dos Estados Unidos pelo direito de transmissão dos jogos dos times de futebol americano na última temporada; US$ 150 milhões - valor que os clubes brasileiros receberão das televisões em 1999 pelo direito de transmissão dos jogos dos campeonatos da temporada; US$ 15 milhões - valor médio do passivo dos principais clubes do Brasil.(26) 68 Esse mesmo O Dia indicava os investimentos de patrocinadores em grandes clubes brasileiros transformando o futebol em negócio altamente lucrativo: Clube Patrocinador Vasco Ace Até 2002 R$ 9 milhões Flamengo Petrobrás Até 2001 R$ 6 milhões Corinthians Batavo Até 2001 R$ 5 milhões São Paulo Círio Até 2000 R$ 4 milhões Santos Unicor Até 2001 R$ 3 milhões Grêmio General Motors Até 2001 R$ 3 milhões Além disso, o chamado Clube dos 13, que reúne os maiores clubes de futebol do Brasil, firmou um acordo com a TV Globo, que vai pagar de US$ 70 milhões a US$ 100 milhões por temporada, entre 2000 e 2004, pela transmissão dos jogos de seus representantes no Campeonato Brasileiro. Conforme O Dia,, grandes investidores descobriram que o futebol é uma mina de ouro e não estão dispostos a se afastarem da bola nunca mais. Daí, este alerta da reportagem do jornal carioca: Daqui a algum tempo o torcedor de futebol terá que fazer um curso intensivo de economia para entender o que se passa com seu time. No lugar dos velhos cartolas, estarão profissionais pagos para conseguir lucros para o clube. É a nova cultura gerencial que chega ao futebol do Brasil tendo como exemplos grandes clubes da Europa, caso do Manchester United, o primeiro clube europeu cotado na Bolsa de Valores, com 49% do capital pertencentes aos torcedores. Com faturamento anual de US$ 33 milhões somente em merchandising em mais de 1.500 produtos vendidos em lojas próprias por toda a Inglaterra, o clube tem orçamento anual de US$ 150 milhões, demonstrativo de uma empresa com formidável saúde financeira. 69 Mas, como o Manchester, outros clubes de futebol da Europa, que funcionam sob padrões de moderna gestão empresarial, estão transformados em poderosíssimas máquinas de fazer dinheiro, principalmente por meio de contratos milionários com emissoras de televisão para transmissão de seus jogos. Caso do Barcelona que, além da receita anual de US$ 90 milhões garantida por seus 90 mil sócios, engorda seu orçamento com mais de US$ 20 milhões por ano comercializando os produtos com a marca do clube e vai receber, de 2003 a 2008, US$ 400 milhões por ano, da empresa Via Digital, pelos direitos de transmissão dos seus jogos em casa. Caso do Real Madrid, que fatura US$ 75 milhões por ano somente com os próprios direitos de imagem. Nos três casos, tudo com muita agressividade em marketing, indispensável ao sucesso do negócio. Lucros dependem de gestão do negócio, o negócio depende da qualidade do produto e o sucesso do produto depende da aprovação dos consumidores. Portanto, recomenda a prudência que os novos dirigentes e executivos do futebol não esqueçam de que torcedor sem paciência não aguenta incompetência. Como empresas, os clubes de futebol precisam seguir um conselho do Dr. Deming, deixado para empresas em geral e que aparece aqui - tomamos essa liberdade para sua melhor interpretação no contexto em foco - adaptado para o futebol: O objetivo de um clube -empresa de futebol é ter torcedores e satisfazê-los. Mas, um torcedor satisfeito não é suficiente. O negócio do futebol é construído pelo torcedor leal, aquele que volta ao estádio e traz um amigo para ser novo torcedor e incrementar o negócio. Convém lembrar, igualmente, um conceito clássico moderno do pensador norte-americano, citado anteriormente, Theodore Levitt, revolucionário na administração dos negócios: o 70 primeiro negócio de qualquer negócio é continuar no negócio; para tanto, é preciso gerar e manter consumidores. Sem nenhuma dúvida, o mesmo conceito está valendo para o moderno e competitivo negócio do futebol, que precisa conquistar, satisfazer e manter torcedores-consumidores para permanecer como produto atraente, rentável e crescente no mercado cada vez mais competitivo e globalizado. 71 72 Triângulo Caririense, em Juazeiro, com ligações rodoviárias para Recife e Fortaleza. 08 Efeito Globalização Com o apoio fundamental de amplos e modernos sistemas de telecomunicações, satélites, computadores, novas tecnologias e novas mídias - especialmente a Internet - o fenômeno da globalização econômica, grande revolução geradora de integração e interligação instantânea de mercados, sem fronteiras, nesta virada de século e de Milênio, tem provocado diversas outras revoluções setoriais nos diversos campos de atividade humana. Uma dessas revoluções se processa, aceleradamente, no campo desportivo e, mais acentuadamente, no futebol. Com origens na Europa e avançando sobretudo na Inglaterra, Itália e Espanha, essa revolução tem sido denominada footbusiness - negócios do futebol - e pelos seus efeitos e influências nos diversos continentes, chegando fortemente à América do Sul, reproduz o processo de e globalização no futebol arquitetura de negócios com bola em escala global sob orientação de planejamento estratégico e gestão empresarial. Berço do futebol e do footbusiness, a Inglaterra tem oferecido ao mundo surpreendente painel de valores financeiros produzido por essa revolução. Para que se tenha uma idéia de sua magnitude, basta lembrar que o grupo de comunicação do magnata Ruppert Murdoch, dono do Times e vários canais de televisão, vai pagar, até 2004, cerca de US$ 330 milhões por temporada pelos direitos de transmissão dos jogos do milionário campeonato inglês, cuja atração principal é o bilionário Manchester United. 73 Mesmo sendo tetracampeão mundial e considerado o melhor do planeta, o futebol do Brasil ainda está longe desses valores, mas não há mais dúvida que já experimenta os primeiros sinais e efeitos da mesma revolução de mentalidades e objetivos. Uma revolução que está alcançando também o interior do Brasil, que será acelerada com a entrada em vigor da Lei Pelé no ano 2000 e que terá como consequência inevitável uma melhoria da qualidade do futebol nacional. Faz parte dessa onda de globalização do futebol sobre o Brasil, o caso do Juazeiro Empreendimentos Esportivos, fundado em outubro de 1998, primeiro clube-empresa de futebol no interior do Norte e Nordeste e segundo na região, depois do Bahia S. A., em Salvador, organizado em fevereiro de 1998, e antes do Náutico S.A, no Recife, o terceiro, surgido em junho de 1999. Com a palavra o principal responsável por essa façanha, um dinâmico empresário e político de visão moderna, atento às mudanças que ocorrem no mundo e obstinadamente dedicado ao projeto do Juazeiro, um exemplo de empreendimento renovador no futebol do Nordeste brasileiro. Eis o que diz o homem, Kleber Lavor: Somos plenamente conscientes dos limites e dos desafios que temos administrando um clube de futebol no interior do Brasil, mais ainda no interior do Nordeste. Mas, desde que fundamos o Juazeiro Empreendimentos Esportivos, que temos trilhado o mesmo objetivo e alcançado resultados muito compensadores. Queremos pensar e administrar estrategicamente o futebol fora de campo, assim como ele sempre foi pensado e administrado estrategicamente dentro de campo. Ou seja, queremos que o Juazeiro seja competitivo dentro e fora de campo. Estamos ainda em fase de organização, mas quando for 74 implantada a Lei Pelé queremos já estar estruturados adequadamente. Nosso objetivo está definido, assumido pela nossa diretoria e incorporado pela entusiástica população de Juazeiro do Norte: vamos fazer do Juazeiro um clube-empresa sob moderna filosofia de administração, com planejamento, controle, previsão, programação e estratégias que lhe assegurem mais e mais vitórias. O primeiro ano de atividades foi muito importante para o Juazeiro aparecer em campo, destacar-se como nova força do futebol do Ceará e do Nordeste. O segundo ano será fundamental para o Juazeiro, mais experiente, consolidar sua força em campo e aparecer no mercado, despertando o interesse de patrocinadores de perfil regional ou até mesmo nacional, como uma excelente alternativa de negócio e investimento. Pelo seu desempenho positivo, o Juazeiro gerou uma feliz associação entre os interesses do clube e os da cidade. E passou a capitalizar uma excelente imagem de evolução e progresso identificada com as aspirações de todo o Cariri, região com mais de l milhão de consumidores, que viraram torcedores. Torcedores da marca Juazeiro e consumidores dos produtos que ela pode vender. Sentimos que essa marca tem realmente uma força de mercado. O Juazeiro despertou os grandes clubes da Capital Ceará, Fortaleza, Ferroviário e Tiradentes - para o fato de que somente história e tradição não ganham jogo, nem campeonato, nem torcida, nem mercado. Que na nova realidade do futebol brasileiro os clubes, mesmo aqueles de história e tradição, terão que ter novo gerenciamento e apresentar força de competitividade. Com satisfação, podemos dizer que o Juazeiro tem e provou que tem essa força. Embora sejam muitas e grandes as 75 dificuldades, principalmente em captação de recursos, para esse tipo de gerenciamento moderno, o Juazeiro tem missão, tem valores e tem objetivos claros de clube-empresa para se desenvolver e se firmar entre as forças líderes do futebol no Nordeste brasileiro. Como se pode notar, o depoimento do empresário e executivo de futebol Kleber Lavor é uma declaração aberta de posicionamento competitivo. Sua declaração traz embutidos princípios, intenções, aptidões e objetivos componentes de uma estratégia central de competitividade e desenvolvimento, segundo o entendimento de Graham Hooley e John Saunders. Como deverão fazer todos os clubes-empresas que vão se implantar no Brasil, independentemente de suas dimensões, o Juazeiro está em organização para operar sob gerenciamento estratégico voltado para o mercado e, para isso, comprometido com fatores e componentes básicos do posicionamento estratégico: Potencial de mercado-alvo, com suas atratividades e oportunidades; potencial de liderança de custo, com sua possibilidade de economia de escala garantindo capacidade competitiva; potencial de vantagem diferencial, com sua competência para motivação de consumidores em relação ao produto, excluindo os concorrentes; potencial de marketing agressivo, concentrado e diferenciado; potencial de geração e mudanças socioculturais e de novas expectativas de mercado; potencial de criação e implementação de sistemas especializados de apoio à decisão gerencial; e potencial de crescimento, de participação, de lucratividade e de desenvolvimento do negócio. Para atingir os objetivos essenciais de competitividade, em busca de um futebol de qualidade e rentabilidade, será 76 fundamental que os novos clubes-empresa, como o Juazeiro, cumpram alguns critérios e orientações, como os que sugerimos a seguir, inspirados no Deminismo: * Exercitar o clima de confiança entre dirigentes, jogadores e servidores do clube, colaborando uns com os outros para o objetivo de desempenho positivo da organização; * Incrementar o espírito de equipe com encorajamento e estímulo aos dirigentes, jogadores e servidores do clube no processo de evolução e desenvolvimento da empresa; * Buscar atender ou exceder as expectativas associados e torcedores do clube oferecendo melhoria constante da qualidade e eficiência do futebol e de outros produtos e serviços da organização; * Desenvolver adequado processo de planejamento para gestão estratégica, considerando fatores essenciais de mercado, visando permanente melhoria de desempenho do clube-empresa; * Envolver dirigentes, jogadores e servidores do clube em processos de treinamento, orientação e formação para garantir maior envolvimento quanto aos objetivos de qualidade e eficiência; * Articular e desenvolver parcerias e acordos de cooperação e promoção, de natureza técnica, tecnológica ou financeira, tendo em vista o fortalecimento do clube como empresa; * Operar eficiente sistema de gerenciamentos de dados e informações para melhor avaliação dos problemas, ameaças, oportunidades e potencialidades, indispensável à tomada de decisões; * Adotar eficiente política de marketing, fundamental para apoiar e promover os eventos esportivos e os negócios do clube e fortalecer e ampliar a imagem institucional da empresa no mercado. 77 Caso os clubes-empresas brasileiros sigam, na teoria e na prática, como é o propósito do Juazeiro Empreendimentos Esportivos, esses parâmetros referenciais de gerenciamento estratégico da moderna gestão empresarial, estarão não apenas alcançando o desejado posicionamento competitivo de negócio com retorno certo dos investimentos, mas, seguramente, proporcionando uma melhoria de qualidade do futebol tetracampeão mundial. 78 09 Juazeiro Campeão Foi uma noite de tensão! Foi uma noite sem explosão! Foi uma noite de quase Waterlooo para o, em sua batalha pelo tetracampeonato. Foi a noite em que o Juazeiro quase atravessou o Rubicão para, do outro lado, aparecer levantando a taça de Campeão do Ceará e, assim, quebrar uma hegemonia de 80 anos do futebol da Capital sobre o do Interior. Quase. Decisão final do Campeonato Cearense de Futebol-99, na noite de 21 de julho, deu o segundo título de tetracampeão ao Cearánuma conquista sem gol, amparada em regulamento, pelo fato de o time de Porangabuçu ter vencido dois dos tres turnos do certame. Dentro do Castelão, principal estádio da Capital, o veterano curvou-se diante do novíssimo e competente Juazeiro, que vendeu caro o empate de 0X0. Como relatou o Diário do Nordeste em sua primeira página no dia seguinte, a equipe do Interior foi para cima do alvinegro e por pouco não sai vencedora. Diante de 21 mil torcedores, dos quais 18.097 pagantes, que proporcionaram uma renda de R$ 97.473,00, a maior de todo o Campeonato, o Juazeiro impôs o seu rítmo de jogo, com excelente futebol, sempre ofensivo, atacando o tempo todo. Em tres momentos, com jogadas perigosas de Bujica, Paulinho e Maradona, o Juazeiro mandou bola na trave e chegou muito perto do gol. Encurralado e na defensiva, o Ceará foi salvo pelo goleiro Jéfferson que, de tão exigido, acabou escolhido, pela crônica esportiva de Fortaleza, o melhor em campo. 79 Quando o juiz Dacildo Mourão apitou o final do Campeonato, o Juazeiro saiu do Castelão como vice-campeão de futebol do Ceará, porém, aplaudido como autêntico campeão pelos torcedores da Capital. O cronista Alan Neto confidenciou: Maradona, craque do Juazeiro, não conteve as lágrimas, misto de emoção e tristeza, quando, ao descer para o vestiário, viu a torcida do Ceará, de pé, aplaudindo todo o time juàzeirense. (27) Em verdade, se não pôde comemorar o título de campeão com taça na mão, o Juazeiro sagrou-se campeão de resultados na classificação geral do campeonato, de acordo com relatório da própria Federação Cearense de Futebol: Juazeiro: 79 pontos acumulados, 44 jogos, 21 vitórias, 16 empates, 07 derrotas, 63 gols positivos, 46 gols contra e saldo de 17 gols; Ceará: 78 pontos acumulados, 46 jogos, 21 vitórias, 15 empates, 10 derrotas, 78 gols positivos, 49 gols contra e saldo de 29 gols. Como está demonstrado, o Juazeiro, vice-campeão, somou mais pontos acumulados do que o campeão, embora o time caririense tenha tido menos dois jogos. Além disso, na comparação com o Juàzeiroteve igual número de vitórias, um empate a mais e menos derrotas. Ou seja, de acordo com os números, que não mentem, e não com as regras, que às vezes sofismam, as posições deveriam ser invertidas: Juazeiro campeão e Ceará vice. Onde, então, ou por que o Juazeiro perdeu o título? Perdeu, antecipadamente, na noite de 13 de julho, onde sempre foi imbatível, dentro de sua própria casa, no Romeirão. Em jogo disputadíssimo com o Fortaleza, precisando apenas de um empate para disputar a final do turno com o o time caririense cometeu o único erro em todo o campeonato: após ganhar o primeiro tempo por 2X0, deixando o Fortaleza paralisado, subestimou a capacidade de reação do adversário no segundo tempo e acabou derrotado por 3X2. 80 Faltou ao Juazeiro, no segundo tempo de jogo, lembrarse de um velho princípio da Física: toda ação provoca uma reação contrária. E também de um outro princípio, adotado tanto pelos manuais de estratégica militar quanto de marketing estratégico, que serve, igualmente, ao confronto em campo de futebol: independentemente do sucesso, nunca atue como líder insuperável. Exatamente os dois princípios que mais distinguiram o clube caririense em todo o campeonato. De qualquer forma, o desempenho histórico do Juazeiro, no campo e fora do campo,virou lição para os dirigentes do futebol cearense e principalmente do Ceará Sporting, com um rombo finananeiro estimado em R$ 300 mil e do Fortaleza com dívida acumulada de R$ 90 mil, no encerramento da competição estadual.” Cronista Tom Barros: A melhor lição dada pelo time do Cariri foi o recrutamento de valores locais, todos de excelente nível e numa faixa salarial suportável pela receita do clube. Com a estabilidade financeira, houve também a estabilidade dos atletas, que tinham em dia seus salários. Outro detalhe: ao técnico Flávio Araújo foi dado o tempo suficiente para a montagem da equipe, permanecendo no cargo mesmo quando houve alguns sinais de queda de produção do conjunto. Não houve lá a temível rotatividade de treinadores. (28) Por seu desempenho técnico e financeiro e por sua organização administrativa, o Juazeiro Esporte Clube acabou sendo indicado à CBF-Confederação Brasileira de Futebol para disputar a Série C do Campeonato Brasileiro. um merecimento, pelo sucesso em campo e na parte administrativa, justificou o presidente da Federação Cearense de Futebol, Fares Lopes. (29) Entretanto, pela fórmula adotada pela CBF para a competição com 36 clubes, incluindo apenas um do Ceará, no caso 81 o Fortaleza,esolhido pela FCF, ao Juàzeiro ficou garantida a vaga para participar da Copa do Brasil do Ano 2000. Vaga assegurada pela condição de vice-campeão cearense, título conquistado por absoluto mérito comprovado em futebol competitivo, gerenciamento empresarial e resultado financeiro. Essas condições gerenciais e estratégicas, aliás, deram ao Juazeiro, além do vice-campeonato estadual, outros consagradores reconhecimentos da mídia em relação ao futebol de 1999 no Ceará: Juazeiro, time de melhor conjunto; Kleber Lavor, o melhor dirigente do futebol; Flávio Araújo, melhor técnico do futebol; e cinco jogadores do Juazeiro (Lelo, Alan, Esquerdinha, Dower e Maradona) em todas as listas da Seleção do Campeonato. Pelo fato revelador e marcante de competência e de responsabilidade administrativa do Juazeiro,acrescente-se outro título de tremendo orgulho para a equipe caririense: único clube de futebol do Brasil na temporada de 99 com seus compromissos financeiros, fiscais e salariais absolutamente em dia, rigorosamente em dia. Mais do que um clube campeão em gestão de resultados, o clube caririense tornou-se, também, pelo seu estilo de jogo criativo, combativo, ofensivo e produtivo, um campeão de simpatia para os aficionados do futebol cearense. Os aplausos gerais ao time do Juazeiro, em pleno Castelão,na decisão final do Campeonato99, simbolizaram o reconhecimento acumulado pela expectativa desde dois meses antes, quando o experiente e prestigiado jornalista Edmundo Vitoriano, em sua coluna de 23 de maio na Tribuna do Ceará, uma pequena nota interpretando o sentimento de todas as torcidas: Campeão. Honra ao Juazeiro. Campeão Cearense de 99.ocasião das partidas com perspectivas de melhores receitas. Nos tres grandes, a insatisfação é generalizada, inclusive com alguns atletas se recusando a atuar, caso não recebam seus ordenados atrasados. (30) 82 Ao contrário dos tres grandes - Ceará, Fortaleza Ferroviário - Juazeiro chegou ao final do Campeonato com saúde financeira estável, compromissos fiscais atualizados e salários em dia, condições que lhe deram tranquilidade para manter um padrão competitivo dentro de campo, conquistando excelentes resultados. Pelo seu vigor e seu sucesso no campeonato, o Juazeiro firmou-se, rapidamente, como grande atração para a massa torcedora do Ceará. Com seu destemido posicionamento competitivo e dando brilho aos espetáculos de futebol, dentro e fora do Romeirão, Juazeiro proporcionou as maiores rendas em jogos do Campeonato Cearense-99 e tornou-se também um campeão em bilheteria. Exibindo características de fenômeno, com todo esse surpreendente desempenho, o clube caririense poderia ter sido contemplado com páginas inteiras na imprensa do Ceará. Exato contraponto do futebol cearense em crise, o Juazeiro gerou e sustentou, para a mídia, várias pautas sugestivas que deixaram de ser exploradas. Eis algumas: A nova força que vem do Interior; Maradona, el nuevo astro del Cariri; Juazeiro: o sucesso do futebol gerenciado; Lei Pelé é a nova lei de fé no Romeirão; Juazeiro faz a nova jogada do Brasil; O Ceará também tem disso, sim : futebol-negócio; Juazeiro: vitória do futebol competitivo; Uma nova luz para o futebol na Terra da Luz; Nosso Manchester no interior do Nordeste. 83 84 10 Bolsa de Valores Modernidade, competitividade, atratividade, lucratividade. Estas são as palavras-chaves em setas que indicam o novo caminho do futebol brasileiro. Organizados e planejados, administrativamente, de dentro para fora, os clubes-empresas terão melhor desempenho em campo e imagem de suceso, despertando, estimulando e ampliando, de fora para dentro, o movimento de associados, torcedores, consumidores, patrocinadores e investidores. Obviamente, para que a gestão empresarial possa fazer os clubes atraentes aos novos e futuros investidores será necessária uma eficiente política de marketing global. E para o marketing operar receitas com bilheterias, promoções, publicidade em camisa, licenciamento de produtos e contratos de televisão, os clubes terão que, prioritariamente, satisfazer expectativas, necessidades e desejos dos seus consumidores em potencial, seus torcedores. É simples: quanto mais os torcedores-consumidores estiverem satisfeitos, mais eles produzirão receitas e tornarão os clubes rentáveis. Em busca desse novo modelo de administração esportiva, o Juazeiro tem dado o indispensável espetáculo e a massa do Juàzeiro tem respondido com participação, vibração e renda, dando sua força indispensável. Este aspecto merece atenção porque a arrecadação é um dos indicadores de desempenho financeiro dos clubes e do prestígio que lhes confere o público. 85 Deve-se ressaltar que no Nordeste, por características peculiares de tradição e mercado, somente Recife e Salvador conseguem fazer dos principais jogos de seus campeonatos espetáculos de massa e de renda comparáveis aos mais vibrantes no Sudeste e outras prósperas regiões do País. Quatro exemplos: em 21 de fevereiro de 1999, no Recife, no Arruda, clássico Santa Cruz 1X1 Sport, teve 71.197 pagantes e renda de R$ 312.846; em 21 de março de 1999, no Recife, na Ilha do Retiro, clássico Sport 4X1 Náutico, teve 29.052 pagantes e renda de R$ 230.520,00; em 06 de fevereiro de 1999, em Salvador, na Fonte Nova, clássico Vitória 1X1 Bahia, teve 56.431 pagantes e renda de R$ 450.780,00; em 21 de março de 1999, em Salvador, Fonte Nova, clássico Bahia 1X1 Vitória, teve 52.524 pagantes e renda de R$ 441.977,00. Clubes, públicos e rendas que expressam a força do futebol em Pernambuco e na Bahia. Ou por deficiências de qualidade e de competitividade, ou por falhas de administração, organização e marketing, ou por tudo isso junto, o campeonato do Ceará tem demonstrado desempenho realmente muito abaixo de suas reais possibilidades, que precisam ser melhor trabalhadas e aproveitadas estrategicamente. Somente assim poderá posicionar-se, honrosamente, como a terceira força arrecadadora do futebol no Nordeste. Para avaliação do que isso representa, comparando-se com a perfomance do futebol de outros Estados da região, basta conferir o frágil campeonato da Paraíba, em permanente crise técnica porque tem evolução impedida por permanente crise financeira que não se resolve porque os estádios estão em permanente crise de público. Uma ilustração? Jogo decisivo de classificação do primeiro turno do campeonato paraibano de 1999, Auto Esporte 3X0 Nacional no Almeidão, em João Pessoa, em 16 de maio, registrou somente 99 torcedores pagantes e uma renda de R$ 289,00, 86 algo, mesmo casual, quase inacreditável. Somente explicável pela pobreza de espetáculo. Quanto ao movimento financeiro do campeonato do Ceará, durante os tres turnos em 1999, além da eficiência em resultados positivos no campo, o Juazeiro mostrou eficiência também em resultados na bilheteria. Os jogos do Juazeiro com Ceará e Fortaleza foram os que proporcionaram as maiores arrecadações do Campeonato:? Em 19 de maio, no Romeirão, Juazeiro 1 X 0 Ceará,renda de R$ 29.633,00; em 30 de maio, no Presidente Vargas, Juazeiro 2 X 1 Fortaleza, renda de R$ 35.740,00; em 13 de julho, no Romeirão, Juazeiro 2 X 3 Fortaleza, renda de R$ 15.334,00; em 15 de julho, no Presidente Vargas, com time rserva(principal ficou concentrado para jogo final do Campeonato), Juazeiro 0 X 5 Ceará, renda de R$ 46.387,00; em 21 de julho, no Castelão, Juazeiro 0 X 0 Ceará, na decisão do título, renda de R$ 97.473,00, a maior do Campeonato. Esses números passam a ter maior significado quando comparados aos relatórios de bilheteria do Ceará e do Fortaleza em jogos com outros participantes do terceiro turno do campeonato: em 23 de maio, Ceará 2 X 0 Uniclinic, renda de R$ 1.294,00; em 26 de maio, Ceará 4X2 Quixadá, renda de R$ 4.037,00; em 31 de maio, Ceará 7X3 Limoeiro, renda de R$ 5.118,00; em 02 de junho, Fortaleza3X0 Uruburetama, renda de R$ 702,00; em 09 de junho, Fortaleza 3x2 Ferroviário, renda de 10.194,00; em 11 de junho, Ceará 2x0 Tiradentes, renda de R$ 10,738,00; em 13 de junho, Fortaleza 4x0 Uniclinic, renda de R$ 2.772,00; em 16 de junho, Ceará 4X0 Limoeiro, renda de R$ 7.016,00; em 17 de junho, Fortaleza 7X2 Uruburetama, renda de R$ 8.787,00; em 27 de junho, Fortaleza 2X3 Ferroviário,renda de R$ 4.807,00; em 03 de julho, Ceará 2X1Tiradentes, renda de R$ 1.739,00. Observam-se, nessa relação, apenas duas arrecadações acima de R$ 10 mil e abaixo de 87 R$ 11 mil, exatamente em jogos envolvendo os maiores clubes da Capital. Grande clássico Ceará 2X1 Fortaleza, popularíssimo Clássico-Rei, no Castelão, na Capital, em 06 de junho, quando os dois times ainda estavam abatidos pelas derrotas impostas pelo Juazeiro e precisavam de uma reação no chamado Turno da Morte, teve 4.135 pagantes e renda de R$ 18.068,00. Público e arrecadação, portanto, bastante inferiores aos do jogo final do segundo turno entre Juazeiro e Ceará com vitória do time caririense. Entretanto, o exemplo mais expressivo foi o jogo de 20 de junho, novamente no Castelão Fortaleza 3X2 Ceará, repetindo o mais tradicional clássico do futebol cearensecom apenas 3.528 torcedores pagantes e renda de R$ 10.942,00, inexpressiva para um confronto reunindo os dois clubes principais rivais no Estado. Desconcertante, diante das rendas proporcionadas pelo Juazeiro em confrontos, tanto no Romeirão quanto na Capital. Mesmo quando o Juàzeiro jogou desmotivado, sem qualquer interesse de vitória, por simples e obrigatório cumprimento de tabela, proporcionou mais renda do que o em igual condição: em 15 de julho, no Presidente Vargas, Juazeiro 0X5 Ceará, público de 10.082 pagantes e renda de R$ 46.367,00; em 17 de julho, no Castelão, Ceará 2X7 Fortaleza, público de 377 pagantes e renda de R$ 1.353,00. Nesses jogos, Juazeiro e Ceará saíram goleados porque, estrategica e convenientemente, preservaram as equipes principais para a final decisiva do Campeonato. Com uma administração realista, equilibrando receitas e despesas, conforme as peculiaridades e os valores do mercado, o Juazeiro disputou a competição estadual sem transtornos financeiros, ao contrário dos principais clubes da Capital. Vejam esta nota do cronista Carlos Alberto Farias: O futebol cearense caminha para a decisão do Cam88 peonato atravessando uma das maiores crises financeiras de nossa história. Os tres grandes têm débitos com salários de jogadores e funcionários, além de uma avalanche de questões trabalhistas que provocam bloqueio de cotas por ocasião das partidas com perspectivas de melhores receitas. Nos tres grandes, a insatisfação é generalizada, inclusive com alguns atletas se recusando a atuar, caso não recebam seus ordenados atrasados. (30) Ao contrário dos tres grandes - Ceará, Fortaleza Ferroviário - Juazeiro chegou ao final do Campeonato com saúde financeira estável, compromissos fiscais atualizados e salários em dia, condições que lhe deram tranquilidade para manter um padrão competitivo dentro de campo, conquistando excelentes resultados. Pelo seu vigor e seu sucesso no campeonato, o Juazeiro firmou-se, rapidamente, como grande atração para a massa torcedora do Ceará. Com seu destemido posicionamento competitivo e dando brilho aos espetáculos de futebol, dentro e fora do Romeirão, Juazeiro proporcionou as maiores rendas em jogos do Campeonato Cearense-99 e tornou-se também um campeão em bilheteria. Exibindo características de fenômeno, com todo esse surpreendente desempenho, o clube caririense poderia ter sido contemplado com páginas inteiras na imprensa do Ceará. Exato contraponto do futebol cearense em crise, o Juazeiro gerou e sustentou, para a mídia, várias pautas sugestivas que deixaram de ser exploradas. Eis algumas: A nova força que vem do Interior; Maradona, el nuevo astro del Cariri; Juàzeiro: o sucesso do futebol gerenciado; Lei Pelé é a nova lei de fé no Romeirão; Juàzeiro faz a nova jogada do Brasil; O Ceará também tem disso, sim : futebol-negócio; Juàzeiro: vitória do futebol competitivo; Uma nova luz para o futebol na Terra da Luz; Nosso Manchester no interior do Nordeste. 89 90 Cercado pelo Chapadão do Araripe, Juazeiro projeta-se como Manchester do Cariri. 11 Manchester do Cariri Com o processo de desconcentração urbana que está se verificando nas metrópoles brasileiras e também no Nordeste, diminuindo o seu rítmo de crescimento, Cidades de Centralidades mais Expressivas, como Juazeiro do Norte, no Cariri, experimentam, ao final dos anos 90 e na virada do Milênio, expectativas e indicadores do fenômeno de reconcentração urbana - volta das populações migrantes deixando as metrópoles - que pode lhe repetir o forte rítmo de desenvolvimento nas décadas de 50 a 70. Foi nessas décadas que Juazeiro e o Cariri registraram significava expansão demográfica, comercial e industrial. O número de estabelecimentos industriais cresceu 68% e o Cariri passou a contribuir com 21% do produto industrial do Ceará, segundo registros do Banco do Nordeste.(31) Como naquela época, estão de volta os debates, as articulações, as oportunidades e as expectativas em torno do potencial de mercado e de matérias-primas da região que podem favorecer uma retomada do desenvolvimento industrial de Juazeiro em vários setores: construção civil, produtos metalúrgicos, fabricação de óleos vegetais, açúcar e álcool, extração de minerais, industrialização de frutas, lazer e turismo e outras possibilidades. Favorecido pela sua posição geográfica equidistante dos maiores mercados regionais, 530 quilômetros do Recife e de Fortaleza, e dotado de infra-estrutura básica adequada - energia, 91 rodovias asfaltas, ferrovias, telecomunicações e Aeroporto Regional do Cariri(vôos regionais e nacionais) - Juazeiro prepara-se para entrar no novo século revitalizando sua condição de Manchester do Cariri, agora também sob o impulso de empreendimentos no campo esportivo. Essa nova atmosfera evolucionária é consequência direta das mudanças revolucionárias recentes na administração esportiva, e sobretudo na gestão do futebol brasileiro, que se verificam, também e até com surpreendente velocidade, fora do eixo Rio-São Paulo. Coube ao Esporte Clube Bahia o privilégio de se transformar em fevereiro de 1998 no primeiro clube-empresa do Brasil, segundo Placar (32), principal revista especializada de esportes no País. Uniu-se ao Banco Opportunity formando o Bahia S.A., com capital inicial de R$ 6 milhões, tendo o banco ficado com o controle acionário(51%) para poder gerir o negócio. Em Minas Gerais, o tradicional Atlético contratou a economista Elena Landau, ex-diretora de privatização do BNDESBanco Nacioanl de Desenvolvimento Econômico e Social (19931996). Sua missão: criar no Atlético uma estrutura compatível com os novos tempos e capaz de atrair investidores, dando prioridade às parcerias com empresas em expansão no mercado e à associação com as televisões formando o principal filão financeiro que vem sendo explorado pelos clubes. Landau assumiu a missão estratégica com entusiasmo, mas perfeitamente consciente da realidade difícil e dos valores a serem respeitados na construção do futuro: É preciso que se saiba o seguinte: a paixão não pode deixar de existir. O profissional que for administrar o clube não pode esquecer disso. O investidor não pode esquecer a tradição do clube. (33) 92 Em Santa Catarina, o campeão Figueirense entrou firme na mesma trilha. Enquanto seus jogadores estavam em campo, suando a camisa, demonstrando e aperfeiçoamento seu potencial técnico, seus dirigentes ocupavam-se na transformação do clube de futebol em clube-empresa. Fizeram até uma reforma estatutária e criaram um Conselho de Gestão, com a participação de empresários e executivos de Florianópolis. Pensando em negócio, em patrocínio, em investimento, em administração, em produtividade, em rentabilidade. Em Pernambuco, o Clube Náutico Capibaribe, cansado de baixo desempenho diante dos seus maiores rivais - Sport Club Recife e Santa Cruz Futebol Clube - saiu na frente e em junho de 1999 virou Náutico S.A.Fez parceria com a Goal Company, empresa responsável para atrair novos investidores e dar novo rumo administrativo ao tradicional clube alvirrubro pernambucano. Essa revolução está chegando também ao interior do Brasil. Um belo exemplo é o Juventude, de Caxias do Sul, nova força do Rio Grande do Sul, campeão gaúcho de 1998, depois de 60 anos de hegemonia absoluta do futebol da capital (Grêmio e Internacional) sobre o do interior. Antes, nos gramados dos pampas, somente existia o clássico Grenal, agora existe também o Juvenal. Desde 1994 o clube de Caxias, fundado em 1913, vem crescendo com uma organização mais eficiente, recebendo patrocínio de uma multinacional e investindo em novos talentos. Resultado histórico: campeão da Copa do Brasil de 1999, diante de 100 mil torcedores do Botafogo, em 17 de junho, em pleno Maracanã (0X0), garantindo sua vaga na Taça Libertadores da América de 2000. Alguma explicação? Eis uma de Divino Fonseca, da crônica esportiva de Porto Alegre: 93 Os dirigentes do Juventude sabem escolher o elenco. Pegam o jogador médio, que o grande clube aproveitou mal e lhe dão chance de crescer.(34) Que significa isso? Que mudança é essa? Merece espaço a interpretação de quem tem visto o jogo à beira do gramado dos negócios, observando o fim dos clubes que não conseguem pagar as contas do fim do mês e que sobrevivem a golpes de sonegação de impostos e de encargos, além de atraso nos salários aviltados de seus jogadores. Com a bola, o comentarista econômico, Joelmir Beting: A profissionalização do futebol já virou um movimento epidêmico. Contamina clubes grandes, médios e pequenos. Das capitais e de cidades do interior. E não menos fantástico, com dezenas de grupos multinacionais, com ou sem raiz nos gramados, pedindo passagem na carpintaria ainda ressabiada do Futebol S.A. Até aqui, um tetra mundial dentro de campo e um perna-depau fora dele.(35) Ainda Joelmir, explicando que o novo pulo do gato está diretamente relacionado com a revolução na indústria do entretenimento, disparadamente, a maior do mundo em negócios diretos e indiretos, e da qual faz parte o futebol, dentro do conceito de show-biz, como o maior segmento da indústria do esporte, única modalidade verdadeiramente globalizada: O clube que não embarcar nesse bonde que passa não mais erguerá uma única taça no futuro que já chegou. Evidentemente, apesar dos avanços de profissionalização na administração do futebol no Brasil, tetracampeão mundial, mesmo os maiores e mais importantes clubes, como Flamengo, Vasco, Corinthians, São Paulo Palmeiras, ainda estão distantes do sistema de gestão empresarial e de rentabilidade do inglês Manchester United, clube mais rico do mundo, que teve faturamento de US$ 400 milhões em 1998. Um clube que vale U$ 1 bilhão. 94 Muitíssimo mais distante ainda, obviamente, e numa escala incomparável, está o Juazeiro Esporte Clube. Mas, a nova força do futebol no eixo nordestino do Brasil, está deixando de lado os métodos tradicionais e buscando parcerias para um projeto de acordo com a modernização do futebol brasileiro. Em Juazeiro do Cariri, pelo menos, já existe uma nova mentalidade, uma fé formada em nova concepção de gestão, sem asquerosidade, sem simploriedade e sem primarismo, mas sob o princípio da razoabilidade, como sugere Armando Nogueira em sua crítica: O maior erro do clube no profissionalismo é ser administrado por torcedores apaixonados. Os quadros dirigentes não são escolhidos pelo critério da competência. A grande credencial do diretor ou está no bolso ou no coração. Nunca na cuca. E administrar uma empresa com o ânimo furioso do torcedor não pode dar certo, nunca! (36) Felizmente, isso está mudando em várias partes do Brasil, inclusive em Juazeiro do Cariri. Pelo seu modelo tentativo de gestão empresarial, antecipando-se, experimentalmente, à aplicação da Lei Pelé, e pela filosofia de negócio como empreendimento, buscando eficiência, produtividade e rentabilidade, o Juazeiro está fazendo tudo para ser conhecido, reconhecido e festejado como Manchester do Cariri. Dessa maneira, ofootbusiness, novo paradígma do futebol, veio reforçar a imagem progressista de Juazeiro do Norte, desde a década de 60 conhecida no Nordeste como Manchester do Cariri, pela sua crescente prosperidade comercial, seu significativo desempenho de produção industrial e seu acelerado crescimento econômico. Agora, Manchester também pelo futebol, expressão de sua nova força de desenvolvimento. Exagero descabido? Apelo marqueteiro? Anseio delirante? 95 Parece oportuno lembrar, novamente, o Dr. Deming, ao considerar os interesses e as expectativas de cada clientela em relação aos seus respectivos produtos, com sua exemplar ilustração de uma caneta tinteiro cara e um caneta esfereográfica barata: Embora elas pareçam ter usos similares, elas são, de fato, produtos tremendamente diferentes que combinam com expectativas e definições de qualidade tremendamente diferentes dos clientes. Para atingir seus objetivos, o Juazeiro tem demonstrado disposição gerencial de funcionar como sistema, seguindo a teoria de ministar, tendo pleno conhecimento e pleno reconhecimento da importância, como fator fundamental gerador de sucesso, da aplicação do marketing levitiano, baseado na percepção completa das forças que atuam no mercado e assim definido: Constitui os olhos e os ouvidos da empresa para o mundo - o único mundo para o qual a empresa dirige seus esforços... tem a responsabilidade de vender o que a empresa produz, mas também deve aceitar a responsabilidade importante de decidir o que ela deve fazer, e é responsável pelo contato constante com a realidade do mundo do cliente, que evolui constantemente. Em visita ao Cariri você mesmo poderá conferir que Juazeiro hospitaleiro dos romeiros brasileiros é também o Juazeiro do Brasil pandeiro, do Brasil futeboleiro, da República Generalizada, como gostava de dizer Apparício Torelly, o espirituoso Barão de Itararé. Que o Juazeiro Romeiro, socialmente ainda cheio de necessidades, tem a mesma cara de esperança do Brasil mágico de Pelé, Garrincha, Didi, Leônidas, Rivelino, Senna, Fittipaldi, Piquet, Oscar, Falcão, Gerson, Tostão, Zico, Ronaldinho, Romário e todos os geniais campeões dos esportes que fizeram ou fazem a alegria do povo, aliviando suas carências coletivas. Que o progresso de Juazeiro está, mais do que nunca, sustentado sobre o trinônimo Religião-Trabalho-Futebol. 96 Será possível constatar no sentimento do povo de Juazeiro que a cidade e seu principal clube de futebol desejam e querem parecer uma pequena e fervilhante Manchester,em permanente evolução e transformação, tentando reproduzir-se e autoestimarse, comparativa e sugestivamente, em dimensão miniaturizada do tradicional centro industrial e futebolístico da velha Inglaterra. Juazeiro tem ainda mais de 800 anos de história para tentar se tornar uma Manchester e o Juazeiro tem ainda 120 anos de jogo para tentar se tornar um Manchester United, mas, pelo menos, está começando no caminho certo em direção ao futuro, aquele futuro apontado por Anatole France como o melhor lugar para se colocar os sonhos. Pode ser que até lá morra o burro Astrólogo de La Fontaine, porém, dificilmente, o clube azulão do Vale do Cariri deixará de atingir seus objetivos. Por diversas razões: tem o posicionamento competitivo de Hooley; tem disposição para funcionar como o sistema do Dr. Deming; tem a alma do negócio de Levitt; tem o impulso recomendado por Kotler para fazer acontecer; tem o espírito de revolução dos campeões de Shinyashiki; e tem bem claros os seus horizontes de jornada rumo ao futuro. Assim está o Juazeiro, como cidade, com foco no desenvolvimento produtivo, sustetável e competitivo, e como clube de futebol, com foco no negócio e seus efeitos sociais, econômicos e culturais. Sem qualquer concessão de generosidade, o Juazeiro é um belo ensaio de clube-empresa, de acordo com os novos princípios e critérios que prometem fortes mudanças na gestão e na qualidade do futebol brasileiro. Logicamente, somente o excelente desempenho técnico em campo não será suficiente para o êxito completo do Juazeiro como clube-empresa. Em vez de depender de apenas um diferencial 97 ou impulso importante, a empresa precisa tecer sua teia de qualidades e atividades de marketing, lembra Kotler apontando o caminho do sucesso. Para isso, em Juazeiro do Norte, cidade e clube trabalham e jogam, jogam e trabalham, sinergeticamente, sem parar, sem esmorecer, superando limitações e desafios, determinadamente, com vontade permanente de vitórias e mais vitórias. Sabem que, na Revolução dos Campeões as vitórias são resultado de estratégia, visão e determinação. Sabem que essa revolução não pode parar e somente assim poderão defender, desenvolver, promover, proclamar e propagar Juazeiro como Manchester do Cariri. 98 RESULTADOS Primeiro Turno 22/novembro/1998: Uniclinic 1 X Juazeiro 1 25/novembro/1998: Juazeiro 0 X Itapipoca 0 29/novembro/1998: Limoeiro 3 X Juazeiro 1 02/dezembro/1998: Quixadá 0 X Juazeiro 1 06/dezembro/1998: Juazeiro 3 X Uruburetama 0 09/dezembro/1998: Juazeiro 2 X Tiradentes 1 12/dezembro/1998: Ferroviário 1 X Juazeiro 2 15/dezembro/1998: Ceará 1 X Juazeiro 1 19/dezembro/1998: Juazeiro 3 X Fortaleza 2 27/janeiro/1999: Juazeiro 2 X Tiradentes 1 31/janeiro/1999: Juazeiro 1 X Ceará 0 03/fevereiro/1999: Tiradentes 1 X Juazeiro 0 07/fevereiro/1999: Ceará 3 X Juazeiro 2 Observação: Ceará campeão do Primeiro Turno Segundo Turno: 09/março/1999: 11/março/1999: 14/março/1999: 17/março/1999: 28/março/1999: 31/março/1999: 04/abril/1999: 11/abril/1999: 25/abril/1999: 01/maio/1999: 05/maio/1999: Uruburetama 0 X Uniclinic 2 X Juazeiro 0 X Ferroviário 1 X Juazeiro 3 X Juazeiro 1 X Juazeiro 0 X Ceará 0 X Quixadá 1 X Juazeiro 0 X Juazeiro 1 X 99 Juazeiro 1 Juazeiro 2 Ceará 0 Juazeiro 3 Uruburetama 1 Uniclinic 1 Ferroviário 0 Juazeiro 2 Juazeiro 2 Quixadá 1 Uniclinic 1 08/maio/1999: Ceará 1 X Juazeiro 2 12/maio/1999: Uniclinic 1 X Juazeiro 1 19/maio/1999: Juazeiro 1 X Ceará 0 Observação: Juazeiro campeão do Segundo Turno Terceiro Turno 26/maio/1999: Itapipoca 30/maio/1999: Fortaleza 02/junho/1999: Juazeiro 06/junho/1999: Juazeiro 09/junho/1999: Juazeiro 12/junho/1999: Juazeiro 16/junho/1999: Quixadá 20/junho/1999: Limoeiro 23/junho/1999: Juazeiro 26/junho/1999: Tiradentes 01/julho/1999: Itapipoca 04/julho/1999: Juazeiro 07/julho/1999: Juazeiro 09/julho/1999: Fortaleza 13/julho/1999: Juazeiro 15/julho/1999: Ceará 21/julho/1999: Ceará Observação: Ceará Campeão Estadual Juazeiro Vice-Campeão 100 1 1 0 1 3 0 2 2 2 1 2 1 0 1 2 5 0 X X X X X X X X X X X X X X X X X Juazeiro 2 Juazeiro 2 Limoeiro 1 Tiradentes 1 Quixadá 2 Itapipoca 0 Juazeiro 3 Juazeiro 5 Fortaleza 1 Juazeiro 1 Juazeiro 2 Itapipoca 0 Ceará 0 Juazeiro 1 Fortaleza 3 Juazeiro 0 Juzeiro 0 Referências 01) Jornal do Brasil, Rio, 30-05-1999 02) GABOR, Andrea. O homem que descobriu a qualidade. Rio de Janeiro, Qualitymark, 1994 03) O Globo, Rio, 30-05-1999 04) LEVITT, Theodore. Marketing para Desenvolvimento dos Negócios. São Paulo, Cultrix, 1975 05) CERQUEIRA NETO, Edgard Pedreira. Gestão da Qualidade. São Paulo, Pioneira, 1993 06) Revista HSM Management, São Paulo, maio/junho, 1999 07) Anuário Estatístico do Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de janeiro IBGE, 1998 08) MARGERISON, Charles. Gerência de Grupos de Trabalho. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1975 09) O Povo, Fortaleza, 21-05-1999 10) O Povo, Fortaleza, 21-05-1999 11) Tribuna do Ceará, Fortaleza, 20-05-1999 12) SHINYASHIKI, Roberto. A Revolução dos Campeões. São Paulo, Editora Gente, 1995 13) Jornal do Cariri, Juàzeiro do Norte, 19-05-1999 14) Jornal do Cariri, Juàzeiro do Norte, 20-05-1999 15) Diário do Nordeste, Fortaleza, 20-05-1999 16) Tribuna do Ceará, Fortaleza, 21-05-1999 17) O Povo, Fortaleza, 20-05-1999 18) Povo, Fortaleza, 31-05-1999 19) Diário do Nordeste, 31-05-1999 20) Diário do Nordeste, 02-06-1999 21) Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 13-06-1999 22) O Povo, Fortaleza, 02-06-1999 101 23) HOOLEY, Graham. Posicionamento Competitivo. São Paulo, Makron Books, 1996O 24) Diário do Nordeste, Fortaleza, 21-05-1999 25) O Povo, Fortaleza, 23-05-1999 26) O Dia, Rio de Janeiro, 30-05-1999 27) O Povo, Fortaleza, 23-07-1999 28) Diário do Nordeste, 23-07-1999 29) Diário do Nordeste, Fortaleza, 07-07-1999 30) Tribuna do Ceará, Fortaleza, 02-07-1999 31) FERNADES, Batista. Potencialidades Industriais do Cariri. Fortaleza, BNB, 1977 32) Placar, São Paulo, Nº 1145, Novembro, 1998 33) Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23-05-1999 34) Lance, Rio de Janeiro, 21-05-1999 35) O Globo, Rio de Janeiro, 22-05-1999 36) NOGUEIRA, Armando. O melhor da crônica brasileira. Armando Nogueira e outros. Rio de Janeiro, José Olympio, 1997 102 “Pólo de convergência regional do progresista Vale do Cariri e favorecido pela sua posição geográfica equidistante dos maiores mercados do Nordeste, 530 quilômetros do Recife e de Fortaleza, Juazeiro do Norte está consolidado como um dos principais centros de negócios com influência sobre a região de mais de 1 milhão de habitantes e vasta área ao longo do estratégico Eixo Transnordestino de Desenvolvimento”. 103