Manchester do Cariri

Transcrição

Manchester do Cariri
Juazeiro
Manchester do Cariri
Jota Alcides
Horizonte Editora
Brasília - DF
1999
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Jota Alcides
Juazeiro
Manchester do Cariri
Movimento
Cultural
Brasileiro
Horizonte Editora
Brasília - DF
1999
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Copyright by Jota Alcides
ALCIDES, Jota.
Manchester do Cariri - Juazeiro na
Revolução dos Campeões.
Brasília, Horizonte, 1999
96 Páginas
1. Futebol, Brasil. 2. Gestão Empresarial:
Futebol. 3. Marketing: Futebol. I Título
CDU &96.33
Prefácios do jornalista Armando Ferrentini,
um dos maiores especialistas em Marketing
do Brasil, e do bicampeão mundial, mestre
Nilton Santos, “a enciclopédia do futebol”.
Direitos reservados ao Autor
4
Dedicatória
Aos jornalistas, escritores e professores Geraldo Menezes
Barbosa, ex-diretor da Rádio Progresso de Juazeiro, e Aldemir
Sobreira, ex-diretor do jornal Tribuna de Juazeiro, dois dos
expoentes da imprensa do Cariri na segunda metade deste século
XX, que me abriram as portas para o fascinante mundo da
informação, oferecendo-me oportunidade, treinamento, ensinamento, exemplo, amizade, estímulo, apoio e aplauso nos primeiros
passos em caminhos da mídia impressa e eletrônica, além da
generosidade de dedicados e aplicados amigos e mestres, minha
profunda gratidão, terna e eterna gratidão na memória longa do
coração.
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Sumário
Apresentação ............................................................................. 09
Prefácio de Armando Ferrentini ................................................ 19
Prefácio de Nilton Santos .......................................................... 23
01. Berço do Footbusiness ................................................. 27
02. Juazeiro Potencial ......................................................... 33
03. Explosão no Romeirão ................................................. 41
04. Vitória Prenunciada ...................................................... 47
05. Consagração Impressa .................................................. 53
06. Juzeiro Competitivo ..................................................... 57
07. Superbolão de negócios ................................................ 65
08. Efeito Globolarização ................................................... 73
09. Juzeiro Campeão .......................................................... 79
10. Bolsa de Valores ........................................................... 85
11. Manchester do Cariri .................................................... 91
Resultados ................................................................................. 99
Referências .............................................................................. 101
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Apresentação
Quando se alcança o estágio de mais de três décadas
consecutivas de atividades profissionais, em qualquer segmento
econômico ou empresarial, fica-se, inevitavelmente, vulnerável aos
impulsos naturais do processo de flash memory ou nostálgica
retrospectiva. Menos por inflamável presunção e mais por agradável
evocação do tempo passado de utopias, desafios, superações e
eventuais sucessos.
Principalmente, quando dedicados, todos esses anos, ao
mesmo negócio e ao mesmo ideal. É o que acontece comigo, agora,
após 32 anos como jornalista, tendo atuado como executivo em
jornais, rádios e televisões de importantes redes brasileiras de
comunicação.
Fixado há 20 anos em Brasília, com a satisfação de quem
teve e pôde aproveitar alternativas e oportunidades em ambiente
de desigualdades próprias de uma entropia social redutora de
perspectivas, volto ao Nordeste com uma escala técnica de revisita
ao Juazeiro do Norte, Terra do Padre Cícero, no Vale do Cariri,
cenário de um novo fato social, sem caráter milagroso, com
repercussão cultural e econômica.
Quase instintivamente, olhando, pelo retrovisor do tempo,
flagro-me meio contemplativo, meio saudosista, após ter percorrido
intensa jornada e sido, com muita honra, Editor Principal da Rede
Globo de Televisão no Nordeste, Diretor-Editor do Jornal do
Commércio, em Pernambuco, e Editor-Chefe do Correio
Braziliense, no Distrito Federal, entre outros cargos em empresas
jornalísticas de referência nacional.
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Mais do que proustianamente, prazerosamente, entregome à recordação de que foi há 32 anos o início de tudo, precisamente
no Juazeiro do Cariri, movido por sonhos e ideais que se
realimentaram testados em frustrações e realizações e se
fortaleceram na defesa de causas nobres e na alegria de conquistas
realmente gratificantes.
Mais satisfação ainda porque o começo deu-se pelo do
Interior, reconhecidamente de cultura profissionalizante
multifuncional, por suas características próprias de maiores
exigências de mobilidade para a produção generalista, de menores
pressões quanto à competitividade e de maiores espaços para
liberdade de ação e de criatividade. E porque tive o futebol como
porta de entrada para o jornalismo.
Colocou-me o destino diante dessa porta em 1962, quando
era apenas um adolescente de 12 anos, estudante do Colégio
Salesiano Padre Rinaldi, em Carpina, na Zona da Mata de
Pernambuco, a 60 quilômetros do Recife.
Despertado vocacionalmente para o mundo da notícia,
ali tentava e conseguia fazer ingênuas narrações de futebol,
documentando em gravador profissional os jogos de
campeonato intercolegial, cujos lances mais emocionantes
eram reproduzidos, para alegria da estudantada, como atração
dos espetáculos artísticos nas noites de domingo no teatro
salesiano.
Entre 1967 e 1969, o que era apenas uma brincadeira
infanto-juvenil fantasiosa em Carpina, Pernambuco, virou realidade
caprichosa do destino adulto, em Juazeiro do Cariri. Do Juazeiro
araripeiro, canavieiro, açucareiro, hospitaleiro, romeiro, cordeleiro,
violeiro, vaqueiro, bacamarteiro, festeiro, forrozeiro e também
futeboleiro.
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Em Juazeiro, nessa época com cerca de 100 mil habitantes,
tive a chance de participar de muitas radiojornadas esportivas,
escalado na equipe da Rádio Progresso, Emissora Caririense de
Educação e Cultura, inaugurada em 1º de maio de 1967 e dirigida
por Geraldo Menezes Barbosa, executivo de múltiplas atividades
sociais e culturais, dividido entre a imprensa, a medicina, o
magistério e a literatura. Mas, especialmente, um homem atento
aos novos talentos.
Comecei pelo começo. Primeiro, como plantonista
esportivo, em seguida repórter esportivo, redator esportivo e,
depois, como cronista esportivo, um exercício ousado para a
inexperiência de um jovem em formação, mas absolutamente
possível em ambiente propício para descoberta, valorização e
desenvolvimento de novos profissionais, como é o caso do
jornalismo no Interior.
Em busca de um horizonte além do radioesportivo, mais
identificado com aspirações e propósitos acalentados, desloqueime, imediatamente para o radiojornalismo, lançando o RádioRepórter Cariri, que foi um sucesso regional de audiência e
credibilidade, e daí, rapidamente, para o jornalismo impresso.
Como desejava, tornei-me imensamente envolvido em
compromissos com Rádio Progresso de Juazeiro, Tribuna de
Juazeiro, Tribuna do Ceará, Rádio Verdes Mares, Ceará Rádio
Clube, Unitário, Correio do Ceará e Diário de Pernambuco, quase
tudo ao mesmo tempo. Dessa maneira, passei a ocupar,
gradativamente, maiores espaços nos meios jornalísticos do Cariri,
Fortaleza e Recife.
Foi assim que me aproximei de alguns profissionais de
prestígio na imprensa metropolitana: Edilmar Norões, Mardônio
Sampaio, Cirênio Cordeiro, Antonio Marrocos, Francisco Maia,
Narcélio Limaverde e Nazareno Albuquerque, na capital cearense;
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e Gomes Neto, Anchieta Hélcias, Antonio Camelo, Tavares Maciel,
Ivan Lima, Adonias Moura, Artur Malheiros e Stélio Gonçalves,
na capital pernambucana. Depois deles, vieram muitos e muitos
amigos jornalistas em Fortaleza e no Recife.
Enquanto permanecia em temporada no Cariri pensando
no futuro e aspirando exercer o jornalismo na capital de Pernambuco, opção previamente escolhida e conscientemente amadurecida,
sob influência do passado adolescente, procurava acumular
conhecimento e aperfeiçoamento nas funções de repórter, redator
e cronista fazendo ampla cobertura dos acontecimentos esportivos,
sociais, culturais, políticos e econômicos dessa região centronordestina.
Considerado o aglomerado urbano de maior crescimento
no Ceará e um dos maiores do interior do Nordeste, Juazeiro do
Norte desse tempo contava com um jornal - Tribuna de Juazeiro,
sob direção do professor e jornalista Aldemir Sobreira - e duas
emissoras de rádio - ZYB 35 Rádio Progresso e ZYH 21 Rádio
Iracema, esta última pioneira, no ar desde 1951e dirigida por Coelho
Alves, em várias décadas um dos mais afamados radialistas do
Ceará. Esses veículos de comunicação garantiam promoção e apoio
ao futebol da cidade, também o mais evoluído do Cariri.
Sob o patrocínio e a organização da LDJ-Liga Desportiva
Juazeirense, o campeonato de Juazeiro já era um dos mais vibrantes
do Interior do Ceará com seus dois times mais competitivos - Icasa
e Guarany - sempre alternando as decisões e os títulos de campeões.
Eles empolgavam a cidade, mas a cidade não contava com
um estádio adequado que pudesse estimular e adiantar o desporto
regional. O único espaço existente para o futebol profissional,
Estádio da LDJ, no bairro de São Miguel, próximo ao centro de
Juazeiro, era mais do que acanhado, muito pobre mesmo,
extremamente necessitado.
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Potencialmente, no entanto, Juazeiro do Norte e Crato,
os dois centros mais desenvolvidos da região, estavam preparados
e mobilizados para nova transformação. Com apoio de abnegados,
talentosos, valentes e diligentes profissionais de imprensa operando
com responsabilidade social, defesa das causas regionais e visão
de futuro.
Em Juazeiro, era tempo de Geraldo Menezes Barbosa,
Aldemir Sobreira, Coelho Alves, Carlúcio Pereira, Daniel Walker,
Abraão Batista, Maria dos Remédios, Walter Barbosa, Sílmia
Sobreira, Aguinaldo Carlos, José Carlos Pimentel, João Sobreira,
Souza Menezes, Geraldo Alves, Alcelir Sobreira, Fran Barbosa,
Dário Coimbra, Donizete Sobreira, Jackson Barbosa, Assis
Sobreira, Ideval Pedroso, Dino Leopoldo, Maciel Silva, Assis
Ferreira, Pedro Duarte, Geraldo Batista e outros tantos entusiastas
do mundo da informação.
Em Crato, era tempo de Lindemberg de Aquino, Humberto
Cabral, Elói Teles, Heron Aquino, Jurandir Timóteo, Hamilton
Lima, Antonio Vicelmo, Elton Aguiar, J. David, Carlos Miranda e
Campos Júnior, vinculados ao jornal e às emissoras Rádio
Educadora do Cariri e Rádio Araripe do Crato, esta dos Diários
Associados, pioneira no interior do Ceará, no ar desde 1950, e da
qual fui chefe de jornalismo antes de ingressar no mercado do
Recife.
Destacavam-se em Juazeiro, na imprensa esportiva, José
Boaventura, Luiz Carlos de Lima, Wilton Bezerra, Jussier Cunha,
Wellington Amorim, Dalton Medeiros, Jussier Lima, Robledo
Pontes, Francisco Foguinho, Carlos Alencar, Lucier Menezes,
João Eudes, Cícero Antonio, Albes Filho, Wanderley Brás e
Wellington Oliveira, radialistas operosos, habilidosos e
voluntariosos. De todos tive o privilégio da companhia e da
amizade em memoráveis jornadas esportivas no velho e
empoeirado Estádio da LDJ.
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Graças aos persistentes e veementes apelos desses atentos
profissionais, promovendo frequentes campanhas pelo progresso
do futebol caririense, Juazeiro do Norte ganhou em 01 de maio de
1970 um moderno estádio de futebol, no bairro do Pirajá, construído
e inaugurado pelo prefeito Mauro Sampaio: o Romeirão, com
capacidade para 30 mil pessoas, um dos mais bem equipados do
interior do Nordeste.
Encontrava-me, nessa época, novamente em Pernambuco,
já então trabalhando como redator de telejornalismo, na TV
Universitária do Recife, e de cinejornalismo, na Cinearte Estudios
S.A., uma produtora cinematográfica pernambucana de Mayerber
de Carvalho, também diretor artístico da mencionada televisão,
pertencente à Universidade Federal de Pernambuco e pioneira da
rede educativa no Brasil.
Convidado e devidamente credenciado pelas duas
organizações, compareci à festa inaugural do Romeirão, que teve
como atração principal o jogo entre a equipe do Fortalezae o time
do Cruzeiro, de Belo Horizonte. Deu Cruzeiro 1X0. Produzi roteiro,
redação e edição de um documentário cinematográfico de
curtametragem sobre o evento, que foi exibido em salas de cinema
do Nordeste.
Projetava, tal documentário, além da beleza e da grandeza
do novo estádio, a vibração de progresso que tornava ainda mais
interessante e atraente a cidade de Juazeiro do Norte, fundada pelo
Padre Cícero Romão Batista, seu primeiro prefeito em 1911 e líder
carismático, além de santo milagreiro, dos sertanejos do Nordeste.
Com o Romeirão, Juazeiro ganhou um novo símbolo de sua pujança
e de sua prosperidade, fortalecendo sua vocação de liderança
regional no Vale do Cariri.
Pelo seu surpreendente desenvolvimento urbano, social e
econômico em duas décadas, de 1950 a 1970, exibindo os maiores
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índices de crescimento do Ceará, sob impulso de forte turismo
religioso, que lhe deu fama de Meca do Nordeste, Juazeiro do Norte
ficou conhecida, também, no vasto sertão, como Manchester do
Cariri. Quase na virada para o ano 2000, essa denominação
reforçou-se pelo dínamo do seu futebol: o Juazeiro Empreendimentos Esportivos Ltda., mais nova força do futebol centronordestino, fundado em 12 de outubro de 1998, primeiro clubeempresa do interior do Norte e Nordeste do Brasil, batizado com o
nome fantasia de Juazeiro Esporte Clube, tema de abordagem deste
livro.
Um retrospecto do Campeonato de Futebol Cearense de
1999, iniciado em 1998, evidencia que o Juazeiro tem dado passos
firmes no caminho seguro de gestão empresarial com ação
empreendedora, motivadora e transformadora, projetando e
ampliando a nova imagem da próspera Manchester do Cariri.O
Futebol veio agregar-se ao binômio Religião-Trabalho, que
historicamente fez Juazeiro crescer e progredir, formando o novo
trinômio animador do seu desenvolvimento.
Mais do que isso, o cenário em retrospecto revela que a
Revolução dos Campeões chegou ao Cariri. Um modesto clube
interiorano do Brasil faz bonito adotando parâmetros de grande
clube-empresa e gera sinais de transformação social, cultural e
econômica. Sob a emoção do futebol, foco central deste
documentário resenhoso e despretencioso, mas feito com sentido
de sincera homenagem aos que fizeram e fazem Juàzeiro vibrar
com lances criativos, jogadas ousadas e gols de progresso.
Para encerrar, sinceros agradecimentos aos meus amigos
prefaciadores, dois mestres guerreiros e vitoriosos.
Ao jornalista e publicitário de São Paulo, Armando
Ferrentini, ex-presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas
e Marketing do Brasil, diretor das revistas Propaganda, Marketing
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e do jornal specializedo Propaganda & Marketing. Connheci-o
em 1979. Então, como Assessor de Imprensa do Ministério da
Educação e Cultura, recebi Ferrentini, entusiasmado com um
pioneiro e revolucionário projeto de marketing e gerenciamento
para reorganizes do futebol brasileiro. Portanto, pioneiríssimo.
Ao jogador bicameral mundial de futebol Nilton Sanos,
a Enciclopédia, de presença gloriosa nas Copas do Mundo em
gramados da Suiécia e do Chile, em 1958 e 1962. Ídolo e mito,
eleito em Paris, em 1998, o lateral-esquerdo da Seleção Mundial
do Século, Nilton Santos mora há 12 anos em Brasília onde é
diretor e professor de uma concorrida Escolinha de Futebol e
reverencedo por várias gerações de admiradores. Surpreso com o
exemplo e o desempenho do Juazeiro, reconhece, em seu
depoimento, que o futebol-sonho acabou e chegou, definitivamente, a Era do futebol-empresa.
Minha gratidão aos dois pelo privilégio e pela honra de
seus prefácios valiosos e enriquecedores deste trabalho.
Finalmente, uma ressalva importante: de formação
acadêmica e experiência em comunicação, gestão empresarial,
tecnologia da informação e marketing: não sou cronista
esportivo. Em matéria de futebol nas linhas do gramado,
considero-me tão somente um curioso entre os 160 milhões de
técnicos brasileiros. Isto é, não entendo patavina, apenas o
suficiente para saber quem está jogando melhor ou pior,
amarrando o jogo ou buscando a vitória. O suficiente para xingar
perna-de-pau e para aplaudir bola na rede.
Brasília, setembro de 1999
Jota Alcides
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Com 250 mil habaitantes, Juazeiro é uma das principais cidades do interior do Nordeste.
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Prefácio de Armando Ferrentini
Conheci o empresário e investidor Rupert Murddoch,
australiano naturalizado norte-americano, durante o Congresso
Mundial de Publicidade que a IAA - Associação Internacional de
Propaganda, promoveu em Joannesburg, no início dos anos 80.
Um homem brilhante, com cifrões nos olhos.
Murdoch já havia investido em ações da grande mídia
estadunidense, inglesa e australiana, através da sua News International,
e começaria a diversificar suas preferências, passando a controlar 50%
da 20th Century Fox, tornando-se, graças ao seu talento de enxergar
antes, um dos magnatas mais célebres do mundo inteiro.
Pois não é que Murdoch, recentemente, voltou suas vistas
para o futebol, tentando comprar o Manchester United, só não o
conseguindo porque a liga britânica (onde o futebol nasceu), mais
realista que Sua Majestade, não permitiu.
Por que um sujeito como Murdoch, com tanto lugar para
colocar seu dinheiro, imaginou logo um clube de futebol? Porque
Murdoch sabe que o showbiz é o grande negócio deste final de século e
o futebol, esporte rei, é o filé mignon do showbiz, podendo transformarse no meganegócio do início do novo Milênio, ajudado pela globalização.
Esse Manchester United, escolhido pela cabeça racional
de Murdoch, faturou cerca de 400 milhões de dólares em 1998,
provavelmente com um lucro (não revelado) de 100%. Ora, que
segmento econômico legal proporciona esse retorno hoje em dia,
quando os governos mais e mais avançam no que sobra como lucro
de qualquer operação comercial?
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Se Murdoch não conseguiu o seu intento de comprar o
Manchester, valorizou ainda mais a grife do esquadrão inglês e eu,
como palmeirense, morro de medo de pensar que é contra esse
time que o meu Palmeiras vai disputar, dia 0 de novembro, a Copa
Toyota em Tóquio, que confere ao ganhador o título (embora não
reconhecido pela Fifa), de campeão do mundo interclubes.
Mas, o Palmeiras também passou, a partir de 1992, por uma
experiência empresarial até então inédita no Brasil: celebrou um
contrato de co-gestão com a Parmalat, que possibilitou a ambos grandes
conquistas. A Parmalat aumentou consideravelmente a sua participação
no mercado brasileiro, mesmo enfrentando a idiossincrasia dos
torcedores adversários. O Palmeiras, que estava na fila há 16 anos
(seu último título havia sido conquistado em 1976, o de campeão
paulista), conseguiu tirar o pé da lama, obtendo em 1993 a 1994 os
títulos inéditos para qualquer clube brasileiro até aqui, de campeão e
bicampeão regional e campeão e bicampeão nacional.
De lá para cá, livre do fardo que a longa fila proporciona
(vejam o caso do Santos, outrora tantas vezes campeão e agora
amargando uma duríssima estiagem), o Palmeiras-Parmalat obteve
outros títulos importantes, até conseguir a Libertadores este ano,
troféu que perseguia desde 1961(o Palmeiras é o time brasileiro
com o maior número de participação na Libertadores).
Claro que ninguém duvida dos bons frutos de uma gestão
empresarial em um clube de futebol. Por isso, a Lei Pelé estabeleceu
que os clubes brasileiros terão que procurar, obrigatoriamente, este
caminho, definindo como deadline o mês de março do próximo ano.
Vejam o exemplo recente do Corinthians, onde a
multinacional Hicks Muse assumiu sua gestão financeira colocando
a casa em ordem e canalizando para o gramado a força da Fiel, que
é inegável. Em pouco tempo, o Corinthians conseguiu equilibrarse e hoje é a sensação do Campeonato Brasileiro.
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Este preâmbulo foi proposital, para deixar claro que
negócios que movimentam milhões de dólares não podem ser mais
dirigidos sem profissionalismo. Nesse aspecto, o mundo ficou
complicado e requer cada vez mais competência.
O enfoque que Jota Alcides dá nesse livro Manchester do
Cariri, fazendo um contraponto do poderoso clbe inglês com o
modesto mas ambicioso Juazeiro Esporte Clube pode se transformar
em um instrumento de catequese para dirigentes teimosos, que
relutam em deixar de lado suas grandes paixões no gerenciamento
dos clubes que comandam.
Lógico que, com o advento da Lei Pelé, isso ocorrerá de
forma compulsória, mas o convencimento de cada um desses
torcedores de carteirinha pode estar nas páginas desta obra
impecável de Jota Alcides, brilhante texto com aquela condição
sempre apregoada por Thomás Edison: “Criatividade é 90% de
transpiração e 10% de inspiração”. O autor transpirou para
desenvolver este trabalho, em um esforço de pesquisa que ficamos
imaginando o quanto lhe custou.
Mas, o produto final é excelente, com uma visão geral da
atualidade do futebol brasileiro dentro do que poderíamos chamar
de marketing esportivo e a vantagem de dissecar o assunto
escolhendo um “case” que está se apresentando como um grande
exemplo de sucesso quando há sobretudo vontade e planejamento.
Deve-se levar em conta que o projeto do Juazeiro tem pouco mais
de um ano, um tempo diminuto para exibir os resultados que o
simpático clube do Cariri já apresentou.
São Paulo, setembro de 1999
Armando Ferrentini
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Juazeiro avança entre as 199 Cidades Brasileiras de Centralidades mais Expressivas
Prefácio de Nilton Santos
Foi com muita satisfação, mas também com surpresa, que
tomei conhecimento, com a leitura deste novo livro do jornalista
Jota Alcides, da existência do Juazeiro Empreendimentos
Esportivos, no Vale do Cariri, no Nordeste brasileiro.
Todos sabemos que, dentro de alguns meses, a Lei Pelé
terá que ser efetivamente implantada, tornando empresas todos os
clubes que quiserem continuar competitivos.
Que o futebol brasileiro precisa de mais organização isto
está claro nas nossas cabeças; que precisa se modernizar, que
precisa tentar se equiparar aos europeus no que diz respeito à
organização, também sabemos.
Por outro lado, acompanhando as dificuldades financeiras,
maiores ou menores, enfrentadas por todos os clubes do Brasil
chamados grandes, é que fico pensando: o que será dos pequenos,
então, na hora de se adaptarem à nova Lei?
A primeira vez que tomei conhecimento e pude ver, de
perto, um começo de organização no futebol brasileiro foi na Copa
de 1958, com Paulo Machado de Carvalho, empresário bem
sucedido, à época, na área de comunicações em São Paulo, Paulo
Machado chegou com conceitos novos e implantou no comando
da Seleção Brasileira os métodos em que acreditava. Talvez os
mesmos que usava para administrar seus negócios particulares.
Ao final, pudemos atestar que deu certo. Fomos campeões.
Só hoje eu vejo que deu certo somente dentro de campo. Éramos
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um grupo formado pelos melhores jogadores do País e só
precisávamos de uma boa dose de incentivo e desenvolvimento do
espírito de coletividade.
Fora do campo, porém, o Dr. Paulo, mesmo sendo um
empresário e tendo colocado sua experiência em prática no
comando da Seleção, foi amador na hora de pensar na premiação
da equipe. Ou melhor, não fez um planejamento financeiro
adequado e levou em conta somente o amor à camisa na hora de
nos pagar pela conquista do título. Ou talvez, ainda, ele estivesse
certo ao seguir os conceitos empresariais da época que só visavam
o lucro dos negócios sem se preocuparem com a satisfação dos
funcionários.
Mas, o “futebol-sonho” acabou. Ou os clubes se
enquadram e buscam o “futebol-empresa” ou, dificilmente,
conseguirão sair do buraco financeiro a que chegaram.
A surpresa que tive com relação ao Juazeiro Empreendimentos Esportivos é exatamente o fato de tratar-se de um clube
considerado pequeno, do interior do Nordeste, que saiu na frente
dos grandes clubes adotando a gestão de empresa.
Fez um trabalho de composição de equipe aproveitando
as “pratas da casa” e valorizando um treinador, dando-lhe liberdade
e tempo para mostrar seu serviço. O resultado foi, sem dúvida, o
esperado: a conquista do vice-campeonato. O time quase foi
campeão estadual passando à frente dos mais tradicionais clubes
do Estado.
Aliás, tradição realmente não ganha jogo. O meu Botafogo
é a prova disso. Grande no passado e quase rebaixado no presente.
Os dirigentes do Juazeiro apostaram numa organização
moderna que acredita na ascensão de valores; que acredita num
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trabalho de base; que acredita que o treinador da equipe não pode
ser trocado somente por perder uma partida; que os resultados de
um trabalho bem feito virão automaticamente acontecer a médio e
longo prazos; que a torcida é muito importante porque é ela que
ajuda a fazer o espetáculo; que para ela crescer é preciso rever os
preços dos ingressos, acompanhando os efeitos da crise no País.
Com tudo isto sendo pensado e respeitado, o resultado só poderia
ser este mesmo.
Só espero que esta direção do Juazeiro mantenha a firmeza
de propósito ao transformar o clube em empresa e não se afaste
dos fundamentos básicos. Não se corrompa, mantendo esta equipe
na segunda temporada sem se deslumbrar com as boas propostas
que fatalmente vão chegar para os seus melhores jogadores e, assim,
desmoronar a equipe só para ganhar dinheiro.
O importante é que, quando se pensar em renovar estes
valores que lá estão, já se tenha outras “pratas da casa” para o
lugar, não deixando assim cair o nível técnico da equipe. O que sei
é que o terceiro Milênio está aí e todos terão que se adaptar à nova
Lei. O futuro, a exemplo do Juazeiro, chegou. E só sobreviverão
os clubes que se adaptarem às exigências da nova realidade.
Brasília, agosto de 1999
Nilton Santos
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Progresso de Juazeiro, animado por Religião e Trabalho, agora tem a força do Futebol.
01
Berço do Footbusiness
Foi um grande espetáculo! Foi realmente emocionante!
Foi uma daquelas noites que entram para a história com
as marcas indeléveis de tensão, ímpeto, força, raça, determinação,
empolgação, vibração, vitória e glória, próprias de jornadas
heróicas, proporcionando um turbilhão de emoções e reafirmando
velho axioma inglês: o verdadeiro heroísmo consiste em persistir
por mais um momento quando tudo parece perdido.
Quarta-feira, noite do dia 26 de maio de 1999. Milhares
de torcedores no Estádio Nou Camp, em Barcelona, Espanha, e
milhões em todo o mundo, pela televisão, viram o campeão da
Inglaterra, Manchester United, em jogo de competitividade,
ofensividade e velocidade, derrotar o Bayern de Munique, campeão
alemão.
Mesmo tendo levado um gol aos cinco minutos do
primeiro tempo, o clube inglês não se abateu e encarou o jogo todo
tentando e atacando, atacando e tentando. Finalmente, como
surpreendente rolo compressor, empatou aos 45 minutos do segundo
tempo e ganhou de virada aos 47, nos dois preciosos minutos finais
de descontos, repetindo a façanha de 1968 e conquistando o título
de bicampeão da Copa dos Campeões da Europa.
Pela conquista da tríplice coroa no mesmo ano - campeão
inglês, campeão da Copa da Inglaterra e campeão da Copa de
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Campeões da Europa - quatro dias depois ainda rolava muita festa
na Inglaterra, principalmente em Manchester, sede do clube fundado
em 1878. O entusiasmo coletivo provocou até uma nota oficial do
primeiro-ministro britânico Tony Blair: Foi uma vitória fantástica,
com um final incrível!
Um dos mais competentes, experientes e respeitados
cronistas esportivos do Brasil, o jornalista e escritor Armando
Nogueira, autor de Bola na Rede, vendo o jogo com olhos de
analista esportivo, naturalmente, assim se manifestou em sua coluna
no Jornal do Brasil e outros diários em rede nacional:”Uma vitória
inglesa que, se não for bem contada, ninguém acredita. Pois o
triunfo do Manchester só se explica como prodígio”. Mais
Armando, não resistindo a uma bela incursão filosófica: “Vitória
da equipe que ignorou solenemente o cronômetro. Vitória da mente
que não desesperou jamais. Vitória da arte de desafiar os caprichos
do destino”(1)
Certo, absolutamente certo, o mestre Armando Nogueira.
Mas, seria somente isso? Não teria sido muito mais do que uma
vitória da arte? Seria o Manchester campeão apenas um desafio
aos caprichos do destino? Ou o Manchester seria o resultado de
eficiente gestão empresarial? Ou ainda uma empresa de marketing
vitorioso e vitoriosa em marketing?
Se assim fosse colocada a questão para o Dr. Edwards
Deming, o homem que descobriu a qualidade e liderou uma
profunda revolução na administração das maiores empresas e
corporações nos Estados Unidos e no Japão, na segunda metade
deste século, certamente ele definiria o desempenho do futebol do
Manchester como resultado de um sistema:
“Um sistema é uma rede de componentes independentes
que trabalham em conjunto para tentar realizar o objetivo do
sistema. Um sistema deve ter um objetivo. Sem objetivo, não existe
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sistema. O objetivo do sistema deve ser claro para qualquer pessoa
que se encontre no sistema e incluir planos para o futuro. O segredo
é a cooperação entre os componentes em direção aos objetivos da
organização”.(2)
Sistema. Esta definição do Dr. Deming, que não entendia
de futebol, mas era mestre insuperável na gestão de negócios, parece
uma definição plausível para o caso do Manchester United, o clube
de futebol mais rico do mundo, cujos objetivos de organização
ultrapassam os limites dos gramados e atingem, fortemente, o
mercado financeiro, como negócio altamente lucrativo. Um clubeempresa que funciona como sistema modelar de gestão no mundo
do futebol.
Outro competente, experiente e prestigiado cronista da
imprensa brasileira, campeão no esporte de analisar os fenômenos
dos negócios e do mundo financeiro, Joelmir Beting, viu o
desempenho do vitorioso Manchester de outro ângulo, naturalmente, com olhos de analista econômico:
“O paradígma da profissionalização do futebol fora do
campo é o Manchester United, da cidade inglesa que viu nascer a
Revolução Industrial do século XVIII, apontado, desde 1997, como
o clube mais rico do mundo. Literalmente. Pioneiro da abertura
do capital, com ações negociadas em Bolsa, o centenário clube
valia no mercado acionário da City londrina nada menos de US$
1 bilhão 700 milhões na tarde nublada de quarta-feira, antes da
final da Copa Européia de Campeões”. (3)
Mais mestre Joelmir, não resistindo aos encantos de
explosão popular em Manchester e de euforia na Bolsa de Londres:
Na tarde de sexta-feira (após o jogo), o estoque de ações do clube
em poder do público investidor já havia do saltado para US$ 1
bilhão e 900 milhões. Uma alta acumulada de 14% em dois pregões.
Em resumo: uma tremenda máquina de fazer gols e dinheiro.
29
Explosão de alegria popular e de vibração dos empresários
investidores de Manchester, na Inglaterra, registraram-se
exatamente uma semana depois da explosão de alegria popular e
de vibração dos empresários investidores de Juazeiro do Norte, no
Brasil, maior cidade do Vale do Cariri, distante 560 quilômetros
de Fortaleza e igualmente do Recife, ao sul do Ceará, fronteira
com Pernambuco, Paraíba e Piaui.
Motivo: sucesso técnico, financeiro e administrativo do
novo Juazeiro Esporte Clube, inclusive superando grandes e
tradicionais agremiações da Capital, na disputa acirrada da Primeira
Divisão do Campeonato Estadual de 1999, com outros nove times:
Ceará, Fortaleza, Ferroviário, Tiradentes, Uniclinic, Itapipoca,
Uruburetama, Quixadá e Limoeiro. Um sucesso para ser
comemorado, bem comemorado.
Mas, o que tem a ver Manchester, cidade da rica Inglaterra,
com Juazeiro do Norte, cidade brasileira do pobre Nordeste? Que
ousadia de semelhança pode haver entre o poderoso Manchester,
centenário clube do futebol inglês, com o modesto Juazeiro, clube
recém-nascido no futebol caririense? Os dois não se parecem nem
mesmo nas cores de seus uniformes: O Manchester é um esquadrão
rubro, o Juazeiro é um esquadrão azul.
Por que, então, a comparação? Cabe comparação?
Em verdade, como modelo internacional de clube sob
gestão empresarial, o Manchester é uma inspiração motivadora com
o selo da Inglaterra, de onde o pioneiro Charles Miller trouxe o
futebol pra o Brasil, aqui desenvolvido com o incentivo e o apoio
de Charles Williams, Quincey Taylor, Harry Welfare, Archibald
French e outros que deixaram a influência inglesa na transformação
desse esporte em preferência nacional.
Falta muito para que o caso do Juazeiro possa ser
enquadrado como projeto definido, acabado ou semi-acabado de
30
gestão estratégica, administração por objetivos, cultura corporativa,
logística empresarial, administração participativa, gestão de
qualidade ou ainda de outras tendências modernas de gerenciamento
estratégico e desenvolvimento empresarial.
Falta ao Juazeiro, ainda, uma estrutura organizacional
azeitada e eficiente para atender, corretamente, todas as demandas
inevitáveis de uma empresa em crescimento, incluindo produção,
finanças, servidores, planejamento, qualidade, competitividade,
promoção, tecnologia, informação, relações comunitárias, relações
comerciais, relações institucionais, marketing, pesquisa e
desenvolvimento.
Falta ao Juazeiro, sobretudo, uma política estratégica e
consistente de marketing. De marketing global, não exclusivamente
de marketing esportivo, indispensável ao desenvolvimento dos
negócios, como ensina ilustre professor norte-americano da
Universidade de Harvard, Theodore Levitt:
“Marketing engloba todas as grandes coisas estimulantes
e todas as pequeninas coisas perturbadoras, que têm de ser feitas
na organização inteira, para que possa levar a cabo a finalidade
empresarial e atrair e manter clientes. Isto significa que marketing
não é apenas uma função empresarial, é uma visão consolidada
do processo empresarial inteiro.”(4)
Entretanto, como organização que aprende, de apenas um
ano em funcionamento, o Juazeiro um projeto de bom começo na
direção da gestão estratégica, entendida como o processo de buscar
a compatibilização da empresa com seu ambiente externo, através
de atitudes de planejamento, implementação e controle,
consideradas as variáveis técnicas, econômicas, informacionais,
psicológicas e políticas. (5)
Exagero de exegese? Comparação esdrúxula?
31
Não é o que pensam os habitantes da Manchester do Cariri.
Que seja apenas um epíteto ou apenas um epônimo, mesmo sujeito
a uma epítrope, o importante, para eles, é que Manchester e o
Manchester servem de inspiração para Juazeiro do Norte e o
Juazeiro manterem-se em progresso com otimismo, ousadia e
determinação no presente e confiança no seu potencial de futuro.
Philip Kotler, professor norte-americano, autor de vários
best sellers, entre eles, Administração de Marketing Marketing
Estratégico, e considerado mundialmente o pai do marketing,
costuma registrar em suas conferências uma advertência fulminante
de pensador citado como anônimo:
“Há três tipos de empresas: as que fazem acontecer, as
que ficam olhando tudo acontecer e as que ficam imaginando o
que aconteceu.”(6)
Parece que a mensagem de Kotler chegou e ganhou espaço
definitivo em Juazeiro do Cariri. Seu principal clube de futebol é
modesto ainda e apenas em estrutura organizacional e física, mas
audacioso e inovador em gerenciamento administrativo, treinando
e operando um conjunto de práticas componentes de modelagem
da moderna gestão empresarial.
Desse modo, enquanto os clubes mais tradicionais do
Ceará, com marcas fortes na história do próprio futebol brasileiro,
estão olhando tudo que acontece de mudanças no cenário esportivo
nacional e mundial, o Juazeiro, organizando-se como clube empresa
constituído em Sociedade Anônima, está mostrando sua força de
competividade e acontecendo. Dentro e for a das linhas dos
gramados.
32
02
Juazeiro Potencial
De acordo com estudo do IBGE ( 7), feito em 1997, sobre
o que chama de Rede de Lugares Centrais do Brasil, considerando
os centros urbanos posicionados como pontos de convergência de
múltiplas redes geográficas que recobrem o território nacional,
Juazeiro do Norte está incluída entre as 199 Cidades Brasileiras de
Centralidades mais Expressivas, no mapa de 5.507 municípios do
País.
Dessas cidades brasileiras, inclusive capitais, classificadas
por suas centralidades média, forte, muito forte e máxima, o estudo
seleciona 55 no Nordeste, destacando em nível máximo Recife,
Fortaleza e Salvador. Em nível muito forte estão São Luis, Teresina,
Juazeiro do Norte, Natal, João Pessoa, Campina Grande, Caruaru,
Maceió, Aracaju, Feira de Santana, Itabuna e Vitória da Conquista.
Como se observa, citado estudo confirma a tendência de
permanência da onipresença dominante das metrópoles regionais
(Recife, Fortaleza e Salvador), mas já revela expansão e crescimento
de outras cidades, como Juazeiro do Norte, desempenhando
importante papel de influência regional no Nordeste.
Em relação aos centros mais desenvolvidos de outras
regiões do País, Juazeiro está colocado no mesmo nível de
expressividade regional de Juiz de Fora, em Minas, Ribeirão Preto,
em São Paulo, Londrina, no Paraná, Blumenau, em Santa Catarina,
e Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul.
33
Evidentemente, esse desempenho positivo e essa notável
evolução na rede urbana brasileira não permitem comparação entre
Manchester e Juazeiro, Juazeiro e Manchester, em dimensões de
equivalência, sob qualquer ângulo. Seria um exercício desprezível
em parâmetros e desprezado em fundamentos. Mas existem
algumas suaves analogias. E, como diz velho adágio popular, quem
procura com boa vontade acaba achando.
Manchester, fundada em 1200, às margens do rio Irwell,
é o segundo maior centro urbano da Inglaterra, depois de Londres,
com mais de l milhão de habitantes e 2 milhões 600 mil em sua
região metropolitana. Juazeiro, banhado pelo rio Salgadinho, cidade
desde 1911, é o segundo maior centro urbano do Ceará, depois de
Fortaleza, com 250 mil habitantes, estimativa de 1998, e quase 1
milhão em sua região de influência, o Cariri.
Manchester é o principal centro industrial do interior da
Inglaterra, com seus parques fabris têxteis, metalúrgicos e químicos.
Juazeiro é o principal centro industrial do interior do Ceará. Juazeiro
não se resume, como o Brasil do Sul imagina, ao fenômeno religioso
do Padre Cícero, com sua estátua de 25 metros de altura, segundo
maior do País depois da do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, e
seus 1 milhão e 500 mil visitantes por ano, vindos de todo o
Nordeste.
Pulsante centro comercial e industrial, Juazeiro tem
apresentado, também, nos últimos anos, significado progresso em
seu perfil educativo-cultural. Além de cinco Faculdades – três
instaladas (Engenharia de Edificações, Engenharia da Produção e
Matemática) e duas em implantação (Administração de Empresas
e Medicina) - e uma Escola Técnica Federal, Juazeiro contava, em
1998, segundo dados da Secretaria de Educação do Ceará, com
169 escolas oficiais e particulares, 72 mil estudantes de 1º e 2º
graus, 2.400 professores de ensino médio e 372 professores com
pós-graduação e mestrado.
34
Estudos e diagnosticos das Secretarias de Planejamento
de Educação do Estado do Ceará e informes básicos do Instituto
de Planejamento do Ceará-Iplance, relativos ao ano de 1998,
revelam os seguintes números de Juazeiro:
* 250 mil habitantes
* 123.337 eleitores
* 512 escolas oficiais e particulares
* 118 mil estudantes em todos os níveis
* 72 mil estudantes de 1º e 2º graus
* 2.400 professores de ensino médio
* 372 professores com pós-graduação e mestrado
* 52 mil consumidores de energia
* 49 mil domícios com ligações d’água
* 17 mil automóveis
* 14 mil terminais telefônicos
* 5 mil telefones celulares
* 3.643 estabelecimentos comerciais
* 619 estabelecimentos industriais
Durante as décadas de 1950 a 1970, foi estupendo o
crescimento comercial e industrial de Juazeiro, superando os índices
de desempenho de todo o interior do Ceará. Com suas prósperas
indústrias de produtos metalúrgicos, eletrônicos, têxteis, cerâmicos,
mobiliários, calçadistas, gráficos, alimentícios, além de bebidas, óleos
vegetais, borracha, plásticos e embalagens, ganhou a denominação de
Manchester do Cariri. Da mesma forma que Juiz de Fora, em Minas
Gerais, em igual período, conquistou fama de Manchester Mineira,
por apresentar extraordinário surto de desenvolvimento econômico.
Manchester tem no seu clube de futebol homônimo uma
grande força de projeção nacional e mundial: o Manchester United
hoje a maior referência internacional de sucesso como clubeempresa. Juazeiro tem no seu clube de futebol homônimo uma
grande força de projeção no Nordeste: o Juazeiro a maior referência
regional de sucesso no Ceará como ensaio de clube-empresa.
35
Embora sejam gigantescas as diferenças entre as duas
cidades e seus clubes de futebol, elas revelam, respeitando-se as
devidas distâncias e proporções, históricas, culturais e econômicas,
algo de semelhante em um ponto fundamental: competitividade.
Mas, e as fantásticas diferenças de experiência acumulada, cultura
de mercado e recursos disponíveis?
Antes de qualquer e compreensível interpretação irônica
- tal qual presunção e água benta cada qual toma a contento parece conveniente, recomendável, sugestivo e salutar conferir
observação de Charles Margerison, em seu estudo sobre
gerenciamento e desenvolvimento de grupos de trabalho, como
um clube de futebol.
Segundo ele, quanto mais os membros de um grupo se
interessam e se envolvem na determinação para alcançar seus
objetivos, mais possibilidades existem de que esses objetivos sejam
alcançados, independentemente das circunstâncias:
Os resultados positivos obtidos por grupos revelam
oportunidades relativamente diferentes que estabelecem, para cada
um, o seu próprio rítmo de trabalho.(8)
Ou seja, cada grupo adota seu ritmo conforme permitem
as circunstâncias, evidentemente incluídas as de natureza
histórica, social, cultural e econômica. Uma comprovação disso
nos é fornecida por Levitt, reportando, como fato expressivo, as
grandes inovações de gerenciamento empresarial e desenvolvimento de negócios nos Estados Unidos, pós-Segunda Guerra
Mundial.
Muitas das inovações mais importantes tiveram origem
em novas e pequenas empresas, que se revelaram e se firmaram
por mudança de estilo administrativo e por façanhas, ousadias e
vitórias contra a incerteza. Eis algumas: Polaroid, Xerox,
36
McDonald’s, IBM, Texas Instrument, Digital Equipment Corp.
Empresas que nasceram bem pequenas, quase familiares e se
tornaram gigantes.
Por isso mesmo, respeitando as dimensões do seu
ambiente histórico, social e econômico de existência e realização,
Juazeiro anima-se com sua nova força propulsora - o Juazeiro que lhe permite vibrar com o presente e sonhar com o futuro,
pensando grande no exemplo de Manchester, histórica cidade
inglesa, com o sucesso do seu Manchester United. Existem
razões, causas e justificativas para Juazeiro assim pensar, sentir
e agir.
Primeiro, desde o alvorecer da revolução industrial,
Manchester sempre esteve sob impulsos de idéias inovadoras e
percepções novas de produção e de mercado, geradoras de
investimentos e desenvolvimento, tornando-a símbolo de
modernidade e competitividade no mercado europeu. Desde sua
fundação, Juazeiro sempre esteve sob impulsos de novas
oportunidades e perspectivas de avanço no mercado do Nordeste
pela sua notável vocação para o progresso competitivo, comercial
e industrial.
Segundo, como no Manchester,transformado há muito
tempo em padrão internacional de clube-empresa, os dirigentes do
Juazeiro descobriram que o footbusiness tem o perfil potencial
que interessa aos empresários, pela sua capacidade de influenciar
e gerar produção, negócios, empregos, renda e dinamismo em outras
atividades sociais, econômicas e culturais, alavancando o desenvolvimento geral.
E terceiro, considerando-se e avaliando-se apenas o
desempenho de seus clubes, projeções maiores das identidades de
suas próprias cidades, assim como o Manchester o novo trackball
europeu, o Juazeiro é o novo trackball cearense.
37
É o que se pretende mostrar e justificar nesse relato tendo
como foco central o sucesso do Juazeiro Empreendimentos
Esportivos, o primeiro clube-empresa do interior do Norte e
Nordeste do Brasil, um clube pequeno com jeito de grande,
explosivo dentro de campo, nova e promissora revelação na Pátria
de Chuteiras.
38
39
Centro de negócios, Juazeiro exerce influência sobre região de 1 milhão de habitantes
40
03
Explosão no Romeirão
Foi um grande espetáculo! Foi realmente emocionante!
Foi uma noite daquelas que agitam o espírito da massa,
ao final do exaustivo caminho da vitória, produzindo uma explosão
de alegria coletiva e de glorificação humana. Ou, usando uma
expressão de Armando Nogueira, estilista de pena redonda, foi
uma noite de gloriosa santificação coletiva.
Quarta-feira, noite de 19 de maio de 1999. Em todo o
Brasil, mais de 40 milhões de torcedores estavam ligados na Rede
Globo de Televisão, acompanhando o jogo do Palmeiras contra o
River Plate, no estádio Monumental Nuñez, em Buenos Aires.
Era um jogo importante para o Brasil. O Palmeiras
precisava vencer por dois gols de diferença para ir à final da Copa
Libertadores da América. Mas, o jogo, truncado, nervoso, ainda
estava zero a zero. De repente, o narrador Galvão Bueno abriu
espaço na transmissão internacional e anunciou:
O Juazeiro é o campeão do segundo turno do Campeonato
Cearense. Derrotou o Ceará, no Romeirão, por 1 a 0. Vejam aí,
gol de Ailton, cobrando penalti marcado sobre Maradona. O
Juazeiro conquista o título por antecipação. É festa em Juazeiro.
Era um fato inédito na história do futebol do Ceará. Pela
primeira vez um time do Cariri ganhava esse título, desbancando
41
uma equipe tradicional de Fortaleza, várias vezes campeã do Estado.
O clima de festa tomou conta de Juazeiro do Norte, cidade famosa
no Brasil como Terra do Padre Cícero.
Por que tanta euforia? Por que tanta celebração?
Em verdade, o Juazeiro acabara de vencer 85 anos de
história rica de títulos do Ceará Sporting:
Campeão estadual 31 vezes;
Bicampeão (1931-1932);
Bicampeão (1941-1942);
Bicampeão (1957-1958);
Tricampeão (1961-1962-1963);
Bicampeão (1971-1972);
Tetracampeão (1975-1976-1977-1978);
Bicampeão (1980-1981);
Bicampeão (1989-1990);
Bicampeão (1992-1993);
Tricampeão (1996-1997-1998);
Campeão do Nordestão (1969); e
vice-campeão da Copa do Brasil (1994).
Milagre? Façanha? O Juazeiro acabara de derrotar o mais
glorioso time da história do futebol cearense. Enquanto mais de
12 mil pessoas vibravam sem parar dentro do Romeirão, outros
milhares ocupavam ruas, praças, bares e restaurantes de Juazeiro
do Norte comemorando com extraordinário e incontido
entusiasmo.
Em Fortaleza, os torcedores do Ceará Sporting, vendo o
jogo transmitido pela TV Diário, não quiseram acreditar. Ficaram
simplesmente desolados. Como seu time alvinegro, de tantas glórias
e tradições, podia ter sido abatido pelo Juazeiro, estreante no
Campeonato Estadual? Como aceitar o do futebol cearense
derrubado pelo caçula?
42
Perplexidade e breakdown geral entre os alvinegros de
Porangabuçu, bairro onde fica a sede do clube em Fortaleza: Como
o , um time de bons e experientes jogadores, com uma folha mensal
de R$ 100 mil, pôde cair e perder o título diante de um time cuja
folha de pagamento não chega aos R$ 20 mil mensais? Em
Fortaleza, clima de frustração, indignação, tristeza e revolta.
Em Juazeiro do Norte, clima de celebração, vibração e
alto astral. Quando o árbitro Dacildo Mourão encerrou o jogo, o
povo do Juazeiro já se encontrava pulando de alegria em plena
praça Padre Cícero, mais tradicional espaço público no centro da
cidade, animado por trio elétrico. Dirigentes, jogadores e comissão
técnica juntaram-se ao povo em plena criação de agitada folia, como
diria o romancista José Lins do Rego, definindo o futebol como
agente de confraternidade.
Festejado pela torcida, o diretor-executivo do Juazeiro,
Kléber Lavor foi desabafando:
No Juàzeiro pode-se até ganhar pouco, mas se recebe em
dia. Aqui se promete e se cumpre e não temos ações na Justiça
Trabalhista. Nossos jogadores foram heróis. Mas é preciso agradecer
à nossa torcida. Ela fez a diferença lotando o Romeirão. (9)
Delírio da torcida eufórica, eletrizada, em alucinação!
Quase no mesmo tom do presidente, o técnico Flávio
Araújo também aproveitou para vender o seu peixe:
Aqui temos seriedade e valorização da prata da casa. O
Juazeiro venceu o segundo turno porque foi melhor. Já merecíamos
ter ganho o primeiro turno. (10)
.
Mais delírio da torcida totalmente incontrolável!
Desabafos do presidente e do técnico do Juazeiro tinham
forte justificativa. O time do Cariri chegou ao título de campeão
do segundo turno do Campeonato Cearense como líder geral da
competição, somando 51 pontos, dez a mais que o Ceará.
43
E foi o único invicto no triangular final de decisão do
segundo turno. Editor de esportes de Tribuna do Ceará, José Flávio
Teixeira registrou:
“O Juazeiro foi merecedor da conquista. É campeão do
Returno e carimbou sua vaga para a final do Campeonato de 99.
O Cariri está em festa”(11).
Uma grande festa da torcida com direito à paródia de
marchinha carnavalesca: Êta esquadrão de ouro, com o Juazeiro
não há quem possa! Da capital, os torcedores do Fortaleza,
sonhando e apostando na possibilidade real de conquistar o terceiro
turno, aproveitaram para zombar dos seus rivais, os torcedores do
Ceará, reforçando a euforia caririense com a paródia à música do
eterno Rei do Baião, araripense quase caririense, Luiz Gonzaga,
dedicada ao Juazeiro:
Juazeiro! Juazeiro!
Onde anda o meu amor?
Juazeiro! Juazeiro!
Seu freguês e o vovô.
Ai, Juazeiro!
Do segundo é campeão
Ai, Juazeiro!
O terceiro é do Leão!
Com o Juazeiro vencedor do segundo turno, superando o
Ceará, dono do primeiro, restava ao Fortaleza a esperança de ganhar
o terceiro turno para se credenciar à final do campeonato. Mas, o
clube caririense há muito tempo vinha avisando aos grandes e
tradicionais clubes de Fortaleza que não estava de brincadeira e
tinha disposição, determinação e garra para a vitória.
Mais do que resultado de excelente performance, isso
representava um prêmio para a cidade, especialmente um prêmio
para um cidadão solene, sóbrio, meio taciturno, mas de enorme
liderança popular. Em 1970, como prefeito de Juazeiro, ele havia
44
inaugurado o Colosso do Pirajá, confiante no crescimento e no
sucesso do futebol da cidade. Exatamente 29 anos depois,
coincidentemente como prefeito de Juazeiro, novamente, em 1999,
podia agora festejar a confirmação de sua expectativa e a certeza
da visão de futuro. Mauro Sampaio, médico, líder popular
caririense, deputado federal em várias legislaturas, imortalizado
como nome oficial do estádio Romeirão, palco do sucesso do
Juazeiro! Vitória do Juazeiro.
45
46
Dentro e fora do Romeirão, o futebol de Juazeiro faz sucesso como emprendimento
04
Vitória Prenunciada
O campeão sabe que derrotas e vitórias fazem parte
da vida. Sabe que perder é consequência da própria existência.
Sabe fazer das derrotas o início das grandes revoluções em
sua vida. Sabe também fazer com que suas vitórias sejam
vitórias de todos. Sabe fazer das suas vitórias caminho para
todos. Celebra suas vitórias, mas não se embriaga com elas.
Por isso é um campeão!(12)
Conselheiras e estimulantes palavras de orientação e
apoio, não? Escritas pelo consultor organizacional e conferencista
Roberto Shinyashiki, em sua Revolução dos Campeões, poderiam
ter sido escolhidas como mensagem obrigatória nas preleções de
cada disputa do campeonato envolvendo dirigentes e técnicos do
Juazeiro, um clube consciente da sua capacidade de triunfar, mas
devidamente controlado para não se embriagar com as vitórias.
Durante o dia 19 de maio, o Juazeiro concentrado para o
jogo da noite contra o , demonstrava absoluta tranquilidade e plena
segurança, mas sem desqualificar ou desprezar os adversários na
competição e sem alterar o seu comportamento de modéstia e
humildade observado pelos mais atentos nos clubes e na crônica
esportiva de Fortaleza.
Embora fosse um jogo decisivo para o Campeonato, os
principais jornais da Capital não lhe deram muito destaque em
suas primeiras páginas naquele dia. O Diário do Nordeste, de maior
47
circulação no Estado, com 27 mil exemplares, trouxe apenas uma
pequena chamada no canto direito do alto de sua primeira página
anunciando: Futebol - Juazeiro X Ceará direto pela TV Diário.
Da mesma forma e igualmente no canto direito do alto de
sua primeira página, O Povo, com circulação de 22 mil exemplares,
trouxe também uma chamada - Ceará e Juazeiro podem definir
returno hoje.
Em Juazeiro do Norte, como não podia deixar de ser, o
Jornal do Cariri, único diário editado na região, circulou com sua
manchete principal, em duas linhas fortes no alto da primeira página,
refletindo a expectativa e o sentimento dos habitantes da cidade:
JUAZEIRO E CEARÁ NA DISPUTA PELO TÍTULO,
acima do seguinte texto: Dependendo de uma vitória para
conseguir o título do segundo turno do Campeonato Cearense, a
equipe do Juazeiro Empreendimentos Esportivos entra em campo,
hoje à noite, no Estádio Romeirão, contra o Ceará Sporting, certo
de sua responsabilidade de manter o título na Terra do Padre
Cícero. Dois mil ingressos foram colocados de reserva para que
nenhum torcedor perca a grande festa decisória. Para o técnico
Flávio Araújo, chegou a oportunidade do time juazeirense
conquistar um turno da competição, já que jogará em casa.(13)
Abaixo desse texto, uma foto vertical mostrando em
treinamento-apronto os jogadores Maradona e Bujica, como duas
esperanças de gol do Juazeiro. Maradona, sim, não o Maradona
argentino, apenas Maradona do Cariri, mas, mesmo assim, um
Maradona, um craque, dos melhores do futebol do Nordeste.
Na mesma edição, em sua página esportiva, o Jornal do
Cariri apresentou reportagem com a seguinte manchete: Juazeiro
e Ceará fazem jogo decisivo. Dizia que o Juazeiro estava pronto
para conquistar uma vitória e a diretoria do clube havia colocado
48
8.300 ingressos à venda, sendo cinco mil para as gerais, ao preço
de R$ 3, três mil para as arquibancadas, a R$ 5, e as cadeiras cativas
ao preço de R$ 10. Confirmava uma reserva de dois mil ingressos
para nenhum torcedor ficar sem assistir o jogo.
Destacava-se, na mesma matéria, o técnico do Juazeiro,
Flávio Araújo, entusiasmado, dizendo que a equipe estava motivada
para mais uma vitória diante do Ceará: Tenho certeza de que a
equipe fará um grande jogo. E dava a escalação do Juazeiro: Ivanoé,
Lelo, Allan, Ronaldo Angelim, Esquerdinha; Júnior Umirim,
Neném Ipu, Dove, Maradona; Ailton e Bujica. Era o time de
confiança toda a população da cidade, vibrando sob o manto de
Juamor - a grande e devotada torcida organizada do Juazeiro.
Em Fortaleza, os jornais também deram ao jogo o espaço
merecido em suas páginas internas esportivas:
Manchete do Diário do Nordeste: JUAZEIRO E CEARÁ
PODEM DECIDIR RETURNO, com o subtítulo Jogo no Romeirão
é aguardado com grande expectativa na zona do Cariri. O texto
ressaltava a condição do Juazeiro, líder do triangular decisivo do
segundo turno do Campeonato, com cinco pontos, seguido do Ceará
com três e do Uniclinic, com apenas dois, já eliminado.
Segundo o Diário do Nordeste, o clima para a partida no
Romeirão era de decisão e o Ceará estava preparado para a batalha,
mas cauteloso:
Motivados pela vitória do último jogo, os atletas
alvinegros se mostram confiantes num resultado satisfatório hoje,
embora reconheçam a boa fase do time local que, inclusive, no
último confronto, derrotou o alvinegro, no Castelão, de virada,
por 2x1.
Ainda no Diário do Nordeste, esse prognóstico:
No time do Juazeiro, a palavra de ordem é vencer. Os
49
jogadores estão conscientizados de que só interessa a vitória e,
por determinação do técnico Flávio Araújo, partirão para cima
do Ceará e tentarão liquidar logo de início com as chances do
adversário.
Manchete do jornal O Povo: CEARÁ QUER DEFINIR
RETURNO LOGO HOJE. O texto informava que o Ceará havia
viajado no dia anterior para Juazeiro do Norte cheio de otimismo e
com o técnico Marcelo Vilar prometendo vitória: Respeitamos o
Juazeiro, mas nosso objetivo é resolver logo esse assunto, dizia
ele confiante mas sem esconder uma ponta de cautela.
De acordo com O Povo, membros da Diretoria e do
Conselho Deliberativo do Ceará decidiram apoiar o time,
ostensivamente, e confirmaram presença nos vôos de Fortaleza
para Juazeiro do Norte no final da tarde, horas antes do jogo.
Queriam evitar que a ausência deles pudesse influir negativamente
e contribuir para uma indesejável derrota.
Em destaque abaixo da manchete de página, O Povo trazia
o outro lado da história:
MOTIVADO, JUAZEIRO CRÊ NA VITÓRIA. Segundo
o jornal, o Juazeiro tinha apenas um desfalque - volante Dadá para o jogo decisivo contra o Ceará e que todo o elenco se
encontrava animado com a possibilidade de conquistar o segundo
turno em casa diante da torcida. Tenho certeza que a equipe fará
um grande jogo. Tentamos conquistar o primeiro turno e não
conseguimos. Essa é a nossa grande oportunidade, previa o técnico
Flávio Araújo.
Em função do grande interesse despertado pelo jogo,
transformado em verdadeira batalha, na expectativa dos torcedores
dos dois clubes, pela primeira vez a TV Diário (canais 15 e 22), de
Fortaleza, resolveu fazer uma transmissão ao vivo de futebol do
interior para a capital. E publicou anúncio forte de meia página no
50
Diário do Nordeste, com um apelo irônico aos torcedores da
Capital:
Ceará X Juazeiro. Neste jogo, não basta torcer. Tem que
rezar!
Garantida a condição técnica para lançar a imagem do
caminhão da TV desde o Romeirão até o satélite e daí para a sede
da emissora em Fortaleza, deslocou-se para Juàzeiro do Norte uma
equipe de cobertura do jogo liderada pelo narrador Tom Barros e
integrada pelo comentarista Paulo César Norões e pelo repórter
Daniel Praciano. Eles testemunharam e documentaram em vídeo
para a história do futebol alencarino, a vitória do Juazeiro sobre o
Ceará, uma verdadeira consagração para o clube do Cariri.
51
52
05
Consagração Impressa
Comemorações da vitória sobre o pelo povo do Cariri,
romperam a madrugada e abriram o dia seguinte com uma manhã
colorida de azul, cor básica do time campeão. Juazeiro do Norte
parecia transformado em Capital do Estado e sua façanha estava
estampada nos principais jornais de Fortaleza, lidos àvidamente
pelos torcedores do Cariri:
JUAZEIRO É CAMPEÃO E RIVER VENCE, título no
alto da primeira página do jorna Tribuna do Ceará, ao lado de foto
do jogo em Buenos Aires, onde, também na noite anterior, o
Palmeiras havia sido derrotado pelo River por l a 0.
JUAZEIRO CAMPEÃO, título do jornal O Povo, no alto
de sua primeira página, com foto do jogo no Romeirão em noite
histórica para o futebol do Cariri.
JUAZEIRO É O CAMPEÃO, título no alto da primeira
página do jornal Diário do Nordeste, com foto do jogo mostrando
o Ceará derrotado diante de um time que soube se impor com mais
iniciativa.
JUAZEIRO FAZ BONITO E FICA COM O TÍTULO,
manchete de primeira página do Jornal do Cariri, sobre cinco fotos
com lances do jogo e realçando a vibração da torcida no Romeirão.
O texto:
Com apenas sete meses de fundado, o Juazeiro Empre53
endimentos Esportivos conquistou o segundo turno do primeiro
Campeonato Cearense que disputa. O gol que deu o título do turno
ao tricolor juazeirense foi marcado por Ailton, cobrando pênalti,
sofrido por Maradona, aos 16 minutos do segundo tempo. Quando
o jogo chegou ao final, alguns jogadores do Ceará Sporting
tentaram agredir o árbitro Dacildo Mourão. A torcida do Juazeiro
invadiu o campo para comemorar a conquista junto dos atletas
juazeirenses. A renda da partida não foi divulgada.(14)
Foi divulgada no dia seguinte: R$ 29.633,00, público
pagante de 8.029 torcedores que, com outros milhares em todo o
Cariri, ainda vibravam com os desdobramentos das manchetinhas
de primeiras páginas nas páginas esportivas dos jornais de Fortaleza
destacando o sucesso da campanha do Juazeiro:
Juazeiro conquista o 2º Turno. Equipe do Cariri está na
final do Campeonato Cearense, manchete da página esportiva do
Diário do Nordeste. Em resumo: o Ceará começou dominando o
jogo,depois o Juazeiro igualou as ações e passou a ter mais
iniciativa.
Vitória heróica dá returno ao Juazeiro, manchete da
página esportiva de O Povo. Em resumo: o jogo no primeiro tempo
foi truncado e no segundo o Ceará voltou recuado, o Juazeiro tomou
conta da partida e fez pressão constante até a vitória.
Juazeiro é campeão do Returno, manchete da página
esportiva da Tribuna do Ceará. Em resumo: o Juazeiro foi melhor
na partida e o Ceará foi incompetente para empatar a partida,
preferindo colocar a culpa da derrota na arbitragem de Dacildo
Mourão.
Segundo turno é do Juazeiro, manchete da página
esportiva do Jornal do Cariri. Em resumo: o Juazeiro buscou o
gol desde o início da partida, teve pelo menos três chances reais de
abrir o placar no primeiro tempo, encontrou sempre intensa
54
marcação do e no segundo tempo partiu para o tudo ou nada,
alcançando a vitória num jogo de fortes emoções.
E os jornalistas esportivos de Fortaleza, o que disseram
no dias seguintes ao jogo no Romeirão?
Cronista Tom Barros:
“A vitória do Juazeiro veio apenas ratificar a boa
campanha que o time está fazendo no Campeonato Cearense. O
segundo turno ficou em boas mãos. O time mostrou personalidade,
lutou por cada espaço do campo e provou que camisa não ganha
jogo. O Ceará em momento nenhum deu a impressão de que iria
sair de campo com a vitória...O Juazeiro teve mais volume de jogo
durante os 90 minutos...O Ceará teve muito tempo para a reação.
O gol de Ailton, cobrando pênalti, aconteceu aos 16 minutos do
segundo tempo...Esperava-se que o Juazeiro se encolhesse, como
time pequeno, para segurar o resultado. Ledo engano...O Ceará
em nenhum momento deu a impressão de que poderia empatar o
jogo. Parabéns ao Juazeiro!”(15)
Cronista Carlos Alberto Farias:
“O Juazeiro Empreendimentos Esportivos Ltda.
conquistou, com méritos, o segundo turno. O Ceará Sporting não
teve competência sequer para chutar em gol. Importante é ressaltar
o trabalho dessa jovem e briosa equipe que, unindo o desporto
juazeirense, fez uma notável campanha, sendo inclusive a que
somou maior número de pontos em todo o decorrer do certame.
Méritos, portanto, para o azulão que entra na briga para colocar
ventilador na farofa do alvinegro, que está mais longe do tetra
após este resultado. Destaque também para esse notável desportista
que é Kleber Lavor, o homem que conseguiu estruturar
administrativamente a agremiação”. (16)
Cronista Alan Neto:
“Estaria se cometendo a maior injustiça do mundo se o
55
Juazeiro não fosse o campeão do segundo turno, por uma série de
motivos e razões. O principal de todos: o Juazeiro é, de há muito,
o melhor time do Campeonato, o que maior número de pontos
acumulou ao longo da competição, totalizando 51, uma vantagem
realmente inconteste. Até que enfim e não já era sem tempo, o
Juazeiro ganhou e ganhou merecidamente, disso não se tem a
menor sombra de dúvida. E quis o destino (ou terá sido Meu Padim
lá de cima?) que a partida decisiva fosse no Romeirão, com a
presença maciça dos torcedores juazeirenses, para que a festa fosse
bonita e completa. O Juazeiro estava merecendo tudo isso e algo
mais”(17)
Para os torcedores do Cariri, algo mais era a presença do
Juazeiro na mídia esportiva nacional. Como havia acontecido na
noite do jogo, a Rede Globo mostrou para todo o Brasil no dia
seguinte, no horário do Globo Esporte, ao lado da derrota do
Palmeiras por 1 X 0 diante do River Plate, em Buenos Aires, a
festa do Juazeiro pela vitória também de 1 X 0 sobre o Ceará.
Para um clube do interior, muito inferior em estrutura e
recursos em relação aos da capital, aquilo era algo mais saboreado
junto com o sucesso. O Juazeiro deixou os torcedores da Capital
sem fugir nem mugir e poderia muito bem ter mandado publicar
um anúncio de meia página nos jornais de Fortaleza respondendo
ao apelo anterior de marketing esportivo:
Não basta rezar, tem que jogar!
56
06
Juazeiro Competitivo
Depois de surpreender impondo derrota ao Ceará na
decisão do segundo turno do Campeonato Cearense de 1999 e abrir
uma crise no clube alvinegro, provocando a demissão do técnico
alvinegro Marcelo Vilar, substituído por Arnaldo Lira, numa
operação emergencial para abafar rebelião da torcida, o Juazeiro
começou o terceiro turno assustando e perturbando o Fortaleza.
Nos principais jornais da Capital, de 31 de maio, segunda-feira,
estava, em manchetes, a vingança dos torcedores alvinegros de
Porangabuçu sobre os torcedores tricolores do Pici.
JUAZEIRO VENCE E PROVOCA CRISE NO FORTALEZA
JUAZEIRO DERROTA O FORTALEZA POR 2 X 1! SÓ
DÁ JUAZEIRO! JUAZEIRO DETONA CRISE NO FORTALEZA!
Cobertura do Diário do Nordeste ao jogo realizado no
dia anterior, domingo, no Estádio Presidente Vargas, na Capital,
com público de 3.408 pagantes e renda de R$ 15.418,00, dizia:
O desfigurado time do Fortaleza, que se revestiu de nove
contratações sem a qualidade esperada por sua torcida, não
resistiu ao futebol competitivo do Juazeiro, perdendo por 2 X 1
ontem, no PV, e complicando suas pretenções de classificação para
a fase seguinte do terceiro turno do Campeoanto Cearense. O
resultado detonou uma crise no clube tricolor e deixou o Juazeiro
disparado na liderança do terceiro turno, com seis pontos em dois
jogos.
57
Mais ou menos no mesmo tom, O Povo ressaltava em sua
cobertura:
O Juazeiro provou, mais uma vez, que é o melhor time do
atual Campeonato Cearense. Jogando com personalidade, o time
juazeirense deu um show de bola e derrotou o Fortaleza por 2 X 1
ontem, no Estádio Presidente Vargas. Já no primeiro tempo o placar
dava a vantagem de dois gols para o Juazeiro. Desorganizado, o
tricolor não teve forças para reagir e somente diminuiu no final
do jogo, mas já era tarde. A derrota abriu uma séria crise no time
do Pici. O técnico José Gali Neto está ameaçado de demissão. A
torcida protestou após o jogo e chamou os jogadores de
mercenários, numa alusão ao pacote de jogadores trazidos pelo
técnico do Fortaleza do interior paulista.
Que relatavam mais os jornais de Fortaleza?
Que o Juazeiro, além de ter sido melhor, tinha dado olé!
Que o tricolor do Pici havia sofrido uma derrota vexatória.
Que o Juazeiro ainda tinha se dado ao luxo de perder algumas
oportunidades de gol. Que estava aberta uma grave crise no
Fortaleza. Que o presidente do Fortaleza, Leonel Alencar, havia
exigido dos jogadores “vergonha na cara”. Que outros dirigentes
pediram a imediata demissão do técnico Galli Neto.
Que alguns jogadores, abatidos e revoltados com as
cobranças, queriam rescisão de contratos. Que o Fortaleza tinha
sido vaiado por quatro mil torcedores gritando: Mercenários,
mercenários, Leão é tradição, não é humilhação! Que o
policiamento teve que fazer intervenção para proteger os jogadores
de agressões da torcida. Só faltaram dizer que o patinho feio - o
Juazeiro - havia virado cisne.
Com severas críticas ao desempenho do Fortaleza, os
cronistas da Capital concentraram suas atenções nos erros
cometidos pela equipe do Pici, que deixou a torcida irritadíssima,
58
vaiando o time e chamando o técnico de burro. Mas, o cronista
Alan Neto fez questão de ressaltar:
É preciso ficar muito claro o seguinte: o Juazeiro venceu
por 2 X 1 porque foi sempre melhor em campo. Não esquecer mais
um detalhe. Qual? O Juazeiro, como time de futebol, está
quilômetros de distância - como daqui ao Cariri - em matéria de
entrosamento, do Fortaleza. E em futebol, qualquer leigo sabe,
quem tem entrosamento, tem tudo.
Mais Alan Neto, alertando os torcedores para a seguinte
observação:
O que faltou ao tricolor sobrou aos comandados de Flávio
Araújo. Vamos aos exemplos? Pois não: faltou ao Fortaleza, além
de entrosamento que o time não tem nenhum, mais categoria, mais
personalidade. Uma cara que, também, inexiste. Uma caricatura,
sim. O Juazeiro tem tudo isso e mais alguma coisa. Exemplos:
sabe do seu potencial, está cheio de moral, não tem medo de
encarar os grandes. (18)
Depois de destacar que o Juazeiro ganhou do Fortaleza
com mérito, mais uma vez, firmando sua superioridade de forma
serena e competente, mesmo deixando de ter a seu favor um pênalti
certo que o árbitro não marcou e errou, o cronista Tom Barros
aduziu esta apreciação técnica:
O Juazeiro tem como ponto forte o trio Dadá, Dover e
Maradona. Os tres trabalham bem as tramas que nascem a
partir da intermediária. Maradona continua sendo o melhor
iniciador das situações criativas. Ele foi um dos destaques do
jogo. (19)
Dias terríveis para o Fortaleza, os dias seguintes. Pressão
sobre pressão! Dias de muita tensão para o presidente do clube,
Leonel Alencar, e seus companheiros de diretoria. Além da derrota
para o Juazeiro, os dirigentes tiveram que enfrentar o descontentamento da equipe com o atraso de tres meses de salário.
59
Como estava previsto, alguns jogadores criticados e
insatisfeitos pediram rescisão de contrato e foram atendidos. Apesar
das reclamações generalizadas, ficou decidida a manutenção do
técnico Galli, que recebeu mais um crédito de confiança para tentar
uma reação em plena crise. Pressão sobre pressão!
Estava tudo isso ocorrendo poucos dias depois de o
Juazeiro ter provocado enorme abalo no Ceará Sporting, derrotado
na decisão do segundo turno do Campeonato. Queda do Ceará e
queda do Fortaleza, duas maiores e mais tradicionais forças do
futebol da Capital, diante do novo Juazeiro. Que estaria
acontecendo? Uma revolução?
Mesmo enfrentando a pior crise de sua história de 85 anos
e hostilizado pela torcida revoltada, o Ceará partiu para o apelo e o
grito de socorro exatamente a quem não deveria estar causando
tanto aborrecimento, a sua própria torcida. Mas, não havia outra
saída imediata. Para o presidente do clube, Átila Bezerra, e sua
diretoria, era a última cartada jogando suas esperanças de
recuperação do desempenho alvinegro.
Com seu objetivo de conquistar o tetracampeonato
ameaçado pelo Juazeiro e por tremenda crise financeira, o Ceará
resolveu, além de mandar celebrar missas clamando ajuda dos céus,
fazer campanha de arrecadação por telefone pedindo doações de
R$ 3 e R$ 5, dos torcedores mais abastados. Mais do que angustiado,
o Ceará sentia-se perdido. Parecia ter perdido o Cruzeiro do Sul
no céu de Porangabuçu.
Justificativa do dirigente Sacha Jucá: Só tirando um pouco
de muitos é que o Ceará poderá chegar ao tão sonhado tetra. (20)
Será que doações por telefone resolverão o grave problema do Será
que sorteios de televisores vão resolver? Será que a venda de
camisas oficiais pode tirar o time da crise?
60
Provavelmente, não. Como lembra Charles Margerison,
todas as organizações existem dentro de um sistema social mais
amplo e para garantirem sobrevivência têm que responder às
mudanças nas esferas políticas, social e econômica. O conceito
vale também para as organizações de futebol.
Evidenciava-se faltar ao Fortaleza evolução, ou seja
adaptação ao rítmo de mudanças no futebol brasileiro e mundial.
Não apenas de ordem gestora, mas também de ordem técnica. Ficou
para trás a velha ordem de não correr riscos ou da palavra-chave
pegada para garantir vitórias.
De acordo com o tricampeão mundial e agora cronista
esportivo Tostão, entrou em vigor outra ordem:
A prudência está sendo menos valorizada do que a
ousadia. O futebol está voltando a ser novamente alegre, criativo,
e aumentou o número de gols no Brasil e no Mundo. A palavrachave agora é talento, no lugar de pegada.(21)
Entre os próprios dirigentes e torcedores do, havia uma
convicção: o problema não era apenas circunstancial, financeiro,
era estrutural e exigia mudança. Agora, existia no futebol do Ceará
um clube com cara e fôlego de empreendimento - o Juazeiro - e ser
campeão já não era mais uma consequência natural sempre
aguardada e tida como certa pelo ou pelo Fortaleza ao longo de
mais de oito décadas.
Em artigo na página de opinião de O Povo, o jornalista
Paulo Rogério fez criteriosa avaliação, aproveitando a passagem
dos 85 anos de história do Ceará Sporting, sem festejos da torcida
alvinegra:
Ao contrário da maioria dos clubes de sua idade, o Ceará
nunca deixou de ser um mero time de futebol. Com essa proposta
ganhou vários títulos e criou uma marca no futebol brasileiro.
Mas, como clube de esportes, nunca ofereceu nada ao torcedor
61
apaixonado por suas cores. As comparações com outros clubes,
principalmente do Nordeste, são inevitáveis. Em Pernambuco, por
exemplo, o Náutico e o Santa Cruz, equipes tão veteranas quanto
o Ceará, deixaram de ser apenas times há muito tempo. Hoje eles
oferecem aos seus sócios uma sede com completa infraestrutura
como piscinas, quadras e estádios prontos para receber jogos da
própria Seleção Brasileira.(22)
Com seu posicionamento objetivo e competitivo, o
Juazeiro começou a provocar turbulência, influência e pressão nas
gestões do Fortaleza, cujos dirigentes e torcedores até então
imaginavam seus clubes com o poder de Canuto (995-1035), aquele
rei dinamarquês da Inglaterra, cujos súditos acreditavam que ele
podia deter as ondas do mar.
Graham Hooley e John Saunders lembram essa história em
Posicionamento Competitivo para ilustrar que as mudanças criam
oportunidades para as empresas inovadoras e ameaças para aquelas
que, a exemplo de Canuto, tentam evitá-las ou detê-las. (23)
Em 23 de junho, novamente o Juazeiro derrotou o
Fortaleza, por 2 X 1, dentro do Romeirão, e assumiu a liderança
geral do terceiro turno do campeonato com 20 pontos ganhos em
nove jogos, seguido do Ceará,19 pontos, Fortaleza 16, Ferroviário
14, Tiradentes 13, todos da Capital.
Em 27 de junho, ao terminar a primeira fase de
classificação do terceiro turno, os números confirmavam Juazeiro
na liderança geral de todo o campeonato com 72 pontos, seguido
do Ceará com 64 e Fortaleza com 60 pontos. Ratificavam a
incontestável campanha de eficiência e competitividade do Juazeiro
avançando rumo ao pódium de liderança do futebol no Estado.
Mais do que uma ameaça, o Juazeiro passou a ser uma
espécie de síndrome para o Ceará, Fortaleza, Ferroviário e
62
Tiradentes, principais clubes da Capital. Mesmo maiores e mais
equipados, eles começaram a sentir em seus próprios campos e em
suas próprias redes que não podiam impedir o Juazeiro de acontecer
e o jeito era tomar o caminho das mudanças, o caminho do clubeempresa e do futebol-negócio.
63
64
07
Superbolão de Negócios
Como o Juazeiro, um clube pequeno do Interior, conseguiu
engolir os grandalhões da Capital e conquistar, por antecipação, o
segundo turno do Campeonato Cearense? Como o Juazeiro pôde
realizar tão excelente campanha registrando, ao final dessa fase,
uma liderança de 51 pontos contra 44 do Fortaleza e 41 do Ceará,
os dois veteranos e grandões do futebol cearense?
Quando o Juazeiro despontou no primeiro turno do
Campeonato, obtendo vitórias sobre Ceará e Fortaleza, deixou
vingar a impressão, entre torcedores e cronistas da Capital, de que
poderia ser um fenômeno acidental ou, como os adversários
preferiam denominar, um fantasma do interior.
Como o resultado final do segundo turno demonstroulhes que o combate não se dava por exorcismo, nem dentro nem
fora de campo, dirigentes, técnicos e jornalistas esportivos de
Fortaleza dedicaram-se a buscar outras interpretações mais
consistentes.
Juazeiro Empreendimentos ensina o pulo do gato, garantia
o Diário do Nordeste em manchete de sua página esportiva dois
dias depois do feito caririense. Segundo a reportagem, as condições
financeiras do Ceará Sporting e do Juazeiro revelavam uma grande
disparidade, a partir das respectivas folhas de pagamento.
Enquanto os salários mensais dos jogadores derrotados
65
do chegavam a R$ 69.500, os salários dos jogadores vitoriosos do
Juazeiro atingiam R$ 10 mil, praticamente o salário mensal de
apenas um jogador do alvinegro da Capital, Sandro Sotili, atacante
vindo de São Paulo com fama de artilheiro, mas integrando o banco
de reservas.
Parecia muito claro que dinheiro não era uma justificativa
aceitável para explicar a queda dos milionários jogadores do perante
os assalariados jogadores do Juazeiro.
Se sobrava dinheiro para os alvinegros, faltava garra.
Se faltava dinheiro para os juazeirenses, sobrava determinação.
Aí estava a grande diferença.(24)
Duas outras justificativas, uma de natureza financeira e
outra de gestão técnica, começaram a ganhar maior peso no
entendimento sobre o sucesso do Juazeiro Em 1998, diante de
grande crise financeira, os dirigentes do Icasa - nascido sob o
patrocínio de uma indústria caririense de algodão - decidiram
extinguir esse tradicional clube juazeirense com várias décadas
de atividades no futebol do Cariri e fundaram o Juazeiro
Empreendimentos Esportivos S.A. primeiro clube organizado no
Ceará com visão e objetivo empresariais.
Quase como aviso de leitura obrigatória, o Juazeiro estava
revelando-se, na sua própria razão social, tratar-se de um clube de
futebol administrado por gestão diferente, com gerenciamento
empresarial e foco na qualidade, no resultado e na concorrência.
Para isso, cuidaria do futebol como negócio e como todo negócio,
precisaria de investimentos e paciência para aguardar o retorno.
Em negócio de futebol, o elemento paciência já estava
caracterizado pela prolongada presença do técnico Flávio Araújo,
no comando do time há mais de um ano - antes mesmo da
transformação do Icasa em Juazeiro coisa rara no futebol cearense,
66
que costuma trocar de técnico como se troca de camisa, segundo o
Diário do Nordeste.
Cronista de O Povo, impressionado com o desempenho
do time do Cariri, Marconi Alves também percebeu que o Juazeiro,
além de jogar bom futebol, apresentava-se com organização
profissional:
O Juazeiro é enjoado mesmo em campo. Simples, pequeno,
mas organizado. Paga em dia os salários, respeita os seus
profissionais e joga o feijão com arroz. No final, tudo se transforma
em um baião de dois arretado. É esse time criado há bem pouco
tempo que está deixando os grandões de olhos arregalados. Todos
se perguntam: o que eles fazem que nós não conseguimos fazer?
Respondo: têm os pés no chão.
Caso fosse novamente consultado sobre intrigante dilema
no âmbito do Fortaleza, ambos buscando descobrir o que estava
faltando fazer para vencer o Juazeiro - o Dr. Deming, certamente,
responderia,esbravejando: Ge-ren-ci-a-men-to! Ge-ren-cia-men-to!
Ge-ren-ci-a-men-to!
Do lado do Juazeiro, passou a chamar mais atenção dos
cronistas, como Marconi Alves, o firme apoio e o decidido
envolvimento dos empresários para garantir a força do time
campeão:
Fazer futebol no Interior não é nada fácil. Logo agora
quando a crise é uma palavra fácil na boca das pessoas. Lá, os
dirigentes saem de loja em loja pedindo o apoio dos empresários.
Sem muita pressa, venderam quatro mil ingressos antecipados e
garantiram boa receita. O dirigente Klélber Lavor, sempre lutador,
está deixando a sua marca.(25)
Que marca é essa?
Poderia ser a marca de um Hércules furioso, tendo que
matar um javali ou um leão por dia, mas é a marca do novo espírito
67
de gestão empresarial. Será exagero dizer que o Juazeiro é um
clube-empresa sob gestão moderna, subordinada aos princípios e
parâmetros de planejamento estratégico e de gestão estratégica.
Com certeza, vai chegar lá. Mas, o Juazeiro tem demonstrado
excelente desempenho de gerenciamento por objetivos, obtendo
resultados positivos sob impulsos de vantagem competitiva.
É a marca do novo espírito de gestão que começa a ter
efeitos no futebol brasileiro, antecipando a aplicação da Lei Pelé,
aprovada para entrar em vigor em 24 março do ano 2000. A partir
de então, os clubes brasileiros serão obrigatoriamente transformados
em empresas e constituidos em sociedades anônimas, tendo que
apresentar balanço anual, como qualquer empreendimento sério.
Alguns estão saindo na frente, principalmente os maiores
clubes do futebol brasileiro - Flamengo, Vasco, Corintians, São
Paulo. Uma reportagem especial sobre a indústria do futebol - Times
viram mina de diamante -assinada por Ricardo Gonzalez e
públicada por O Dia, jornal de maior circulação no Rio de Janeiro
em 1999, com 550 mil exemplares aos domingos e 450 mil nos
dias úteis, mostrou com amplitude e profundidade, os números
milionários que já estão rolando nos gramados:
US$ 250 bilhões - valor movimentado anualmente pelo
futebol, quase 35% do Produto Interno Bruto do Brasil, e que
supera em quase 50% o faturamento anual da General Motors;
150% - valorização do capital da holding Enic, que comprou ações
de cinco times europeus; 400% - expectativa de lucro da Hicks,
Muse, Furst & Tate, com a criação de uma TV a cabo brasileira só
para transmitir futebol; US$ 30 bilhões - valor pago pelas
televisões dos Estados Unidos pelo direito de transmissão dos jogos
dos times de futebol americano na última temporada; US$ 150
milhões - valor que os clubes brasileiros receberão das televisões
em 1999 pelo direito de transmissão dos jogos dos campeonatos
da temporada; US$ 15 milhões - valor médio do passivo dos
principais clubes do Brasil.(26)
68
Esse mesmo O Dia indicava os investimentos de
patrocinadores em grandes clubes brasileiros transformando o
futebol em negócio altamente lucrativo:
Clube
Patrocinador
Vasco
Ace
Até 2002
R$ 9 milhões
Flamengo
Petrobrás
Até 2001
R$ 6 milhões
Corinthians Batavo
Até 2001
R$ 5 milhões
São Paulo
Círio
Até 2000
R$ 4 milhões
Santos
Unicor
Até 2001
R$ 3 milhões
Grêmio
General Motors Até 2001
R$ 3 milhões
Além disso, o chamado Clube dos 13, que reúne os
maiores clubes de futebol do Brasil, firmou um acordo com a TV
Globo, que vai pagar de US$ 70 milhões a US$ 100 milhões por
temporada, entre 2000 e 2004, pela transmissão dos jogos de seus
representantes no Campeonato Brasileiro.
Conforme O Dia,, grandes investidores descobriram que
o futebol é uma mina de ouro e não estão dispostos a se afastarem
da bola nunca mais. Daí, este alerta da reportagem do jornal
carioca:
Daqui a algum tempo o torcedor de futebol terá que fazer
um curso intensivo de economia para entender o que se passa
com seu time. No lugar dos velhos cartolas, estarão profissionais
pagos para conseguir lucros para o clube.
É a nova cultura gerencial que chega ao futebol do
Brasil tendo como exemplos grandes clubes da Europa, caso do
Manchester United, o primeiro clube europeu cotado na Bolsa
de Valores, com 49% do capital pertencentes aos torcedores.
Com faturamento anual de US$ 33 milhões somente em
merchandising em mais de 1.500 produtos vendidos em lojas
próprias por toda a Inglaterra, o clube tem orçamento anual de
US$ 150 milhões, demonstrativo de uma empresa com
formidável saúde financeira.
69
Mas, como o Manchester, outros clubes de futebol da
Europa, que funcionam sob padrões de moderna gestão empresarial,
estão transformados em poderosíssimas máquinas de fazer dinheiro,
principalmente por meio de contratos milionários com emissoras
de televisão para transmissão de seus jogos.
Caso do Barcelona que, além da receita anual de US$ 90
milhões garantida por seus 90 mil sócios, engorda seu orçamento
com mais de US$ 20 milhões por ano comercializando os produtos
com a marca do clube e vai receber, de 2003 a 2008, US$ 400
milhões por ano, da empresa Via Digital, pelos direitos de
transmissão dos seus jogos em casa. Caso do Real Madrid, que
fatura US$ 75 milhões por ano somente com os próprios direitos
de imagem. Nos três casos, tudo com muita agressividade em
marketing, indispensável ao sucesso do negócio.
Lucros dependem de gestão do negócio, o negócio
depende da qualidade do produto e o sucesso do produto depende
da aprovação dos consumidores. Portanto, recomenda a prudência
que os novos dirigentes e executivos do futebol não esqueçam de
que torcedor sem paciência não aguenta incompetência.
Como empresas, os clubes de futebol precisam seguir um
conselho do Dr. Deming, deixado para empresas em geral e que
aparece aqui - tomamos essa liberdade para sua melhor interpretação
no contexto em foco - adaptado para o futebol:
O objetivo de um clube -empresa de futebol é ter
torcedores e satisfazê-los. Mas, um torcedor satisfeito não é
suficiente. O negócio do futebol é construído pelo torcedor leal,
aquele que volta ao estádio e traz um amigo para ser novo torcedor
e incrementar o negócio.
Convém lembrar, igualmente, um conceito clássico
moderno do pensador norte-americano, citado anteriormente,
Theodore Levitt, revolucionário na administração dos negócios: o
70
primeiro negócio de qualquer negócio é continuar no negócio;
para tanto, é preciso gerar e manter consumidores.
Sem nenhuma dúvida, o mesmo conceito está valendo
para o moderno e competitivo negócio do futebol, que precisa
conquistar, satisfazer e manter torcedores-consumidores para
permanecer como produto atraente, rentável e crescente no mercado
cada vez mais competitivo e globalizado.
71
72
Triângulo Caririense, em Juazeiro, com ligações rodoviárias para Recife e Fortaleza.
08
Efeito Globalização
Com o apoio fundamental de amplos e modernos sistemas
de telecomunicações, satélites, computadores, novas tecnologias e
novas mídias - especialmente a Internet - o fenômeno da
globalização econômica, grande revolução geradora de integração
e interligação instantânea de mercados, sem fronteiras, nesta virada
de século e de Milênio, tem provocado diversas outras revoluções
setoriais nos diversos campos de atividade humana.
Uma dessas revoluções se processa, aceleradamente, no
campo desportivo e, mais acentuadamente, no futebol. Com origens
na Europa e avançando sobretudo na Inglaterra, Itália e Espanha,
essa revolução tem sido denominada footbusiness - negócios do
futebol - e pelos seus efeitos e influências nos diversos continentes,
chegando fortemente à América do Sul, reproduz o processo de e
globalização no futebol arquitetura de negócios com bola em escala
global sob orientação de planejamento estratégico e gestão
empresarial.
Berço do futebol e do footbusiness, a Inglaterra tem
oferecido ao mundo surpreendente painel de valores financeiros
produzido por essa revolução. Para que se tenha uma idéia de sua
magnitude, basta lembrar que o grupo de comunicação do magnata
Ruppert Murdoch, dono do Times e vários canais de televisão, vai
pagar, até 2004, cerca de US$ 330 milhões por temporada pelos
direitos de transmissão dos jogos do milionário campeonato inglês,
cuja atração principal é o bilionário Manchester United.
73
Mesmo sendo tetracampeão mundial e considerado o
melhor do planeta, o futebol do Brasil ainda está longe desses
valores, mas não há mais dúvida que já experimenta os primeiros
sinais e efeitos da mesma revolução de mentalidades e objetivos.
Uma revolução que está alcançando também o interior do Brasil,
que será acelerada com a entrada em vigor da Lei Pelé no ano 2000
e que terá como consequência inevitável uma melhoria da qualidade
do futebol nacional.
Faz parte dessa onda de globalização do futebol sobre o
Brasil, o caso do Juazeiro Empreendimentos Esportivos, fundado
em outubro de 1998, primeiro clube-empresa de futebol no interior
do Norte e Nordeste e segundo na região, depois do Bahia S. A.,
em Salvador, organizado em fevereiro de 1998, e antes do Náutico
S.A, no Recife, o terceiro, surgido em junho de 1999.
Com a palavra o principal responsável por essa façanha,
um dinâmico empresário e político de visão moderna, atento às
mudanças que ocorrem no mundo e obstinadamente dedicado ao
projeto do Juazeiro, um exemplo de empreendimento renovador
no futebol do Nordeste brasileiro. Eis o que diz o homem, Kleber
Lavor:
Somos plenamente conscientes dos limites e dos desafios
que temos administrando um clube de futebol no interior do Brasil,
mais ainda no interior do Nordeste. Mas, desde que fundamos o
Juazeiro Empreendimentos Esportivos, que temos trilhado o mesmo
objetivo e alcançado resultados muito compensadores.
Queremos pensar e administrar estrategicamente o
futebol fora de campo, assim como ele sempre foi pensado e
administrado estrategicamente dentro de campo. Ou seja,
queremos que o Juazeiro seja competitivo dentro e fora de
campo.
Estamos ainda em fase de organização, mas quando for
74
implantada a Lei Pelé queremos já estar estruturados adequadamente. Nosso objetivo está definido, assumido pela nossa
diretoria e incorporado pela entusiástica população de Juazeiro
do Norte: vamos fazer do Juazeiro um clube-empresa sob
moderna filosofia de administração, com planejamento,
controle, previsão, programação e estratégias que lhe
assegurem mais e mais vitórias.
O primeiro ano de atividades foi muito importante para
o Juazeiro aparecer em campo, destacar-se como nova força do
futebol do Ceará e do Nordeste. O segundo ano será fundamental
para o Juazeiro, mais experiente, consolidar sua força em campo
e aparecer no mercado, despertando o interesse de patrocinadores
de perfil regional ou até mesmo nacional, como uma excelente
alternativa de negócio e investimento.
Pelo seu desempenho positivo, o Juazeiro gerou uma feliz
associação entre os interesses do clube e os da cidade. E passou a
capitalizar uma excelente imagem de evolução e progresso
identificada com as aspirações de todo o Cariri, região com mais
de l milhão de consumidores, que viraram torcedores. Torcedores
da marca Juazeiro e consumidores dos produtos que ela pode
vender.
Sentimos que essa marca tem realmente uma força de
mercado. O Juazeiro despertou os grandes clubes da Capital Ceará, Fortaleza, Ferroviário e Tiradentes - para o fato de que
somente história e tradição não ganham jogo, nem campeonato,
nem torcida, nem mercado. Que na nova realidade do futebol
brasileiro os clubes, mesmo aqueles de história e tradição, terão
que ter novo gerenciamento e apresentar força de competitividade.
Com satisfação, podemos dizer que o Juazeiro tem e
provou que tem essa força. Embora sejam muitas e grandes as
75
dificuldades, principalmente em captação de recursos, para esse
tipo de gerenciamento moderno, o Juazeiro tem missão, tem
valores e tem objetivos claros de clube-empresa para se
desenvolver e se firmar entre as forças líderes do futebol no
Nordeste brasileiro.
Como se pode notar, o depoimento do empresário e
executivo de futebol Kleber Lavor é uma declaração aberta de
posicionamento competitivo. Sua declaração traz embutidos
princípios, intenções, aptidões e objetivos componentes de uma
estratégia central de competitividade e desenvolvimento, segundo
o entendimento de Graham Hooley e John Saunders.
Como deverão fazer todos os clubes-empresas que vão
se implantar no Brasil, independentemente de suas dimensões, o
Juazeiro está em organização para operar sob gerenciamento
estratégico voltado para o mercado e, para isso, comprometido
com fatores e componentes básicos do posicionamento
estratégico:
Potencial de mercado-alvo, com suas atratividades
e oportunidades; potencial de liderança de custo, com sua
possibilidade de economia de escala garantindo capacidade
competitiva; potencial de vantagem diferencial, com sua
competência para motivação de consumidores em relação
ao produto, excluindo os concorrentes; potencial de marketing
agressivo, concentrado e diferenciado; potencial de geração e
mudanças socioculturais e de novas expectativas de mercado;
potencial de criação e implementação de sistemas especializados de apoio à decisão gerencial; e potencial de
crescimento, de participação, de lucratividade e de desenvolvimento do negócio.
Para atingir os objetivos essenciais de competitividade,
em busca de um futebol de qualidade e rentabilidade, será
76
fundamental que os novos clubes-empresa, como o Juazeiro,
cumpram alguns critérios e orientações, como os que sugerimos a
seguir, inspirados no Deminismo:
* Exercitar o clima de confiança entre dirigentes,
jogadores e servidores do clube, colaborando uns com
os outros para o objetivo de desempenho positivo da
organização;
* Incrementar o espírito de equipe com encorajamento
e estímulo aos dirigentes, jogadores e servidores do
clube no processo de evolução e desenvolvimento da
empresa;
* Buscar atender ou exceder as expectativas associados
e torcedores do clube oferecendo melhoria constante
da qualidade e eficiência do futebol e de outros produtos
e serviços da organização;
* Desenvolver adequado processo de planejamento para
gestão estratégica, considerando fatores essenciais de
mercado, visando permanente melhoria de desempenho
do clube-empresa;
* Envolver dirigentes, jogadores e servidores do clube
em processos de treinamento, orientação e formação
para garantir maior envolvimento quanto aos objetivos
de qualidade e eficiência;
* Articular e desenvolver parcerias e acordos de
cooperação e promoção, de natureza técnica, tecnológica ou financeira, tendo em vista o fortalecimento do
clube como empresa;
* Operar eficiente sistema de gerenciamentos de dados e
informações para melhor avaliação dos problemas,
ameaças, oportunidades e potencialidades, indispensável à tomada de decisões;
* Adotar eficiente política de marketing, fundamental para
apoiar e promover os eventos esportivos e os negócios
do clube e fortalecer e ampliar a imagem institucional
da empresa no mercado.
77
Caso os clubes-empresas brasileiros sigam, na teoria e na
prática, como é o propósito do Juazeiro Empreendimentos
Esportivos, esses parâmetros referenciais de gerenciamento
estratégico da moderna gestão empresarial, estarão não apenas
alcançando o desejado posicionamento competitivo de negócio com
retorno certo dos investimentos, mas, seguramente, proporcionando
uma melhoria de qualidade do futebol tetracampeão mundial.
78
09
Juazeiro Campeão
Foi uma noite de tensão! Foi uma noite sem explosão!
Foi uma noite de quase Waterlooo para o, em sua batalha
pelo tetracampeonato. Foi a noite em que o Juazeiro quase
atravessou o Rubicão para, do outro lado, aparecer levantando a
taça de Campeão do Ceará e, assim, quebrar uma hegemonia de
80 anos do futebol da Capital sobre o do Interior. Quase.
Decisão final do Campeonato Cearense de Futebol-99,
na noite de 21 de julho, deu o segundo título de tetracampeão ao
Cearánuma conquista sem gol, amparada em regulamento, pelo
fato de o time de Porangabuçu ter vencido dois dos tres turnos do
certame. Dentro do Castelão, principal estádio da Capital, o
veterano curvou-se diante do novíssimo e competente Juazeiro,
que vendeu caro o empate de 0X0. Como relatou o Diário do
Nordeste em sua primeira página no dia seguinte, a equipe do
Interior foi para cima do alvinegro e por pouco não sai vencedora.
Diante de 21 mil torcedores, dos quais 18.097 pagantes,
que proporcionaram uma renda de R$ 97.473,00, a maior de todo
o Campeonato, o Juazeiro impôs o seu rítmo de jogo, com excelente
futebol, sempre ofensivo, atacando o tempo todo. Em tres
momentos, com jogadas perigosas de Bujica, Paulinho e Maradona,
o Juazeiro mandou bola na trave e chegou muito perto do gol.
Encurralado e na defensiva, o Ceará foi salvo pelo goleiro Jéfferson
que, de tão exigido, acabou escolhido, pela crônica esportiva de
Fortaleza, o melhor em campo.
79
Quando o juiz Dacildo Mourão apitou o final do
Campeonato, o Juazeiro saiu do Castelão como vice-campeão de
futebol do Ceará, porém, aplaudido como autêntico campeão pelos
torcedores da Capital. O cronista Alan Neto confidenciou:
Maradona, craque do Juazeiro, não conteve as lágrimas,
misto de emoção e tristeza, quando, ao descer para o vestiário,
viu a torcida do Ceará, de pé, aplaudindo todo o time juàzeirense.
(27)
Em verdade, se não pôde comemorar o título de campeão
com taça na mão, o Juazeiro sagrou-se campeão de resultados na
classificação geral do campeonato, de acordo com relatório da
própria Federação Cearense de Futebol: Juazeiro: 79 pontos
acumulados, 44 jogos, 21 vitórias, 16 empates, 07 derrotas, 63
gols positivos, 46 gols contra e saldo de 17 gols; Ceará: 78 pontos
acumulados, 46 jogos, 21 vitórias, 15 empates, 10 derrotas, 78
gols positivos, 49 gols contra e saldo de 29 gols.
Como está demonstrado, o Juazeiro, vice-campeão, somou
mais pontos acumulados do que o campeão, embora o time
caririense tenha tido menos dois jogos. Além disso, na comparação
com o Juàzeiroteve igual número de vitórias, um empate a mais e
menos derrotas. Ou seja, de acordo com os números, que não
mentem, e não com as regras, que às vezes sofismam, as posições
deveriam ser invertidas: Juazeiro campeão e Ceará vice.
Onde, então, ou por que o Juazeiro perdeu o título?
Perdeu, antecipadamente, na noite de 13 de julho, onde
sempre foi imbatível, dentro de sua própria casa, no Romeirão.
Em jogo disputadíssimo com o Fortaleza, precisando apenas de
um empate para disputar a final do turno com o o time caririense
cometeu o único erro em todo o campeonato: após ganhar o primeiro
tempo por 2X0, deixando o Fortaleza paralisado, subestimou a
capacidade de reação do adversário no segundo tempo e acabou
derrotado por 3X2.
80
Faltou ao Juazeiro, no segundo tempo de jogo, lembrarse de um velho princípio da Física: toda ação provoca uma reação
contrária. E também de um outro princípio, adotado tanto pelos
manuais de estratégica militar quanto de marketing estratégico,
que serve, igualmente, ao confronto em campo de futebol:
independentemente do sucesso, nunca atue como líder insuperável.
Exatamente os dois princípios que mais distinguiram o clube
caririense em todo o campeonato.
De qualquer forma, o desempenho histórico do Juazeiro,
no campo e fora do campo,virou lição para os dirigentes do futebol
cearense e principalmente do Ceará Sporting, com um rombo
finananeiro estimado em R$ 300 mil e do Fortaleza com dívida
acumulada de R$ 90 mil, no encerramento da competição estadual.”
Cronista Tom Barros:
A melhor lição dada pelo time do Cariri foi o recrutamento de valores locais, todos de excelente nível e numa faixa
salarial suportável pela receita do clube. Com a estabilidade
financeira, houve também a estabilidade dos atletas, que tinham
em dia seus salários. Outro detalhe: ao técnico Flávio Araújo foi
dado o tempo suficiente para a montagem da equipe, permanecendo
no cargo mesmo quando houve alguns sinais de queda de produção
do conjunto. Não houve lá a temível rotatividade de treinadores.
(28)
Por seu desempenho técnico e financeiro e por sua
organização administrativa, o Juazeiro Esporte Clube acabou sendo
indicado à CBF-Confederação Brasileira de Futebol para disputar
a Série C do Campeonato Brasileiro. um merecimento, pelo sucesso
em campo e na parte administrativa, justificou o presidente da
Federação Cearense de Futebol, Fares Lopes. (29)
Entretanto, pela fórmula adotada pela CBF para a
competição com 36 clubes, incluindo apenas um do Ceará, no caso
81
o Fortaleza,esolhido pela FCF, ao Juàzeiro ficou garantida a vaga
para participar da Copa do Brasil do Ano 2000. Vaga assegurada
pela condição de vice-campeão cearense, título conquistado por
absoluto mérito comprovado em futebol competitivo, gerenciamento empresarial e resultado financeiro.
Essas condições gerenciais e estratégicas, aliás, deram ao
Juazeiro, além do vice-campeonato estadual, outros consagradores
reconhecimentos da mídia em relação ao futebol de 1999 no Ceará:
Juazeiro, time de melhor conjunto; Kleber Lavor, o melhor dirigente
do futebol; Flávio Araújo, melhor técnico do futebol; e cinco
jogadores do Juazeiro (Lelo, Alan, Esquerdinha, Dower e
Maradona) em todas as listas da Seleção do Campeonato.
Pelo fato revelador e marcante de competência e de
responsabilidade administrativa do Juazeiro,acrescente-se outro título
de tremendo orgulho para a equipe caririense: único clube de futebol
do Brasil na temporada de 99 com seus compromissos financeiros,
fiscais e salariais absolutamente em dia, rigorosamente em dia.
Mais do que um clube campeão em gestão de resultados,
o clube caririense tornou-se, também, pelo seu estilo de jogo
criativo, combativo, ofensivo e produtivo, um campeão de simpatia
para os aficionados do futebol cearense. Os aplausos gerais ao time
do Juazeiro, em pleno Castelão,na decisão final do Campeonato99, simbolizaram o reconhecimento acumulado pela expectativa
desde dois meses antes, quando o experiente e prestigiado jornalista
Edmundo Vitoriano, em sua coluna de 23 de maio na Tribuna do
Ceará, uma pequena nota interpretando o sentimento de todas as
torcidas:
Campeão. Honra ao Juazeiro. Campeão Cearense de
99.ocasião das partidas com perspectivas de melhores receitas.
Nos tres grandes, a insatisfação é generalizada, inclusive com
alguns atletas se recusando a atuar, caso não recebam seus
ordenados atrasados. (30)
82
Ao contrário dos tres grandes - Ceará, Fortaleza
Ferroviário - Juazeiro chegou ao final do Campeonato com saúde
financeira estável, compromissos fiscais atualizados e salários em
dia, condições que lhe deram tranquilidade para manter um padrão
competitivo dentro de campo, conquistando excelentes resultados.
Pelo seu vigor e seu sucesso no campeonato, o Juazeiro
firmou-se, rapidamente, como grande atração para a massa
torcedora do Ceará. Com seu destemido posicionamento
competitivo e dando brilho aos espetáculos de futebol, dentro e
fora do Romeirão, Juazeiro proporcionou as maiores rendas em
jogos do Campeonato Cearense-99 e tornou-se também um
campeão em bilheteria.
Exibindo características de fenômeno, com todo esse
surpreendente desempenho, o clube caririense poderia ter sido
contemplado com páginas inteiras na imprensa do Ceará. Exato
contraponto do futebol cearense em crise, o Juazeiro gerou e
sustentou, para a mídia, várias pautas sugestivas que deixaram de
ser exploradas. Eis algumas:
A nova força que vem do Interior; Maradona, el nuevo
astro del Cariri; Juazeiro: o sucesso do futebol gerenciado; Lei
Pelé é a nova lei de fé no Romeirão; Juazeiro faz a nova jogada do
Brasil; O Ceará também tem disso, sim : futebol-negócio; Juazeiro:
vitória do futebol competitivo; Uma nova luz para o futebol na
Terra da Luz; Nosso Manchester no interior do Nordeste.
83
84
10
Bolsa de Valores
Modernidade, competitividade, atratividade, lucratividade. Estas são as palavras-chaves em setas que indicam o novo
caminho do futebol brasileiro. Organizados e planejados,
administrativamente, de dentro para fora, os clubes-empresas terão
melhor desempenho em campo e imagem de suceso, despertando,
estimulando e ampliando, de fora para dentro, o movimento de
associados, torcedores, consumidores, patrocinadores e
investidores.
Obviamente, para que a gestão empresarial possa fazer
os clubes atraentes aos novos e futuros investidores será necessária
uma eficiente política de marketing global. E para o marketing
operar receitas com bilheterias, promoções, publicidade em camisa,
licenciamento de produtos e contratos de televisão, os clubes terão
que, prioritariamente, satisfazer expectativas, necessidades e
desejos dos seus consumidores em potencial, seus torcedores. É
simples: quanto mais os torcedores-consumidores estiverem
satisfeitos, mais eles produzirão receitas e tornarão os clubes
rentáveis.
Em busca desse novo modelo de administração
esportiva, o Juazeiro tem dado o indispensável espetáculo e a
massa do Juàzeiro tem respondido com participação, vibração
e renda, dando sua força indispensável. Este aspecto merece
atenção porque a arrecadação é um dos indicadores de
desempenho financeiro dos clubes e do prestígio que lhes
confere o público.
85
Deve-se ressaltar que no Nordeste, por características
peculiares de tradição e mercado, somente Recife e Salvador
conseguem fazer dos principais jogos de seus campeonatos
espetáculos de massa e de renda comparáveis aos mais vibrantes
no Sudeste e outras prósperas regiões do País.
Quatro exemplos: em 21 de fevereiro de 1999, no Recife,
no Arruda, clássico Santa Cruz 1X1 Sport, teve 71.197 pagantes e
renda de R$ 312.846; em 21 de março de 1999, no Recife, na Ilha
do Retiro, clássico Sport 4X1 Náutico, teve 29.052 pagantes e renda
de R$ 230.520,00; em 06 de fevereiro de 1999, em Salvador, na
Fonte Nova, clássico Vitória 1X1 Bahia, teve 56.431 pagantes e
renda de R$ 450.780,00; em 21 de março de 1999, em Salvador,
Fonte Nova, clássico Bahia 1X1 Vitória, teve 52.524 pagantes e
renda de R$ 441.977,00. Clubes, públicos e rendas que expressam
a força do futebol em Pernambuco e na Bahia.
Ou por deficiências de qualidade e de competitividade,
ou por falhas de administração, organização e marketing, ou por
tudo isso junto, o campeonato do Ceará tem demonstrado
desempenho realmente muito abaixo de suas reais possibilidades,
que precisam ser melhor trabalhadas e aproveitadas estrategicamente. Somente assim poderá posicionar-se, honrosamente,
como a terceira força arrecadadora do futebol no Nordeste.
Para avaliação do que isso representa, comparando-se com
a perfomance do futebol de outros Estados da região, basta conferir
o frágil campeonato da Paraíba, em permanente crise técnica porque
tem evolução impedida por permanente crise financeira que não
se resolve porque os estádios estão em permanente crise de público.
Uma ilustração? Jogo decisivo de classificação do
primeiro turno do campeonato paraibano de 1999, Auto Esporte
3X0 Nacional no Almeidão, em João Pessoa, em 16 de maio,
registrou somente 99 torcedores pagantes e uma renda de R$ 289,00,
86
algo, mesmo casual, quase inacreditável. Somente explicável pela
pobreza de espetáculo.
Quanto ao movimento financeiro do campeonato do
Ceará, durante os tres turnos em 1999, além da eficiência em
resultados positivos no campo, o Juazeiro mostrou eficiência
também em resultados na bilheteria. Os jogos do Juazeiro com
Ceará e Fortaleza foram os que proporcionaram as maiores
arrecadações do Campeonato:?
Em 19 de maio, no Romeirão, Juazeiro 1 X 0 Ceará,renda
de R$ 29.633,00; em 30 de maio, no Presidente Vargas, Juazeiro 2
X 1 Fortaleza, renda de R$ 35.740,00; em 13 de julho, no Romeirão,
Juazeiro 2 X 3 Fortaleza, renda de R$ 15.334,00; em 15 de julho,
no Presidente Vargas, com time rserva(principal ficou concentrado
para jogo final do Campeonato), Juazeiro 0 X 5 Ceará, renda de
R$ 46.387,00; em 21 de julho, no Castelão, Juazeiro 0 X 0 Ceará,
na decisão do título, renda de R$ 97.473,00, a maior do
Campeonato.
Esses números passam a ter maior significado quando
comparados aos relatórios de bilheteria do Ceará e do Fortaleza
em jogos com outros participantes do terceiro turno do campeonato:
em 23 de maio, Ceará 2 X 0 Uniclinic, renda de R$ 1.294,00; em
26 de maio, Ceará 4X2 Quixadá, renda de R$ 4.037,00; em 31 de
maio, Ceará 7X3 Limoeiro, renda de R$ 5.118,00; em 02 de junho,
Fortaleza3X0 Uruburetama, renda de R$ 702,00; em 09 de junho,
Fortaleza 3x2 Ferroviário, renda de 10.194,00; em 11 de junho,
Ceará 2x0 Tiradentes, renda de R$ 10,738,00; em 13 de junho,
Fortaleza 4x0 Uniclinic, renda de R$ 2.772,00; em 16 de junho,
Ceará 4X0 Limoeiro, renda de R$ 7.016,00; em 17 de junho,
Fortaleza 7X2 Uruburetama, renda de R$ 8.787,00; em 27 de junho,
Fortaleza 2X3 Ferroviário,renda de R$ 4.807,00; em 03 de julho,
Ceará 2X1Tiradentes, renda de R$ 1.739,00. Observam-se, nessa
relação, apenas duas arrecadações acima de R$ 10 mil e abaixo de
87
R$ 11 mil, exatamente em jogos envolvendo os maiores clubes da
Capital.
Grande clássico Ceará 2X1 Fortaleza, popularíssimo
Clássico-Rei, no Castelão, na Capital, em 06 de junho, quando os
dois times ainda estavam abatidos pelas derrotas impostas pelo
Juazeiro e precisavam de uma reação no chamado Turno da Morte,
teve 4.135 pagantes e renda de R$ 18.068,00. Público e arrecadação,
portanto, bastante inferiores aos do jogo final do segundo turno
entre Juazeiro e Ceará com vitória do time caririense.
Entretanto, o exemplo mais expressivo foi o jogo de 20
de junho, novamente no Castelão Fortaleza 3X2 Ceará, repetindo
o mais tradicional clássico do futebol cearensecom apenas 3.528
torcedores pagantes e renda de R$ 10.942,00, inexpressiva para
um confronto reunindo os dois clubes principais rivais no Estado.
Desconcertante, diante das rendas proporcionadas pelo Juazeiro
em confrontos, tanto no Romeirão quanto na Capital.
Mesmo quando o Juàzeiro jogou desmotivado, sem
qualquer interesse de vitória, por simples e obrigatório cumprimento
de tabela, proporcionou mais renda do que o em igual condição:
em 15 de julho, no Presidente Vargas, Juazeiro 0X5 Ceará, público
de 10.082 pagantes e renda de R$ 46.367,00; em 17 de julho, no
Castelão, Ceará 2X7 Fortaleza, público de 377 pagantes e renda
de R$ 1.353,00. Nesses jogos, Juazeiro e Ceará saíram goleados
porque, estrategica e convenientemente, preservaram as equipes
principais para a final decisiva do Campeonato.
Com uma administração realista, equilibrando receitas e
despesas, conforme as peculiaridades e os valores do mercado, o
Juazeiro disputou a competição estadual sem transtornos
financeiros, ao contrário dos principais clubes da Capital. Vejam
esta nota do cronista Carlos Alberto Farias:
O futebol cearense caminha para a decisão do Cam88
peonato atravessando uma das maiores crises financeiras de nossa
história. Os tres grandes têm débitos com salários de jogadores e
funcionários, além de uma avalanche de questões trabalhistas que
provocam bloqueio de cotas por ocasião das partidas com
perspectivas de melhores receitas. Nos tres grandes, a insatisfação
é generalizada, inclusive com alguns atletas se recusando a atuar,
caso não recebam seus ordenados atrasados. (30)
Ao contrário dos tres grandes - Ceará, Fortaleza
Ferroviário - Juazeiro chegou ao final do Campeonato com saúde
financeira estável, compromissos fiscais atualizados e salários em
dia, condições que lhe deram tranquilidade para manter um padrão
competitivo dentro de campo, conquistando excelentes resultados.
Pelo seu vigor e seu sucesso no campeonato, o Juazeiro
firmou-se, rapidamente, como grande atração para a massa
torcedora do Ceará. Com seu destemido posicionamento competitivo e dando brilho aos espetáculos de futebol, dentro e fora do
Romeirão, Juazeiro proporcionou as maiores rendas em jogos do
Campeonato Cearense-99 e tornou-se também um campeão em
bilheteria.
Exibindo características de fenômeno, com todo esse
surpreendente desempenho, o clube caririense poderia ter sido
contemplado com páginas inteiras na imprensa do Ceará. Exato
contraponto do futebol cearense em crise, o Juazeiro gerou e
sustentou, para a mídia, várias pautas sugestivas que deixaram de
ser exploradas. Eis algumas:
A nova força que vem do Interior; Maradona, el nuevo
astro del Cariri; Juàzeiro: o sucesso do futebol gerenciado; Lei
Pelé é a nova lei de fé no Romeirão; Juàzeiro faz a nova jogada do
Brasil; O Ceará também tem disso, sim : futebol-negócio; Juàzeiro:
vitória do futebol competitivo; Uma nova luz para o futebol na
Terra da Luz; Nosso Manchester no interior do Nordeste.
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Cercado pelo Chapadão do Araripe, Juazeiro projeta-se como Manchester do Cariri.
11
Manchester do Cariri
Com o processo de desconcentração urbana que está se
verificando nas metrópoles brasileiras e também no Nordeste,
diminuindo o seu rítmo de crescimento, Cidades de Centralidades
mais Expressivas, como Juazeiro do Norte, no Cariri, experimentam, ao final dos anos 90 e na virada do Milênio, expectativas
e indicadores do fenômeno de reconcentração urbana - volta das
populações migrantes deixando as metrópoles - que pode lhe repetir
o forte rítmo de desenvolvimento nas décadas de 50 a 70.
Foi nessas décadas que Juazeiro e o Cariri registraram
significava expansão demográfica, comercial e industrial. O número
de estabelecimentos industriais cresceu 68% e o Cariri passou a
contribuir com 21% do produto industrial do Ceará, segundo
registros do Banco do Nordeste.(31)
Como naquela época, estão de volta os debates, as
articulações, as oportunidades e as expectativas em torno do
potencial de mercado e de matérias-primas da região que podem
favorecer uma retomada do desenvolvimento industrial de Juazeiro
em vários setores: construção civil, produtos metalúrgicos,
fabricação de óleos vegetais, açúcar e álcool, extração de minerais,
industrialização de frutas, lazer e turismo e outras possibilidades.
Favorecido pela sua posição geográfica equidistante dos
maiores mercados regionais, 530 quilômetros do Recife e de
Fortaleza, e dotado de infra-estrutura básica adequada - energia,
91
rodovias asfaltas, ferrovias, telecomunicações e Aeroporto Regional
do Cariri(vôos regionais e nacionais) - Juazeiro prepara-se para
entrar no novo século revitalizando sua condição de Manchester
do Cariri, agora também sob o impulso de empreendimentos no
campo esportivo.
Essa nova atmosfera evolucionária é consequência direta
das mudanças revolucionárias recentes na administração esportiva,
e sobretudo na gestão do futebol brasileiro, que se verificam,
também e até com surpreendente velocidade, fora do eixo Rio-São
Paulo.
Coube ao Esporte Clube Bahia o privilégio de se
transformar em fevereiro de 1998 no primeiro clube-empresa do
Brasil, segundo Placar (32), principal revista especializada de
esportes no País. Uniu-se ao Banco Opportunity formando o Bahia
S.A., com capital inicial de R$ 6 milhões, tendo o banco ficado
com o controle acionário(51%) para poder gerir o negócio.
Em Minas Gerais, o tradicional Atlético contratou a
economista Elena Landau, ex-diretora de privatização do BNDESBanco Nacioanl de Desenvolvimento Econômico e Social (19931996). Sua missão: criar no Atlético uma estrutura compatível com
os novos tempos e capaz de atrair investidores, dando prioridade
às parcerias com empresas em expansão no mercado e à associação
com as televisões formando o principal filão financeiro que vem
sendo explorado pelos clubes.
Landau assumiu a missão estratégica com entusiasmo, mas
perfeitamente consciente da realidade difícil e dos valores a serem
respeitados na construção do futuro:
É preciso que se saiba o seguinte: a paixão não pode
deixar de existir. O profissional que for administrar o clube não
pode esquecer disso. O investidor não pode esquecer a tradição
do clube. (33)
92
Em Santa Catarina, o campeão Figueirense entrou firme
na mesma trilha. Enquanto seus jogadores estavam em campo,
suando a camisa, demonstrando e aperfeiçoamento seu potencial
técnico, seus dirigentes ocupavam-se na transformação do clube
de futebol em clube-empresa.
Fizeram até uma reforma estatutária e criaram um
Conselho de Gestão, com a participação de empresários e
executivos de Florianópolis. Pensando em negócio, em patrocínio,
em investimento, em administração, em produtividade, em
rentabilidade.
Em Pernambuco, o Clube Náutico Capibaribe, cansado
de baixo desempenho diante dos seus maiores rivais - Sport Club
Recife e Santa Cruz Futebol Clube - saiu na frente e em junho de
1999 virou Náutico S.A.Fez parceria com a Goal Company,
empresa responsável para atrair novos investidores e dar novo rumo
administrativo ao tradicional clube alvirrubro pernambucano.
Essa revolução está chegando também ao interior do
Brasil. Um belo exemplo é o Juventude, de Caxias do Sul, nova
força do Rio Grande do Sul, campeão gaúcho de 1998, depois de
60 anos de hegemonia absoluta do futebol da capital (Grêmio e
Internacional) sobre o do interior. Antes, nos gramados dos
pampas, somente existia o clássico Grenal, agora existe também
o Juvenal.
Desde 1994 o clube de Caxias, fundado em 1913, vem
crescendo com uma organização mais eficiente, recebendo
patrocínio de uma multinacional e investindo em novos talentos.
Resultado histórico: campeão da Copa do Brasil de 1999, diante
de 100 mil torcedores do Botafogo, em 17 de junho, em pleno
Maracanã (0X0), garantindo sua vaga na Taça Libertadores da
América de 2000. Alguma explicação? Eis uma de Divino Fonseca,
da crônica esportiva de Porto Alegre:
93
Os dirigentes do Juventude sabem escolher o elenco.
Pegam o jogador médio, que o grande clube aproveitou mal e lhe
dão chance de crescer.(34)
Que significa isso? Que mudança é essa?
Merece espaço a interpretação de quem tem visto o jogo
à beira do gramado dos negócios, observando o fim dos clubes que
não conseguem pagar as contas do fim do mês e que sobrevivem a
golpes de sonegação de impostos e de encargos, além de atraso
nos salários aviltados de seus jogadores. Com a bola, o comentarista
econômico, Joelmir Beting:
A profissionalização do futebol já virou um movimento
epidêmico. Contamina clubes grandes, médios e pequenos. Das
capitais e de cidades do interior. E não menos fantástico, com
dezenas de grupos multinacionais, com ou sem raiz nos gramados,
pedindo passagem na carpintaria ainda ressabiada do Futebol
S.A. Até aqui, um tetra mundial dentro de campo e um perna-depau fora dele.(35)
Ainda Joelmir, explicando que o novo pulo do gato está
diretamente relacionado com a revolução na indústria do
entretenimento, disparadamente, a maior do mundo em negócios
diretos e indiretos, e da qual faz parte o futebol, dentro do conceito
de show-biz, como o maior segmento da indústria do esporte, única
modalidade verdadeiramente globalizada:
O clube que não embarcar nesse bonde que passa não
mais erguerá uma única taça no futuro que já chegou.
Evidentemente, apesar dos avanços de profissionalização
na administração do futebol no Brasil, tetracampeão mundial, mesmo
os maiores e mais importantes clubes, como Flamengo, Vasco,
Corinthians, São Paulo Palmeiras, ainda estão distantes do sistema
de gestão empresarial e de rentabilidade do inglês Manchester United,
clube mais rico do mundo, que teve faturamento de US$ 400 milhões
em 1998. Um clube que vale U$ 1 bilhão.
94
Muitíssimo mais distante ainda, obviamente, e numa
escala incomparável, está o Juazeiro Esporte Clube. Mas, a nova
força do futebol no eixo nordestino do Brasil, está deixando de
lado os métodos tradicionais e buscando parcerias para um projeto
de acordo com a modernização do futebol brasileiro.
Em Juazeiro do Cariri, pelo menos, já existe uma nova
mentalidade, uma fé formada em nova concepção de gestão, sem
asquerosidade, sem simploriedade e sem primarismo, mas sob o
princípio da razoabilidade, como sugere Armando Nogueira em
sua crítica:
O maior erro do clube no profissionalismo é ser
administrado por torcedores apaixonados. Os quadros dirigentes
não são escolhidos pelo critério da competência. A grande
credencial do diretor ou está no bolso ou no coração. Nunca na
cuca. E administrar uma empresa com o ânimo furioso do torcedor
não pode dar certo, nunca! (36)
Felizmente, isso está mudando em várias partes do Brasil,
inclusive em Juazeiro do Cariri. Pelo seu modelo tentativo de gestão
empresarial, antecipando-se, experimentalmente, à aplicação da
Lei Pelé, e pela filosofia de negócio como empreendimento,
buscando eficiência, produtividade e rentabilidade, o Juazeiro está
fazendo tudo para ser conhecido, reconhecido e festejado como
Manchester do Cariri.
Dessa maneira, ofootbusiness, novo paradígma do futebol,
veio reforçar a imagem progressista de Juazeiro do Norte, desde a
década de 60 conhecida no Nordeste como Manchester do Cariri,
pela sua crescente prosperidade comercial, seu significativo
desempenho de produção industrial e seu acelerado crescimento
econômico. Agora, Manchester também pelo futebol, expressão
de sua nova força de desenvolvimento.
Exagero descabido? Apelo marqueteiro? Anseio delirante?
95
Parece oportuno lembrar, novamente, o Dr. Deming, ao
considerar os interesses e as expectativas de cada clientela em
relação aos seus respectivos produtos, com sua exemplar
ilustração de uma caneta tinteiro cara e um caneta esfereográfica
barata:
Embora elas pareçam ter usos similares, elas são, de fato,
produtos tremendamente diferentes que combinam com expectativas e definições de qualidade tremendamente diferentes dos
clientes.
Para atingir seus objetivos, o Juazeiro tem demonstrado
disposição gerencial de funcionar como sistema, seguindo a teoria
de ministar, tendo pleno conhecimento e pleno reconhecimento da
importância, como fator fundamental gerador de sucesso, da
aplicação do marketing levitiano, baseado na percepção completa
das forças que atuam no mercado e assim definido:
Constitui os olhos e os ouvidos da empresa para o mundo
- o único mundo para o qual a empresa dirige seus esforços... tem
a responsabilidade de vender o que a empresa produz, mas também
deve aceitar a responsabilidade importante de decidir o que ela
deve fazer, e é responsável pelo contato constante com a realidade
do mundo do cliente, que evolui constantemente.
Em visita ao Cariri você mesmo poderá conferir que
Juazeiro hospitaleiro dos romeiros brasileiros é também o Juazeiro
do Brasil pandeiro, do Brasil futeboleiro, da República
Generalizada, como gostava de dizer Apparício Torelly, o
espirituoso Barão de Itararé. Que o Juazeiro Romeiro, socialmente
ainda cheio de necessidades, tem a mesma cara de esperança do
Brasil mágico de Pelé, Garrincha, Didi, Leônidas, Rivelino, Senna,
Fittipaldi, Piquet, Oscar, Falcão, Gerson, Tostão, Zico, Ronaldinho,
Romário e todos os geniais campeões dos esportes que fizeram ou
fazem a alegria do povo, aliviando suas carências coletivas. Que o
progresso de Juazeiro está, mais do que nunca, sustentado sobre o
trinônimo Religião-Trabalho-Futebol.
96
Será possível constatar no sentimento do povo de Juazeiro
que a cidade e seu principal clube de futebol desejam e querem
parecer uma pequena e fervilhante Manchester,em permanente
evolução e transformação, tentando reproduzir-se e autoestimarse, comparativa e sugestivamente, em dimensão miniaturizada do
tradicional centro industrial e futebolístico da velha Inglaterra.
Juazeiro tem ainda mais de 800 anos de história para tentar
se tornar uma Manchester e o Juazeiro tem ainda 120 anos de jogo
para tentar se tornar um Manchester United, mas, pelo menos, está
começando no caminho certo em direção ao futuro, aquele futuro
apontado por Anatole France como o melhor lugar para se colocar
os sonhos.
Pode ser que até lá morra o burro Astrólogo de La
Fontaine, porém, dificilmente, o clube azulão do Vale do Cariri
deixará de atingir seus objetivos. Por diversas razões: tem o
posicionamento competitivo de Hooley; tem disposição para
funcionar como o sistema do Dr. Deming; tem a alma do negócio
de Levitt; tem o impulso recomendado por Kotler para fazer
acontecer; tem o espírito de revolução dos campeões de
Shinyashiki; e tem bem claros os seus horizontes de jornada rumo
ao futuro.
Assim está o Juazeiro, como cidade, com foco no
desenvolvimento produtivo, sustetável e competitivo, e como clube
de futebol, com foco no negócio e seus efeitos sociais, econômicos
e culturais. Sem qualquer concessão de generosidade, o Juazeiro é
um belo ensaio de clube-empresa, de acordo com os novos
princípios e critérios que prometem fortes mudanças na gestão e
na qualidade do futebol brasileiro.
Logicamente, somente o excelente desempenho técnico
em campo não será suficiente para o êxito completo do Juazeiro
como clube-empresa. Em vez de depender de apenas um diferencial
97
ou impulso importante, a empresa precisa tecer sua teia de
qualidades e atividades de marketing, lembra Kotler apontando o
caminho do sucesso.
Para isso, em Juazeiro do Norte, cidade e clube trabalham
e jogam, jogam e trabalham, sinergeticamente, sem parar, sem
esmorecer, superando limitações e desafios, determinadamente,
com vontade permanente de vitórias e mais vitórias. Sabem que,
na Revolução dos Campeões as vitórias são resultado de estratégia,
visão e determinação. Sabem que essa revolução não pode parar e
somente assim poderão defender, desenvolver, promover, proclamar
e propagar Juazeiro como Manchester do Cariri.
98
RESULTADOS
Primeiro Turno
22/novembro/1998:
Uniclinic
1 X Juazeiro 1
25/novembro/1998:
Juazeiro
0 X Itapipoca 0
29/novembro/1998:
Limoeiro
3 X Juazeiro 1
02/dezembro/1998:
Quixadá
0 X Juazeiro 1
06/dezembro/1998:
Juazeiro
3 X Uruburetama 0
09/dezembro/1998:
Juazeiro
2 X Tiradentes 1
12/dezembro/1998:
Ferroviário 1 X Juazeiro 2
15/dezembro/1998:
Ceará
1 X Juazeiro 1
19/dezembro/1998:
Juazeiro
3 X Fortaleza 2
27/janeiro/1999:
Juazeiro
2 X Tiradentes 1
31/janeiro/1999:
Juazeiro
1 X Ceará 0
03/fevereiro/1999:
Tiradentes 1 X Juazeiro 0
07/fevereiro/1999:
Ceará
3 X Juazeiro 2
Observação: Ceará campeão do Primeiro Turno
Segundo Turno:
09/março/1999:
11/março/1999:
14/março/1999:
17/março/1999:
28/março/1999:
31/março/1999:
04/abril/1999:
11/abril/1999:
25/abril/1999:
01/maio/1999:
05/maio/1999:
Uruburetama 0 X
Uniclinic
2 X
Juazeiro
0 X
Ferroviário 1 X
Juazeiro
3 X
Juazeiro
1 X
Juazeiro
0 X
Ceará
0 X
Quixadá
1 X
Juazeiro
0 X
Juazeiro
1 X
99
Juazeiro 1
Juazeiro 2
Ceará 0
Juazeiro 3
Uruburetama 1
Uniclinic 1
Ferroviário 0
Juazeiro 2
Juazeiro 2
Quixadá 1
Uniclinic 1
08/maio/1999:
Ceará
1 X Juazeiro 2
12/maio/1999:
Uniclinic
1 X Juazeiro 1
19/maio/1999:
Juazeiro
1 X Ceará 0
Observação: Juazeiro campeão do Segundo Turno
Terceiro Turno
26/maio/1999:
Itapipoca
30/maio/1999:
Fortaleza
02/junho/1999:
Juazeiro
06/junho/1999:
Juazeiro
09/junho/1999:
Juazeiro
12/junho/1999:
Juazeiro
16/junho/1999:
Quixadá
20/junho/1999:
Limoeiro
23/junho/1999:
Juazeiro
26/junho/1999:
Tiradentes
01/julho/1999:
Itapipoca
04/julho/1999:
Juazeiro
07/julho/1999:
Juazeiro
09/julho/1999:
Fortaleza
13/julho/1999:
Juazeiro
15/julho/1999:
Ceará
21/julho/1999:
Ceará
Observação: Ceará Campeão Estadual
Juazeiro Vice-Campeão
100
1
1
0
1
3
0
2
2
2
1
2
1
0
1
2
5
0
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Juazeiro 2
Juazeiro 2
Limoeiro 1
Tiradentes 1
Quixadá 2
Itapipoca 0
Juazeiro 3
Juazeiro 5
Fortaleza 1
Juazeiro 1
Juazeiro 2
Itapipoca 0
Ceará 0
Juazeiro 1
Fortaleza 3
Juazeiro 0
Juzeiro 0
Referências
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02) GABOR, Andrea. O homem que descobriu a qualidade.
Rio de Janeiro, Qualitymark, 1994
03) O Globo, Rio, 30-05-1999
04) LEVITT, Theodore. Marketing para Desenvolvimento dos
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05) CERQUEIRA NETO, Edgard Pedreira. Gestão da Qualidade.
São Paulo, Pioneira, 1993
06) Revista HSM Management, São Paulo, maio/junho, 1999
07) Anuário Estatístico do Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística. Rio de janeiro IBGE, 1998
08) MARGERISON, Charles. Gerência de Grupos de Trabalho.
São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1975
09) O Povo, Fortaleza, 21-05-1999
10) O Povo, Fortaleza, 21-05-1999
11) Tribuna do Ceará, Fortaleza, 20-05-1999
12) SHINYASHIKI, Roberto. A Revolução dos Campeões. São
Paulo, Editora Gente, 1995
13) Jornal do Cariri, Juàzeiro do Norte, 19-05-1999
14) Jornal do Cariri, Juàzeiro do Norte, 20-05-1999
15) Diário do Nordeste, Fortaleza, 20-05-1999
16) Tribuna do Ceará, Fortaleza, 21-05-1999
17) O Povo, Fortaleza, 20-05-1999
18) Povo, Fortaleza, 31-05-1999
19) Diário do Nordeste, 31-05-1999
20) Diário do Nordeste, 02-06-1999
21) Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 13-06-1999
22) O Povo, Fortaleza, 02-06-1999
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23) HOOLEY, Graham. Posicionamento Competitivo. São Paulo,
Makron Books, 1996O
24) Diário do Nordeste, Fortaleza, 21-05-1999
25) O Povo, Fortaleza, 23-05-1999
26) O Dia, Rio de Janeiro, 30-05-1999
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28) Diário do Nordeste, 23-07-1999
29) Diário do Nordeste, Fortaleza, 07-07-1999
30) Tribuna do Ceará, Fortaleza, 02-07-1999
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32) Placar, São Paulo, Nº 1145, Novembro, 1998
33) Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23-05-1999
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36) NOGUEIRA, Armando. O melhor da crônica brasileira.
Armando Nogueira e outros.
Rio de Janeiro, José Olympio, 1997
102
“Pólo de convergência regional do progresista
Vale do Cariri e favorecido pela sua posição
geográfica equidistante dos maiores mercados
do Nordeste, 530 quilômetros do Recife e de
Fortaleza, Juazeiro do Norte está consolidado
como um dos principais centros de negócios com
influência sobre a região de mais de 1 milhão
de habitantes e vasta área ao longo do estratégico
Eixo Transnordestino de Desenvolvimento”.
103

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