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Sumário
Introdução
1.a : Fazer sua parte na luta contra o efeito estufa adicional proveniente da atividade
Página 3
humana, uma fervorosa obrigação
1.b : Objetivos gerais do projeto
1.c : Por que o Brasil ?
Página 4
Página 5
Dez Anos Atrás : Um Protótipo Vivo, Uma Grande Aventura Humana
2.a : A visão da Peugeot sobre o controle dos gases de efeito estufa
2.b : O Office National des Forêts e o papel da floresta na luta contra o efeito estufa
2.c : Os primeiros passos do projeto
Página 7
Página 8
Página 10
Evolução das superfícies plantadas de 1999 a 2004
Superfície total reflorestada (excluindo as zonas de recuperação natural/enriquecimento) :
Página 14
1742 ha
O projeto hoje : uma realização exemplar e um acompanhamento
científico de primeira ordem
3.a : O balanço de carbono do projeto
Página 15
Ao cabo de dez anos, resultados estimulantes
Página 17
Curva de crescimento em diâmetro das principais essências plantadas
3.b : Um laboratório científico em tamanho natural
Página 18
Página 19
3.c : O projeto e seu contexto institucional
Página 21
O comitê científico consultivo
Página 22
Página 24
3. d Um projeto aberto para seu entorno econômico, educacional e social
O futuro do projeto
4.a : Estocagem de carbono e monitoramento
Página 27
4.b : Três projetos prioritários
Página 27
Página 29
Página 29
Página 31
A criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Nacional
Reforçar o aspecto social do projeto
Alguns números
Annexes
Etudes scientifiques puits de carbone Peugeot ONF
Página 32
Introdução
1.a : Fazer sua parte na luta contra o efeito estufa adicional proveniente da
atividade humana, uma fervorosa obrigação
• Quando a Peugeot decidiu empreender uma vasta ação de mecenato científico e ecológico, financiando
integralmente um inovador projeto de reflorestamento destinado a seqüestrar carbono, com duração de 40
anos, na Amazônia, e de realizá-lo com a ajuda do Office National des Forêts, estávamos no outono de 1998,
pouco após a assinatura do Protocolo de Kyoto.
• Peugeot e o Grupo PSA tinham acabado de apresentar um motor dotado de uma tecnologia altamente
inovadora, o motor Diesel Common Rail HDi que se propunha a reduzir em 20 %, o consumo e as emissões
de CO2 e em 50 % as emissões de poluentes regulamentados na fonte e que se tornou rapidamente o
motor a diesel de tecnologia avançada mais produzido e comercializado no mundo, e prometiam, para dali
a um ano, o filtro de partículas. Essa promessa foi cumprida no ano seguinte, com a apresentação da
tecnologia FAPtm em estréia mundial. Peugeot e o Grupo PSA afirmaram assim sua vontade de se posicionar
como líderes em matéria de veículos com baixas emissões de CO2.
• O Office National des Forêts (Ofício Nacional das Florestas), que administra mais de 11 milhões de
hectares de florestas públicas na França continental e nos Territórios Ultramarinos, militava havia muitos
anos em favor de um maior reconhecimento do papel e da contribuição das florestas na luta contra o
aquecimento global, baseando essa convicção em seu conhecimento dos ecossistemas florestais, enriquecido
pelas parcerias que concluiu com institutos de pesquisa especializados nessa área.
• Desse encontro fecundo entre um industrial do setor automobilístico consciente de suas responsabilidades
ambientais e decidido a desempenhar plenamente o seu papel nessa área, e um dos mais importantes
organismos de gestão de florestas públicas no mundo, nasceram esse projeto e a aventura humana que se
sucedeu e que são o tema deste dossiê de aniversário, realizado por ocasião da reunião em Paris do 9º
Comitê Científico do Poço de Carbono Peugeot ONF.
• Dez anos depois, o projeto do Poço de Carbono Peugeot – ONF na Amazônia é um sucesso, com mais
de 2 milhões de árvores de 50 essências locais plantadas, acompanhado por um programa científico
pluridisciplinar de alto nível, que agrega, na Fazenda São Nicolau, local de implantação do projeto, os esforços
das equipes brasileiras e francesas.
• Ele demonstrou que era possível realizar projetos de reflorestamento que levem em conta não apenas a
preocupação de preservar a biodiversidade mediante a escolha das essências plantadas mas também a
dimensão social, através do respeito e do envolvimento das populações e dos atores socioeconômicos
locais.. Graças ao importante retorno de experiência desse projeto pioneiro, a ONF tornou-se um importante
protagonista dos poços de carbono florestais no mundo, através de sua filial ONFI.
• A Peugeot e o Grupo PSA se mantiveram entre os líderes em matéria de controle de gases de efeito
estufa, graças a uma década de investimentos ininterruptos e maciços no campo das tecnologias de motores,
em total coerência com as opções que fizeram há mais de dez anos.
1.b : Objetivos gerais do projeto
• Situado no norte do Estado de Mato Grosso, na região sul da Amazônia, na « frente pioneira agrícola »
que marca a progressão da agricultura em detrimento da floresta amazônica, o projeto de Poço de Carbono
da fazenda São Nicolau se inscreve em uma dinâmica experimental e de demonstração : é essencialmente
um projeto « piloto », destinado, na medida do possível, a fazer escola.
• A principal vocação do projeto é demonstrar que é possível fazer um reflorestamento com essências
locais na Amazônia, e que esse reflorestamento, através do acúmulo do
carbono atmosférico na madeira pelo processo de fotossíntese, contribui
ao longo de seu crescimento para a luta contra o efeito estufa. Dez anos
após seu lançamento, o projeto já cumpriu seu objetivo : dois mil hectares
de antigos pastos foram reflorestados com sucesso, em grande parte
com essências amazônicas, e o CO2 estocado no projeto é monitorado
anualmente segundo uma metodologia reconhecida internacionalmente
(método GIEC/IPCC1).
• Porém a visão do projeto não se limitou a esse primeiro objetivo. Ela soube evoluir e adaptar-se tanto
às questões levantadas pelos parceiros científicos como à atualidade dos debates em torno da luta contra
o efeito estufa.
• O segundo objetivo do projeto é o estudo das condições de instalação dessa floresta plantada ex nihilo
: quais as essências de árvores amazônicas que mais se prestam ao plantio? Quais são aquelas que estocam
mais CO2 ? Como o carbono é estocado no solo? E também: como as espécies animais se apropriam desse
novo espaço florestal? quais os parasitas que podem surgir nas árvores plantadas e quais as estratégias para
tratá-las? etc.…Tais são as perguntas que interessam a comunidade científica e cujas respostas serão úteis
para controlar as condições necessárias ao êxito do programa de reflorestamento em zona tropical.
• A fazenda São Nicolau constitui atualmente um verdadeiro « laboratório de campo» em áreas tão
variadas quanto a silvicultura, o manejo florestal, a ecologia, a entomologia , as ciências do solo e, logicamente,
o estudo do ciclo do carbono. Em todas essas áreas e há quase uma década, o projeto serve de campo de
análise para inúmeros estudos,realizados em colaboração com parceiros científicos brasileiros e internacionais,
que apreciam a reflexão de longo prazo propiciada por esse projeto de 40 anos de duração.
• Assim, foi possível adquirir uma vasta experiência, posta à disposição da comunidade científica brasileira
e internacional.
• Atualmente, numa altura em que as negociações internacionais se interessam pelos mecanismos de «
desflorestamento evitado » e de « degradação evitada », o projeto pretende alimentar a reflexão científica
em pano de fundo dos debates, graças à sua área de floresta natural onde será instalado um dispositivo de
monitoramento dos estoques de carbono (ver IV) : essa nova orientação da reflexão internacional sobre o
efeito estufa corresponde a um novo desafio para o projeto!
1) GIEC/IPCC : Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre o Clima (em inglês : Intergovernamental Panel of experts on Climate Change)
2) Entomologia : ciência que estuda os insetos.
1.c : Por que o Brasil ?
A escolha do Brasil se impôs desde o princípio como uma evidência. Do ponto de vista técnico, os
ecossistemas florestais tropicais (florestas tropicais úmidas sêmper-vírens) são biótopos particularmente
interessantes, em razão do rápido crescimento da biomassa nessas latitudes, o que otimiza o seqüestro de
CO2.
A importância mundial da bacia florestal amazônica como um « Poço de Carbono » natural que deve ser
conservado e administrado, fez logicamente da região um local de implantação ideal para um projeto
destinado a combater o efeito estufa.
A Peugeot e o Grupo PSA começavam a escrever uma nova página de sua história com a implantação de
uma fábrica no Brasil, no Estado do Rio, que seria inaugurada no início de 2000. Nada mais lógico para a
Peugeot do que implantar, por sua vez, essa ação de mecenato no Brasil, simbolizando o compromisso
duradouro que assumia junto ao povo brasileiro. A Peugeot e a ONF beneficiaram-se com a presença no
Brasil de seu parceiro Pro-Natura, uma ONG ambiental que acompanhou os primeiros passos do projeto.
Se essa escolha devesse ser refeita hoje, não resta a menor dúvida que o Brasil encabeçaria a lista dos países
passíveis de acolher um projeto desse tipo, devido ao papel importante que desempenha à frente dos países
emergentes, em diversas áreas, incluindo no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudanças do Clima, cada vez mais essencial.
Dez Anos Atrás : Um Protótipo Vivo,
Uma Grande Aventura Humana
Há dez anos, o Office National des Forêts, organismo de gestão das florestas públicas francesas desde há
décadas, e a Peugeot, fabricante de automóveis líder na Europa em matéria de veículos com baixas emissões
de CO2, decidiram se associar no âmbito de uma parceria inovadora e fecunda, para lançar o projeto Poço
de Carbono na Amazônia.
2.a : A visão da Peugeot sobre o controle dos gases de efeito estufa
ÎÎUma liderança construída no longo prazo
Se hoje a Peugeot é verdadeiramente líder entre todos os seus concorrentes automobilísticos no controle
dos gases de efeito estufa, isto não se deve de modo algum ao fato do assunto estar « na moda ».
Uma tal liderança, em função da intensidade dos esforços exigidos em matéria de P&D dos programas
industriais relacionados, é algo que se constrói em não menos de uma década.
O Grupo PSA investiu 2,8 bilhões de euros com seus parceiros na renovação completa de suas linhas de
motores a diesel e a gasolina em menos de dez anos, o que corresponde a pelo menos três lançamentos de
veículos. Por detrás das idéias, existem números… importantes.
ÎÎA contribuição efetiva dos automóveis
Os automóveis contribuem para a formação do efeito estufa adicional proveniente da atividade humana,
assim como a maioria das atividades que utilizam combustíveis fósseis. Isto é algo que ninguém pode ignorar,
pois tal atitude não seria nem eficiente nem honrada.
No entanto, é preciso avaliar corretamente a parte que cabe aos automóveis e que está muito distante das
idéias veiculadas todos os dias pelos diferentes meios de comunicação. O WRI (World Resource Institute),
um dos mais importantes e confiáveis think-tanks mundiais do meio ambiente, estimou em suas últimas
estatísticas que a participação dos transportes (incluindo todas as modalidades) representa 12 % do CO2
antrópico emitido anualmente no mundo. Partindo dessa estimativa, pode-se imputar aos automóveis cerca
de 8% a 9% das emissões totais, fora do ciclo natural. Trata-se de uma responsabilidade real, porém muito
inferior àquela que se atribui habitualmente aos automóveis. O WRI atribui 25 % das emissões à indústria
(todos os componentes incluídos) e 18 % a « land use changes » (mudanças na utilização dos solos), onde
a responsabilidade do desflorestamento representa quase 95 %. Essa última fonte de emissões tem um peso
duas vezes maior que o dos automóveis e deve ser alvo de uma vigilância específica.
ÎÎUma estratégia para manter e reforçar a liderança da Peugeot
Numa época de energia duravelmente cara em que os governos europeus tendem a tributar os automóveis
em função de sua “marca de carbono”, em coerência com os principais desafios
ambientais, a liderança da Peugeot em matéria de controle dos gases de efeito estufa
constitui não somente uma alavanca em termos de imagem, mas também uma
alavanca de crescimento que convém ampliar.
Simbolizada pelo programa « Blue Lion », que sintetiza as ações da Marca em matéria
ambiental, desde a produção até a utilização, passando pelo « final de vida do veículo
», a tendência natural da Peugeot é buscar em permanência uma melhor integração
do automóvel ao meio ambiente.
ÎÎHibridação maciça e progressiva no início da próxima década
Novas alavancas serão acionadas pela Peugeot a partir do início da
próxima década, com uma estratégia maciça e progressiva de hibridação
de sua linha de produtos. Em 2011, a Peugeot pretende vender várias
centenas de veículos « micro-híbridos » equipados com o sistema Stop
& Start, que permite uma redução adicional de 8% à 15 % do consumo
e das emissões de CO2.
Além disso, nessa mesma data a Peugeot vai lançar o primeiro veículo
de sua linha equipado com uma inédita cadeia de tração híbrida a diesel,
que permitirá um ganho de consumo de 35% além da motricidade
integral (4x4). Uma revolução ambiental e também em termos de
segurança e desempenho, que demonstra que não há nenhuma incompatibilidade entre respeito pelo meio
ambiente, prazer automobilístico e modelo econômico bem sucedido.
2.b : O Office National des Forêts e o papel da floresta na luta contra o efeito
estufa
ÎÎAs florestas na luta contra o efeito estufa
As florestas atuam na luta contra o aquecimento global pois estocam o dióxido de carbono (ou « gás
carbônico », CO2), um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa, devido a seu acúmulo na
atmosfera.
O mecanismo que permite o seqüestro do carbono atmosférico na biomassa arbórea é a fotossíntese,
mediante a qual as superfícies das folhas, sob a ação da energia luminosa, absorvem gás carbônico (CO2) e
liberam oxigênio (O2). Os processos de fotossíntese, de respiração, de transpiração, de decomposição
sustentam a circulação natural do carbono entre os ecossistemas e a atmosfera.
ÎÎO ciclo do carbono e as florestas do mundo: balanço global
Todas as florestas são reservatórios de carbono. Na fase de crescimento da floresta, o estoque de carbono
aumenta na biomassa – é o que se chama de « poço de carbono ». Quando o estoque diminui (incêndios, corte
rente sem replantio, exploração não sustentável), fala-se de « fonte de carbono ». As atividades humanas que
conduzem a uma mudança da utilização do solo (desflorestamento), transformando algumas áreas florestais em «
fontes de carbono », representam cerca de 20% das emissões mundiais de gases de efeito estufa.
A florestação, ao contrário, permite aumentar a capacidade de estocagem dos ecossistemas terrestres. Quando se
floresta um terreno agrícola nu, a floresta absorve carbono durante a fase de crescimento e em seguida se estabiliza
quando atinge a maturidade, com um estoque de carbono mais elevado por hectare do que antes do plantio.
stoque de carbono por
hectare
O manejo florestal sustentável também contribui para preservar a função de reservatório das florestas, prevenindo
e limitando as perturbações naturais e antrópicas, e estruturando os povoamentos arbóreos dotados de uma
maior capacidade de estocagem.
absorção
óptima
estocagem
óptima
tempo
Um ritmo de estocagem variável ao longo do crescimento
ÎÎO Office National des Forêts : um organismo de gestão florestal implicado nas questões climáticas
O Office National des Forêts, organismo de gestão das florestas públicas francesas desde 1966, compreendeu
bastante cedo, devido a suas atribuições, a importância da gestão e do crescimento das florestas em escala
mundial, e sobretudo o papel desempenhado por elas na regulação do clima e na luta contra o efeito
estufa.
Office National des Forêts e ONF-International
LO Office National des Forêts é o organismo público responsável, na França, pela gestão das florestas públicas e
das florestas das coletividades territoriais. Com cerca de 11 milhões de hectares, a ONF é um dos mais importantes
organismos de gestão de maciços florestais no mundo. A ONF também é responsável pela gestão de 6 milhões
de hectares de floresta tropical amazônica, na Guiana, um fato raro para um país de clima temperado. Essa «
experiência amazônica» da ONF contribui para enriquecer o projeto Poço de Carbono no Brasil, graças à troca
de experiências com a ONF-Guiana.
Herdeira de centenas de anos de experiência francesa em gestão florestal, a ONF exporta atualmente o seu
know-how para dezenas de países, através de sua filial ONF-International. A ONF-International e suas filiais
ONF-Brasil, ONF-Andina na Colômbia, ONF-Conosur no Chile e Sylvafrica no Gabão desenvolvem há dez anos
um know-how em matéria de gestão florestal vinculada ao desenvolvimento local.Além disso, a ONF-International
está fortemente implicada na problemática da luta contra o efeito estufa através da estocagem de CO2 em
plantios e também na prevenção do desmatamento e da degradação florestal. A ONF-I contribui com sua
competência para a reflexão internacional sobre as mudanças climáticas, e implementa projetos concretos de luta
contra o efeito estufa em florestas naturais ou plantadas.
A realização do Poço de Carbono Florestal Peugeot a partir de 1998 por intermédio de sua filial ONFBrasil, dotou a ONF de um suporte concreto para sua reflexão : um projeto de campo inteiramente
construído e voltado para o tema da estocagem de CO2 para combater o efeito estufa. O objetivo era
recriar, em um terreno desmatado, uma cobertura florestal e estudar, ao longo do crescimento dessa
cobertura, as modalidades de absorção de gás carbônico pelo « Poço de Carbono».
No seguimento desse projeto pioneiro, através de sua filial ONF-International, voltada atualmente em
grande medida para o tema da luta contra o efeito estufa, a ONF implantou diversos projetos de estocagem
de CO2 em plantios, na África (República dos Camarões) e na América Latina (Colômbia, Chile com as
comunidades Mapuche). Esses projetos sempre foram realizados com parceiros locais, tentando atender
prioritariamente às necessidades ambientais (proteção de bacias vertentes contra a erosão, por exemplo) e
sociais (produção de madeira de lenha /madeira de obra /frutas para as comunidades locais).
Além disso, a partir de 2000, a ONF participa dos trabalhos da Missão Interministerial sobre o Efeito Estufa
(MIES), ponto focal francês de luta contra as mudanças do clima. Na equipe de negociação francesa, a ONF
também participa de todos os debates internacionais no âmbito da Convenção sobre o Clima da ’ONU
(CCNUCC3).
3) Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima.
2.c : Os primeiros passos do projeto
Com a assinatura do contrato Peugeot / ONF em setembro de 1998, começou a contagem
regressiva para a instalação dos plantios. A compra de um terreno numa área em que a situação
fundiária nem sempre está regularizada, a produção de mudas de essências locais pouco conhecidas,
a instalação de uma equipe de cerca de uma centena de pessoas numa região de difícil acesso,
com infra-estruturas precárias, constituíram um verdadeiro desafio, uma aventura humana.
ÎÎ1998-1999 : a instalação do projeto
A Fazenda São Nicolau
• Um longa busca conduziu à compra, na primavera de 1999, da Fazenda São
Nicolau, uma propriedade de 10.000 ha situada na margem direita do Rio Juruena.
Essa propriedade foi comprada pelo projeto (ONF Brasil), com o apoio da ONG
Pro-Natura implantada localmente e parceira do projeto. A Peugeot optou por
não ter direitos de propriedade sobre o local.
• A Fazenda São Nicolau está situada a três horas de avião e a mais de nove
horas de estrada da cidade de Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso.
• Na época, a propriedade tinha 7.000 hectares de florestas naturais, das quais
cerca de 1.500 ha de mata ciliar com elevado valor ecológico, 2.000 hectares de
pastos e 1.000 hectares de capoeira , sendo que esses dois últimos sistemas
constituíam a área a ser reflorestada.
4) Mata ciliar : floresta que margeia cursos de água
5) Capoeira : área florestal –de mata ciliar, neste caso – com uma secundarização importante (degradada), caracterizada pela presença de inúmeras
palmeiras.
Preparar o local
• Os primeiros plantios foram previstos para o outono de 1999. O período de abril a setembro foi
consagrado à preparação do local. Primeiramente foi preciso averiguar e materializar a delimitação da
propriedade in loco (medida de segurança fundiária), e em seguida selecionar e delimitar as áreas a serem
plantadas na primeira campanha. Foram realizadas importantes obras de infra-estrutura: conservação e
criação de estradas, canalização da rede hídrica, adequação dos prédios necessários ao projeto.
Produzir as mudas
• O projeto optou por valorizar o patrimônio natural local, recorrendo maciçamente a essências nativas
para a plantação. Foi uma escolha exigente e audaciosa. Essas essências se desenvolvem habitualmente sob
a cobertura florestal, ou seja, num meio úmido e sombreado. Até então, elas
tinham sido pouco ou nada utilizadas em reflorestamentos, no Brasil ou em
outros países. Foi portanto preciso testar pela primeira vez os « itinerários
técnicos » característicos de cada essência. Mais de cinqüenta essências locais
foram testadas durante as campanhas de plantação, um record para esse tipo
de projeto. Podemos falar de uma verdadeira reconstituição da biodiversidade,
visto que a floresta primária da fazenda continha cerca de 250 essências
diferentes.
• Um viveiro, especialmente criado para o projeto, facultou a produção de cerca de 500.000 mudas por
ano. Ele ainda funciona na fazenda para atender as necessidades pontuais de reposição, com uma capacidade
de produção de 70.000 mudas.
Viveiro : da semente até a muda
Na ausência de uma tradição de silvicultura para as essências locais, as sementes devem ser colhidas
diretamente na floresta. Como essa colheita requer um conhecimento e um know-how locais, o projeto
recorreu naturalmente aos pequenos agricultores e às comunidades indígenas que conhecem muito bem a
floresta.
A frutificação das essências florestais reserva algumas surpresas em meio tropical : não há um período fixo,
como o verão nas regiões temperadas, para a produção de sementes. Portanto, é preciso ficar vigilante ao
longo de todo o ano …
Essas sementes são em seguida armazenadas e tratadas no viveiro criado especialmente para o projeto. É
preciso realizar testes de germinação para avaliar a eficácia dos tratamentos aplicados às sementes
(escarificação, embebição …). Após a germinação, as jovens mudas são replantadas em caixas prosseguem
seu crescimento num meio controlado em termos de água, nutrição e luz. Precisa-se perto de 6 meses
para prpduzir uma muda madura, pronta a enfrentar o calor e a concorrencia das gramineas.
Formar uma equipe de projeto
• No início do projeto, o ritmo de plantio, tal como programado, exigiu a contratação de noventa a cem
operários, alojados na fazenda. Atualmente, a equipe permanente do projeto, 100% brasileira, é formada por
cerca de doze pessoas. A essa equipe vêm se somar os pesquisadores, estudantes, estagiários e operários
temporários que reforçam os efetivos do projeto em períodos que podem ser longos. Portanto, o projeto
está em atividade permanente.
ÎÎ1999-2003 : Os grandes trabalhos de plantação
• Os trabalhos de plantação foram norteados por um objetivo central : controlar as gramíneas (capim).
De fato, os antigos pastos onde seriam feitas as plantações eram formados por plantas herbáceas
extremamente agressivas, selecionadas para obter a melhor produção de capim para o gado, que na
gestão do antigo proprietário, tinha substituído a floresta. Essas gramíneas possuem um sistema radicular
muito denso e um alto poder de disseminação: uma concorrência árdua para as jovens mudas de árvores.
ÎÎ1999-2000 : uma primeira batalha difícil
• A primeira campanha de plantação foi realizada após a preparação do terreno
com arado de disco e foi tratada manualmente. Foram testados vários tipos de
plantio: plantio pleno com densidades variáveis (de 500 a 1.500 mudas/hectare)
nos pastos, e plantio em linha nas áreas de floresta degradada (capoeira). O
controle das gramíneas revelou-se bem mais complicado do que previsto. A
taxa de sucesso obtida foi contudo bastante satisfatória em se tratando do
primeiro ano de plantio e de um projeto pioneiro, com uma sobrevivência de
60% a 70%.
ÎÎ2000-2003 : o sucesso vem com o trabalho e a experiência
• A experiência adquirida na primeira campanha levou a reduzir o ritmo de plantio e a concentrar os
esforços na realização de testes visando um controle mais efetivo das gramíneas.Vários itinerários técnicos
foram experimentados, como a utilização de plantas de cobertura ou a aplicação de serragem no solo para
impedir a volta das gramíneas. Contudo, além dos resultados não terem sido determinantes, a custo da
utilização da técnica era demasiado elevado para permitir a replicação do projeto.
• No final da estação, surge uma solução: o controle do capim passou a ser efetuado por meio de uma
pastagem controlada do gado nas parcelas, antes dos trabalhos de plantio. Um acordo foi concluído
rapidamente com um criador de gado da região para o aluguel dos pastos. Também foram instaladas cercas
elétricas para dirigir o gado : uma experiência « silvipastoral » eficiente.As emissões decorrentes da presença
dos ruminantes são evidentemente contabilizadas no balanço de carbono do projeto.
• A campanha de plantação 2001-2002 decorreu em excelentes condições, com uma taxa de sucesso das
plantações de 90% a 95%. O gado passou a ser utilizado também para a manutenção das parcelas, a partir
do momento em que as mudas adquiriram resistência à ação dos ruminantes. Ainda hoje, um certo número
de parcelas estão abertas para a pastagem, o que permite não apenas o controle do desenvolvimento das
gramíneas mas também a redução dos riscos de incêndio em períodos de seca, a obtenção de uma fonte de
autofinanciamento para o projeto (aluguel das terras) e uma maior integração no meio socioeconômico
local. Progressivamente, com o crescimento das plantações e o fechamento das copas das árvores, os
espaços disponíveis para a pastagem diminuíram ; com a diminuição do tapete herbáceo, o gado deixará de
pastar na propriedade. (2010-2011).
ÎÎAs operações de plantio atualmente
• A grande fase de instalação do povoamento foi concluída em 2003. A partir dessa data, o ritmo de plantio
baixou para algumas dezenas de hectares anuais, sobretudo para recuperar as áreas degradadas que margeiam
o rio ou para reconstituir as experimentações de 1999.
Evolução das superfícies plantadas
de 1999 a 2004
Superfície total reflorestada (excluindo as zonas de recuperação natural/
enriquecimento) : 1.742 ha
ÎÎÁrea de floresta natural (7.000 ha)
1999-2000 : 750 ha
2000 - 2001 : 70 ha
2001-2002 : 380 ha
2002-2003 : 520 ha
2003-2004 : 30 ha
Plantações
1999 - 2000
2002 - 2003
2000 - 2001
2003 - 2004
2001 - 2002
Áreas de
enriquecimento
(capoeira)
Outras superfícies
Pastos testemunha
Áreas de Preservação
Permanente legais
Áreas de
recuperação natural
Sede (infra-estrutura
de base)
O projeto hoje : uma realização exemplar e
um acompanhamento científico de primeira
ordem
3.a : O balanço de carbono do projeto
ÎÎA metodologia utilizada
• O balanço de carbono
O « balanço de carbono » do projeto permite estimar a quantidade de CO2 efetivamente estocada pelo
projeto. Ele é a diferença entre a quantidade de carbono estocada no « cenário do projeto» e a quantidade
estocada no « cenário de referência » correspondente à ausência do projeto.
Em ambos os casos, o balanço considera a estocagem de CO2 em diferentes compartimentos (biomassa,
solo, raízes, liteira …), e as emissões de CO2 (gado, decomposição da liteira, incêndios, etc…). Também são
considerados os « vazamentos» eventuais, nos casos em que o projeto provoca « deslocamentos de emissões
», como por exemplo quando o deslocamento do gado que ocupava a área do projeto ocasiona novas
queimadas nos terrenos externos.
É o resultado desses cálculos que serve de base para avaliar a eficácia dos reflorestamentos, e que corresponde
mais ou menos à « contribuição real » do projeto em termos de estocagem de CO2.
Tendo em conta a complexidade desses cálculos, compreende-se facilmente que o « balanço de carbono »
do projeto não possa ser realizado todos os anos. O primeiro balanço de carbono completo foi efetuado
em 2003, o segundo em 2008. O projeto de balanço de carbono exaustivo será realizado em 2013. A cada
vez, utiliza-se uma metodologia oficial do IPCC6.
6) IPCC : International Panel of Experts on Climate Change
ÎÎAs análises de amostras
• A quantidade de carbono presente nos diferentes compartimentos é
medida em laboratório. Para tanto, amostras de madeira viva, folhas, raízes,
madeira morta, liteira, capim e solo foram colhidas em campo em 2003 – e
novamente em 2008 – secadas e analisadas em laboratório utilizando
diferentes métodos. Isso permite determinar :
- para as árvores, a quantidade de carbono presente em toda a árvore em função do
diâmetro do tronco, através da elaboração de « equações alométricas ». Um inventário
anual dos diâmetros permite em seguida a obtenção do acompanhamento anual da
estocagem de carbono graças à utilização dessas equações.
- para o tapete herbáceo, a liteira e o solo, as quantidades de carbono presentes por
tonelada de matéria seca e também por hectare.
• Em 2008, as análises das amostras (cerca de 2000 amostras) foram realizadas no
laboratório de bioquímica do CENA (Universidade de
São Paulo), parceiro do projeto. Os resultados das análises
são esperados para janeiro de 2009.
ÎÎA validação da metodologia
• O projeto deseja validar a exatidão e o valor científico desse acompanhamento. Para tanto, escolheu uma
metodologia de medição do carbono entre aquelas já estabelecidas e homologadas pelos peritos do IPCC,
referência do Protocolo de Kyoto e da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima.
• Além disso, a aplicação correta dessa metodologia, o acompanhamento e a documentação dos
procedimentos estão sendo validados por um organismo independente para que nosso projeto possa obter
a « certificação» - o VCS (cf. parte IV a).
Ao cabo de dez anos, resultados
estimulantes
Após dez anos de existência, o projeto desempenhou satisfatoriamente sua função de « reservatório de
carbono» : 53.000 t de CO2 foram seqüestradas7 nos 1.742 hectares de plantações, ou seja, 5,1 toneladas
de CO2 por ha e por ano em média. O seqüestro varia de 2 a 12 t CO2/ha/ano de uma parcela para outra,
em função do modo de plantio (espaçamento) e das essências plantadas. O CO2 é absorvido pelas superfícies
foliares e estocado nas folhas, galhos, troncos e raízes através do mecanismo de fotossíntese. As emissões
provocadas pela utilização de combustível foram estimadas em 2.000 tCO2 desde o início do projeto.
O « balanço de carbono » do projeto é de 53.000 tCO2 – 2.000 tCO2 = 51.000 tCO2 seqüestradas.
Esse balanço não leva em conta a estocagem na madeira morta, na liteira e no solo. esses resultados só
serão conhecidos quando as análises de laboratório de 2008 estiverem concluídas.
Das cinqüenta essências locais plantadas, além da teca, com o objetivo de restaurar a biodiversidade, uma
dezena de essências deram resultados extremamente interessantes. (cf. quadro).
A capacidade de captura de CO2 varia de uma essência para outra. Ela está relacionada essencialmente com
a taxa de sobrevivência das mudas e ao crescimento anual em diâmetro, porém também depende de outros
parâmetros (forma do tronco, densidade da madeira) sintetizados nas « equações alométricas ».
ÎÎAs essências locais « prediletas » do projeto:
• Aquelas que crescem mais rápido, em altura e em diâmetro: a figueira
(Ficus maxima) e a paineira (Chorysia speciosa).
• A mais resistente, a aroeira (Astronium sp.) : mais de 95% de sobrevivência
após 5 anos.
• Aquelas que estocam mais CO2, com diâmetro igual: os Ipês
(Tabebuia sp.)
• E também : a cajazeira, a caixeta (apesar dos parasitas), o freijó, etc…
7) Cálculos realizados a partir das equações alométricas 2003 e dos resultados do inventário no pé de 2008. Metodologia IPCC AR/ACM0001. Graças à campanha
de amostragem 2008 cujos resultados ainda não foram concluídos, novas equações alométricas possibilitarão o aperfeiçoamento dos cálculos.
Curva de crescimento em diâmetro
das principais essências plantadas
16
14
Média de diâmetro
12
10
8
6
4
2
0
Ano 3
Ano 4
Ano 5
Ano 6
Ano 7
Ano 8
Aroeira
Figueira branca mole
Jamelão
Caja
Figueira rosa
Paneira
Caxeta
Freijo
Parica
Figueira branca
Ipê rosa
Peroba
Teca
3.b : Um laboratório científico em tamanho natural
ÎÎO programa de pesquisa resumido – um enfoque pluridisciplinar
• Iniciado em 2000, o programa de pesquisa destina-se a facilitar a utilização do Poço de Carbono Peugeot/
ONF como laboratório em campo, a serviço da pesquisa sobre o papel das plantações contra o efeito estufa.
A área da fazenda, e em particular os 7.000 ha de floresta natural conservada, também oferece possibilidades
muito interessantes nas mais diversas disciplinas para o mundo científico e universitário.
• Além do acesso aos ecossistemas e da disponibilidade das infra-estruturas e do pessoal da fazenda, o
programa de pesquisa dispõe de um fundo anual, co-financiado pela Peugeot e pela ONF, que fornece um
apoio financeiro para as iniciativas de estudo de nossos parceiros brasileiros e estrangeiros. Esse fundo
também propicia a realização de ações de natureza socioeconômica (colheita de castanha-do-Pará com os
pequenos agricultores) ou de conscientização (« classe verde » de educação ambiental).
• Desde 2000, a fazenda acolheu cerca de quarenta iniciativas, nas seguintes áreas :
- Silvicultura e manejo
- Ciclo do carbono/climatologia
- Ecologia
- Mastozoologia, herpetologia, entomologia
- Ciências do solo
- Ciências sociais
• Para além das questões científicas suscitadas pelo projeto, muitos desses estudos proporcionam
simplesmente um melhor conhecimento do biótopo amazônico, numa região ainda muito pouco estudada.
• O parceiro privilegiado do projeto em termos de pesquisa é a Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT), baseada em Cuiabá e em Sinop. O projeto Poço de Carbono representado por seu administrador
ONF-Brasil e a UFMT assinaram em 2001 um acordo de parceria « guarda-chuva » destinado a criar um
quadro formal para as atividades de pesquisa realizadas pelos pesquisadores e estudantes da UFMT na
fazenda.
• O projeto também trabalha com a UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso), com o Instituto
Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA-Manaus), com a Universidade de São Paulo (USP-CENA, laboratório
dos solos), e com o Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (Institut de Recherche pour le
Développement - IRD), França.
ÎÎResultados em todas as áreas
• Os estudos científicos, realizados em parceria com instituições francesas e brasileiras, são realizados em
nível de mestrado, doutorado e pós-doutorado ou no âmbito de estágios de fim de ano de instituições de
ensino superior. Alguns estudos também foram efetuados, a pedido do projeto, por professores das
universidades parceiras, que contribuíram com suas equipes de laboratório e estudantes.
• Além de um melhor conhecimento dos ecossistemas da fazenda, dos mecanismos de seqüestro de
carbono e dos fenômenos ligados à recuperação de uma cobertura florestal, os projetos de estudo se
destinam à publicações científicas.
• Assim, o trabalho de Euler Nogueira sobre a estocagem de carbono nas florestas naturais conduziu à
publicação de um artigo na revista « Forest Ecology and Management ». O inventário da herpetofauna vai
resultar na publicação, no final de 2009, de um guia ilustrado, etc…
• As coleções biológicas (ictiofauna, herpetofauna, entomofauna, pequenos mamíferos) provenientes da
fazenda serão valorizadas em Museus de História Natural, como o museu do Rio.
• As tabelas anexadas a esse dossiê apresentam alguns exemplos dos principais trabalhos concluídos até
agora, por área.
Os trabalhos de monitoramento da biodiversidade
Os programas de monitoramento da biodiversidade são extremamente importantes no âmbito do projeto.
Eles possibilitam avaliar as riquezas biológicas, da flora e da fauna da Fazenda São Nicolau, inserida no
ecossistema amazônico, e em particular de sua área de floresta natural.
Devido à escassez desse tipo de trabalhos no Brasil, principalmente na região noroeste de Mato Grosso, os
resultados desses estudos permitem gerar conhecimentos importantes sobre a riqueza biológica da
região.
Eles também fornecem dados « testemunha » para o monitoramento da biodiversidade nos reflorestamentos.
O objetivo é verificar o impacto do projeto na recuperação do ecossistema natural.
Parte-se da hipótese que o plantio de espécies nativas e exóticas em antigos pastos deve permitir o retorno
progressivo da fauna e da flora nativas das regiões assim “reconstituídas”. Os programas de monitoramento
da biodiversidade permitirão a verificação desse postulado, extremamente importante para o futuro dos
reflorestamentos e para sua viabilidade do ponto de vista ambiental. Essa hipótese, contudo, só pode ser
estudada no longo termo, o que se torna possível graças à duração do projeto « Poço de Carbono ».
• Além dessas realizações, os novos programas de pesquisa em curso tratam de :
- a instalação de um dispositivo de monitoramento dos estoques de
carbono na floresta natural : diferentes itinerários de manejo florestal
serão testados para determinar seu impacto no longo prazo sobre o
estoque de carbono por hectare mas também sobre a biodiversidade
e a regeneração natural.
- o monitoramento da populações de onça pintada e outros grandes
mamíferos nas áreas de reflorestamento da fazenda, na ausência de
qualquer pressão humana, graças a uma rede de armadilhas fotográficas.
Essa operação é montada e monitorada graças à colaboração com o
programa Jaguar Juruena da ONG de conservação Reserva Brasil.
- a avaliação dos estoques de carbono nas essências de plantação marginais: esse trabalho virá completar
os trabalhos de 2003 e 2008 sobre a definição de equações alométricas para a avaliação dos estoques de
carbono em função do diâmetro, para as principais essências da plantação. Ele será realizado no âmbito de
uma teses do INPA de Manaus, e permitirá aperfeiçoar o balanço de carbono do projeto.
foto tirada por armadilha fotográfica na floresta da fazenda São Nicolau – Casal de onças à noite.
3.c : O projeto e seu contexto institucional
ÎÎGovernança : o Comitê Científico Consultivo
• O projeto Poço de Carbono da fazenda São Nicolau é governado pelo Comitê de Pilotagem Peugeot/
ONF, instância executiva que se reúne anualmente e toma as principais decisões operacionais. Esse Comitê
é assistido pelo Comitê Científico consultivo, segunda instância de governança do projeto, que o orienta
sobre as prioridades a implementar no âmbito do programa científico financiado pelo projeto e sobre as
melhorias práticas a adotar nesse contexto.
• Criado em 2000, formado por uma dezena de pesquisadores de diversas instituições francesas e brasileiras,
o Comitê Científico é independente pois é composto por membros exteriores ao projeto. Sua principal
missão é zelar pela continuidade e pertinência das atividades do projeto em relação a seus compromissos
iniciais, e por seu rigor científico. Os membros do Comitê Científico são todos voluntários e não remunerados.
Eles se reúnem no mínimo uma vez por ano (freqüentemente duas vezes) para fazer um balanço do projeto
(atividades operacionais e de pesquisa) e discutir as grandes orientações para os anos seguintes.
• O esquema na página seguinte apresenta a composição atual do Comitê Científico, dividida em quatro
principais áreas de interesse. O Comitê Científico deve ganhar dois novos membros em 2009.
• O Comitê Científico é assessorado desde 2005 pelo pesquisador da UFMT que acompanha o projeto, e
que tem uma visão de conjunto das atividades do projeto e faz a ligação entre o Comitê Científico e a
equipe operacional da fazenda São Nicolau.
O comitê científico consultivo
ÎÎOs parceiros científicos
Com o objetivo de realizar os estudos científicos necessários para responder às grandes perguntas levantadas
pelo projeto, os operadores constituíram progressivamente uma sólida rede de parceiros de pesquisa
brasileiros, franceses e latino-americanos. Essa rede contribui para integrar melhor o projeto no meio
universitário e científico brasileiro, acolhendo as atividades propostas pelos parceiros e colocando os
resultados à disposição da comunidade científica.
Atualmente, os principais parceiros científicos do projeto são:
• No Brasil
- Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Primeiro parceiro do projeto e interlocutor científico de
proximidade, a UFMT participa dos trabalhos científicos realizados na fazenda em áreas tão diversas quanto
silvicultura, ciências florestais, ecologia dos vertebrados, entomologia, ciências do solo, etc… Até agora o
projeto já acolheu cerca de quarenta estudantes e professores da Universidade no âmbito de programas de
pesquisa, sem contar as classes realizadas em campo que todos os anos deslocam cerca de quarenta alunos
e vinte professores até a fazenda São Nicolau.
- UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso), freqüentemente em associação com a UFMT.
- Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA-Manaus) é um parceiro essencial do projeto nas áreas
de gestão florestal e silvicultura e também do ciclo do carbono com o programa de doutorado em Clima e
Meio Ambiente.
- EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para os aspectos ligados à silvicultura e à
gestão florestal.
- UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) para as questões de desenvolvimento rural
(monitoramento do programa de doação de mudas, diagnóstico socioeconômico da região).
- Universidade de São Paulo (USP) é um parceiro mais recente do projeto, em particular através de um
projeto de tese de doutorado sobre estocagem de carbono no solo, em parceria com um instituto de
pesquisa francês. O laboratório de biogeoquímica ambiental do CENA-USP (Centro de Energia Nuclear na
Agricultura – Universidade de São Paulo) é também responsável pela análise das amostras de biomassa para
o monitoramento da estocagem de carbono.
• Na França
- Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento - IRD ( Institut de Recherche pour le Développement).
Representado no Comitê Científico, o IRD, importante organismo francês de pesquisa em zona tropical nas
mais variadas áreas (830 pesquisadores, 72 Unidades de Pesquisa, 30 implantações no mundo) apóia o
projeto mais especificamente na área do ciclo do carbono – atualmente, a parceria abrange o estudo do
carbono no solo, juntamente com o CENA-USP.
- Escola Nacional Superior de Engenharia Rural, das Águas e das Florestas (Ecole Nationale Supérieure du
Génie Rural, des Eaux et Forêts) oferece ao projeto a possibilidade de mobilizar estagiários do terceiro ano
para trabalhos de médio prazo (seis meses) sobre temas variados : valorização dos produtos florestais nãolenhosos, manejo da floresta natural, sistema de informação geográfica do projeto, etc. O dinamismo dos
estudantes da ENGREF e de seus orientadores científicos faz dessa instituição um parceiro indispensável do
projeto.
- INRA Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (Institut National de Recherche Agronomique), também
representado no Comitê Científico.
• Na América Latina
- Centro de Pesquisa e Ensino em Agronomia Tropical (CATIE – Costa Rica) é outro parceiro recente do
projeto. Um organismo com projeção internacional, o CATIE atua, por intermédio da equipe do departamento
de Mudanças Globais, nas áreas da silvicultura e do monitoramento de carbono. A instalação do software
SILVIA na fazenda em 2008 possibilitou a integração dos dados do projeto em uma base de dados internacional
sobre o crescimento das espécies locais em plantios.
3.d : Um projeto aberto para seu entorno econômico, educacional e social
• A fazenda São Nicolau está situada numa região pioneira, onde as principais atividades são a agricultura
e a pecuária e onde fazendas de milhares de hectares coexistem ao lado de assentamentos de pequenos
agricultores e de comunidades indígenas pobres. Se ficássemos alheios a essa realidade socioeconômica e
nos tornássemos um projeto ambiental « santuário », correríamos os risco de provocar incompreensão e
rejeição, comprometendo certamente as chances de multiplicar essa experiência. A Peugeot e a ONF
compreenderam perfeitamente essa dimensão e tomaram todas as medidas necessárias para demonstrar
sua vontade de implantar localmente o projeto.
• O projeto pretende mostrar que a proteção dos ecossistemas e o desenvolvimento local não são
incompatíveis. Essa demonstração passa não apenas pela experimentação concreta de modalidades de
gestão da floresta favoráveis às populações mas também por ações de
conscientização do público.
ÎÎA integração do projeto em seu entorno socioeconômico imediato
• O projeto mantém com o município de Cotriguaçu, onde se encontra, e
com o município vizinho de Juruena, relações seguidas desde sua instalação.
Todos os anos o projeto patrocina o rodeio anual local. Um estande « ONFBrasil » voltado para a conscientização ambiental, é um meio de despertar a
curiosidade e o questionamento da população ribeirinha a respeito desse
projeto que se situa na contramão da dinâmica local.
• Em 2006, o projeto lançou um mini-projeto de coleta sustentável de
castanha-do-pará em seus 7.000 ha de floresta natural, feito por pequenos
agricultores das colônias vizinhas (Vale Verde, Cotriguaçu) em benefício destes
últimos. Realizado em parceria com o programa « GEF/PIC8 » do PNUD9,
essa operação se destina prioritariamente a demonstrar que a floresta pode constituir uma fonte de renda
para as comunidades locais. Triadas e secadas na fazenda, as castanhas são enviadas em seguida para a nova
unidade de processamento de Juruena, instalada pelo programa GEF-Juruena, onde são descascadas e
embaladas. Dessa forma os coletores conseguem evitar os intermediários (« rescatadores ») e podem
vender a castanha por um preço mais vantajoso para uma rede de compradores criada pelo PNUD.
• As próximas etapas : aumentar o número de beneficiários e diversificar os produtos coletados na floresta
(açaí, babaçu).
8) Programa de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade no Noroeste do Mato Grosso / PIC – Programa Integrado da Castanha
9) Programa des Nações Unidas para o Desenvolvimento
O programa de Promoção da Biodiversidade do Noroeste do Mato Grosso / GEF-PNUD
Em 1999, o Projeto Poço de Carbono foi inserido no programa do PNUD-GEF (Programa das nações Unidas
para o Desenvolvimento – Fundo Mundial para o Meio Ambiente), chamado « Projeto de Conservação e Uso
Sustentável da Biodiversidade das Florestas de Fronteira* do Noroeste do Mato Grosso ».
Nessa região, que o GEF considera extremamente importante para a conservação da biodiversidade, os
objetivos principais do projeto são :
- consolidar uma rede de áreas protegidas (Unidades de Conservação e Terras Indígenas)
- constituir uma rede de zonas tampão e corredores ecológicos para garantir a conexão entre essas áreas,
sobretudo no entorno dos cursos de água.
- promover o manejo florestal dos produtos florestais madeireiros e não-madeireiros (especialmente a
castanha-do-pará) através do PIC, Programa Integrado da Castanha, como alternativa (ao desmatamento) de
utilização das áreas florestais.
A participação no projeto PNUD-GEF conduziu à implantação da coleta da castanha-do-pará e de alguns
programas de monitoramento da fauna. Em breve, a criação de uma reserva privada na fazenda (cf. 4b) permitirá
participar da iniciativa « corredores ecológicos » ao longo do Rio Juruena.
O programa envolve um certo número de parceiros, incluindo a SEMA (Secretaria do Meio Ambiente do
Estado de Mato Grosso), a EMBRAPA, a UFMT, etc.). Os municípios de Juruena e Cotriguaçu, e portanto a
fazenda São Nicolau, estão no centro desse projeto.
* da Amazônia
ÎÎA conscientização ambiental, do ensino primário ao superior
• Desde 2001, o projeto desenvolve um programa de educação ambiental voltado para os alunos das
escolas primárias de Juruena e Cotriguaçu. Todos os anos, cerca de 400 alunos dessas escolas vêm em
grupos passar uma semana na fazenda, acompanhados por seus professores e por educadores ambientais
especialmente destacados pelo projeto. Passeios educativos na floresta, trabalhos manuais, peças de teatro :
são vários os meios de educar as crianças para a natureza, de ensiná-los a ter uma outra visão da floresta
que não seja a de um meio hostil cuja única utilidade seria fornecer terra e madeira! Como as crianças
exercem uma influência importante sobre os pais, consegue-se conscientizar centenas de famílias. Diante do
sucesso das chamadas « classes verdes », o projeto decidiu, em 2008, ampliar suas atividades ao município
de Japuranã.
• No nível universitário, o projeto acolhe no mês de agosto trabalhos práticos em campo das faculdades
de ecologia da UFMT e da UNEMAT. Acompanhados por cerca de vinte professores e assistentes, os
estudantes assistem a aulas teóricas « in loco » e fazem mini-trabalhos de pesquisa coletivos e individuais
durante três semanas. Essa colaboração permite colocar à disposição dos estudantes um laboratório de
campo de qualidade, com toda a infra-estrutura e logística necessárias, assim como um volume importante
de dados de arquivo. Ela também é benéfica para o projeto: os diversos trabalhos iniciados pelos alunos
podem conduzir a estudos científicos mais aprofundados.
O futuro do projeto
4.a : Estocagem de carbono e monitoramento
• A estocagem de carbono na biomassa foi objeto de um monitoramento científico cuja metodologia foi
sendo aperfeiçoada ao longo das campanhas de medição. Em 2008, o projeto já dispõe de uma metodologia
em conformidade com as regras oficiais de medição definidas internacionalmente; as equações alométricas
que permitem avaliar a relação entre o diâmetro da árvore e o estoque de carbono para cada espécie
devem sempre ser atualizadas ao longo do crescimento das árvores.
• A próxima etapa desse projeto consiste em validar a qualidade dessa metodologia e das medições do
estoque que ela propicia, através da obtenção de uma certificação de qualidade para o projeto de estocagem
de carbono. O objetivo é fazer com que um observador independente e reconhecido garanta o rigor
científico desse monitoramento e a seriedade do projeto.
• A certificação almejada pelo projeto é o Voluntary Carbon Standard (VCS), atualmente a norma mais
rigorosa e avançada para os projetos não -MDL10. Em regra geral, o VCS interessa os projetos que pretendem
valorizar os certificados de redução de emissões (« créditos de carbono ») obtidos pelos reflorestamentos.
No caso do Poço de Carbono Peugeot/ONF, o principal objetivo não é comercializar esses créditos, mas
demonstrar o rigor do monitoramento da estocagem. Contudo, se os créditos de carbono vierem a ser
comercializados, os benefícios serão integralmente revertidos ao projeto : atividades operacionais, de
pesquisa e de desenvolvimento local. Trata-se de uma reflexão em curso atualmente, pois a comercialização
dos créditos de carbono em benefício do projeto permitiria demonstrar a viabilidade econômica dos
projetos de Poço de Carbono, favorecendo sua multiplicação.
4.b : Três projetos prioritários
ÎÎMonitoramento dos estoques de carbono na floresta natural utilizando diferentes modos de gestão
• Até há pouco tempo, excetuando-se os projetos de pesquisa, a atividade do
projeto estava concentrada na área de reflorestamento da fazenda, em torno
do objetivo inicial de medição da estocagem de CO2 possibilitada por uma
floresta plantada em crescimento.
• Atualmente, o projeto pretende valorizar sua área de floresta natural a fim
de promover o manejo sustentável dos ecossistemas e de aprofundar os
conhecimentos a respeito da estocagem de carbono na floresta, fechando assim
o ciclo sobre o papel da floresta nas questões climáticas : floresta plantada
(reflorestamento) e floresta natural.
• De fato, existe atualmente um importante debate em curso no plano
internacional, no âmbito da CCNUCC11 , sobre os chamados mecanismos de
“desflorestamento evitado” e de « degradação evitada » e seu impacto sobre a
luta contra o efeito estufa, através da estocagem de carbono na floresta natural
em função das modalidades de manejo dessa floresta (conservação, exploração
sustentável, etc.). O projeto pretende alimentar o conhecimento científico em
pano de fundo dos debates, instalando um dispositivo de monitoramento de
longo prazo (30 anos).
10) MDL : Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocole de Kyoto. O Poço de Carbono Peugeot/ONF, cuja vocação é essencialmente experimental
e demonstrativa, nunca pretendeu enquadrar-se no MDL. Além disso, muitas das regras do MDL só foram definidas após o início do projeto (após 1998).
Contudo, o projeto respeita as regras estabelecidas pelo MDL na metodologia que utiliza para estabelecer o balanço de carbono.
11) Convenção Quadro das Nações Unidas de Luta contra as Mudanças do Clima
REDD : Redução da Emissões causadas por Desmatamento e Degradação Florestal
Desde a Conferência de Bali em dezembro de 2007, e mesmo antes, o « desflorestamento e a degradação
evitados » encontram-se no cerne dos debates internacionais sobre a luta contra o efeito estufa.
Após o reconhecimento, na primeira fase, da utilidade dos reflorestamentos (acordos de Marrakech), trata-se
agora de reconhecer que o desflorestamento e a degradação evitados podem ser mecanismos de luta contra
o aquecimento global.
Em pano de fundo dos debates envolvendo grupos de países cujos interesses às vezes divergem, surgem duas
grandes perguntas em particular:
- Quais os mecanismos financeiros que podem ser utilizados para recompensar os países (ou os projetos ?),
especialmente os países do Sul, que protegem suas florestas ou praticam uma exploração sustentável,
contribuindo assim para a luta contra o efeito estufa?
- Como medir a estocagem de CO2 possível num cenário de conservação ou de manejo sustentável de uma
floresta, em comparação com um cenário de exploração não sustentável ou de desmatamento?
Para a segunda pergunta, a principal dificuldade consiste em avaliar a estocagem de carbono de uma floresta «
que continua floresta », ou seja, uma floresta onde se pratica a conservação ou o manejo sustentável. É
justamente para esse aspecto da problemática que o projeto pretende contribuir, dentro de suas possibilidades
e em associação com parceiros científicos.
• O projeto pretende portanto criar um sistema experimental em 5 000 ha de floresta natural, integrando
diferentes modalidades de gestão : floresta conservada, plano de manejo multifuncional (extração sustentável
de madeira de obra, de produtos florestais não madeireiros), e extração de madeira de lenha numa área
experimental reduzida (alguns hectares).
• Com a parte « manejo florestal sustentável» da experiência, o projeto tentará também demonstrar que
uma floresta não derrubada e explorada de maneira sustentável pode ser rentável. Com a implementação
de um sistema de manejo piloto numa parte da área florestal, o projeto vai reforçar seu papel de
conscientização dos atores econômicos locais para a importância do manejo sustentável.
• Um sistema de monitoramento será implantado para cada modelo de gestão, formado por parcelas
permanentes em que os estoques de carbono nos diferentes compartimentos (biomassa aérea e radicular,
solo, liteira, madeira morta) serão medidos com uma periodicidade definida. Para tanto, o projeto vai se
associar com parceiros científicos brasileiros e franceses.
• Esse trabalho será facilitado pelo diagnóstico da floresta natural realizado pela UFMT em 2006-2007 (ver
acima) e pela rede de parcelas de inventário permanentes implantada nesse âmbito.
A criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Nacional
A fazenda, situada nas margens do Rio Juruena, inclui uma área de cerca de 1.500 ha de mata ciliar com alto
valor de conservação (riqueza da biodiversidade e função de preservação do curso de água).
No Brasil as pessoas físicas e as empresas têm a possibilidade de criar áreas de conservação nacionais chamadas
« Reservas Particulares do Patrimônio Natural » (RPPN). No Estado de Mato Grosso existe uma rede de cerca
de vinte reservas, dais quais a metade tem mais de mil hectares.
Nesse momento em que a área do projeto sofre fortes pressões de seu entorno, a preservação de uma área
de floresta natural representativa dos ecossistemas locais, dentro de um esquema de conservação oficial, pode
vir a ser especialmente útil no futuro.
Após ter consultado o Comitê Científico em novembro de 2007, o projeto tomou a decisão de criar uma RPPN
com uma superfície de 1.500 hectares nas margens do Rio Juruena.
O processo está em andamento, com o apoio da SEMA (Secretaria Estadual do Meio Ambiente) e em associação
com o PNUD.
A RPPN é uma entidade de conservação dentro da qual é proibida qualquer atividade de abate ou de coleta,
inclusive para fins de pesquisa – assim como também a caça e a pesca. O plano de gestão validado pela
administração define os usos da reserva, incluindo o acolhimento do público ou a realização de atividades de
pesquisa sem coleta.
Essa área de conservação também fará parte do corredor ecológico norte-sul ao longo do Rio Juruena, uma
iniciativa do PNUD-GEF12 destinada a preservar as ligações existentes entre ecossistemas dotados de uma rica
biodiversidade e que constituem um habitat importante para a fauna.
Reforçar o aspecto social do projeto
Para melhor promover sua finalidade ambiental (reflorestamento e conservação da cobertura florestal) e atender
às exigências de « desenvolvimento local » de qualquer projeto de Poço de Carbono, MDL ou não, o projeto deve
agora reforçar sua função socioeconômica junto das populações ribeirinhas.
As atividades já implantadas (doação de mudas, educação ambiental e coleta comunitária de castanha-do-pará)
permitiram iniciar o programa de apoio ao desenvolvimento rural e criar laços com as comunidades vizinhas
(assentamento13 Vale Verde), principais interlocutores do projeto.
Primeiramente, o projeto deverá fazer um novo diagnóstico de seu entorno social imediato, das fontes de renda,
das necessidades e pedidos de apoio da população. Assim será possível definir os eixos de trabalho (maior
valorização dos produtos florestais não madeireiros14, promoção das árvores frutíferas, manejo florestal
comunitário).
12) Projeto de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade das Florestas de Transição do Nordeste do Mato Grosso do PNUD (Programa des
Nações Unidas para o Desenvolvimento).
13) Assentamento = colônia de pequenos agricultores formada em parte por comunidades locais
14) PFAB : produtos da floresta exceto madeira comercial, ou seja, frutos, sementes, raízes, plantas medicinais, etc…
O projeto, que não dispõe das capacidades técnicas necessárias para empreender sozinho programas de
desenvolvimento rural, deverá contar com a ajuda de organizações especializadas (governamentais ou ONGs) que
tenham experiência na região.
Todas as ações que vierem a ser implementadas deverão ter como pano de fundo a preocupação de promover a
conscientização ambiental : mostrar para as famílias que a floresta preservada ou replantada também pode trazer
benefícios.
Alguns números
ÎÎ Um investimento considerável no longo prazo
• 10 milhões de euros : orçamento global da Fazenda, financiado 100% pela Peugeot
• 180.000 euros : orçamento anual complementar de pesquisa, co-financiado pela Peugeot e pela ONF
(desde 2005)
• 40 anos : duração do projeto (de 1998 a 2038)
ÎÎ A Fazenda São Nicolau em números
• 1999 : data de compra da propriedade
• 10.000 ha : sua superfície total, incluindo 7.000 ha de florestas, orêts, 2.000 ha de antigos pastos e 1.000 ha
de mata ciliar degradada
• 1.800 ha : área dos reflorestamentos
• 50.000 plants : capacidade atual do viveiro integrado
• 80 à 100 pessoas : capacidade de acolhimento da fazenda (funcionários, pesquisadores, visitantes,
alunos…)
ÎÎUm vasto reflorestamento e uma grande diversidade de essências
• 1.800 ha de área reflorestada em quatro anos
• 2 milhões de mudas plantadas
• 70% de taxa de sucesso nos plantios feitos em 1999, 90% desde 2001
• 50 espécies plantadas, sendo 49 nativas e 1 exótica (a teca, Tectona grandis). As essências nativas que
obtiveram melhores resultados são a figueira branca (Ficus sp.), a aroeira (Astronium sp.), a paneira (Chorysia
speciosa).
ÎÎMonitoramento do ganho de carbono
• 5,1 t CO/ha/ano desde 1998, ou seja 53.000 tCO2 ao todo
• de 10 até 15 tCO2/ha/an, em media, projetada no periodo 1998-2038 : 720.000 tCO2 ao todo.
• 5 anos : periodicidade do balance de carbono exaustivo da fazenda
ÎÎMonitoramento da biodiversidade
• 500 espécies de fauna (vertebrados superiores) identificados e monitorados desde 2000, inclusive cerca de
vinte espécies ameaçadas de extinção (ex : guepardo).
• 10 classes de insetos, cujas populações foram avaliadas e monitoradas desde 2001
ÎÎIntegração local
• 2.300 alunos acolhidos na Fazenda entre 2001 e 2008 no âmbito do programa de educação ambiental.
• 10 toneladas de castanha-do-pará colhidas em 2008, em benefício das comunidades locais, em parceria com
o PNUD
• Mais de 120 estudantes acolhidos na fazenda para trabalhos de pesquisa individuais ou coletivos, uma
dezena de instituições diferentes representadas
• Cerca de quarenta projetos de pesquisa ou de estudos técnicos realizados na fazenda.
Anexo : Estudos científicos poço de carbono Peugeot ONF
ÁREA
Estudo
Parceiros
Autores
DATA
Contexto
Principais
resultados
CICLO DO CARBONO
SILVICULTURA
Programa LBA : monitoramento
do carbono atmosférico na
instalação dos reflorestamentos
Avaliação das taxas de
carbono de seis espécies
florestais em plantio
Estudo sobre o carbono do solo
segundo diferentes cenários de uso
Estudo do crescimento da figueira (Ficus max.) em plantio puro e misto.
UFMT
UFMT
USP/ ENGREF/IRD
UFMT
Nicolau Priante Filho
Zaira Moraes dos Santos
Verneyre L., Moreira Iglesias C.
V. Assumpção
2001-2003
2003
2007-2008
2007-2008
Medição dos fluxos de carbono
atmosférico graças à torre de
medição instalada juntamente
com o programa brasileiro
Carbonsink-LBA*
Análise em laboratório da
taxa de carbono no âmbito
da criação das equações
alométricas
Estudo realizado no âmbito de um
estágio de conclusão de curso da
ENGREF e em seguida de uma tese
binacional USP/IRD
« Comparison of the Mass and
Energy exchange of a pasture
and mature transitional tropical
forest of the southern amazon
basin during the wet-dry season
transition” (Global Change
Biology, 2003)
Taxa de carbono para Ipê,
teca, caixeta, cajá, figueira,
freijó, de 40 a 48% da
biomassa seca.
- As variações da taxa de carbono
em função da ocupação do solo são
ocultadas pela grande variabilidade ligada
à textura, numa primeira abordagem
- Num reflorestamento jovem, a maior
diferença é observada entre pasto /
reflorestamento e floresta natural (a
confirmar)
- Tese de Cindy Iglesias em fase de
conclusão
Produto
* Experimento a Larga escala na Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA).
- Taxa de mortalidade importante devido a fatores edáficos (ambientais).
- Nem o espaçamento nem a presença de outras essências (povoamentos
mistos) influem sobre o crescimento da figueira nesse estágio.
ÁREA
Estudo
Parceiros
Autores
DATA
Contexto
Principais
resultados
SILVICULTURA*
FLORESTA NATURAL
Estudo do crescimento e da
nutrição de 2 espécies em
relação com as propriedades
químicas do solo.
Estudo sobre a recuperação
da Áreas de Preservação
Permanente
Estimativa dos estoques de carbono na
floresta natural
Diagnóstico da floresta natural da Fazenda São Nicolau
UNEMAT
(UNESP)
INPA-Manaus
UFMT
Gheorges Rotta, Pr. Cassiano
Roque
V. Assumpção
(ONF-Brasil)
Euler Nogueira
Pr.Versides de Moraes Silva
2006
2004
2005-2007
2005-2007
Escassez de estudos detalhados
sobre as exigências nutricionais
das essências nativas em
plantios.
Análise dos resultados do
programa de recuperação
das áreas degradadas
(APP **)
Escassez de dados sobre o cálculo da
biomassa na floresta natural, podendo
levar a uma sobreestimação do CO2
emitido durante os desmatamentos.
Desejo do projeto de conhecer melhor os 7.000 ha de floresta
amazônica da São Nicolau : biodiversidade das árvores, cipós e epífitos,
essências comerciais, produtos florestais não lenhosos, regeneração
natural.
2.100 indivíduos inventariados em 50 parcelas (exceto plantas não
lenhosas, cipós e epífitos), uma equipe de trabalho de 15 pessoas para
fazer os inventários, a cubagem , a criação da base de dados, a cartografia
e a síntese.
Correlação positiva entre nível
de crescimento, fertilidade
e altura da plantação em
declives, a ser aprofundada.
demonstração de um nível de
exigência ≠ entre a caixeta e o
ipê
Taxa de sucesso de 60
a 100% em termos de
sobrevivência
Identificação de 6 espécies
com alto potencial,
incluindo Parica, Ipê rosa,
Urucum)
O estudo conclui que existe uma
sobreestimação das densidades de
madeira geralmente utilizadas nos
cálculos de biomassa na Amazônia, de 7%
a 15% dependendo do estado da floresta.
- Uma floresta secundarizada por já ter sido explorada no passado.
Biomassa lenhosa: 250 m3/ha
Monografia: “Propriedades
Químicas dos Solos em
Reflorestamentos de Ipê-rosa
(Tabebuia impetiginosa) e
Caixeta (Simarouba amara) em
Áreas de Pastagens na Fazenda
São Nicolau “ (UFMT)
Trabalho realizado em
parceria com a ’UNESP (São
Paulo) no âmbito de um
trabalho de estudante =>
espera-se a monografia.
- Tese de doutorado:
“Wood density and tree allometry in
(…) “Arc of deforestation” : implications
for biomass and emissions of carbon
from land-use change in brazilian
Amazonia”
- Um relatório interno de 150 páginas incluindo mapas de repartição da
biomassa e da biodiversidade na floresta natural.
- Artigo na revista Forest Ecology and
Management, 2007(mesmo tema)
- Uma rede de 50 parcelas inscritas em breve na rede REDEFLOR de
monitoramento.
- Biodiversidade : 135 essências de árvores identificadas pertencentes a
43 famílias
- Regeneração natural: 91 essências de 36 famílias identificadas (incluindo
as fabáceas bem representadas com 19 essências).
- Principais produtos não lenhosos: açaí ; babaçu, castanhas , etc…
Produtos,
publicações
* ver também os trabalhos realizados no âmbito do curso de ecologia em campo 2007
** Áreas de Preservação Permanente destinadas ao reflorestamento pela administração
- 3 monografias de estudantes passíveis de serem publicadas,: regeneração
natural, métodos de avaliação dos produtos não lenhosos, método de
avaliação dos estoques de carbono
ÁREA
BIODIVERSIDADE ANIMAL
Inventário da avifauna
da fazenda São Nicolau
Inventário da
hepertofauna da
fazenda São Nicolau
Estudo
Inventário da avifauna
da fazenda São Nicolau
Inventário da
hepertofauna da fazenda
São Nicolau
Estudo
Inventário da avifauna da
fazenda São Nicolau
UFMT
UFMT/ONF-Guyane
UFMT
UFMT/UNEMAT, USP,
EMBRAPA
UFMT
UFMT
UFMT/Municípios de
Cotriguaçu, Juruena e
Japurana
Pr. Pinho, Pr. Novak, I.
Assumpção
I. Assumpçao, M.
Dewynter
I. Assumpção
Organisateur : Jerry
Penha
Dorval A., Peres Filho O, Dorval A.,
Silveira R.
Peres Filho O
S. Borges de Oliveira, R
Feitoza, P Soares
2001-2005
2007-2008
2001-2005
2007
2004-2006
2004
2001-2008
346 espécies de
aves inventariadas,
repartidas em 44
famílias.
45 espécies de
anfíbios, 44 espécies
de serpentes, 3
espécies de jacarés,
lagartos e tartarugas,
a completar
41 espécies de
pequenos e grandes
mamíferos incluindo
12 espécies em vias de
extinção,e 5 espécies
raras/vulneráveis.
45 trabalhos de
estudo individuais de
ecologia, botânica e
silvicultura : habitat,
interações e predações
animais, ecologia
das populações de
insetos, crescimento,
dendrometria e
fitomorfologia das nas
plantações, etc…
- Correlação positiva
entre a abundância de
coleópteros a idade do
povoamento.
- Demonstração,
com base nas 1000
árvores tomadas
como amostra, de
um ataque maior nas
árvores machucadas
ou podadas, raramente
nas árvores sadias.
Trata-se de uma síntese dos
ensinamentos de sete anos
de educação ambiental na
fazenda.
Estudo
Parceiros
Autores
DATA
Principais
resultados
Produtos,
publicações
SÓCIO-ECONOMIA
Uma complexidade e
uma abundância mais
importantes na área
de floresta natural,
mas uma ocupação
progressiva dos espaços
reflorestados em função
dos recursos disponíveis
“Inventário de aves
numa região amazônica
do norte do Mato
Grosso” (Pinho JB,
Novak L, Assumpção
I) submetido a Check
List : Journal of Species
Lists and distribution
(2008) – em curso
A ser publicado:
Guia ilustrado da
herpetofauna da
fazenda São Nicolau..
- Índices de
biodiversidade
mais baixos nos
reflorestamentos com
teca (tendência)
- Recomendações em
matéria de prevenção
- a repartição dos
coleópteros entre
famílias varia entre a
área reflorestada e os
pastos.
Livro do Curso de
Campo 2007 (UFMT)
reunindo todos os
trabalhos.
“Coleopterans
abundance and diversity
in forested areas in
Mato Grosso’s Amazon
region” (submetido à
Pesquisa Agropecuaria
Brasileira – 2008 – em
curso).
“Educação ambiental
:alternativa de aprendizagem
num projeto de
reflorestamento” in Revista
Electrônica do mestrado em
Educação Ambiental (2007)

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