Antonio Anastasia

Transcrição

Antonio Anastasia
Antonio Anastasia
Senador culpa o PT pela crise e tem dúvidas de que
o partido que está há 13 anos no poder consiga tirar o
país das dificuldades atuais
A
lém das críticas ao
momento político e
econômico que vive
o país, o belo-horizontino Antonio Augusto Junho
Anastasia, 54 anos, fala à Revista
Cidade, nesta entrevista especial,
sobre seus projetos e realizações
ao longo de uma intensa carreira de 26 anos na administração
pública. Mestre em Direito, foi
professor da UFMG; trabalhou
em diferentes cargos estaduais e
também em Brasília, de 1995 a
2002, no governo Fernando Henrique Cardoso. Filiado ao PSDB,
a seguir foi secretário estadual no
primeiro mandato do então governador Aécio Neves. Eleito vice de
Aécio nas eleições de 2006, acabou assumindo o governo mineiro
em 2010 e, em outubro do mesmo
ano, foi reeleito governador de
Minas. Em outubro de 2014, com
56,73% dos votos válidos, foi eleito senador, assumindo o cargo em
1º de fevereiro de 2015. Embora
seu nome seja apontado como forte candidato a prefeito de BH em
2016, Anastasia foge do assunto,
dizendo que no momento prefere
continuar senador. Veja a seguir.
EDIÇÃO 86
Foto: Fredericus Augustus
Entrevista
ENTREVISTA
Infelizmente, estamos enfrentando as consequências da
irresponsabilidade com que o PT governou o Brasil nos últimos
13 anos, não visando o bem do país, mas apenas a manutenção do
partido no poder (...) É, de fato, uma crise muito grave
Como representante de Minas Gerais no Senado, quais projetos o senhor vem propondo em
benefício dos mineiros?
Desde que cheguei ao Senado Federal, no início deste ano,
busquei entender o funcionamento da Casa, no dia a dia
das Comissões, nas audiências públicas, nos Plenários do
Senado e do Congresso Nacional. Minha eleição, todos
se lembram, foi baseada em um ponto principal: a defesa
de um novo Pacto Federativo, o fortalecimento dos entes
Federados, dando mais autonomia e mais recursos para
estados e municípios. Apresentei dezenas de projetos de
lei, propostas de emendas à Constituição e emendas a outros projetos já em tramitação. A maioria desses projetos
envolve justamente essa questão que entendo ser fulcral, a
rediscussão da Federação. Outra bandeira importante, e
que considero imprescindível para possibilitar a melhoria
dos serviços públicos no Brasil, é a profissionalização da
gestão. Projetos que, se aprovados, darão maior transparência e segurança jurídica, permitindo uma participação
cidadã mais forte e atraindo mais investimentos e negócios
para o país. Tudo com o objetivo de colaborar para o desenvolvimento efetivo do Brasil, que passa hoje por um
momento difícil, com a consequente melhoria da qualidade de vida das pessoas.
E em Contagem. Qual a relação do senhor com
a cidade?
Contagem, todos sabemos, é uma das cidades mais importantes, não só da Região Metropolitana, mas de Minas
Gerais e também do Brasil. Possui uma economia robusta,
um povo acolhedor e muito trabalhador. Por isso, durante
toda minha gestão no Governo de Minas, Contagem recebeu atenção especial. Lembro, por exemplo, das unidades que instalamos do importante programa que é o “Fica
Vivo”, para prevenção da criminalidade; da criação de 10
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novos Centros de Referência da Assistência Social (Cras);
das grandes obras de infraestrutura, como a pavimentação
de vias urbanas e a recuperação das margens do Rio Arrudas. Lembro ainda, na saúde, da construção de unidades
básicas e de investimentos do ProHosp. Agora no Senado,
com meu trabalho e atuação por Minas e pelo Brasil, busco colaborar com ideias e projetos que possam beneficiar
e valorizar os municípios. E isso, certamente, trará bom
retorno também para Contagem.
Já se completam 22 anos que o PSDB comandou Belo Horizonte pela última vez. O senhor
acredita que 2016 será o ano do partido na cidade? Como andam as negociações para lançar
nome à cadeira de prefeito da capital?
É verdade. O último prefeito pelo PSDB em Belo Horizonte foi eleito em 1988. Mas nos últimos sete anos, durante a gestão do prefeito Márcio Lacerda, o partido tem
tido participação ativa no desenvolvimento da cidade, não
só ocupando cargos importantes na administração, mas
apresentando quadros e soluções para os desafios que toda
metrópole como Belo Horizonte possui. A parceria que
hoje mantemos com o prefeito tem rendido bons frutos
para a capital mineira. A despeito das dificuldades que
todos os municípios brasileiros enfrentam, vemos Belo
Horizonte como uma cidade bem gerida, bem cuidada.
Isso se reflete na avaliação do próprio governo municipal,
do qual fazemos parte. Para o ano que vem, ainda estamos
em tratativas. O prefeito Márcio Lacerda já disse, e eu
concordo com isso, que as eleições ainda demoram, e que
as pessoas não estão preocupadas com isso. Elas querem é
que a cidade continue tendo uma boa administração. Temos em Minas um grupo político forte, do qual faz parte
o prefeito Márcio Lacerda, e no momento certo vamos
conversar sobre a sua sucessão.
ENTREVISTA
Qual a visão do senhor sobre a
crise que o país está enfrentando?
Infelizmente, estamos enfrentando as
consequências da irresponsabilidade
com que o PT governou o Brasil nos
últimos 13 anos, não visando o bem
do país, mas apenas a manutenção do
partido no poder. Isso é lamentável.
Hoje, todos veem bem como o PT
faltou com a verdade nas últimas eleições, e como estávamos corretos nos
alertas que fazíamos. Vivemos os efeitos da falta de uma postura correta e
republicana por parte do partido que
há 13 anos dirige a Nação. Enquanto
o PIB mundial deverá crescer esse ano
uma média de 3%, o nosso vai cair,
segundo os analistas. A inflação atinge10%, o nível de desemprego cresce.
Vivemos, ainda, uma crise política e
de representação. Faltam liderança e
planejamento. E, o pior, a falta de previsibilidade ocasionou também uma
crise de credibilidade. Isso amedronta empresários, afasta investimentos
e impede a retomada do crescimento
da economia, que definha enquanto
o governo segue desnorteado. É, de
fato, uma crise muito grave. Não sei
se o partido que hoje governa o país
conseguirá nos tirar da situação que
ele mesmo nos colocou. Na oposição,
temos feito nosso trabalho, sempre
com muita responsabilidade, sem demagogia, identificando os problemas e
apresentando soluções e alternativas.
EDIÇÃO 86
Foto: Marcus Desimoni Nitro
Ninguém aguenta mais impostos e eu sou o primeiro a me
posicionar contrário à criação de novas taxas (...) Minha
proposta é para que, na eventualidade de a União criar qualquer
novo imposto, deverá dividir o arrecadado com os municípios,
que são os que mais sofrem com a crise econômica
Senador Antonio Anastasia e Senador Aécio Neves durante encontro com lideranças do PSDB no hotel
Dayrell
O senador é considerado defensor ferrenho de um novo Pacto
Federativo, no qual estados e municípios tenham maior autonomia e mais recursos para que possam prestar serviços públicos
de melhor qualidade. Com isso, o senhor apresentou nova Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com o objetivo de dividir impostos com mais equidade. O que os municípios podem
esperar caso a PEC seja aprovada e sancionada?
Primeiro, é bom lembrar, ninguém com discernimento ou com o mínimo de
bom senso defende o aumento da carga tributária. Ninguém aguenta mais impostos e eu sou o primeiro a me posicionar contrário à criação de novas taxas.
O atual governo, no entanto, vem buscando novas formas de arrecadação. A
proposta que apresentei postula o seguinte: na eventualidade de a União criar
qualquer novo imposto, deverá dividir o arrecadado com os municípios. Ora,
nada mais justo. Sabemos que, por causa da situação atualmente imposta, são
os municípios que mais sofrem com a crise econômica, se comparado com
qualquer outro ente. E é justamente alí, no cotidiano das nossas cidades, que
estão os principais problemas e desafios. Digo sempre que, quanto mais perto
do problema estiver a solução, mais rápida e mais barata ela será. O objetivo
dessa PEC é acabar com a cultura da centralização reinante no Brasil. É apenas um passo, mas significativo e de efetivo resultado.
Foto: Gerdan Wesley
ENTREVISTA
Temos em Minas um
grupo político forte, do
qual faz parte o prefeito
Márcio Lacerda, e no
momento certo vamos
conversar sobre a sua
sucessão (...) Minha
pretensão hoje, portanto,
é continuar no Senado
EDIÇÃO 86
O senhor já foi professor da Escola de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde lecionou
Direito Administrativo. O que mais aprendeu com seus
alunos?
Gosto muito da vida pública, mas a profissão de professor é a que
mais me encanta. Porque, ao contrário do que muitos pensam, o
professor, ao ensinar, acaba aprendendo muito mais. A convivência
diuturna com os alunos na faculdade, as questões colocadas na sala
de aula, levam a interessantes discussões. E isso é o que aprendi: que
sempre há um outro ponto de vista a ser defendido.
Aqui em Minas Gerais todos o reconhecem como torcedor voraz do Clube Atlético Mineiro, sendo que já foi
até contemplado com o Galo de Prata, em 2004. Qual
momento do Galo recorda com mais alegria?
Recordo-me de ir aos jogos do Galo com o meu pai. Quando eu era
pequeno, ele me deu uma grande bandeira do Atlético e eu me lembro
que ia sempre muito feliz, com muito orgulho, com o meu bandeirão
para o estádio. Mas acredito que, para todo atleticano, a melhor lembrança, é claro, foi a conquista recente, em 2013, da Libertadores da
América. Para todos nós, aquele foi um momento de muita alegria,
justo resultado do trabalho de toda a diretoria, da comissão técnica e
dos jogadores e, ainda, do grande suporte sempre presente da torcida
que, como dizia Roberto Drummond, torce até contra o vento.
Foto: Gerdan Wesley
ENTREVISTA
Com meu trabalho e atuação
no Senado, busco colaborar com
ideias e projetos que possam
beneficiar e valorizar os
municípios. E isso, certamente,
trará bom retorno também para
Contagem
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O senhor já disse que nunca teve pretensões de ser governador, já que sua carreira era voltada para a administração
pública. Porém, graças ao trabalho desenvolvido durante o primeiro mandato
de Aécio Neves, na Secretaria de Planejamento e Gestão e também na Secretaria de Defesa Social, acabou sendo
convidado para compor a chapa de reeleição como vice-governador de Minas
Gerais, em 2006. Depois, substituiu o
governador Aécio e foi reeleito com expressiva votação. Atualmente, exerce o
cargo de senador. Quais são os seus planos para o futuro na política do país?
É verdade. Apesar de sempre estar envolvido
com a administração pública, eu nunca imaginei
me candidatar a um cargo eletivo. Mas o destino
acabou me levando a isso. Busquei exercer todos
os cargos com muita responsabilidade. Sempre
atuei com muito decoro, com probidade e respeito aos cidadãos, para quem a boa política deve
ser exercida. Minha pretensão hoje, portanto, é
continuar no Senado trabalhando, dialogando
com o conjunto da sociedade, sugerindo ideias
novas, buscando o entendimento para colocar em
pauta boas propostas para o desenvolvimento de
Minas e do Brasil.
O senhor vem de uma família de servidores públicos, sendo que sua mãe e
avó foram professoras. Quais os maiores
exemplos elas te passaram?
A família sempre teve uma presença muito importante na minha vida. Tanto de meu pai, Dante, quanto de minha mãe, Ilka, guardo exemplos
que influenciaram a minha formação pessoal e
profissional. Exemplos de honestidade, de muito trabalho e dedicação, de amor às causas que
abraçaram. De minha mãe, em especial, ganhei
também a vocação para o magistério e para o
serviço público que, como eu disse, para mim é
muito especial.