Estamparia em Redes Sociais Digitais Lavínnia Seabra1 Resumo

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Estamparia em Redes Sociais Digitais Lavínnia Seabra1 Resumo
Estamparia em Redes Sociais Digitais
Lavínnia Seabra1
Resumo: Partindo do pressuposto de que constantemente interessamo-nos por novidades e a
tecnologia digital tem proporcionado situações e eventos instigantes aos usuários, apresentamos nessa
investigação a proposta de criação coletiva de imagens – estamparia digital – em sites sociais. Um local
virtual onde usuários têm participado e colaborado ativamente na construção de conteúdos, de
enquetes e do próprio entretenimento. E, como Manuel Castells (1999), já afirmou cada um
pertencente à rede espera uma resposta individualizada e contribui para uma informalidade, ao mesmo
tempo em que crescem expectativas de negócios e aperfeiçoamento da informação.
Palavras-chaves: estamparia, redes, sociais e digitais.
Abstract: Assuming that we are interested in constantly new and digital technology has provided
thought-provoking situations and events to users, we present the proposed research in this collective
creation of images - digital printing - in social sites. A virtual place where users have actively participated
and cooperated in the construction of content, polls and their own entertainment. And, as Manuel
Castells (1999), has said each one belonging to the network expects an individualized response and
contributes to informality, while growing expectations of business and improved information.
Keywords: printing, networking, social and digital.
1.
INTRODUÇÃO
Pensando em tempos hipermodernistas (Lipovetsky, 2007), a globalização e todas as
possibilidades de conexão com informações antecipadas e em tempo hábil têm contribuído para um
desenvolvimento extraordinário no setor de moda e têxtil, principalmente considerando a efervescência
causada pelas redes sociais digitais2 advindas da WEB 2.03. Isso tem transformado a maneira como
procuramos, pesquisamos, desenvolvemos e consumimos moda.
Nesse caminho, as ferramentas tecnológicas utilizadas para o acabamento de artigos de moda e
têxtil também têm passado por transformações significativas. No caso da estamparia, o processo de
impressão tem alcançado altos níveis de aprimoramento e melhorado potencialmente o aspecto visual
dos produtos. Os meios digitais têm permitido a reprodução imagética com resolução fotográfica
(Bowles e Isaac, 2009). Portanto, muitos facilitadores têm sido inseridos nesse processo para melhor
desempenho dessa atividade. Os softwares, nas suas mais diversas funções, são desenvolvidos para
atender uma demanda crescente no setor de acabamentos visuais.
1
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Artes – IDA/UnB. Mestre em Cultura Visual
– FAV/UFG. Professora Efetiva no curso de Design de Moda – FAV/UFG.
[email protected]
06281358300
2
As RSIs são plataformas [...] tais como wikipédias, blogs, podcasts, o Youtube, o Second
Life, o uso de tags (etiquetas) para compartilhamento e intercâmbio de arquivos como
Del.icio.us e de fotos como no Flickr e as RSIs entre elas o Orkut, My Space, Goowy, Hi5.
Facebook e Twiter com sua agilidade para microbloging (SANTAELLA, Lúcia e LEMOS,
Renata. Redes sociais digitais: a cognição conectiva do Twitter. São Paulo: Paulus, 2010.
ISBN 978-85-349-3239-4. p. 07).
3
[...] Nova versão da web – um mecanismo que permite a colaboração, compartilhamento e
criação de informação por todos (PISANI, Francis e PIOTET, Dominique. Tradução de Gian
Bruno Grosso. São Paulo: Editora Senac, 2010. ISBN 978-85-7359-929-9).
Levando em consideração as potencialidades tanto das redes sociais como dos processos de
estampagem digital, propomos nessa pesquisa uma investigação que foca a hibridização de duas áreas
em ascensão para o auxílio de outra proposta de criação imagética. Essa proposta é pautada no
desenvolvimento coletivo e colaborativo que não priva o usuário de novas experiências de criação por
não possuir conhecimentos técnicos em manipulação de imagens. Nessa linha, apresentaremos o
desenvolvimento do site proposto para essa pesquisa, sua estrutura de funcionamento para interação
entre os usuários na geração de estampas personalizadas e alguns resultados imagéticos já ocorridos.
2. O SITE TÊXTIL SKIN
Para o desenvolvimento dessa pesquisa, várias sugestões foram feitas e pensadas para que
pudéssemos articular um sistema diferenciado eficaz para a criação imagética em design de superfície.
Inicialmente, foi idealizado um blog onde as pessoas pudessem desenvolver suas próprias estampas e
postá-las no diário virtual; contudo, não parecia ser a melhor opção, principalmente se tratando de uma
investigação que leva em consideração outras opções de entretenimento no espaço virtual.
Iniciamos uma pesquisa por sites de moda cujo foco fosse a interatividade em suas mais diversas
possibilidades como, por exemplo, a montagem de looks ou a combinação de cores e formas para
simulação em croquis de moda. Chamaram-nos a atenção sites como Chanel Make Up Confidential;
Adoro Maquiagem, da empresa brasileira de produtos de beleza Natura; A Hundred Lovers, da marca de
jeans Diesel; Dança das Cadeiras, da marca brasileira de produtos para higiene pessoal Sempre Livre;
byMK, site brasileiro de produção e estilo de moda; Camiseteria, também brasileiro de vendas de
camisetas personalizadas e o site sobre cores de Maria Cláudia Cortês.
Nesse sentido, para o site Têxtil Skin, funções como visualização das silhuetas, simulação de
superfícies e inserção de novos ícones imagéticos nos módulos visuais gerados pelo sistema constituem
algumas das especificidades interativas para maior participação dos usuários.
3. SISTEMA DPSW – DIGITAL PRINT SOFTWARE WEB
Para o princípio de qualquer criação imagética, existem alguns elementos fundamentais que devem
ser levados em consideração. São eles: o ponto, a linha, o plano e o volume que definem a expansão dos
objetos bi e tridimensionais, sendo focada nessa pesquisa a criação bidimensional. De certo modo, esses
elementos compõem o que chamamos de elementos conceituais, ou seja, não são visíveis, mas
determinam uma área a ser ocupada (Wong, 1998). Esses elementos compõem um conjunto que
estrutura uma imagem, situando-a ou dimensionando-a na superfície a ser ocupada.
Desenvolvendo um projeto de constituição e/ou de tratamentos de superfícies, devem-se
considerar alguns pontos básicos: o módulo4, o padrão, as cores e o rapport (repetição). Esses aspectos
configuram a composição visual da estampa a ser desenvolvida. Segundo Dondis (2007), é uma
característica que possui uma dinâmica configurada por técnicas imagéticas, conferindo ao resultado
final uma linguagem visual expressiva e universal. Portanto, no sistema operacional DPSW criado para a
Têxtil Skin, cada elemento abaixo foi codificado para a geração de módulos digitais. Um mecanismo que
articula dados pessoais dos usuários e elementos do design.
Elementos Visuais: elemento visível e que determina aspectos como comprimento e largura: A –
formato: linha de definição da forma; B – tamanho: proporção da forma; C – cor: todos os matizes e os
neutros; D – textura: aspectos da superfície; Elementos Relacionais: elementos percebidos tanto pela
localização quanto pelo sentido no espaço: A – direção: aspecto pensado em relação ao observador; B –
posição: aspecto em relação à moldura ou à estrutura; C – espaço: lugar ocupado ou vazio; D –
gravidade: não é visual, mas psicológica; Elementos Práticos: elementos pensados sobre o conteúdo e
extensão da imagem – relacionados à composição visual; A – Representação: aspecto derivado da
natureza ou do mundo feito pelo homem. Pode ser realista, estilizada ou abstrata; B – Significado:
quando a imagem transmite uma mensagem; C – Função: quando temos na imagem algum propósito;
Aspectos
Psicológicos:
características
de
perfil
dos
usuários
utilizados
no
site
www.textilskin.com/preview como: pessoa séria, extrovertida, racional, entre outros. Divididos em:
Racional – pessoa determinada, Idealista – sonhador, sempre quer mudar o mundo; Guardião –
sensato, realista e organizado; Artesão – aventureiro; Características de Biótipo: dados corporais;
Preferências em relação à cor – através de paisagens da Região Centro-Oeste utilizadas no site –
informação codificado através da escolha do usuário pela fotografia que representa algum lugar da
Região Central do Brasil; Aspectos antropométricos – idade e peso do usuário – informação codificada
em relação à forma geométrica utilizada na geração de um módulo visual. Os princípios do design foram
relacionados a uma característica psicológica humana para que obtivéssemos diferentes proporções de
módulos visuais.
Nesse contexto, linhas - em sua largura e comprimento - foram subdividas, gerando formas. Na
pesquisa, elas foram articuladas para, também, serem objetos imagéticos para composição dos
módulos. Outro aspecto levado em consideração para o sistema operacional foi a unidade da forma – a
repetição. Conforme Wong (1998), é um método simples e constitui, de imediato, a sensação de
harmonia. Aqui, priorizamos a repetição de formato, de cor, de tamanho e de posição dos elementos
geométricos codificados no sistema operacional. Outros aspectos levados em consideração foram as
estruturas formais ou unidades de forma: gradação e a radiação, apresentados também como uma
categorização dos princípios do design. A grade básica é também uma informação primordial no sistema
4
É a unidade de padronagem, isto é, a menor área que inclui todos os elementos visuais que constituem o desenho
(RUTHSCHILLING, Evelise Anicet. Design de Superfície. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008. ISBN 978-85-386-00350. p. 64).
operacional da Têxtil Skin. Esse aspecto é muito utilizado em estruturas de repetição. A grade básica se
divide em: mudança de proporção, mudança de direção, deslizamento, curvatura e/ou quebra, inversão,
combinação, divisão adicional, grade triangular, grade hexagonal. (Ibid, p. 63). Nesse sistema
operacional, estão sendo utilizados: mudança de direção, de proporção, inversão e grade hexagonal.
Outras informações como anomalias nas formas geométricas, linhas ou cores, contrastes e
concentração também foram codificados para o processo de operacionalização do sistema.
Além dos aspectos icônicos listados para a programação do sistema operacional da primeira
parte prática dessa pesquisa, foram codificadas características ergonômicas do ser humano como peso,
altura, cor de pele, cor de cabelo e biótipo para a seleção de ícones imagéticos personalizados. Os
primeiros testes realizados no Têxtil Skin já permitiram a geração de alguns módulos com aspectos
gráficos como contraste de cores, formas e proporções.
Figura 1. Imagem gerada pelo sistema –
Mulher de pele parda, perfil artesão,
1;65,
altura de 1:76, 50 anos de idade e 65 kg.
Figura 2 – Imagem gerada pelo sistema homem negro, perfil idealista, altura de
35 anos de idade e 55kg.
Dentro das possibilidades do sistema, os usuários ainda podem escolher como dimensionar
suas estampas e a composição das mesmas, ou seja, há a ferramenta de manipulações para rapport ou
de estamparia localizada. Outra possibilidade estruturada junto ao mecanismo é a geração dos módulos
apresentados em tamanho natural ou a escala de metade do tamanho natural, com a possibilidade de
simulação de um conjunto de quatro modelos (em escala reduzida) para o efeito da repetição, quer no
sentido da largura, quer no sentido do comprimento. Ainda, é possível a seleção de cores
acompanhando cada modelo, assim como estudos de combinações alternativas. Estudos esses
chamados de bandeira de cores.
Com o aspecto de colaboração na criação de estampas diferenciadas, a indústria têxtil e de
confecção poderá, antes mesmo de lançar suas coleções, visualizar as preferências de seus usuários e
desenvolver produtos com minimização de tempo e custo na produção de artigos estampados, ou seja,
haverá a possibilidade de não estocagem dos produtos estampados, pois a produção será direcionada
apenas à imagem criada e escolhida pelos usuários finais.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de estampagem digital tem crescido intensamente nos últimos tempos, pois é possível
haver economia de energia e água, limpeza na preparação das tintas e menor ocupação do espaço para
realização dos processos de estampagem, além de redução do tempo de acabamento, fatores
fundamentais nos dias atuais, em que a busca por processos cada vez mais sustentáveis são exigidos
pelo mercado global.
Conforme dados da empresa brasileira de corantes Sintequímica, até 2010, houve um crescimento
de 19% na produção de artigos têxteis estampados com os processos digitais. Isso só se ampliará nos
anos seguintes. O custo do equipamento ficará menor e possibilitará uma maior agilidade nos processos
de estampagem de produtos de moda.
É levando em consideração dados como esses que o sistema DPSW poderá contribuir para o
diferencial na produção de artigos personalizados, auxiliando, também, na diminuição do estoque de
artigos estampados e acelerando a criação de artigos únicos para aos usuários finais que buscam
novidades através das redes sociais digitais.
Mesmo com resultados imagéticos primários – módulos visuais - já podemos perceber que várias
possibilidades podem surgir através de mudanças simples de dados, como idade ou peso. Até o final do
primeiro semestre de 2011, os resultados visuais chegarão a um nível de complexidade bem maior,
proporcionando às superfícies têxteis diversidade e maior personalização nos acabamentos de
estamparia digital.
A interação dos usuários via internet se intensifica a cada dia. Isso fortalece a pesquisa por
considerar as redes sociais digitais potenciais ferramentas facilitadoras na produção e agregação de
valor ao produto final de maneira econômica e eficaz.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOWLES, Melanie e ISAAC, Ceri. Diseño Y Estampación Têxtil Digital. Tradução de Roberto R. Bravo.
Barcelona: Editora Blume, 2009. ISBN 978-84-9801-386-3.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. – A era da informação: economia, sociedade e cultura; vol. 1).
Tradução de Roneide Venâncio Majer com colaboração de Klauss Brandini Gerhardt. – São Paulo:
Editora Paz e Terra, 2008.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. Tradução de Jefferson Luis Camargo. São Paulo: Editora
Martins Fontes, 2007. ISBN 978-85-336-2382-8.
LIPOVETSKY, Gilles. Tempos Hipermodernos. Tradução de Mario Vilela. São Paulo: Barcarolla, 2004.
ISBN 978-85-982-3305-5.
RUTHSCHILLING, Evelise Anicet. Design de Superfície. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008. ISBN 97885-386-0035-0.
PISANI, Francis e PIOTET, Dominique. Como a Web transforma o mundo. Tradução de Gian Bruno
Grosso. São Paulo: Editora Senac, 2010. ISBN 978-85-7359-929-9.
SANTAELLA, Lúcia e LEMOS, Renata. Redes sociais digitais: a cognição conectiva do Twitter. São Paulo:
Paulus, 2010. ISBN 978-85-349-3239-4.

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