Alguns Aspectos Computacionais em Álgebra Comutativa

Transcrição

Alguns Aspectos Computacionais em Álgebra Comutativa
ROBINSON ALVES LEMOS
ALGUNS ASPECTOS COMPUTACIONAIS EM ÁLGEBRA
COMUTATIVA: BASES DE GRÖBNER E FUNÇÃO DE HILBERT
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
2005
ROBINSON ALVES LEMOS
ALGUNS ASPECTOS COMPUTACIONAIS EM ÁLGEBRA
COMUTATIVA: BASES DE GRÖBNER E FUNÇÃO DE HILBERT
Dissertação apresentada ao Departamento de
Matemática - IBILCE - UNESP, como parte
dos requisitos para obtenção do tı́tulo de Mestre
em Matemática.
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
2005
“Sê forte e corajoso; não temas,
nem te espantes, porque o Senhor,
teu Deus, é contigo por onde
quer que andares”.
Josué 1:9
À minha famı́lia,
Samuel, Emı́lia, Karina
Alexandra e Heitor,
dedico.
Agradecimentos
Ao término deste trabalho, deixo aqui meus sinceros agradecimentos:
A Deus por tudo.
À Profa. Dra. Aparecida Francisco da Silva, por toda dedicação, paciência e estı́mulo em
sua valiosa orientação.
A todos os professores do Departamento de Matemática da UNESP- S.J.R. Preto.
Aos professores Clotilzio M. dos Santos e Paulo Antônio Fonseca Machado pelas valiosas
sugestões.
À minha famı́lia, pelo incentivo e segurança que me passaram durante todo esse perı́odo.
Aos amigos da Pós-graduação pelo agrádavel convı́vio.
A todos que direta ou indiretamente contribuı́ram para a realização deste trabalho.
À CAPES pelo auxı́lio financeiro.
Resumo
Neste trabalho apresentamos aspectos computacionais de K-álgebras que envolvem ideais
monomiais: bases de Gröbner e funções de Hilbert; além do teorema de Macaulay que estabelece condições para que uma função de N em N seja a função de Hilbert de uma K-álgebra
homogênea.
Palavras-chave: Álgebra Comutativa, Funções de Hilbert, Bases de Gröbner, Teorema de
Macaulay.
Abstract
In this work we show K-algebras computational aspects that evolve monomial ideals:
Gröbner basis and Hilbert functions; furthermore, we present the Macaulay theorem which
establishes conditions to verity if a function from N to N is the Hilbert function of a homogeneous K-algebra.
Keywords: Commutative Algebra, Hilbert Functions, Gröbner basis, Macaulay Theorem.
8
Sumário
Introdução
9
1 Funções de Hilbert
1.1 Anéis e Módulos Graduados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.2 Função de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.3 Teoria da Dimensão de Anéis Noetherianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
10
10
11
16
2 Bases de Gröbner
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.1.1 Polinômios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.1.2 Ordens Monomiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.2 Algoritmo da Divisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.3 Lema de Dickson e Teorema da Base de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.4 Bases de Gröbner . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.4.1 Unicidade do Resto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.4.2 Critério de Buchberger . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.4.3 Base de Gröbner Reduzida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.5 Função de Hilbert de S/I, com I Ideal Monomial . . . . . . . . . . . . . . . .
2.5.1 Processo para Calcular a Função de Hilbert de S/I, com I ideal monomial
2.6 Anéis de Stanley-Reisner . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.6.1 Função e Série de Hilbert de um Anel de Stanley-Reisner . . . . . . . .
25
25
25
25
28
31
34
35
36
41
43
44
46
48
3 Teorema de Macaulay
50
A Exemplos Utilizando o CoCoA
A.1 Introdução ao CoCoA . . . . . . . . . . .
A.1.1 Ambiente Anel . . . . . . . . . . .
A.1.2 Estruturas de Programação . . . .
A.1.3 Lista de Comandos . . . . . . . . .
A.2 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A.2.1 Exemplo 2.8 - Algoritmo da Divisão
A.2.2 Exemplo 2.26 . . . . . . . . . . . .
A.2.3 Exemplos 2.35 e 2.51 . . . . . . . .
Referências Bibliográficas
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62
62
62
63
63
68
68
69
70
71
9
Introdução
O objetivo deste trabalho é o estudo da função de Hilbert no caso de uma K-álgebra graduada.
Grande parte dos trabalhos publicados na segunda metade do século XIX foram dedicados
ao problema de encontrar um sistema finito de geradores para ideais e álgebras. Em seus
trabalhos publicados entre 1888 e 1893, Hilbert resolveu esse problema para o caso de ideais
em anéis de polinômios, apresentando entre outros resultados o que conhecemos por “Teorema
da Base” e “Teorema dos Zeros”.
No Capı́tulo 1, apresentamos as funções de Hilbert de K-álgebras graduadas e sua importante aplicação na teoria da dimensão de anéis Noetherianos.
Segundo D. Eisenbud [2] “... as ordens totais sobre conjuntos de monômios foram introduzidas em 1927 por Macaulay que as usou para caracterizar as possı́veis funções de Hilbert
de ideais graduados, por comparação com os ideais monomiais.
Nos anos 30 do último século, Gröbner publicou aplicações das idéias de Macaulay que
obtivessem uma base para um anel fatorial zero dimensional e, em 1964, propôs a seu estudante
Bruno Buchberger, como problema de tese de doutorado que computasse tais bases. Como
Gröbner havia previsto, a tese e os trabalhos posteriores de Buchberger, publicados em 1970 e
1975, contém os critérios e algoritmo de Buchberger que resolveram o problema.”
No Capı́tulo 2, apresentamos um pouco desta teoria: ordens monomiais, algoritmos da
divisão, bases de Gröbner e critério de Buchberger. Também compõem o Capitulo 2 a prova
do teorema da base de Hilbert, no espı́rito do trabalho de Gordan e processos para calcular a
função de Hilbert para K[x1 , . . . , xn ]/I com I ideal monomial.
Compõem o Capı́tulo 3 a versão algébrica do teorema de Green, bom como o teorema de
Macaulay que estabelece condições para que uma função de N em N seja função de Hilbert de
uma K-álgebra graduada.
No Apêndice, apresentamos alguns comandos utilizados no CoCoA. Entre eles, os comandos
para o cálculo efetivo das bases de Gröbner e funções de Hilbert.
10
Capı́tulo 1
Funções de Hilbert
Nesta seção, introduziremos algumas definições e resultados básicos para o que segue e que
podem ser visto com mais detalhes em [1].
1.1
Anéis e Módulos Graduados
Definição 1.1 Um anel graduadoM
é um anel A munido de uma famı́lia (An )n∈Z de subgrupos
do grupo aditivo A, tais que A =
An e Am An ⊂ Am+n para todos m, n ∈ Z.
n∈Z
Observação 1.2 Segue desta definição que A0 é um subanel de A e cada An é um A0 -módulo
(A0 A0 ⊆ A0 e A0 An ⊆ An para todo n).
Salvo menção em contrário, no que segue, trabalharemos apenas com anéis que possuem
uma graduação positiva, isto é, aqueles para os quais An = (0) para n < 0.
Exemplo 1.3 O modelo básico de anel graduado é o anel de polinômios A = K[x1 , . . . , xn ],
onde K é um corpo e x1 , . . . , xn são indeterminadas sobre A, onde An é o conjunto dos
polinômios homogêneos de grau n.
Definição 1.4 Seja A um anel graduado. Um A-módulo graduado é um A-módulo M munido
∞
M
de uma famı́lia (Mn )n≥0 de subgrupos aditivos de M tais que M =
Mn e Am Mn ⊂ Mm+n
para todos m, n ≥ 0.
n=0
Observações 1.5
(i) Com a notação da Definição1.4, cada Mn é chamado componente homogênea de grau n
de M e é um A0 -módulo. Um elemento x ∈ M é homogêneo de grau n se x ∈ Mn .
X
(ii) Cada elemento y ∈ M pode ser escrito unicamente como uma soma finita
yn , onde
n
yn ∈ Mn , para todo n ∈ N e yn = 0, para quase todo n. As componentes não nulas yn
são chamadas de componentes homogêneas de y.
1.2. FUNÇÃO DE HILBERT
11
(iii) Se M e N são A-módulos graduados, um homomorfismo de A-módulos graduados é um
homomorfismo de A-módulos f : M → N tal que f (Mn ) ⊆ Nn , para todo n ≥ 0.
M
(iv) Seja A é um anel graduado e A+ =
An . Então A+ é um ideal de A.
n>0
Proposição 1.6 Para um anel graduado A, são equivalentes:
(i) A é anel Noetheriano;
(ii) A0 é Noetheriano e A é uma A0 -álgebra finitamente gerada.
M
Demonstração: (i) ⇒ (ii) Seja A+ =
An . Como A é Noetheriano e A+ é ideal de A,
n>0
A
A+ é finitamente gerado. Sendo A0 '
, A0 é Noetheriano. Sejam x1 , . . . , xs os geradores de
A+
A+ , que podemos tomar, sem perda de generalidade, homogêneos de graus k1 , . . . , ks respectivamente. No que segue mostraremos que A = A0 [x1 , . . . , xs ]. Por construção A0 [x1 , . . . , xs ] ⊂ A.
Agora, procedendo por indução sobre n, veremos que An ⊂ A0 [x1 , . . . , xs ] para todo n.
Para n = 0 o resultado é obviamente verdadeiro. Supondo Ak ⊂ A0 [x1 , . . . , xs ] para k ≥ 1
temos:
s
X
y ∈ Ak ⇒ y ∈ A+ ⇒ y =
ai xi ,
i=1
onde ai ∈ An−ki .
Usando a hipótese de indução, segue que para todo i = 1, . . . , s, ai ∈ A0 [x1 , . . . , xs ] e,
assim, sendo A0 [x1 , . . . , xs ] anel, y ∈ A0 [x1 , . . . , xs ]. Portanto An ⊂ A0 [x1 , . . . , xs ] para todo
n ∈ N, o que completa a demonstração.
(ii) ⇒ (i) Teorema da Base de Hilbert 2.16. ¤
1.2
Função de Hilbert
No que segue A =
∞
M
An denotará um anel Noetheriano graduado e Ak sua k-ésima compo-
n=0
nente homogênea. Como acabamos de ver A0 é Noetheriano e A é gerado (como A0 álgebra)
por, digamos, x1 , . . . , xs , que podemos tomar homogêneos de graus k1 , . . . , ks (ki > 0). Seja
M um A-módulo graduado finitamente gerado. Então M é gerado por um número finito de
elementos homogêneos digamos m1 , . . . , mt . Seja rj = grau mj (1 ≤ j ≤ t).
Todo elemento
y de Mn , a componente homogênea de M de grau n, é, deste modo, da
X
forma y =
fj (x)mj , onde fj (x) ∈ A = A0 [x1 , . . . , xs ] é homogêneo de grau n − rj (zero se
j
n < rj ). Segue que Mn é finitamente gerado como um A0 -módulo, sendo seus geradores todos
os fj (x)mj , onde x denota (x1 , . . . , xn ).
Definição 1.7 Seja C uma classe de A-módulos e seja λ uma função sobre C com valores em
Z. A função λ é aditiva se, para cada seqüência exata curta 0 → M 0 → M → M 00 → 0 de
elementos de C temos
λ(M 0 ) − λ(M ) + λ(M 00 ) = 0.
1.2. FUNÇÃO DE HILBERT
12
Exemplo 1.8 Tomando A como um corpo K e C como a classe de todos os K-espaços vetoriais de dimensão finita , então λ : C → N dada por λ(V ) = dimK (V ) para todo V ∈ C, é
uma função aditiva sobre C.
Exemplo
1.9 Sejam S = K[x1 , . . . , xm ] o anel dos polinômios com K corpo. Sabemos
Pm que S =
L∞
α1
αm
i=1 αi = n.
n=0 Sn , onde Sn é o K-espaço vetorial gerado pelos monômios x1 · · · xm onde
Então a K-dimensão de Sn é:
µ
¶
m+n−1
dimK Sn =
.
m−1
α1
αm
De fato,
Pmpara sabermos a dimensão de Sr , basta calcular o número de monômios x1 · · · xm
tais que i=1 αi = r, isto é, a cardinalidade do conjunto
(
)
m
X
Ir,m = (α1 , . . . , αm ) ∈ Nm |
αi = r .
i=1
Faremos a prova por indução sobre m. Se m = 1 e r qualquer temos Ir,1 = {α ∈ N | α = r},
logo
¶
µ
r + (1 − 1)
.
#Ir,1 = 1 =
1−1
Supondo o resultado válido para m − 1 (m > 1) temos que para para todo r vale
µ
¶
r+m−2
#Ir,m−1 =
,
m−2
P
onde Ir,m−1 = {(α1 , . . . , αm−1 ) ∈ Nm−1 | m−1
i=1 αi = r}. Agora,
(
)
m
X
Ir,m = (α1 , . . . , αm ∈ Nm |
αi = r .
i=1
Dado 0 ≤ j ≤ r, consideremos
Ij = {(α1 , . . . , αm ) ∈ Ir,m | αm = j,
m−1
X
αi = r − j}.
i=1
P
m
É claro que Ir,j = ∪˙ j=0 Ij e, portanto, #Ir,m = m
j=0 #Ij . Mas, (α1 , . . . , αm ) ∈ Ij se, e
Pm−1
somente se, i=1 αi = r − j e αm = j, ou seja, se, e somente se, (α1 , . . . , αm−1 ) ∈ Ir−j,m−1 e
αm = j, assim,
µ
¶
r−j+m−2
#Ij = #Ir−j,m−1 =
.
m−2
Logo,
Ir,m
¶
¶ µ
¶ µ
¶
r µ
r µ
X
r − j + m − 2 r−j=i X i + m − 2
r + (m − 2) + 1
r+m−1
=
=
=
=
.
m−2
m−2
(m − 2) + 1
m−1
j=0
i=0
1.2. FUNÇÃO DE HILBERT
13
Observação 1.10 Na definição mais geral de uma função aditiva, λ pode assumir valores em
um grupo abeliano qualquer. Porém, nesse trabalho, λ sempre assumirá valores em Z, sendo
que as funções aditivas mais importantes que usaremos são dimensão e comprimento.
Uma das principais definições com a qual trabalharemos no que segue é:
Definição 1.11 Sejam λ uma função aditiva
L sobre a classe de todos os A0 -módulos finitamente gerados, A um anel graduado e M =
Mn um A-módulo graduado finitamente gerado.
A função de Hilbert de M (com respeito a λ) é a seguinte função:
Hλ (M, −) : N → Z
n 7→ Hλ (M, n) = λ(Mn )
A série de Hilbert-Poincaré de M (com respeito a λ) é a série de potências
P (M, t) =
∞
X
n
Hλ (M, n)t =
n=0
∞
X
λ(Mn )tn ∈ Z[[t]].
n=0
Teorema 1.12 (Hilbert-Serre) Nas hipóteses da definição anterior temos que existe uma
função f (t) ∈ Z[t] tal que
f (t)
,
s
Y
ki
(1 − t )
i=1
onde A = A0 [x1 , . . . , xs ] e xi ∈ Aki .
Demonstração: A demonstração será feita por indução sobre s, o número de geradores
de A sobre A0 .
No caso s = 0, temos A = A0 e An = 0, para todo n > 0. M é um A-módulo finitamente
gerado. Então M é A0 -módulo finitamente gerado, isto é, M = A0 m1 + · · · + A0 mt , com
mi ∈ Mri . Logo, para n > max{ri | i = 1, . . . , t} segue que Mn = 0 e desta forma P (M, t) é
um polinômio, como querı́amos.
Suponha s > 0 e que o resultado vale para s − 1, considerando o A0 homomorfismo de
módulos
ϕs : Mn → Mn+ks
m 7→ xs m
Temos então para todo n a seqüência exata:
ϕs
0 → Kn → Mn → Mn+ks → Ln+ks → 0,
onde Kn = Ker ϕs , Ln+ks = Mn+ks /ϕs (Mn ).
Desta forma Ln ' Mn se n < ks e Ln = L(n−ks )+ks ' Mn /ϕs (Mn−ks ).
M
M
Tomando K =
Kn e L =
Ln e considerando
n
n
ψs : M → M
m 7→ xs m
(1.1)
1.2. FUNÇÃO DE HILBERT
14
temos:
m ∈ M ⇒ m = y1 + · · · + yn , com yi ∈ Mri .
Portanto xs yi ∈ Ms+ri
xs m = 0 ⇒ xs y1 + · · · + xs yn = 0.
X
∩
Mrj = (0).
rj 6=s+rj
Logo yi ∈ Krj , de onde segue que m ∈ K. Assim Ker(ψs ) = K.
Além disso, L ' M/xs M uma vez que se m ∈ M , m = yi1 + · · · + yir + wj1 + · · · + wjs
com it < ks e jl ≥ ks e se φ : M → L tem-se φ(m) = yi1 + · · · + yir + wj1 + · · · + wjs ,
onde wjl = wjl + xs Mjl +ks . φ é obviamente sobrejetora e Ker φ = xs M , de onde segue que
0 → K → M → M → L → 0 é exata.
Agora, como A é Noetheriano e M finitamente gerado, então M é Noetheriano. Logo K
e L também são A-módulos finitamente gerados. Além disso xs K = (0) e xs L = (0) e, deste
modo, são A0 [x1 , . . . , xs−1 ]-módulos finitamente gerados. Aplicando λ em (1.1) obtemos
λ(Kn ) − λ(Mn ) + λ(Mn+ks ) − λ(Ln+ks ) = 0,
(1.2)
multiplicando por tn+ks e somando sobre todos os n obtemos
X
X
X
X
λ(Kn )tn+ks −
λ(Mn )tn+ks +
λ(Mn+ks )tn+ks −
λ(Ln+ks )tn+ks = 0,
n
n
t ks
X
n
λ(Kn )tn − tks
n
X
λ(Mn )tn +
n
X
n
λ(Mn )tn −
n
X
λ(Ln )tn − g(t) = 0,
n
ou seja,
(1 − tks )P (M, t) = P (L, t) − tks P (K, t) + g(t),
(1.3)
Pks −1
P
s −1
onde g(t) = i=0 λ(Mi )ti + ki=0
λ(Li )ti . Como por hipótese de indução o resultado é válido
para L e K, segue o resultado. ¤
Definição 1.13 Nas condições do teorema anterior definimos dλ (M ) como sendo a ordem do
polo t = 1 da função P (M, t).
¡d+k−1¢ k
P
Lema 1.14 Dado d ∈ N temos que (1 − t)d ∈ Z[[t]] é inversı́vel e (1 − t)−d = ∞
t .
k=0
d−1
Demonstração: Mostraremos
o resultado por indução sobre d.
P
k
Sabemos que Z[[t]] = { ∞
a
t
| ak ∈ Z} e a multiplicação em Z[[t]] é definida por
k=0 k
̰
!Ã ∞
!
∞
X
X
X
i
j
ai t
bj t =
ck tk ,
i=0
j=0
k=0
P
onde ck = ki=0 ai b¡k−i . ¢ ¡ ¢
Se d = 1 então d+k−1
= k0 = 1 e
d−1
̰ !
∞
∞
X
X
X
k
k
(1 − t)
t =
t −
tk+1 = 1,
k=0
k=0
k=0
1.2. FUNÇÃO DE HILBERT
15
P
k
logo (1 − t) é inversı́vel e (1 − t)−1 = ∞
k=0 t .
Supondo o resultado válido para d > 1 temos:
−d
(1 − t)
=
¶
∞ µ
X
d+k−1
d−1
k=0
−d
−1
(1 − t) (1 − t)
=
∞
X
k
ck t , onde ck =
tk .
¶
k µ
X
d+i−1
d−1
i=0
k=0
µ
·1=
¶
(d − 1) + k + 1
.
(d − 1) + 1
Logo,
−(d+1)
(1 − t)
=
¶
∞ µ
X
(d − 1) + k + 1
k=0
(d − 1) + 1
¶
∞ µ
X
(d + 1) + k − 1
t =
.¤
(d + 1) − 1
k=0
k
Corolário 1.15 Se cada ki = 1, então para todo n suficientemente grande, λ(Mn ) é um
polinômio em n (com coeficientes racionais) de grau d − 1, onde d = dλ (M ). Além disso, se
d = 0 então λ(Mn ) é zero para n suficientemente grande.
(Adotamos aqui
¡ n ¢a convenção de que o grau
¡ n do
¢ polinômio nulo é −1 e também que o coeficiente binomial −1 = 0, para todo n ≥ 0 e −1 = 1 se n = −1.)
Demonstração: Temos que λ(Mn ) é o coeficiente de tn em f (t)(1 − t)−s . Cancelando as
potências de (1 − t) que aparecem em f , podemos supor, s = d e f (1) 6= 0. Seja
f (t) =
N
X
ak tk .
k=0
¡d+k−1¢ k
P
Como foi visto no lema anterior, (1 − t)d é inversı́vel em Z[[t]] e (1 − t)−d = ∞
t .
k=0
d−1
Donde
!
!Ã ∞ µ
à N
X d + k − 1¶
X
X
1
tk .
ak tk
λ(Mn )tn = f (t)
=
d
−
1
(1 − t)d
k=0
k=0
¡d+n−k−1¢
PN
Assim, para n ≥ N temos que λ(Mn ) = Pk=0 ak d−1 , onde a última soma é um
polinônimo de grau d − 1 com coeficiente lı́der ( ak )/(d − 1)! 6= 0, pois f (1) 6= 0. ¤
Observações 1.16
(i) O polinômio no Corolário 1.15 é usualmente chamado de polinômio de Hilbert de M
(com respeito a λ).
(ii) Para um polinômio f (x) ser tal que f (n) ∈ Z para todo n ∈ Z, não é necessário que f
possua apenas coeficientes inteiros, como podemos ver no exemplo: 21 (x + 1)x.
Proposição 1.17 Se x ∈ Ak não for um divisor de zero em M , então
d(M/xM ) = d(M ) − 1.
1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS
16
Demonstração: Retornando à seqüência (1.1) da demonstração do Teorema de HilbertSerre 1.12, trocando xs por um elemento qualquer x ∈ Ak que não é um divisor de zero em M ,
então K = 0 e a equação (1.2) nos dá que d(L) = d(M ) − 1, onde, neste caso, L = M/xM . ¤
Usaremos o Teorema de Hilbert-Serre no caso em que A0 é um anel Artiniano (em particular
um corpo) e λ(M ) é o comprimento l(M ) de um A0 -módulo finitamente gerado M . Note que
o comprimento de M é finito, isto é, l(M ) ∈ N e l é uma função aditiva sobre o conjunto dos
A0 -módulos finitamente gerados.
Exemplo 1.18 Sejam A = A0 [x1 , . . . , xs ] onde A0 é um anel Artiniano, xi indeterminadas
independentes sobre A0 e λ a função
An ¢é um A0 -módulo livre gerado
¡s+n−1
Pcomprimento l. Então
m1
ms
pelos monômios x1 · · · xs , onde
mi = n. Existem s−1 destes elementos e, assim,
P (A, t) = (1 − t)−s .
1.3
Teoria da Dimensão de Anéis Noetherianos
Definição 1.19 Seja A um anel e a um ideal de A. Definimos o anel graduado associado a
A como sendo o anel graduado
G(A) = Ga (A) =
∞
M
an
an+1
n=0
(a0 = A),
com a multiplicação definida como segue: para cada xn ∈ an , seja xn sua imagem em an /an+1 ;
definimos xm xn como a imagem xm xn , ou seja, a imagem de xm xn em am+n /am+n+1 . Esta
operação está bem definida uma vez que independe da escolha dos representantes pois, dados
xm , x0m ∈ am e xn , x0n ∈ an com xm = x0m e xn = x0n temos então que xm − x0m ∈ am+1 e
xn − x0n ∈ an+1 . Agora,
xm xn − x0m x0n = xm xn − x0m xn + x0m xn + x0m x0n = (xm − x0m ) xn + x0m (xn − x0n ) ∈ am+n+1 .
| {z } |{z} |{z} | {z }
∈am+1
∈an
∈am
∈an+1
Para elementos quaisquer definimos o produto de modo a valer a propriedade distributiva.
Definição 1.20 Seja M um A-módulo graduado e a ⊂ A um ideal.
(i) Uma cadeia descendente M = M0 ⊇ M1 ⊇ · · · ⊇ Mn ⊇ · · · onde os Mn ’s são submódulos
de M é chamada de filtração de M e denotada por (Mn ).
(ii) (Mn ) é uma a-filtração se aMn ⊆ Mn+1 , para todo n e,
(iii) (Mn ) é uma a-filtração estável se aMn = Mn+1 para todo n suficientemente grande.
Exemplo 1.21 Um exemplo de a-filtração estável é (an M ), também chamada de filtração
a-ádica.
Proposição 1.22 (Lema de Artin-Rees) Seja A um anel Noetheriano, a um ideal de A, M
um A-módulo finitamente gerado, (Mn ) uma a-filtração estável de M . Se M 0 é um submódulo
de M , então (M 0 ∩ Mn ) é uma a-filtração estável de M 0 .
1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS
17
Demonstração: Veja [1].
Tomando Mn = an M na proposição anterior obtemos o seguinte:
Corolário 1.23 Existe um inteiro k tal que
(an M ) ∩ M 0 = an−k ((ak M ) ∩ M 0 ),
para todo n ≥ k.
Definição 1.24 Se M é um A-módulo e (Mn ) uma a-filtração de M , definimos o G(A)módulo graduado associado como:
∞
M
Mn
G(M ) =
.
M
n+1
n=0
Neste caso Gn (M ) denotará Mn /Mn+1 .
Exemplo 1.25 Se A = K[x1 , . . . , xn ] é o anel dos polinômios em x1 , . . . , xn sobre um corpo
K e a = (x1 , . . . , xn ), então G(A) ' A (como anéis graduados).
Teorema 1.26 Sejam A um anel Noetheriano local, m seu ideal maximal, q um ideal mprimário, M um A-módulo finitamente gerado e (Mn ) uma q-filtração estável de M . Então:
(i)
M
tem comprimento finito, para todo n ∈ N.
Mn
(ii) Para n suficientemente grande, esse comprimento é um polinômio g(n) de grau menor
ou igual a s onde s é o número mı́nimo de geradores de q.
(iii) O grau de g(n) depende somente de M e q e não da filtração escolhida.
L
L∞ Mn
qn
Demonstração: Sejam G(A) = ∞
n=0 qn+1 e G(M ) =
n=0 Mn+1 . Temos que G0 (A) =
A/q é anel Artiniano, pois é Noetheriano de dimensão zero.
Além disso, G(A) é Noetheriano e G(M ) é um G(A)-módulo finitamente gerado.
Cada Gn (M ) = Mn /Mn+1 é um A-módulo finitamente gerado, anulado por q e, assim, é
um A/q-módulo finitamente gerado. Sendo A/q Artiniano, Gn (M ) é de comprimento finito,
para todo n.
(i) Para mostrar que M/Mn é de comprimento finito para todo n, procedemos por indução
sobre n.
Para n = 0 nada há para fazer, pois M/M0 = M/M ' 0.
Supondo que M/Mn−1 é Artiniano, mostraremos que M/Mn também o é. Consideremos a
seqüência exata
M
M
Mn−1
→
→
→ 0.
(1.4)
0→
Mn
Mn
Mn−1
Como Mn−1 /Mn = Gn−1 (M ) é Artiniano e, por hipótese de indução, M/Mn−1 também é
Artiniano, temos que M/Mn é Artiniano.
1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS
18
Assim, M/Mn também é de comprimento finito.
µ
Afirmação: ln = l
M
Mn
¶
µ
¶
n
X
Mr−1
=
l
, para todo n.
Mr
r=1
Novamente usaremos indução sobre n. Para n = 0, l0 = l(M/M0 ) = l(0) = 0. Supondo o
resultado válido para n ≥ 1, sendo l uma função aditiva, a seqüência (1.4) nos garante que
¶
¶
µ
¶ X
µ
¶
µ
n−1 µ
n
Mn−1
Mr−1
Mn−1 H.I. X Mr−1
=
l
+l
=
l
.
ln = ln−1 + l
Mn
Mr
Mn
Mr
r=1
r=1
(ii) Se x1 , . . . , xs é um conjunto minimal de geradores de q, as imagens xi = xi + q/q2
geram G(A) como A/q-álgebra e cada xi tem grau 1 (G(A) = (A/q)[x1 , . . . , xs ]). Sabemos
que para n suficientemente grande l(Mn /Mn+1 ) = f (n) é um polinômio em n de grau menor
ou igual a s − 1.
Agora, ln+1 −ln = l(Mn /Mn+1 ) = f (n) e, assim, ln é um polinômio g(n) de grau no máximo
s para n suficientemente grande.
(iii) Sejam (M̃n ) outra q-filtração estável de M e g̃(n) = l(M/Mn ). Então existe n0 ∈ N
tal que
Mn+n0 ⊂ M̃n e M̃n+n0 ⊂ Mn , ∀n ≥ 0.
Utilizando-se a seguinte seqüência exata:
0 → Ker ϕ →
M
ϕ M
→
→ 0,
Mn+n0
M̃n
onde ϕ(m + Mn+n0 ) = m + M̃n , temos l(M/Mn+n0 ) ≥ l(M/M̃n ) e, portanto, g(n + n0 ) ≥ g̃(n).
Analogamente, g̃(n + n0 ) ≥ g(n). Assim,
g̃(n + n0 )
g(n)
g̃(n + n0 )
≥
e lim
=1
n→∞
g̃(n)
g̃(n)
g̃(n)
nos garantem que
g(n)
≤ 1.
n→∞ g̃(n)
lim
Por outro lado,
g(n + n0 ) ≥ g̃(n), ou seja,
deste modo,
Conseqüentemente,
1
1
≥
,
g̃(n)
g(n + n0 )
g(n)
g(n)
g(n)
≥
e lim
= 1.
g̃(n)
g(n + n0 ) n→∞ g(n + n0 )
g(n)
≥ 1.
n→∞ g̃(n)
lim
g(n)
= 1, de onde segue que o grau g é igual ao grau de g̃ e, g e g̃ possuem o
n→∞ g̃(n)
mesmo coeficiente lı́der. ¤
Logo lim
1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS
19
Observações 1.27
n
(i) Denotaremos por χM
q (n), o polinômio g(n) correspondendo à filtração (q M ), ou seja:
n
χM
q (n) = l(M/q M )
(para todo n suficientemente grande)
(ii) Se M = A, denotaremos por χq (n) o polinômio χA
q (n) e o chamaremos de polinômio
caracterı́stico do ideal m-primário q.
Nas condições anteriores temos:
Corolário 1.28 Para todo n suficientemente grande, o comprimento l(A/qn ) é um polinômio
χq (n) de grau menor ou igual a s, onde s é o número mı́nimo de geradores de q.
Proposição 1.29 Seja A um anel local, m seu ideal maximal e q um ideal m-primário. Então
grau χq (n) = grau χm (n).
Demonstração: Como A é Noetheriano, todo ideal contém uma potência de seu radical.
Logo, existe r tal que mr ⊂ q ⊂ m e, assim, mrn ⊂ qn ⊂ mn para todo n. Portanto,
µ
¶
µ ¶
µ
¶
A
A
A
l
≥l
≥l
, isto é,
mrn
qn
mn
χm (n) ≤ χq (n) ≤ χm (rn),
para n suficientemente grande. Assim, sendo d o grau de χm (n), temos
1≤
χq (n)
χm (rn)
χm (rn)
≤
e lim
= rd .
n→∞ χm (n)
χm (n)
χm (n)
χq (n)
≤ rd , de onde segue que grau (χq (n)) = grau (χm (n)). ¤
n→∞ χm (n)
Portanto, 1 ≤ lim
Observação 1.30 O teorema nos informa que os polinômios χq (n) possuem o mesmo grau,
independentemente da escolha do ideal m-primário q, ou seja, χq (n) é um invariante do anel
(A, m) sobre os ideais m-primários.
O grau comum de χq (n) será denotado por d(A). Em vista do Corolário 1.15, isto significa
que estamos colocando d(A) = d(Gm (A)) onde d(Gm (A)) é o inteiro definido anteriormente
como o polo em t = 1 da função de Hilbert de Gm (A).
Para A um anel Noetheiano local, com m seu ideal maximal indicamos por K = A/m o
corpo de resı́duos do anel A. Nestas condições m/m2 é um K-espaço vetorial de modo natural
e indicamos por dimK m/m2 a dimensão de m/m2 como K-espaço vetorial.
Seja A um anel Noetheriano local, m seu ideal maximal. Seja δ(A) o número mı́nimo de
geradores de um ideal m-primário de A. Provaremos que δ(A) = d(A) = dim A, onde dim A
indica a dimensão de Krull de A, ou seja, dim A = sup{k ∈ Z | existe p0 ⊂ p1 ⊂ · · · ⊂ pk , pi ∈
Spec(A), onde a inclusão é estrita}. Conseguiremos isto mostrando δ(A) ≥ d(A) ≥ dim A ≥
δ(A).
O Corolário 1.28 e a Proposição 1.29 juntos nos dão:
1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS
20
Proposição 1.31 δ(A) ≥ d(A).
Agora provaremos o análogo da Proposição 1.17 para anéis locais.
Proposição 1.32 Sejam (A, m) anel local e q um ideal m-primário. Sejam M um A-módulo
0
finitamente gerado, x ∈ A um não-divisor de zero de M e M 0 = M/xM . Então grau χM
q ≤
grau χM
q − 1.
Demonstração: Supondo N = xM temos N ' M como A-módulo, tendo em vista que x
não é um divisor de zero de M . Para cada n ∈ N, seja Nn = N ∩qn M . Então temos seqüências
exatas
N
M
M0
0→
→ n → n 0 → 0.
Nn
q M
q M
Assim, se g(n) = l(N/Nn ), temos, para n suficientemente grande
0
M
g(n) − χM
q (n) + χq (n) = 0.
Pela Proposição 1.22, (Nn ) é uma q-filtração estável de N . Como N ' M o Teorema 1.26
(iii) nos garante que g(n) e χM
q (n) possuem o mesmo termo lı́der e o resultado segue. ¤
Corolário 1.33 Se A é um anel Noetheriano local, x um não divisor de zero de A, então
d(A/(x)) ≤ d(A) − 1.
Com as hipóteses e notações dos parágrafos anteriores temos:
Proposição 1.34 d(A) ≥ dim A.
Demonstração: Faremos a demonstração por indução sobre d = d(A).
Se d = 0, então l(A/mn ) é constante para todo n suficientemente grande, logo mn = mn+1
para algum n e, pelo Lema de Nakayama, mn = 0. Deste modo A é Artiniano e dim A = 0.
Supondo d > 0 e que o resultado valha para todo número menor do que d. Tomamos
p0 ⊂ p1 ⊂ · · · ⊂ pr uma cadeia de ideais primos em A. Seja x ∈ p1 , x 6∈ p0 . Tomando
A0 = A/p0 e sendo x0 a imagem de x em A0 , então x0 6= 0 em A0 , A0 é um domı́nio de
integridade e, pelo Corolário 1.33, temos
d(A0 /(x0 )) ≤ d(A0 ) − 1.
Além disso, se m0 é o ideal maximal de A0 , A0 /m0n é a imagem homomórfica de A/mn .
Deste modo, l(A/mn ) ≥ l(A0 /m0n ) e, portanto, d(A) ≥ d(A0 ). Conseqüentemente d(A0 /(x0 )) ≤
d(A) − 1 = d − 1. Pela hipótese de indução, o comprimento de qualquer cadeia de ideais primos
em A0 /(x0 ) é menor ou igual a d − 1. Como as imagens de de p1 , . . . , pr , em A0 /(x0 ), formam
uma cadeia de comprimento r − 1, temos r − 1 ≤ d − 1 e, assim, r ≤ d. Concluı́mos com isto
que dim A ≤ d = d(A). ¤
Corolário 1.35 Se A é um anel Noetheriano local, dim A é finita.
Proposição 1.36 Seja A um anel Noetheriano local de dimensão d. Então existe um ideal
m-primário em A gerado por elementos x1 , . . . , xd e, assim, dim A ≥ δ(A).
1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS
21
Demonstração: Construiremos os elementos x1 , . . . , xd indutivamente de tal modo que
todo ideal primo contendo (x1 , . . . , x[
i ) possua altura maior ou igual a i.
Tomemos x1 de forma que x1 6∈
p, onde
p∈P
P = {p ⊂ A | p é um ideal primo minimal de A}.
p
Notemos que se não existir tal elemento, A é um anel Artiniano local e (0) = m. Logo
δ(A) = 0 e dim A = 0.
Assim, x1 6∈ p para todo p ideal primo minimal de A e, portanto, se q ∈ Spec(A) e x1 ∈ q
então altura de q é maior ou igual a 1, pois q contém algum primo minimal de A.
Tomando i, d ≥ i > 1, e supondo que já tenhamos construı́do (x1 , . . . , xi−1 ) desta forma,
sejam pj (1 ≤ j ≤ s) os ideais primos minimais (se existirem) de (x1 , . . . , xi−1 ) que possuem
altura exatamente i − 1. Como i − 1 < d = dim A = altura m, temos m 6= pj (1 ≤ j ≤ s)
e, deste modo, m 6= ∪sj=1 pj . Tomando xi ∈ m, xi 6∈ ∪pj e q qualquer ideal primo contendo
(x1 , . . . , xi ), então q contém algum ideal primo minimal p de (x1 , . . . , xi−1 ). Se p = pj para
algum j, temos xi 6∈ p e xi ∈ q. Logo q ⊃ p e, portanto, altura de q é maior ou igual a i. Se
p 6= pj então altura de p maior que i − 1 e, assim, altura de q é maior ou igual a i. Logo todo
ideal primo contendo (x1 , . . . , xi ) possui altura maior ou igual a i.
Consideremos então (x1 , . . . , xd ). Se p é um ideal primo que contenha (x1 , . . . , xd ), p possui
altura maior ou igual a d e, assim, p = m (se p ( m temos altura p < altura m = d). Portanto
o ideal (x1 , . . . , xd ) é m-primário. ¤
Teorema 1.37 (Teorema da Dimensão) Para qualquer anel Noetheriano local A, os três
inteiros seguintes são iguais:
(i) O comprimento máximo de cadeias de ideais primos em A, isto é, a dimensão de Krull
do anel A.
(ii) O grau do polinômio caracterı́stico χm (n) = l(A/mn ), isto é, d(A);
(iii) O número mı́nimo de geradores de um ideal m-primário de A, isto é, δ(A).
Demonstração: A demonstração segue das Proposições 1.31, 1.34 e 1.36. ¤
Como conseqüência imediata, obtemos:
Corolário 1.38 dim A ≤ dimk (m/m2 ).
Corolário 1.39 Sejam A um anel Noetheriano e x1 , . . . , xr ∈ A. Então todo ideal primo
minimal p de (x1 , . . . , xr ) possui altura menor ou igual a r.
Demonstração: Em Ap o ideal (x1 , . . . , xr ) torna-se pe -primário (onde pe indica a extensão do ideal p) e, deste modo, r ≥ dim Ap = altura p. ¤
Corolário 1.40 (Teorema do Ideal Principal de Krull) Seja A um anel Noetheriano e
seja x um elemento de A que não é um divisor de zero e nem uma unidade. Então, todo ideal
primo minimal p de (x) possui altura 1.
1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS
22
Demonstração: Pelo Corolário 1.39, temos a altura do ideal p menor ou igual a 1. Se
altura p = 0, então p é um ideal primo contido em (0) e, assim, todo elemento de p é divisor
de zero, que é uma contradição, pois x ∈ p. Logo a altura do ideal p é 1.¤
Corolário 1.41 Sejam A um anel Noetheriano local, x um elemento de m não divisor de
zero. Então dim A/(x) = dim A − 1.
Definição 1.42 Seja (A, m) anel Noetheriano local. Se x1 , . . . , xd geram um ideal m-primário
e d = dim A, dizemos que x1 , . . . , xd é um sistema de parâmetros.
Exemplo 1.43 Se A = K[[x1 , . . . , xn ]] é o anel das séries de potências formais sobre um
corpo K, então x1 , . . . , xn formam um sistema de parâmetros para A, pois eles geram o ideal
maximal.
Um sistema de parâmetros possui certa propriedade de independência, que descreveremos
a seguir:
Proposição 1.44 Sejam x1 , . . . , xd um sistema de parâmetros para A e q = (x1 , . . . , xd ) o
ideal m-primário gerado por eles. Seja f ∈ A[t1 , . . . , td ] um polinômio homogêneo de grau s e
suponha que f (x1 , . . . , xd ) ∈ qs+1 . Então, todos os coeficientes de f estão em m.
Demonstração: Consideremos a aplicação:
³ ´
³ ´
α : Aq [t1 , . . . , td ] → Gq (A) = Aq [x1 , . . . , xd ]
ti 7→ xi
Com as hipóteses sobre f temos que f (t1 , . . . , td ) = 0 (f imagem de f ) e, portanto, f está
no núcleo de α.
Se algum coeficiente de f for uma unidade, então f não será divisor de zero e como α é
claramente sobrejetora, temos que
Gq (A) '
Assim,
ÃA
d (Gq (A)) = d
Porém,
ÃA
d
[t , . . . , td ]
q 1
hf i
q
A
[t , . . . , td ]
q 1
Ker(α)
[t1 , . . . , td ]
Ker(α)
!
µ
=d
!
.
ÃA
≤d
q
[t1 , . . . , td ]
hf i
!
.
¶
A
[t1 , . . . , td ] − 1 = d − 1,
q
isto é, d(Gq (A)) ≤ d − 1. Mas, também, d(Gq (A)) = d(Gm (A)) = d(A) = d, o que é absurdo.
Logo f é divisor de zero de (A/q)[t1 , . . . , td ]. Assim, existe a ∈ A/q, com a 6= 0 e af = 0,
ou seja, abi = 0 para todo bi coeficiente de f . Deste modo, abi ∈ q para todo i. Sendo a 6= 0,
√
a 6∈ q e portanto bi ∈ q = m para todo i, isto é, todo coeficiente de f pertence a m. ¤
Essa proposição tem uma forma simples se A contém um corpo K isomorfo ao corpo de
resı́duos A/m.
1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS
23
Corolário 1.45 Se K ⊂ A é um corpo isomorfo a A/m e se x1 , . . . , xd é um sistema de
parâmetros, então x1 , . . . , xd são algebricamente independentes sobre K.
Demonstração: Suponha f (x1 , . . . , xd ) = 0, onde f é um polinômio com coeficientes em
K. Se f 6≡ 0, podemos escrever f = fs + termos de graus maiores, onde fs é homogêneo de grau
s e fs ≡
6 0. Aplicando a Proposição 1.44 para fs segue que fs tem todos os seus coeficientes
em m, ou seja, fs ≡ 0 (Absurdo!).
Logo f ≡ 0 e x1 , . . . , xd são algebricamente independentes sobre K. ¤
Definição 1.46 Um anel local regular é um anel que satisfaz uma das três condições (equivalentes) da proposição a seguir:
Proposição 1.47 Sejam (A, m) um anel Noetheriano local de dimensão d e K = A/m seu
corpo de resı́duos. Então são equivalentes:
(i) Gm (A) ' K[t1 , . . . , td ], onde os ti ’s são variáveis independentes sobre K;
(ii) dimK (m/m2 ) = d;
(iii) m é gerado por d elementos.
∞
∞
M
M
mn
Demonstração: (i) ⇒ (ii) Temos que Gm (A) =
'
An . Sejam x1 , . . . , xd+1
mn+1
n=0
n=0
elementos de A1 . Como
M
M mn
'
An ' K[t1 , . . . , td ]
Gm (A) =
mn+1
temos ϕ(x1 ), . . . , ϕ(xd+1 ) ∈ A1 . Porém, dim A1 = d e, assim, x1 , . . . , xd+1 são linearmente
dependentes em A1 = m/m2 .
Agora, pelo Corolário 1.38 dimk (m/m2 ) ≥ dim A = d. Portanto, dimk (m/m2 ) = d.
(ii) ⇒ (iii) Sejam m1 , . . . , md os elementos de m cujos resı́duos formam uma base para
m/m2 . Deste modo, m/m2 = hm1 , . . . , md i e, com isto, m = hm1 , . . . , md i + m2 . Pelo Lema
de Nakayama, segue que m = hm1 , . . . , md i.
(iii) ⇒ (i) Sejam m = hx1 , . . . , xd i, A/m = K e
α : K[t1 , . . . , td ] → Gm = K[x1 , . . . , xd ] =
∞
M
Ai
i=1
ti 7→ xi = xi + m2
A aplicação α está bem definida e é, claramente, um homomorfismo sobrejetor de anéis
graduados.
Seja f ∈ K[t1 , . . . , td ] tal que α(f ) = 0. Podemos escrever f = f0 + · · · + fr , onde fj denota
a componente de grau j de f . Como α(f ) = 0 temos que α(f0 ) + · · · + α(fr ) = 0 e, assim,
α(fj ) = 0 para todo j.
Mas, fs é homogêneo de grau s e
fs =
d
X
k=1
ak ti11 · · · tidd , com
X
ir = s.
1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS
24
P
i
Deste modo, fs (x1 , . . . , xd ) = dk=1 ak xi11 · · · xidd , com xi ∈ m/m2 = A1 . Logo xjj ∈ Aij
e, assim, xi11 · · · xidd ∈ As = ms /ms+1 . Como ak ∈ A/m = A0 , fs (x1 , . . . , xd ) ∈ ms /ms+1 e
fs (x1 , . . . , xd ) = 0 temos os coeficientes de fs em m e, portanto, fs = 0. Analogamente se
demonstra pra os outros fj e, com isto, f = 0, de onde segue que α é um isomorfismo. ¤
25
Capı́tulo 2
Bases de Gröbner
2.1
Introdução
2.1.1
Polinômios
Inicialmente, introduziremos algumas notações. Um monômio em x1 , . . . , xn é um produto da
seguinte forma xα1 1 · · · xαnn , onde todos os expoentes α1 , . . . , αn são inteiros não negativos. O
grau total deste monômio é a soma α1 + · · · + αn .
Para simplificar a notação dos monômios, seja α = (α1 , . . . , αn ) ∈ Nn . Denotaremos o
monômio xα1 1 · · · xαnn por xα . Quando α = (0, 0, . . . , 0), xα = 1. Também usaremos |α| =
α1 + · · · + αn , para denotar o grau total do monômio xα e M para o conjunto de todos os
monômios, ou seja,
M = {xα | α ∈ Nn }.
Um polinômio f em x1 , . . . , xn com coeficientes em um corpo K é uma combinação linear
finita de monômios. Escrevemos f na forma:
X
f=
aα xα , aα ∈ K,
α∈Nn
com aα = 0 para quase todo α ∈ Nn .
O conjunto de todos os polinômios em x1 , . . . , xn com coeficientes no corpo K é denotado
por K[x1 , . . .X
, xn ] ou simplesmente K[x].
Seja f =
aα xα um polinômio em K[x].
α
(i) Chamamos aα de coeficiente do monômio xα .
(ii) Se aα 6= 0, então aα xα é um termo de f .
(iii) O grau total de f denotado grau f , é o máximo dos |α| tais que o coeficiente aα 6= 0.
2.1.2
Ordens Monomiais
Definição 2.1 Uma ordem monomial sobre K[x] é qualquer relação > sobre o conjunto dos
monômios M (ou, equivalentemente, sobre os vetores expoentes α ∈ Nn ) satisfazendo
2.1. INTRODUÇÃO
26
(i) > é uma relação de ordem total.
(ii) > é compatı́vel com a multiplicação em K[x], no sentido de que se xα > xβ e xγ é um
outro monômio qualquer, então xα xγ = xα+γ > xβ+γ = xβ xγ .
(iii) > é uma boa ordem, ou seja, todo conjunto não vazio, cujos elementos são todos monômios, possui um menor elemento em relação a >.
Lema 2.2 Uma relação de ordem > sobre M é uma boa ordem se, e somente se, toda seqüência
estritamente decrescente de elementos de M,
xα1 > xα2 > xα3 > · · ·
estaciona.
Demonstração: Claro que se > é uma boa ordem, então toda cadeia de elementos de M
estaciona.
Por outro lado, supondo que toda seqüência estritamente decrescente de elementos em M
estaciona e que > não seja uma boa ordem, teremos algum subconjunto não vazio S ⊂ M sem
menor elemento. Tome xα1 ∈ S. Como xα1 não é o menor elemento de S, existe xα2 ∈ S
com xα1 > xα2 . Novamente, xα2 não é o menor elemento de S e, por isso, existe xα3 ∈ S com
xα2 > xα3 . Continuando desta forma, construı́mos uma seqüência estritamente decrescente
xα1 > xα2 > xα3 > · · ·
que não estaciona. ¤
Exemplos de Ordens Monomiais
Ordem Lexicográfica
Sejam xα e xβ dois monômios em K[x]. Dizemos que xα >lex xβ se na diferença α − β ∈ Zn
a entrada não nula mais a esquerda é positiva, ou seja, se αj − βj > 0 e αi − βi = 0, 1 ≤ i < j.
Ordem Lexicográfica Graduada
α
β
α
β
Sejam x e x dois monômios em K[x]. Dizemos que x >grlex x se
n
X
i=1
αi =
n
X
n
X
i=1
αi >
n
X
βi ou, se
i=1
βi e xα >lex xβ .
i=1
Outra ordem monomial (de certa forma menos intuitiva) é a ordem lexicográfica graduada
reversa:
Ordem Lexicográfica Graduada Reversa
2.1. INTRODUÇÃO
α
27
β
α
β
Sejam x e x dois monômios em K[x]. Dizemos que x >grevlex x se
se
n
X
i=1
αi =
n
X
n
X
i=1
αi >
n
X
βi ou,
i=1
βi e na diferença α − β ∈ Zn a entrada não nula mais a direita é negativa, ou
i=1
seja, αj − βj < 0 e αi − βi = 0, j < i ≤ n.
Note que grlex e grevlex nos dão a mesma ordem nas variáveis, pois
x1 >grlex x2 >grlex · · · >grlex xn , e
x1 >grevlex x2 >grevlex · · · >grevlex xn .
Mas, grevlex é realmente diferente da grlex. Vejamos isto com mais cautela: ambas
ordenam da mesma forma, no caso de graus totais diferentes. Mas numa igualdade, grlex usa
a ordem lex e, assim, ela “olha” na variável mais à esquerda e “favorece” a de maior grau.
Em contraste, quando a grevlex encontra o mesmo grau total, ela “olha” na variável mais à
direita e “favorece” a menor potência!
Exemplo 2.3 Vejamos com exemplos a diferença da grevlex e da grlex em dois casos:
(i) x5 yz >grlex x4 yz 2 pois ambos monômios possuem grau total 7 e x5 yz >lex x4 yz 2 (a
potência da primeira variável em x5 yz é maior que em x4 yz 2 ). Neste caso também
temos x5 yz >grevlex x4 yz 2 , mas por outra razão: a menor variável z, aparece com uma
potência menor em x5 yz.
(ii) Com relação aos monômios x5 y 3 z e x6 yz 2 , ambos de grau total 9, temos x5 y 3 z >grevlex
x6 yz 2 e x6 yz 2 >grlex x5 y 3 z.
Definição 2.4 Fixando uma ordem monomial > sobre K[x] consideramos os termos em
X
f=
cα xα 6= 0.
α
(i) O termo lı́der de f (com respeito a >) é o produto cα xα , onde xα é o maior monômio
(com respeito a >) que ocorre em f com cα 6= 0. Usaremos a notação LT> (f ) ou,
simplesmente, LT (f ), caso não haja confusão sobre a ordem monomial que está sendo
usada.
(ii) O coeficiente do termo lı́der de f é chamado de coeficiente lı́der e o monômio deste termo
é o monômio lı́der, que são denotados, respectivamente por LC(f ) e LM (f ).
(iii) O expoente que aparece no monômio lı́der é chamado de multigrau de f e denotado por
multigrau(f ).
Exemplo 2.5 Consideremos f = x5 y 3 z − x6 yz 2 + x7 .
Como a maior potência em x aparece em x7 temos
LT>lex (f ) = x7 e multigrau>lex (f ) = (7, 0, 0).
2.2. ALGORITMO DA DIVISÃO
28
Observando que |(5, 3, 1)| = |(6, 1, 2)| = 9 > |(7, 0, 0)|, nos termos com grau total 9, a maior
potência em x aparece em x6 yz 2 e a menor potência em z aparece em x5 y 3 z, logo
LT>grlex (f ) = −x6 yz 2 e LT>grevlex (f ) = x5 y 3 z.
Nestes dois casos temos
multigrau>grlex (f ) = (6, 1, 2) e multigrau>grevlex (f ) = (5, 3, 1).
2.2
Algoritmo da Divisão
Usando uma ordem sobre os monômios, podemos generalizar o conhecido algorı́tmo da divisão
para uma variável.
Proposição 2.6 (Algoritmo da Divisão em K[x]) Fixada uma ordem monomial qualquer
> em K[x], seja F = (f1 , . . . , fs ) uma s-upla ordenada de polinômios em K[x] − 0. Então todo
f ∈ K[x] pode ser escrito como
f = a1 f1 + · · · + as fs + r,
onde ai , r ∈ K[x] e r = 0 ou r é uma K-combinação linear de monômios, dos quais nenhum
é divisı́vel por algum LT (fi ), i = 1, . . . , s. Chamamos r de resto da divisão de f por F e será
denotado por r = f¯F . Além disso temos que LT (ai fi ) ≤ LT (f ) sempre que ai 6= 0.
Demonstração: Provaremos a existência dos a1 , . . . , as e r apresentando um algoritmo
que os determina.
Entrada: f1 , . . . , fs , f
Saı́da: a1 , . . . , as , r
a1 := 0; . . . ; an := 0; r := 0
p := f
ENQUANTO p 6= 0 FAÇA
i := 1
ocorreudivisao := falso
ENQUANTO i ≤ s E ocorreudivisao = falso FAÇA
SE LT (fi ) divide LT (p) ENTÃO
ai := ai + LT (p)/LT (fi )
p := p − (LT (p)/LT (fi ))fi
ocorreudivisao := verdadeiro
SENÃO
i := i + 1
SE ocorreudivisao = falso ENTÃO
r := r + LT (p)
p := p − LT (p)
Neste algorı́tmo p representa o dividendo intermediário em cada passo e a variável booleana
ocorreudivisao nos diz quando algum LT (fi ) divide o termo lı́der do dividendo intermediário.
2.2. ALGORITMO DA DIVISÃO
29
Notemos que a cada passo do ENQUANTO..FAÇA principal, precisamente uma das duas
situações a seguir ocorre:
• Passo de Divisão: Se algum LT (fi ) divide LT (p), então o algoritmo adiciona o valor
de LT (p)/LT (fi ) em ai .
• Passo de Resto: Se nenhum LT (fi ) divide LT (p), então o algoritmo adiciona LT (p)
ao resto.
Para provar que o algoritmo funciona, inicialmente mostraremos que
f = a1 f1 + · · · as fs + p + r
(2.1)
vale em todos os passos. Esta igualdade é claramente verdadeira nos valores iniciais de
a1 , . . . , as , p e r. Supondo que em algum passo do algoritmo a igualdade (2.1) valha, se no
próximo passo temos um Passo de Divisão, então algum LT (fi ) divide LT (p) e teremos
·
¸
·
µ
¶ ¸
LT (p)
LT (p)
ai fi + p := ai +
fi + p −
fi .
LT (fi )
LT (fi )
E isto mostra que no próximo passo ai fi +p ficou inalterado. Como nenhuma outra variável
do algoritmo foi alterada, (2.1) continua valendo.
Agora, se o próximo passo for um Passo de Resto, então p e r serão alteradas, mas a soma
p + r não, pois
p + r := [p − LT (p)] + [r + LT (p)],
mantendo (2.1) inalterada. Observamos que o algoritmo pára quando p = 0 e, neste caso,
f = a1 f1 + · · · + as fs + r.
Como termos só serão adicionados a r se não forem divisı́veis por nenhum LT (fi ), segue
que a1 , . . . , as e r possuem as propriedades desejadas quando o algoritmo pára.
Neste ponto, basta mostrar que o algoritmo realmente pára em algum momento. Para
tanto, notemos que o grau total da variável p diminui toda vez que p é redefinida ou se torna
zero. Veremos isto do seguinte modo: se durante um Passo de Divisão p for redefinida como
p0 = p −
µ
LT
LT (p)
fi
LT (fi )
¶
=
LT (p)
fi ,
LT (fi )
LT (p)
LT (fi ) = LT (p).
LT (fi )
Logo p e [LT (p)/LT (fi )]fi possuem o mesmo termo lı́der e, conseqüentemente, sua diferença
p0 possui grau total estritamente menor, se p0 6= 0.
Se ocorrer um Passo de Resto, p será redefinido por
p0 = p − LT (p),
e aqui, o grau total de p0 é estritamente menor que o grau total de p, quando p0 6= 0.
2.2. ALGORITMO DA DIVISÃO
30
Deste modo, nos dois casos, temos que o grau total de p diminui ou p se torna 0.
Se o algoritmo nunca parar, então conseguiremos uma seqüência infinita estritamente decrescente de monômios. A propriedade da boa ordem em >, vista no Lema 2.2, mostra que
isto não ocorre. Assim p = 0 em algum momento, ou seja, o algoritmo pára depois de um
número finito de passos.
Faltou estudar a relação entre o grau total de f e o grau total de ai fi , quando ai 6= 0. Todo
termo de ai é da forma LT (p)/LT (fi ) para algum valor da variável p. O algoritmo começa
com p = f e, acabamos de ver que, o grau total de p vai diminuindo a cada passo. Logo
LT (p) ≤ LT (f ), para todo valor não nulo da variável p.
Temos também que LT (ai ) = LT (p)/LT (fi ) para algum valor de p e, assim
LT (ai fi ) = LT (ai )LT (fi ) =
LT (p)
LT (fi ) = LT (p) ≤ LT (f ),
LT (fi )
concluindo assim a demonstração. ¤
Observação 2.7 Os polinômios a1 , . . . , as e r obtidos na divisão não são unicamente determinados. Se mudarmos a ordem de f1 , . . . , fs podemos obter outros polinômios.
Exemplo 2.8 Para ilustrar o funcionamento do algoritmo, usaremos a ordem lex em R[x, y,z]
e dividiremos f = xy 3 z 2 + xyz 2 por f1 = xy − 1 e f2 = yz 2 − 1.
Inicialmente, teremos a1 = a2 = r = 0 e p = f = xy 3 z 2 + xyz 2 .
• Como LT (f1 ) = xy divide LT (p) = xy 3 z 2 , temos um passo de divisão e
a1 := a1 +
µ
p := p −
LT (p)
LT (f1 )
LT (p)
= 0 + y2z2 = y2z2,
LT (f1 )
¶
f1 = (xy 3 z 2 + xyz 2 ) − (y 2 z 2 )(xy − 1) = xyz 2 + y 2 z 2 .
• Neste passo, novamente, LT (f1 ) divide LT (p) = xyz 2 . O que nos dá outro passo de
divisão. Assim,
a1 := y 2 z 2 + z 2 ,
p := (xyz 2 + y 2 z 2 ) − (z 2 )(xy − 1) = y 2 z 2 + z 2 .
• Agora, LT (f1 ) = xy não divide LT (p) = y 2 z 2 , mas LT (f2 ) = yz 2 sim, gerando mais um
passo de divisão.
a2 := y
e
p := y + z 2 .
• Agora, nem LT (f1 ) = xy nem LT (f2 ) = yz 2 dividem LT (p) = y. Ocorrendo um passo
de resto.
r := r + LT (p) = 0 + y = y,
p := p − LT (p) = y + z 2 − (y) = z 2 .
2.3. LEMA DE DICKSON E TEOREMA DA BASE DE HILBERT
31
• Para finalizar teremos um último passo de resto.
r := y + z 2
e
p := z 2 − z 2 = 0.
Aqui o algoritmo pára retornando os valores
a1 = y 2 z 2 + z 2 , a2 = y, r = y + z 2 .
Deste modo
f = (y 2 z 2 + z 2 )(xy − 1) + (y)(yz 2 − 1) + (y + z 2 ).
Invertendo a ordem da divisão, ou seja, dividindo f = xy 3 z 2 + xyz 2 por f2 = yz 2 − 1 e
f1 = xy − 1, obtemos o seguinte resultado,
f = (xy 2 + x)(yz 2 − 1) + (y)(xy − 1) + (x + y),
o que mostra que os polinômios encontrados pelo algoritmo da divisão não são unicamente
determinados.
2.3
Lema de Dickson e Teorema da Base de Hilbert
Nesta seção apresentaremos uma demonstração do Teorema da Base de Hilbert a partir de uma
versão para ideais monomiais também conhecida como Lema de Dickson. Esta escolha se justifica pelas idéias contidas nas demonstrações que se baseiam unicamente na teoria desenvolvida
neste capı́tulo.
Definição 2.9 Um ideal I ⊂ K[x] é um ideal monomial se existe um subconjunto
A ⊂ M
X
(possivelmente infinito) tal que I consiste de todos os polinômios da forma
hα xα , onde
xα ∈A
α
hα ∈ K[x] e, no caso de A ser infinito, hα = 0 para quase todo x ∈ A. Escrevemos I = hxα |
xα ∈ Ai.
Lema 2.10 Seja I = hxα | xα ∈ Ai um ideal monomial de K[x]. Então um monômio xβ ∈ I
se, e somente se, xβ é divisı́vel por algum xα ∈ A.
α
Demonstração: Se xβ é um múltiplo de xP
, para algum xα ∈ A, então xβ ∈ I.
n
β
β
αi
αi
Reciprocamente, se x ∈ I, então x =
∈ A. Se
i=1 hi x , onde hi ∈ K[x] e x
expandirmos cada hi como combinação linear de monômios, vemos que todo termo no lado
direito da igualdade é divisı́vel por algum xαi e, deste modo, o lado esquerdo xβ também possui
essa propriedade. ¤
Lema 2.11 Sejam I um ideal monomial e f ∈ K[x]. Então são equivalentes:
(i) f ∈ I;
(ii) Todo termo de f está em I;
2.3. LEMA DE DICKSON E TEOREMA DA BASE DE HILBERT
32
(iii) f é uma K-combinação linear de monômios em I.
Demonstração: As implicações (i) ⇒ (ii) ⇒ (iii) são claras.
Para mostrar a implicação (iii) ⇒ (i), seja I = hxα | xα ∈ Ai e suponha que f é uma
s
X
K-combinação linear de monômios em I. Assim, f =
ci xβ i , onde ci ∈ K e xβ i ∈ I. Cada
i=1
xβ i é escrito na forma xβ i = xγ i xαi , onde xαi ∈ A. Portanto,
f=
s
X
i=1
c i xβ i =
s
X
(ci xγ i )xαi ∈ I. ¤
i=1
Como conseqüência imeditata desse lema temos:
Corolário 2.12 Dois ideais monomiais são iguais se, e somente se, possuem os mesmos
monômios. ¤
Para seguirmos o proposto no inı́cio desta seção, apresentaremos a seguir o Lema de Dickson, que como já afirmamos é uma versão do Teorema da Base de Hilbert para ideais monomiais.
Teorema 2.13 (Lema de Dickson) Um ideal monomial I = hxα | xα ∈ Ai ⊂ K[x] =
K[x1 , . . . , xn ] pode ser escrito na forma hxα1 , . . . , xαs i, onde xα1 , . . . , xαs ∈ A. Em particular,
I possui uma base finita.
Demonstração: A demonstração será feita por indução sobre n, onde n é o número de
variáveis. Se n = 1, então I ⊂ K[x1 ] é gerado pelos monômios xα1 , onde xα1 ∈ A ⊂ M. Seja xβ1
o menor elemento de A. Então xβ1 divide todos os outros geradores e, assim, I = hxβ1 i.
Agora assumindo n > 1 e que o teorema seja verdadeiro para n − 1, escrevemos as variáveis
como x1 , . . . , xn−1 , y e, assim, os monômios de K[x1 , . . . , xn−1 , y] são escritos como xα y m , onde
o elemento α = (α1 , . . . , αn−1 ) está em Nn−1 e m ∈ N.
Supondo que I ⊂ K[x1 , . . . , xn−1 , y] seja um ideal monomial, para encontrarmos geradores
de I, consideremos J o ideal em K[x1 , . . . , xn−1 ] gerado pelos monômios xα , onde xα y m ∈ I
para algum m ≥ 0. Como J é um ideal monomial em K[x1 , . . . , xn−1 ] nossa hipótese indutiva
nos garante que um número finito dos xα geram J, digamos J = hxα(1) , . . . , xα(s) i.
Para cada i entre 1 e s, a definição de J nos diz que xα(i) y mi ∈ I para algum mi ≥ 0. Seja m
o maior dos mi . Então para cada k entre 0 e m − 1, consideremos o ideal Jk ⊂ K[x1 , . . . , xn−1 ]
gerado pelos monômios xβ tais que xβ y k ∈ I. Novamente, usando nossa hipótese indutiva, Jk
é gerado por um número finito de monômios, digamos Jk = hxαk (1) , . . . , xαk (sk ) i.
Afirmamos que o ideal I é gerado pelos seguintes monômios:
xα(1) , . . . , xα(s) ,
(de J)
xα0 (1) , . . . , xα0 (s0 ) ,
(de J0 )
xα1 (1) , . . . , xα1 (s1 ) ,
..
.
(de J1 )
2.3. LEMA DE DICKSON E TEOREMA DA BASE DE HILBERT
33
xαm−1 (1) , . . . , xαm−1 (sm−1 ) . (de Jm−1 )
Notemos que todo monômio em I é divisı́vel por um dos monômios da lista pois para
x y ∈ I, se p ≥ m, então xα y p é divisı́vel por algum xα(i) y m , pela construção de J. Por outro
lado, se p ≤ m − 1, então xα y p é divisı́vel por algum xαp (j) y p , pela construção de Jp . Segue,
assim, do Lema 2.10 que os monômios listados geram um ideal com os mesmos monômios de I
e o Corolário 2.12 nos garante que estes dois ideais são os mesmos, provando nossa afirmação.
Para completar a demonstração, mostraremos que é sempre possı́vel obter um conjunto
finito de geradores a partir de um conjunto dado de geradores de I. Voltemos para a notação
com as variáveis x1 , . . . , xn e nosso ideal monomial I = hxα | xα ∈ Ai ⊂ K[x1 , . . . , xn ].
Precisamos mostrar que I é gerado por um número finito de xα ’s de A.
Já vimos, nesta demonstração, que I = hxβ 1 , . . . , xβ s i, onde xβ 1 , . . . , xβ s ∈ I. Como xβ i ∈
I = hxα | xα ∈ Ai, o Lema 2.10, nos garante que cada xβ i é divisı́vel por algum xαi ∈ A e,
claramente, I = hxα1 , . . . , xαs i. ¤
α p
Voltamos nossa atenção, a partir deste momento, para ideais quaisquer de K[x]. Para
I ⊂ K[x] um ideal, o conjunto dos termos lı́deres de elementos de I, denotado por LT (I) é
LT (I) := {LT (f ) | f ∈ I − {0}};
O ideal gerado pelos elementos de LT (I) será denotado por hLT (I)i.
Notemos que se I = hf1 , . . . , fs i, não é verdade que hLT (I)i = hLT (f1 ), . . . , LT (fs )i,
apesar da inclusão hLT (f1 ), . . . , LT (fs )i ⊂ hLT (I)i sempre valer, como pode ser visto no
seguinte exemplo:
Exemplo 2.14 Seja I = hf1 , f2 i, onde f1 = x3 − 2xy, f2 = x2 y − 2y 2 + x. Usando a ordem
monomial grlex em K[x, y], temos
x2 = x(x2 − 2y 2 + x) − y(x3 − 2xy) ∈ I
e, assim, x2 = LT (x2 ) ∈ hLT (I)i. Entretanto, x2 não é divisı́vel por LT (f1 ) = x3 e nem por
LT (f2 ) = x2 y, ou seja,
x2 6∈ hLT (f1 ), LT (f2 )i.
Veremos no que segue que hLT (I)i é um ideal monomial.
Proposição 2.15 Seja I ⊂ K[x] um ideal.
(i) hLT (I)i é um ideal monomial;
(ii) Existem g1 , . . . , gs ∈ I tais que hLT (I)i = hLT (g1 ), . . . , LT (gs )i.
Demonstração: (i) Os monômios lı́deres LM (g) dos elementos g ∈ I − {0} geram o ideal
monomial hLM (g) | g ∈ I − {0}i. Como LM (g) e LT (g) diferem por uma constante não nula,
temos hLM (g) | g ∈ I − {0}i = hLT (I)i. Assim hLT (I)i é um ideal monomial.
(ii) Como hLT (I)i é gerado pelos monômios LM (g) tais que g ∈ I − {0}, o Lema de
Dickson (2.13) nos diz que hLT (I)i = hLM (g1 ), . . . , LM (gt )i para um número finito de elementos g1 , . . . , gt ∈ I. Novamente, como LM (gi ) difere de LT (gi ) por uma constante não nula,
hLT (I)i = hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i. ¤
2.4. BASES DE GRÖBNER
34
Finalizaremos esta seção mostrando que todo ideal de K[x] é gerado por um número finito
de elementos.
Teorema 2.16 (Teorema da base de Hilbert) Todo ideal I ⊂ K[x] possui um conjunto
finito de geradores.
Demonstração: Se I = {0} tomamos nosso conjunto de geradores como sendo {0}. Se
I contém um polinômio não nulo, então construı́mos um conjunto de geradores g1 , . . . , gt ∈ I
como segue: pela Proposição 2.15 existem g1 , . . . , gt ∈ I com hLT (I)i = hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i.
Afirmamos que I = hg1 , . . . , gt i.
Claro que hg1 , . . . , gt i ⊂ I, pois cada gi ∈ I. Por outro lado, dado f ∈ I, aplicando o
algoritmo da divisão para dividir f por g1 , . . . , gt obtemos uma expressão da forma
f = a1 g1 + · · · + at gt + r,
onde todo termo de r não é divisı́vel por nenhum dos LT (g1 ), . . . , LT (gt ). Neste ponto, falta
apenas mostrar que r = 0. Para vermos que isto realmente ocorre notemos que
r = f − a1 g1 − · · · − at gt ∈ I.
Se r 6= 0, então LT (r) ∈ hLT (I)i = hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i e segue, do Lema 2.10 que LT (r)
é divisı́vel por algum LT (gi ), o que contradiz r ser o resto e, assim, r = 0. ¤
2.4
Bases de Gröbner
Tendo um algoritmo de divisão em K[x], é natural nos perguntarmos quais propriedades do
algoritmo da divisão para anéis de polinômios em uma variável são preservados. Por exemplo,
na questão de quando um polinômio f ∈ K[x] pertence a um ideal I = hf1 , . . . , fs i, uma direção
é clara, quando r = f¯F = 0 na divisão de f por F = (f1 , . . . , fs ), teremos f ∈ I. Agora, vale
a recı́proca? Quando f ∈ I, teremos r = f¯F = 0 na divisão de f por F = (f1 , . . . , fs )?
Analisemos um exemplo:
Exemplo 2.17 Sejam f = xy 2 − x, f1 = xy + 1, f2 = y 2 − 1 e I = hf1 , f2 i. Dividindo f por
(f1 , f2 ) obtemos
f = y(xy + 1) + 0(y 2 − 1) + (−x − y),
assim o resto da divisão de f por (f1 , f2 ) é não nulo, mas
f = 0(xy + 1) + x(y 2 − 1) ∈ I.
Qual foi o problema? Olhando f = y(xy + 1) + 0(y 2 − 1) + (−x − y) e como f ∈ I temos
que f¯F é um elemento de I, mas é não nulo, pois contém termos que não podem ser removidos
pela divisão por estes geradores particulares de I, os termos lı́deres de f1 = xy + 1 e f2 = y 2 − 1
não dividem o termo lı́der de f¯F .
Para a divisão produzir resto zero para todo elemento de I, precisamos ser capazes de
remover todos os termos lı́deres de elementos de I usando os termos lı́deres dos divisores
e como vimos, no exemplo, isso nem sempre acontece. Porém, há uma classe especial de
elementos de I que resolve esse problema, as chamadas Bases de Gröbner:
2.4. BASES DE GRÖBNER
35
Definição 2.18 Fixemos uma ordem monomial em K[x] e seja G = {g1 , . . . , gt } um subconjunto finito de um ideal I ⊂ K[x]. Se G possui a seguinte propriedade
hLT (I)i = hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i,
então G é chamado de uma base de Gröbner de I.
Proposição 2.19 Fixe uma ordem monomial em K[x]. Então todo ideal I ⊂ K[x] possui
uma base de Gröbner com relação a esta ordem. Além disso, uma base de Gröbner para I
também é uma base de I.
Demonstração: A primeira parte desta proposição vimos no item (ii) da Proposição 2.15.
Para a segunda parte, observe que, se hLT (I)i = hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i, então o argumento
usado na demonstração do Teorema da Base de Hilbert (2.16) mostra que I = hg1 , . . . , gt i. ¤
Teorema 2.20 (Macaulay) Seja I ⊂ K[x] um ideal não nulo qualquer e B = {monômios
que não pertencem a LT (I)}. Então B = {aα xα + I | aα xα ∈ B} é uma K-base do K-espaço
vetorial K[x]/I.
Demonstração: Mostraremos que B gera K[x]/I e é linearmente independente.
Observemos que B gera K[x]/I se, e somente se, K[x] = hBi + I. Suponhamos por
absurdo que hBi + I ( K[x]. Deste modo, K[x] − (hBi + I) 6= ∅ e, assim, {LT (f ) | f ∈
K[x] − (hBi + I)} 6= ∅.
Com isto, existe f ∈ K[x] − (hBi + I) de tal modo que LT (f ) é minimal em {LT (f ) | f ∈
K[x] − (hBi + I)}. Como LT (f − LT (f )) < LT (f ), temos f − LT (f ) ∈ hBi + I. Aqui temos
duas possibilidades para LT (f ): LT (f ) ∈ hBi ou LT (f ) 6∈ hBi (no segundo caso temos que
LT (f ) ∈ LT (I)).
Se LT (f ) ∈ hBi, temos que f ∈ hBi + I, o que é um absurdo. Considerando a outra
possibilidade, LT (f ) ∈ LT (I) e existe g ∈ I tal que LT (f ) = LT (g). Deste modo, LT (f −g) <
LT (f ) e, assim, f − g ∈ hBi + I, concluindo que f ∈ hBi + I, o que é, novamente, um absurdo.
Portanto, K[x]/I = hBi.
Falta verificar que B é linearmente independente. Para tanto, consideremos a1 , . . . , as ∈ K
e u1 , . . . , us ∈ B. Suponha a1 u1 + · · · + as us = 0 ou, equivalentemente, a1 u1 + · · · + as us ∈ I.
Se algum ai 6= 0 temos a1 u1 + · · · + as us 6= 0 e, assim, LT (a1 u1 + · · · + as us ) ∈ LT (I). Seja
LT (a1 u1 + · · · + as us ) = aj uj , para algum j ∈ {1, . . . , s}. Como aj 6= 0 e a1 u1 + · · · + as us ∈
³
´
1
I temos
(a1 u1 + · · · + as us ) ∈ I e LT a1j (a1 u1 + · · · + as us ) = uj ∈ LT (I), que é um
aj
absurdo! Logo, ai = 0, i = 1, . . . , s.
Portanto B é uma base para o K-espaço K[x]/I. ¤
2.4.1
Unicidade do Resto
Fixando uma ordem monomial qualquer > em K[x], seja I ⊂ K[x] um ideal. A divisão de
f ∈ K[x] por uma base de Gröbner de I produz uma expressão f = g +r, onde g ∈ I e nenhum
termo de r é divisı́vel por algum elemento de LT (I) e, além disso, r é único em relação a G.
Formalizaremos este resultado na seguinte proposição:
2.4. BASES DE GRÖBNER
36
Proposição 2.21 Seja G = {g1 , . . . , gt } uma base de Gröbner para um ideal I ⊂ K[x] e seja
f ∈ K[x]. Então existe um único r ∈ K[x] com as duas seguintes propriedades:
(i) Nenhum termo de r é divisı́vel por algum elemento de LT (I).
(ii) Exite g ∈ I tal que f = g + r.
Em particular, r é o resto da divisão de f por G, não importando como os elementos de G
sejam listados para efetuar o algoritmo da divisão.
Demonstração: O algoritmo da divisão nos dá a existência de r nas condições exigidas.
Para provarmos a unicidade, suponhamos f = g + r = g 0 + r0 , r e r0 satisfazendo (i) e (ii).
Então r0 − r = g − g 0 ∈ I e, se r0 − r 6= 0, temos LT (r0 − r) ∈ LT (I) = hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i.
Absurdo, pois nenhum termo de r ou r0 é divisı́vel por algum LT (gi ). Portanto r0 − r = 0 e a
unicidade está provada.
A parte final da proposição segue da unicidade do resto. ¤
Em outras palavras, o resto da divisão de f por uma base de Gröbner para I é unicamente
determinado e é chamado forma normal de f módulo I Ele depende somente da escolha da
ordem monomial e não de como a divisão é efetuada. Essa unicidade do resto nos dá outra
caracterização das Bases de Gröbner.
Como corolário, da proposição anterior, obtemos o seguinte critério para determinar se um
polinômio pertence ou não a um ideal.
Corolário 2.22 Seja G = {g1 , . . . , gt } uma base de Gröbner para um ideal I ⊂ K[x] e seja
G
f ∈ K[x]. Então f ∈ I se, e somente se, f = 0.
2.4.2
Critério de Buchberger
Em termos práticos, mais útil que a demonstração da existência de uma base de Gröbner é um
algoritmo, devido a Buchberger, que toma um conjunto arbitrário de geradores {f1 , . . . , fs } de
I e produz uma base de Gröbner {g1 , . . . , gt } para I.
Definição 2.23 Sejam f, g ∈ K[x] não nulos. Fixada uma ordem monomial, sejam LT (f ) =
cxα e LT (g) = dxβ , onde c, d ∈ K. Seja xγ o menor múltiplo comum de xα e xβ . Então, o
S-polinômio de f e g denotado por S(f, g) é o polinômio:
S(f, g) =
xγ
xγ
f−
g.
LT (f )
LT (g)
Note que, pela definição, obviamente S(f, g) ∈ hf, gi.
Lema 2.24 Consideremos uma soma da forma
t
X
ci xαi gi , com c1 , . . . , ct constantes e αi +
i=1
n
multigrau(gi ) = δ ∈ N , sempre que ci 6= 0. Se o multigrau de
t
X
i=1
ci xαi gi é estritamente menor
2.4. BASES DE GRÖBNER
37
que δ, então existem constantes cjk tais que
t
X
ci xαi gi =
i=1
X
cjk x
δ−γ jk
S(gj , gk ),
j,k
γ
onde x jk = MMC(LM (gj ), LM (gk )).
δ−γ
Além disso, cada x jk S(gj , gk ) possui multigrau estritamente menor que δ.
Demonstração: Seja di = LC(gi ), assim ci di é o coeficiente lı́der de ci xαi gi . Como ci xαi gi
t
X
possui multigrau δ e, sua soma possui multigrau estritamente menor, segue que
ci di = 0.
Definamos pi = xαi gi /di e note que LC(pi ) = 1. Consideremos a soma:
t
X
i=1
αi
ci x g i =
t
X
i=1
ci di pi =
i=1
= c1 d1 (p1 − p2 ) + (c1 d1 + c2 d2 )(p2 − p3 ) + · · ·
· · · + (c1 d1 + · · · + ct−1 dt−1 )(pt−1 − pt )+
+(c1 d1 + · · · + ct dt )pt .
(2.2)
Agora, seja LT (gi ) = di xβ i . Por hipótese temos αi + β i = δ, para todo i, 1 ≤ i ≤ t. Então
γ
LM (gi ) = xβ i divide xδ e, conseqüentemente x jk = MMC(LM (gj ), LM (gk )) também divide
δ−γ
xδ . Assim x jk é um monômio e
µ γ
¶
γ
x jk
x jk
δ−γ jk
δ−γ jk
S(gj , gk ) = x
x
gj −
gk =
LT (gj )
LT (gk )
(2.3)
xδ
xαj
xαk
xδ
g
−
g
=
g
−
g
=
p
−
p
.
=
j
k
j
k
j
k
β
dj
dk
dk xβ k
dj x j
Usando esta equação e o fato que
t
X
i=1
Pt
i=1 ci di
= 0, a soma 2.2 acima pode ser escrita como
ci xαi gi = c1 d1 xδ−γ 12 S(g1 , g2 ) + (c1 d1 + c2 d2 )xδ−γ 23 S(g2 , g3 ) + · · ·
· · · + (c1 d1 + · · · + ct−1 dt−1 )xδ−γ t−1t S(gt−1 , gt ),
que é uma soma na forma desejada. Como pj e pk possuem multigrau δ e coeficiente lı́der 1,
a diferença pj − pk possui multigrau estritamente menor que δ. Pela Equação (2.3), o mesmo
δ−γ
vale para x jk S(gj , gk ) e o lema está provado. ¤
Usando este lema, podemos provar o critério de Buchberger que, conforme afirmamos antes
nos dá uma caracterização das bases de Gröbner de um ideal I, bem como permite obter um
processo bastante simples para produzirmos uma base de Gröbner de um ideal dado.
Teorema 2.25 (Critério de Buchberger) Seja I ⊂ K[x] um ideal. Então uma base G =
{g1 , . . . , gt } de I é uma base de Gröbner para I se, e somente se, para todo par i 6= j,
G
S(gi , gj ) = 0.
2.4. BASES DE GRÖBNER
38
G
Demonstração: (⇒) Sendo G uma base de Gröbner e S(gi , gj ) ∈ I, temos S(gi , gj ) = 0.
(⇐) Seja f ∈ I um polinômio não nulo e mostremos que, se todos os S-polinômios possuem
resto zero na divisão por G, então
LT (f ) ⊂ hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i.
Antes apresentaremos a idéia da demonstração. Dado f ∈ hg1 , . . . , gt i, existem polinômios
hi ∈ K[x] tais que
t
X
f=
hi g i .
(2.4)
i=1
Assim,
multigrau(f ) ≤ multigrau(hi gi ).
(2.5)
Se a igualdade não ocorrer, então algum cancelamento ocorre entre os termos lı́deres
de (2.4). O Lema 2.24 nos permite, assim, reescrever esta expressão em termos dos SG
polinômios e, deste modo, nossa hipótese de que S(gi , gj ) = 0, i 6= j , nos permite trocar
os S-polinômios por expressões que envolvem menos cancelamentos de termos lı́deres. Continuando neste caminho, conseguiremos uma expressão de f na forma (2.4) onde a igualdade
em (2.5) vale. Então multigrau(f ) = multigrau(hi gi ) para algum i e, segue que LT (f ) é
divisı́vel por LT (gi ). Isto mostra que LT (f ) ∈ hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i, provando o teorema.
Vejamos os detalhes da demonstração.
Dada uma expressão (2.4) para f , seja mi = multigrau(hi gi ) e δ = max{m1 , . . . , mt }. A
inequação (2.5) se torna, então
multigrau(f ) ≤ δ.
Agora, consideremos todas as maneiras possı́veis de escrever f na forma (2.4). Para cada
uma destas expressões conseguimos um possı́vel δ distinto. Como uma ordem monomial é uma
boa ordem, podemos escolher uma expressão (2.4) para f com δ minimal.
Mostraremos que com esta escolha minimal, temos multigrau(f ) = δ. Com isto a igualdade
em (2.5) ocorre e, como foi observado,
LT (f ) ∈ hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i.
Vejamos então que multigrau(f ) = δ. Se isto não ocorrer então multigrau(f ) < δ.
Podemos escrever f na forma:
X
X
hi gi +
hi gi =
f =
mi =δ
=
X
mi =δ
mi <δ
LT (hi )gi +
X
mi =δ
(hi − LT (hi ))gi +
X
hi gi .
(2.6)
mi <δ
Os monômios que aparecem nos segundo e terceiro somatórios possuem todos multigrau
estritamente menor que δ. Assim, como assumimos multigrau(f ) < δ, temos o primeiro
somátorio também com multigrau estritamente menor que δ.
2.4. BASES DE GRÖBNER
39
Seja LT (hi ) = ci xαi . Então, a soma
X
X
LT (hi )gi =
ci xαi gi ,
mi =δ
mi =δ
possui exatamente a forma descrita no Lema 2.24, pois ci xαi gi possui multigrau δ e sua soma
multigrau estritamente menor que δ. Portanto o Lema 2.24 implica
X
X
δ−γ
LT (hi )gi =
cjk x jk S(gj , gk ),
(2.7)
j,k
mi =δ
γ
onde cj,k ∈ K e x jk = MMC(LM (gj ), LM (gk )).
Usando a hipótese de que o resto de S(gj , gk ) na divisão por g1 , . . . , gt é zero. Pelo Algoritmo
da Divisão, isto significa que cada S-polinômio pode ser escrito na forma
S(gj , gk ) =
t
X
aijk gi ,
i=1
onde aijk ∈ K[x]. O algoritmo ainda nos diz que
multigrau(aijk gi ) ≤ multigrau(S(gj , gk )),
(2.8)
para todo i, j, k.
δ−γ
Multiplicando a expressão de S(gj , gk ) por x jk obtemos
x
δ−γ jk
S(gj , gk ) =
t
X
bijk gi ,
i=1
δ−γ
onde bijk = x jk aijk .
Então (2.8) e o Lema 2.24 nos garantem que
multigrau(bijk gi )) ≤ multigrau(x
δ−γ jk
S(gj , gk )) ≤ δ.
δ−γ
Substituindo a expressão para x jk S(gj , gk ) na equação (2.7), obtemos
X
X
δ−γ
LT (hi )gi =
cjk x jk S(gj , gk ) =
mi =δ
j,k
à t
!
Ã
!
t
X
X
X
X
=
cjk
bijk gi =
cjk bijk gi .
i=1
j,k
Escrevendo esta última soma como
t
X
j,k
h0i gi , segue de (2.9) que
i=1
multigrau(h0i gi ) < δ,
pois os cjk são constantes.
i=1
(2.9)
2.4. BASES DE GRÖBNER
Para finalizar substituindo
40
X
LT (hi )gi =
f=
h0i gi +
i=1
h0i gi na equação (2.6) e obtemos
i=1
mi =δ
t
X
t
X
X
X
(hi − LT (hi ))gi +
mi =δ
hi gi .
mi <δ
Assim, expressamos f como uma combinação polinomial dos gi ’s onde todos os termos
possuem multigrau estritamente menor que δ. Isto contradiz a minimalidade de δ e completa
a demonstração. ¤
Usando este critério, obtemos um processo muito simples para produzir uma base de
Gröbner de um ideal dado, o qual descrevemos a seguir:
Entrada: F = (f1 , . . . , fs )
Saı́da: Uma base de Gröbner G = {g1 , . . . , gt } para I = hF i, com F ⊂ G
G := F
REPITA
G0 := G
PARA cada par p 6= q em G0 FAÇA
G0
S := S(p, q)
SE S 6= 0 ENTÃO G := G ∪ {S}
ATÉ G = G0
Exemplo 2.26 Considere K[x, y] com a ordem grlex e I = hf1 , f2 i = hx3 −2xy, x2 y−2y 2 +xi.
Note que {f1 , f2 } não é uma base de Gröbner de I pois,
S(f1 , f2 ) = y(x3 − 2xy) − x(x2 − 2y 2 + x) = −x2 ∈ I,
e LT (S(f1 , f2 )) = −x2 6∈ hLT (f1 ), LT (f2 )i.
Usaremos o algoritmo para produzir uma base de Gröbner de I.
G0
• No primeiro passo temos G0 := {f1 , f2 } e S(f1 , f2 )
adicionado a G e o algoritmo continua.
G0
= −x2 6= 0. Assim f3 = −x2 é
G0
• No segundo passo, determinaremos S(f1 , f2 ) , S(f1 , f3 ) , S(f2 , f3 )
{f1 , f2 , f3 }.
S(f1 , f2 ) = f3 e, assim, S(f1 , f2 )
G0
G0
e, neste passo, G0 =
= 0.
G0
S(f1 , f3 ) = 1(x3 − 2xy) − (−x)(−x2 ) = −2xy e S(f1 , f3 )
é adicionado a G.
= −2xy 6= 0. Logo f4 = −2xy
G0
S(f2 , f3 ) = 1(x2 y − 2y 2 + x) − (−y)(−x2 ) = −2y 2 + x e S(f2 , f3 )
Adicionando f5 = −2y 2 + x em G.
Novamente G foi alterado e continuamos o processo.
= −2y 2 + x 6= 0.
2.4. BASES DE GRÖBNER
41
• Neste passo, fazemos G0 = {f1 , f2 , f3 , f4 , f5 }. Sabemos que
G0
S(f1 , f2 )
G0
= S(f1 , f3 )
G0
G0
= S(f2 , f3 )
G0
= 0.
G0
G0
G0
Falta verificar quanto valem S(f1 , f4 ) , S(f1 , f5 ) , S(f2 , f4 ) , S(f2 , f5 ) , S(f3 , f4 ) ,
G0
G0
S(f3 , f5 ) , S(f4 , f5 ) . Mais alguns cálculos (podemos usar um programa de computação
algébrica, como veremos no Apêndice A) concluı́mos que eles são todos nulos e, deste
modo,
f1 = x3 − 2xy, f2 = x2 y − 2y 2 + x, f3 = −x2 , f4 = −2xy, f5 = −2y 2 + x
formam uma base de Gröbner para I.
2.4.3
Base de Gröbner Reduzida
Lema 2.27 Seja G uma base de Gröbner para o ideal I ⊂ K[x]. Se p ∈ G é um polinômio tal
que LT (p) ∈ hLT (G − {p})i então G − {p} é também uma base de Gröbner para I.
Demonstração: Sabemos que hLT (G)i = hLT (I)i. Se LT (p) ∈ hLT (G − {p})i, então
hLT (G − {p})i = hLT (G)i. Pela definição, segue que G − {p} é uma base de Gröbner para I.
¤
Ajustanto as contantes para que todo coeficiente lı́der seja 1 e removendo qualquer p tal
que LT (p) ∈ LT (G) − {p} de G, chegamos ao que chamamos de base de Gröbner minimal.
Definição 2.28 Uma base de Gröbner minimal para um ideal I ⊂ K[x] é uma base de Gröbner
G que satisfaz:
(i) LC(p) = 1 para todo p ∈ G;
(ii) Para todo p ∈ G, LT (p) 6∈ hLT (G) − {p}i.
Aplicando o algoritmo de Buchberger e depois usando o Lema 2.27 para eliminar qualquer
gerador desnecessário que possa ter sido incluı́do, podemos construir uma base de Gröbner
minimal para um dado ideal não nulo. Para ilustrar o processo, voltemos ao ideal I estudado
no Exemplo 2.26:
Exemplo 2.29 Lembrando que I = hf1 , f2 i, com f1 = x3 − 2xy e f2 = x2 y − 2y 2 + x. Usando
a ordem grlex encontramos uma base de Gröbner
G = {f1 = x3 − 2xy, f2 = x2 y − 2y 2 + x, f3 = −x2 , f4 = −2xy, f5 = −2y 2 + x},
para I.
2.4. BASES DE GRÖBNER
42
Como alguns coeficientes lı́deres são diferentes de 1, os polinômios serão multiplicados por
constantes adequadas para que isto ocorra, obtendo uma nova base de Gröbner para I:
G̃ = {f˜1 = x3 − 2xy, f˜2 = x2 y − 2y 2 + x, f˜3 = −x2 , f˜4 = −2xy, f˜5 = −2y 2 + x}.
Observando que LT (f˜1 ) = x3 = xLT (f˜3 ) e que LT (f˜2 ) = x2 y = xLT (f˜4 ), podemos
dispensar f˜1 e f˜2 de G̃. Como não há outro caso onde o termo lı́der de um gerador divide o
termo lı́der de outro, temos que
1
f˜3 = x2 , f˜4 = xy, f˜5 = y 2 − x
2
formam uma base de Gröbner minimal de I.
Infelizmente, um ideal dado pode ter muitas bases de Gröbner minimais. Por exemplo, no
ideal I considerado acima os elementos
1
fˆ3 = x2 + axy, f˜4 = xy, f˜5 = y 2 − x
2
também formam uma base de Gröbner minimal, onde a ∈ K é uma constante. Portanto,
podemos produzir infinitas bases de Gröbner minimais (assumindo que K é infinito). Mas,
felizmente, podemos escolher uma base de Gröbner minimal que é melhor que as outras, como
veremos a seguir:
Definição 2.30 Uma base de Gröbner reduzida para um ideal I ⊂ K[x] é uma base de Gröbner
minimal de I tal que para todo p ∈ G, nenhum monômio de p pertence a hLT (G − {p})i.
Exemplo 2.31 Para o nosso ideal I = hx3 − 2xy, x2 y − 2y 2 + xi considerado anteriormente,
temos que
1
f˜3 = x2 , f˜4 = xy, f˜5 = y 2 − x
2
forma a base de Gröbner reduzida de I.
As bases de Gröbner reduzidas possuem a seguinte propriedade:
Proposição 2.32 Fixada uma ordem monomial > sobre K[x], cada ideal em K[x] possui uma
única base de Grôbner reduzida com respeito a >.
Demonstração: Seja G uma base de Gröbner minimal para I. Dizemos que g ∈ G
é reduzido módulo G se nenhum monômio de G está em hLT (G − {g})i. Nosso objetivo é
modificar G até que todos seus elementos sejam reduzidos.
Uma primeira observação é que se g é reduzido módulo G, então g é também reduzido
módulo qualquer outra base de Gröbner minimal de I que contém g e possui o mesmo conjunto
de termos lı́deres, pois a definição de elemento reduzido envolve apenas estes termos.
Agora, dado g ∈ G seja g 0 = g G−{g} e definindo G0 = (G − {g}) ∪ {g 0 }. Afirmamos que G0 é
uma base de Gröbner minimal para I. Notemos que LT (g 0 ) = LT (g), pois quando dividimos g
por G−{g}, LT (g) vai para o resto por não ser divisı́vel por qualquer elemento de LT (G−{g}).
2.5. FUNÇÃO DE HILBERT DE S/I, COM I IDEAL MONOMIAL
43
Assim hLT (G0 )i = hLT (G)i. Como, claramente, G0 ⊂ I, temos G0 uma base de Gröbner para
I que também é minimal. Finalmente, g 0 é reduzido módulo G0 por construção.
Repetimos o processo acima até todos os elementos de G sejam reduzidos.
Observamos que a base de Gröbner pode mudar toda vez que aplicarmos o processo, mas
pelo que vimos anteriormente, uma vez que o elemento é reduzido, ele permanece reduzido, pois
nunca trocamos os termos lı́deres. Assim, terminamos o processo com uma base de Gröbner
reduzida.
Para finalizar a demonstração falta verificarmos a unicidade. Suponhamos G e G̃ bases
de Gröbner reduzidas para I. Então, em particular, G e G̃ são bases de Gröbner minimais
e, assim, LT (G) = LT (G̃). Para verificarmos essa iguadade, observemos que hLT (G)i =
hLT (I)i = hLT (G̃)i. Deste modo, dado g ∈ G, LT (g) ∈ hLT (G̃)i e, com isto, exite g̃ ∈ G̃
tal que LT (g̃) divide LT (g). Por outro lado, LT (g̃) ∈ hLT (G)i e, com isto, existe g 0 ∈ G tal
que LT (g 0 ) divide LT (g̃). Se g 6= g 0 , temos LT (g) ∈ hLT (G − {g}i pois LT (g 0 ) divide LT (g),
o que é um absurdo. Portanto g = g 0 e LT (g) = LT (g̃). Analogamente podemos demonstrar
que para todo g̃ ∈ G̃, temos LT (g̃) ∈ LT (G) e, portanto, LT (G) = LT (G̃).
Com isto, dado g ∈ G, existe g̃ ∈ G̃ tal que LT (g) = LT (g̃). Se pudermos mostrar que
g = g̃, mostramos que G = G̃ e a unicidade está provada.
Para ver que g = g̃, consideremos g − g̃. Este é um elemento de I e, como G é uma base
G
de Gröbner, g − g̃ = 0. Sabemos que LT (g) = LT (g̃), assim estes termos são cancelados em
g − g̃ e os termos restantes não são divisı́veis pelos elementos de LT (G) = LT (G̃), pois G e
G
G̃ são bases reduzidas. Isto mostra que g − g̃ = g − g̃ e, então, g − g̃ = 0, o que completa a
demonstração. ¤
2.5
Função de Hilbert de S/I, com I Ideal Monomial
Nesta seção denotaremos K[x] por S e apresentaremos um processo para calcular a função
de Hilbert de S/I com I ideal monomial e a função λ a dimensão. Antes porém, e até
mesmo para ressaltar a importância deste procedimento apresentaremos um resultado que é
decorrência natural do Teorema de Macaulay 2.20.
Teorema 2.33 Seja I um ideal homogêneo. Então a função de Hilbert de S/I é a mesma de
S/hLT (I)i.
Demonstração: Sejam B = {monômios que não estão em LT (I)}, Sd o conjunto de elementos de grau d de S = K[x] e S d a imagem de Sd em S/I. Temos que H(S/I, d) =
dimK S d = #(Sd ∩ B). Pelo Teorema de Macaulay 2.20 e pelo fato de I ser homogêneo,
H(S/hLT (I)i, d) = #{m ∈ Sd | m monômio e m 6∈ LT (I)} = #(Sd ∩ B).
Logo, H(S/I, d) = H(S/hLT (I)i, d). ¤
Definição 2.34 Seja I ⊂ S um ideal monomial, isto é, I = hm1 , . . . , mr i, onde cada mi é um
monômio. Dizemos que o conjunto {m1 , . . . , mr } é um conjunto minimal de geradores de I se
mi não divide mj , para todo i, j ∈ {1, . . . , r}, i 6= j.
2.5. FUNÇÃO DE HILBERT DE S/I, COM I IDEAL MONOMIAL
2.5.1
44
Processo para Calcular a Função de Hilbert de S/I, com I
ideal monomial
Sejam I = hm1 , . . . , mr i ideal monomial de S e Sd o conjunto dos elementos de grau d de S.
Procedemos por indução sobre r.
Se r = 1 então I = hmi. Supondo grau de m = d temos, como vimos no Capı́tulo 1,
µ
¶
µ
¶
S
S
H
, i = dimK
.
hmi
hmi i
¡
¢
Para i = 0, . . . , d − 1, (S/hmi)i ' Si e, assim, dimK (Si ) = n+i−1
, i = 0, . . . , d − 1.
n−1
Também, dimK (S/hmi)d = dimK Sd − 1 pois grau de m é d.
Seja i > d, então existe u ∈ N tal que i = d + u. Como queremos calcular a dimensão de
(S/hmi)i , nos interessa saber o número de monômios de grau i de S que não são múltiplos
de m. Logo dimK (S/hmi)i = dimK Si − dimK Su , pois se v ∈ Su , então vm ∈ Si e, portanto,
temos
eliminar
¡n+i−1¢que¡i−d+n−1
¢ todos os monômios da forma vm, com v ∈ Su . Assim, dim(S/hmi)i =
−
, i ≥ d, de onde segue que
n−1
n−1
µ
H
S
,i
hmi
¶
½ ¡n+i−1¢
, se i < d
n−1 ¢
¡i−d+n−1¢
= ¡n+i−1
−
, se i ≥ d
n−1
n−1
e, portanto, sabemos calcular a Função de Hilbert de S/hmi.
Suponhamos, então, r > 1 e que o resultado seja válido para todo número menor do que r,
isto é, se I 0 é gerado por s elementos e s < r então sabemos calcular a função de Hilbert de I 0 .
Seja I = hm1 , . . . , mr i, onde {m1 , . . . , mr } é um conjunto minimal de geradores e seja m um
desses geradores, que, sem perda de generalidade podemos supor seja mr . Logo I = hm, I 0 i,
onde I 0 = hm1 , . . . , mr−1 i. Supondo grau de m igual a d temos uma seqüência exata
ϕ
0 → Ker ϕ → S(−d) →
S π S
→ → 0,
I0
I
(2.10)
L 0
onde ϕ(r) = sm, S(−d) =
Si e Si0 = Si−d .
Tal seqüência exata é de grau zero, isto é, se x ∈ Si , então ϕ(x) ∈ (S/I 0 ), pois se x ∈ Si0
tem-se x ∈ Si−d ou ainda mx ∈ Si e, portanto, mx ∈ (S/I 0 )i .
Temos que
Ker ϕ = {u ∈ S(−d) | ϕ(u) = 0}
= {u ∈ S(−d) | um = 0}
= {u ∈ S(−d) | um ∈ I 0 }.
Como S(−d) ⊂ S e levando em consideração a alteração nos graus,
Ker ϕ = {u ∈ S | um ∈ I 0 } = (I 0 : m).
Mas, I 0 é ideal de S e I 0 = hmi , . . . , mr−1 i, então
µ
¶
m1
mr−1
0
J = (I : m) =
,...,
.
mdc(m1 , m)
mdc(mr−1 , m)
2.5. FUNÇÃO DE HILBERT DE S/I, COM I IDEAL MONOMIAL
45
Logo a seqüência exata (2.10) induz a seguinte seqüência exata, também de grau zero, da
forma
S
S
S
0 → (−d) → 0 → → 0
J
I
I
e, portanto, para cada i ∈ N temos
µ ¶
µ ¶
µ ¶
S
S
S
0→
→
→
→ 0.
(2.11)
0
J i−d
I i
I i
Porém J e I 0 possuem menos geradores do que I e, por hipótese de indução, sabemos
calcular suas funções de Hilbert. Logo de (2.11) temos que
µ
¶
µ
¶
µ
¶
S
S
S
H
,i = H
,i − H
,i − d .
I
I0
J
Com isto obtemos um processo recursivo para calcular a função de Hilbert de S/I.
Exemplo 2.35 Para ilustrar o processo, calcularemos a Função de Hilbert de
R=
K[x, y, z]
.
hxy, xz, yzi
Tomando m = yz e I 0 = hxy, xzi temos
À ¿
À
¿
xy xz
xy
xz
0
,
=
,
= hxi.
J = (I : m) =
MDC(xy, yz) MDC(xz, yz)
y z
Assim, S/J ' K[y, z]. Pelo que vimos,
µ
¶
µ
¶
S
S
H(R, i) = H
,i − H
,i − 2 .
I0
J
Para calcular H(S/I 0 , i) repetimos o processo para J 0 = (I 00 : m1 ), onde m1 = xz e
I = hxyi. Agora
¿
À
xy
0
00
J = (I : m1 ) =
= hyi e, portanto,
MDC(xy, xz)
µ
¶
µ
¶
S
S
H
,i = H
, i − H(K(x, z), i − 2),
I0
hxyi
00
de onde segue que
µ
¶
µ
¶
µ
¶
µ
¶
µ
¶
µ
¶
S
S
S
S
S
S
H
,i = H
,i − H
,i − 2 = H
,i − H
,i − 2 − H
,i − 2 ,
I
I0
J
hxyi
J0
J
onde J = hxi e J 0 = hyi. Deste modo
µ
H
S
,i
J
¶
µ
=H
S
,i
J0
¶

 µ
¶ 1, µ
¶ i=0
2+i
1+i
=
−
, i ≥ 1.

2
2
2.6. ANÉIS DE STANLEY-REISNER
Assim,
µ
H
Mas
46




0,
0≤i<2
¶
S
1,
i
=2
µ ¶ µ
¶
,i − 2 =
i
i−1

J

−
, i ≥ 3.

2
2
µ ¶ µ
¶
i
i−1
i!
(i − 1!)
i! − (i − 1)!(i − 2)
−
=
−
=
=
2
2
(i − 2)!2 (i − 3)!2
(i − 2)!2
i(i − 1) − (i − 2)(i − 1)
= i − 1,
2
=
ou seja,
µ
H
¶ ½
S
0,
i=0
,i − 2 =
i − 1, i ≥ 1.
J
Temos também que
µ
H
S
,i
hxyi
¶




µ
¶
i+2
,
0≤i<2
¶2 µ ¶
µ
=
i
2+i


, i ≥ 2.
−

2
2
De forma similar ao que fizemos para H(S/J) obtemos que H(S/hxyi, i) = 2i + 1, para
i ≥ 0.
Portanto, no caso i = 0, temos H(R, i) = 2.0 + 1 − 0 − 0 = 1 e, se i ≥ 1, temos H(R, i) =
2i + 1 − (i − 1) − (i − 1), ou seja,
½
1, i = 0
H (R, i) =
3, i ≥ 1.
2.6
Anéis de Stanley-Reisner
Os anéis de Stanley-Reisner são objeto central de estudo da chamada Álgebra Comutativa
Combinatória criada por Hochster e Stanley em meados dos anos 70. Estes anéis estão associados aos chamados complexos simpliciais e são exemplos importantes de aplicações em
geometria algébrica e álgebra comutativa, onde podemos calcular a função de Hilbert a partir
do complexo simplicial associado ao anel.
Nesta seção veremos como o número de faces de um complexo simplicial está relacionado
com a série de Hilbert do correspondente anel de Stanley-Reisner.
Definição 2.36 Seja V = {v1 , . . . , vn } um conjunto finito. Um complexo simplicial (finito)
∆ sobre V é uma coleção de subconjuntos de V tal que
(i) F ∈ ∆ sempre que F ⊂ G para algum G ∈ ∆;
(ii) {vi } ∈ ∆, para i = 1, . . . , n.
2.6. ANÉIS DE STANLEY-REISNER
47
Os elementos de ∆ são chamados de faces.
Definição 2.37 Sejam ∆ um complexo simplicial sobre V = {v1 , . . . , vn } e F ∈ ∆. Chamamos
de dimensão de F e denotamos por dim F o número de elementos de F menos um, ou seja,
dim F = #F −1. A dimensão do complexo simplicial, dim ∆, é igual ao máximo das dimensões
de suas faces, isto é, dim ∆ = max{dim F | F ∈ ∆}.
Exemplo 2.38 Seja V = {x1 , x2 , x3 , x4 }, considere
∆ = {∅, {x1 }, {x2 }, {x3 }, {x4 }, {x1 , x2 }, {x2 , x3 }, {x3 , x4 }}.
Podemos representar ∆ graficamente da seguinte forma:
Figura 2.1: Complexo Simplicial
Observações 2.39
(i) O conjunto ∅ é uma face de dimensão −1 de qualquer complexo simplicial não vazio.
(ii) As faces de dimensão zero são chamadas de vértices, as de dimensão 1 de arestas. As
faces maximais em relação a inclusão são ditas facetas do complexo simplicial.
A codificação algébrica de um complexo simplicial pode ser feita da forma descrita a seguir:
Primeiramente, estabelecemos uma bijeção ordenada entre o conjunto dos vértices do complexo simplicial ∆ e um conjunto de indeterminadas x: x1 , . . . , xn sobre um corpo (fixo) K.
Em seguida, queremos introduzir um ideal do anel K[x] que reflita propriedades do complexo simplicial ∆. Após vencer o primeiro impulso de fazer corresponder monômios às faces
de ∆, temos a seguinte definição:
Definição 2.40 Sejam ∆ um complexo simplicial sobre V = {v1 , . . . , vn } e K um anel. O
anel de Stanley-Reisner do complexo simplicial ∆ com respeito a K é a K-álgebra homogênea
definida por:
K[∆] := K[x]/I∆ ,
α
α
onde I∆ é gerado por todos os monômios xi1i1 · · · xisis , com αij > 0, tais que {vi1 , . . . , vis } 6∈ ∆.
Observações 2.41
(i) A escolha da letra K na definição indica que, salvo exceções, sempre teremos um corpo
para o anel dos coeficientes.
2.6. ANÉIS DE STANLEY-REISNER
48
(ii) Lembremos que o suporte de um monômio xα é o conjunto
supp xα = {xi1 , . . . , xis | αij 6= 0, j = 1, . . . , s}.
α
α
Segundo a Definição 2.40 I∆ é gerado por todos os monômios xi1i1 · · · xisis , com αij > 0,
tais que {vi1 , . . . , vis } 6∈ ∆, assim, para facilitar a leitura, indicaremos, no que segue, o
fato que {vi1 , . . . , vis } ∈ ∆ também por suppxα ∈ ∆ e
F(∆) := {xα | sup(xα ) ∈ ∆}
(iii) Note que o ideal das faces I∆ é gerado, minimamente, por monômios livres de quadrados.
Por outro lado, se I ⊂ (x1 , . . . , xn )2 é ideal gerado por monômios livres de quadrados,
então K[x]/I ' K[∆] para algum complexo simplicial ∆, o que nos dá uma bijeção entre
os complexos simpliciais e os ideais monomiais livres de quadrados. Tal bijeção inverte
inclusão, isto é, se ∆ e ∆0 são dois complexos simpliciais sobre um mesmo conjunto de
vértices, então ∆ ⊂ ∆0 se, e somente se, I∆0 ⊂ I∆ .
Um resultado que decorre do Teorema de Macaulay 2.20 é:
Proposição 2.42 Seja ∆ um complexo simplicial. Os resı́duos em K[∆] dos elementos de
F(∆) constituem uma K-base vetorial de K[∆].
Corolário 2.43 Se ∆ é um complexo simplicial e F ∈ ∆, então os resı́duos dos vértices de F
são algebricamente independentes sobre K.
Corolário 2.44 Se ∆ é um complexo simplicial, vale dim K[∆] = dim ∆ + 1.
Exemplo 2.45 Para o complexo simplicial do exemplo anterior, temos I∆ = hx1 x3 , x1 x4 , x2 x4 i
(minimamente gerado) e K[∆] é gerado pelas K-combinações lineares dos resı́duos de
1, x1 , x21 , . . . , x2 , x22 , . . . , x3 , x23 , . . . , x4 , x24 , . . . ,
x1 x2 , x21 x2 , x1 x22 , . . . , x2 x3 , x22 x3 , x2 x23 , . . . , x3 x4 , x23 x4 , x3 x24 , . . .
Neste caso, temos que dim K[∆] = dim ∆ + 1 = 1 + 1 = 2.
2.6.1
Função e Série de Hilbert de um Anel de Stanley-Reisner
Definição 2.46 Dado um complexo simplicial ∆ de dimensão d − 1, chamamos de f -vetor
(do complexo simplicial ∆) o vetor (f0 , f1 , · · · , fd−1 ), onde fi := #{F ∈ ∆ | dim F = i},
−1 ≤ i ≤ d − 1.
Observação 2.47 Note que dado o f -vetor do complexo simplicial ∆, (f0 , f1 , · · · , fd−1 ), sempre temos f−1 = 1 e f0 é número de vértices de ∆.
Exemplo 2.48 Para o complexo simplicial
∆ = {∅, {x1 }, {x2 }, {x3 }, {x4 }, {x1 , x2 }, {x2 , x3 }, {x3 , x4 }}
sobre V = {x1 , x2 , x3 , x4 }, considerado no Exemplo 2.38, temos o seguinte f -vetor: (4, 3).
2.6. ANÉIS DE STANLEY-REISNER
49
Para ∆ um complexo simplicial, a função de Hilbert de K[∆] associada à dimensão é
H(K[∆], −) : N → N, onde m 7→ dim K[∆]m e K[∆]m denota o subespaço vetorial de K[∆]
cujos elementos são resı́duos dos polinômios homogêneos de grau m e a série de Hilbert de
K[∆] associada à dimensão é a série formal
X
F (K[∆], z) :=
H(K[∆], m)z m .
m≥0
.
Proposição 2.49 Seja ∆ um complexo simplicial de dimensão d−1 e f vetor (f0 , f1 , . . . , fd−1 ),
então
½
1
, m=0
H(K[∆], m) = Pd−1 ¡m−1¢
, m ≥ 1.
i=0 fi
i
Demonstração: De acordo com a Proposição 2.42, uma base para K[∆]m é dada pelos
resı́duos dos monômios cujos suportes são faces de ∆. Assim, para uma face {xl1 , . . . , xli+1 }
ri+1
fixa de dimensão i ≤ m, devemos contar o número de monômios xrl11 · · · xli+1
de grau m tais
¡m−1¢
que rj 6= 0, 1 ≤ j ≤ i + 1. Mas este número é i , mostrando o resultado. ¤
Corolário 2.50 Seja ∆ um complexo com f -vetor (f0 , f1 , . . . , fn ), então
d−1
X
fi z i+1
F (K[∆], z) =
.
(1 − z)i+1
i=−1
Exemplo 2.51 Retornando ao Exemplo 2.35 vemos que o ideal I = hxy, xz, yzi é livre de
quadrados e, assim, podemos associá-lo a um complexo simplicial e calcularmos sua função de
Hilbert.
Vejamos qual é o complexo com V = {x, y, z} e I∆ = hxy, xz, yzi gerado pelas não faces.
Logo ∆ = {∅, {x}, {y}, {z}} e, com isto, f−1 = 1, f0 = 3, f1 = 0 e f2 = 0.
Portanto a função de Hilbert de K[x, y, z]/I∆ é dada por

1
,m = 0






¶ 
µ
¶
µ
¶
µ
µ
¶
2
 X
K[x, y, z]
m−1
m−1
m−1
,m =
H
f2 =
f1 +
= f0 +
fi

I∆
2
1
i

i=0
, m ≥ 1.






=3+0+0=3
50
Capı́tulo 3
Teorema de Macaulay
Nos dois primeiros capı́tulos estudamos a função de Hilbert. Vimos que se trata de uma função
numérica. Uma pergunta natural é: “Quando uma função numérica é a função de Hilbert de
algum anel ou módulo graduado?”
Neste capı́tulo apresentaremos o Teorema de Macaulay que estabelece condições para que
uma função de N em N seja a função de Hilbert de uma K-álgebra homogênea.
Vejamos, inicialmente, alguns resultados preliminares que nos auxiliarão na demonstração
do teorema principal.
L
Seja R = n≥0 Rn uma K-álgebra homogênea onde R0 = K é um corpo. Mostraremos que
R possui uma K-base constituı́da de monômios em uma base y1 , . . . , ym de R1 . Consideraremos
no que segue: π : K[x1 , . . . , xm ] → R o homomorfismo sobrejetor de K-álgebras com π(xi ) = yi ,
mas antes uma definição.
Definição 3.1 Um conjunto não vazio M de monômios nas indeterminadas x1 , . . . , xm é
chamado ideal de ordem de monômios se dado m ∈ M e um monômio m0 que divide m,
então m0 ∈ M . Equivalentemente, se xa11 · · · xamm ∈ M e 0 ≤ bi ≤ ai para i = 1, . . . , m, então
xb11 · · · xbmm ∈ M .
Observação 3.2 Um ideal de ordem de monômios M não é uma K-base de um ideal, por
outro lado, denotando por M 0 o complementar de M no conjunto de todos os monômios, então
M 0 é uma K-base do ideal gerado pelos monômios m ∈ M 0 = M − M , onde M representa o
conjunto de todos os monômios.
O resultado que apresentaremos a seguir, nos mostra que R possui uma K-base formada
por monômios.
Teorema 3.3 (Macaulay) Sejam R uma K-álgebra homogênea, K um corpo, y1 , . . . , ym uma
K-base para R1 e π : K[x1 , . . . , xm ] → R o K-homomorfismo com π(xi ) = yi , para i =
1, . . . , m. Então existe um ideal de ordem de monômios M tal que π(M ) é uma K-base de R.
Demonstração: Seja M o conjunto de todos os monômios nas indeterminadas x1 , . . . , xm
e consideremos a ordem lexicográfica graduada reversa (grevlex) sobre M. Seja a seqüência de
monômios u1 , u2 , . . . definida recursivamente por: u1 = 1 e assumindo u1 , . . . , ui determinados,
CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY
51
então ui+1 é o menor elemento na grevlex tal que π(u1 ), . . . , π(ui ), π(ui+1 ) são linearmente
independentes sobre K. Se tal ui+1 não existir, a seqüência termina em ui .
Afirmamos que M = {u1 , u2 , . . .} é o ideal de ordem de monômios desejado. Por construção
temos que π(M ) é um conjunto L.I. e gera R como um K-espaço vetorial, ou seja, é uma K-base
de R.
Vejamos então, que M é um ideal de ordem de monômios. Assumindo que não, existem
ui0 ∈ MPe u ∈ M − M tais que ui0 = uxj para algum xj . Como u 6∈ M , podemos escrever
π(u)
λi π(ui ) com ui ∈ M , ui < u e λi ∈ K. Deste modo π(ui0P
) = π(uxj ) = π(u)π(xj ) =
P =
λi π(ui xj ) e ui xj < ui0 para todo i na soma. Porém π(ui xj ) = rij βij π(urij ), com urij ≤
ui x j .
P
Logo π(ui0 ) =
γs π(us ), com us ∈ M e us < ui0 o que é um absurdo, pela construção de
M. ¤
Vimos nessa demonstração que nossa
P K-base π(u1 ), π(u2 ), . . . de R possui a seguinte propriedade: u ∈ L e escrevendo π(u) = λi 6=0 λi π(ui ), então ui ≤ u, para todo i e, se u 6∈ M ,
essas inequações são estritas.
Como conseqüência imediata do Teorema 3.3 e da Observação 3.2 temos:
Corolário 3.4 Seja J o ideal que é gerado pelos monômios em M 0 . Então a K-álgebra R e
K[x1 , . . . , xm ]/J possuem a mesma função de Hilbert. ¤
O conjunto de monômios M 0 associado a R pode ser descrito de outra forma. Seja I =
Ker P
π e, desta forma, M 0 = LMgrevlex (I). De fato, se f ∈ LMgrevlex (I), escolhendo f ∈ I,
f = ni=1 λvi com monômios vi tais que v = LMgrevlex (f ) = vn . Se vn 6∈ M 0 , então vn ∈ M e,
com isto,
n
X
0 6= π(vn ) = −
λn λi π(vi ).
P
i=1
Cada π(vi ) é uma combinação linear αij π(uj ), αij ∈ K, uj ∈ M , uj ≤ vi < vn . Trocando
os π(vi ) na equação acima pela sua combinação linear, obtemos a representação como uma
combinação linear não nula de elementos em π(M ) eP
isto contradiz o Teorema 3.3.
0
Por outro lado,
λi π(ui ), com ui ∈ M , ui < v. Assim,
P supondo v ∈ M , então π(v) =
fazendo f = v − λi ui temos π(f ) = 0 e LMgrevlex (f ) = v.
Definição 3.5 Tomando um monômio u de grau d, ou seja, u ∈ Sd , definimos
Lu := {v ∈ Sd | v é monômio e v < u},
Ru := {v ∈ Sd | v é monômio e v ≥ u}.
Note que Rx1 = {x1 , . . . , xm }.
Lema 3.6 Nas condições e com as notações dos parágrafos anteriores, dado u ∈ Sd , temos
Rx1 Ru = Rx1 u .
Demonstração: Seja v ∈ Ru , então xi v ≥ x1 v ≥ x1 u. Por outro lado, seja v ∈ Rx1 u .
Podemos assumir que x1 não divide v, então v ≥ x1 u. Sejam u = xa11 · · · xamm , v = xb22 · · · xbmm e
i o maior inteiro tal que bi > ai . Se existe j < i com bj > 0, então x−1
j v ∈ Ru , caso contrário,
−1
xi ∈ Ru . Nos dois casos segue que v ∈ Rx1 Ru . ¤
CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY
52
Lema 3.7 Dado u ∈ Sd , u = xj(1) xj(2) · · · xj(d) temos
Lu =
[
˙ d
i=1
[x1 , . . . , xj(i)−1 ]i xj(i+1) · · · xj(d) ,
onde [x1 , . . . , xi ]d denota o conjunto de todos os monômios de grau d nas variáveis x1 , . . . , xi .
Demonstração: O conjunto Lu admite uma decomposição natural: seja i o maior inteiro
˙ 00u xi ,, onde xi não divide elementos de
tal que xi divide u. Então podemos escrever Lu = L0u ∪L
L0u . Esta união é disjunta visto que L0u consiste de todos os monômios de grau d nas variáveis
.
x1 , . . . , xi−1 e que L00u = Lx−1
i u
Usando a mesma idéia podemos decompor L00u e assim por diante. Deste modo, se escrevermos
u = xj(1) xj(2) · · · xj(d) ,
com 1 ≤ j(1) ≤ j(2) ≤ · · · ≤ j(d), temos
˙ x−1 u xj(d) =
Lu = [x1 , . . . , xj(d)−1 ]d ∪L
j(d)
˙ 1 , . . . , xj(d−1)−1 ]d−1 xj(d) ∪L
˙ x−1
[x1 , . . . , xj(d)−1 ]d ∪[x
x−1 u
j(d−1) j(d)
xj(d−1) xj(d) .
Continuando com este raciocı́nio, terminamos com uma união disjunta
Lu =
[
˙ d
i=1
[x1 , . . . , xj(i)−1 ]i xj(i+1) · · · xj(d) ,
que é chamada de decomposição natural de Lu . ¤
Vejamos um exemplo:
Exemplo 3.8 Seja S = K[x1 , x2 , x3 , x4 ] e u = x22 x3 . Então,
Lu = {x31 , x21 x2 , x1 x22 , x32 , x21 x3 , x1 , x2 , x3},
L0u = {x31 , x21 x2 , x1 x22 , x32 }
L00u = {x21 , x1 x2 } = Lx22
Observação 3.9 Com a decomposição natural de Lu temos que
|Lu | =
d
X
|[x1 , . . . , xj(i)−1 ]i |
i=1
µ
Agora, |[x1 , . . . , xj(i)−1 ]i | =
¶ µ
¶ µ
¶
j(i) − 1 + i − 1
j(i) + i − 1
j(i) + i − 2
=
=
. Logo,
j(i) − 1 − 1
j(i) − 2
i
¶
d µ
X
k(i)
|Lu | =
,
i
i=1
com k(i) = j(i) + i − 2 e k(d) > k(d − 1) > · · · > k(1) ≥ 0.
CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY
53
Pelo exposto anteriormente, os números inteiros não negativos |Lu | podem ser escritos como
um somatório de números binomiais. Este resultado é mais geral como pode ser visto no lema
a seguir.
Lema 3.10 Seja d um inteiro positivo. Todo a ∈ N pode ser escrito unicamente na forma
µ
¶ µ
¶
µ
¶
k(d)
k(d − 1)
k(1)
a=
+
+ ··· +
,
d
d−1
1
onde k(d) > k(d − 1) ¡> ¢· · · > k(1) ≥ 0.
Assumiremos que kl = 0 para 0 ≤ k < l.
Demonstração: Para mostrarmos a existência procederemos por indução sobre a, para
a = 1 temos que
µ ¶ µ
¶
µ ¶
d
d−2
0
a=
+
+ ··· +
.
d
d−1
1
Suponhamos que o resultado
númeroP
menor
do que a e escolhemos
¡ seja
¢ válido para¡qualquer
¢
d ¡k(i)¢
k(d)
k(d) o maior natural tal que k(d)
≤
a.
Se
a
=
,
então
a
=
, com k(i) = i − 1,
i=1
d
i
¡k(d)d¢
¡k(d)¢
0
i = 1, . . . , d − 1. Agora se d < a então a = a − d > 0 e, pela hipótese de indução,
P ¡k(i)¢
temos a0 = d−1
, com k(d − 1) > · · · > k(1) ≥ 0.
i=1
i
Falta mostrar
¡k(d)+1¢que k(d) > k(d − 1).
Temos
> a, então
d
µ
¶ µ
¶ µ
¶ µ
¶
k(d)
k(d) + 1
k(d)
k(d)
0
a =a−
<
−
=
. Assim,
d
d
d
d−1
µ
¶
µ
¶
k(d)
k(d − 1)
0
>a ≥
,
d−1
d−1
de onde segue que k(d) > k(d − 1).
¶
d µ
X
k(i)
, com k(d) > · · · > k(1 ≥ 0.
Portanto, a =
i
i=1
Para vermos que esta forma de escrever é única, suponhamos que
¶
¶
d µ 0
d µ
X
X
k(i)
k (i)
=a=
.
i
i
i=1
i=1
¡ ¢
¡0 ¢
Como k(d) é o maior inteiro tal que k(d)
≤ a e k d(d) ≤ a tem-se k(d) ≤ k 0 (d). Do
d
mesmo modo tem-se k(d) ≤ k 0 (d). Portanto k(d) = k 0 (d). Procedendo com raciocı́nio análogo
chegamos a k(i) = k 0 (i) para todo i = 1, . . . , d. ¤
Chamaremos a soma do Lema 3.10 de d-ésima representação de Macaulay de a, e chamaremos k(d), . . . , k(1) de d-ésimos coeficientes de Macaulay de a. Note que para todo i ≤ d o
coeficiente k(i) é determinado pelo fato de ser o maior inteiro j tal que
µ ¶
µ
¶
µ
¶
j
k(d)
k(i + 1)
≤a−
− ··· −
.
i
d
i+1
Os d-ésimos coeficientes de Macaulay possuem a seguinte propriedade:
CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY
54
Lema 3.11 Sejam k(d), . . . , k(1) e k 0 (d), . . . , k 0 (1), respectivamente, os d-ésimos coeficientes
de Macaulay de a e a0 . Então a > a0 se, e somente se, (k(d), . . . , k(1)) >lex (k 0 (d), . . . , k 0 (1)).
Demonstração: Mostraremos as duas implicações por indução sobre d. Para d = 1
a afirmação é clara. Agora, assumindo d > 1, se k(d) = k 0 (d), então k(d − 1), . . . , k(1)
¡k(d)¢e
0
0
k (d − 1), . . . , k (1) são, respectivamente, os d − 1-ésimos coeficientes de Macaulay de a − d
¡0 ¢
e a0 − k d(d) . Aplicando a hipótese de indução obtemos o resultado. Agora, se k(d) 6= k 0 (d),
a caracterização dos d-ésimos coeficientes de Macaulay, vista no Lema 3.10 nos assegura que
k(d) > k 0 (d) se, e somente se, a > a0 . ¤
Descartando as parcelas que são zero na d-ésima representação de Macaulay de a, obtermos
a seguinte expansão (única):
µ
¶ µ
¶
µ
¶
k(d)
k(d − 1)
k(j)
a=
+
+ ··· +
,
d
d−1
j
onde k(d) > k(d − 1) > · · · > k(j) ≥ j ≥ 1. ¤
Definição 3.12 Dado a ∈ N e sua representação de Macaulay, como anteriormente, definimos
¶
¶
µ
¶ µ
µ
k(j) + 1
k(d − 1) + 1
k(d) + 1
hdi
,
+ ··· +
+
a :=
j+1
d
d+1
e 0hdi = 0.
Este número goza das seguintes propriedades:
Lema 3.13 Sejam a, a0 e d inteiros positivos.
(i) Se a ≤ a0 , então ahdi ≤ a0 hdi .
(ii) Sejam k(d), . . . , k(1) os d-ésimos coeficientes de Macaulay de a e j = min{i | k(i) ≥ i}.
Então,
½ hdi
a + k(1) + 1, se j = 1,
hdi
(a + 1) =
ahdi + 1,
se j > 1.
Demonstração: (i) Sejam k(d), . . . , k(1) e k 0 (d), . . . , k 0 (1) os d-coeficientes de Macaulay
de a e a0 respectivamente. Usando a hipótese e o Lema 3.11 temos (k(d), . . . , k(1)) <lex
(k 0 (d), . . . , k 0 (1)) e, assim, ahdi < a0 hdi .
(ii) Mostremos a igualdade para j = 1.
µ
¶
µ
¶
k(d)
k(j)
a=
+ ··· +
,
d
j
µ
¶
µ
¶
µ
¶
µ
¶
k(d)
k(j)
k(d)
k(j − 1)
a+1=
+ ··· +
+1=
+ ··· +
, e
d
j
d
j−1
CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY
µ
(a + 1)
hdi
=
55
¶
µ
¶
k(d) + 1
k(j) + 1
+ ··· +
+1=
d+1
j+1
¶
¶ µ ¶
µ
k(d) + 1
k(j) + 1
j
=
+ ··· +
+
= ahdi + 1.
d+1
j+1
j
|
{z
} |{z}
µ
ahdi
1
Agora, para j = 1, seja i o maior inteiro tal que k(i) = k(1) + i − 1. Então
µ
¶
µ
¶ X
¶
i µ
k(d)
k(i + 1)
k(1) + r − 1
a =
+ ··· +
+
=
d
i+1
r
r=1
µ
¶
µ
¶ µ
¶
k(d)
k(i + 1)
k(1) + i
=
+ ··· +
+
− 1,
d
i+1
i
¶
¶ µ
i µ
X
k(1) + i
k(1) + r − 1
uma vez que
=
− 1.
i
r
r=1
Deste modo,
¶
¶ µ
¶
µ
µ
k(1) + i
k(i + 1)
k(d)
+
+ ··· +
a+1=
i
i+1
d
que é a d-ésima expansão de Macaulay de a + 1, já que k(i + 1) > k(1) + i.
Assim,
¶
¶ X
¶
µ
µ
i µ
k(1) + r
k(i + 1) + 1
k(d) + 1
hdi
=
+
+ ··· +
a
=
r+1
i+2
d+1
r=1
¶
¶ X
¶
µ
µ
i+1 µ
k(1) + r − 1
k(i + 1) + 1
k(d) + 1
=
+
+ ··· +
=
r
i+2
d+1
r=2
¶
¶ µ
¶
µ
µ
k(1) + i + 1
k(i + 1) + 1
k(d) + 1
− k(1) − 1,
+
+ ··· +
=
i+1
i+2
d+1
Portanto,
(a + 1)
hdi
µ
=
¶
µ
¶ µ
¶
k(d) + 1
k(i + 1) + 1
k(1) + i + 1
+ ··· +
+
= ahdi + k(1) + 1,
d+1
i+2
i+1
como querı́amos. ¤
Proposição 3.14 Seja u um monômio de grau d em S. Então |Lx1 u | = |Lu |hdi .
d
Demonstração: Seja Lu = ∪˙ i=1 [x1 , . . . , xj(i)−1 ]i xj(i+1) · · · xj(d) a decomposição natural de
Lu . Afirmamos que
[
˙ d
[x1 , . . . , xj(1)−1 ]i+1 xj(i+1) · · · xj(d)
i=1
é a decomposição canônica de Lx1 u . Além disso, a decomposição natural de Lu é completamente
determinada pela seqüência j(1), . . . , j(d), relacionada a u. Sejam l(1), . . . , l(d + 1) a seqüência
correspondente a x1 u, então l(1) = 1 e l(i) = j(i − 1) para i = 2, . . . , d + 1. Como se trata de
união disjunta, segue o resultado. ¤
CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY
56
Definição 3.15 Ainda usando os d-coeficientes de Macaulay de um número positivo a definimos
µ
¶
µ
¶
k(d) − 1
k(1) − 1
ahdi :=
+ ··· +
.
d
1
Este número também possui propriedades que nos auxiliarão nas demonstrações que se
seguirão:
Lema 3.16 Sejam a, a0 , d e b números naturais.
(i) Se a ≤ a0 , então ahdi ≤ a0hdi .
(ii) Se k(j) 6= j para j = min{i | k(i) ≥ i}, então (a − 1)hdi < ahdi .
(iii) Se 0 < b < a são tais que 0 < bhdi + (a − b)hd−1i , então b < ahdi .
Demonstração: (i) Segue do que foi observado anteriormente e do Lema 3.11.
¡¢ ¡ ¢
(ii) Procederemos por indução sobre d. Se d = 1 e a 6= 1 temos a = a1 e a−1
= a − 1.
1
Logo ah1i > (a − 1)h1i .
Supondo d > 1, o resultado válido para qualquer número menor do que d e sejam k(d),
k(d − 1), . . . , k(1) e k 0 (d), k 0 (d − 1), . . . , k 0 (1) os d-ésimos coeficientes de Macaulay de a e de a0 ,
respectivamente. Temos dois casos a considerar:
¡ ¢
(1) Se k 0 (d) = k(d), tomamos a0 = a − k(d)
, temos a0 − 1 > 0, pois se a0 = 1, então
d
¡k(d)¢ ¡d−1¢
a = d + d−1 (absurdo pois estamos supondo k(j) 6= j).
Logo, a0 − 1 > 0. Agora, a0 tem como (d − 1)-ésimos coeficientes de Macaulay k(d − 1),
k(d − 2), . . . , k(1) e a0 − 1 tem como (d − 1)-coeficientes de Macaulay os números k 0 (d − 1),
k 0 (d − 2), . . . , k 0 (1). Porém, a0 satisfaz as condições do item (ii) deste teorema e, por hipótese
de indução, (a0 − 1)hd−1i < a0hd−1i , isto é,
µ
.
¶
¶
µ
¶ µ
¶
µ 0
k(1) − 1
k(d − 1) − 1
k (1) − 1
k 0 (d − 1) − 1
+ ··· +
<
+ ··· +
1
d−1
1
d−1
¡
¢
¡k(d)−1¢
0
Como ahdi = a0hd−1i + k(d)−1
e
(a
−
1)
=
(a
−
1)
+
, segue o resultado.
hdi
hd−1i
d
d
0
0
(2) Se k(d) > k (d), k(d) − 1 > k (d) − 1 e, assim, (a − 1)hdi < ahdi .
(iii) Temos que b pode ser escrito da seguinte forma:
µ
¶
µ
¶
k(d)
k(j)
b=
+ ··· +
,
d
j
com k(d) > · ¡· · > k(j)
¢ ≥ j ≥ ¡0.k(j)+1¢
k(d)+1
Seja c =
+ ··· +
. Temos que chdi = b. Assim, se mostrarmos que a ≥ c,
d
j
teremos ahdi ≥ chdi = b. Supondo que a < c,
µ
¶
µ
¶
k(d) + 1
k(j) + 1
a<
+ ··· +
,
d
j
CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY
57
µ
¶ µ
¶
µ
¶ µ
¶ µ
¶
µ
¶
k(d) + 1
k(d)
k(j)+
k(j)
k(d)
k(j)
a−b<
−
+ ··· +
−
=
+ ··· +
.
d−1
d
j
j
d−1
j−1
Distinguimos dois casos:
(1) j = 1. Logo a − b <
¡k(d)¢
d−1
+ ··· +
¡k(2)¢
1
µ
¶
k(1)
+
.
0
| {z }
1
Desta forma
µ
(a − b)hd−1i ≤
¶
µ
¶
k(d) − 1
k(2) − 1
+ ··· +
.
d−1
1
Agora, por hipótese, b ≤ bhdi + (a − b)hd−1i e, portanto,
µ
¶
µ
¶ µ
¶
µ
¶
k(d) − 1
k(1) − 1
k(d) − 1
k(2) − 1
b ≤
+ ··· +
+
+ ··· +
=
d¶
1
µ
µ
¶ 1µ
¶d − 1
k(d)
k(2)
k(1) − 1
=
+ ··· +
+
< b. (Absurdo!)
d
2
1
¡
¢
¡k(j)−1¢
(2) j > 1. Neste caso, (a − b)hd−1i < k(d)−1
+
·
·
·
+
e, seguindo o mesmo raciocı́nio,
d−1
j−1
terı́amos novamente um absurdo.
Logo a ≥ c e, portanto, ahdi ≥ chdi = b. ¤
O próximo teorema é a chave para a demonstração do Teorema de Macaulay. Porém,
antes de enunciá-lo, apresentaremos algumas noções de geometria algébrica que nos ajudarão
a demostrá-lo. Para maiores detalhes veja [3].
Definição 3.17 Sejam K um corpo, S = K[x1 , . . . , xn ] e I ⊂ S ideal.
(i) O conjunto An (K) = {(a1 , . . . , an ) ∈ K n } é chamado n-espaço afim sobre K.
(ii) V (I) = {(a1 , . . . , an ) ∈ An (K) | f (a1 , . . . , an ) = 0, ∀f ∈ I} é chamado variedade do ideal
I.
Temos as seguintes propriedades:
P
(i) Se (Iλ )λ∈Ω é uma famı́lia de ideais de S então ∩λ∈Ω V (Iλ ) = V ( Iλ ).
(ii) Para Ij ∈ S, j = 1, . . . , n, ∪nj=1 V (Ij ) = V (∩nj=1 Ij ).
Com estas propriedades An (K) é um espaço topológico, onde os fechados são da forma
F = V (I) com I ideal de S.
Mais ainda, para K corpo infinito, An (K) é um espaço topológico irredutı́vel, isto é,
An (K) = V1 ∪ V2 , V1 e V1 fechados se, e somente se, An (K) = V1 ou An (K) = V2 .
Observações 3.18
(i) Se R é uma K-álgebra homogênea, com K corpo infinito, sua componente de grau 1, isto
é, R1 é irredutı́vel na topologia de Zariski, pois R1 é um espaço vetorial de dimensão
finita gerado por yi = xi + I com I o ideal homogêneo de S que define R.
CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY
58
(ii) Se R1 é espaço topológico irredutı́vel, então todo aberto é denso em R1 .
(iii) Dada P uma propriedade definida nas formas lineares de R1 , dizemos que h ∈ R1 é
genérico em relação a P se existe U ⊆ R1 , h ∈ U tais que P vale para toda forma linear
de U .
Teorema 3.19 (Green-Forma Algébrica) Sejam R uma K-álgebra homogênea, K um corpo infinito e n ≥ 1 um inteiro. Então
H(R/hR, n) ≤ H(R, n)hni ,
para uma forma linear genérica h.
Demonstração: Seja s = sup{dimK hRn−1 | h ∈ R1 }. Então dimK hRn−1 = s para
alguma forma linear h. De fato, seja U ⊂ R1 o subconjunto dos elementos h ∈ R1 tais
que dimK hRn−1 = s. Temos U 6= ∅ e para vermos que U é aberto, escolhemos uma base
{y1 , . . . , ym } de R1P
e {u1 , . . . , ur }, {v1 , . . . , vl } bases de Rn−1 e de Rn , respectivamente. Se
h ∈ R1 , então h = m
i=1 ai yi , considerando os ai variáveis sobre K. A aplicação multiplicação
por h, ϕh : Rn−1 → Rn , dada por ϕh (f ) = hf pode ser descrita por uma matriz [ϕh ] de formas
lineares em a1 , . . . , am . Trocando os wi por indeterminadas, produzimos uma matriz A de
polinômios lineares com coeficientes em K. Mostraremos que U = R1 − V (Is (A), onde Is (A)
é o ideal gerado pelos determinantes dos menores s × s de A.
Observamos que se h ∈ V (Is (A)), então o determinante de qualquer menor s × s de ϕh é
nulo e portanto dimK hRn−1 < s.
U é um conjunto aberto (complementar de fechado) e todo elemento h ∈ U é genérico.
Sejam h ∈ U e S = R/hR. Afirmamos que H(S, n) ≤ H(R, n)hni e provaremos esta
afirmação por indução sobre n e dimK R1 . Se n = 1 e dimk R1 é qualquer temos que
H(R/hR, 1) = dimK (R/hR)1 = dimK R1 /hR0 = dimK R/Kh = dimK R1 − 1, H(R, 1) =
dimK R1 e H(R, 1)h1i = dimK R1 − 1.
Portanto H(R/hR, 1) ≤ H(R, 1)h1i .
Se, ainda, dimK R1 = 1 e n é qualquer, como R = K[y1 , . . . , ym ] com yi = xi + I, podemos
supor que y1 gera R1 . Assim, dado yi ∈ R, i 6= 1 temos yi = ci y1 e, portanto, xi − ci x1 ∈ I.
Daı́, substituindo R = K[y1 , . . . , ym ] por K[x1 , x2 − c2 x1 , . . . , xm − cm x1 ] temos:
K[x1 , x2 − c2 x1 , . . . , xm − cm x1 ]
K[y1 ]
'
= K[y1 ].
I
(y1i )
½
1, se j = 0
Assim dimK Rj =
0, se j ≤ 1.
Como h ∈ R1 temos (R/hR)n = 0 para todo n e, portanto, 0 = H(R/hR, n) ≤ H(R, n)hni .
Logo, se n = 1 e dimK R1 é qualquer ou se dimK R1 = 1 e n é qualquer o resultado vale.
Façamos, agora, a seguinte hipótese de indução: n > 1, dimK R1 > 1 e que o resultado valha
para um número menor do que n e dimK R1 qualquer. Seja V ⊂ S1 = R1 /hR0 o subconjunto
de formas lineares g nas quais dimK gSn−1 é máxima e denotemos por ϕ o epimorfismo canônico
ϕ : R → S, ϕ(f ) = f + hR = f . Consideremos o subconjunto de R1
W = (U − Kh) ∩ ϕ−1 (V )
CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY
59
de R1 . O conjunto W é não vazio, pois R1 é irredutı́vel e ambos ϕ−1 (V ) e (U − Kh) são não
vazios. De fato, suponhamos U ⊂ Kh. Então, como U é denso e Kh é fechado em R1 , segue
que R1 = Kh, contradizendo dimK R1 > 1. Agora W é aberto pois ϕ|R1 : R1 → S1 é contı́nua
na topologia de Zariski e, portanto, ϕ−1 (V ) é aberto, uma vez que V é aberto (a demonstração
deste fato é análoga àquela apresentada para U ). Além disso U − Kh é também um conjunto
aberto.
Escolhendo h∗ ∈ W e consideremos a seguinte seqüência exata:
Sn
∗
0 → h Sn−1 → Sn →
∗
h Sn−1
→ 0.
Então
H(S, n) = dimK (Sn /h∗ Sn−1 ) + dimK h∗ Sn−1 .
(3.1)
Como dimK S1 < dimK R1 e h∗ ∈ ϕ−1 (V ) por hipótese de indução, temos
∗
dimK (Sn /h Sn−1 ) ≤ H(S, n)hni .
Para obtermos uma cota superior para a segunda parcela de 3.1 notemos que
∗
dimk h Sn−1 ≤ dimk (h∗ Rn−1 /h(h∗ Rn−1 )) = dimK (hRn−1 /h∗ (hRn−2 )),
uma vez que a seqüência exata
0 → hh∗ Rn−2 → h∗ Rn−1 →
h∗ Rn−1
→0
hH ∗ Rn−2
h∗ Rn−1
+ dimK hh∗ Rn−2 .
hh∗ Rn−2
Agora, da seqüência exata
nos dá dimK h∗ Rn−1 = dimK
0 → hh∗ Rn−2 → hRn−1 →
temos dimK hRn−1 = dimK
hRn−1
→0
h∗ hRn−2
hRn−1
+ dimK hh∗ Rn−2 .
h∗ hRn−2
Como h, h∗ ∈ U temos que dimK hRn−1 = dimK h∗ Rn−1 e, assim, dimK
h∗ Rn−1
=
hh∗ Rn−2
hRn−1
.
h∗ hRn−2
Escolhendo h∗ tal que h∗ (hRn−2 ) tenha dimensão máxima, consideremos J = Ann h e
P = R/Ann h. J é um ideal homogêneo,
³
´
Rn−1
¶
µ
Jn−1
hRn−1
P
´ =H
= dimK ³
,n − 1
dimK ∗
hh Rn−2
h∗ P
h∗ Rn−2
dimK
Jn−2
e, por hipótese de indução H(P/h∗ P, n − 1) ≤ H(P, n − 1)hn−1i .
CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY
60
Porém, H(P, n − 1) = dimK Rn−1 /Jn−1 = dimK hRn−1 = dimK Rn − dimK Rn /hRn−1 . Logo
∗
H(P, n − 1) = H(R, n) − H(S, n) e concluı́mos que h Sn−1 ≤ (H(R, n) − H(S, n))hn−1i .
Assim H(S, n) ≤ H(S, n)hni + (H(R, n) − H(S, n))hn−1i e, usando Lema 3.16 (iii), segue
que
H(S, n) ≤ H(R, n)hni . ¤
Agora, apresentaremos o principal teorema:
Teorema 3.20 (Macaulay) Sejam K um corpo e h : N → N uma função numérica. As
seguintes condições são equivalentes:
(i) Existe uma K-álgebra homogênea R com função de Hilbert H(R, n) = h(n), para todo
n ≥ 0.
(ii) Exite uma K-álgebra homogênea R com relações monomiais e com função de Hilbert
H(R, n) = h(n), para todo n ≥ 0.
(iii) h(0) = 1 e h(n + 1) ≤ [h(n)]hni para n ≥ 1.
(iv) Seja m = h(1) e para cada n ≥ 0 seja Mn o conjunto dos primeiros h(n) monômios
de grau n nas variáveis x1 , . . . , xm (na ordem lexicográfica graduada reversa). Definindo
M = ∪n≥0 Mn , temos que M é um ideal de ordem de monômios.
Demonstração: (i) ⇔ (ii) foi vista no Corolário 3.10.
(iv) ⇒ (ii) Trivial.
(iii) ⇒ (iv)
Por ¢hipótese h(n + 1) ≤ [h(n)]hni para
se ¢h(1) = m
¡m+n−1
¡n+mtodo
¢ n ≥ 1. Assim,
¡n+m+1
então h(n) ≤
. Suponhamos que h(n + 1) = n+1 , então h(n) =
e, assim,
n
n
−1
Mi = [x1 , . . . , xm ]i para i = n e¡ i =¢n + 1. Logo, se u ∈ Mn+1 e xi divide u, então xi ∈ Mn .
Agora supomos que h(n+1) ≤ n+m
, então existe um monômio un+1 tal que Mn+1 = Lun+1 . Se
n+1
como antes, Mn = [x1 , . . . , xm ]n , não há nada a mostrar. De outro modo, existe um monômio
un tal que Mn = Lun . A condição (iii) e a Proposição 3.14 implicam Rx1 Run ⊂ Run+1 .
Portanto, se u ∈ Mn+1 e xi divide u temos x−1
i u ∈ Mn . Em outras palavras, M = ∪n≥0 Mn é
um ideal de ordem de monômios.
Até agora vimos que (iii) ⇒ (iv) ⇒ (ii) ⇔ (i). Para fechar o ciclo mostraremos que
(i) ⇒ (iii).
(i) ⇒ (iii) Podemos assumir que K é infinito, pois se necessário, trocamos R por L ⊗K R,
onde L é uma extensão infinita de K.
Sejam g uma forma linear e S = R/gR. A seqüência exata
0 → gRn → Rn+1 → Sn+1 → 0
nos dá a inequação H(R, n+1) ≤ H(R, n)+H(S, n+1). Fazendo a = H(R, n) e b = H(R, n+1).
Para uma forma linear genérica g a inequação e o Teorema de Green 3.19 nos garantem que
b ≤ a + bhn+1i . Sejam k(n + 1), . . . , k(1) os (n + 1)-coeficientes de Macaulay de b. Então
µ
¶
µ
¶
k(n + 1) − 1
k(1) − 1
b=
+ ··· +
, e, assim,
n+1
1
CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY
61
µ
¶
µ
¶ µ
¶
k(n + 1) − 1
k(2) − 1
k(1) − 1
a≥
+ ··· +
+
.
n
1
0
Seja j = min{i | k(i) ≥ i}. Se j > 1, então k(1) = 0 e
µ
¶
µ
¶
k(n + 1)
k(2)
hni
a ≥
+ ··· +
=b
n+1
2
hni
e, portanto, b = H(R, n+1) = h(n+1) ≤ H(R, n)hni = h( n) como querı́amos demonstrar.
Se j = 1, então, pelo Lema 3.13,
¶
¶ µ
¶
µ
µ
k(2)
k(3)
k(n + 1)
hni
+ k(2).
+
+ ··· +
a ≥
2
3
n+1
Mas k(2) > k(1) e, portanto, ahni > b. ¤
Exemplo 3.21 Seja h : N → N dada inicialmente por h(0) = 1, h(1) = 3, h(2) = 4, h(3) = 5
e h(4) = 7. h não pode ser a função de Hilbert de uma K-álgebra homogênea pois
µ ¶ µ ¶
4
2
• 5=
+
;
3
2
µ ¶ µ ¶
5
3
h3i
• 5 =
+
;
4
3
• h(4) = 7 > 6 = 5h3i = h(3)h3i .
Corolário 3.22 Sejam R uma K-álgebra homogênea e K um corpo. Então H(R, n + 1) =
H(R, n)hni para n suficientemente grande.
Demonstração: Tomando R = S/I, onde S = K[x1 , . . . , xm ], pelo item (iv) do Teorema
de Macaulay 3.20, existe um ideal de ordem de monômios M = ∪n≥0 Mn em S tal que H(R, n) =
H(S/J, n) para todo n, onde J é o ideal gerado por todos os monômios que não estão em
M . Além disso, a escolha de M foi tal que M consiste de todos os monômios de grau n se
In = 0 e Mn = Lun para um monômio un apropriado caso contrário. Como J é finitamente
gerado, existe um inteiro r tal que Run+1 = Rx1 Run para todo n ≥ r e o resultado segue da
Proposição 3.14. ¤
62
Apêndice A
Exemplos Utilizando o CoCoA
Utilizaremos o WinCoCoA, que é a versão com interface gráfica que acompanha o CoCoA 4.2,
pois facilita a utilização do mesmo.
A.1
Introdução ao CoCoA
Todos os nomes de comandos, palavras chave e variáveis no CoCoA devem começar com letras
maiúsculas e as linhas de comando dever ser terminadas com ponto e vı́rgula (;).
A.1.1
Ambiente Anel
Antes de fazermos cálculos utilizando polinômios precisamos especificar o anel que usaremos
com o comando Use. O operador especial ::= armazena, em uma variável, um anel .
• Q[x,y,z]; – coeficientes em Q e indeterminadas x, y e z.
• Z/(23)[x,y,z]; – coeficientes em Z/23Z.
• Q[x,y,z],Lex; – ordem lexicográfica.
O padrão é a ordem lexicográfica reversa (DegRevLex), ou seja, se nenhuma ordem monomial for colocada no comando, o CoCoA utilizará a ordem lexicográfica reversa. Para
ordem lexicográfica graduada use DegLex.
• Q[x[1..8]]; – indeterminadas indexadas.
• S::= Q[x,y]; – armazena o anel na variável S.
• Use S; – usa o anel armazenado em S.
• Use S::= Q[x,y]; – armazena o anel na variável S e o usa.
• Use Q[x,y,z]; – usa o anel que acabou de ser criado.
• CurrentRing(); – exibe o anel em uso.
A.1. INTRODUÇÃO AO COCOA
A.1.2
63
Estruturas de Programação
Seguem as sintaxes das estruturas de programação mais comuns. As palavras chave estão em
tipewriter e, em itálico, descrevemos a classe de expressões que ocupam seu lugar.
• If condições Then comandos EndIf;
• If condições Then comandos Else comandos EndIf;
• While condições Do comandos EndWhile;
• For variável := inicial To final Do comandos EndFor;
inicial e final são inteiros e se inicial > final, então o laço de repetição termina sem
executar o(s) comando(s) de comandos.
A.1.3
Lista de Comandos
A seguir, listamos alguns comandos do CoCoA que utilizaremos para ilustrar os exemplos do
que foi visto no Capı́tulo 2.
Depois do nome do comando, segue a sintaxe, uma breve descrição e exemplos de sua
utilização. Na sintaxe temos o comando e a descrição de seus argumentos. Os argumentos são
variáveis, cujo tipo está indicado após o nome da variável. Tipos de variáveis que usaremos:
POLY (polinômios), LIST de POLY (lista de polinômios), IDEAL (ideal), INT (inteiro) e
RING (anel)
DivAlg
SINTAXE
DivAlg(X:POLY,L:LIST de POLY)
Esta função aplica o algoritmo da divisão sobre X com respeito a L, retornando dois campos:
‘Quotients’ com uma lista de polinômios e ‘Remainder’ com o resto da divisão de X por L.
EXEMPLO
Use R::= Q[x,y,z];
F := x^2y+xy^2+y^2;
L := [xy-1,y^2-1];
DivAlg(F,[xy-1,y^2-1]);
Record[Quotients = [x + y, 1], Remainder = x + y + 1]
-------------------------------
A.1. INTRODUÇÃO AO COCOA
64
GBasis
SINTAXE
GBasis(M:IDEAL)
Esta função retorna uma lista cujos componentes formam uma base de Gröbner de M com
respeito a ordem monomial do anel corrente. Para um base de Gröbner reduzida, usamos o
comando ‘ReducedGBasis’. O anel dos coeficientes necessita ser um corpo.
EXEMPLO
Use R ::= Q[t,x,y];
I := Ideal(t^3-x,t^4-y);
GBasis(I);
[t^3 - x, -tx + y, t^2y - x^2, x^3 - ty^2]
------------------------------GCD, LCM
SINTAXE
GCD(F_1:INT,...,F_n:INT)
GCD(L:LIST de INT)
LCM(F_1:INT,...,F_n:INT)
LCM(L:LIST de INT)
GCD(F_1:POLY,...,F_n:POLY)
GCD(L:LIST de POLY)
LCM(F_1:POLY,...,F_n:POLY)
LCM(L:LIST de POLY)
Estas funções retornam, respectivamente, o máximo divisor comum e o mı́nimo divisor
comum de F 1,...,F n ou os elementos na lista L. Para o cálculo do MDC e do MMC de
polinômios, o anel dos coeficientes precisa ser um corpo.
EXEMPLO
Use R ::= Q[x,y];
F := x^2-y^2;
G := (x+y)^3;
GCD(F,G);
x + y
------------------------------LCM(F,G);
1/4x^4 + 1/2x^3y - 1/2xy^3 - 1/4y^4
------------------------------4It = (x+y)^3(x-y);
TRUE
A.1. INTRODUÇÃO AO COCOA
65
------------------------------GCD(3*4,3*8,6*16);
12
------------------------------GCD([3*4,3*8,6*16]);
12
------------------------------Hilbert
SINTAXE
Hilbert(R:RING)
Hilbert(R:RING,N:INT)
A primeira forma desta função calcula a Função de Hilbert de R. A segunda forma calcula
o N-ésimo valor da Função de Hilbert de R. O anel dos coeficientes precisa ser um corpo.
EXEMPLO
Use R ::= Q[t,x,y,z];
Hilbert(R/Ideal(z^2-xy,xz^2+t^3));
H(0) = 1
H(1) = 4
H(t) = 6t-3 for t >= 2
------------------------------Hilbert(R/Ideal(z^2-xy,xz^2+t^3),2);
9
------------------------------Ideal
SINTAXE
Ideal(P_1:POLY,...,P_n:POLY)
Ideal(L:LIST de POLY)
A primeira forma retorna o ideal gerado por P 1,...P n e a segunda forma o ideal gerado
pelos polinômios em L.
EXEMPLO
Use R ::= Q[x,y,z];
I := Ideal(x-y^2,xy-z);
I;
Ideal(-y^2 + x, xy - z)
-------------------------------
A.1. INTRODUÇÃO AO COCOA
66
L := [xy-z,x-y^2];
J := Ideal(L);
I = J;
TRUE
------------------------------LC
SINTAXE
LC(F:POLY)
Esta função retorna o coeficiente lı́der de F com relação a ordem monomial do anel que F
pertence.
EXEMPLO
Use R ::= Q[x,y];
LC(x+3x^2-5y^2);
3
------------------------------LM
SINTAXE
LM(P:POLY)
Cuidado, esta função retorna, pela nossa teoria, o termo lı́der de P e não o monômio lı́der,
ou seja, o monômio e o coeficiente lı́deres. Para obter o monômio lı́der, veja o comando LT.
EXEMPLO
Use R ::= Q[x,y];
LM(3x^2y+y);
3x^2y
------------------------------LT
SINTAXE
LT(E:IDEAL ou POLY)
Se E é um polinômio, esta função retorna o monômio lı́der (e não o termo lı́der!) do
polinômio E com respeito a ordem monomial do anel corrente. Se E é um ideal, esta função
retorna o ideal gerado pelos monômios lı́deres de todos os elementos de E. Para obter o termo
lı́der, veja o comando LM.
EXEMPLO
A.1. INTRODUÇÃO AO COCOA
67
Use R ::= Q[x,y,z]; -- a ordem monomial padr~
ao é a DegRevLex
LT(y^2-xz);
y^2
------------------------------Use R ::= Q[x,y,z], Lex;
LT(y^2-xz);
xz
------------------------------Use R ::= Q[x,y,z];
I := Ideal(x-y,x-z^2);
LT(I);
Ideal(x, z^2)
------------------------------NF
SINTAXE
NF(F:POLY,I:IDEAL)
Esta função retorna a forma normal de F com respeito a I. Também computará uma base
de Gröbner de I se uma tal base ainda não tiver sido computada. O anel dos coeficientes
precisa ser um corpo.
EXEMPLO
Use R ::= Q[x,y,z];
I := Ideal(z);
NF(x^2+xy+xz+y^2+yz+z^2,I);
x^2 + xy + y^2
------------------------------ReducedGBasis
SINTAXE
ReducedGBasis(I:IDEAL)
Esta função retorna uma lista cujas componentes formam a Base de Gröbner Reduzida de
I com respeito à ordem monomial do anel corrente. O anel dos coeficientes precisa ser um
corpo.
EXEMPLO
Use R ::= Q[t,x,y,z];
ReducedGBasis(I);
[t^3 - x, tx - y, ty - z, y^2 - xz, x^2 - tz, t^2z - xy]
-------------------------------
A.2. EXEMPLOS
68
Use
SINTAXE
Use N:RING
’Use’ é o comando usado para tornar um anel ativo. O comando
Use N ::= E;
onde E é um anel é o meio prático para
N ::= E;
Use N;
EXEMPLO
Use S ::= Q[x,y,z];
------------------------------T::= Z/(3)[a,b];
Use T;
CurrentRing();
Z/(3)[a,b]
-------------------------------
A.2
Exemplos
Utilizaremos o CoCoA para computar
A.2.1
Exemplo 2.8 - Algoritmo da Divisão
Utilizando K = Q, dividiremos f = xy 3 z 2 + xyz 2 por f1 = xy − 1 e f2 = yz 2 − 1:
Use S::=Q[x,y,z],Lex;
DivAlg(x*y^3*z^2+x*y*z^2,[x*y-1,y*z^2-1]);
Record[Quotients = [y^2z^2 + z^2, y], Remainder = y + z^2]
------------------------------Obtendo o resultado esperado. Agora mudamos a ordem da divisão, ou seja, dividiremos
f = xy 3 z 2 + xyz 2 por f2 = yz 2 − 1 e f1 = xy − 1:
Use S::=Q[x,y,z],Lex;
DivAlg(x*y^3*z^2+x*y*z^2,[y*z^2-1,x*y-1]);
Record[Quotients = [xy^2 + x, y], Remainder = x + y]
------------------------------Novamente com o resultado esperado.
A.2. EXEMPLOS
A.2.2
69
Exemplo 2.26
No Exemplo 2.26 ilustramos o algoritmo de Buchberger calculando uma base de Gröbner para
I = hf1 , f2 i = hx3 − 2xy, x2 y − 2y 2 + xi. Em alguns casos, o processo para de verificação pode
tornar-se inviável devido o número de cálculos que serão exigidos. No exemplo em questão,
não tı́nhamos verificado que o resto da divisão de S(fi , fj ), para i = 1, 2, 3, 4 e j = i + 1, . . . , 5
por G0 = {f1 = x3 − 2xy, f2 = x2 y − 2y 2 + x, f3 = −x2 , f4 = −2xy, f5 = −2y 2 + x} é zero.
Seguem os comandos e o resultado obtido, garantindo que todos os restos são nulos.
Use S::=Q[x,y];
F:=[x^3-2*x*y,x^2*y-2*y^2+x,-x^2,-2*x*y,-2y^2+x];
I:=Ideal(x^3-2*x*y,x^2*y-2*y^2+x,-x^2,-2*x*y,-2y^2+x);
PrintLn(’ ’);
For K := 1 To 4 Do
For J := K+1 To 5 Do
A:=(LCM(LT(F[K]),LT(F[J]))/LM(F[K]))*F[K] (LCM(LT(F[K]),LT(F[J]))/LM(F[J]))*F[J];
PrintLn(’S(F[’,K,’],F[’,J,’])) = ’,A);
B:=NF(A,I);
PrintLn(’FN(S(F[’,K,’],F[’,J,’])) = ’,B);
PrintLn(’ ’);
EndFor;
EndFor;
Print(’Onde FN indica a forma normal com respeito ao ideal I.’);
------------------------------S(F[1],F[2])) = -x^2
FN(S(F[1],F[2])) = 0
S(F[1],F[3])) = -2xy
FN(S(F[1],F[3])) = 0
S(F[1],F[4])) = -2xy^2
FN(S(F[1],F[4])) = 0
S(F[1],F[5])) = 1/2x^4 - 2xy^3
FN(S(F[1],F[5])) = 0
S(F[2],F[3])) = -2y^2 + x
FN(S(F[2],F[3])) = 0
S(F[2],F[4])) = -2y^2 + x
FN(S(F[2],F[4])) = 0
S(F[2],F[5])) = 1/2x^3 - 2y^3 + xy
A.2. EXEMPLOS
70
FN(S(F[2],F[5])) = 0
S(F[3],F[4])) = 0
FN(S(F[3],F[4])) = 0
S(F[3],F[5])) = 1/2x^3
FN(S(F[3],F[5])) = 0
S(F[4],F[5])) = 1/2x^2
FN(S(F[4],F[5])) = 0
------------------------------Onde FN indica a forma normal com respeito ao ideal I.
-------------------------------
A.2.3
Exemplos 2.35 e 2.51
Vimos nos Exemplos 2.35 e 2.51 que a função de Hilbert de R =
½
H (R, i) =
K[x, y, z]
é dada por
hxy, xz, yzi
1, i = 0
3, i ≥ 1.
Seguem os comandos e o resultado obtido utilizando o WinCoCoA, com K = Q:
Use S::=Q[x,y,z];
I:=Ideal(x*y,x*z,y*z);
R:=S/I;
Hilbert(R);
H(0) = 1
H(t) = 3
for t >= 1
-------------------------------
71
Referências Bibliográficas
[1] Atiah, M. F. & MacDonald, J. G., Introduction to Commutative Algebra, Adson-Weasley,
Reading, 1969.
[2] Eisenbud, D., Commutative Algebra with a View Toward Algebraic Geometry, Graduate
Texts in Mathematics 150, Springer-Verlang, New York, 1994.
[3] Kunz, E., Introduction to Commutative Algebra and Algebraic Geometry , Birkhäuser
Boston, 1985.
[4] Cox, D. & Little, J. & O’Shea, D. Ideals, Varieties and Algorithms, Undergraduate Texts
in Mathematics, Springer-Verlag, 1991.
[5] Bruns, W. & Herzog, J., Cohen-Macaulay rings, Cambridge University Press 39, 1993.
[6] Cox, D. & Little, J. & O’Shea, D. Using Algebraic Geometry, Graduate Texts in Mathematics, Springer, 1998.
[7] Simis, A., Combinatória Algébrica, Impa, Rio de Janeiro, 1991.
[8] Becker, T., Weispfenning, V., Kredel, H., Gröbner Bases - A Computational Approach to
Commutative Algebra, Graduate Texts in Mathematics, Springer-Verlag, New York, 1993.

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