Alguns Aspectos Computacionais em Álgebra Comutativa
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Alguns Aspectos Computacionais em Álgebra Comutativa
ROBINSON ALVES LEMOS ALGUNS ASPECTOS COMPUTACIONAIS EM ÁLGEBRA COMUTATIVA: BASES DE GRÖBNER E FUNÇÃO DE HILBERT SÃO JOSÉ DO RIO PRETO 2005 ROBINSON ALVES LEMOS ALGUNS ASPECTOS COMPUTACIONAIS EM ÁLGEBRA COMUTATIVA: BASES DE GRÖBNER E FUNÇÃO DE HILBERT Dissertação apresentada ao Departamento de Matemática - IBILCE - UNESP, como parte dos requisitos para obtenção do tı́tulo de Mestre em Matemática. SÃO JOSÉ DO RIO PRETO 2005 “Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo por onde quer que andares”. Josué 1:9 À minha famı́lia, Samuel, Emı́lia, Karina Alexandra e Heitor, dedico. Agradecimentos Ao término deste trabalho, deixo aqui meus sinceros agradecimentos: A Deus por tudo. À Profa. Dra. Aparecida Francisco da Silva, por toda dedicação, paciência e estı́mulo em sua valiosa orientação. A todos os professores do Departamento de Matemática da UNESP- S.J.R. Preto. Aos professores Clotilzio M. dos Santos e Paulo Antônio Fonseca Machado pelas valiosas sugestões. À minha famı́lia, pelo incentivo e segurança que me passaram durante todo esse perı́odo. Aos amigos da Pós-graduação pelo agrádavel convı́vio. A todos que direta ou indiretamente contribuı́ram para a realização deste trabalho. À CAPES pelo auxı́lio financeiro. Resumo Neste trabalho apresentamos aspectos computacionais de K-álgebras que envolvem ideais monomiais: bases de Gröbner e funções de Hilbert; além do teorema de Macaulay que estabelece condições para que uma função de N em N seja a função de Hilbert de uma K-álgebra homogênea. Palavras-chave: Álgebra Comutativa, Funções de Hilbert, Bases de Gröbner, Teorema de Macaulay. Abstract In this work we show K-algebras computational aspects that evolve monomial ideals: Gröbner basis and Hilbert functions; furthermore, we present the Macaulay theorem which establishes conditions to verity if a function from N to N is the Hilbert function of a homogeneous K-algebra. Keywords: Commutative Algebra, Hilbert Functions, Gröbner basis, Macaulay Theorem. 8 Sumário Introdução 9 1 Funções de Hilbert 1.1 Anéis e Módulos Graduados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 Função de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3 Teoria da Dimensão de Anéis Noetherianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 10 11 16 2 Bases de Gröbner 2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.1.1 Polinômios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.1.2 Ordens Monomiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 Algoritmo da Divisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3 Lema de Dickson e Teorema da Base de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4 Bases de Gröbner . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4.1 Unicidade do Resto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4.2 Critério de Buchberger . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4.3 Base de Gröbner Reduzida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.5 Função de Hilbert de S/I, com I Ideal Monomial . . . . . . . . . . . . . . . . 2.5.1 Processo para Calcular a Função de Hilbert de S/I, com I ideal monomial 2.6 Anéis de Stanley-Reisner . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.6.1 Função e Série de Hilbert de um Anel de Stanley-Reisner . . . . . . . . 25 25 25 25 28 31 34 35 36 41 43 44 46 48 3 Teorema de Macaulay 50 A Exemplos Utilizando o CoCoA A.1 Introdução ao CoCoA . . . . . . . . . . . A.1.1 Ambiente Anel . . . . . . . . . . . A.1.2 Estruturas de Programação . . . . A.1.3 Lista de Comandos . . . . . . . . . A.2 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . A.2.1 Exemplo 2.8 - Algoritmo da Divisão A.2.2 Exemplo 2.26 . . . . . . . . . . . . A.2.3 Exemplos 2.35 e 2.51 . . . . . . . . Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 62 62 63 63 68 68 69 70 71 9 Introdução O objetivo deste trabalho é o estudo da função de Hilbert no caso de uma K-álgebra graduada. Grande parte dos trabalhos publicados na segunda metade do século XIX foram dedicados ao problema de encontrar um sistema finito de geradores para ideais e álgebras. Em seus trabalhos publicados entre 1888 e 1893, Hilbert resolveu esse problema para o caso de ideais em anéis de polinômios, apresentando entre outros resultados o que conhecemos por “Teorema da Base” e “Teorema dos Zeros”. No Capı́tulo 1, apresentamos as funções de Hilbert de K-álgebras graduadas e sua importante aplicação na teoria da dimensão de anéis Noetherianos. Segundo D. Eisenbud [2] “... as ordens totais sobre conjuntos de monômios foram introduzidas em 1927 por Macaulay que as usou para caracterizar as possı́veis funções de Hilbert de ideais graduados, por comparação com os ideais monomiais. Nos anos 30 do último século, Gröbner publicou aplicações das idéias de Macaulay que obtivessem uma base para um anel fatorial zero dimensional e, em 1964, propôs a seu estudante Bruno Buchberger, como problema de tese de doutorado que computasse tais bases. Como Gröbner havia previsto, a tese e os trabalhos posteriores de Buchberger, publicados em 1970 e 1975, contém os critérios e algoritmo de Buchberger que resolveram o problema.” No Capı́tulo 2, apresentamos um pouco desta teoria: ordens monomiais, algoritmos da divisão, bases de Gröbner e critério de Buchberger. Também compõem o Capitulo 2 a prova do teorema da base de Hilbert, no espı́rito do trabalho de Gordan e processos para calcular a função de Hilbert para K[x1 , . . . , xn ]/I com I ideal monomial. Compõem o Capı́tulo 3 a versão algébrica do teorema de Green, bom como o teorema de Macaulay que estabelece condições para que uma função de N em N seja função de Hilbert de uma K-álgebra graduada. No Apêndice, apresentamos alguns comandos utilizados no CoCoA. Entre eles, os comandos para o cálculo efetivo das bases de Gröbner e funções de Hilbert. 10 Capı́tulo 1 Funções de Hilbert Nesta seção, introduziremos algumas definições e resultados básicos para o que segue e que podem ser visto com mais detalhes em [1]. 1.1 Anéis e Módulos Graduados Definição 1.1 Um anel graduadoM é um anel A munido de uma famı́lia (An )n∈Z de subgrupos do grupo aditivo A, tais que A = An e Am An ⊂ Am+n para todos m, n ∈ Z. n∈Z Observação 1.2 Segue desta definição que A0 é um subanel de A e cada An é um A0 -módulo (A0 A0 ⊆ A0 e A0 An ⊆ An para todo n). Salvo menção em contrário, no que segue, trabalharemos apenas com anéis que possuem uma graduação positiva, isto é, aqueles para os quais An = (0) para n < 0. Exemplo 1.3 O modelo básico de anel graduado é o anel de polinômios A = K[x1 , . . . , xn ], onde K é um corpo e x1 , . . . , xn são indeterminadas sobre A, onde An é o conjunto dos polinômios homogêneos de grau n. Definição 1.4 Seja A um anel graduado. Um A-módulo graduado é um A-módulo M munido ∞ M de uma famı́lia (Mn )n≥0 de subgrupos aditivos de M tais que M = Mn e Am Mn ⊂ Mm+n para todos m, n ≥ 0. n=0 Observações 1.5 (i) Com a notação da Definição1.4, cada Mn é chamado componente homogênea de grau n de M e é um A0 -módulo. Um elemento x ∈ M é homogêneo de grau n se x ∈ Mn . X (ii) Cada elemento y ∈ M pode ser escrito unicamente como uma soma finita yn , onde n yn ∈ Mn , para todo n ∈ N e yn = 0, para quase todo n. As componentes não nulas yn são chamadas de componentes homogêneas de y. 1.2. FUNÇÃO DE HILBERT 11 (iii) Se M e N são A-módulos graduados, um homomorfismo de A-módulos graduados é um homomorfismo de A-módulos f : M → N tal que f (Mn ) ⊆ Nn , para todo n ≥ 0. M (iv) Seja A é um anel graduado e A+ = An . Então A+ é um ideal de A. n>0 Proposição 1.6 Para um anel graduado A, são equivalentes: (i) A é anel Noetheriano; (ii) A0 é Noetheriano e A é uma A0 -álgebra finitamente gerada. M Demonstração: (i) ⇒ (ii) Seja A+ = An . Como A é Noetheriano e A+ é ideal de A, n>0 A A+ é finitamente gerado. Sendo A0 ' , A0 é Noetheriano. Sejam x1 , . . . , xs os geradores de A+ A+ , que podemos tomar, sem perda de generalidade, homogêneos de graus k1 , . . . , ks respectivamente. No que segue mostraremos que A = A0 [x1 , . . . , xs ]. Por construção A0 [x1 , . . . , xs ] ⊂ A. Agora, procedendo por indução sobre n, veremos que An ⊂ A0 [x1 , . . . , xs ] para todo n. Para n = 0 o resultado é obviamente verdadeiro. Supondo Ak ⊂ A0 [x1 , . . . , xs ] para k ≥ 1 temos: s X y ∈ Ak ⇒ y ∈ A+ ⇒ y = ai xi , i=1 onde ai ∈ An−ki . Usando a hipótese de indução, segue que para todo i = 1, . . . , s, ai ∈ A0 [x1 , . . . , xs ] e, assim, sendo A0 [x1 , . . . , xs ] anel, y ∈ A0 [x1 , . . . , xs ]. Portanto An ⊂ A0 [x1 , . . . , xs ] para todo n ∈ N, o que completa a demonstração. (ii) ⇒ (i) Teorema da Base de Hilbert 2.16. ¤ 1.2 Função de Hilbert No que segue A = ∞ M An denotará um anel Noetheriano graduado e Ak sua k-ésima compo- n=0 nente homogênea. Como acabamos de ver A0 é Noetheriano e A é gerado (como A0 álgebra) por, digamos, x1 , . . . , xs , que podemos tomar homogêneos de graus k1 , . . . , ks (ki > 0). Seja M um A-módulo graduado finitamente gerado. Então M é gerado por um número finito de elementos homogêneos digamos m1 , . . . , mt . Seja rj = grau mj (1 ≤ j ≤ t). Todo elemento y de Mn , a componente homogênea de M de grau n, é, deste modo, da X forma y = fj (x)mj , onde fj (x) ∈ A = A0 [x1 , . . . , xs ] é homogêneo de grau n − rj (zero se j n < rj ). Segue que Mn é finitamente gerado como um A0 -módulo, sendo seus geradores todos os fj (x)mj , onde x denota (x1 , . . . , xn ). Definição 1.7 Seja C uma classe de A-módulos e seja λ uma função sobre C com valores em Z. A função λ é aditiva se, para cada seqüência exata curta 0 → M 0 → M → M 00 → 0 de elementos de C temos λ(M 0 ) − λ(M ) + λ(M 00 ) = 0. 1.2. FUNÇÃO DE HILBERT 12 Exemplo 1.8 Tomando A como um corpo K e C como a classe de todos os K-espaços vetoriais de dimensão finita , então λ : C → N dada por λ(V ) = dimK (V ) para todo V ∈ C, é uma função aditiva sobre C. Exemplo 1.9 Sejam S = K[x1 , . . . , xm ] o anel dos polinômios com K corpo. Sabemos Pm que S = L∞ α1 αm i=1 αi = n. n=0 Sn , onde Sn é o K-espaço vetorial gerado pelos monômios x1 · · · xm onde Então a K-dimensão de Sn é: µ ¶ m+n−1 dimK Sn = . m−1 α1 αm De fato, Pmpara sabermos a dimensão de Sr , basta calcular o número de monômios x1 · · · xm tais que i=1 αi = r, isto é, a cardinalidade do conjunto ( ) m X Ir,m = (α1 , . . . , αm ) ∈ Nm | αi = r . i=1 Faremos a prova por indução sobre m. Se m = 1 e r qualquer temos Ir,1 = {α ∈ N | α = r}, logo ¶ µ r + (1 − 1) . #Ir,1 = 1 = 1−1 Supondo o resultado válido para m − 1 (m > 1) temos que para para todo r vale µ ¶ r+m−2 #Ir,m−1 = , m−2 P onde Ir,m−1 = {(α1 , . . . , αm−1 ) ∈ Nm−1 | m−1 i=1 αi = r}. Agora, ( ) m X Ir,m = (α1 , . . . , αm ∈ Nm | αi = r . i=1 Dado 0 ≤ j ≤ r, consideremos Ij = {(α1 , . . . , αm ) ∈ Ir,m | αm = j, m−1 X αi = r − j}. i=1 P m É claro que Ir,j = ∪˙ j=0 Ij e, portanto, #Ir,m = m j=0 #Ij . Mas, (α1 , . . . , αm ) ∈ Ij se, e Pm−1 somente se, i=1 αi = r − j e αm = j, ou seja, se, e somente se, (α1 , . . . , αm−1 ) ∈ Ir−j,m−1 e αm = j, assim, µ ¶ r−j+m−2 #Ij = #Ir−j,m−1 = . m−2 Logo, Ir,m ¶ ¶ µ ¶ µ ¶ r µ r µ X r − j + m − 2 r−j=i X i + m − 2 r + (m − 2) + 1 r+m−1 = = = = . m−2 m−2 (m − 2) + 1 m−1 j=0 i=0 1.2. FUNÇÃO DE HILBERT 13 Observação 1.10 Na definição mais geral de uma função aditiva, λ pode assumir valores em um grupo abeliano qualquer. Porém, nesse trabalho, λ sempre assumirá valores em Z, sendo que as funções aditivas mais importantes que usaremos são dimensão e comprimento. Uma das principais definições com a qual trabalharemos no que segue é: Definição 1.11 Sejam λ uma função aditiva L sobre a classe de todos os A0 -módulos finitamente gerados, A um anel graduado e M = Mn um A-módulo graduado finitamente gerado. A função de Hilbert de M (com respeito a λ) é a seguinte função: Hλ (M, −) : N → Z n 7→ Hλ (M, n) = λ(Mn ) A série de Hilbert-Poincaré de M (com respeito a λ) é a série de potências P (M, t) = ∞ X n Hλ (M, n)t = n=0 ∞ X λ(Mn )tn ∈ Z[[t]]. n=0 Teorema 1.12 (Hilbert-Serre) Nas hipóteses da definição anterior temos que existe uma função f (t) ∈ Z[t] tal que f (t) , s Y ki (1 − t ) i=1 onde A = A0 [x1 , . . . , xs ] e xi ∈ Aki . Demonstração: A demonstração será feita por indução sobre s, o número de geradores de A sobre A0 . No caso s = 0, temos A = A0 e An = 0, para todo n > 0. M é um A-módulo finitamente gerado. Então M é A0 -módulo finitamente gerado, isto é, M = A0 m1 + · · · + A0 mt , com mi ∈ Mri . Logo, para n > max{ri | i = 1, . . . , t} segue que Mn = 0 e desta forma P (M, t) é um polinômio, como querı́amos. Suponha s > 0 e que o resultado vale para s − 1, considerando o A0 homomorfismo de módulos ϕs : Mn → Mn+ks m 7→ xs m Temos então para todo n a seqüência exata: ϕs 0 → Kn → Mn → Mn+ks → Ln+ks → 0, onde Kn = Ker ϕs , Ln+ks = Mn+ks /ϕs (Mn ). Desta forma Ln ' Mn se n < ks e Ln = L(n−ks )+ks ' Mn /ϕs (Mn−ks ). M M Tomando K = Kn e L = Ln e considerando n n ψs : M → M m 7→ xs m (1.1) 1.2. FUNÇÃO DE HILBERT 14 temos: m ∈ M ⇒ m = y1 + · · · + yn , com yi ∈ Mri . Portanto xs yi ∈ Ms+ri xs m = 0 ⇒ xs y1 + · · · + xs yn = 0. X ∩ Mrj = (0). rj 6=s+rj Logo yi ∈ Krj , de onde segue que m ∈ K. Assim Ker(ψs ) = K. Além disso, L ' M/xs M uma vez que se m ∈ M , m = yi1 + · · · + yir + wj1 + · · · + wjs com it < ks e jl ≥ ks e se φ : M → L tem-se φ(m) = yi1 + · · · + yir + wj1 + · · · + wjs , onde wjl = wjl + xs Mjl +ks . φ é obviamente sobrejetora e Ker φ = xs M , de onde segue que 0 → K → M → M → L → 0 é exata. Agora, como A é Noetheriano e M finitamente gerado, então M é Noetheriano. Logo K e L também são A-módulos finitamente gerados. Além disso xs K = (0) e xs L = (0) e, deste modo, são A0 [x1 , . . . , xs−1 ]-módulos finitamente gerados. Aplicando λ em (1.1) obtemos λ(Kn ) − λ(Mn ) + λ(Mn+ks ) − λ(Ln+ks ) = 0, (1.2) multiplicando por tn+ks e somando sobre todos os n obtemos X X X X λ(Kn )tn+ks − λ(Mn )tn+ks + λ(Mn+ks )tn+ks − λ(Ln+ks )tn+ks = 0, n n t ks X n λ(Kn )tn − tks n X λ(Mn )tn + n X n λ(Mn )tn − n X λ(Ln )tn − g(t) = 0, n ou seja, (1 − tks )P (M, t) = P (L, t) − tks P (K, t) + g(t), (1.3) Pks −1 P s −1 onde g(t) = i=0 λ(Mi )ti + ki=0 λ(Li )ti . Como por hipótese de indução o resultado é válido para L e K, segue o resultado. ¤ Definição 1.13 Nas condições do teorema anterior definimos dλ (M ) como sendo a ordem do polo t = 1 da função P (M, t). ¡d+k−1¢ k P Lema 1.14 Dado d ∈ N temos que (1 − t)d ∈ Z[[t]] é inversı́vel e (1 − t)−d = ∞ t . k=0 d−1 Demonstração: Mostraremos o resultado por indução sobre d. P k Sabemos que Z[[t]] = { ∞ a t | ak ∈ Z} e a multiplicação em Z[[t]] é definida por k=0 k Ã∞ !à ∞ ! ∞ X X X i j ai t bj t = ck tk , i=0 j=0 k=0 P onde ck = ki=0 ai b¡k−i . ¢ ¡ ¢ Se d = 1 então d+k−1 = k0 = 1 e d−1 Ã∞ ! ∞ ∞ X X X k k (1 − t) t = t − tk+1 = 1, k=0 k=0 k=0 1.2. FUNÇÃO DE HILBERT 15 P k logo (1 − t) é inversı́vel e (1 − t)−1 = ∞ k=0 t . Supondo o resultado válido para d > 1 temos: −d (1 − t) = ¶ ∞ µ X d+k−1 d−1 k=0 −d −1 (1 − t) (1 − t) = ∞ X k ck t , onde ck = tk . ¶ k µ X d+i−1 d−1 i=0 k=0 µ ·1= ¶ (d − 1) + k + 1 . (d − 1) + 1 Logo, −(d+1) (1 − t) = ¶ ∞ µ X (d − 1) + k + 1 k=0 (d − 1) + 1 ¶ ∞ µ X (d + 1) + k − 1 t = .¤ (d + 1) − 1 k=0 k Corolário 1.15 Se cada ki = 1, então para todo n suficientemente grande, λ(Mn ) é um polinômio em n (com coeficientes racionais) de grau d − 1, onde d = dλ (M ). Além disso, se d = 0 então λ(Mn ) é zero para n suficientemente grande. (Adotamos aqui ¡ n ¢a convenção de que o grau ¡ n do ¢ polinômio nulo é −1 e também que o coeficiente binomial −1 = 0, para todo n ≥ 0 e −1 = 1 se n = −1.) Demonstração: Temos que λ(Mn ) é o coeficiente de tn em f (t)(1 − t)−s . Cancelando as potências de (1 − t) que aparecem em f , podemos supor, s = d e f (1) 6= 0. Seja f (t) = N X ak tk . k=0 ¡d+k−1¢ k P Como foi visto no lema anterior, (1 − t)d é inversı́vel em Z[[t]] e (1 − t)−d = ∞ t . k=0 d−1 Donde ! !à ∞ µ à N X d + k − 1¶ X X 1 tk . ak tk λ(Mn )tn = f (t) = d − 1 (1 − t)d k=0 k=0 ¡d+n−k−1¢ PN Assim, para n ≥ N temos que λ(Mn ) = Pk=0 ak d−1 , onde a última soma é um polinônimo de grau d − 1 com coeficiente lı́der ( ak )/(d − 1)! 6= 0, pois f (1) 6= 0. ¤ Observações 1.16 (i) O polinômio no Corolário 1.15 é usualmente chamado de polinômio de Hilbert de M (com respeito a λ). (ii) Para um polinômio f (x) ser tal que f (n) ∈ Z para todo n ∈ Z, não é necessário que f possua apenas coeficientes inteiros, como podemos ver no exemplo: 21 (x + 1)x. Proposição 1.17 Se x ∈ Ak não for um divisor de zero em M , então d(M/xM ) = d(M ) − 1. 1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS 16 Demonstração: Retornando à seqüência (1.1) da demonstração do Teorema de HilbertSerre 1.12, trocando xs por um elemento qualquer x ∈ Ak que não é um divisor de zero em M , então K = 0 e a equação (1.2) nos dá que d(L) = d(M ) − 1, onde, neste caso, L = M/xM . ¤ Usaremos o Teorema de Hilbert-Serre no caso em que A0 é um anel Artiniano (em particular um corpo) e λ(M ) é o comprimento l(M ) de um A0 -módulo finitamente gerado M . Note que o comprimento de M é finito, isto é, l(M ) ∈ N e l é uma função aditiva sobre o conjunto dos A0 -módulos finitamente gerados. Exemplo 1.18 Sejam A = A0 [x1 , . . . , xs ] onde A0 é um anel Artiniano, xi indeterminadas independentes sobre A0 e λ a função An ¢é um A0 -módulo livre gerado ¡s+n−1 Pcomprimento l. Então m1 ms pelos monômios x1 · · · xs , onde mi = n. Existem s−1 destes elementos e, assim, P (A, t) = (1 − t)−s . 1.3 Teoria da Dimensão de Anéis Noetherianos Definição 1.19 Seja A um anel e a um ideal de A. Definimos o anel graduado associado a A como sendo o anel graduado G(A) = Ga (A) = ∞ M an an+1 n=0 (a0 = A), com a multiplicação definida como segue: para cada xn ∈ an , seja xn sua imagem em an /an+1 ; definimos xm xn como a imagem xm xn , ou seja, a imagem de xm xn em am+n /am+n+1 . Esta operação está bem definida uma vez que independe da escolha dos representantes pois, dados xm , x0m ∈ am e xn , x0n ∈ an com xm = x0m e xn = x0n temos então que xm − x0m ∈ am+1 e xn − x0n ∈ an+1 . Agora, xm xn − x0m x0n = xm xn − x0m xn + x0m xn + x0m x0n = (xm − x0m ) xn + x0m (xn − x0n ) ∈ am+n+1 . | {z } |{z} |{z} | {z } ∈am+1 ∈an ∈am ∈an+1 Para elementos quaisquer definimos o produto de modo a valer a propriedade distributiva. Definição 1.20 Seja M um A-módulo graduado e a ⊂ A um ideal. (i) Uma cadeia descendente M = M0 ⊇ M1 ⊇ · · · ⊇ Mn ⊇ · · · onde os Mn ’s são submódulos de M é chamada de filtração de M e denotada por (Mn ). (ii) (Mn ) é uma a-filtração se aMn ⊆ Mn+1 , para todo n e, (iii) (Mn ) é uma a-filtração estável se aMn = Mn+1 para todo n suficientemente grande. Exemplo 1.21 Um exemplo de a-filtração estável é (an M ), também chamada de filtração a-ádica. Proposição 1.22 (Lema de Artin-Rees) Seja A um anel Noetheriano, a um ideal de A, M um A-módulo finitamente gerado, (Mn ) uma a-filtração estável de M . Se M 0 é um submódulo de M , então (M 0 ∩ Mn ) é uma a-filtração estável de M 0 . 1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS 17 Demonstração: Veja [1]. Tomando Mn = an M na proposição anterior obtemos o seguinte: Corolário 1.23 Existe um inteiro k tal que (an M ) ∩ M 0 = an−k ((ak M ) ∩ M 0 ), para todo n ≥ k. Definição 1.24 Se M é um A-módulo e (Mn ) uma a-filtração de M , definimos o G(A)módulo graduado associado como: ∞ M Mn G(M ) = . M n+1 n=0 Neste caso Gn (M ) denotará Mn /Mn+1 . Exemplo 1.25 Se A = K[x1 , . . . , xn ] é o anel dos polinômios em x1 , . . . , xn sobre um corpo K e a = (x1 , . . . , xn ), então G(A) ' A (como anéis graduados). Teorema 1.26 Sejam A um anel Noetheriano local, m seu ideal maximal, q um ideal mprimário, M um A-módulo finitamente gerado e (Mn ) uma q-filtração estável de M . Então: (i) M tem comprimento finito, para todo n ∈ N. Mn (ii) Para n suficientemente grande, esse comprimento é um polinômio g(n) de grau menor ou igual a s onde s é o número mı́nimo de geradores de q. (iii) O grau de g(n) depende somente de M e q e não da filtração escolhida. L L∞ Mn qn Demonstração: Sejam G(A) = ∞ n=0 qn+1 e G(M ) = n=0 Mn+1 . Temos que G0 (A) = A/q é anel Artiniano, pois é Noetheriano de dimensão zero. Além disso, G(A) é Noetheriano e G(M ) é um G(A)-módulo finitamente gerado. Cada Gn (M ) = Mn /Mn+1 é um A-módulo finitamente gerado, anulado por q e, assim, é um A/q-módulo finitamente gerado. Sendo A/q Artiniano, Gn (M ) é de comprimento finito, para todo n. (i) Para mostrar que M/Mn é de comprimento finito para todo n, procedemos por indução sobre n. Para n = 0 nada há para fazer, pois M/M0 = M/M ' 0. Supondo que M/Mn−1 é Artiniano, mostraremos que M/Mn também o é. Consideremos a seqüência exata M M Mn−1 → → → 0. (1.4) 0→ Mn Mn Mn−1 Como Mn−1 /Mn = Gn−1 (M ) é Artiniano e, por hipótese de indução, M/Mn−1 também é Artiniano, temos que M/Mn é Artiniano. 1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS 18 Assim, M/Mn também é de comprimento finito. µ Afirmação: ln = l M Mn ¶ µ ¶ n X Mr−1 = l , para todo n. Mr r=1 Novamente usaremos indução sobre n. Para n = 0, l0 = l(M/M0 ) = l(0) = 0. Supondo o resultado válido para n ≥ 1, sendo l uma função aditiva, a seqüência (1.4) nos garante que ¶ ¶ µ ¶ X µ ¶ µ n−1 µ n Mn−1 Mr−1 Mn−1 H.I. X Mr−1 = l +l = l . ln = ln−1 + l Mn Mr Mn Mr r=1 r=1 (ii) Se x1 , . . . , xs é um conjunto minimal de geradores de q, as imagens xi = xi + q/q2 geram G(A) como A/q-álgebra e cada xi tem grau 1 (G(A) = (A/q)[x1 , . . . , xs ]). Sabemos que para n suficientemente grande l(Mn /Mn+1 ) = f (n) é um polinômio em n de grau menor ou igual a s − 1. Agora, ln+1 −ln = l(Mn /Mn+1 ) = f (n) e, assim, ln é um polinômio g(n) de grau no máximo s para n suficientemente grande. (iii) Sejam (M̃n ) outra q-filtração estável de M e g̃(n) = l(M/Mn ). Então existe n0 ∈ N tal que Mn+n0 ⊂ M̃n e M̃n+n0 ⊂ Mn , ∀n ≥ 0. Utilizando-se a seguinte seqüência exata: 0 → Ker ϕ → M ϕ M → → 0, Mn+n0 M̃n onde ϕ(m + Mn+n0 ) = m + M̃n , temos l(M/Mn+n0 ) ≥ l(M/M̃n ) e, portanto, g(n + n0 ) ≥ g̃(n). Analogamente, g̃(n + n0 ) ≥ g(n). Assim, g̃(n + n0 ) g(n) g̃(n + n0 ) ≥ e lim =1 n→∞ g̃(n) g̃(n) g̃(n) nos garantem que g(n) ≤ 1. n→∞ g̃(n) lim Por outro lado, g(n + n0 ) ≥ g̃(n), ou seja, deste modo, Conseqüentemente, 1 1 ≥ , g̃(n) g(n + n0 ) g(n) g(n) g(n) ≥ e lim = 1. g̃(n) g(n + n0 ) n→∞ g(n + n0 ) g(n) ≥ 1. n→∞ g̃(n) lim g(n) = 1, de onde segue que o grau g é igual ao grau de g̃ e, g e g̃ possuem o n→∞ g̃(n) mesmo coeficiente lı́der. ¤ Logo lim 1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS 19 Observações 1.27 n (i) Denotaremos por χM q (n), o polinômio g(n) correspondendo à filtração (q M ), ou seja: n χM q (n) = l(M/q M ) (para todo n suficientemente grande) (ii) Se M = A, denotaremos por χq (n) o polinômio χA q (n) e o chamaremos de polinômio caracterı́stico do ideal m-primário q. Nas condições anteriores temos: Corolário 1.28 Para todo n suficientemente grande, o comprimento l(A/qn ) é um polinômio χq (n) de grau menor ou igual a s, onde s é o número mı́nimo de geradores de q. Proposição 1.29 Seja A um anel local, m seu ideal maximal e q um ideal m-primário. Então grau χq (n) = grau χm (n). Demonstração: Como A é Noetheriano, todo ideal contém uma potência de seu radical. Logo, existe r tal que mr ⊂ q ⊂ m e, assim, mrn ⊂ qn ⊂ mn para todo n. Portanto, µ ¶ µ ¶ µ ¶ A A A l ≥l ≥l , isto é, mrn qn mn χm (n) ≤ χq (n) ≤ χm (rn), para n suficientemente grande. Assim, sendo d o grau de χm (n), temos 1≤ χq (n) χm (rn) χm (rn) ≤ e lim = rd . n→∞ χm (n) χm (n) χm (n) χq (n) ≤ rd , de onde segue que grau (χq (n)) = grau (χm (n)). ¤ n→∞ χm (n) Portanto, 1 ≤ lim Observação 1.30 O teorema nos informa que os polinômios χq (n) possuem o mesmo grau, independentemente da escolha do ideal m-primário q, ou seja, χq (n) é um invariante do anel (A, m) sobre os ideais m-primários. O grau comum de χq (n) será denotado por d(A). Em vista do Corolário 1.15, isto significa que estamos colocando d(A) = d(Gm (A)) onde d(Gm (A)) é o inteiro definido anteriormente como o polo em t = 1 da função de Hilbert de Gm (A). Para A um anel Noetheiano local, com m seu ideal maximal indicamos por K = A/m o corpo de resı́duos do anel A. Nestas condições m/m2 é um K-espaço vetorial de modo natural e indicamos por dimK m/m2 a dimensão de m/m2 como K-espaço vetorial. Seja A um anel Noetheriano local, m seu ideal maximal. Seja δ(A) o número mı́nimo de geradores de um ideal m-primário de A. Provaremos que δ(A) = d(A) = dim A, onde dim A indica a dimensão de Krull de A, ou seja, dim A = sup{k ∈ Z | existe p0 ⊂ p1 ⊂ · · · ⊂ pk , pi ∈ Spec(A), onde a inclusão é estrita}. Conseguiremos isto mostrando δ(A) ≥ d(A) ≥ dim A ≥ δ(A). O Corolário 1.28 e a Proposição 1.29 juntos nos dão: 1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS 20 Proposição 1.31 δ(A) ≥ d(A). Agora provaremos o análogo da Proposição 1.17 para anéis locais. Proposição 1.32 Sejam (A, m) anel local e q um ideal m-primário. Sejam M um A-módulo 0 finitamente gerado, x ∈ A um não-divisor de zero de M e M 0 = M/xM . Então grau χM q ≤ grau χM q − 1. Demonstração: Supondo N = xM temos N ' M como A-módulo, tendo em vista que x não é um divisor de zero de M . Para cada n ∈ N, seja Nn = N ∩qn M . Então temos seqüências exatas N M M0 0→ → n → n 0 → 0. Nn q M q M Assim, se g(n) = l(N/Nn ), temos, para n suficientemente grande 0 M g(n) − χM q (n) + χq (n) = 0. Pela Proposição 1.22, (Nn ) é uma q-filtração estável de N . Como N ' M o Teorema 1.26 (iii) nos garante que g(n) e χM q (n) possuem o mesmo termo lı́der e o resultado segue. ¤ Corolário 1.33 Se A é um anel Noetheriano local, x um não divisor de zero de A, então d(A/(x)) ≤ d(A) − 1. Com as hipóteses e notações dos parágrafos anteriores temos: Proposição 1.34 d(A) ≥ dim A. Demonstração: Faremos a demonstração por indução sobre d = d(A). Se d = 0, então l(A/mn ) é constante para todo n suficientemente grande, logo mn = mn+1 para algum n e, pelo Lema de Nakayama, mn = 0. Deste modo A é Artiniano e dim A = 0. Supondo d > 0 e que o resultado valha para todo número menor do que d. Tomamos p0 ⊂ p1 ⊂ · · · ⊂ pr uma cadeia de ideais primos em A. Seja x ∈ p1 , x 6∈ p0 . Tomando A0 = A/p0 e sendo x0 a imagem de x em A0 , então x0 6= 0 em A0 , A0 é um domı́nio de integridade e, pelo Corolário 1.33, temos d(A0 /(x0 )) ≤ d(A0 ) − 1. Além disso, se m0 é o ideal maximal de A0 , A0 /m0n é a imagem homomórfica de A/mn . Deste modo, l(A/mn ) ≥ l(A0 /m0n ) e, portanto, d(A) ≥ d(A0 ). Conseqüentemente d(A0 /(x0 )) ≤ d(A) − 1 = d − 1. Pela hipótese de indução, o comprimento de qualquer cadeia de ideais primos em A0 /(x0 ) é menor ou igual a d − 1. Como as imagens de de p1 , . . . , pr , em A0 /(x0 ), formam uma cadeia de comprimento r − 1, temos r − 1 ≤ d − 1 e, assim, r ≤ d. Concluı́mos com isto que dim A ≤ d = d(A). ¤ Corolário 1.35 Se A é um anel Noetheriano local, dim A é finita. Proposição 1.36 Seja A um anel Noetheriano local de dimensão d. Então existe um ideal m-primário em A gerado por elementos x1 , . . . , xd e, assim, dim A ≥ δ(A). 1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS 21 Demonstração: Construiremos os elementos x1 , . . . , xd indutivamente de tal modo que todo ideal primo contendo (x1 , . . . , x[ i ) possua altura maior ou igual a i. Tomemos x1 de forma que x1 6∈ p, onde p∈P P = {p ⊂ A | p é um ideal primo minimal de A}. p Notemos que se não existir tal elemento, A é um anel Artiniano local e (0) = m. Logo δ(A) = 0 e dim A = 0. Assim, x1 6∈ p para todo p ideal primo minimal de A e, portanto, se q ∈ Spec(A) e x1 ∈ q então altura de q é maior ou igual a 1, pois q contém algum primo minimal de A. Tomando i, d ≥ i > 1, e supondo que já tenhamos construı́do (x1 , . . . , xi−1 ) desta forma, sejam pj (1 ≤ j ≤ s) os ideais primos minimais (se existirem) de (x1 , . . . , xi−1 ) que possuem altura exatamente i − 1. Como i − 1 < d = dim A = altura m, temos m 6= pj (1 ≤ j ≤ s) e, deste modo, m 6= ∪sj=1 pj . Tomando xi ∈ m, xi 6∈ ∪pj e q qualquer ideal primo contendo (x1 , . . . , xi ), então q contém algum ideal primo minimal p de (x1 , . . . , xi−1 ). Se p = pj para algum j, temos xi 6∈ p e xi ∈ q. Logo q ⊃ p e, portanto, altura de q é maior ou igual a i. Se p 6= pj então altura de p maior que i − 1 e, assim, altura de q é maior ou igual a i. Logo todo ideal primo contendo (x1 , . . . , xi ) possui altura maior ou igual a i. Consideremos então (x1 , . . . , xd ). Se p é um ideal primo que contenha (x1 , . . . , xd ), p possui altura maior ou igual a d e, assim, p = m (se p ( m temos altura p < altura m = d). Portanto o ideal (x1 , . . . , xd ) é m-primário. ¤ Teorema 1.37 (Teorema da Dimensão) Para qualquer anel Noetheriano local A, os três inteiros seguintes são iguais: (i) O comprimento máximo de cadeias de ideais primos em A, isto é, a dimensão de Krull do anel A. (ii) O grau do polinômio caracterı́stico χm (n) = l(A/mn ), isto é, d(A); (iii) O número mı́nimo de geradores de um ideal m-primário de A, isto é, δ(A). Demonstração: A demonstração segue das Proposições 1.31, 1.34 e 1.36. ¤ Como conseqüência imediata, obtemos: Corolário 1.38 dim A ≤ dimk (m/m2 ). Corolário 1.39 Sejam A um anel Noetheriano e x1 , . . . , xr ∈ A. Então todo ideal primo minimal p de (x1 , . . . , xr ) possui altura menor ou igual a r. Demonstração: Em Ap o ideal (x1 , . . . , xr ) torna-se pe -primário (onde pe indica a extensão do ideal p) e, deste modo, r ≥ dim Ap = altura p. ¤ Corolário 1.40 (Teorema do Ideal Principal de Krull) Seja A um anel Noetheriano e seja x um elemento de A que não é um divisor de zero e nem uma unidade. Então, todo ideal primo minimal p de (x) possui altura 1. 1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS 22 Demonstração: Pelo Corolário 1.39, temos a altura do ideal p menor ou igual a 1. Se altura p = 0, então p é um ideal primo contido em (0) e, assim, todo elemento de p é divisor de zero, que é uma contradição, pois x ∈ p. Logo a altura do ideal p é 1.¤ Corolário 1.41 Sejam A um anel Noetheriano local, x um elemento de m não divisor de zero. Então dim A/(x) = dim A − 1. Definição 1.42 Seja (A, m) anel Noetheriano local. Se x1 , . . . , xd geram um ideal m-primário e d = dim A, dizemos que x1 , . . . , xd é um sistema de parâmetros. Exemplo 1.43 Se A = K[[x1 , . . . , xn ]] é o anel das séries de potências formais sobre um corpo K, então x1 , . . . , xn formam um sistema de parâmetros para A, pois eles geram o ideal maximal. Um sistema de parâmetros possui certa propriedade de independência, que descreveremos a seguir: Proposição 1.44 Sejam x1 , . . . , xd um sistema de parâmetros para A e q = (x1 , . . . , xd ) o ideal m-primário gerado por eles. Seja f ∈ A[t1 , . . . , td ] um polinômio homogêneo de grau s e suponha que f (x1 , . . . , xd ) ∈ qs+1 . Então, todos os coeficientes de f estão em m. Demonstração: Consideremos a aplicação: ³ ´ ³ ´ α : Aq [t1 , . . . , td ] → Gq (A) = Aq [x1 , . . . , xd ] ti 7→ xi Com as hipóteses sobre f temos que f (t1 , . . . , td ) = 0 (f imagem de f ) e, portanto, f está no núcleo de α. Se algum coeficiente de f for uma unidade, então f não será divisor de zero e como α é claramente sobrejetora, temos que Gq (A) ' Assim, ÃA d (Gq (A)) = d Porém, ÃA d [t , . . . , td ] q 1 hf i q A [t , . . . , td ] q 1 Ker(α) [t1 , . . . , td ] Ker(α) ! µ =d ! . ÃA ≤d q [t1 , . . . , td ] hf i ! . ¶ A [t1 , . . . , td ] − 1 = d − 1, q isto é, d(Gq (A)) ≤ d − 1. Mas, também, d(Gq (A)) = d(Gm (A)) = d(A) = d, o que é absurdo. Logo f é divisor de zero de (A/q)[t1 , . . . , td ]. Assim, existe a ∈ A/q, com a 6= 0 e af = 0, ou seja, abi = 0 para todo bi coeficiente de f . Deste modo, abi ∈ q para todo i. Sendo a 6= 0, √ a 6∈ q e portanto bi ∈ q = m para todo i, isto é, todo coeficiente de f pertence a m. ¤ Essa proposição tem uma forma simples se A contém um corpo K isomorfo ao corpo de resı́duos A/m. 1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS 23 Corolário 1.45 Se K ⊂ A é um corpo isomorfo a A/m e se x1 , . . . , xd é um sistema de parâmetros, então x1 , . . . , xd são algebricamente independentes sobre K. Demonstração: Suponha f (x1 , . . . , xd ) = 0, onde f é um polinômio com coeficientes em K. Se f 6≡ 0, podemos escrever f = fs + termos de graus maiores, onde fs é homogêneo de grau s e fs ≡ 6 0. Aplicando a Proposição 1.44 para fs segue que fs tem todos os seus coeficientes em m, ou seja, fs ≡ 0 (Absurdo!). Logo f ≡ 0 e x1 , . . . , xd são algebricamente independentes sobre K. ¤ Definição 1.46 Um anel local regular é um anel que satisfaz uma das três condições (equivalentes) da proposição a seguir: Proposição 1.47 Sejam (A, m) um anel Noetheriano local de dimensão d e K = A/m seu corpo de resı́duos. Então são equivalentes: (i) Gm (A) ' K[t1 , . . . , td ], onde os ti ’s são variáveis independentes sobre K; (ii) dimK (m/m2 ) = d; (iii) m é gerado por d elementos. ∞ ∞ M M mn Demonstração: (i) ⇒ (ii) Temos que Gm (A) = ' An . Sejam x1 , . . . , xd+1 mn+1 n=0 n=0 elementos de A1 . Como M M mn ' An ' K[t1 , . . . , td ] Gm (A) = mn+1 temos ϕ(x1 ), . . . , ϕ(xd+1 ) ∈ A1 . Porém, dim A1 = d e, assim, x1 , . . . , xd+1 são linearmente dependentes em A1 = m/m2 . Agora, pelo Corolário 1.38 dimk (m/m2 ) ≥ dim A = d. Portanto, dimk (m/m2 ) = d. (ii) ⇒ (iii) Sejam m1 , . . . , md os elementos de m cujos resı́duos formam uma base para m/m2 . Deste modo, m/m2 = hm1 , . . . , md i e, com isto, m = hm1 , . . . , md i + m2 . Pelo Lema de Nakayama, segue que m = hm1 , . . . , md i. (iii) ⇒ (i) Sejam m = hx1 , . . . , xd i, A/m = K e α : K[t1 , . . . , td ] → Gm = K[x1 , . . . , xd ] = ∞ M Ai i=1 ti 7→ xi = xi + m2 A aplicação α está bem definida e é, claramente, um homomorfismo sobrejetor de anéis graduados. Seja f ∈ K[t1 , . . . , td ] tal que α(f ) = 0. Podemos escrever f = f0 + · · · + fr , onde fj denota a componente de grau j de f . Como α(f ) = 0 temos que α(f0 ) + · · · + α(fr ) = 0 e, assim, α(fj ) = 0 para todo j. Mas, fs é homogêneo de grau s e fs = d X k=1 ak ti11 · · · tidd , com X ir = s. 1.3. TEORIA DA DIMENSÃO DE ANÉIS NOETHERIANOS 24 P i Deste modo, fs (x1 , . . . , xd ) = dk=1 ak xi11 · · · xidd , com xi ∈ m/m2 = A1 . Logo xjj ∈ Aij e, assim, xi11 · · · xidd ∈ As = ms /ms+1 . Como ak ∈ A/m = A0 , fs (x1 , . . . , xd ) ∈ ms /ms+1 e fs (x1 , . . . , xd ) = 0 temos os coeficientes de fs em m e, portanto, fs = 0. Analogamente se demonstra pra os outros fj e, com isto, f = 0, de onde segue que α é um isomorfismo. ¤ 25 Capı́tulo 2 Bases de Gröbner 2.1 Introdução 2.1.1 Polinômios Inicialmente, introduziremos algumas notações. Um monômio em x1 , . . . , xn é um produto da seguinte forma xα1 1 · · · xαnn , onde todos os expoentes α1 , . . . , αn são inteiros não negativos. O grau total deste monômio é a soma α1 + · · · + αn . Para simplificar a notação dos monômios, seja α = (α1 , . . . , αn ) ∈ Nn . Denotaremos o monômio xα1 1 · · · xαnn por xα . Quando α = (0, 0, . . . , 0), xα = 1. Também usaremos |α| = α1 + · · · + αn , para denotar o grau total do monômio xα e M para o conjunto de todos os monômios, ou seja, M = {xα | α ∈ Nn }. Um polinômio f em x1 , . . . , xn com coeficientes em um corpo K é uma combinação linear finita de monômios. Escrevemos f na forma: X f= aα xα , aα ∈ K, α∈Nn com aα = 0 para quase todo α ∈ Nn . O conjunto de todos os polinômios em x1 , . . . , xn com coeficientes no corpo K é denotado por K[x1 , . . .X , xn ] ou simplesmente K[x]. Seja f = aα xα um polinômio em K[x]. α (i) Chamamos aα de coeficiente do monômio xα . (ii) Se aα 6= 0, então aα xα é um termo de f . (iii) O grau total de f denotado grau f , é o máximo dos |α| tais que o coeficiente aα 6= 0. 2.1.2 Ordens Monomiais Definição 2.1 Uma ordem monomial sobre K[x] é qualquer relação > sobre o conjunto dos monômios M (ou, equivalentemente, sobre os vetores expoentes α ∈ Nn ) satisfazendo 2.1. INTRODUÇÃO 26 (i) > é uma relação de ordem total. (ii) > é compatı́vel com a multiplicação em K[x], no sentido de que se xα > xβ e xγ é um outro monômio qualquer, então xα xγ = xα+γ > xβ+γ = xβ xγ . (iii) > é uma boa ordem, ou seja, todo conjunto não vazio, cujos elementos são todos monômios, possui um menor elemento em relação a >. Lema 2.2 Uma relação de ordem > sobre M é uma boa ordem se, e somente se, toda seqüência estritamente decrescente de elementos de M, xα1 > xα2 > xα3 > · · · estaciona. Demonstração: Claro que se > é uma boa ordem, então toda cadeia de elementos de M estaciona. Por outro lado, supondo que toda seqüência estritamente decrescente de elementos em M estaciona e que > não seja uma boa ordem, teremos algum subconjunto não vazio S ⊂ M sem menor elemento. Tome xα1 ∈ S. Como xα1 não é o menor elemento de S, existe xα2 ∈ S com xα1 > xα2 . Novamente, xα2 não é o menor elemento de S e, por isso, existe xα3 ∈ S com xα2 > xα3 . Continuando desta forma, construı́mos uma seqüência estritamente decrescente xα1 > xα2 > xα3 > · · · que não estaciona. ¤ Exemplos de Ordens Monomiais Ordem Lexicográfica Sejam xα e xβ dois monômios em K[x]. Dizemos que xα >lex xβ se na diferença α − β ∈ Zn a entrada não nula mais a esquerda é positiva, ou seja, se αj − βj > 0 e αi − βi = 0, 1 ≤ i < j. Ordem Lexicográfica Graduada α β α β Sejam x e x dois monômios em K[x]. Dizemos que x >grlex x se n X i=1 αi = n X n X i=1 αi > n X βi ou, se i=1 βi e xα >lex xβ . i=1 Outra ordem monomial (de certa forma menos intuitiva) é a ordem lexicográfica graduada reversa: Ordem Lexicográfica Graduada Reversa 2.1. INTRODUÇÃO α 27 β α β Sejam x e x dois monômios em K[x]. Dizemos que x >grevlex x se se n X i=1 αi = n X n X i=1 αi > n X βi ou, i=1 βi e na diferença α − β ∈ Zn a entrada não nula mais a direita é negativa, ou i=1 seja, αj − βj < 0 e αi − βi = 0, j < i ≤ n. Note que grlex e grevlex nos dão a mesma ordem nas variáveis, pois x1 >grlex x2 >grlex · · · >grlex xn , e x1 >grevlex x2 >grevlex · · · >grevlex xn . Mas, grevlex é realmente diferente da grlex. Vejamos isto com mais cautela: ambas ordenam da mesma forma, no caso de graus totais diferentes. Mas numa igualdade, grlex usa a ordem lex e, assim, ela “olha” na variável mais à esquerda e “favorece” a de maior grau. Em contraste, quando a grevlex encontra o mesmo grau total, ela “olha” na variável mais à direita e “favorece” a menor potência! Exemplo 2.3 Vejamos com exemplos a diferença da grevlex e da grlex em dois casos: (i) x5 yz >grlex x4 yz 2 pois ambos monômios possuem grau total 7 e x5 yz >lex x4 yz 2 (a potência da primeira variável em x5 yz é maior que em x4 yz 2 ). Neste caso também temos x5 yz >grevlex x4 yz 2 , mas por outra razão: a menor variável z, aparece com uma potência menor em x5 yz. (ii) Com relação aos monômios x5 y 3 z e x6 yz 2 , ambos de grau total 9, temos x5 y 3 z >grevlex x6 yz 2 e x6 yz 2 >grlex x5 y 3 z. Definição 2.4 Fixando uma ordem monomial > sobre K[x] consideramos os termos em X f= cα xα 6= 0. α (i) O termo lı́der de f (com respeito a >) é o produto cα xα , onde xα é o maior monômio (com respeito a >) que ocorre em f com cα 6= 0. Usaremos a notação LT> (f ) ou, simplesmente, LT (f ), caso não haja confusão sobre a ordem monomial que está sendo usada. (ii) O coeficiente do termo lı́der de f é chamado de coeficiente lı́der e o monômio deste termo é o monômio lı́der, que são denotados, respectivamente por LC(f ) e LM (f ). (iii) O expoente que aparece no monômio lı́der é chamado de multigrau de f e denotado por multigrau(f ). Exemplo 2.5 Consideremos f = x5 y 3 z − x6 yz 2 + x7 . Como a maior potência em x aparece em x7 temos LT>lex (f ) = x7 e multigrau>lex (f ) = (7, 0, 0). 2.2. ALGORITMO DA DIVISÃO 28 Observando que |(5, 3, 1)| = |(6, 1, 2)| = 9 > |(7, 0, 0)|, nos termos com grau total 9, a maior potência em x aparece em x6 yz 2 e a menor potência em z aparece em x5 y 3 z, logo LT>grlex (f ) = −x6 yz 2 e LT>grevlex (f ) = x5 y 3 z. Nestes dois casos temos multigrau>grlex (f ) = (6, 1, 2) e multigrau>grevlex (f ) = (5, 3, 1). 2.2 Algoritmo da Divisão Usando uma ordem sobre os monômios, podemos generalizar o conhecido algorı́tmo da divisão para uma variável. Proposição 2.6 (Algoritmo da Divisão em K[x]) Fixada uma ordem monomial qualquer > em K[x], seja F = (f1 , . . . , fs ) uma s-upla ordenada de polinômios em K[x] − 0. Então todo f ∈ K[x] pode ser escrito como f = a1 f1 + · · · + as fs + r, onde ai , r ∈ K[x] e r = 0 ou r é uma K-combinação linear de monômios, dos quais nenhum é divisı́vel por algum LT (fi ), i = 1, . . . , s. Chamamos r de resto da divisão de f por F e será denotado por r = f¯F . Além disso temos que LT (ai fi ) ≤ LT (f ) sempre que ai 6= 0. Demonstração: Provaremos a existência dos a1 , . . . , as e r apresentando um algoritmo que os determina. Entrada: f1 , . . . , fs , f Saı́da: a1 , . . . , as , r a1 := 0; . . . ; an := 0; r := 0 p := f ENQUANTO p 6= 0 FAÇA i := 1 ocorreudivisao := falso ENQUANTO i ≤ s E ocorreudivisao = falso FAÇA SE LT (fi ) divide LT (p) ENTÃO ai := ai + LT (p)/LT (fi ) p := p − (LT (p)/LT (fi ))fi ocorreudivisao := verdadeiro SENÃO i := i + 1 SE ocorreudivisao = falso ENTÃO r := r + LT (p) p := p − LT (p) Neste algorı́tmo p representa o dividendo intermediário em cada passo e a variável booleana ocorreudivisao nos diz quando algum LT (fi ) divide o termo lı́der do dividendo intermediário. 2.2. ALGORITMO DA DIVISÃO 29 Notemos que a cada passo do ENQUANTO..FAÇA principal, precisamente uma das duas situações a seguir ocorre: • Passo de Divisão: Se algum LT (fi ) divide LT (p), então o algoritmo adiciona o valor de LT (p)/LT (fi ) em ai . • Passo de Resto: Se nenhum LT (fi ) divide LT (p), então o algoritmo adiciona LT (p) ao resto. Para provar que o algoritmo funciona, inicialmente mostraremos que f = a1 f1 + · · · as fs + p + r (2.1) vale em todos os passos. Esta igualdade é claramente verdadeira nos valores iniciais de a1 , . . . , as , p e r. Supondo que em algum passo do algoritmo a igualdade (2.1) valha, se no próximo passo temos um Passo de Divisão, então algum LT (fi ) divide LT (p) e teremos · ¸ · µ ¶ ¸ LT (p) LT (p) ai fi + p := ai + fi + p − fi . LT (fi ) LT (fi ) E isto mostra que no próximo passo ai fi +p ficou inalterado. Como nenhuma outra variável do algoritmo foi alterada, (2.1) continua valendo. Agora, se o próximo passo for um Passo de Resto, então p e r serão alteradas, mas a soma p + r não, pois p + r := [p − LT (p)] + [r + LT (p)], mantendo (2.1) inalterada. Observamos que o algoritmo pára quando p = 0 e, neste caso, f = a1 f1 + · · · + as fs + r. Como termos só serão adicionados a r se não forem divisı́veis por nenhum LT (fi ), segue que a1 , . . . , as e r possuem as propriedades desejadas quando o algoritmo pára. Neste ponto, basta mostrar que o algoritmo realmente pára em algum momento. Para tanto, notemos que o grau total da variável p diminui toda vez que p é redefinida ou se torna zero. Veremos isto do seguinte modo: se durante um Passo de Divisão p for redefinida como p0 = p − µ LT LT (p) fi LT (fi ) ¶ = LT (p) fi , LT (fi ) LT (p) LT (fi ) = LT (p). LT (fi ) Logo p e [LT (p)/LT (fi )]fi possuem o mesmo termo lı́der e, conseqüentemente, sua diferença p0 possui grau total estritamente menor, se p0 6= 0. Se ocorrer um Passo de Resto, p será redefinido por p0 = p − LT (p), e aqui, o grau total de p0 é estritamente menor que o grau total de p, quando p0 6= 0. 2.2. ALGORITMO DA DIVISÃO 30 Deste modo, nos dois casos, temos que o grau total de p diminui ou p se torna 0. Se o algoritmo nunca parar, então conseguiremos uma seqüência infinita estritamente decrescente de monômios. A propriedade da boa ordem em >, vista no Lema 2.2, mostra que isto não ocorre. Assim p = 0 em algum momento, ou seja, o algoritmo pára depois de um número finito de passos. Faltou estudar a relação entre o grau total de f e o grau total de ai fi , quando ai 6= 0. Todo termo de ai é da forma LT (p)/LT (fi ) para algum valor da variável p. O algoritmo começa com p = f e, acabamos de ver que, o grau total de p vai diminuindo a cada passo. Logo LT (p) ≤ LT (f ), para todo valor não nulo da variável p. Temos também que LT (ai ) = LT (p)/LT (fi ) para algum valor de p e, assim LT (ai fi ) = LT (ai )LT (fi ) = LT (p) LT (fi ) = LT (p) ≤ LT (f ), LT (fi ) concluindo assim a demonstração. ¤ Observação 2.7 Os polinômios a1 , . . . , as e r obtidos na divisão não são unicamente determinados. Se mudarmos a ordem de f1 , . . . , fs podemos obter outros polinômios. Exemplo 2.8 Para ilustrar o funcionamento do algoritmo, usaremos a ordem lex em R[x, y,z] e dividiremos f = xy 3 z 2 + xyz 2 por f1 = xy − 1 e f2 = yz 2 − 1. Inicialmente, teremos a1 = a2 = r = 0 e p = f = xy 3 z 2 + xyz 2 . • Como LT (f1 ) = xy divide LT (p) = xy 3 z 2 , temos um passo de divisão e a1 := a1 + µ p := p − LT (p) LT (f1 ) LT (p) = 0 + y2z2 = y2z2, LT (f1 ) ¶ f1 = (xy 3 z 2 + xyz 2 ) − (y 2 z 2 )(xy − 1) = xyz 2 + y 2 z 2 . • Neste passo, novamente, LT (f1 ) divide LT (p) = xyz 2 . O que nos dá outro passo de divisão. Assim, a1 := y 2 z 2 + z 2 , p := (xyz 2 + y 2 z 2 ) − (z 2 )(xy − 1) = y 2 z 2 + z 2 . • Agora, LT (f1 ) = xy não divide LT (p) = y 2 z 2 , mas LT (f2 ) = yz 2 sim, gerando mais um passo de divisão. a2 := y e p := y + z 2 . • Agora, nem LT (f1 ) = xy nem LT (f2 ) = yz 2 dividem LT (p) = y. Ocorrendo um passo de resto. r := r + LT (p) = 0 + y = y, p := p − LT (p) = y + z 2 − (y) = z 2 . 2.3. LEMA DE DICKSON E TEOREMA DA BASE DE HILBERT 31 • Para finalizar teremos um último passo de resto. r := y + z 2 e p := z 2 − z 2 = 0. Aqui o algoritmo pára retornando os valores a1 = y 2 z 2 + z 2 , a2 = y, r = y + z 2 . Deste modo f = (y 2 z 2 + z 2 )(xy − 1) + (y)(yz 2 − 1) + (y + z 2 ). Invertendo a ordem da divisão, ou seja, dividindo f = xy 3 z 2 + xyz 2 por f2 = yz 2 − 1 e f1 = xy − 1, obtemos o seguinte resultado, f = (xy 2 + x)(yz 2 − 1) + (y)(xy − 1) + (x + y), o que mostra que os polinômios encontrados pelo algoritmo da divisão não são unicamente determinados. 2.3 Lema de Dickson e Teorema da Base de Hilbert Nesta seção apresentaremos uma demonstração do Teorema da Base de Hilbert a partir de uma versão para ideais monomiais também conhecida como Lema de Dickson. Esta escolha se justifica pelas idéias contidas nas demonstrações que se baseiam unicamente na teoria desenvolvida neste capı́tulo. Definição 2.9 Um ideal I ⊂ K[x] é um ideal monomial se existe um subconjunto A ⊂ M X (possivelmente infinito) tal que I consiste de todos os polinômios da forma hα xα , onde xα ∈A α hα ∈ K[x] e, no caso de A ser infinito, hα = 0 para quase todo x ∈ A. Escrevemos I = hxα | xα ∈ Ai. Lema 2.10 Seja I = hxα | xα ∈ Ai um ideal monomial de K[x]. Então um monômio xβ ∈ I se, e somente se, xβ é divisı́vel por algum xα ∈ A. α Demonstração: Se xβ é um múltiplo de xP , para algum xα ∈ A, então xβ ∈ I. n β β αi αi Reciprocamente, se x ∈ I, então x = ∈ A. Se i=1 hi x , onde hi ∈ K[x] e x expandirmos cada hi como combinação linear de monômios, vemos que todo termo no lado direito da igualdade é divisı́vel por algum xαi e, deste modo, o lado esquerdo xβ também possui essa propriedade. ¤ Lema 2.11 Sejam I um ideal monomial e f ∈ K[x]. Então são equivalentes: (i) f ∈ I; (ii) Todo termo de f está em I; 2.3. LEMA DE DICKSON E TEOREMA DA BASE DE HILBERT 32 (iii) f é uma K-combinação linear de monômios em I. Demonstração: As implicações (i) ⇒ (ii) ⇒ (iii) são claras. Para mostrar a implicação (iii) ⇒ (i), seja I = hxα | xα ∈ Ai e suponha que f é uma s X K-combinação linear de monômios em I. Assim, f = ci xβ i , onde ci ∈ K e xβ i ∈ I. Cada i=1 xβ i é escrito na forma xβ i = xγ i xαi , onde xαi ∈ A. Portanto, f= s X i=1 c i xβ i = s X (ci xγ i )xαi ∈ I. ¤ i=1 Como conseqüência imeditata desse lema temos: Corolário 2.12 Dois ideais monomiais são iguais se, e somente se, possuem os mesmos monômios. ¤ Para seguirmos o proposto no inı́cio desta seção, apresentaremos a seguir o Lema de Dickson, que como já afirmamos é uma versão do Teorema da Base de Hilbert para ideais monomiais. Teorema 2.13 (Lema de Dickson) Um ideal monomial I = hxα | xα ∈ Ai ⊂ K[x] = K[x1 , . . . , xn ] pode ser escrito na forma hxα1 , . . . , xαs i, onde xα1 , . . . , xαs ∈ A. Em particular, I possui uma base finita. Demonstração: A demonstração será feita por indução sobre n, onde n é o número de variáveis. Se n = 1, então I ⊂ K[x1 ] é gerado pelos monômios xα1 , onde xα1 ∈ A ⊂ M. Seja xβ1 o menor elemento de A. Então xβ1 divide todos os outros geradores e, assim, I = hxβ1 i. Agora assumindo n > 1 e que o teorema seja verdadeiro para n − 1, escrevemos as variáveis como x1 , . . . , xn−1 , y e, assim, os monômios de K[x1 , . . . , xn−1 , y] são escritos como xα y m , onde o elemento α = (α1 , . . . , αn−1 ) está em Nn−1 e m ∈ N. Supondo que I ⊂ K[x1 , . . . , xn−1 , y] seja um ideal monomial, para encontrarmos geradores de I, consideremos J o ideal em K[x1 , . . . , xn−1 ] gerado pelos monômios xα , onde xα y m ∈ I para algum m ≥ 0. Como J é um ideal monomial em K[x1 , . . . , xn−1 ] nossa hipótese indutiva nos garante que um número finito dos xα geram J, digamos J = hxα(1) , . . . , xα(s) i. Para cada i entre 1 e s, a definição de J nos diz que xα(i) y mi ∈ I para algum mi ≥ 0. Seja m o maior dos mi . Então para cada k entre 0 e m − 1, consideremos o ideal Jk ⊂ K[x1 , . . . , xn−1 ] gerado pelos monômios xβ tais que xβ y k ∈ I. Novamente, usando nossa hipótese indutiva, Jk é gerado por um número finito de monômios, digamos Jk = hxαk (1) , . . . , xαk (sk ) i. Afirmamos que o ideal I é gerado pelos seguintes monômios: xα(1) , . . . , xα(s) , (de J) xα0 (1) , . . . , xα0 (s0 ) , (de J0 ) xα1 (1) , . . . , xα1 (s1 ) , .. . (de J1 ) 2.3. LEMA DE DICKSON E TEOREMA DA BASE DE HILBERT 33 xαm−1 (1) , . . . , xαm−1 (sm−1 ) . (de Jm−1 ) Notemos que todo monômio em I é divisı́vel por um dos monômios da lista pois para x y ∈ I, se p ≥ m, então xα y p é divisı́vel por algum xα(i) y m , pela construção de J. Por outro lado, se p ≤ m − 1, então xα y p é divisı́vel por algum xαp (j) y p , pela construção de Jp . Segue, assim, do Lema 2.10 que os monômios listados geram um ideal com os mesmos monômios de I e o Corolário 2.12 nos garante que estes dois ideais são os mesmos, provando nossa afirmação. Para completar a demonstração, mostraremos que é sempre possı́vel obter um conjunto finito de geradores a partir de um conjunto dado de geradores de I. Voltemos para a notação com as variáveis x1 , . . . , xn e nosso ideal monomial I = hxα | xα ∈ Ai ⊂ K[x1 , . . . , xn ]. Precisamos mostrar que I é gerado por um número finito de xα ’s de A. Já vimos, nesta demonstração, que I = hxβ 1 , . . . , xβ s i, onde xβ 1 , . . . , xβ s ∈ I. Como xβ i ∈ I = hxα | xα ∈ Ai, o Lema 2.10, nos garante que cada xβ i é divisı́vel por algum xαi ∈ A e, claramente, I = hxα1 , . . . , xαs i. ¤ α p Voltamos nossa atenção, a partir deste momento, para ideais quaisquer de K[x]. Para I ⊂ K[x] um ideal, o conjunto dos termos lı́deres de elementos de I, denotado por LT (I) é LT (I) := {LT (f ) | f ∈ I − {0}}; O ideal gerado pelos elementos de LT (I) será denotado por hLT (I)i. Notemos que se I = hf1 , . . . , fs i, não é verdade que hLT (I)i = hLT (f1 ), . . . , LT (fs )i, apesar da inclusão hLT (f1 ), . . . , LT (fs )i ⊂ hLT (I)i sempre valer, como pode ser visto no seguinte exemplo: Exemplo 2.14 Seja I = hf1 , f2 i, onde f1 = x3 − 2xy, f2 = x2 y − 2y 2 + x. Usando a ordem monomial grlex em K[x, y], temos x2 = x(x2 − 2y 2 + x) − y(x3 − 2xy) ∈ I e, assim, x2 = LT (x2 ) ∈ hLT (I)i. Entretanto, x2 não é divisı́vel por LT (f1 ) = x3 e nem por LT (f2 ) = x2 y, ou seja, x2 6∈ hLT (f1 ), LT (f2 )i. Veremos no que segue que hLT (I)i é um ideal monomial. Proposição 2.15 Seja I ⊂ K[x] um ideal. (i) hLT (I)i é um ideal monomial; (ii) Existem g1 , . . . , gs ∈ I tais que hLT (I)i = hLT (g1 ), . . . , LT (gs )i. Demonstração: (i) Os monômios lı́deres LM (g) dos elementos g ∈ I − {0} geram o ideal monomial hLM (g) | g ∈ I − {0}i. Como LM (g) e LT (g) diferem por uma constante não nula, temos hLM (g) | g ∈ I − {0}i = hLT (I)i. Assim hLT (I)i é um ideal monomial. (ii) Como hLT (I)i é gerado pelos monômios LM (g) tais que g ∈ I − {0}, o Lema de Dickson (2.13) nos diz que hLT (I)i = hLM (g1 ), . . . , LM (gt )i para um número finito de elementos g1 , . . . , gt ∈ I. Novamente, como LM (gi ) difere de LT (gi ) por uma constante não nula, hLT (I)i = hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i. ¤ 2.4. BASES DE GRÖBNER 34 Finalizaremos esta seção mostrando que todo ideal de K[x] é gerado por um número finito de elementos. Teorema 2.16 (Teorema da base de Hilbert) Todo ideal I ⊂ K[x] possui um conjunto finito de geradores. Demonstração: Se I = {0} tomamos nosso conjunto de geradores como sendo {0}. Se I contém um polinômio não nulo, então construı́mos um conjunto de geradores g1 , . . . , gt ∈ I como segue: pela Proposição 2.15 existem g1 , . . . , gt ∈ I com hLT (I)i = hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i. Afirmamos que I = hg1 , . . . , gt i. Claro que hg1 , . . . , gt i ⊂ I, pois cada gi ∈ I. Por outro lado, dado f ∈ I, aplicando o algoritmo da divisão para dividir f por g1 , . . . , gt obtemos uma expressão da forma f = a1 g1 + · · · + at gt + r, onde todo termo de r não é divisı́vel por nenhum dos LT (g1 ), . . . , LT (gt ). Neste ponto, falta apenas mostrar que r = 0. Para vermos que isto realmente ocorre notemos que r = f − a1 g1 − · · · − at gt ∈ I. Se r 6= 0, então LT (r) ∈ hLT (I)i = hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i e segue, do Lema 2.10 que LT (r) é divisı́vel por algum LT (gi ), o que contradiz r ser o resto e, assim, r = 0. ¤ 2.4 Bases de Gröbner Tendo um algoritmo de divisão em K[x], é natural nos perguntarmos quais propriedades do algoritmo da divisão para anéis de polinômios em uma variável são preservados. Por exemplo, na questão de quando um polinômio f ∈ K[x] pertence a um ideal I = hf1 , . . . , fs i, uma direção é clara, quando r = f¯F = 0 na divisão de f por F = (f1 , . . . , fs ), teremos f ∈ I. Agora, vale a recı́proca? Quando f ∈ I, teremos r = f¯F = 0 na divisão de f por F = (f1 , . . . , fs )? Analisemos um exemplo: Exemplo 2.17 Sejam f = xy 2 − x, f1 = xy + 1, f2 = y 2 − 1 e I = hf1 , f2 i. Dividindo f por (f1 , f2 ) obtemos f = y(xy + 1) + 0(y 2 − 1) + (−x − y), assim o resto da divisão de f por (f1 , f2 ) é não nulo, mas f = 0(xy + 1) + x(y 2 − 1) ∈ I. Qual foi o problema? Olhando f = y(xy + 1) + 0(y 2 − 1) + (−x − y) e como f ∈ I temos que f¯F é um elemento de I, mas é não nulo, pois contém termos que não podem ser removidos pela divisão por estes geradores particulares de I, os termos lı́deres de f1 = xy + 1 e f2 = y 2 − 1 não dividem o termo lı́der de f¯F . Para a divisão produzir resto zero para todo elemento de I, precisamos ser capazes de remover todos os termos lı́deres de elementos de I usando os termos lı́deres dos divisores e como vimos, no exemplo, isso nem sempre acontece. Porém, há uma classe especial de elementos de I que resolve esse problema, as chamadas Bases de Gröbner: 2.4. BASES DE GRÖBNER 35 Definição 2.18 Fixemos uma ordem monomial em K[x] e seja G = {g1 , . . . , gt } um subconjunto finito de um ideal I ⊂ K[x]. Se G possui a seguinte propriedade hLT (I)i = hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i, então G é chamado de uma base de Gröbner de I. Proposição 2.19 Fixe uma ordem monomial em K[x]. Então todo ideal I ⊂ K[x] possui uma base de Gröbner com relação a esta ordem. Além disso, uma base de Gröbner para I também é uma base de I. Demonstração: A primeira parte desta proposição vimos no item (ii) da Proposição 2.15. Para a segunda parte, observe que, se hLT (I)i = hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i, então o argumento usado na demonstração do Teorema da Base de Hilbert (2.16) mostra que I = hg1 , . . . , gt i. ¤ Teorema 2.20 (Macaulay) Seja I ⊂ K[x] um ideal não nulo qualquer e B = {monômios que não pertencem a LT (I)}. Então B = {aα xα + I | aα xα ∈ B} é uma K-base do K-espaço vetorial K[x]/I. Demonstração: Mostraremos que B gera K[x]/I e é linearmente independente. Observemos que B gera K[x]/I se, e somente se, K[x] = hBi + I. Suponhamos por absurdo que hBi + I ( K[x]. Deste modo, K[x] − (hBi + I) 6= ∅ e, assim, {LT (f ) | f ∈ K[x] − (hBi + I)} 6= ∅. Com isto, existe f ∈ K[x] − (hBi + I) de tal modo que LT (f ) é minimal em {LT (f ) | f ∈ K[x] − (hBi + I)}. Como LT (f − LT (f )) < LT (f ), temos f − LT (f ) ∈ hBi + I. Aqui temos duas possibilidades para LT (f ): LT (f ) ∈ hBi ou LT (f ) 6∈ hBi (no segundo caso temos que LT (f ) ∈ LT (I)). Se LT (f ) ∈ hBi, temos que f ∈ hBi + I, o que é um absurdo. Considerando a outra possibilidade, LT (f ) ∈ LT (I) e existe g ∈ I tal que LT (f ) = LT (g). Deste modo, LT (f −g) < LT (f ) e, assim, f − g ∈ hBi + I, concluindo que f ∈ hBi + I, o que é, novamente, um absurdo. Portanto, K[x]/I = hBi. Falta verificar que B é linearmente independente. Para tanto, consideremos a1 , . . . , as ∈ K e u1 , . . . , us ∈ B. Suponha a1 u1 + · · · + as us = 0 ou, equivalentemente, a1 u1 + · · · + as us ∈ I. Se algum ai 6= 0 temos a1 u1 + · · · + as us 6= 0 e, assim, LT (a1 u1 + · · · + as us ) ∈ LT (I). Seja LT (a1 u1 + · · · + as us ) = aj uj , para algum j ∈ {1, . . . , s}. Como aj 6= 0 e a1 u1 + · · · + as us ∈ ³ ´ 1 I temos (a1 u1 + · · · + as us ) ∈ I e LT a1j (a1 u1 + · · · + as us ) = uj ∈ LT (I), que é um aj absurdo! Logo, ai = 0, i = 1, . . . , s. Portanto B é uma base para o K-espaço K[x]/I. ¤ 2.4.1 Unicidade do Resto Fixando uma ordem monomial qualquer > em K[x], seja I ⊂ K[x] um ideal. A divisão de f ∈ K[x] por uma base de Gröbner de I produz uma expressão f = g +r, onde g ∈ I e nenhum termo de r é divisı́vel por algum elemento de LT (I) e, além disso, r é único em relação a G. Formalizaremos este resultado na seguinte proposição: 2.4. BASES DE GRÖBNER 36 Proposição 2.21 Seja G = {g1 , . . . , gt } uma base de Gröbner para um ideal I ⊂ K[x] e seja f ∈ K[x]. Então existe um único r ∈ K[x] com as duas seguintes propriedades: (i) Nenhum termo de r é divisı́vel por algum elemento de LT (I). (ii) Exite g ∈ I tal que f = g + r. Em particular, r é o resto da divisão de f por G, não importando como os elementos de G sejam listados para efetuar o algoritmo da divisão. Demonstração: O algoritmo da divisão nos dá a existência de r nas condições exigidas. Para provarmos a unicidade, suponhamos f = g + r = g 0 + r0 , r e r0 satisfazendo (i) e (ii). Então r0 − r = g − g 0 ∈ I e, se r0 − r 6= 0, temos LT (r0 − r) ∈ LT (I) = hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i. Absurdo, pois nenhum termo de r ou r0 é divisı́vel por algum LT (gi ). Portanto r0 − r = 0 e a unicidade está provada. A parte final da proposição segue da unicidade do resto. ¤ Em outras palavras, o resto da divisão de f por uma base de Gröbner para I é unicamente determinado e é chamado forma normal de f módulo I Ele depende somente da escolha da ordem monomial e não de como a divisão é efetuada. Essa unicidade do resto nos dá outra caracterização das Bases de Gröbner. Como corolário, da proposição anterior, obtemos o seguinte critério para determinar se um polinômio pertence ou não a um ideal. Corolário 2.22 Seja G = {g1 , . . . , gt } uma base de Gröbner para um ideal I ⊂ K[x] e seja G f ∈ K[x]. Então f ∈ I se, e somente se, f = 0. 2.4.2 Critério de Buchberger Em termos práticos, mais útil que a demonstração da existência de uma base de Gröbner é um algoritmo, devido a Buchberger, que toma um conjunto arbitrário de geradores {f1 , . . . , fs } de I e produz uma base de Gröbner {g1 , . . . , gt } para I. Definição 2.23 Sejam f, g ∈ K[x] não nulos. Fixada uma ordem monomial, sejam LT (f ) = cxα e LT (g) = dxβ , onde c, d ∈ K. Seja xγ o menor múltiplo comum de xα e xβ . Então, o S-polinômio de f e g denotado por S(f, g) é o polinômio: S(f, g) = xγ xγ f− g. LT (f ) LT (g) Note que, pela definição, obviamente S(f, g) ∈ hf, gi. Lema 2.24 Consideremos uma soma da forma t X ci xαi gi , com c1 , . . . , ct constantes e αi + i=1 n multigrau(gi ) = δ ∈ N , sempre que ci 6= 0. Se o multigrau de t X i=1 ci xαi gi é estritamente menor 2.4. BASES DE GRÖBNER 37 que δ, então existem constantes cjk tais que t X ci xαi gi = i=1 X cjk x δ−γ jk S(gj , gk ), j,k γ onde x jk = MMC(LM (gj ), LM (gk )). δ−γ Além disso, cada x jk S(gj , gk ) possui multigrau estritamente menor que δ. Demonstração: Seja di = LC(gi ), assim ci di é o coeficiente lı́der de ci xαi gi . Como ci xαi gi t X possui multigrau δ e, sua soma possui multigrau estritamente menor, segue que ci di = 0. Definamos pi = xαi gi /di e note que LC(pi ) = 1. Consideremos a soma: t X i=1 αi ci x g i = t X i=1 ci di pi = i=1 = c1 d1 (p1 − p2 ) + (c1 d1 + c2 d2 )(p2 − p3 ) + · · · · · · + (c1 d1 + · · · + ct−1 dt−1 )(pt−1 − pt )+ +(c1 d1 + · · · + ct dt )pt . (2.2) Agora, seja LT (gi ) = di xβ i . Por hipótese temos αi + β i = δ, para todo i, 1 ≤ i ≤ t. Então γ LM (gi ) = xβ i divide xδ e, conseqüentemente x jk = MMC(LM (gj ), LM (gk )) também divide δ−γ xδ . Assim x jk é um monômio e µ γ ¶ γ x jk x jk δ−γ jk δ−γ jk S(gj , gk ) = x x gj − gk = LT (gj ) LT (gk ) (2.3) xδ xαj xαk xδ g − g = g − g = p − p . = j k j k j k β dj dk dk xβ k dj x j Usando esta equação e o fato que t X i=1 Pt i=1 ci di = 0, a soma 2.2 acima pode ser escrita como ci xαi gi = c1 d1 xδ−γ 12 S(g1 , g2 ) + (c1 d1 + c2 d2 )xδ−γ 23 S(g2 , g3 ) + · · · · · · + (c1 d1 + · · · + ct−1 dt−1 )xδ−γ t−1t S(gt−1 , gt ), que é uma soma na forma desejada. Como pj e pk possuem multigrau δ e coeficiente lı́der 1, a diferença pj − pk possui multigrau estritamente menor que δ. Pela Equação (2.3), o mesmo δ−γ vale para x jk S(gj , gk ) e o lema está provado. ¤ Usando este lema, podemos provar o critério de Buchberger que, conforme afirmamos antes nos dá uma caracterização das bases de Gröbner de um ideal I, bem como permite obter um processo bastante simples para produzirmos uma base de Gröbner de um ideal dado. Teorema 2.25 (Critério de Buchberger) Seja I ⊂ K[x] um ideal. Então uma base G = {g1 , . . . , gt } de I é uma base de Gröbner para I se, e somente se, para todo par i 6= j, G S(gi , gj ) = 0. 2.4. BASES DE GRÖBNER 38 G Demonstração: (⇒) Sendo G uma base de Gröbner e S(gi , gj ) ∈ I, temos S(gi , gj ) = 0. (⇐) Seja f ∈ I um polinômio não nulo e mostremos que, se todos os S-polinômios possuem resto zero na divisão por G, então LT (f ) ⊂ hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i. Antes apresentaremos a idéia da demonstração. Dado f ∈ hg1 , . . . , gt i, existem polinômios hi ∈ K[x] tais que t X f= hi g i . (2.4) i=1 Assim, multigrau(f ) ≤ multigrau(hi gi ). (2.5) Se a igualdade não ocorrer, então algum cancelamento ocorre entre os termos lı́deres de (2.4). O Lema 2.24 nos permite, assim, reescrever esta expressão em termos dos SG polinômios e, deste modo, nossa hipótese de que S(gi , gj ) = 0, i 6= j , nos permite trocar os S-polinômios por expressões que envolvem menos cancelamentos de termos lı́deres. Continuando neste caminho, conseguiremos uma expressão de f na forma (2.4) onde a igualdade em (2.5) vale. Então multigrau(f ) = multigrau(hi gi ) para algum i e, segue que LT (f ) é divisı́vel por LT (gi ). Isto mostra que LT (f ) ∈ hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i, provando o teorema. Vejamos os detalhes da demonstração. Dada uma expressão (2.4) para f , seja mi = multigrau(hi gi ) e δ = max{m1 , . . . , mt }. A inequação (2.5) se torna, então multigrau(f ) ≤ δ. Agora, consideremos todas as maneiras possı́veis de escrever f na forma (2.4). Para cada uma destas expressões conseguimos um possı́vel δ distinto. Como uma ordem monomial é uma boa ordem, podemos escolher uma expressão (2.4) para f com δ minimal. Mostraremos que com esta escolha minimal, temos multigrau(f ) = δ. Com isto a igualdade em (2.5) ocorre e, como foi observado, LT (f ) ∈ hLT (g1 ), . . . , LT (gt )i. Vejamos então que multigrau(f ) = δ. Se isto não ocorrer então multigrau(f ) < δ. Podemos escrever f na forma: X X hi gi + hi gi = f = mi =δ = X mi =δ mi <δ LT (hi )gi + X mi =δ (hi − LT (hi ))gi + X hi gi . (2.6) mi <δ Os monômios que aparecem nos segundo e terceiro somatórios possuem todos multigrau estritamente menor que δ. Assim, como assumimos multigrau(f ) < δ, temos o primeiro somátorio também com multigrau estritamente menor que δ. 2.4. BASES DE GRÖBNER 39 Seja LT (hi ) = ci xαi . Então, a soma X X LT (hi )gi = ci xαi gi , mi =δ mi =δ possui exatamente a forma descrita no Lema 2.24, pois ci xαi gi possui multigrau δ e sua soma multigrau estritamente menor que δ. Portanto o Lema 2.24 implica X X δ−γ LT (hi )gi = cjk x jk S(gj , gk ), (2.7) j,k mi =δ γ onde cj,k ∈ K e x jk = MMC(LM (gj ), LM (gk )). Usando a hipótese de que o resto de S(gj , gk ) na divisão por g1 , . . . , gt é zero. Pelo Algoritmo da Divisão, isto significa que cada S-polinômio pode ser escrito na forma S(gj , gk ) = t X aijk gi , i=1 onde aijk ∈ K[x]. O algoritmo ainda nos diz que multigrau(aijk gi ) ≤ multigrau(S(gj , gk )), (2.8) para todo i, j, k. δ−γ Multiplicando a expressão de S(gj , gk ) por x jk obtemos x δ−γ jk S(gj , gk ) = t X bijk gi , i=1 δ−γ onde bijk = x jk aijk . Então (2.8) e o Lema 2.24 nos garantem que multigrau(bijk gi )) ≤ multigrau(x δ−γ jk S(gj , gk )) ≤ δ. δ−γ Substituindo a expressão para x jk S(gj , gk ) na equação (2.7), obtemos X X δ−γ LT (hi )gi = cjk x jk S(gj , gk ) = mi =δ j,k à t ! à ! t X X X X = cjk bijk gi = cjk bijk gi . i=1 j,k Escrevendo esta última soma como t X j,k h0i gi , segue de (2.9) que i=1 multigrau(h0i gi ) < δ, pois os cjk são constantes. i=1 (2.9) 2.4. BASES DE GRÖBNER Para finalizar substituindo 40 X LT (hi )gi = f= h0i gi + i=1 h0i gi na equação (2.6) e obtemos i=1 mi =δ t X t X X X (hi − LT (hi ))gi + mi =δ hi gi . mi <δ Assim, expressamos f como uma combinação polinomial dos gi ’s onde todos os termos possuem multigrau estritamente menor que δ. Isto contradiz a minimalidade de δ e completa a demonstração. ¤ Usando este critério, obtemos um processo muito simples para produzir uma base de Gröbner de um ideal dado, o qual descrevemos a seguir: Entrada: F = (f1 , . . . , fs ) Saı́da: Uma base de Gröbner G = {g1 , . . . , gt } para I = hF i, com F ⊂ G G := F REPITA G0 := G PARA cada par p 6= q em G0 FAÇA G0 S := S(p, q) SE S 6= 0 ENTÃO G := G ∪ {S} ATÉ G = G0 Exemplo 2.26 Considere K[x, y] com a ordem grlex e I = hf1 , f2 i = hx3 −2xy, x2 y−2y 2 +xi. Note que {f1 , f2 } não é uma base de Gröbner de I pois, S(f1 , f2 ) = y(x3 − 2xy) − x(x2 − 2y 2 + x) = −x2 ∈ I, e LT (S(f1 , f2 )) = −x2 6∈ hLT (f1 ), LT (f2 )i. Usaremos o algoritmo para produzir uma base de Gröbner de I. G0 • No primeiro passo temos G0 := {f1 , f2 } e S(f1 , f2 ) adicionado a G e o algoritmo continua. G0 = −x2 6= 0. Assim f3 = −x2 é G0 • No segundo passo, determinaremos S(f1 , f2 ) , S(f1 , f3 ) , S(f2 , f3 ) {f1 , f2 , f3 }. S(f1 , f2 ) = f3 e, assim, S(f1 , f2 ) G0 G0 e, neste passo, G0 = = 0. G0 S(f1 , f3 ) = 1(x3 − 2xy) − (−x)(−x2 ) = −2xy e S(f1 , f3 ) é adicionado a G. = −2xy 6= 0. Logo f4 = −2xy G0 S(f2 , f3 ) = 1(x2 y − 2y 2 + x) − (−y)(−x2 ) = −2y 2 + x e S(f2 , f3 ) Adicionando f5 = −2y 2 + x em G. Novamente G foi alterado e continuamos o processo. = −2y 2 + x 6= 0. 2.4. BASES DE GRÖBNER 41 • Neste passo, fazemos G0 = {f1 , f2 , f3 , f4 , f5 }. Sabemos que G0 S(f1 , f2 ) G0 = S(f1 , f3 ) G0 G0 = S(f2 , f3 ) G0 = 0. G0 G0 G0 Falta verificar quanto valem S(f1 , f4 ) , S(f1 , f5 ) , S(f2 , f4 ) , S(f2 , f5 ) , S(f3 , f4 ) , G0 G0 S(f3 , f5 ) , S(f4 , f5 ) . Mais alguns cálculos (podemos usar um programa de computação algébrica, como veremos no Apêndice A) concluı́mos que eles são todos nulos e, deste modo, f1 = x3 − 2xy, f2 = x2 y − 2y 2 + x, f3 = −x2 , f4 = −2xy, f5 = −2y 2 + x formam uma base de Gröbner para I. 2.4.3 Base de Gröbner Reduzida Lema 2.27 Seja G uma base de Gröbner para o ideal I ⊂ K[x]. Se p ∈ G é um polinômio tal que LT (p) ∈ hLT (G − {p})i então G − {p} é também uma base de Gröbner para I. Demonstração: Sabemos que hLT (G)i = hLT (I)i. Se LT (p) ∈ hLT (G − {p})i, então hLT (G − {p})i = hLT (G)i. Pela definição, segue que G − {p} é uma base de Gröbner para I. ¤ Ajustanto as contantes para que todo coeficiente lı́der seja 1 e removendo qualquer p tal que LT (p) ∈ LT (G) − {p} de G, chegamos ao que chamamos de base de Gröbner minimal. Definição 2.28 Uma base de Gröbner minimal para um ideal I ⊂ K[x] é uma base de Gröbner G que satisfaz: (i) LC(p) = 1 para todo p ∈ G; (ii) Para todo p ∈ G, LT (p) 6∈ hLT (G) − {p}i. Aplicando o algoritmo de Buchberger e depois usando o Lema 2.27 para eliminar qualquer gerador desnecessário que possa ter sido incluı́do, podemos construir uma base de Gröbner minimal para um dado ideal não nulo. Para ilustrar o processo, voltemos ao ideal I estudado no Exemplo 2.26: Exemplo 2.29 Lembrando que I = hf1 , f2 i, com f1 = x3 − 2xy e f2 = x2 y − 2y 2 + x. Usando a ordem grlex encontramos uma base de Gröbner G = {f1 = x3 − 2xy, f2 = x2 y − 2y 2 + x, f3 = −x2 , f4 = −2xy, f5 = −2y 2 + x}, para I. 2.4. BASES DE GRÖBNER 42 Como alguns coeficientes lı́deres são diferentes de 1, os polinômios serão multiplicados por constantes adequadas para que isto ocorra, obtendo uma nova base de Gröbner para I: G̃ = {f˜1 = x3 − 2xy, f˜2 = x2 y − 2y 2 + x, f˜3 = −x2 , f˜4 = −2xy, f˜5 = −2y 2 + x}. Observando que LT (f˜1 ) = x3 = xLT (f˜3 ) e que LT (f˜2 ) = x2 y = xLT (f˜4 ), podemos dispensar f˜1 e f˜2 de G̃. Como não há outro caso onde o termo lı́der de um gerador divide o termo lı́der de outro, temos que 1 f˜3 = x2 , f˜4 = xy, f˜5 = y 2 − x 2 formam uma base de Gröbner minimal de I. Infelizmente, um ideal dado pode ter muitas bases de Gröbner minimais. Por exemplo, no ideal I considerado acima os elementos 1 fˆ3 = x2 + axy, f˜4 = xy, f˜5 = y 2 − x 2 também formam uma base de Gröbner minimal, onde a ∈ K é uma constante. Portanto, podemos produzir infinitas bases de Gröbner minimais (assumindo que K é infinito). Mas, felizmente, podemos escolher uma base de Gröbner minimal que é melhor que as outras, como veremos a seguir: Definição 2.30 Uma base de Gröbner reduzida para um ideal I ⊂ K[x] é uma base de Gröbner minimal de I tal que para todo p ∈ G, nenhum monômio de p pertence a hLT (G − {p})i. Exemplo 2.31 Para o nosso ideal I = hx3 − 2xy, x2 y − 2y 2 + xi considerado anteriormente, temos que 1 f˜3 = x2 , f˜4 = xy, f˜5 = y 2 − x 2 forma a base de Gröbner reduzida de I. As bases de Gröbner reduzidas possuem a seguinte propriedade: Proposição 2.32 Fixada uma ordem monomial > sobre K[x], cada ideal em K[x] possui uma única base de Grôbner reduzida com respeito a >. Demonstração: Seja G uma base de Gröbner minimal para I. Dizemos que g ∈ G é reduzido módulo G se nenhum monômio de G está em hLT (G − {g})i. Nosso objetivo é modificar G até que todos seus elementos sejam reduzidos. Uma primeira observação é que se g é reduzido módulo G, então g é também reduzido módulo qualquer outra base de Gröbner minimal de I que contém g e possui o mesmo conjunto de termos lı́deres, pois a definição de elemento reduzido envolve apenas estes termos. Agora, dado g ∈ G seja g 0 = g G−{g} e definindo G0 = (G − {g}) ∪ {g 0 }. Afirmamos que G0 é uma base de Gröbner minimal para I. Notemos que LT (g 0 ) = LT (g), pois quando dividimos g por G−{g}, LT (g) vai para o resto por não ser divisı́vel por qualquer elemento de LT (G−{g}). 2.5. FUNÇÃO DE HILBERT DE S/I, COM I IDEAL MONOMIAL 43 Assim hLT (G0 )i = hLT (G)i. Como, claramente, G0 ⊂ I, temos G0 uma base de Gröbner para I que também é minimal. Finalmente, g 0 é reduzido módulo G0 por construção. Repetimos o processo acima até todos os elementos de G sejam reduzidos. Observamos que a base de Gröbner pode mudar toda vez que aplicarmos o processo, mas pelo que vimos anteriormente, uma vez que o elemento é reduzido, ele permanece reduzido, pois nunca trocamos os termos lı́deres. Assim, terminamos o processo com uma base de Gröbner reduzida. Para finalizar a demonstração falta verificarmos a unicidade. Suponhamos G e G̃ bases de Gröbner reduzidas para I. Então, em particular, G e G̃ são bases de Gröbner minimais e, assim, LT (G) = LT (G̃). Para verificarmos essa iguadade, observemos que hLT (G)i = hLT (I)i = hLT (G̃)i. Deste modo, dado g ∈ G, LT (g) ∈ hLT (G̃)i e, com isto, exite g̃ ∈ G̃ tal que LT (g̃) divide LT (g). Por outro lado, LT (g̃) ∈ hLT (G)i e, com isto, existe g 0 ∈ G tal que LT (g 0 ) divide LT (g̃). Se g 6= g 0 , temos LT (g) ∈ hLT (G − {g}i pois LT (g 0 ) divide LT (g), o que é um absurdo. Portanto g = g 0 e LT (g) = LT (g̃). Analogamente podemos demonstrar que para todo g̃ ∈ G̃, temos LT (g̃) ∈ LT (G) e, portanto, LT (G) = LT (G̃). Com isto, dado g ∈ G, existe g̃ ∈ G̃ tal que LT (g) = LT (g̃). Se pudermos mostrar que g = g̃, mostramos que G = G̃ e a unicidade está provada. Para ver que g = g̃, consideremos g − g̃. Este é um elemento de I e, como G é uma base G de Gröbner, g − g̃ = 0. Sabemos que LT (g) = LT (g̃), assim estes termos são cancelados em g − g̃ e os termos restantes não são divisı́veis pelos elementos de LT (G) = LT (G̃), pois G e G G̃ são bases reduzidas. Isto mostra que g − g̃ = g − g̃ e, então, g − g̃ = 0, o que completa a demonstração. ¤ 2.5 Função de Hilbert de S/I, com I Ideal Monomial Nesta seção denotaremos K[x] por S e apresentaremos um processo para calcular a função de Hilbert de S/I com I ideal monomial e a função λ a dimensão. Antes porém, e até mesmo para ressaltar a importância deste procedimento apresentaremos um resultado que é decorrência natural do Teorema de Macaulay 2.20. Teorema 2.33 Seja I um ideal homogêneo. Então a função de Hilbert de S/I é a mesma de S/hLT (I)i. Demonstração: Sejam B = {monômios que não estão em LT (I)}, Sd o conjunto de elementos de grau d de S = K[x] e S d a imagem de Sd em S/I. Temos que H(S/I, d) = dimK S d = #(Sd ∩ B). Pelo Teorema de Macaulay 2.20 e pelo fato de I ser homogêneo, H(S/hLT (I)i, d) = #{m ∈ Sd | m monômio e m 6∈ LT (I)} = #(Sd ∩ B). Logo, H(S/I, d) = H(S/hLT (I)i, d). ¤ Definição 2.34 Seja I ⊂ S um ideal monomial, isto é, I = hm1 , . . . , mr i, onde cada mi é um monômio. Dizemos que o conjunto {m1 , . . . , mr } é um conjunto minimal de geradores de I se mi não divide mj , para todo i, j ∈ {1, . . . , r}, i 6= j. 2.5. FUNÇÃO DE HILBERT DE S/I, COM I IDEAL MONOMIAL 2.5.1 44 Processo para Calcular a Função de Hilbert de S/I, com I ideal monomial Sejam I = hm1 , . . . , mr i ideal monomial de S e Sd o conjunto dos elementos de grau d de S. Procedemos por indução sobre r. Se r = 1 então I = hmi. Supondo grau de m = d temos, como vimos no Capı́tulo 1, µ ¶ µ ¶ S S H , i = dimK . hmi hmi i ¡ ¢ Para i = 0, . . . , d − 1, (S/hmi)i ' Si e, assim, dimK (Si ) = n+i−1 , i = 0, . . . , d − 1. n−1 Também, dimK (S/hmi)d = dimK Sd − 1 pois grau de m é d. Seja i > d, então existe u ∈ N tal que i = d + u. Como queremos calcular a dimensão de (S/hmi)i , nos interessa saber o número de monômios de grau i de S que não são múltiplos de m. Logo dimK (S/hmi)i = dimK Si − dimK Su , pois se v ∈ Su , então vm ∈ Si e, portanto, temos eliminar ¡n+i−1¢que¡i−d+n−1 ¢ todos os monômios da forma vm, com v ∈ Su . Assim, dim(S/hmi)i = − , i ≥ d, de onde segue que n−1 n−1 µ H S ,i hmi ¶ ½ ¡n+i−1¢ , se i < d n−1 ¢ ¡i−d+n−1¢ = ¡n+i−1 − , se i ≥ d n−1 n−1 e, portanto, sabemos calcular a Função de Hilbert de S/hmi. Suponhamos, então, r > 1 e que o resultado seja válido para todo número menor do que r, isto é, se I 0 é gerado por s elementos e s < r então sabemos calcular a função de Hilbert de I 0 . Seja I = hm1 , . . . , mr i, onde {m1 , . . . , mr } é um conjunto minimal de geradores e seja m um desses geradores, que, sem perda de generalidade podemos supor seja mr . Logo I = hm, I 0 i, onde I 0 = hm1 , . . . , mr−1 i. Supondo grau de m igual a d temos uma seqüência exata ϕ 0 → Ker ϕ → S(−d) → S π S → → 0, I0 I (2.10) L 0 onde ϕ(r) = sm, S(−d) = Si e Si0 = Si−d . Tal seqüência exata é de grau zero, isto é, se x ∈ Si , então ϕ(x) ∈ (S/I 0 ), pois se x ∈ Si0 tem-se x ∈ Si−d ou ainda mx ∈ Si e, portanto, mx ∈ (S/I 0 )i . Temos que Ker ϕ = {u ∈ S(−d) | ϕ(u) = 0} = {u ∈ S(−d) | um = 0} = {u ∈ S(−d) | um ∈ I 0 }. Como S(−d) ⊂ S e levando em consideração a alteração nos graus, Ker ϕ = {u ∈ S | um ∈ I 0 } = (I 0 : m). Mas, I 0 é ideal de S e I 0 = hmi , . . . , mr−1 i, então µ ¶ m1 mr−1 0 J = (I : m) = ,..., . mdc(m1 , m) mdc(mr−1 , m) 2.5. FUNÇÃO DE HILBERT DE S/I, COM I IDEAL MONOMIAL 45 Logo a seqüência exata (2.10) induz a seguinte seqüência exata, também de grau zero, da forma S S S 0 → (−d) → 0 → → 0 J I I e, portanto, para cada i ∈ N temos µ ¶ µ ¶ µ ¶ S S S 0→ → → → 0. (2.11) 0 J i−d I i I i Porém J e I 0 possuem menos geradores do que I e, por hipótese de indução, sabemos calcular suas funções de Hilbert. Logo de (2.11) temos que µ ¶ µ ¶ µ ¶ S S S H ,i = H ,i − H ,i − d . I I0 J Com isto obtemos um processo recursivo para calcular a função de Hilbert de S/I. Exemplo 2.35 Para ilustrar o processo, calcularemos a Função de Hilbert de R= K[x, y, z] . hxy, xz, yzi Tomando m = yz e I 0 = hxy, xzi temos À ¿ À ¿ xy xz xy xz 0 , = , = hxi. J = (I : m) = MDC(xy, yz) MDC(xz, yz) y z Assim, S/J ' K[y, z]. Pelo que vimos, µ ¶ µ ¶ S S H(R, i) = H ,i − H ,i − 2 . I0 J Para calcular H(S/I 0 , i) repetimos o processo para J 0 = (I 00 : m1 ), onde m1 = xz e I = hxyi. Agora ¿ À xy 0 00 J = (I : m1 ) = = hyi e, portanto, MDC(xy, xz) µ ¶ µ ¶ S S H ,i = H , i − H(K(x, z), i − 2), I0 hxyi 00 de onde segue que µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶ S S S S S S H ,i = H ,i − H ,i − 2 = H ,i − H ,i − 2 − H ,i − 2 , I I0 J hxyi J0 J onde J = hxi e J 0 = hyi. Deste modo µ H S ,i J ¶ µ =H S ,i J0 ¶ µ ¶ 1, µ ¶ i=0 2+i 1+i = − , i ≥ 1. 2 2 2.6. ANÉIS DE STANLEY-REISNER Assim, µ H Mas 46 0, 0≤i<2 ¶ S 1, i =2 µ ¶ µ ¶ ,i − 2 = i i−1 J − , i ≥ 3. 2 2 µ ¶ µ ¶ i i−1 i! (i − 1!) i! − (i − 1)!(i − 2) − = − = = 2 2 (i − 2)!2 (i − 3)!2 (i − 2)!2 i(i − 1) − (i − 2)(i − 1) = i − 1, 2 = ou seja, µ H ¶ ½ S 0, i=0 ,i − 2 = i − 1, i ≥ 1. J Temos também que µ H S ,i hxyi ¶ µ ¶ i+2 , 0≤i<2 ¶2 µ ¶ µ = i 2+i , i ≥ 2. − 2 2 De forma similar ao que fizemos para H(S/J) obtemos que H(S/hxyi, i) = 2i + 1, para i ≥ 0. Portanto, no caso i = 0, temos H(R, i) = 2.0 + 1 − 0 − 0 = 1 e, se i ≥ 1, temos H(R, i) = 2i + 1 − (i − 1) − (i − 1), ou seja, ½ 1, i = 0 H (R, i) = 3, i ≥ 1. 2.6 Anéis de Stanley-Reisner Os anéis de Stanley-Reisner são objeto central de estudo da chamada Álgebra Comutativa Combinatória criada por Hochster e Stanley em meados dos anos 70. Estes anéis estão associados aos chamados complexos simpliciais e são exemplos importantes de aplicações em geometria algébrica e álgebra comutativa, onde podemos calcular a função de Hilbert a partir do complexo simplicial associado ao anel. Nesta seção veremos como o número de faces de um complexo simplicial está relacionado com a série de Hilbert do correspondente anel de Stanley-Reisner. Definição 2.36 Seja V = {v1 , . . . , vn } um conjunto finito. Um complexo simplicial (finito) ∆ sobre V é uma coleção de subconjuntos de V tal que (i) F ∈ ∆ sempre que F ⊂ G para algum G ∈ ∆; (ii) {vi } ∈ ∆, para i = 1, . . . , n. 2.6. ANÉIS DE STANLEY-REISNER 47 Os elementos de ∆ são chamados de faces. Definição 2.37 Sejam ∆ um complexo simplicial sobre V = {v1 , . . . , vn } e F ∈ ∆. Chamamos de dimensão de F e denotamos por dim F o número de elementos de F menos um, ou seja, dim F = #F −1. A dimensão do complexo simplicial, dim ∆, é igual ao máximo das dimensões de suas faces, isto é, dim ∆ = max{dim F | F ∈ ∆}. Exemplo 2.38 Seja V = {x1 , x2 , x3 , x4 }, considere ∆ = {∅, {x1 }, {x2 }, {x3 }, {x4 }, {x1 , x2 }, {x2 , x3 }, {x3 , x4 }}. Podemos representar ∆ graficamente da seguinte forma: Figura 2.1: Complexo Simplicial Observações 2.39 (i) O conjunto ∅ é uma face de dimensão −1 de qualquer complexo simplicial não vazio. (ii) As faces de dimensão zero são chamadas de vértices, as de dimensão 1 de arestas. As faces maximais em relação a inclusão são ditas facetas do complexo simplicial. A codificação algébrica de um complexo simplicial pode ser feita da forma descrita a seguir: Primeiramente, estabelecemos uma bijeção ordenada entre o conjunto dos vértices do complexo simplicial ∆ e um conjunto de indeterminadas x: x1 , . . . , xn sobre um corpo (fixo) K. Em seguida, queremos introduzir um ideal do anel K[x] que reflita propriedades do complexo simplicial ∆. Após vencer o primeiro impulso de fazer corresponder monômios às faces de ∆, temos a seguinte definição: Definição 2.40 Sejam ∆ um complexo simplicial sobre V = {v1 , . . . , vn } e K um anel. O anel de Stanley-Reisner do complexo simplicial ∆ com respeito a K é a K-álgebra homogênea definida por: K[∆] := K[x]/I∆ , α α onde I∆ é gerado por todos os monômios xi1i1 · · · xisis , com αij > 0, tais que {vi1 , . . . , vis } 6∈ ∆. Observações 2.41 (i) A escolha da letra K na definição indica que, salvo exceções, sempre teremos um corpo para o anel dos coeficientes. 2.6. ANÉIS DE STANLEY-REISNER 48 (ii) Lembremos que o suporte de um monômio xα é o conjunto supp xα = {xi1 , . . . , xis | αij 6= 0, j = 1, . . . , s}. α α Segundo a Definição 2.40 I∆ é gerado por todos os monômios xi1i1 · · · xisis , com αij > 0, tais que {vi1 , . . . , vis } 6∈ ∆, assim, para facilitar a leitura, indicaremos, no que segue, o fato que {vi1 , . . . , vis } ∈ ∆ também por suppxα ∈ ∆ e F(∆) := {xα | sup(xα ) ∈ ∆} (iii) Note que o ideal das faces I∆ é gerado, minimamente, por monômios livres de quadrados. Por outro lado, se I ⊂ (x1 , . . . , xn )2 é ideal gerado por monômios livres de quadrados, então K[x]/I ' K[∆] para algum complexo simplicial ∆, o que nos dá uma bijeção entre os complexos simpliciais e os ideais monomiais livres de quadrados. Tal bijeção inverte inclusão, isto é, se ∆ e ∆0 são dois complexos simpliciais sobre um mesmo conjunto de vértices, então ∆ ⊂ ∆0 se, e somente se, I∆0 ⊂ I∆ . Um resultado que decorre do Teorema de Macaulay 2.20 é: Proposição 2.42 Seja ∆ um complexo simplicial. Os resı́duos em K[∆] dos elementos de F(∆) constituem uma K-base vetorial de K[∆]. Corolário 2.43 Se ∆ é um complexo simplicial e F ∈ ∆, então os resı́duos dos vértices de F são algebricamente independentes sobre K. Corolário 2.44 Se ∆ é um complexo simplicial, vale dim K[∆] = dim ∆ + 1. Exemplo 2.45 Para o complexo simplicial do exemplo anterior, temos I∆ = hx1 x3 , x1 x4 , x2 x4 i (minimamente gerado) e K[∆] é gerado pelas K-combinações lineares dos resı́duos de 1, x1 , x21 , . . . , x2 , x22 , . . . , x3 , x23 , . . . , x4 , x24 , . . . , x1 x2 , x21 x2 , x1 x22 , . . . , x2 x3 , x22 x3 , x2 x23 , . . . , x3 x4 , x23 x4 , x3 x24 , . . . Neste caso, temos que dim K[∆] = dim ∆ + 1 = 1 + 1 = 2. 2.6.1 Função e Série de Hilbert de um Anel de Stanley-Reisner Definição 2.46 Dado um complexo simplicial ∆ de dimensão d − 1, chamamos de f -vetor (do complexo simplicial ∆) o vetor (f0 , f1 , · · · , fd−1 ), onde fi := #{F ∈ ∆ | dim F = i}, −1 ≤ i ≤ d − 1. Observação 2.47 Note que dado o f -vetor do complexo simplicial ∆, (f0 , f1 , · · · , fd−1 ), sempre temos f−1 = 1 e f0 é número de vértices de ∆. Exemplo 2.48 Para o complexo simplicial ∆ = {∅, {x1 }, {x2 }, {x3 }, {x4 }, {x1 , x2 }, {x2 , x3 }, {x3 , x4 }} sobre V = {x1 , x2 , x3 , x4 }, considerado no Exemplo 2.38, temos o seguinte f -vetor: (4, 3). 2.6. ANÉIS DE STANLEY-REISNER 49 Para ∆ um complexo simplicial, a função de Hilbert de K[∆] associada à dimensão é H(K[∆], −) : N → N, onde m 7→ dim K[∆]m e K[∆]m denota o subespaço vetorial de K[∆] cujos elementos são resı́duos dos polinômios homogêneos de grau m e a série de Hilbert de K[∆] associada à dimensão é a série formal X F (K[∆], z) := H(K[∆], m)z m . m≥0 . Proposição 2.49 Seja ∆ um complexo simplicial de dimensão d−1 e f vetor (f0 , f1 , . . . , fd−1 ), então ½ 1 , m=0 H(K[∆], m) = Pd−1 ¡m−1¢ , m ≥ 1. i=0 fi i Demonstração: De acordo com a Proposição 2.42, uma base para K[∆]m é dada pelos resı́duos dos monômios cujos suportes são faces de ∆. Assim, para uma face {xl1 , . . . , xli+1 } ri+1 fixa de dimensão i ≤ m, devemos contar o número de monômios xrl11 · · · xli+1 de grau m tais ¡m−1¢ que rj 6= 0, 1 ≤ j ≤ i + 1. Mas este número é i , mostrando o resultado. ¤ Corolário 2.50 Seja ∆ um complexo com f -vetor (f0 , f1 , . . . , fn ), então d−1 X fi z i+1 F (K[∆], z) = . (1 − z)i+1 i=−1 Exemplo 2.51 Retornando ao Exemplo 2.35 vemos que o ideal I = hxy, xz, yzi é livre de quadrados e, assim, podemos associá-lo a um complexo simplicial e calcularmos sua função de Hilbert. Vejamos qual é o complexo com V = {x, y, z} e I∆ = hxy, xz, yzi gerado pelas não faces. Logo ∆ = {∅, {x}, {y}, {z}} e, com isto, f−1 = 1, f0 = 3, f1 = 0 e f2 = 0. Portanto a função de Hilbert de K[x, y, z]/I∆ é dada por 1 ,m = 0 ¶ µ ¶ µ ¶ µ µ ¶ 2 X K[x, y, z] m−1 m−1 m−1 ,m = H f2 = f1 + = f0 + fi I∆ 2 1 i i=0 , m ≥ 1. =3+0+0=3 50 Capı́tulo 3 Teorema de Macaulay Nos dois primeiros capı́tulos estudamos a função de Hilbert. Vimos que se trata de uma função numérica. Uma pergunta natural é: “Quando uma função numérica é a função de Hilbert de algum anel ou módulo graduado?” Neste capı́tulo apresentaremos o Teorema de Macaulay que estabelece condições para que uma função de N em N seja a função de Hilbert de uma K-álgebra homogênea. Vejamos, inicialmente, alguns resultados preliminares que nos auxiliarão na demonstração do teorema principal. L Seja R = n≥0 Rn uma K-álgebra homogênea onde R0 = K é um corpo. Mostraremos que R possui uma K-base constituı́da de monômios em uma base y1 , . . . , ym de R1 . Consideraremos no que segue: π : K[x1 , . . . , xm ] → R o homomorfismo sobrejetor de K-álgebras com π(xi ) = yi , mas antes uma definição. Definição 3.1 Um conjunto não vazio M de monômios nas indeterminadas x1 , . . . , xm é chamado ideal de ordem de monômios se dado m ∈ M e um monômio m0 que divide m, então m0 ∈ M . Equivalentemente, se xa11 · · · xamm ∈ M e 0 ≤ bi ≤ ai para i = 1, . . . , m, então xb11 · · · xbmm ∈ M . Observação 3.2 Um ideal de ordem de monômios M não é uma K-base de um ideal, por outro lado, denotando por M 0 o complementar de M no conjunto de todos os monômios, então M 0 é uma K-base do ideal gerado pelos monômios m ∈ M 0 = M − M , onde M representa o conjunto de todos os monômios. O resultado que apresentaremos a seguir, nos mostra que R possui uma K-base formada por monômios. Teorema 3.3 (Macaulay) Sejam R uma K-álgebra homogênea, K um corpo, y1 , . . . , ym uma K-base para R1 e π : K[x1 , . . . , xm ] → R o K-homomorfismo com π(xi ) = yi , para i = 1, . . . , m. Então existe um ideal de ordem de monômios M tal que π(M ) é uma K-base de R. Demonstração: Seja M o conjunto de todos os monômios nas indeterminadas x1 , . . . , xm e consideremos a ordem lexicográfica graduada reversa (grevlex) sobre M. Seja a seqüência de monômios u1 , u2 , . . . definida recursivamente por: u1 = 1 e assumindo u1 , . . . , ui determinados, CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY 51 então ui+1 é o menor elemento na grevlex tal que π(u1 ), . . . , π(ui ), π(ui+1 ) são linearmente independentes sobre K. Se tal ui+1 não existir, a seqüência termina em ui . Afirmamos que M = {u1 , u2 , . . .} é o ideal de ordem de monômios desejado. Por construção temos que π(M ) é um conjunto L.I. e gera R como um K-espaço vetorial, ou seja, é uma K-base de R. Vejamos então, que M é um ideal de ordem de monômios. Assumindo que não, existem ui0 ∈ MPe u ∈ M − M tais que ui0 = uxj para algum xj . Como u 6∈ M , podemos escrever π(u) λi π(ui ) com ui ∈ M , ui < u e λi ∈ K. Deste modo π(ui0P ) = π(uxj ) = π(u)π(xj ) = P = λi π(ui xj ) e ui xj < ui0 para todo i na soma. Porém π(ui xj ) = rij βij π(urij ), com urij ≤ ui x j . P Logo π(ui0 ) = γs π(us ), com us ∈ M e us < ui0 o que é um absurdo, pela construção de M. ¤ Vimos nessa demonstração que nossa P K-base π(u1 ), π(u2 ), . . . de R possui a seguinte propriedade: u ∈ L e escrevendo π(u) = λi 6=0 λi π(ui ), então ui ≤ u, para todo i e, se u 6∈ M , essas inequações são estritas. Como conseqüência imediata do Teorema 3.3 e da Observação 3.2 temos: Corolário 3.4 Seja J o ideal que é gerado pelos monômios em M 0 . Então a K-álgebra R e K[x1 , . . . , xm ]/J possuem a mesma função de Hilbert. ¤ O conjunto de monômios M 0 associado a R pode ser descrito de outra forma. Seja I = Ker P π e, desta forma, M 0 = LMgrevlex (I). De fato, se f ∈ LMgrevlex (I), escolhendo f ∈ I, f = ni=1 λvi com monômios vi tais que v = LMgrevlex (f ) = vn . Se vn 6∈ M 0 , então vn ∈ M e, com isto, n X 0 6= π(vn ) = − λn λi π(vi ). P i=1 Cada π(vi ) é uma combinação linear αij π(uj ), αij ∈ K, uj ∈ M , uj ≤ vi < vn . Trocando os π(vi ) na equação acima pela sua combinação linear, obtemos a representação como uma combinação linear não nula de elementos em π(M ) eP isto contradiz o Teorema 3.3. 0 Por outro lado, λi π(ui ), com ui ∈ M , ui < v. Assim, P supondo v ∈ M , então π(v) = fazendo f = v − λi ui temos π(f ) = 0 e LMgrevlex (f ) = v. Definição 3.5 Tomando um monômio u de grau d, ou seja, u ∈ Sd , definimos Lu := {v ∈ Sd | v é monômio e v < u}, Ru := {v ∈ Sd | v é monômio e v ≥ u}. Note que Rx1 = {x1 , . . . , xm }. Lema 3.6 Nas condições e com as notações dos parágrafos anteriores, dado u ∈ Sd , temos Rx1 Ru = Rx1 u . Demonstração: Seja v ∈ Ru , então xi v ≥ x1 v ≥ x1 u. Por outro lado, seja v ∈ Rx1 u . Podemos assumir que x1 não divide v, então v ≥ x1 u. Sejam u = xa11 · · · xamm , v = xb22 · · · xbmm e i o maior inteiro tal que bi > ai . Se existe j < i com bj > 0, então x−1 j v ∈ Ru , caso contrário, −1 xi ∈ Ru . Nos dois casos segue que v ∈ Rx1 Ru . ¤ CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY 52 Lema 3.7 Dado u ∈ Sd , u = xj(1) xj(2) · · · xj(d) temos Lu = [ ˙ d i=1 [x1 , . . . , xj(i)−1 ]i xj(i+1) · · · xj(d) , onde [x1 , . . . , xi ]d denota o conjunto de todos os monômios de grau d nas variáveis x1 , . . . , xi . Demonstração: O conjunto Lu admite uma decomposição natural: seja i o maior inteiro ˙ 00u xi ,, onde xi não divide elementos de tal que xi divide u. Então podemos escrever Lu = L0u ∪L L0u . Esta união é disjunta visto que L0u consiste de todos os monômios de grau d nas variáveis . x1 , . . . , xi−1 e que L00u = Lx−1 i u Usando a mesma idéia podemos decompor L00u e assim por diante. Deste modo, se escrevermos u = xj(1) xj(2) · · · xj(d) , com 1 ≤ j(1) ≤ j(2) ≤ · · · ≤ j(d), temos ˙ x−1 u xj(d) = Lu = [x1 , . . . , xj(d)−1 ]d ∪L j(d) ˙ 1 , . . . , xj(d−1)−1 ]d−1 xj(d) ∪L ˙ x−1 [x1 , . . . , xj(d)−1 ]d ∪[x x−1 u j(d−1) j(d) xj(d−1) xj(d) . Continuando com este raciocı́nio, terminamos com uma união disjunta Lu = [ ˙ d i=1 [x1 , . . . , xj(i)−1 ]i xj(i+1) · · · xj(d) , que é chamada de decomposição natural de Lu . ¤ Vejamos um exemplo: Exemplo 3.8 Seja S = K[x1 , x2 , x3 , x4 ] e u = x22 x3 . Então, Lu = {x31 , x21 x2 , x1 x22 , x32 , x21 x3 , x1 , x2 , x3}, L0u = {x31 , x21 x2 , x1 x22 , x32 } L00u = {x21 , x1 x2 } = Lx22 Observação 3.9 Com a decomposição natural de Lu temos que |Lu | = d X |[x1 , . . . , xj(i)−1 ]i | i=1 µ Agora, |[x1 , . . . , xj(i)−1 ]i | = ¶ µ ¶ µ ¶ j(i) − 1 + i − 1 j(i) + i − 1 j(i) + i − 2 = = . Logo, j(i) − 1 − 1 j(i) − 2 i ¶ d µ X k(i) |Lu | = , i i=1 com k(i) = j(i) + i − 2 e k(d) > k(d − 1) > · · · > k(1) ≥ 0. CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY 53 Pelo exposto anteriormente, os números inteiros não negativos |Lu | podem ser escritos como um somatório de números binomiais. Este resultado é mais geral como pode ser visto no lema a seguir. Lema 3.10 Seja d um inteiro positivo. Todo a ∈ N pode ser escrito unicamente na forma µ ¶ µ ¶ µ ¶ k(d) k(d − 1) k(1) a= + + ··· + , d d−1 1 onde k(d) > k(d − 1) ¡> ¢· · · > k(1) ≥ 0. Assumiremos que kl = 0 para 0 ≤ k < l. Demonstração: Para mostrarmos a existência procederemos por indução sobre a, para a = 1 temos que µ ¶ µ ¶ µ ¶ d d−2 0 a= + + ··· + . d d−1 1 Suponhamos que o resultado númeroP menor do que a e escolhemos ¡ seja ¢ válido para¡qualquer ¢ d ¡k(i)¢ k(d) k(d) o maior natural tal que k(d) ≤ a. Se a = , então a = , com k(i) = i − 1, i=1 d i ¡k(d)d¢ ¡k(d)¢ 0 i = 1, . . . , d − 1. Agora se d < a então a = a − d > 0 e, pela hipótese de indução, P ¡k(i)¢ temos a0 = d−1 , com k(d − 1) > · · · > k(1) ≥ 0. i=1 i Falta mostrar ¡k(d)+1¢que k(d) > k(d − 1). Temos > a, então d µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶ k(d) k(d) + 1 k(d) k(d) 0 a =a− < − = . Assim, d d d d−1 µ ¶ µ ¶ k(d) k(d − 1) 0 >a ≥ , d−1 d−1 de onde segue que k(d) > k(d − 1). ¶ d µ X k(i) , com k(d) > · · · > k(1 ≥ 0. Portanto, a = i i=1 Para vermos que esta forma de escrever é única, suponhamos que ¶ ¶ d µ 0 d µ X X k(i) k (i) =a= . i i i=1 i=1 ¡ ¢ ¡0 ¢ Como k(d) é o maior inteiro tal que k(d) ≤ a e k d(d) ≤ a tem-se k(d) ≤ k 0 (d). Do d mesmo modo tem-se k(d) ≤ k 0 (d). Portanto k(d) = k 0 (d). Procedendo com raciocı́nio análogo chegamos a k(i) = k 0 (i) para todo i = 1, . . . , d. ¤ Chamaremos a soma do Lema 3.10 de d-ésima representação de Macaulay de a, e chamaremos k(d), . . . , k(1) de d-ésimos coeficientes de Macaulay de a. Note que para todo i ≤ d o coeficiente k(i) é determinado pelo fato de ser o maior inteiro j tal que µ ¶ µ ¶ µ ¶ j k(d) k(i + 1) ≤a− − ··· − . i d i+1 Os d-ésimos coeficientes de Macaulay possuem a seguinte propriedade: CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY 54 Lema 3.11 Sejam k(d), . . . , k(1) e k 0 (d), . . . , k 0 (1), respectivamente, os d-ésimos coeficientes de Macaulay de a e a0 . Então a > a0 se, e somente se, (k(d), . . . , k(1)) >lex (k 0 (d), . . . , k 0 (1)). Demonstração: Mostraremos as duas implicações por indução sobre d. Para d = 1 a afirmação é clara. Agora, assumindo d > 1, se k(d) = k 0 (d), então k(d − 1), . . . , k(1) ¡k(d)¢e 0 0 k (d − 1), . . . , k (1) são, respectivamente, os d − 1-ésimos coeficientes de Macaulay de a − d ¡0 ¢ e a0 − k d(d) . Aplicando a hipótese de indução obtemos o resultado. Agora, se k(d) 6= k 0 (d), a caracterização dos d-ésimos coeficientes de Macaulay, vista no Lema 3.10 nos assegura que k(d) > k 0 (d) se, e somente se, a > a0 . ¤ Descartando as parcelas que são zero na d-ésima representação de Macaulay de a, obtermos a seguinte expansão (única): µ ¶ µ ¶ µ ¶ k(d) k(d − 1) k(j) a= + + ··· + , d d−1 j onde k(d) > k(d − 1) > · · · > k(j) ≥ j ≥ 1. ¤ Definição 3.12 Dado a ∈ N e sua representação de Macaulay, como anteriormente, definimos ¶ ¶ µ ¶ µ µ k(j) + 1 k(d − 1) + 1 k(d) + 1 hdi , + ··· + + a := j+1 d d+1 e 0hdi = 0. Este número goza das seguintes propriedades: Lema 3.13 Sejam a, a0 e d inteiros positivos. (i) Se a ≤ a0 , então ahdi ≤ a0 hdi . (ii) Sejam k(d), . . . , k(1) os d-ésimos coeficientes de Macaulay de a e j = min{i | k(i) ≥ i}. Então, ½ hdi a + k(1) + 1, se j = 1, hdi (a + 1) = ahdi + 1, se j > 1. Demonstração: (i) Sejam k(d), . . . , k(1) e k 0 (d), . . . , k 0 (1) os d-coeficientes de Macaulay de a e a0 respectivamente. Usando a hipótese e o Lema 3.11 temos (k(d), . . . , k(1)) <lex (k 0 (d), . . . , k 0 (1)) e, assim, ahdi < a0 hdi . (ii) Mostremos a igualdade para j = 1. µ ¶ µ ¶ k(d) k(j) a= + ··· + , d j µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶ k(d) k(j) k(d) k(j − 1) a+1= + ··· + +1= + ··· + , e d j d j−1 CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY µ (a + 1) hdi = 55 ¶ µ ¶ k(d) + 1 k(j) + 1 + ··· + +1= d+1 j+1 ¶ ¶ µ ¶ µ k(d) + 1 k(j) + 1 j = + ··· + + = ahdi + 1. d+1 j+1 j | {z } |{z} µ ahdi 1 Agora, para j = 1, seja i o maior inteiro tal que k(i) = k(1) + i − 1. Então µ ¶ µ ¶ X ¶ i µ k(d) k(i + 1) k(1) + r − 1 a = + ··· + + = d i+1 r r=1 µ ¶ µ ¶ µ ¶ k(d) k(i + 1) k(1) + i = + ··· + + − 1, d i+1 i ¶ ¶ µ i µ X k(1) + i k(1) + r − 1 uma vez que = − 1. i r r=1 Deste modo, ¶ ¶ µ ¶ µ µ k(1) + i k(i + 1) k(d) + + ··· + a+1= i i+1 d que é a d-ésima expansão de Macaulay de a + 1, já que k(i + 1) > k(1) + i. Assim, ¶ ¶ X ¶ µ µ i µ k(1) + r k(i + 1) + 1 k(d) + 1 hdi = + + ··· + a = r+1 i+2 d+1 r=1 ¶ ¶ X ¶ µ µ i+1 µ k(1) + r − 1 k(i + 1) + 1 k(d) + 1 = + + ··· + = r i+2 d+1 r=2 ¶ ¶ µ ¶ µ µ k(1) + i + 1 k(i + 1) + 1 k(d) + 1 − k(1) − 1, + + ··· + = i+1 i+2 d+1 Portanto, (a + 1) hdi µ = ¶ µ ¶ µ ¶ k(d) + 1 k(i + 1) + 1 k(1) + i + 1 + ··· + + = ahdi + k(1) + 1, d+1 i+2 i+1 como querı́amos. ¤ Proposição 3.14 Seja u um monômio de grau d em S. Então |Lx1 u | = |Lu |hdi . d Demonstração: Seja Lu = ∪˙ i=1 [x1 , . . . , xj(i)−1 ]i xj(i+1) · · · xj(d) a decomposição natural de Lu . Afirmamos que [ ˙ d [x1 , . . . , xj(1)−1 ]i+1 xj(i+1) · · · xj(d) i=1 é a decomposição canônica de Lx1 u . Além disso, a decomposição natural de Lu é completamente determinada pela seqüência j(1), . . . , j(d), relacionada a u. Sejam l(1), . . . , l(d + 1) a seqüência correspondente a x1 u, então l(1) = 1 e l(i) = j(i − 1) para i = 2, . . . , d + 1. Como se trata de união disjunta, segue o resultado. ¤ CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY 56 Definição 3.15 Ainda usando os d-coeficientes de Macaulay de um número positivo a definimos µ ¶ µ ¶ k(d) − 1 k(1) − 1 ahdi := + ··· + . d 1 Este número também possui propriedades que nos auxiliarão nas demonstrações que se seguirão: Lema 3.16 Sejam a, a0 , d e b números naturais. (i) Se a ≤ a0 , então ahdi ≤ a0hdi . (ii) Se k(j) 6= j para j = min{i | k(i) ≥ i}, então (a − 1)hdi < ahdi . (iii) Se 0 < b < a são tais que 0 < bhdi + (a − b)hd−1i , então b < ahdi . Demonstração: (i) Segue do que foi observado anteriormente e do Lema 3.11. ¡¢ ¡ ¢ (ii) Procederemos por indução sobre d. Se d = 1 e a 6= 1 temos a = a1 e a−1 = a − 1. 1 Logo ah1i > (a − 1)h1i . Supondo d > 1, o resultado válido para qualquer número menor do que d e sejam k(d), k(d − 1), . . . , k(1) e k 0 (d), k 0 (d − 1), . . . , k 0 (1) os d-ésimos coeficientes de Macaulay de a e de a0 , respectivamente. Temos dois casos a considerar: ¡ ¢ (1) Se k 0 (d) = k(d), tomamos a0 = a − k(d) , temos a0 − 1 > 0, pois se a0 = 1, então d ¡k(d)¢ ¡d−1¢ a = d + d−1 (absurdo pois estamos supondo k(j) 6= j). Logo, a0 − 1 > 0. Agora, a0 tem como (d − 1)-ésimos coeficientes de Macaulay k(d − 1), k(d − 2), . . . , k(1) e a0 − 1 tem como (d − 1)-coeficientes de Macaulay os números k 0 (d − 1), k 0 (d − 2), . . . , k 0 (1). Porém, a0 satisfaz as condições do item (ii) deste teorema e, por hipótese de indução, (a0 − 1)hd−1i < a0hd−1i , isto é, µ . ¶ ¶ µ ¶ µ ¶ µ 0 k(1) − 1 k(d − 1) − 1 k (1) − 1 k 0 (d − 1) − 1 + ··· + < + ··· + 1 d−1 1 d−1 ¡ ¢ ¡k(d)−1¢ 0 Como ahdi = a0hd−1i + k(d)−1 e (a − 1) = (a − 1) + , segue o resultado. hdi hd−1i d d 0 0 (2) Se k(d) > k (d), k(d) − 1 > k (d) − 1 e, assim, (a − 1)hdi < ahdi . (iii) Temos que b pode ser escrito da seguinte forma: µ ¶ µ ¶ k(d) k(j) b= + ··· + , d j com k(d) > · ¡· · > k(j) ¢ ≥ j ≥ ¡0.k(j)+1¢ k(d)+1 Seja c = + ··· + . Temos que chdi = b. Assim, se mostrarmos que a ≥ c, d j teremos ahdi ≥ chdi = b. Supondo que a < c, µ ¶ µ ¶ k(d) + 1 k(j) + 1 a< + ··· + , d j CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY 57 µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶ k(d) + 1 k(d) k(j)+ k(j) k(d) k(j) a−b< − + ··· + − = + ··· + . d−1 d j j d−1 j−1 Distinguimos dois casos: (1) j = 1. Logo a − b < ¡k(d)¢ d−1 + ··· + ¡k(2)¢ 1 µ ¶ k(1) + . 0 | {z } 1 Desta forma µ (a − b)hd−1i ≤ ¶ µ ¶ k(d) − 1 k(2) − 1 + ··· + . d−1 1 Agora, por hipótese, b ≤ bhdi + (a − b)hd−1i e, portanto, µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶ k(d) − 1 k(1) − 1 k(d) − 1 k(2) − 1 b ≤ + ··· + + + ··· + = d¶ 1 µ µ ¶ 1µ ¶d − 1 k(d) k(2) k(1) − 1 = + ··· + + < b. (Absurdo!) d 2 1 ¡ ¢ ¡k(j)−1¢ (2) j > 1. Neste caso, (a − b)hd−1i < k(d)−1 + · · · + e, seguindo o mesmo raciocı́nio, d−1 j−1 terı́amos novamente um absurdo. Logo a ≥ c e, portanto, ahdi ≥ chdi = b. ¤ O próximo teorema é a chave para a demonstração do Teorema de Macaulay. Porém, antes de enunciá-lo, apresentaremos algumas noções de geometria algébrica que nos ajudarão a demostrá-lo. Para maiores detalhes veja [3]. Definição 3.17 Sejam K um corpo, S = K[x1 , . . . , xn ] e I ⊂ S ideal. (i) O conjunto An (K) = {(a1 , . . . , an ) ∈ K n } é chamado n-espaço afim sobre K. (ii) V (I) = {(a1 , . . . , an ) ∈ An (K) | f (a1 , . . . , an ) = 0, ∀f ∈ I} é chamado variedade do ideal I. Temos as seguintes propriedades: P (i) Se (Iλ )λ∈Ω é uma famı́lia de ideais de S então ∩λ∈Ω V (Iλ ) = V ( Iλ ). (ii) Para Ij ∈ S, j = 1, . . . , n, ∪nj=1 V (Ij ) = V (∩nj=1 Ij ). Com estas propriedades An (K) é um espaço topológico, onde os fechados são da forma F = V (I) com I ideal de S. Mais ainda, para K corpo infinito, An (K) é um espaço topológico irredutı́vel, isto é, An (K) = V1 ∪ V2 , V1 e V1 fechados se, e somente se, An (K) = V1 ou An (K) = V2 . Observações 3.18 (i) Se R é uma K-álgebra homogênea, com K corpo infinito, sua componente de grau 1, isto é, R1 é irredutı́vel na topologia de Zariski, pois R1 é um espaço vetorial de dimensão finita gerado por yi = xi + I com I o ideal homogêneo de S que define R. CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY 58 (ii) Se R1 é espaço topológico irredutı́vel, então todo aberto é denso em R1 . (iii) Dada P uma propriedade definida nas formas lineares de R1 , dizemos que h ∈ R1 é genérico em relação a P se existe U ⊆ R1 , h ∈ U tais que P vale para toda forma linear de U . Teorema 3.19 (Green-Forma Algébrica) Sejam R uma K-álgebra homogênea, K um corpo infinito e n ≥ 1 um inteiro. Então H(R/hR, n) ≤ H(R, n)hni , para uma forma linear genérica h. Demonstração: Seja s = sup{dimK hRn−1 | h ∈ R1 }. Então dimK hRn−1 = s para alguma forma linear h. De fato, seja U ⊂ R1 o subconjunto dos elementos h ∈ R1 tais que dimK hRn−1 = s. Temos U 6= ∅ e para vermos que U é aberto, escolhemos uma base {y1 , . . . , ym } de R1P e {u1 , . . . , ur }, {v1 , . . . , vl } bases de Rn−1 e de Rn , respectivamente. Se h ∈ R1 , então h = m i=1 ai yi , considerando os ai variáveis sobre K. A aplicação multiplicação por h, ϕh : Rn−1 → Rn , dada por ϕh (f ) = hf pode ser descrita por uma matriz [ϕh ] de formas lineares em a1 , . . . , am . Trocando os wi por indeterminadas, produzimos uma matriz A de polinômios lineares com coeficientes em K. Mostraremos que U = R1 − V (Is (A), onde Is (A) é o ideal gerado pelos determinantes dos menores s × s de A. Observamos que se h ∈ V (Is (A)), então o determinante de qualquer menor s × s de ϕh é nulo e portanto dimK hRn−1 < s. U é um conjunto aberto (complementar de fechado) e todo elemento h ∈ U é genérico. Sejam h ∈ U e S = R/hR. Afirmamos que H(S, n) ≤ H(R, n)hni e provaremos esta afirmação por indução sobre n e dimK R1 . Se n = 1 e dimk R1 é qualquer temos que H(R/hR, 1) = dimK (R/hR)1 = dimK R1 /hR0 = dimK R/Kh = dimK R1 − 1, H(R, 1) = dimK R1 e H(R, 1)h1i = dimK R1 − 1. Portanto H(R/hR, 1) ≤ H(R, 1)h1i . Se, ainda, dimK R1 = 1 e n é qualquer, como R = K[y1 , . . . , ym ] com yi = xi + I, podemos supor que y1 gera R1 . Assim, dado yi ∈ R, i 6= 1 temos yi = ci y1 e, portanto, xi − ci x1 ∈ I. Daı́, substituindo R = K[y1 , . . . , ym ] por K[x1 , x2 − c2 x1 , . . . , xm − cm x1 ] temos: K[x1 , x2 − c2 x1 , . . . , xm − cm x1 ] K[y1 ] ' = K[y1 ]. I (y1i ) ½ 1, se j = 0 Assim dimK Rj = 0, se j ≤ 1. Como h ∈ R1 temos (R/hR)n = 0 para todo n e, portanto, 0 = H(R/hR, n) ≤ H(R, n)hni . Logo, se n = 1 e dimK R1 é qualquer ou se dimK R1 = 1 e n é qualquer o resultado vale. Façamos, agora, a seguinte hipótese de indução: n > 1, dimK R1 > 1 e que o resultado valha para um número menor do que n e dimK R1 qualquer. Seja V ⊂ S1 = R1 /hR0 o subconjunto de formas lineares g nas quais dimK gSn−1 é máxima e denotemos por ϕ o epimorfismo canônico ϕ : R → S, ϕ(f ) = f + hR = f . Consideremos o subconjunto de R1 W = (U − Kh) ∩ ϕ−1 (V ) CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY 59 de R1 . O conjunto W é não vazio, pois R1 é irredutı́vel e ambos ϕ−1 (V ) e (U − Kh) são não vazios. De fato, suponhamos U ⊂ Kh. Então, como U é denso e Kh é fechado em R1 , segue que R1 = Kh, contradizendo dimK R1 > 1. Agora W é aberto pois ϕ|R1 : R1 → S1 é contı́nua na topologia de Zariski e, portanto, ϕ−1 (V ) é aberto, uma vez que V é aberto (a demonstração deste fato é análoga àquela apresentada para U ). Além disso U − Kh é também um conjunto aberto. Escolhendo h∗ ∈ W e consideremos a seguinte seqüência exata: Sn ∗ 0 → h Sn−1 → Sn → ∗ h Sn−1 → 0. Então H(S, n) = dimK (Sn /h∗ Sn−1 ) + dimK h∗ Sn−1 . (3.1) Como dimK S1 < dimK R1 e h∗ ∈ ϕ−1 (V ) por hipótese de indução, temos ∗ dimK (Sn /h Sn−1 ) ≤ H(S, n)hni . Para obtermos uma cota superior para a segunda parcela de 3.1 notemos que ∗ dimk h Sn−1 ≤ dimk (h∗ Rn−1 /h(h∗ Rn−1 )) = dimK (hRn−1 /h∗ (hRn−2 )), uma vez que a seqüência exata 0 → hh∗ Rn−2 → h∗ Rn−1 → h∗ Rn−1 →0 hH ∗ Rn−2 h∗ Rn−1 + dimK hh∗ Rn−2 . hh∗ Rn−2 Agora, da seqüência exata nos dá dimK h∗ Rn−1 = dimK 0 → hh∗ Rn−2 → hRn−1 → temos dimK hRn−1 = dimK hRn−1 →0 h∗ hRn−2 hRn−1 + dimK hh∗ Rn−2 . h∗ hRn−2 Como h, h∗ ∈ U temos que dimK hRn−1 = dimK h∗ Rn−1 e, assim, dimK h∗ Rn−1 = hh∗ Rn−2 hRn−1 . h∗ hRn−2 Escolhendo h∗ tal que h∗ (hRn−2 ) tenha dimensão máxima, consideremos J = Ann h e P = R/Ann h. J é um ideal homogêneo, ³ ´ Rn−1 ¶ µ Jn−1 hRn−1 P ´ =H = dimK ³ ,n − 1 dimK ∗ hh Rn−2 h∗ P h∗ Rn−2 dimK Jn−2 e, por hipótese de indução H(P/h∗ P, n − 1) ≤ H(P, n − 1)hn−1i . CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY 60 Porém, H(P, n − 1) = dimK Rn−1 /Jn−1 = dimK hRn−1 = dimK Rn − dimK Rn /hRn−1 . Logo ∗ H(P, n − 1) = H(R, n) − H(S, n) e concluı́mos que h Sn−1 ≤ (H(R, n) − H(S, n))hn−1i . Assim H(S, n) ≤ H(S, n)hni + (H(R, n) − H(S, n))hn−1i e, usando Lema 3.16 (iii), segue que H(S, n) ≤ H(R, n)hni . ¤ Agora, apresentaremos o principal teorema: Teorema 3.20 (Macaulay) Sejam K um corpo e h : N → N uma função numérica. As seguintes condições são equivalentes: (i) Existe uma K-álgebra homogênea R com função de Hilbert H(R, n) = h(n), para todo n ≥ 0. (ii) Exite uma K-álgebra homogênea R com relações monomiais e com função de Hilbert H(R, n) = h(n), para todo n ≥ 0. (iii) h(0) = 1 e h(n + 1) ≤ [h(n)]hni para n ≥ 1. (iv) Seja m = h(1) e para cada n ≥ 0 seja Mn o conjunto dos primeiros h(n) monômios de grau n nas variáveis x1 , . . . , xm (na ordem lexicográfica graduada reversa). Definindo M = ∪n≥0 Mn , temos que M é um ideal de ordem de monômios. Demonstração: (i) ⇔ (ii) foi vista no Corolário 3.10. (iv) ⇒ (ii) Trivial. (iii) ⇒ (iv) Por ¢hipótese h(n + 1) ≤ [h(n)]hni para se ¢h(1) = m ¡m+n−1 ¡n+mtodo ¢ n ≥ 1. Assim, ¡n+m+1 então h(n) ≤ . Suponhamos que h(n + 1) = n+1 , então h(n) = e, assim, n n −1 Mi = [x1 , . . . , xm ]i para i = n e¡ i =¢n + 1. Logo, se u ∈ Mn+1 e xi divide u, então xi ∈ Mn . Agora supomos que h(n+1) ≤ n+m , então existe um monômio un+1 tal que Mn+1 = Lun+1 . Se n+1 como antes, Mn = [x1 , . . . , xm ]n , não há nada a mostrar. De outro modo, existe um monômio un tal que Mn = Lun . A condição (iii) e a Proposição 3.14 implicam Rx1 Run ⊂ Run+1 . Portanto, se u ∈ Mn+1 e xi divide u temos x−1 i u ∈ Mn . Em outras palavras, M = ∪n≥0 Mn é um ideal de ordem de monômios. Até agora vimos que (iii) ⇒ (iv) ⇒ (ii) ⇔ (i). Para fechar o ciclo mostraremos que (i) ⇒ (iii). (i) ⇒ (iii) Podemos assumir que K é infinito, pois se necessário, trocamos R por L ⊗K R, onde L é uma extensão infinita de K. Sejam g uma forma linear e S = R/gR. A seqüência exata 0 → gRn → Rn+1 → Sn+1 → 0 nos dá a inequação H(R, n+1) ≤ H(R, n)+H(S, n+1). Fazendo a = H(R, n) e b = H(R, n+1). Para uma forma linear genérica g a inequação e o Teorema de Green 3.19 nos garantem que b ≤ a + bhn+1i . Sejam k(n + 1), . . . , k(1) os (n + 1)-coeficientes de Macaulay de b. Então µ ¶ µ ¶ k(n + 1) − 1 k(1) − 1 b= + ··· + , e, assim, n+1 1 CAPÍTULO 3. TEOREMA DE MACAULAY 61 µ ¶ µ ¶ µ ¶ k(n + 1) − 1 k(2) − 1 k(1) − 1 a≥ + ··· + + . n 1 0 Seja j = min{i | k(i) ≥ i}. Se j > 1, então k(1) = 0 e µ ¶ µ ¶ k(n + 1) k(2) hni a ≥ + ··· + =b n+1 2 hni e, portanto, b = H(R, n+1) = h(n+1) ≤ H(R, n)hni = h( n) como querı́amos demonstrar. Se j = 1, então, pelo Lema 3.13, ¶ ¶ µ ¶ µ µ k(2) k(3) k(n + 1) hni + k(2). + + ··· + a ≥ 2 3 n+1 Mas k(2) > k(1) e, portanto, ahni > b. ¤ Exemplo 3.21 Seja h : N → N dada inicialmente por h(0) = 1, h(1) = 3, h(2) = 4, h(3) = 5 e h(4) = 7. h não pode ser a função de Hilbert de uma K-álgebra homogênea pois µ ¶ µ ¶ 4 2 • 5= + ; 3 2 µ ¶ µ ¶ 5 3 h3i • 5 = + ; 4 3 • h(4) = 7 > 6 = 5h3i = h(3)h3i . Corolário 3.22 Sejam R uma K-álgebra homogênea e K um corpo. Então H(R, n + 1) = H(R, n)hni para n suficientemente grande. Demonstração: Tomando R = S/I, onde S = K[x1 , . . . , xm ], pelo item (iv) do Teorema de Macaulay 3.20, existe um ideal de ordem de monômios M = ∪n≥0 Mn em S tal que H(R, n) = H(S/J, n) para todo n, onde J é o ideal gerado por todos os monômios que não estão em M . Além disso, a escolha de M foi tal que M consiste de todos os monômios de grau n se In = 0 e Mn = Lun para um monômio un apropriado caso contrário. Como J é finitamente gerado, existe um inteiro r tal que Run+1 = Rx1 Run para todo n ≥ r e o resultado segue da Proposição 3.14. ¤ 62 Apêndice A Exemplos Utilizando o CoCoA Utilizaremos o WinCoCoA, que é a versão com interface gráfica que acompanha o CoCoA 4.2, pois facilita a utilização do mesmo. A.1 Introdução ao CoCoA Todos os nomes de comandos, palavras chave e variáveis no CoCoA devem começar com letras maiúsculas e as linhas de comando dever ser terminadas com ponto e vı́rgula (;). A.1.1 Ambiente Anel Antes de fazermos cálculos utilizando polinômios precisamos especificar o anel que usaremos com o comando Use. O operador especial ::= armazena, em uma variável, um anel . • Q[x,y,z]; – coeficientes em Q e indeterminadas x, y e z. • Z/(23)[x,y,z]; – coeficientes em Z/23Z. • Q[x,y,z],Lex; – ordem lexicográfica. O padrão é a ordem lexicográfica reversa (DegRevLex), ou seja, se nenhuma ordem monomial for colocada no comando, o CoCoA utilizará a ordem lexicográfica reversa. Para ordem lexicográfica graduada use DegLex. • Q[x[1..8]]; – indeterminadas indexadas. • S::= Q[x,y]; – armazena o anel na variável S. • Use S; – usa o anel armazenado em S. • Use S::= Q[x,y]; – armazena o anel na variável S e o usa. • Use Q[x,y,z]; – usa o anel que acabou de ser criado. • CurrentRing(); – exibe o anel em uso. A.1. INTRODUÇÃO AO COCOA A.1.2 63 Estruturas de Programação Seguem as sintaxes das estruturas de programação mais comuns. As palavras chave estão em tipewriter e, em itálico, descrevemos a classe de expressões que ocupam seu lugar. • If condições Then comandos EndIf; • If condições Then comandos Else comandos EndIf; • While condições Do comandos EndWhile; • For variável := inicial To final Do comandos EndFor; inicial e final são inteiros e se inicial > final, então o laço de repetição termina sem executar o(s) comando(s) de comandos. A.1.3 Lista de Comandos A seguir, listamos alguns comandos do CoCoA que utilizaremos para ilustrar os exemplos do que foi visto no Capı́tulo 2. Depois do nome do comando, segue a sintaxe, uma breve descrição e exemplos de sua utilização. Na sintaxe temos o comando e a descrição de seus argumentos. Os argumentos são variáveis, cujo tipo está indicado após o nome da variável. Tipos de variáveis que usaremos: POLY (polinômios), LIST de POLY (lista de polinômios), IDEAL (ideal), INT (inteiro) e RING (anel) DivAlg SINTAXE DivAlg(X:POLY,L:LIST de POLY) Esta função aplica o algoritmo da divisão sobre X com respeito a L, retornando dois campos: ‘Quotients’ com uma lista de polinômios e ‘Remainder’ com o resto da divisão de X por L. EXEMPLO Use R::= Q[x,y,z]; F := x^2y+xy^2+y^2; L := [xy-1,y^2-1]; DivAlg(F,[xy-1,y^2-1]); Record[Quotients = [x + y, 1], Remainder = x + y + 1] ------------------------------- A.1. INTRODUÇÃO AO COCOA 64 GBasis SINTAXE GBasis(M:IDEAL) Esta função retorna uma lista cujos componentes formam uma base de Gröbner de M com respeito a ordem monomial do anel corrente. Para um base de Gröbner reduzida, usamos o comando ‘ReducedGBasis’. O anel dos coeficientes necessita ser um corpo. EXEMPLO Use R ::= Q[t,x,y]; I := Ideal(t^3-x,t^4-y); GBasis(I); [t^3 - x, -tx + y, t^2y - x^2, x^3 - ty^2] ------------------------------GCD, LCM SINTAXE GCD(F_1:INT,...,F_n:INT) GCD(L:LIST de INT) LCM(F_1:INT,...,F_n:INT) LCM(L:LIST de INT) GCD(F_1:POLY,...,F_n:POLY) GCD(L:LIST de POLY) LCM(F_1:POLY,...,F_n:POLY) LCM(L:LIST de POLY) Estas funções retornam, respectivamente, o máximo divisor comum e o mı́nimo divisor comum de F 1,...,F n ou os elementos na lista L. Para o cálculo do MDC e do MMC de polinômios, o anel dos coeficientes precisa ser um corpo. EXEMPLO Use R ::= Q[x,y]; F := x^2-y^2; G := (x+y)^3; GCD(F,G); x + y ------------------------------LCM(F,G); 1/4x^4 + 1/2x^3y - 1/2xy^3 - 1/4y^4 ------------------------------4It = (x+y)^3(x-y); TRUE A.1. INTRODUÇÃO AO COCOA 65 ------------------------------GCD(3*4,3*8,6*16); 12 ------------------------------GCD([3*4,3*8,6*16]); 12 ------------------------------Hilbert SINTAXE Hilbert(R:RING) Hilbert(R:RING,N:INT) A primeira forma desta função calcula a Função de Hilbert de R. A segunda forma calcula o N-ésimo valor da Função de Hilbert de R. O anel dos coeficientes precisa ser um corpo. EXEMPLO Use R ::= Q[t,x,y,z]; Hilbert(R/Ideal(z^2-xy,xz^2+t^3)); H(0) = 1 H(1) = 4 H(t) = 6t-3 for t >= 2 ------------------------------Hilbert(R/Ideal(z^2-xy,xz^2+t^3),2); 9 ------------------------------Ideal SINTAXE Ideal(P_1:POLY,...,P_n:POLY) Ideal(L:LIST de POLY) A primeira forma retorna o ideal gerado por P 1,...P n e a segunda forma o ideal gerado pelos polinômios em L. EXEMPLO Use R ::= Q[x,y,z]; I := Ideal(x-y^2,xy-z); I; Ideal(-y^2 + x, xy - z) ------------------------------- A.1. INTRODUÇÃO AO COCOA 66 L := [xy-z,x-y^2]; J := Ideal(L); I = J; TRUE ------------------------------LC SINTAXE LC(F:POLY) Esta função retorna o coeficiente lı́der de F com relação a ordem monomial do anel que F pertence. EXEMPLO Use R ::= Q[x,y]; LC(x+3x^2-5y^2); 3 ------------------------------LM SINTAXE LM(P:POLY) Cuidado, esta função retorna, pela nossa teoria, o termo lı́der de P e não o monômio lı́der, ou seja, o monômio e o coeficiente lı́deres. Para obter o monômio lı́der, veja o comando LT. EXEMPLO Use R ::= Q[x,y]; LM(3x^2y+y); 3x^2y ------------------------------LT SINTAXE LT(E:IDEAL ou POLY) Se E é um polinômio, esta função retorna o monômio lı́der (e não o termo lı́der!) do polinômio E com respeito a ordem monomial do anel corrente. Se E é um ideal, esta função retorna o ideal gerado pelos monômios lı́deres de todos os elementos de E. Para obter o termo lı́der, veja o comando LM. EXEMPLO A.1. INTRODUÇÃO AO COCOA 67 Use R ::= Q[x,y,z]; -- a ordem monomial padr~ ao é a DegRevLex LT(y^2-xz); y^2 ------------------------------Use R ::= Q[x,y,z], Lex; LT(y^2-xz); xz ------------------------------Use R ::= Q[x,y,z]; I := Ideal(x-y,x-z^2); LT(I); Ideal(x, z^2) ------------------------------NF SINTAXE NF(F:POLY,I:IDEAL) Esta função retorna a forma normal de F com respeito a I. Também computará uma base de Gröbner de I se uma tal base ainda não tiver sido computada. O anel dos coeficientes precisa ser um corpo. EXEMPLO Use R ::= Q[x,y,z]; I := Ideal(z); NF(x^2+xy+xz+y^2+yz+z^2,I); x^2 + xy + y^2 ------------------------------ReducedGBasis SINTAXE ReducedGBasis(I:IDEAL) Esta função retorna uma lista cujas componentes formam a Base de Gröbner Reduzida de I com respeito à ordem monomial do anel corrente. O anel dos coeficientes precisa ser um corpo. EXEMPLO Use R ::= Q[t,x,y,z]; ReducedGBasis(I); [t^3 - x, tx - y, ty - z, y^2 - xz, x^2 - tz, t^2z - xy] ------------------------------- A.2. EXEMPLOS 68 Use SINTAXE Use N:RING ’Use’ é o comando usado para tornar um anel ativo. O comando Use N ::= E; onde E é um anel é o meio prático para N ::= E; Use N; EXEMPLO Use S ::= Q[x,y,z]; ------------------------------T::= Z/(3)[a,b]; Use T; CurrentRing(); Z/(3)[a,b] ------------------------------- A.2 Exemplos Utilizaremos o CoCoA para computar A.2.1 Exemplo 2.8 - Algoritmo da Divisão Utilizando K = Q, dividiremos f = xy 3 z 2 + xyz 2 por f1 = xy − 1 e f2 = yz 2 − 1: Use S::=Q[x,y,z],Lex; DivAlg(x*y^3*z^2+x*y*z^2,[x*y-1,y*z^2-1]); Record[Quotients = [y^2z^2 + z^2, y], Remainder = y + z^2] ------------------------------Obtendo o resultado esperado. Agora mudamos a ordem da divisão, ou seja, dividiremos f = xy 3 z 2 + xyz 2 por f2 = yz 2 − 1 e f1 = xy − 1: Use S::=Q[x,y,z],Lex; DivAlg(x*y^3*z^2+x*y*z^2,[y*z^2-1,x*y-1]); Record[Quotients = [xy^2 + x, y], Remainder = x + y] ------------------------------Novamente com o resultado esperado. A.2. EXEMPLOS A.2.2 69 Exemplo 2.26 No Exemplo 2.26 ilustramos o algoritmo de Buchberger calculando uma base de Gröbner para I = hf1 , f2 i = hx3 − 2xy, x2 y − 2y 2 + xi. Em alguns casos, o processo para de verificação pode tornar-se inviável devido o número de cálculos que serão exigidos. No exemplo em questão, não tı́nhamos verificado que o resto da divisão de S(fi , fj ), para i = 1, 2, 3, 4 e j = i + 1, . . . , 5 por G0 = {f1 = x3 − 2xy, f2 = x2 y − 2y 2 + x, f3 = −x2 , f4 = −2xy, f5 = −2y 2 + x} é zero. Seguem os comandos e o resultado obtido, garantindo que todos os restos são nulos. Use S::=Q[x,y]; F:=[x^3-2*x*y,x^2*y-2*y^2+x,-x^2,-2*x*y,-2y^2+x]; I:=Ideal(x^3-2*x*y,x^2*y-2*y^2+x,-x^2,-2*x*y,-2y^2+x); PrintLn(’ ’); For K := 1 To 4 Do For J := K+1 To 5 Do A:=(LCM(LT(F[K]),LT(F[J]))/LM(F[K]))*F[K] (LCM(LT(F[K]),LT(F[J]))/LM(F[J]))*F[J]; PrintLn(’S(F[’,K,’],F[’,J,’])) = ’,A); B:=NF(A,I); PrintLn(’FN(S(F[’,K,’],F[’,J,’])) = ’,B); PrintLn(’ ’); EndFor; EndFor; Print(’Onde FN indica a forma normal com respeito ao ideal I.’); ------------------------------S(F[1],F[2])) = -x^2 FN(S(F[1],F[2])) = 0 S(F[1],F[3])) = -2xy FN(S(F[1],F[3])) = 0 S(F[1],F[4])) = -2xy^2 FN(S(F[1],F[4])) = 0 S(F[1],F[5])) = 1/2x^4 - 2xy^3 FN(S(F[1],F[5])) = 0 S(F[2],F[3])) = -2y^2 + x FN(S(F[2],F[3])) = 0 S(F[2],F[4])) = -2y^2 + x FN(S(F[2],F[4])) = 0 S(F[2],F[5])) = 1/2x^3 - 2y^3 + xy A.2. EXEMPLOS 70 FN(S(F[2],F[5])) = 0 S(F[3],F[4])) = 0 FN(S(F[3],F[4])) = 0 S(F[3],F[5])) = 1/2x^3 FN(S(F[3],F[5])) = 0 S(F[4],F[5])) = 1/2x^2 FN(S(F[4],F[5])) = 0 ------------------------------Onde FN indica a forma normal com respeito ao ideal I. ------------------------------- A.2.3 Exemplos 2.35 e 2.51 Vimos nos Exemplos 2.35 e 2.51 que a função de Hilbert de R = ½ H (R, i) = K[x, y, z] é dada por hxy, xz, yzi 1, i = 0 3, i ≥ 1. Seguem os comandos e o resultado obtido utilizando o WinCoCoA, com K = Q: Use S::=Q[x,y,z]; I:=Ideal(x*y,x*z,y*z); R:=S/I; Hilbert(R); H(0) = 1 H(t) = 3 for t >= 1 ------------------------------- 71 Referências Bibliográficas [1] Atiah, M. F. & MacDonald, J. G., Introduction to Commutative Algebra, Adson-Weasley, Reading, 1969. [2] Eisenbud, D., Commutative Algebra with a View Toward Algebraic Geometry, Graduate Texts in Mathematics 150, Springer-Verlang, New York, 1994. [3] Kunz, E., Introduction to Commutative Algebra and Algebraic Geometry , Birkhäuser Boston, 1985. [4] Cox, D. & Little, J. & O’Shea, D. Ideals, Varieties and Algorithms, Undergraduate Texts in Mathematics, Springer-Verlag, 1991. [5] Bruns, W. & Herzog, J., Cohen-Macaulay rings, Cambridge University Press 39, 1993. [6] Cox, D. & Little, J. & O’Shea, D. Using Algebraic Geometry, Graduate Texts in Mathematics, Springer, 1998. [7] Simis, A., Combinatória Algébrica, Impa, Rio de Janeiro, 1991. [8] Becker, T., Weispfenning, V., Kredel, H., Gröbner Bases - A Computational Approach to Commutative Algebra, Graduate Texts in Mathematics, Springer-Verlag, New York, 1993.