Formação dos Leitores.
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Formação dos Leitores.
REFLEXÕES DO FORMADOR Formação de leitores Revista avisa lá Julho de 2004 por onde começar 24 O QUE É SER LEITOR? COMO CRIANÇAS NÃO ALFABETIZADAS PODEM LER UM TEXTO? ESSAS SÃO AL- prática que devemos provocar, para que possamos ver transformadas as ações que se realizam junto GUMAS DAS PERGUNTAS QUE FORAM DISCUTIDAS às crianças nas instituições educativas. NO ENCONTRO DE FORMAÇÃO QUE VOCÊ VAI CO- planejamento de um encontro dentro de um NHECER A SEGUIR projeto de formação em serviço que articula os Esse foi um dos desafios que norteou o conteúdos desenvolvidos da formação às reais POR SILVANA AUGUSTO 1 Veja como a resolução de problemas e a análise de situações homólogas de leitura ajudam o professor a construir novas práticas educativas no campo da alfabetização inicial necessidades que o planejamento pedagógico coloca aos professores, o que é totalmente diferente dos cursos rápidos ou palestras que apenas apresentam aos professores muitos conteúdos, deixando-lhes a difícil tarefa de transpor A tualmente convivemos com muitas pro- esses conhecimentos para a prática. Compartilho postas de formação de professores. No a seguir nossas reflexões. Brasil, são 328.093 professores de Edu- cação Infantil espalhados por todo o país, sepa- 1 Contexto da formação rados por grandes distâncias. Diante disso, todas Durante dois anos desenvolvemos a formação as iniciativas são bem-vindas: formação a distân- de dois grupos de educadores de creches das cia, seminários, projetos especiais etc. Mas não se zonas sul e oeste da cidade de São Paulo2. Nos pode esquecer, contudo, de um princípio que deve encontros de formação mensais, reuníamos todos orientar as ações formativas: é a reflexão sobre a os educadores e coordenadores pedagógicos pa- Formadora do Instituto Avisa-lá Programa Capacitar Educadores – Iniciativa: Instituto C&A. Responsabilidade Técnica: Instituto Avisa Lá. Débora Rana foi minha parceira durante os dois anos de duração deste projeto e é co-autora de todos os planejamentos, tanto dos encontros de formação quanto das supervisões realizadas durante esse período. 2 REFLEXÕES ra discutirmos aspectos ligados ao trabalho com para apreciar sua poesia ou para conhecer os as crianças. Uma supervisão mensal dava conti- hábitos e costumes do tempo em que ela foi es- nuidade ao trabalho dos educadores com apoio crita. Podemos ler uma notícia para buscar uma mais individualizado. Propúnhamos o desenvolvi- informação específica ou simplesmente para ter mento de alguns projetos definidos previamente uma idéia geral a respeito do assunto. Não é o de acordo com um diagnóstico do grupo. texto em si que move os leitores, mas sim seus Naquele semestre, as creches desenvolviam DO FORMADOR propósitos diante dele. projetos de pesquisa com vistas à produção da Além disso, também é preciso ter clareza dos Pequena Enciclopédia dos Animais, com capí- comportamentos leitores que se quer formar desde tulos produzidos pelas próprias crianças. Para cedo: como buscar informações e trocar impres- aprender mais sobre os animais, as crianças sões sobre o que se aprendeu a partir dos textos. deveriam pesquisar em muitos livros, procurar Definidos os conteúdos principais da for- informações específicas sobre o modo como mação dos professores naquele momento, parti- eles vivem, do que se alimentam etc. Os edu- mos para outras decisões metodológicas envol- cadores precisariam, portanto, planejar situ- vidas no planejamento. suas competências e o que elas ainda poderiam Decisões metodológicas Para tratar do assunto, propusemos um necessário aos educadores, o que apoiaria seu problema que seria resolvido pelos educadores. trabalho? Mas não qualquer problema, pois sua escolha Sabe-se que considerar como conteúdo de teria conseqüências importantes para os resul- alfabetização apenas os aspectos formais da es- tados que se pretendia atingir. Uma boa situação- crita, enquanto objeto de conhecimento, ou a di- problema deve reunir algumas condições espe- versidade de textos que se pode conhecer, não cíficas. Para Delia Lerner, “deve ter sentido no Revista avisa lá aprender. Qual seria, então, o conhecimento Julho de 2004 ações de pesquisa pelas crianças, considerando assegura que as crianças usufruam da leitura. Se campo de conhecimento dos alunos, porém não 25 quisermos formar crianças leitoras, precisaremos deve ser resolúvel só a partir dos conhecimentos adotar uma outra perspectiva de trabalho que que as crianças já possuem. Em outras palavras, considere a interação que o sujeito pode estabelecer nas dimensões social (interpessoal, pública) e psicológica (pessoal, privada). Para a pesquisadora argentina Delia Lerner, os conteúdos nesta Dicas de leitura nova perspectiva são os próprios comportamentos leitores (veja box) envolvidos nos diferentes propósitos de leitura. Como tornar observável tais aspectos do ensino da língua aos professores? Como apoiá-los no planejamento de boas situações de leitura para crianças que ainda não são leitoras convencionais? Para planejar momentos de leitura é preciso, antes de mais nada, reconhecer os propósitos leitores envolvidos nessa atividade. Sabe-se que o que se lê depende dos olhos de quem lê. É possível, por exemplo, ler uma letra de música REVISTAS ESPECIALIZADAS em viagens trazem informações interessantes lugares de todo mundo, e são úteis numa atividade como a que apresentamos aqui Caminhos da terra é uma publicação da Editora Peixes, tel: nonononon REFLEXÕES DO FORMADOR Comportamento para compreender melhor, iden- leitores tificar-se com o autor ou distanciarse dele assumindo uma posição crítica, adequar a modalidade de “Entre os comportamentos do intenções implícitas nas manchetes leitura — exploratória ou exaustiva, leitor que implicam interações com de certo jornal... Entre os mais pausada ou rápida, cuidadosa ou outras pessoas acerca dos textos, privados, por outro lado, encontram- descompromissada... encontram-se, por exemplo, as se- se comportamentos como: antecipar propósitos que se perseguem e ao guintes: comentar ou recomendar o o que segue no texto, reler um texto que se está lendo...” que se leu, compartilhar a leitura, fragmento anterior para verificar o 26 u, quando se detecta aos uma (Ler e Escrever na Escola – O interpretações geradas por um livro incongruência, saltar o que não se Real, o Possível e o Necessário, Delia ou uma notícia, discutir sobre as entende ou não interessa e avançar Lerner, pág. 62) uma situação problemática tem de permitir que viamente por nós: Salem, sul da Patagônia, os alunos ponham em prática os esquemas de Jalapão, Pirenópolis e sertão da Paraíba. A pro- assimilação que já construíram e interpretam-na posta era desafiadora porque os lugares esco- a partir dos mesmos, porém estes conhecimentos lhidos eram pouco conhecidos, exigindo que os prévios não devem ser suficientes para resolvê-la: educadores acionassem seus conhecimentos pré- a situação deve exigir a construção de novos vios e levantassem hipóteses na tentativa de re- conhecimentos ou de novas relações entre os já solução desse problema. Será que levariam bi- elaborados. Também é conveniente que o pro- quíni? Roupa de frio? Será que se programariam blema seja rico e aberto, que coloque os alunos para passear em shoppings? Que informações diante da necessidade de tomar decisões que lhes usariam para tomar as decisões? permitam escolher procedimentos ou caminhos diferentes (Douady, 1986; Inhelder, 1992) ”. 3 Num segundo momento, dando continuidade à reflexão, os grupos poderiam consultar re- Então, propusemos aos educadores a vivên- vistas de turismo, suprindo assim a necessidade cia de uma situação de leitura homóloga a tantas de saber mais. Como usariam essas revistas? O outras que proporíamos às crianças no desen- que procurariam? Que tipo de informação bus- volvimento dos diferentes projetos. Escolhemos cariam? Usariam mais as informações dos textos um problema que colocava os educadores diante da própria prática de leitura: dissemos que todos EM SUB-GRUPOS, os educadores discutem a proposta feita pela formadora ganhariam viagens para algum lugar do mundo, com tudo pago, incluindo as compras de souvenir. Mas para isso teriam de tomar, às pressas, três providências: decidir dia e horário de partida e de retorno e o que levar na bagagem e deveriam elaborar um roteiro de passeios. Subdividimos os grupos para que houvesse maior interação. Cada grupo foi sorteado com um dos cinco lugares do mundo escolhidos pre- 3 Delia Lerner.O Ensino e o Aprendizado Escolar. Piaget-Vigotsky. Novas contribuições para o debate. pág. 88. Editora Ática. Rosimeire Rodrigues Revista avisa lá Julho de 2004 confrontar com outros leitores as — REFLEXÕES ou das imagens? Estas são questões interessantes – A gente não sabe onde é, tem que levar roupa porque refletem os conflitos que um leitor real de tudo, de verão, de inverno, um kit higiênico ... – encontra quando busca uma informação específica. completou a colega, cismada com a Nos interessava explicitar os comportamentos que incerteza. costumam aparecer nessas situações. Como se – Mas, Oriente Médio! É lá tratava de uma situação real de leitura, foi possível onde está acontecendo a guerra! que – lembrou a outra. explicitassem que conhecimentos didáticos poderiam derivar de um – Melhor olhar no mapa, cadê evento como esse em que a leitura não era do tipo o mapa, Nívea? – sugeriu Daniela, escolarizado, isto é, sem finalidade formal. já convocando a necessidade de ler para saber mais. Um problema para resolver Como se tratava de uma situação real de leitura, foi possível que os Nívea foi até seu armário e O grupo de educadores, animado e festeiro trouxe um pequenino globo, onde em qualquer situação, com esse convite ficou em procurava, naqueles minúsculos polvorosa. Em meio às risadas e trocas de nomes, um lugar chamado Salem olhares e piadas, todos se envolveram na no mapa do Oriente. Depois de um atividade, desafiados pelo problema: como longo tempo, já desistindo da tomar decisões sobre algo que não se conhece? empreitada, Dani lembrou: Como as pessoas pouco sabiam a respeito – Não, meninas, isso não vai daqueles lugares, discutiam e procuravam dar certo porque no globo só estão articular informações dispersas que vinham à os nomes dos países, no máximo mente com uma dose de imaginação, lançando tem as capitais, mas e se Salem for algumas hipóteses: uma cidade? Não vai ter o nome aí. educadores explicitassem que conhecimentos didáticos poderiam derivar de um evento como esse – É. Mas é nas Arábias – – Salem? Onde é? Existe? Mas a gente nem sabe onde é, nem sabe o que levar ... – dizia concordou Nívea. – Então vamos nos arrumar para ir para lá. Daniela, numa aflição só. – Eu já ouvi falar, acho que é no Oriente Médio. Salim, Salem ... deve ser lá para os lados das Arábias! – associou Nívea. A articulação de antigas informações Enquanto isso, o grupo que viajaria para o sul da Patagônia rapidamente organizou uma mala imaginária com vestidos para ir ao cassino, sapatos de salto para dançar numa boa casa noturna, maquiagem, maiôs e protetor solar. Verdadeiras Férias! No grupo de Pirenópolis, encontramos participantes com outros conhecimentos: Lisa se lembrou que o lugar é citado na música de uma dupla sertaneja. A letra da música trouxe pistas mais seguras e logo imaginaram que poderia haver um rodeio ou um leilão de gado. A turma que viajaria para o sertão da Paraíba teve que agüentar a panfletagem de Socorro, uma nordestina convicta e orgulhosa de suas origens. A princípio, suas colegas estavam desgostosas porque Julho de 2004 educadores FORMADOR Revista avisa lá os DO 27 REFLEXÕES DO FORMADOR imaginavam que no sertão só encontrariam seca e eles mesmos na busca de uma informação miséria, calango e cáctus. Mas Socorro insistia em específica. dizer que a terra era boa e que poderiam fazer programas Com essa ótimos. Mesmo assim, Depois da leitura, os grupos poderiam, de ninguém posse das novas informações, acrescentar coisas, acreditou, julgando ser mais uma de mudar suas decisões, justificando a partir do que suas brincadeiras. O máximo que descobriram. Socorro conseguiu convencer é que experiência puderam tomar deveriam se preparar para o forró, levando triângulo embora Helena e zabumba, insistisse na necessidade de levar estilingue: consciência do papel que o Revista avisa lá Julho de 2004 conhecimento prévio e a informação ocupam em nossas vidas Ler para aprender o que interessa O grupo do Jalapão não teve grandes surpresas. Como já sabiam um pouco mais, ao ler a matéria só confirmaram as informações trazidas pelo colega e apreciaram as maravilhosas pai- – Ah, sei lá, vai que eu tô lá sagens, tal como ele havia descrito. Um encanto perdida no deserto ... – disse só. E com essa experiência puderam tomar Helena. consciência do papel que o conhecimento – É, de repente pode vir uma prévio e a informação ocupam em nossas vidas. ave de rapina e pular no seu Reconheceram como é possível aprender em pescoço. Pode aparecer um chupa- tantos lugares além da creche ou da escola e cabras, um ET! – provocou Soco- como faz diferença trabalhar em grupo e poder rro, fazendo menção às pedras contar com saberes de seus pares. onde se encontram inscrições que Os demais grupos, como não possuíam tan- alguns estudiosos juram ser de ori- tas informações como o grupo do Jalapão, ti- gem desconhecida, quem sabe de veram um confronto maior. Em cada grupo uma extraterrestres. nova mudança, uma reestruturação, a começar pelos viajantes para Salem: 28 E, finalmente, no grupo do Jalapão, encontramos um integrante informado que assistira recentemente um documentário na televisão sobre, justamente, o Jalapão: maravilhosa paisagem, lindas cachoeiras, um lago encantado onde ninguém afunda, caminhadas na mata e muito mais, no Paraíso de Tocantins. Quando todos já tinham muitas questões e sabiam de que informações precisavam para terminar a tarefa, retomaram as decisões sobre a viagem a partir das revistas de turismo distribuídas previamente, que traziam artigos sobre aqueles lugares. O propósito dessa leitura es- – Salem é na América!!! Olha só, Estados Unidos! – Não acredito! Não tem sultão? A gente não vai mais casar no harén? – Poxa! A cidades das bruxas, como no filme, As Bruxas de Salem, como eu não me lembrei disso? – disse Michele. – Mas então existem as bruxas de Salem? – Existem, olha aqui! Tem até museu de bruxas, as pessoas vão ao cemitério à noite! – Cruz credo, eu, heim! Vamos trocar os vestidos por capas pretas e crucifixos! tava claramente colocado pelo problema, pois – É, não vai mais precisar levar roupa de cada grupo sabia exatamente o que deveria pro- tudo. Rose, sua filha que foi para os Estados curar nos artigos. Nos restava, então, observar Unidos, que temperatura tá fazendo lá nessa e, depois, explicitar os tantos modos usados por época? – perguntou Daniela, relacionando os REFLEXÕES saberes presentes entre suas colegas, procu- partida, mesmo quando sabemos pouco sobre rando novas fontes de informação para além do um conteúdo específico. texto, como estratégia de complementar o que já sabiam. DO FORMADOR A turma que leu sobre o sul da Patagônia mudou consideravelmente suas decisões iniciais a partir das imagens e dos textos a que tiveram acesso: encontram para resolver os problemas que lhes – Mas é só isso? Ô, Silvana! – disse Solange são colocados. Michele, por exemplo, ao lembrar indignada. – Não pode trocar, não? Olha isso tardiamente do nome do filme, As Bruxas de aqui, o sul da Patagônia é só uma rua! Um frio de Salem, nos brinda com um exemplo de como um rachar, e só tem baleias para ver. Não tem mais dado novo pode ressignificar uma antiga in- nada! Só estação de pesquisa. E eu achando que formação que estava distante, porém, não ia para festas, cassinos, bares, restaurantes, esquecida. E Nívea, em outro grupo, ao associar bailes ... podemos trocar os sapatos de salto, os vestidos todos por baralho e jogos, que é só isso que vai ter para fazer à noite. Nem precisa ficar lugar da correspondência com a informação que, uma semana inteira! Dois dias já tá bom, já dá naquele momento, ela ainda não tinha. Esses para ver bastante baleia, o que a gente vai ficar casos ilustram como conhecer pode ser uma fazendo lá? Se não pode trocar de viagem, pelo experiência tão generosa e acessível: sempre é menos vamos alugar um jipe para conhecer possível pensar, a partir de inúmeros pontos de outros lugares na Argentina. Revista avisa lá o nome Salem a Salim, traz a correspondência por assonância, usual entre os pequenos, no Julho de 2004 A experiência dos educadores deste grupo explicitou algumas das saídas que as crianças Na creche como na vida 29 Nossas intenções formativas se processo que propõe faz um apelo à efetivaram naquele encontro não por reflexão e exige do formador uma causa da brincadeira de viajar, arrumar extraordnária capacidade de interp- as malas, fazer os roteiros etc., mas, retação, compreensão do outro e sobretudo, pelas discussões geradas capacidade de questionamento”. 3 em virtude da análise da situação Assim, nas discussões presentes vivenciada, como sugerem Alarcão e em todos os momentos, desde o Schön. A problematização da situação trabalho de subgrupos até o fecha- homológica exige do formador ir além mento da atividade, ajudávamos o do vivido, do simples exemplo, como grupo a elaborar uma dupla concei- lembra Isabel Alarcão: “...a estratégia tualização: pensar a respeito de seus homológica – proposta por Schön sob próprios a metafórica designação de hall of aprender sobre leitura e os conheci- mirror – não consiste em criar no mentos referentes às condições formando uma vivência semelhante a didáticas necessárias para que as outras que deverá proporcionar às crianças pudessem se apropriar das pessoas com quem vai interagir; o práticas de leitura. comportamentos para Rosimeire Rodrigues A análise de situações homológicas contribuindo para a reflexão do professor NNO NO ONO ONO no ono ono no ono ono on ono ono noonooono no ono ono on ono ono noonoo REFLEXÕES DO FORMADOR Já o grupo premiado com passagens para a Paraíba, descobriu um sertão totalmente dife- Chegamos perto. Não tem rodeio, mas podemos ver essa festa, a cavalhada. – É, então é melhor trocar o dia da nossa rente, como já dizia Socorro: viagem, quando é a festa? Lê de novo aí – disse – Olha aqui a Paraíba, minha terra querida, um componente do grupo explicitando a in- não falei que era ótimo! É o melhor lugar! Olha aqui terlocução do leitor atento com o texto a praia, não falei que era perto, a gente pode alugar informativo. um jipe! Olha aqui, não é só desgraça não, só seca Ao final, depois das mudanças de rumos, Be- e sertão, tem forró!! Tem até cachoeiras. te e Daniela concluíram: Parte do roteiro de viagem do grupo foi alterado porque ninguém queria deixar de conhecer o parque dos dinossauros para ver as pegadas que ficaram marcadas naquele pedaço – Eu notei que todo mundo que ficou no Brasil, se deu melhor. – Olha! É verdade! Isso mesmo, vamos todos para as piscinas naturais do Jalapão, lá de sertão. Revista avisa lá Julho de 2004 todos nós seremos felizes – disse Daniela, se E, finalmente, os grupos sorteados com as despedindo de vez da vassoura de bruxa. viagens para Pirenópolis e Jalapão fizeram so- De maneira geral, os educadores afirmaram mente pequenos ajustes, pois as decisões que que foi gostoso aprender, saber onde ficam eles haviam tomado foram de fato confirmadas todos esses lugares e matar a curiosidade. No na leitura dos artigos, exigindo mudanças início da atividade, as pessoas pouco sabiam apenas na data da viagem. sobre o assunto em pauta, e por isso ficaram tão inseguras ao tomar as decisões. Concluíram – Olha, tem festa folclórica em Pirenópolis! que aprender amplia nossas experiências e que 30 Uma nova perspectiva da leitura uma bancada com livros, pôsteres e humano, as profissões etc., puderam repensar seus trabalhos. outros matriais portadores de bons Para além dos temas, apren- textos infomativos para que os edu- deram o que é mais importante: que cadores pudessem se inspirar, le- as crianças são capazes de pesquisar vantar idéias, exemplos de fontes de diretamente nos textos e que para informação e de assuntos que po- isso é preciso criar um bom contexto diam ser explorados pelas crianças. e definir os propósitos e as moda- Os educadores, sobretudo os que lidades de leitura que se quer que as tinham o hábito de trabalhar com os crianças aprendam, oferecendo sem- temas clássicos da escola tradicional, pre bons textos, boas fontes de como os meios de transporte, o corpo informação. Sheila Ao final do encontro, montamos NA CRECHE Na Sra. Aparecidaa leitura é um hábito incorporado com prazer pelas crianças REFLEXÕES esse sentido deve estar presente no trabalho ganização das informações e a interação dos com as crianças. grupos no trabalho coletivo. O sentimento de A exemplo do que acontece com os adul- realização, a alegria pela resolução dos pro- tos, nessa nova perspectiva de leitura, o que as blemas e a curiosidade por aprender ao final crianças descobrem e aprendem é o que diz da leitura, foram notáveis. Com respeito à modalidade de leitura que melhor se as crianças, ocorre o mesmo. aproxima do propósito leitor presente em sua Por isso, precisamos criar con- ação. Entre os educadores, por exemplo, al- textos, explicitar suas perguntas guns comportamentos puderam ser claramente e propor outras que sejam bons observados: raramente alguém partia dire- motivos tamente para o texto sem antes ver as imagens. leituras. para DO FORMADOR Se o livro é sempre do compartilhar professor e formam e antecipam muito do que será que as pessoas não leram o explicitado por meio das palavras. Essa obser- artigo inteiro, da primeira à úl- vação nos leva a pensar sobre como as tima linha: o título foi a única características do texto podem trabalhar a fa- parte do texto lida por todos. vor de determinados propósitos de leitura. O Algumas pessoas foram direto mesmo ocorre com as crianças: o texto que a- às legendas, outras escolheram presentamos a elas faz diferença na qualidade os boxes, etc. Com as crianças da leitura que elas poderão realizar. Imagens algo infantilizadas e empobrecidas podem levar que portanto, é importante que elas tipo de informação às crianças? Como elas po- também tenham acesso aos derão antecipar significados quando as ima- livros pesquisados: se o livro é gens não ampliam o que vão aprender e, sempre do professor e apenas muitas vezes, reforçam enganos e idéias pre- ele controla a leitura, des- conceituosas ou estereotipadas? É importante perdiçamos inúmeras oportu- escolher textos que possibilitem às crianças, nidades e descobertas das pró- leitoras não convencionais, esta primeira lei- prias crianças. Isso mudou to- tura, se antecipando ao professor. talmente a perspectiva do pla- semelhante apenas ele controla a leitura, desperdiçamos acontece, inúmeras oportunidades e descobertas das próprias crianças Voltando para a análise do que ocorreu nejamento dos educadores, que com o grupo, pode-se notar que ninguém lia os puderam, a partir deste en- artigos aleatoriamente, como fazemos com as contro e com o acompanha- revistas na sala de espera do dentista, por e- mento da supervisão, planejar boas opor- xemplo. Todos buscavam a mesma coisa, por tunidades de pesquisa e de leitura em todas as isso as descobertas eram compartilhadas com creches. Esse foi um investimento formativo interesse. Ao ler os diferentes artigos das revis- que chegou às crianças. tas de turismo, todos já sabiam o que estavam procurando: as informações necessárias para programar uma viagem a determinados lugares, desconhecidos do grupo: clima, localização, aspectos turísticos etc. Essa clareza facilitou não só a busca como também a or- FICHA TÉCNICA Programa Capacitar 9. Iniciativa: Instituto C&A. Responsabilidade Técnica: Instituto Avisa Lá. Julho de 2004 Por fim, pode-se perceber Revista avisa lá Isso ocorre porque também as imagens in- 31