táxis versus uber: um perfeito exemplo de resistência à

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táxis versus uber: um perfeito exemplo de resistência à
TÁXIS VERSUS UBER: UM PERFEITO
EXEMPLO DE RESISTÊNCIA À MUDANÇA
PROFESSORES DA ESCOLA DE NEGÓCIOS SUÍÇA IMD ENUMERAM, NUM ARTIGO, AS
CARACTERÍSTICAS COMUNS ENTRE OS TAXISTAS - "QUE TENTAM COLOCAR FREIOS INÚTEIS
NA INOVAÇÃO" - E AS MAIORES EMPRESAS DA HISTÓRIA QUE DESAPARECERAM. E O QUE A
SUA EMPRESA TEM A VER COM ISSO
14/09/14
CYRIL BOUQUET, PROFESSOR DO IMD: LEGISLADORES DEVERIAM PROTEGER O
CONSUMIDOR E NÃO INDÚSTRIAS EM DECLÍNIO (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Em diversas cidades do mundo, uma batalha feia está acontecendo entre as
empresas de táxi "tradicionais" contra a nova forma de competição do Uber e
outros prestadores de serviços de compartilhamento.
O novo modelo de negócio nem mais é novidade: por meio de um aplicativo no
celular, usuários podem encontrar e reservar carros próximos a onde estão, em
minutos. De Los Angeles a Sidney e Cingapura, esses serviços estão sacudindo o
negócio dos táxis e encontrando muita resistência. Historicamente, os táxis
lutaram por seu lugar no espectro do transporte urbano por meio de greves e
paralisando cidades como Londres e Paris, deixando hordas de passageiros
isolados. Mas a resistência do setor de táxis à ascenção do Uber e serviços
similares são tentativas fúteis de colocar freios na inovação.
A revista "Fortune" compilou a lista das 100 maioes empresas de 1900 até hoje e
apenas uma está no mesmo ramo de negócios: a Ford. Quinze outras ainda
existem, mas suas atividades evoluíram drasticamente. Todas as outras se
foram. As que desapareceram era líderes em seus mercados e têm três coisas em
comum com os taxistas:
1. Prisioneiros do sistema
O mundo está mudando rápido, com novas tecnologias, com sistemas de
transporte mais caros e congestionados e novas expectativas dos consumidores.
Pode ser muito rápido para a indústria de táxis tradicional, que poderia preferir
mais estabilidade. Agora, foi lançada uma cruzada para defender seus interesses
e evitar a reforma de um sistema ultrapassado, muitas vezes monopolista e
excessivamente regulamentado. Taxistas reclamam da "ilegalidade" do Uber,
dizendo que seus motoristas não tem permissão oficial para o serviço e não
podem cobrar pela quilometragem, uma vez que não têm taxímetros. Esse é um
exemplo perfeito de competidores sendo prisioneiros de um velho jeito de
pensar e arraigados na defesa de um sistema velho.
2. Presos na negação
Longas esperas, motoristas rudes, carros desconfortáveis e falta de
transparência nas rotas: as deficiências dos táxis tradicionais são exatamente o
motivo de os novos serviços de compartilhamento de carros prosperarem.
Travis Kalanick, 37, fundador do Uber, diz que a ideia de sua empresa nasceu
em Paris, quando ele não conseguia encontrar um táxi, uma experiência muito
típica. Na internet, comentários negativos sobre os táxis são abundantes. "Os
taxistas deveriam estar servindo seus clientes, não aos legisladores", é uma das
queixas comuns. Até agora, as companhias de táxi parecem ignorar as soluções
simples que os clientes querem.
Numa entrevista recente ao "Financial Times", um taxista londrino disse:
"Estamos aqui muito antes do Uber e estaremos aqui muito depois". Essa
negação impressiona. A luta das empresas de táxi não significará nada se, no
fim, perderem a guerra.
O pior é que os legisladores estão apoiando a resistência das empresas de táxi. A
Alemanha acaba de banir o serviço. Um proeminente político socialista francês
Thomas Thévenoud entregou um relatório denunciando as práticas do Uber ao
primeiro-ministro Manuel Valls, com propostas para resolver a crise do
compartilhamento de caronas. Elas incluíam o banimento do aplicativo que
ajuda os usuários a encontrar o serviço de compartilhamento.
Mas os legisladores deveriam proteger o consumidor e não indústrias em
declínio. Depois dos protestos de taxistas em Londres, em Junho, o Uber
registrou o crescimento de 850% em número de novos usuários. Isso prova que
os segredos do sucesso de ontem, não serão os mesmos amanhã.
3. Não inovar
Quando o jornalista do "Financial Times" perguntou ao mesmo taxista londrino
quais as razões para o sucesso do Uber, ele respondeu: "Não tenho ideia; deve
ter a ver com o preço". Os preços do Uber são mais baratos do que os dos táxis
normais e mudam de acordo com oferta e demanda. Mas não é a razão principal
do sucesso do Uber. Ele está dando certo porque responde à necessidade dos
clientes e oferece uma experiência única e inovadora.
Enquanto as empresas de táxi estão na defensiva, o Uber continua a inovar. O
serviço anunciou que logo passará a oferecer viagens com helicópteros - o
tranporte multimodal no estilo Uber. Os investidores perceberam: a empresa é
avaliada em US$ 17 bilhões, depois de um fluxo de investimentos em junho.
Em vez de focar em como podem responder às novas necessidades dos clientes,
as empresas de táxi desenharam estratégias para continuar com os negócios
como o usual. Alguns recemente introduziram soluções de pagamentos móveis,
mas vamos esperar que seja apenas o primeiro passo em mudanças mais
significativas.
Como as empresas de táxi, muitos negócios em outros setores estão se
adaptando a novos desafios de maneira lenta. Eles não vêem as mudanças que
acontecem em volta e acham que o sucesso é garantido graças à posição
histórica em suas indústrias. É reconfortante e tranquilizador no curto prazo,
mas perigoso no longo. Se se recusarem a inovar, irão rapidamente ficar para
trás.
(*) Cyril Bouquet é professor de estratégia da escola de negócios suíça IMD.
Chloé Renault é pesquisadora e trabalha em transformação e inovação
organizacional.

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