condições para uma escolarização oportuna dos escolares com

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condições para uma escolarização oportuna dos escolares com
CONDIÇÕES PARA UMA ESCOLARIZAÇÃO
OPORTUNA DOS ESCOLARES COM
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
DR. GUILLERMO ARIAS BEATÓN [email protected]/ [email protected]
CÁTEDRA L.S.VYGOTSKI. FACULDADE DE PSICOLOGIA
UNIVERSIDADE DE HAVANA
RESUMO
O propósito deste trabalho está em demonstrar que se justifica que os escolares com deficiência intelectual
devem e podem ter uma escolarização como os demais escolares, dado que desde o século XVII postula-se que
todas as pessoas podem aprender a ler, a escrever e a calcular e aprender em outros casos de maior
complexidade, como a prática educacional assim o demonstra. Além disso postula-se, desde o históricocultural, comprovado pela prática pedagógica de vários países, que os deficientes intelectuais desenvolvem-se
de acordo com as mesmas leis gerais válidas para os demais escolares, sendo necessário empregar outras
formas de ensino e de educação paraconseguir que sejam capazes de aprender, quando o processo de
escolarização organiza-se e é realizado de acordo com as características e necessidades deste tipo de escolar.
Serão indicadas as condições concretas exigidas para conseguir o desenvolvimento necessário de modo que a
escolarização destes escolares tenha a qualidade necessária e alcançar propósito tão importante.
PALAVRAS-CHAVE: Deficiente intelectual – Histórico-cultural – Inclusão educação especial.
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Comenius assinalou, no século XVII, de modo conceitual e generalizado para a
Pedagogia, que todos os seres humanos podem e devem aprender, ou seja, ser
educados e ensinados. Sem dúvida segue, com suas palavras, a vocação prática e
profundamente humanista produzida no século XVI, por meio do Renascimento
revolucionário, quando Ponce de León ensinou surdos a ler e falar. Na mesma data e
dadas as influencias existentes, De L´Epée cria a primeira escola para surdos do mundo
em Paris e, mais tarde Hüey, seguindo estes passos, cria também em Paris, uma
primeira escola para ensinar cegos a ler e escrever. Eles se opunham, desde sua
práticas pedagógicas, às ideias aristotélicas de que estas pessoas eram incapazes de
aprender como os demais (ARIAS, 2005).
João Amos Comenius (1991) escreve, com grande clareza e eloquência, na
Didáctica Magna que os que apresentam algum tipo de déficit biológico como são os
cegos, surdos e atrasados, devem ser também incorporados ao ensino. Sendo
entendido que do ensino humano não se exime ninguém... porque ao participar da
natureza humana, devem participar também da cultura. Quando a natureza não pode
apoiar-se suficientemente a si mesma, devido a seu defeito interno, a necessidade da
ajuda externa se faz muito mais urgente e necessária. Que especialmente quando a
natureza, se foi impedida de desenvolver seu vigor em algum aspecto, o desenvolverá
em outro, na medida da ajuda que receba(COMENIO, 1991).
Atualmente os surdos cegos que além destas condições, não adquirem a
linguagem falada, como um produto secundário desses déficits e como consequência
de erros da mãe natureza ou da cultura humana; não só aprendem a ler e a escrever,
mas também alcançam desenvolvimentos intelectuais, afetivos e volitivos, em resumo
de toda sua personalidade, que são análogos aqueles das pessoas videntes e ouvintes,
quando recebem uma educação organizada de acordo com
suas características,
podendo atuar plenamente na vida social, profissional e pessoal.
Estes são apenas dados teóricos e empíricos favoráveis que nos permitem
afirmar que a educação e as formas pedagógicas de realizar a educação, produzidas
pela cultura humana ao longo da história da sociedade não só são essenciais para
produzir o desenvolvimento intelectual, afetivo e volitivo humano, mas também
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permitem corrigir e compensar os efeitos, no desenvolvimento psíquico, de uma
biologia prejudicada por causas diferentes, na formação de estruturas e
funcionamentos de modo inadequado. A educação, desta maneira, pode ser
identificada, desde o século XVI, como o meio cultural, criado pelo ser humano,que
permite retificar, corrigir ou compensar o que a natureza não consegue produzir
corretamente ou aquilo que a cultura humana prejudica, com seus defeitos e
insuficiências.Já faz muito tempo que se sabe que as alterações ou déficits da biologia
humana, no plano do genoma e do cérebro, podem ser corrigidas e compensadas por
meio de uma educação esmerada e de qualidade, planejada de acordo com as
características das pessoas que apresentam tais alterações. Como dizem atualmente
os biólogos progressistas, a biologia humana é suficientemente flexível para conseguir
estes resultados por meio da educação consequente.
Nesta perspectiva algumas questões aparecem como inevitáveis: Quais destes
déficits biológicos são mais prejudiciais? Quais deles não podem ser atendidos por
uma educação corretiva e compensatória? A deficiência intelectual será uma causa
muito mais difícil de atender do que a surdo-cegueira? O que poderia ser feito e que
condições deveriam ser asseguradas para conseguir corrigir e compensar os defeitos
de um prejuízo biológico que produz tal deficiência? Sobre estas questões
pretendemos tratar neste espaço oferecido pelo organizadores deste importante
evento. Muito obrigado por me proporcionar esta possibilidade.
Segundo nossa experiência e estudos realizados, a maior dificuldade da
deficiência intelectual em comparação com a cegueira, a surdez e a surdo-cegueira,
por exemplo, esta em sua natureza subjetiva, ou seja, que chegar a determinar
objetivamente a
existência da deficiência torna-se muito mais difícil e,
consequentemente a atenção dada a sujeitos com estas condições é demorada. Assim,
não se cumpre, muitas vezes, o princípio importante da atenção precoce aos possíveis
problemas secundários que o déficit biológico produz. A deficiência, na maioria dos
casos, somente consegue ser identificada, de modo mais objetivo, por volta dos seis ou
sete ou oito anos, o que de fato resulta tardio em termos do que se faz necessário
para estimular, promover, corrigir e compensar as alterações do desenvolvimento que
este tipo de déficit produz, desde que a criança o adquire.
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Este fato torna-se mais crítico porque no Mundo a educação e a promoção do
desenvolvimento nas idades iniciais e pré- escolares não é uma tarefa universal e
importante, dado que predominam as concepções de que o desenvolvimento é
espontâneo, sendo necessário deixar que as estruturas biológicas encarregadas de
produzir o desenvolvimento psíquico funcionem e comecem a produzir este
desenvolvimento de um modo considerado natural. Esta concepção nos obriga esperar
até momentos tardios do desenvolvimento psíquico para realizar a educação e o
ensino necessários que permita promover este desenvolvimento e inclusive corrigi-lo e
compensá-lo; o que não pode ser produzido de modo natural, dado que o sujeito em
desenvolvimento está somente à mercê do déficit biológico. Não estou defendendo,
porque não acredito, em uma educação nestas idades, como aquela que se produz na
Educação Fundamental ou primária. A educação inicial e pré-escolar ou infantil tem
sua pedagogia própria de acordo com as leis e condições do desenvolvimento dadas
nestas idades. Portanto podem ser organizados sistemas educativos constituídos por
tarefas e atividades que assegurem o desenvolvimento que não se produz neste
momento dados os efeitos alterados do funcionamento biológico ou pelas condições
sociais e culturais desfavoráveis nas quais vivem muitos meninos e meninas ao nascer.
Como ocorre, a maioria das vezes torna-se difícil e desnecessário avaliar e
diagnosticar objetivamente em idades precoces.Nestes casos a que nos referimos,
poderíamos usar e considerar os indicadores de riscos para poder alertar de que
alguma alteração possível poderia chegar a ocorrer e então atuar de modo
consequente e atender o mais precocemente possível ao menino ou menina que o
necessite. Mostra-se claro, sendo importante alertar que, lamentavelmente, este
recurso não resulta completamente adequado quando existem, nas pessoas e
educadores, uma concepção fatalista, rígida e inflexível sobre o papel das condições
biológicas. Desta concepção resulta que quando se identificam os riscos, pensa-se na
fatalidade do desenvolvimento e assim,
em lugar de ser positivo para o
desenvolvimento infantil, o que produz é a iatrogenia no sujeito que apresenta estes
riscos, porque o estigmatiza e classifica como um caso inferior ou que não conseguirá
um bom desenvolvimento como aquele que poderia ocorrer e que se impõe a ele.
Somente devem e podem ser usados os riscos, como indicadores, para começar a
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trabalhar consequentemente contra o possível prejuízo, quando existe uma concepção
humanista e otimista que defende que quando se atendem as possibilidades do sujeito
consequentemente e no tempo adequado ou o mais precocemente possível,podem-se
evitar e inclusive eliminar os efeitos nocivos de qualquer déficit e conseguir
desenvolvimento muito positivo nestes sujeitos
Como podemos apreciar do que foi dito até aqui, a primeira condição ou
determinante que assegura uma boa atenção e educação aos meninos e meninas que
sofrem algum tipo de déficit biológico é ter uma concepção muito diferente daquela
que predomina atualmente sobre esses casos e suas possibilidades de aprendizagem
e desenvolvimento. Nada se consegue quando se acredita ou temos a concepção de
que para estes sujeitos só podem socializar-se ou ter um vínculo afetivo, nos processos
educacionais, atribuindo de fato pouco ou nenhum valor às possibilidades de
desenvolvimento e à formação cognitiva. A partir destas análises surge a pergunta: se
a formação e o desenvolvimento psíquico é integral, como é possível conseguir uma
socialização plena e um desenvolvimento emocional, sem que se produza um
desenvolvimento cognitivo? Desculpem-me aqueles que defendem estas ideias, porém
estes critérios, produto de concepções e crenças que estão muito distantes do melhor
e do mais progressista do saber humano e da cultura produzida até hoje, somente
contribuem para estigmatizar e fazer sofrer as pessoas e evitar a socialização correta e
integração plena destas pessoas à sociedade diversa que habita a terra desde milhares
de anos.Por isso permitam-me declarar que parto da ideia que formulou Vygotsky, nos
anos 30 do século passado, que não é mais que uma consequente e desenvolvida
continuidade histórico-cultural, do que já assinalei que acreditavam, em seu tempo,
Ponce de León, Comenius, agregando a outros pensadores como Decroly, Montessori
e Pestalozzi, quando diz:
…A escola especial tradicional segue a linha da menor resistência,
acomodando -se e adaptando-se à deficiência intelectual do menino: o menino
deficiente domina com enormes dificuldades, o pensamento abstrato, por isso
a escola exclui de seu material tudo o que exige o esforço do pensamento
abstrato e fundamenta o ensino no caráter concreto e na visualização. Ao
operar exclusivamente com representações concretas e visuais, freamos e
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dificultamos o desenvolvimento do pensamento abstrato, cujas funções na
conduta da criança não podem ser substituídas por nenhum “procedimento
visual”. Precisamente porque a criança deficiente intelectual chega com
dificuldade a dominar o pensamento abstrato, a escola deve desenvolver esta
habilidade por todos os meios possíveis. A tarefa da escola, resumidamente,
consiste em não adaptar-se ao defeito, mas em vencê-lo. A criança deficiente
mental necessita mais que a normal que a escola desenvolva neles os germens
do pensamento, pois abandonado a sua própria sorte, ele não chega a dominálos.Neste sentido a tentativa de nossos programas, de proporcionar à criança
deficiente mental uma concepção científica do mundo, de descobrir ante ele as
relações entre os fenômenos fundamentais da vida, as relações de uma ordem
não concreta e de formar nele, durante a aprendizagem escolar, a atitude
consciente frente a toda a vida futura, é para a pedagogia terapêutica uma
experiência de importância histórica(VYGOTSKI, 1989 p. 119).
Seguindo então estas ideias, os dados teóricos e empíricos produzidos
historicamente e as próprias experiências praticas do meu país, relacionadas com a
educação e o ensino dos deficientes intelectuais, podemos afirmar que estes escolares
são educáveis em sua imensa maioria, incluindo aqueles
que possuem maiores
dificuldades, ou seja, que podem aprender a ler, a escrever, a calcular, conhecer
aspectos essenciais da historia e da natureza em que vivem, apropriar-se de valores
sociais importantes e inclusive realizar tarefas produtivas diversas e significativas, o
que lhes assegura uma boa integração e inclusão na sociedade em que vivem. Apenas
os casos mais prejudicados ou extremos que se apresentam em menor quantidade
são apenas treináveis ou custodiados.Por tudo isto podemos afirmar que mais de 80%
dos sujeitos com algum tipo de deficiência intelectual, podem formar-se e se
desenvolver de maneira tal que conseguem integrar-se à vida social de maneira
produtiva, ativa
e ampla. Lamentavelmente, hoje em dia a baixa qualidade da
educação e as concepções fatalistas da biologia humana e das condições sociais
desfavoráveis da sociedade, fazem com que centenas de seres humanos que não
alcançam um lugar decoroso na inclusão à sociedade,seja muito mas, muito maior em
uma grande quantidade de países, não obstante as concepções avançadas da inclusão
nas escolas.Isto é o que identifico como uma das grandes contradições de nossos dias,
em que se declara a inclusão escolar e o que se consegue é a não inclusão na
sociedade, evidenciada pelos sujeitos que vivem
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nas ruas, os ambulantes e
desamparados que sofrem amargamente, porque são deficientes intelectuais. Alerto,
porém, que eles ainda que sejam deficientes intelectuais, não são tontos e percebem e
vivenciam suas condições desfavoráveis.
Recordo neste momento um sujeito incrível, com aproximadamente 23 anos,
considerado desde pequeno como deficiente intelectual, que procurando ajuda em um
núcleo de atendimento teve oportunidade de encontrar uma estudante de
psicopedagogia que se aproximou dele e solicitou estudá-lo para suas praticas de
estudo, estabelecendo-se um vínculo tão bom, que em uma ocasião tal o sujeito, lhe
pediu à estudante, se ela podia ensiná-lo a ler e a escrever, porque era o que ele mais
desejava na vida… Ele aprendeu e conseguiu-se apesar da idade, aprendizagem e
desenvolvimentos incríveis. Em estudos, ainda exploratórios, sobre a formação e o
desenvolvimento da função simbólica em sujeitos considerados como deficientes
intelectuais e que somente aprenderam a ler e a escrever em aulas de jovens e
adultos, observa-se que não obstante o momento defasado de idade para aprender a
ler e a escrever e empregar tais meios culturais, com determinada amplitude, usando
procedimentos adequados eles conseguem mostrar um bom desenvolvimento de tal
função, que esta muito deprimida em seu desenvolvimento, nos casos de deficientes
intelectuais que não conseguem aprender a ler e a escrever.Estes dados permitem
novas questões relacionadas com o desenvolvimento da função simbólica que
inicialmente poderiam se assim formuladas: O desenvolvimento da função simbólica,
coluna vertebral do desenvolvimento intelectual, depende ou não da educação
orientada para essa formação?Quando a educação se produz com qualidade nos
chamados
deficientes
intelectuais,
consegue-se
se
uma
formação
e
um
desenvolvimento consequente de tal função?
Fica muito ainda por fazer, porém os dados ainda dispersos e pouco
sistematizados, nos indicam que se pode trabalhar para conseguir ainda uma
pedagogia e uma psicologia diferentes da tradicional sobre o deficiente intelectual, sua
educação e as imensas possibilidades de seu desenvolvimento psicológico integral e
assim conseguir a verdadeira inclusão escolar e sobretudo a inclusão na sociedade.
Sem dúvida, e a partir do que foi dito creio que podemos resumir nossas
proposições assinalando que:
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Nestes meninos e meninas cumprem-se as mesmas leis do desenvolvimento
psíquico que nos demais, então devemos proceder de maneira tal que se consiga a
aprendizagem e desenvolvimento que sabemos que se pode conseguir.
Necessita-se uma avaliação e um diagnóstico pedagógico, psicológico e médico
otimista, explicativo e não classificatório e estigmatizante como aqueles
que se
realizam hoje, diagnóstico que sejam capazes de acompanhar e orientar as ações
pedagógicas, psicológicas e médicas que assegurem promover o desenvolvimento e a
formação de que estas pessoas são capazes.
Torna-se imprescindível que eles, desde a idade mais precoce, encontrem-se
em meios enriquecedores desde o ponto de vista cultural em que se produzam e
reproduzam as relações interpessoais sadias, que se constituem nas fontes e na
origem do desenvolvimento psíquico, da subjetividade ou da mente dos seres
humanos, tendo maior significação para aquelas pessoas com algum tipo de déficit
biológico.Organizar contextos educativos em que estejam rodeados de amor e atenção
que os impulsione a desenvolver ao máximo possível seus conteúdos cognitivos,
afetivos e volitivos, em resumo toda sua personalidade.
Que como possuem, um déficit biológico que constantemente os está afetando
e lentificando ou freando os processos de aprendizagem e desenvolvimento, temos
que conceber, na organização da educação destas pessoas, a inclusão de formas de
trabalho pedagógico, psicológico e social que lhes permitam corrigir e compensar, os
efeitos nocivos deste déficit,até conseguir que o desenvolvimento correto e positivo se
estabilize e converta-se no auto-desenvolvimento que desejamos e que seja possível
conseguir.
Por isso, nestes casos a educação deverá incluir, desde a idade mais precoce, a
atenção fisio terapêutica, o movimento ou de educação física com maior
sistematicidade, atenção de logopedia ou logo foniatria que é imprescindível, para
mais de 70% dos casos, atenção extra e sistemática que reforce o trabalho do
desenvolvimento intelectual, insistindo em tarefas pedagógicas tais como: a atividade
com os objetos, seu uso e sua denominação, o emprego de objetos como
instrumentos, o emprego do jogo de papéis, livres ou de regras. Os meninos e
meninas deficientes intelectuais que tenho observado em condições desfavoráveis,
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não sabem jogar e por isso temos que ensiná-los porque eles podem aprender e se
aprendem então contribuímos para desenvolver e formar de maneira excepcional a
função simbólica, coluna vertebral do desenvolvimento intelectual, que neles está
afetado. Além disso, é necessário trabalhar com eles o desenho, pela mesma razão que
assinalei no caso do jogo, o emprego da modelação com esquemas gráficos e por
ultimo o trabalho de tomar consciência de que a linguagem falada pode ser desenhada
ou representada graficamente, como a antessala do porque é necessário aprender a
escrever e a ler, o que os cognitivistas chamam a consciência fonológica.
Trabalhar a independência e autonomia como nos demais meninos e meninas,
o auto cuidado e o auto validismo, o que como para qualquer pessoa poderá contribuir
para formar e desenvolver uma autoestima positiva e uma motivação estável pelo
autodesenvolvimento que eles podem alcançar.
Conseguir uma preparação e formação dos professores em todos estes
aspectos, assegurando que eles possam organizar e dirigir as ações pedagógicas
específicas para estes escolares. Tal formação constitui-se em uma demanda dos
professores no plano mundial.
Realizar estudos sobre a qualidade dos resultados que se obtenham em
qualquer das modalidades de atenção e educação destes escolares, tanto em escolas
especiais, como na inclusão ou nas duas. Para melhorar sistematicamente estas formas
de educação e tornar realidade aquela máxima de que a boa educação é aquela que
consegue assegurar uma boa inserção do sujeito na vida real.
Quando digo estas coisas, não lhes ocorre que, na realidade, seria o trabalho
educacional que precisamos conseguir para obter a inclusão verdadeira e adequada
que estas pessoas necessitam? Entendo que a única educação ou escola inclusiva é
aquela que consegue que todos e cada um dos diversos tipos de escolares aprendam e
se desenvolvam ao máximo possível e consigam, mediante esta educação, uma
integração plena e ativa dentro de suas possibilidades, na sociedade em que vivem.
Sei que existem pessoas que pensam que tudo isto é violentar o
desenvolvimento de um sujeito que, eles acreditam que não devem ou não podem
conseguir estas aprendizagens e estes desenvolvimentos. Respeito muito o critério dos
demais, até aqueles que são opostos aos meus, esperando o mesmo movimento dos
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meus interlocutores. Procuro compreender e tolerar, mas não posso concordar com
este tipo de diálogo entre pesquisadores que estejam interessados em encontrar
caminhos para uma verdadeira educação inclusiva. Apenas volto a lembrar do caso
daquele jovem de 23 anos que somente depois de tanto tempo de marginalização,
discriminação, estigmatização e sofrimento conseguiu que alguém o ajudasse a
aprender a ler e a escrever que era o que ele mais desejava.... Como compreender
essa situação? Como, em nome de uma não violência se pode ser tão agressivo,
violento e destrutivo do ser humano? Não desejo incomodar a ninguém, apenas dizer
o que penso, sinto e até onde percebo que é possível obter, produzindo as maiores e
melhores manifestações de alegria e felicidade em meninos e meninas, adolescentes e
jovens que apreciam e sentem que conseguem aprender a ler, a escrever e a calcular
como percebem e veem que seus coetâneos conseguem. Assim, volto a insistir que
eles são deficientes intelectuais, mas não são tontos. È necessário penetrar na alma
infantildos escolares que não aprendem estes meios culturais, para saber e constatar
seus sofrimentos, conflitos e traumas...Então, o que fica por fazer? Apenas sugeri
algumas ideias, porém, como disse, ainda falta muito para investigar e realizar neste
campo.... por favor não vamos perder tempo em falar e falar,vamos para a ação
transformadora que é o que nossos meninos e meninas deficientes intelectuais,
sobretudo seus familiares que sofrem em silencio e a parte sadia e justa da sociedade
esperam que um dia possamos criar.
Permitam-me terminar este texto com una ideia de José Martí, (1975) um dos
meus principais mentores intelectuais e das lutas revolucionarias por transformar o
que seja necessário mudar, quando, a partir de uma visita a uma escola de surdos
mudos, no México, escreveu um artigo comovedor e eloquente em que se expressa
esta ideia que considero bela, e que tem sido a guia e orientação destas palavras que
conformam estes texto, assim como de todo meu trabalho prático e transformador
desde os anos 70 do século passado com estes escolares em meu país. Foram escritas,
ainda a partir do que vi sobre a educação de surdos, assim como correspondem
também à educação dos deficientes intelectuais de que hoje nos ocupamos. Por isso
desejo terminar este diálogo lembrando o que disse Martí:
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As sombras tem seus poemas, o espírito suas comoções e a compaixão suas
lágrimas. Tudo isso se sente e muitas coisas amamos frente a esses seres envolvidos
por sua própria luz, sem sentidos para transmiti-la, nem aptidões para receber o calor
vivificante do alheio. Nascidos como cadáveres, o amor os transformam, porque o
ensino aos surdos-mudos é uma sublime profissão de amor. Abusa-se desta palavra
sublime, porém toda ternura é sublime, e o surdo-mudo ensinado é a obra tenaz da
ternura. A paciência especial, a engenhosidade estimulada, a palavra suprimida,
eloquente o gesto, vencido o erro da natureza e vencedor sobre a matéria torpe o
espírito benévolo, por obra da calma e da bondade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARIAS, G Desarrollo histórico de los escolares con necesidades educativas especiales.
Apuntes y consideraciones. En Maritza Gracia, Psicología Especial Tomo I Colectivo de
autores. Editorial Félix Varela, Ciudad de la Habana, Cuba, 2005.
COMENIO, J.A. Didáctica magna. Editorial Porrua, S.A. 1991.
MARTÍ, J. Obras Completas. t. 6, p. 353,(Escenas mexicanas, Revista Universal, México,
30 de noviembre de 1875) Editorial de Ciencias Sociales, La Habana. Cuba. 1975.
VYGOTSKI,L.S. Fundamentos de Defectología, Obras completas, Pueblo y Educación,
Cuba, 1989.
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