movimento mul curdas_sultan - Anfibios: Sistema Integrado de Gestão
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O Movimento das Mulheres Curdas, na 4ª Ação Internacional Marcha Mundial das Mulheres e Caravana Feminista 2015 O povo curdo é a maior etnia do mundo sem estado e têm o seu território divido por 4 países, Turquia, Iraque, Síria e Irão. Devido às suas aspirações independentistas, assim como dialectos e cultura próprios, o povo curdo sempre foi duramente reprimido por estes países. Como forma de lutar contra a repressão, na década de 70 foi fundado o Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), liderado por Abdullah Ocalan, entretanto preso pelo estado Turco. O PKK aderiu à luta armada e ainda hoje os ensinamentos e ideologias de Ocalan estão presentes nas organizações da guerrilha curda. O PKK, embora faça parte da lista de organizações terroristas da Turquia e também dos EUA, NATO e União Europeia, entretanto deixou de operar na Turquia quando começaram as negociações de paz com o estado Turco. Durante estas negociações uma nova ideologia surgiu: o Confederalismo Democrático. Nesta nova ideologia, Ocalan defende que o estado é uma estrutura hegemónica que produz opressões e como tal deve ser superado. Ocalan considera que o aparecimento das nações-estado, no início da Revolução industrial, andou de mãos dadas, por um lado, com a acumulação desregulada de capital e, por outro lado, com a exploração da população que crescia rapidamente. A nova burguesia, que queria ser parte da tomada de decisões e das estruturas dessas nações-estado, nasceu desta conjuntura assim como o capitalismo, o seu novo sistema económico. As nações-estado precisavam da burguesia e o do poder do capital para substituir a ordem feudal e a ideologia a ela associada, que aceitava as estruturas tribais e os direitos herdados, para passar a defender uma lógica nacionalista que unia todas as tribos e clãs dentro das mesmas fronteiras. Desta forma, as nações-estado e o capitalismo ficaram tao ligados que um não pode existir sem o outro. Como consequência disto, a exploração humana era facilitada e encorajada pelas nações-estado. Acima de tudo, as nações-estado devem ser vistas como a forma máxima de poder, já que isso permite o monopólio do comércio, indústria, finanças e capitais. Segundo Ocalan, as nações-estado também assimilam todos os tipos de ideologia intelectual, espiritual e cultural para preservar a sua própria existência e poder criar uma cultura e uma identidade única nacional. A cidadania moderna não será mais que a transição da escravatura privada para a escravatura estatal. Ocalan afirma mesmo que “o capitalismo só pode obter lucro através da presença destes exércitos de escravos. A sociedade hegemónica nacional é a sociedade mais artificial alguma vez criada e é resultado de um projecto de engenharia social”. É durante esta fase, mais próxima das teorias anarquistas, que Ocalan abandona a ideia da criação de um estado curdo uma vez que este não representaria a realidade cultural e tribal do médio oriente. A independência deixa por isso de ser o objectivo prioritário e é substituída por exigências de democracia e representação dentro dos estados que ocupam o território curdo. Ocalan pretende uma administração democrática que não seja confundida com a administração púbica das nações-estado, já que as naçõesestado são fundadas na ideia de poder, mas as democracias são fundadas na ideia de consenso colectivo. A Ecologia e o Feminismo têm de ser pilares centrais O Confederalismo Democrático tem por isso que estar aberto a outras forças ou facções políticas tem que ser flexível, multicultural, anti monopólio, e orientado para os consensos. A Ecologia e o Feminismo têm de ser pilares centrais. Neste contexto de auto-administração uma economia alternativa ao sistema capitalista também será necessária, uma vez que potencia os recursos das comunidades em vez de explorar as comunidades. Esta nova visão promove o nascimento de novos partidos como o DBP ( Partido Democrático das Regiões) ou o HDP (Partido democrático do Povo), que conseguiu em Junho os votos necessários para eleger vários/as deputados/as para o parlamento turco. Além disso, uma coligação de partidos curdos gere a maioria das municipalidades do Curdistão Turco, vistas como estratégicas na nova ideologia de tornar local o poder de decisão. Além do controlo das municipalidades o confederalismo democrático também propõe que as regiões curdas sejam dividas em 3 cantões e que estes se passem a organizar através de uma democracia directa em vez de um sistema representativo, sendo governados por populares. Rojava tornase assim no primeiro cantão curdo onde os populares implementam este novo modelo politico e social, sendo o epicentro de uma revolução social, fundamentada em ideais anti capitalistas e anti estado, onde as decisões são tomadas em assembleias populares e executadas por um órgão de poder executivo composto por um homem e uma mulher, que são eleitos nas assembleias e podem ser destituídos a qualquer momento. Defendendo que o Feminismo e a Ecologia têm que ser pilares centrais do Confederalismo Democrático, Ocalan apela à integração das mulheres curdas no movimento de autonomia curda, dando destaque às suas lutas e opressões e pedindo-lhes um papel activo na construção de uma sociedade curda igual e solidária. Através da auto-organização das mulheres, os partidos curdos criaram mecanismos para garantir a participação das mulheres na vida política, garantindo-lhes quotas nos principais órgãos legislativos e governativos. As municipalidades são também geridas por um regime co-presidencial onde um homem e uma mulher partilham a presidência municipal. Além disso, as mulheres curdas organizaram-se ainda em várias associações como o KJA (Congresso das Mulheres Livres) que promoveu mudanças no código jurídico como o casamento de menores, poligamia, abolição dos dotes e casamentos forçados; criou as academias de mulheres para actuar no âmbito da educação e as casas de mulheres para actuarem no combate á violência de género; e fundou 7 cooperativas de mulheres para promoverem a independência económica das mulheres. O KJA é também responsável por um centro de artes para mulheres, pela promoção do desporto feminino, e por uma agência de notícias feminista, a JINHA. O KJA desenvolveu também o conceito da GINEALOGIA, a ciência da mulher. || Sultan Safak, activista feminista curda, membro do KJA e Vania Martins, activista feminista, membro da Marcha Mundial de Mulheres
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