a independência das orações “desgarradas” e seu grau de

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a independência das orações “desgarradas” e seu grau de
IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação
Múltiplos Olhares
05, 06 e 07 de junho de 2013
ISSN: 1981-8211
A INDEPENDÊNCIA DAS ESTRUTURAS “DESGARRADAS” E SEU GRAU DE
ARGUMENTATIVIDADE NO GÊNERO TEXTUAL PROPAGANDA
Geisa Pelissari SILVÉRIO (UEM)
Profª Dra. Maria Regina PANTE (UEM)
Introdução
É fato que o estudo e a correta aplicação da gramática normativa da Língua
Portuguesa se fazem necessários para que o emissor se comunique de modo adequado na
maioria dos gêneros discursivos. Entretanto essa mesma gramática impõe determinadas
regras que ora deixaram de ser utilizadas, devido às evoluções históricas que permeiam
qualquer língua, ora passaram a ser empregadas de modo nem sempre igual aos
preconizados pelas regras tradicionais.
Diante disso, para entender certas ocorrências que não são justificadas pela
gramática tradicional, buscam-se teorias que possam auxiliar nessa compreensão. A
corrente estudada neste artigo será a funcionalista, que promove uma análise linguística
além da estabelecida pela gramática normativa, pois considera outros aspectos não
considerados por ela.
Procurando ampliar as discussões sobre os diferentes usos, este trabalho tem por
intuito averiguar aquilo que é mencionado pelos estudos normativos e funcionalistas no que
diz respeito às conceituações e aplicações das orações tradicionalmente denominadas
subordinadas adjetivas explicativas.
Ademais, mais especificamente, objetiva-se, por meio do uso escrito da Língua
Portuguesa, comprovar a existência de cláusulas desconectadas de suas orações núcleo,
intituladas de desgarradas (DECAT, 2011). Também se procura enfatizar o poder
argumentativo que esse desgarramento proporciona à cláusula em relação ao contexto
discursivo no qual aparece e à intenção do interlocutor.
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1. A gramática tradicional: os conceitos de subordinação e de dependência
A gramática tradicional, ao denominar as relações estabelecidas entre diferentes
cláusulas – ou como ela mesma classifica entre diferentes “orações” –, delimita
normativamente essas associações como o estudo do período composto. De acordo com
Almeida (2009), ele compõe-se de duas ou mais orações, ou seja, pela presença de dois ou
mais verbos. Segundo Azeredo (2011, p.290), trata-se de uma “unidade construída em torno
de um núcleo verbal”.
Separada em coordenada e subordinada pela Nomenclatura Gramatical Brasileira
(NGB), a divisão do período composto é assim designada porque a gramática normativa
considera, como critérios relevantes para a classificação, apenas os aspectos morfológicos,
sintáticos e semânticos, entretanto, nem sempre de maneira uniforme, isto é, nem todos
consideram todos esses critérios. Desse modo, diversos autores utilizam-se das expressões
“dependentes” e “independentes” para nomeá-las, como se constata a seguir:
“Oração coordenada é aquela que é independente sintaticamente, isto é,
não exerce nenhuma função sintática em relação a outra oração.
Período composto por subordinação é aquele formado por uma oração
principal e uma ou mais subordinadas.” (FARACO; MOURA, 2004, p.
321 e 327)
“O período é composto por coordenação quando contém apenas orações
coordenadas, ou seja, orações de funções equivalentes.
Todo período que traz orações subordinadas, ou seja, dependentes umas
das outras, é composto por subordinação.” (SACCONI, 2008, p. 262 e
264)
“Por coordenação – as orações são sintaticamente independentes, ou seja,
não exercem função sintática em relação a verbos, nomes ou pronomes de
outra oração.
Por subordinação – as orações são sintaticamente dependentes, ou seja,
uma exerce função sintática em relação a um verbo, nome ou pronome de
uma outra oração.” (ALMEIDA, 2009, p. 301)
“Coordenação (ou parataxe) e subordinação (ou hipotaxe) são, portanto,
dois processos de construção: a coordenação une partes do texto –
palavras, sintagmas ou orações – formal e funcionalmente equivalentes; a
subordinação une partes formal e funcionalmente distintas. A chave desta
distinção é a noção de „hierarquia‟. Com isto estamos dizendo que ao se
combinarem numa construção, as unidades gramaticais – palavras,
sintagmas, orações – se associam por dois modos básicos distintos: ou
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elas se situam no mesmo nível de modo que a presença de uma independe
da presença da outra (coordenação ou parataxe), ou elas se situam em
níveis distintos, imediatos ou não, de modo que uma delas é a base e a
outra serve de complemento ou de termo adjacente (hipotaxe ou
subordinação). A unidade subordinada sempre vem contida numa unidade
maior, que lhe é superior na hierarquia gramatical interna da oração.”
(AZEREDO, 2011, p. 294)
Além da ideia de dependência presente em todos os autores, observa-se, em Faraco e Moura
(2004), a existência, para o período subordinado, de uma oração intitulada de principal. Esse
conceito é enfatizado por Azeredo (2011), o qual assevera que, nessa relação de subordinação,
sempre haverá um nível hierárquico entre as cláusulas, de modo que a oração subordinada sempre
será de grau inferior à unidade “maior” com a qual interage.
No período composto por subordinação, as orações segmentam-se em três: substantivas,
adjetivas e adverbiais. As cláusulas, que neste trabalho serão analisadas, são as designadas como
adjetivas e desempenham, segundo a gramática tradicional, função de adjetivo. São elas
introduzidas por um pronome relativo (pronomes que retomam um termo já expresso na oração
anterior) e subdividem-se em restritivas e explicativas. Dar-se-á enfoque, aqui, às últimas.
Trabalhar com as definições da gramática normativa pode ser plausível e viável quando se
estudam estruturas tradicionais do uso da Língua Portuguesa. No entanto esse mesmo uso também
inova e faz surgirem novos modos de aplicação do português (falado ou escrito), para os quais são
necessários estudos e teorias que deem conta de sua análise. Sendo assim, a corrente funcionalista,
por considerar aspectos que não são verificados pelos estudos normativos, será aqui utilizada,
sempre em cotejo com o que prescreve a NGB.
2. A corrente funcionalista e seus estudos a respeito do “desgarramento”
O Funcionalismo é uma corrente linguística que busca estabelecer uma relação entre
a estrutura gramatical da língua e suas diferentes circunstâncias de comunicação. Sendo
assim, os estudiosos da área consideram, em sua análise, os interlocutores, seus intuitos e a
situação discursiva.
Isso significa dizer que a corrente funcionalista objetiva explicar como os falantes
utilizam a língua e comunicam-se com êxito e, para tanto, insere, ao analisar a língua em
uso, o conceito pragmático, não se restringindo apenas aos aspectos morfológicos,
sintáticos e semânticos, como faz a gramática normativa. Cunha (2012) enfatiza essa ideia,
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afirmando que “o funcionalismo procura essencialmente trabalhar com dados reais de fala
ou escrita retirados de contextos efetivos de comunicação, evitando lidar com frases
inventadas, dissociadas de sua função no ato da comunicação.” (p. 158)
Nesse viés, as pesquisas a respeito das estruturas sintáticas apresentam a abordagem
elaborada por Hopper e Traugott (1993), as quais reconfiguram as definições, tipicamente
consagradas na gramática tradicional, como coordenação e subordinação. Para os autores,
as relações entre cláusulas podem se manifestar com diferentes graus de dependência e de
encaixamento (ser constituinte ou não da cláusula à qual se refere, nomeada como cláusula
núcleo). Portanto, intitulam essas relações como parataxe, hipotaxe e subordinação,
definindo-as no quadro que segue:
Parataxe
- dependente
- encaixada
> Hipotaxe
+ dependente
- encaixada
> Subordinação
+ dependente
+ encaixada
Quadro1 – Relações entre cláusulas. (HOPPER; TRAUGOTT, 1993, p. 170)
As orações adjetivas explicativas, que na gramática normativa são consideradas
subordinadas, serão inseridas no grupo da hipotaxe, isto é, contempladas como estruturas
que possuem certo grau de dependência, mas não se constituem, necessariamente, como
elementos das cláusulas-núcleo com as quais se relacionam.
No contexto dos estudos funcionalistas brasileiros, as orações adjetivas explicativas
serão classificadas por Decat (2011) como orações relativas apositivas. Desse modo a
autora as define, pois sustenta que essas cláusulas exercem a função semântica de aposto,
ou seja, uma explicação complementar, adicional.
Decat (2011) propõe que, ao contrário do que é normatizado pela gramática, as
orações relativas apositivas podem ser empregadas, dependendo da situação comunicativa,
totalmente desvinculadas da cláusula a que “teoricamente” pertenceriam. Em decorrência
disso, a autora as nomeia como estruturas “desgarradas”.
Para essa compreensão, Decat (2011) embasou-se nas teorias de Chafe (1980), o
qual reconhece a existência de cláusulas que transmitem a informação por completo, como
um fluxo linguístico. Esse fluxo se compõe de uma unidade informacional, ou, conforme
por ele determinado, a concepção de “idea unit”.
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Essa característica de cláusula única corrobora com as teses de Bally (1944, apud
DECAT, 2011)
“quando esse autor trata das relações entre orações, no nível da
segmentação, no qual inclui orações (ou expressões) adverbiais
„deslocadas‟ e estruturas parentéticas. A segmentação é por ele vista como
uma noção de ordem semântica, e refere-se a estruturas cuja soldadura
não se realiza por completo.” (p. 71)
Logo, por meio dos estudos funcionalistas, optou-se pela análise de textos escritos
presentes no gênero textual propaganda. Essa análise tem por objetivo evidenciar o
desgarramento das cláusulas relativas apositivas e conferir destaque ao objetivo enfático
que possuem, ou seja, a comprovação de um grau maior de argumentatividade quando
assim são empregadas.
3. O desgarramento no gênero textual propaganda e sua argumentatividade
Sabe-se que é frequente o uso associado, por parte dos publicitários, de imagens a
textos escritos em propagandas, os quais objetivam atingir os objetivos essenciais desse
gênero discursivo: convencer e vender. Devido a isso, optou-se, neste trabalho, pela
elaboração de um pequeno corpus de propagandas nas quais fossem encontradas estratégias
linguísticas que demonstrassem o intuito comunicativo desses anunciantes.
A primeira propaganda é de uma campanha publicitária da marca de cosméticos O
Boticário, a qual teve, como ponto de referência, as histórias de contos de fadas:
“Era uma vez uma garota branca como a neve. Que causava muita inveja
não por ter conhecido sete anões. Mas vários morenos de 1,80 m.
O Boticário.
Você poder ser o que quiser.”
(Google Imagens, Acessado em 3 de jun. de 2013)
Constata-se no texto a ocorrência de uma oração apositiva relativa de modo
desgarrado, conforme grifado. A cláusula iniciada pelo pronome relativo “que”, o qual
promove a retomada do sintagma nominal “uma garota branca”, pertencente a uma oração
anterior, deveria, de acordo com a gramática normativa, ser empregada na continuação da
oração anterior, com a qual se relaciona. Entretanto é evidente que esse uso pausado e
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individualizado da oração, que seria tratada como subordinada, é uma estratégia do
produtor do texto para aumentar seu poder de argumentatividade. Esse uso faz o leitor
compreender que aquela informação não deve passar despercebida, já que é nela que se
encontra justamente a ideia contrária àquilo que se esperava como conhecedor do conto da
branca de neve, ou seja, que a garota conhecesse os sete anões. Portanto, a definição
hierárquica instituída pela gramática normativa, em que a primeira oração é referida como
principal e a segunda como subordinada, não seria adequada, visto que a oração desgarrada
se apresenta em um nível de hierarquia maior por conter a informação de destaque.
A próxima propaganda foi veiculada na Revista Isto É pela editora da própria
revista (Editora Três) como destaque ao aniversário de 40 anos da empresa. Por se tratar de
um texto mais extenso, selecionaram-se aqui os trechos de maior importância para a
análise, sem interferir na compreensão da informação a ser transmitida.
"Visão não é só a capacidade de enxergar. É entender o que está vendo. E,
para isso, não bastam olhos saudáveis ou óculos de grau. É preciso
informação. Mas não qualquer informação. Não aquela mastigada de
forma tendenciosa. Ela necessita ser independente, precisa, imparcial.
Aparada antes de noticiada e, por isso, carregada de credibilidade. Há 40
anos, nós, da Editora Três, rezamos essa cartilha. (....)
Sem deixar, também, de manifestar nossa opinião. E seguindo sempre o
princípio da pluralidade. Pluralidade de assuntos, de informações, de
opiniões. Que dá a você, leitor, não apenas a capacidade de enxergar o
nosso ponto de vista. Mas de desenvolver o seu.
Saber ouvir é uma arte. Que nem todo mundo domina. (...)
Há 40 anos, nós, da Editora Três, falamos para quem sabe ouvir.
Oferecendo, sempre, um conteúdo plural. Que, em vez de definir um
caminho, abre muitos.
Bom de papo não é quem fala muito. É quem tem o que falar. (....)
Porque, antes de ser um bom conversador, o bom de papo é um ótimo
leitor. Que sabe o que quer ler. Que sabe onde encontrar informação
isenta, correta, imparcial. Que sabe a diferença entre informação e
opinião.”
(Revista ISTO É, ano 36, n° 2236, 19/09/2012, p. 56-61)
No exemplo acima, tem-se a presença de seis orações desgarradas, introduzidas
também pelo pronome relativo “que”. Verifica-se, novamente, uma maior intensidade da
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ideia veiculada, uma vez que a independência dessas cláusulas faz o leitor tornar-se coautor
do texto. Isso porque existe a necessidade da leitura compreensiva do conteúdo que figura
anteriormente às orações por parte do leitor. Além disso, o leitor deve possuir
conhecimento de mundo sobre as revistas que discutem política e como essas revistas
podem induzir a opinião do próprio leitor ou de qualquer outra pessoa. Ademais, as três
ocorrências finais realizam um desgarramento de modo enumerado que, com pausas
marcadas pela vírgula, não dariam o mesmo enfoque persuasivo que assim invocam.
Um exemplo interessante descoberto durante o levantamento desse corpus foi um
desgarramento com o uso do vocábulo “como”.
“Duas Motos como qualquer outra. Como qualquer outra gostaria de ser.”
(Revista DUAS RODAS, n° 445, out. 2012)
Conforme se pode notar, nesse texto, a segunda ocorrência do termo “como” pode
ser substituída, sem prejuízo semântico, pelas expressões “do modo como”, “da forma
como”, isso porque esse vocábulo pode ser empregado como pronome relativo se indicar,
no contexto em que ocorre, uma ideia de modo e equivaler ao termo “conforme”, segundo
afirma Almeida (2011). Além disso, observa-se que a segunda cláusula é uma explicação,
uma informação adicional da primeira. Logo, é evidente que se trata de uma oração relativa
apositiva empregada de forma desgarrada e que nela se encontra o conteúdo principal
veiculado pela propaganda.
Um fato que também foi constatado foi a ocorrência de desgarramento relacionado
não a uma oração, mas a um sintagma nominal solto. É como se observa a seguir:
“Ensino Superior. Que a gente quer.
Campus da Universidade Federal de São Paulo, em Itaquera, e Instituto
Federal de Educação, Ciências e Tecnologia, em Pirituba.
Todo mundo quer uma cidade que tenha educação de qualidade. A
prefeitura de São Paulo também quer. Em uma parceria inédita com o
Governo Federal, cedeu dois grandes terrenos para a construção de novas
instituições de ensino: a Universidade Federal de São Paulo, em Itaquera,
e o Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia, em Pirituba.
Vamos fazer o ensino superior que a gente quer.”
(Revista VEJA SÃO PAULO, Parte integrante de VEJA, ano 46, n° 17,
24/04/13, p. 19)
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Nessa propaganda, o pronome relativo promove a retomada do sintagma “ensino
superior”, realçando a informação transmitida e retomando-a ao fim. É interessante notar
que a estratégia utilizada, vinculada com a correta escolha do vocabulário, leva o produtor
do texto a atingir todos os possíveis leitores de sua propaganda, já que a cláusula “que a
gente quer” deixa em aberto a opção de ensino superior pela qual se deseja optar. Somente
com a continuidade da leitura se constata a ideia de educação de qualidade. Entretanto,
nesse momento, o autor do texto já consegue fazer aqueles que não buscavam qualidade no
ensino se interessarem e lerem o anúncio até o fim.
Outro exemplo disso se observou na divulgação abaixo, mas dessa vez com o uso do
pronome relativo “onde”.
“O Forno do Padeiro
Restaurante
Onde culinária e ambiente arrancam suspiros...”
(Revista ISTO É Edição Especial, ano 37, n° 2261, 20/03/13, p.77)
Aqui se verifica um alto grau de argumentatividade, pois, após o sintagma nominal
“o forno do padeiro”, o produtor do texto escolheu situar o leitor, que desconhece o lugar,
com outro sintagma nominal, o qual poderia ser denominado como especificador por
explicar do que se trata aquilo. Em seguida, opta pelo uso de uma oração desgarrada
iniciada pelo pronome “onde”, na qual se pode ter tanto o resgate do nome do lugar como
do termo que delimita o tipo do ambiente. Logo, a cláusula independente enfatiza a
informação divulgada, além de possuir a informação de interesse para o leitor.
O último exemplo avaliado ofereceu um olhar diferente dos acimas apresentados.
Isso porque, além do desgarramento, tem-se uma mudança no posicionamento da oração.
“Onde o objetivo encontra a facilidade.
Marriot.
Aproveite mais nos hotéis Marriot.
Estamos aqui para garantir que suas viagens sejam tudo o que você
imaginou – e muito mais.”
(Revista ÉPOCA NEGÓCIOS, ano 4, n° 56, out. 2011, p. 20 e 21)
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Tem-se, nesse excerto, a ocorrência do desgarramento em posição inicial, uma vez
que a informação com a qual se relaciona somente virá na sequência, em forma de sintagma
nominal. Isso evidencia que o poder de argumentatividade não diz respeito à hierarquia
(coordenada ou subordinada), nem à sequência como aparecem em um texto, mas sim ao
objetivo do autor do texto, que buscará artifícios linguísticos que levem ao melhor
convencimento e, até mesmo, à cooperação do seu interlocutor.
Em todas as ocorrências trazidas, nota-se que a caracterização como cláusulas
desgarradas se justifica porque se trata de “unidades de informação”, isto é, de estruturas
que, por si só, apresentam a noção completa a ser comunicada. Logo, o uso da pontuação,
nessas propagandas, é, claramente, uma estratégia dos seus produtores a fim de conferir
uma maior ênfase à ideia veiculada.
Considerações finais
Os estudos funcionalistas, ao considerarem o contexto discursivo, evidenciam que o
uso da língua pode apresentar, por vezes, situações inusitadas, as quais não estão inseridas
em regras fechadas e inalteráveis. Essas construções, que surgem devido à gama de
possibilidades de comunicação que a língua proporciona, necessitam, para a compreensão,
de redefinições e de análises que verifiquem os motivos de seu uso.
O emprego das ocorrências de orações relativas apositivas (denominadas pela NGB
como orações adjetivas explicativas) de modo desgarrado no gênero textual propaganda
evidencia uma clara intencionalidade dos seus idealizadores em atingir, da forma mais
convincente possível, os seus interlocutores.
Ademais, constata-se um maior grau de argumentatividade quando essas cláusulas
são empregadas de forma desgarrada, afirmação legitimada quando se constata que são
justamente essas cláusulas que possuem a informação de destaque. Com isso, percebe-se
que o emissor demonstra, por meio de estratégias linguísticas, uma maneira diferente e até
mesmo mais persuasiva de dar enfoque ao seu discurso, fazendo o seu receptor deixar de
ser somente um leitor passivo daquela informação, transformando-o em um interlocutor ou
coautor de seu texto.
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Referências
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2011.
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Editores, 2011.
FARACO, C. E.; MOURA, F. M.. Gramática Nova. São Paulo: Ática, 2004.
HOPPER, P.; TRAUGOTT, E. C. Gramaticalization. Cambridge: Cambridge University,
1993.
REVISTA DUAS RODAS. São Paulo: Editora Sisal, n° 445, out. 2012
REVISTA ÉPOCA NEGÓCIOS. São Paulo: Editora Globo, ano 4, n° 56, out. 2011.
REVISTA ISTO É. São Paulo: Editora Três, ano 36, n° 2236, 19/09/2012.
REVISTA ISTO É, Edição Especial. São Paulo: Editora Três, ano 37, n° 2261, 20/03/13.
REVISTA VEJA SÃO PAULO. São Paulo: Editora Abril, ano 46, n° 17, 24/04/13.
SACCONI, L. A. Novíssima Gramática ilustrada Sacconi. São Paulo: Nova Geração, 2008.

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