Rosh haShaná e Iom Kipur

Transcrição

Rosh haShaná e Iom Kipur
Rosh haShaná e Iom Kipur
Tempo de Teshuvá
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“Retorne Israel até a divindade, pois tropeçou nos seus erros.”
(Oseias 14:2)
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Rosh haShaná
O Ano Novo Judaico acontece no primeiro e no segundo dia do mês de
Tishrê, que é o sétimo mês do calendário bíblico.
Rosh haShaná difere do ano novo ocidental não apenas em sua data, mas
também na forma de celebração: ao invés de festas destinadas a divertir e
esquecer, busca-se lembrar para avaliar e aprimorar. Por isso é conhecida
também como Iom haZicarón, Dia da Recordação, e como Iom haDin, Dia
do Julgamento.
Iom Kipur
Esta é a data mais popular do calendário judaico, quando a maioria dos
judeus dedica o dia a ir à sinagoga e a pensar em suas atitudes. O Dia do
Perdão, segundo a tradição, é o último momento para o arrependimento
pelas transgressões cometidas no ano que passou. É mais uma chance demudar o julgamento feito em Rosh haShaná, demonstrar arrependimento e
melhorar os relacionamentos.
Na época da Torá, o Iom Kipur era comemorado com rituais de expiação.
Porém, durante o período do Segundo Templo a data ganhou o significado
de introspecção e, assim, sua centralidade no calendário judaico.
Os quatro nomes:
Iom Teruá: este é o nome
do chag na Torá, descrevendo
que, no primeiro dia do mês de
Tishrê, deve-se tocar o shofar
(e, por isso, esta é a principal
mitsvá da data). Somente depois do período bíblico foram
atribuídos outros significados
à festa, como a criação do ser
humano e o começo do ano.
Também se atribui o nome Zichrón Teruá, pois tradicionalmente não se
toca o shofar durante o Shabat, então nós somente lembramos seu toque
quando esta data incide no Shabat.
Iom haZicarón: Dia da Lembrança. Indica que devemos nos recordar de
nossas ações, bem como do aniversário da humanidade.
Enquanto o começo do ano na cultura ocidental é uma celebração para se
esquecer, com festas animadas e acontecimentos extraordinários que nos ajudam
a não lembrar as coisas ruins que se passaram, no judaísmo esta é uma data para
lembrar, uma vez que um ano se passou e devemos nos recordar e avaliar o que
fizemos ou não com o tempo, o que foi feito de errado e que requer conserto, ou
ainda como seremos melhores para o novo período que está por vir.
Iom haDin: outro nome dado à festa é Dia do Julgamento, pois nesse período, com base no que fizemos no ano que passou, nos autoavaliamos, julgando
nossas próprias ações e acreditando que estamos diante de um julgamento
de nossa vida pessoal, comunitária e também como membros da humanidade.
Rosh haShaná: é o nome mais moderno do chag e o único que não
aparece na Torá, apenas no Talmud. Significa, literalmente, “cabeça do ano”.
O toque do Shofar
Feito geralmente de chifre de carneiro, o shofar é o principal símbolo
de Rosh haShaná. É a partir do nome de seu toque (teruá) que a Torá se
refere ao chag.
Apesar de ser uma tradição muito popular escutar o shofar ao fim do
serviço de Iom Kipur, ele é originalmente ligado a Rosh haShaná, e ouvir seu
toque na manhã do Ano Novo Judaico é a principal mitsvá da data. No total,
são emitidos 100 toques em cada dia da festa.
Os toques do shofar são classificados em três tipos, sendo alternados em
grupos diferentes e divididos em quatro momentos: um antes do início da
reza de Mussáf e os outros três no decorrer da mesma reza.
Os três tipos de toque são:
• Tekiá: uníssono e prolongado;
• Shevarím: três toques consecutivos em um só fôlego, com intervalos
muito curtos;
• Teruá: sequência de nove a quinze toques muito curtos, executados num
só fôlego.
A Torá não dá nenhuma razão especifica para a mitsvá de ouvir o toque
do shofar, porém as interpretações rabínicas sugerem que o som do instrumento mexe com nossos sentidos, servindo como um
lembrete para olharmos dentro de nós mesmos e nos
arrependermos dos pecados do ano passado. Em resumo, o shofar é como um alarme que nos desperta para a
necessidade de fazer teshuvá.
Em Rosh haShaná lemos o trecho da Akedát Itzhak (Sacrifício de Isaac) e o shofar se relaciona ao carneiro que Abraão
acabou sacrificando no lugar de Isaac. O trecho também
representa as dificuldades que passamos
em nossas vidas, e que devemos vencer,
assim como Abraão e Isaac as superaram.
Jejum – Corpo e alma
A principal mitsvá de Iom Kipur é o jejum, que
inclui seis regras que se estendem por 25 horas:
1. não comer;
2. não beber;
3. não tomar banho;
4. não usar sapatos de couro;
5. não manter relações conjugais;
6. não passar perfumes e cremes no corpo.
A essência dessas proibições é a dedicação ao cuidado da alma, não do corpo.
O jejum pode ser um contrapeso necessário para a vida moderna. Não deve
ser um fim em si mesmo, mas uma oportunidade para cada um de nós vivenciarmos Iom Kipur de uma forma mais pessoal e termos a chance de aprender:
• Compaixão: baseada em empatia, é mais consistente do que se baseada
em piedade. Falar sobre o problema da fome do mundo pode ser simples,
mas é superficial quando não se sabe de fato o que é fome. Assim, sentir a
fome em nosso próprio corpo pode ter um impacto diferente e levar do
sentimento à ação.
• Força de vontade: aparentemente, jejuar é uma ação muito difícil. É a privação de coisas que estão constantemente a nossa volta e que são de fácil acesso.
Por isso, em oposição direta à nossa crescente comodidade, o jejum nos mostra
a força de vontade e domínio que temos sobre nós mesmos.
• Penitência: aprendemos a buscar a felicidade acima de tudo, no entanto, o
jejum nos ajuda a compreender que, por vezes, o sofrimento pode ser benéfico
e nos ajuda a crescer e a nos fortalecer.
• Desapego material: vivemos em uma sociedade de consumo, e, ao jejuar,
afirmamos que não somos dependentes de todos esses bens externos. Se mesmo necessidades básicas, como comer e beber, podem ser suspensas por 25
horas, outras atividades não essenciais podem, sim, ser abandonadas.
Por fim, Iom Kipur é um dia de reflexão para que consigamos implementar
estas ações no decorrer de nossas vidas, começando já no próximo ano.
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“E Ele abrirá o Livro das Recordações, o qual se lê por si só. E a assinatura
de cada ser humano ali se encontra”
(Machzor Chatimá Tová, Unetanê Tókef, pág. 198)
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Em Iom Kipur jejuamos como forma de retiro espiritual, mas, infelizmente,
algumas pessoas não jejuam por opção em nossos dias.
Na busca por um jejum que tenha um porquê e que seja significativo, é
importante ter em mente que ainda vivemos em uma sociedade em que muitos estão em jejum permanentemente, não por vontade própria, mas sim por
forças das circunstâncias. É importante lembrarmos sempre da desigualdade
social que infelizmente ainda existe.
Ao redor do mundo, várias sinagogas aproveitam o período das Grandes
Festas para abordar o tema da fome e prestar apoio a quem de fato necessita,
pedindo que todos colaborem com alimentos não perecíveis para participar
dos serviços religiosos.
No Brasil, cerca de 11 milhões de pessoas encontram-se em situação de
insegurança alimentar, caracterizada pela ausência de uma alimentação regular
saudável. É duro constatar como um país com ampla diversidade alimentar
ainda não conseguiu superar esse problema.
Entre os muitos projetos de arrecadação e distribuição de alimentos, está o
Mesa Brasil SESC, que visa melhorar a situação de insegurança alimentar através
da doação de alimentos, do desenvolvimento de ações educativas e da promoção de solidariedade social em todo país.
O Mesa Brasil SESC é um banco nacional de alimentos, que luta contra a fome
e o desperdício, buscando onde há sobra
de alimentos e entregando onde eles estão em falta, contribuindo, assim, para a
diminuição do desperdício e reduzindo o
problema da insegurança alimentar.
Saiba mais: www.sesc.com.br/mesabrasil
Quais os erros e transgressões perdoados
nas Grandes Festas?
Segundo a tradição judaica, apenas as transgressões cometidas pelo
homem contra Deus são perdoados nessa data.
Nossa tradição afirma que os erros cometidos pelo homem contra seu semelhante (ofensas, agressões, pecados éticos e morais) não
são perdoados nesse dia, a não ser que a busca pela reconciliação e a
correção dos erros cometidos tenham sido feitas antes de Iom Kipur.
Afinal, os atos do homem continuam sendo dele e as consequências
por eles são de sua responsabilidade. Deus somente nos perdoa após
sermos perdoados pelo semelhante ofendido. Na fé judaica, Deus nunca
pode substituir um ser humano, assim como nenhum ser humano pode
substituir Deus.
O arrependimento não surge subitamente de um dia para o outro, ou
na véspera de Iom Kipur. Originado de um processo interno, o arrependimento pelos pecados cometidos contra o semelhante deve ser um acer to
físico e espiritual e, para isso, é necessária a devida restituição à vítima,
bem como o recebimento de seu perdão.
Se os esforços para
conseguir o perdão do
outro forem em vão, a
tradição judaica relata
que se deve tentar ainda
por três vezes e, apenas
após a terceira tentativa, se a vítima persistir na recusa em conceder o perdão, o
culpado se torna inocente e a vítima se
torna culpada por negar o pedido.
Perdão
Liturgia
Avínu Malkênu: é composta por 20 linhas que
relembram a avaliação do que foi feito de mal no
ano que se passou e o desejo de fazer o melhor
no futuro. A partir de Rosh haShaná continua sendo
recitado pelos dez dias seguintes – Iamím Noraím –
até Iom Kipur.
Col Nidrê: a reza que abre a noite de Iom Kipur gera
polêmica, uma vez que anula antecipadamente todas as promessas que serão feitas no ano que está por vir. Porém é necessário compreender que, no judaísmo, as promessas são muito importantes, e essa é uma
forma de se relacionar com a imperfeição humana, pois uma vez assumida
a imperfeição, podemos nos comprometer, arriscar o esforço e a tentativa,
mesmo correndo o risco de falhar.
É importante lembrar que essa reza não possui nenhum efeito sobre as
promessas feitas a outras pessoas, pois quebrar uma promessa com o outro
envolve pedir absolvição ao mesmo. Com tanta polêmica, existem versões da reza que não falam apenas
das promessas futuras, como também das passadas.
Neilá: a reza que encerra Iom Kipur é exclusiva
desse dia. A tradução literal de “Neilá” é “fechamento”, e se refere simbolicamente ao fechamento das portas do céu, entendido como a “última chance” de preparar
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melhor a nossa alma e pensamento. O destaque desse serviço
é o longo período em que
o Arón haCódesh (a arca da Torá) permanece aberto.
A tradição judaica diz:  - “Shaarê
Teshuvá einám nenaalím leolám” - que significa “Os portões da Teshuvá nunca
se fecham no céu”. É importante lembrar que sempre é tempo para um
arrependimento sincero.
TESHUVÁ
Diferente de Deus e dos anjos, o ser
humano é imperfeito. Porém, o fato de errar
lhe dá a oportunidade de se aprimorar,
progredir e melhorar.
Rosh haShaná
Iom Kipur
Ticun
A chave da
natureza humana consiste
na liberdade de mudar e se aprimorar.
Essa mudança é feita através da teshuvá.
A mudança do mundo começa
pela mudança de si mesmo.
ARREPEN
DI
M
EN
PO
ST T
RET
O
R
RES
O
A
N
S
O
Teshuvá
As três
palavras
compõem o
conceito de
teshuvá
Identificação com todos
os judeus fazendo o mesmo
ao redor do mundo
RETORNAR
APRENDER
RESPONDER
Retornar
à situação
na qual foi
cometido
um erro - no
pensamento
ou na ação.
Arrepender-se
e avaliar a
situação
com um novo
olhar.
Responder
de maneira
aprimorada
e corrigir a
situação.