SCHERER, Rosenete. Sistema Montessori

Transcrição

SCHERER, Rosenete. Sistema Montessori
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
CURSO DE PEDAGOGIA
ROSENETE SCHERER
SISTEMA MONTESSORI:
Contribuições para a prática pedagógicacom ênfase nas práticas de leitura e
escrita
SÃO JOSÉ
2013
2
ROSENETE SCHERER
SISTEMA MONTESSORI:
Contribuições para a prática pedagógicacom ênfase nas práticas de leitura e
escrita
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
Centro Universitário Municipal de São José –
USJ - como requisito parcial da disciplina de
TCC II do Curso de Pedagogia, no semestre
2013/1.
Orientadora: Mestre Keila Villamayor Gonzalez
São José
2013
3
ROSENETE SCHERER
SISTEMA MONTESSORI:
Contribuições para a prática pedagógicacom ênfase nas práticas de leitura e
escrita
Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para obtenção do
grau de Licenciatura em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José –
USJ - avaliado pela seguinte banca examinadora:
______________________________________________________
Orientadora: Professora Keila Villamayor Gonzalez, Mestre.
______________________________________________________
Professora Simone Ballmann de Campos, Mestre.
______________________________________________________
Professora Wanderléa Pereira Damásio Maurício, Mestre.
São José, 24 de Junho de 2013.
4
Dedico este trabalho aos maiores professores
da minha vida: meus pais. Meu Pai Afonso que
me ensinou a ler e a escrever mesmo antes de
eu frequentar a escola e minha Mãe, Leonila,
por ser sempre a melhor mãe do mundo.
5
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus por ter chegado até aqui. Só Ele sabe da
imensa fé que tenho em mim. Pelas pessoas que tenho em minha vida e pelas que
encontrei pelo caminho e também, as oportunidades que tive. Por toda a sabedoria e
persistência. Sem dúvidas, este é só um começo de muitas vitórias.
Quero agradecer meus Pais, Afonso e Leonila, genitores e razão da minha
existência. Sem eles, nada teria sentido verdadeiro. Por todo o apoio, carinho,
dedicação, compreensão e principalmente, por acreditarem em mim. Agradeço
igualmente meus três irmãos, Paulo Roberto e Alício, e também Rosane, minha
companheira de Lar, pela paciência e apoio nos momentos de rotina e trabalhos
intensos.
Aos meus amigos inseparáveis que me acompanharam por esta caminhada,
uns mais, outros menos, vivenciando,mostrando-se compreensivos nos momentos
de ausência, pela parceria nos momentos em que a descontração fazia-se
necessária, muito obrigada!
Quero agradecer todos os professores que passaram pela minha vida, desde
o início até a presente graduação, e ainda os que virão. Sem dúvidas, tenho e terei
um pouco de cada um como exemplo de vida e profissão.
Agradeço imensamente minhas orientadoras, Simone e Keila, por acreditarem
em meu trabalho e colaborarem com seus conhecimentos para que o presente fosse
possível. Além de orientadoras, mostraram-se fonte de apoio e persistência.
Obrigada portodo o incentivo e dedicação em mim depositados. Admiro-as, de todo
o coração.
Quero agradecer aos meus colegas de turma, em especial as amigas desta
caminhada. A “Trupe”, companheiras de risadas e cervejas que estarão pra sempre
em meu coração. A “Miss Angelina”, título e apelido carinhoso, agradece a todo o
carinho.
Agradeço também a escola que me recebeu para o Estudo de Campo,
abrindo suas portas, colaborado para o meu crescimento pessoal, profissional e para
a realização deste trabalho. Aos brilhantes profissionais ali presentes, por todo o
apoio. À minha amiga e colega Daiany, que me ajudou em muito neste processo e
por ter esclarecido mil dúvidas, Lôra, obrigada.
6
Por fim, agradeço a todos que direta ou indiretamente colaboraram para
minha formação e elaboração deste Trabalho de Conclusão de Curso. A todos, aqui
mencionados ou não, muito obrigada!
7
“A humanidade, que já se pode vislumbrar na
infância como o sol na aurora, deve ser
respeitada com religiosa veneração; e todo ato,
para
ser
eficazmente
educativo,
deverá
favorecer o completo desenvolvimento da vida.”
(MONTESSORI, 1965, p. 45).
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RESUMO
O presente trabalho investiga por meio de pesquisa bibliográfica e posteriormente,
de campo, o Sistema Montessoriano, seus Pressupostos e Materiais para o trabalho
com a leitura e escrita. Apresenta as seguintes perguntas de pesquisa: De que
maneira os Pressupostos Montessorianos contribuem para a aquisição da leitura e
da escrita? Quais as possibilidades de utilização dos materiais montessorianos nas
escolas? No primeiro capítulo, traz a vida e obra de Maria Montessori mostrando
como seus estudos e descobertas se concretizaram e se espalharam pelo mundo.
Da mesma forma, apresenta as características do Sistema como um todo, bem
como as atribuições e características do ambiente, do professor e da criança. No
segundo capítulo, por meio de pesquisa de campo através da observação de uma
classe em uma Instituição que se utiliza do Sistema, apresenta-se como os
Pressupostos são utilizados especificamente na aquisição das práticas de leitura e
escrita, propondo alternativas para que sejam utilizados em outras escolas.
Palavras-chave: Maria Montessori. Sistema Montessoriano. Aquisição das Práticas
de Leitura e Escrita.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 11
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................ 12
1.3 OBJETIVOS ..................................................................................................... 13
1.3.1 Objetivo Geral .......................................................................................... 13
1.3.2 Objetivos Específicos.............................................................................. 13
2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 14
2.1 BIOGRAFIA DE MARIA MONTESSORI .......................................................... 14
2.2 A PERSPECTIVA EDUCACIONAL MONTESSORIANA.................................. 19
2.2.1 A Criança na Perspectiva Montessoriana .............................................. 22
2.2.2 O Ambiente na Perspectiva Montessoriana .......................................... 24
2.2.3 O Professor na Perspectiva Montessoriana .......................................... 27
3 CAMINHOS DA PESQUISA .................................................................................. 30
4ANÁLISE DOS DADOS – RELATOS DE UM CONTEXTO.................................... 31
4.1 A ESCOLA EM QUE SE REALIZOU A PESQUISA DE CAMPO ..................... 31
4.2 O OBJETO DE ESTUDO – 1º ANO – PERCEPÇÕES E VIVÊNCIAS ............. 32
4.3 A UTILIZAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS E MATERIAIS NO PROCESSO DE
AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA ........................................................... 40
4.4 MEIOS ALTERNATIVOS DE UTILIZAÇÃO DESTES PRESSUPOSTOS E
MATERIAIS NAS ESCOLAS .................................................................................. 46
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 50
6 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 53
APÊNDICE A – Diários de Bordo ........................................................................... 55
ANEXO I – Declaração de revisão ortográfica, gráfica e de linguagem da Língua
Portuguesa ............................................................................................................... 64
10
1 INTRODUÇÃO
A educação deve ser percebida na maior e mais elevada seriedade. Ela é
fundamental, essencial na formação do indivíduo e consequentemente na sociedade
em que ele vive. Através dela, ele se tornará um cidadão participante ativo e
responsável. Como afirma Montessori (1985, p. 07):
Hoje, enquanto o mundo continua dividido e se pensa em formular planos
para uma futura reconstrução, a educação aparece universalmente
considerada um dos meios mais eficazes para esta reconstrução, pois é
indubitável que do ponto de vista psíquico o gênero humano está abaixo do
nível que a civilização apregoa ter atingido.
Hoje em nosso país a educação ainda é deficiente. O Brasil, que no
panorama mundial é atualmente considerado um país em ascensão devido ao
crescimento econômico e às conquistas políticas e sociais, vive uma realidade
bastante singular. Enquanto, de acordo com os dados do Banco Mundial de 2011,
temos a 6a posição econômica mundial, em contrapartida, nosso país ocupa o 85 o
lugar no Índice de Desenvolvimento Humano de 2013.1.
No cotidiano educacional é possível constatar a ausência de uma série de
elementos constituidores e fundamentais para a prática pedagógica, entre eles citase a infraestrutura deficitária, materiais pedagógicos insuficientes, falta de tempo
para o planejamento do professor, formação básica com currículo em desacordo
com as necessidades do dia-a-dia na escola.
Felizmente existem muitos professores que estão buscando alternativas para
a maneira de ensinar em sala de aula, tentando inovar e se atualizar
constantemente. Professores críticos e provocadores da busca pelo conhecimento,
que provocam nos sujeitos a mesma inquietude pela aquisição do saber. Sobre esse
ensinar, Paulo Freire (2009, p. 26), diz que:
(...) É exatamente neste sentido que ensinar não se esgota no “tratamento”
do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção
das condições em que aprender criticamente é possível. E essas condições
implicam ou exigem a presença de educadores e de educandos criadores,
instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes.
(...)
1
Dados divulgados pela ONU. Este índice se baseia nas condições de vida de cada país de acordo
Disponível em: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/03/brasil-melhora-idh-mas-mantem-85-posicaono-ranking-mundial.html
11
Este trabalho propõe a utilização de preceitos ainda pouco explorados nos
dias de hoje, pois buscou investigar e propor outra possibilidade de educar e pensar
as práticas de leitura e escrita. Os estudos realizados e o desejo da busca por uma
prática diferenciada se encaminham para uma perspectiva de educação que enfatize
a formação de sujeitos críticos, que possibilite que as práticas de aquisição de leitura
e escrita sejam assim experimentadas e essa proposta se apresenta na escola com
fundamentação nos estudos de Maria Montessori.
A Perspectiva Montessoriana fundamenta-se em uma “educação sensorial”,
efetuada a partir de atividades motoras e principalmente “experimentais”,2 na qual a
criança, em um ambiente propício e estimulante de oportunidades e desafios
propostos e pensados pelo professor utilizará o material disponível e a mediação
pedagógica para constituir seu conhecimento.
1.1 JUSTIFICATIVA
Durante estes oito semestres de formação no curso de Pedagogia,
oportunizou-se conhecer a educação como um todo e, principalmente, observá-la de
vários ângulos, em suas mais diversas faces,tais como as várias correntes
pedagógicas existentes. Com o tempo, analisou-se tudo isto de forma científica, isto
é, como pesquisadores e investigadores do assunto.
Desde o primeiro contato com a Perspectiva Montessoriana, bem no início da
graduação, houve encantamento, admiração, interesse especial por conhecer e
aprofundar os estudos sobre ela. No decorrer das leituras e no aprofundamento da
Perspectiva, tão incomum nas escolas e ao mesmo tempo com tanto material
específico a ser estudadoe explorado, houve a certeza de que este seria um vasto
assunto a ser pesquisado.
Diante da deficiência da educação em alguns âmbitos, inclusive no tocante ao
método, urge-se propor algo que desafie os sujeitos a pensar e desenvolver sua
autonomia e criticidade. A Perspectiva Montessoriana apresenta valores individuais
e coletivos; a criança busca a construção de seu conhecimento, trabalhando a
autonomia
2
em
ambiente
especialmente
preparado
e
acompanhado
pelo
OLIVEIRA–FORMOSINHO, Júlia. Pedagogia(s) da Infância: dialogando com o passado: construindo
o futuro. Porto Alegre, 2007.
12
professor.Nas palavras de Montessori (1985, p. 07): “A criança é dotada de poderes
desconhecidos que podem conduzir a um futuro luminoso. Se verdadeiramente se
quer ter em mira uma reconstrução, o desenvolvimento das potencialidades
humanas deve ser o objetivo da educação.”
Maria Montessori mostrou-se uma verdadeira guerreira na época em que
viveu e desenvolveu todo o seu legado. Considerando que a educação tem sido foco
de inúmeras pesquisas e propostas que buscam garantir a ampliação do
conhecimento dos sujeitos, pontua-se que é necessário repensar os pressupostos
que efetivamente eduquem cidadãos capazes de participar e contribuir para a
sociedade em que vivem, como, por exemplo, os Pressupostos Montessorianos.
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA
O Sistema de Ensino de Maria Montessori utiliza-se de formas diferenciadas de
atendimento e atenção à criança. Além do ambiente especialmente preparado, são
utilizados como ferramentas essenciais os materiais especialmente desenvolvidos
para a aprendizagem individual e coletiva.
Percebemos que no Brasil os Pressupostos são difundidos hoje, exclusivamente
em escolas privadas, concentrando o acesso somente às classes mais abastadas.
Apesar de os materiais utilizados no ensino serem em sua maioria importados e
considerados inacessíveis às escolas públicas, percebemos em pesquisas
bibliográficas que, ao desenvolver seus estudos, Maria Montessori os criou a partir
de parcos recursos e mesmo assim conseguiu desenvolver um material essencial à
aprendizagem das crianças.
Diante disto e do desejo de conhecer ainda mais e aprofundar os estudos acerca
deste Sistema a fim de trazê-lo ao meio educacional e compartilhar, eis que nos
propomos aos seguintes desafios e questionamentos como questão de pesquisa: De
que maneira os Pressupostos Montessorianos contribuem para a aquisição da
leitura e da escrita?E, desta forma, quais as possibilidades de utilização dos
materiais montessorianos nas escolas?
Seguem abaixo, os objetivos da presente pesquisa.
1.3 OBJETIVOS
13
1.3.1 Objetivo geral
Investigar o Sistema Montessori, seus pressupostos e materiais e suas
contribuições no processo de aquisição das práticas de leitura e escrita das
crianças, viabilizando possibilidades de utilização do mesmo em todas as escolas.
1.3.2 Objetivos específicos

Conhecer por meio de pesquisa bibliográfica e inserção em uma instituição, o
Sistema de Maria Montessori;

Identificar como os Materiais Montessorianos são utilizados no processo de
aprendizagem e aquisição da leitura e da escrita;

Propor alternativas de utilização dos Pressupostos Montessorianos em
escolas.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
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2.1 BIOGRAFIA DE MARIA MONTESSORI
A Doutora Maria Montessori tornou-se a primeira mulher a se formar em
Medicina na Itália. Nasceu em 31 de agosto de 1870, em Chiaravalle, Província de
Ancona, no mesmo país. Seus genitores, Alessandro Montessori e RenildeStoppani,
conceberam somente ela, filha única. Eram nobres burgueses e respeitados na
sociedade da época. Iniciou seus estudos na escola pública e desde cedo dialogava
com seus pais sobre diversos assuntos. Diga-se, algo muito raro naquele tempo,
pois as crianças não tinham como hábito serem ouvidas pelos adultos na sociedade
da época. (MORAES, 2009).
Quando criança, aos cinco anos de idade, a família de Maria Montessori
transferiu-se para Roma, havendo, assim, maiores possibilidades e oportunidade
para seu crescimento pessoal, intelectual e profissional.3.
Maria se interessava pelos estudos desde nova e seu pai, apesar de um tanto
conservador, sempre acompanhou de perto a evolução intelectual da menina, que
prematuramente desenvolveu-se como uma mente fascinada pelo conhecimento,
por mudanças e carregada de ideais. Desde a infância e adolescência adentro, tinha
a convicção de que queria seguir carreira e destacar-se em sua profissão. Uma
mulher muito à frente de seu tempo.
Então em Roma, após um ano, matriculou-se na escola e logo no início,
destacou-se por seus fortes ideais e personalidade marcantes. Mais tarde, convicta
do interesse pela Matemática, decidiu cursar engenharia.Matriculou-se, então, na
Escola Técnica Michelangelo Buonarroti, exclusiva de homens, condição que
limitava às mulheres, que optavam por esta formação, o ir e vir. Estas limitações
impostas não abatiam o interesse de Maria pelo saber, pelo aprendizado. Após, em
1890, licenciou-se na cadeira físico-matemática e em 1892 diplomou-se em Ciências
Naturais pela Faculdade de Ciências Físicas, Matemáticas e Naturais, da
Universidade de Roma. (MORAES, 2009).
No entanto, Maria percebeu que não gostaria de seguir com a Engenharia,
tranquilizando seus pais, pois a profissão era essencialmente masculina. Eles
queriam vê-la casada, pois, tratando-se da posição privilegiada que ocupavam na
3
OLIVEIRA – FORMOSINHO, Júlia. Pedagogia(s) da Infância: dialogando com o passado:
construindo o futuro. Porto Alegre, 2007.
15
sociedade e da beleza jovem de Maria, sem dúvidas faria um bom casamento, o que
era esperado pelo momento histórico em que viviam. Porém, Maria decidiu cursar
Medicina e ser Médica. Enfrentou também, além das limitações da sociedade em
relação ao seu gênero feminino, um conflito pessoal: seu pai, que não concordava
com algumas de suas atitudes, passando inclusive alguns anos de sua vida sem
comunicar-se com ele. Sua mãe, que compartilhava de alguns ideais de Maria,
apoiava-a da forma que conseguia.
De acordo com Oliveira-Formosinho (2007), Montessori iniciou o Curso de
Medicina e Cirurgia na Universidade de Roma e, em 29 de julho de 1896, tornou-se
a primeira mulher italiana a se formar Médica.
Em 1896, foi convidada a trabalhar na Clínica Psiquiátrica da Universidade de
Roma, com crianças deficientes, na época, denominadas “retardadas”. Encontrou-as
em situação completamente desfavorável ao seu desenvolvimento. (OLIVEIRAFORMOSINHO, 2007). Com este trabalho, começou a interessar-se pelo trabalho
com crianças e passou a buscar meios para que se desenvolvessem e aprendessem
como as demais.
Após sua formação, devido à grande repercussão de seu Sistema de ensino
em desenvolvimento, foi convidada a participar de congressos em Berlim e, anos
mais tarde, em Londres: “(...) Lutou pelos direitos sociais e políticos da mulher
atuando como representante das mulheres italianas nos Congressos de Berlim, em
1895 e de Londres, em 1900.”(CUFFARI, s/d, p. 9).
Desenvolveu várias pesquisas neste campo eparticipou de Congressos
desenvolvendo algumas de suas teses, como afirma Moraes (2009, p. 27-28):
Então, contrariamente à opinião de seus colegas, teve a intuição de que o
problema da educação dos deficientes era mais de ordem pedagógica do
que médica; enquanto nos congressos médicos defendia-se o método
médico-pedagógico para o trabalho e educação das crianças excepcionais,
ela apresentava no Congresso Pedagógico em Turim, em 1898, um trabalho
defendendo a tese da educação moral4, trabalho no qual ressalta sua
crença de que as crianças deficientes não são seres extrassociais, mas que
são inteiramente sensíveis aos benefícios da educação.
Desta forma, Montessori defende que as crianças deficientes, assim como as
demais, têm potencialidades e possibilidades de aprender normalmente, bastando o
estímulo certo e respeitado o tempo de cada uma delas.
4
A essência da Educação Moral é manter viva a sensibilidade interior e aperfeiçoá-la.
16
Isto posto, foi convidada pelo Ministro da Instrução da Itália, Dr. Guido
Baccellia ministrar um curso a educadores e interessados pela educação das
crianças com deficiência. Este curso transformou-se então, na Escola Ortofrênica,
dirigida por ela e seu colega, Dr. GuiseppeMontesano, durante alguns anos.
(Ibidem). Esta escola recebia crianças classificadas como deficientes pelas escolas
tradicionais. Como afirma Cuffari (s/d, p. 9-10):
Assim, de 1898 a 1900, Maria Montessori dedicou-se ao ensino de crianças
excepcionais e, para tanto, pesquisou e estudou as obras de Itard e
Séguim, médicos franceses. Notou, então, a limitação dos materiais
existentes, passando a criar novos materiais e empregando um método
realmente original na alfabetização das crianças. Com esse método
conseguiu que alguns dos deficientes do manicômio aprendessem a ler e a
escrever corretamente e obtivessem aprovação nos exames das escolas
públicas, juntamente com escolas normais. Essa experiência despertou-lhe
um problema: O que estaria ocorrendo no processo de desenvolvimento
escolar das crianças normais que eram “alcançadas” ou pareavam-se às
crianças deficientes?
Conforme discorre a autora, Maria passou a refletir sobre quão produtiva seria
a utilização de seus preceitos com as crianças ditas normais. E mais, quão
deficiente estaria esta educação, a ponto destas crianças se igualarem nestes
exames. E ainda, não existiam razões para que fossem educados separadamente,
as crianças normais e as deficientes, dando assim, o viés para a inclusão, assunto
alvo de discussões e incertezas até os dias atuais.
Vale fazer um parêntese para um fato pouco comentado e divulgado da vida
de Maria: seu filho Mário. Por volta do ano de 1898, Maria se apaixonou pelo seu
colega, Dr. Montesano. Tiveram um breve relacionamento e dele nasceu Mário. Por
algum motivo, eles não se casaram e Maria teve seu filho escondida, pois dada a
época, a sociedade não aceitaria uma mãe solteira. Ele outrora foi criado por outra
família e Maria o visitava sempre que possível. Dr. Montesano casou-se com outra
mulher, alguns anos depois. Maria sofreu por não poder conviver com seu filho, mas
como tudo em sua vida, teve força para superar e seguir em frente. (MORAES,
2009).
Após sair da Escola Ortofrênica, passando o cargo a um dos seus adeptos
educandos, iniciou um estudo aprofundado sobre a educação, tanto de crianças
normais, como as deficientes. Estudou filosofia, obteve mais alguns títulos, foi
professora
exemplar,
de
Antropologia
Pedagógica
no
Aperfeiçoamento para licenciados da Escola Normal. "(Ibidem).
Curso
Bienal
de
17
Em janeiro de 1907, Maria teve a oportunidade de trabalhar seus preceitos e
se dedicar às crianças. Foi criada, no Bairro do subúrbio de Roma, San Lorenzo, a
primeira Casa dei Bambini. Atendiam-se ali, aproximadamente 50 crianças de 3 a 6
anos, todas marginalizadas e que costumavam vagar pelas ruas enquanto seus pais
e irmãos maiores estavam fora de casa trabalhando e estudando. Naquele mesmo
ano e nos seguintes, diversas destas “Casas” foram criadas, difundindo o trabalho
de Montessori por toda a Roma.5
Maria, na ocasião, passa a utilizar seus preceitos no trabalho com as crianças
e logo depois, conclui e publica seu método pedagógico científico, no livro “O
Método de Pedagogia Científica”, em 1909. A repercussão do livro foi positiva e
amplamente difundida em pouco tempo. (CUFFARI, s/d).
Dali adiante, Maria trabalhou aplicada e incessantemente difundindo seus
Pressupostos, tanto atuando como professora nas escolas, quanto instruindo outros
educadores. Teve apoio e admiração das mais ilustres e importantes personalidades
políticas e sociais de sua época, que em muito colaboraram para a difusão de seus
preceitos. Maria se ocupava e se preocupava com uma dedicação extrema às
crianças.
Mais tarde, seus Pressupostos foram difundidos ainda por outros países,
como a Espanha, os Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Áustria, estes,
peregrinados por ela ao participar de congressos e ministrar cursos para
professores.
Após a primeira Grande Guerra, a Itália se torna um país fascista, restringindo
a liberdade. Porém, durante algum período o Líder Benito Mussolini, permitiu a
continuidade do trabalho de Montessori. Após, ele próprio proíbe seu trabalho, pois
Maria não quis utilizar sua proposta pedagógica a favor do fascismo e ela se vê
obrigada a fechar a escola e deixa o país. (MORAES, 2009).
Em 1934, Maria pôde assumir e reconhecer seu filho Mário, e, neste contexto,
os dois seguiram para a Espanha. Lá, seus Pressupostos estavam bastante
difundidos e eles puderam dar continuidade ao trabalho. Mário tornou-se um
seguidor e discípulo de Maria, transmitindo também, seu legado. (OLIVEIRAFORMOSINHO, 2007).
5
OLIVEIRA – FORMOSINHO, Júlia. Pedagogia(s) da Infância: dialogando com o passado:
construindo o futuro. Porto Alegre, 2007.
18
Durante os anos que seguem, enfrentando as dificuldades de represálias e
guerras, Maria continuou espalhando pelo mundo os preceitos de sua metodologia
de ensino e aprendizagem. Passou por vários países e ministrou inúmeras palestras
e cursos.
Ainda de acordo com Oliveira-Formosinho (2007), em uma passagem por
Londres, Maria conheceu Mahatma Gandhi, e ele demonstrou preocupação e
necessidade em educar os mais pobres de seu país. Ela, motivada por novos
desafios, seguiu para a Índia com seu filho Mário, no ano de 1939 com o intuito de
difundir seus preceitos por lá. No ano seguinte, a Índia entrou na Segunda Grande
Guerra e Maria ficou em uma situação desconfortável. Permitiram-lhe ficar no país,
em regime de reclusão, este, dominado em parte pelos ingleses. Apesar de lhe ser
tirada sua maior fortuna, a liberdade, Maria continuou difundindo seu método por
toda a Índia, ministrando cursos e escrevendo seus livros.
O contato com os indianos, os princípios de sua filosofia religiosa e de vida
foram incorporados à sua proposta: a introspecção, a educação cósmica, a
educação para a paz, o silêncio, a normalização, o autocontrole e a
condição de bastar-se. O reconhecimento de que cada ser humano tem um
papel a desempenhar no cosmo e precisa buscar a sua harmonia com Deus
para realizar-se. Pelo exemplo de vida e pela obra em favor da paz mundial,
Maria Montessori foi indicada duas vezes ao Prêmio Nobel da Paz, em 1948
e 1949. Nesse período, já fazia parte dos grupos de trabalho mantidos pela
UNESCO. (Ibidem, p.104).
Com um legado de extrema importância para a educação mundial, Maria é
exemplo de esforço, dedicação e persistência pela luta por uma educação digna
para nossas crianças.
Após sair da Índia, em 1946, a doutora ainda viajou por diversos países
ministrando palestras e cursos e participando de seminários, passando inclusive
pelo seu país de origem, a Itália, para reavivar suas escolas e seu Sistema, após o
término do regime fascista. Recebeu lá honrosas homenagens e, em 1948, então
com 78 anos, regressou à Índia, com a finalidade de ministrar cursos em diversas
regiões do país. Apesar da idade avançada, continuou viajando e ensinando a todos
seu legado.
Alguns anos depois, Maria foi a óbito, na Holanda, como discorre Cuffari (s/d,
p. 11):
19
A 6 de maio de 1952, em Noordwijk-on-sea, Holanda, faleceu Maria
Montessori após haver presidido nove Congressos Internacionais,
organizado cursos para professores em diferentes regiões, ter sido
considerada com a Legião de Honra na França e recebido a láurea “ad
honorem” e Letras e Filosofia na Universidade de Amsterdam, entre outras
atividades e honrarias. Legou ao mundo várias publicações e seu trabalho é
continuado por seus seguidores, nos diversos centros Montessori
espalhados pelo mundo.
Maria Montessori trouxe á discussão o verdadeiro sentido do educar a criança
e principalmente, a importância do atendimento especial a cada período da vida das
mesmas. Trabalhou incansavelmente ensinando e difundindo seus pressupostos
pelo mundo, e graças á isto, existem hoje inúmeras escolas dando continuidade ao
seu trabalho.
2.2 A PERSPECTIVA EDUCACIONAL MONTESSORIANA
O Sistema (aqui tratado como método pela autora6) Montessoriano tem como
atributo a cientificidade. Para iniciar, segundo Moraes (2009,p.51):
O método Montessori é caracterizado como sendo educação científica. Sua
base é o conhecimento da criança e seu desenvolvimento se dá de acordo
com as leis do crescimento do corpo e da mente, isto é, a formação da
estrutura psíquica da criança desenvolve-se a partir de uma força interior,
numa relação de influência recíproca com o meio, quer dizer, o
amadurecimento intelectual da criança se dá na relação com o mundo, à
medida que sua maturação biológica evolui.
Este recorte evidencia a vital importância da educação na formação da
criança; outrossim, que a educação é capaz de ampliar o desenvolvimento do
intelecto, bem como orientar o indivíduo, em todas as atividades, desde as rotineiras
até as psíquicas. Além disso, o meio e as relações que a criança estabelece, são
fundamentais para este desenvolvimento. Para Maria Montessori, todo indivíduo é
um ser com potencialidades amplas, que precisam ser estimuladas pela escola.
Sendo assim, os Pressupostos Educacionais Montessorianos baseiam-se na
“liberdade, atividade, e individualidade”. Liberdade para escolher e buscar a
atividade desejada. Atividade responsável pelo seu aprendizado e interpretação de
mundo. Individualidade relacionada à autonomia, na qual a criança aprende de seu
6
Dado o momento histórico. Hoje tratamos por Sistema (conjunto de princípios) por não ser uma ideia
fechada e sim uma proposta.
20
modo, conforme sua aptidão e seus instintos, uma vez que o indivíduo é
concomitante objeto e sujeito de ensino. (MORAES, 2009).
A ideia fundamental do enfoque Montessori para a educação é que cada
criança leva dentro de si as potencialidades do homem que será um dia,
portanto deve desenvolver ao máximo suas capacidades físicas,
emocionais, intelectuais e espirituais, desde que seja respeitada de acordo
com seu próprio ritmo e o período que se encontra. É através da ação, da
ajuda que concedemos à criança de agir por si só, que estamos dando-lhe a
oportunidade de alcançar sua autoindependência.(Ibidem, p.54).
A autora aponta que o ser humano tem em si as potencialidades necessárias
ao seu desenvolvimento, que ao professor cabe estimular este indivíduo e que, por
meio da autonomia e do respeito ao seu próprio tempo, e ainda em um ambiente
propício e sempre articulado e preparado, a criança desenvolverá suas
potencialidades e se tornaráum adulto pleno de suas capacidades físicas, psíquicas
e emocionais.
No que se refere à liberdade numa classe montessoriana, ela é caracterizada
como “condição indispensável para o desenvolvimento da vida”. A liberdade deve
ser utilizada e desfrutada no sentido de buscar o que interessa à criança e eleger o
que mais lhe chama atenção dentro do ambiente de aprendizagem, agindo conforme
seus instintos e seu próprio tempo. A intencionalidade desta liberdade também é
muito importante. Não se trata de deixar a criança “solta” e sim propiciar um
ambiente favoravelmente preparado ao seu aprendizado. (MORAES, 2009).
Neste mesmo entendimento, segundo Machado (s/d, p.16), “é que Maria
Montessori acredita e dá grande importância ao autocrescimento da criança e à
conquista de sua adequada independência, por meio da força vital que existe dentro
dela e através do agir por si mesma.” Esta força vitalremete a outra característica da
Pedagogia Montessoriana: a espiritualidade. O homem é formado de corpo, mente e
espírito. O espírito é o impulso de suas vontades, responsáveis pelo interesse e pela
busca das possibilidades que o ambiente oferece.7
Ainda de acordo com Moraes (2009, p.58), dois pilares sustentam a educação
montessoriana: a “autoeducação e a educação cósmica”.
A autoeducação é caracterizada por esta busca pelo próprio aprendizado,
elemento de destaque no Sistema. Nesse sentido, a criança, confiante e
7
CEMJ – A espiritualidade é a alma do sistema Montessori.
21
independente buscará, nas oportunidades que lhe são oferecidas, o conhecimento
que norteará sua formação e constituirá sua mente crítica e autônoma.
A educação cósmica está relacionada com a questão da espiritualidade. Cada
ser é único no universo e interligado aos demais, ao mesmo tempo em que há uma
dimensão individual para cada um. Por meio da educação, o indivíduo deverá
conhecer este universo a que pertence e desta forma constituir seu aprendizado,
respeitado cada elemento e cada ser pertencente ao cosmo.
Como afirma Soldati (2004, p.11), “a preparação do ambiente, a formação
adequada de professores, o atendimento às necessidades básicas da criança, uma
avaliação constante do trabalho, são pontos básicos do trabalho baseado em
Montessori.” O Sistema permite que cada criança realize sua atividade dentro da
sala conforme seu tempo e ritmo de trabalho sendo que cada um possui o seu, e
esta individualidade deve ser respeitada. O professor estará sempre observando e
intervindo quando achar necessário.
Acerca do Sistema, nas palavras de Moraes (2009, p.56-57):
Ademais, promove o desenvolvimento do espírito crítico, o sentimento de
liberdade e responsabilidade e o respeito às normas sociais, visando a uma
convivência harmoniosa e de respeito pela liberdade do outro. Advoga,
ainda, um tratamento diferencial a partir da descoberta das diferenças
individuais, buscando compreender as características e peculiaridades de
cada indivíduo como um ser único, passando a valorizá-lo no espaço e no
tempo em que ele vive.
Percebe-se que, além da formação educacional, o Sistema se ocupa com a
formação pessoal e cidadã do indivíduo, sujeito este que além de na sociedade em
que vive respeitar seus semelhantes e o espaço de cada um, pode-se afirmar que
desempenhará com afinco seu papel de cidadão responsável e participante ativo
pelo bem comum. É a educação para a vida.
“Segundo Montessori, são três as “circunstâncias favoráveis”, os “pontos
exteriores essenciais” à educação da criança: ambiente adequado, mestre humilde e
material científico.” (MONTESSORI, 1936, p.196 apud OLIVEIRA-FORMOSINHO,
2007, p.121). Destarte, o trabalho e o aprendizado eficiente, além de crianças
aprendendo de forma prazerosa e autônoma, serão o sucesso desta tripla união.
22
2.2.1 A Criança na Perspectiva Montessoriana
Maria Montessori, devido à sua formação em Medicina, priorizou sempre que
a criança tivesse atenção especial desde cedo e que esta atenção estivesse
diretamente ligada à educação do ser como indivíduo integral. Assim, destacou a
imensa diferença entre uma criança e um adulto. Enquanto a maioria das pessoas,
na época, caracterizava as crianças como “pequenos adultos”, Montessori definia
estas crianças como seres em constante desenvolvimento e mudança. E para se
desenvolverem da melhor forma, defendia, dentre outros princípios, a condição de a
criança crescer com a devida liberdade para se desenvolver.
Nas palavras de Oliveira-Formosinho (2007, p.118),
Ela prefere deixar que a vida psíquica da criança expanda-se livremente,
que se interesse e manifeste as suas preferências como que fazê-lo,
alimentá-la e estimulá-la mediante brinquedos apropriados, afastando os
perigo, e calmamente esperar que ela se desenvolva segundo as suas
possibilidades.
A autora relata acerca da liberdade com que as crianças devem se
desenvolver, o respeito às suas preferências e também o papel do professor, como
mantenedor de suas funções essenciais e promotor das oportunidades para este
desenvolvimento intelectual e psíquico.
Característica de merecido destaque é a atenção diferenciada com que
Montessori trata o crescimento e a educação da criança. Algo extremamente
incomum em sua época. Ela traz uma perspectiva totalmente libertadora, se
analisada em nossos dias, quiçá então, nos tempos em que ela propôs estas ideias
pela primeira vez.
Maria
Montessori,
em
sua
Perspectiva,
defende
que
o
crescimento/desenvolvimento da criança, desde que nasce até seus 18 anos, ocorre
em etapas, com características determinantes em cada uma delas. São as três
etapas assim definidas, conforme Oliveira-Formosinho (2007):

Pequena Infância, de zero aos seis anos de idade (subdividida em
espírito absorvente inconsciente (de zero aos três anos) e espírito
absorvente consciente (dos três aos seis anos);

Grande Infância, dos seis aos doze anos de idade;

Adolescência, dos 12 aos 18 anos.
23
Neste sentido:
A Pequena Infância é caracterizada pelo período do espírito absorvente.
Nesta etapa, ocorre a construção do indivíduo, o ser social. É importante que neste
período, o adulto não intervenha e sim, proporcione e dê condições às vivências,
pois a criança precisa de liberdade para fazer suas escolhas e decisões. A mente
absorvente capta tudo e absorve, sem distinções ou julgamentos. E assim ocorre a
construção do ser. No período do espírito absorvente inconsciente (0 a 3 anos), a
criança, através dos sentidos, recebe e armazena tudo o que acontece à sua volta,
como uma esponja. (OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2007).
Neste período, assim como todos os outros, é essencial que o adulto
acompanhe as vivências da criança, pois tudo o que lhe for proporcionado, ela
absorverá e esta construção inicial será base para todas as outras, por toda a vida.
Neste caminho, Soldati (2004, p.12), destaca que “(...) a mente absorvente
inconsciente é o período criativo da inteligência. Dele a criança nada lembrará mais
tarde, mas absorve em si todas as impressões que o ambiente lhe oferece, os
costumes, os hábitos do lugar onde vive.”
No período do espírito absorvente consciente (três aos seis anos), apropriada
de tudo o que absorveu no primeiro período, ela passa a descobrir o mundo com as
mãos e também a agir conforme sua vontade. Desta forma, ela aperfeiçoará todos
os conhecimentos já adquiridos e os que ainda estarão por vir.(MORAES, 2009).
A Grande Infância, (seis aos doze anos), caracteriza-se pelo crescimento e a
relação direta com o concreto, o que pode ser visto, ser ouvido e sentido. A
consciência também se desenvolve expressivamente, mas agora ligada diretamente
ao que acontece à sua volta. É também o período dos inúmeros porquês, pois está
constituindo seus conceitos.(Idem).
Segundo Moraes (2009), a Adolescência (12 aos 18 anos) pode ser dividida
em puberdade (12 a 15 anos) e adolescência (15 aos 18 anos) sendo assinalada por
muitas transformações. Nas palavras da autora:
(...) O adolescente interessa-se de forma mais aberta pelas causas e efeitos
dos problemas que lhe são apresentados. Os fatos da vida são entendidos
como consequência das ações e atitudes que pratica. Há um desejo de
mudança e a sensação de que tudo é possível. A capacidade de abstração
já está totalmente desenvolvida. (Ibidem, p.63).
24
Outra característica marcante e fundamental do Método Montessori, são os
chamados “períodos sensitivos”. Estes períodos se manifestam ao longo do
crescimento da criança, e despertam interesses ligeiramente “específicos” a um
determinado assunto/objeto. Deste modo, é importante que este interesse seja
trabalhado proporcionando o máximo de aprendizado à criança, pois se trata de algo
passageiro.8 Complementando, de acordo com Oliveira-Formosinho (2007, p.119),
“(...) os períodos sensíveis são, por natureza, fenômenos transitórios, sendo
necessário reconhecê-los para utilizá-los ao máximo.”
A criança como ser integral, possui singularidades específicas, que devem ser
observadas e trabalhadas pela escola.
2.2.2 O Ambiente na Perspectiva Montessoriana
O ambiente, físico e psicológico, no Sistema Montessori de ensino se
apresenta aos alunos com um ambiente sempre planejado. Na sala estão dispostos
os materiais, carteiras em círculo e as crianças utilizam o tapete para o trabalho no
chão, no centro da sala. Maria Montessori defendia que a escola deveria ser um
local para onde a criança goste de frequentar e se sinta bem, que favoreça e
promova conhecimento, que disponibilize de condições para que construa seu
próprio conhecimento.
Nas palavras de Machado (s/d, p.15):
E não deveria ser o objetivo comum de toda a pedagogia? Conduzir o ser
humano a uma existência de ser livre em seu próprio desenvolvimento?
Para isso, a pedagogia montessoriana requer, com absoluto rigor, para a
criança: espaço vital para que ela, graças à escolha de atividades, possa ir
criando pouco a pouco o seu mundo, onde experimentará e ordenará os
seus valores.
O ambiente escolar montessoriano deve assemelhar-sea um lar, uma casa,
para que a criança se sinta em um ambiente familiar e desta forma possa trabalhar
mais a vontade. A mobília deve ser adaptada e disposta de modo que favoreça o
movimento e o desenvolvimento da criança, além de atender às suas necessidades,
sendo tudo de tamanho apropriado. Deste modo, o aluno se desenvolverá
autonomamente.
8
MORAES, Magali Saquete Lima. Escola Montessori: Um espaço de conquistas e redescobertas.
Canoas, 2009.
25
Contrariando costumes sociais, Maria Montessori, em sua primeira Casa dei
Bambini, utilizava louças de porcelana e vidro, pois as crianças precisavam aprender
a manuseá-los.9 Importante destacar que, segundo a autora Soldati (2004, p.20), o
intuito deste ambiente adequado à criança “não é reproduzir o mundo adulto em
miniatura, mas trazer à criança a realidade do mundo, ou seja, o mundo adulto.”
Desta forma, é importante que a criança manuseie os mesmos utensílios disponíveis
em seu dia-a-dia tais como louças de vidro, garfo e faca, xícaras e copos de vidro e
porcelana, dentre outros.
Neste ínterim, Moraes (2009) destaca que além da sala em si, é importante
também que toda a escola, de uma forma harmônica, propicie este mesmo ambiente
de aprendizado, com espaços que despertem a curiosidade e promovam o
conhecimento.
Outro ponto relevante é a variação de idade das crianças em uma mesma
sala. Separá-las por idades é considerado um ato de “isolamento artificial”. Na
classe montessoriana, as crianças têm até três anos de diferença, dependendo da
variação das escolas. Esta idade mista permite que crianças mais velhas ajudem as
mais novas e o aprendizado é construído mutuamente e de forma solidária, criando
valores de elementar importância na vida das mesmas. (Ibidem).
Na sala, a criança deve ter autonomia para escolher o que e onde irá
trabalhar. Se preferir, pode realizá-lo sozinha ou com algum colega. Segundo
Moraes (2009, p. 69), “ela é curiosa por natureza e o material montessoriano foi
criado para que possa ver, tocar, experimentar, questionar, raciocinar. Cada
atividade representa um problema a ser resolvido.” Esta liberdade é fundamental
para o desenvolvimento da criança.
O material, ferramenta essencial da sala de aula Montessoriana, deve estar
sempre disposto, de modo que o aluno autonomamente escolha para trabalhar a
ferramenta de sua preferência ou o que mais lhe chame a atenção.
De acordo com a autora (Ibidem, p.71), estes materiais do Sistema
Montessoriano estão divididos em etapas, conforme o desenvolvimento fisiológico e
psíquico da criança:

9
Materiais para o exercício da vida prática;
Cenas do filme: Maria Montessori: Uma vita per i Bambini. Itália, 2007.
26

Materiais sensoriais de desenvolvimento; e

Materiais para aquisição de cultura.
Os materiais para o exercício da vida prática são também caracterizados
como “o desenvolvimento da função motora ou o exercício do sistema muscular”,
segundo Oliveira-Formosinho (2007, p.125). Não se tratam de materiais específicos,
mas sim,o mobiliário da sala. O aprendizado no período inicial do desenvolvimento
infantil consiste nas funções e atividades da vida cotidiana, como por exemplo,
organizar a sala, manipular diferentes objetos, deslocar uma mesa (esta atividade,
por exemplo, desenvolve o trabalho coletivo), preparar um lanche para o grupo,
varrer, além também, das funções fisiológicas, como ir ao banheiro, se vestir, lavar
as mãos, dentre outros. Desta forma, as crianças estarão conquistando a
independência e autonomia, pilares elementares da Perspectiva Montessoriana.
De acordo com Moraes (2009), outra atividade importante neste período é a
ginástica, o movimento do corpo. Tais atividades são desenvolvidas nesta etapa,
pois é então que ocorre a formação e a coordenação dos músculos da criança. Além
de conquistarem também a autonomia e a independência dos adultos, elas
desenvolvem a concentração, condição pertinente de aprendizagem. Ainda de
acordo com a autora (Ibidem), os materiais sensoriais de desenvolvimentose
compõem de diversos materiais palpáveis, que devem despertar na criança a
curiosidade de várias formas, como de ser classificados, comparados e/ou medidos.
Maria Montessori, com base em observações e experiências, criou grupos de
materiais, cada qual com uma finalidade específica:
a)
b)
c)
d)
e)
O do sentido tátil – texturas, peso, temperatura, estereognóstico.
O do sentido visual – formas, cores, tamanho;
O do sentido auditivo – sons;
O do sentido olfativo – odores;
O do sentido gustativo – sabores. (MORAES, 2009, p.72-73).
Tais materiais, que devem ser extremamente atraentes e convidativos,
promovem experiências fundamentais e enriquecedoras para o aprendizado da
criança. Além disso, desde cedo, elas sefamiliarizam, inclusive assimilando
definições de matemática e geometria. A partir deles também, ela começa a
desenvolver as primeiras noções de leitura e escrita.
27
Com base sensorial, os materiais para aquisição de cultura caracterizam-se
por sistemas combinados para o ensino do alfabeto, números, escrita, leitura e
aritmética. Eles são ordenados de maneira que o aprendizado ocorra de forma
organizada e gradativa. Por outro lado, são autocorretivos, ou seja, por meio deles
os alunos perceberão seus erros sozinhos, podendo refazer a atividade até obterem
sucesso, sem a mediação doprofessor. (Ibidem).
Além do trabalho individual, muitas das atividades nas salas montessorianas
ocorrem em grupos e coletivamente. Como já citado, havendo a diferença de idade
proposital, os mais novos também aprendem muito com os mais velhos, em uma
troca de experiências, desenvolvendo, ainda, a solidariedade e a atenção com o
próximo e, no coletivo, desenvolve-se o trabalho em equipe e o respeito; estes
valores são importantes na formação humana.
O ambiente montessoriano deve assim, por si só, proporcionar o aprendizado
à criança, através do preparo prévio e da disposição proposital dos materiais. Nesta
proposta, ela construirá seu conhecimento de forma autônoma e independente,
desenvolvendo valores e adquirindo competências, de modo que isso lhe seja
indispensável por toda a vida.
2.2.3 O Professor na Perspectiva Montessoriana
O professor montessoriano, além de uma formação continuada, como todos
os professores, necessita também uma formação diferenciada e específica sobre os
Pressupostos Montessorianos. Para que esta preparação aconteça, educadores
precisam ser formados. Nas palavras de Montessori (s/d, p. 144):
A preparação que o nosso método exige dos professores é a autoanálise, a
renúncia à tirania. Terá de eliminar do seu próprio coração a ira e o orgulho,
deve saber humilhar-se e revestir-se de caridade. Estas são as atitudes que
seu espírito tem de adquirir, a base essencial da balança, o indispensável
ponto de apoio para o seu equilíbrio. Nisto consiste a preparação interior, o
ponto de partida e a meta.
Sendo assim, para observar e perceber a criança, possíveis dificuldades e
facilidades no processo de aprendizagem e de convivência em grupo, o professor
precisa exercitar um olhar criterioso e sensível. Não se trata de observar a criança
exteriormente e a partir disto conduzir um julgamento. A criança precisa ser
28
observada em sua essência, seu interior. Neste caso, o professor necessita estar
bem com seu próprio interior e desenvolver um olhar sem “pré-conceitos”.
Da mesma forma, o professor montessoriano não poderá aprovar ou aceitar
exatamente todas as atitudes de uma criança, ou seja, deve estar atento e ser capaz
de identificar ações que contribuem para o seu desenvolvimento ou não, no tocante
às suas atitudes, algo imprescindível em seu papel de professor.
Como já visto no estudo do ambiente montessoriano, a criança busca seu
conhecimento com a autonomia sendo incentivada pelo professor, que organiza os
espaços e materiais e tem uma intencionalidade com cada proposta.
O educador na Perspectiva Montessoriana é o observador, o sujeito que
intervém somente quando observar esta necessidade. De acordo com OliveiraFormosinho (2007) são atribuições dele a disponibilização dos materiais, dirigir o
crescimento e o desenvolvimento da criança, perceber os períodos sensitivos, enfim,
propor meios e condições para o aprendizado da mesma. Maria Montessori (1985)
define três aspectos em que se devem basear o comportamento do professor.
O primeiro, como já citado, é o cuidado com o ambiente, com os materiais
dispostos nele. A sala deve estar sempre organizada, limpa e os materiais, da
mesma forma, necessitam ser atrativos e convidativos à criança. É necessário que
seja um espaço acolhedor e propício ao aprendizado, ao mesmo tempo.
O segundo aspecto se ocupa do comportamento do professor. Ele deve estar
sempre bem vestido e agradavelmente convidativo à convivência. O professor
montessoriano deve favorecer uma vivência agradável dentro de sala, promovendo,
para isto, atividades diversas, como leituras ou músicas. Deve também provocar as
crianças ao aprendizado, às atitudes, à busca pelo novo. Seu papel é acompanhar
as atividades e interferir sempre que achar necessário, mediando, da melhor
maneira, o estudo.
No terceiro aspecto, a autora relata um período em que a criança se interessa
por algum assunto ou objeto qualquer, sem especificidade, ao seu redor. Neste
estágio então, o professor não deve, sob qualquer hipótese, atrapalhar a criança,
pois ela se desinteressará muito facilmente por aquilo que está a observar no
momento. É necessário que o professor favoreça a concentração e o envolvimento
da criança para que ela continue e conclua seu estudo momentâneo sem
obstruções.
Nas palavras de Soldati (2004, p.14):
29
Todavia, a mestra tem inúmeras incumbências, difíceis, por certo; sua
cooperação não deve ser excluída, mas há de ser prudente, delicada e
multiforme. Suas palavras, energia ou severidade não são necessárias; o
que importa é o atento espírito de observação, sua visão ao servir, interferir,
retirar-se, calar-se, segundo os casos e as necessidades. Deverá adquirir
uma habilidade moral que nenhum método, anteriormente, exigira;
habilidade feita de calma, de paciência, caridade e humildade. São as
virtudes, e não as palavras, a sua máxima preparação.
Incumbe-se do papel do professor estimular a criança ao aprendizado, mas
deixá-la aprender sozinha. Precisa ser conhecedor pleno da criança, para que possa
observar com clareza e identificar a necessidade de interferência ou de alguma
situação diferenciada. A sensibilidade de saber quando deve ou não intervir, é uma
de suas características necessárias. Além disso, como conhecedor do material, deve
dispor de forma que desperte o interesse da criança, chamando-o ao conhecimento.
Neste sentido, de acordo com Moraes (2009, p.77),“(...) ele deve conhecer o
material, saber explicar o seu uso, saber como colocá-lo na sala de aula e como
apresentá-lo.”
Ter a consciência de que este material constitui-se como ferramenta de
ensino, ou seja, como meios didáticos, e que cada criança tem seu tempo,
respeitando suas fases de desenvolvimento, acreditando sempre nas suas
potencialidades, orientando e motivando quando necessário e “estar atento às
possibilidades e às dificuldades de cada aluno seu” (MORAES, 2009, p.78), enfim,
resumem e constituem o papel do Professor na Perspectiva Montessoriana.
30
3 CAMINHOS DA PESQUISA
A construção do conhecimento científico é baseada na execução de
procedimentos ou estratégias, fundamentadas em teorias do conhecimento ou da
ciência. Esta característica é regular de todo ou qualquer processo de conhecimento
e atividade de pesquisa. (SEVERINO, 2007).
Desta forma, o presente trabalho estudou a Perspectiva, o Sistema da
Pedagogia Montessoriana e a partir deste conhecimento, propôs alternativas de
utilização do mesmo nas demais escolas. Neste sentido, o corrente estudo buscou,
através da Pesquisa Bibliográfica, os pressupostos teóricos, bem como elementos
da vida e do trabalho de Maria Montessori.
A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro
disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos,
como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas
já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os
textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador
trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos
constantes dos textos. (Ibidem, p.122).
De acordo com as palavras do autor, este levantamento é realizado em
material científico produzido anteriormente, utilizado como fonte de pesquisa
presente. Munido deste conhecimento, o pesquisador poderá envolver-se na
construção da sua proposta, ou projeto.
Na sequência do presente trabalho, através da Pesquisa de Campo10,
realizou-se a observação do ambiente e do cotidiano de sala de aula em uma
Escola de Perspectiva Montessoriana, localizada no Centro de Florianópolis.
A partir da observação,comoTécnica de Pesquisa, realizou-se a coleta e
levantamento de dados que foram, neste caso, relatórios/diários da observação do
cotidiano do objeto de estudo; geralmente descritivos e/ou fotográficos, de
multimídia, neste caso, denominados Diários de Bordo.
Realizados o Levantamento Bibliográfico, a Pesquisa de Campo e seus
respectivos Levantamentos de Dados, propomos alternativas de utilização dos
Pressupostos Montessorianos em outras Escolas visto que não há uma ampla
difusão do Sistema nas escolas.
10
A Pesquisa de Campo caracteriza-se pela abordagem do objeto de estudo em seu meio específico.
31
4 ANÁLISE DOS DADOS – RELATOS DE UM CONTEXTO
4.1 A ESCOLA EM QUE SE REALIZOU A PESQUISA DE CAMPO 11
A escola na qual realizei minha pesquisa de campo pertence à rede privada e
está localizada no Centro da cidade de Florianópolis – SC, sendo que optamos por
ela devido à utilização do Sistema Montessoriano de ensino. A Instituição atende
hoje aproximadamente 1.600 crianças e possui uma longa história, mais
precisamente de 57 anos de atendimento educacional.
Após a vinda da Alemanha e instalação das Irmãs Franciscanas de São José
no interior do Estado de Santa Catarina, surgiu a necessidade da aquisição de uma
Casa de Passagem na Capital, para amparar Irmãs em viagem. Como a
Congregação não tinha condições para tal aquisição, o terreno onde se constituiu a
casa foi doado por futuros benfeitores da Instituição.
Em 10 de setembro de 1955, inaugurou-se a “Casa de Hóspedes” das Irmãs
Franciscanas de São José. Porém logo no início surgiu uma dificuldade, a de como
manteriam tal Casa. Idealizou-se então, a criação de uma escola. Em 15 de
setembro do mesmo ano iniciavam as atividades, com caráter privado. As aulas
eram ministradas dentro da Casa das Irmãs ou no pátio e, em 1965, dez anos
depois, fundou-se o Jardim de Infância.
No ano de 1973, a escola adotou a Pedagogia Montessori, “que tem como um
de seus pressupostos amar e respeitar o educando, dando importância a seus
primeiros anos, como ocasião de educá-lo para a liberdade, disciplina e
independência”12.
Com o intuito de integrar-se a outras Instituições do Sistema, a Instituição é
filiada á OMB – Organização Montessori do Brasil e, ainda, a duas Instituições
internacionais, a UNESCO e a AMS – American Montessori Society.
A Instituição hoje está instalada em um prédio de 4 (quatro) andares, após ser
reformado e ampliado. Atende a Educação Infantil desde o Berçário, e também de 1º
ao 9º ano. Neste último, as turmas são seriadas, conforme a legislação vigente,
porém se utilizam dos Pressupostos no ensino. Na Educação Infantil, chamada de
Casa dei Bambini, há as turmas seriadas e também as Classes Mistas (3 a 6 anos),
11
12
Fonte: Livro de Cinquentenário da Instituição. Vide Bibliografia.
Ibidem.
32
característica do Sistema. Sendo predominantemente, desde o início, de religião
Católica é e foi dirigido durante todo o período, por Irmãs da Congregação.
A recepção por parte da Instituição para a realização de minhas observações
não poderia ter sido melhor. As portas foram abertas, permitindo que eu estivesse ali
durante o tempo que eu necessitasse, sendo que optei por duas semanas,
convivendo e compartilhando da rotina e conhecendo ainda mais acerca do meu
objeto de estudo: o Sistema Montessori. Colocaram-se à disposição, esclarecendo
dúvidas e contribuindo amplamente para meu aprendizado.
Minha estadia aconteceu na turma de 1º Ano, com 22 crianças igualmente
acolhedoras, além de professora e auxiliar extremamente solícitas e principalmente,
profissionais exemplares. Observar o trabalho delas juntamente com as crianças
enriqueceu e ampliou ainda mais minhas percepções acerca do Sistema. Uma
observação e um relato detalhado sobre este período de observações, exponho a
seguir.
4.2 O OBJETO DE ESTUDO – 1º ANO – PERCEPÇÕES E VIVÊNCIAS
No período de duas semanas, passei minhas manhãs na sala do 1º ano desta
escola da rede privada, que utiliza o Sistema Montessori. Composta por 22 crianças
de seis e sete anos, tendo como professora T. e sua auxiliar, L. A turma é agradável
e interessante de se observar, apenas duas crianças são mais novas no grupo, pois
as demais estão desde bem pequeninas na escola, familiarizadas ao Sistema
Montessori, pois se constata que trabalham com autonomia e interesse nos
materiais disponíveis no ambiente. As duas crianças que ingressaram neste ano,
percebe-se que então em processo de acolhimento no grupo, observam, e, aos
poucos produzem e demonstram aprendizagens, pelo fato de estarem sob o olhar
atento da professora que orienta sempre que necessário.
Nas palavras de Moraes (2009, p. 80):
Uma criança que estuda numa escola em que o ambiente é preparado pra
ela, com ordem, harmonia, espaço, objetos e materiais adequados e
professores especialmente preparados para guiá-la e orientá-la,
desenvolverá todo o seu potencial, fazendo da aprendizagem um ato
prazeroso.
33
Neste sentido, podemos perceber que a junção de todos estes fatores, isto é
ambiente e materiais adequados e profissionais preparados para mediar esta
interação, da criança com o ambiente e materiais, promoverá a inserção e o
aprendizado eficiente das crianças. Quanto ao espaço, pude observar e acompanhar
sua organização e a forma como se apresenta e inter-relaciona-se com as crianças
ao me inserir no cotidiano da escola.13
Prendi-me a observar o ambiente, inicialmente. Uma sala ampla, com uma
linha quadrada desenhada no piso, no entorno, prateleiras dispostas ao
longo das paredes, com os materiais, de alfabetização (alfabeto em fichas,
sacos de análise...), matemática (material dourado...) dentre outros, além
dos cadernos das crianças e também, de utensílios domésticos tal qual
usados no ambiente doméstico, em vidro, como copos, bandeja, jarra, entre
outros. (Diário de Bordo de 08/04/2013).
Figura 1 - Espaço da Sala
Figura 2 - Utensílios disponíveis
Fonte: Arquivo Pessoal – 16/04/2013 Fonte: Arquivo Pessoal – 16/04/2013
Em um dos cantos, um tapete, algumas almofadas e uma prateleira de
livros compõem o cantinho da leitura. As carteiras ficam dispostas em torno
da linha, deixando o centro da sala livre. Neste centro, as crianças colocam
seus tapetes e trabalham. Para o trabalho no tapete, cada uma tem uma
plaquinha com seu nome, para deixar em cima dele. O uso das carteiras é
opcional. Para o trabalho no tapete, cada criança tem uma prancheta, para
facilitar a escrita. (Diário de Bordo de 08/04/2013).
13
Utilizarei como referência e fundamentação, os registros dos momentos vividos na escola, que
denominei Diários de Bordo, elaborados nas observações em campo.
34
Figura 3 - Cantinho da Leitura
Figura 4 - Pranchetas
Fonte: Arquivo Pessoal – 16/04/2013 Fonte: Arquivo Pessoal – 16/04/2013
De acordo com os estudos que embasam a Perspectiva Montessoriana, o
ambiente deve propiciar à criança o movimento, a busca pelo desejado, a
possibilidade de se acomodar e trabalhar da forma que lhe for mais apropriada. “Ela
apenas precisa ter a possibilidade de explorar, de descobrir, de buscar coisas novas
e, assim, entusiasmar-se com as descobertas e sentir um desejo incessante de
aprender.” (MORAES, 2009, p. 80). O trabalho neste ambiente é bastante
diferenciado. As crianças escolhem o que trabalham e no centro da sala, em seus
tapetes, realizam as atividades.Elas têm a opção de fazer nas carteiras, mas
observa-se que a maioria opta pelo chão.
As atividades são escolhidas a partir de fichas, utilizadas conforme
observação do Diário de Bordo de 08/04/2013:
Neste primeiro momento, a maioria trabalhava com as fichas (trabalho
direcionado). Estas fichas são atividades propostas quinzenalmente, com
três opções de cada disciplina, que se encontra em caixas dispostas na
sala. Estas atividades trabalham as diversas áreas do conhecimento
(português, matemática...), além de desenvolver diversas habilidades, como
a leitura e a escrita. Conforme as crianças vão trabalhando com estas
fichas, anotam nas suas agendas o número de cada uma, para que
posteriormente a professora acompanhe o desempenho delas.
As prateleiras com os materiais estão divididas por área de conhecimento
(alfabetização, matemática, ciências...) e as fichas são organizadas com propostas
quinzenais, como relatado no Diário acima. Diariamente, no 1º Ano, a criança
escolhe qual atividade quer realizar; a professora lhe explica a atividade, ela busca
35
os materiais, realiza a atividade e registra-a conforme a orientação da ficha. Desta
forma, a professora acompanha o desempenho de todas, por este registro.
Figura 5 - Fichas de Alfabetização
Fonte: Arquivo Pessoal – 16/04/2013
Figura 6 - Fichas de Matemática
Fonte: Arquivo Pessoal – 16/04/2013
De acordo com o exposto na Figura 5, que evidencia as caixas com as fichas,
neste
período,
há
maior
quantidade
de
fichas
com
atividades
de
alfabetização/práticas de leitura e escrita. Durante minha estada em sala, a
professora iniciava o trabalho com matemática e ciências. Desde o início do ano, o
foco maior vinha sendo as práticas de leitura e escrita, iniciada, é claro, muito antes,
nos anos anteriores, e que se estende por esse e outros anos.
A alfabetização é um dos principais focos neste momento, então o uso do
alfabeto de fichas (em madeira) é muito frequente. A partir de figuras ou
palavras, as crianças montam sobre o tapete, as palavras, letra a letra.
Geralmente trabalham em equipe, e autonomamente, constroem as
palavras. (Diário de Bordo de 08/04/2013).
36
Figura 7 – Alfabeto móvel
Fonte: Arquivo Pessoal – 16/04/2013
As práticas de leitura e escrita são trabalhadas segundo o Método Fônico.
A fala sendo concebida como um fluxo no tempo de certo número limitado
de fonemas que se combinam e recombinam em diferentes ordens
conforme regras convencionais compondo diferentes palavras faladas, e
que esses fonemas podem ser convertidos em seus grafemas
correspondentes num mapeamento de ordem conforme a sequência tempoespaço (da esquerda para a direita na linha, e de cima para baixo entre
linhas), e com lacunas para separar as palavras. (CAPOVILLA &
CAPOVILLA, 2004, p. 77 apud FREITAS, 2011, p. 32).
As letras são tratadas pelo som, formando então sílabas e depois palavras.
Nestas atividades, as crianças já conseguem montar a maioria das palavras
propostas. Quando surgem dúvidas, a professora acompanha o processo, indicando
o som das letras apresentadas que ainda não são conhecidas das crianças.
Neste sentido, o Método Fônico consiste em possibilitar que a criança crie
consciência fonêmica, ou seja, identificar que as letras são tratadas pelos seus sons,
e que estes sons relacionados formam as palavras. Além disso, ela precisa ter
“conhecimentos das relações grafemas-fonemas suficientes para mapear a fala por
meio da escrita e para recuperar a fala interna a partir dessa escrita.” (FREITAS,
37
2011, p. 32). Desta forma, ela poderá relacionar o que está escrito com a fala, ou
seja, o som das letras e consequentemente das palavras.
Uma característica importante é o modo como o alfabeto é ensinado. As
letras raramente são tratadas pelo nome, somente mesmo na apresentação.
A partir da construção, elas passam a ser tratadas pelo som que produzem,
facilitando assim o aprendizado por parte da criança, pois aprendendo os
sons, elas identificam o papel de cada letra na palavra, aproximando o
aprendizado dentre falar e escrever, pois, como afirma Montessori" (s/d, p.
124): “(...) E, na verdade, o que é a escrita alfabética senão fazer
corresponder um sinal a um som?" (Diário de Bordo de 09/04/2013).
Moraes (2009, p. 113) também afirma que “(...) alfabetizar pela fonética é
levar a criança a associar os sons a uma forma gráfica”.
Para a habilidade da escrita, verifico que tem uma proposta presente na sala,
um pegador que estimula movimentos em forma de pinça, de pegar e largar. Esta
atividade permite à criança desenvolver o movimento de pinça com as mãos, o
mesmo movimento utilizado na escrita. Como afirma Soldati (2004, p. 33): “(...)
pinçar grãos – segurança e controle motor são exigidos e facilitarão o controle do
uso do lápis e sua movimentação sobre o papel.”
Outra atividade comum a ser realizada é a de transpor bolinhas de um
recipiente ao outro utilizando uma pinça. Além de trabalhar a concentração,
esta atividade tem como objetivo treinar a habilidade necessária à escrita,
no caso o movimento de pinça com as mãos. Manipulando esta pinça, a
habilidade está sendo aprimorada, de acordo com os Pressupostos
Montessorianos justificados pela professora. (Diário de Bordo de
08/04/2013).
Figura 8 - Recipientes com bolinhas e pegador
Fonte: Arquivo Pessoal – 16/04/2013
38
O papel do professor na Perspectiva Montessoriana é algo que também
merece nosso destaque. A professora da turma pesquisada observa, media,
acompanha o desempenho das crianças, instiga-os a buscar e aprender, quando
necessário, chama-os ao trabalho.
Enquanto as crianças realizam as atividades, a professora e a auxiliar
sempre estão os auxiliando, tirando dúvidas e instigando-os de modo que
aceitem os desafios propostos." Além de chamar as crianças ao trabalho,
elas auxiliam na construção das palavras, ensinando o som das letras e
problematizando, para que busquem no alfabeto esta ou aquela letra a que
corresponde o som. Sempre conversando com muita paciência, atenção e
entusiasmo. De forma alguma, falar alto ou gritar, nem por parte das
crianças, nem da professora. Elas, as crianças, conversam sempre entre si,
mas em um tom baixo e quando exagerado, a professora chama a atenção
brevemente, chamando a criança pelo nome e lembrando-a de que não
deve atrapalhar os colegas com barulho excessivo, e elas já baixam o
tom.(Diário de Bordo de 09/04/2013).
Acerca do professor, discorre Moraes, (2009, p. 118):
A professora, ali, na sala de aula, é alguém que observa o grupo para
buscar a forma ideal de cada um aprender. Desse modo, o educador é um
mediador, condutor nos momentos mais difíceis, modelo e preparador do
ambiente de aprendizagem, isto é, ele é o possibilitador.
Além disto, a professora tem o papel de levar a criança até o material,
estabelecer uma relação entre eles e orientar a utilização e funcionalidade do
mesmo. Algo que merece destaque, é que, se observou que a sala é cheia de
materiais como percebemos nas imagens anteriores (alfabetização, matemática,
ciências...), porém as crianças trabalham sempre com habituais, ou seja, os que já
conhecem. A partir do momento que a professora lhes apresentava algum material
ainda não utilizado, imediatamente no outro dia elas buscavam aquele.
Constata-se que muitos materiais estão dispostos na sala, mas as crianças
se dirigem àqueles que elas já conhecem, e a partir da apresentação da
professora sobre o material, com orientações sobre as possibilidades do
mesmo, é percebido grande interesse das crianças para o material que
antes não era solicitado pelos mesmos. (Diário de Bordo de 18/04/2013).
Ainda sobre o papel do professor, Soldati (2004, p. 14), afirma que ele deve
ser o “facilitador” do trabalho da criança, “orientando”, pois quem escolhe o que vai
trabalhar é a própria criança.
39
Neste dia pude perceber com clareza o papel do professor nesta
perspectiva. Devemos ser os questionadores, problematizadores e ao
mesmo tempo, mediadores na construção da linguagem e escrita, neste
caso. Também cabe ao professor perceber quando é o momento de chamar
aquela criança ou outra mais dispersa, ao trabalho e incentivá-la a produzir
algo, além de acompanhar mais como observadora, o trabalho que
realizam. (Diário de Bordo de 11/04/2013).
A liberdade e o respeito aos movimentos da criança é outro aspecto
importante no Sistema Montessori. Ela, por vontade própria, deverá buscar e realizar
as atividades utilizando-se do espaço e material apropriados, características do
Sistema Montessoriano. Como afirma Soldati (2004, p. 28):
Terá a criança oportunidade de realizar atividades de livre-escolha, num
ambiente que a solicite para o trabalho consciente. Pouco a pouco ela
caminhará para a concentração e interiorização. Na medida em que a
criança experiencia a concentração espontânea, até que se torne um hábito,
ela vai progredindo na normalidade. É indispensável que a criança
encontre-se em condições de constatar as limitações à sua liberdade e de
respeitá-las por princípio de justiça.
Toda criança tem um tempo e um ritmo particular de realizar as atividades e
durante minhas observações na turma, esta característica do Sistema mostrou-se
claramente perceptível.
Como é livre a escolha, algumas crianças desenvolvem uma atividade, as
demais, outras. Nesta manhã, um dos meninos servia água para seus
colegas. Cuidadosamente, encheu a jarra e serviu os copos. Em uma
conversa com a professora, ela relatou que alguns, por serem mais
agitados, precisam de alguma atividade assim, logo cedo, que os acalme
para que posteriormente trabalhem direcionados com os materiais e as
fichas. (Diário de Bordo de 08/04/2013).
Este respeito aos movimentos é uma característica significativa do Sistema
Montessoriano. Neste relato, podemos perceber que o menino não estava
concentrado para realizar atividades direcionadas. Realizar esta atividade de vida
prática, a distribuição de água para os colegas, concentrou-o e permitiu que
posteriormente realizasse outra atividade direcionada com muito mais empenho e
dedicação.
Constatei também, que o sistema respeita o movimento da criança, pois ela
trabalha livremente, sem precisar ficar presa a uma carteira. Além disso, ela
40
pode deixar uma atividade, realizar outra e voltar àquela quando assim
preferir. (Diário de Bordo de 16/04/2013).
A coletividade e a valorização do trabalho também se mostram presentes. As
crianças ajudam os colegas uns aos outros e frequentemente, a professora conversa
com elas a fim de valorizar ou ainda chamar a atenção para este ou aquele aspecto.
Outro ponto forte e importante é o trabalho com a coletividade e o
pensamento no outro. As crianças são instruídas a ajudar o colega e
também o grupo como um todo. Sempre há a conversa para resolver este
ou aquele assunto e também para avaliar o trabalho do dia. (Diário de Bordo
de 16/04/2013).
Ou ainda:
Após este breve momento, sentou na linha para fazer algo também de
costume: a conversa. Elogiou os trabalhos realizados naquele dia (...). Esta
prática também é muito presente, o elogio, a valorização do trabalho
realizado pela criança. Desta forma, ela é motivada a buscar sempre
aprender e produzir mais conhecimento. (Diário de Bordo de 11/04/2013).
Enfim, evidentemente esta Pesquisa de Campo contribuiu para a percepção e
observação de toda a pesquisa bibliográfica na prática. O convívio com estes
pequenos me oportunizou conhecer ainda mais o Sistema e os Pressupostos
Montessorianos, bem como características únicas e inerentes, além de contribuir
para a proposta apresentada no presente trabalho.
4.3 A UTILIZAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS E MATERIAIS NO PROCESSO DE
AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA
Durante minhas observações na sala do 1º ano, percebi que um dos focos
maiores de trabalho eram as propostas para a aquisição da leitura e da escrita. Da
mesma forma, notável era o quanto os materiais e Pressupostos Montessorianos
que aqui trataremos auxiliavam esse processo. Além disto, a criança vem durante
todo um período no convívio de um ambiente possibilitador de contato com a
linguagem escrita. As atividades sensoriais, do movimento de pinça, dentre outros,
contribuem para a aquisição da escrita e também da leitura.
41
Através do trabalho baseado no Método Fônico e da montagem das palavras
letra a letra, as crianças assimilam e compreendem de forma significativa a leitura e
a escrita.
Segundo a linha do Sistema Montessori, onde a criança é levada a
exteriorizar as suas possibilidades e por si só fazer as suas descobertas,
alfabetizar pela fonética é levar a criança a associar os sons a uma forma
gráfica.
O processo fonético ocupa a criança na sua totalidade e é de aplicação
individual; a professora transmite o som a cada criança com material
específico. Assim, a criança ouve, vê, sente, repete e inicia o trabalho de
compor palavras. (MORAES, 2009, p. 113).
Estas letras são apresentadas à criança e a professora explica seu nome e
seu som. Quando trabalhada no contexto da palavra, a criança identifica o som e
assim o seu sentido dentro das palavras. Como o trabalho também é voltado para as
formas das letras, e consequentemente à escrita, em um processo decorrente, ela
relaciona esse som com a forma simétrica e desta forma, a criança tem mais
facilidade para identificar as letras.
Um exemplo deste trabalho de apresentação e reconhecimento da forma
geométrica da letra é o material de lixa, ou as letras em lixa. Conforme relatado no
Diário de Bordo de 09/04/2013 e Figura 9:
Outro material que ela utilizou, a letra de lixa, cujo quadrado de madeira,
tem colado a letra em material de lixa, sendo que passando o dedo
percebe-se bem o formato da letra. Com este material, as crianças também
desenham as letras no caderno, utilizando giz de cera.
42
Figura 9 – Letras de lixa
Fonte: Arquivo Pessoal – 16/04/2013
Estas letras, pela textura de lixa, trabalham a sensibilidade e a percepção,
pois como citado acima, quando a criança passa a mão e os dedos sobre a letra,
percebe seu formato, auxiliando assim, o trabalho da escrita. Além disso, a atividade
de “retirar” com o giz de cera também trabalha esta mesma percepção de escrita.
Outro material utilizado no processo de aquisição da leitura e da escrita é o
saco de análise (Figura 10). Neste saco, havendo um para cada letra do alfabeto, há
várias letras correspondentes em madeira e figuras de objetos com a inicial
correspondente. Conforme Diário de Bordo de 09/04/2013:
Este saco de análise é um saquinho azul, fechado com velcro, que tem
dentro várias letras, no caso o S, de madeira e cartões com figuras de
coisas que começam com a letra S. Neste caso, as crianças poderão
construir, com o alfabeto móvel, os nomes das figuras.
De acordo com o relatado, este material é utilizado em conjunto com o
alfabeto móvel apresentado anteriormente. As crianças montam as palavras
correspondentes às figuras e posteriormente as escrevem no caderno e também
fazem o desenho da figura.
43
Figura 10 – Sacos de análise
Fonte: Arquivo Pessoal – 16/04/2013
Mais um material presente na sala e utilizado nesta mesma linha e intenção é
o ditado concreto. Como relatado no Diário de Bordo de 09/04/2013:
Há na sala uma caixa chamada de ditado concreto. Nela há uma gavetinha
para cada letra do alfabeto e, dentro dela, objetos cujo nome inicie com
aquela letra.
Como poderemos melhor visualizar na imagem a seguir, estas gavetinhas
possuem, diversos objetos; cada gavetinha tem objetos de uma letra. Estes objetos,
em alguma atividade, poderão ter seus nomes escritos com o alfabeto móvel,
escritos no caderno e desenhados.
Figura 11 – Ditado concreto
Fonte: Arquivo Pessoal – 16/04/2013
44
Na escrita, todas as letras que devem ser maiúsculas (início de frase, nome
próprio ou de lugar...) devem ser destacadas em outra cor (geralmente vermelho)
pela criança. Isso facilita para que ela interiorize e apreenda como e onde deve ser
escrito com letra maiúscula. Outra atividade simples, mas que traz uma percepção e
aprendizado significativo é a caixa de areia. Nela a criança pode escrever repetidas
vezes, com os dedos, facilitando os movimentos. Desta forma, ela percebe a escrita
e ao escrever com os dedos, aprende e escrita das letras.
Figura 12 – Formas geométricas, caixa de areia, dentre outros.
Fonte: Arquivo Pessoal – 16/04/2013
Além da caixa de areia, percebemos nesta figura, as formas geométricas em
ferro. Estas formas possuem um encaixe no qual a criança pode trabalhar a função e
a coordenação dos movimentos. Além disso, essas figuras são utilizadas em
atividades cotidianas das fichas. Neste sentido, afirma Moraes (2009, p. 113), “Outra
forma de preparação, a direta, é feita através da pintura dos encaixes de ferro 14 que
educam a mão, (...)”.
O alfabeto móvel, citado várias vezes, é um dos materiais mais utilizados,
devido a sua importância na construção das letras, palavras e frases. É com ele que
as crianças constroem todas as palavras e assim, aprendem a ler e a escrever.
14
Figuras geométricas de ferro, que permitem traçar o contorno e preencher linearmente seu interior
com pintura a lápis colorido. Exercitam o punho, coordenando as contrações musculares necessárias
para o movimento da escrita.
45
Figura 13 – Alfabeto móvel
Fonte: Arquivo Pessoal – 16/04/2013
Na sala em que realizei minha pesquisa, há três caixas como esta com o
alfabeto móvel. Ele é utilizado todos os dias e relaciona-se com a utilização de
praticamente todos os demais materiais, pois como sendo o 1º Ano, período em que,
com foco maior, as crianças estão aprendendo a ler e a escrever.
Acerca da escrita, discursa Montessori (s/d, p. 125):
Representa uma chave, verdadeiro segredo que, uma vez descoberto,
multiplica uma riqueza adquirida – permite à mão apropriar-se de um
trabalho vital quase inconsciente, como a linguagem falada, e criar outra
linguagem que a reflete em todos os pormenores. Participam de igual modo,
a mão e a mente.
Podemos concluir, neste recorte das palavras da autora, a importância da
aprendizagem da leitura para a criança e, consequentemente, da escrita. A criança
internalizará este aprendizado igualmente importante e necessário por toda a sua
vida.
Magda Soares (2003) conceitua que o “acesso ao mundo da escrita” ocorre
em duas linhas: a primeira, chamada de “técnica”, que consiste na relação dos sons
das letras com a escrita, ou seja, “fonemas e grafemas”. Além disto, segurar o lápis,
escrever da esquerda para a direita, enfim, todos estes aspectos técnicos, são
indispensáveis para a entrada do mundo da leitura e escrita. A segunda linha, não
menos importante, é o desenvolvimento da prática de utilização destas técnicas.
Consiste em descobrir “para que e para quem” vamos escrever, ou seja, como
46
utilizar isto, “nas práticas sociais”. E estes dois processos são concomitantemente
indissociáveis, e também, indispensáveis para o desenvolvimento do sujeito no meio
em que ele vive.
Pensando nisto, conclui-se que a aquisição da leitura e da escrita deve ser
um aprendizado prazeroso e que desperte o interesse da criança em adquiri-lo, em
buscá-lo. Desta forma, o presente irá propor, na sequência, alternativas de utilização
destes materiais e pressupostos comprovadamente eficientes e com significado para
a criança.
4.4 MEIOS ALTERNATIVOS DE UTILIZAÇÃO DESTES PRESSUPOSTOS E
MATERIAIS NAS ESCOLAS
Diante da observação e percepção do êxito na aprendizagem das práticas de
aquisição da leitura e da escrita, objetivei propor meios para que estes materiais e
pressupostos sejam utilizados nas demais escolas, públicas ou privadas, com o
intuito de maior êxito no aprendizado destas crianças.
A educação e mais precisamente a aquisição das práticas de leitura e escrita
deve ser um processo prazeroso, em que a criança tenha prazer em buscar e
aprender o que está sendo proposto, que ela sinta vontade de saber ler e escrever.
Como afirma Moraes (2009, p. 114):
A alfabetização é acompanhada individualmente e deve ser iniciada com
naturalidade, isto é, sem imposição. O processo por si só exige da criança
um esforço interior de raciocínio, visto que não há atividades mecânicas, ou
seja, todas as atividades propostas para a alfabetização exigem esforço
intelectual, levando o aluno a pensar.
Desta forma, quando o processo de aquisição de leitura e escrita é trabalhado
de forma processual, que considere o conhecimento que a criança já tem e a desafie
a pensar em outras possibilidades, a criar hipóteses sobre a escrita, a ampliarseus
conhecimentos ao mesmo tempo, a criança desenvolve outras habilidades como
autora de seu aprendizado, buscando soluções a partir dos desafios propostos pelo
professor.
47
Em um processo inicial, a inserção do Método Fonético 15, associado aos
métodos presentes em sala hoje, percebe-se necessária. Processo este que não
precisa ser substituído e sim associado para que, quando chegado o momento de as
crianças iniciarem o processo de aquisição das práticas de leitura e escrita, assuma
significado para a criança, pois como afirma Moraes (2009, p. 116):
Contudo, sabe-se, também, que descobertas revolucionárias com novas
tecnologias, como a neuroimagem funcional e pesquisas de ponta,
defendem a alfabetização fônica como um método inteligente, lúdico e nada
mecânico. Tal técnica leva as crianças a serem alfabetizadas muito bem em
quatro ou seis meses, quando passam a ler textos cada vez mais
complexos e variados. Ele é tão eficaz em produzir compreensão e
produção de textos, porque, de modo sistemático e lúdico, fortalece o
raciocínio e a inteligência verbal.
Conforme percebemos na fala da autora, o Método, que associa a fala e os
seus sons à escrita, possibilita a compreensão da criançasem imposições ou
obrigações, pode ser entendido pela criança tornando a aquisição das práticas de
leitura e escrita um processo que serve de base para a vida e a educação do
indivíduo como um todo; é de essencial importância de que seja um processo
prazeroso e provocador, pela busca do conhecimento, do aprendizado.
Em uma segunda perspectiva, associada ao Método Fônico, característica do
Sistema Montessori, igualmente propõe-se à adaptável utilização de alguns
materiais aqui apresentados, como ferramenta de trabalho nas salas de aula. Além,
é claro, da didática, sendo que osprofessores que devem oportunizar às crianças a
autonomia da construção individual e coletiva das práticas de aquisição da leitura e
escrita.
Neste sentido, é necessário que haja formação específica para que estes
professores possam utilizar estes materiais, a didática e os Pressupostos em sala de
aula. Propõe-se que, na formação continuada destes profissionais, este estudo seja
apresentado e incluso no cronograma. Além disto, grupos de estudo podem ser
criados na própria instituição, a fim de estudar e conhecer os Preceitos e materiais
de Montessori.
É necessário também, que se observe mais e utilize os materiais disponíveis
nas escolas. Um exemplo é o Material Dourado16, de matemática. É sabido que ele
15
As letras são tratadas pelo seu som dentro da palavra. Vide item 3.2 do presente.
Material de Matemática, em madeira, com as representações de unidade (cubinhos), dezena
(barras de 10 cubinhos), centena (placas com 10 barras) e milhar (cubo com 10 placas).
16
48
está presente na maioria das instituições, públicas e particulares, e precisa ser
explorado e tornar-se útil, fonte de aprendizados significativos. Neste sentido,
percebe-se a importância do conhecimento e estudo dos professores acerca destes
materiais e do Sistema Montessoriano.
É visto e perceptível que os materiais montessorianos aqui apresentados
anteriormente17 requerem certo investimento. Mas como podemos, de forma
alternativa, torná-los acessíveis e utilizáveis? Maria Montessori relata em um recorte,
uma situação deste contexto:
(...) Isto apenas porque ensinei às crianças de quatro a cinco anos de idade
algumas letras do alfabeto, que mandei a professora recortar em cartolina e
também em papel esmerilado para que as tocassem com a polpa dos
dedos. E arrumei-as depois em alguns quadros, agrupadas por semelhança
de forma para tornar mais uniformes os movimentos das mãozinhas que
deviam tocá-las. Satisfeita, a professora aderiu àquela iniciação básica.
(MONTESSORI, s/d, p. 124).
Este relato da autora é um exemplo de como podemos utilizar de forma
acessível e prática, alguns materiais montessorianos a partir de construções
alternativas. As letras podem ser recortadas em cartolina ou papel cartão, bem como
outros tantos materiais que temos disponíveis para que as crianças contornem as
letras e percebam suas formas. As letras de lixa, também utilizadas com este
objetivo, podem ser confeccionadas com lixas comuns, recortando-as e colando em
papelão, por exemplo.
Porém, o alfabeto móvel visto acima, é um dos materiais mais utilizados. Ele
seria sem dúvida, um dos materiais de utilização essencial para a construção da
leitura e escrita. Pode ser igualmente confeccionado em papel cartão, papelão ou
alguma madeira mais acessível nos quais são pintadas as letras. Outra maneira
muito interessante é a impressão em folha comum edepois de plastificadas,
recortadasem tamanho de fichas. Desta forma, ele poderá ser utilizado para a
construção das palavras pelas crianças. Aliado a ele, figuras de objetos, impressas,
poderão ser utilizadas propondo à criança a escrita com o alfabeto móvel e, na
sequência, a colagem e a escrita no caderno.
Outro material simples que favorece o trabalho lúdico e o aprendizado ao
mesmo tempo é a caixa de areia. Nela a criança pode escrever com os dedinhos,
praticando a habilidade da escrita. Objetos separados pela letra inicial para o
17
Item 3.3
49
trabalho com as letras também podem ser organizados com a ajuda das próprias
crianças.
Não podemos deixar de citar o cantinho da leitura, os livros (de história ou
afins). Organizados em estante, ou de outra forma acessível e atrativa à criança,
eles devem fazer parte do cotidiano, pois é a partir deles que a criança buscará a
leitura e consequentemente a escrita. Atividades podem ser propostas com estes
livros, como busca de palavras com determinadas letras, por exemplo. Eles devem
estar presentes e também, lembrados.
Propor desafios é um dos objetivos e proposta do Sistema. Além disto, como
papel importante nosso, de professores, como afirma Moraes (2009. P. 116), “(...)
essa importante e fundamental tarefa que é alfabetizar, ajudando na formação de
alunos capazes de criar e recriar, que se percebam leitores competentes e possam
exercer um papel ativo no meio em que vivem.”
Neste sentido, nosso papel está fundado na promoção de meios alternativos
que efetivem o aprendizado destas crianças e lhes sejam experiência memorável e
positivamente enriquecedora por toda a vida.
50
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde as primeiras pesquisas acerca de Maria Montessori no início do Curso
de Pedagogia, interessei-me e admirei tal brava Mulher que lutou por aquilo que
acreditou, em uma época em que mulheres não tinham vez e voz na sociedade. Ao
escolher o tema do Trabalho de Conclusão de Curso, não houve dúvidas: dedicaria
este trabalho a conhecer mais e aprofundar os conhecimentos a respeito de Maria
Montessori, seus Pressupostos e ao que propôs em seu trabalho pela educação
mundial.
Apesar de sua formação inicial ter sido em Medicina, sendo a primeira mulher
a ter tal formação no seu país, a Itália, Maria Montessori interessou-se cedo pelas
crianças, por seu desenvolvimento e educação descobrindo sua verdadeira vocação:
as crianças. Fez muitos cursos e dedicou-se a estudar tais sujeitos e a desenvolver
um Sistema difundindo-o por diversos países.
O Sistema Montessoriano, perspectiva criada por Maria Montessoridefende
que a escola, bem como o professor e o ambiente devem estimular o aprendizado
da criança. Ela deve ter um ambiente preparado, com materiais necessários para a
construção e com o acompanhamento de um professor; deve buscar neste ambiente
e material seu conhecimento, autonomamente, tendo desta forma a liberdade de
buscar aquilo que mais lhe interessa em determinado momento.
O professor observará e acompanhará este processo, intervindo quando
achar necessário. Além disto, o Sistema promove uma série de atividades,
chamadas de vida prática (além de materiais sensoriais, de educação cósmica, de
linguagem)para que o sujeito aprenda desde cedo responsabilidades e respeito ao
próximo e com o ambiente em que vive. Neste sentido, formará cidadãos
responsáveis e conscientes de seus deveres e direitos, além do respeito ao outro.
Maria Montessori define em três etapas o crescimento da criança. Pequena
Infância, Grande Infância e Adolescência devem ser estimuladas e trabalhadas cada
uma com suas peculiaridades e características específicas. Isto se caracteriza pelo
respeito ao tempo e ao desenvolvimento da criança, tratando-a como preocupação
permanente. As classes montessorianas são mistas, isto é, com crianças em idades
diferentes, permitindo que umas ajudem as outras, desenvolvendo e fortalecendo
valores essenciais na formação do indivíduo.
51
Uma observação importante é que em minhas pesquisas acerca do Sistema e
Pressupostos analisados, pouco encontrei em relação às críticas ao trabalho de
Maria Montessori. Não se constatouatravés do levantamento bibliográfico realizado,
trabalhos oficiais que lhe façam tal crítica.
Com o intuito de observar e acompanhar todas estas características do
Sistema, realizei uma pesquisa de campo, observando uma turma de 1º ano, em
uma escola de Perspectiva Montessoriana há 40 anos.
Pude perceber ali, na prática, os elementos estudados e levantados em minha
pesquisa bibliográfica. O ambiente preparado, o professor atento e observador, os
materiais disponíveis ao alcance e de forma atrativa às crianças, o trabalho coletivo,
o respeito ao tempo e à liberdade da criança, enfim, todas estas características
confirmaram-se na vivência destas observações. A escola, bem como a turma
mostraram-sedurante todo o período, extremamente solícitas e solidárias à minha
pesquisa. Colaboraram imensamente para que eu aprendesse ainda mais acerca do
Sistema e de todas as suas características.
Durante estas observações, chamou-me a atenção o fato de a aquisição das
práticas de leitura e escrita serem foco e objetivo principal naquele momento na sala
do 1º Ano. Passei a observar e acompanhar este trabalho, objetivando perceber de
que forma os Pressupostos Montessorianos auxiliavam e promoviam este
aprendizado.
No Sistema Montessoriano, este processo é realizado a partir da utilização
dos materiais e da linha do Método Fônico que consiste no trabalho das letras pelo
som que elas produzem dentro das palavras. As crianças aprendem os sons das
letrasatravés da explicação da professora e em atividades propostas constroem
palavras com os materiais montessorianos. Visivelmente, estas ferramentas e o
Sistema em si, facilitam o aprendizado da leitura e da escrita através do trabalho
com os sons; a criançaidentifica as letras e constrói as palavras, em um exercício de
leitura da palavra, leitura de mundo.
Percebi então, que com os materiais e o trabalho com o Método Fônico as
crianças aprendiam com facilidade e de forma prazerosa construindo o seu
conhecimento com base nas descobertas dos sons e construções das palavras.
Reconhecendo-se a importância do processo de aquisição de leitura e escrita,
proponho no presente trabalho, alternativas para que estes pressupostos sejam
utilizados em outras escolas, de maneira adaptada, mais especificamente. Tratando-
52
se de materiais que exigem certos investimentos, trazemos aqui propostas simples
para que os mesmos sejam inseridos no cotidiano escolar mais facilmente, de forma
específica nas atividades de aquisição de leitura e escrita.
Minha admiração por Maria Montessori só fez crescer após o término do
trabalho. Uma Mulher que com todas as dificuldades da época em que viveu,
alcança a criação de um Sistema, de uma Perspectiva, evidenciando a prática, e
ainda o difunde pelo mundo, é objeto de admiração maior.
Porém, o presente trabalho não está acabado. Montessori dizia que seus
Preceitos deveriam ser continuados. No caso em tela, a continuação está em aplicar
o que se propôs. Utilizar os Pressupostos Montessorianos em outras escolas, no
processo de aquisição das práticas de leitura e escrita. Efetivamente, no projeto
inicial propôs-se esta aplicação, porém nem sempre conseguimos alcançar tudo o
que planejamos, por falta de tempo hábil. Mas a ideia existe e é nosso próximo
passo.
Trabalho cansativo, mas imensamente prazeroso. Investigar o que nos
interessa e o que se gosta traz satisfação e orgulho.
53
6 BIBLIOGRAFIA
CEMJ. Centro Educacional Menino Jesus: uma história de educação para a paz.
Florianópolis: Nova Letra, 2006. 240p.
CUFFARI, Solange Leme. Biografia de Maria Montessori. In: Anais do I Congresso
Brasileiro de Educação Montessoriana. São Paulo: Editora Formar, s/d. p. 09-11.
FRANCISCO, Wagner de Cerqueira e. O IDH no Brasil. 2012.BRASIL ESCOLA.
Disponível em:
<http://www.brasilescola.com/brasil/o-idh-no-brasil>. Acesso em novembro de 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
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VERSATIL HOME VÍDEO. Maria Montessori, unavita per i bambini (Maria
Montessori, uma vida para as crianças). Direção de Gianluca Maria Tavarelli, Itália,
2007. 200 min. Drama. Áudio Italiano.
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APÊNDICE A – Diários de Bordo
1º Relatório/Diário de Bordo–08/04/2013
Iniciei meu estágio de observação na sala do 1º ano A matutino, composto por
22 crianças de 6 e 7 anos, cuja professora T. e sua auxiliar, L..
Quando entrei na sala, as crianças não estranharam minha presença,
somente depois de algum tempo, algumas vinham me questionar. Estavam bastante
concentradas nos seus trabalhos.
Prendi-me a observar o ambiente, inicialmente. Uma sala ampla, com uma
linha quadrada desenhada no piso, no entorno, prateleiras dispostas ao longo das
paredes, com os materiais, de alfabetização (alfabeto em fichas, sacos de análise...),
matemática (material dourado...) dentre outros, além dos cadernos das crianças e
também, de utensílios domésticos tal qual usados no ambiente doméstico, em vidro,
como copos, bandeja, jarra, entre outros.
Em um dos cantos, um tapete, algumas almofadas e uma prateleira de livros
compõem o cantinho da leitura. As carteiras ficam dispostas em torno da linha,
deixando o centro da sala livre. Neste centro, as crianças colocam seus tapetes e
trabalham. Para o trabalho no tapete, cada uma tem uma plaquinha com seu nome,
para deixar em cima dele. O uso das carteiras é opcional. Para o trabalho no tapete,
cada criança tem uma prancheta, para facilitar a escrita.
Neste primeiro momento, a maioria trabalhava com as fichas (trabalho
direcionado). Estas fichas são atividades propostas quinzenalmente, com 3 opções
de cada disciplina, que se encontra em caixas dispostas na sala. Estas atividades
trabalham as diversas áreas do conhecimento (português, matemática...), além de
desenvolver diversas habilidades, como a leitura e a escrita. Conforme as crianças
vão trabalhando com estas fichas, anotam nas suas agendas o número de cada
uma, para que posteriormente a professora acompanhe o desempenho delas.
A alfabetização é um dos principais focos neste momento, então o uso do
alfabeto de fichas (em madeira) é muito frequente. A partir de figuras ou palavras, as
crianças montam sobre o tapete, as palavras, letra a letra. Geralmente trabalham em
equipe, e autonomamente, constroem as palavras. Todo o material que utilizam é
pego por elas e depois guardado também, por elas.
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Como é livre a escolha, algumas crianças desenvolvem uma atividade, as
demais, outras. Nesta manhã, um dos meninos servia água para seus colegas.
Cuidadosamente, encheu a jarra e serviu os copos. Em uma conversa com a
professora, ela relatou que alguns, por serem mais agitados, precisam de alguma
atividade assim logo cedo, que os acalme, para que posteriormente trabalhem
direcionados, com os materiais e as fichas.
Durante as atividades das crianças, pude notar que a grande parte das
crianças conhece as letras e faz uso das práticas de leitura e escrita. Escrevem seus
nomes, sabem a diferença de letra cursiva e forma e também escrevem
corretamente as palavras que montam, no caderno.
Outra atividade comum a ser realizada é a de transpor bolinhas de um
recipiente ao outro utilizando uma pinça. Além de trabalhar a concentração, esta
atividade tem como objetivo treinar a habilidade necessária à escrita, no caso o
movimento de pinça com as mãos. Manipulando esta pinça, a habilidade está sendo
aprimorada,de acordo com os Pressupostos Montessorianos justificados pela
professora.
Geralmente o recreio das crianças dura cerca de 1 hora, dentre lanchar e
também, o momento do parque. Após o retorno á sala, a professora costuma propor
um momento de relaxamento, no qual pede que as crianças deitem-se no chão,
próximas à linha, e através de músicas, eles vão se acalmando.
A musicalidade é uma característica muito presente na perspectiva
montessoriana. Para todos os momentos há alguma música de comando,
característica das escolas montessorianas, sendo assim, em praticamente em todas
as
salas
é
cantada
a
mesma.
Elas
são
trazidas
e
traduzidas
pelos
educadores/coordenadores da escola quando viajam ao exterior em busca de
formação e atualização acerca do Sistema. Através destas músicas, a professora
instrui o que deve ser feito. Para guardar o material, sentar na linha, ir para o lanche,
silenciar, ir embora, enfim, quando a professora começa a cantar determinada
canção, as crianças vão aos poucos a acompanhando e realizando a ação proposta
nela.
Neste dia, após o recreio foi dada continuidade a uma atividade de pesquisa,
na qual, as crianças deveriam pesquisar sobre um determinado país. No dia, o país
pesquisado era a Suécia. As crianças haviam confeccionado cartazes com
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informações pesquisadas com o auxílio de seus familiares. Cada criança apresentou
o seu trabalho, todos sentados no chão na linha.
Ao chegar o horário de saída, também através de uma música, as crianças
vão pegando suas mochilas e encaminhando-se ao pátio para encontrarem seus
responsáveis.
2º Relatório/Diário de Bordo–09/04/2013
Nesta manhã, eu já estava em sala quando as crianças começaram a chegar.
Sem comandos ou ordens, depositavam suas mochilas e logo buscavam alguma
atividade para realizar, geralmente em duplas ou grupos. Em sua maioria, buscaram
desenhos e começaram a montar as palavras com o alfabeto móvel (aquele das
plaquinhas de madeira), conforme algumas atividades das fichas. Também há um
estante com cartões plastificados de escritas de palavras. Dependendo da atividade,
as crianças montam a palavra também a partir da mesma palavra, ou então utilizam
para correção e comparação ao final de alguma construção.
Uma característica importante é o modo como o alfabeto é ensinado. As letras
raramente são tratadas pelo nome, somente mesmo na apresentação. A partir da
construção, elas passam a ser tratadas pelo som que produzem, facilitando assim o
aprendizado por parte da criança, pois aprendendo os sons, elas já identificam o
papel de cada letra na palavra, aproximando o aprendizado dentre falar e escrever,
pois, como afirma Montessori (s/d, p. 124): “(...) E, na verdade, o que é a escrita
alfabética senão fazer corresponder um sinal a um som?”
Enquanto as crianças realizam as atividades, a professora e a auxiliar sempre
estão auxiliando-os, tirando dúvidas e instigando-os de modo que aceitem os
desafios propostos. Além de chamar as crianças ao trabalho, elas auxiliam na
construção das palavras, ensinando o som das letras e problematizando, para que
busquem no alfabeto esta ou aquela letra a que corresponde o som. Sempre
conversando com muita paciência, atenção e entusiasmo. De forma alguma, falar
alto ou gritar, nem por parte das crianças, nem da professora. Elas, as crianças,
conversam sempre entre si, mas em um tom baixo e quando exagerado, a
professora chama a atenção brevemente, chamando a criança pelo nome e
lembrando-a de que não deve atrapalhar os colegas com barulho excessivo e elas já
baixam o tom.
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Neste dia, algumas crianças realizaram uma atividade das fichas que consiste
em utilizar um material de metal, com formas geométricas, que elas desenham no
caderno e depois colorem. Estas formas ficam em um tablado e são encaixadas, de
forma que cada uma tem seu exato encaixe.
Outra característica perceptível neste dia, é que as letras maiúsculas,
geralmente utilizadas no início de frase e dos nomes, são destacadas em vermelho,
tanto quando a professora escreve no quadro, nas plaquinhas com os nomes e
também quando as crianças escrevem nos cadernos. Além disso, na escrita de
numerais, a data, por exemplo, o milhar tem uma cor, a centena, a dezena outra e a
unidade também, todas conforme o material dourado disposto na sala. Segundo a
professora, isto serve para que as crianças interiorizem as informações melhor.
Neste dia as crianças tinham educação física, então ficaram 2 horas fora da
sala. Aproveitei para observar alguns materiais e conversar um pouco com a
professora. Olhei também as fichas, com atividades focadas na alfabetização das
letras. Tem na sala uma caixa chamada de ditado concreto. Nela tem uma gavetinha
para cada letra do alfabeto e dentro dela, objetos cujo nome inicie com aquela letra.
Após a educação física e o recreio, as crianças voltaram agitadas e então a
professora cantou uma música calma com eles e pediu que se deitassem por um
instante no chão. Logo já se percebia que estavam mais calmos. Ela costuma
trabalhar uma letra do alfabeto de cada vez, e neste dia ela lhes apresentou o S, já
fazendo relação com o trabalho sobre a Suécia, do dia anterior. Apresentou-lhes
também materiais que estavam dispostos nas prateleiras, mas que, um deles ao
menos, o saco de análise, não era tão utilizado por eles. Este saco de análise é um
saquinho azul, fechado com velcro, que tem dentro várias letras, no caso o S, de
madeira e cartões com figuras de coisas que começam com a letra S. Neste caso,
as crianças poderão construir, com o alfabeto móvel, os nomes das figuras.
Outro material que ela utilizou foi a letra de lixa, cujo quadrado de madeira,
tem colado a letra em material de lixa, sendo que passando o dedo percebe-se bem
o formato da letra. Com este material, as crianças também desenham as letras no
caderno, utilizando giz de cera.
Após esta apresentação, era hora de irem embora, e com a música de
comando, pegaram suas mochilas e se encaminharam para a saída da escola.
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3º Relatório/Diário de Bordo–11/04/2013
Nesta manhã, a auxiliar saiu para um passeio com outra turma, e então a
professora pediu que eu a auxiliasse um pouco com as crianças. Senti-me
apreensiva, mas ansiosa para participar um pouco deste meu importante objeto de
pesquisa.
Iniciei auxiliando 4 meninas na construção de palavras a partir do saco de
análise da letra S. Com as diversas figuras dispostas no tapete, começaram a
montagem das palavras. Eu ia descobrindo com elas as figuras e as questionando
como seria a escrita das palavras. A partir dos meus questionamentos, elas
buscavam as letras que correspondiam aos sons. Elas iam montando as palavras,
na maioria corretamente. Nesta mediação, montamos aproximadamente 10
palavras. Após esta etapa, elas escreveram as palavras no caderno meia-pauta, no
qual há espaço para a escrita e também o desenho da figura correspondente.
Em seguida, sentei-me com uma menina que tem certa dificuldade de prender
a atenção nas atividades, se dispersa facilmente. Decidi tentar ajudar na construção
do que ela havia iniciado. Ela e outro menino, também ainda com certa dificuldade
de concentração nas atividades, estavam com o saco de análise da letra R sobre o
tapete. Já haviam montado algumas palavras e demos sequência ao trabalho. Íamos
lendo as palavras e identificando os sons, os dois buscavam as letras
correspondentes. Com a minha atenção exclusiva, eles focaram na atividade e ela
prosseguiu com sucesso. Após montarmos, a menina escreveu as palavras no
caderno, já o menino preferiu não, pois ainda demonstra resistência e dificuldade em
suas tentativas de escrita, está em um processo mais lento de alfabetização.
Neste dia pude perceber com clareza o papel do professor nesta perspectiva.
Devemos ser os questionadores, problematizadores e ao mesmo tempo, mediadores
na construção da linguagem e escrita, neste caso. Também cabe ao professor
perceber quando é o momento de chamar aquela criança ou outra mais dispersa, ao
trabalho e incentivá-la a produzir algo, além de acompanhar mais como
observadora, o trabalho que realizam.
Como as letras são tratadas pelo som neste trabalho de alfabetização, ao
meu ver, o aprendizado é mais facilitado e eficiente, pois aproxima a fala da escrita.
Elas já identificam mais rapidamente, quais as letras presentes em determinada
palavra. Além disso, a escrita é feita na maioria, em cadernos de caligrafia.
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Neste dia também havia aula de educação física, então as crianças
demoraram mais para voltar á sala. Quando retornaram, a professora pediu que
deitassem e cantou para que se acalmassem um pouco e também descansassem.
Após este breve momento, sentou na linha para fazer algo também de
costume: a conversa. Elogiou os trabalhos realizados naquele dia, passou deveres,
uma atividade que consistia em escrever o nome de objetos/desenhos impressos na
folha, e também os orientou para um passeio que haveria na próxima semana. Esta
prática também é muito presente, o elogio, a valorização do trabalho realizado pela
criança. Desta forma, ela é motivada a buscar sempre aprender e produzir mais
conhecimento.
Ao término, as crianças se encaminharam ao pátio para seguirem para casa.
4º Relatório/Diário de Bordo–16/04/2013
Nesta manhã, logo cedo um dos meninos servia água na bandeja com os
copos e vidro e me ofereceu. No tapete, duas meninas trabalhavam com um quebracabeça com as sílabas, que montado formava palavras com a letra “R”. Constatei
também, que o sistema respeita o movimento da criança, pois ela trabalha
livremente, sem precisar ficar presa a uma carteira. Além disso, ela pode deixar uma
atividade, realizar outra e voltar à aquela quando assim preferir.
No âmbito da escola, investiguei como funcionavam as outras salas.
De 3 a 6 anos, existem as classes mistas, caracterizadas classes montessorianas,
por serem exatamente conforme os pressupostos criados por ela. Já dos 6 anos
adiante, conforme prevê a legislação, a criança inicia o ensino regular, neste caso o
1º ano. A partir de então, continuam a ser utilizados em sala os materiais
montessorianos e também os pressupostos, adaptados à regularidade exigida na
legislação.
O professor realiza o papel de observador do trabalho das crianças, percebe
o ritmo de cada uma e intervém quando acha necessário. Quando observa que esta
ou aquela criança está mais dispersa, realiza poucas atividades, chama-a ao
trabalho, orientando e incentivando.
Outro material que percebi hoje foram as caixas ortográficas. Elas possuem
cartelas com gravuras e seus respectivos nomes em letra cursiva. Com ela, a
61
criança exercita a leitura e a escrita, além dos desenhos, pois após a montagem no
tapete, ela registra tudo no caderno.
Como as crianças já têm certa intimidade com a minha presença, me
procuravam também para tirarem dúvidas. Nestes momentos, percebo e vivencio o
papel do professor. A leitura de fichas, o auxílio com a escrita desta ou daquela
palavra, as pronúncias, enfim, são por onde perpassam este papel.
Mais uma vez percebi a forte presença da musicalidade, como por exemplo:
“Tá na hora de guardar o material...” e “Parabéns para quem guardou o material e
sentou...”.
Outro ponto forte e importante é o trabalho com a coletividade e o
pensamento no outro. As crianças são instruídas a ajudar o colega e também o
grupo como um todo. Sempre há a conversa para resolver este ou aquele assunto e
também para avaliar o trabalho do dia.
As crianças estão confeccionando um caderno com as informações de todos
os países que estudaram, paralelamente com o trabalho de pesquisa. Após a
educação física e o recreio, elas anotaram as informações da Suécia, desenharam a
bandeira o também um símbolo do país, neste caso o cavalo de Dalarna. E esta foi a
última atividade do dia.
5º Relatório/Diário de Bordo –18/04/2013
Esta manhã iniciou com a presença de mais 2 pessoas em sala, um casal
estagiário do Instituto Estadual de Educação, curso do Magistério.
Constata-se que muitos materiais estão dispostos na sala, mas as crianças se
dirigem àqueles que elas já conhecem, e a partir da apresentação da professora
sobre o material, com orientações sobre as possibilidades do mesmo, é percebido
grande interesse das crianças para o material que antes não era solicitado pelos
mesmos. Neste dia, as crianças estavam trabalhando com a Tábua de Seguin, que
aplica matemática. Nesta tábua, estão desenhados os números, e com fichas eles
encaixam para montarem outros números. Além disso, representam as quantidades
com o material dourado, diferenciando centena, dezena e unidade.
Além de apresentar estes materiais e incentivar as crianças á manuseá-lo, a
professora também acompanha o trabalho das fichas, fazendo a leitura com as
crianças e explicando as atividades contidas nelas. Um ponto que chama a atenção
62
é que quando se dirige á criança, a professora sempre pede que a mesma lhe olhe
nos olhos e assim explica calma e claramente.
Além de escreverem as palavras montadas no caderno, as crianças também
desenham o correspondente, o que facilita a interpretação , pois relaciona a imagem
com a escrita, e ainda exercita a habilidade.
Como neste dia havia eu mais estes dois estagiários, a turma estava agitada,
não obedecendo aos comandos da professora e fazendo barulho em excesso. Antes
do recreio, a professora precisou falar firmemente, chamando a atenção de todos,
para acalmá-los. Antes de irem para a educação física, cantou e dançou músicas,
características do sistema, que exercitassem o corpo todo.
No retorno, músicas de relaxamento. Por causa da euforia, a professora teve
uma breve conversa, explicando nossa presença e que deveriam continuar com o
mesmo comportamento de sempre, trabalhando tranquilamente. Após, já quase no
horário de término da aula, as crianças concluíram o que estavam fazendo antes de
sair e guardaram todos os materiais.
6º Relatório/Diário de Bordo–19/04/2013
Nesta manhã da última observação, as crianças buscaram inicialmente os
materiais de matemática. Na escrita, os números são escritos com cores diferentes,
denominadas “especiais”. Unidade de uma cor, dezena de outra e assim
sucessivamente, conforme o material dourado. Durante a primeira parte da manhã,
acompanhei as crianças nos tapetes, na montagem de números e quantidades com
o material dourado.
Um ponto interessante também, é que como as crianças trabalham muito em
grupo, algumas se destacam mais do que outras e é necessário o olhar atento da
professora, para que sejam oferecidas as mesmas oportunidades á todos do grupo.
Neste dia auxiliei a professora na colagem da atividade de deveres nos
cadernos. Aproveitei para investigar algo que vinha observando desde o início: a
questão de as crianças chamarem as professoras de Tias, ela disse então que é
algo que já vem de muito tempo, que as crianças aprendem desta forma, sendo uma
característica da escola.
Acerca do planejamento, ele é realizado pela professora e apresentado á
instituição, que nos dias respectivos, é repassado á ela, bem como materiais e
63
subsídios
necessários
para
a
execução
do
mesmo.
Como
avaliação
e
acompanhamento, ela realiza os registros e relatórios e também os encaminha á
instituição. Importante ressaltar também que, todos os professores que atuam na
escola passam por uma formação específica, o Curso Montessori, oferecido pela
própria instituição, que deve ser custeado por ele mesmo. É o pré-requisito
necessário para ser professor na escola. Auxiliares de sala não possuem esta
obrigatoriedade.
Após o recreio, as crianças trabalharam com colagem de figuras e a escrita
dela. Algumas me pediram auxílio para a escrita, quando percebi que com as vogais
elas já tem mais facilidade. Quando solicitei que montassem as palavras com o
alfabeto móvel, repetindo com elas os sons das letras, ficou muito mais fácil. Elas
conseguiram montar com facilidade e então escreviam o nome das gravuras sem
apresentar dificuldade, autonomamente. Neste momento, pude perceber o quão
construtivo pode ser a utilização do alfabeto móvel, tanto para a pronúncia, a grafia e
a escrita.
Ao final da aula, as crianças teriam um ensaio para o dia das mães, então a
aula acabou mais cedo.
Posso dizer que foi uma experiência rica, produtiva e de um aprendizado sem igual.
Perceber a teoria das leituras e da escrita na prática é realmente enriquecedor para
um bom trabalho.
64
ANEXO I
Declaração de revisão ortográfica, gráfica e de linguagem da Língua
Portuguesa.
65
DECLARAÇÃO
Eu, Clézia Juventina da Cunha, CPF nº 251.969.289/87 e RG nº738122,
declaro para os devidos fins e a quem interessar possa que este
Trabalho de Conclusão de Curso, elaborado pela acadêmica Rosenete
Scherer, CPF nº 068.643.739-08 e RG nº 5.434.974-5, em junho/2013,
como requisito final para a aprovação do Curso de Graduação em
Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ, sob o
título: SISTEMA MONTESSORI:
Contribuições para a prática
pedagógica com ênfase nas práticas de leitura e escrita, entregue à
acadêmica, encontra-se devidamente revisado de acordo com as novas
normas de ortografia, grafia e linguagem da Língua Portuguesa das
páginas 01 a 65 pelas quais dou esta declaração.
São José, 17 de junho de 2013.
__________________________________
Clézia Juventina da Cunha

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