Rivaldo - José Cruz

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Rivaldo - José Cruz
C M Y K
8
ESPORTES
Brasília, segunda-feira,28 de fevereiro de 2000
CORREIO BRAZILIENSE
Rivaldo inicia o ano melhorando suas marcas e projeta uma temporada com novos recordes no ironman para amputados
sem
José Cruz
Da equipe do Correio
C
limites
OMPETIR NÃO É O SUFICIENTE. É PRECISO UM
TECNOLOGIA
Mecanismo da prótese na corrida
A prótese utilizada por Rivaldo Martins foi aperfeiçoada por seu médico,
Marco Antônio Guedes,também amputado, que realiza um trabalho
constante de pesquisa para melhorar a performance do atleta
RESULTADO EXPRESSIVO, NO
MÍNIMO, EM CADA TEMPORADA. TEM SIDO ASSIM NOS ÚLTIMOS ANOS. RECORDISTA MUNDIAL DO IRONMAN — 3KM DE
Ricardo Borba 23.2.2000
NATAÇÃO, 180KM DE CICLISMO
E 42,192KM DE CORRIDA — PARA AMPUTADOS, RIVALDO
MARTINS MELHORA, AGORA, A
SUA PRÓPRIA MARCA NO TRIATLO OLÍMPICO — 1,5KM DE NATAÇÃO, 40KM DE CICLISMO E
10KM DE CORRIDA — E FIXA
NOVO RECORDE MUNDIAL EM
SUA CATEGORIA: 2H05MIN48S,
CONTRA 2H08MIN42S, SEU
TEMPO ANTERIOR.
Há 13 anos, Rivaldo foi vítima
de um acidente de ônibus. Por
conta disso, teve a perna esquerda amputada 10cm abaixo do
joelho. Mais tarde, com o apoio
de uma prótese, retornou aos
treinamentos e competições do
triatlo, modalidade que praticava
antes do acidente.
O novo recorde de Rivaldo, registrado há três semanas no concorrido Triatlo Internacional de
Santos (SP), deve-se, segundo
ele, a mudanças feitas na prótese por seu médico, Marco Antônio Guedes, de São Paulo, também um amputado. Ortopedis-
ta, Marco Antônio dedicou-se a
desenvolver tecnologia de reabilitação de amputado, oferecendo, caso a caso, próteses adequadas que permitem a melhor
mobilidade possível.
‘‘A joelheira externa que ajustava a perna à prótese limitava
meus movimentos, além de deixar uma pequena folga no encaixe. Agora, foi substituída por um
elástico que, além de oferecer
melhor ajuste, dá maior conforto
e ajuda a acelerar as passadas durante a corrida (veja ilustração)’’,
diz Rivaldo, entusiasmado com a
evolução.
Por conta da mudança, Rivaldo reduziu em quatro minutos seu tempo na corrida do
triatlo (10km), conforme registrou na recente prova de Santos (SP). A prova de ciclismo
também sofre mudanças. Agora, o triatleta sente-se mais à
vontade para pedalar. ‘‘Eu não
saía do selim nas subidas. Com
as mudanças, já consigo levantar e me apoiar bem no pedal.
Também isso ajudará a baixar
os meus tempos’’, afirma.
A tese será testada em Brasília, onde Rivaldo participará
de todas as provas do campeonato local de ciclismo, visan-
do, também, à preparação para a Paraolimpíada, em setembro, em Sydney.
Se tudo isso continuar dando
certo, Rivaldo projeta concluir o
exaustivo Ironman de Roth (Alemanha), no dia 9 de julho, abaixo das 10h10min. ‘‘Nessa mesma prova, no ano passado, fiz
10h37min, mas esse tempo deve baixar significativamente’’,
explica.
PREPARATÓRIAS
As competições locais serão
preparatórias para dois eventos
importantes neste semestre: o
Meio Ironman de Pirassununga
(SP) — 1,5km de natação, 90km
de ciclismo e 21km de corrida —,
no início de abril, e a etapa de
Perth (Austrália) do Campeonato
Mundial da União Internacional
de Triatlo, no dia 29 de abril. Em
Pirassununga, o objetivo de Rivaldo é correr o meio ironman
abaixo das 4h43min, também recorde mundial.
‘‘Depois dessas duas provas,
vou me preparar para o maior desafio, no dia 9 de julho, o Ironman
de Roth (Alemanha), onde correrei pelo quarto ano consecutivo’’,
diz o incansável atleta.
As projeções para melhorar os
RIVALDO
CORRE COM
MAIOR
CONFORTO
DEPOIS QUE
PASSOU A USAR
UM ELÁSTICO
PARA AJUSTAR
A PRÓTESE À
PERNA
anode arrepiar
Carlos Vieira 1.7.99
atletismo
tempos são bem fundamentadas
por Rivaldo. Com excelente saúde, rigoroso plano de treinamentos e ótimo desempenho na natação — ‘‘sempre saio entre os seis
primeiros da água’’ —, ele fez
uma recente avaliação, durante o
Short Triatlon de Caiobá (SP).
‘‘Cheguei em 46º lugar numa prova em que largaram 540 competidores correndo em condições
normais’’, festeja. Nessa ocasião,
ele concluiu a prova em
1h02min49s, depois de cumprir
750 metros de natação, 20km de
ciclismo e 5km de corrida. ‘‘É o
meu melhor tempo na distância’’,
afirma.
Rivaldo reconhece que só com
dedicação exclusiva é possível
desenvolver esse plano de treinamento e disputar competições que lhe têm garantido evolução nas marcas. Para tanto,
conta com o patrocínio da Novo
Rio Recicláveis, Pão de Açúcar e
Radiobrás. ‘‘Sem esses apoios,
não teria crescido, pois se para
um atleta normal o dia-a-dia do
esporte já é difícil, imagine o que
isso significa para um amputado’’, afirma. ‘‘ Portanto, tenho
que aproveitar esse apoio de
quem está disposto a investir no
meu potencial’’.
APESAR DE AINDA SER JUVENIL, LUCÉLIA TEM CHANCES DE
CLASSIFICAÇÃO PARA AS OLIMPÍADAS NOS 1.500M E 5.000M
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Independente dos resultados
desta temporada, Lucélia de Oliveira Peres, 18 anos — completa
19 em agosto —, tem um excelente balanço de sua carreira de atleta juvenil, que encerra em dezembro. Destaque da nova geração das pistas, Lucélia orgulha-se
de, nas dez convocações para representar o Brasil em competições internacionais, ter estado no
pódio em oito ocasiões: seis para
receber a medalha de ouro e duas,
a de bronze (veja quadro). Além
disso, obteve um excelente sétimo lugar no Campeonato Mundial Juvenil, na Rússia.
Desde o final de 1999, Lucélia
está em constante preparação
para enfrentar um extenso calendário de provas nesta temporada,
no Brasil e no exterior, além de
tentar a tão sonhada vaga para as
Olimpíadas de Sydney.
O próximo desafio da brasiliense é o Mundial de Cross Country,
em Vilamoura (Portugal), no dia
19 de março. A prova, em 6km, é
disputada em terreno acidentado, com subidas e descidas, muita
lama e poças d’água, o que torna
a competição difícil e cansativa.
‘‘Assisti a um filme com o percurso de Vilamoura e parece que
ele é bem mais leve do que o do
ano passado, na Irlanda, que tinha muita lama’’, analisou Lucélia (Fit 21), atleta da Associação
Brasiliense de Corredores (ABC).
‘‘Além disso, a previsão é de que
MEDALHAS INTERNACIONAIS
1997
Sul-Americano
1998
Sul-Americano
1999
Sul-Americano
Sul-Americano
Sul-Americano
Pan-Americano
Sul-Americano
2000
Sul-Americano
5.000m
Bronze
Maldonado (Uruguai)
5.000m
Ouro
Córboda (Argentina)
Cross
3.000m
5.000m
5.000m
Cross
Ouro
Ouro
Ouro
Bronze
Ouro
Arthur Nogueira (SP)
Concepción (Chile)
Concepción (Chile)
Tampa (EUA)
Cartagena (Colômbia)
Cross
Ouro
Cartagena (Colômbia)
estará menos frio que na GrãBretanha, quando corremos com
uma temperatura horrível, perto
de zero grau’’. A prova de cross,
por exigir muita resistência, é excelente para a preparação de Lucélia, segundo seu treinador,
Edilberto Santos Barros.
‘‘No Brasil, vamos buscar o
pentacampeonato juvenil nos
5.000m e o tricampeonato nos
1.500m’’, disse Edilberto. ‘‘Mas o
maior desafio de Lucélia será a
luta pelo índice para as Olimpíadas de Sydney’’. Mesmo sendo juvenil, ela tem chances.
‘‘Lucélia vai fazer 19 anos em
agosto, ou seja, tem duas olimpíadas, no mínimo, pela frente, a
partir da de 2004 (Atenas)’’, explicou Edilberto. ‘‘Se ela conseguir
chegar a Sydney, será excelente.
Imagine um atleta ainda juvenil
participar de uma seletiva olímpica. O que isso soma à sua carreira
é espetacular’’, avaliou o técnico.
Embora seja a prioridade, a
corredora vê a vaga olímpica com
cautela. Só o fato de ter sido préconvocada pela Confederação
Brasileira de Atletismo (CBAt) já
significa o reconhecimento de
seu potencial, o que ela festeja.
Na análise dos tempos, Lucélia
está mais próxima da vaga nos
1.500m, mas acredita que terá
mais facilidade para alcançar o
índice nos 5.000m. ‘‘Nos 1.500m,
o índice é 4min12s, e a minha melhor marca é 4min26s, ou seja,
preciso baixar 14 segundos. Já nos
5.000m, o índice é 15min55s, e eu
tenho 16min41s. Acontece que os
1.500m são uma prova muito rápida, que não aceita erros. Nos
5.000m, se eu errar uma volta tenho chances de me recuperar’’.
O Troféu Brasil, em agosto, no
Rio, será a última chance para alcançar o índice olímpico. (JC)

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