ROADMAP TECNOLÓGICO SISAL

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ROADMAP TECNOLÓGICO SISAL
ROADMAP TECNOLÓGICO SISAL
Suzana Borschiver – [email protected]
Prof Dsc – Universidade Federal do Rio de Janeiro- EQ-Neitec
Karoline da Mota Coelho – [email protected]
Graduanda em Engenharia de Bioprocessos – Universidade Federal do Rio de Janeiro- EQ-Neitec
 Andressa Oliveira Costa de Jesus – [email protected]
Graduanda em Engenharia Química – Universidade Federal do Rio de Janeiro-EQ-Neitec
Silmar Baptista Nunes - [email protected]
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI/DR/BA
Resumo — No mundo, observa-se um maior interesse em torno da utilização das fibras naturais nas mais diversas
aplicações, impulsionada pela busca por alternativas às matérias-primas fósseis. No caso brasileiro, destaca-se o sisal
(Agave sisalana). O trabalho recorreu a analise de artigos (base de dados SCIRUS), publicações em mídia
especializada, patentes depositadas e concedidas (base USPTO) para identificar tendências tecnológicas e
mercadológicas de exploração da fibra de sisal e dos seus resíduos como matérias-primas para o desenvolvimento de
diversas aplicações, de 2008 a 2013/7. O produto final é o RoadMap Tecnológico (Technology RoadMapping –
TRM). A metodologia de TRM, dentro do conceito de prospecção tecnológica, consiste em uma ferramenta de
planejamento estratégico utilizado pelos diversos atores na cadeia produtiva de modo a auxiliar na tomada de decisão
apresentando os resultados em uma análise temporal de curto, médio e longo prazo, relacionando-os com fatores
críticos referentes a mercado, produto e tecnologia que correspondem as taxonomias: Foco da Informação, que
contém as principais tendências do mercado sendo estudadas/desenvolvidas; Forma da matéria – prima que contém
o tipo de matéria – prima do processamento do sisal identificada no documento: Fibra, Suco (resíduo líquido) e
Mucilagem (resíduo sólido); Insumos do Processo que contém os principais insumos e materiais utilizados no
processo, Equipamentos, Material/Compósito, Aditivos e Tecnologia que contém as principais tecnologias
identificadas nos documentos: Pré-tratamento, Tratamento e Processamento Físico.
Palavras-chave – RoadMap Tecnológico, Sisal, Prospecção Tecnológica, Fibras naturais.
Abstract— In the world, there is an increased interest around the use of natural fibers in several applications, driven
by the search for alternatives to fossil raw materials. The sisal (Agave sisalana) shows up in Brazil. This work
resorted to analysis of articles (Scirus data base), publications in specialized media, issued and applied patents
(USPTO) to identify market and technological trends about exploration of sisal fiber and its residues as raw materials
for the development to many applications, from 2008 to 2013/7. The final product is the Technology RoadMapping
(TRM). TRM methodology within the concept of technology foresight is a strategic planning tool employed by a
number of players in the supply chain so as to assist them in decision making showing the results in a temporal
analysis of short, medium and long term, relating with critical factors regarding market, product and technology
which correspond the taxonomies: Market Target, at this label it is presented market’s trends being studied /
developed; Raw material form, at this label it is presented the kind of raw material of sisal processing identified in
the document as Fiber, Juice (liquid waste) and mucilage (solid waste); Process’ support, at this label it is presented
the main process’ inputs and support materials: Equipment, Material/Composites, Additives; Technology, at this
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label it is presented the main technologies identified inside the documents as Pretreatment, Treatment and Physical
process.
Keywords— Technology RoadMapping, Sisal, Forecast(ing), Natural fibers.
I. INTRODUÇÃO
As flutuações nos preços e a insegurança na oferta de petróleo contribuem para que as empresas busquem
alternativas às matérias-primas fósseis (LANGEVELD et al, 2010). Com isso, cresce o interesse pelas fibras naturais
nas mais diversas aplicações. A tendência de maior inserção desses materiais pode ser explicada por alguns fatores
(SINDIFIBRAS, 2012), como:
 A necessidade de se desenvolverem soluções econômicas que abrangem aspectos ambientais e sociais;
 A valorização crescente do uso de matérias-primas renováveis;
 A disponibilidade de tais recursos e a potencialidade de seu uso em aplicações de maior valor agregado;
 A perspectiva de maior aproveitamento de resíduos gerados nas atividades atuais que já utilizam as fibras;
 O desenvolvimento de novas aplicações;
 O menor custo desses materiais, o que potencializa seu uso como material de reforço;
 O impacto social positivo que pode ser alcançado com geração de emprego e renda.
O sisal é uma das principais fontes de fibras duras vegetais do mundo, sendo responsável por quase 70% da
produção comercial de todas as fibras desse tipo, tendo o Brasil como o maior produtor e exportador. No país, o
estado da Bahia é o maior produtor, concentrando 95% da produção total (SINDIFIBRAS, 2013).
No cenário da produção industrial, a inovação é uma questão de sobrevivência para as empresas e, portanto, deve
ser considerada na tomada de decisões. Para mensurar o patamar de inovação global e as diretrizes tecnológicas
mundiais, são realizados estudos prospectivos. (BORSCHIVER, 2008)
Os Estudos de Prospecção Tecnológica, também chamados de estudos de futuro, ou forecast(ing), foresight(ing) ou
future studies, fornecem as principais tendências no contexto mundial sendo possível segmentar estas tecnologias por
setor da economia. Estes estudos auxiliam a identificação de tecnologias promissoras, úteis para uma determinada
organização, bem como apontam para possibilidades de negócios e parcerias. A sistematização da prática de
monitoramento tecnológico, a ser coberta pela prospecção tecnológica e de inovação, visa congregar a busca de
soluções adequadas para a identificação e priorização de uma agenda de P&D, articulada com instituições de
pesquisa, que possa inclusive influenciar agenda de P&D nacional e criar demandas para a cadeia inovativa do setor.
(BORSCHIVER, 2008).
Os RoadMaps Tecnológicos (Technology RoadMapping – TRM) estão sendo cada vez mais adotados para o
gerenciamento do futuro das tecnologias, sendo caracterizados por prever o que é possível ou provável de
acontecer e também por planejar a articulação da ação. Foram desenvolvidos para diversos tipos de público e
especificidades, sendo caracterizados por prever o que é possível ou provável de acontecer, e também por
planejar uma ação conjunta (KAPPEL, 2001). O método serve para auxiliar na estruturação do processo de
planejamento de uma instituição, indústria ou empresa, permitindo a visualização de lacunas no planejamento
estratégico, através do alinhamento entre objetivos futuros e atividades presentes na organização. Isso permite a
identificação e priorização de vantagens competitivas sustentáveis e a alocação correta de recursos humanos e
tecnológicos.
Os RoadMaps podem ter várias formas de apresentação, mas a aproximação mais comum é mostrada na
Figura 1, que consiste em uma representação gráfica baseada no tempo, compreendendo um número de camadas
que tipicamente incluem perspectivas comerciais e tecnológicas (PHAAL et al., 2001). Para KAPPEL (2001),
os RoadMaps devem conter os parâmetros-chave mercado, produto e tecnologia ao longo do tempo para uma
parte do negócio.
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Figura 1 - RoadMap Tecnológico esquemático mostrando como a tecnologia pode ser alinhada a desenvolvimento de produto e
serviço, estratégia de negócios e oportunidades de mercado. Fonte: Adaptado de PHAAL et al. (2001).
Com base no exposto e, diante da importância da exploração da fibra de sisal e dos resíduos gerados no processo
de beneficiamento, como matérias-primas para o desenvolvimento de diversas aplicações, o presente trabalho tem
como objetivo identificar as tendências tecnológicas e de mercado para os próximos anos tendo como produto final o
RoadMap Tecnológico do Sisal. De modo a suportar o processo de decisão de investimentos e alocação de recursos
do SENAI em apoio ao setor industrial.
II. METODOLOGIA
Este trabalho se desenvolveu em três etapas específicas, como mostra a Figura 2.
Figura 2 – Fases de construção do RoadMap Tecnológico. Fonte: BORSCHIVER (2008).
Este trabalho se desenvolveu em três etapas. A primeira etapa “Fase Pré-prospectiva” é uma fase de pesquisa
preliminar, se constituindo em uma busca menos direcionada, procurando informações acerca do objeto de estudo e
que vislumbra a constituição de uma base de informações que suportará a próxima fase. A segunda etapa, “Fase de
Prospecção Tecnológica”, é baseada em uma metodologia definida com palavras-chave específicas (busca mais
direcionada), buscas em documentos técnicos (artigos científicos e patentes) e acompanhada por uma análise mais
detalhada, em que os documentos encontrados são analisados por vários critérios, tais como ano de publicação, país
de origem, tipo de autor e foco sobre o objeto de estudo. E finalmente, a última etapa é “Fase Pós-prospectiva”, onde
todas as análises originadas nas etapas anteriores são classificadas de acordo com uma evolução temporal das
tendências observadas, permitindo a elaboração do RoadMap.
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A “Fase Pré-prospectiva” constitui uma etapa fundamental da metodologia, pois se baseia em uma pesquisa
preliminar em que os assuntos/campos relacionados ao tema/objeto de estudo são levantados em mídias
especializadas. E a partir desses conhecimentos tem-se o embasamento para definição de palavras-chave para Fase de
Prospecção em si onde são mostrados os players no momento atual, com tecnologias que são parte do escopo do
estudo.
A “Fase de Prospecção Tecnológica” é baseada em um estudo prospectivo, levando-se em consideração artigos,
patentes, informação de mídia especializada e contatos com empresas, selecionados no período estudado com uma
perspectiva de compreensão se o objeto de estudo se localiza em um estágio atual, curto prazo, médio prazo e longo
prazo.
 Estágio atual é a informação atual disponibilizada em mídia especializada (monitoramento sistemático) e artigos
científicos cujo conteúdo aponta para pesquisas que já estão sendo aplicadas. Para pesquisa por artigos científicos
utilizou-se nesse trabalho a base de dados SCIRUS (www.scirus.com), uma plataforma de busca que acessa
diferentes bases de documentos, como Science Direct, Springer, entre outros. Mídia especializada abrange revistas
de publicações confiáveis do setor como MaxiQuim, ICIS News, Biofuels Journal, Lux Research e websites das
empresas como Embrapa, Sindifibras, entre outras.
 Curto prazo é a informação encontrada em patentes concedidas, acessadas na base de patentes dos Estados
Unidos -United States Patents and Trademark Office’ database (USPTO).
 Médio Prazo é a informação encontrada em patentes depositadas (que podem não ser concedidas) no USPTO;
 Longo Prazo é a informação encontrada em artigos científicos (SCIRUS), cujo conteúdo aponta para pesquisa
ainda em fase de elaboração.
III. RESULTADOS E DISCURSSÃO
3.1 FASE PRÉ-PROSPECTIVA
A Tabela 1 mostra as palavras-chave selecionadas e a quantidade de resultados obtidos com a pesquisa e desses a
quantidade de resultados que eram relevantes ao tema do trabalho.
Tabela 1 – Metodologia –Palavras-chave
Palavra - chave
Sisal, Agave, Agave sisalana, Agave
syrup, Agave néctar, Waste + Sisal,
Resíduos do sisal, Suco do Sisal,
Mucilagem, juice + sisal
Artigos: Total
/ Relevantes
Patentes Concedidas:
Total / Relevantes
Patentes Solicitadas:
Total / Relevantes
135/110
228/72
273/146
3.2 FASE PROSPECTIVA
3.2.1 Análise dos Artigos
A análise Macro cobre a série histórica de publicações, os países que apresentam maior número de artigos no
período estudado e os mais importantes jornais, universidades, centros de pesquisa e empresas ligadas ao
conhecimento científico e desenvolvimento de aplicações do sisal.
A evolução da produção científica em número de artigos por ano mostrou que nos últimos cinco anos (20082013) houve um crescimento significativo no interesse em torno do sisal se considerado o aumento no número
de publicações por ano. Em 2012, atingiu-se o pico em número de artigos com 30 publicações. No ano de 2013
foram observadas 13 publicações, todavia, deve-se ressaltar que este número bastante inferior ao de 2012 é
justificado, pois o ano está incompleto, considerando apenas as publicações até o mês de julho. O maior número
de publicações nos últimos cinco anos sobre o sisal converge com o crescimento do número de artigos e
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pesquisas científicas em torno de materiais de origem renovável. Este período coincide com o “momento” em
que o desenvolvimento de produtos, processos e tecnologias em torno de matérias-primas renováveis acelerou
em resposta à necessidade de se buscar soluções alternativas às matérias-primas de origem fóssil.
A Figura 3 mostra uma análise da origem das publicações, identificando-se os países que mais estão
direcionando esforços científicos para a utilização do sisal. Percebe-se a relevante participação e a liderança do
Brasil na publicação de artigos a partir da base de estudo, com 46% dos documentos analisados. Este resultado
reflete a posição de liderança do País na produção e exportação do sisal. Em sequência, entre os países que mais
publicaram artigos sobre o sisal, aparece a Índia com 16%.
Figura 3 – Análise da origem dos Artigos por país.
Considerando o tipo de autor (universidade, instituto de pesquisa, empresas), quase todas as publicações
foram realizadas por pesquisadores de universidades. Alguns centros de pesquisa apareceram em parceria com
as universidades, destacando-se a Embrapa, no caso brasileiro.
Na Análise Meso, os artigos são categorizados de acordo com os aspectos mais relevantes em torno do sisal.
Estes aspectos foram devidamente identificados na etapa inicial do estudo, cujo foco foi apontar as grandes
áreas de exploração científica sobre o sisal. As grandes áreas de exploração propostas para análise de artigos e
patentes são:
 Tecnologias: envolvem as diferentes tecnologias ligadas ao beneficiamento do material, como: o prétratamento do sisal que ocorre antes da etapa de processamento, geralmente para melhorar as condições de
processamento, durabilidade e desempenho dos produtos obtidos, atuando mais especificamente sobre sua
superfície (químico, físico, enzimático); as tecnologias de tratamento, ligadas ao tipo de técnica usada para o
processamento do material; os equipamentos utilizados com sua identificação, e finalmente, o tipo de
processamento físico (moldagem por compressão, extrusão, injeção, outros).
 Formas de matéria-prima: aqui é identificado se é usada a fibra ou os resíduos do sisal. Neste item foram
sugeridas três classificações: fibra, resíduo sólido (mucilagem) e resíduo líquido (suco). A identificação do
tipo de matéria-prima se justifica pela importância do aproveitamento dos resíduos do sisal, que constituem
cerca de 96% da massa total, já que a fibra utilizada para as aplicações tradicionais responde por apenas 4%
do aproveitamento do material. Conforme explicado anteriormente, diversos produtos podem ser obtidos a
partir dos resíduos do sisal e uma parte significativa dos esforços científicos e tecnológicos atuais se
concentra na busca da maior utilização desses materiais que eram tradicionalmente descartados.
 Aplicações: várias aplicações podem constituir o aproveitamento do sisal e dos resíduos, como a produção
de compósitos, (materiais de reforço) - identificação das matrizes (tipos de materiais) que recebem o sisal
como material de reforço e composição estrutural (resinas termoplásticas, termofixas, biomateriais); formação
de estrutura com cimento, em que a fibra ou resíduos são usados como material de reforço, estrutural,
volumétrico e substituto dos asbestos para a produção de diferentes produtos na construção civil; Uso do sisal
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e dos resíduos como biomassa para produção de biogás, eletricidade, fertilizantes e outros produtos; uso como
anti-helmíntico; uso como bioinseticida; uso como adsorvente; uso para a indústria de alimentos, com a
obtenção de compostos como sapogeninas, adoçantes, etc; farmacêutico ou cosméticos, também com a
obtenção de diferentes moléculas interessantes para essas indústrias; e outras aplicações.
A Figura 4 mostra a análise meso consolidada em um percentual dos artigos que cobre cada uma das três
áreas propostas (tecnologia, matéria-prima e aplicações).
Figura 4 - Análise Meso – Percentual dos artigos por assunto.
A análise dos artigos aponta uma grande quantidade de publicações orientadas para Formas de matérias-primas,
95%, com destaque para o uso da fibra como matéria-prima (74 artigos), a maioria para aplicações em compósitos e
seu uso como material de composição com o cimento. Foram 26 artigos que citaram o uso do resíduo líquido, neste
caso, como fonte para a obtenção de diversos compostos para aplicações na indústria alimentícia, cosmética,
farmacêutica, e ainda no uso como antihelmíntico, entre outros. Do conjunto de artigos analisados, 15 citaram o uso
do resíduo sólido como uma oportunidade, neste caso, principalmente para a obtenção de nutrientes para a
alimentação de animais ou ainda como fertilizante natural.
3.2.2 Análise de Patentes Concedidas
Conforme mencionado na seção de metodologia, a análise das patentes concedidas determina o curto prazo na
perspectiva temporal do RoadMap tecnológico. A primeira análise é a evolução do conhecimento tecnológico em
número de patentes concedidas por ano que mostrou que a partir de 2010 houve um crescimento significativo no
número de patentes concedidas em relação aos anos anteriores. Até o ano de 2009, o número de patentes oscilava
entre 1 a 4, passando para 6 patentes em 2010 e 8 patentes nos anos seguintes e atingindo 10 em 2013. Este aumento
nas patentes concedidas segue o observado no número de artigos publicados, comprovando que na década de 2000
surgiu maior interesse pelo sisal. Ao contrário do observado na análise dos artigos publicados, o Brasil não é o país
com maior número de patentes concedidas dentro do universo analisado, ficando na segunda posição com 16
patentes. Os Estados Unidos surgem como país com maior número de patentes (31 patentes ou 43% do total), com
quase o dobro das patentes com origem brasileira. No conjunto das 31 patentes com origem nos Estados Unidos, 10
estão relacionadas à aplicação do sisal como compósito e 6 ao setor alimentício (adoçante natural). Vale lembrar que
os Estados Unidos é o maior país importador de manufaturados de sisal. No Brasil, das 16 patentes, 5 referem-se ao
uso do sisal como compósito e 6 em artefatos como mantas anti-erosivas, cordas, tapetes e outros. Cabe destacar a
França com 5 patentes, entre estas 3 da empresa Loreal na área de cosméticos.
Entre as empresas depositantes, há um perfil variado. Encontram-se neste universo grandes empresas de diferentes
setores de atuação: do setor químico como Basf e Evonik/Degussa, a Loreal, Neways Phitopharm, Bioderm, do setor
de cosméticos, a Companhia de Celulose da Bahia, do setor de papel e celulose, a Ford Motors, do setor
automobilístico, Georgia Pacific, da área de resinas, a Pepsi, do alimentício, a General Eletric, que atua em diversos
setores industriais, entre outras.
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A análise Meso cobre as mesmas três áreas propostas na “Análise de Artigos”. Das 72 patentes concedidas
analisadas 81% abordam uma das tecnologias. Em 89% foi possível identificar as aplicações, o que é bem comum no
caso das patentes.
Entre as tecnologias identificadas, a maioria está voltada para as etapas de tratamento e processamento. No
tratamento é identificado principalmente o uso de aditivos ou solventes para extração. O processamento físico referese em sua maioria às técnicas de transformação da fibra como injeção, extrusão, prensagem e fabricação dos
artefatos. Quanto a forma da matéria-prima, em 31 patentes a matéria-prima era a própria fibra e em 32 patentes, o
uso do resíduo. Nestas, 30 se referem ao uso do resíduo líquido e duas ao resíduo sólido. O resíduo líquido ou suco
do sisal possui constituintes interessantes para diversas aplicações. São compostos com propriedades antioxidantes,
emulsificantes, entre outras, ou seja, são moléculas muito apreciadas em diversos setores. Na análise das aplicações,
as patentes apontam uma grande participação de outros usos para o sisal que não como material para a produção de
compósitos. Do total de 60 aplicações pontuadas, 38 referem-se às aplicações diferentes de compósitos e 22 possuem
foco em compósitos. O maior número de patentes que usam o resíduo líquido do sisal para extrair compostos garante
uma boa participação dos setores de alimentos, cosmético e farmacêutico, que juntos apareceram com 20 patentes.
3.2.3 Análise de Patentes Solicitadas
A primeira análise é a evolução do conhecimento tecnológico em número de patentes solicitadas por ano. Nos
últimos cinco anos , 2008 a 2013/7, houve um crescimento bem expressivo no número de patentes solicitadas em
relação aos anos anteriores. Este comportamento dentro de uma base representativa como o USPTO mais uma vez
ratifica a maior importância dada às fibras naturais e dentro destas se inclui o sisal. Os Estados Unidos aparecem
como país com maior número de patentes solicitadas (93 patentes, 68%) e repete a liderança observada na análise das
patentes concedidas. Em seguida, surge a França com 23 patentes, 17%. A posição da França na segunda colocação
entre os países com maior número de solicitações é compreendida pela corrida das empresas de cosméticos para
acessar produtos de origem natural nas formulações. Outros países que apareceram foram Alemanha, México,
Finlândia e China. Outra observação importante é que entre as patentes analisadas, apenas o México e a China são
produtores de sisal. Os outros países não apresentam a cultura sisaleira e estão na corrida pelo patenteamento através
de empresas envolvidas com as aplicações e desenvolvimento de produtos a partir de moléculas extraídas do sisal e
de seus resíduos.
Entre as empresas depositantes, novamente há um perfil variado. Destacam-se a Loreal, da área de cosméticos e a
Xyleco, empresa de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias no processamento de biomassa para a produção de
diversos produtos e energia, com maior número de patentes. Outras grandes empresas como Samsung, Danisco,
Qualcomm, Procter & Gamble, Kimberly-Clark, Syngenta, Kraft Foods, entre outras.
Das 146 patentes solicitadas, 36% abordam uma das tecnologias (pré-tratamento, tratamento e processamento). Em
92% foi possível identificar aplicações, o que é bem comum no caso das patentes. Foi possível identificar em 100%
das patentes selecionadas a forma de matéria-prima utilizada. Entre as tecnologias identificadas a maioria está
voltada para a etapa de pré-tratamento, essencial para as etapas posteriores. Em 107 patentes, a matéria-prima era o
resíduo líquido do sisal (suco), em 37 patentes, a fibra e em apenas 2 patentes, o resíduo sólido do sisal. Na análise
das aplicações, mostrada na Figura 5, o grupo de patentes solicitadas aponta uma grande participação de outras
aplicações para o sisal que não como material para a produção de compósitos. Do total de 135 aplicações pontuadas,
122 referem-se a aplicações diferentes de compósitos e apenas 13 com foco em compósitos. O maior número de
patentes que usam o resíduo líquido do sisal para extrair compostos garante uma boa participação dos setores de
alimentos, cosmético e farmacêutico, que juntos apareceram com 91 patentes. Também foram mapeados documentos
para o uso do sisal como bioinseticida (12 patentes) e antihelmíntico (6 patentes).
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Figura 5 - Análise Meso – Aplicações
3.3 FASE PÓS – PROSPECTIVA: Construção do RoadMap
A elaboração do RoadMap foi realizada conforme metodologia citada e a informação foi organizada em diferentes
estágios temporais. O mapa tecnológico foi dividido em faixas (eixo horizontal) e colunas (eixo vertical) e o software
utilizado para visualização final foi Microsoft® Visio® 2013 - Microsoft® Office.
O eixo horizontal retrata a divisão de tempo utilizada, descrita a seguir:
 Estágio Atual: onde são mostrados os players no momento atual, com tecnologias que são parte do escopo do
estudo. Nesse caso, as principais empresas e universidades foram identificadas através de mídias especializadas,
artigos científicos e outras publicações que indicam tempo presente.
 Curto Prazo: onde são mostrados os players que estarão atuando em um cenário de curto prazo, um horizonte de
0-10 anos. Neste caso, a informação analisada foi obtida das patentes concedidas (Issued patents).
 Medio Prazo: onde são mostrados os players que estarão atuando em um cenário de medio prazo, um horizonte
de 10-20 anos. Neste caso, a informação analisada foi obtida a partir de patentes solicitadas (Applied patents).
 Longo Prazo: onde são mostrados os players em um cenário de longo-prazo, em um horizonte maior que 20
anos. Neste caso, a informação analisada foi obtida a partir de artigos científicos.
O eixo vertical foi dividido em quatro seções que correspondem as seguintes taxonomias: Foco da Informação,
Forma da matéria - prima, Insumos do processo, Tecnologia.
 Foco da Informação: contém as principais tendências do mercado que estão sendo estudadas/desenvolvidas. A
subdivisão apresenta as taxonomias com o foco principal do documento que são: ‘’Tecnologia’’ e
‘’Aplicações’’. As aplicações por serem de muita relevância na construção do perfil tecnológico do sisal foram
detalhadas no mapa: Material de Reforço/Compósito; Uso como Biomassa; Composição do Cimento; Cordoaria;
antihelmíntico/ Bioinseticida; Alimentício; Farmacêutico/Cosméticos; Adsorvente Natural e Tecido
Hemostático. As Tecnologias foram detalhadas na seção ‘’Tecnologias’’.
 Forma da matéria – prima: contém o tipo de matéria – prima do processamento do sisal identificada no
documento analisado: Fibra, Suco (resíduo líquido) e Mucilagem (resíduo sólido).
 Insumos do Processo: contém os principais insumos e materiais utilizados no processo, podendo fazer parte (ou
não) do principal negócio da empresa. As subdivisões das taxonomias foram: Equipamentos,
Material/Compósito, Aditivos.
 Tecnologia: contém as principais tecnologias identificadas nos documentos analisados, como Pré-tratamento,
Tratamento e Processamento Físico.
Em cada coluna os logotipos dos players foram posicionados de acordo com o tipo de estágio temporal
identificado. Após isso, iniciou-se a ligação do agente com seu respectivo campo de pesquisa. Esta conexão foi feita
utilizando-se setas que saem do logo do agente e alcançam a linha de cada caixa com as taxonomias descritas acima.
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Cabe ressaltar a existência de clusters formados através de tendências tecnológicas semelhantes e/ou parcerias. A
Figura 6 mostra o overview do RoadMap Tecnológico Sisal.
Figura 6 – Overview RoadMap Tecnológico Sisal
1
A figura 7 mostra como exemplo a aproximação no Estágio Atual do RoadMap Tecnológico Sisal. Observa-se que
as empresas Cosibra, Tecsal, Sisaex, Cordebras, Sisalândia, Sisalsul e APAEB foram agrupadas em um cluster no
mapa, pois apresentaram o mesmo perfil. Os players estão alocados no Estágio Atual em: Aplicação (Cordoaria) e
Forma da Matéria Prima (Fibra). A empresa Cosibra apresenta ainda seu négocio em: Tecnologia (Processamento
Físico) e Insumos do Processo (Equipamentos). Desse modo foram agrupadas no mapa as empresas brasileiras e
cooperativas que trabalham com a fibra das folhas de Sisal e que, após o beneficiamento, é destinada
2
majoritariamente à indústria de cordoaria (cordas, cordéis, fios, tapetes etc.). Outro exemplo é o cluster que reuniu
as empresas Colibree, The iidea company, Madhava, The Agave Group e Xagave. Esses players estão alocados no
Estágio Atual em: Aplicação (Alimentício) e Forma da Matéria Prima (Suco (Resíduos líquidos)). Deste modo,
foram agrupadas no mapa as empresas internacionais que possuem o seu negócio centrado no aproveitamento do
resíduo líquido do sisal para a produção de dietético, adoçante e outras propriedades alimentícias.
1
A pouca clareza da Figura 6 decorre do fato que o RoadMap é bastante extenso e complexo sendo impossível apresenta-lo
como um todo nesse documento.
2
Cabe ressaltar que a Figura 7 corresponde apenas a uma parte do RoadMap Tecnológico Sisal, estágio atual, e o que foi
inserido no presente artigo é apenas uma ilustração.
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Figura 7 – Exemplo: Estágio Atual RoadMap Tecnológico Sisal
IV. CONCLUSÃO
A valorização de fontes renováveis como matérias-primas para diversas aplicações é um estímulo importante que
poderá nortear a decisão sobre quais desenvolvimentos deverão ser priorizados. Dentro desse contexto o
monitoramento das tecnologias que envolvem o sisal e seus resíduos exige um esforço multidisciplinar que abrange
as tecnologias de pré-tratamento até o desenvolvimento das aplicações finais.
O Brasil, maior produtor da fibra no mundo, vem realizando pesquisas importantes sobre novas aplicações do sisal,
observadas nos artigos encontrados. A maior produção acadêmica está concentrada no estado da Bahia, onde se
localiza a cadeia sisaleira e encontraram-se parcerias estabelecidas entre universidades brasileiras e universidades
estrangeiras. Todavia, percebe-se uma atuação tímida brasileira no depósito de patentes. O número elevado de
patentes solicitadas envolvidas com o uso das fibras naturais e entre estas, o sisal, demonstra que no futuro poderá
haver uma expectativa de maior demanda. Isto implicará em um esforço de planejamento, fortalecimento e
articulação da cadeia sisaleira.
Os resultados mostram que há forte interesse em torno do sisal como fonte de matérias-primas para diversas
indústrias. Setores diversos como alimentos, farmacêutico, higiene e cosméticos são alguns exemplos que ratificam o
interesse pela fibra. Assim o processo de inovação tecnológica não se restringe ao produtor como agente inovador. A
participação de grandes empresas de diversos setores ligados às aplicações do sisal demonstra que o desenvolvimento
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está sendo conduzido pelos usuários.
Por fim o trabalho proporciona visualizar oportunidades de desenvolvimento para o maior aproveitamento dos
resíduos do sisal que podem atender demandas no contexto brasileiro, especificamente das regiões produtoras da
fibra. Entre estas, o uso para a produção de biogás, fertilizante, antihelmíntico, alimentação para animais,
bioinseticida, entre outros. Desta forma, os resultados obtidos suportarão o processo de decisão de investimentos e
alocação de recursos do SENAI/DR/BA em apoio ao setor industrial.
REFERENCES
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Acesso em: setembro, 2013.
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Submetido em 13/06/2014
Aprovado em 07/08/2014
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