ROADMAP TECNOLÓGICO SISAL
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ROADMAP TECNOLÓGICO SISAL
ROADMAP TECNOLÓGICO SISAL Suzana Borschiver – [email protected] Prof Dsc – Universidade Federal do Rio de Janeiro- EQ-Neitec Karoline da Mota Coelho – [email protected] Graduanda em Engenharia de Bioprocessos – Universidade Federal do Rio de Janeiro- EQ-Neitec Andressa Oliveira Costa de Jesus – [email protected] Graduanda em Engenharia Química – Universidade Federal do Rio de Janeiro-EQ-Neitec Silmar Baptista Nunes - [email protected] Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI/DR/BA Resumo — No mundo, observa-se um maior interesse em torno da utilização das fibras naturais nas mais diversas aplicações, impulsionada pela busca por alternativas às matérias-primas fósseis. No caso brasileiro, destaca-se o sisal (Agave sisalana). O trabalho recorreu a analise de artigos (base de dados SCIRUS), publicações em mídia especializada, patentes depositadas e concedidas (base USPTO) para identificar tendências tecnológicas e mercadológicas de exploração da fibra de sisal e dos seus resíduos como matérias-primas para o desenvolvimento de diversas aplicações, de 2008 a 2013/7. O produto final é o RoadMap Tecnológico (Technology RoadMapping – TRM). A metodologia de TRM, dentro do conceito de prospecção tecnológica, consiste em uma ferramenta de planejamento estratégico utilizado pelos diversos atores na cadeia produtiva de modo a auxiliar na tomada de decisão apresentando os resultados em uma análise temporal de curto, médio e longo prazo, relacionando-os com fatores críticos referentes a mercado, produto e tecnologia que correspondem as taxonomias: Foco da Informação, que contém as principais tendências do mercado sendo estudadas/desenvolvidas; Forma da matéria – prima que contém o tipo de matéria – prima do processamento do sisal identificada no documento: Fibra, Suco (resíduo líquido) e Mucilagem (resíduo sólido); Insumos do Processo que contém os principais insumos e materiais utilizados no processo, Equipamentos, Material/Compósito, Aditivos e Tecnologia que contém as principais tecnologias identificadas nos documentos: Pré-tratamento, Tratamento e Processamento Físico. Palavras-chave – RoadMap Tecnológico, Sisal, Prospecção Tecnológica, Fibras naturais. Abstract— In the world, there is an increased interest around the use of natural fibers in several applications, driven by the search for alternatives to fossil raw materials. The sisal (Agave sisalana) shows up in Brazil. This work resorted to analysis of articles (Scirus data base), publications in specialized media, issued and applied patents (USPTO) to identify market and technological trends about exploration of sisal fiber and its residues as raw materials for the development to many applications, from 2008 to 2013/7. The final product is the Technology RoadMapping (TRM). TRM methodology within the concept of technology foresight is a strategic planning tool employed by a number of players in the supply chain so as to assist them in decision making showing the results in a temporal analysis of short, medium and long term, relating with critical factors regarding market, product and technology which correspond the taxonomies: Market Target, at this label it is presented market’s trends being studied / developed; Raw material form, at this label it is presented the kind of raw material of sisal processing identified in the document as Fiber, Juice (liquid waste) and mucilage (solid waste); Process’ support, at this label it is presented the main process’ inputs and support materials: Equipment, Material/Composites, Additives; Technology, at this Proceeding of ISTI/SIMTEC – ISSN:2318-3403 Aracaju/SE – 24 a 26/09/ 2014. Vol. 2/n.1/ p.111-121 D.O.I.: 10.7198/S2318-3403201400020014 111 label it is presented the main technologies identified inside the documents as Pretreatment, Treatment and Physical process. Keywords— Technology RoadMapping, Sisal, Forecast(ing), Natural fibers. I. INTRODUÇÃO As flutuações nos preços e a insegurança na oferta de petróleo contribuem para que as empresas busquem alternativas às matérias-primas fósseis (LANGEVELD et al, 2010). Com isso, cresce o interesse pelas fibras naturais nas mais diversas aplicações. A tendência de maior inserção desses materiais pode ser explicada por alguns fatores (SINDIFIBRAS, 2012), como: A necessidade de se desenvolverem soluções econômicas que abrangem aspectos ambientais e sociais; A valorização crescente do uso de matérias-primas renováveis; A disponibilidade de tais recursos e a potencialidade de seu uso em aplicações de maior valor agregado; A perspectiva de maior aproveitamento de resíduos gerados nas atividades atuais que já utilizam as fibras; O desenvolvimento de novas aplicações; O menor custo desses materiais, o que potencializa seu uso como material de reforço; O impacto social positivo que pode ser alcançado com geração de emprego e renda. O sisal é uma das principais fontes de fibras duras vegetais do mundo, sendo responsável por quase 70% da produção comercial de todas as fibras desse tipo, tendo o Brasil como o maior produtor e exportador. No país, o estado da Bahia é o maior produtor, concentrando 95% da produção total (SINDIFIBRAS, 2013). No cenário da produção industrial, a inovação é uma questão de sobrevivência para as empresas e, portanto, deve ser considerada na tomada de decisões. Para mensurar o patamar de inovação global e as diretrizes tecnológicas mundiais, são realizados estudos prospectivos. (BORSCHIVER, 2008) Os Estudos de Prospecção Tecnológica, também chamados de estudos de futuro, ou forecast(ing), foresight(ing) ou future studies, fornecem as principais tendências no contexto mundial sendo possível segmentar estas tecnologias por setor da economia. Estes estudos auxiliam a identificação de tecnologias promissoras, úteis para uma determinada organização, bem como apontam para possibilidades de negócios e parcerias. A sistematização da prática de monitoramento tecnológico, a ser coberta pela prospecção tecnológica e de inovação, visa congregar a busca de soluções adequadas para a identificação e priorização de uma agenda de P&D, articulada com instituições de pesquisa, que possa inclusive influenciar agenda de P&D nacional e criar demandas para a cadeia inovativa do setor. (BORSCHIVER, 2008). Os RoadMaps Tecnológicos (Technology RoadMapping – TRM) estão sendo cada vez mais adotados para o gerenciamento do futuro das tecnologias, sendo caracterizados por prever o que é possível ou provável de acontecer e também por planejar a articulação da ação. Foram desenvolvidos para diversos tipos de público e especificidades, sendo caracterizados por prever o que é possível ou provável de acontecer, e também por planejar uma ação conjunta (KAPPEL, 2001). O método serve para auxiliar na estruturação do processo de planejamento de uma instituição, indústria ou empresa, permitindo a visualização de lacunas no planejamento estratégico, através do alinhamento entre objetivos futuros e atividades presentes na organização. Isso permite a identificação e priorização de vantagens competitivas sustentáveis e a alocação correta de recursos humanos e tecnológicos. Os RoadMaps podem ter várias formas de apresentação, mas a aproximação mais comum é mostrada na Figura 1, que consiste em uma representação gráfica baseada no tempo, compreendendo um número de camadas que tipicamente incluem perspectivas comerciais e tecnológicas (PHAAL et al., 2001). Para KAPPEL (2001), os RoadMaps devem conter os parâmetros-chave mercado, produto e tecnologia ao longo do tempo para uma parte do negócio. Proceeding of ISTI/SIMTEC – ISSN:2318-3403 Aracaju/SE – 24 a 26/09/ 2014. Vol. 2/n.1/ p.111-121 D.O.I.: 10.7198/S2318-3403201400020014 112 Figura 1 - RoadMap Tecnológico esquemático mostrando como a tecnologia pode ser alinhada a desenvolvimento de produto e serviço, estratégia de negócios e oportunidades de mercado. Fonte: Adaptado de PHAAL et al. (2001). Com base no exposto e, diante da importância da exploração da fibra de sisal e dos resíduos gerados no processo de beneficiamento, como matérias-primas para o desenvolvimento de diversas aplicações, o presente trabalho tem como objetivo identificar as tendências tecnológicas e de mercado para os próximos anos tendo como produto final o RoadMap Tecnológico do Sisal. De modo a suportar o processo de decisão de investimentos e alocação de recursos do SENAI em apoio ao setor industrial. II. METODOLOGIA Este trabalho se desenvolveu em três etapas específicas, como mostra a Figura 2. Figura 2 – Fases de construção do RoadMap Tecnológico. Fonte: BORSCHIVER (2008). Este trabalho se desenvolveu em três etapas. A primeira etapa “Fase Pré-prospectiva” é uma fase de pesquisa preliminar, se constituindo em uma busca menos direcionada, procurando informações acerca do objeto de estudo e que vislumbra a constituição de uma base de informações que suportará a próxima fase. A segunda etapa, “Fase de Prospecção Tecnológica”, é baseada em uma metodologia definida com palavras-chave específicas (busca mais direcionada), buscas em documentos técnicos (artigos científicos e patentes) e acompanhada por uma análise mais detalhada, em que os documentos encontrados são analisados por vários critérios, tais como ano de publicação, país de origem, tipo de autor e foco sobre o objeto de estudo. E finalmente, a última etapa é “Fase Pós-prospectiva”, onde todas as análises originadas nas etapas anteriores são classificadas de acordo com uma evolução temporal das tendências observadas, permitindo a elaboração do RoadMap. Proceeding of ISTI/SIMTEC – ISSN:2318-3403 Aracaju/SE – 24 a 26/09/ 2014. Vol. 2/n.1/ p.111-121 D.O.I.: 10.7198/S2318-3403201400020014 113 A “Fase Pré-prospectiva” constitui uma etapa fundamental da metodologia, pois se baseia em uma pesquisa preliminar em que os assuntos/campos relacionados ao tema/objeto de estudo são levantados em mídias especializadas. E a partir desses conhecimentos tem-se o embasamento para definição de palavras-chave para Fase de Prospecção em si onde são mostrados os players no momento atual, com tecnologias que são parte do escopo do estudo. A “Fase de Prospecção Tecnológica” é baseada em um estudo prospectivo, levando-se em consideração artigos, patentes, informação de mídia especializada e contatos com empresas, selecionados no período estudado com uma perspectiva de compreensão se o objeto de estudo se localiza em um estágio atual, curto prazo, médio prazo e longo prazo. Estágio atual é a informação atual disponibilizada em mídia especializada (monitoramento sistemático) e artigos científicos cujo conteúdo aponta para pesquisas que já estão sendo aplicadas. Para pesquisa por artigos científicos utilizou-se nesse trabalho a base de dados SCIRUS (www.scirus.com), uma plataforma de busca que acessa diferentes bases de documentos, como Science Direct, Springer, entre outros. Mídia especializada abrange revistas de publicações confiáveis do setor como MaxiQuim, ICIS News, Biofuels Journal, Lux Research e websites das empresas como Embrapa, Sindifibras, entre outras. Curto prazo é a informação encontrada em patentes concedidas, acessadas na base de patentes dos Estados Unidos -United States Patents and Trademark Office’ database (USPTO). Médio Prazo é a informação encontrada em patentes depositadas (que podem não ser concedidas) no USPTO; Longo Prazo é a informação encontrada em artigos científicos (SCIRUS), cujo conteúdo aponta para pesquisa ainda em fase de elaboração. III. RESULTADOS E DISCURSSÃO 3.1 FASE PRÉ-PROSPECTIVA A Tabela 1 mostra as palavras-chave selecionadas e a quantidade de resultados obtidos com a pesquisa e desses a quantidade de resultados que eram relevantes ao tema do trabalho. Tabela 1 – Metodologia –Palavras-chave Palavra - chave Sisal, Agave, Agave sisalana, Agave syrup, Agave néctar, Waste + Sisal, Resíduos do sisal, Suco do Sisal, Mucilagem, juice + sisal Artigos: Total / Relevantes Patentes Concedidas: Total / Relevantes Patentes Solicitadas: Total / Relevantes 135/110 228/72 273/146 3.2 FASE PROSPECTIVA 3.2.1 Análise dos Artigos A análise Macro cobre a série histórica de publicações, os países que apresentam maior número de artigos no período estudado e os mais importantes jornais, universidades, centros de pesquisa e empresas ligadas ao conhecimento científico e desenvolvimento de aplicações do sisal. A evolução da produção científica em número de artigos por ano mostrou que nos últimos cinco anos (20082013) houve um crescimento significativo no interesse em torno do sisal se considerado o aumento no número de publicações por ano. Em 2012, atingiu-se o pico em número de artigos com 30 publicações. No ano de 2013 foram observadas 13 publicações, todavia, deve-se ressaltar que este número bastante inferior ao de 2012 é justificado, pois o ano está incompleto, considerando apenas as publicações até o mês de julho. O maior número de publicações nos últimos cinco anos sobre o sisal converge com o crescimento do número de artigos e Proceeding of ISTI/SIMTEC – ISSN:2318-3403 Aracaju/SE – 24 a 26/09/ 2014. Vol. 2/n.1/ p.111-121 D.O.I.: 10.7198/S2318-3403201400020014 114 pesquisas científicas em torno de materiais de origem renovável. Este período coincide com o “momento” em que o desenvolvimento de produtos, processos e tecnologias em torno de matérias-primas renováveis acelerou em resposta à necessidade de se buscar soluções alternativas às matérias-primas de origem fóssil. A Figura 3 mostra uma análise da origem das publicações, identificando-se os países que mais estão direcionando esforços científicos para a utilização do sisal. Percebe-se a relevante participação e a liderança do Brasil na publicação de artigos a partir da base de estudo, com 46% dos documentos analisados. Este resultado reflete a posição de liderança do País na produção e exportação do sisal. Em sequência, entre os países que mais publicaram artigos sobre o sisal, aparece a Índia com 16%. Figura 3 – Análise da origem dos Artigos por país. Considerando o tipo de autor (universidade, instituto de pesquisa, empresas), quase todas as publicações foram realizadas por pesquisadores de universidades. Alguns centros de pesquisa apareceram em parceria com as universidades, destacando-se a Embrapa, no caso brasileiro. Na Análise Meso, os artigos são categorizados de acordo com os aspectos mais relevantes em torno do sisal. Estes aspectos foram devidamente identificados na etapa inicial do estudo, cujo foco foi apontar as grandes áreas de exploração científica sobre o sisal. As grandes áreas de exploração propostas para análise de artigos e patentes são: Tecnologias: envolvem as diferentes tecnologias ligadas ao beneficiamento do material, como: o prétratamento do sisal que ocorre antes da etapa de processamento, geralmente para melhorar as condições de processamento, durabilidade e desempenho dos produtos obtidos, atuando mais especificamente sobre sua superfície (químico, físico, enzimático); as tecnologias de tratamento, ligadas ao tipo de técnica usada para o processamento do material; os equipamentos utilizados com sua identificação, e finalmente, o tipo de processamento físico (moldagem por compressão, extrusão, injeção, outros). Formas de matéria-prima: aqui é identificado se é usada a fibra ou os resíduos do sisal. Neste item foram sugeridas três classificações: fibra, resíduo sólido (mucilagem) e resíduo líquido (suco). A identificação do tipo de matéria-prima se justifica pela importância do aproveitamento dos resíduos do sisal, que constituem cerca de 96% da massa total, já que a fibra utilizada para as aplicações tradicionais responde por apenas 4% do aproveitamento do material. Conforme explicado anteriormente, diversos produtos podem ser obtidos a partir dos resíduos do sisal e uma parte significativa dos esforços científicos e tecnológicos atuais se concentra na busca da maior utilização desses materiais que eram tradicionalmente descartados. Aplicações: várias aplicações podem constituir o aproveitamento do sisal e dos resíduos, como a produção de compósitos, (materiais de reforço) - identificação das matrizes (tipos de materiais) que recebem o sisal como material de reforço e composição estrutural (resinas termoplásticas, termofixas, biomateriais); formação de estrutura com cimento, em que a fibra ou resíduos são usados como material de reforço, estrutural, volumétrico e substituto dos asbestos para a produção de diferentes produtos na construção civil; Uso do sisal Proceeding of ISTI/SIMTEC – ISSN:2318-3403 Aracaju/SE – 24 a 26/09/ 2014. Vol. 2/n.1/ p.111-121 D.O.I.: 10.7198/S2318-3403201400020014 115 e dos resíduos como biomassa para produção de biogás, eletricidade, fertilizantes e outros produtos; uso como anti-helmíntico; uso como bioinseticida; uso como adsorvente; uso para a indústria de alimentos, com a obtenção de compostos como sapogeninas, adoçantes, etc; farmacêutico ou cosméticos, também com a obtenção de diferentes moléculas interessantes para essas indústrias; e outras aplicações. A Figura 4 mostra a análise meso consolidada em um percentual dos artigos que cobre cada uma das três áreas propostas (tecnologia, matéria-prima e aplicações). Figura 4 - Análise Meso – Percentual dos artigos por assunto. A análise dos artigos aponta uma grande quantidade de publicações orientadas para Formas de matérias-primas, 95%, com destaque para o uso da fibra como matéria-prima (74 artigos), a maioria para aplicações em compósitos e seu uso como material de composição com o cimento. Foram 26 artigos que citaram o uso do resíduo líquido, neste caso, como fonte para a obtenção de diversos compostos para aplicações na indústria alimentícia, cosmética, farmacêutica, e ainda no uso como antihelmíntico, entre outros. Do conjunto de artigos analisados, 15 citaram o uso do resíduo sólido como uma oportunidade, neste caso, principalmente para a obtenção de nutrientes para a alimentação de animais ou ainda como fertilizante natural. 3.2.2 Análise de Patentes Concedidas Conforme mencionado na seção de metodologia, a análise das patentes concedidas determina o curto prazo na perspectiva temporal do RoadMap tecnológico. A primeira análise é a evolução do conhecimento tecnológico em número de patentes concedidas por ano que mostrou que a partir de 2010 houve um crescimento significativo no número de patentes concedidas em relação aos anos anteriores. Até o ano de 2009, o número de patentes oscilava entre 1 a 4, passando para 6 patentes em 2010 e 8 patentes nos anos seguintes e atingindo 10 em 2013. Este aumento nas patentes concedidas segue o observado no número de artigos publicados, comprovando que na década de 2000 surgiu maior interesse pelo sisal. Ao contrário do observado na análise dos artigos publicados, o Brasil não é o país com maior número de patentes concedidas dentro do universo analisado, ficando na segunda posição com 16 patentes. Os Estados Unidos surgem como país com maior número de patentes (31 patentes ou 43% do total), com quase o dobro das patentes com origem brasileira. No conjunto das 31 patentes com origem nos Estados Unidos, 10 estão relacionadas à aplicação do sisal como compósito e 6 ao setor alimentício (adoçante natural). Vale lembrar que os Estados Unidos é o maior país importador de manufaturados de sisal. No Brasil, das 16 patentes, 5 referem-se ao uso do sisal como compósito e 6 em artefatos como mantas anti-erosivas, cordas, tapetes e outros. Cabe destacar a França com 5 patentes, entre estas 3 da empresa Loreal na área de cosméticos. Entre as empresas depositantes, há um perfil variado. Encontram-se neste universo grandes empresas de diferentes setores de atuação: do setor químico como Basf e Evonik/Degussa, a Loreal, Neways Phitopharm, Bioderm, do setor de cosméticos, a Companhia de Celulose da Bahia, do setor de papel e celulose, a Ford Motors, do setor automobilístico, Georgia Pacific, da área de resinas, a Pepsi, do alimentício, a General Eletric, que atua em diversos setores industriais, entre outras. Proceeding of ISTI/SIMTEC – ISSN:2318-3403 Aracaju/SE – 24 a 26/09/ 2014. Vol. 2/n.1/ p.111-121 D.O.I.: 10.7198/S2318-3403201400020014 116 A análise Meso cobre as mesmas três áreas propostas na “Análise de Artigos”. Das 72 patentes concedidas analisadas 81% abordam uma das tecnologias. Em 89% foi possível identificar as aplicações, o que é bem comum no caso das patentes. Entre as tecnologias identificadas, a maioria está voltada para as etapas de tratamento e processamento. No tratamento é identificado principalmente o uso de aditivos ou solventes para extração. O processamento físico referese em sua maioria às técnicas de transformação da fibra como injeção, extrusão, prensagem e fabricação dos artefatos. Quanto a forma da matéria-prima, em 31 patentes a matéria-prima era a própria fibra e em 32 patentes, o uso do resíduo. Nestas, 30 se referem ao uso do resíduo líquido e duas ao resíduo sólido. O resíduo líquido ou suco do sisal possui constituintes interessantes para diversas aplicações. São compostos com propriedades antioxidantes, emulsificantes, entre outras, ou seja, são moléculas muito apreciadas em diversos setores. Na análise das aplicações, as patentes apontam uma grande participação de outros usos para o sisal que não como material para a produção de compósitos. Do total de 60 aplicações pontuadas, 38 referem-se às aplicações diferentes de compósitos e 22 possuem foco em compósitos. O maior número de patentes que usam o resíduo líquido do sisal para extrair compostos garante uma boa participação dos setores de alimentos, cosmético e farmacêutico, que juntos apareceram com 20 patentes. 3.2.3 Análise de Patentes Solicitadas A primeira análise é a evolução do conhecimento tecnológico em número de patentes solicitadas por ano. Nos últimos cinco anos , 2008 a 2013/7, houve um crescimento bem expressivo no número de patentes solicitadas em relação aos anos anteriores. Este comportamento dentro de uma base representativa como o USPTO mais uma vez ratifica a maior importância dada às fibras naturais e dentro destas se inclui o sisal. Os Estados Unidos aparecem como país com maior número de patentes solicitadas (93 patentes, 68%) e repete a liderança observada na análise das patentes concedidas. Em seguida, surge a França com 23 patentes, 17%. A posição da França na segunda colocação entre os países com maior número de solicitações é compreendida pela corrida das empresas de cosméticos para acessar produtos de origem natural nas formulações. Outros países que apareceram foram Alemanha, México, Finlândia e China. Outra observação importante é que entre as patentes analisadas, apenas o México e a China são produtores de sisal. Os outros países não apresentam a cultura sisaleira e estão na corrida pelo patenteamento através de empresas envolvidas com as aplicações e desenvolvimento de produtos a partir de moléculas extraídas do sisal e de seus resíduos. Entre as empresas depositantes, novamente há um perfil variado. Destacam-se a Loreal, da área de cosméticos e a Xyleco, empresa de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias no processamento de biomassa para a produção de diversos produtos e energia, com maior número de patentes. Outras grandes empresas como Samsung, Danisco, Qualcomm, Procter & Gamble, Kimberly-Clark, Syngenta, Kraft Foods, entre outras. Das 146 patentes solicitadas, 36% abordam uma das tecnologias (pré-tratamento, tratamento e processamento). Em 92% foi possível identificar aplicações, o que é bem comum no caso das patentes. Foi possível identificar em 100% das patentes selecionadas a forma de matéria-prima utilizada. Entre as tecnologias identificadas a maioria está voltada para a etapa de pré-tratamento, essencial para as etapas posteriores. Em 107 patentes, a matéria-prima era o resíduo líquido do sisal (suco), em 37 patentes, a fibra e em apenas 2 patentes, o resíduo sólido do sisal. Na análise das aplicações, mostrada na Figura 5, o grupo de patentes solicitadas aponta uma grande participação de outras aplicações para o sisal que não como material para a produção de compósitos. Do total de 135 aplicações pontuadas, 122 referem-se a aplicações diferentes de compósitos e apenas 13 com foco em compósitos. O maior número de patentes que usam o resíduo líquido do sisal para extrair compostos garante uma boa participação dos setores de alimentos, cosmético e farmacêutico, que juntos apareceram com 91 patentes. Também foram mapeados documentos para o uso do sisal como bioinseticida (12 patentes) e antihelmíntico (6 patentes). Proceeding of ISTI/SIMTEC – ISSN:2318-3403 Aracaju/SE – 24 a 26/09/ 2014. Vol. 2/n.1/ p.111-121 D.O.I.: 10.7198/S2318-3403201400020014 117 Figura 5 - Análise Meso – Aplicações 3.3 FASE PÓS – PROSPECTIVA: Construção do RoadMap A elaboração do RoadMap foi realizada conforme metodologia citada e a informação foi organizada em diferentes estágios temporais. O mapa tecnológico foi dividido em faixas (eixo horizontal) e colunas (eixo vertical) e o software utilizado para visualização final foi Microsoft® Visio® 2013 - Microsoft® Office. O eixo horizontal retrata a divisão de tempo utilizada, descrita a seguir: Estágio Atual: onde são mostrados os players no momento atual, com tecnologias que são parte do escopo do estudo. Nesse caso, as principais empresas e universidades foram identificadas através de mídias especializadas, artigos científicos e outras publicações que indicam tempo presente. Curto Prazo: onde são mostrados os players que estarão atuando em um cenário de curto prazo, um horizonte de 0-10 anos. Neste caso, a informação analisada foi obtida das patentes concedidas (Issued patents). Medio Prazo: onde são mostrados os players que estarão atuando em um cenário de medio prazo, um horizonte de 10-20 anos. Neste caso, a informação analisada foi obtida a partir de patentes solicitadas (Applied patents). Longo Prazo: onde são mostrados os players em um cenário de longo-prazo, em um horizonte maior que 20 anos. Neste caso, a informação analisada foi obtida a partir de artigos científicos. O eixo vertical foi dividido em quatro seções que correspondem as seguintes taxonomias: Foco da Informação, Forma da matéria - prima, Insumos do processo, Tecnologia. Foco da Informação: contém as principais tendências do mercado que estão sendo estudadas/desenvolvidas. A subdivisão apresenta as taxonomias com o foco principal do documento que são: ‘’Tecnologia’’ e ‘’Aplicações’’. As aplicações por serem de muita relevância na construção do perfil tecnológico do sisal foram detalhadas no mapa: Material de Reforço/Compósito; Uso como Biomassa; Composição do Cimento; Cordoaria; antihelmíntico/ Bioinseticida; Alimentício; Farmacêutico/Cosméticos; Adsorvente Natural e Tecido Hemostático. As Tecnologias foram detalhadas na seção ‘’Tecnologias’’. Forma da matéria – prima: contém o tipo de matéria – prima do processamento do sisal identificada no documento analisado: Fibra, Suco (resíduo líquido) e Mucilagem (resíduo sólido). Insumos do Processo: contém os principais insumos e materiais utilizados no processo, podendo fazer parte (ou não) do principal negócio da empresa. As subdivisões das taxonomias foram: Equipamentos, Material/Compósito, Aditivos. Tecnologia: contém as principais tecnologias identificadas nos documentos analisados, como Pré-tratamento, Tratamento e Processamento Físico. Em cada coluna os logotipos dos players foram posicionados de acordo com o tipo de estágio temporal identificado. Após isso, iniciou-se a ligação do agente com seu respectivo campo de pesquisa. Esta conexão foi feita utilizando-se setas que saem do logo do agente e alcançam a linha de cada caixa com as taxonomias descritas acima. Proceeding of ISTI/SIMTEC – ISSN:2318-3403 Aracaju/SE – 24 a 26/09/ 2014. Vol. 2/n.1/ p.111-121 D.O.I.: 10.7198/S2318-3403201400020014 118 Cabe ressaltar a existência de clusters formados através de tendências tecnológicas semelhantes e/ou parcerias. A Figura 6 mostra o overview do RoadMap Tecnológico Sisal. Figura 6 – Overview RoadMap Tecnológico Sisal 1 A figura 7 mostra como exemplo a aproximação no Estágio Atual do RoadMap Tecnológico Sisal. Observa-se que as empresas Cosibra, Tecsal, Sisaex, Cordebras, Sisalândia, Sisalsul e APAEB foram agrupadas em um cluster no mapa, pois apresentaram o mesmo perfil. Os players estão alocados no Estágio Atual em: Aplicação (Cordoaria) e Forma da Matéria Prima (Fibra). A empresa Cosibra apresenta ainda seu négocio em: Tecnologia (Processamento Físico) e Insumos do Processo (Equipamentos). Desse modo foram agrupadas no mapa as empresas brasileiras e cooperativas que trabalham com a fibra das folhas de Sisal e que, após o beneficiamento, é destinada 2 majoritariamente à indústria de cordoaria (cordas, cordéis, fios, tapetes etc.). Outro exemplo é o cluster que reuniu as empresas Colibree, The iidea company, Madhava, The Agave Group e Xagave. Esses players estão alocados no Estágio Atual em: Aplicação (Alimentício) e Forma da Matéria Prima (Suco (Resíduos líquidos)). Deste modo, foram agrupadas no mapa as empresas internacionais que possuem o seu negócio centrado no aproveitamento do resíduo líquido do sisal para a produção de dietético, adoçante e outras propriedades alimentícias. 1 A pouca clareza da Figura 6 decorre do fato que o RoadMap é bastante extenso e complexo sendo impossível apresenta-lo como um todo nesse documento. 2 Cabe ressaltar que a Figura 7 corresponde apenas a uma parte do RoadMap Tecnológico Sisal, estágio atual, e o que foi inserido no presente artigo é apenas uma ilustração. Proceeding of ISTI/SIMTEC – ISSN:2318-3403 Aracaju/SE – 24 a 26/09/ 2014. Vol. 2/n.1/ p.111-121 D.O.I.: 10.7198/S2318-3403201400020014 119 Figura 7 – Exemplo: Estágio Atual RoadMap Tecnológico Sisal IV. CONCLUSÃO A valorização de fontes renováveis como matérias-primas para diversas aplicações é um estímulo importante que poderá nortear a decisão sobre quais desenvolvimentos deverão ser priorizados. Dentro desse contexto o monitoramento das tecnologias que envolvem o sisal e seus resíduos exige um esforço multidisciplinar que abrange as tecnologias de pré-tratamento até o desenvolvimento das aplicações finais. O Brasil, maior produtor da fibra no mundo, vem realizando pesquisas importantes sobre novas aplicações do sisal, observadas nos artigos encontrados. A maior produção acadêmica está concentrada no estado da Bahia, onde se localiza a cadeia sisaleira e encontraram-se parcerias estabelecidas entre universidades brasileiras e universidades estrangeiras. Todavia, percebe-se uma atuação tímida brasileira no depósito de patentes. O número elevado de patentes solicitadas envolvidas com o uso das fibras naturais e entre estas, o sisal, demonstra que no futuro poderá haver uma expectativa de maior demanda. Isto implicará em um esforço de planejamento, fortalecimento e articulação da cadeia sisaleira. Os resultados mostram que há forte interesse em torno do sisal como fonte de matérias-primas para diversas indústrias. Setores diversos como alimentos, farmacêutico, higiene e cosméticos são alguns exemplos que ratificam o interesse pela fibra. Assim o processo de inovação tecnológica não se restringe ao produtor como agente inovador. A participação de grandes empresas de diversos setores ligados às aplicações do sisal demonstra que o desenvolvimento Proceeding of ISTI/SIMTEC – ISSN:2318-3403 Aracaju/SE – 24 a 26/09/ 2014. Vol. 2/n.1/ p.111-121 D.O.I.: 10.7198/S2318-3403201400020014 120 está sendo conduzido pelos usuários. Por fim o trabalho proporciona visualizar oportunidades de desenvolvimento para o maior aproveitamento dos resíduos do sisal que podem atender demandas no contexto brasileiro, especificamente das regiões produtoras da fibra. Entre estas, o uso para a produção de biogás, fertilizante, antihelmíntico, alimentação para animais, bioinseticida, entre outros. Desta forma, os resultados obtidos suportarão o processo de decisão de investimentos e alocação de recursos do SENAI/DR/BA em apoio ao setor industrial. REFERENCES BORSCHIVER, S. Apostila de Curso de Pós Graduação, EQ/UFRJ, 2008. SINDIFIBRAS (2012). O Sisal do Brasil. Disponível em < http://www.brazilianfibres.com/portal/index.php/pt/>. Acesso em: setembro, 2013. SINDIFIBRAS (2013). O Sisall. Disponível em < http://www.brazilianfibres.com/portal/index.php/pt/produtos/17-o-sisal>. Acesso em: setembro, 2013. PHAAL, R.; FARRUKH, C.; PROBERT, D. (2001). T-Plan: fast start to technology RoadMapping- planning your route to success. UK: Cambridge University - Institute of Manufacturing. LANGEVELD, H; SANDERS, J; MEEUSEN, M. (2010) The biobased economy: biofuels, materials and chemicals in the postoil era. London New York: Earthscan, 389 p.. KAPPEL, T. A. (2001). Perspectives on RoadMaps: how organizations talk about the future. The Journal of Product Innovation Management, 18, p.39-50. Submetido em 13/06/2014 Aprovado em 07/08/2014 Proceeding of ISTI/SIMTEC – ISSN:2318-3403 Aracaju/SE – 24 a 26/09/ 2014. Vol. 2/n.1/ p.111-121 D.O.I.: 10.7198/S2318-3403201400020014 121