iconografia do sistema de pesca no litoral da cidade de
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iconografia do sistema de pesca no litoral da cidade de
UFBA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE BIOLOGIA CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS VANESSA LACERDA DE QUEIROZ ICONOGRAFIA DO SISTEMA DE PESCA NO LITORAL DA CIDADE DE SALVADOR (DE ITAPUÃ ATÉ A RIBEIRA): UMA BUSCA PARA CONSTRUÇÃO DE PROPOSTAS PARTICIPATIVAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL SALVADOR- BAHIA 2007 VANESSA LACERDA DE QUEIROZ ICONOGRAFIA DO SISTEMA DE PESCA NO LITORAL DA CIDADE DE SALVADOR (DE ITAPUÃ ATÉ A RIBEIRA): UMA BUSCA PARA CONSTRUÇÃO DE PROPOSTAS PARTICIPATIVAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL Dissertação de graduação apresentada ao Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia, como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas, modalidade Ecologia: Recursos Ambientais Orientador: Prof. Dr. Everaldo Lima de Queiroz – Lab. de Nectologia, depto. de Zoologia SALVADOR-BAHIA 2007 VANESSA LACERDA DE QUEIROZ ICONOGRAFIA DO SISTEMA DE PESCA NO LITORAL DA CIDADE DE SALVADOR (DE ITAPUÃ ATÉ A RIBEIRA): UMA BUSCA PARA CONSTRUÇÃO DE PROPOSTAS PARTICIPATIVAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL BANCA EXAMINADORA ______________________________________________ Prof. Dr. Everaldo Lima de Queiroz (Orientador)/UFBA __________________________________________ Msc. Ironildes Santos Bahia/ SEAP/PR ________________________________________ Biol. Fátima Falcão/Prefeitura de Salvador Salvador, ______/_____/_____ AGRADECIMENTOS Ao meu orientador Everaldo Lima de Queiroz, primeiro por me apresentar esse tema encantador, depois por me mostrar caminhos para chegar a estes resultados através de sua contribuição profissional e finalmente por todo apoio e confiança que depositou no meu trabalho. A todos os pescadores e marisqueiras que tive contato ao longo desses meses e que me passaram conhecimentos e lições de vida a cada visita a campo. Também aos que eu não tive contato, por manterem viva a tradição do trabalho no mar. Ao Instituto de Biologia pelo aprendizado, incluindo aqui os professores, funcionários e colegas. Aos amigos “Orgânicos” que ao longo da minha jornada na Universidade me mostraram uma biologia diferente da apresentada na sala de aula e que me ajudou muito na minha formação como bióloga e como cidadã. A minha família, em especial meus pais e minha irmã, por todos os valores que nós compartilhamos, pelo total apoio em todas as minhas decisões, pelo amor,... Aos amigos “bio-lógicos”, que passando um pouco de suas experiências foram me ajudando na construção desse trabalho. E também aos não “bio-lógicos” que muitas vezes sem entender o que eu estava desenvolvendo tentaram ajudar de todas as maneiras, com palavras de conforto, sorrisos telefonemas no meio da noite, conversas virtuais e pensamentos positivos. Oração da manhã “Senhor, no silêncio deste dia que amanhece, venho pedir a paz, a sabedoria, a força. Quero olhar hoje o mundo com os olhos cheios de amor: ser paciente, compreensivo, justo, calmo alegre, quero ver seus filhos como o senhor os vê e ver só o bem em cada um deles. Cerre os meus ouvidos a toda calúnia, guarde minha língua de toda maldade. Que meu espírito viva só de paz. Seja eu tão bom e alegre, que todos que chegarem a mim sintam a presença de Deus. Senhor, revesta-me interiormente de sua beleza, e que, no decorrer deste dia eu a todos revele o seu amor.” Amém Colônia de pesca Z1 SUMÁRIO AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT 1 PROLEGÔMENOS 2 INTRODUÇÃO 2.1 O Ambiente 9 14 14 2.1.1 As bacias hidrográficas 17 2.1.2 O manguezal 18 2.1.3 Os recifes de coral 21 2.1.4 As Dunas 22 2.1.5 A restinga 23 2.2 A Pesca 23 2.3 Os trabalhadores do mar 26 2.4 Educação Ambiental 30 3 OBJETIVOS 42 3.1 Gerais 42 3.2 Específicos 42 4 METODOLOGIA 44 4.1 Área de estudo 44 4.2 Ambiente 45 4.3 A pesca, as pescarias e os trabalhadores do mar 45 4.4 Análise de “cluster” 47 5 RESULTADOS 50 5.1 O ambiente 50 5.2 Os trabalhadores do mar 64 5.3 A pesca 77 5.3.1 As embarcações 77 5.3.1.1 Nomes de embarcações 83 5.3.2 As artes e os petrechos de pesca 88 5.3.2.1 As armadilha 89 5.3.2.2 As linhas 90 5.3.2.3 As artes não especificadas 96 5.3.2.4 As artes de ferrar 97 5.3.2.5 As redes 99 5.3.2.6 As artes diversas 5.4 Análise de “cluster” 106 109 6 CONCLUSÕES 115 7 SUGESTÕES 121 7.1 Educação ambiental formal 122 7.2 Educação ambiental não formal 123 7.2.1 O ambiente 124 7.2.2 Os trabalhadores do mar 125 7.2.3 As pescarias 125 7.2.4 A comercialização 125 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 127 9 ICONOGRAFIA DO SISTEMA DE PESCA NO LITORAL DE 135 SALVADOR 10 ANEXOS 153 ICONOGRAFIA DA PESCA NO LITORAL DE SALVADOR RESUMO Desde a antiguidade, a pesca representa para a humanidade uma importante fonte de alimentos, além de, na modernidade, garantir emprego e renda para quem se dedica a atividade. No Brasil os índios deixaram um rico legado de conhecimentos relacionados à prática pesqueira, somados a contribuição das tradições deixadas pelos africanos e europeus. As práticas da pesca das comunidades marítimas são desenvolvidas em um ambiente marcado pelo risco, mobilidade, e mudanças físicas, dessa forma, o pescador tem de adaptar-se ao meio em que atua, empregando uma determinada técnica em função do tipo de pescado que ali ocorra e das características geográficas e geomorfológicas do ambiente. Somado a essas condições ambientais os trabalhadores do mar ainda vêm enfrentando uma redução nos estoques pesqueiros. Uma das formas para minimizar os conflitos entre a depleção dos estoques pesqueiros e degradação da natureza, é através de ações educativas e conservacionistas, construídas de forma participativa, entre poder público e comunidades locais. Este trabalho foi desenvolvido no litoral da cidade de Salvador, na região compreendida entre a Enseada dos Tainheiros (Ribeira) e a rua K (Itapuã), com o objetivo de propor ações educativas para melhoria da qualidade sócio-ambiental dos trabalhadores do mar. A região foi divida em doze áreas, sendo caracterizadas a partir de fotos imagens de satélites, capturadas no google earth. Realizaram-se: entrevistas abertas com os trabalhadores do mar e gestores públicos; registros fotográficos e observação direta no campo, com o intuito de se caracterizar o ambiente, os pescadores e a pesca (petrechos, artes e embarcações). A esse conjunto denominamos, nesse trabalho, de sistema de pesca. A pesca realizada ao longo da cidade de Salvador é do tipo artesanal de pequena produção mercantil, desenvolvida por comunidades tradicionais, devido à relação dos trabalhadores do mar com o ambiente e entre si, com certo grau de descaracterização. São utilizados, pelo menos oito tipos de embarcações, desde jangadas com paus justapostos até embarcações construídas com fibra de vidro. As artes de pesca foram agrupadas como: armadilhas, artes de ferrar, redes e linhas, identificando-se trinta e um tipos, incluindo-se a pesca proibida com bombas. Existem as práticas que não foram identificadas na bibliografia corrente. Sugerem-se alterações no modelo apresentado ao Fórum Permanente de Discussão da Pesca no Estado da Bahia. As condições ambientais estão comprometidas devido ao crescimento desordenado da cidade, que é refletido principalmente nas condições dos rios que deságuam na área urbana da cidade. Dessa forma, torna-se importante atenção especial para as bacias hidrográficas, que drenam a região metropolitana de Salvador. Existe uma diversidade de mecanismos de captura utilizados pelos trabalhadores do mar. Através de análise de agrupamento, com elaboração de três matrizes tentativas, tendo-se como variáveis as artes e petrechos e as localidades como unidades amostrais, demonstra-se a (dis) similaridades entre as diferentes, destacando-se três agrupamentos, com distâncias Euclidianas variando em até 4,0 unidades: 1) a cidade baixa (banhada, predominantemente, por águas estuarinas) – localidades compreendidas entre o Farol da Barra e Enseada dos Tainheiros, 2) a orla marítima (banhada, predominantemente, por águas oceânicas e costeiras) – entre Itapuã até Amaralina e 3) uma área de transição – entre Amaralina e Farol da Barra. Para desenvolvimento de estratégias de educação ambiental propõe-se a construção de três programas diferenciados, respeitando-se as regionalidades e características de cada área. As propostas que aqui são sugeridas seguiram os critérios da educação ambiental crítica, transformadora e emancipatória, sendo atuantes em espaços formais e não formais de educação e devem ser implementadas de forma participativa. Palavras chaves: Educação ambiental, pesca, pescarias, pescadores, Salvador, e iconografia. ABSTRACT Since the antiquity, the fishing represents to the humanity an important source of aliments, besides, in the modernity, guarantee employ and income for whom is dedicate to this activity. In Brazil the Indians let a rich knowledge related to the fishery practice, added to the contribution of tradition quitted from the Africans and Europeans. The practice of fishing in the maritime community are developed in a environment marked for the risk, mobility, and physic changes, in that way, the fisher have to adapt himself to the environment which he acts, engaging a determinate technique in function of the type of fish, that occurs in there and the geographical and geomorphologic characteristics of environment. Adding to these environmental conditions the sinners are facing a reduction in the fishing found. One of the ways to minimize the conflicts between the depelacao of the fishing stocks and the nature degradation is through educative and conservationist actions, built in a participative way, between the public power and the local community. This work was developed in the littoral of Salvador’s city, on the region between Tainheiros (Ribeira) and K street, with the objective to propose educational actions for the improvement of the social- environmental quality of the fishers. The region was divided in twelve areas, being characterized from photos of satellites, captured from google earth. Were realized: opened interviews with the sinners and public gestures; photographic registers and direct observation on the camp, with the feeling to characterize the environment, the fishers and the fishing. This group is denominated in this work of fishing system. The fishing realized through Salvador’s city is an artesian kind of small production mercantile, developed from traditional communities, because of the fishers relation between the environment and their self, with a certain degree of mischaracterization. Are utilized, at least, eight types of embarkation, since raft until embarkation built with glass fiber. The fishing gears were grouped how: booby trap, grapping and wounding, nets, lines and hooks, identifying yet thirty one kinds, including the prohibit bomb fishing. Some practices weren’t identified in the bibliography in study. Alterations in the model presented to the Forum of Discussion Permanent of Fishing in the State of Bahia are suggested. The environmental conditions are compromised because of the disorientated growing of the city, which is reflected specially in the river’s conditions, which disembogue in urban areas. In that way, should have a special attention to the basin , that drain the metropolitan area of Salvador. Exist a diversity of mechanisms of capture utilized from the fishers. Through the analyze of grouping, with the elaboration of three matrices, having how variables, the fishing gear and localizations how object, show a similarity between the difference, detaching three groupings with distance Euclidianas, varying until units: 1) Cidade Baixa (bathed, usually, for estuary water) – local comprehend between Farol da Barra and Enseada dos Taiheiros, 2) the edge maritime ( bathed, usually, for oceans water and costs water) – between Itapua and Amaralina and 3) an area of transition – between Amaralina and Farol da Barra. For development of strategy of environmental education are propose a construction of three different programs, respecting the regions and the areas characteristics. The proposes that are suggested here, followed the criteria of environmental education critical , transforming and emancipating , being operating in formal and no formal spaces of environmental education and should be implemented in a participative form. Palavras chaves: Environmental education, fisher, fishing, to fish, Salvador, e iconografy. 1 - PROLEGÔMENOS Muito antes de Pedro Álvares Cabral chegar ao Brasil, a história da pesca em nosso país, já havia iniciado. Era uma das fontes de subsistência das nações indígenas que viviam em nosso território (DEAN, 1997). Mas, a história documentada registra a primeira pescaria, quando Pero Vaz de Caminha escreve para o Rei de Portugal, anunciando a descoberta de novas terras. Nesse primeiro documento a descrição da prática pelos índios Tupiniquim que habitavam a região de Porto Seguro (SELLING JR., 1976): (...) “E alguñs deles se metiam em almaadias duas ou três que hy tijnham as quaaes nõ sam feitas como as que eu já vy. Soom sam três traues atadas jumtas e aly se metiam iiy ou b on eses que queriam nõ se afastando casy nada datrra se nõ quanto podiam tomar pee”. Trata-se de uma descrição de uma pescaria feita de cima de uma jangada. Outras descrições são feitas ao longo dos séculos, até porque o novo mundo, também trazia novidades em termos de capturas, petrechos e estratégias de capturas, além de espécies desconhecidas. Vejamos as declarações dos cronistas do século XVI, sobre o ambiente e espécies capturadas (in BUENO, 1999) “Suas águas, de um azul translúcido, estavam repletas de ilhas verdejantes. As margens, vestidas de matas e mangues, eram pontilhadas por um colar de praias e enseadas de areias faiscantes. Rios de águas escuras, transportando ricos sedimentos (...) chuvas regulares e constantes (...) Quando o sol tornava a luzir em céu límpido, a terra exalava aromas adocicados.” As águas do mar e dos rios eram tão piscosas:(...) “O peixe é tanto que vai de graça” - Francisco Pereira. Eram garoupas, meros, pargos, xaréus, bonitos, dourados e corvinas, além de dezenas de outras espécies, muitas das quais desconhecidas dos portugueses. Nos meses de maio, junho e julho, época da procriação, baleias afluíam às águas tépidas (...) mais pareciam “carpas num viveiro”. São quinhentos anos de miscigenação entre técnicas de capturas. Práticas indígenas, outras trazidas pelos colonizadores e, mais tarde a contribuição do povo africano. Para SILVA (1988) a história da pesca está relacionada à história dos povos oprimidos da sociedade colonial – os negros e indígenas. Os índios, pelos conhecimentos mais aprofundados do ambiente, forneceram a maior parte das técnicas e produziam as melhores redes e linhas para pesca. O regime de fome a que eram submetidos os negros, obrigava-os a busca de alimentos nos manguezais e rios. Com uma condição melhor que as dos indígenas, que não se aventuravam indo ao alto mar, os negros iam e, ainda, vendiam a sua produção aos Senhores, sendo, na maioria das vezes, explorados por esses, SILVA (op.cit.). No momento em que a pesca passou a ser uma atividade rentável, teve início uma série de conflitos e, em muito deles, foi necessária a intervenção do estado. Um exemplo marcante é citado por SILVA, op. cit., referente à explotação de estoques costeiros com uso de currais. Isso significava o apoderamento de uma área de mar ou estuário e o emprego de mão de obra. Além disso, a comercialização do pescado gerava riqueza que muitas vezes não era destinada aos pescadores, mas àqueles que haviam se apoderado da área. A história da pesca no Brasil, também passa pela captura de baleias, que apesar de ser um mamífero aquático, empregava um sem número de pescadores, sempre de origem africana (SELLING JR., 1976). Uma atividade que gerou muitos impostos para o estado brasileiro. A Fig. 1, do início da década de 10, século XX, na praia do porto da Barra, exibe munzuás (seta amarela) que são armadilhas fixas para captura de peixes e crustáceos. A sua confecção é feita Figura 1 – Fotos de munzuás no porto da Barra, no início do século XX. Foto Livro Vou pra Bahia – Marisa Vianna. a partir de uma gramínea de nome vulgar cana-brava. O tamanho dos munzuás está relacionado ao tamanho do pescado a ser capturado. Os munzuás, hoje termo empregado para designar uma série de armadilhas utilizadas para captura de peixes e lagostas, podem ser encontrados em diversas localidades ao longo do litoral. Em áreas de manguezal, munzuás de pequeno porte podem ser empregados para captura de siris (Callinectes spp) (inf. pess. QUEIROZ, 2007). Munzuás com aquele porte, ilustrado na foto do início do século XX, no porto da Barra, dificilmente são encontrados ao longo do litoral de Salvador. São, normalmente, de menor porte. Em ambientes mais saudáveis e com Fig. 2 – Foto de munzuá. Ilha de Itaparica – Conceição, APA Recife das Pinaúnas. Foto Everaldo Queiroz(E.L.Q.), arquivo Lab. de Nectologia . um nível de captura de pescado, ainda, considerado satisfatório pode-se encontrar tais armadilhas com aqueles tamanhos. Esse é o exemplo dos munzuás fotografados na ilha de Itaparica, em setembro de 2007 (Fig. 2), na localidade de Conceição – APA Recife das Pinaúnas. Outro momento importante que será tratado nesse trabalho, são as tradições identificadas no sistema de pesca. O desaparecimento de algumas dessas tradições, foram citadas nos depoimentos de alguns pescadores, que também reclamam da queda na Fig. 3 – Tradição em colocar a canoa para cima, com uso de troncos de coqueiros. Foto Livro Vou pra Bahia – Marisa Vianna. produção do pescado. Uns atribuem essa queda as mudanças no ambiente, outros, simplesmente, atribuem a depleção dos estoques a fenômenos religiosos. A verdade é que, para nós, não poderá haver aumento na produção de pescado se algumas técnicas tradicionais não forem resgatadas, bem como o uso sustentável das populações e a manutenção do equilíbrio do ambiente. As figuras 3 e 4 apresentam uma mesma atividade de pesca, representadas em épocas distintas, pescadores com canoas em Amaralina. Na Fig. 3, a qual a fonte de pesquisa não registra a data em que foi tirada a fotografia, observa-se a utilização de Fig. 4 – Praia de Piatã. Final de jornada. A tradição de levar a canoa para cima, sobre rolos, desta vez, tubos de PVC. Foto E.L.Q. troncos de madeira para “rolagem” da embarcação para o supralitoral. Na fotografia seguinte (ano 2002) em Piatã, observa-se o mesmo procedimeto, dessa vez com utilização de tubos de PVC. Novos tempos, novos materiais. A tradição adaptada aos tempos contemporâneos. Não existirão trabalhadores do mar sem o seu produto – o pescado, tampouco sem os seus etnoconhecimentos. A extinção de um, implicará, automaticamente, na extinção do outro. Resta saber quem sucumbirá primeiro. No entanto, uma das formas para minimizar os impactos sobre os sistemas são as estratégias educativas com os princípios da educação ambiental. Para SORRENTINO (2005) a educação ambiental é uma das ferramentas para o enfrentamento da crise civilizatória de dupla ordem, cultural e social. 2 - INTRODUÇÃO 2.1 O ambiente “Conhecida pelas suas belas praias, cantada em prosa e verso por diversos autores do nosso cancioneiro popular, Salvador, ao longo de séculos, assistiu, incólume, a destruição de seus ambientes costeiros urbanos, por uma expansão desenfreada e sem planejamento” (QUEIROZ & COELHO, 2005). Essa devastação teve início após o descobrimento do Brasil, com a ocupação portuguesa, através da retirada e tráfego de pau-brasil, seguindo-se o ciclo agrícola da canade-açúcar, fumo, laranja e a expansão das ocupações para área do entorno da Baía de Todos os Santos. Além da introdução de extensas pastagens e indústrias de celulose, o avanço urbano e industrial limitaram a ocorrência da mata atlântica e seus ricos ecossistemas a pequenas unidades de conservação (PDITS, acesso em: out. 2007). Ao longo do litoral da cidade de Salvador, anteriormente ao processo de degradação ambiental e ocupação urbana desenfreado, alternavam-se mangues, campos de dunas e falésias, baías e estuários, recifes de coral, praias e costões rochosos, planícies intermarés e outros ambientes importantes do ponto de vista ecológico (GEO BRASIL, 2002). Um dos reflexos dessa degradação pode ser a depleção dos recursos pesqueiros, bem como a promoção de desconexões do trabalhador do mar com o seu ambiente, um fenômeno descrito por MARQUES (1995). A questão acima citada inclui, também, a preocupação com a qualidade do pescado. FRANCO-MONSREAL, et al. (2003) estudaram a contaminação de pescado, em cidades mexicanas, registrando a presença de bactérias do gênero Vibrio, responsável por diversas patogenicidades a humanos: gastroenterite aguda, septicemia primária, infecção do ouvido, infecção de feridas e septicemia secundária. Literalmente, os pescadores que atuam desembarcados no litoral da cidade de Salvador, capturam e consomem pescados oriundos dos rios fétidos da capital que desembocam na região costeira e onde, pelo menos 03 sedes de colônias de pescadores estão instaladas, dividindo, com as fezes, um espaço de litoral. Sobre as bacias hidrográficas costeiras situadas na orla marítima de Salvador, com destaque para a bacia do rio Jaguaribe, foram identificadas cerca de vinte e uma famílias de peixes e que compõem a captura das nove artes de pesca identificadas nessa região, em entrevistas realizadas com dezessete pescadores que atuam na área. A identificação das artes de pesca foi feita com auxílio do manual da FAO (1990), Queiroz & Coelho, op cit e Nilo & Fig. 5. Algumas espécies explotadas nas pescarias do rio Passava que mesmo poluído ainda serve para moradores da região como fonte de subsistência. Foto: E.L.Q. Queiroz, (2004). Na Fig. 5 podemos observar algumas espécies explotadas no rio Passavaca. A poluição industrial tem diminuído consideravelmente os recursos pesqueiros ou os tornado inadequados para o consumo humano, pela presença de metais pesados. A ocupação crescente da praia, margens de rios e estuários e de suas posses tem levado a uma expulsão dos pequenos produtores para áreas sempre mais distantes de onde praticavam suas atividades, o que vem reduzindo as possibilidades de sobrevivência dessas comunidades, como também dos recursos pesqueiros (SCHAEFFER-NOVELLI,1989; DIEGUES, 1995). Como conseqüência de construção de marinas e muros de concreto a beira das lagunas, além da circulação constante de barcos motorizados, SCHAEFFER-NOVELLI (op.cit.) coloca o comprometimento de certas áreas propícias á fixação de larvas de ostras, e decorrente das instalações portuárias têm as lavagens dos porões de navios como outra fonte poluidora. De igual importância com relação a essas pressões das populações urbanas e da expansão urbana agrícola e industrial, quase sempre mal planejadas, são as mudanças físicas produzidas nos habitats costeiros, em especial manguezal e recifes de coral. Para o sucesso de qualquer área costeira é necessária administração de todo o ambiente associado. Associados ao ambiente costeiro da cidade de Salvador podemos encontrar as bacias hidrográficas, manguezais, dunas, vegetação de restinga e recifes de corais. Ecossistemas consideravelmente impactados devido à ação antrópica como poderemos ver mais adiante (PDITS, acesso: out.2007) SANTOS (1999) analisa a relação entre a cidade do Salvador e as águas e assim a descreve: “Salvador é uma cidade envolta e entrecortada pelas águas. Circundada pela Orla da Baía de Todos os Santos e pela Orla Atlântica, a cidade possui uma topografia acidentada e clima intertropical que favorece a ocorrência de chuvas ao longo de todo o ano, apesar de sua RM avizinhar-se do chamado polígono da seca, conhecido pela baixa pluviosidade e pelos históricos conflitos em torno da escassez de águas. Salvador é, portanto, privilegiada pela natureza, pela “fartura” de um elemento cada vez mais raro, caro e, por isso motivo de conflito. Entretanto, o processo de urbanização da cidade e os usos das águas (particularmente como fonte de diluição de dejetos doméstico e industrial) comprometeram profundamente seus principais corpos d`água, fazendo surgir abundância e escassez. Neste caso, merece destaque o comprometimento da qualidade das águas na Bahia de Todos os Santos, pelo lançamento de resíduos industriais e o comprometimento dos principais corpos hídricos da cidade pelo lançamento de dejetos de toda ordem. É este substrato de uma estreita vinculação entre águas e pobreza urbana” 2.1.1 Bacias Hidrográficas De acordo com o ATLAS DO MEIO AMBIENTE (2006), publicado pela Prefeitura Municipal de Salvador, existe no município dez bacias hidrográficas (Fig.6). Seis destas estão na região de estudo, a Jaguaribe, Pituaçu, Camurugipe, Pituba, Lucaia, Barra e Cidade Baixa. Fig. 6. Mapa representando as 10 bacias que drenam o município de Salvador. Imagem: Atlas do meio ambiente. As bacias que drenam a região de estudo são: 1. A bacia da Barra está situada no extremo sul da cidade e deságua entre o farol da Barra e Ondina. 2. A Lucaia tem como o principal rio o Lucaia e desemboca no bairro do Rio Vermelho (Fig. 7). a b c Fig. 7. Transformação do rio Lucaia, com o morro do Conselho ao fundo, mostrado através da pintura de Diógenes Rebouças do sec.XIX (DIÓGENES FILHO, 1985) - a. Atualmente o rio encontra-se contaminado e descaracterizado, como se pode observar (b). Na sua foz está localizada uma colônia de pescadores(c). Foto: Vanessa Lacerda de Queiroz (V.L.Q). 3. A bacia da Pituba apresenta rede de drenagem comprometida pela urbanização, estando praticamente toda artificializada nos bairros de Amaralina e Pituba. 4. A Camurugipe (Fig. 8) tem como principal o rio de mesmo nome, desemboca no Costa Azul, e juntamente com o rio Jaguaribe, são os que se encontram mais degradados ao longo de toda sua extensão. a b a c b c Fig. 8. Rio Camurugipe, em péssimas condições de conservação, passando em frente ao Parque Costa Azul (a). Próximo a sua foz, está localizada um núcleo de pescadores (c), o qual na sua frente percebe-se a cor negra das águas do mar. Fotos: E.V.Q. e V.L.Q. Fig. 9. Núcleo de pescadores da Boca do Rio (a), localizado ao lado da foz do rio Pituaçu, poluído, devido ao despejo de esgotos, como pode-se perceber pela cor da sua água e pela presença de muitos urubus na região (b), do outro lado da foz está localizada a sede do Esporte Clube Bahia (c). Foto: E.L.Q. 5. A bacia de Pituaçu é onde está localizada a represa e o Parque Metropolitano, cujos nomes foram dados devido ao rio Pituaçu, principal rio da bacia. O rio desemboca na praia da Boca do Rio, ao lado da sede do Bahia (Fig. 9). 6. Bacia do rio Jaguaribe é considerada a segunda maior bacia de drenagem natural do município, aqui está localizado um grande fator de risco para os mananciais que é o antigo Aterro de Canabrava; tem enorme importância ecológica devido ao fato de aqui está situado um dos últimos remanescentes de manguezal do meio urbano, o “Manguezal do rio Passavaca” (Fig. 10). Fig. 10. Registros do manguezal do rio Passavaca, onde pode-se observar suas águas negras, nas quais são despejados esgotos, mas ainda assim há resistência de árvores de mangue e flora associada. Fotos: E.L.Q. 2.1.2 Manguezal Os manguezais são ecossistemas costeiros, de transição entre os ambientes terrestres e marinho, característicos de regiões tropicais e subtropicais, sujeitos aos regimes das marés; são constituídos por espécies vegetais lenhosas típicas além de micro e macroalgas adaptadas a flutuação de salinidade e caracterizadas por colonizarem sedimentos predominantemente lodosos com baixos teores de oxigênio. Oferecem condições propícias para alimentação, proteção e reprodução de muitas espécies, sendo considerados importantes transformadores na ciclagem de nutrientes e matéria orgânica (SCHAFFER-NOVELLI, 1995). Além destas relevantes características ecológicas, estes ecossistemas têm uma histórica importância socioeconômica, uma vez que servem de sítios de pesca e mariscagem para muitas comunidades ao longo da costa brasileira (SCHAFFER-NOVELLI & CINTRÓNMOLERO, 1999). Os primeiros impactos neste ecossistema tiveram início entre 1500 e 1900 (SCHAFFER-NOVELLI, 1989), devido ao fato dos manguezais estarem localizados em áreas protegidas, e fornecerem abrigo e alimento com fartura para os primeiros colonizadores do Brasil. Segundo a autora, a cidade de Salvador situa-se na unidade VI, para classificação dos manguezais baseados na sua fisiografia, distribuídos ao longo do litoral brasileiro. Trata-se da região compreendida entre o Recôncavo baiano e Cabo Frio (RJ). Cita alguns fatores que contribuem para degradação das áreas de manguezal: Pólos químicos, metais pesados, especulação imobiliária, portos e terminais, a pesca predatória, aterros, lixo, drenagem, desmatamentos, aqüicultura, dentre outros. DIEGUES (1975) atribui à especulação imobiliária como maior vilã na destruição da vegetação de manguezal, nas baías de Guanabara, de Todos os Santos, de São José e de São Marcos. A vegetação de mangue é importante área de reprodução de espécies de pescado. Na área de estudo encontra-se apenas uma região onde o ecossistema manguezal está presente em meio à área urbana, é o manguezal do rio Passavaca. Em trabalho realizado no manguezal do rio Passavaca, SILVA E GOMES JR.(2003), observaram que um dos principais problemas da destruição de manguezais, principalmente próximo a áreas urbanas, é a utilização deste para construção de estradas e habitação. Associado a estes impactos ainda tem as alterações do sistema de drenagem e barreiras hidrológicas. Foi observado que depois dez anos de uma destruição devido à construção de um condomínio, houve uma recuperação da área encontrando-se 260 árvores com tamanhos superiores a 3 metros de comprimento. Concluiu-se, então, que a remoção de barreiras hidrológicas levaria a uma recuperação da vegetação degradada. SANTOS et.al. (2007) sobre o manguezal dos rios Passavaca e Jaguaribe, identificou Fig.11. “Pescadores de esgotos”, mesmo em condições aparentemente inóspitas ainda são encontrados pescados em rios completamente poluídos do litoral da cidade de Salvador, e deles pessoas ainda tiram sua subsistência (Rio Passavaca). Foto: E.L.Q. os tensores ambientais e seus impactos sobre a biodiversidade do local, observando, além daqueles citados por SILVA E GOMES JR.(op.cit.), que grande parte desses tensores está relacionada com a falta de infra-estrutura sanitária ao longo das bacias hidrográficas urbanas. Existe a deposição de resíduos sólidos no sistema estuarino e a caça predatória das espécies que compõem a fauna local. Mais recentemente, em 2005, o deslizamento do asfalto da av. Otávio Mangabeira, comprometeu o sistema local no trecho da terceira ponte. Devido a tais impactos ao longo dos tempos o manguezal do rio Passavaca perdeu 36 mil metros quadrados de área, e, ainda assim, suporta uma biodiversidade significativa, fornecendo nutrientes para a manutenção da teia trófica estuarina e servindo para subsistência de comunidades circunvizinhas (Fig. 11). 2.1.3 Recifes de coral Outro ecossistema de extrema importância são os recifes de corais, o qual a campanha do Ministério do Meio Ambiente “Conduta Consciente em Ambientes Recifais” (CPRH, acesso nov. 2007) ressalta a sua grande importância econômica, que associados aos manguezais, representam a fonte de recursos pesqueiros para muitas comunidades, além disso, protegem o litoral contra a ação das ondas, proporcionam empregos por meio do turismo e recreação marinha, dentre outros benefícios aos seres humanos, incluindo fontes de substâncias medicinais. No nordeste do Brasil, cerca de 18 milhões de pessoas vivem na região costeira. A saúde, bem-estar e em alguns casos, a sobrevivência dessas populações costeiras, dependem diretamente da saúde e bem-estar dos ecossistemas costeiros em especial dos recifes de coral (FERNANDES, 2001). Os recifes de corais do Estado da Bahia constituem as maiores e mais ricas estruturas recifais de toda a costa brasileira, sendo que a maior incidência é a região de Abrolhos, no litoral sul do estado (LEÃO, 1996). No município de Salvado (PDITS, acesso out. 2007) as construções coralinas se dão na forma de incrustações nas rochas cristalinas de embasamento, largamente exploradas através do mergulho contemplativo e pesca de espécimes de aquário, principalmente nas regiões do Farol da Barra e Itapuã. Pouco exploradas são as ocorrências localizadas nas praias da Pituba e Amaralina devido ao lançamento de esgotos nas proximidades. A fixação dos corais esta diretamente ligada a quantidade de carbonato dissolvidos nas águas costeiras e condições de luminosidade, que por sua vez esta relacionado à transparência da água e profundidade, oxigenação e disponibilidade de nutrientes, além da relação com acidentes geográficos situados sob a lâmina d`água a pequenas profundidades, cujas formas favorecem sua incrustação e desenvolvimento. Segundo FERREIRA & MAIDA (2006), no mundo todo se estima que a principal causa de degradação dos recifes de coral é o desenvolvimento crescente e acelerado das zonas costeiras e o excesso de explotação dos seus recursos. Este ecossistema é explotado desde séc. XVII, quando era empregado em construções, hoje, a principal casa de sua destruição ao redor das cidades com grandes populações, como ao redor das capitais dos estados, é devido, especialmente, à poluição doméstica e a influências diretas da atividade humana. Devido a sua proximidade da costa, esse ecossistema foi e ainda é explorado pela pesca artesanal e comercial, somando-se a isto o turismo desenfreado e mais recentemente o desenvolvimento da carcinicultura em áreas costeiras. 2.1.4 Dunas As dunas protegem o litoral contra a ação erosiva das ondas, influenciam na evolução morfológica da zona costeira, permitem a captação de água das chuvas alimentando lençóis freáticos, o cordão dunar funciona como barreira hidráulica a cunha salina, impedindo que salinize a água dos poços subterrâneo, além de possuir uma vegetação importantíssima para fixação da areia, protegendo as áreas urbanas de soterramento (CABRAL, 1997 & CARDOSO, 2003). No município de Salvador as dunas distribuem-se espaçadamente nos bairros da Pituba (resíduos no Parque Juventino Silva), Stiep/Costa Azul (presentes na altura da praia de Armação, além das proximidades do Centro de Convenções do Estado da Bahia, local onde anteriormente havia um amplo campo de dunas), no Imbuí (local onde a degradação de dunas se deve a ocupação desordenada principalmente dos anos 80 e 90), em Itapuã( onde se localiza o mais expressivo campo de dunas do município de Salvador, no interior encontra-se o Parque Municipal do Abaeté) e finalmente em Piatã, onde ainda podemos perceber alguns resquícios de dunas (Fig. 12) ( PDITS, op.cit.). Fig. 12. Praia de Piatã, uma das poucas localidades do litoral de Salvador onde ainda pode-se observar a presença de vegetação de restinga e dunas, estas com vegetação de fixação, e em grande parte ocupada pela presença de barracas. Fotos: E.L.Q. 2.1.5 Restinga A restinga é uma vegetação que se desenvolve ao longo da linha da costa, possuindo características especiais por receber influência marítima e se desenvolver em solos extremamente arenosos de baixa fertilidade (SANTOS et. al. 2002). Podem ser encontradas na forma herbácea, a qual invade o coqueiral à beira mar, arbustiva, forma moitas preferencialmente em grupamentos isolados, e vegetação arbórea, cobre áreas com maior disponibilidade de água (PDITS, op.cit.). A vegetação exerce papel fundamental para a estabilização do substrato no qual se encontra, protegendo da ação do vento, que se constitui em importante agente modificador de paisagem e mantendo a drenagem natural, bem como preservando a fauna residente e migratória. Mesmo apresentando tamanha importância, este ecossistema tem sofrido crescente impacto devido à especulação imobiliária, invasão de espécies exóticas e expansão de áreas agropecuárias (SCHERER et.al. 2005). Estando todos esses ecossistemas associados entre si e com o ambiente costeiro, segundo SCHAEFFER-NOVELLI (1989) para o sucesso da área costeira é necessário administração de todos esses ambientes associados. 2.2 - A pesca WEIDEMAN (2004) comenta que a pesca é uma atividade praticada pelos humanos, antes mesmo da era cristã, como fonte de sobrevivência dos povos indígenas. A primeira questão básica a ser observada nesse trabalho é a definição do que é pesca. Para subsidiar essa discussão existem diversos caminhos, um deles é o legal - LEI N° 9.605/98, in verbis: (...)Art. 36 - Considera-se pesca todo ato de retirar extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos de peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios suscetíveis ou não de aproveitamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constante nas listas oficiais de fauna e da flora. Desde a antiguidade, a pesca constitui para a humanidade uma importante fonte de alimentos e proporciona emprego e benefícios econômicos a quem se dedica a essa atividade. Antes se considerava que os recursos aquáticos eram uma fonte ilimitada, mas após a segunda guerra mundial, o desenvolvimento de conhecimentos e a evolução da dinâmica pesqueira derrubaram este mito, sabendo-se que, mesmo sendo renováveis, os recursos aquáticos são limitados (FAO, 1995). A pesca é uma grande fornecedora de proteína animal para consumo humano, com os recursos pesqueiros contribuindo com 12% destas proteínas (PAIVA, 1997). A pesca pode ser classificada em quatro tipos principais: 1 - de subsistência, com único propósito de alimentação; 2 - artesanal, cujo pescado é total ou parcialmente comercializado, os pescadores podem ser os proprietários do barco e petrechos ou utilizá-los em sistema de parceria com os proprietários, utiliza-se embarcações de pequeno ou médio porte, motorizadas ou não, e os petrechos e insumos utilizados são relativamente simples, muitas vezes confeccionados pelos próprios pescadores; 3 - pesca industrial é realizada por embarcações maiores, com maior autonomia para operar a maiores distâncias da costa, apresentam sistemas de mecanização a bordo para facilitar o manuseio dos petrechos, além de sistemas de localização por satélite ou rádio-transmissores, os proprietários dos barcos podem ser empresas ou indústrias de beneficiamento de pescado, normalmente atua sobre estoques pesqueiros específicos e 4 - pesca amadora, é pratica com propósito de turismo, lazer e esporte, o produto não pode ser comercializado ou industrializado (DIEGUES,1983; GEO Brasil 2002). DIEGUES (op cit.) ainda acrescenta que a pesca artesanal que é aquela realizada dentro dos moldes de pequena produção mercantil, que comporta ainda os pescadores lavradores (que tem a atividade pesqueira como evento ocasional). Tratando-se de uma pesca com tecnologias de baixo poder de predação, empregando força de trabalho familiar ou do grupo de vizinhança e cuja produção destina-se ao mercado. No estado da Bahia, as pescas estuarino-marinhas mostram um grande predomínio da produção artesanal, sempre superior a 90% do total de capturas (PAIVA, 1997). Fatores oceanográficos e geomorfológicos definem os distintos nichos ecológicos e os ciclos de reprodução, enquanto que as migrações das espécies de peixes determinam a presença dos cardumes no local da pesca, ao mesmo tempo, as condições de mar e de tempo atmosférico, imprimem o ritmo e a duração das pescarias, em especial daquelas de baixo investimento tecnológico (CARDOSO, 1996). No Brasil, a frota artesanal, ou de pequena escala, é constituída de 25.000 embarcações, representando cerca de 90% da frota pesqueira total em operação no país. Suas limitações quanto à autonomia do mar e à tecnologia de captura não permitem produção de grandes volumes de pescado (GEO Brasil, 2002). No sistema de produção artesanal, captura-se um elevado numero de espécies, o que mais se acentua quando as pescarias se efetivam em águas tropicais, com grande diversidade e pequena biomassa dos estoques explotados (PAIVA, op.cit.). No Brasil, sem sombras de dúvidas, foram os índios que deixaram o maior legado em práticas de pesca em rio e em mar, algumas dessas técnicas foram incorporadas pelos africanos e europeus, que também deixaram suas contribuições, legadas de suas culturas e civilizações. Existem registros da época colonial dos índios pescando com flechas, anzóis presos a linhas e redes, além dos índios também utilizarem a arte do mergulho, na qual através de peneiras e cabaças vazias uns mergulhavam, enquanto outros batiam na água, assustando os peixes. Havendo ainda neste período a arte da mariscagem (SILVA, 1988). As heranças indígenas relacionada às técnicas de pesca não param por aí, no período colonial também se tem registros de jangadas e canoas utilizadas pelos pescadores (SILVA, op.cit.). Sobre a pesca, as pescarias e os pescadores que atuam no litoral da cidade de Salvador, encontramos poucos dados que tratassem do tema e que pudessem oferecer um bom substrato para elaboração de estratégias educativas voltadas para conservação sócio-ambiental. Não obstante as instituições governamentais e não governamentais que têm a responsabilidade institucional para tratar do segmento, ou que assim dizem fazer, informar ou divulgar ações específicas para este assunto. 2.3 – Os trabalhadores do mar DIEGUES et.al. (2001) define comunidades tradicionais como sendo grupos humanos diferenciados sob o ponto de vista cultural, que reproduzem historicamente seu modo de vida, de formas mais ou menos isoladas, com base na cooperação social e relações próprias com a natureza. Um dos critérios mais importantes para a definição de culturas ou populações tradicionais é sem dúvidas, reconhecer-se como pertencente àquele grupo social particular. As práticas de pesca das comunidades marítimas são desenvolvidas em um ambiente marcado pelo risco, mobilidade, e mudanças físicas. Os recursos naturais renováveis, em particular as espécies de peixes são móveis e muitas vezes “invisíveis”, reproduzindo-se e migrando de um ambiente a outro, obedecendo a complexos padrões de reprodução (DIEGUES, 1995). O pescador tem de adaptar-se ao meio em que atua, empregando uma determinada técnica em função do tipo de pescado que ali ocorra, das características geográficas e geomorfológicas do ambiente, e assim por diante (BRANDÃO, 2003). O pequeno pescador utiliza a mão de obra familiar com grande experiência de nichos ecológicos precisos, onde os petrechos de captura através de longos anos se adaptaram aquela pesca (DIEGUES, 1983). O mar para DIEGUES (1993) é um espaço de correntes perigosas, de ventos que mudam de direção, de peixes que se deslocam e os pescadores, mesmo com os peixes no cesto, ainda enfrentam a instabilidade do mercado. A desorganização social dos pescadores artesanais é causada, na maioria das vezes pela própria dinâmica do avanço do capital de outros setores da produção social capitalista (avanço das indústrias poluentes e o conseqüente empobrecimento biológico do ambiente, das imobiliárias, das empresas de colonização, das madeireiras, da expansão política, etc.), como também pela articulação com a pesca empresarial capitalista, que busca nos pequenos produtores, seja mão de obra para seus barcos, seja a oferta de produtos pesqueiros (DIEGUES, 1995). Segundo o autor não só a desorganização social está relacionada a estes fatores, como também a redução dos estoques pesqueiros, ambos diretamente relacionados, uns com o outros. Lembrando que a pesca predatória realizada pelos barcos industriais nas mesmas áreas costeiras onde os pescadores tradicionais trabalham é uma grande vilã. Aliás, a expressão pesca predatória, por recomendação de QUEIROZ & SANTANA (2001) deve ser substituída por pesca ilegal ou proibida, pois todo ser humano, por natureza é um ser predador. Ademais, utilizando-se a expressão proposta, um ato indevido de pesca passará a ser enquadrado no que dispõe a Lei no 9.605, que trata dos crimes ambientais. MARQUES(1993) afirma que os pescadores tradicionais portam o “saber” e o “saber fazer” relacionados com a estrutura e a função do(s) ecossistema(s) a que estão vinculados. Saber e saber fazer, segundo CARDOSO (2001), vem de um conhecimento ancestral da pesca, perpassando diversos momentos da história da humanidade e permanecendo ainda hoje muito próximo da primeira lança que fisgou um peixe ou do primeiro gesto que extraiu e se alimentou de uma ostra. Quando o homem vive na dependência dos ciclos naturais, todo o seu tempo útil deve ser utilizado para a produção dos meios de subsistência para si e sua família, havendo pouca possibilidade de um excedente (DIEGUES, 1983). A expansão das cidades, contudo, tem servido como um vetor capaz de destruir os laços de tradição existentes nas comunidades tradicionais. E Salvador, parece não ter fugido a essa regra e seguiu, em relação ao sistema de pesca, o mesmo padrão. Uma das formas para minimizar os conflitos entre a depleção dos estoques pesqueiros e degradação da natureza, devem ser as ações conservacionistas, elaboradas de forma participativa (BOECKMANN, et. al., 2006). Infelizmente, o mesmo trabalho não aponta os conflitos gerados que contribuem para destruir as tradições dos sistemas de pesca entre os pescadores. Os autores limitam-se a apontar culpados, destacar projetos oficiais sem, contudo, tratar dessa questão, que consideramos básica nessa trabalho – a destruição, por força do capital, das tradições entre os pescadores. Outro exemplo vem do estado do Ceará, praia de Pecém situada a oeste da cidade de Fortaleza, onde a expansão do sistema urbano, principalmente, a construção de barragens, alterou a paisagem local, interferindo diretamente, na tradição dos pescadores artesanais que utilizam a jangada com meio de transporte em suas pescarias (VASCONCELOS & SILVA, in Lemos, 1996). Destaca que o incentivo a ocupação desordenada nas dunas e a expansão dos loteamentos, ou a omissão relativa a esses crimes, tem um custo muito elevado para o sistema social como um todo, visto que exige investimentos muito elevados para correção. Os autores destacam os problemas, mas, no entanto, tratam os seus reflexos sobre as comunidades tradicionais de forma superficial. É uma abordagem com relação à expansão do turismo. Outra visão, para o mesmo estado do Ceará, é apresentada por CORIOLANO, 1996 (in Lemos, op cit.). O autor destaca que o turismo prejudicou, diretamente, as Colônias de Pescadores, nas praias de Cumbuco e Icaraí, comunidades de Balbino de Redonda. Comenta que a absorção de uma cultura externa poderá contribuir para deturpar e poluir a cultura local. Um dos depoimentos mais antigos sobre a degradação do ambiente na Cidade do Salvador, associado ao sistema de pesca, é feito pelo cronista Prof. Luís Santos Vilhena, duzentos anos após Tomé de Fig. 13: Rio das Tripas, trecho das Sete Portas. Foto Livro Vou pra Bahia – Marisa Vianna. Souza ter escolhido o Rio Vermelho, a foz do rio das Tripas (Fig. 13) que percorria ao longo da nossa cidade: “(...) já não possuía uma única fonte cuja água se pudesse beber”. É lógico, alterações nos corpos aquáticos, produzem alterações nas comunidades ictías. Esse pensamento é reforçado por CETRA, 2005 (In SCHIAVETTI & CAMARGO, 2005), quando este declara que a integridade biológica de um ecossistema aquático é um reflexo de seus componentes, por exemplo, a qualidade da água: turbidez, temperatura, oxigênio dissolvido, química orgânica e inorgânica, metal pesado e substância tóxica. Podemos imaginar que há, pelo menos, 300 anos as bacias hidrográficas, que banham a cidade de Salvador, vêm sofrendo alterações capazes de contribuir para o empobrecimento da sua ictiofauna. Além disso, é o Rio Vermelho, na atualidade, uma das áreas que conserva as mais antigas tradições pesqueiras, conforme dados apresentados nessa monografia. 2.4 - Educação ambiental As últimas décadas do século XX testemunharam a emergência da educação ambiental como um novo campo de atividade e de saber que buscava reconstruir a relação entre a educação, a sociedade e o meio ambiente visando formular respostas teóricas e práticas aos desafios colocados por uma crise socioambiental global (COSTA LIMA, 2004). O desenvolvimento da consciência ambiental em nível internacional pode ser traçado ao longo das duas ultimas décadas, com base, em uma série de eventos, como as Conferências de Estocolmo (1972) e a de Tbilisi (1977) que originaram as primeiras manifestações dentro da Educação Ambiental. Gayford & Dorion(1994) destacaram também o Limite para o Crescimento, o Relatório Brandt ( 1980), Estratégia Mundial de Conservação (1980), o Relatório de Brundtland (1987) e mais recentemente a Agenda 21 (1992), realizada no Brasil. Todavia, a Educação Ambiental, ainda continua caminhando lentamente no processo de efetivar mudanças nas atitudes e comportamentos humanos em relação ao ambiente (SATO, 2004). Segundo DIAS (1993), a evolução do conceito de educação ambiental acompanhou a evolução do conceito de percepção de ambiente. Evoluiu de um enfoque mais ecológico no sentido das ciências biológicas, para uma dimensão que incorpora as contribuições das ciências sociais, fundamentais para a melhoria do ambiente humano. Não se trata mais de garantir a preservação de espécies animais e vegetais e dos recursos naturais, embora essas questões sejam importantes. O que deve ser considerado prioritariamente, são as relações econômicas e culturais entre a humanidade e a natureza e entre os homens (REIGOTA, 1994), possibilitando a participação política dos cidadãos, o que é tratado por SORRENTINO et. al. (2005) , como uma prática de educação ambiental crítica e emancipatória. Segundo DIAS (op.cit.) é necessário se conhecer primeiramente os objetivos, problemas, prioridades e valores de uma comunidade para que se pense no planejamento de ações de educação ambiental não formal com maiores chances de sucesso. PELICIONI & PHILIPPI JR.(2005) já afirmavam ser impossível mudar a realidade sem conhecê-la objetivamente. Dessa forma, o desenvolvimento de um processo de educação ambiental implica a realização de um processo de diagnóstico situacional, a partir do qual deverão ser estabelecidos os objetivos educativos a serem alcançados. Sem o conhecimento destes objetivos, problemas e valores de uma dada comunidade, segundo DIAS (2003), torna-se praticamente impossível praticar sem cometer gafes. Em nosso país, é bastante preocupante o modo como têm sido desenvolvidas certas atividades de educação ambiental não-formal. As estratégias que adotam o uso intensivo de cartilhas, cartazes, folders e outros recursos do gênero, têm sido protagonistas de desperdícios de recursos financeiros, freqüentemente públicos, e de lamentáveis fracassos. A fonte de erros tem sido a mesma: planejar sem o devido conhecimento do perfil da comunidade e seu respectivo metabolismo (SCATENA, 2005). A manutenção e elevação da qualidade ambiental das cidades é responsabilidade de vários órgãos governamentais de ação federal, estadual e municipal, das instituições privadas, ao cumprir a legislação ambiental e da comunidade, ao acionar os instrumentos legais de participação comunitária, para observação de seus direitos constitucionais (DIEGUES, 1993). A comunidade deve estar organizada para fazer valer seus direitos, segundo DIAS (1993), dentro da legislação, a forma mais eficiente de organização comunitária é a inserção de mecanismos associativos. É condição sine qua non na educação ambiental diálogo entre gerações e culturas em busca da cidadania brasileira e planetária (REIGOTA, 1994). Na carta de Belgrado, foram definidos seis objetivos indicativos da educação ambiental: 1) Conscientização, 2) Conhecimento, 3) Comportamento, 4) Competência, 5) Capacidade de avaliação, 6) Participação (REIGOTA, op.cit.). Elementos que devem ser observados na construção de projetos com esse fim. Trata-se de se estabelecer relação de causa e efeito dos processos de degradação com a dinâmica dos sistemas sociais (PELICIONI & PHILIPE JR., 2005). No Brasil, desde agosto de 1981, quando foi sancionada a lei n. 6.938, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, incluindo as finalidades e os mecanismos de formulação e execução, a educação ambiental foi considerada um de seus alicerces, devendo se voltar a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, a fim de capacitála para a participação ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL, 1981). A Lei Federal n. 9.795, de 27 de abril de 1.999 (BRASIL, 1999), que dispõe sobre a Política Nacional de Educação Ambiental, apresenta a seguinte definição in verbis: “(...) Art. 1o - Como processos por meios dos quais o indivíduo e a coletividade, constroem valores sociais e habilidades, atitudes e competências voltados para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum e do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Coloca a questão da interdisciplinaridade metodológica e epistemológica, quando enfatiza que todos têm o direito à educação ambiental: (...)Art. 2o – A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, que deve ser exercido de forma articulada em todos os níveis e modalidades de ensino, distinguindo o caráter formal do caráter não formal. Sendo responsabilidade do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), do Sistema Educacional, dos meios de comunicação de massa, do Poder Público, das empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas e da sociedade de uma forma geral. Em seu art. 5°, a lei estabelece entre outros objetivos fundamentais: (...)I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; (...) IV - incentivo a participação individual e coletiva, permanente e responsável na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício de cidadania; (...) VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. CARVALHO (2004) trata de uma educação imersa na vida, na história e nas questões urgentes de nosso tempo; a educação ambiental acrescenta uma especificidade: compreender as relações sociedade/natureza e intervir sobre os problemas e conflitos ambientais. Nesse sentido, o projeto pedagógico de uma educação ambiental crítica seria o de contribuir para uma mudança de valores e atitudes, contribuindo para a formação de um “sujeito ecológico”. Ou seja, formação de indivíduos e grupos sociais capazes de identificar, problematizar e agir em relação às questões socioambientais, tendo como horizonte uma ética preocupada com a justiça social. Algumas formulações que expressam possíveis pretensões de uma educação ambiental crítica são colocadas por (CARVALHO, op. cit.): Promover a compreensão dos problemas socioambientais em suas múltiplas dimensões: geográficas, históricas, biológicas, sociais e subjetivas; considerando um ambiente como o conjunto das inter-relações que se estabelecem entre o mundo natural e o mundo social, mediados por saberes locais e tradicionais, além dos saberes científicos; Contribuir para a transformação dos atuais padrões de uso dos bens ambientais em direção a formas mais sustentáveis, justas e solidárias de vida e de relações com a natureza; Formar uma atitude ecológica dotada de sensibilidades estéticas, éticas e políticas, sensíveis a identificação dos problemas e conflitos que afetam o ambiente em que vivemos; Implicar os sujeitos da educação com a solução ou melhoria desses problemas e conflitos através de processos de ensino aprendizagem formais e não-formais, que preconizem a construção significativa de conhecimentos e a formação de uma cidadania ambiental; Atuar no cotidiano escolar e não escolar, provocando novas questões, situações de aprendizado e desafios para a participação na resolução de problemas procurando articular as escolas com os ambientes locais e regionais onde estão inseridas; O público da Educação Ambiental Crítica é a sociedade constituída por seus atores individuais e coletivos, em todas as faixas etárias (GUIMARÃES, 2004), já que se considerando a gravidade da crise ambiental para a manutenção da crise no planeta, não há como se pensar em um público privilegiado a qual a educação ambiental deva se destinar. A Educação Ambiental Transformadora começou a se configurar nos anos de 1980, pela maior aproximação de educadores, principalmente envolvidos com educação popular e instituições públicas de educação, junto aos militantes de movimentos sociais e ambientalistas com foco na transformação societária e no questionamento radical dos padrões industriais e de consumo consolidados no capitalismo (LOUREIRO, 2004). Nascendo dessa forma articulada com o avanço do conhecimento e com instrumentos legais disponíveis no país, que proporcionaram condições para a consolidação de novas práticas e teorias inseridas no escopo da educação ambiental. Em termos de apresentação de procedimentos metodológicos que permitem trabalhar com tal método, LOUREIRO (op cit.) afirma que as metodologias participativas são as mais propícias ao fazer educativo ambiental, gerando dessa forma a interação entre os diferentes atores sociais na definição de um espaço comum e do destino coletivo. Participar é promover a cidadania, entendida como “sujeito-histórico” oprimido. Os objetivos norteadores das metodologias participativas para a Educação Ambiental Transformadora são assim propostos: Conduzir a ação educativa no sentido do crescente comprometimento com a democracia, o exercício da cidadania e melhoria da qualidade de vida, recolocada dentro de parâmetros compatíveis com a justiça social, a distribuição eqüitativa dos bens socialmente produzidos e com a consolidação de uma ética de vida que respeite as especificidades culturais e as identidades dos grupos sociais; Conduzir os problemas de educação de maneira integrada, em processo participativo das forças sociais locais, numa perspectiva de educação permanente, a partir da formação de uma consciência crítica; Conduzir a ação educativa de modo a apoiar e estimular a manifestação de indivíduos e grupos na transmissão e recriação do patrimônio cultural; Vincular os processos educativos com outras práticas sociais, particularmente com as atividades econômicas e políticas. O que significa que a Educação Ambiental Transformadora deve atuar em espaços formais e não formais de educação, tendo em vista a proximidade da escola à comunidade em que se insere e atende, pelo planejamento integrado de atividades curriculares e extracurriculares, pela construção coletiva e democrática do projeto pedagógico e pela vinculação das atividades de cunho cognitivo com as mudanças das condições objetivas de vida. Cada uma das diversas esferas que compõem a sociedade- o Estado, as empresas as ONG´s e os movimentos sociais e os segmentos internos a cada uma dessas esferas- tem um interesse, uma concepção e uma proposta de encaminhamento para a crise ambiental que são diferentes entre si. Isso compõe o conflito e a luta pelo poder. É dessa luta pelo controle, gestão e apropriação dos recursos naturais que é feita a crise ambiental (COSTA LIMA, 2004). A existência de determinado risco ou dano ambiental (contaminação hídrica, pesca proibida, aterramento de manguezais, etc.), para ser compreendida em sua totalidade, deve ser analisadas a partir de inter-relações de aspectos que qualificam as relações na sociedade (econômicas, políticas, sociais, éticas, culturais, etc.), com os aspectos próprios do meio físico-natural. Tudo isso sem perder de vista que outras ações sobre o meio físico natural podem gerar novas conseqüências sobre o meio social (QUINTAS, 2004). A questão básica a b c a Fig. 14. Conflito de competência e interesses instalado. De um lado os esgotos lançados no rio Camurugipe, no Costa Azul, canalizados pelo poder público (a). Do outro, a foz do mesmo rio, a sede de uma colônia de Pescadores (b) e no mar, o cenário da pescaria: a contaminação (c). Fotos: E.L.Q. que aqui será discutida refere-se ao sujeito ativo atuante nessa questão. Quando é o pescador, foco e tema do trabalho, e quando é o Poder Público, responsável pelas políticas públicas até então vigente. Para ilustrar esse processo dicotômico, onde encontrar o responsável? Vide a Fig. 14, onde a degradação de rios convive, “harmonicamente”, com as sedes das Colônias de Pesca, desde Itapuã até o Rio Vermelho. Indagamos quem é o responsável pela depleção dos estoques pesqueiros nessa região: os pescadores ou o Poder Público que ao longo dos tempos não cuidou do equilíbrio nesses sistemas costeiros, inclusive, contribuindo para o desaparecimento dos manguezais na orla marítima de Salvador? Privilegiar somente um dos aspectos que formam a nossa espécie, por exemplo, separar o social do ecológico, é reducionismo, o que pouco contribui para uma visão integradora e complexa de mundo (LOUREIRO, 2004). Sendo assim, a educação ambiental nasce como um processo educativo que une o saber ambiental com valores éticos e regras políticas de convívio social e de mercado, relacionando benefícios e prejuízos da apropriação e uso da natureza. Trata-se de construir uma cultura ecológica que compreenda natureza e sociedade como dimensões intrinsecamente relacionadas e que não podem mais ser pensadas — seja nas decisões governamentais, seja nas ações da sociedade civil — de forma separada, independente ou autônoma (CARVALHO, 2004). Um dos processos na atividade que pode, e é recomendado, ser aplicado, envolve técnicas de educomunicação sócio-ambiental, sendo esta, difusa, de massa, com uso de meios de longo alcance. (SORRENTINO et.al., 2005). O sistema de pesca envolve os conhecimentos de uma coletividade, que, na maioria das vezes, está dispersa ao longo de uma área – os trabalhadores do mar, que por sua vez podem possuir conhecimentos distintos, relacionados pelos próprios mecanismos de dispersão e pertencimento local. A pesca, por sua vez trás em si, as questões que causam impactos ao meio, que pode resultar em práticas proibidas, a exemplo das pescarias realizadas com uso de explosivos para confecção de bombas e as substâncias químicas e depende de políticas públicas para seu ordenamento. O desafio é estabelecer mecanismos onde o objetivo maior seja a manutenção do equilíbrio do meio, capaz de sustentar as práticas extrativistas que, por fim, garanta a perpetuação das espécies inclusive a humana. Isso tudo de forma participativa e integrativa. Uma das saídas para tal problemática, é a descrição e o entendimento das interrelações do sistema de pesca local. Buscando-se a similaridade entre áreas, ou dissimilaridade entre elas, que poderá ajudar na compreensão das estruturas locais e tradicionais, podendo-se assim estabelecer estratégias educativas, de forma participativa, respeitando-se as diferenças regionais, conforme exige a Lei nº 9.795 (BRASIL, 1999). Uma das técnicas propostas é a análise de cluster. PERONI (2002) utilizou a análise de cluster em estudos de etnobotânica por entender que o emprego de análises multivariadas é importante, principalmente, quando tratamos de variáveis que expressam alguma relação entre o homem e o ambiente. As técnicas de agrupamento demonstram interdependência entre variáveis, estando em função da escolha adequada do conjunto, bem como do processo que promoverá estatisticamente o agrupamento e que tipo de distância será empregado para descrever o nível de inter-relação entre os grupos separados (ROSES, 2002). O autor acima citado utilizou análise de agrupamento em busca de conhecimentos sobre as condições sócio-econômicas de municípios gaúchos. Em estudo de pesca FREITAS – NETTO & DI BENEDITTO (2007) descrevem as pescarias no estado do Espírito Santo associando suas espécies-alvo e portos onde são empregadas. E baseado em análise de agrupamento, tendo as artes de pesca como variáveis, chegou à conclusão que a grande variedade de artefatos deve-se a diversidade das espéciesalvo. Por fim, a própria comunidade dos trabalhadores do mar, reunidos em conferências nacionais sobre pesca e aqüicultura requerem dos poderes públicos práticas educativas para conservação ambiental, tendo plena percepção que tais atividades trazem benefícios para a produção pesqueira. O que está proposto nas resoluções: A - I CONFERÊNCIA NACIONAL DE AQÜICULTURA E PESCA (2003). “(...) Medidas que estimulem a preservação de ecossistemas, de 1. manguezais, complexos estuarinos e áreas de cultivo, estabelecendo uma legislação que assegure o bom uso dos recursos hídricos, o combate aos crimes ambientais e a despoluição das bacias hidrográficas, incentivando planos de gestão e fiscalização participativa.” B - II CONFERÊNCIA NACIONAL DE AQÜICULTURA E PESCA (2006). “(...) Resolução 496. Implantar programas de educação ambiental formal para 1. os Pescadores (as) e aqüicultores (as) e agentes de extensão e assistência técnica, incluindo disciplinas nas escolas e realização de cursos em comunidades, devendo ser priorizado o financiamento para essas iniciativas.” Aqui um equívoco é registrado, a educação ambiental, segundo a lei n° 9.795, não pode ser uma disciplina e sim ações transversais e interdisciplinares. C - I ENCONTRO NACIONAL DAS TRABADORAS DA PESCA E AQÜICULTURA (2004) 1. “(...) Realizar campanha nacional de documentação de mulheres pecadoras e aqüicultoras, de forma itinerante.” 2. “(...) Realizar o zoneamento ecológico e sócio-econômico, assim como a regularização fundiária nas comunidades pesqueiras antes de qualquer nova concessão de autorização para implantação e/ou incentivos para ampliação de novos projetos na aqüicultura e pesca .” 3. “(...) Divulgar amplamente as informações sobre os direitos e deveres previdenciários e trabalhistas dos pescadores e pescadores, aqüicultores e aqüicultoras familiares em linguagem apropriada através de palestras, cartilhas e cursos.” D - FÓRUM PERMANENTE DE DISCUSSÃO DE PESCA SOBRE A PESCA NO ESTADO DA BAHIA (2007) 1. “(...) Fazer cumprir as atuais leis de defeso de espécies e sugerir outras, articulando estratégias e promovendo ações para este fim.” 2. “(...) Evitar os grandes projetos com impactos diretos e/ou indiretos sobre os territórios de povos tradicionais e quando inevitáveis, garantir o controle e gestão participativa em todas as fases de implementação, minimizando impactos sociais ambientais” 3. “(...) Incentivar, qualificar, capacitar e modernizar as instituições representativas dos pescadores em relação a suas práticas de gestão associativistas e participativas.” De forma geral o que propõem os pescadores brasileiros ajusta-se ao que recomenda o código de conduta responsável (FAO, 1995): 1. “(...) Todos os habitats críticos para a pesca nos ecossistemas marinhos e de água doce, como as áreas úmidas, os manguezais, os recifes, as lagunas, as zonas de cria e desova, deveriam ser protegidos e reabilitados na medida do possível e quando necessário. Deveria-se pôr especial empenho em protegê-los da destruição, da degradação, da contaminação e outros efeitos significativos das atividades humanas que constituem um risco para a saúde e viabilidade dos recursos pesqueiros.” “(...) Os Estados em conformidade com os procedimentos 2. adequados, deveriam facilitar a consulta e a efetiva participação da indústria, trabalhadores da pesca, as organizações ambientalistas e outros interessados, na tomada de decisões que dizem respeito à elaboração de normas e políticas relacionadas à ordenação e desenvolvimento pesqueiros e a crédito e a ajuda internacionais.” “(...) Reconhecendo a importante contribuição da pesca 3. artesanal e em pequena escala para o emprego, o ingresso e a segurança alimentar, os Estados deveriam reconhecer os direitos dos trabalhadores e pescadores, principalmente aqueles que se dedicam a pesca de subsistência, artesanal e em pequena escala, a um sustento seguro e justo, e proporcionar acesso preferencial, quando proceder, aos recursos pesqueiros que explotam tradicionalmente assim como as zonas tradicionais de pesca nas águas da jurisdição nacional.” O que é importante nesse momento é associar o que querem os trabalhadores do mar e que instrumentos os poderes possuem e torna-os disponíveis, para implementar ações que promovam a conservação sócio ambiental. Com relação a base conceitual construída neste trabalho, abaixo estão esclarecimentos: SISTEMA DE PESCA – Aplica-se a essa expressão o entendimento de tudo que está relacionado à pesca, aos trabalhadores do mar e a administração pesqueira, podendo ser assim destacado: 1 – Pesca Envolve: A – O ambiente B – Os petrechos e artes de captura C – As capturas 2 – Trabalhadores do mar 3 – Administração pesqueira PETRECHO – Tudo aquilo que os trabalhadores do mar empregam para garantir a captura de alguma espécie. Desde a sua embarcação até o anzol. ARTE DE PESCA – Forma específica de uso de um determinado petrecho. Por exemplo: a linha é um petrecho para captura de diversas espécies de peixes. Ela pode ser empregada com linha de mão ou na forma de grozeira (espinhel), sendo estes usos classificados como artes de captura. Da mesma forma as redes. Rede é o petrecho, ser de caída, tarrafa, espera ou caçoeira é a forma, ou seja, a arte de pesca. TRABALHADORES DO MAR – Com base no I ENCONTRO Nacional das Trabalhadoras da Pesca e Aqüicultura (2004) são todos aqueles que extraem recursos vivos do meio aquático, de acordo com o art. 36 da Lei 9.605, que trata dos crimes ambientais. Incluindo aqui aqueles que de alguma forma participam do beneficiamento do pescado. ADMINISTRAÇÃO PESQUEIRA – Envolve o segmento que trata da legalidade da pesca, conservação, fiscalização, associativismo, pesquisa, ensino e extensão. 3 - OBJETIVOS Todos os objetivos aqui tratados referem-se ao litoral da cidade de Salvador, no trecho compreendido da enseada dos Tainheiros, na Ribeira, até a rua K, em Itapuã. 3.1 – Gerais Propor ações educativas em busca da melhoria da qualidade ambiental e de vida dos trabalhadores do mar, visando à sustentabilidade do sistema de pesca do litoral da cidade de Salvador. 3.2 – Específicos 1. Caracterizar o ambiente costeiro na cidade de Salvador; 2. Identificar os tensores ecológicos sobre o ambiente de pesca ao longo do litoral; 3. Descrever as artes e petrechos de pesca utilizados pelos trabalhadores do mar; 4. Caracterizar as embarcações utilizadas nas pescarias; 5. Descrever as pescarias aqui praticadas; 6. Identificar as espécies explotadas pelas pescarias; 7. Desenvolver técnica para desenvolvimento da ação de Educação Ambiental a partir dos agrupamentos gerados pela análise de cluster; 8. Identificar as ações de Educação Ambiental em instituições públicas e ONG´s envolvendo pescadores do litoral da cidade de Salvador 9. Criar um banco de imagens sobre pesca, pescadores e pescarias existentes ao longo do litoral soteropolitano e 10. Sugerir ações de Educação Ambiental para os trabalhadores do mar dessa região, bem como para as instituições envolvidas no sistema pesca em nosso Estado. 11. Contribuir para a construção do PDDU, incluindo as sugestões sobre o sistema de pesca em Salvador. 4 - METODOLOGIA O presente trabalho foi desenvolvido no período de junho a novembro de 2007, com visitas ao longo do litoral da cidade de Salvador, na região compreendida entre a Enseada dos Tainheiros, na Ribeira (12°54’O, 38°29’O), até a praia de Itapuã, Rua K (12°57’S, 38°21’O), onde está situada a colônia Z6, com o objetivo de identificar temas para sucesso de ações de Educação Ambiental (E.A.), em conformidade com o que está previsto na Lei n° 9.795, de 27 de ABRIL de 1999 (BRASIL, 1999), ações de EA formal e não-formal. As fotografias utilizadas foram feitas com as câmaras digitais SONY DSC – S600 e foram também retiradas do arquivo do Laboratório de Nectologia. Enquanto que as entrevistas realizadas foram gravadas em aparelho de MP3 PLAYER DVR SONY, com prévia autorização dos entrevistados para que os dados fossem utilizados nesta pesquisa. .1 Área de estudo A área de estudo escolhida apresenta ambientes costeiros diversificados e fortemente antropizados, a exemplo de: manguezais, ambientes recifais, rios, restingas, e praias. A região foi dividida em 12 áreas, e quando necessário dividiu-se em sub-áreas, com finalidade didática, devido a extensão do trecho ou especificidade envolvendo a pesca. Foram assim denominadas, em função das praias ou bairros com nomes oficiais ou já consagrados pelo uso: 1. Itapuã 7. Hotel Pestana/ Pedra da Sereia 2. Piatã/ Passavaca 8. Pedra da Sereia/Farol da Barra 3. Passavaca/ Boca do Rio 9. Farol da Barra/ Comércio 4. Boca do Rio/ Costa Azul 10. Comércio/ Monte Serrat 5. Costa Azul/ Amaralina 11. Monte Serrat/ Penha 6. Amaralina/ Hotel Pestana 12. Enseada dos Tainheiros Levamos em consideração a localização geográfica, características do ambiente, ocupação humana, organização dos pescadores e tipos de pescarias desenvolvidas na região de estudo. Essas áreas foram delimitadas a partir de imagens feitas por satélite, obtidas a partir do programa Google Earth. Para captura de imagens foi utilizado o programa Corel Capture, sendo essas imagens posteriormente transformadas para o formato jpeg. A região de estudo encontra-se representada na Figura 15. 12 11 2 3 1 10 4 5 6 9 8 7 Fig. 15. Área compreendida entre A rua K (1), Itapuã até a Enseada dos Tainheiros (12). Google earth. 4.2 O ambiente As áreas foram descritas e caracterizadas, observando-se a presença de vegetação, praias, rios, as bacias hidrográficas e ocupação humana, para identificação dos tensores ecológicos geradores de pressão sobre o ambiente, capazes de interferir na sustentabilidade da pesca no litoral da cidade de Salvador. Nenhum tipo de parâmetro hídrico foi amostrado nesse estudo, pois extrapolavam os objetivos, inicialmente, propostos. 4.3 A pesca, as pescarias e os trabalhadores do mar Foram realizadas 32 entrevistas, com os pescadores e marisqueiras que foram encontrados na área de estudo e que se disponibilizaram a conversar com o entrevistador. Os dados foram obtidos através de aplicação de questionário semi-estruturado ou abertos, não ultrapassando o período de duas horas. As entrevistas foram, posteriormente, transcritas. O questionário aplicado segue em anexo (A). As informações coletadas incluíram informações sobre: o modo de vida dos trabalhadores do mar, as embarcações empregadas, as artes de pesca utilizadas, as espécies explotadas, a sua relação com o ambiente, além do conhecimento sobre os projetos de educação ambiental, quando existissem. Classificamos os pescadores pescarias e embarcações de acordo com o modelo sugerido para a gestão da pesca (QUEIROZ, 2007), representado na Fig. 16, o que altera aquele proposto pelo Lab. de Nectologia, no Fórum de Discussão Permanente sobre a Pesca no Estado da Bahia, vide anexo B. Administração dos estoques Gestão Pesqueira PESCADOR (A) Direitos e deveres Etnobiologia Organização Colônia Condição Embarcado Embarcações Desembarcado Propulsão Associação Rede Catador de carangueijos Cooperativa Linhas Marisqueiras Sindicato Armadilhas Catadeiras Desfiadeiras Remo Vela Motor Tamanho Pinauneiras Pesca com vara Sem molinete Com molinete Pesca com linha de mão Molilata Redes Mergulhador Embarcado Apnéia Desembarcado Autônomo Fig. 16: Modelo modificado neste trabalho a partir do modelo sugerido para gestão de pesca proposto pelo Lab. de Nectologia no Fórum Permanente de Discussão da Pesca Estado da Bahia. A identificação e descrição das artes e petrechos de pesca, assim como das embarcações foram realizadas a partir dos depoimentos dos próprios pescadores, observação direta em campo e com auxilio do documento técnico da FAO (NÉDÉLEC& PRADO, 1990) e Boletim Estatístico da Pesca Marítima e Estuarina do Nordeste do Brasil – 2004 (CEPENE, 2005). Os nomes das embarcações foram anotados em busca de conexões com diversos temas da vida cotidiana dos pescadores. Essas conexões foram estabelecidas, a partir dos nomes dos saveiros da baía de Todos os Santos, relacionados por SELLING, JR (1976) e SMARCEVSKI (1996). Foram feitas fotografias de embarcações e artes e petrechos para continuidade do arquivo de imagens do Laboratório de Nectologia do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia. No futuro estas imagens formarão um BANCO DE DADOS DA ICONOGRAFIA DO SISTEMA DE PESCA NO LITORAL DA CIDADE DE SALVADOR, anexado a este trabalho e disponibilizado pela internet. As espécies de peixes fotografadas foram identificadas, pela professora Virginia Guimarães Almeida, da Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC. Entrevistas semi-estruturadas e abertas foram conduzidas junto aos representantes de instituições públicas e ONG`S, vide anexo C. A escolha foi baseada em ações desenvolvidas com pescadores do litoral da cidade de Salvador, principalmente com foco voltado para a Educação Ambiental. O propósito foi em se fazer uma avaliação dos projetos desenvolvidos pelas mesmas. As instituições públicas que tiveram representantes entrevistados foram: 1. IBAMA 2. SEMARH 3. SEAP 4. BAHIA PESCA 5. Prefeitura de Salvador As ONG`s foram avaliadas, a partir de visitas aos sites: 1. MAMA 2. BALEIA JUBARTE 4.4 Análise de “cluster” A partir de análise qualitativa dos dados, presença e ausência, foram utilizados métodos de classificação ou agrupamento, comumente denominados de métodos de “cluster”. Procurou-se agrupar as características referentes à pesca para, a partir daí, propostas de ações de educação ambiental serem elaboradas. Considera-se, neste trabalho que as pescarias não estão distribuídas de forma uniforme, e sim, cada região apresenta as suas peculiaridades, devendo-se assim, ser levadas em consideração. Uma vez preenchidas as planilhas, essas servirão de base para elaboração das matrizes que, por presença e ausência dos tipos de artes de pesca, serão aplicadas técnicas de cluster analysis, visando estabelecer (dis) similaridades, a partir das distâncias euclidianas. Buscando-se estabelecer padrões de tradicionalidade pelas artes empregadas. Utilizou-se o método SAHN. Sendo assim, para o cálculo das dissimilades (distâncias) entre variedades, utilizado um coeficiente denominado de dissimilaridade “Distancia Euclidiana Simples”, que calcula a distância entre pares de objetos. O agrupamento destes objetos foi produzido através do método de aglomeração denominado de “Método de Ward”. Nessas localidades foram identificadas as artes de pesca tradicionais relacionadas por localidades, conforme as planilhas em anexo. Baseada na classificação proposta pela FAO (1999) foram formuladas três planilhas (anexos D, E e F) todas com as 12 unidades amostrais (áreas), tendo como variáveis as artes e petrechos de captura. Porém, cada planilha diferiu da outra pelo agrupamento das variáveis. Na primeira planilha, com 32 variáveis, foram consideradas as especificidades das artes e petrechos de pesca em cada região, mesmo se a classificação da FAO sugerisse a mesma identificação para cada uma delas. A segunda planilha, com 20 variáveis, algumas artes foram suprimidas ou agrupadas por outras, devido as suas semelhanças, em termos de nomenclatura: por exemplo: linha de mão para captura de GERREIDADE na Ribeira e o mesmo petrecho para captura de CARANGIDAE em Ondina. Sendo considerada como uma planilha intermediária. Finalmente na terceira planilha considerou-se apenas 16 variáveis, generalizando-se ainda mais as artes e os petrechos em comparação com a primeira e segunda planilha, levando-se em conta, estritamente, a classificação da FAO. 5 - RESULTADOS 5.1 O Ambiente A região de estudo é fortemente antropizada, sendo identificados os seguintes tensores, capazes de promover alterações no ambiente, geradores de tensores, com reflexos negativos sobre o sistema da pesca, baseado em SCHAEFFER-NOVELLI (1989): 1. Destruição de áreas de manguezal 2. Destruição da restinga 3. Perda total da qualidade da águas dos rios 4. Desmatamento da mata Atlântica, restando alguns fragmentos em forma de UC`s 5. Ocupação desordenada, em todo trecho de estudo 6. Uso do ambiente de praia para construção de barracas, com objetivo de comércio de alimentos e bebidas 7. Pesca com uso de bombas 8. Contaminação por metais pesados 9. Tráfego de embarcações de pequeno e grande porte 10. Localização do porto de Salvador 11. Aterros para expansão da cidade, bem como construção do sistema viário e áreas de lazer 12. Loteamentos 13. Lançamento de efluentes domésticos e outras águas servidas 14. Presença de marinas e clubes 15. Acúmulo de resíduos sólidos de diversas origens Nas folhas seguintes apresentamos as áreas nas quais a região de estudo foi subdividida. As imagens do satélite foram obtidas a partir do Google earth e devidamente caracterizada. Área 1 – Itapuã RS RS RS RS Fig. 18. Área 1.Trecho entre a rua K (seta vermelha) e as dunas de Piatã (seta verde) A área 1 – Itapuã compreende o trecho que vai da rua K (Seta vermelha) até as dunas de Piatã (Seta verde). Caracteriza-se pela presença de recifes submersos (RS), e o supra litoral ocupado por barracas de praia e outros equipamentos para comércio de alimentos e bebidas( setas preta). O estirâncio, em épocas de marés de sizígia, é utilizado para práticas futebolísticas e outros esportes. Visitamos a Colônia Z6, com a sede situada na rua K; a Associação dos Pescadores e Marisqueiras, com a sede situada nas proximidades da Igreja de Itapuã; um núcleo de pescadores que fazem a hangaragem de suas embarcações no fundo do Bar “Quioske da Janaína”, denominada “Capazana dos lambaris”; um núcleo de pescadores que estão concentrados em frente a estátua da sereia, na entrada da Av. Dorival Caymi, porto de canoas que são utilizadas com de redes de cerco e arrasto de praia - calão e um núcleo que está instalado nas dunas de Piatã, nas proximidades do antigo restaurante “Casquinha de Siri”. Não existe nenhum rio que deságüe nessa região, que é totalmente ocupada por casas e prédios de apartamentos. A av. Otávio Mangabeira separa-se, em alguns trechos do ambiente praial, por um cais de contenção, que também serve de proteção para algumas barracas de praia. Área 2 – Piatã / Passa Vaca Fig. 19. Área 2. Trecho das dunas de Piatã, até a foz do rio Jaguaribe (seta vermelha). Em destaque encontra-se o rio Jaguaribe( retângulo amarelo). . A área 2 compreende o trecho que vai desde as dunas da praia de Piatã até a foz do rio Jaguaribe, também conhecido por Passavaca devido ao manguezal que ainda resiste nesta região. Os usos são os mesmos do trecho da área 1, com uma maior concentração de barracas de praia. Destacamos a vegetação das dunas, situadas em Piatã e a vegetação de restinga, fortemente antropizada às margens do rio Passavaca e em alguns trechos do supra litoral, ocupado por uma pista de Cooper e ciclovia. O rio Passavaca (em destaque no retângulo amarelo), ainda é utilizado para pesca por alguns pescadores, apesar do ambiente ser, totalmente inóspito e inadequado para condição humana. A Prefeitura de Salvador tenta implantar um Parque Municipal para proteção das únicas e últimas árvores de mangue encontradas em nossa cidade, situadas na região. Área 3 – Passa Vaca / Boca do Rio Fig. 20. Área 3. Compreende desde a foz do rio Passavaca, até a foz do rio Pituaçu (seta vermelha), em destaque as dunas da Boca do Rio. A área três tem como limites a foz do rio Passavaca, em Piatã, e a foz do rio da bacia hidrográfica do Pituaçu. A vegetação está restrita ao ambiente de dunas na região das praias dos Artistas (Elipse amarela). A vegetação sofre o impacto constante das rodas dos tratores que atuam na limpeza das praias da região. O modelo de ocupação do supra litoral por barracas, continua, bem como os outros usos, causando nítido ambiente de conflito com a pesca. A pesca de mergulho é realizada nas regiões onde existem recifes submersos. A lagoa de Pituaçu é a Unidade de Conservação que encontramos na região (Setas amarelas) – Parque Metropolitano de Pituaçu. Vestígios de antigas lagunas costeiras podem ser observados ao longo desse percurso. Destaca-se a total ocupação das dunas da Boca do Rio, ocupação que data da década de sessenta, século passado e a presença de uma sede da Colônia Z6, situada na foz do rio Pituaçu (Seta vermelha). Área 4 – Boca do Rio / Costa Azul Fig. 21. Área 4. Apresenta seus limites entre as fozes dos rios Pituaçu e Camurugipe (seta vermelha), Em destaque o Jardim de Alah (seta amarela), Shopping Aeroclube (seta azul) e Dunas do Stiep ( circulo preto). A área quatro tem como limites as fozes dos rios Pituaçu, na Boca do Rio, e o rio Camurugipe (seta vermelha), no Costa Azul, ao lado do qual encontra-se um núcleo de pescadores. O jardim de Alah (Seta amarela) e o Shopping Aeroclube (Seta azul) demonstram o conflito de gestão do ambiente costeiro, nesse trecho. Entre os coqueirais, símbolo da terra e a arquitetura importada de um modelo americanizado. A vegetação de restinga, em especial no ambienta praial, também sofre com o impacto das rodas dos tratores, em especial no trecho denominado praia de Armação. Historicamente, a pesca do xáreu, com o uso de redes de arrasto de praia, era constante naquela área. Destacamos o conjunto de dunas no Stiep e da Bolandeira, no bairro, hoje denominado, Imbuí (Em destaque no círculo). Retornam na região os afloramentos rochosos, com maior intensidade a partir do jardim de Alah. Área 5 – Costa Azul / Amaralina Fig. 22. Área 5. No círculo vermelho a região do nordeste de Amaralina e em amarelo o bairro da Pituba. As setas em azul e laranja apontam para os limites da área. Essa área compreende a região desde a foz do rio Camurugipe até a área conhecida como largo das baianas de acarajé (seta azul), em Amaralina. O adensamento de moradias exibe um padrão bem distinto. Na região de Amaralina, a presença marcante das invasões e residências de populações carentes, vide em destaque no círculo, em vermelho. Na região do bairro da Pituba, predominam os edifícios de apartamentos, das populações de classe média a residências de alto luxo, em traçados urbanos bem delimitados por quadras, demonstrando um planejamento para uso do solo. A mancha verde entre as duas regiões representa o Parque Joventino Silva – também conhecido como Parque da Cidade. A região da praia, em todo trecho foi ocupada por um cais de contenção e proteção da av. Otávio Mangabeira. Duas sedes de colônias, uma na Pituba, próxima ao antigo Clube Português e outra em Amaralina(seta azul), foram visitadas e onde realizamos entrevistas com pescadores. Área 6 – Amaralina / Hotel Pestana Fig. 23. Área 6 As setas vermelha e azul indicam os limites da área. Compreende a área que vai desde o largo das baianas de acarajé, em Amaralina (seta azul), até o promontório onde está situado o Hotel Pestana (seta vermelha). A presença de promontórios nessa área é marcante e os afloramentos rochosos, bem evidentes. A vegetação está presente sobre essas elevações ao longo do litoral, principalmente gramíneas, cactáceas, algumas mirtáceas e ciperáceas, complementadas com a presença de coqueiros. A pesca de mergulho e arremesso de cima das pedras, além de arremesso de praia são características da pesca na região. Não encontramos nenhum núcleo de aglomeração de pescadores, ao longo desse percurso. Área 7 – Hotel Pestana / Pedra da Sereia Fig. 24. Área 7. Compreende do Hotel Pestana, até a Pedra da Sereia (seta amarela). O Rio Vermelho, centro dessa área de estudo, que tem como limites o Hotel Pestana e a Pedra da Sereia (seta amarela), em Ondina, representa o segmento mais tradicional em termos de pescarias, artes e petrechos. Destacamos a tradição do presente a Iemanjá, um devoção dos pescadores que teve início nos anos trinta do século XX. Nessa região do Rio Vermelho foram identificadas cerca 10 tipos diferentes de modalidades de pescarias, bem como diversos tipos de embarcações. Visitamos dois núcleos de aglomeração de pescadores. Um na foz do rio Lucaia (seta azul) e a outra a sede da colônia Z1 (seta vermelho), próxima ao largo de Santana. Uma curiosidade relativa a pesca, são as tarrafas confeccionadas com filó, para captura de pititingas. Essas tarrafas são denominadas de “mosqueteiros”. Na época de ocorrência desses peixes engraulidideos é comum a presença de aves Sterna sp (Trinta-réis), alimentando-se à beira da praia. Área 8 – Pedra da Sereia / Farol da Barra Fig. 25. Área 8. As setas azul e preta indicam os limites da área. Continua a predominância dos afloramentos rochosos no ambiente praial, bem como a existência dos recifes submersos, propiciando o mergulho para caça submarina e a captura de espécies para aquariofilia. Os únicos rios existentes na região estão restritos a dois bueiros que desembocam: um nas proximidades do promontório, onde está o Cristo (seta vermelha) e o outro na praia de Ondina (seta amarela) em frente a entrada da av. Ademar de Barros. Uma região dominada pela forte presença de hotéis de luxo, voltada para o turismo. Arenitos de praia podem ser identificados na região do Clube espanhol e entre a praia do Cristo e o Farol da Barra (seta preta). A pescaria de guaricema (PISCES : CARANGIDAE)com linha de fundo é ma característica na região. Utilizam-se barcos de pequeno porte, que ficam “apoitados” próximos as rochas que afloram na região. Quando os cardumes de pititingas aproximam-se da praia, os pescadores também capturam as guaricemas com linhas de arremesso da praia, com um equipamento denominado “molilata”. A partir do Rio Vermelho, continuando pela praia de Ondina até o Farol da Barra, encontramos as pescarias de arremesso de cima das pedras. Nenhum núcleo de pescadores foi identificado na região. Área 9 – Farol da Barra / Comércio Fig. 26. Área 9. As setas indicam a presença dos piers dos edifícios situados no Corredor da Vitória e o retângulo em amarelo a Baía Marina. É a região de entrada da baía de Todos os Santos. A presença marcante é a da falha geológica da cidade de Salvador, onde está situada a av. de Contorno e sob a qual existe um núcleo de pescadores - a Gamboa. O outro núcleo de destaque são os pescadores que atuam na região do comércio, tendo como base a antiga rampa do Mercado Modelo. A ocupação das encostas do corredor da Vitória com edifícios de alto luxo, os quais em sua maioria possuem píer para atracação de lanchas (Setas vermelhas) , denota com ponto de conflito com os pescadores tradicionais da área. A presença de marinas também é um tensor social sobre a região (destaque em amarelo). Nessa área tem início a pesca ilegal com uso de bombas. Área 10 – Comércio / Monte Serra Fig. 27. Área 10. Observe no retângulo em amarelo uma parte do Porto de Salvador. Junto com a região do farol da Barra, constitui o núcleo mais antigo de ocupação da cidade de Salvador. Compreende os limites entre o Forte de São Marcelo (seta azul), no interior do quebra-mar do porto de Salvador e o forte de Monte Serrat (seta vermelha). A presença do porto da cidade (destaque amarelo) com o tráfego intenso de embarcações de grande porte, ou mesmo, a presença de marinas para hangaragem de embarcações de alto luxo, apesar de geradores de tensores ambientais e sociais, não acabaram com os traços marcantes de tradicionalidades da pesca na região, seja nas embarcações e/ou nos petrechos e, ainda, nas áreas de captura. Algumas embarcações, tem na região do porto de Salvador, ponto de apoio para jornadas de pesca fora da BTS. Canoas, catraias, botes, saveiros, rede de espera, linha de mão, vara de pescar, munzuá e outros são presenças garantidas para caracterização dos sistemas de pesca na área. 11 – Monte Serrat / Penha Fig. 28. Área 11. Os limites estão apontados pelas setas vermelha e azul. No círculo vermelho área de intensa atividade de mariscagem. A Pedra Furada (seta vermelha) tem como tradição o comércio de siri-bóia (Portunus spinimanus) que atrai um grande número de consumidores da iguaria. O siri-bóia é capturado com jereré, na região do infra-litoral da região. Existe uma pescaria e um comércio específico para espécie. O esforço de captura, que pode ser percebido pelo tamanho dos animais comercializados, é grande, não havendo nenhum tipo de controle, muito menos para o comércio de fêmeas ovadas. A região é ocupada com população de baixa renda, até classe média, muitos dependentes da pesca para sua sobrevivência. Na região da Ribeira há o predomínio da atividade de marisqueiras. Mas, alguns homens estão envolvidos nesse tipo de pescaria, porém explotando outros recursos, a exemplo do rala-coco (Trachicardium muricatum) e sambá (MOLLUSCA : BIVALVIA) . Área 12 – Enseada dos Tainheiros Fig. 29. Área 12. A enseada dos Tainheiros é uma área comprometida com contaminação por mercúrio, mas onde persistem atividades de pesca. De toda região de estudo, desde Itapuã, é aquela que abriga o maior número de conflitos e pressões sobre o sistema de pesca – os Vetores Antrópicos de Pressão Ecológica (AVEP’s). Na década de sessenta, século passado, grande parte do ecossistema de manguezal foi aterrado para expansão de alguns bairros. Os sedimentos da enseada estão contaminados com altas concentrações de Hg (QUEIROZ & WASSERMAN, 2004); a pesca intensa com uso de bombas; barragem do Cobre que interrompeu o fluxo de água doce para o sistema local; palafitas e aterros; esgoto in natura, com lançamento de fezes, diretamente nas águas; construção de marinas (setas amarelas); desmatamento da mata Atlântica no Parque de São Bartolomeu, adjacente à área; estaleiro naval; dragagem dos sedimentos para passagens de embarcações de recreio, são exemplos de tensores na área. Mesmo assim, a área continua a fornecer, perigosamente, pescados para população carente que ali reside. 5.2 Os trabalhadores do mar Nas entrevistas realizadas, a maioria dos entrevistados (82%) era do sexo masculino, enquanto que apenas 18% eram do sexo feminino, representado aqui por marisqueiras (Figura 31A). Os pescadores encontram-se distribuídos por toda a área de estudo, enquanto que as marisqueiras encontram-se concentradas na região que engloba a Ribeira e a enseada dos Tainheiros. Uma vez não tendo mais onde praticar suas atividades devido à degradação dos manguezais na área urbana, foi observada participação de mulheres no beneficiamento do pescado na capazana dos Lambaris, em Itapuã (Fig. 30). Uma das marisqueiras colocou que não havendo mais mariscos na região, ela pratica a Fig. 30: Marisqueira participando do beneficiamento do pescado na Capazana dos Lambaris, Itapuã, por não ter mais onde praticar suas atividades nas proximidades de onde vive. Foto VLQ. atividade apenas uma vez por semana, quando conta com a companhia de “colegas” para ir regiões mais distantes como Portão, Buraquinho e Sauípe. Ficando os outros dias da semana na Capazana da colônia Z6, um dos portos que apóia as embarcações dessa colônia, local onde ajuda os pescadores no beneficiamento do pescado, ganhando o seu “quinhão” em troca. Sexo (A) Faixa etária dos pescadores (B) Masculino Feminino 18% 8% 8% 13% 13% 21% 24 - 34 35 - 44 45 - 54 55 - 64 65 - 74 75 - 84 82% 37% Grau de Escolaridade (C) Analfabetos 5% 5% 29% 1° - 4° série 5° - 8° série Até o 2° grau Nível técnico 37% 24% Fig. 31. Perfil geral dos pescadores do litoral de Salvador. A figura 31B mostra que 50% dos entrevistados do sexo masculino estão numa faixa etária que vai de 45 a 64 anos de idade, enquanto que apenas 8 % são referentes aos pescadores entre 24 e 34 anos. Avaliamos que essas proporções podem estar relacionadas com o motivo que, na juventude, há maior possibilidade de se conseguir um emprego que oferece melhores condições de vida para os iniciantes na vida no mar. Quanto às marisqueiras, todas as entrevistadas (100%) estiveram numa faixa etária entre 49 e 67 anos, sendo todas elas, mães de família e que executam a atividade para consumo próprio do produto coletado, com exceção de uma das entrevistadas, que comercializava os mariscos após o beneficiamento dos mesmos. Muitas dessas mães levam seus filhos e filhas, assim como, os netos e as netas, para ajudar na atividade quando são crianças, mas quando entram na adolescência eles (as) não querem mais ir porque ficam envergonhados de com a prática da atividade. A figura 32 ilustra avó e Fig. 32: Marisqueira na Ribeira contando com a ajuda do seu neto para atividade. Foto: V.L.Q. neto mariscando juntos. Com relação ao grau de escolaridade (Figura 31C), foi observado que 5% dos entrevistados não foram alfabetizados, 34% dos entrevistados concluíram o ensino fundamental e 5 % apresentam nível técnico. Nas visitas as colônias e associações, a religiosidade mostrou-se como um valor importante no cotidiano dos pescadores, estando representada através de imagens, pinturas e orações escritas e nos nomes das embarcações (Fig. 33). Fig. 33. Religiosidade expressa através de culto a imagens e nome de embarcação na colônia Z1, e na capazana da colônia Z6. Foto V.L.Q. Principalmente em regiões onde a tradicionalidade é mais forte, como Itapuã e Rio Vermelho, são, inclusive, organizadas festas em homenagem a Yemanjá, nas quais os pescadores, marisqueiras e população crente levam presentes para serem jogados no mar, e realizam orações agradecendo e pedindo proteção da mãe das águas. Nos diálogos com os pescadores a religião também se mostrou bastante evidente. A maioria dos entrevistados, representando 72%, afirmou seguir a religião católica, como pode ser observado na Fig. 34, estando os outros 38% divididos entre os evangélicos, os messiânicos, os pescadores que têm Deus como religião e os ateus. O mesmo padrão foi proposto por Religião AGUIAR (2005) em pesquisa desenvolvida nos povoados de Gameleira até Amoreiras, Católica 9% 5% 5% 9% Evangélica Messiânica 72% Não possui Deus Fig. 34. Religiões praticadas pelos entrevistados. Ilha de Itaparica, baía de Todos os Santos, Bahia, onde ela pôde observar, que 66,7% dos entrevistados eram católicos. Comentários relacionados a Deus são muito comuns. Destacamos: “Num existe! Chegando lá é o Homem que diz, quando chega lá que vê o peixe a maré ta boa”. (Sr. Luiz, católico, pescador da Ribeira se referindo a melhor maré para a pesca.) “Tem que dividir que Deus dá tudo! Ele quer assim!”. (Sr. Silvano de Jesus, católico, pescador do Costa Azul, se referindo ao seu barco que ele deixa disponível para os colegas saírem para a pescaria.) “Aí só um milagre de Deus!”. (Sra. Delsiene, católica, marisqueira da Ribeira, se referindo as ações que possam melhorar sua atividade.) “... A própria palavra de Deus já diz que nós estamos só no início das dores, que nos dias de hoje vão acontecer pestes, doenças e terremotos... tudo isso ta na palavra de Deus. Então as coisas vão piorar e nós temos que nos preparar para o que vai acontecer...” (Sr. Getúlio de Jesus, evangélico, pescador e presidente da Associação da Pedra Furada, se referindo a situação da pesca atual e futuramente e defendendo a importância de se valorizar a auto estima dos pescadores.) Diferente de Sr. Getúlio de Jesus, que dá uma idéia de esgotabilidade dos recursos, uma idéia bastante difundida entre os pescadores e marisqueiras é a de que os recursos pesqueiros são inesgotáveis, pois o que é de origem divina nunca acaba (SOUTO, 2004). “Quanto mais à gente tira, mais Deus dá.” (Sra. Nilsene, católica, marisqueira da Ribeira, se referindo a inesgotabilidade do recurso.) SOUTO (op.cit.) afirma que, o que cria uma situação bastante propícia para o estabelecimento e a manutenção dessa crença, além da forte religiosidade dos pescadores e marisqueiras é a estreita dependência que eles têm do ambiente, aliada a falta de uma alternativa no caso de um suposto esgotamento dos recursos. Em relação ao estado civil, 77% dos entrevistados são casados (oficialmente ou aqueles que vivem em regime de companheirismo) e 14% viúvos (Figura 35A). Quanto ao número de descendentes, 58% dos entrevistados apresentam mais de três dependentes, 4% não apresentam nenhum descendente, 15% apresentam apenas um dependente, 4% apresentam dois dependentes e 19% apresentam três dependentes (Fig.35B). Estado Civil (A) Número de descendentes (B) 1 casado solteiro 9% 14% viúvo 4% 77% 58% 15% 4% 2 3 Acima de 3 Nenhum 19% Fig. 35. Características da família. Dos Pescadores entrevistados, 65% são registrados na Capitania dos Portos (Fig. 36A). Destes, em termos de associativismo, verificou-se que 62% são profissionais filiados à Colônia de Pescadores, 23% são filiados a Associações e 15% não apresentam filiação de espécie alguma (Figura 36B). Quanto à situação das marisqueiras com relação ao registro, nenhuma está sob regime de algum tipo de associativismo. Pescadores Registrados (A) Associativismo (B) Colônia Associação Não filiado sim não 15% 35% 23% 65% 62% Fig. 36 – Situação profissional quanto à regularidade na pesca. Mais da metade dos pescadores entrevistados, 53%, (Fig. 37A) afirmam que conseguem sustentar a família com a pesca, porém, analisando-se os questionários, pôde- se observar quem muitos destes pescadores que afirmam sustentar a família com a pesca, além de ter outras atividades remuneradas, têm parentes que trabalham em outras atividades profissionais, que contribuem para a renda familiar. A pesca como única fonte de renda, abrange 52% dos pescadores (Figura 37B), não demonstrando grande diferença entre o porcentual dos que praticam outras atividades além da pesca. O número de pescadores que possuem outra atividade de complementação de renda deve ser considerado com cautela. Como exemplo dessa inexatidão, temos os aposentados que continuam pescando, e, normalmente, omitem a informação relativa à sua condição de aposentado. Durante as entrevistas ficou evidente que a produtividade pesqueira vem diminuindo, impedindo que o pescador possa depender unicamente dessa atividade para sobreviver, além de diminuir seu otimismo com relação à pesca. No que diz respeito ao consumo do pescado, apenas 4% dos pescadores não utilizam o pescado para consumo próprio, comercializando todo o pescado capturado. Os 96% restantes retiram parte do recurso pescado para consumo próprio e da família (Figura 37C). Rentabilidade (A) Fonte de Renda (B) Sim Única Não Outras 48% 47% 52% 53% Comercialização do pescado (D) Consumo (C) venda direta atravessador Sim 4% Não 36% 96% 64% Figura 37 – Consumo e rentabilidade da atividade pesqueira. Sob o ponto de vista da comercialização, os pescadores do litoral da cidade de Salvador podem ser divididos entre aqueles que vendem diretamente aos consumidores ou restaurantes e aos que vendem para “atravessadores” que então repassam para os consumidores ou mesmo para mercados ou outros pontos de venda. Como pode ser observado na Figura 37 D, a maioria do pescado (64%) é vendida para intermediários (atravessadores). Neste tipo de comercialização normalmente existe uma freguesia garantida, e assim que desembarca o pescador já tem um destino final para o pescado. Os compradores considerados como atravessadores são os próprios donos das embarcações, as peixarias, ou mesmo um comprador, que repassa o pescado para outros pontos de venda ou de consumo. Muitas vezes esses compradores adiantam o pagamento para que os pescadores abasteçam o barco, coloquem combustível e comprem os petrechos necessários. Dessa forma a produção está comprometida. Normalmente ao lado dos pontos de desembarque existem peixarias para as quais os pescadores vendem seus pescados (Fig.38), porém, há casos em que as peixarias não adquirem todo o pescado, então os pescadores vão em busca de outras Fig. 38. Peixaria ao lado da associação do Costa Azul. empresas. Quando não obtém Foto: E.L.Q. sucesso, em nenhuma das formas anteriores, levam os pescados em fieiras em busca de outros compradores. Os 36% restantes (Fig. 37 D) vendem o pescado diretamente para os consumidores no próprio local de desembarque ou como vendedores ambulantes, como ilustrado na figura 39. a b c Fig. 39. Pescados para serem comercializados de forma direta com o consumidor, em fieras (a) , expostos em cima de plásticos (b), na Ribeira; e conservados em gelo, dentro do isopor(c), na sede da colônia Z1, Rio Vermelho. Foto: V.L.Q. Nos locais de desembarque, onde há venda direta, o pescado algumas vezes passa por um processo de beneficiamento, no qual é limpo, tratado e algumas vezes cortado em postas, para agregação de valor ao produto (Fig. 40). Metade dos pescadores que praticam a venda direta dos pescados, acabam praticando Fig. 40: Beneficiamento dos pescados no Comercio, Itapuã e Ribeira, respectivamente. Foto: V.L.Q. os dois tipos de comercialização: 1) vendendo inicialmente o pescado diretamente para o consumidor e 2) levando o excedente até uma peixaria, feira ou mercado, para não perder o produto. Essa tentativa de venda direta inicial é devido a uma tentativa de se cobrar preços melhores pelo pescado, pois uma reclamação comum entre os pescadores é exatamente o preço injusto pago pelo quilo do peixe por parte destes atravessadores. Normalmente, os preços pagos pelos atravessadores são bastante inferiores ao preço que os pescadores acreditam valer o produto. O que acontece, como já observado por SOUTO (2004) em trabalho realizado em Acupe, região de Santo Amaro da Purificação, é que a falta de infra-estrutura de acondicionamento, processamento e transporte para centros de consumo põe a produção local em risco, o que, por sua vez, origina uma situação de certa urgência na comercialização. O receio de se perder a produção do dia de trabalho e a necessidade do dinheiro para suprir as necessidades imediatas, favorecem a ação dos negociantes e atravessadores e as suas estratégias de ganho financeiro. Dessa forma a intermediação não apenas se mantém como chega a ser vista como um sistema benéfico para os pescadores. Outro ponto comentado pelos pescadores, diz respeito à dificuldade em se vender o produto sem a presença de um atravessador e também levado em consideração por Pacheco (2006), realizado na península de Maraú - BA, está relacionado a alguns aspectos como a falta de tempo e de energia do pescador para alocar nas negociações em decorrência da atividade pesqueira e a tentativa de se reduzir as incertezas no escoamento da produção. Esse tema foi o mais comentado pelos pescadores que tem uma jornada de dias de trabalho em alto mar. Quanto à comercialização do produto da marisqueiras transação mariscagem, declaram é feita as que a após o beneficiamento dos mariscos, ou seja, esses são “catados” (Fig. 41) e então vendidos para freguesas já certas. Pôde-se observar também na região da Ribeira, homens vendendo Fig. 41. Siri catado e chumbinho, mariscos na forma como são vendidos nas ruas da Ribeira após beneficiamento. Os pescados são conservados em caixas de isopor com gelo. Foto: V.L.Q. os mariscos pelas ruas com um balde na cabeça, sem nenhum tipo de beneficiamento. Quem Ensinou a Pescar Família (A) Transmissão da prática a descendentes (B) Pai/Mãe Amigos Sozinho 18% 32% 40% Sim Não 18% 68% 24% Fig. 42. Transmissão da prática da pesca para os descendentes. A figura 42A mostra que a maioria dos pescadores e marisqueiras aprenderam a pescar com pai, mãe ou pessoas de sua família. Um modelo citado por Diegues (1995), “(...) um domínio de um conjunto de conhecimentos e técnicas que permitem ao pescador se reproduzir enquanto tal. Esse controle da ‘arte da pesca’ se aprende com os ‘mais velhos’ e com a experiência”. Enquanto a figura 42B mostra que 68% dos pescadores, na atualidade, não transmitem a prática aos filhos, preferindo que esses estudem e tenham outros trabalhos “fora”, devido à atividade não ser valorizada. As marisqueiras têm o costume de levar os filhos (as) e netos (as) para ajudar na atividade da mariscagem. Mas, quando chega à adolescência eles (as) se desinteressam pela atividade, por sentirem vergonha ou por outros interesses, como o estudo e o namoro, interrompendo com isso a tradição da pesca na família. Procurou-se saber através das entrevistas a respeito da influência da lua, da maré e dos ventos, no sucesso ou fracasso das pescarias. Foi confirmado então que esses fatores influenciam no desempenho da pescaria, como já tinha sido observado por Souza (2004), em trabalho desenvolvido com caiçaras no Vale da Ribeira, São Paulo. Na opinião dos pescadores que atuam no litoral da cidade de Salvador, a respeito destas variáveis, difere entre as comunidades nas diferentes áreas estudadas, apresentando diferenças, também, dentro das comunidades. Alguns admitem que os ventos e fases da lua, não interferem na produção de pescados. Outros, sim. Por outro lado, não é bem clara a opinião com referência a que fase de lua, ou posição do vento, interfere, diretamente, nas capturas. Na realidade o que parece ter maior influência é o tipo de embarcação, porte e propulsão, que estão diretamente associados à mobilidade do pescador no ambiente costeiro. COSTA NETO & MARQUES (2001) afirmaram que os ciclos lunares e as marés exercem uma influência tanto no comportamento dos peixes quanto no de seus pescadores humanos. Na percepção dos pescadores de Siribinha(BA), assim como nos pescadores da cidade de Salvador, um conjunto de termos refere-se as mudanças das correntes, nomeadas de “maré de lançamento”, “maré de quebra” e “maré morta”. Outra forma de classificação das marés observada em ambos os trabalho foi de acordo com a duração e intensidade da luz da lua, disponível às pescarias noturnas, podendo então ser classificada como “maré de escuro” e “maré de lua”. Ainda foi citada pelos pescadores uma terceira forma de classificação. Em relação ao “tanto” que a maré “corre”, podendo ser denominada de “maré fria” ou “maré bêba”. A primeira, segundo descrição de Sr. Orlando, pescador de Itapuã, é uma maré que: “Não tem lua exclusiva para ela, é o tempo que ela deixa de correr. A linha fica bem embaixo do barco (...) tem maré bêba! Nós coloca a chumbada aqui e ela vai até um quilômetro. A linha não sabe pra onde vai! Fica parada, , anda um pouquinho, depois pára novamente...” Outro aspecto observado foi com relação ao conhecimento dos pescadores a respeito do defeso (Figura 43A), no qual uma maioria de 62% tinha conhecimento da lei proposta pelo IBAMA, e 38% dos entrevistados não conheciam a lei pelo nome, mas, uma vez sabendo do Conhecimento sobre o defeso Sim (A) Opinião sobre o defeso (B) Concorda Discorda Não 38% 35% 62% 65% Fig. 43. Conhecimentos e opinião dos pescadores em relação do defeso. que se tratava, afirmava sobre o conhecimento. Durante as entrevistas, o ponto mais marcante relacionado com o defeso foi o benefício no caso da proibição de explotação dos recursos. Como observado pela figura 43B, 65% dos pescadores entrevistados concordam com o período de defeso estipulado pelo IBAMA, reconhecendo sua importância para a recuperação dos recursos que correm o risco de desaparecer, mas também existem críticas com o fato de que existe fiscalização para os pequenos pescadores artesanais, enquanto que os grandes barcos de pesca ficam descobertos, como se pode observar no discurso de Sr. Orlando Xavier, pescador do comercio: “Exclusivamente o da pesca da lagosta eu acho muito bom! Porque ele (IBAMA) ta defendendo hoje pra que amanhã nós temos condições. Mas eles têm que defendê aquelas pessoas que explora muito mais do que a gente, esses mergulhado, os arrastão esses saveiros que pesca pra Fortaleza, Recife, Ceará ou Gamboa do Morro. Antes deles protegê tem que dá condições ao pescador! Principalmente ao pescador artesanal! Que é o pescador mais sofrido que tem...” Os pescadores sentem necessidade de uma política educacional direcionada ao período de defeso e fazem críticas também ao beneficio entregue para alguns pescadores e não para outros, a esse respeito foi destacado o seguinte comentário feito pelo pescador Getúlio de Jesus, presidente da associação da Pedra Furada: “A gente vê o defeso como uma farsa, porque ele suga a eletricidade de poucos, mas no geral muitos que precisam do defeso não tem! A gente mesmo tem uma gravidade muito grande que eu tenho vergonha de dizer, mas é verdade, eu já disse até na frente de algumas autoridades... CRA, IBAMA... O siri (se referindo ao siri bóia)! Desova o ano todo, na parte do inverno então é a época que ele mais desova. Eles dizem que é proibido pegar o ovado. Realmente é! Mas desde quando se faça uma campanha com antecedência através da televisão, rádio, do jornal... Aí você venha analisá pra comunidade o porquê dele ser proibido, e pra ser proibido ele tem que ter um defeso... e pra siri bóia não tem um defeso. Nós colocamos até em Brasília pra ser votado, porque aqui nós não sabemos quando pegar e quando não pegar, e nós pegamos mesmo! A idéia do defeso é muito boa, mas pra dá certo tem que haver uma política educacional, não adianta o povo receber aquilo como uma obra assistencialista!” Diante dessas informações fica demonstrada a importância de ações de Educação Ambiental relacionadas ao tema. 5.3 A pesca A pesca no litoral da cidade de Salvador é artesanal, nos moldes de pequena produção mercantil, segundo DIEGUES (1983), praticada por pescadores tradicionais. Mesmo ocorrendo em meio à área urbanizada, onde existe influência de tensores ecológicos e ambientais ainda mantém traços de tradicionalidade, mesmo que estes muitas vezes entrem em conflitos com os traços modernos, que vêm cada vez mais ganhando espaço. 5.3.1 As Embarcações Os pescadores artesanais do litoral de Salvador utilizam cerca de oito tipos de embarcações. A classificação das embarcações foi baseada de acordo com CEPENE (2005) e com o Programa ESTATPESCA para estratificação da frota (IBAMA 1999 cit. OLAVO et al., 2005): jangada, canoa, bote a remo (catraia), bote a vela (saveiro boca aberta), bote a motor (saveiro boca aberta), lancha (saveiro boca fechada), bote de alumínio e barco de fibra de vidro a motor, identificados como modelos básicos. Cabendo, entretanto, uma revisão nessa descrição, tendo em vista a multiplicidade de modelos observados o que, também, pode interferir no esforço de captura dos estoques explotados. 1. Jangada (JAN) - Embarcação movida a remo ou vara, confeccionada a partir de cinco ou seis toras de madeiras presas umas as outras por pregos (Fig.44). Normalmente apresentam um ou dois Fig. 44. Jangada com vegetação de restinga ao fundo, praia de Piatã. Foto: E.L.Q. bancos. Hoje já podem ser observadas jangadas confeccionadas com material plástico tipo PVC (Fig. 45), obturados nos extremos, como pôde ser observado em Itapuã. Esta modalidade de jangada foi observada em Recife na década de 50 (AGOSTINHO, 1981). As jangadas de pau, uma das formas mais primitivas de navegação e segundo SELLING – JR (1976) “O primeiro estágio na arte da construção naval”, foram encontradas, ainda, na Boca do Rio, Amaralina, Piatã e Itapuã. Vale lembrar que as jangadas já existiam Fig. 45. Jangada feita de PVC, praia de Itapuã. Foto: V.L.Q na Bahia, desde os povos préCabralinos. Pero Vaz de Caminha fez a citação de uma pescaria, na região de Porto Seguro, à época do descobrimento do Brasil “(...) e esses homens têm redes e são grandes pescadores e pescam peixes de muitas espécies(...)”(PEREIRA, 1999). 2. Canoa (CAN) - Embarcação movida a remo ou vela, sem convés, confeccionada em madeira (jaqueira ou marmeleiro) de fundo chato ou não, com comprimento variando entre três e nove metros (Fig. 46). Fig. 46. Canoas na praia de Piatã. Foto: V.L.Q Outra embarcação tradicional freqüente no sistema de pesca no litoral de Salvador é a canoa. Embarcação classificada por AGOSTINHO (Op cit.) no tipo monóxilos simples, considerada por SELLING – JR (Op cit.) “O segundo estágio da construção naval”. São empregadas, principalmente, para redes de cerco e redes de arrasto de praia, do tipo calão. Em Itapuã, próximo a Colônia Z-6, ilustrado na figura 47, há um ponto onde um proprietário “aluga” suas pescadores, canoas assim para como os seus petrechos, que como pagamento dãolhe o próprio pescado conseguido durante a saída. O mesmo acontece em Piatã e na Boca do Rio. No Costa Fig. 47. Canoas de Itapuã com a sede da colônia Z6 ao fundo. Foto: V.L.Q Azul encontra-se uma canoa, única embarcação presente no núcleo de pescadores. Este tipo de embarcação também está presente na Pituba, Amaralina, Comércio, Pedra da Sereia e Ribeira. 3. Bote a remo (BRE) - Mais conhecido como catraia (Fig. 48), é uma embarcação de pequeno porte, movida a remo, confeccionada em madeira e com casco chato. Normalmente, os pescadores saem sozinhos ou com um acompanhante, Fig. 48. Bote a remo, conhecido como catraia, Comércio. Foto: V.L.Q para realizar a atividade próximo à praia. Muito comum na região da Gamboa até a Ribeira, localidades que se encontram no interior da baía de Todos os Santos, onde suas águas são bastante tranqüilas. Embarcação característica da pesca do siri-bóia, na Pedra Furada. Comumente presente também em Itapuã e no Rio Vermelho. 4. Bote a vela (BOC) Embarcação movida à vela, com casco de madeira e quilha, convés fechado, sem cabine (boca aberta), com comprimento geralmente inferior a onze metros (Fig. 49).Inclui os saveiros “boca- aberta (sem convés) movidos a vela. Alguns barcos a vela já fazem Fig. 49. Barcos a vela voltando da pescaria no final da tarde, Porto da Barra. Foto: V.L.Q jornadas de mais de um dia no mar. Este tipo de embarcação dependendo da região onde seja encontrado apresenta características próprias. Temos, por exemplo, os barcos do Rio Vermelho, que são mais robustos do que os encontrados na Ribeira, Itapuã e no Porto da Barra. 5. Bote motorizado (BOM) - Embarcação movida a motor, com casco de madeira ou fibra, com quilha, sem cabine (boca aberta) e geralmente menor que dez metros (Fig.50) Muitas vezes além do motor Fig. 50. Barco com motor de centro, Ribeira Foto: V.L.Q também se aproveitando-se utiliza do a vento vela, para propulsão e economizando combustível durante as saídas. Os pescadores que saem nessas embarcações cumprem jornadas de mais de um dia no mar, pois estes já proporcionam maior estabilidade. Assim como o barco a vela, tem suas especificações a depender da região onde é encontrado, sendo os do Rio Vermelho mais robustos. 6. Lancha (LAN/BMO)- Conhecida no litoral da cidade de Salvador como saveiro “boca fechada”. Embarcação motorizada, podendo ser de madeira ou de fibra, comprimento abaixo de quinze metros, com cabine Fig. 51. Saveiro “boca fechada” da Ribeira pode-se observar a presença de currupichel para captura de isca viva. no convés (boca fechada), podendo ser na popa ou na proa (Fig. 51). Pode ser classificada como pequena média ou grande. Geralmente faz jornadas durante dias, podendo chegar até a uma semana, devido a sua estabilidade e melhores condições de armazenamento do pescado. Encontrada na praia de Itapuã, Rio Vermelho, Porto da Barra, Comércio, Ribeira e Tainheiros. Além do tipo da embarcação interferir no estoque explotado, um mesmo tipo de embarcação, a depender a área de estudo, pode da mesma forma, explotar recursos diferentes. Isso pode ser explicado pela própria expansão urbana que contribui para fragmentação dos territórios dos pescadores, mas não impede a continuidade da sua tradição. No entanto, essa tradição no uso das embarcações continua ameaçada se não houver interesse daqueles engajados no sistema de pesca, bem como a chegada de novos pescadores, nem sempre oriundos do sistema social local. É o caso típico da intrusão dos aposentados nas pescarias locais, que trazem consigo, por exemplo, os barcos de alumínio (Fig.52). 7. Bote de alumínio (BAL): Embarcação de pequeno porte, com casco de alumínio e de motor de popa, conhecida regionalmente por lambari ou barco de alumínio (Fig: 52). Na praia da Pituba existe uma predominância de barcos de alumínio, mas sobrevivem algumas Fig. 52. Tradição da jangada X barco de alumínio que foram trazido pelos aposentados na praia da Pituba. Foto: E.L.Q. jangadas feitas com Apeiba tibourbou. (AGOSTINHO, 1981 ;QUEIROZ, 1997). Alguns pescadores, influenciados pelos novos “companheiros”, deixam a tradição das jangadas e adquirem barcos de alumínio motorizados. A extinção de alguns tipos de embarcação está associada, igualmente, ao desaparecimento da própria matéria prima, oriunda da mata Atlântica e vegetação de restinga, empregada na construção das jangadas. 8. Barco de fibra de vidro a motor (BFM) - Existe uma tendência para expansão no uso de embarcações construídas com a fibra de vidro (Fig. 53). Este tipo de embarcação pode ser considerado como uma variação do barco a motor, no entanto, para preservar a tradição Fig. 53. Barco de fibra de vidro da Cooperativa de pescadores de Itapuã. Foto: V.L.Q. do saveiro construído com madeira, propomos uma nova classificação para este tipo de embarcação. Outra tendência é o revestimento de cascos de embarcações construídas com madeiras, com mantas e resinas, de fibra de vidro. Técnica praticada pelos próprios pescadores (Fig 54), com o propósito de durabilidade protegendo- as nas dá maior embarcações, dos desgastes provocados pela própria água do mar e também pela fauna marinha. AGOSTINHO (1981) referiuse a um processo de mudança cultural Fig. 54: Pescador da Ribeira “fibrando” seu barco com ajuda de companheiro. Foto VLQ. e tecnológico, que se desenrolava em ritmo crescente, e que os meios tradicionais estavam fadados a perder a importância e a sumir do Nordeste, ou a passar por modificações que os tornem reconhecíveis. Hoje podemos observar que de fato esse processo de mudança cultural e tecnológico fica cada vez mais forte. 5.3.1.1 Nomes de embarcações Durante as visitas as áreas de estudo, um ponto observado interessante foi os nomes que os pescadores “batizavam” seus barcos, costume inclusive que vai se perdendo com a chegada dos barcos de alumínio, dupla perda de tradição, os quais muitos não têm denominações próprias. Nomes curiosos puderam ser encontrados por esses mares e areias sendo agrupados nos seguintes temas: natureza, comportamento, embarcação, estrangeirismo, fauna, localidade, lúdico, nome próprio, religião, sentimentos, e com alguns foi difícil estabelecer uma relação, sendo então classificado como diversos. Estas classificações não necessariamente representam o que o dono da embarcação quis expressar, pois conseguimos esta informação de apenas alguns dos proprietários dos barcos. Mas, fica aqui uma tentativa (anexo G). SELLING JR. (1976) observou que os saveiristas baianos, como todos os marinheiros por este mundo afora, tem os mesmos gostos, sentimentos e inclinações, e que pelos nomes dados as embarcações podemos entrar no seu estado d`alma, conhecendo seus amores ou suas tendências. Os nomes classificados como sentimento, exprimem sentimentos que eles próprios desejam ou pensam possuir, e que nem sempre representam as qualidades dos seus barcos, exprimem também sentimentos que o mar e o trabalho lhes traz, como Esperança (Fig. 55), Batalha, Paz; além de sentimentos Fig.55: Pescadores da capazana dos lambaris trabalhando em grupo, levando “Esperança” para fora d`água. Foto: V.L.Q. que representam o esforço para a aquisição da embarcação, como Batalha, Meu sonho e Sacrifício. A relação com a natureza é expressa através das suas forças, como Alísio do Mar e Viração; de sua beleza, com Pôr do Sol (Fig. 56), Luar do Porto, de suas estações do ano, como Primavera I; além da “Cor do Mar” ser representada pelo “Mar Fig. 56: Barcos após uma época de ressaca, fora da maré - “Pôr do sol” e “Piracicaba”. Foto: V.L.Q. Azul”. No caso da classificação “nomes”, pode-se observar nomes de pessoas queridas que merecem ser homenageadas, apelidos de infância, ou seus próprios nomes. O lúdico vem da palavra grega “ludus” que quer dizer jogo, aqui representada pela diversão, trazendo consigo o interesse por times de futebol, Vascaíno, Timão; pela música, Axé Bahia, Regmar, Xaxado; pelo esporte, Maratona ou pela televisão: Faz Celebridade (Fig. 57). Parte e Fig. 57. Momento de registro do lúdico nos nomes dados as embarcações. “Celebridade”, barco da colônia Z1, núcleo da Mariquita, Rio Vermelho. Foto: E.L.Q. Pode-se observar a valorização de relacionamentos, como família e amizade, Amor de Mãe, Vô Durval, Dois Irmãos, Meu Velho Amigo e Bonamigo Como também a devoção pela religião, estando presente Deus, Jesus, Santos e a Mãe das Águas (Yemanjá), com suas diversas denominação, como Rainha e Janaína, invocando de alguma forma sua proteção; como também Fig. 58. Religiosidade demonstrada através dos nomes dados às embarcações: “Quem tem fé em Deus não cai”. Foto: V.L.Q. nomes significativos nas histórias das Religiões, como Monte de Sião, Rosa de Saron e Gênesis. Um nome interessante encontrado na sede da colônia Z6, núcleo da Mariquita, é: “Quem tem fé em Deus não cai” (Fig. 58). A fauna marinha é muito representada nos registros das embarcações, temos o Coral do Mar, Estrela do Mar, Agulhinha, Peixe Prata, Dourado, Uirapuru, Biguá, entre outros; além de outros representantes da fauna, Vagalume, Pica-pau, Zangão. Podemos ver também que o estrangeirismo se encontra presente, como no caso dos nomes Stok, Dragon, Diamont e Vereuhel. Alguns nomes são de difícil classificação, sendo então tidos como indefinidos, Turututu, Cavok, Cobila, Gabléia. As localidades representadas por seus bairros, ou locais de onde vieram, ou os quais admiram, como Barra do Pote, Porto Vera Cruz, Piracicaba, Villas. Com relação à classificação “comportamento” encontramos os mais diversos comportamentos sendo invocados pelas embarcações: nomes valentes, Asas Indomáveis, Galo brigão, Pinote; nomes que nos traz a beleza, como Beldade, Flor do mar, Flor do São Francisco; nomes de Fig. 59. Barco “Astral 10”, nome dado com a intenção de trazer bom humor nas saídas, segundo o dono . Foto: esperteza, como Malandro, Lascador; V.L.Q. entre outros comportamentos, e nomes de bom humor, como Astral 10 (Fig. 59). Uma coisa interessante observada durante as saídas de campo foi que muitas vezes os nomes dos barcos transformam-se nos apelidos dos próprios donos, o que demonstra mais uma vez que existe uma forte relação entre ambos. Durante as entrevistas foi observado que 57% dos entrevistados são os proprietários das embarcações (Figura 60B), e que 87% das embarcações são registradas pelo órgão responsável (Figura 60C). Pescadores proprietários do barco (B) Tipo da Embarcação (A) sim não sav. c/ convés sav. s/ convés barco 17% canoa jangada 27% 7% 39% 43% 57% 10% Embarcações Registradas (C) 13% sim não 87% Fig. 60 – Situação das embarcações utilizadas pelos pescadores artesanais. Os pescadores que não possuem embarcação própria normalmente atuam como parceiros dos proprietários, que podem ou não participar da atividade pesqueira. Sendo destinada ao barco 30% da pescaria para ajudar na manutenção do barco, ou, algumas vezes, essa parceria é por camaradagem, sendo o montante pescado dividido por todos igualmente. Ainda tem o caso das canoas da Boca do Rio, as quais o proprietário aluga a canoa e a rede, entenda-se, o dono da embarcação, fica com 40% da pescaria. As embarcações que utilizam equipamentos de comunicação a bordo representam 48% do total, uma grande parte dos entrevistados justificou essa ausência (cerca de 50%) pelo alto valor pelos quais tais equipamentos são vendidos. O equipamento mais utilizado para se comunicar com a terra foi o celular, que apesar de não ser aceito pela capitania dos portos é uma forma de comunicação eficiente segundo os pescadores que a utilizam, representando 19% do total (Figura 61A). Com relação ao número de tripulantes, pode-se observar uma variação de apenas um a até sete tripulantes por embarcação, sendo que a tripulação composta por três pescadores é a prevalecente entre os entrevistados, representando 40% do total (Fig.61B). Número de tripulantes (B) Utilização de Equipamentos de Comunicação (A) 4% 4% Nenhum 10% 5% Celular 14% 12% 16% Rádio 52% 24% Sonda 40% Sonar 19% 1 2 3 4 6 7 Tempo embarcado (C) 2 - 6 hs 15% 31% 7 - 12 hs 1 - 3 dias 27% 27% 4 - 6 dias Fig. 61 . Situação a bordo das embarcações. O tempo de pesca que cada entrevistado passa no mar foi avaliado observando-se que os pescadores passam, desde duas horas, até seis dias. Esses períodos variam de acordo com as condições da embarcação, da conservação do pescado e das condições da natureza, incluindo aqui o tempo e o sucesso da pescaria (“vontade do peixe comer”). Como podem ser observadas na figura 61C, sendo mais comuns as jornadas diárias de trabalho são, representado por 58% dos entrevistados. 5.3.2 As artes e os petrechos de pesca A descrição das artes e petrechos utilizados em pescarias no litoral de Salvador resulta de observações diretas no campo, descrições feitas pelos próprios pescadores e consultas a bibliografia especializada. Pôde-se perceber uma grande variedade dos petrechos de pesca, podendo estar ser atribuída a uma grande diversidade de espécies-alvo encontradas na região, assim como a instabilidade da atividade, que leva o pescador a uma alternância das modalidades da pesca. Os nomes vulgares podem diferir entre regiões de estudo, porém a nossa preocupação foi identificar que tipo de pescado é vulnerável aos tipos descritos. De maneira genérica, o pescador é um predador em potencial que explota os recursos de uma determinada área com estratégias e aparatos de capturas distintos. Algo similar a um ecossistema, onde os consumidores estão classificados de acordo com o nível trófico que ele ocupa. São predadores de primeira, segunda ou de terceira ordem. O pescador que explota cardumes de pititingas, peixes herbívoros, seriam então considerados consumidores de primeira ordem. Outros que explotam guaricemas, predadoras de pititingas, podem ser considerados consumidores de segunda ordem. E, ainda, existem aqueles que capturam espécies predadoras de outras espécies carnívoras, a exemplo dos peixes classificados vermelhos. Estes estariam, então, no topo da cadeia alimentar, consumidores de terceira ordem. A classificação das artes e petrechos de pesca segue o modelo existente na FAO (1990). 5.3.2.1 – As Armadilhas 1. Munzuá (8.2.0)– Armadilha de fundo fixa, de formato poligonal, com um dos lados em formato de um hexágono, confeccionada com a casca de uma gramínea - cana brava (Fig. 62). Hoje as armadilhas são confeccionadas com tela de arame Fig. 62. Munzuá em embarcação no Comercio. Foto: V.L.Q. (Fig. 63) ou nylon, com formato em paralelepípedo, para captura de lagostas e siris, estas também, são denominadas munzuás. Essa é uma arte que pode ser utilizada, tanto embarcado, quanto desembarcado, não sendo necessária a permanência do Fig. 63. Armadilha em forma de paralelepípedo, confeccionada com tela de arame, Ribeira. Foto: V.L.Q. pescador no local onde a armadilha é lançada. As iscas são colocadas no interior, para atrair os animais que serão capturados. Utilizado na captura de siri, lagosta ou de peixes. Identificado para as áreas do Rio Vermelho, Ondina, Comércio, Pedra Furada e Ribeira. 5.3.2.2 – As Linhas 2. Linha de mão com arremesso de cima das pedras (9.1.0) – Tipo de pesca de linha de mão característico de onde se tem afloramentos rochosos. Os pescadores ficam em pé em cima das pedras de onde fazem os arremessos das linhas com as iscas presas no anzol (Fig. 64). Para atrair os peixes, normalmente, lançam Fig. 64. Pesca característica da Pedra da Sereia, linha de mão com arremesso de cima das pedras. Foto: V.L.Q. engodo de pão ou mesmo porções de pititinga (PISCES: ENGRAULIDIDAE) na água. Esta arte de pesca, aparentemente simples, tem suas peculiaridades dependendo da área onde é observada. Na Pedra da Sereia, por exemplo, Ondina, a linha é boiada, sendo utilizados pequenos potes plásticos, como os de colírio, ou de filme fotográfico, para deixar o anzol próximo da superfície, os peixes são conservados nas poças que se formam em cima das pedras com as ondas quebrando. O peixe mais desejado na pescaria é o bonito (PISCES: SCOMBRIDAE). Identificado também para as áreas de Itapuã, Boca do Rio, Amaralina, Rio Vermelho e Barra. Utiliza-se, também, o molinete e “molilata” nesse tipo de pescaria. 3. Linha de mão com arremesso de cima do cais (9.1.0) – Mais uma variação da linha de mão, praticada em áreas onde são encontrados cais, local de onde os pescadores fazem os arremessos (Fig. 65). Este pode também ser através de molinete. Fig. 65 Pesca com linha de mão de cima do cais na Ribeira. Foto: V.L.Q. Identificada para as áreas de Ondina, Gamboa, Pedra Furada e Ribeira. Capturam-se peixes de menor porte, a exemplo de carapicus e carapebas (PISCES : GERREIDAE). 4. Linha de mão com arremesso da praia (9.1.0) – Tipo de pesca praticado a partir da areia da praia, na qual pode ser por meio de linha de mão, com uso de molinete, mulilata ou vara de pescar. Na extremidade da linha utiliza-se uma chumbada. Tipo de pescaria bem típica na região compreendida entre Itapuã e Ondina, sendo vista também na Ribeira (Fig.66). Fig. 66. Linha de mão com arremesso da praia na Ribeira. Foto: V.L.Q. 5. Grozeira (9.3.0) – também é conhecida pelo nome de espinhel (Fig. 67), consiste na utilização de várias linhas com anzol, amarradas espaçadamente por distorcedores presos em uma linha mestra, na qual horizontalmente esticada, onde se fixam duas bóias nas extremidades, ou verticalmente com uma bóia e uma chumbada, uma em cada extremidade. É colocada e no dia seguinte é recolhida. Identificada para as áreas de Itapuã, Rio Vermelho e Ondina. Fig. 67. Esquema de grozeira retirado do manual da FAO(1999). Segundo descrição feita por Sr.Orlando Xavier dos Santo, pescador do comercio que não pratica mais esse tipo de pesca. A grosseira, “É um cordão que em uma braça e meia vai botando anzol, botando anzol, botando anzol, aí vai estendendo 200, 300, 400 anzol dependendo do seu conhecimento. Agora, é uma pescaria arriscada, porque no momento que vem um peixe grande, se você não souber trabalhá ele rebate a grosseira da sua mão e um daqueles anzol, se pegar em você, pode te aleijá, pode até matá! É tanto que você tem que trabalhar com uma faca ali na frente e uma faca no seu lado.” 6. Linha de mão boiada (9.1.0) – Uma variante da linha de mão, é usada com a embarcação parada sobre o pesqueiro. Recebe esse nome, justamente, por operar boiando na superfície ou próximo a ela, utilizada Fig. 68. Petrechos utilizados na pesca de linha boiada, observe que não há chumbada.. Foto: Arquivo do Lab. de Nectologia. APA Recife de Pinaúnas. de preferência isca viva, como sardinha por exemplo. Não usa chumbada (Fig.68). Algumas vezes são utilizadas também iscas artificiais, com destaque para a vassourinha (pedaço de ráfia – fibra sintética, desfiada e presa ao anzol, que em movimento atrai os peixes por parecer viva). Identificada para a área do Rio Vermelho e Ondina. Empregada para captura de guaricemas (PISCES : CARANGIDAE). 7. Linha de fundo (9.1.0) – Um tipo de linha de mão com chumbada. No nylon se prende um único anzol ou dois anzóis, por meio de estropo, por vezes de fio de aço. A chumbada neste tipo de linha é presa na extremidade da linha principal e pode pesar de 200g a 1 kg, podendo ser encontradas linhas sem estropo. Como as demais pescarias de fundo, as iscas vivas são as preferidas, mas usa-se: sardinhas congeladas, lulas e camarões. Dependendo do “pesqueiro” e da espécie que esteja ”comendo”, pode-se utilizar-se pedaços de outros peixes como isca. Identificada para toda a área de estudo, de Itapuã a enseada dos Tainheiros. Captura diversos tipos de peixes, em especial os vermelhos (PISCES : LUTJANIDAE) 8. Molinete (9.1.0/ 25.0.0) – Arte de pesca com uso de vara e um instrumento – o molinete (Fig.69) utilizado para recolher a linha com facilidade e facilitar o lançamento dos anzóis com isca e chumbada. usada na Modalidade mais pesca esportiva. algumas variações Fig. 69. Arte de pesca molinete. Foto: Moisés Mafra. Apresenta como os locais de onde são arremessadas, podendo ser da praia, ou de cima das pedras, sendo a primeira modalidade a mais comum. Identificada para a maioria das áreas como Itapuã, Pituaçu, Boca do Rio, Ondina e Gamboa. Molilata (9.1.0/ 99.0.0) – Uma 9. variação da pescaria com vara e molinete, utilizada na pesca recreativa. É uma forma criativa dos pescadores Fig. 70. “Molilatas” improvisados com tubo de PVC e com garrafa pet, praia de Ondina, Piatã e Amaralina. manipulando rapidamente o Fotos V.L.Q. e E.L.Q. comprimento da linha de pesca. A linha encontra-se enrolada em latas de alumínio, garrafas PET, tubos PVC, ou pedaço madeira ou papelão (Fig. 70), servindo de apoio no momento do lançamento, além disso são utilizadas como carretel, aonde libera-se ou enrola-se a linha de acordo com a necessidade de cumprimento maior ou menor. Este tipo de petrecho é utilizado para lançamentos a partir da areia da praia, de cima das pedras, ou de cima do cais. Identificado para as áreas de Itapuã, Piatã, Boca do Rio, Costa Azul, Rio Vermelho e Ondina. Este nome foi dado pelos pescadores. 9. Pesca com vara (9.1.0) – Utiliza-se uma vara de bambu (Fig. 71). Podem-se encontrar pescadores com varas confeccionadas em fibra de vidro ou em liga de carbono. Nessa prática o pescador fica em pé na praia, nas pedras ou de cima do Fig.71. Pescador voltando da pescaria com vara , praia de Piatã. Foto: E.L.Q. cais, de onde arremessa a linha com anzol, chumbada e isca. Algumas vezes, estando em águas rasas podem permanecer em cima de pequenas embarcações. Um local típico é a região do Rio Vermelho. É um tipo de pesca esportiva, não sendo o seu produto, na maioria das vezes, comercializado. Identificado para as áreas localizadas dede Itapuã até a Ribeira. 10. Pesca de guaricema com linha de fundo (9.1.0) – Tipo de pescaria bem específico da praia de Ondina, no qual, a partir da observação das manchas dos cardumes de pititinga, os pescadores que estão na praia, correm com as suas molilatas improvisadas com tubos de PVC ou pedaços de papelão e fazem Fig 72. Pesca de Guaricema realizada na Praia de Ondina. Momento no qual os pescadores avistam a mancha de pititinga e vão lançar suas linhas. Foto: V.l.Q. arremessos na direção das manchas para pescar as guaricemas que vem em busca de alimentos na beira do mar, quando a maré “limpa”, no depoimento dos pescadores (Fig. 72). Essas linhas utilizadas podem possuir de um a cinco anzóis, presos em linhas secundárias, cada um destes com uma isca artificial presa. Podem possuir, ou não, chumbada. Ao serem pescados, os peixes são então enterrados na areia da praia, e o local é marcado com um objeto pessoal do pescador para que esse possa encontrar o seu pescado. A pesca da guaricema, na área de Ondina, especificamente na região da Pedra da Sereia, pode ser capturada por pescadores em embarcações de pequeno porte de alumínio, fibra ou de compensado naval que podem ser observadas enfileiradas da areia da praia. 11. Pesca de xixarro (9.1.0) - Um tipo de pesca de linha de mão, específico para xixarros (PISCES: CARANGIDAE). São utilizadas iscas artificiais ou mesmo anzóis sem isca,. Normalmente seis anzóis, podendo chegar a até vinte anzóis numa mesma linha. Alguns pescadores fazem este tipo de pescaria, utilizando a vara de pescar. Nesse caso utilizam anzóis com isca, até dois anzóis. Pode ser caracterizada como uma pescaria estacional, ocorrendo sempre nos meses de verão. Os xixarros são consumidos ou utilizados como isca, inclusive para captura de ouros xixarros. Identificada para as áreas de Itapuã, Piatã, Rio Vermelho, Ondina e Barra. 5.3.2.3 - As artes não especificadas 12. Mariscagem (99.0.0) – É a arte de pescar e catar mariscos. É uma atividade desempenhada principalmente por mulheres, acompanhadas por filhos (as) e netos (as), mas os homens, também, são encontrados na função da captura do marisco. Para capturar os mariscos que ficam enterrados no banco de areia utilizam-se petrechos dos mais diversos e mais improvisados: colher de pedreiro, colher, estacas de madeira, conchas grandes encontradas no próprio local, tampa de lata de tinta, dentre outros (Fig 73). Existem marisqueiras que apenas desenterram os mariscos. Outras ainda peneiram uma porção de Fig. 73. A arte de mariscar com seus diferentes petrechos utilizados pelos trabalhadores(as) do mar (conchas, colher de pedreiro e tampa de tinta). Foto: V.l.Q. areia através de tampas de ventilador ou jererés, afirmando que dessa forma facilita o trabalho. Atividade praticada principalmente durante os dias de lua cheia e na lua nova, na maré baixa, quando as marés deixam os bancos de areia mais tempo descoberto. Identificada principalmente na Ribeira, as espécies explotadas são chumbinho, rala coco, maria preta, concha, papa fumo, canivete e ostra. Sendo identificada também em Tainheiros e na Pedra Furada, local onde os pescadores afirmaram não haver mais mariscos: “O sururu tem tentado resistir, mas em termos de marisco aqui é uma área morta! Tem umas famílias que ainda insistem em ir, mas pega uma ostra aqui, uma ostra ali, mas pra sustentar mais não.” (Getúlio de Jesus). Em Itapuã, localidade onde, ainda, existem marisqueiras, mas não mais a atividade de mariscagem. Antigamente, as marisqueiras mariscavam no rio Passa Vaca e hoje em dia deslocam-se para Buraquinho ou Jauá, localidades mais distantes, em busca de mariscos. 5.3.2.4 – As artes de ferrar 13. Mariscagem pinaúna (10.0.0/ 99.0.0) (fig. 74) – Tipo específico de mariscagem, realizado por mulheres e homens, normalmente praticada nos dias de lua cheia e lua nova, em maré baixa. O petrecho utilizado é a fisga, devido Fig. 74 – Espécies de pinaúnas, capturadas com fisga para consumo, na praia de Piatã. Foto E.L.Q. ao (Echinometra fato das pinaúnas lucunter) se “agarrarem” nos recifes. Os animais são assados inteiros, em carvão ou fogo de lenha e somente as gônadas das fêmeas são consumidas. Identificada para a área de Itapuã, Piatã e Rio Vermelho. 14. Fisga (10.0.0) – Petrecho semelhante a um bicheiro, com uma das extremidades curvadas em formato de anzol, normalmente utilizado para captura de organismos que se encontram em tocas, lagosta e polvo. Para a prática desta pescaria é necessário a percepção visual do organismo, para que então se faça um lançamento direto da fisga, perfurando presa. Identificado para as áreas Fig.75: Pescador de Itapuã segurando uma fisga. Foto V.L.Q. de Itapuã, Costa Azul, Amaralina, Pedra Furada e Ribeira. A fisga pode também ser utilizada para ajudar aos pescadores a levar peixes mais pesados para cima da embarcação. Uma prática especial realizada com fisga é a pescaria de pinaúnas (Echinometra lucunter) observada em Itapuã(Fig. 75). 15. Mergulho apnéia- fisga, espingarda, arpão (10.1.0) – Pescadores equipados com pés Fig.76. Mergulhadores e seus petrechos, espingarda, arpão, vara de bambu, roupa de neoprene, além dos petrechos básicos como óculos, snorkel e nadadeira. Mergulhadores da área entre a Pituba e Amaralina. Foto: V.LQ. de pato, máscara e “snokell” descem a uma profundidade por volta de 5 m. Esse tipo de pescaria apresenta uma variação na área de estudo, dependendo do ambiente no qual o mergulhador está inserido. De Itapuã até o Farol da Barra os pescadores utilizam roupas de neoprene, os petrechos usados na caça são espingarda e um pedaço de vara de pescar de bambu com um polvo amarrado para capturar lagosta, enquanto que do Farol da Barra até a Ribeira, este tipo de mergulho caracteriza-se pela utilização de arpão com borracha de pneu e fisga (pedaço de ferro com a ponta curvada em forma de anzol) (Fig. 76) Identificada em praticamente todas as áreas, com exceção de Tainheiros, provavelmente, em função da baixa qualidade das águas na região. As espécies visadas dependem da área de mergulho. 16. Mergulho de compressor (10.1.0/ 6.9.0) – Tipo de mergulho autônomo realizado com o auxilio de um compressor adaptado ao motor da embarcação, ligado a este por uma mangueira e 100 a 150 metros de comprimento, na qual dois pescadores descem ao fundo do mar para localização de lagosta, polvo ou de peixes utilizando-se nas capturas fisga, espingarda de pressão e arpão. Em casos de pesca de peixes ornamentais utiliza-se redes como currupichel, por exemplo. Tipo de pesca muito perigoso, recentemente, desestimulada pela SEAP - PR. Identificado para as áreas de Itapuã, na pesca de polvo e Costa Azul. No Porto da Barra e em alguns pontos da baía de Todos os Santos é comum o uso dessa técnica para captura de peixes ornamentais. 5.3.2.5. As redes 17. Mergulho para captura de peixes ornamentais (6.9.0) - Tipo de pesca que pode ser realizado com os pescadores embarcados, com uso de equipamento autônomo (Narguilé ou pesca com compressor) em naufrágios ou recifes submersos mais afastados da costa e profundidades acima de 10 metros. Tudo indica que em regiões menos profundas o estoque de espécies com valor para aquariofilia esteja esgotado. Este tipo de pesca é realizado, Fig. 77. Pescador da Pedra Furada consertando seu currupichel em Pedra Furada. Foto V.L.Q. em mergulhadores média, que por promovem três o revezamento entre eles. Pode ser também praticada em poças de maré, onde geralmente é feita em apnéia, com puçás (espécie de currupichel ou jereré) (Fig.77) de diferentes tamanhos, geralmente, um de tamanho pequeno e um de tamanho médio (15 a 25 cm de largura de boca, respectivamente). Para armazenar os peixes capturados, são utilizados sacos plásticos que tem sua água trocada constantemente. Este tipo de pesca foi identificada para as áreas de Patamares, Ondina, Barra, Pedra Furada, Ribeira e Tainheiros. 18. Currupichel - isca viva (6.9.0) – Arte de pesca de mão, tipo rede caída. Não passa de um jereré com um cabo comprido (Vide Fig. 77). Com esse tipo de rede os peixes são capturados de surpresa. Caracteriza-se por apresentar um Fig. 78. A seta preta indica um currupichel, prai de Itapuã, rua K. Foto E.L.Q. aro no qual tem uma rede de malhas (Fig. 78) cujos tamanhos podem variar, e preso a esta está um cabo de madeira no qual o pescador segura para capturar os pescados com um golpe certeiro, normalmente, de cima da embarcação. Muito utilizado na captura de iscas- vivas, que é feita durante a noite, com o auxílio da luz fluorescente ou do “pib gás”, as quais atraem os peixes: xixarro (PISCES : CARANGIDAE) ou lulas (MOLLUSCA : DECAPODA) para próximo das embarcação, o que facilita a sua captura. Esta arte é identificada para as áreas de Itapuã, rio Passa Vaca, Boca do Rio, Rio Vermelho, Ondina, Gamboa, Pedra Furada, Ribeira e Tainheiros. 19. Jereré - Pesca de siri bóia (5.1.0) – Petrecho de pesca utilizado tanto para pesca embarcada como desembarcada. Identificada para as áreas de Pedra Fig. 79. Pesca de siri com jereré. Foto: arquivo do Lab. de Nectologia. Furada e Ribeira, sendo uma arte característica da primeira localidade na captura de siri bóia. Conhecida também pelo nome de puçá pode ser utilizada na captura de outras espécies de siri, assim como na captura de iscas vivas (Fig. 79). Sr. Getúlio de Jesus, presidente da Associação dos pescadores da Pedra Furada, descreve tal arte e a forma como ela é utilizada da seguinte maneira: “É uma roda que tem uma linha que a gente amarramos e tipo uma cruz que faz 4 pedaços, a genta pega 4 peixes e amarramos, e aí colocamos uma chave e colocamos uma corda de mais ou menos uns 40 m. Aí chega a um ponto, em alto mar, a gente joga uns 4 jererés, dá uns 5 minutos e aí puxa, se o siri tiver lá ele vem e a gente vai embarcando. Também se ele num tiver naquele ponto ali a gente sai pra outros pontos, vai remando pra achar aonde ele ta!”. Mosqueteiro (6.1.0) – Arte de pesca do tipo tarrafa, sendo confeccionada com filó, 20. rede de malha muito fina, mesmo material utilizado para confecção do mosqueteiro, um utensílio doméstico, colocado sobre camas para evitar a aproximação de mosquitos muriçocas. È específica para a captura da pititinga (PISCES : ENGRAULIDIDAE). Por isso, apresenta a malha é tão fina. Identificado para as áreas de Itapuã, Pituaçu, Costa Azul, Rio Fig.80. Arremesso de mosqueteiro na praia da Ondina . Foto: V.L.Q. Vermelho e Ondina (Fig.80). 21. Rede Agulheira (1.2.0) – Arte de pesca do tipo rede de cerco, onde é utilizada, normalmente, uma ou duas embarcações do tipo canoa. Apresenta um formato retangular, Fig. 81. Rede agulheira no núcleo onde canoas e petrechos são “alugados, ao lado da Colônia Z6, Itapuã. Foto: E.L.Q. com tralhas de bóias e chumbo. O comprimento e a altura são variáveis, em função da profundidade em que vai operar. Possui esse nome por ser específica para captura de agulhas (PISCES: EXOCOETIDAE). Identificada para a área de Itapuã e Ribeira. (Fig. 81). 22. Rede Arraieira (7.1.0) - Arte de pesca do tipo rede de espera de fundo. Identificada para áreas localizadas dentro da baía de Todos os Santos: Pedra Furada e Ribeira. Empregada para captura de arraias (PISCES: DASYATIDAE). 23. Rede de Cerco (1.2.0/ 7.2.0) – Segundo descrição feita por Sr. Orlando Xavier, pescador que atua na área do Comércio, a prática da pesca ocorre da seguinte maneira: Fig. 82. Esquema de rede de cerco apresentado pelo manual da FAO( 1990) “Nós largamos a rede em espécie de arco íris (Fig. X), vai uma canoa de um lado, a outra do outro Nós vamos viajano, a maré vai desceno, no caso a maré aqui vai desceno pro sul, você vai acompanhando, vai desceno. Tem as marcas. Quando chega nas marcas a gente larga as cordas, cerca de 20 braças de cada lado; as canoa se encontra. Um homi puxa aquela rede, chegou os calão, que é o início da rede... aí os mergulhadô cai n`água. As força dos mergulhado é conforme você pega do eclé, de baixo pra cima, você vem fechando aquilo lentamente. Os mergulhadô começa a trabalhá sempre ao pé no chão, e vai indo , vai indo... até se deitá no chão. Eles tem que trabalhá deitado! Entendeu bem? Ele tem que trabalhá deitado no chão, com a barriga no chão apertando a rede! E aí nós temos um sistema de dizer: ói fulano faça isso você! Oi, devagar! E aí se tiver mil peixes... é difícil escapar um! Uma canoa fica trabalhando com 5 homi, a da rede, e o socorro, aquela q ajunta os peixe, q a gente bota os peixe dentro, fica com 3 homi.” O comprimento e altura são variáveis, em função da profundidade em que vai operar. Identificada para as áreas da Gamboa, Ribeira e Tainheiros. 24. Rede de arrasto de praia – calão (2.1.0) Arte de pesca do tipo rede de arrasto, utilizada em praias, margens de canais e enseadas, é levada a locais próximos a costa por canoas ou barcos a remo, onde é lançada na água e os dois cabos das Fig. 83. Rede de calão, arrasto de praia em Itapuã, pescadores puxando a rede da areia, mergulhadores “cuidando para os peixes não fugirem e o mestre de cima do barco dando as direções. Foto: V.L.Q. suas extremidades são levados para a praia para que a rede seja tracionada pelos pescadores. Há também a participação de mergulhadores que cuidam para que os peixes não escapem no momento do arrasto. Há uma forte comunicação entre os pescadores embarcados, os que estão na praia e os mergulhadores. É uma rede com, aproximadamente, 150 a 200 m de comprimento por 3 m de altura, formato retangular com tralhas bóias e chumbo. Identificada para as áreas de Itapuã, Pituaçu, Boca do Rio, Costa Azul e Ribeira. Captura diversas espécies que ocorrem no ambiente costeiro (Fig.83). 25. Rede de arrasto de praia (99.0.0)– Usa-se rede com tamanho menor que o calão. Algo em torno de vinte metros, no máximo. A malha não ultrapassa 10mm e é tracionada por dois homens, pela beira e paralela à praia (Fig. 84). A rede é presa em Fig. 84. Crianças pescando com rede de arrasto de praia, em Conceição, APA Recife de Pinaúnas. Foto:: Arquivo do Lab. de Nectologia. duas varas de tamanho variável, não ultrapassando os dois metros de altura, por onde é puxada. As crianças sempre participam dessa forma de pescarias e os adultos, muitas vezes, utilizam no período noturno em busca de isca para pescarias com linha de mão. É bem difundida na área de estudo, em regiões onde não existem rochas que dificultem o seu manuseio. 26. Rede de espera (7.1.0)– Todas as redes que ficam verticalmente colocadas na coluna d`água onde o peixe é emalhado. Podendo, também, ser de deriva (operando ao sabor das correntes) ou fixas ao fundo por meio de fateixas ou poitas. Podem ser empregadas na superfície, meia água ou fundo. O nylon utilizado na confecção das redes é do tipo monofilamento, variando entre 0,2 e 1,0 mm de espessura, ou multifilamento trançado, variando entre 1,5 a 2,5 mm de diâmetro, com malhas inteiras variando de 40 a 280mm, dependendo da espécie a ser capturada: camarão, serra, pescada, camurupim, cação, arraia, etc. Este tipo de pesca consiste em colocar as redes nos estuários e, após um período recolher, despescar e lançar novamente. Recebem várias denominações a depender da espécie capturada, local, tamanho da rede e altura, onde é colocada: tainheira, caçoeira, arraieira, tainheira, rede de fundo, rede de alto, tresmalho, etc (CEPENE, 2004). Redes de espera, praticamente, são citadas por toda área de estudo. Em algumas localidades o ato de visitar a rede em busca de peixes emalhados, denomina-se de “mariscar a rede”. 27. Rede tainheira (2.1.0/ 7.3.0)– Tipo de rede de cerco utilizada, principalmente, em estuário, na captura de tainha. Confeccionada com nylon monofilamento, variando de 0,35 a 0,4 mm de espessura e malhas de 80 a 120 mm de comprimento (CEPENE, 2004). A prática é feita com os pescadores embarcados em canoas. Normalmente, o mestre, o mais experiente, localiza um cardume de tainhas; observa a direção em que estão seguindo ou se estão alimentando-se e promovem o cerco. A rede é recolhida de cima da embarcação. Uma modalidade desse tipo de pescaria, denomina-se pesca de abalo. Segue-se a mesma rotina descrita, com uma única diferença. Após o cerco os pescadores batem com a pá do remo na superfície da água ou com a haste na borda da canoa para que os peixes fiquem “assustados” e emalhem com mais facilidade. 28. Rede tresmalhos (7.5.0) – Arte de pesca produzida artesanalmente com fios de algodão ou nylon multifilamento, medindo entre 6 a 40 metros de comprimento, formada por três redes superpostas, duas externas e uma central, armada de forma mais frouxa (Fig. 85). É Fig. 85. Rede tresmalhos, esquema retirado do manual da FAO (1990). empregada durante o dia, a uma profundidade por volta de 1,5 m. Na tralha superior emprega-se cortiça de madeira (mulungu), enquanto que na tralha inferior não é colocada chumbada.(CEPENE, 2004). Este petrecho é deixado no local da pesca e após um período é recolhido. Utilizado a partir de uma embarcação. Os peixes se emalham na rede interna, depois de passarem pelas exteriores (FAO, 1990). Identificada para as áreas de: Itapuã, Boca do Rio e Rio Vermelho. 29. Tarrafa (6.1.0)– Uma espécie de rede de encobrir lançada para captura de pequenos peixes. O lançamento da tarrafa é feito por um pescador desembarcado ou embarcado, em águas rasas. Quando o pescador observa a aproximação do cardume, ele faz o lançamento do petrecho. (Fig. 86). Momento no qual é necessária muita perícia Fig. 86: Tarrafa sendo preparada para o lançamento, praia de Ondina. Foto: V.L.Q. para que se tenha uma abertura perfeita, em forma de círculo, permanecendo neste formato até chegar ao fundo. Fecha-se naturalmente quando o pescador puxa uma corda que prende a tarrafa ao braço dele. Identificada para as áreas de Itapuã até a Ribeira. Na região da Barra, os pescadores utilizam tarrafas no período noturno para captura de tainhas, nas áreas com afloramentos rochosos. 5.3.2.6 – Artes diversas 30. Bomba (20.0.0) – Bombas artefatos feitos de forma artesanal e rudimentar e que têm alto poder destrutivo. O alvo são os cardumes de peixes, normalmente, as tainhas (PISCES :MUGILIDAE). É uma pesca ilegal e perigosa, normalmente, realizada por um ou dois “bombistas”. Fig. 87. Bomba de dinamite, pavio e espoleta metálica. Usada em cardumes de tainhas (Mugil spp). Foto: Ailton Sampaio, arquivo do Lab. de Nectologia. Identificada para áreas localizadas no interior da baía de Todos os Santos, desde a Gamboa até a Ribeira. (Fig. 87) A variedade de artes de pesca no litoral da cidade de Salvador está bem caracterizada. Existe uma diversidade de tipos de linha de fundo, por exemplo, redes e armadilhas, que segundo SILVA et. al. (2004) seus modelos e formas de uso estão relacionados, entre outros fatores, com a espécie alvo de captura, com a velocidade das correntes e com o local da pescaria, principalmente profundidade, consequentemente, explotação dos estoques. Baseado nos princípios citados, cada área foi caracterizada por um grupo de artes e formas de pesca características. Esta variedade de artes de pesca encontra-se representada no grupo de Tabelas em anexo, juntamente com seus códigos de classificação (FAO, 1990). Houve certa dificuldade na identificação destas artes de pesca, a partir da Classificação Internacional Uniforme das Artes de Pesca (ISSCFG), devido às especificidades encontradas na área de estudo. A generalização das artes e petrechos apresentada pela FAO, bem como no Boletim Técnico do CEPENE (2005), dificultam o entendimento em relação à explotação dos recursos. Dessa forma, adotar a classificação proposta pela FAO, pode-se de alguma maneira subestimar, ou mesmo sobre estimar, as formas de explotação dos recursos pesqueiros pelos pescadores na região do litoral de Salvador, compreendida entre a enseada dos Tainheiros e Itapuã e as suas especificidades. Alguns exemplos típicos de especificidade encontrados nessa pesquisa, que podem contribuir para estratégias equivocadas de ações de educação ambiental, são: 1 – A pesca de mergulho (FAO 10.1.0). Praticamente encontrada em todas as áreas de estudo, mas com características e petrechos diferenciados. Também, existe um reflexo na Fig. 88. Preparativos de um mergulhador, na praia da Pituba, para mergulho em apnéia. Observe a vara de bambu com um polvo na extremidade. Essa técnica é utilizada para captura de lagostas. Foto V.;L.Q. composição das capturas, devido, entre outras variáveis, ao tipo de ambiente em que o mergulhador atua. Os mergulhadores que atuam na área que vai do Porto Barra até a Ribeira, explotam recursos de um ambiente, tipicamente, estuarino, a baía de Todos os Santos. Usam arpão com borracha de pneu e um pedaço de ferro com a ponta curvada em formato de anzol (fisgueira). Por outro lado, os mergulhadores que atuam na denominada orla marítima de Salvador, aqui caracterizada desde o Farol da Barra até Itapuã, usam espingarda, um pedaço de vara de pescar de bambu para amarrar um polvo, em busca de lagostas e, na maioria das vezes, estão com roupa de neoprene. Nem sempre em boas condições (Fig. 88). Esses pescadores explotam recursos de ambiente recifais com outras características e que estão distribuídos em águas com maior influência do ambiente oceânico. São alguns dos peixes capturados: “barbeiros” (Acanthurus spp), “budião azul” (Sparisoma sp). 2 – Linha de mão (FAO 9.1.0). Empregada de diversas formas e na explotação diferenciada de recursos. Na Ribeira, usada em embarcações ou de cima do cais, capturam: vermelhos (Lutjanus sp), peixes da família Gerreidae e outros pequenos peixes. No Farol da Barra, a linha de mão é empregada para captura de “bonitos”, peixes Carangidae e outros peixes típicos de ambiente oceânicos. Já em Ondina, a linha de mão, agora utilizada de cima de embarcações, é empregada para captura específica, dependendo da época, de guaricema (Caranx sp). Na Pituba, Jardim de Alah, Boca do Rio, Pituaçu, Piatã e Itapuã, a linha de mão, pode ser arremessada da praia e captura: Polydactylus virginicus, bagres e carangídeos. 3 – Pescas com redes de caída (FAO 6.9.0). Neste caso temos duas modalidades de pesca sendo classificadas pela FAO com o mesmo código, porém estas pescarias se desenvolvem de maneiras bem distintas, que é a pesca de peixe de aquário e a pesca de iscas vivas. Ambas capturam o pescado de surpresa, sendo que a primeira pode ocorrer embarcado ou desembarcado, em mergulho, em recifes. Utilizam-se redes pequenas e médias. Depende do tamanho do pescado, que podem ser peixes ornamentais ou pequenos crustáceos, que são capturados durante o dia. Essa modalidade de pesca é identificada para Ondina, Pedra Furada e Ribeira. A captura de iscas vivas ocorre durante a noite, sendo os organismos alvo lula e peixes pequenos, que se aproximam das embarcações atraídos pela claridade das lâmpadas fluorescentes utilizadas. A rede utilizada é denominada de currupichel, a qual apresenta maiores proporções que as anteriores. Esta arte é identificada para Itapuã, Passa Vaca, Boca do Rio, Rio Vermelho, Ondina, Gamboa, Pedra Furada, Ribeira e Tainheiros. Depois das iscas capturadas com currupichel, elas são mantidas em artefatos, feitos de diversos materiais, amarrados à embarcação (Fig. 89). Os pescadores declaram que alguns peixes só “comem” iscas viva, a exemplo do “olho-de-boi”, seriola sp.(PISCES: CARANGIDAE) Fig. 89. Artefatos para conservar iscas vivas de diversos materiais e modelos, construído em madeira (Itapuã), em palha, modelo mais tradicional (Itapuã) e reaproveitando- se recipiente plástico (Piatã). Fotos: V.L.Q, E.L.Q. 4. Tarrafa e mosqueteiro (FAO 6.1.0). Também identificadas como redes de caída pela FAO, podem ser considerados nomes vulgares para o mesmo petrecho. Porém, os pescadores explotam recursos diferentes e promovem impactos distintos sobre os estoques de pescados. A primeira, a tarrafa, é empregada para captura de tainhas (Mugil spp), gerreídeos, carangídeos e outras espécies. O mosqueteiro é empregado, exclusivamente para captura de “pititingas” – Engraulididae. Como os pescadores mesmo reconhecem, capturam, indistintamente, outros alevinos. 5.4 - Análise de “cluster” Resultados similares aos deste estudo, com dois grupos bem característicos e um intermediário, foi encontrado por FREITAS NETTO e DI BENEDITTO (2007) no estado do Espírito Santo. Os autores utilizaram a análise de “cluster” para caracterizar áreas a partir de petrechos de captura – redes. Os gráficos abaixo resultam da análise de “cluster”, realizada com a técnica, sendo utilizadas as distâncias Euclidianas, para avaliar a (Dis) similaridades existentes entre as localidades visitadas, tendo como variáveis as artes e petrechos de captura. Fig. 90: Matriz 1. Utilizando-se 32 variáveis. No primeiro agrupamento (Fig. 90) onde levamos em conta as particularidades das localidades, respeitando-se a diversidade de petrechos e artes, o gráfico demonstra que em relação ao que foi observado, podemos dividir a região de estudo, em três grandes áreas: 1Orla marítima (retângulo roxo), região compreendida entre Itapuã e Amaralina e 2 – Cidade Baixa (retângulo vermelho), região compreendida entre Farol da Barra e Enseada dos Tainheiros. Entre essas, uma região, que poderíamos considerar como uma área de 3 – Transição (retângulo verde). Fig. 91. Matriz 2. Reduzindo-se o número para 20 variáveis, com agrupamento de algumas artes e petrechos, antes individualizados. Reduzindo-se o número de variáveis para 20 (Fig. 91) permanece a mesma divisão, em duas regiões distintas, bem características, mas surge uma rearrumação entre as localidades, que formam os agrupamentos irmãos. A localidade de número 10 - Comércio , em ambos agrupamentos, aparece na condição de “out group”, o que significa que é uma região mais diferenciada. Repete-se o padrão genérico de 2 grupos bem característicos e um grupo intermediário, e, de novo na figura 92, a rearrumação entre as localidades situadas nos grupos internos, formados por Itapuã, Piatã/ Passavaca; Amaralina/ Hotel Pestana; Pedra da Sereia/Farol da Barra; e Mont Serrat / Penha, enseada dos Tainheiros. Fig. 92: Matriz 3. Utilização de, apenas, 16 variáveis, de acordo com a FAO (1999). De uma forma geral, podemos formular os seguintes comentários, em relação à utilização das matrizes com variáveis modificadas: Quanto maior a quantidade de variáveis, maior a distância euclidiana, demonstrando que existem diferenças marcantes entre as áreas; Quando reduzimos o número de variáveis nas áreas de estudo, ocorrem algumas modificações internas; Fica clara a formação de três grupos: um grupo 1 (em azul), representando a cidade alta, grupo 2 (em verde), representando a região intermediária, e grupo 3 (em vermelho), representando a cidade baixa; O grupo 1 (1,2,3,4 e 5), compreende a região que vai de Itapuã até Amaralina, região caracterizada por ser banhadas pelas águas oceânicas e costeiras, com pouca influência estuarina, até porque os rios das bacias hidrográficas que deságuam na região, estão com a qualidade de suas águas comprometidas; O grupo 2 (6,7 e 8), compreende a região que vai do Rio Vermelho até o Comércio, classificado com grupo intermediário; O grupo 3 (9,10,11 e 12), compreende a região do interior da baía de Todos os Santos, indo do Farol da Barra até a Enseada dos Tainheiros, caracterizada por ser um ambiente com forte influência de águas estuarinas; Pode-se observar que existem áreas agrupadas com grupos irmãos (circuladas de roxo). Entende-se que existe uma grande similaridade entre as pescas destas regiões, como é o caso de 1 e 2 (Itapuã à Passavaca), 3 e 5 (Passavaca à Amaralina), 7 e 8 (Rio Vermelho ao Farol da Barra) e 11 e 12 (Monte Serrat à Enseada dos Tainheiros) A localidade 10 – Comércio / Monte Serrat, talvez tenha se mostrado tão distante em relação às outras áreas, por essa ser uma região, praticamente inserida na cidade de Salvador, onde o acesso as informações sobre o sistema de pesca, foi muito pouco. Existe uma importância fundamental no resultado encontrado. Essas diferentes áreas precisam ser encaradas de formas diferentes no que se refere à educação ambiental e aos projetos em que se busque a melhoria da qualidade de vida dos pescadores, sem que com isso signifique uma intervenção na cultura local, de forma a romper com as sua tradições. Petrechos diferentes podem sugerir a explotação de recursos diferentes, ou não. É o caso das tainhas que são explotadas com uso de tarrafa, rede de cerco e até com uso de bombas. Da mesma forma que petrechos idênticos utilizados em regiões diferentes, podem, também, indicar explotação de recursos diferentes, é o caso da linha de mão, que a depender do tipo, explota recursos diferentes. Dessa forma, é de extrema importância que as peculiaridades, em projetos educativos, sejam levadas em conta, visando à conservação sócio-ambiental, e tendo como foco a pesca nas diferentes regiões do litoral da cidade de Salvador. Devemos considerar as (dis) similaridades aqui encontradas, sendo necessário, pelo menos, três programas diferentes de Educação Ambiental para a região, poupando-se dessa forma gastos e esforço, esperandose retorno mais concreto da comunidade, eliminando-se possibilidades de instalação de conflitos. Na área de orla marítima, por exemplo, no trecho compreendido entre o Rio Vermelho e Itapuã, assuntos relacionados à recuperação dos rios Camurujipe, Lucaia, Pituaçu e o Passa Vaca, predominam nas estratégias conservacionistas, relacionadas à qualidade do pescado, bem como recuperação as antigas áreas de manguezal, até a qualidade de vida dos pescadores, pois estes convivem em áreas, totalmente, inóspita devido à presença de esgotos, que são despejados nas águas desses rios que atravessam grande parte da cidade de Salvador. A cidade baixa, trecho compreendido entre o Farol da Barra e Enseada dos Tainheiros, acumula temas focais que envolvem desde a pesca ilegal com bombas – em toda área, até a contaminação do ambiente por metais pesados – na enseada dos Tainheiros (QUEIROZ & WASSERMAN, 2004). Assuntos diversos que exige estratégias diversas, até porque os atores diferem em idade, tradição e costumes. 6 - CONCLUSÕES As conclusões apresentadas nesse tópico estão de forma fragmentada, mas sem perder de vista a integração da pesca em nossa cidade. Resulta do que foi observado, o que foi dito pelos entrevistados e pelas intervenções acompanhadas com os representantes da pesca em diversas oportunidades, em reuniões específicas ou em encontros de caráter científico. São essa as conclusões. 1. O ambiente costeiro da cidade de Salvador, mesmo estando bastante antropizado e descaracterizado de sua forma original devido à ocupação desordenada do solo, é um ambiente rico em diversidade de ecossistemas, encontrando-se associado a bacias hidrográficas, manguezal, recifes de coral, dunas e vegetação de restinga. Sendo importante para sua conservação a administração de todos os ambientes associados. 2. Todos os rios das bacias hidrográficas, que drenam para a região costeira, estão com alto grau de degradação, podendo ser considerados com esgotos a céu aberto. 3. O rio Passa Vaca é o único a manter certa integridade entre seus componentes biofísico-químicos, mas é visível a perda da qualidade de suas águas. Aves, algumas árvores de mangue, peixes, mariscos e outros organismos vivos, observados e capturados por pescadores confirmam essa condição. 4. Muitas das colônias de pesca encontram-se em regiões altamente poluídas, ao lado de tais esgotos a céu aberto, utilizando-se das águas desses rios para estarem “limpando” e tratando os pescados, além de muitas vezes pescarem nestes ambientes. 5. Na região compreendida entre a enseada dos Tainheiros e a rua K observou-se que a pesca é tipicamente artesanal, realizada por comunidades tradicionais, que devido a sua localização ao longo da região metropolitana, altamente urbanizada, vem perdendo algumas características que a definem como tal. 6. A tradição da pesca está se perdendo ao longo dos anos e entre os próprios trabalhadores do mar. Por falta de interesse, por desvalorização da atividade e pela oferta de novas oportunidades no mercado de trabalho. 7. A produção pesqueira não acompanhou a expansão capitalista e a necessidade humana de gerar, cada vez, mais capital. Ao contrário, a depleção dos estoques pesqueiros e a pouca oferta em preços, não tem permitido os pescadores uma posição destacado no mercado, onde não atingem seus desejos consumistas. Esse é mais um motivo que conduz a categoria a uma fuga do setor. 8. Nem todos os pescadores estão filiados em alguma entidade de cunho associativista: colônias, associações ou sindicato. 9. Os núcleos de pescadores do litoral da cidade de Salvador não apresentam estrutura para o armazenamento, conservação, beneficiamento e comercialização do pescado. 10. A comercialização dos pescados tem, cada vez mais, a participação de “atravessadores”. 11. As mulheres marisqueiras executam sua atividade de mariscagem sem nenhum tipo de proteção, totalmente expostas a acidentes, inclusive com peixes peçonhentos – niquim (PISCES : BATRACOIDIDAE) e a beatriz (PISCES: SCORPAENIDAE). 12. Idem os homens, em todos os tipos de pescarias identificadas, incluindo os itens de segurança do homem no mar, quando embarcados. 13. São mais comuns as jornadas diárias de trabalho, nas quais os pescadores saem para o mar e voltam no mesmo dia, estando relacionado a este fato os tipos de embarcação e suas condições. 14. A religiosidade é um tema importante observado principalmente nas áreas onde a tradição é mais forte, como Itapuã, Rio Vermelho e Ribeira, associada à imagem de Iemanjá. As crenças dos trabalhadores e trabalhadoras do mar é um tema freqüente nas nossas conversas. 15. Os pescadores dependendo da área na qual estão inseridos utilizam-se de embarcações, petrechos e técnicas de captura diferenciadas. 16. As artes e petrechos utilizados pelos pescadores do litoral da cidade de Salvador se mostraram bastante específicas com relação as espécies por eles explotadas. 17. Os pescadores artesanais adotam uma variedade de estratégias de pesca com o objetivo de explorar um maior número de espécies e uma maior diversidade de ambientes, tentando, dessa maneira, fugir dos imprevistos que acompanham o sistema de pesca. 18. A classificação da FAO para as artes de pesca mostrou-se pouco eficiente para as artes utilizadas na área de estudo, por se tratar de uma classificação bastante generalista, o que dificulta o entendimento para elaboração de estratégias voltadas para conservação ambiental. 19. O modelo básico para definição do sistema de pesca em nosso estado e que deve servir para elaboração das propostas na área da educação ambiental, proposto pelo Laboratório de Nectologia da UFBA, mostrou-se ineficiente, verificando-se que é necessária uma revisão, em face às especificidades das pescarias identificadas. 20. Os pescadores são atores invisíveis para instituições públicas, quando projetos voltados para conservação ambiental são desenvolvidos. 21. Práticas educativas, ou ações de educação ambiental, voltadas, especificamente para os pescadores, ou para proteção dos estoques por eles explotados ou para melhoria da qualidade de suas vidas, não foram identificados. Nem nas conversas com os gestores públicos, tampouco, nos locais visitados. 22. Os grandes projetos que visam à proteção de espécies marinhas, a exemplo do TAMAR, Projeto MAMA e Baleia Jubarte, estão fragilmente inseridos no sistema de pesca local, carecendo os pescadores de informações mais consistentes e visitas mais freqüente para que sejam, de fato, considerados parceiro nas propostas conservacionistas. 23. Estratégias educativas devem ser dirigidas, não somente, aos trabalhadores do mar, mas também aqueles que atuam no sistema de ensino e na gestão do serviço público, esperando-se com isso que tais estratégias sejam disseminadas pela comunidade como um todo. 24. Uma questão muito mal resolvida pelas instituições públicas, devido ao seu alto grau de nocividade, em todos os sentidos, é a pesca com uso de bombas, amplamente arraigada, a partir da área da Gamboa, até a enseada dos Tainheiros, onde parece atingir o ápice da insensatez humana, pelos exemplos existentes de mortes e mutilações. 25. O litoral da cidade de Salvador foi dividido em três grupos no que se refere a artes e petrechos utilizados nas capturas, sendo importante nas estratégias de educação ambiental, levar em consideração estas especificidades de cada área, respeitando assim as regionalidades. 26. Nem todos os tipos de embarcações, petrechos e artes de pesca estão catalogados na bibliografia corrente, sendo necessária uma revisão e ampliação dos tipos até então descritos. 27. É preciso que as resoluções das Conferências Nacionais, bem como o Documento sobre as Diretrizes para Construção do Plano de Pesca do Estado da Bahia, além de socializadas sejam internalizadas no sistema de pesca em nossa cidade. 7 - SUGESTÕES Propomos ações que visam à melhoria da qualidade sócio-ambiental dos trabalhadores do mar, através de processos participativos, utilizando-se como instrumento a educação ambiental tanto no âmbito formal, quanto no não-formal. Devido às diversas linhas a serem seguidas, escolhemos por uma educação ambiental crítica, transformadora e emancipatória, a qual tem como meios uma ética preocupada com a justiça social. Ao longo de toda área de estudo encontram-se instituições de ensino próximas as localidades referenciadas neste trabalho, sejam elas escolas de ensino fundamental, ensino médio ou ensino superior. Instituições que muitas vezes estão localizadas em frente a tensores ambientais graves, nas proximidades dos núcleos de pescadores, e que não se envolvem com a problemática. Nas mesmas condições estão empreendimentos turísticos, inclusive, muitos áreas são listadas como atrativos localizados no litoral da cidade de Salvador. Em certos trechos existe uma grande concentração de hotéis, pousadas, marinas, clubes, bares, restaurantes e casas de espetáculos, todos completamente alheios a situação do ambiente e das comunidades de pescadores do seu entorno. Outra preocupação é a implantação do novo PDDU, em nossa capital. Conforme o art. 3° da Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999), é de responsabilidade de todos estes setores, além dos meios de comunicação em massa, do poder público e da sociedade como um todo à promoção da educação ambiental. Partindo-se deste principio legal, foram elaboradas algumas propostas tanto no âmbito da educação ambiental formal, como da não-formal. 7.1 A educação ambiental formal “Trata-se de um aprendizado social, baseado no diálogo e na interação em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados, que podem se originar do aprendizado de sala de aula ou da experiência pessoal do aluno. Assim a escola pode transformar-se no espaço em que o aluno terá condições de analisar a natureza em um contexto entrelaçado de práticas sociais, parte mais complexa e multifacetada” (JACOBI, 2003). Vale ressaltar aqui que o papel dos educadores e professores é essencial para impulsionar as transformações de uma educação com uma visão crítica, de valores e de uma ética para a construção de uma sociedade ambientalmente sustentável. No caso da área localizada entre Costa Azul/Amaralina, estão ao lado do “rio-esgoto” universidades como a FIB, Hélio Rocha, Castro Alves, além de colégios como o Tales de Azevedo e o Integral, os quais estão praticamente debruçados no rio Camurugipe. Capacitação de multiplicadores e formação contínua de professores da rede pública e privada; Promoção de debates, pesquisa e ação nas instituições de ensino para produção de conhecimentos locais significativos; Elaboração de materiais pedagógicos locais, condizente com as experiências do dia a dia dos estudantes, para formação de cidadãos conscientes e participativos no que diz respeito aos problemas sociais e ecológicos; Fomentar um maior envolvimento dos estudantes com o meio onde estão inseridos, fazendo as instituições de ensino extrapolarem seus limites físicos, tendo maior contato com os problemas ambientais e com as comunidades do seu entorno. Promover o replantio de árvores do mangue no Rio Passavaca com alunos da rede pública e privada, empresários, pescadores e outros interessados com o sentido de se gerar uma consciência ecológica a cerca do difícil processo de regeneração da natureza, fundamental a manutenção do equilíbrio e a utilização racional desses ecossistemas. Nessa região foi observada a chegada de caminhões trazendo caranguejos de Sergipe para serem distribuídos nas barracas de praia, um bom motivo para convencer os comerciantes locais a se envolverem com a recuperação do rio Passavaca . Produção de cartilhas educativas para serem distribuídas nas escolas, assim como nas comunidades, versando sobre os temas: manguezal, restinga, ambiente recifal, praias, dunas, bacias hidrográficas, qualidade da água e pesca. 7.2 A educação ambiental não-formal Educação na qual as ações e práticas são voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. Com relação à educação ambiental voltada para os pescadores, é necessário o entendimento das relações deles com a cidade, enfatizando como ele afeta e é afetado pelo ecossistema urbano indo além do estudo dos sintomas ambientais, explorando raízes da causa da degradação ambiental. É de extrema importância no contexto não-formal da educação ambiental a construção de fóruns, seminários, espaços de construção coletiva de conhecimentos, momentos nos quais através de discussões podem surgir alternativas inesperadas no que se refere à classe dos pescadores artesanais e o ambiente onde eles estão inseridos. É necessária a participação efetiva dessa população na construção de soluções para que se chegue à direção das mudanças. Não adianta imposições, temos que construir juntos esse caminho. Sendo essencial também o empoderamento político dos trabalhadores do mar para que estes tenham influência junto aos órgãos responsáveis pelas políticas públicas. Segundo ROSA PEREIRA (2006), é necessário o estabelecimento de redes de comunicação dos pescadores com outros movimentos e lutas sociais, proporcionando diálogo de saberes através de seminários e encontros, fortalecendo desta forma os coletivos organizados em torno de reivindicações e construção políticas. 7.2.1 O ambiente Participação da comunidade do entorno das bacias hidrográficas para discussões a respeito da qualidade da água em busca de soluções para tal problemática. Através da construção de diálogos com os Poderes constituídos, buscar caminhos para transferência das sedes dos pescadores das bocas de esgoto, identificados como rios, até a revitalização destes. Ampliação das Unidades de Conservação situadas na região costeira, da cidade de Salvador, incluindo a região marinha, definindo-se as isóbatas, de acordo com as características locais. Exemplos: o Parque do Manguezal do Passavaca, do Parque Metropolitano de Pituaçu e a APA Lagoas e Dunas do Abaeté. Aproveitamento e revitalização dos parques do litoral de Salvador (Jardim dos Namorados, Jardim de Alah, Parque Atlântico do Aeroclube) como parques de recreação, levando as comunidades a valorizar mais essas áreas, e inserir ,nestes, atividades de sensibilização ambiental, aproveitando o ambiente no qual os parque se encontram, sendo um dos foco o ambiente marinho e a sua conservação. 7.2.2 Os trabalhadores do mar Qualificação profissional para os pescadores artesanais desenvolverem suas atividades de forma sustentável e de acordo com a segurança alimentar, além de qualificação direcionada para agregação de valores aos produtos, e máximo aproveitamento dos subprodutos do pescado, sem, contudo alteração dos padrões culturais existentes, inclusive aproveitando-se os conhecimentos tradicionais, como estratégia para conservação dos estoques e das áreas de pesca. Estimular o associativismo em áreas onde os pescadores encontram-se dispersos, especificamente, nas áreas 7 e 8, desde a Pedra da Sereia até o Farol da Barra. Aproveitamento dos conhecimentos práticos dos pescadores para formulação de períodos de defeso, para que juntamente com os conhecimentos científicos, sejam elaborados os planos de gestão de forma horizontal e participativa. 7.2.3 As pescarias Capacitar e estimular os mergulhadores/caçadores a aproveitarem o fluxo turístico para promoção da beleza e a diversidade marinha ao longo do litoral da cidade do Salvador, como mais um atrativo para o desenvolvimento do turismo e geração de emprego e renda. Conscientização em todos os níveis sobre os danos causados pela pesca proibida, incluindo aqui não somente a pesca com bombas, bem como também as pescas proibidas com redes de malha fina ,por exemplo, ou em período de defeso, por causa dos motivos de reprodução e por depleção de estoques, além das espécies em extinção. Criação de um mecanismo na própria comunidade, de forma eficiente para fiscalização na pesca ilegal com bombas. Conscientização dos pescadores e marisqueiras com relação à segurança no trabalho e facilitações na compra de petrechos para o desenvolvimento da atividade. 7.2.4 A comercialização Estímulo à organização dos pescadores através de cooperativas, que possam destinar os seus produtos diretamente a centros de comercialização. Capacitação das marisqueiras, que não tem mais como desenvolver suas atividades na área onde desenvolviam anteriormente, para o beneficiamento do pescado, agregando valores ao produto final. Sendo estimulada a produção de subprodutos a exemplo da farinha de pescado, patê, cartilagem de tubarão, entre outros baseados nas possibilidades a depender do pescado. Implantação de fábricas de gelo nas proximidades dos pontos de embarque e desembarque. Por fim, há de se ressaltar que tudo que aqui foi discutido e proposto segue as propostas dos trabalhadores do mar, em suas conferências nacionais específicas, podendo-se identificar ações de educação ambiental crítica, emancipatória e transformadora, de forma difusa, mas ampliada, em direção ao Programa Nacional da “Fome Zero” e segurança alimentar. A nós pesquisadores e educadores, não nos cabe outra esperança, a não ser aquela em ver os trabalhadores do mar como seres humanos visíveis no sistema para produção de alimentos sadios. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGOSTINHO, P. Sobre a urgência de um museu naval no nordeste. Revista de Antropologia, separata do volume XXIV, 1981. AGUIAR, M.S.F. Pesca com bomba: Caracterização das comunidades pesqueiras dos povoados de Gameleira até Amoreiras – da Ilha de Itaparica – Baía de Todos os Santos, Bahia, Brasil. Salvador: Universidade Federal da Bahia. Tese (bacharelado) 2005. BRANDÃO, S.F. Pesca: vidas, comunidades, línguas. 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Colônia( ) EMBARCAÇÃO Nome: Tipo: Material de construção: Propulsão: Tamanho: Embarcação própria? Teve alguma facilidade para a compra? Tem registro na capitania? Quantas pessoas saem embarcadas? Em que função trabalha no barco? Utiliza algum equipamento no barco? Rádio( ) sonar( ) sonda( ) outros( ) quais? PETRECHOS Quais os petrechos utilizados? Sempre usou esses materiais? Algum específico para algum tipo de pescado? Qual? Onde compra? Preço estimado? ESPÉCIES Quais os tipos de peixes captura? Qual o mais abundante? Qual o mais raro? Existe alguma espécie que desapareceu? Que sabe sobre o defeso? Concorda? PESCADOR E AMBIENTE Como aprendeu a pescar? Já realizou ou pretende realizar algum curso de capacitação? Qual e para quê? A prática é transmitida aos filhos? Que horário costuma sair pra pescar? Quantas horas passa embarcado no mar? Depende de que? Onde pesca com mais freqüência? Pesca é a única fonte de renda? Dá um bom sustento? Qual a melhor maré para a pesca? Qual o melhor vento para a pesca? O que sabe sobre os ventos? Os nomes que conhece dos ventos: Qual a melhor lua para a pesca? Usa o pescado pra consumo? Onde é comercializado o pescado? Como é comercializado o pescado? Usa algum pescado como remédio? Desde que começou a pescar até hoje acha que teve alguma melhora ou piora na atividade? Que ações acha que pode melhorar a pesca? PROJETOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL Organizações como PROJETO TAMAR, BALEIA JUBARTE, MAMA, SEAP,Bahia Pesca ou Pesca com Bombas já estiveram por aqui? Que tipo de informação eles passaram para os pescadores? Contribuiu de alguma forma? De quanto em quanto tempo eles visitam aqui? O que acha do trabalho deles com os pescadores? Anexo B: Entrevista realizada com instituições públicas e Organizações Não Governamentais. 1. O Sr(a) tem conhecimento da lei do Política Nacional de Educação Ambiental n° 9.795, de 27 de abril de 1999? 2. Existe algum projeto específico na Instituição para a questão da pesca no litoral da cidade de Salvador? Qual o projeto? Qual o foco? Qual o tipo de ação? Formal ( ) Qual a prática? Qual a região? Qual o tempo de execução? Não-formal( ) 3. Se não há nenhum projeto, qual o motivo? 4. Qual a estimativa de público atingido, ou que pretende atingir com suas ações? 5. Qual a quantidade e a qualificação da equipe de trabalho do projeto? 6. Qual é a origem do recurso destinado ao projeto? Empresa? Orçamento? Convênio? 7. Quanto é destinado ao projeto? 8. Busca interagir com a comunidade? ONG, qual(is)? Colônia, qual(is)? Associação, qual(is)? 9. Através de qual instrumento legal? Convênio? Colaboração técnica? Outros? 10. Foi procurado e estimulado a interagir com o público-alvo? 11. Se o projeto já teve início, existiu algum retorno do público no qual foi, ou é aplicado? Qual retorno? 12. Se o projeto já foi extinto, qual o motivo desta extinção? 13. Algum projeto de Educação Ambiental já foi encaminhado e negado? Qual o motivo? Anexo F: Possíveis conexões entre os nomes das embarcações e o cotidiano dos pescadores. Nomes Conexão Local 1 Minina de Itapuã Comportamento Itapuã 2 Astral 10 Comportamento Itapuã 3 Barco 3 amigos Comportamento Itapuã 4 Dias leais Comportamento Itapuã 5 Típico Comportamento Pituba 6 Tobomar Comportamento Pituba 7 Delegado Comportamento Pituba 8 Planador Marinho Comportamento Pituba 9 Reizinho Comportamento Porto Barra 10 Ferrari Comportamento Ribeira 11 Asas Indomáveis Comportamento Ribeira 12 Beldade Comportamento Ribeira 13 Flor do Mar Comportamento Ribeira 14 Galo fujão Comportamento Ribeira 15 Lascador Comportamento Ribeira 16 Malandro Comportamento Ribeira 17 Pinote Comportamento Ribeira 18 O navegante Comportamento Ribeira 19 Flor do São Francisco Comportamento Ribeira 20 O Outro Comportamento Rio Vermelho 21 Unindo Forças Comportamento Rio Vermelho 22 Tuturututu Diversos Comércio 23 Foto Diversos Comércio 24 Manila I Diversos Comércio 25 Lareira Diversos Itapuã 26 Max 787 Diversos Itapuã 27 Cavok Diversos Itapuã 28 Gableia Diversos Itapuã 29 Moratória Diversos Itapuã 30 Trick- trick Diversos Pituba 31 Cobila Diversos Ribeira 32 Garapuvu Diversos Ribeira 33 Gaúcho Diversos Rio Vermelho 34 Lajeira Diversos Rio Vermelho 35 O caboclo Diversos Rio Vermelho 36 Povo do Oriente Diversos Rio Vermelho 37 Tupinamba Diversos Rio Vermelho 38 Katamarã Embarcação Itapuã 39 Nal FGGF Embarcação Ribeira 40 Luque Estrangeirismo Itapuã 41 Stok Estrangeirismo Itapuã 42 Dragon Estrangeirismo Porto 43 Diamont Estrangeirismo Ribeira 44 Du PP IV Estrangeirismo Ribeira 45 Enterprise I Estrangeirismo Ribeira 46 Off Shore Estrangeirismo Ribeira 47 Wahoo Estrangeirismo Ribeira 48 Vereuhel Estrangeirismo Ribeira 49 12 Irmãos Familia Rio Vermelho 50 Sua Mãe Família Comércio 51 Rosa mãe Família Itapuã 52 Tio Rui Família Ribeira 53 Família Família Ribeira 54 Tio Rei Família Ribeira 55 Vô Durval Família Ribeira Bonamigo Família Ribeira 56 Meu Velho Amigo Família Ribeira 57 Amor de Mãe Família Rio Vermelho 58 Zangão Fauna Itapuã 59 Vagalume Fauna Rio Vermelho 60 Pica - Pau Fauna Rio Vermelho 61 Piaba Fauna Rio Vermelho 62 Boto Fauna marinha Comércio 63 Dourado Azul Fauna marinha Comércio 64 Estrela cinco Fauna marinha Comércio 65 Prata Fauna marinha Comércio 66 Coral Fauna marinha Itapuã 67 Budião Azul Fauna marinha Itapuã 68 Peixe Prata Fauna marinha Ribeira 69 Biquara Fauna marinha Ribeira 70 Coral do Mar Fauna marinha Rio Vermelho 71 Estrela do Mar Fauna marinha Rio Vermelho 72 Frutos do Mar Fauna marinha Rio Vermelho 73 Peixinho Fauna marinha Rio Vermelho 74 Agulhinha Fauna marinha Rio Vermelho 75 Biguá Fauna marinha Rio Vermelho 76 Jabú Fauna marinha Rio Vermelho 77 Paru Fauna marinha Rio Vermelho 78 Uirapurú Fauna- marinha Ribeira 79 Dourado Fauna- peixe Porto Barra 80 Damasco Fruta Itapuã 81 Barra do Pote Localidade Comércio 82 Parati Localidade Porto Barra 83 Piracicaba Localidade Porto Barra 84 Iguatemi Localidade Ribeira 85 Porto Vera Cruz Localidade Ribeira 86 Guanabara Localidade Ribeira 87 Vilas Localidade Ribeira 88 IAPI Localidade Rio Vermelho 89 Tróia I Lúdico Comércio 90 Vascaína Lúdico Itapuã 91 Maratona Lúdico Itapuã 92 Xaxado Lúdico Itapuã 93 Portela Lúdico Itapuã 94 Faz Parte Lúdico Porto Barra 95 Arerê Lúdico Ribeira 96 Regmar Lúdico Ribeira 97 Celebridade Lúdico Rio Vermelho 98 Timão Lúdico Rio Vermelho 99 Axé Bahia Lúdico Rio Vermelho 100 Moranguinho Lúdico Rio Vermelho 101 Cor do mar Natureza Rio Vermelho 102 Mar Azul Natureza Itapuã 103 Oceano Natureza Itapuã 104 Rio Jordão Natureza Itapuã 105 Rio Nilo Natureza Itapuã 106 Trovão Azul Natureza Pituba 107 Luar do Porto Natureza Porto Barra 108 Por do sol Natureza Porto Barra 109 Viração Natureza Porto Barra 110 Mirando a lua Natureza Ribeira 111 Espuma Natureza Ribeira 112 Primavera I Natureza Ribeira 113 Alísio do Mar Natureza Rio Vermelho 114 Onda Azul Natureza Rio Vermelho 115 Por do sol Natureza Rio Vermelho 116 Dom Miro Nome Itapuã 117 Bulhões Nome Comércio 118 D.Hilda Nome Comércio 119 Nara Nome Comércio 120 Tine Nome Comércio 121 Vivita Nome Comércio 122 Didala Nome Itapuã 123 Anina Nome Itapuã 124 Borba Nome Itapuã 125 Borba Nome Itapuã 126 Bruninha Nome Itapuã 127 Carvalho Nome Itapuã 128 Diogo II Nome Itapuã 129 Dosmar Nome Itapuã 130 Jacqueline Nome Itapuã 130 JJ SS Daise Nome Itapuã 132 Jurema Nome Itapuã 133 Lulu Nome Itapuã 134 Neves Nome Itapuã 135 Talita Nome Itapuã 136 Tainá Nome Itapuã 137 Vínicius Nome Itapuã 138 Pituica Nome Pituba 139 Amanda Nome Porto Barra 140 Beni Nome Porto Barra 141 Piraci Nome Porto Barra 142 Augusto Nome Ribeira 143 Barcelar Nome Ribeira 144 Cibele Nome Ribeira 145 D. Binha Nome Ribeira 146 Éderson Nome Ribeira 147 Everton Nome Ribeira 148 Gabriel Nome Ribeira 149 Gabriel Filho Nome Ribeira 150 Guiga Nome Ribeira 151 Israel I Nome Ribeira 152 Iara Nome Ribeira 153 Jane Nome Ribeira 154 Lucas Nome Ribeira 155 Leobin Nome Ribeira 156 Loura Nome Ribeira 157 Mestre Nino Nome Ribeira 158 Noka Nome Ribeira 159 O Zé Nome Ribeira 160 Oliveira II Nome Ribeira 161 Rian Nome Ribeira 162 Bonaparte Nome Rio Vermelho 163 Gil Nome Rio Vermelho 164 Lipoca Nome Rio Vermelho 165 Maisa Nome Rio Vermelho 166 Guiomar Nome Rio Vermelho 167 Lorena Nome Rio Vermelho 168 Janaína Religião Itapuã 169 Monte de Sião Religião Itapuã 170 Rosa de Saron Religião Itapuã 171 Kauã Religião Itapuã 172 Deus Dará Religião Itapuã 173 Fé em Deus Religião Pituba 174 A Rainha Religião Porto Barra 175 Rainha Religião Porto Barra 176 Santa Rosa Religião Ribeira 177 Rainha do Mar Iemanjá Religião Ribeira 178 Yemanjá Religião Ribeira/ Itapuã 179 Genesis Religião Rio Vermelho 180 Quem tem fé em Deus Religião Rio Vermelho 181 Rainha do Mar Religião Rio Vermelho 182 Vou e Volto com Deus Religião Rio Vermelho 183 Deus Dará Religião Rio Vermelho 184 Deus te Ama Religião Rio Vermelho 185 Jesus é fiel Religião Rio Vermelho 186 São Gerônimo Religião Rio Vermelho 187 Esperança Sentimento Itapuã 188 Sacrifício Sentimento Itapuã 189 Fascinação Sentimento Ribeira 190 Jóia Rara Sentimento Ribeira 191 Meu Sonho Sentimento Ribeira 192 Paixão das águas Sentimento Ribeira 193 Romance das Águas Sentimento Ribeira não cai 194 Batalha Sentimento Rio Vermelho 195 Delírio do Mar Sentimento Rio Vermelho 196 Fraterno Sentimento Rio Vermelho 197 Paz Sentimento Rio Vermelho 198 Renaser Sentimento Rio Vermelho