iconografia do sistema de pesca no litoral da cidade de

Transcrição

iconografia do sistema de pesca no litoral da cidade de
UFBA
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE BIOLOGIA
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
VANESSA LACERDA DE QUEIROZ
ICONOGRAFIA DO SISTEMA DE PESCA NO LITORAL DA
CIDADE DE SALVADOR (DE ITAPUÃ ATÉ A RIBEIRA):
UMA BUSCA PARA CONSTRUÇÃO DE PROPOSTAS
PARTICIPATIVAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
SALVADOR- BAHIA
2007
VANESSA LACERDA DE QUEIROZ
ICONOGRAFIA DO SISTEMA DE PESCA NO LITORAL DA
CIDADE DE SALVADOR (DE ITAPUÃ ATÉ A RIBEIRA):
UMA BUSCA PARA CONSTRUÇÃO DE PROPOSTAS
PARTICIPATIVAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Dissertação de graduação apresentada ao
Instituto de Biologia da Universidade
Federal da Bahia, como exigência para a
obtenção do grau de Bacharel em
Ciências
Biológicas,
modalidade
Ecologia: Recursos Ambientais
Orientador: Prof. Dr. Everaldo Lima de
Queiroz – Lab. de Nectologia, depto. de
Zoologia
SALVADOR-BAHIA
2007
VANESSA LACERDA DE QUEIROZ
ICONOGRAFIA DO SISTEMA DE PESCA NO LITORAL DA
CIDADE DE SALVADOR (DE ITAPUÃ ATÉ A RIBEIRA):
UMA BUSCA PARA CONSTRUÇÃO DE PROPOSTAS
PARTICIPATIVAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Prof. Dr. Everaldo Lima de Queiroz (Orientador)/UFBA
__________________________________________
Msc. Ironildes Santos Bahia/ SEAP/PR
________________________________________
Biol. Fátima Falcão/Prefeitura de Salvador
Salvador, ______/_____/_____
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Everaldo Lima de Queiroz, primeiro por me apresentar esse tema
encantador, depois por me mostrar caminhos para chegar a estes resultados através de sua
contribuição profissional e finalmente por todo apoio e confiança que depositou no meu
trabalho.
A todos os pescadores e marisqueiras que tive contato ao longo desses meses e que me
passaram conhecimentos e lições de vida a cada visita a campo. Também aos que eu não tive
contato, por manterem viva a tradição do trabalho no mar.
Ao Instituto de Biologia pelo aprendizado, incluindo aqui os professores, funcionários
e colegas.
Aos amigos “Orgânicos” que ao longo da minha jornada na Universidade me
mostraram uma biologia diferente da apresentada na sala de aula e que me ajudou muito na
minha formação como bióloga e como cidadã.
A minha família, em especial meus pais e minha irmã, por todos os valores que nós
compartilhamos, pelo total apoio em todas as minhas decisões, pelo amor,...
Aos amigos “bio-lógicos”, que passando um pouco de suas experiências foram me
ajudando na construção desse trabalho. E também aos não “bio-lógicos” que muitas vezes
sem entender o que eu estava desenvolvendo tentaram ajudar de todas as maneiras, com
palavras de conforto, sorrisos telefonemas no meio da noite, conversas virtuais e pensamentos
positivos.
Oração da manhã
“Senhor, no silêncio deste dia que
amanhece, venho pedir a paz, a sabedoria, a
força. Quero olhar hoje o mundo com os olhos
cheios de amor: ser paciente, compreensivo, justo,
calmo alegre, quero ver seus filhos como o senhor
os vê e ver só o bem em cada um deles.
Cerre os meus ouvidos a toda calúnia,
guarde minha língua de toda maldade. Que meu
espírito viva só de paz. Seja eu tão bom e alegre,
que todos que chegarem a mim sintam a presença
de Deus. Senhor, revesta-me interiormente de sua
beleza, e que, no decorrer deste dia eu a todos
revele o seu amor.”
Amém
Colônia de pesca Z1
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
1 PROLEGÔMENOS
2 INTRODUÇÃO
2.1 O Ambiente
9
14
14
2.1.1 As bacias hidrográficas
17
2.1.2 O manguezal
18
2.1.3 Os recifes de coral
21
2.1.4 As Dunas
22
2.1.5 A restinga
23
2.2 A Pesca
23
2.3 Os trabalhadores do mar
26
2.4 Educação Ambiental
30
3 OBJETIVOS
42
3.1 Gerais
42
3.2 Específicos
42
4 METODOLOGIA
44
4.1 Área de estudo
44
4.2 Ambiente
45
4.3 A pesca, as pescarias e os trabalhadores do mar
45
4.4 Análise de “cluster”
47
5 RESULTADOS
50
5.1 O ambiente
50
5.2 Os trabalhadores do mar
64
5.3 A pesca
77
5.3.1 As embarcações
77
5.3.1.1 Nomes de embarcações
83
5.3.2 As artes e os petrechos de pesca
88
5.3.2.1 As armadilha
89
5.3.2.2 As linhas
90
5.3.2.3 As artes não especificadas
96
5.3.2.4 As artes de ferrar
97
5.3.2.5 As redes
99
5.3.2.6 As artes diversas
5.4 Análise de “cluster”
106
109
6 CONCLUSÕES
115
7 SUGESTÕES
121
7.1 Educação ambiental formal
122
7.2 Educação ambiental não formal
123
7.2.1 O ambiente
124
7.2.2 Os trabalhadores do mar
125
7.2.3 As pescarias
125
7.2.4 A comercialização
125
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
127
9 ICONOGRAFIA DO SISTEMA DE PESCA NO LITORAL DE
135
SALVADOR
10 ANEXOS
153
ICONOGRAFIA DA PESCA
NO LITORAL DE
SALVADOR
RESUMO
Desde a antiguidade, a pesca representa para a humanidade uma importante fonte de
alimentos, além de, na modernidade, garantir emprego e renda para quem se dedica a
atividade. No Brasil os índios deixaram um rico legado de conhecimentos relacionados à
prática pesqueira, somados a contribuição das tradições deixadas pelos africanos e europeus.
As práticas da pesca das comunidades marítimas são desenvolvidas em um ambiente marcado
pelo risco, mobilidade, e mudanças físicas, dessa forma, o pescador tem de adaptar-se ao meio
em que atua, empregando uma determinada técnica em função do tipo de pescado que ali
ocorra e das características geográficas e geomorfológicas do ambiente. Somado a essas
condições ambientais os trabalhadores do mar ainda vêm enfrentando uma redução nos
estoques pesqueiros. Uma das formas para minimizar os conflitos entre a depleção dos
estoques pesqueiros e degradação da natureza, é através de ações educativas e
conservacionistas, construídas de forma participativa, entre poder público e comunidades
locais. Este trabalho foi desenvolvido no litoral da cidade de Salvador, na região
compreendida entre a Enseada dos Tainheiros (Ribeira) e a rua K (Itapuã), com o objetivo de
propor ações educativas para melhoria da qualidade sócio-ambiental dos trabalhadores do
mar. A região foi divida em doze áreas, sendo caracterizadas a partir de fotos imagens de
satélites, capturadas no google earth. Realizaram-se: entrevistas abertas com os trabalhadores
do mar e gestores públicos; registros fotográficos e observação direta no campo, com o intuito
de se caracterizar o ambiente, os pescadores e a pesca (petrechos, artes e embarcações). A
esse conjunto denominamos, nesse trabalho, de sistema de pesca. A pesca realizada ao longo
da cidade de Salvador é do tipo artesanal de pequena produção mercantil, desenvolvida por
comunidades tradicionais, devido à relação dos trabalhadores do mar com o ambiente e entre
si, com certo grau de descaracterização. São utilizados, pelo menos oito tipos de embarcações,
desde jangadas com paus justapostos até embarcações construídas com fibra de vidro. As
artes de pesca foram agrupadas como: armadilhas, artes de ferrar, redes e linhas,
identificando-se trinta e um tipos, incluindo-se a pesca proibida com bombas. Existem as
práticas que não foram identificadas na bibliografia corrente. Sugerem-se alterações no
modelo apresentado ao Fórum Permanente de Discussão da Pesca no Estado da Bahia. As
condições ambientais estão comprometidas devido ao crescimento desordenado da cidade,
que é refletido principalmente nas condições dos rios que deságuam na área urbana da cidade.
Dessa forma, torna-se importante atenção especial para as bacias hidrográficas, que drenam a
região metropolitana de Salvador. Existe uma diversidade de mecanismos de captura
utilizados pelos trabalhadores do mar. Através de análise de agrupamento, com elaboração de
três matrizes tentativas, tendo-se como variáveis as artes e petrechos e as localidades como
unidades amostrais, demonstra-se a (dis) similaridades entre as diferentes, destacando-se três
agrupamentos, com distâncias Euclidianas variando em até 4,0 unidades: 1) a cidade baixa
(banhada, predominantemente, por águas estuarinas) – localidades compreendidas entre o
Farol da Barra e Enseada dos Tainheiros, 2) a orla marítima (banhada, predominantemente,
por águas oceânicas e costeiras) – entre Itapuã até Amaralina e 3) uma área de transição –
entre Amaralina e Farol da Barra. Para desenvolvimento de estratégias de educação ambiental
propõe-se a construção de três programas diferenciados, respeitando-se as regionalidades e
características de cada área. As propostas que aqui são sugeridas seguiram os critérios da
educação ambiental crítica, transformadora e emancipatória, sendo atuantes em espaços
formais e não formais de educação e devem ser implementadas de forma participativa.
Palavras chaves: Educação ambiental, pesca, pescarias, pescadores, Salvador, e iconografia.
ABSTRACT
Since the antiquity, the fishing represents to the humanity an important source of
aliments, besides, in the modernity, guarantee employ and income for whom is dedicate to
this activity. In Brazil the Indians let a rich knowledge related to the fishery practice, added to
the contribution of tradition quitted from the Africans and Europeans. The practice of fishing
in the maritime community are developed in a environment marked for the risk, mobility, and
physic changes, in that way, the fisher have to adapt himself to the environment which he
acts, engaging a determinate technique in function of the type of fish, that occurs in there
and the geographical and geomorphologic characteristics of environment. Adding to these
environmental conditions the sinners are facing a reduction in the fishing found. One of the
ways to minimize the conflicts between the depelacao of the fishing stocks and the nature
degradation is through educative and conservationist actions, built in a participative way,
between the public power and the local community. This work was developed in the littoral of
Salvador’s city, on the region between Tainheiros (Ribeira) and K street, with the objective to
propose educational actions for the improvement of the social- environmental quality of the
fishers. The region was divided in twelve areas, being characterized from photos of satellites,
captured from google earth. Were realized: opened interviews with the sinners and public
gestures; photographic registers and direct observation on the camp, with the feeling to
characterize the environment, the fishers and the fishing. This group is denominated in this
work of fishing system. The fishing realized through Salvador’s city is an artesian kind of
small production mercantile, developed from traditional communities, because of the fishers
relation between the environment and their self, with a certain degree of mischaracterization.
Are utilized, at least, eight types of embarkation, since raft until embarkation built with glass
fiber. The fishing gears were grouped how: booby trap, grapping and wounding, nets, lines
and hooks, identifying yet thirty one kinds, including the prohibit bomb fishing. Some
practices weren’t identified in the bibliography in study. Alterations in the model presented to
the Forum of Discussion Permanent of Fishing in the State of Bahia are suggested. The
environmental conditions are compromised because of the disorientated growing of the city,
which is reflected specially in the river’s conditions, which disembogue in urban areas. In that
way, should have a special attention to the basin , that drain the metropolitan area of Salvador.
Exist a diversity of mechanisms of capture utilized from the fishers. Through the analyze of
grouping, with the elaboration of three matrices, having how variables, the fishing gear and
localizations how object, show a similarity between the difference, detaching three groupings
with distance Euclidianas, varying until units: 1) Cidade Baixa (bathed, usually, for estuary
water) – local comprehend between Farol da Barra and Enseada dos Taiheiros, 2) the edge
maritime ( bathed, usually, for oceans water and costs water) – between Itapua and Amaralina
and 3) an area of transition – between Amaralina and Farol da Barra. For development of
strategy of environmental education are propose a construction of three different programs,
respecting the regions and the areas characteristics. The proposes that are suggested here,
followed the criteria of environmental education critical , transforming and emancipating ,
being operating in formal and no formal spaces of environmental education and should be
implemented in a participative form.
Palavras chaves: Environmental education, fisher, fishing, to fish, Salvador, e iconografy.
1 - PROLEGÔMENOS
Muito antes de Pedro Álvares Cabral chegar ao Brasil, a história da pesca em nosso
país, já havia iniciado. Era uma das fontes de subsistência das nações indígenas que viviam
em nosso território (DEAN, 1997). Mas, a história documentada registra a primeira pescaria,
quando Pero Vaz de Caminha escreve para o Rei de Portugal, anunciando a descoberta de
novas terras. Nesse primeiro documento a descrição da prática pelos índios Tupiniquim que
habitavam a região de Porto Seguro (SELLING JR., 1976):
(...) “E alguñs deles se metiam em almaadias duas ou três que
hy tijnham as quaaes nõ sam feitas como as que eu já vy. Soom sam
três traues atadas jumtas e aly se metiam iiy ou b on eses que
queriam nõ se afastando casy nada datrra se nõ quanto podiam
tomar pee”.
Trata-se de uma descrição de uma pescaria feita de cima de uma jangada.
Outras descrições são feitas ao longo dos séculos, até porque o novo mundo, também
trazia novidades em termos de capturas, petrechos e estratégias de capturas, além de espécies
desconhecidas. Vejamos as declarações dos cronistas do século XVI, sobre o ambiente e
espécies capturadas (in BUENO, 1999)
“Suas águas, de um azul translúcido, estavam repletas de ilhas
verdejantes. As margens, vestidas de matas e mangues, eram
pontilhadas por um colar de praias e enseadas de areias faiscantes.
Rios de águas escuras, transportando ricos sedimentos (...) chuvas
regulares e constantes (...) Quando o sol tornava a luzir em céu
límpido, a terra exalava aromas adocicados.”
As águas do mar e dos rios eram tão piscosas:(...) “O peixe é tanto
que vai de graça” - Francisco Pereira.
Eram garoupas, meros, pargos, xaréus, bonitos, dourados e
corvinas, além de dezenas de outras espécies, muitas das quais
desconhecidas dos portugueses.
Nos meses de maio, junho e julho, época da procriação, baleias
afluíam às águas tépidas (...) mais pareciam “carpas num viveiro”.
São quinhentos anos de miscigenação entre técnicas de capturas. Práticas indígenas,
outras trazidas pelos colonizadores e, mais tarde a contribuição do povo africano. Para SILVA
(1988) a história da pesca está relacionada à história dos povos oprimidos da sociedade
colonial – os negros e indígenas. Os índios, pelos conhecimentos mais aprofundados do
ambiente, forneceram a maior parte das técnicas e produziam as melhores redes e linhas para
pesca.
O regime de fome a que eram submetidos os negros, obrigava-os a busca de alimentos
nos manguezais e rios. Com uma condição melhor que as dos indígenas, que não se
aventuravam indo ao alto mar, os negros iam e, ainda, vendiam a sua produção aos Senhores,
sendo, na maioria das vezes, explorados por esses, SILVA (op.cit.).
No momento em que a pesca passou a ser uma atividade rentável, teve início uma série
de conflitos e, em muito deles, foi necessária a intervenção do estado. Um exemplo marcante
é citado por SILVA, op. cit., referente à explotação de estoques costeiros com uso de currais.
Isso significava o apoderamento de uma área de mar ou estuário e o emprego de mão de obra.
Além disso, a comercialização do pescado gerava riqueza que muitas vezes não era destinada
aos pescadores, mas àqueles que haviam se apoderado da área.
A história da pesca no Brasil, também passa pela captura de baleias, que apesar de ser
um mamífero aquático, empregava um sem número de pescadores, sempre de origem africana
(SELLING JR., 1976). Uma atividade que gerou muitos impostos para o estado brasileiro.
A Fig. 1, do início da
década de 10, século XX, na praia
do porto da Barra, exibe munzuás
(seta amarela) que são armadilhas
fixas para captura de peixes e
crustáceos. A sua confecção é feita
Figura 1 – Fotos de munzuás no porto da Barra, no início
do século XX. Foto Livro Vou pra Bahia – Marisa Vianna.
a partir de uma gramínea de nome vulgar cana-brava.
O tamanho dos munzuás está
relacionado ao tamanho do pescado a ser capturado.
Os munzuás, hoje termo empregado para designar uma série de armadilhas utilizadas
para captura de peixes e lagostas, podem ser encontrados em diversas localidades ao longo do
litoral. Em áreas de manguezal, munzuás de pequeno porte podem ser empregados para
captura de siris (Callinectes spp)
(inf. pess. QUEIROZ, 2007).
Munzuás com aquele porte,
ilustrado na foto do início do
século XX, no porto da Barra,
dificilmente são encontrados ao
longo do litoral de Salvador. São,
normalmente, de menor porte. Em
ambientes mais saudáveis e com
Fig. 2 – Foto de munzuá. Ilha de Itaparica – Conceição,
APA Recife das Pinaúnas. Foto Everaldo Queiroz(E.L.Q.), arquivo
Lab. de Nectologia .
um nível de captura de pescado,
ainda, considerado satisfatório pode-se encontrar tais armadilhas com aqueles tamanhos. Esse
é o exemplo dos munzuás fotografados na ilha de Itaparica, em setembro de 2007 (Fig. 2), na
localidade de Conceição – APA Recife das Pinaúnas.
Outro momento importante que
será tratado nesse trabalho, são as
tradições identificadas no sistema de
pesca. O desaparecimento de algumas
dessas tradições, foram citadas nos
depoimentos de alguns pescadores,
que também reclamam da queda na
Fig. 3 – Tradição em colocar a canoa para cima, com
uso de troncos de coqueiros. Foto Livro Vou pra Bahia – Marisa
Vianna.
produção do pescado. Uns atribuem essa queda as mudanças no ambiente, outros,
simplesmente, atribuem a depleção dos estoques a fenômenos religiosos. A verdade é que,
para nós, não poderá haver aumento na produção de pescado se algumas técnicas tradicionais
não forem resgatadas, bem como o uso sustentável das populações e a manutenção do
equilíbrio do ambiente.
As figuras 3 e 4 apresentam
uma
mesma
atividade
de
pesca,
representadas em épocas distintas,
pescadores com canoas em Amaralina.
Na Fig. 3, a qual a fonte de pesquisa
não registra a data em que foi tirada a
fotografia, observa-se a utilização de
Fig. 4 – Praia de Piatã. Final de jornada. A tradição de
levar a canoa para cima, sobre rolos, desta vez, tubos
de PVC. Foto E.L.Q.
troncos de madeira para “rolagem” da
embarcação para o supralitoral. Na
fotografia seguinte (ano 2002) em Piatã, observa-se o mesmo procedimeto, dessa vez com
utilização de tubos de PVC. Novos tempos, novos materiais. A tradição adaptada aos tempos
contemporâneos.
Não existirão trabalhadores do mar sem o seu produto – o pescado, tampouco sem os
seus etnoconhecimentos. A extinção de um, implicará, automaticamente, na extinção do
outro. Resta saber quem sucumbirá primeiro.
No entanto, uma das formas para minimizar os impactos sobre os sistemas são as
estratégias educativas com os princípios da educação ambiental. Para SORRENTINO (2005)
a educação ambiental é uma das ferramentas para o enfrentamento da crise civilizatória de
dupla ordem, cultural e social.
2 - INTRODUÇÃO
2.1 O ambiente
“Conhecida pelas suas belas praias, cantada em prosa e verso por diversos autores do
nosso cancioneiro popular, Salvador, ao longo de séculos, assistiu, incólume, a destruição de
seus ambientes costeiros urbanos, por uma expansão desenfreada e sem planejamento”
(QUEIROZ & COELHO, 2005).
Essa devastação teve início após o descobrimento do Brasil, com a ocupação
portuguesa, através da retirada e tráfego de pau-brasil, seguindo-se o ciclo agrícola da canade-açúcar, fumo, laranja e a expansão das ocupações para área do entorno da Baía de Todos
os Santos. Além da introdução de extensas pastagens e indústrias de celulose, o avanço
urbano e industrial limitaram a ocorrência da mata atlântica e seus ricos ecossistemas a
pequenas unidades de conservação (PDITS, acesso em: out. 2007).
Ao longo do litoral da cidade de Salvador, anteriormente ao processo de degradação
ambiental e ocupação urbana desenfreado, alternavam-se mangues, campos de dunas e
falésias, baías e estuários, recifes de coral, praias e costões rochosos, planícies intermarés e
outros ambientes importantes do ponto de vista ecológico (GEO BRASIL, 2002).
Um dos reflexos dessa degradação pode ser a depleção dos recursos pesqueiros, bem
como a promoção de desconexões do trabalhador do mar com o seu ambiente, um fenômeno
descrito por MARQUES (1995).
A questão acima citada inclui, também, a preocupação com a qualidade do pescado.
FRANCO-MONSREAL, et al. (2003) estudaram a contaminação de pescado, em cidades
mexicanas, registrando a presença de bactérias do gênero Vibrio, responsável por diversas
patogenicidades a humanos: gastroenterite aguda, septicemia primária, infecção do ouvido,
infecção de feridas e septicemia secundária.
Literalmente, os pescadores que atuam desembarcados no litoral da cidade de
Salvador, capturam e consomem pescados oriundos dos rios fétidos da capital que
desembocam na região costeira e onde, pelo menos 03 sedes de colônias de pescadores estão
instaladas, dividindo, com as fezes, um espaço de litoral.
Sobre as bacias hidrográficas costeiras situadas na orla marítima de Salvador, com
destaque para a bacia do rio Jaguaribe, foram identificadas cerca de vinte e uma famílias de
peixes e que compõem a captura das nove artes de pesca identificadas nessa região, em
entrevistas realizadas com dezessete pescadores que atuam na área. A identificação das artes
de pesca foi feita com auxílio do manual da FAO (1990), Queiroz & Coelho, op cit e Nilo &
Fig. 5. Algumas espécies explotadas nas pescarias do rio Passava que mesmo poluído ainda
serve para moradores da região como fonte de subsistência. Foto: E.L.Q.
Queiroz, (2004). Na Fig. 5 podemos observar algumas espécies explotadas no rio Passavaca.
A poluição industrial tem diminuído consideravelmente os recursos pesqueiros ou os
tornado inadequados para o consumo humano, pela presença de metais pesados. A ocupação
crescente da praia, margens de rios e estuários e de suas posses tem levado a uma expulsão
dos pequenos produtores para áreas sempre mais distantes de onde praticavam suas
atividades, o que vem reduzindo as possibilidades de sobrevivência dessas comunidades,
como também dos recursos pesqueiros (SCHAEFFER-NOVELLI,1989; DIEGUES, 1995).
Como conseqüência de construção de marinas e muros de concreto a beira das
lagunas, além da circulação constante de barcos motorizados, SCHAEFFER-NOVELLI
(op.cit.) coloca o comprometimento de certas áreas propícias á fixação de larvas de ostras, e
decorrente das instalações portuárias têm as lavagens dos porões de navios como outra fonte
poluidora. De igual importância com relação a essas pressões das populações urbanas e da
expansão urbana agrícola e industrial, quase sempre mal planejadas, são as mudanças físicas
produzidas nos habitats costeiros, em especial manguezal e recifes de coral. Para o sucesso de
qualquer área costeira é necessária administração de todo o ambiente associado.
Associados ao ambiente costeiro da cidade de Salvador podemos encontrar as bacias
hidrográficas, manguezais, dunas, vegetação de restinga e recifes de corais. Ecossistemas
consideravelmente impactados devido à ação antrópica como poderemos ver mais adiante
(PDITS, acesso: out.2007)
SANTOS (1999) analisa a relação entre a cidade do Salvador e as águas e assim a
descreve:
“Salvador é uma cidade envolta e entrecortada pelas águas. Circundada pela Orla
da Baía de Todos os Santos e pela Orla Atlântica, a cidade possui uma topografia
acidentada e clima intertropical que favorece a ocorrência de chuvas ao longo de
todo o ano, apesar de sua RM avizinhar-se do chamado polígono da seca,
conhecido pela baixa pluviosidade e pelos históricos conflitos em torno da
escassez de águas. Salvador é, portanto, privilegiada pela natureza, pela “fartura”
de um elemento cada vez mais raro, caro e, por isso motivo de conflito. Entretanto,
o processo de urbanização da cidade e os usos das águas (particularmente como
fonte de diluição de dejetos doméstico e industrial) comprometeram
profundamente seus principais corpos d`água, fazendo surgir abundância e
escassez. Neste caso, merece destaque o comprometimento da qualidade das águas
na Bahia de Todos os Santos, pelo lançamento de resíduos industriais e o
comprometimento dos principais corpos hídricos da cidade pelo lançamento de
dejetos de toda ordem. É este substrato de uma estreita vinculação entre águas e
pobreza urbana”
2.1.1 Bacias Hidrográficas
De acordo com o ATLAS DO MEIO AMBIENTE (2006), publicado pela Prefeitura
Municipal de Salvador, existe no município dez bacias hidrográficas (Fig.6). Seis destas estão
na região de estudo, a Jaguaribe, Pituaçu, Camurugipe, Pituba, Lucaia, Barra e Cidade Baixa.
Fig. 6. Mapa representando as 10 bacias que drenam o município de Salvador.
Imagem: Atlas do meio ambiente.
As bacias que drenam a região de estudo são:
1. A bacia da Barra está situada no extremo sul da cidade e deságua entre o farol
da Barra e Ondina.
2. A Lucaia tem como o principal rio o Lucaia e desemboca no bairro do Rio
Vermelho (Fig. 7).
a
b
c
Fig. 7. Transformação do rio Lucaia, com o morro do Conselho ao fundo, mostrado através da
pintura de Diógenes Rebouças do sec.XIX (DIÓGENES FILHO, 1985) - a. Atualmente o rio
encontra-se contaminado e descaracterizado, como se pode observar (b). Na sua foz está
localizada uma colônia de pescadores(c). Foto: Vanessa Lacerda de Queiroz (V.L.Q).
3. A bacia da Pituba apresenta rede de drenagem comprometida pela urbanização,
estando praticamente toda artificializada nos bairros de Amaralina e Pituba.
4. A Camurugipe (Fig. 8) tem como principal o rio de mesmo nome, desemboca
no Costa Azul, e juntamente com o rio Jaguaribe, são os que se encontram
mais degradados ao longo de toda sua extensão.
a
b
a
c
b
c
Fig. 8. Rio Camurugipe, em péssimas condições de conservação, passando em frente ao Parque
Costa Azul (a). Próximo a sua foz, está localizada um núcleo de pescadores (c), o qual na sua
frente percebe-se a cor negra das águas do mar. Fotos: E.V.Q. e V.L.Q.
Fig. 9. Núcleo de pescadores da Boca do Rio (a), localizado ao lado da foz do rio Pituaçu,
poluído, devido ao despejo de esgotos, como pode-se perceber pela cor da sua água e pela
presença de muitos urubus na região (b), do outro lado da foz está localizada a sede do Esporte
Clube Bahia (c). Foto: E.L.Q.
5. A bacia de Pituaçu é onde está localizada a represa e o Parque Metropolitano,
cujos nomes foram dados devido ao rio Pituaçu, principal rio da bacia. O rio
desemboca na praia da Boca do Rio, ao lado da sede do Bahia (Fig. 9).
6. Bacia do rio Jaguaribe é considerada a segunda maior bacia de drenagem
natural do município, aqui está localizado um grande fator de risco para os
mananciais que é o antigo Aterro de Canabrava; tem enorme importância
ecológica devido ao fato de aqui está situado um dos últimos remanescentes de
manguezal do meio urbano, o “Manguezal do rio Passavaca” (Fig. 10).
Fig. 10. Registros do manguezal do rio Passavaca, onde pode-se observar suas águas negras, nas
quais são despejados esgotos, mas ainda assim há resistência de árvores de mangue e flora
associada. Fotos: E.L.Q.
2.1.2 Manguezal
Os manguezais são ecossistemas costeiros, de transição entre os ambientes terrestres e
marinho, característicos de regiões tropicais e subtropicais, sujeitos aos regimes das marés;
são constituídos por espécies vegetais lenhosas típicas além de micro e macroalgas adaptadas
a flutuação de salinidade e caracterizadas por colonizarem sedimentos predominantemente
lodosos com baixos teores de oxigênio. Oferecem condições propícias para alimentação,
proteção e reprodução de muitas espécies, sendo considerados importantes transformadores na
ciclagem de nutrientes e matéria orgânica (SCHAFFER-NOVELLI, 1995).
Além destas relevantes características ecológicas, estes ecossistemas têm uma
histórica importância socioeconômica, uma vez que servem de sítios de pesca e mariscagem
para muitas comunidades ao longo da costa brasileira (SCHAFFER-NOVELLI & CINTRÓNMOLERO, 1999).
Os primeiros impactos neste ecossistema tiveram início entre 1500 e 1900
(SCHAFFER-NOVELLI, 1989), devido ao fato dos manguezais estarem localizados em áreas
protegidas, e fornecerem abrigo e alimento com fartura para os primeiros colonizadores do
Brasil.
Segundo a autora, a cidade de Salvador situa-se na unidade VI, para classificação dos
manguezais baseados na sua fisiografia, distribuídos ao longo do litoral brasileiro. Trata-se da
região compreendida entre o Recôncavo baiano e Cabo Frio (RJ). Cita alguns fatores que
contribuem para degradação das áreas de manguezal: Pólos químicos, metais pesados,
especulação imobiliária, portos e terminais, a pesca predatória, aterros, lixo, drenagem,
desmatamentos, aqüicultura, dentre outros.
DIEGUES (1975) atribui à especulação imobiliária como maior vilã na destruição da
vegetação de manguezal, nas baías de Guanabara, de Todos os Santos, de São José e de São
Marcos. A vegetação de mangue é importante área de reprodução de espécies de pescado.
Na área de estudo encontra-se apenas uma região onde o ecossistema manguezal está
presente em meio à área urbana, é o manguezal do rio Passavaca. Em trabalho realizado no
manguezal do rio Passavaca, SILVA E GOMES JR.(2003), observaram que um dos principais
problemas da destruição de manguezais, principalmente próximo a áreas urbanas, é a
utilização deste para construção de estradas e habitação. Associado a estes impactos ainda tem
as alterações do sistema de drenagem e barreiras hidrológicas. Foi observado que depois dez
anos de uma destruição devido à construção de um condomínio, houve uma recuperação da
área encontrando-se 260 árvores com tamanhos superiores a 3 metros de comprimento.
Concluiu-se, então, que a remoção de barreiras hidrológicas levaria a uma recuperação da
vegetação degradada.
SANTOS et.al. (2007) sobre o manguezal dos rios Passavaca e Jaguaribe, identificou
Fig.11. “Pescadores de esgotos”, mesmo em condições aparentemente inóspitas ainda são
encontrados pescados em rios completamente poluídos do litoral da cidade de Salvador, e
deles pessoas ainda tiram sua subsistência (Rio Passavaca). Foto: E.L.Q.
os tensores ambientais e seus impactos sobre a biodiversidade do local, observando, além
daqueles citados por SILVA E GOMES JR.(op.cit.), que grande parte desses tensores está
relacionada com a falta de infra-estrutura sanitária ao longo das bacias hidrográficas urbanas.
Existe a deposição de resíduos sólidos no sistema estuarino e a caça predatória das espécies
que compõem a fauna local. Mais recentemente, em 2005, o deslizamento do asfalto da av.
Otávio Mangabeira, comprometeu o sistema local no trecho da terceira ponte. Devido a tais
impactos ao longo dos tempos o manguezal do rio Passavaca perdeu 36 mil metros quadrados
de área, e, ainda assim, suporta uma biodiversidade significativa, fornecendo nutrientes para a
manutenção da teia trófica estuarina e servindo para subsistência de comunidades
circunvizinhas (Fig. 11).
2.1.3 Recifes de coral
Outro ecossistema de extrema importância são os recifes de corais, o qual a campanha
do Ministério do Meio Ambiente “Conduta Consciente em Ambientes Recifais” (CPRH,
acesso nov. 2007) ressalta a sua grande importância econômica, que associados aos
manguezais, representam a fonte de recursos pesqueiros para muitas comunidades, além
disso, protegem o litoral contra a ação das ondas, proporcionam empregos por meio do
turismo e recreação marinha, dentre outros benefícios aos seres humanos, incluindo fontes de
substâncias medicinais.
No nordeste do Brasil, cerca de 18 milhões de pessoas vivem na região costeira. A
saúde, bem-estar e em alguns casos, a sobrevivência dessas populações costeiras, dependem
diretamente da saúde e bem-estar dos ecossistemas costeiros em especial dos recifes de coral
(FERNANDES, 2001).
Os recifes de corais do Estado da Bahia constituem as maiores e mais ricas estruturas
recifais de toda a costa brasileira, sendo que a maior incidência é a região de Abrolhos, no
litoral sul do estado (LEÃO, 1996).
No município de Salvado (PDITS, acesso out. 2007) as construções coralinas se dão
na forma de incrustações nas rochas cristalinas de embasamento, largamente exploradas
através do mergulho contemplativo e pesca de espécimes de aquário, principalmente nas
regiões do Farol da Barra e Itapuã. Pouco exploradas são as ocorrências localizadas nas praias
da Pituba e Amaralina devido ao lançamento de esgotos nas proximidades. A fixação dos
corais esta diretamente ligada a quantidade de carbonato dissolvidos nas águas costeiras e
condições de luminosidade, que por sua vez esta relacionado à transparência da água e
profundidade, oxigenação e disponibilidade de nutrientes, além da relação com acidentes
geográficos situados sob a lâmina d`água a pequenas profundidades, cujas formas favorecem
sua incrustação e desenvolvimento.
Segundo FERREIRA & MAIDA (2006), no mundo todo se estima que a principal
causa de degradação dos recifes de coral é o desenvolvimento crescente e acelerado das zonas
costeiras e o excesso de explotação dos seus recursos. Este ecossistema é explotado desde séc.
XVII, quando era empregado em construções, hoje, a principal casa de sua destruição ao redor
das cidades com grandes populações, como ao redor das capitais dos estados, é devido,
especialmente, à poluição doméstica e a influências diretas da atividade humana. Devido a sua
proximidade da costa, esse ecossistema foi e ainda é explorado pela pesca artesanal e
comercial, somando-se a isto o turismo desenfreado e mais recentemente o desenvolvimento
da carcinicultura em áreas costeiras.
2.1.4 Dunas
As dunas protegem o litoral contra a ação erosiva das ondas, influenciam na evolução
morfológica da zona costeira, permitem a captação de água das chuvas alimentando lençóis
freáticos, o cordão dunar funciona como barreira hidráulica a cunha salina, impedindo que
salinize a água dos poços subterrâneo, além de possuir uma vegetação importantíssima para
fixação da areia, protegendo as áreas urbanas de soterramento (CABRAL, 1997 &
CARDOSO, 2003).
No município de Salvador as dunas distribuem-se espaçadamente nos bairros da
Pituba (resíduos no Parque Juventino Silva), Stiep/Costa Azul (presentes na altura da praia de
Armação, além das proximidades do Centro de Convenções do Estado da Bahia, local onde
anteriormente havia um amplo campo de dunas), no Imbuí (local onde a degradação de dunas
se deve a ocupação desordenada principalmente dos anos 80 e 90), em Itapuã( onde se
localiza o mais expressivo campo de dunas do município de Salvador, no interior encontra-se
o Parque Municipal do Abaeté) e finalmente em Piatã, onde ainda podemos perceber alguns
resquícios de dunas (Fig. 12) ( PDITS, op.cit.).
Fig. 12. Praia de Piatã, uma das poucas localidades do litoral de Salvador onde ainda pode-se
observar a presença de vegetação de restinga e dunas, estas com vegetação de fixação, e em
grande parte ocupada pela presença de barracas. Fotos: E.L.Q.
2.1.5 Restinga
A restinga é uma vegetação que se desenvolve ao longo da linha da costa, possuindo
características especiais por receber influência marítima e se desenvolver em solos
extremamente arenosos de baixa fertilidade (SANTOS et. al. 2002). Podem ser encontradas
na forma herbácea, a qual invade o coqueiral à beira mar, arbustiva, forma moitas
preferencialmente em grupamentos isolados, e vegetação arbórea, cobre áreas com maior
disponibilidade de água (PDITS, op.cit.).
A vegetação exerce papel fundamental para a estabilização do substrato no qual se
encontra, protegendo da ação do vento, que se constitui em importante agente modificador de
paisagem e mantendo a drenagem natural, bem como preservando a fauna residente e
migratória. Mesmo apresentando tamanha importância, este ecossistema tem sofrido crescente
impacto devido à especulação imobiliária, invasão de espécies exóticas e expansão de áreas
agropecuárias (SCHERER et.al. 2005).
Estando todos esses ecossistemas associados entre si e com o ambiente costeiro,
segundo SCHAEFFER-NOVELLI (1989) para o sucesso da área costeira é necessário
administração de todos esses ambientes associados.
2.2 - A pesca
WEIDEMAN (2004) comenta que a pesca é uma atividade praticada pelos humanos,
antes mesmo da era cristã, como fonte de sobrevivência dos povos indígenas.
A primeira questão básica a ser observada nesse trabalho é a definição do que é pesca.
Para subsidiar essa discussão existem diversos caminhos, um deles é o legal - LEI N°
9.605/98, in verbis:
(...)Art. 36 - Considera-se pesca todo ato de retirar extrair,
coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos de
peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios suscetíveis ou não
de aproveitamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de
extinção, constante nas listas oficiais de fauna e da flora.
Desde a antiguidade, a pesca constitui para a humanidade uma importante fonte de
alimentos e proporciona emprego e benefícios econômicos a quem se dedica a essa atividade.
Antes se considerava que os recursos aquáticos eram uma fonte ilimitada, mas após a segunda
guerra mundial, o desenvolvimento de conhecimentos e a evolução da dinâmica pesqueira
derrubaram este mito, sabendo-se que, mesmo sendo renováveis, os recursos aquáticos são
limitados (FAO, 1995).
A pesca é uma grande fornecedora de proteína animal para consumo humano, com os
recursos pesqueiros contribuindo com 12% destas proteínas (PAIVA, 1997).
A pesca pode ser classificada em quatro tipos principais: 1 - de subsistência, com único
propósito de alimentação; 2 - artesanal, cujo pescado é total ou parcialmente comercializado,
os pescadores podem ser os proprietários do barco e petrechos ou utilizá-los em sistema de
parceria com os proprietários, utiliza-se embarcações de pequeno ou médio porte, motorizadas
ou não, e os petrechos e insumos utilizados são relativamente simples, muitas vezes
confeccionados pelos próprios pescadores; 3 - pesca industrial é realizada por embarcações
maiores, com maior autonomia para operar a maiores distâncias da costa, apresentam sistemas
de mecanização a bordo para facilitar o manuseio dos petrechos, além de sistemas de
localização por satélite ou rádio-transmissores, os proprietários dos barcos podem ser
empresas ou indústrias de beneficiamento de pescado, normalmente atua sobre estoques
pesqueiros específicos e 4 - pesca amadora, é pratica com propósito de turismo, lazer e
esporte, o produto não pode ser comercializado ou industrializado (DIEGUES,1983; GEO
Brasil 2002).
DIEGUES (op cit.) ainda acrescenta que a pesca artesanal que é aquela realizada dentro
dos moldes de pequena produção mercantil, que comporta ainda os pescadores lavradores
(que tem a atividade pesqueira como evento ocasional). Tratando-se de uma pesca com
tecnologias de baixo poder de predação, empregando força de trabalho familiar ou do grupo
de vizinhança e cuja produção destina-se ao mercado.
No estado da Bahia, as pescas estuarino-marinhas mostram um grande predomínio da
produção artesanal, sempre superior a 90% do total de capturas (PAIVA, 1997).
Fatores oceanográficos e geomorfológicos definem os distintos nichos ecológicos e os
ciclos de reprodução, enquanto que as migrações das espécies de peixes determinam a
presença dos cardumes no local da pesca, ao mesmo tempo, as condições de mar e de tempo
atmosférico, imprimem o ritmo e a duração das pescarias, em especial daquelas de baixo
investimento tecnológico (CARDOSO, 1996).
No Brasil, a frota artesanal, ou de pequena escala, é constituída de 25.000 embarcações,
representando cerca de 90% da frota pesqueira total em operação no país. Suas limitações
quanto à autonomia do mar e à tecnologia de captura não permitem produção de grandes
volumes de pescado (GEO Brasil, 2002).
No sistema de produção artesanal, captura-se um elevado numero de espécies, o que
mais se acentua quando as pescarias se efetivam em águas tropicais, com grande diversidade e
pequena biomassa dos estoques explotados (PAIVA, op.cit.).
No Brasil, sem sombras de dúvidas, foram os índios que deixaram o maior legado em
práticas de pesca em rio e em mar, algumas dessas técnicas foram incorporadas pelos
africanos e europeus, que também deixaram suas contribuições, legadas de suas culturas e
civilizações. Existem registros da época colonial dos índios pescando com flechas, anzóis
presos a linhas e redes, além dos índios também utilizarem a arte do mergulho, na qual através
de peneiras e cabaças vazias uns mergulhavam, enquanto outros batiam na água, assustando
os peixes. Havendo ainda neste período a arte da mariscagem (SILVA, 1988).
As heranças indígenas relacionada às técnicas de pesca não param por aí, no período
colonial também se tem registros de jangadas e canoas utilizadas pelos pescadores (SILVA,
op.cit.).
Sobre a pesca, as pescarias e os pescadores que atuam no litoral da cidade de Salvador,
encontramos poucos dados que tratassem do tema e que pudessem oferecer um bom substrato
para elaboração de estratégias educativas voltadas para conservação sócio-ambiental. Não
obstante as instituições governamentais e não governamentais que têm a responsabilidade
institucional para tratar do segmento, ou que assim dizem fazer, informar ou divulgar ações
específicas para este assunto.
2.3 – Os trabalhadores do mar
DIEGUES et.al. (2001) define comunidades tradicionais como sendo grupos humanos
diferenciados sob o ponto de vista cultural, que reproduzem historicamente seu modo de vida,
de formas mais ou menos isoladas, com base na cooperação social e relações próprias com a
natureza. Um dos critérios mais importantes para a definição de culturas ou populações
tradicionais é sem dúvidas, reconhecer-se como pertencente àquele grupo social particular.
As práticas de pesca das comunidades marítimas são desenvolvidas em um ambiente
marcado pelo risco, mobilidade, e mudanças físicas. Os recursos naturais renováveis, em
particular as espécies de peixes são móveis e muitas vezes “invisíveis”, reproduzindo-se e
migrando de um ambiente a outro, obedecendo a complexos padrões de reprodução
(DIEGUES, 1995).
O pescador tem de adaptar-se ao meio em que atua, empregando uma determinada técnica
em função do tipo de pescado que ali ocorra, das características geográficas e
geomorfológicas do ambiente, e assim por diante (BRANDÃO, 2003).
O pequeno pescador utiliza a mão de obra familiar com grande experiência de nichos
ecológicos precisos, onde os petrechos de captura através de longos anos se adaptaram aquela
pesca (DIEGUES, 1983).
O mar para DIEGUES (1993) é um espaço de correntes perigosas, de ventos que mudam
de direção, de peixes que se deslocam e os pescadores, mesmo com os peixes no cesto, ainda
enfrentam a instabilidade do mercado.
A desorganização social dos pescadores artesanais é causada, na maioria das vezes pela
própria dinâmica do avanço do capital de outros setores da produção social capitalista (avanço
das indústrias poluentes e o conseqüente empobrecimento biológico do ambiente, das
imobiliárias, das empresas de colonização, das madeireiras, da expansão política, etc.), como
também pela articulação com a pesca empresarial capitalista, que busca nos pequenos
produtores, seja mão de obra para seus barcos, seja a oferta de produtos pesqueiros
(DIEGUES, 1995). Segundo o autor não só a desorganização social está relacionada a estes
fatores, como também a redução dos estoques pesqueiros, ambos diretamente relacionados,
uns com o outros. Lembrando que a pesca predatória realizada pelos barcos industriais nas
mesmas áreas costeiras onde os pescadores tradicionais trabalham é uma grande vilã.
Aliás, a expressão pesca predatória, por recomendação de QUEIROZ & SANTANA
(2001) deve ser substituída por pesca ilegal ou proibida, pois todo ser humano, por natureza
é um ser predador. Ademais, utilizando-se a expressão proposta, um ato indevido de pesca
passará a ser enquadrado no que dispõe a Lei no 9.605, que trata dos crimes ambientais.
MARQUES(1993) afirma que os pescadores tradicionais portam o “saber” e o “saber
fazer” relacionados com a estrutura e a função do(s) ecossistema(s) a que estão vinculados.
Saber e saber fazer, segundo CARDOSO (2001), vem de um conhecimento ancestral da
pesca, perpassando diversos momentos da história da humanidade e permanecendo ainda hoje
muito próximo da primeira lança que fisgou um peixe ou do primeiro gesto que extraiu e se
alimentou de uma ostra.
Quando o homem vive na dependência dos ciclos naturais, todo o seu tempo útil deve ser
utilizado para a produção dos meios de subsistência para si e sua família, havendo pouca
possibilidade de um excedente (DIEGUES, 1983).
A expansão das cidades, contudo, tem servido como um vetor capaz de destruir os laços
de tradição existentes nas comunidades tradicionais. E Salvador, parece não ter fugido a essa
regra e seguiu, em relação ao sistema de pesca, o mesmo padrão. Uma das formas para
minimizar os conflitos entre a depleção dos estoques pesqueiros e degradação da natureza,
devem ser as ações conservacionistas, elaboradas de forma participativa (BOECKMANN, et.
al., 2006). Infelizmente, o mesmo trabalho não aponta os conflitos gerados que contribuem
para destruir as tradições dos sistemas de pesca entre os pescadores. Os autores limitam-se a
apontar culpados, destacar projetos oficiais sem, contudo, tratar dessa questão, que
consideramos básica nessa trabalho – a destruição, por força do capital, das tradições entre os
pescadores.
Outro exemplo vem do estado do Ceará, praia de Pecém situada a oeste da cidade de
Fortaleza, onde a expansão do sistema urbano, principalmente, a construção de barragens,
alterou a paisagem local, interferindo diretamente, na tradição dos pescadores artesanais que
utilizam a jangada com meio de transporte em suas pescarias (VASCONCELOS & SILVA, in
Lemos, 1996). Destaca que o incentivo a ocupação desordenada nas dunas e a expansão dos
loteamentos, ou a omissão relativa a esses crimes, tem um custo muito elevado para o sistema
social como um todo, visto que exige investimentos muito elevados para correção. Os autores
destacam os problemas, mas, no entanto, tratam os seus reflexos sobre as comunidades
tradicionais de forma superficial. É uma abordagem com relação à expansão do turismo.
Outra visão, para o mesmo estado do Ceará, é apresentada por CORIOLANO, 1996 (in
Lemos, op cit.). O autor destaca que o turismo prejudicou, diretamente, as Colônias de
Pescadores,
nas
praias
de
Cumbuco
e
Icaraí,
comunidades de Balbino de Redonda. Comenta que a
absorção de uma cultura externa poderá contribuir para
deturpar e poluir a cultura local.
Um dos depoimentos
mais antigos sobre a
degradação do ambiente na Cidade do Salvador,
associado ao sistema de pesca, é feito pelo cronista Prof.
Luís Santos Vilhena, duzentos anos após Tomé de
Fig. 13: Rio das Tripas, trecho das
Sete Portas. Foto Livro Vou pra Bahia –
Marisa Vianna.
Souza ter escolhido o Rio Vermelho, a foz do rio das Tripas (Fig. 13) que percorria ao longo
da nossa cidade: “(...) já não possuía uma única fonte cuja água se pudesse beber”.
É lógico, alterações nos corpos aquáticos, produzem alterações nas comunidades ictías.
Esse pensamento é reforçado por CETRA, 2005 (In SCHIAVETTI & CAMARGO, 2005),
quando este declara que a integridade biológica de um ecossistema aquático é um reflexo de
seus componentes, por exemplo, a qualidade da água: turbidez, temperatura, oxigênio
dissolvido, química orgânica e inorgânica, metal pesado e substância tóxica. Podemos
imaginar que há, pelo menos, 300 anos as bacias hidrográficas, que banham a cidade de
Salvador, vêm sofrendo alterações capazes de contribuir para o empobrecimento da sua
ictiofauna. Além disso, é o Rio Vermelho, na atualidade, uma das áreas que conserva as mais
antigas tradições pesqueiras, conforme dados apresentados nessa monografia.
2.4 - Educação ambiental
As últimas décadas do século XX testemunharam a emergência da educação ambiental
como um novo campo de atividade e de saber que buscava reconstruir a relação entre a
educação, a sociedade e o meio ambiente visando formular respostas teóricas e práticas aos
desafios colocados por uma crise socioambiental global (COSTA LIMA, 2004).
O desenvolvimento da consciência ambiental em nível internacional pode ser traçado
ao longo das duas ultimas décadas, com base, em uma série de eventos, como as Conferências
de Estocolmo (1972) e a de Tbilisi (1977) que originaram as primeiras manifestações dentro
da Educação Ambiental. Gayford & Dorion(1994) destacaram também o Limite para o
Crescimento, o Relatório Brandt ( 1980), Estratégia Mundial de Conservação (1980), o
Relatório de Brundtland (1987) e mais recentemente a Agenda 21 (1992), realizada no Brasil.
Todavia, a Educação Ambiental, ainda continua caminhando lentamente no processo de
efetivar mudanças nas atitudes e comportamentos humanos em relação ao ambiente (SATO,
2004).
Segundo DIAS (1993), a evolução do conceito de educação ambiental acompanhou a
evolução do conceito de percepção de ambiente. Evoluiu de um enfoque mais ecológico no
sentido das ciências biológicas, para uma dimensão que incorpora as contribuições das
ciências sociais, fundamentais para a melhoria do ambiente humano.
Não se trata mais de garantir a preservação de espécies animais e vegetais e dos
recursos naturais, embora essas questões sejam importantes. O que deve ser considerado
prioritariamente, são as relações econômicas e culturais entre a humanidade e a natureza e
entre os homens (REIGOTA, 1994), possibilitando a participação política dos cidadãos, o que
é tratado por SORRENTINO et. al. (2005) , como uma prática de educação ambiental crítica e
emancipatória.
Segundo DIAS (op.cit.) é necessário se conhecer primeiramente os objetivos,
problemas, prioridades e valores de uma comunidade para que se pense no planejamento de
ações de educação ambiental não formal com maiores chances de sucesso. PELICIONI &
PHILIPPI JR.(2005) já afirmavam ser impossível mudar a realidade sem conhecê-la
objetivamente. Dessa forma, o desenvolvimento de um processo de educação ambiental
implica a realização de um processo de diagnóstico situacional, a partir do qual deverão ser
estabelecidos os objetivos educativos a serem alcançados.
Sem o conhecimento destes
objetivos, problemas e valores de uma dada comunidade, segundo DIAS (2003), torna-se
praticamente impossível praticar sem cometer gafes.
Em nosso país, é bastante preocupante o modo como têm sido desenvolvidas certas
atividades de educação ambiental não-formal. As estratégias que adotam o uso intensivo de
cartilhas, cartazes, folders e outros recursos do gênero, têm sido protagonistas de desperdícios
de recursos financeiros, freqüentemente públicos, e de lamentáveis fracassos. A fonte de erros
tem sido a mesma: planejar sem o devido conhecimento do perfil da comunidade e seu
respectivo metabolismo (SCATENA, 2005).
A manutenção e elevação da qualidade ambiental das cidades é responsabilidade de
vários órgãos governamentais de ação federal, estadual e municipal, das instituições
privadas, ao cumprir a legislação ambiental e da comunidade, ao acionar os instrumentos
legais de participação comunitária, para observação de seus direitos constitucionais
(DIEGUES, 1993).
A comunidade deve estar organizada para fazer valer seus direitos, segundo DIAS
(1993), dentro da legislação, a forma mais eficiente de organização comunitária é a inserção
de mecanismos associativos.
É condição sine qua non na educação ambiental diálogo entre gerações e culturas em
busca da cidadania brasileira e planetária (REIGOTA, 1994).
Na carta de Belgrado, foram definidos seis objetivos indicativos da educação
ambiental: 1) Conscientização, 2) Conhecimento, 3) Comportamento, 4) Competência, 5)
Capacidade de avaliação, 6) Participação (REIGOTA, op.cit.). Elementos que devem ser
observados na construção de projetos com esse fim.
Trata-se de se estabelecer relação de causa e efeito dos processos de degradação com a
dinâmica dos sistemas sociais (PELICIONI & PHILIPE JR., 2005).
No Brasil, desde agosto de 1981, quando foi sancionada a lei n. 6.938, que dispõe
sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, incluindo as finalidades e os mecanismos de
formulação e execução, a educação ambiental foi considerada um de seus alicerces, devendo
se voltar a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, a fim de capacitála para a participação ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL, 1981).
A Lei Federal n. 9.795, de 27 de abril de 1.999 (BRASIL, 1999), que dispõe sobre a
Política Nacional de Educação Ambiental, apresenta a seguinte definição in verbis:
“(...) Art. 1o - Como processos por meios dos quais o
indivíduo e a coletividade, constroem valores sociais e habilidades,
atitudes e competências voltados para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum e do povo, essencial à sadia qualidade
de vida e sua sustentabilidade.
Coloca a questão da interdisciplinaridade metodológica e epistemológica, quando
enfatiza que todos têm o direito à educação ambiental:
(...)Art. 2o – A educação ambiental é um componente
essencial e permanente da educação nacional, que deve ser exercido
de forma articulada em todos os níveis e modalidades de ensino,
distinguindo o caráter formal do caráter não formal.
Sendo responsabilidade do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), do
Sistema Educacional, dos meios de comunicação de massa, do Poder Público, das empresas,
entidades de classe, instituições públicas e privadas e da sociedade de uma forma geral. Em
seu art. 5°, a lei estabelece entre outros objetivos fundamentais:
(...)I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do
meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo
aspectos ecológicos,
psicológicos legais, políticos, sociais,
econômicos, científicos, culturais e éticos;
(...) IV - incentivo a participação individual e coletiva,
permanente e responsável na preservação do equilíbrio do meio
ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um
valor inseparável do exercício de cidadania;
(...) VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos
povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da
humanidade.
CARVALHO (2004) trata de uma educação imersa na vida, na história e nas questões
urgentes de nosso tempo; a educação ambiental acrescenta uma especificidade: compreender
as relações sociedade/natureza e intervir sobre os problemas e conflitos ambientais. Nesse
sentido, o projeto pedagógico de uma educação ambiental crítica seria o de contribuir para
uma mudança de valores e atitudes, contribuindo para a formação de um “sujeito ecológico”.
Ou seja, formação de indivíduos e grupos sociais capazes de identificar, problematizar e agir
em relação às questões socioambientais, tendo como horizonte uma ética preocupada com a
justiça social.
Algumas formulações que expressam possíveis pretensões de uma educação
ambiental crítica são colocadas por (CARVALHO, op. cit.):

Promover a compreensão dos problemas socioambientais em suas múltiplas
dimensões: geográficas, históricas, biológicas, sociais e subjetivas; considerando um
ambiente como o conjunto das inter-relações que se estabelecem entre o mundo
natural e o mundo social, mediados por saberes locais e tradicionais, além dos saberes
científicos;

Contribuir para a transformação dos atuais padrões de uso dos bens ambientais em
direção a formas mais sustentáveis, justas e solidárias de vida e de relações com a
natureza;

Formar uma atitude ecológica dotada de sensibilidades estéticas, éticas e políticas,
sensíveis a identificação dos problemas e conflitos que afetam o ambiente em que
vivemos;

Implicar os sujeitos da educação com a solução ou melhoria desses problemas e
conflitos através de processos de ensino aprendizagem formais e não-formais, que
preconizem a construção significativa de conhecimentos e a formação de uma
cidadania ambiental;

Atuar no cotidiano escolar e não escolar, provocando novas questões, situações de
aprendizado e desafios para a participação na resolução de problemas procurando
articular as escolas com os ambientes locais e regionais onde estão inseridas;
O público da Educação Ambiental Crítica é a sociedade constituída por seus atores
individuais e coletivos, em todas as faixas etárias (GUIMARÃES, 2004), já que se
considerando a gravidade da crise ambiental para a manutenção da crise no planeta, não há
como se pensar em um público privilegiado a qual a educação ambiental deva se destinar.
A Educação Ambiental Transformadora começou a se configurar nos anos de 1980,
pela maior aproximação de educadores, principalmente envolvidos com educação popular e
instituições públicas de educação, junto aos militantes de movimentos sociais e ambientalistas
com foco na transformação societária e no questionamento radical dos padrões industriais e de
consumo consolidados no capitalismo (LOUREIRO, 2004). Nascendo dessa forma articulada
com o avanço do conhecimento e com instrumentos legais disponíveis no país, que
proporcionaram condições para a consolidação de novas práticas e teorias inseridas no escopo
da educação ambiental.
Em termos de apresentação de procedimentos metodológicos que permitem trabalhar
com tal método, LOUREIRO (op cit.) afirma que as metodologias participativas são as mais
propícias ao fazer educativo ambiental, gerando dessa forma a interação entre os diferentes
atores sociais na definição de um espaço comum e do destino coletivo. Participar é promover
a cidadania, entendida como “sujeito-histórico” oprimido.
Os objetivos norteadores das metodologias participativas para a Educação Ambiental
Transformadora são assim propostos:

Conduzir a ação educativa no sentido do crescente comprometimento com a
democracia, o exercício da cidadania e melhoria da qualidade de vida,
recolocada dentro de parâmetros compatíveis com a justiça social, a
distribuição eqüitativa dos bens socialmente produzidos e com a consolidação
de uma ética de vida que respeite as especificidades culturais e as identidades
dos grupos sociais;

Conduzir os problemas de educação de maneira integrada, em processo
participativo das forças sociais locais, numa perspectiva de educação
permanente, a partir da formação de uma consciência crítica;

Conduzir a ação educativa de modo a apoiar e estimular a manifestação de
indivíduos e grupos na transmissão e recriação do patrimônio cultural;

Vincular os processos educativos com outras práticas sociais, particularmente
com as atividades econômicas e políticas.
O que significa que a Educação Ambiental Transformadora deve atuar em espaços
formais e não formais de educação, tendo em vista a proximidade da escola à comunidade em
que se insere e atende, pelo planejamento integrado de atividades curriculares e extracurriculares, pela construção coletiva e democrática do projeto pedagógico e pela vinculação
das atividades de cunho cognitivo com as mudanças das condições objetivas de vida.
Cada uma das diversas esferas que compõem a sociedade- o Estado, as empresas as
ONG´s e os movimentos sociais e os segmentos internos a cada uma dessas esferas- tem um
interesse, uma concepção e uma proposta de encaminhamento para a crise ambiental que são
diferentes entre si. Isso compõe o conflito e a luta pelo poder. É dessa luta pelo controle,
gestão e apropriação dos recursos naturais que é feita a crise ambiental (COSTA LIMA,
2004).
A existência de determinado risco ou dano ambiental (contaminação hídrica, pesca
proibida, aterramento de manguezais, etc.), para ser compreendida em sua totalidade, deve ser
analisadas a partir de inter-relações de aspectos que qualificam as relações na sociedade
(econômicas, políticas, sociais, éticas, culturais, etc.), com os aspectos próprios do meio
físico-natural. Tudo isso sem perder de vista que outras ações sobre o meio físico natural
podem gerar novas conseqüências sobre o meio social (QUINTAS, 2004). A questão básica
a
b
c
a
Fig. 14. Conflito de competência e interesses instalado. De um lado os esgotos lançados no rio
Camurugipe, no Costa Azul, canalizados pelo poder público (a). Do outro, a foz do mesmo
rio, a sede de uma colônia de Pescadores (b) e no mar, o cenário da pescaria: a contaminação
(c). Fotos: E.L.Q.
que aqui será discutida refere-se ao sujeito ativo atuante nessa questão. Quando é o pescador,
foco e tema do trabalho, e quando é o Poder Público, responsável pelas políticas públicas até
então vigente.
Para ilustrar esse processo dicotômico, onde encontrar o responsável? Vide a Fig. 14,
onde a degradação de rios convive, “harmonicamente”, com as sedes das Colônias de Pesca,
desde Itapuã até o Rio Vermelho. Indagamos quem é o responsável pela depleção dos
estoques pesqueiros nessa região: os pescadores ou o Poder Público que ao longo dos tempos
não cuidou do equilíbrio nesses sistemas costeiros, inclusive, contribuindo para o
desaparecimento dos manguezais na orla marítima de Salvador?
Privilegiar somente um dos aspectos que formam a nossa espécie, por exemplo,
separar o social do ecológico, é reducionismo, o que pouco contribui para uma visão
integradora e complexa de mundo (LOUREIRO, 2004). Sendo assim, a educação ambiental
nasce como um processo educativo que une o saber ambiental com valores éticos e regras
políticas de convívio social e de mercado, relacionando benefícios e prejuízos da apropriação
e uso da natureza. Trata-se de construir uma cultura ecológica que compreenda natureza e
sociedade como dimensões intrinsecamente relacionadas e que não podem mais ser pensadas
— seja nas decisões governamentais, seja nas ações da sociedade civil — de forma separada,
independente ou autônoma (CARVALHO, 2004).
Um dos processos na atividade que pode, e é recomendado, ser aplicado, envolve
técnicas de educomunicação sócio-ambiental, sendo esta, difusa, de massa, com uso de meios
de longo alcance. (SORRENTINO et.al., 2005).
O sistema de pesca envolve os conhecimentos de uma coletividade, que, na maioria
das vezes, está dispersa ao longo de uma área – os trabalhadores do mar, que por sua vez
podem possuir conhecimentos distintos, relacionados pelos próprios mecanismos de dispersão
e pertencimento local. A pesca, por sua vez trás em si, as questões que causam impactos ao
meio, que pode resultar em práticas proibidas, a exemplo das pescarias realizadas com uso de
explosivos para confecção de bombas e as substâncias químicas e depende de políticas
públicas para seu ordenamento. O desafio é estabelecer mecanismos onde o objetivo maior
seja a manutenção do equilíbrio do meio, capaz de sustentar as práticas extrativistas que, por
fim, garanta a perpetuação das espécies inclusive a humana. Isso tudo de forma participativa e
integrativa.
Uma das saídas para tal problemática, é a descrição e o entendimento das interrelações do sistema de pesca local. Buscando-se a similaridade entre áreas, ou dissimilaridade
entre elas, que poderá ajudar na compreensão das estruturas locais e tradicionais, podendo-se
assim estabelecer estratégias educativas, de forma participativa, respeitando-se as diferenças
regionais, conforme exige a Lei nº 9.795 (BRASIL, 1999). Uma das técnicas propostas é a
análise de cluster.
PERONI (2002) utilizou a análise de cluster em estudos de etnobotânica por entender
que o emprego de análises multivariadas é importante, principalmente, quando tratamos de
variáveis que expressam alguma relação entre o homem e o ambiente.
As técnicas de agrupamento demonstram interdependência entre variáveis, estando em
função da escolha adequada do conjunto, bem como do processo que promoverá
estatisticamente o agrupamento e que tipo de distância será empregado para descrever o nível
de inter-relação entre os grupos separados (ROSES, 2002).
O autor acima citado utilizou análise de agrupamento em busca de conhecimentos
sobre as condições sócio-econômicas de municípios gaúchos.
Em estudo de pesca FREITAS – NETTO & DI BENEDITTO (2007) descrevem as
pescarias no estado do Espírito Santo associando suas espécies-alvo e portos onde são
empregadas. E baseado em análise de agrupamento, tendo as artes de pesca como variáveis,
chegou à conclusão que a grande variedade de artefatos deve-se a diversidade das espéciesalvo.
Por fim, a própria comunidade dos trabalhadores do mar, reunidos em conferências
nacionais sobre pesca e aqüicultura requerem dos poderes públicos práticas educativas para
conservação ambiental, tendo plena percepção que tais atividades trazem benefícios para a
produção pesqueira. O que está proposto nas resoluções:
A - I CONFERÊNCIA NACIONAL DE AQÜICULTURA E PESCA (2003).
“(...) Medidas que estimulem a preservação de ecossistemas, de
1.
manguezais, complexos estuarinos e áreas de cultivo, estabelecendo uma legislação
que assegure o bom uso dos recursos hídricos, o combate aos crimes ambientais e a
despoluição das bacias hidrográficas, incentivando planos de gestão e fiscalização
participativa.”
B - II CONFERÊNCIA NACIONAL DE AQÜICULTURA E PESCA (2006).
“(...) Resolução 496. Implantar programas de educação ambiental formal para
1.
os Pescadores (as) e aqüicultores (as) e agentes de extensão e assistência técnica,
incluindo disciplinas nas escolas e realização de cursos em comunidades, devendo
ser priorizado o financiamento para essas iniciativas.”
Aqui um equívoco é registrado, a educação ambiental, segundo a lei n° 9.795, não
pode ser uma disciplina e sim ações transversais e interdisciplinares.
C - I ENCONTRO NACIONAL DAS TRABADORAS DA PESCA E
AQÜICULTURA (2004)
1.
“(...) Realizar campanha nacional de documentação de mulheres pecadoras e
aqüicultoras, de forma itinerante.”
2.
“(...) Realizar o zoneamento ecológico e sócio-econômico, assim como a
regularização fundiária nas comunidades pesqueiras antes de qualquer nova
concessão de autorização para implantação e/ou incentivos para ampliação de
novos projetos na aqüicultura e pesca .”
3.
“(...) Divulgar amplamente as informações sobre os direitos e deveres
previdenciários e trabalhistas dos pescadores e pescadores, aqüicultores e
aqüicultoras familiares em linguagem apropriada através de palestras, cartilhas
e cursos.”
D - FÓRUM PERMANENTE DE DISCUSSÃO DE PESCA SOBRE A PESCA NO
ESTADO DA BAHIA (2007)
1.
“(...) Fazer cumprir as atuais leis de defeso de espécies e sugerir outras,
articulando estratégias e promovendo ações para este fim.”
2.
“(...) Evitar os grandes projetos com impactos diretos e/ou
indiretos sobre os territórios de povos tradicionais e quando inevitáveis, garantir o
controle e gestão participativa em todas as fases de implementação, minimizando
impactos sociais ambientais”
3.
“(...) Incentivar, qualificar, capacitar e modernizar as instituições
representativas dos pescadores em relação a suas práticas de gestão associativistas e
participativas.”
De forma geral o que propõem os pescadores brasileiros ajusta-se ao que recomenda o
código de conduta responsável (FAO, 1995):
1.
“(...) Todos os habitats críticos para a pesca nos ecossistemas
marinhos e de água doce, como as áreas úmidas, os manguezais, os recifes, as lagunas,
as zonas de cria e desova, deveriam ser protegidos e reabilitados na medida do
possível e quando necessário. Deveria-se pôr especial empenho em protegê-los da
destruição, da degradação, da contaminação e outros efeitos significativos das
atividades humanas que constituem um risco para a saúde e viabilidade dos recursos
pesqueiros.”
“(...) Os Estados em conformidade com os procedimentos
2.
adequados, deveriam facilitar a consulta e a efetiva participação da indústria,
trabalhadores da pesca, as organizações ambientalistas e outros interessados, na
tomada de decisões que dizem respeito à elaboração de normas e políticas
relacionadas à ordenação e desenvolvimento pesqueiros e a crédito e a ajuda
internacionais.”
“(...) Reconhecendo a importante contribuição da pesca
3.
artesanal e em pequena escala para o emprego, o ingresso e a segurança alimentar, os
Estados deveriam reconhecer os direitos dos trabalhadores e pescadores,
principalmente aqueles que se dedicam a pesca de subsistência, artesanal e em
pequena escala, a um sustento seguro e justo, e proporcionar acesso preferencial,
quando proceder, aos recursos pesqueiros que explotam tradicionalmente assim como
as zonas tradicionais de pesca nas águas da jurisdição nacional.”
O que é importante nesse momento é associar o que querem os trabalhadores do mar e
que instrumentos os poderes possuem e torna-os disponíveis, para implementar ações que
promovam a conservação sócio ambiental.
Com relação a base conceitual construída neste trabalho, abaixo estão esclarecimentos:
SISTEMA DE PESCA – Aplica-se a essa expressão o entendimento de tudo que está
relacionado à pesca, aos trabalhadores do mar e a administração pesqueira, podendo ser assim
destacado:
1 – Pesca
Envolve:
A – O ambiente
B – Os petrechos e artes de captura
C – As capturas
2 – Trabalhadores do mar
3 – Administração pesqueira
PETRECHO – Tudo aquilo que os trabalhadores do mar empregam para garantir a
captura de alguma espécie. Desde a sua embarcação até o anzol.
ARTE DE PESCA – Forma específica de uso de um determinado petrecho. Por exemplo:
a linha é um petrecho para captura de diversas espécies de peixes. Ela pode ser empregada
com linha de mão ou na forma de grozeira (espinhel), sendo estes usos classificados como
artes de captura. Da mesma forma as redes. Rede é o petrecho, ser de caída, tarrafa, espera ou
caçoeira é a forma, ou seja, a arte de pesca.
TRABALHADORES DO MAR – Com base no I ENCONTRO Nacional das
Trabalhadoras da Pesca e Aqüicultura (2004) são todos aqueles que extraem recursos vivos do
meio aquático, de acordo com o art. 36 da Lei 9.605, que trata dos crimes ambientais.
Incluindo aqui aqueles que de alguma forma participam do beneficiamento do pescado.
ADMINISTRAÇÃO PESQUEIRA – Envolve o segmento que trata da legalidade da
pesca, conservação, fiscalização, associativismo, pesquisa, ensino e extensão.
3 - OBJETIVOS
Todos os objetivos aqui tratados referem-se ao litoral da cidade de Salvador, no trecho
compreendido da enseada dos Tainheiros, na Ribeira, até a rua K, em Itapuã.
3.1 – Gerais
Propor ações educativas em busca da melhoria da qualidade ambiental e de vida dos
trabalhadores do mar, visando à sustentabilidade do sistema de pesca do litoral da cidade de
Salvador.
3.2 – Específicos
1. Caracterizar o ambiente costeiro na cidade de Salvador;
2. Identificar os tensores ecológicos sobre o ambiente de pesca ao longo do litoral;
3. Descrever as artes e petrechos de pesca utilizados pelos trabalhadores do mar;
4. Caracterizar as embarcações utilizadas nas pescarias;
5. Descrever as pescarias aqui praticadas;
6. Identificar as espécies explotadas pelas pescarias;
7. Desenvolver técnica para desenvolvimento da ação de Educação Ambiental a
partir dos agrupamentos gerados pela análise de cluster;
8. Identificar as ações de Educação Ambiental em instituições públicas e ONG´s
envolvendo pescadores do litoral da cidade de Salvador
9. Criar um banco de imagens sobre pesca, pescadores e pescarias existentes ao longo
do litoral soteropolitano e
10. Sugerir ações de Educação Ambiental para os trabalhadores do mar dessa região,
bem como para as instituições envolvidas no sistema pesca em nosso Estado.
11. Contribuir para a construção do PDDU, incluindo as sugestões sobre o sistema de
pesca em Salvador.
4 - METODOLOGIA
O presente trabalho foi desenvolvido no período de junho a novembro de 2007, com
visitas ao longo do litoral da cidade de Salvador, na região compreendida entre a Enseada dos
Tainheiros, na Ribeira (12°54’O, 38°29’O), até a praia de Itapuã, Rua K (12°57’S, 38°21’O),
onde está situada a colônia Z6, com o objetivo de identificar temas para sucesso de ações de
Educação Ambiental (E.A.), em conformidade com o que está previsto na Lei n° 9.795, de 27
de ABRIL de 1999 (BRASIL, 1999), ações de EA formal e não-formal.
As fotografias utilizadas foram feitas com as câmaras digitais SONY DSC – S600 e
foram também retiradas do arquivo do Laboratório de Nectologia. Enquanto que as entrevistas
realizadas foram gravadas em aparelho de MP3 PLAYER DVR SONY, com prévia
autorização dos entrevistados para que os dados fossem utilizados nesta pesquisa.
.1 Área de estudo
A área de estudo escolhida apresenta ambientes costeiros diversificados e fortemente
antropizados, a exemplo de: manguezais, ambientes recifais, rios, restingas, e praias.
A região foi dividida em 12 áreas, e quando necessário dividiu-se em sub-áreas, com
finalidade didática, devido a extensão do trecho ou especificidade envolvendo a pesca. Foram
assim denominadas, em função das praias ou bairros com nomes oficiais ou já consagrados
pelo uso:
1.
Itapuã
7.
Hotel Pestana/ Pedra da Sereia
2.
Piatã/ Passavaca
8.
Pedra da Sereia/Farol da Barra
3.
Passavaca/ Boca do Rio
9.
Farol da Barra/ Comércio
4.
Boca do Rio/ Costa Azul
10.
Comércio/ Monte Serrat
5.
Costa Azul/ Amaralina
11.
Monte Serrat/ Penha
6.
Amaralina/ Hotel Pestana
12.
Enseada dos Tainheiros
Levamos em consideração a localização geográfica, características do ambiente,
ocupação humana, organização dos pescadores e tipos de pescarias desenvolvidas na região
de estudo.
Essas áreas foram delimitadas a partir de imagens feitas por satélite, obtidas a partir
do programa Google Earth. Para captura de imagens foi utilizado o programa Corel Capture,
sendo essas imagens posteriormente transformadas para o formato jpeg.
A região de estudo encontra-se representada na Figura 15.
12
11
2
3
1
10
4
5
6
9
8
7
Fig. 15. Área compreendida entre A rua K (1), Itapuã até a Enseada dos Tainheiros (12).
Google earth.
4.2 O ambiente
As áreas foram descritas e caracterizadas, observando-se a presença de vegetação,
praias, rios, as bacias hidrográficas e ocupação humana, para identificação dos tensores
ecológicos geradores de pressão sobre o ambiente, capazes de interferir na sustentabilidade da
pesca no litoral da cidade de Salvador.
Nenhum tipo de parâmetro hídrico foi amostrado nesse estudo, pois extrapolavam os
objetivos, inicialmente, propostos.
4.3 A pesca, as pescarias e os trabalhadores do mar
Foram realizadas 32 entrevistas, com os pescadores e marisqueiras que foram
encontrados na área de estudo e que se disponibilizaram a conversar com o entrevistador. Os
dados foram obtidos através de aplicação de questionário semi-estruturado ou abertos, não
ultrapassando o período de duas horas.
As entrevistas foram, posteriormente, transcritas.
O questionário aplicado segue em anexo (A).
As informações coletadas incluíram informações sobre: o modo de vida dos
trabalhadores do mar, as embarcações empregadas, as artes de pesca utilizadas, as espécies
explotadas, a sua relação com o ambiente, além do conhecimento sobre os projetos de
educação ambiental, quando existissem.
Classificamos os pescadores pescarias e embarcações de acordo com o modelo
sugerido para a gestão da pesca (QUEIROZ, 2007), representado na Fig. 16, o que altera
aquele proposto pelo Lab. de Nectologia, no Fórum de Discussão Permanente sobre a Pesca
no Estado da Bahia, vide anexo B.
Administração dos estoques
Gestão Pesqueira
PESCADOR (A)
Direitos e deveres
Etnobiologia
Organização
Colônia
Condição
Embarcado
Embarcações
Desembarcado
Propulsão
Associação
Rede
Catador de carangueijos
Cooperativa
Linhas
Marisqueiras
Sindicato
Armadilhas
Catadeiras
Desfiadeiras
Remo
Vela
Motor
Tamanho
Pinauneiras
Pesca com vara
Sem molinete
Com molinete
Pesca com linha de mão
Molilata
Redes
Mergulhador
Embarcado
Apnéia
Desembarcado
Autônomo
Fig. 16: Modelo modificado neste trabalho a partir do modelo sugerido para
gestão de pesca proposto pelo Lab. de Nectologia no Fórum Permanente de
Discussão da Pesca Estado da Bahia.
A identificação e descrição das artes e petrechos de pesca, assim como das
embarcações foram realizadas a partir dos depoimentos dos próprios pescadores, observação
direta em campo e com auxilio do documento técnico da FAO (NÉDÉLEC& PRADO, 1990)
e Boletim Estatístico da Pesca Marítima e Estuarina do Nordeste do Brasil – 2004 (CEPENE,
2005).
Os nomes das embarcações foram anotados em busca de conexões com diversos temas
da vida cotidiana dos pescadores. Essas conexões foram estabelecidas, a partir dos nomes dos
saveiros da baía de Todos os Santos, relacionados por SELLING, JR (1976) e
SMARCEVSKI (1996).
Foram feitas fotografias de embarcações e artes e petrechos para continuidade do
arquivo de imagens do Laboratório de Nectologia do Instituto de Biologia da Universidade
Federal da Bahia. No futuro estas imagens formarão um BANCO DE DADOS DA
ICONOGRAFIA DO SISTEMA DE PESCA NO LITORAL DA CIDADE DE SALVADOR,
anexado a este trabalho e disponibilizado pela internet.
As espécies de peixes fotografadas foram identificadas, pela professora Virginia
Guimarães Almeida, da Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC.
Entrevistas semi-estruturadas e abertas foram conduzidas junto aos representantes de
instituições públicas e ONG`S, vide anexo C. A escolha foi baseada em ações desenvolvidas
com pescadores do litoral da cidade de Salvador, principalmente com foco voltado para a
Educação Ambiental. O propósito foi em se fazer uma avaliação dos projetos desenvolvidos
pelas mesmas.
As instituições públicas que tiveram representantes entrevistados foram:
1. IBAMA
2. SEMARH
3. SEAP
4. BAHIA PESCA
5. Prefeitura de Salvador
As ONG`s foram avaliadas, a partir de visitas aos sites:
1. MAMA
2. BALEIA JUBARTE
4.4 Análise de “cluster”
A partir de análise qualitativa dos dados, presença e ausência, foram utilizados
métodos de classificação ou agrupamento, comumente denominados de métodos de “cluster”.
Procurou-se agrupar as características referentes à pesca para, a partir daí, propostas de
ações de educação ambiental serem elaboradas. Considera-se, neste trabalho que as pescarias
não estão distribuídas de forma uniforme, e sim, cada região apresenta as suas peculiaridades,
devendo-se assim, ser levadas em consideração.
Uma vez preenchidas as planilhas, essas servirão de base para elaboração das matrizes
que, por presença e ausência dos tipos de artes de pesca, serão aplicadas técnicas de cluster
analysis, visando estabelecer (dis) similaridades, a partir das distâncias euclidianas.
Buscando-se estabelecer padrões de tradicionalidade pelas artes empregadas.
Utilizou-se o método SAHN.
Sendo assim, para o cálculo das dissimilades (distâncias) entre variedades, utilizado
um
coeficiente
denominado
de
dissimilaridade
“Distancia
Euclidiana
Simples”, que calcula a distância entre
pares de objetos. O agrupamento destes
objetos foi produzido através do método
de aglomeração denominado de “Método
de Ward”.
Nessas localidades foram identificadas as artes de pesca tradicionais relacionadas por
localidades, conforme as planilhas em anexo.
Baseada na classificação proposta pela FAO (1999) foram formuladas três planilhas
(anexos D, E e F) todas com as 12 unidades amostrais (áreas), tendo como variáveis as artes e
petrechos de captura. Porém, cada planilha diferiu da outra pelo agrupamento das variáveis.
Na primeira planilha, com 32 variáveis, foram consideradas as especificidades das
artes e petrechos de pesca em cada região, mesmo se a classificação da FAO sugerisse a
mesma identificação para cada uma delas. A segunda planilha, com 20 variáveis, algumas
artes foram suprimidas ou agrupadas por outras, devido as suas semelhanças, em termos de
nomenclatura: por exemplo: linha de mão para captura de GERREIDADE na Ribeira e o
mesmo petrecho para captura de CARANGIDAE em Ondina. Sendo considerada como uma
planilha intermediária. Finalmente na terceira planilha considerou-se apenas 16 variáveis,
generalizando-se ainda mais as artes e os petrechos em comparação com a primeira e segunda
planilha, levando-se em conta, estritamente, a classificação da FAO.
5 - RESULTADOS
5.1 O Ambiente
A região de estudo é fortemente antropizada, sendo identificados os seguintes
tensores, capazes de promover alterações no ambiente, geradores de tensores, com reflexos
negativos sobre o sistema da pesca, baseado em SCHAEFFER-NOVELLI (1989):
1. Destruição de áreas de manguezal
2. Destruição da restinga
3. Perda total da qualidade da águas dos rios
4. Desmatamento da mata Atlântica, restando alguns fragmentos em forma de
UC`s
5. Ocupação desordenada, em todo trecho de estudo
6. Uso do ambiente de praia para construção de barracas, com objetivo de
comércio de alimentos e bebidas
7. Pesca com uso de bombas
8. Contaminação por metais pesados
9. Tráfego de embarcações de pequeno e grande porte
10. Localização do porto de Salvador
11. Aterros para expansão da cidade, bem como construção do sistema viário e
áreas de lazer
12. Loteamentos
13. Lançamento de efluentes domésticos e outras águas servidas
14. Presença de marinas e clubes
15. Acúmulo de resíduos sólidos de diversas origens
Nas folhas seguintes apresentamos as áreas nas quais a região de estudo foi subdividida. As imagens do satélite foram obtidas a partir do Google earth e devidamente
caracterizada.
Área 1 – Itapuã
RS
RS
RS
RS
Fig. 18. Área 1.Trecho entre a rua K (seta vermelha) e as dunas de Piatã (seta verde)
A área 1 – Itapuã compreende o trecho que vai da rua K (Seta vermelha) até as dunas
de Piatã (Seta verde). Caracteriza-se pela presença de recifes submersos (RS), e o supra litoral
ocupado por barracas de praia e outros equipamentos para comércio de alimentos e bebidas(
setas preta).
O estirâncio, em épocas de marés de sizígia, é utilizado para práticas futebolísticas e
outros esportes.
Visitamos a Colônia Z6, com a sede situada na rua K; a Associação dos Pescadores e
Marisqueiras, com a sede situada nas proximidades da Igreja de Itapuã; um núcleo de
pescadores que fazem a hangaragem de suas embarcações no fundo do Bar “Quioske da
Janaína”, denominada “Capazana dos lambaris”; um núcleo de pescadores que estão
concentrados em frente a estátua da sereia, na entrada da Av. Dorival Caymi, porto de canoas
que são utilizadas com de redes de cerco e arrasto de praia - calão e um núcleo que está
instalado nas dunas de Piatã, nas proximidades do antigo restaurante “Casquinha de Siri”.
Não existe nenhum rio que deságüe nessa região, que é totalmente ocupada por casas e
prédios de apartamentos. A av. Otávio Mangabeira separa-se, em alguns trechos do ambiente
praial, por um cais de contenção, que também serve de proteção para algumas barracas de
praia.
Área 2 – Piatã / Passa Vaca
Fig. 19. Área 2. Trecho das dunas de Piatã, até a foz do rio Jaguaribe (seta
vermelha). Em destaque encontra-se o rio Jaguaribe( retângulo amarelo).
.
A área 2 compreende o trecho que vai desde as dunas da praia de Piatã até a foz do rio
Jaguaribe, também conhecido por Passavaca devido ao manguezal que ainda resiste nesta
região.
Os usos são os mesmos do trecho da área 1, com uma maior concentração de barracas
de praia.
Destacamos a vegetação das dunas, situadas em Piatã e a vegetação de restinga,
fortemente antropizada às margens do rio Passavaca e em alguns trechos do supra litoral,
ocupado por uma pista de Cooper e ciclovia.
O rio Passavaca (em destaque no retângulo amarelo), ainda é utilizado para pesca por
alguns pescadores, apesar do ambiente ser, totalmente inóspito e inadequado para condição
humana.
A Prefeitura de Salvador tenta implantar um Parque Municipal para proteção das
únicas e últimas árvores de mangue encontradas em nossa cidade, situadas na região.
Área 3 – Passa Vaca / Boca do Rio
Fig. 20. Área 3. Compreende desde a foz do rio Passavaca, até a foz do rio Pituaçu (seta
vermelha), em destaque as dunas da Boca do Rio.
A área três tem como limites a foz do rio Passavaca, em Piatã, e a foz do rio da bacia
hidrográfica do Pituaçu.
A vegetação está restrita ao ambiente de dunas na região das praias dos Artistas
(Elipse amarela). A vegetação sofre o impacto constante das rodas dos tratores que atuam na
limpeza das praias da região. O modelo de ocupação do supra litoral por barracas, continua,
bem como os outros usos, causando nítido ambiente de conflito com a pesca.
A pesca de mergulho é realizada nas regiões onde existem recifes submersos.
A lagoa de Pituaçu é a Unidade de Conservação que encontramos na região (Setas
amarelas) – Parque Metropolitano de Pituaçu.
Vestígios de antigas lagunas costeiras podem ser observados ao longo desse percurso.
Destaca-se a total ocupação das dunas da Boca do Rio, ocupação que data da década
de sessenta, século passado e a presença de uma sede da Colônia Z6, situada na foz do rio
Pituaçu (Seta vermelha).
Área 4 – Boca do Rio / Costa Azul
Fig. 21. Área 4. Apresenta seus limites entre as fozes dos
rios Pituaçu e Camurugipe (seta vermelha), Em
destaque o Jardim de Alah (seta amarela), Shopping
Aeroclube (seta azul) e Dunas do Stiep ( circulo preto).
A área quatro tem como limites as fozes dos rios Pituaçu, na Boca do Rio, e o rio
Camurugipe (seta vermelha), no Costa Azul, ao lado do qual encontra-se um núcleo de
pescadores.
O jardim de Alah (Seta amarela) e o Shopping Aeroclube (Seta azul) demonstram o
conflito de gestão do ambiente costeiro, nesse trecho. Entre os coqueirais, símbolo da terra e a
arquitetura importada de um modelo americanizado.
A vegetação de restinga, em especial no ambienta praial, também sofre com o impacto
das rodas dos tratores, em especial no trecho denominado praia de Armação.
Historicamente, a pesca do xáreu, com o uso de redes de arrasto de praia, era constante
naquela área.
Destacamos o conjunto de dunas no Stiep e da Bolandeira, no bairro, hoje
denominado, Imbuí (Em destaque no círculo).
Retornam na região os afloramentos rochosos, com maior intensidade a partir do
jardim de Alah.
Área 5 – Costa Azul / Amaralina
Fig. 22. Área 5. No círculo vermelho a região do nordeste de Amaralina e em amarelo o bairro
da Pituba. As setas em azul e laranja apontam para os limites da área.
Essa área compreende a região desde a foz do rio Camurugipe até a área conhecida
como largo das baianas de acarajé (seta azul), em Amaralina.
O adensamento de moradias exibe um padrão bem distinto. Na região de Amaralina, a
presença marcante das invasões e residências de populações carentes, vide em destaque no
círculo, em vermelho. Na região do bairro da Pituba, predominam os edifícios de
apartamentos, das populações de classe média a residências de alto luxo, em traçados urbanos
bem delimitados por quadras, demonstrando um planejamento para uso do solo.
A mancha verde entre as duas regiões representa o Parque Joventino Silva – também
conhecido como Parque da Cidade.
A região da praia, em todo trecho foi ocupada por um cais de contenção e proteção da
av. Otávio Mangabeira.
Duas sedes de colônias, uma na Pituba, próxima ao antigo Clube Português e outra em
Amaralina(seta azul), foram visitadas e onde realizamos entrevistas com pescadores.
Área 6 – Amaralina / Hotel Pestana
Fig. 23. Área 6 As setas vermelha e azul indicam os limites da área.
Compreende a área que vai desde o largo das baianas de acarajé, em Amaralina (seta
azul), até o promontório onde está situado o Hotel Pestana (seta vermelha).
A presença de promontórios nessa área é marcante e os afloramentos rochosos, bem
evidentes.
A vegetação está presente sobre essas elevações ao longo do litoral, principalmente
gramíneas, cactáceas, algumas mirtáceas e ciperáceas, complementadas com a presença de
coqueiros.
A pesca de mergulho e arremesso de cima das pedras, além de arremesso de praia são
características da pesca na região.
Não encontramos nenhum núcleo de aglomeração de pescadores, ao longo desse
percurso.
Área 7 – Hotel Pestana / Pedra da Sereia
Fig. 24. Área 7. Compreende do Hotel Pestana, até a Pedra da Sereia (seta amarela).
O Rio Vermelho, centro dessa área de estudo, que tem como limites o Hotel Pestana e
a Pedra da Sereia (seta amarela), em Ondina, representa o segmento mais tradicional em
termos de pescarias, artes e petrechos.
Destacamos a tradição do presente a Iemanjá, um devoção dos pescadores que teve
início nos anos trinta do século XX.
Nessa região do Rio Vermelho foram identificadas cerca 10 tipos diferentes de
modalidades de pescarias, bem como diversos tipos de embarcações.
Visitamos dois núcleos de aglomeração de pescadores. Um na foz do rio Lucaia (seta
azul) e a outra a sede da colônia Z1 (seta vermelho), próxima ao largo de Santana.
Uma curiosidade relativa a pesca, são as tarrafas confeccionadas com filó, para captura
de pititingas. Essas tarrafas são denominadas de “mosqueteiros”. Na época de ocorrência
desses peixes engraulidideos é comum a presença de aves Sterna sp (Trinta-réis),
alimentando-se à beira da praia.
Área 8 – Pedra da Sereia / Farol da Barra
Fig. 25. Área 8. As setas azul e preta indicam os limites da área.
Continua a predominância dos afloramentos rochosos no ambiente praial, bem como a
existência dos recifes submersos, propiciando o mergulho para caça submarina e a captura de
espécies para aquariofilia. Os únicos rios existentes na região estão restritos a dois bueiros que
desembocam: um nas proximidades do promontório, onde está o Cristo (seta vermelha) e o
outro na praia de Ondina (seta amarela) em frente a entrada da av. Ademar de Barros.
Uma região dominada pela forte presença de hotéis de luxo, voltada para o turismo.
Arenitos de praia podem ser identificados na região do Clube espanhol e entre a praia
do Cristo e o Farol da Barra (seta preta).
A pescaria de guaricema (PISCES : CARANGIDAE)com linha de fundo é ma
característica na região. Utilizam-se barcos de pequeno porte, que ficam “apoitados”
próximos as rochas que afloram na região. Quando os cardumes de pititingas aproximam-se
da praia, os pescadores também capturam as guaricemas com linhas de arremesso da praia,
com um equipamento denominado “molilata”.
A partir do Rio Vermelho, continuando pela praia de Ondina até o Farol da Barra,
encontramos as pescarias de arremesso de cima das pedras.
Nenhum núcleo de pescadores foi identificado na região.
Área 9 – Farol da Barra / Comércio
Fig. 26. Área 9. As setas indicam a presença dos piers dos edifícios situados no
Corredor da Vitória e o retângulo em amarelo a Baía Marina.
É a região de entrada da baía de Todos os Santos. A presença marcante é a da falha
geológica da cidade de Salvador, onde está situada a av. de Contorno e sob a qual existe um
núcleo de pescadores - a Gamboa. O outro núcleo de destaque são os pescadores que atuam na
região do comércio, tendo como base a antiga rampa do Mercado Modelo.
A ocupação das encostas do corredor da Vitória com edifícios de alto luxo, os quais
em sua maioria possuem píer para atracação de lanchas (Setas vermelhas) , denota com ponto
de conflito com os pescadores tradicionais da área. A presença de marinas também é um
tensor social sobre a região (destaque em amarelo).
Nessa área tem início a pesca ilegal com uso de bombas.
Área 10 – Comércio / Monte Serra
Fig. 27. Área 10. Observe no retângulo em amarelo uma parte do Porto de Salvador.
Junto com a região do farol da Barra, constitui o núcleo mais antigo de ocupação da
cidade de Salvador. Compreende os limites entre o Forte de São Marcelo (seta azul), no
interior do quebra-mar do porto de Salvador e o forte de Monte Serrat (seta vermelha).
A presença do porto da cidade (destaque amarelo) com o tráfego intenso de
embarcações de grande porte, ou mesmo, a presença de marinas para hangaragem de
embarcações de alto luxo, apesar de geradores de tensores ambientais e sociais, não acabaram
com os traços marcantes de tradicionalidades da pesca na região, seja nas embarcações e/ou
nos petrechos e, ainda, nas áreas de captura. Algumas embarcações, tem na região do porto de
Salvador, ponto de apoio para jornadas de pesca fora da BTS.
Canoas, catraias, botes, saveiros, rede de espera, linha de mão, vara de pescar, munzuá
e outros são presenças garantidas para caracterização dos sistemas de pesca na área.
11 – Monte Serrat / Penha
Fig. 28. Área 11. Os limites estão apontados pelas setas vermelha e
azul. No círculo vermelho área de intensa atividade de mariscagem.
A Pedra Furada (seta vermelha) tem como tradição o comércio de siri-bóia (Portunus
spinimanus) que atrai um grande número de consumidores da iguaria. O siri-bóia é capturado
com jereré, na região do infra-litoral da região. Existe uma pescaria e um comércio específico
para espécie. O esforço de captura, que pode ser percebido pelo tamanho dos animais
comercializados, é grande, não havendo nenhum tipo de controle, muito menos para o
comércio de fêmeas ovadas.
A região é ocupada com população de baixa renda, até classe média, muitos
dependentes da pesca para sua sobrevivência.
Na região da Ribeira há o predomínio da atividade de marisqueiras. Mas, alguns
homens estão envolvidos nesse tipo de pescaria, porém explotando outros recursos, a exemplo
do rala-coco (Trachicardium muricatum) e sambá (MOLLUSCA : BIVALVIA) .
Área 12 – Enseada dos Tainheiros
Fig. 29. Área 12. A enseada dos Tainheiros é uma área comprometida com
contaminação por mercúrio, mas onde persistem atividades de pesca.
De toda região de estudo, desde Itapuã, é aquela que abriga o maior número de
conflitos e pressões sobre o sistema de pesca – os Vetores Antrópicos de Pressão Ecológica
(AVEP’s).
Na década de sessenta, século passado, grande parte do ecossistema de manguezal foi
aterrado para expansão de alguns bairros. Os sedimentos da enseada estão contaminados com
altas concentrações de Hg (QUEIROZ & WASSERMAN, 2004); a pesca intensa com uso de
bombas; barragem do Cobre que interrompeu o fluxo de água doce para o sistema local;
palafitas e aterros; esgoto in natura, com lançamento de fezes, diretamente nas águas;
construção de marinas (setas amarelas); desmatamento da mata Atlântica no Parque de São
Bartolomeu, adjacente à área; estaleiro naval; dragagem dos sedimentos para passagens de
embarcações de recreio, são exemplos de tensores na área. Mesmo assim, a área continua a
fornecer, perigosamente, pescados para população carente que ali reside.
5.2 Os trabalhadores do mar
Nas entrevistas realizadas, a maioria dos entrevistados (82%) era do sexo masculino,
enquanto que apenas 18% eram do sexo feminino, representado aqui por marisqueiras (Figura
31A).
Os pescadores encontram-se distribuídos por toda a área de estudo, enquanto que as marisqueiras encontram-se concentradas na região
que engloba a Ribeira e a enseada dos Tainheiros.
Uma vez não tendo mais onde
praticar suas atividades devido à
degradação dos manguezais na área
urbana, foi observada participação de
mulheres
no
beneficiamento
do
pescado na capazana dos Lambaris,
em
Itapuã
(Fig.
30).
Uma
das
marisqueiras colocou que não havendo
mais mariscos na região, ela pratica a
Fig. 30: Marisqueira participando do beneficiamento
do pescado na Capazana dos Lambaris, Itapuã, por
não ter mais onde praticar suas atividades nas
proximidades de onde vive. Foto VLQ.
atividade apenas uma vez por semana,
quando conta com a companhia de “colegas” para ir regiões mais distantes como Portão,
Buraquinho e Sauípe. Ficando os outros dias da semana na Capazana da colônia Z6, um dos
portos que apóia as embarcações dessa colônia, local onde ajuda os pescadores no
beneficiamento do pescado, ganhando o seu “quinhão” em troca.
Sexo
(A)
Faixa etária dos
pescadores
(B)
Masculino
Feminino
18%
8% 8%
13%
13%
21%
24 - 34
35 - 44
45 - 54
55 - 64
65 - 74
75 - 84
82%
37%
Grau de Escolaridade
(C)
Analfabetos
5%
5%
29%
1° - 4° série
5° - 8° série
Até o 2° grau
Nível técnico
37%
24%
Fig. 31. Perfil geral dos pescadores do litoral de Salvador.
A figura 31B mostra que 50% dos entrevistados do sexo masculino estão numa faixa
etária que vai de 45 a 64 anos de idade, enquanto que apenas 8 % são referentes aos
pescadores entre 24 e 34 anos. Avaliamos que essas proporções podem estar relacionadas
com o motivo que, na juventude, há maior possibilidade de se conseguir um emprego que
oferece melhores condições de vida para os iniciantes na vida no mar.
Quanto às marisqueiras, todas as entrevistadas (100%) estiveram numa faixa etária
entre 49 e 67 anos, sendo todas elas, mães de família e que executam a atividade para
consumo próprio do produto coletado, com exceção de uma das entrevistadas, que
comercializava os mariscos após o beneficiamento dos mesmos.
Muitas dessas mães levam seus
filhos e filhas, assim como, os netos e
as netas, para ajudar na atividade
quando são crianças, mas quando
entram na adolescência eles (as) não
querem
mais
ir
porque
ficam
envergonhados de com a prática da
atividade. A figura 32 ilustra avó e
Fig. 32: Marisqueira na Ribeira contando com a ajuda
do seu neto para atividade. Foto: V.L.Q.
neto mariscando juntos.
Com relação ao grau de escolaridade (Figura 31C), foi observado que 5% dos
entrevistados não foram alfabetizados, 34% dos entrevistados concluíram o ensino
fundamental e 5 % apresentam nível técnico.
Nas visitas as colônias e associações, a religiosidade mostrou-se como um valor
importante no cotidiano dos pescadores, estando representada através de imagens, pinturas e
orações escritas e nos nomes das embarcações (Fig. 33).
Fig. 33. Religiosidade expressa através de culto a imagens e nome de embarcação na
colônia Z1, e na capazana da colônia Z6. Foto V.L.Q.
Principalmente em regiões onde a tradicionalidade é mais forte, como Itapuã e Rio
Vermelho, são, inclusive, organizadas festas em homenagem a Yemanjá, nas quais os
pescadores, marisqueiras e população crente levam presentes para serem jogados no mar, e
realizam orações agradecendo e pedindo proteção da mãe das águas. Nos diálogos com os
pescadores a religião também se mostrou bastante evidente.
A maioria dos entrevistados, representando 72%, afirmou seguir a religião católica,
como pode ser observado na Fig. 34, estando os outros 38% divididos entre os evangélicos,
os messiânicos, os pescadores que têm Deus como religião e os ateus.
O mesmo padrão foi proposto por
Religião
AGUIAR (2005) em pesquisa desenvolvida
nos povoados de Gameleira até Amoreiras,
Católica
9% 5%
5%
9%
Evangélica
Messiânica
72%
Não possui
Deus
Fig. 34. Religiões praticadas pelos entrevistados.
Ilha de Itaparica, baía de Todos os Santos,
Bahia, onde ela pôde observar, que 66,7%
dos entrevistados eram católicos.
Comentários relacionados a Deus são
muito comuns. Destacamos:
“Num existe! Chegando lá é o Homem que diz, quando chega lá
que vê o peixe a maré ta boa”. (Sr. Luiz, católico, pescador da
Ribeira se referindo a melhor maré para a pesca.)
“Tem que dividir que Deus dá tudo! Ele quer assim!”. (Sr. Silvano
de Jesus, católico, pescador do Costa Azul, se referindo ao seu barco
que ele deixa disponível para os colegas saírem para a pescaria.)
“Aí só um milagre de Deus!”. (Sra. Delsiene, católica, marisqueira
da Ribeira, se referindo as ações que possam melhorar sua atividade.)
“... A própria palavra de Deus já diz que nós estamos só no início
das dores, que nos dias de hoje vão acontecer pestes, doenças e
terremotos... tudo isso ta na palavra de Deus. Então as coisas vão
piorar e nós temos que nos preparar para o que vai acontecer...”
(Sr. Getúlio de Jesus, evangélico, pescador e presidente da
Associação da Pedra Furada, se referindo a situação da pesca atual e
futuramente e defendendo a importância de se valorizar a auto estima
dos pescadores.)
Diferente de Sr. Getúlio de Jesus, que dá uma idéia de esgotabilidade dos recursos, uma
idéia bastante difundida entre os pescadores e marisqueiras é a de que os recursos pesqueiros
são inesgotáveis, pois o que é de origem divina nunca acaba (SOUTO, 2004).
“Quanto mais à gente tira, mais Deus dá.” (Sra. Nilsene, católica,
marisqueira da Ribeira, se referindo a inesgotabilidade do recurso.)
SOUTO (op.cit.) afirma que, o que cria uma situação bastante propícia para o
estabelecimento e a manutenção dessa crença, além da forte religiosidade dos pescadores e
marisqueiras é a estreita dependência que eles têm do ambiente, aliada a falta de uma
alternativa no caso de um suposto esgotamento dos recursos.
Em relação ao estado civil, 77% dos entrevistados são casados (oficialmente ou aqueles
que vivem em regime de companheirismo) e 14% viúvos (Figura 35A).
Quanto ao número de descendentes, 58% dos entrevistados apresentam mais de três
dependentes, 4% não apresentam nenhum descendente, 15% apresentam apenas um
dependente, 4% apresentam dois dependentes e 19% apresentam três dependentes (Fig.35B).
Estado Civil
(A)
Número de descendentes
(B)
1
casado
solteiro
9%
14%
viúvo
4%
77%
58%
15%
4%
2
3
Acima de 3
Nenhum
19%
Fig. 35. Características da família.
Dos Pescadores entrevistados, 65% são registrados na Capitania dos Portos (Fig. 36A).
Destes, em termos de associativismo, verificou-se que 62% são profissionais filiados à
Colônia de Pescadores, 23% são filiados a Associações e 15% não apresentam filiação de
espécie alguma (Figura 36B).
Quanto à situação das marisqueiras com relação ao registro, nenhuma está sob regime
de algum tipo de associativismo.
Pescadores Registrados
(A)
Associativismo
(B)
Colônia
Associação
Não filiado
sim
não
15%
35%
23%
65%
62%
Fig. 36 – Situação profissional quanto à regularidade na pesca.
Mais da metade dos pescadores entrevistados, 53%, (Fig. 37A) afirmam que
conseguem sustentar a família com a pesca, porém, analisando-se os questionários, pôde- se
observar quem muitos destes pescadores que afirmam sustentar a família com a pesca, além
de ter outras atividades remuneradas, têm parentes que trabalham em outras atividades
profissionais, que contribuem para a renda familiar.
A pesca como única fonte de renda, abrange 52% dos pescadores (Figura 37B), não
demonstrando grande diferença entre o porcentual dos que praticam outras atividades além da
pesca.
O número de pescadores que possuem outra atividade de complementação de renda
deve ser considerado com cautela. Como exemplo dessa inexatidão, temos os aposentados que
continuam pescando, e, normalmente, omitem a informação relativa à sua condição de
aposentado.
Durante as entrevistas ficou evidente que a produtividade pesqueira vem diminuindo,
impedindo que o pescador possa depender unicamente dessa atividade para sobreviver, além
de diminuir seu otimismo com relação à pesca.
No que diz respeito ao consumo do pescado, apenas 4% dos pescadores não utilizam o
pescado para consumo próprio, comercializando todo o pescado capturado. Os 96% restantes
retiram parte do recurso pescado para consumo próprio e da família (Figura 37C).
Rentabilidade
(A)
Fonte de Renda
(B)
Sim
Única
Não
Outras
48%
47%
52%
53%
Comercialização do
pescado (D)
Consumo
(C)
venda direta
atravessador
Sim
4%
Não
36%
96%
64%
Figura 37 – Consumo e rentabilidade da atividade pesqueira.
Sob o ponto de vista da comercialização, os pescadores do litoral da cidade de
Salvador podem ser divididos entre aqueles que vendem diretamente aos consumidores ou
restaurantes e aos que vendem para “atravessadores” que então repassam para os
consumidores ou mesmo para mercados ou outros pontos de venda.
Como pode ser observado na Figura 37 D, a maioria do pescado (64%) é vendida para
intermediários (atravessadores). Neste tipo de comercialização normalmente existe uma
freguesia garantida, e assim que desembarca o pescador já tem um destino final para o
pescado. Os compradores considerados como atravessadores são os próprios donos das
embarcações, as peixarias, ou mesmo um comprador, que repassa o pescado para outros
pontos de venda ou de consumo. Muitas vezes esses compradores adiantam o pagamento para
que os pescadores abasteçam o barco, coloquem combustível e comprem os petrechos
necessários. Dessa forma a produção está comprometida.
Normalmente ao lado dos
pontos
de
desembarque
existem
peixarias para as quais os pescadores
vendem
seus
pescados
(Fig.38),
porém, há casos em que as peixarias
não adquirem todo o pescado, então
os pescadores vão em busca de outras
Fig. 38. Peixaria ao lado da associação do Costa Azul.
empresas.
Quando
não
obtém
Foto: E.L.Q.
sucesso, em nenhuma das formas
anteriores, levam os pescados em fieiras em busca de outros compradores.
Os 36% restantes (Fig. 37 D) vendem o pescado diretamente para os consumidores no
próprio local de desembarque ou como vendedores ambulantes, como ilustrado na figura 39.
a
b
c
Fig. 39. Pescados para serem comercializados de forma direta com o consumidor, em
fieras (a) , expostos em cima de plásticos (b), na Ribeira; e conservados em gelo, dentro
do isopor(c), na sede da colônia Z1, Rio Vermelho. Foto: V.L.Q.
Nos locais de desembarque, onde há venda direta, o pescado algumas vezes passa por
um processo de beneficiamento, no qual é limpo, tratado e algumas vezes cortado em postas,
para agregação de valor ao produto (Fig. 40).
Metade dos pescadores que praticam a venda direta dos pescados, acabam praticando
Fig. 40: Beneficiamento dos pescados no Comercio, Itapuã e Ribeira, respectivamente.
Foto: V.L.Q.
os dois tipos de comercialização: 1) vendendo inicialmente o pescado diretamente para o
consumidor e 2) levando o excedente até uma peixaria, feira ou mercado, para não perder o
produto. Essa tentativa de venda direta inicial é devido a uma tentativa de se cobrar preços
melhores pelo pescado, pois uma reclamação comum entre os pescadores é exatamente o
preço injusto pago pelo quilo do peixe por parte destes atravessadores.
Normalmente, os preços pagos pelos atravessadores são bastante inferiores ao preço
que os pescadores acreditam valer o produto. O que acontece, como já observado por SOUTO
(2004) em trabalho realizado em Acupe, região de Santo Amaro da Purificação, é que a falta
de infra-estrutura de acondicionamento, processamento e transporte para centros de consumo
põe a produção local em risco, o que, por sua vez, origina uma situação de certa urgência na
comercialização. O receio de se perder a produção do dia de trabalho e a necessidade do
dinheiro para suprir as necessidades imediatas, favorecem a ação dos negociantes e
atravessadores e as suas estratégias de ganho financeiro. Dessa forma a intermediação não
apenas se mantém como chega a ser vista como um sistema benéfico para os pescadores.
Outro ponto comentado pelos pescadores, diz respeito à dificuldade em se vender o
produto sem a presença de um atravessador e também levado em consideração por Pacheco
(2006), realizado na península de Maraú - BA, está relacionado a alguns aspectos como a falta
de tempo e de energia do pescador para alocar nas negociações em decorrência da atividade
pesqueira e a tentativa de se reduzir as incertezas no escoamento da produção. Esse tema foi o
mais comentado pelos pescadores que tem uma jornada de dias de trabalho em alto mar.
Quanto à comercialização do
produto
da
marisqueiras
transação
mariscagem,
declaram
é
feita
as
que
a
após
o
beneficiamento dos mariscos, ou
seja, esses são “catados” (Fig. 41) e
então vendidos para freguesas já
certas. Pôde-se observar também na
região da Ribeira, homens vendendo
Fig. 41. Siri catado e chumbinho, mariscos na forma
como são vendidos nas ruas da Ribeira após
beneficiamento. Os pescados são conservados em caixas
de isopor com gelo. Foto: V.L.Q.
os mariscos pelas ruas com um balde
na cabeça, sem nenhum tipo de beneficiamento.
Quem Ensinou a Pescar
Família
(A)
Transmissão da prática a
descendentes
(B)
Pai/Mãe
Amigos
Sozinho
18%
32%
40%
Sim
Não
18%
68%
24%
Fig. 42. Transmissão da prática da pesca para os descendentes.
A figura 42A mostra que a maioria dos pescadores e marisqueiras aprenderam a pescar
com pai, mãe ou pessoas de sua família. Um modelo citado por Diegues (1995),
“(...) um domínio de um conjunto de conhecimentos e técnicas que
permitem ao pescador se reproduzir enquanto tal. Esse controle da
‘arte da pesca’ se aprende com os ‘mais velhos’ e com a
experiência”.
Enquanto a figura 42B mostra que 68% dos pescadores, na atualidade, não transmitem
a prática aos filhos, preferindo que esses estudem e tenham outros trabalhos “fora”, devido à
atividade não ser valorizada.
As marisqueiras têm o costume de levar os filhos (as) e netos (as) para ajudar na
atividade da mariscagem. Mas, quando chega à adolescência eles (as) se desinteressam pela
atividade, por sentirem vergonha ou por outros interesses, como o estudo e o namoro,
interrompendo com isso a tradição da pesca na família.
Procurou-se saber através das entrevistas a respeito da influência da lua, da maré e dos
ventos, no sucesso ou fracasso das pescarias. Foi confirmado então que esses fatores
influenciam no desempenho da pescaria, como já tinha sido observado por Souza (2004), em
trabalho desenvolvido com caiçaras no Vale da Ribeira, São Paulo. Na opinião dos pescadores
que atuam no litoral da cidade de Salvador, a respeito destas variáveis, difere entre as
comunidades nas diferentes áreas estudadas, apresentando diferenças, também, dentro das
comunidades. Alguns admitem que os ventos e fases da lua, não interferem na produção de
pescados. Outros, sim. Por outro lado, não é bem clara a opinião com referência a que fase de
lua, ou posição do vento, interfere, diretamente, nas capturas.
Na realidade o que parece ter maior influência é o tipo de embarcação, porte e
propulsão, que estão diretamente associados à mobilidade do pescador no ambiente costeiro.
COSTA NETO & MARQUES (2001) afirmaram que os ciclos lunares e as marés
exercem uma influência tanto no comportamento dos peixes quanto no de seus pescadores
humanos. Na percepção dos pescadores de Siribinha(BA), assim como nos pescadores da
cidade de Salvador, um conjunto de termos refere-se as mudanças das correntes, nomeadas de
“maré de lançamento”, “maré de quebra” e “maré morta”. Outra forma de classificação das
marés observada em ambos os trabalho foi de acordo com a duração e intensidade da luz da
lua, disponível às pescarias noturnas, podendo então ser classificada como “maré de escuro” e
“maré de lua”. Ainda foi citada pelos pescadores uma terceira forma de classificação. Em
relação ao “tanto” que a maré “corre”, podendo ser denominada de “maré fria” ou “maré
bêba”. A primeira, segundo descrição de Sr. Orlando, pescador de Itapuã, é uma maré que:
“Não tem lua exclusiva para ela, é o tempo que ela deixa de
correr. A linha fica bem embaixo do barco (...) tem maré bêba! Nós
coloca a chumbada aqui e ela vai até um quilômetro. A linha não
sabe pra onde vai! Fica parada, , anda um pouquinho, depois pára
novamente...”
Outro aspecto observado foi com relação ao conhecimento dos pescadores a respeito
do defeso (Figura 43A), no qual uma maioria de 62% tinha conhecimento da lei proposta pelo
IBAMA, e 38% dos entrevistados não conheciam a lei pelo nome, mas, uma vez sabendo do
Conhecimento sobre o
defeso
Sim
(A)
Opinião sobre o defeso
(B)
Concorda
Discorda
Não
38%
35%
62%
65%
Fig. 43. Conhecimentos e opinião dos pescadores em relação do defeso.
que se tratava, afirmava sobre o conhecimento. Durante as entrevistas, o ponto mais marcante
relacionado com o defeso foi o benefício no caso da proibição de explotação dos recursos.
Como observado pela figura 43B, 65% dos pescadores entrevistados concordam com o
período de defeso estipulado pelo IBAMA, reconhecendo sua importância para a recuperação
dos recursos que correm o risco de desaparecer, mas também existem críticas com o fato de
que existe fiscalização para os pequenos pescadores artesanais, enquanto que os grandes
barcos de pesca ficam descobertos, como se pode observar no discurso de Sr. Orlando Xavier,
pescador do comercio:
“Exclusivamente o da pesca da lagosta eu acho muito bom!
Porque ele (IBAMA) ta defendendo hoje pra que amanhã nós temos
condições. Mas eles têm que defendê aquelas pessoas que explora
muito mais do que a gente, esses mergulhado, os arrastão esses
saveiros que pesca pra Fortaleza, Recife, Ceará ou Gamboa do
Morro. Antes deles protegê tem que dá condições ao pescador!
Principalmente ao pescador artesanal! Que é o pescador mais sofrido
que tem...”
Os pescadores sentem necessidade de uma política educacional direcionada ao período
de defeso e fazem críticas também ao beneficio entregue para alguns pescadores e não para
outros, a esse respeito foi destacado o seguinte comentário feito pelo pescador Getúlio de
Jesus, presidente da associação da Pedra Furada:
“A gente vê o defeso como uma farsa, porque ele suga a
eletricidade de poucos, mas no geral muitos que precisam do defeso
não tem! A gente mesmo tem uma gravidade muito grande que eu
tenho vergonha de dizer, mas é verdade, eu já disse até na frente de
algumas autoridades... CRA, IBAMA... O siri (se referindo ao siri
bóia)! Desova o ano todo, na parte do inverno então é a época que ele
mais desova. Eles dizem que é proibido pegar o ovado. Realmente é!
Mas desde quando se faça uma campanha com antecedência através
da televisão, rádio, do jornal... Aí você venha analisá pra comunidade
o porquê dele ser proibido, e pra ser proibido ele tem que ter um
defeso... e pra siri bóia não tem um defeso. Nós colocamos até em
Brasília pra ser votado, porque aqui nós não sabemos quando pegar e
quando não pegar, e nós pegamos mesmo! A idéia do defeso é muito
boa, mas pra dá certo tem que haver uma política educacional, não
adianta o povo receber aquilo como uma obra assistencialista!”
Diante dessas informações fica demonstrada a importância de ações de Educação
Ambiental relacionadas ao tema.
5.3 A pesca
A pesca no litoral da cidade de Salvador é artesanal, nos moldes de pequena produção
mercantil, segundo DIEGUES (1983), praticada por pescadores tradicionais. Mesmo
ocorrendo em meio à área urbanizada, onde existe influência de tensores ecológicos e
ambientais ainda mantém traços de tradicionalidade, mesmo que estes muitas vezes entrem
em conflitos com os traços modernos, que vêm cada vez mais ganhando espaço.
5.3.1 As Embarcações
Os pescadores artesanais do litoral de Salvador utilizam cerca de oito tipos de
embarcações. A classificação das embarcações foi baseada de acordo com CEPENE (2005) e
com o Programa ESTATPESCA para estratificação da frota (IBAMA 1999 cit. OLAVO et
al., 2005): jangada, canoa, bote a remo (catraia), bote a vela (saveiro boca aberta), bote a
motor (saveiro boca aberta), lancha (saveiro boca fechada), bote de alumínio e barco de fibra
de vidro a motor, identificados como modelos básicos. Cabendo, entretanto, uma revisão
nessa descrição, tendo em vista a multiplicidade de modelos observados o que, também, pode
interferir no esforço de captura dos
estoques explotados.
1.
Jangada (JAN) -
Embarcação movida a remo ou vara,
confeccionada a partir de cinco ou seis
toras de madeiras presas umas as
outras
por
pregos
(Fig.44).
Normalmente apresentam um ou dois
Fig. 44. Jangada com vegetação de restinga ao fundo,
praia de Piatã. Foto: E.L.Q.
bancos. Hoje já podem ser observadas
jangadas confeccionadas com material
plástico tipo PVC (Fig. 45), obturados nos extremos, como pôde ser observado em Itapuã.
Esta modalidade de jangada foi observada em Recife na década de 50 (AGOSTINHO, 1981).
As jangadas de pau, uma das
formas
mais
primitivas
de
navegação e segundo SELLING –
JR (1976) “O primeiro estágio na
arte da construção naval”, foram
encontradas, ainda, na Boca do Rio,
Amaralina, Piatã e Itapuã. Vale
lembrar que as jangadas já existiam
Fig. 45. Jangada feita de PVC, praia de Itapuã. Foto:
V.L.Q
na Bahia, desde os povos préCabralinos. Pero Vaz de Caminha fez a citação de uma pescaria, na região de Porto Seguro, à
época do descobrimento do Brasil “(...) e esses homens têm redes e são grandes pescadores e
pescam peixes de muitas espécies(...)”(PEREIRA, 1999).
2.
Canoa
(CAN)
-
Embarcação movida a remo ou vela,
sem
convés,
confeccionada
em
madeira (jaqueira ou marmeleiro) de
fundo
chato
ou
não,
com
comprimento variando entre três e
nove metros (Fig. 46).
Fig. 46. Canoas na praia de Piatã. Foto: V.L.Q
Outra embarcação tradicional
freqüente no sistema de pesca no
litoral de Salvador é a canoa. Embarcação classificada por AGOSTINHO (Op cit.) no tipo
monóxilos simples, considerada por SELLING – JR (Op cit.) “O segundo estágio da
construção naval”. São empregadas, principalmente, para redes de cerco e redes de arrasto
de praia, do tipo calão.
Em
Itapuã,
próximo
a
Colônia Z-6, ilustrado na figura 47,
há um ponto onde um proprietário
“aluga”
suas
pescadores,
canoas
assim
para
como
os
seus
petrechos, que como pagamento dãolhe o próprio pescado conseguido
durante a saída. O mesmo acontece
em Piatã e na Boca do Rio. No Costa
Fig. 47. Canoas de Itapuã com a sede da colônia Z6 ao
fundo. Foto: V.L.Q
Azul encontra-se uma canoa, única embarcação presente no núcleo de pescadores. Este tipo
de embarcação também está presente na Pituba, Amaralina, Comércio, Pedra da Sereia e
Ribeira.
3. Bote a remo (BRE) - Mais
conhecido como catraia (Fig. 48), é
uma embarcação de pequeno porte,
movida a remo, confeccionada em
madeira
e
com
casco
chato.
Normalmente, os pescadores saem
sozinhos ou com um acompanhante,
Fig. 48. Bote a remo, conhecido como catraia,
Comércio. Foto: V.L.Q
para realizar a atividade próximo à
praia.
Muito comum na região da Gamboa até a Ribeira, localidades que se encontram no
interior da baía de Todos os Santos, onde suas águas são bastante tranqüilas. Embarcação
característica da pesca do siri-bóia, na Pedra Furada. Comumente presente também em Itapuã
e no Rio Vermelho.
4. Bote a vela (BOC) Embarcação movida à vela, com casco
de madeira e quilha, convés fechado,
sem
cabine
(boca
aberta),
com
comprimento geralmente inferior a
onze
metros
(Fig.
49).Inclui
os
saveiros “boca- aberta (sem convés)
movidos a vela.
Alguns barcos a vela já fazem
Fig. 49. Barcos a vela voltando da pescaria no final da
tarde, Porto da Barra. Foto: V.L.Q
jornadas de mais de um dia no mar.
Este tipo de embarcação dependendo da região onde seja encontrado apresenta
características próprias. Temos, por exemplo, os barcos do Rio Vermelho, que são mais
robustos do que os encontrados na Ribeira, Itapuã e no Porto da Barra.
5.
Bote
motorizado
(BOM) - Embarcação movida a
motor, com casco de madeira ou
fibra, com quilha, sem cabine (boca
aberta) e geralmente menor que dez
metros (Fig.50)
Muitas vezes além do motor
Fig. 50. Barco com motor de centro, Ribeira Foto: V.L.Q
também
se
aproveitando-se
utiliza
do
a
vento
vela,
para
propulsão e economizando combustível durante as saídas. Os pescadores que saem nessas
embarcações cumprem jornadas de mais de um dia no mar, pois estes já proporcionam maior
estabilidade. Assim como o barco a vela, tem suas especificações a depender da região onde é
encontrado, sendo os do Rio Vermelho mais robustos.
6.
Lancha
(LAN/BMO)-
Conhecida no litoral da cidade de
Salvador como saveiro “boca fechada”.
Embarcação motorizada, podendo ser
de madeira ou de fibra, comprimento
abaixo de quinze metros, com cabine
Fig. 51. Saveiro “boca fechada” da Ribeira pode-se
observar a presença de currupichel para captura de
isca viva.
no convés (boca fechada), podendo ser
na popa ou na proa (Fig. 51). Pode ser
classificada como pequena média ou grande.
Geralmente faz jornadas durante dias, podendo chegar até a uma semana, devido a sua
estabilidade e melhores condições de armazenamento do pescado. Encontrada na praia de
Itapuã, Rio Vermelho, Porto da Barra, Comércio, Ribeira e Tainheiros.
Além do tipo da embarcação interferir no estoque explotado, um mesmo tipo de
embarcação, a depender a área de estudo, pode da mesma forma, explotar recursos diferentes.
Isso pode ser explicado pela própria expansão urbana que contribui para fragmentação dos
territórios dos pescadores, mas não impede a continuidade da sua tradição. No entanto, essa
tradição no uso das embarcações continua ameaçada se não houver interesse daqueles
engajados no sistema de pesca, bem como a chegada de novos pescadores, nem sempre
oriundos do sistema social local. É o caso típico da intrusão dos aposentados nas pescarias
locais, que trazem consigo, por exemplo, os barcos de alumínio (Fig.52).
7.
Bote
de
alumínio
(BAL):
Embarcação de pequeno porte, com
casco de alumínio e de motor de popa,
conhecida regionalmente por lambari
ou barco de alumínio (Fig: 52).
Na praia da Pituba existe
uma predominância de barcos de
alumínio, mas sobrevivem algumas
Fig. 52. Tradição da jangada X barco de alumínio que
foram trazido pelos aposentados na praia da Pituba. Foto:
E.L.Q.
jangadas
feitas
com
Apeiba
tibourbou. (AGOSTINHO, 1981 ;QUEIROZ, 1997). Alguns pescadores, influenciados pelos
novos “companheiros”, deixam a tradição das jangadas e adquirem barcos de alumínio
motorizados.
A extinção de alguns tipos de embarcação está associada, igualmente, ao
desaparecimento da própria matéria prima, oriunda da mata Atlântica e vegetação de restinga,
empregada na construção das jangadas.
8.
Barco
de
fibra
de
vidro a motor (BFM) - Existe uma
tendência para expansão no uso de
embarcações construídas com a fibra
de vidro (Fig. 53). Este tipo de
embarcação pode ser considerado
como uma variação do barco a motor,
no entanto, para preservar a tradição
Fig. 53. Barco de fibra de vidro da Cooperativa de
pescadores de Itapuã. Foto: V.L.Q.
do saveiro construído com madeira, propomos uma nova classificação para este tipo de
embarcação.
Outra tendência é o revestimento de cascos de embarcações construídas com madeiras,
com mantas e resinas, de fibra de vidro. Técnica praticada pelos próprios pescadores (Fig 54),
com
o propósito de
durabilidade
protegendo-
as
nas
dá maior
embarcações,
dos
desgastes
provocados pela própria água do mar
e também pela fauna marinha.
AGOSTINHO (1981) referiuse a um processo de mudança cultural
Fig. 54: Pescador da Ribeira “fibrando” seu barco com
ajuda de companheiro. Foto VLQ.
e tecnológico, que se desenrolava em
ritmo crescente, e que os meios
tradicionais estavam fadados a perder a importância e a sumir do Nordeste, ou a passar por
modificações que os tornem reconhecíveis. Hoje podemos observar que de fato esse processo
de mudança cultural e tecnológico fica cada vez mais forte.
5.3.1.1 Nomes de embarcações
Durante as visitas as áreas de estudo, um ponto observado interessante foi os nomes
que os pescadores “batizavam” seus barcos, costume inclusive que vai se perdendo com a
chegada dos barcos de alumínio, dupla perda de tradição, os quais muitos não têm
denominações próprias.
Nomes curiosos puderam ser encontrados por esses mares e areias sendo agrupados
nos seguintes temas: natureza, comportamento, embarcação, estrangeirismo, fauna,
localidade, lúdico, nome próprio, religião, sentimentos, e com alguns foi difícil estabelecer
uma relação, sendo então classificado como diversos. Estas classificações não
necessariamente representam o que o dono da embarcação quis expressar, pois conseguimos
esta informação de apenas alguns dos proprietários dos barcos. Mas, fica aqui uma tentativa
(anexo G).
SELLING JR. (1976) observou que os saveiristas baianos, como todos os marinheiros
por este mundo afora, tem os mesmos gostos, sentimentos e inclinações, e que pelos nomes
dados as embarcações podemos entrar no seu estado d`alma, conhecendo seus amores ou suas
tendências.
Os nomes classificados como
sentimento, exprimem sentimentos
que eles próprios desejam ou pensam
possuir,
e
que
nem
sempre
representam as qualidades dos seus
barcos,
exprimem
também
sentimentos que o mar e o trabalho
lhes traz, como Esperança (Fig. 55),
Batalha, Paz; além de sentimentos
Fig.55: Pescadores da capazana dos lambaris
trabalhando em grupo, levando “Esperança” para fora
d`água. Foto: V.L.Q.
que representam o esforço para a aquisição da embarcação, como Batalha, Meu sonho e
Sacrifício.
A relação com a natureza é
expressa através das suas forças, como
Alísio do Mar e Viração; de sua
beleza, com Pôr do Sol (Fig. 56), Luar
do Porto, de suas estações do ano,
como Primavera I; além da “Cor do
Mar” ser representada pelo “Mar
Fig. 56: Barcos após uma época de ressaca, fora da
maré - “Pôr do sol” e “Piracicaba”. Foto: V.L.Q.
Azul”.
No caso da classificação “nomes”, pode-se observar nomes de pessoas queridas que
merecem ser homenageadas, apelidos de infância, ou seus próprios nomes.
O lúdico vem da palavra
grega “ludus” que quer dizer jogo,
aqui representada pela diversão,
trazendo consigo o interesse por
times de futebol, Vascaíno, Timão;
pela música, Axé Bahia, Regmar,
Xaxado; pelo esporte, Maratona ou
pela
televisão:
Faz
Celebridade (Fig. 57).
Parte
e
Fig. 57. Momento de registro do lúdico nos nomes dados
as embarcações. “Celebridade”, barco da colônia Z1,
núcleo da Mariquita, Rio Vermelho. Foto: E.L.Q.
Pode-se observar a valorização de relacionamentos, como família e amizade, Amor
de Mãe, Vô Durval, Dois Irmãos, Meu Velho Amigo e Bonamigo
Como também a devoção pela
religião, estando presente Deus, Jesus,
Santos e a Mãe das Águas (Yemanjá),
com suas diversas denominação, como
Rainha e Janaína, invocando de
alguma forma sua proteção; como
também
Fig. 58. Religiosidade demonstrada através dos nomes
dados às embarcações: “Quem tem fé em Deus não cai”.
Foto: V.L.Q.
nomes
significativos
nas
histórias das Religiões, como Monte
de Sião, Rosa de Saron e Gênesis. Um
nome interessante encontrado na sede da colônia Z6, núcleo da Mariquita, é: “Quem tem fé
em Deus não cai” (Fig. 58).
A fauna marinha é muito representada nos registros das embarcações, temos o Coral
do Mar, Estrela do Mar, Agulhinha, Peixe Prata, Dourado, Uirapuru, Biguá, entre outros;
além de outros representantes da fauna, Vagalume, Pica-pau, Zangão.
Podemos ver também que o estrangeirismo se encontra presente, como no caso dos
nomes Stok, Dragon, Diamont e Vereuhel.
Alguns nomes são de difícil classificação, sendo então tidos como indefinidos,
Turututu, Cavok, Cobila, Gabléia.
As localidades representadas por seus bairros, ou locais de onde vieram, ou os quais
admiram, como Barra do Pote, Porto Vera Cruz, Piracicaba, Villas.
Com relação à classificação
“comportamento” encontramos os
mais diversos comportamentos sendo
invocados pelas embarcações: nomes
valentes,
Asas
Indomáveis,
Galo
brigão, Pinote; nomes que nos traz a
beleza, como Beldade, Flor do mar,
Flor do São Francisco; nomes de
Fig. 59. Barco “Astral 10”, nome dado com a intenção de
trazer bom humor nas saídas, segundo o dono . Foto:
esperteza, como Malandro, Lascador;
V.L.Q.
entre outros comportamentos, e nomes de bom humor, como Astral 10 (Fig. 59).
Uma coisa interessante observada durante as saídas de campo foi que muitas vezes os
nomes dos barcos transformam-se nos apelidos dos próprios donos, o que demonstra mais
uma vez que existe uma forte relação entre ambos.
Durante as entrevistas foi observado que 57% dos entrevistados são os proprietários
das embarcações (Figura 60B), e que 87% das embarcações são registradas pelo órgão
responsável (Figura 60C).
Pescadores proprietários
do barco (B)
Tipo da Embarcação
(A)
sim
não
sav. c/ convés
sav. s/ convés
barco
17%
canoa
jangada
27%
7%
39%
43%
57%
10%
Embarcações Registradas
(C)
13%
sim
não
87%
Fig. 60 – Situação das embarcações utilizadas pelos pescadores artesanais.
Os pescadores que não possuem embarcação própria normalmente atuam como
parceiros dos proprietários, que podem ou não participar da atividade pesqueira. Sendo
destinada ao barco 30% da pescaria para ajudar na manutenção do barco, ou, algumas vezes,
essa parceria é por camaradagem, sendo o montante pescado dividido por todos igualmente.
Ainda tem o caso das canoas da Boca do Rio, as quais o proprietário aluga a canoa e a rede,
entenda-se, o dono da embarcação, fica com 40% da pescaria.
As embarcações que utilizam equipamentos de comunicação a bordo representam 48%
do total, uma grande parte dos entrevistados justificou essa ausência (cerca de 50%) pelo alto
valor pelos quais tais equipamentos são vendidos.
O equipamento mais utilizado para se comunicar com a terra foi o celular, que apesar
de não ser aceito pela capitania dos portos é uma forma de comunicação eficiente segundo os
pescadores que a utilizam, representando 19% do total (Figura 61A).
Com relação ao número de tripulantes, pode-se observar uma variação de apenas um a
até sete tripulantes por embarcação, sendo que a tripulação composta por três pescadores é a
prevalecente entre os entrevistados, representando 40% do total (Fig.61B).
Número de tripulantes
(B)
Utilização de Equipamentos
de Comunicação
(A)
4% 4%
Nenhum
10%
5%
Celular
14%
12%
16%
Rádio
52%
24%
Sonda
40%
Sonar
19%
1
2
3
4
6
7
Tempo embarcado
(C)
2 - 6 hs
15%
31%
7 - 12 hs
1 - 3 dias
27%
27%
4 - 6 dias
Fig. 61 . Situação a bordo das embarcações.
O tempo de pesca que cada entrevistado passa no mar foi avaliado observando-se que
os pescadores passam, desde duas horas, até seis dias. Esses períodos variam de acordo com
as condições da embarcação, da conservação do pescado e das condições da natureza,
incluindo aqui o tempo e o sucesso da pescaria (“vontade do peixe comer”). Como podem ser
observadas na figura 61C, sendo mais comuns as jornadas diárias de trabalho são,
representado por 58% dos entrevistados.
5.3.2 As artes e os petrechos de pesca
A descrição das artes e petrechos utilizados em pescarias no litoral de Salvador resulta
de observações diretas no campo, descrições feitas pelos próprios pescadores e consultas a
bibliografia especializada.
Pôde-se perceber uma grande variedade dos petrechos de pesca, podendo estar ser
atribuída a uma grande diversidade de espécies-alvo encontradas na região, assim como a
instabilidade da atividade, que leva o pescador a uma alternância das modalidades da pesca.
Os nomes vulgares podem diferir entre regiões de estudo, porém a nossa preocupação
foi identificar que tipo de pescado é vulnerável aos tipos descritos. De maneira genérica, o
pescador é um predador em potencial que explota os recursos de uma determinada área com
estratégias e aparatos de capturas distintos. Algo similar a um ecossistema, onde os
consumidores estão classificados de acordo com o nível trófico que ele ocupa. São
predadores de primeira, segunda ou de terceira ordem. O pescador que explota cardumes de
pititingas, peixes herbívoros, seriam então considerados consumidores de primeira ordem.
Outros que explotam guaricemas, predadoras de pititingas, podem ser considerados
consumidores de segunda ordem. E, ainda, existem aqueles que capturam espécies
predadoras de outras espécies carnívoras, a exemplo dos peixes classificados vermelhos.
Estes estariam, então, no topo da cadeia alimentar, consumidores de terceira ordem.
A classificação das artes e petrechos de pesca segue o modelo existente na FAO
(1990).
5.3.2.1 – As Armadilhas
1.
Munzuá (8.2.0)– Armadilha de
fundo fixa, de formato poligonal,
com um dos lados em formato de um
hexágono,
confeccionada
com
a
casca de uma gramínea - cana brava
(Fig. 62). Hoje as armadilhas são
confeccionadas com tela de arame
Fig. 62. Munzuá em embarcação no Comercio. Foto:
V.L.Q.
(Fig. 63) ou nylon, com formato em
paralelepípedo,
para
captura
de
lagostas e siris, estas também, são
denominadas munzuás. Essa é uma
arte que pode ser utilizada, tanto
embarcado, quanto desembarcado,
não sendo necessária a permanência
do
Fig. 63. Armadilha em forma de paralelepípedo,
confeccionada com tela de arame, Ribeira. Foto: V.L.Q.
pescador
no
local
onde
a
armadilha é lançada. As iscas são
colocadas no interior, para atrair os
animais que serão capturados. Utilizado na captura de siri, lagosta ou de peixes. Identificado
para as áreas do Rio Vermelho, Ondina, Comércio, Pedra Furada e Ribeira.
5.3.2.2 – As Linhas
2.
Linha de mão com arremesso
de cima das pedras (9.1.0) – Tipo de
pesca de linha de mão característico
de
onde
se
tem
afloramentos
rochosos. Os pescadores ficam em pé
em cima das pedras de onde fazem os
arremessos das linhas com as iscas
presas no anzol (Fig. 64). Para atrair
os
peixes,
normalmente,
lançam
Fig. 64. Pesca característica da Pedra da Sereia, linha de
mão com arremesso de cima das pedras. Foto: V.L.Q.
engodo de pão ou mesmo porções de pititinga (PISCES: ENGRAULIDIDAE) na água. Esta
arte de pesca, aparentemente simples, tem suas peculiaridades dependendo da área onde é
observada. Na Pedra da Sereia, por exemplo, Ondina, a linha é boiada, sendo utilizados
pequenos potes plásticos, como os de colírio, ou de filme fotográfico, para deixar o anzol
próximo da superfície, os peixes são conservados nas poças que se formam em cima das
pedras com as ondas quebrando. O peixe mais desejado na pescaria é o bonito (PISCES:
SCOMBRIDAE). Identificado também para as áreas de Itapuã, Boca do Rio, Amaralina, Rio
Vermelho e Barra. Utiliza-se, também, o molinete e “molilata” nesse tipo de pescaria.
3.
Linha de mão com arremesso
de cima do cais (9.1.0) – Mais uma
variação da linha de mão, praticada
em áreas onde são encontrados cais,
local de onde os pescadores fazem os
arremessos (Fig. 65). Este pode
também ser através de molinete.
Fig. 65 Pesca com linha de mão de cima do cais na
Ribeira. Foto: V.L.Q.
Identificada para as áreas de Ondina,
Gamboa, Pedra Furada e Ribeira.
Capturam-se peixes de menor porte, a exemplo de carapicus e carapebas (PISCES :
GERREIDAE).
4.
Linha de mão com arremesso
da praia (9.1.0) – Tipo de pesca
praticado a partir da areia da praia, na
qual pode ser por meio de linha de
mão, com uso de molinete, mulilata
ou vara de pescar. Na extremidade da
linha utiliza-se uma chumbada. Tipo
de pescaria bem típica na região
compreendida entre Itapuã e Ondina,
sendo vista também na Ribeira (Fig.66).
Fig. 66. Linha de mão com arremesso da praia na
Ribeira. Foto: V.L.Q.
5.
Grozeira (9.3.0) – também é conhecida pelo nome de espinhel (Fig. 67), consiste na
utilização de várias linhas com anzol, amarradas espaçadamente por distorcedores presos em
uma linha mestra, na qual horizontalmente esticada, onde se fixam duas bóias nas
extremidades, ou verticalmente com uma bóia e uma chumbada, uma em cada extremidade. É
colocada e no dia seguinte é recolhida. Identificada para as áreas de Itapuã, Rio Vermelho e
Ondina.
Fig. 67. Esquema de grozeira retirado do manual da FAO(1999).
Segundo descrição feita por Sr.Orlando Xavier dos Santo, pescador do comercio que não
pratica mais esse tipo de pesca. A grosseira,
“É um cordão que em uma braça e meia vai botando anzol, botando
anzol, botando anzol, aí vai estendendo 200, 300, 400 anzol
dependendo do seu conhecimento. Agora, é uma pescaria arriscada,
porque no momento que vem um peixe grande, se você não souber
trabalhá ele rebate a grosseira da sua mão e um daqueles anzol, se
pegar em você, pode te aleijá, pode até matá! É tanto que você tem
que trabalhar com uma faca ali na frente e uma faca no seu lado.”
6.
Linha de mão boiada (9.1.0) –
Uma variante da linha de mão, é
usada com a embarcação parada sobre
o pesqueiro. Recebe esse nome,
justamente, por operar boiando na
superfície ou próximo a ela, utilizada
Fig. 68. Petrechos utilizados na pesca de linha boiada,
observe que não há chumbada.. Foto: Arquivo do Lab. de
Nectologia. APA Recife de Pinaúnas.
de preferência isca viva, como sardinha por exemplo. Não usa chumbada (Fig.68). Algumas
vezes são utilizadas também iscas artificiais, com destaque para a vassourinha (pedaço de
ráfia – fibra sintética, desfiada e presa ao anzol, que em movimento atrai os peixes por
parecer viva). Identificada para a área do Rio Vermelho e Ondina. Empregada para captura de
guaricemas (PISCES : CARANGIDAE).
7.
Linha de fundo (9.1.0) – Um tipo de linha de mão com chumbada. No nylon se prende
um único anzol ou dois anzóis, por meio de estropo, por vezes de fio de aço. A chumbada
neste tipo de linha é presa na extremidade da linha principal e pode pesar de 200g a 1 kg,
podendo ser encontradas linhas sem estropo. Como as demais pescarias de fundo, as iscas
vivas são as preferidas, mas usa-se: sardinhas congeladas, lulas e camarões. Dependendo do
“pesqueiro” e da espécie que esteja ”comendo”, pode-se utilizar-se pedaços de outros peixes
como isca. Identificada para toda a área de estudo, de Itapuã a enseada dos Tainheiros.
Captura diversos tipos de peixes, em especial os vermelhos (PISCES : LUTJANIDAE)
8.
Molinete (9.1.0/ 25.0.0) –
Arte de pesca com uso de vara e
um instrumento – o molinete
(Fig.69) utilizado para recolher a
linha com facilidade e facilitar o
lançamento dos anzóis com isca e
chumbada.
usada
na
Modalidade
mais
pesca
esportiva.
algumas
variações
Fig. 69. Arte de pesca molinete. Foto: Moisés Mafra.
Apresenta
como os locais de onde são arremessadas, podendo ser da praia, ou de cima das pedras, sendo
a primeira modalidade a mais comum. Identificada para a maioria das áreas como Itapuã,
Pituaçu, Boca do Rio, Ondina e Gamboa.
Molilata (9.1.0/ 99.0.0) – Uma
9.
variação da pescaria com vara e
molinete, utilizada na pesca recreativa.
É uma forma criativa dos pescadores
Fig. 70. “Molilatas” improvisados com tubo de PVC e
com garrafa pet, praia de Ondina, Piatã e Amaralina.
manipulando
rapidamente
o
Fotos V.L.Q. e E.L.Q.
comprimento da linha de pesca. A linha
encontra-se enrolada em latas de alumínio, garrafas PET, tubos PVC, ou pedaço madeira ou
papelão (Fig. 70), servindo de apoio no momento do lançamento, além disso são utilizadas como
carretel, aonde libera-se ou enrola-se a linha de acordo com a necessidade de cumprimento maior
ou menor. Este tipo de petrecho é utilizado para lançamentos a partir da areia da praia, de cima
das pedras, ou de cima do cais. Identificado para as áreas de Itapuã, Piatã, Boca do Rio, Costa
Azul, Rio Vermelho e Ondina. Este nome foi dado pelos pescadores.
9.
Pesca com vara (9.1.0) –
Utiliza-se uma vara de bambu (Fig.
71). Podem-se encontrar pescadores
com varas confeccionadas em fibra
de vidro ou em liga de carbono.
Nessa prática o pescador fica em pé
na praia, nas pedras ou de cima do
Fig.71. Pescador voltando da pescaria com vara ,
praia de Piatã. Foto: E.L.Q.
cais, de onde arremessa a linha com
anzol, chumbada e isca. Algumas
vezes, estando em águas rasas podem permanecer em cima de pequenas embarcações. Um
local típico é a região do Rio Vermelho. É um tipo de pesca esportiva, não sendo o seu
produto, na maioria das vezes, comercializado. Identificado para as áreas localizadas dede
Itapuã até a Ribeira.
10. Pesca de guaricema com linha
de fundo (9.1.0) – Tipo de pescaria
bem específico da praia de Ondina,
no qual, a partir da observação das
manchas dos cardumes de pititinga,
os pescadores que estão na praia,
correm
com
as
suas
molilatas
improvisadas com tubos de PVC ou
pedaços
de
papelão
e
fazem
Fig 72. Pesca de Guaricema realizada na Praia de
Ondina. Momento no qual os pescadores avistam a
mancha de pititinga e vão lançar suas linhas. Foto:
V.l.Q.
arremessos na direção das manchas para pescar as guaricemas que vem em busca de
alimentos na beira do mar, quando a maré “limpa”, no depoimento dos pescadores (Fig. 72).
Essas linhas utilizadas podem possuir de um a cinco anzóis, presos em linhas secundárias,
cada um destes com uma isca artificial presa. Podem possuir, ou não, chumbada. Ao serem
pescados, os peixes são então enterrados na areia da praia, e o local é marcado com um objeto
pessoal do pescador para que esse possa encontrar o seu pescado. A pesca da guaricema, na
área de Ondina, especificamente na região da Pedra da Sereia, pode ser capturada por
pescadores em embarcações de pequeno porte de alumínio, fibra ou de compensado naval
que podem ser observadas enfileiradas da areia da praia.
11. Pesca de xixarro (9.1.0) - Um tipo de pesca de linha de mão, específico para xixarros
(PISCES: CARANGIDAE). São utilizadas iscas artificiais ou mesmo anzóis sem isca,.
Normalmente seis anzóis, podendo chegar a até vinte anzóis numa mesma linha. Alguns
pescadores fazem este tipo de pescaria, utilizando a vara de pescar. Nesse caso utilizam
anzóis com isca, até dois anzóis. Pode ser caracterizada como uma pescaria estacional,
ocorrendo sempre nos meses de verão. Os xixarros são consumidos ou utilizados como isca,
inclusive para captura de ouros xixarros. Identificada para as áreas de Itapuã, Piatã, Rio
Vermelho, Ondina e Barra.
5.3.2.3 - As artes não especificadas
12. Mariscagem (99.0.0) – É a arte de pescar e catar mariscos. É uma atividade
desempenhada principalmente por mulheres, acompanhadas por filhos (as) e netos (as), mas
os homens, também, são encontrados na função da captura do marisco. Para capturar os
mariscos que ficam enterrados no banco de areia utilizam-se petrechos dos mais diversos e
mais improvisados: colher de pedreiro, colher, estacas de madeira, conchas grandes
encontradas no próprio local, tampa de lata de tinta, dentre outros (Fig 73). Existem
marisqueiras que apenas desenterram os mariscos. Outras ainda peneiram uma porção de
Fig. 73. A arte de mariscar com seus diferentes petrechos utilizados pelos trabalhadores(as) do
mar (conchas, colher de pedreiro e tampa de tinta). Foto: V.l.Q.
areia através de tampas de ventilador ou jererés, afirmando que dessa forma facilita o
trabalho. Atividade praticada principalmente durante os dias de lua cheia e na lua nova, na
maré baixa, quando as marés deixam os bancos de areia mais tempo descoberto. Identificada
principalmente na Ribeira, as espécies explotadas são chumbinho, rala coco, maria preta,
concha, papa fumo, canivete e ostra. Sendo identificada também em Tainheiros e na Pedra
Furada, local onde os pescadores afirmaram não haver mais mariscos:
“O sururu tem tentado resistir, mas em termos de marisco aqui é
uma área morta! Tem umas famílias que ainda insistem em ir, mas
pega uma ostra aqui, uma ostra ali, mas pra sustentar mais não.”
(Getúlio de Jesus).
Em Itapuã, localidade onde, ainda, existem marisqueiras, mas não mais a atividade de
mariscagem. Antigamente, as marisqueiras mariscavam no rio Passa Vaca e hoje em dia
deslocam-se para Buraquinho ou Jauá, localidades mais distantes, em busca de mariscos.
5.3.2.4 – As artes de ferrar
13.
Mariscagem
pinaúna
(10.0.0/
99.0.0) (fig. 74) – Tipo específico de
mariscagem, realizado por mulheres e
homens, normalmente praticada nos
dias de lua cheia e lua nova, em maré
baixa. O petrecho utilizado é a fisga,
devido
Fig. 74 – Espécies de pinaúnas, capturadas com fisga
para consumo, na praia de Piatã. Foto E.L.Q.
ao
(Echinometra
fato
das
pinaúnas
lucunter)
se
“agarrarem” nos recifes. Os animais
são assados inteiros, em carvão ou fogo de lenha e somente as gônadas das fêmeas são
consumidas. Identificada para a área de Itapuã,
Piatã e Rio Vermelho.
14. Fisga (10.0.0) – Petrecho semelhante a um
bicheiro, com uma das extremidades curvadas em
formato de anzol, normalmente utilizado para
captura de organismos que se encontram em
tocas, lagosta e polvo. Para a prática
desta
pescaria
é necessário a percepção visual do organismo,
para que então se faça um lançamento direto da
fisga, perfurando presa. Identificado para as áreas
Fig.75: Pescador de Itapuã segurando
uma fisga. Foto V.L.Q.
de Itapuã, Costa Azul, Amaralina, Pedra Furada e Ribeira. A fisga pode também ser utilizada
para ajudar aos pescadores a levar peixes mais pesados para cima da embarcação. Uma
prática especial realizada com fisga é a pescaria de pinaúnas (Echinometra lucunter)
observada em Itapuã(Fig. 75).
15. Mergulho apnéia- fisga, espingarda, arpão (10.1.0) – Pescadores equipados com pés
Fig.76. Mergulhadores e seus petrechos, espingarda, arpão, vara de bambu, roupa de
neoprene, além dos petrechos básicos como óculos, snorkel e nadadeira. Mergulhadores da
área entre a Pituba e Amaralina. Foto: V.LQ.
de pato, máscara e “snokell” descem a uma profundidade por volta de 5 m. Esse tipo de
pescaria apresenta uma variação na área de estudo, dependendo do ambiente no qual o
mergulhador está inserido. De Itapuã até o Farol da Barra os pescadores utilizam roupas de
neoprene, os petrechos usados na caça são espingarda e um pedaço de vara de pescar de
bambu com um polvo amarrado para capturar lagosta, enquanto que do Farol da Barra até a
Ribeira, este tipo de mergulho caracteriza-se pela utilização de arpão com borracha de pneu e
fisga (pedaço de ferro com a ponta curvada em forma de anzol) (Fig. 76) Identificada em
praticamente todas as áreas, com exceção de Tainheiros, provavelmente, em função da baixa
qualidade das águas na região. As espécies visadas dependem da área de mergulho.
16. Mergulho de compressor (10.1.0/ 6.9.0) – Tipo de mergulho autônomo realizado com
o auxilio de um compressor adaptado ao motor da embarcação, ligado a este por uma
mangueira e 100 a 150 metros de comprimento, na qual dois pescadores descem ao fundo do
mar para localização de lagosta, polvo ou de peixes utilizando-se nas capturas fisga,
espingarda de pressão e arpão. Em casos de pesca de peixes ornamentais utiliza-se redes
como currupichel, por exemplo. Tipo de pesca muito perigoso, recentemente, desestimulada
pela SEAP - PR. Identificado para as áreas de Itapuã, na pesca de polvo e Costa Azul. No
Porto da Barra e em alguns pontos da baía de Todos os Santos é comum o uso dessa técnica
para captura de peixes ornamentais.
5.3.2.5. As redes
17. Mergulho para captura de peixes ornamentais (6.9.0) - Tipo de pesca que pode ser
realizado com os pescadores embarcados, com uso de equipamento autônomo (Narguilé ou
pesca com compressor) em naufrágios
ou recifes submersos mais afastados
da costa e profundidades acima de 10
metros. Tudo indica que em regiões
menos
profundas
o
estoque
de
espécies com valor para aquariofilia
esteja esgotado. Este tipo de pesca é
realizado,
Fig. 77. Pescador da Pedra Furada consertando seu
currupichel em Pedra Furada. Foto V.L.Q.
em
mergulhadores
média,
que
por
promovem
três
o
revezamento entre eles. Pode ser também praticada em poças de maré, onde geralmente é
feita em apnéia, com puçás (espécie de currupichel ou jereré) (Fig.77) de diferentes
tamanhos, geralmente, um de tamanho pequeno e um de tamanho médio (15 a 25 cm de
largura de boca, respectivamente). Para armazenar os peixes capturados, são utilizados sacos
plásticos que tem sua água trocada constantemente. Este tipo de pesca foi identificada para as
áreas de Patamares, Ondina, Barra, Pedra Furada, Ribeira e Tainheiros.
18.
Currupichel
-
isca
viva
(6.9.0) – Arte de pesca de mão, tipo
rede caída. Não passa de um jereré
com um cabo comprido (Vide Fig.
77). Com esse tipo de rede os
peixes são capturados de surpresa.
Caracteriza-se por apresentar um
Fig. 78. A seta preta indica um currupichel, prai de
Itapuã, rua K. Foto E.L.Q.
aro no qual tem uma rede de
malhas (Fig. 78) cujos tamanhos
podem variar, e preso a esta está um cabo de madeira no qual o pescador segura para capturar
os pescados com um golpe certeiro, normalmente, de cima da embarcação. Muito utilizado na
captura de iscas- vivas, que é feita durante a noite, com o auxílio da luz fluorescente ou do
“pib gás”, as quais atraem os peixes: xixarro
(PISCES : CARANGIDAE) ou lulas (MOLLUSCA
: DECAPODA) para próximo das embarcação, o
que facilita a sua captura. Esta arte é identificada
para as áreas de Itapuã, rio Passa Vaca, Boca do
Rio, Rio Vermelho, Ondina, Gamboa, Pedra Furada,
Ribeira e Tainheiros.
19.
Jereré - Pesca de siri bóia (5.1.0) – Petrecho
de pesca utilizado tanto para pesca embarcada como
desembarcada. Identificada para as áreas de Pedra
Fig. 79. Pesca de siri com jereré. Foto:
arquivo do Lab. de Nectologia.
Furada e Ribeira, sendo uma arte característica da
primeira localidade na captura de siri bóia. Conhecida também pelo nome de puçá pode ser
utilizada na captura de outras espécies de siri, assim como na captura de iscas vivas (Fig. 79).
Sr. Getúlio de Jesus, presidente da Associação dos pescadores da Pedra Furada,
descreve tal arte e a forma como ela é utilizada da seguinte maneira:
“É uma roda que tem uma linha que a gente amarramos e tipo
uma cruz que faz 4 pedaços, a genta pega 4 peixes e amarramos, e
aí colocamos uma chave e colocamos uma corda de mais ou menos
uns 40 m. Aí chega a um ponto, em alto mar, a gente joga uns 4
jererés, dá uns 5 minutos e aí puxa, se o siri tiver lá ele vem e a
gente vai embarcando. Também se ele num tiver naquele ponto ali
a gente sai pra outros pontos, vai remando pra achar aonde ele
ta!”.
Mosqueteiro (6.1.0) – Arte de pesca do tipo tarrafa, sendo confeccionada com filó,
20.
rede de malha muito fina, mesmo material utilizado para confecção do mosqueteiro, um
utensílio doméstico, colocado
sobre camas para evitar a
aproximação de mosquitos muriçocas. È específica para a
captura da pititinga (PISCES :
ENGRAULIDIDAE). Por isso,
apresenta a malha é tão fina.
Identificado para as áreas de
Itapuã, Pituaçu, Costa Azul, Rio
Fig.80. Arremesso de mosqueteiro na praia da Ondina .
Foto: V.L.Q.
Vermelho e Ondina (Fig.80).
21. Rede Agulheira (1.2.0) – Arte
de pesca do tipo rede de cerco, onde
é utilizada, normalmente, uma ou
duas embarcações do tipo canoa.
Apresenta um formato retangular,
Fig. 81. Rede agulheira no núcleo onde canoas e
petrechos são “alugados, ao lado da Colônia Z6, Itapuã.
Foto: E.L.Q.
com tralhas de bóias e chumbo. O comprimento e a altura são variáveis, em função da
profundidade em que vai operar. Possui esse nome por ser específica para captura de agulhas
(PISCES: EXOCOETIDAE). Identificada para a área de Itapuã e Ribeira. (Fig. 81).
22. Rede Arraieira (7.1.0) - Arte de pesca do tipo rede de espera de fundo. Identificada
para áreas localizadas dentro da baía de Todos os Santos: Pedra Furada e Ribeira. Empregada
para captura de arraias (PISCES: DASYATIDAE).
23. Rede de Cerco (1.2.0/ 7.2.0) – Segundo descrição feita por Sr. Orlando Xavier,
pescador que atua na área do Comércio, a prática da pesca ocorre da seguinte maneira:
Fig. 82. Esquema de rede de cerco apresentado pelo manual da
FAO( 1990)
“Nós largamos a rede em espécie de arco íris (Fig. X), vai uma
canoa de um lado, a outra do outro Nós vamos viajano, a maré vai
desceno, no caso a maré aqui vai desceno pro sul, você vai
acompanhando, vai desceno. Tem as marcas. Quando chega nas
marcas a gente larga as cordas, cerca de 20 braças de cada lado; as
canoa se encontra. Um homi puxa aquela rede, chegou os calão,
que é o início da rede... aí os mergulhadô cai n`água. As força dos
mergulhado é conforme você pega do eclé, de baixo pra cima, você
vem fechando aquilo lentamente. Os mergulhadô começa a
trabalhá sempre ao pé no chão, e vai indo , vai indo... até se deitá
no chão. Eles tem que trabalhá deitado! Entendeu bem? Ele tem
que trabalhá deitado no chão, com a barriga no chão apertando a
rede! E aí nós temos um sistema de dizer: ói fulano faça isso você!
Oi, devagar! E aí se tiver mil peixes... é difícil escapar um! Uma
canoa fica trabalhando com 5 homi, a da rede, e o socorro, aquela
q ajunta os peixe, q a gente bota os peixe dentro, fica com 3 homi.”
O comprimento e altura são variáveis, em função da profundidade em que vai operar.
Identificada para as áreas da Gamboa, Ribeira e Tainheiros.
24.
Rede de arrasto de praia –
calão (2.1.0) Arte de pesca do tipo
rede de arrasto, utilizada em praias,
margens de canais e enseadas, é
levada a locais próximos a costa por
canoas ou barcos a remo, onde é
lançada na água e os dois cabos das
Fig. 83. Rede de calão, arrasto de praia em Itapuã,
pescadores puxando a rede da areia, mergulhadores
“cuidando para os peixes não fugirem e o mestre de
cima do barco dando as direções. Foto: V.L.Q.
suas extremidades são levados para a
praia para que a rede seja tracionada
pelos pescadores. Há também a
participação de mergulhadores que cuidam para que os peixes não escapem no momento do
arrasto. Há uma forte comunicação entre os pescadores embarcados, os que estão na praia e
os mergulhadores. É uma rede com, aproximadamente, 150 a 200 m de comprimento por 3 m
de altura, formato retangular com tralhas bóias e chumbo. Identificada para as áreas de
Itapuã, Pituaçu, Boca do Rio, Costa Azul e Ribeira. Captura diversas espécies que ocorrem
no ambiente costeiro (Fig.83).
25. Rede de arrasto de praia
(99.0.0)– Usa-se rede com tamanho
menor que o calão. Algo em torno de
vinte metros, no máximo. A malha
não ultrapassa 10mm e é tracionada
por dois homens, pela beira e paralela
à praia (Fig. 84). A rede é presa em
Fig. 84. Crianças pescando com rede de arrasto de
praia, em Conceição, APA Recife de Pinaúnas. Foto::
Arquivo do Lab. de Nectologia.
duas varas de tamanho variável, não ultrapassando os dois metros de altura, por onde é
puxada. As crianças sempre participam dessa forma de pescarias e os adultos, muitas vezes,
utilizam no período noturno em busca de isca para pescarias com linha de mão. É bem
difundida na área de estudo, em regiões onde não existem rochas que dificultem o seu
manuseio.
26. Rede de espera (7.1.0)– Todas as redes que ficam verticalmente colocadas na coluna
d`água onde o peixe é emalhado. Podendo, também, ser de deriva (operando ao sabor das
correntes) ou fixas ao fundo por meio de fateixas ou poitas. Podem ser empregadas na
superfície, meia água ou fundo. O nylon utilizado na confecção das redes é do tipo
monofilamento, variando entre 0,2 e 1,0 mm de espessura, ou multifilamento trançado,
variando entre 1,5 a 2,5 mm de diâmetro, com malhas inteiras variando de 40 a 280mm,
dependendo da espécie a ser capturada: camarão, serra, pescada, camurupim, cação, arraia,
etc. Este tipo de pesca consiste em colocar as redes nos estuários e, após um período recolher,
despescar e lançar novamente. Recebem várias denominações a depender da espécie
capturada, local, tamanho da rede e altura, onde é colocada: tainheira, caçoeira, arraieira,
tainheira, rede de fundo, rede de alto, tresmalho, etc (CEPENE, 2004). Redes de espera,
praticamente, são citadas por toda área de estudo. Em algumas localidades o ato de visitar a
rede em busca de peixes emalhados, denomina-se de “mariscar a rede”.
27. Rede tainheira (2.1.0/ 7.3.0)– Tipo de rede de cerco utilizada, principalmente, em
estuário, na captura de tainha. Confeccionada com nylon monofilamento, variando de 0,35 a
0,4 mm de espessura e malhas de 80 a 120 mm de comprimento (CEPENE, 2004). A prática
é feita com os pescadores embarcados em canoas. Normalmente, o mestre, o mais experiente,
localiza um cardume de tainhas; observa a direção em que estão seguindo ou se estão
alimentando-se e promovem o cerco. A rede é recolhida de cima da embarcação. Uma
modalidade desse tipo de pescaria, denomina-se pesca de abalo. Segue-se a mesma rotina
descrita, com uma única diferença. Após o cerco os pescadores batem com a pá do remo na
superfície da água ou com a haste na borda da canoa para que os peixes fiquem “assustados”
e emalhem com mais facilidade.
28. Rede tresmalhos (7.5.0) –
Arte
de
pesca
produzida
artesanalmente com fios de algodão
ou nylon multifilamento, medindo
entre 6 a 40 metros de comprimento,
formada por três redes superpostas,
duas externas e uma central, armada
de forma mais frouxa (Fig. 85). É
Fig. 85. Rede tresmalhos, esquema retirado do manual
da FAO (1990).
empregada durante o dia, a uma profundidade por volta de 1,5 m. Na tralha superior
emprega-se cortiça de madeira (mulungu), enquanto que na tralha inferior não é colocada
chumbada.(CEPENE, 2004). Este petrecho é deixado no local da pesca e após um período é
recolhido. Utilizado a partir de uma embarcação. Os peixes se emalham na rede interna,
depois de passarem pelas exteriores (FAO, 1990). Identificada para as áreas de: Itapuã, Boca
do Rio e Rio Vermelho.
29.
Tarrafa (6.1.0)– Uma espécie de rede de
encobrir lançada para captura de pequenos peixes.
O lançamento da tarrafa é feito por um pescador
desembarcado ou embarcado, em águas rasas.
Quando o pescador observa a aproximação do
cardume, ele faz o lançamento do petrecho. (Fig.
86). Momento no qual é necessária muita perícia
Fig. 86: Tarrafa sendo preparada para o
lançamento, praia de Ondina. Foto: V.L.Q.
para que se tenha uma abertura perfeita, em forma de círculo, permanecendo neste formato
até chegar ao fundo. Fecha-se naturalmente quando o pescador puxa uma corda que prende a
tarrafa ao braço dele. Identificada para as áreas de Itapuã até a Ribeira. Na região da Barra, os
pescadores utilizam tarrafas no período noturno para captura de tainhas, nas áreas com
afloramentos rochosos.
5.3.2.6 – Artes diversas
30. Bomba
(20.0.0)
–
Bombas
artefatos feitos de forma artesanal e
rudimentar e que têm alto poder
destrutivo. O alvo são os cardumes de
peixes,
normalmente,
as
tainhas
(PISCES :MUGILIDAE). É uma
pesca ilegal e perigosa, normalmente,
realizada por um ou dois “bombistas”.
Fig. 87. Bomba de dinamite, pavio e espoleta metálica.
Usada em cardumes de tainhas (Mugil spp). Foto: Ailton
Sampaio, arquivo do Lab. de Nectologia.
Identificada para áreas localizadas no interior da baía de Todos os Santos, desde a Gamboa
até a Ribeira. (Fig. 87)
A variedade de artes de pesca no litoral da cidade de Salvador está bem caracterizada.
Existe uma diversidade de tipos de linha de fundo, por exemplo, redes e armadilhas, que
segundo SILVA et. al. (2004) seus modelos e formas de uso estão relacionados, entre outros
fatores, com a espécie alvo de captura, com a velocidade das correntes e com o local da
pescaria, principalmente profundidade, consequentemente, explotação dos estoques.
Baseado nos princípios citados, cada área foi caracterizada por um grupo de artes e
formas de pesca características. Esta variedade de artes de pesca encontra-se representada
no grupo de Tabelas em anexo, juntamente com seus códigos de classificação (FAO,
1990).
Houve certa dificuldade na identificação destas artes de pesca, a partir da
Classificação Internacional Uniforme das Artes de Pesca (ISSCFG), devido às
especificidades encontradas na área de estudo. A generalização das artes e petrechos
apresentada pela FAO, bem como no Boletim Técnico do CEPENE (2005), dificultam o
entendimento em relação à explotação dos recursos.
Dessa forma, adotar a classificação proposta pela FAO, pode-se de alguma maneira
subestimar, ou mesmo sobre estimar, as formas de explotação dos recursos pesqueiros pelos
pescadores na região do litoral de Salvador, compreendida entre a enseada dos Tainheiros e
Itapuã e as suas especificidades.
Alguns exemplos típicos de especificidade encontrados nessa pesquisa, que podem
contribuir para estratégias equivocadas de ações de educação ambiental, são:
1 – A pesca de mergulho (FAO 10.1.0). Praticamente encontrada em todas as áreas
de estudo, mas com características e petrechos diferenciados. Também, existe um reflexo na
Fig. 88. Preparativos de um mergulhador, na praia da Pituba, para mergulho em apnéia.
Observe a vara de bambu com um polvo na extremidade. Essa técnica é utilizada para captura
de lagostas. Foto V.;L.Q.
composição das capturas, devido, entre outras variáveis, ao tipo de ambiente em que o
mergulhador atua. Os mergulhadores que atuam na área que vai do Porto Barra até a Ribeira,
explotam recursos de um ambiente, tipicamente, estuarino, a baía de Todos os Santos. Usam
arpão com borracha de pneu e um pedaço de ferro com a ponta curvada em formato de anzol
(fisgueira).
Por outro lado, os mergulhadores que atuam na denominada orla marítima de
Salvador, aqui caracterizada desde o Farol da Barra até Itapuã, usam espingarda, um pedaço
de vara de pescar de bambu para amarrar um polvo, em busca de lagostas e, na maioria das
vezes, estão com roupa de neoprene. Nem sempre em boas condições (Fig. 88).
Esses pescadores explotam recursos de ambiente recifais com outras características e
que estão distribuídos em águas com maior influência do ambiente oceânico. São alguns dos
peixes capturados: “barbeiros” (Acanthurus spp), “budião azul” (Sparisoma sp).
2 – Linha de mão (FAO 9.1.0). Empregada de diversas formas e na explotação
diferenciada de recursos. Na Ribeira, usada em embarcações ou de cima do cais, capturam:
vermelhos (Lutjanus sp), peixes da família Gerreidae e outros pequenos peixes. No Farol da
Barra, a linha de mão é empregada para captura de “bonitos”, peixes Carangidae e outros
peixes típicos de ambiente oceânicos. Já em Ondina, a linha de mão, agora utilizada de cima
de embarcações, é empregada para captura específica, dependendo da época, de guaricema
(Caranx sp). Na Pituba, Jardim de Alah, Boca do Rio, Pituaçu, Piatã e Itapuã, a linha de mão,
pode ser arremessada da praia e captura: Polydactylus virginicus, bagres e carangídeos.
3 – Pescas com redes de caída (FAO 6.9.0). Neste caso temos duas modalidades de
pesca sendo classificadas pela FAO com o mesmo código, porém estas pescarias se
desenvolvem de maneiras bem distintas, que é a pesca de peixe de aquário e a pesca de iscas
vivas. Ambas capturam o pescado de surpresa, sendo que a primeira pode ocorrer embarcado
ou desembarcado, em mergulho, em recifes. Utilizam-se redes pequenas e médias. Depende
do tamanho do pescado, que podem ser peixes ornamentais ou pequenos crustáceos, que são
capturados durante o dia. Essa modalidade de pesca é identificada para Ondina, Pedra Furada
e Ribeira.
A captura de iscas vivas ocorre durante a noite, sendo os organismos alvo lula e peixes
pequenos, que se aproximam das embarcações atraídos pela claridade das lâmpadas
fluorescentes utilizadas. A rede utilizada é denominada de currupichel, a qual apresenta
maiores proporções que as anteriores. Esta arte é identificada para Itapuã, Passa Vaca, Boca
do Rio, Rio Vermelho, Ondina, Gamboa, Pedra Furada, Ribeira e Tainheiros.
Depois das iscas capturadas com currupichel, elas são mantidas em artefatos, feitos de
diversos materiais, amarrados à embarcação (Fig. 89). Os pescadores declaram que alguns
peixes só “comem” iscas viva, a exemplo do “olho-de-boi”, seriola sp.(PISCES:
CARANGIDAE)
Fig. 89. Artefatos para conservar iscas vivas de diversos materiais e modelos,
construído em madeira (Itapuã), em palha, modelo mais tradicional (Itapuã) e
reaproveitando- se recipiente plástico (Piatã). Fotos: V.L.Q, E.L.Q.
4. Tarrafa e mosqueteiro (FAO 6.1.0). Também identificadas como redes de caída
pela FAO, podem ser considerados nomes vulgares para o mesmo petrecho. Porém, os
pescadores explotam recursos diferentes e promovem impactos distintos sobre os estoques de
pescados. A primeira, a tarrafa, é empregada para captura de tainhas (Mugil spp), gerreídeos,
carangídeos e outras espécies. O mosqueteiro é empregado, exclusivamente para captura de
“pititingas” – Engraulididae. Como os pescadores mesmo reconhecem, capturam,
indistintamente, outros alevinos.
5.4 - Análise de “cluster”
Resultados similares aos deste estudo, com dois grupos bem característicos e um
intermediário, foi encontrado por FREITAS NETTO e DI BENEDITTO (2007) no estado do
Espírito Santo. Os autores utilizaram a análise de “cluster” para caracterizar áreas a partir de
petrechos de captura – redes.
Os gráficos abaixo resultam da análise de “cluster”, realizada com a técnica, sendo
utilizadas as distâncias Euclidianas, para avaliar a (Dis) similaridades existentes entre as
localidades visitadas, tendo como variáveis as artes e petrechos de captura.
Fig. 90: Matriz 1. Utilizando-se 32 variáveis.
No primeiro agrupamento (Fig. 90) onde levamos em conta as particularidades das
localidades, respeitando-se a diversidade de petrechos e artes, o gráfico demonstra que em
relação ao que foi observado, podemos dividir a região de estudo, em três grandes áreas: 1Orla marítima (retângulo roxo), região compreendida entre Itapuã e Amaralina e 2 – Cidade
Baixa (retângulo vermelho), região compreendida entre Farol da Barra e Enseada dos
Tainheiros. Entre essas, uma região, que poderíamos considerar como uma área de 3 –
Transição (retângulo verde).
Fig. 91. Matriz 2. Reduzindo-se o número para 20
variáveis, com agrupamento de algumas artes e
petrechos, antes individualizados.
Reduzindo-se o número de variáveis para 20 (Fig. 91) permanece a mesma divisão, em
duas regiões distintas, bem características, mas surge uma rearrumação entre as localidades,
que formam os agrupamentos irmãos. A localidade de número 10 - Comércio , em ambos
agrupamentos, aparece na condição de “out group”, o que significa que é uma região mais
diferenciada. Repete-se o padrão genérico de 2 grupos bem característicos e um grupo
intermediário, e, de novo na figura 92, a rearrumação entre as localidades situadas nos grupos
internos, formados por Itapuã, Piatã/ Passavaca; Amaralina/ Hotel Pestana; Pedra da
Sereia/Farol da Barra; e Mont Serrat / Penha, enseada dos Tainheiros.
Fig. 92: Matriz 3. Utilização de, apenas, 16 variáveis, de
acordo com a FAO (1999).
De uma forma geral, podemos formular os seguintes comentários, em relação à
utilização das matrizes com variáveis modificadas:

Quanto maior a quantidade de variáveis, maior a distância euclidiana,
demonstrando que existem diferenças marcantes entre as áreas;

Quando reduzimos o número de variáveis nas áreas de estudo, ocorrem
algumas modificações internas;

Fica clara a formação de três grupos: um grupo 1 (em azul), representando a
cidade alta, grupo 2 (em verde), representando a região intermediária, e grupo
3 (em vermelho), representando a cidade baixa;

O grupo 1 (1,2,3,4 e 5), compreende a região que vai de Itapuã até Amaralina,
região caracterizada por ser banhadas pelas águas oceânicas e costeiras, com
pouca influência estuarina, até porque os rios das bacias hidrográficas que
deságuam na região, estão com a qualidade de suas águas comprometidas;

O grupo 2 (6,7 e 8), compreende a região que vai do Rio Vermelho até o
Comércio, classificado com grupo intermediário;

O grupo 3 (9,10,11 e 12), compreende a região do interior da baía de Todos os
Santos, indo do Farol da Barra até a Enseada dos Tainheiros, caracterizada por
ser um ambiente com forte influência de águas estuarinas;

Pode-se observar que existem áreas agrupadas com grupos irmãos (circuladas
de roxo). Entende-se que existe uma grande similaridade entre as pescas destas
regiões, como é o caso de 1 e 2 (Itapuã à Passavaca), 3 e 5 (Passavaca à
Amaralina), 7 e 8 (Rio Vermelho ao Farol da Barra) e 11 e 12 (Monte Serrat à
Enseada dos Tainheiros)

A localidade 10 – Comércio / Monte Serrat, talvez tenha se mostrado tão
distante em relação às outras áreas, por essa ser uma região, praticamente
inserida na cidade de Salvador, onde o acesso as informações sobre o sistema
de pesca, foi muito pouco.
Existe uma importância fundamental no resultado encontrado. Essas diferentes áreas
precisam ser encaradas de formas diferentes no que se refere à educação ambiental e aos
projetos em que se busque a melhoria da qualidade de vida dos pescadores, sem que com isso
signifique uma intervenção na cultura local, de forma a romper com as sua tradições.
Petrechos diferentes podem sugerir a explotação de recursos diferentes, ou não. É o
caso das tainhas que são explotadas com uso de tarrafa, rede de cerco e até com uso de
bombas. Da mesma forma que petrechos idênticos utilizados em regiões diferentes, podem,
também, indicar explotação de recursos diferentes, é o caso da linha de mão, que a depender
do tipo, explota recursos diferentes.
Dessa forma, é de extrema importância que as peculiaridades, em projetos
educativos, sejam levadas em conta, visando à conservação sócio-ambiental, e tendo como
foco a pesca nas diferentes regiões do litoral da cidade de Salvador. Devemos considerar as
(dis) similaridades aqui encontradas, sendo necessário, pelo menos, três programas diferentes
de Educação Ambiental para a região, poupando-se dessa forma gastos e esforço, esperandose retorno mais concreto da comunidade, eliminando-se possibilidades de instalação de
conflitos.
Na área de orla marítima, por exemplo, no trecho compreendido entre o Rio
Vermelho e Itapuã, assuntos relacionados à recuperação dos rios Camurujipe, Lucaia, Pituaçu
e o Passa Vaca, predominam nas estratégias conservacionistas, relacionadas à qualidade do
pescado, bem como recuperação as antigas áreas de manguezal, até a qualidade de vida dos
pescadores, pois estes convivem em áreas, totalmente, inóspita devido à presença de esgotos,
que são despejados nas águas desses rios que atravessam grande parte da cidade de Salvador.
A cidade baixa, trecho compreendido entre o Farol da Barra e Enseada dos
Tainheiros, acumula temas focais que envolvem desde a pesca ilegal com bombas – em toda
área, até a contaminação do ambiente por metais pesados – na enseada dos Tainheiros
(QUEIROZ & WASSERMAN, 2004). Assuntos diversos que exige estratégias diversas, até
porque os atores diferem em idade, tradição e costumes.
6 - CONCLUSÕES
As conclusões apresentadas nesse tópico estão de forma fragmentada, mas sem perder
de vista a integração da pesca em nossa cidade. Resulta do que foi observado, o que foi dito
pelos entrevistados e pelas intervenções acompanhadas com os representantes da pesca em
diversas oportunidades, em reuniões específicas ou em encontros de caráter científico.
São essa as conclusões.
1. O ambiente costeiro da cidade de Salvador, mesmo estando bastante antropizado e
descaracterizado de sua forma original devido à ocupação desordenada do solo, é um
ambiente rico em diversidade de ecossistemas, encontrando-se associado a bacias
hidrográficas, manguezal, recifes de coral, dunas e vegetação de restinga. Sendo
importante para sua conservação a administração de todos os ambientes associados.
2. Todos os rios das bacias hidrográficas, que drenam para a região costeira, estão com
alto grau de degradação, podendo ser considerados com esgotos a céu aberto.
3. O rio Passa Vaca é o único a manter certa integridade entre seus componentes biofísico-químicos, mas é visível a perda da qualidade de suas águas. Aves, algumas
árvores de mangue, peixes, mariscos e outros organismos vivos, observados e
capturados por pescadores confirmam essa condição.
4. Muitas das colônias de pesca encontram-se em regiões altamente poluídas, ao lado de
tais esgotos a céu aberto, utilizando-se das águas desses rios para estarem “limpando”
e tratando os pescados, além de muitas vezes pescarem nestes ambientes.
5. Na região compreendida entre a enseada dos Tainheiros e a rua K observou-se que a
pesca é tipicamente artesanal, realizada por comunidades tradicionais, que devido a
sua localização ao longo da região metropolitana, altamente urbanizada, vem perdendo
algumas características que a definem como tal.
6. A tradição da pesca está se perdendo ao longo dos anos e entre os próprios
trabalhadores do mar. Por falta de interesse, por desvalorização da atividade e pela
oferta de novas oportunidades no mercado de trabalho.
7. A produção pesqueira não acompanhou a expansão capitalista e a necessidade humana
de gerar, cada vez, mais capital. Ao contrário, a depleção dos estoques pesqueiros e a
pouca oferta em preços, não tem permitido os pescadores uma posição destacado no
mercado, onde não atingem seus desejos consumistas. Esse é mais um motivo que
conduz a categoria a uma fuga do setor.
8. Nem todos os pescadores estão filiados em alguma entidade de cunho associativista:
colônias, associações ou sindicato.
9. Os núcleos de pescadores do litoral da cidade de Salvador não apresentam estrutura
para o armazenamento, conservação, beneficiamento e comercialização do pescado.
10. A comercialização dos pescados tem, cada vez mais, a participação de
“atravessadores”.
11. As mulheres marisqueiras executam sua atividade de mariscagem sem nenhum tipo de
proteção, totalmente expostas a acidentes, inclusive com peixes peçonhentos – niquim
(PISCES : BATRACOIDIDAE) e a beatriz (PISCES: SCORPAENIDAE).
12. Idem os homens, em todos os tipos de pescarias identificadas, incluindo os itens de
segurança do homem no mar, quando embarcados.
13. São mais comuns as jornadas diárias de trabalho, nas quais os pescadores saem para o
mar e voltam no mesmo dia, estando relacionado a este fato os tipos de embarcação e
suas condições.
14. A religiosidade é um tema importante observado principalmente nas áreas onde a
tradição é mais forte, como Itapuã, Rio Vermelho e Ribeira, associada à imagem de
Iemanjá. As crenças dos trabalhadores e trabalhadoras do mar é um tema freqüente nas
nossas conversas.
15. Os pescadores dependendo da área na qual estão inseridos utilizam-se de
embarcações, petrechos e técnicas de captura diferenciadas.
16. As artes e petrechos utilizados pelos pescadores do litoral da cidade de Salvador se
mostraram bastante específicas com relação as espécies por eles explotadas.
17. Os pescadores artesanais adotam uma variedade de estratégias de pesca com o
objetivo de explorar um maior número de espécies e uma maior diversidade de
ambientes, tentando, dessa maneira, fugir dos imprevistos que acompanham o sistema
de pesca.
18. A classificação da FAO para as artes de pesca mostrou-se pouco eficiente para as artes
utilizadas na área de estudo, por se tratar de uma classificação bastante generalista, o
que dificulta o entendimento para elaboração de estratégias voltadas para conservação
ambiental.
19. O modelo básico para definição do sistema de pesca em nosso estado e que deve servir
para elaboração das propostas na área da educação ambiental, proposto pelo
Laboratório de Nectologia da UFBA, mostrou-se ineficiente, verificando-se que é
necessária uma revisão, em face às especificidades das pescarias identificadas.
20. Os pescadores são atores invisíveis para instituições públicas, quando projetos
voltados para conservação ambiental são desenvolvidos.
21. Práticas educativas, ou ações de educação ambiental, voltadas, especificamente para
os pescadores, ou para proteção dos estoques por eles explotados ou para melhoria da
qualidade de suas vidas, não foram identificados. Nem nas conversas com os gestores
públicos, tampouco, nos locais visitados.
22. Os grandes projetos que visam à proteção de espécies marinhas, a exemplo do
TAMAR, Projeto MAMA e Baleia Jubarte, estão fragilmente inseridos no sistema de
pesca local, carecendo os pescadores de informações mais consistentes e visitas mais
freqüente para que sejam, de fato, considerados parceiro nas propostas
conservacionistas.
23. Estratégias educativas devem ser dirigidas, não somente, aos trabalhadores do mar,
mas também aqueles que atuam no sistema de ensino e na gestão do serviço público,
esperando-se com isso que tais estratégias sejam disseminadas pela comunidade como
um todo.
24. Uma questão muito mal resolvida pelas instituições públicas, devido ao seu alto grau
de nocividade, em todos os sentidos, é a pesca com uso de bombas, amplamente
arraigada, a partir da área da Gamboa, até a enseada dos Tainheiros, onde parece
atingir o ápice da insensatez humana, pelos exemplos existentes de mortes e
mutilações.
25. O litoral da cidade de Salvador foi dividido em três grupos no que se refere a artes e
petrechos utilizados nas capturas, sendo importante nas estratégias de educação
ambiental, levar em consideração estas especificidades de cada área, respeitando assim
as regionalidades.
26. Nem todos os tipos de embarcações, petrechos e artes de pesca estão catalogados na
bibliografia corrente, sendo necessária uma revisão e ampliação dos tipos até então
descritos.
27. É preciso que as resoluções das Conferências Nacionais, bem como o Documento
sobre as Diretrizes para Construção do Plano de Pesca do Estado da Bahia, além de
socializadas sejam internalizadas no sistema de pesca em nossa cidade.
7 - SUGESTÕES
Propomos ações que visam à melhoria da qualidade sócio-ambiental dos trabalhadores do
mar, através de processos participativos, utilizando-se como instrumento a educação
ambiental tanto no âmbito formal, quanto no não-formal. Devido às diversas linhas a serem
seguidas, escolhemos por uma educação ambiental crítica, transformadora e emancipatória, a
qual tem como meios uma ética preocupada com a justiça social.
Ao longo de toda área de estudo encontram-se instituições de ensino próximas as
localidades referenciadas neste trabalho, sejam elas escolas de ensino fundamental, ensino
médio ou ensino superior. Instituições que muitas vezes estão localizadas em frente a tensores
ambientais graves, nas proximidades dos núcleos de pescadores, e que não se envolvem com a
problemática.
Nas mesmas condições estão empreendimentos turísticos, inclusive, muitos áreas são
listadas como atrativos localizados no litoral da cidade de Salvador. Em certos trechos existe
uma grande concentração de hotéis, pousadas, marinas, clubes, bares, restaurantes e casas de
espetáculos, todos completamente alheios a situação do ambiente e das comunidades de
pescadores do seu entorno.
Outra preocupação é a implantação do novo PDDU, em nossa capital.
Conforme o art. 3° da Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999), é de
responsabilidade de todos estes setores, além dos meios de comunicação em massa, do poder
público e da sociedade como um todo à promoção da educação ambiental.
Partindo-se deste principio legal, foram elaboradas algumas propostas tanto no âmbito
da educação ambiental formal, como da não-formal.
7.1 A educação ambiental formal
“Trata-se de um aprendizado social, baseado no diálogo e na interação em constante
processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados, que podem
se originar do aprendizado de sala de aula ou da experiência pessoal do aluno. Assim a escola
pode transformar-se no espaço em que o aluno terá condições de analisar a natureza em um
contexto entrelaçado de práticas sociais, parte mais complexa e multifacetada” (JACOBI,
2003).
Vale ressaltar aqui que o papel dos educadores e professores é essencial para impulsionar
as transformações de uma educação com uma visão crítica, de valores e de uma ética para a
construção de uma sociedade ambientalmente sustentável.
No caso da área localizada entre Costa Azul/Amaralina, estão ao lado do “rio-esgoto”
universidades como a FIB, Hélio Rocha, Castro Alves, além de colégios como o Tales de
Azevedo e o Integral, os quais estão praticamente debruçados no rio Camurugipe.

Capacitação de multiplicadores e formação contínua de professores da rede pública e
privada;

Promoção de debates, pesquisa e ação nas instituições de ensino para produção de
conhecimentos locais significativos;

Elaboração de materiais pedagógicos locais, condizente com as experiências do dia a
dia dos estudantes, para formação de cidadãos conscientes e participativos no que diz
respeito aos problemas sociais e ecológicos;

Fomentar um maior envolvimento dos estudantes com o meio onde estão inseridos,
fazendo as instituições de ensino extrapolarem seus limites físicos, tendo maior contato
com os problemas ambientais e com as comunidades do seu entorno.

Promover o replantio de árvores do mangue no Rio Passavaca com alunos da rede
pública e privada, empresários, pescadores e outros interessados com o sentido de se gerar
uma consciência ecológica a cerca do difícil processo de regeneração da natureza,
fundamental a manutenção do equilíbrio e a utilização racional desses ecossistemas. Nessa
região foi observada a chegada de caminhões trazendo caranguejos de Sergipe para serem
distribuídos nas barracas de praia, um bom motivo para convencer os comerciantes locais
a se envolverem com a recuperação do rio Passavaca .

Produção de cartilhas educativas para serem distribuídas nas escolas, assim como nas
comunidades, versando sobre os temas: manguezal, restinga, ambiente recifal, praias,
dunas, bacias hidrográficas, qualidade da água e pesca.
7.2 A educação ambiental não-formal
Educação na qual as ações e práticas são voltadas à sensibilização da coletividade
sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do
meio ambiente.
Com relação à educação ambiental voltada para os pescadores, é necessário o
entendimento das relações deles com a cidade, enfatizando como ele afeta e é afetado pelo
ecossistema urbano indo além do estudo dos sintomas ambientais, explorando raízes da causa
da degradação ambiental.
É de extrema importância no contexto não-formal da educação ambiental a construção
de fóruns, seminários, espaços de construção coletiva de conhecimentos, momentos nos quais
através de discussões podem surgir alternativas inesperadas no que se refere à classe dos
pescadores artesanais e o ambiente onde eles estão inseridos. É necessária a participação
efetiva dessa população na construção de soluções para que se chegue à direção das
mudanças. Não adianta imposições, temos que construir juntos esse caminho. Sendo essencial
também o empoderamento político dos trabalhadores do mar para que estes tenham influência
junto aos órgãos responsáveis pelas políticas públicas. Segundo ROSA PEREIRA (2006), é
necessário o estabelecimento de redes de comunicação dos pescadores com outros
movimentos e lutas sociais, proporcionando diálogo de saberes através de seminários e
encontros, fortalecendo desta forma os coletivos organizados em torno de reivindicações e
construção políticas.
7.2.1 O ambiente

Participação da comunidade do entorno das bacias hidrográficas para discussões a
respeito da qualidade da água em busca de soluções para tal problemática.

Através da construção de diálogos com os Poderes constituídos, buscar caminhos para
transferência das sedes dos pescadores das bocas de esgoto, identificados como rios,
até a revitalização destes.

Ampliação das Unidades de Conservação situadas na região costeira, da cidade de
Salvador, incluindo a região marinha, definindo-se as isóbatas, de acordo com as
características locais. Exemplos: o Parque do Manguezal do Passavaca, do Parque
Metropolitano de Pituaçu e a APA Lagoas e Dunas do Abaeté.

Aproveitamento e revitalização dos parques do litoral de Salvador (Jardim dos
Namorados, Jardim de Alah, Parque Atlântico do Aeroclube) como parques de
recreação, levando as comunidades a valorizar mais essas áreas, e inserir ,nestes,
atividades de sensibilização ambiental, aproveitando o ambiente no qual os parque se
encontram, sendo um dos foco o ambiente marinho e a sua conservação.
7.2.2 Os trabalhadores do mar

Qualificação profissional para os pescadores artesanais desenvolverem suas atividades
de forma sustentável e de acordo com a segurança alimentar, além de qualificação
direcionada para agregação de valores aos produtos, e máximo aproveitamento dos
subprodutos do pescado, sem, contudo alteração dos padrões culturais existentes,
inclusive aproveitando-se os conhecimentos tradicionais, como estratégia para
conservação dos estoques e das áreas de pesca.

Estimular o associativismo em áreas onde os pescadores encontram-se dispersos,
especificamente, nas áreas 7 e 8, desde a Pedra da Sereia até o Farol da Barra.

Aproveitamento dos conhecimentos práticos dos pescadores para formulação de
períodos de defeso, para que juntamente com os conhecimentos científicos, sejam
elaborados os planos de gestão de forma horizontal e participativa.
7.2.3 As pescarias
 Capacitar e estimular os mergulhadores/caçadores a aproveitarem o fluxo turístico
para promoção da beleza e a diversidade marinha ao longo do litoral da cidade do
Salvador, como mais um atrativo para o desenvolvimento do turismo e geração de
emprego e renda.
 Conscientização em todos os níveis sobre os danos causados pela pesca proibida,
incluindo aqui não somente a pesca com bombas, bem como também as pescas proibidas
com redes de malha fina ,por exemplo, ou em período de defeso, por causa dos motivos de
reprodução e por depleção de estoques, além das espécies em extinção.
 Criação de um mecanismo na própria comunidade, de forma eficiente para fiscalização
na pesca ilegal com bombas.
 Conscientização dos pescadores e marisqueiras com relação à segurança no trabalho e
facilitações na compra de petrechos para o desenvolvimento da atividade.
7.2.4 A comercialização
 Estímulo à organização dos pescadores através de cooperativas, que possam destinar
os seus produtos diretamente a centros de comercialização.
 Capacitação das marisqueiras, que não tem mais como desenvolver suas atividades na
área onde desenvolviam anteriormente, para o beneficiamento do pescado, agregando
valores ao produto final. Sendo estimulada a produção de subprodutos a exemplo da
farinha de pescado, patê, cartilagem de tubarão, entre outros baseados nas possibilidades a
depender do pescado.
 Implantação de fábricas de gelo nas proximidades dos pontos de embarque e
desembarque.
Por fim, há de se ressaltar que tudo que aqui foi discutido e proposto segue as propostas
dos trabalhadores do mar, em suas conferências nacionais específicas, podendo-se identificar
ações de educação ambiental crítica, emancipatória e transformadora, de forma difusa, mas
ampliada, em direção ao Programa Nacional da “Fome Zero” e segurança alimentar.
A nós pesquisadores e educadores, não nos cabe outra esperança, a não ser aquela em
ver os trabalhadores do mar como seres humanos visíveis no sistema para produção de
alimentos sadios.
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Salvador-BA- Brasil. In: Conferência Internacional Mangrove, 2003. Salvador. Resumos.
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SORRENTINO, M. et al. Educação ambiental como política pública. Educação e
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SOUTO, F.J.B. A ciência que veio da lama: uma abordagem etnológica abrangente das
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Bahia. São Paulo: Universidade de Federal de São Carlos. Tese (Doutorado), 2004.
SOUZA, M. R. Etnoconhecimento caiçara e uso de recursos pesqueiros por pescadores
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Wageningen, WUR-Island. 2004.
ANEXOS
Anexo A – Roteiro de entrevista aplicada aos trabalhadores do mar que atua no litoral da
cidade de Salvador, região compreendida entre a enseada dos Tainheiros, Ribeira e a rua K,
Itapuã.
Data:
Local da entrevista:
PESCADOR
Nome:
Idade:
Família:
cônjuge ( )
filhos ( )
filhas ( )
Grau de instrução:
Religião:
Apresenta Registro geral de pesca?
Renda mensal:
Participa de alguma organização? Cooperativa( ) Associação( )
Pesca embarcado ou desembarcado?
Colônia( )
EMBARCAÇÃO
Nome:
Tipo:
Material de construção:
Propulsão:
Tamanho:
Embarcação própria? Teve alguma facilidade para a compra?
Tem registro na capitania?
Quantas pessoas saem embarcadas?
Em que função trabalha no barco?
Utiliza algum equipamento no barco? Rádio( ) sonar( ) sonda( ) outros( ) quais?
PETRECHOS
Quais os petrechos utilizados?
Sempre usou esses materiais?
Algum específico para algum tipo de pescado? Qual?
Onde compra?
Preço estimado?
ESPÉCIES
Quais os tipos de peixes captura?
Qual o mais abundante?
Qual o mais raro?
Existe alguma espécie que desapareceu?
Que sabe sobre o defeso? Concorda?
PESCADOR E AMBIENTE
Como aprendeu a pescar?
Já realizou ou pretende realizar algum curso de capacitação? Qual e para quê?
A prática é transmitida aos filhos?
Que horário costuma sair pra pescar?
Quantas horas passa embarcado no mar? Depende de que?
Onde pesca com mais freqüência?
Pesca é a única fonte de renda?
Dá um bom sustento?
Qual a melhor maré para a pesca?
Qual o melhor vento para a pesca? O que sabe sobre os ventos? Os nomes que conhece dos
ventos:
Qual a melhor lua para a pesca?
Usa o pescado pra consumo?
Onde é comercializado o pescado?
Como é comercializado o pescado?
Usa algum pescado como remédio?
Desde que começou a pescar até hoje acha que teve alguma melhora ou piora na atividade?
Que ações acha que pode melhorar a pesca?
PROJETOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Organizações como PROJETO TAMAR, BALEIA JUBARTE, MAMA, SEAP,Bahia Pesca
ou Pesca com Bombas já estiveram por aqui?
Que tipo de informação eles passaram para os pescadores?
Contribuiu de alguma forma?
De quanto em quanto tempo eles visitam aqui?
O que acha do trabalho deles com os pescadores?
Anexo B: Entrevista realizada com instituições públicas e Organizações Não
Governamentais.
1. O Sr(a) tem conhecimento da lei do Política Nacional de Educação Ambiental n°
9.795, de 27 de abril de 1999?
2. Existe algum projeto específico na Instituição para a questão da pesca no litoral da
cidade de Salvador?
Qual o projeto?
Qual o foco?
Qual o tipo de ação? Formal ( )
Qual a prática?
Qual a região?
Qual o tempo de execução?
Não-formal( )
3. Se não há nenhum projeto, qual o motivo?
4. Qual a estimativa de público atingido, ou que pretende atingir com suas ações?
5. Qual a quantidade e a qualificação da equipe de trabalho do projeto?
6. Qual é a origem do recurso destinado ao projeto?
Empresa?
Orçamento?
Convênio?
7. Quanto é destinado ao projeto?
8. Busca interagir com a comunidade?
ONG, qual(is)?
Colônia, qual(is)?
Associação, qual(is)?
9. Através de qual instrumento legal?
Convênio?
Colaboração técnica?
Outros?
10. Foi procurado e estimulado a interagir com o público-alvo?
11. Se o projeto já teve início, existiu algum retorno do público no qual foi, ou é aplicado?
Qual retorno?
12. Se o projeto já foi extinto, qual o motivo desta extinção?
13. Algum projeto de Educação Ambiental já foi encaminhado e negado? Qual o motivo?
Anexo F: Possíveis conexões entre os nomes das
embarcações e o cotidiano dos pescadores.
Nomes
Conexão
Local
1
Minina de Itapuã
Comportamento
Itapuã
2
Astral 10
Comportamento
Itapuã
3
Barco 3 amigos
Comportamento
Itapuã
4
Dias leais
Comportamento
Itapuã
5
Típico
Comportamento
Pituba
6
Tobomar
Comportamento
Pituba
7
Delegado
Comportamento
Pituba
8
Planador Marinho
Comportamento
Pituba
9
Reizinho
Comportamento
Porto Barra
10
Ferrari
Comportamento
Ribeira
11
Asas Indomáveis
Comportamento
Ribeira
12
Beldade
Comportamento
Ribeira
13
Flor do Mar
Comportamento
Ribeira
14
Galo fujão
Comportamento
Ribeira
15
Lascador
Comportamento
Ribeira
16
Malandro
Comportamento
Ribeira
17
Pinote
Comportamento
Ribeira
18
O navegante
Comportamento
Ribeira
19
Flor do São Francisco
Comportamento
Ribeira
20
O Outro
Comportamento
Rio Vermelho
21
Unindo Forças
Comportamento
Rio Vermelho
22
Tuturututu
Diversos
Comércio
23
Foto
Diversos
Comércio
24
Manila I
Diversos
Comércio
25
Lareira
Diversos
Itapuã
26
Max 787
Diversos
Itapuã
27
Cavok
Diversos
Itapuã
28
Gableia
Diversos
Itapuã
29
Moratória
Diversos
Itapuã
30
Trick- trick
Diversos
Pituba
31
Cobila
Diversos
Ribeira
32
Garapuvu
Diversos
Ribeira
33
Gaúcho
Diversos
Rio Vermelho
34
Lajeira
Diversos
Rio Vermelho
35
O caboclo
Diversos
Rio Vermelho
36
Povo do Oriente
Diversos
Rio Vermelho
37
Tupinamba
Diversos
Rio Vermelho
38
Katamarã
Embarcação
Itapuã
39
Nal FGGF
Embarcação
Ribeira
40
Luque
Estrangeirismo
Itapuã
41
Stok
Estrangeirismo
Itapuã
42
Dragon
Estrangeirismo
Porto
43
Diamont
Estrangeirismo
Ribeira
44
Du PP IV
Estrangeirismo
Ribeira
45
Enterprise I
Estrangeirismo
Ribeira
46
Off Shore
Estrangeirismo
Ribeira
47
Wahoo
Estrangeirismo
Ribeira
48
Vereuhel
Estrangeirismo
Ribeira
49
12 Irmãos
Familia
Rio Vermelho
50
Sua Mãe
Família
Comércio
51
Rosa mãe
Família
Itapuã
52
Tio Rui
Família
Ribeira
53
Família
Família
Ribeira
54
Tio Rei
Família
Ribeira
55
Vô Durval
Família
Ribeira
Bonamigo
Família
Ribeira
56
Meu Velho Amigo
Família
Ribeira
57
Amor de Mãe
Família
Rio Vermelho
58
Zangão
Fauna
Itapuã
59
Vagalume
Fauna
Rio Vermelho
60
Pica - Pau
Fauna
Rio Vermelho
61
Piaba
Fauna
Rio Vermelho
62
Boto
Fauna marinha
Comércio
63
Dourado Azul
Fauna marinha
Comércio
64
Estrela cinco
Fauna marinha
Comércio
65
Prata
Fauna marinha
Comércio
66
Coral
Fauna marinha
Itapuã
67
Budião Azul
Fauna marinha
Itapuã
68
Peixe Prata
Fauna marinha
Ribeira
69
Biquara
Fauna marinha
Ribeira
70
Coral do Mar
Fauna marinha
Rio Vermelho
71
Estrela do Mar
Fauna marinha
Rio Vermelho
72
Frutos do Mar
Fauna marinha
Rio Vermelho
73
Peixinho
Fauna marinha
Rio Vermelho
74
Agulhinha
Fauna marinha
Rio Vermelho
75
Biguá
Fauna marinha
Rio Vermelho
76
Jabú
Fauna marinha
Rio Vermelho
77
Paru
Fauna marinha
Rio Vermelho
78
Uirapurú
Fauna- marinha
Ribeira
79
Dourado
Fauna- peixe
Porto Barra
80
Damasco
Fruta
Itapuã
81
Barra do Pote
Localidade
Comércio
82
Parati
Localidade
Porto Barra
83
Piracicaba
Localidade
Porto Barra
84
Iguatemi
Localidade
Ribeira
85
Porto Vera Cruz
Localidade
Ribeira
86
Guanabara
Localidade
Ribeira
87
Vilas
Localidade
Ribeira
88
IAPI
Localidade
Rio Vermelho
89
Tróia I
Lúdico
Comércio
90
Vascaína
Lúdico
Itapuã
91
Maratona
Lúdico
Itapuã
92
Xaxado
Lúdico
Itapuã
93
Portela
Lúdico
Itapuã
94
Faz Parte
Lúdico
Porto Barra
95
Arerê
Lúdico
Ribeira
96
Regmar
Lúdico
Ribeira
97
Celebridade
Lúdico
Rio Vermelho
98
Timão
Lúdico
Rio Vermelho
99
Axé Bahia
Lúdico
Rio Vermelho
100 Moranguinho
Lúdico
Rio Vermelho
101 Cor do mar
Natureza
Rio Vermelho
102 Mar Azul
Natureza
Itapuã
103 Oceano
Natureza
Itapuã
104 Rio Jordão
Natureza
Itapuã
105 Rio Nilo
Natureza
Itapuã
106 Trovão Azul
Natureza
Pituba
107 Luar do Porto
Natureza
Porto Barra
108 Por do sol
Natureza
Porto Barra
109 Viração
Natureza
Porto Barra
110 Mirando a lua
Natureza
Ribeira
111 Espuma
Natureza
Ribeira
112 Primavera I
Natureza
Ribeira
113 Alísio do Mar
Natureza
Rio Vermelho
114 Onda Azul
Natureza
Rio Vermelho
115 Por do sol
Natureza
Rio Vermelho
116 Dom Miro
Nome
Itapuã
117 Bulhões
Nome
Comércio
118 D.Hilda
Nome
Comércio
119 Nara
Nome
Comércio
120 Tine
Nome
Comércio
121 Vivita
Nome
Comércio
122 Didala
Nome
Itapuã
123 Anina
Nome
Itapuã
124 Borba
Nome
Itapuã
125 Borba
Nome
Itapuã
126 Bruninha
Nome
Itapuã
127 Carvalho
Nome
Itapuã
128 Diogo II
Nome
Itapuã
129 Dosmar
Nome
Itapuã
130 Jacqueline
Nome
Itapuã
130 JJ SS Daise
Nome
Itapuã
132 Jurema
Nome
Itapuã
133 Lulu
Nome
Itapuã
134 Neves
Nome
Itapuã
135 Talita
Nome
Itapuã
136 Tainá
Nome
Itapuã
137 Vínicius
Nome
Itapuã
138 Pituica
Nome
Pituba
139 Amanda
Nome
Porto Barra
140 Beni
Nome
Porto Barra
141 Piraci
Nome
Porto Barra
142 Augusto
Nome
Ribeira
143 Barcelar
Nome
Ribeira
144 Cibele
Nome
Ribeira
145 D. Binha
Nome
Ribeira
146 Éderson
Nome
Ribeira
147 Everton
Nome
Ribeira
148 Gabriel
Nome
Ribeira
149 Gabriel Filho
Nome
Ribeira
150 Guiga
Nome
Ribeira
151 Israel I
Nome
Ribeira
152 Iara
Nome
Ribeira
153 Jane
Nome
Ribeira
154 Lucas
Nome
Ribeira
155 Leobin
Nome
Ribeira
156 Loura
Nome
Ribeira
157 Mestre Nino
Nome
Ribeira
158 Noka
Nome
Ribeira
159 O Zé
Nome
Ribeira
160 Oliveira II
Nome
Ribeira
161 Rian
Nome
Ribeira
162 Bonaparte
Nome
Rio Vermelho
163 Gil
Nome
Rio Vermelho
164 Lipoca
Nome
Rio Vermelho
165 Maisa
Nome
Rio Vermelho
166 Guiomar
Nome
Rio Vermelho
167 Lorena
Nome
Rio Vermelho
168 Janaína
Religião
Itapuã
169 Monte de Sião
Religião
Itapuã
170 Rosa de Saron
Religião
Itapuã
171 Kauã
Religião
Itapuã
172 Deus Dará
Religião
Itapuã
173 Fé em Deus
Religião
Pituba
174 A Rainha
Religião
Porto Barra
175 Rainha
Religião
Porto Barra
176 Santa Rosa
Religião
Ribeira
177 Rainha do Mar Iemanjá Religião
Ribeira
178 Yemanjá
Religião
Ribeira/ Itapuã
179 Genesis
Religião
Rio Vermelho
180 Quem tem fé em Deus
Religião
Rio Vermelho
181 Rainha do Mar
Religião
Rio Vermelho
182 Vou e Volto com Deus
Religião
Rio Vermelho
183 Deus Dará
Religião
Rio Vermelho
184 Deus te Ama
Religião
Rio Vermelho
185 Jesus é fiel
Religião
Rio Vermelho
186 São Gerônimo
Religião
Rio Vermelho
187 Esperança
Sentimento
Itapuã
188 Sacrifício
Sentimento
Itapuã
189 Fascinação
Sentimento
Ribeira
190 Jóia Rara
Sentimento
Ribeira
191 Meu Sonho
Sentimento
Ribeira
192 Paixão das águas
Sentimento
Ribeira
193 Romance das Águas
Sentimento
Ribeira
não cai
194 Batalha
Sentimento
Rio Vermelho
195 Delírio do Mar
Sentimento
Rio Vermelho
196 Fraterno
Sentimento
Rio Vermelho
197 Paz
Sentimento
Rio Vermelho
198 Renaser
Sentimento
Rio Vermelho

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