Recomendações técnicas para produção de caprinos e ovinos
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Recomendações técnicas para produção de caprinos e ovinos
RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS PARA PRODUÇÃO DE CAPRINOS E OVINOS Adriana Trindade Soares1 Jefferson Alves Viana2 Paula Fernanda Barbosa de Araújo Lemos1 1 Médica Veterinária, Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. - Emepa. Rua Eurípedes Tavares 210 - Tambiá - Caixa Postal 275. CEP 58013 - 290 João Pessoa, PB. E-mail: [email protected] 2 Zootecnista, Emepa. E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO N o Nordeste, a maioria dos rebanhos caprinos, por serem explorados basicamente em sistemas de produção tradicional, apresenta baixa produtividade. Este índice está atrelado ao baixo nível de tecnologia empregado, que incorre em índices reprodutivos baixos, elevada mortalidade em todas as fases da criação acarretando uma baixa produtividade (Freitas et al., 2005). Diversos trabalhos têm sido desenvolvidos com o intuito de reverter este quadro e incrementar os índices produtivos dos rebanhos. Atualmente, a introdução de novas raças zootecnicamente selecionadas e a geração ou adaptação de tecnologias têm assegurado maior eficiência aos sistemas produtivos. Neste sentido, o melhoramento genético quando associado às práticas de manejo racionais, representa uma poderosa ferramenta para o incremento dos índices de produtividade. Os principais produtos oriundos dos caprinos e ovinos são: a carne, a pele e o leite, todos dando origem a diversos derivados após o processamento. Apesar do crescimento da demanda verificado nos últimos anos, a carne ainda apresenta um baixo consumo per capita no Brasil (Simplício et al., 2003). A pele é a matéria-prima que admite a mais elevada agregação de valor em toda cadeia produtiva (Leite & Vasconcelos, 2000). Na última década, particularmente nos Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, foram desenvolvidas algumas experiências exitosas com produção de leite de cabra em escala comercial. No entanto, as quantidades produzidas ainda são pequenas em relação às demandas, sendo o mercado brasileiro altamente comprador, embora o principal destino do produto seja a merenda escolar, através de subsídios governamentais (Wander & Martins, 2005). O mercado também disponibiliza a venda de reprodutores e fêmeas de alta linhagem genética, possibilitando, desta forma, a otimização dos programas de melhoramento genético e a implementação de um sistema de criação com base em tecnologias de “ponta”. O elo entre a exploração básica e a produção final, direcionada a um mercado de abastecimento contínuo, com controle de qualidade, deve se fundamentar na organização associativista e no desenvolvimento das atividades agroindustriais, preservando a capacidade produtiva de cada região, respeitando as condições do ecossistema favoráveis à criação de cada espécie animal, enfocando a exploração, em função das aptidões das diversas raças e/ou tipos raciais, visando ao incremento no nível de organização e de gestão na unidade produtiva. A concretização de metas suscitadas ao avanço técnico está atrelada ao investimento da formação de difusores e qualificação da mão-deobra básica, maior agregação de produtores que adotem práticas de manejo melhoradas e racionais, com maior investimento financeiro inicial, conferindo posteriormente uma maior relação custo-benefício. No semi-árido a irregularidade do período chuvoso e as secas periódicas impõem severas restrições ao suprimento de forragens e, conseqüentemente, à produtividade dos pequenos ruminantes. Outros fatores podem ser considerados importantes no manejo de caprinos e ovinos: a inexistência de um programa sanitário preventivo, a falta de adaptabilidade e sobrevivência das crias ao meio ambiente adverso ao de origem de sua espécie e raça e o não atendimento aos problemas inerentes ao tipo de exploração e suporte para a manutenção do potencial biológico exigido. A instalação de uma conduta rotineira em submeter o rebanho a um manejo correto e racional é o primeiro passo para aumentar os índices de produtividade (Sousa, 2000). O manejo de um rebanho é a reunião de todos os cuidados e tarefas do dia a dia, estando estreitamente relacionado às instalações da propriedade, à alimentação, à sanidade, à reprodução e ao melhoramento genético. Este trabalho objetiva disponibilizar recomendações tecnológicas para a produção de caprinos e ovinos, e relatar os resultados obtidos com o uso da estação de monta por cobertura natural e inseminação artificial em pequenas Unidades de Produção, localizadas nas microrregiões do Cariri e Curimataú paraibanos, assistidas pelo Programa Fome Zero por intermédio da Emepa. Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.1., n.2, p.45-51, dez. 2007 45 MANEJO REPRODUTIVO DE CAPRINOS E OVINOS Para que o programa reprodutivo funcione de forma eficiente e os objetivos sejam alcançados, devem ser obedecidos pré-requisitos nos manejos sanitário e nutricional e escrituração zootécnica. Portanto, temas como estação de monta, características reprodutivas das fêmeas caprinas e ovinas submetidas à sincronização do estro e ovulação, alimentação, manejo nutricional ligado à reprodução, sanidade e instalações, merecem destaque na organização dos sistemas de produção. Estação de Monta Estação de monta é o período no qual os animais são expostos ao acasalamento. É recomendável que, ao se fazer uma estação de monta pela primeira vez, o período seja de 60 a 63 dias para cabras e 48 a 51 para ovelhas, pois, durante este tempo, é possível acompanhar a regularidade do ciclo estral dos animais, ou seja, o intervalo de tempo em que as fêmeas apresentam cio. Nas cabras, este intervalo é, em média, de 21 dias e nas ovelhas de 17 dias. Em regiões tropicais, onde a luminosidade não sofre grandes variações ao longo do ano, como no Nordeste brasileiro, as cabras e as ovelhas nativas apresentam estro e ovulam ao longo de todos os meses, estando a atividade reprodutiva mais relacionada com a disponibilidade, a qualidade das forragens e o estado sanitário dos animais (Ribeiro, 1997). O estabelecimento da estação de monta deve ser feito com critérios que deverão guardar estreita relação com os objetivos da exploração. Portanto, depende de uma série de fatores, como: o estado reprodutivo das fêmeas e dos machos; a disponibilidade de sêmen; o período em que transcorrerá o terço final da prenhez, em face de sua importância para o peso da cria ao nascer e sua sobrevivência; a época na qual ocorrerão os partos, em virtude de sua importância para a produção de leite e conseqüente sobrevivência e 46 desenvolvimento da cria e idade ou peso em que as crias serão desmamadas e comercializadas. Outro fator que deve ser levado em consideração é que, em criações leiteiras, dependendo da demanda da região e do comportamento reprodutivo das fêmeas, deve-se manter, sempre que possível 25% das cabras em lactação, por trimestre ou em torno de 50% por semestre, o que garantirá a oferta constante de leite ao mercado. A estação de monta é uma prática de manejo de baixo custo e de aplicação relativamente fácil. A sua adoção não visa à obtenção de índices máximos de fertilidade, mas o equilíbrio entre o índice de fertilidade e de sobrevivência que possibilite uma maior renda ao sistema de produção (Freitas et al., 2005). Vantagens Concentração de partos no mesmo período; padronização dos produtos nascidos; permite conhecer e acompanhar o histórico reprodutivo dos animais; possibilita a ocorrência de três partos em dois anos; garante produtos no mercado ao longo do ano; através do contato diário com animais, é possível detectar alguma doença ainda na fase inicial; facilita o manejo sanitário e facilita o manejo reprodutivo. Cuidados necessários antes da estação de monta - Seleção zootécnica das fêmeas Selecionar as fêmeas com 65 a 70% do peso do animal adulto; não utilizar fêmeas com idade avançada; doentes; com histórico de abortos ou com irregularidade no aparecimento do cio; não utilizar fêmeas com defeitos hereditários: agnatismo, prognatismo, hérnias; apresentarem escore corporal no mínimo 2,0 e no máximo 4,0. O escore 3,0 é o ideal. Uma boa conformação corporal favorece o aumento nas taxas de ovulação e concepção, a sobrevivência embrionária e, conseqüentemente, a fertilidade ao parto. Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.1, n.2, p.45-51, dez. 2007 - Seleção zootécnica dos reprodutores Inicialmente, deve ser levada em consideração a demanda do mercado consumidor – carne e/ou leite, para definir o padrão zootécnico que deve ser inserido ao rebanho. Os critérios que devem ser considerados na escolha de um reprodutor são os seguintes: constatação da saúde geral; integridade dos sistemas locomotor, visual e digestivo; integridade dos órgãos genitais (testículos e pênis); manifestação da libido (desejo sexual);ausência de defeitos hereditários: agnatismo, prognatismo, hérnias; eliminar os mochos de nascença. É importante considerar que a espermatogênese nos pequenos ruminantes domésticos tem uma duração aproximada de 52 dias, o que suporta a recomendação de se dar início à suplementação alimentar dos reprodutores a partir de 6 a 8 semanas antes do início da estação de monta. - Preparação sanitária das fêmeas e reprodutores Vermifugações estratégicas contra endo e ecto parasitas; vacinações contra Raiva e Clostridiose; corte dos cascos; submeter os animais a uma suplementação alimentar. Comportamento das fêmeas em estro (cio): monta e aceitação para montar por outras fêmeas; aceitação espontânea à monta pelo reprodutor; vulva edemaciada e presença de muco cristalino; urina e balança a cauda com freqüência. Métodos para a manipulação do ciclo estral São métodos que possibilitam a indução e sincronização do cio. Método Natural – Efeito Macho Consiste na introdução de machos rufiões (que não possuem condições de fertilizar uma fêmea), as quais estejam isoladas de machos no mínimo de 3 a 4 semanas. As fêmeas apresentarão o estro em cadeia no período de 5 a 10 dias, após a exposição aos rufiões. Este fenômeno se deve à liberação do ferormônio exalado pelo macho, que é sentido pelas fêmeas através do seu sistema olfatório. Tal efeito ocasionará a liberação de substâncias endógenas que irão desencadear os sinais de estro. É aconselhável a utilização de rufiões para detecção das fêmeas em estro e não dos próprios reprodutores, para promover um melhor aproveitamento dos mesmos (Gonzalez et al., 2002). Método Nutricional – flushing alimentar Consiste no aumento do plano nutricional de pelo menos 30 dias antes da estação de monta. Pode ser feito pelo fornecimento de ração concentrada balanceada, na quantidade diária de 500-800 g/animal. Este procedimento deve ser associado à disponibilidade de volumoso de boa qualidade, existente em cada região. Este método não sincroniza os estros, entretanto, proporciona um aumento de 20 a 30% na taxa de ovulação. Métodos hormonais Estes métodos hormonais permitem a sincronização do aparecimento dos sinais clínicos de estro de forma sincronizada na maioria do rebanho tratado. Porém, a administração de gonadotrofina em associação com o tratamento progesterônico tem permitido índices de ovulação satisfatórios, quando do uso individual da progesterona ou prostaglandina. Uso da PGF2alfa (prostaglandina) ou seus análogos sintéticos. Uso de Progesterona ? eCG (gonadotrofina coriônica eqüina) produtos liofilizados na concentração de 5.000 UI. ALIMENTAÇÃO Uma das formas de aumentar a capacidade de suporte da fazenda é cultivar gramíneas, como: capimbuffel (Cenchrus ciliaris L.), capim andropógon (Andropogon gayanus), bem como leguminosas de porte herbáceo, como cunhã (Clitoria ternatea L.). Para o cultivo destas espécies, recomenda-se reservar áreas não marginais da propriedade, além de formar capineiras em áreas de vazantes com capim-elefante. Animais nutricionalmente mais carentes devem ter acesso à suplementação com feno ou silagem de leguminosas e/ou gramíneas, obtidas do campo de produção de forragem das áreas úmidas da propriedade. Deve ser oferecida uma mistura de sal comum e sal mineralizado, nos cochos, colocados nos apriscos, à vontade, durante o ano a previsão de consumo é de 15 g por cabeça/dia (Cunha, 2000). Uma ração de ramas forrageiras e/ou capim picado deve ser oferecida aos cabritos em amamentação, que ficarem presos nos apriscos, favorecendo, assim, o funcionamento mais precoce do rúmen, que normalmente tem seu início, de maneira rudimentar, a partir da 3ª semana de vida. É aconselhável permanecerem no capril os cabritos recém-nascidos, pelo menos nas quatro primeiras semanas. É importante as crias permanecerem com as mães nas primeiras 72 horas de vida, devendo ser assistidas nas primeiras 12 horas pósparto, para que se tenha certeza de que ingeriram o colostro (Embrapa-CNPC, 1994). processos fisiológicos que comandam o desempenho reprodutivo são os mesmos e sob condições nutricionais inadequadas agem negativamente no processo reprodutivo, afetando os índices produtivos do rebanho. A alimentação é o principal fator do comportamento reprodutivo e de respostas aos tratamentos de sincronização de estros em todas as espécies animais. No semi-árido a limitada disponibilidade de alimentos, associada à escassez das chuvas, é determinante no estado nutricional dos rebanhos. Assim, em animais com baixa condição corporal, o atraso e a ausência de cio estão estreitamente relacionados. A taxa de ovulação e a fertilidade são altamente dependentes da alimentação pré-cobertura, enquanto em bom estado nutricional, estes animais apresentam excelentes respostas aos tratamentos hormonais. As alternativas básicas para fortalecer a alimentação nas regiões do Cariri e Curimatu são: melhoramento do suporte forrageiro com o auxílio das forragens conservadas por processos de fenação e ensilagem; manejo adequado das pastagens com taxa de lotação correta e pastoreio rotacionado e suplementação alimentar na época seca. Alimentação segundo a categoria animal - Fase de crescimento: a partir do 3º mês de vida, deve ser fornecido um volumoso de boa qualidade e 300 g/dia de um concentrado com 14% de proteína bruta e uma mistura mineral completa. A ração deve conter uma relação cálcio e fósforo na proporção de 2:1 para evitar a formação de cálculo renal, o qual é freqüente no macho caprino. Dispositivos vaginais ? Esponjas de poliuretano impregnada com 60 mg de progesterona sintética ou 50 mg de fluogesterona; ? CIDR (controulled internal drug re l e a s e ) - i m p r e g n a d a c o m progesterona natural na concentração de 0,33 mg. ? Uso de Gonadotrofina MANEJO NUTRICIONAL LIGADO À REPRODUÇÃO O efeito do estado nutricional na performance reprodutiva é muito importante. Embora os tipos de fontes nutricionais e os problemas de manejo possam diferir entre regiões, os - Fêmeas antes da estação de monta: o período pré-acasalamento ou inseminação artificial é muito importante para que as fêmeas refaçam suas reservas orgânicas perdidas na gestação e lactação anterior. O fundamento da prática do flushing é que o choque alimentar estimula a taxa de ovulação e, conseqüentemente, Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.1., n.2, p.45-51, dez. 2007 47 maiores índices de fertilidade e prolificidade. As fêmeas destinadas à cobertura devem ser previamente selecionadas e separadas do rebanho, 30 dias antes, remanejadas para um local apropriado, para receberem cuidados sanitários e nutricionais, com dieta rica em fibra e maior valor energético, devendo estas serem mantidas até 30 dias após o acasalamento, visando a fixação e sobrevivência dos fetos. Exemplos de rações para o flushing alimentar: Ração 1: milho triturado 60%, farelo de soja 23%, torta de algodão 30%, farelo de trigo 20%, sal mineral 2%, uréia 2%. Ração 2: milho triturado 78%, farelo de soja 20%, caroço de algodão 30%, farelo de trigo 20%, sal mineral 2%. Ração 3: farelo de mandioca 74%, farelo de soja 23%, sal mineral 2%, uréia 2% Para os exemplos de rações citados, as quantidades a serem oferecidas aos animais estão diretamente relacionadas à qualidade do volumoso, entretanto, a mesma deve representar, em média, 40% do consumo total da ração diária nessa fase. - Terço final de gestação: os animais prenhes reduzem o consumo de volumoso no terço final da gestação, em função da compressão do rúmen pelo desenvolvimento do feto. Nessa fase, o animal precisa receber uma suplementação concentrada: em torno de 600 g de um concentrado com teor protéico entre 20 e 24% de PB, juntamente com volumoso e uma mistura mineral de 3% na ração. - Reprodutores: especial atenção deve ser dada a mineralização dos reprodutores, especialmente na relação cálcio:fósforo (2:1), uma vez que os mesmos são mais susceptíveis ao aparecimento de cálculos urinários, quando ocorre a deficiência ou excesso destes minerais. Quando não for possível preparar uma mistura adequada na propriedade, o produtor deve procurar um produto especifico e de boa qualidade. É recomendado que, quando a mistura mineral for adquirida no comércio, já pronta, deve-se ter os seguintes cuidados: ausência de 48 substâncias tóxicas; ter em média 50% de sal comum; ter no mínimo 8% de fósforo; ter a relação de cálcio:fósforo de 2:1; preferir a mistura granulada, pois em bloco o consumo é 10% menor. Os reprodutores podem receber o mesmo tipo de alimento das fêmeas, necessitando adequar a quantidade ao peso vivo. Para que os mesmos mantenham um bom estado físico é necessário além de boa alimentação, à prática de exercícios diários. Quando a pastagem é de boa qualidade e o animal não está em serviço, pode ser dispensada a ração concentrada, fornecendo-se apenas uma boa suplementação mineral. O teor de proteína na dieta deve ficar entre 14 e 16%. Trinta dias antes e durante a estação de cobertura é necessário oferecer um suplemento protéico diário na quantidade de 800 a 1.000 g além de água em abundância e exercícios; terminado o período de cobertura a alimentação deve voltar ao normal Suplementação mineral: o fornecimento de suplemento mineral é indispensável aos animais ao longo do ano, além de ser colocado à disposição, deve sempre ser adicionado ao concentrado na proporção de 1% da ração; a preparação e a dosagem dos componentes devem ser rigorosas e feitas com o máximo de cuidado. Os adultos ingerem cerca de 15 g de mistura mineral completa por dia. Exemplo 1 de mistura mineral (kg): Fosfato bicálcio (50,00), sulfato de zinco (0,12), sulfato de cobre (0,30), sulfato de cobalto (0,05), iodato de potássio ( 0,015). Exemplo 2 de mistura mineral (kg): Farinha de ossos (50,00), sal comum (48,00) e complexo mineral ( 2,00). Quando a mistura mineral for adquirida no comércio já pronta devem-se ter os seguintes cuidados: Idoneidade dos fabricantes; ausência de substâncias tóxicas, ter em média 50% de sal comum; ter no mínimo 8% de fósforo; a relação cálcio:fósforo deve ser 2:1; Boa aceitação pelos animais; preferir a mistura granulada, pois em bloco o consumo é 10% menor. Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.1, n.2, p.45-51, dez. 2007 SANIDADE O desconhecimento sobre manejo sanitário leva a perdas econômicas irreparáveis. A utilização de medidas profiláticas e curativas no controle das principais doenças de caprinos e ovinos é de fundamental importância para aumentar a produtividade destas espécies. A alta freqüência de doenças em caprinos e ovinos é devida a falta de acesso à orientação técnica adequada e à carência de informações elementares sobre manejo sanitário. As instituições públicas governamentais são, de certa forma, responsáveis pelas mudanças de atitudes necessárias para que se fortaleça a parceria e organização de base que atuam no espaço rural, visando à dinamização das ações dentro dos sistemas de produção, proporcionando o incremento dos índices produtivos. Seguem medidas profiláticas e terapêuticas de algumas doenças que geralmente acometem os pequenos ruminantes, conforme Pinheiro et al. (2003). Endoparasitoses Verminose - é a principal das afecções que afetam o rebanho caprino, sendo responsável pela alta taxa de mortalidade, retardo do crescimento, baixa produção de leite e baixa fertilidade, causando grandes perdas econômicas. Quando a mucosa ocular está esbranquiçada e a região abaixo do queixo está inchada (edema submandibular) é sinal que a verminose já está em estado bem avançado, devendo-se tratar imediatamente com aplicação sistemática de vermífugo e boa alimentação. É aconselhável não soltar os animais no pasto e sim, deixálos confinados. Para o controle, fazer três vermifugações no período seco e uma no período chuvoso. A prática freqüente de exames parasitológicos de fezes como o Opg (contagem de ovos por grama de fezes), ajuda muito no controle da verminose, pois indica o grau de infestação do rebanho. Nos rebanhos onde se utiliza a estação de monta, recomenda-se uma vermifugação 30 dias antes do parto, para evitar a contaminação dos cabritos e das fêmeas no período pós-parto. Ectoparasitoses Piolho e Sarna - deve ser feita inspeção periódica dos animais. Não se recomenda introduzir animais na propriedade sem antes proceder a um exame minucioso ou submetê-los a uma quarentena. Os animais infestados devem ser tratados mediante banhos de aspersão com produtos fosforados ou piretróides, repetindo-se o tratamento após dez dias. No caso de sarna, o procedimento é feito através da limpeza da região afetada e utilização de acaricidas em solução oleosa, na diluição de 1:3. Miíase (bicheira) - são causadas por larvas de moscas, vulgarmente varejeira. As miíases são mais comuns nos orifícios naturais, como: narinas, cavidade nasal, vulva e lesões recentes na pele, cordão umbilical dos recémnascidos e abscessos rompidos, pois a mosca tem predileção por tecidos vivos. Recomenda-se tratar os animais com repelentes sempre que se realizarem práticas de manejo como: brincagem, castração, descorna, corte do umbigo. Lembrar que o produto não deve ser aplicado sobre o ferimento, e sim, ao redor. Para os animais portadores de bicheira, limpar a área infestada, retirar as larvas e colocar substâncias larvicidas e repelentes para matar as larvas. Pododermatite (mal-do-casco) - para o controle da pododermatite, recomenda-se o corte e a limpeza periódica dos cascos de todos os animais do rebanho, principalmente no período seco. Evitar que os animais permaneçam em locais úmidos. Proceder a passagem dos animais em pedilúvio com solução desinfetante à base de formol a 5% (50 mL) e água (1 litro), ou solução de cal virgem (3,6 kg) e água (1 litro), duas vezes ao dia, iniciando-se 30 dias antes e permanecendo durante todo o período chuvoso. Os animais afetados devem ser isolados, mantidos em locais secos e limpos, procedendo-se a limpeza e a desinfecção diária dos cascos. Nos casos graves, estas medidas devem ser associadas à aplicação de antibióticos sistêmicos. Linfadenite caseosa (mal-do-caroço) é uma enfermidade infecto-contagiosa, crônica e debilitante que acomete caprinos e ovinos, podendo atingir o homem, causada pela bactéria Corynebacterium pseudotuberculosis. Caracteriza-se pelo aumento dos linfonodos e formação de abscessos, contendo material purulento de cor amarelo-esverdeada, nos linfonodos superficiais, uni ou bilateral, viscerais e nos órgãos, principalmente pulmões, fígado, baço e rins. Após a penetração do microorganismo, este pode permanecer em forma latente no corpo do animal por longos períodos, não desenvolvendo a formação de abscesso, e após uma diminuição das defesas orgânicas dos animais acometidos, ocorre o aparecimento de abscesso superficial, com maior incidência em animais com mais de um ano de idade. Por ser uma doença de fácil disseminação, recomenda-se evitar a aquisição de animais com sintomas externos (abscessos/caroços). Para tanto, deve-se proceder a inspeção periódica do rebanho. Se constatada a presença de abscessos, isolar o animal e, quando oportuno, efetuar a abertura dos abscessos antes que se rompam espontaneamente e contaminem o ambiente. Para tanto, deve-se preparar a área, por meio de lavagem com água e sabão, cortar os pêlos e desinfetar com álcool iodado. Em seguida, faz-se um corte no sentido vertical, de tamanho adequado à retirada de todo o conteúdo purulento e procede-se a escarificação da ferida e a sua desinfecção com solução de iodo a 10%. O material retirado deve ser queimado e enterrado. Animais que apresentarem reincidência por três vezes devem ser eliminados do rebanho. O microorganismo infectante é capaz de sobreviver e persistir no meio ambiente por longo tempo, constituindo-se numa constante fonte de infecção. Condições de ambiente como umidade, matéria orgânica, concentração de animais, falta de higienização nas instalações, práticas de manejo inadequadas favorecem a persistência da C. pseudotuberculosis. Não há evidências de que o microganismo possa se multiplicar no solo, porém em solos ricos, úmidos e de baixas temperaturas, a bactéria consegue sobreviver por até oito meses sendo, portanto, uma constante fonte de infecção para animais sadios. Broncopneumonia - dada a vulnerabilidade dos caprinos à pneumonia, recomenda-se proceder a limpeza e desinfecção periódica das instalações. Evitar expor os animais à umidade e correntes de ar excessivas, mediante instalações e lotações adequadas. Os animais já afetados devem ser isolados e tratados com antibióticos de amplo espectro. Ectima contagioso (boqueira) - as lesões são comumente observadas nos lábios. Nos casos graves, a infecção se estende até as gengivas, narinas, olhos, úbere, língua, espaços interdigitais e coroas dos cascos. Os animais acometidos devem ser isolados imediatamente por 2 a 3 semanas. As lesões devem ser tratadas com a retirada das crostas e com aplicação de uma mistura de iodo a 10% e glicerina, na proporção de 1:1. Nos casos mais graves, aconselha-se administração de antibióticos para prevenir infecções secundárias. Enterite (diarréia) - é uma doença muito comum, principalmente em animais jovens. O tratamento se faz com medicamentos à base de sulfa. Recomenda-se, também, desinfetar as instalações com produtos à base de creosol a 2%. Como medicação de suporte, utilizar solução rehidratante (soroterapia) Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.1., n.2, p.45-51, dez. 2007 49 INSTALAÇÕES Componentes de um Centro de Manejo Aprisco (capril e/ou ovil) - Na construção das instalações devem ser considerados: condições ambientais, material disponível na região, qualidade dos animais; devendo as mesmas ser simples, funcionais e econômicas. Tais instalações podem ser construídas preferencialmente em locais secos, altos e pouco inclinados; protegidos dos ventos fortes e em solo compactado e ensolarado; próximo a uma fonte de água e de fácil acesso. Nas regiões nordestinas onde as precipitações excedem 700 mm, os abrigos devem situar-se preferencialmente na direção NorteSul, no alto de pequenas elevações para que haja boa ventilação. Nas regiões de menor precipitação pluvial, recomenda-se sua construção no sentido Leste-Oeste. Aconselha-se a higienização semanal das instalações. A limpeza deve ser intensificada durante a maior ocorrência de parição e no período das chuvas. O esterco deve ser estocado fora do alcance dos animais, devendo ser utilizado nas áreas cultivadas, desde que bem curtido. Os tipos mais comuns de aprisco, segundo Brito & Cunha (2002) são: Chão batido – constituído de uma área aberta cercada de madeira, com uma parte coberta, podendo ter plataforma elevada com cerca de 30 a 50 cm de altura, de modo que as baias ocupem 1/3 da superfície do galpão. Piso suspenso – utilizado para animais em sistema de confinamento e semiconfinamento; apresenta melhores condições de manejo e higiene para os animais. O pé direito deve ser de 2,50m, o piso deve estar elevado a uma altura de 0,80 m do solo, utilizando na sua construção ripões de 3 cm de largura, distanciado de 1 cm para as áreas de cabrito e de 1,5 cm para as matrizes. As vigas que suportam os ripões devem ser espaçadas de aproximadamente 9,60m. As rampas de acesso com largura mínima de 1,20 m devem ser pouco 50 inclinadas para facilitar a subida dos animais devendo possuir proteção nos lados para evitar a queda das crias. Cochos - Os cochos são utilizados para arraçoar os animais com ração volumosa e/ou concentrada. Devem ficar localizados do lado de fora das instalações, evitando o desperdício e a contaminação por fezes e urina, além de facilitar o abastecimento; devem apresentar as seguintes dimensões: 3040 cm de altura do solo, 20 cm de profundidade e 30 cm de largura. Cabriteiro - Alojamento destinado às crias, situado no interior do aprisco, protegido contra ventos fortes, umidade e chuvas; devem apresentar boas condições de higiene. O espaço 2 recomendado é de 1 m /animal Maternidade - Deve ser localizada próxima à instalação formada por baias especiais num mesmo galpão, podendo ser individual ou coletiva, dependendo do tamanho do rebanho. Na ausência da maternidade, pode ser usado um piquete com área desmatada e plantada com capim de pisoteio, boas condições de água e sombreamento onde as fêmeas poderão parir em condições de conforto. Para a construção das baias maternidade a área coberta deve ter 1,5 a 2,0 m2/animal. Aprisco para reprodutores - Os abrigos destinados aos reprodutores devem ter 3 m2/animal com cocho para forragem e concentrado, sal mineral e água, além do solário. Saleiro - Outra instalação de grande importância e de baixo custo, que deve ser fixado sob a área coberta do curral. RESULTADOS EXPERIMENTAIS Os resultados da Tabela 1 são referentes ao número de fêmeas cobertas, taxas de parição e prolificidade de cabras e ovelhas SPRD (Sem Padrão de Raça Definida) submetidas à monta natural controlada com reprodutores caprinos das raças Anglo Nubiana, Boer, Savana e Parda Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.1, n.2, p.45-51, dez. 2007 Alpina; e ovino das raças Dâmara e Santa Inês, em pequenas Unidades de Produção no Cariri Paraibano, no ano de 2004. Para caprinos, a taxa de parição foi de 87% e prolificidade de 1,2; para ovinos foi de 87% e prolificidade de 1,1. Tabela 1 Taxa de parição de cabras e ovelhas SPRD submetidas à monta natural controlada com reprodutores caprinos das raças Anglo Nubiana, Boer, Savana e Parda Alpina; e ovino das raças Dâmara e Santa Inês, em Unidades de Produção no Cariri Paraibano, no ano de 2004. Espécie Nº de fêmeas cobertas Taxa de parição (%) Prolif Caprinos Ovinos 116 80 83,0 87,0 1,2 1,1 Prolif - Prolificidade A taxa de parição de 197 cabras SPRD (Sem Padrão de Raça Definida) submetidas à inseminação artificial com sêmen fresco de reprodutores das raças Boer e Anglo Nubiana, em pequenas Unidades de Produção localizadas nas regiões do Cariri e Curimataú Paraibanos, foi de 65,99% (130/197), com uma prolificidade de 1,5. Na Tabela 2, observa-se que os machos das raças Savanna e Parda Alpina foram mais pesados, ao nascimento, do que as fêmeas nas Unidades de Produção localizadas na região do Cariri e Curimataú, no ano de 2004. Enquanto isto, as fêmeas das raças Anglo Nubiana e Boer foram mais pesadas do que os machos, ao nascer. De um modo geral, as crias da raça Parda Alpina são mais leves, ao nascimento, do que os das raças Anglo Nubiana, Boer e Savanna. Com relação aos ovinos, as fêmeas da raça Dâmara com peso, ao nascer, de 6,20 kg superaram os machos em 2,5 kg. Enquanto isto os machos da raça Santa Inês foram mais pesados, ao nascer, do que as fêmeas, com uma diferença de 0,11 kg. Tabela 2 Pesos ao nascer dos produtos de cabras e ovelhas SPRD submetidas à monta natural controlada com reprodutores caprinos e ovinos, em pequenas Unidades de Produção no Cariri e Curimataú Paraibanos, no ano de 2004. Raça do reprodutor GONZALEZ, C.I.; SOARES, A.T.; CUNHA, M.das G.G.; SOUSA, W.H. de. Reprodução assistida em caprinos: inseminação artificial. João Pessoa: EMEPA-PB, 2002. 42p. il. (EMEPA-PB. Documentos, 39). Sexo da cria Machos Fêmeas D Caprinos Anglo Nubiana Boer Savana Parda Alpina 4,84 5,30 4,97 3,22 4,92 5,60 3,82 3,08 Ovinos Dâmara Santa Inês 3,80 5,04 6,20 4,93 A: Produto de cabra SPRD x reprodutor Savana, Soledade, PB B: Produto de cabra SPRD x reprodutor Dâmara, Soledade, PB C: Produto de cabra SPRD x reprodutor Boer, Riachão, PB D: Produtos de ovelhas SPRD x reprodutor Santa Inês, Soledade, PB REFERÊNCIAS A BRITO, E.A. de; CUNHA, M. das G.G. Instalações para caprinos leiteiros. In: SOUSA, W.H de; SANTOS, E.S. dos. Criação de caprinos leiteiros: Uma alternativa para o semi-árido. 2 ed. João Pessoa: SEBRAE-PB/EMEPA, 2000. p.191-207. CUNHA, M. das G. Nutrição e manejo alimentar de caprinos e ovinos: In: SOUSA, W.H.; SANTOS, E.S. dos. Criação de caprinos leiteiros: uma alternativa para o semi-árido. 2 ed. João Pessoa: SEBRAE, EMEPA-PB, 2000. p.57-58. 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