Holos Environment

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Holos Environment
Holos Environment, v.5 n.1, 2005
ISSN: 1519-8421
APRESENTAÇÃO
CONSELHO EDITORIAL
CORPO EDITORIAL
EDITORIAL
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
ÍNDICE DE TRABALHOS
HOLOS Environment
Av.24-A, 1515 - Bela Vista - 13506-900 Rio Claro/SP - Brasil
Fone/Fax:(0xx19) 3534-0122
E-mail: [email protected]
URL: www.rc.unesp.br/ib/cea/holos
Holos Environment, v.5 n.1, 2005
ISSN: 1519-8421
APRESENTAÇÃO
Universidade Estadual Paulista - UNESP
Reitor: Marcos Macari
Vice-Reitor: Herman Jacobus Cornelis Voorwald
Centro de Estudos Ambientais - CEA
Diretor Executivo: Roberto Naves Domingos
Vice-Diretora Executiva: Ana Luiza Brossi Garcia
Holos Environment
Editores: Deisy Piedade Munhoz Lopes
Nivar Gobbi
Editoração Eletrônica
Jorbson Antonio Giovanni
Reginaldo César Bortolin
Apoio Editorial
Sara Cristina Galvão
Edério D. Bidóia
Secretaria Executiva
Maria Gleide Lopes Rodrigues Palatin
Isabel Marisilvia Vicente
APRESENTAÇÃO
A Holos Environment é aberta a qualquer publicação original que contribua
para o desenvolvimento das ciências ambientais e nela podem ser publicados artigos
científicos, notas prévias, "short communications", revisões e "book reviews", nos
idiomas, português, inglês ou espanhol (short communications, apenas em inglês). A
revista Holos Environment destaca-se por possuir carácter interdisciplinar e visa
abranger a temática ambiental sob uma dimensão holística. Sendo assim seu públicoalvo deve ser constituído por autores que de alguma forma, estejam envolvidos com
as ciências ambientais, tais como, biólogos, ecólogos, geólogos, geógrafos, físicos,
químicos, agrônomos, e demais pesquisadores que trabalham na área de educação
ambiental, direito ambiental, ou engenharia ambiental.
A Holos Environment possui periodicidade semestral e as edições saem em
junho e dezembro de cada ano. Como norma de seleção de qualidade dos artigos, os
mesmos são submetidos ao exame de referees especializados, pertencentes a um
abalizado corpo editorial, onde se incluem vários representantes da ciência
internacional.
Holos Environment, v.5 n.1, 2005
ISSN: 1519-8421
A Holos Environment é editada em padrão eletrônico, gravada em CD-ROM,
compatível com ambiente Windows 95 ou superior. No formato on-line a Holos
Environment ficará disponibilizada no site http://www.rc.unesp.br/ib/cea/holos.
PRESENTATION
Holos Environment is a scientific publication from UNESP - Center of
Environmental Studies (CEA), which accepts articles in Portuguese, English and
Spanish, related to Environmental Sciences, presented as complete articles, short
communications (only in English) , and book reviews.
With a interdisciplinary view, Holos Environment aims to involve
environmental issues by a holistic dimension, joining authors from different fields of
knowledge, as: biologists, ecologists, geologists, geographers, physicists, chemisters,
agronomists, educators, environmental lawyers, environmental engineers, and any
other scientists related with environmental research.
All manuscripts submitted to Holos Environment are sent to at least two
referees from our selected Editorial Board, in which are included international
representatives.
Holos Environment is published on a semestrial bases, in CD-ROM and Online formats, Win9x compatible. http://www.rc.unesp.br/ib/cea/holos.
PRESENTACIÓN
La revista Holos Environment está abierta a cualquier publicación original que
contribuya con el desarrollo de las ciencias ambientales; en ella pueden ser
publicados artículos científicos, notas previas (short communications), revisiones y
book reviews, utilizando los idiomas portugués, inglés o castellano. La revista Holos
Environment se destaca por su carácter interdiciplinario y porque busca abordar la
temática ambiental desde una dimensión holística. De este modo, el público a que se
dirige debe ser constituido por autores que, de alguna forma, estén preocupados con
las ciencias ambientales, entre los que se pueden contar biólogos, ecólogos, geólogos,
geógrafos, físicos químicos, agrónomos y otros investigadores que trabajen en las
áreas de educación ambiental, derecho ambiental o ingeniería ambiental.
La Holos Environment es una publicación semestral y los números son
editados en los meses de junio y diciembre de cada año. Como norma de selección de
calidad de los trabajos, ellos son sometidos a la apreciación de referees
especializados, pertenecientes a un prestigiado cuerpo editorial, en el que se incluyen
varios representantes internacionales de esta ciencia.
Respecto a la forma de publicación, la Holos Environment es editada en padrón
electrónico, gravada en CD-ROM, compatible con el sistema Windows 95 o
Holos Environment, v.5 n.1, 2005
ISSN: 1519-8421
superiores. En el formato on fine, la Holos Environment está a disposición de los
usuarios en el sitio http://www.rc.unesp.br/ib/cea/holos
Agradecimentos
Os Editores agradecem à Diretoria Executiva do Centro de Estudos Ambientais
da Universidade Estadual Paulista, aos Funcionários Técnicos Administrativos e
Técnicos em Informática do CEA, assim como aos autores pelo envio dos artigos; aos
referees pela revisão dos mesmos e a todos que vêm colaborando com a Revista
Holos Environment. Agradecimento especial ao Prof. Dr. Manoel Rolando Berrios
Godoy pela versão da apresentação da revista para o Espanhol.
Codificação: IBICT/ISSN 1519-8421 (CD-ROM) e 1519-8634 (ON-LINE)
Classificação: Qualis da CAPES - Internacional
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CONSELHO EDITORIAL
Antenor Pasqual (FCA/UNESP - Botucatu)
Carlos Henrique Silva Penteado (CEA/UNESP – Rio Claro)
Evôneo Berti Filho (ESALQ/USP - Piracicaba)
Flávio Henrique Mingante Schlitler (IB/UNESP - Rio Claro)
Jorge de Lucas Jr. (FCAV/UNESP - Jaboticabal)
José Chaud Netto (IB/UNESP - Rio Claro)
José Luis Timoni (Inst. Florestal - São Paulo)
Mário Benincasa (FCAV/UNESP - Jaboticabal)
Paulo Milton B. Landim (IGCE/UNESP - Rio Claro - SP)
Peter Grandsden Crawshaw Jr. (CENAP/IBAMA - Iperó)
Sâmia Maria Tauk-Tornisielo (CEA/UNESP - Rio Claro)
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ISSN: 1519-8421
CORPO EDITORIAL
Adalberto Farache Filho (FCF/UNESP - Araraquara - SP)
Adayr Mafuz Saliba (FPZSP - São Paulo - SP)
Alberto J. Aristarain (LEGGAN - Mendoza - Argentina)
Alcides Lopes Leão (FCA/UNESP - Botucatu - SP)
Álvaro Penteado Crosta (IG/UNICAMP – Campinas - SP)
Amauri Antonio Menegário (CEA/UNESP - Rio Claro - SP)
Amilton Amorin – FCT/UNESP – Presidente Prudente, SP
Ana Luiza Brossi-Garcia (IB/UNESP - Rio Claro - SP)
Ana Tereza Cáceres Cortez (IGCE/UNESP - Rio Claro - SP)
Antonio Carlos Sarti (UNIMEP - Piracicaba - SP)
Antonio Cezar Leal (FCT/UNESP - P.Prudente - SP)
Antonio Evaldo Klar (FCA/UNESP - Botucatu - SP)
Antonio Fernando M. Camargo (IB/UNESP - Rio Claro - SP)
Carla Ferrati Instituto de Botânica – São Paulo, SP
Carlos Roberto Bueno (INPA - Manaus - AM)
Celso Aita (UFSM - Santa Maria - RS)
Daniel José da Silva (UFSC - Florianópolis - SC)
Dejanira de Franceschi de Angelis (IB/UNESP - Rio Claro - SP)
Dib Gebara (FE/UNESP - Ilha Solteira - SP)
Edério D. Bidóia (IB/UNESP - Rio Claro - SP)
Edison Augusto Luciano – IGCE/UNESP – Rio Claro, SP
Elizabete Gabriela C. Campos (EESC /USP - São Carlos - SP)
Elizabeth C. Urbinati (CAUNESP/UNESP - Jaboticabal - SP)
Emília Falcão Pires (FAAC/UNESP - Bauru - SP)
Fernando B. Noll (FFCL/USP - Ribeirão Preto - SP)
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Fernando Carlos Pagnocca (IB/UNESP - Rio Claro - SP)
Flávio Henrique Caetano (IB/UNESP - Rio Claro - SP)
Flávio Moscardi (EMBRAPA - Londrina - PR)
Francisco Tadeu Rantim (UFSCAR - São Carlos - SP)
Gilberto Garcia (CEAPLA/UNESP - Rio Claro - SP)
Gina Maria de Palma Silva – CEA/UNESP – Rio Claro, SP
Godofredo Cesar Vitti (ESALQ/USP-Piracicaba - SP)
Harold Gordon Fowler (IB/UNESP - Rio Claro - SP)
Helita Barreiro Custódio (Consultora Independente - São Paulo - SP)
Herbe Xavier (PUC/MG - Belo Horizonte - MG)
Jaime de Oliveira Campos (IGCE/UNESP - Rio Claro - SP)
Jairo Rueda – IGCE/UNESP – Rio Claro, SP
Jefferson Libório (FE/USP - São Carlos - SP)
Joachim U. Adis (INPA/Max Planck, Plön - Germany)
João Antonio de Paula (UFMG - Belo Horizonte - MG)
João Antonio Galbiatti (FCAV/UNESP - Jaboticabal - SP)
João Carlos Cury Saad - FCA/UNESP – Botucatu, SP
João Vasconcelos Neto (Ecologia/UNICAMP - Campinas - SP)
Jorge Jim (IB/UNESP - Botucatu - SP)
José Carlos Motta Jr. (IB/USP - São Paulo - SP)
José Chaud Netto – IB/UNESP – Rio Claro
José Manoel Balthazar (IGCE/UNESP - Rio Claro - SP)
José Roberto Ferreira – CENA/USP – Piracicaba, SP
José Roberto Postali Parra (ESALQ/USP - Piracicaba - SP)
Juan José Neiffe (CONICET/CECOAL - Corrientes - Argentina)
Laércio Leonel Leite (UNB - Brasília - DF)
Lineu Bley (UFPR - Curitiba - PR)
Lúcia da Costa Ferreira (NEPA/UNICAMP - Campinas - SP)
Luis Carlos Pavani (FCA/UNESP - Jaboticabal - SP)
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Luis Santos Pereira (ISA/UTL - Lisboa - Portugal)
Luiz Augusto do Amaral ( FCAV/UNESP - Jaboticabal - SP)
Luiz Marcelo de Carvalho (IB/UNESP - Rio Claro - SP)
Luiz Vitor Silva Sacramento – FCF/UNESP – Araraquara, SP
Márcio Roberto C.Martins (IB/USP - São Paulo - SP)
Marcos Ap. Pizano – IB/UNESP – Rio Claro, SP
Marcos Simão Figueiras (FHDSS/UNESP - Franca - SP)
Margarida M. P. Orellana (IGCE / UNESP - Rio Claro - SP) - (Aposentada)
Maria do Carmo Calijuri (EESC/USP - São Carlos - SP)
Maria E. S. P. Demattê (FCAV/UNESP - Jaboticabal - SP)
Maria Inês Pagani (IB/UNESP - Rio Claro - SP)
Maria Jacyra S.Simões (FCAV/UNESP - Jaboticabal - SP)
Marie Luise Dindo (IE - Universitá di Bologna - Itália)
Mary Rosa R. M. S. Silva (IQ/UNESP - Araraquara - SP)
Mercedes Bustamante (ICB/UNB - Brasília - DF)
Miguel Petrere Jr. (IB/UNESP - Rio Claro - SP)
Mirian Cláudia L.Simonetti (FFC/UNESP - Marília - SP)
Never Bonino (INTA - Curitiba - PR)
Normando Perazzo Barbosa (UFPB - João Pessoa - PB)
Odeibler Santo Guidugli (IGCE/UNESP - Rio Claro - SP)
Pascual J. Soriano (FC/Univ.de los Andes - Mérida, Venezuela)
Paulo Chogi Kitamura (EMBRAPA - Jaguariuna - SP)
Paulo E. de Toledo Salgado (FCF/UNESP - Araraquara - SP)
Paulo Milton B. Landim (IGCE/UNESP - Rio Claro - SP)
Paulo Nogueira Neto(IB/USP - São Paulo - SP)
Pedro Leão de Souza (ISA/UTL - Lisboa - Portugal)
Pedro Magalhães Sobrinho (FE/UNESP - Guaratinguetá - SP)
Pompeu Figueiredo de Carvalho (IGCE/UNESP - Rio Claro - SP)
Reinaldo Monteiro (IB/UNESP - Rio Claro - SP)
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Ricardo Vedovello (IG/ SA/ESP - São Paulo - SP)
Sâmia Maria Tauk Tornisielo (CEA/UNESP – Rio Claro - SP)
Sandra Regina Ceccatto Antonini (UFSCar – Araras- SP)
Sérgio Antonio Röhm (UFSCar – São Carlos- SP)
Sérgio Valiengo Valeri (FCAV/UNESP - Jaboticabal - SP)
Sulene Moriko Shima – IB/UNESP – Rio Claro, SP
Tereza Cristina T.Pissarra (FCAV/UNESP - Jaboticabal - SP)
Ubirajara R. Martins de Souza – USP – São Paulo, SP
Wagner C. Valente (CAUNESP/UNESP - Jaboticabal - SP)
William H. McDowell (CLSA/New Hampshire University - USA)
William Leslie Overal (Museu Goeldi - Belém - PA)
Wlamir do Amaral - (Consultor Independente - Piracicaba - SP)
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EDITORIAL
OBRIGADO PROFESSOR CARLOS HENRIQUE!
Conheci o Professor Doutor Carlos Henrique Silva Penteado em meados dos
anos 60, como aluno do Curso de História Natural da então Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Rio Claro. Fui seu professor nessa ocasião, no início de minha
carreira, e pude acompanhar, após a sua formatura em 1965, toda a sua carreira como
docente e pesquisador.
Iniciou suas atividades no então Departamento de Fisiologia e Ecologia
Animal e depois, com a criação do Instituto de Biociências do campus da UNESP em
Rio Claro ficou lotado no Departamento de Zoologia, onde se aposentou. Desde 1998
tornou-se Pesquisador Voluntário junto ao Centro de Estudos Ambientais deste
mesmo campus, atuando na área “Fisiologia de Diplópodos tropicais. Ação de fatores
intrínsecos e extrínsecos (ambientais)”.
Freqüentou diversos estágios e cursos necessários a complementação de sua
formação profissional, recebeu diversas bolsas e auxílios para desenvolver suas
pesquisas, tendo obtido seu título de Doutor em 1972.
Participou de diversas reuniões científicas e visitou centros de pesquisas e
laboratórios no exterior.
Com extensa atividade didática, tanto em nível de graduação como de pósgraduação, foi orientador de estágios, iniciação científica, mestrado e doutorado.
Publicou mais de 50 trabalhos e manteve atividades administrativas como Chefia de
Departamento e Coordenadoria de Curso de Pós-Graduação.
Em que pese toda essa atividade como professor universitário, que considero,
significativa, quero destacar a de Editor-Chefe da Revista Eletrônica “HOLOS
Environment”, que exerceu de 2000 a 2005.
A “HOLOS Environment”, órgão de divulgação científica do CEA-UNESP,
tem periodicidade semestral e é editada em CD-ROM (ISSN 1519-8421) e On-Line
(ISSN 1519-8634), desde junho de 2001. O último lançamento foi o volume 4, n.2,
2004, em novo software padrão PDF. A Revista consta na relação Qualis da CAPES
como nível “B”, nas áreas de Geografia e de Engenharia, ora aparecendo como de
divulgação internacional, ora como nacional, dependendo do comitê de avaliação. O
periódico visa uma penetração internacional, uma vez que aceita artigos em
Português, Espanhol e Inglês, sendo a sua apresentação feita nessas três línguas.
A revista HOLOS Environment consta da base de dados da maioria das
bibliotecas universitárias nacionais, como dos Institutos de Biociências e Geociências
da USP/São Paulo, ESALQ/USP/Piracicaba, EESC/USP/São Carlos, UFSCar/São
Carlos, USP/Ribeirão Preto, Institutos de Biociências e Geociências da UNICAMP,
UFRJ, UFMG, UFRS, UNB, UFPR, UFSC, e várias outras bibliotecas federais,
estaduais e particulares do país e de outras entidades, como da área de Educação do
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MEC – Brasília e de Centros de Pesquisas da EMBRAPA, sem esquecer que está na
base central de dados de todas as bibliotecas da UNESP e da RENEX – Reitoria.
Referência à HOLOS Environment consta também do Catálogo Coletivo Nacional de
Publicações Seriadas – CCN, mediante o código SPS – 097557-5.
Desde o seu lançamento já publicou 58 artigos. No momento, na fila de espera
para publicação, acham-se cadastrados mais de 15 artigos, cujos originais já foram
distribuídos para os relatores para emissão dos respectivos pareceres.
Deve ser esclarecido que do aporte de artigos cadastrados, nem todos são
publicados pois, boa parte deles (cerca de 30%), ou são rejeitados pelos relatores ou
pelos próprios editores quando os artigos não preenchem os requisitos mínimos
necessários, ou ainda, por falha dos interessados que deixam de devolver os artigos
corrigidos à Editora da Revista.
Esta é, portanto, a situação em que se encontra a Revista HOLOS Environment.
Em termos nacionais é uma posição de destaque e para atingir tal condição deve ser
ressaltados a atuação, o empenho e a dedicação do Professor Carlos Henrique, que
acaba de encerrar o seu mandato como Editor-Chefe.
A ele somos todos, editores, relatores e autores, gratos pelo excelente trabalho
desenvolvido.
Rio Claro, novembro de 2005.
Prof. Dr. Paulo Milton Barbosa Landim
Reitor da UNESP, período de 1989 a 1993.
Professor Voluntário do Departamento de Geologia Aplicada –IGCE
UNESP/Rio Claro
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ISSN: 1519-8421
INSTRUÇÕES PARA PUBLICAÇÕES NA HOLOS
Environment
A HOLOS Environment publicará trabalhos originais referentes à área de meio
ambiente, focalizando as diferentes abordagens da visão ecológica, apresentadas sob a
forma de artigos científicos redigidos em português, inglês ou espanhol, short
communications (somente em inglês), revisões e "book reviews". As publicações serão
editadas em padrão eletrônico, gravadas em CD-ROM, além de disponibilizadas na
Internet.
Normas para publicação:
Os originais deverão ser apresentados, em três vias impressas em papel e uma
cópia em disquete de 3½ com as seguintes especificações: Microsoft Word, fonte Times
New Roman 12, espaçamento duplo, tamanho de papel A4. Os encaminhamentos
deverão ser feitos com exclusividade ao Editor, via ofício, assinado por todos os autores.
Os artigos deverão conter, obrigatoriamente, Resumo em português, Abstract em
inglês (máximo de 20 linhas cada); 5 Palavras-chave e Key-words, além de um subtítulo
do trabalho em inglês.
Serão aceitos trabalhos com no máximo 20 páginas de texto. O Corpo Editorial
não se responsabiliza pela correção gramatical e/ou ortográfica dos trabalhos, devendo
os mesmos serem revisados anteriormente, assim como também não se responsabiliza
pelo conteúdo dos trabalhos publicados, que é de total responsabilidade dos autores.
Ilustrações (mapas, fotografias, esquemas, desenhos, gráficos, etc) deverão ser
escaneadas, e inseridas no texto como "Figuras" com as respectivas informações
(legendas, escalas, etc). A revista aceitará um máximo de 7 Figuras e 5 Tabelas.
Referências devidamente citadas no final do texto, de acordo com as normas da NBR6023/ago.2002 da ABNT.
Os Editores
Editoração:
CEA/UNESP
Av. 24-A, 1515 - Bela Vista - CEP: 13506-900 - Rio Claro/SP
Fone/Fax: [55] (0xx)19-3534-0122 - e-mail: [email protected]
www.rc.unesp.br/ib/cea/holos
Códigos de ISSN: Formato CD: 1519-8421 / On line: 1519-8634
Classificação Qualis da CAPES: Internacional.
/
URL:
Holos Environment, v.5 n.1, 2005
ISSN: 1519-8421
ÍNDICE DOS TRABALHOS
ESTUDO ESPACIAL DO GRADIENTE DE VEGETAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL DA
ILHA DO CARDOSO, SP, BRASIL. P. 01 - 22
SPATIAL STUDY OF THE VEGETATION GRADIENT FROM CARDOSO ISLAND
STATE PARK, SP, BRAZIL
Bernardi, J. V. E., Landim, P.M.B., Barreto, C.L.; Monteiro, R.C.
MELHORIA NA QUALIDADE DA ÁGUA PELA IMPLANTAÇÃO DE UM NOVO
SISTEMA DE TRATAMENTO DE EFLUENTE INDUSTRIAL NA REFINARIA
REPLAN/PETROBRAS. P. 23 - 36
IMPROVEMENTS ON WATER QUALITY BY A NEW WASTEWATER TREATMENT
SYSTEM IN REPLAN/PETROBRAS OIL REFINARY
Wieczorek, A., Angelis, D. F., Furlan, L. T. ; Corrêa Jr., B.
ESTAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES:
HISTÓRICO E PROPOSTA DE PROCEDIMENTOS PARA O SEU PLANEJAMENTO E
CONTROLE OPERACIONAL. P. 37 - 51
DOMICILIARY SOLID WASTE TRANSFER STATIONS: BACKGROUND AND
PROPOSAL OF PROCEDURES FOR ITS PLANNING AND OPERATIONAL CONTROL
Costa, H.S.
INFLUÊNCIA DE DIFERENTES DOSES DE TORTA DE FILTRO NO SOLO SOBRE A
MIGRAÇÃO E PERSISTÊNCIA DE STEINERNEMA GLASERI (STEINER, 1929)
(NEMATODA: RHABDITIDA). P. 52 - 64
INFLUENCE OF DIFFERENTIAL DOSES OF FILTERCAKE ADDED TO SOIL ON THE
MIGRATION AND PERSISTENCE OF STEINERNEMA GLASERI (STEINER, 1929)
(NEMATODA: RHABDITIDA)
Rodrigues, R.C.D., Aguillera, M.M., Gobbi, N.; Pizano, M.A.
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ISSN: 1519-8421
ILHA DO MARAJÓ: REVISÃO HISTÓRICA, HIDROCLIMATOLOGIA, BACIAS
HIDROGRÁFICAS E PROPOSTAS DE GESTÃO. P. 65 - 80
THE MARAJÓ ISLAND: HISTORICAL REVISION, HYDROCLIMATOLOGY,
HYDROGRAPHICAL BASINS AND MANAGEMENT PROPOSALS
Lima, A. M. M.; Oliveira, L. L., Fontinhas, R. L.; Lima, R. J. S.
QUALIDADE DA ÁGUA NAS ÁREAS ATERRADAS COM ENTULHO EM
UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS, BRASIL. P. 81 - 93
WATER QUALITY IN THE AREAS COVERED BY WASTE MATERIAL AT
UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS, BRAZIL.
Rocha, A.L., Nishiyama, L.; Bellingieri, P. H.
OBSERVAÇÃO: O conteúdo dos trabalhos publicados em HOLOS Environment é de total
responsabilidade dos autores.
HOLOS Environment, v.5 n.1, 2005 - P. 1
ISSN: 1519-8421
Recebido em: 10/12/2003
Liberado para Publicação em: 12/10/2005
ESTUDO ESPACIAL DO GRADIENTE DE VEGETAÇÃO
DO PARQUE ESTADUAL DA ILHA DO CARDOSO, SP,
BRASIL
SPATIAL STUDY OF THE VEGETATION GRADIENT
FROM CARDOSO ISLAND STATE PARK, SP, BRAZIL
Bernardi, J. V. E.1, Landim, P.M.B.2, Barreto, C.L.3;
Monteiro, R.C.4
1
Universidade Federal de Rondônia/Porto Velho, RO, e-mail: [email protected]
2, 4
Universidade Estadual Paulista/Rio Claro, SP.
3
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis/IBAMAFLONA, Humaitá, AM.
RESUMO
O enfoque deste trabalho é a utilização de técnicas de sensoriamento remoto na
obtenção de um mapa temático da vegetação, em escala do Parque Estadual da Ilha
do Cardoso, situado no litoral sul paulista, com vistas a um estudo espacial dos tipos
de vegetação presentes e sua distribuição em área. A partir da análise conjunta do
mapa temático com os tipos de vegetação, das composições coloridas e do índice de
vegetação por diferença normalizada (IVDN), pode-se concluir que os tipos de
vegetação existentes encontram-se em um franco estado de sucessão ecológica com
vários mosaicos desde a planície costeira até a região serrana. O gradiente de
vegetação encontrado está relacionado com os diferentes tipos de substratos, com
limites dos tipos de vegetação coincidentes, indicando uma dependência pedológica
espacial. Os tipos de vegetação na planície costeira correspondem à pioneira de dunas
e restinga de scrub em Neossolos Quatzarênicos Hidromórficos típicos e vegetação
arbórea de restinga em Espodossolos Ferrocárbicos Hidromórficos hísticos. No sopé
da região montanhosa, encontra-se floresta pluvial tropical de planície litorânea em
Neossolos Flúvicos Distróficos típicos. Para a área montanhosa ocorre floresta
pluvial tropical de encosta em Argilossolos Amarelos Distróficos câmbicos,
Argilossolos Vermelho-Amarelos Distróficos abrúpticos, Cambissolos Hísticos
Distróficos típicos e vegetação arbustiva em Neossolos Litólicos Hísticos típicos.
Apesar da vegetação de mangue ter sido evidenciada nas imagens digitais, não foi
possível um acompanhamento detalhado de campo.
Palavras chaves: Gradiente de vegetação, sensoriamento remoto, modelagem tridimensional, Ilha do Cardoso.
HOLOS Environment, v.5 n.1, 2005 - P. 2
ISSN: 1519-8421
Recebido em: 10/12/2003
Liberado para Publicação em: 12/10/2005
ABSTRACT
The focus of this work is the application of remote sensing techniques to
thematic map making of the Cardoso Island State Park, located in the southern coast
of São Paulo State, regarding a spatial study of vegetation types. It can be concluded,
from the thematic map, color compositions and NDVI (normalized difference of
vegetation index), that the existent vegetation types are in a ecological sequence with
several mosaics from the coastal plain to the mountainous area. The vegetation
gradient found is related with the different substratum types indicating pedological
space dependence. In the coastal plain the corresponding vegetation are pioneering in
dunes and scrub sandbank over typical Neossolos Quatzarênicos Hidromórficos and
sandbank arboreal vegetation over Espodossolos Ferrocárbicos Hidromórficos. In the
foothill area the vegetation is tropical pluvial forest of coastal plain over typical
Neossolos Flúvicos Distróficos. For the mountain area occurs tropical pluvial forest
of hillside over Argilossolos Amarelos Distróficos Câmbicos, Argilossolos VermelhoAmarelos Distróficos Abrúpticos and typical Cambissolos Hísticos Distróficos and
shrubby vegetation in typical Neossolos Litólicos Hístico”. In spite of the swamp
vegetation evidenced in the digital images, it was not possible a detailed checking in
field works.
Key-words: Vegetation gradient, remote sensing, 3D modelling, Cardoso Island.
1. INTRODUÇÃO
O enfoque principal deste trabalho é a utilização de técnicas de sensoriamento
remoto na obtenção de um mapa temático da vegetação do Parque Estadual da Ilha do
Cardoso, situado no litoral sul paulista, com vistas a um estudo espacial dos tipos de
vegetação presentes na área. Bernardi (2001) estudou quantitativamente a estrutura da
vegetação do Parque e apresentam em seu trabalho detalhes sobre a área.
O estudo espacial em três dimensões permite a visualização e a interpretação
mais acurada de características do terreno e a construção de Modelos Digitais de
Elevação (MDE), a partir de dados altimétricos. Estas superfícies tridimensionais
geradas reproduzem características do relevo possibilitando maior clareza à
respectiva percepção geomorfológica. Desse modo a integração dos MDE a outras
informações, tais como mapas temáticos elaborados a partir de imagens de
sensoriamento remoto, oferece melhores possibilidades de a avaliação de influências
recíprocas.
A vegetação é o primeiro alvo a interagir com a radiação eletromagnética,
exibindo um comportamento espectral característico facilitando, desse modo, a sua
identificação. As reflectâncias das coberturas vegetais, segundo Goyot (1995),
depende das propriedades ópticas das plantas e do arranjo destas no espaço. Estudos
Recebido em: 10/12/2003
Liberado para Publicação em: 12/10/2005
HOLOS Environment, v.5 n.1, 2005 - P. 3
ISSN: 1519-8421
feitos por Campbell (1987) mostraram que os vários tipos de comunidades vegetais
respondem de forma diferente quanto às suas reflectâncias.
Assim, a aplicação de técnicas de sensoriamento remoto permite identificar
nitidamente a diferença de textura e de estrutura da vegetação como árvores, arbustos
e herbáceos. Para interpretar dados de sensoriamento remoto de dosséis de florestas é
necessário, portanto, o conhecimento dos fatores que afetam suas propriedades óticas,
que podem ser externos ou internos ao dossel (GOEL, 1988; GOYOT et al.1989). Estes
autores citam os seguintes fatores externos como sendo os mais importantes: ângulos
azimutais e zenitais de iluminação da cena; tamanho da área imageada e ângulo de
visada do sensor; condições atmosféricas. Entre os fatores internos mencionam a
arquitetura do dossel e as propriedades espectrais da superfície do terreno.
A classificação de imagens multiespectrais de sensoriamento remoto associa
cada pixel da imagem a um rótulo, descrevendo um objeto real (vegetação, solo, etc.).
Dessa forma, os valores numéricos (VNs) associados a cada pixel, definidos pela
reflectância dos materiais que compõem esse pixel, são identificados em termos de
um tipo de cobertura da superfície terrestre obtido pela imagem (água, tipos de
vegetação, de solo, de rocha, etc.), chamadas então de tema (CRÓSTA, 1993). Quando
esse tipo de operação é efetuado para todos os pixels de uma determinada área, o
resultado é um mapa temático, mostrando a distribuição geográfica de um tema,
como vegetação ou solo. Neste caso, denota-se que, uma imagem de sensoriamento
remoto classificada é uma forma de mapa temático digital. Deve ser enfatizado,
porém, que a utilização da classificação supervisionada implica que o usuário
conheça parte da área a ser classificada, antes de iniciar o processo de classificação.
Este conhecimento específico chama-se verdade terrestre e quando uma área é
identificada pelo usuário, representando uma classe, denomina-se área de
treinamento. Os valores numéricos (VNs) dos pixels do conjunto de treinamento em
cada uma das bandas espectrais são então comparados com os VNs de cada pixel da
imagem, decidindo à qual classe estes pertencem.
Índices de vegetação (IV) são medidas quantitativas, relacionadas aos valores
digitais, que indicam a biomassa ou o vigor vegetativo das plantas (CAMPBELL, 1987).
São obtidos a partir de medidas radiométricas de vegetação, utilizadas para avaliar
variações temporais e espaciais de dados biofísicos. A base física para obtenção dos
índices de vegetação está relacionada à absorção pela clorofila da planta, da porção
de radiação eletromagnética na região espectral do vermelho e ao espalhamento pelas
folhas das plantas da radiação na região espectral do infravermelho próximo. Desta
forma, cada banda é um indicador do total de vegetação presente em uma área, porém
contribuições do solo e da atmosfera fazem com que ocorra uma incerteza na
estimativa dos parâmetros biofísicos da vegetação (LIU e HUETE, 1995). Os índices de
vegetação podem ser calculados a partir de dados de saída de voltagem, valores de
radiância, valores de reflectância e números digitais de imagens de satélites, sendo
todos corretos, mas cada um produzirá um valor diferente do índice de vegetação
para as mesmas condições de superfície (XAVIER, 1998).
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O índice de vegetação proposto por Tucker (1979), denominado de índice de
vegetação de diferença normalizada (NDVI ou IVDN), mede o vigor e abundância da
vegetação. Este índice é avaliado pelas medidas de reflectância na faixa espectral do
verde e do vermelho (G/R) ou infravermelho próximo e vermelho (IR/R) que é mais
funcional (CAMPBELL, 1987). OS Ivs têm grande aplicabilidade na separação de
diferentes tipos de vegetação por sensoriamento remoto e muitos autores têm se
utilizado desta técnica, o que a torna mais confiável. Porém, para que estes índices
sejam interpretados com precisão são necessários o conhecimento de campo e a
experiência no tratamento e interpretação das imagens.
No presente trabalho são enfatizadas as técnicas aplicadas para a obtenção de
um mapa de vegetação do Parque Estadual da Ilha do Cardoso e os resultados obtidos
em termos de identificação dos diferentes tipos de vegetação existentes na Ilha. São
discutidas também, as relações espaciais entre os tipos de vegetação identificados e
os demais componentes fisiográficos (solos, relevo e rochas).
2. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O Parque Estadual da Ilha do Cardoso (PEIC), administrado pelo Instituto
Florestal da Secretária do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, localiza-se no
litoral sul do Estado de São Paulo na divisa com o Estado do Paraná, abrangendo uma
área aproximada de 151km2, situando-se entre as coordenadas 48o05’42” W,
25o03’05” S e 48o53’48” W, 25o18’18” S, separado do continente pelo canal de
Trapandé. A localização e vias de acesso ao Parque têm como referência os
municípios de Cananéia e de Ilha Comprida (Figura 1).
Figura 1 - Localização do Parque Estadual da Ilha do Cardoso (modificado de WEBER, 1998).
A topografia da Ilha é predominantemente montanhosa, com a parte central
dominada por elevações acima de 814m. O clima é megatérmico superúmido, sem
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estação seca definida e com nível de precipitação anual de 3.000mm (FUNARI et al.,
1987).
2.1. Caracterização geológica
A geologia da ilha do Cardoso é constituída principalmente por um complexo
ígneo alcalino caracterizado, por Weber (1998), como Sienito Três Irmãos (STI)
aflorante na porção central da ilha, ocupando sua maior parte, e Granito Cambriú
(GC) na porção leste da Ilha. As litologias encontradas são quartzo-monzonito,
quartzo-sienito, monzonito, sienito sienogranito e monzogranito, os quais em geral,
apresentam estruturas fluidal e xenomórfica.
Na porção setentrional encontra-se uma faixa de rochas metas sedimentares
fácies xisto verde correlacionadas por Weber (1998) às rochas da Formação Rio das
Cobras. Essas rochas metassedimentares do sub-domínio Iguape, anteriormente
correlacionados à seqüência Turvo-Cajatí, são chamadas Metassedimentos Iguape.
Ocorrem também na Ilha, rochas cenozóicas da Formação Cananéia, representadas
por arenito grosso, mal selecionado com estratificações cruzadas intensamente
bioperturbadas, com bandas ricas em minerais pesados. Em geral as porções
marginais norte, leste e sul da ilha, são cobertas por sedimentos quaternários de
baixos terraços marinhos, flúvio-lagunares e mangues.
2.2. Caracterização Geomorfológica
A Ilha do Cardoso apresenta basicamente cinco compartimentos
geomorfológicos distintos, distribuídos em três domínios geomorfológicos,
relacionados diretamente com os tipos litológicos (WEBER,1998; KARMANN et al.,
1999).
No primeiro domínio o compartimento é montanhoso, desenvolvido em rochas
sienito-monzoníticas, formando topos angulosos com vertentes retilíneo-convexas,
ocupando uma área de 68km2, estendendo-se da região oriental até o oceano a leste,
formando costões rochosos, onde ocorrem terraços de abrasão marinha além de
grandes matacões, conforme descrito por Petri e Fulfaro (1970). As cristas elevadas
podem atingir cotas altimétricas superiores a 814m. A rede de drenagem é muito
densa e encaixada no conjunto de fraturas de direção preferencial NE-SW, NW-SE e
W-E, em calhas retilíneas e com alto gradiente de inclinação em torno de 86o a
praticamente 90o formando diversas cachoeiras, com quedas superiores a 40m.
O segundo domínio é representado principalmente pelo compartimento de
morros baixos arredondados, com inclinação média aproximada de 45o a 60o,
associado às rochas metamórficas da ilha. As vertentes destes morros são côncavas e
sua rede de drenagem obedece ao fraturamento com as mesmas direções do primeiro
compartimento. Este compartimento ocupa uma parte da porção setentrional da Ilha,
com afloramentos de rochas metamórficas de baixo grau representadas por
metarritmitos, xistos e filitos, intercalados por lentes de quartzitos.
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O terceiro domínio é representado pela planície costeira, que pode ser
subdividido em três compartimentos: áreas de mangue; praias; e cordões arenosos. As
áreas de mangue ficam localizadas a oeste da Ilha, entre os canais fluviais e a planície
de maré. As praias geralmente são recortadas por costões rochosos do domínio
montanhoso, e localizam-se a leste e sudeste da área. Os cordões litorâneos quartzoarenosos formam localmente pequenas dunas por ação do retrabalhamento eólico, no
sul da ilha, destacando-se a formação de uma restinga arenosa com extensão
aproximada de 18km por 500m de largura, com altitudes em torno de 3 a 10m. A
drenagem da planície costeira é de baixo gradiente, com canais meandrantes e
localmente entrelaçados por influência da maré.
2.3. Caracterização Pedológica
Adotando a classificação proposta pela “Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária - EMBRAPA” (1999), são reconhecidas na Ilha 7 unidades
taxonômicas: Cambissolos Hísticos Distróficos típicos, encontrados acima da cota
topográfica de 500 metros com profundidades variando entre 50 a 80 centímetros;
Argilossolos Amarelos Distróficos câmbicos encontrados na região serrana acima da
cota topográfica de 350 metros e com profundidades superiores a 2 metros para o
horizonte B; Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos abrúpticos encontrados nos
morros associados aos metarritimitos e com profundidade superior a 2,5 metros para
o horizonte B; Espodossolos Ferrocárbicos Hidromórficos hísticos encontrados na
planície costeira onde se localiza a Floresta Pluvial Tropical da Planície Costeira,
cujo horizonte orgânico ultrapassa em média 25 centímetros de profundidade;
Neossolos Flúvicos Distróficos típicos, encontrados nos sopés dos morros associados
aos metarritimitos; Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos típicos, encontrados nas
proximidades das regiões de Dunas na planície costeira; e Neossolos Litólicos
Hísticos típicos encontrados, nas regiões escarpadas associadas à ocorrência de
afloramentos rochosos da região serrana. Ocorrem ainda duas classes, mangue e
duna, que podem ser consideradas como depósitos sedimentares não pedogeneizados.
2.4. Caracterização da Vegetação
Os dados florísticos disponíveis para a Ilha do Cardoso são bastante escassos,
ainda hoje, apesar do número relativamente grande de trabalhos que vêm sendo
desenvolvidos em locais específicos, próximos a Base do Parque Estadual. No
entanto, é importante salientar, a valiosa contribuição do grupo de pesquisadores do
Instituto de Botânica e do Instituto Florestal, pelos estudos efetuados das famílias
vegetais fanerogâmicas, que ocorrem nas diversas formações vegetais presentes na
Ilha. As listas de espécies publicadas pelos dois Institutos contribuíram para a
identificação das fisiografias da vegetação e de sua distribuição, durante a confecção
do mapa temático dos tipos de vegetação realizado no presente estudo.
Na Ilha são identificados sete tipos de vegetação descritos, a seguir, a partir da
linha de praia até os topos da região montanhosa.
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2.4.1. Vegetação Pioneira de Dunas
A vegetação que fixa as elevações de areias nas praias litorâneas brasileiras
tem sido geralmente denominada vegetação pioneira de dunas. Na Ilha do Cardoso
esta formação florestal distribui-se principalmente a nordeste, nas praias entre a Barra
de Cananéia e a Ponta do Itacuruçá, e a sul-sudeste, entre a Vila de Marujá e a Barra
do Ararapira (NOFFS e BAPTISTA-NOFFS, 1982). Barros et al.(1991) as classifica como
plantas psamófitas e halófitas, caracterizando-se por serem estoloníferas e
rizomatosas. Outra característica presente nestas plantas refere-se ao sistema
radicular extenso. Estas espécies pioneiras suportam condições extremas resistentes
de insolação e salinidade, sendo bem adaptadas a estas condições. Afastando-se da
linha de praia, a vegetação torna-se mais densa e diversificada em conseqüência da
diminuição da salinidade e maior consolidação do substrato. Entre as espécies mais
significativas destacam-se Spartina ciliata (Graminia), Iponea pes-caprea
(Convolvulaceae), Hydrocotyle bonariensis (Umbelliferae), Acicarpha spathulata
(Calyceraceae), Diodia teres e Diodia radula (Rubiaceae).
2.4.2. Vegetação de Restinga
A vegetação de restinga cobre a maior parte da planície arenosa da Ilha do
Cardoso, principalmente a região norte-nordeste (Restinga do Pereirinha) e também a
porção sul-sudeste. Apresenta-se como um complexo de diferentes comunidades
vegetais que se interpenetram (DE GRANDE e LOPES, 1981).
A Restinga do Pereirinha é caracterizada por uma vegetação
predominantemente florestal, que inclui desde formações arbóreas bastante abertas e
baixas, com 4-5m de altura, até formações arbóreas fechadas, sombreadas no interior,
com mais de 15m de altura, onde a camada de húmus e serrapilheira é bastante
espessa. Barros et al. (1991), descreveram uma formação mais arbustiva na porção
baixa do pós-praia dominada por Dalbergia ecastaphyllum, Sophora tomentosa e
Tibouchina holosericea. Trata-se de uma vegetação baixa (1,0 a 1,5 m de altura) com
indivíduos espaçados ou não entre si, sobre um substrato arenoso. Este tipo de
vegetação de restinga pode ser denominado de “scrub” ou arbustiva.
As áreas de restinga mais aberta são bem iluminadas no interior apresentando
árvores com altura média de 5 metros, bem ramificadas a partir da base, o que
proporciona um estrato herbáceo bastante conspícuo, onde predominam pteridófitas e
algumas bromélias. O solo é arenoso, com fina camada de húmus (2cm), e sua
drenagem é geralmente mais lenta, devido à baixa declividade, principalmente no
verão onde permanece por longo tempo encharcado. Já na área de restinga com
vegetação de floresta mais fechada, observa-se a presença de árvores mais altas, com
altura média de 9 metros, chegando por vezes ao intervalo 12-15 metros. O dossel é
mais contínuo em relação à restinga aberta, existindo maior quantidade de epífitas
(bromeliáceas, orquidáceas e gesneriáceas), e com estrato herbáceo
predominantemente constituído de bromeliáceas e orquídeas.
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Na Vegetação de Restinga a família Myrtaceae é a que apresenta maior número
de espécies onde se destacam: Myrcia bicarinata, Eugenia umbelliflora, entre outras.
Entretanto, as famílias Guttiferae, Bromeliaceae e Ericaceae são também
representativas. A família Bromeliaceae ocorre tanto nas áreas mais abertas, como
nas áreas mais sombreadas onde o dossel apresenta-se contínuo. Já as famílias
Guttiferae e Ericaceae apresentam-se principalmente nas áreas mais abertas, sendo
que na família Guttiferae a presença de Clusia criuva, sobressai na fisionomia da área
como uma das espécies mais importantes na comunidade vegetal.
As características fisionômicas da comunidade que compõe a vegetação de
restinga estão relacionadas com as condições ambientais da área, notadamente as
edáficas. As condições limitantes do solo refletem-se na vegetação, que apresenta
escleromorfismo, nanismo e sistema radicular superficial. O componente arbóreo
apresenta pequena complexidade estrutural e diversidade específica baixa, com um
número pequeno de espécies representado por muitos indivíduos (Figura 2).
Figura 2 – Vegetação de Restinga Arbórea. (foto - J.V.E.Bernardi)
2.4.3. Floresta Pluvial Tropical da Planície Litorânea
A Floresta Pluvial Tropical da Planície Litorânea é um tipo de formação
florestal relacionado a uma vegetação “intermediária” em termos fisionômicos,
condicionada pelo estágio de desenvolvimento do solo. Ocorre em uma zona de
transição restinga-floresta e apresenta a vegetação arbórea composta por espécies
típicas, tanto da restinga como da floresta de encosta.
De Grande e Lopes, (1981) assinalam que a transição da restinga para a floresta
é gradativa e caracterizada pelo desaparecimento da vegetação de cobertura do solo,
ao mesmo tempo em que a camada de serrapilheira torna-se mais espessa e há uma
regressão das características xerofíticas.
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A Floresta de Planície é composta de dois estratos arbóreos mais ou menos
contínuos, com dossel fechado, grande quantidade de epífitas e lianas e estrato
arbustivo-herbáceo denso.
Nas faixas de transição é freqüente a presença de Podocarpus sellowii e
Clletha scabra. No estrato arbustivo e arbóreo pode-se encontrar Heliconia
velloziana e Calathea longibracteata. O estrato arbóreo superior pode atingir até 20
metros.
2.4.4. Floresta Pluvial Tropical de Encosta
A Floresta Pluvial Tropical de encosta, segundo Camargo et al. (1972) é
constituído de por três estratos: o superior com 25-30 metros de altura, o médio com
10-12 metros e o inferior (sub-bosque), com menos de 2 metros.
Estudos realizados por Melo e Mantovani (1994) indicam a ocorrência de três
estratos arbóreos mais ou menos contínuos: o inferior com 5-10 metros de altura, o
médio com 15-21 metros, e o superior com 24-28 metros. Além desses, três estratos,
ocorrem árvores emergentes com mais de 30 metros e um estrato arbustivo-herbáceo
de porte baixo. O Schizolobium parahyba, Macherium nictitans, Cariniana
estrellensis e Virola oleifera são algumas das espécies emergentes. No estrato
superior (dossel) ocorrem com freqüência, Cryptocaria moschata, Rapanea
umbellata, Casearia obliqua e Sloanea guianensis. No estrato médio aparecem, por
exemplo, Gomidesia spectabilis, Cabralea canjerana e Ilex theezans. O estrato
inferior é constituído por arvoredos representados principalmente por Rudgea
jasminioides e Psychotria nuda. Na Floresta de Encosta a presença de Euterpe edulis
é freqüente e chega em alguns pontos a representar cerca de 20% dos indivíduos
identificados em estudos fitossociológicos (MELO e MANTOVANI, 1994).
Na área de estudo, a Floresta Pluvial Tropical (Figura 3) cobre as encostas e
topos mais baixos do maciço montanhoso central bem como os morros isolados,
sendo a formação vegetal que ocupa a maior extensão da Ilha, cerca de 74% da área
total (MELO e MANTOVANI, 1994). De acordo com Giulietti et al. (1983) não ocorre
uma uniformidade na cobertura florestal do maciço montanhoso central da Ilha. Esta
variação na composição das espécies e na estrutura da cobertura florestal das encostas
é devida às variações de umidade, dos tipos de solo e, em especial, à variação na
temperatura, ao longo do gradiente de altitude.
A formação de floresta de encosta é caracterizada por apresentar variações
estruturais muito grandes, pois este tipo de vegetação pode ser dependente de vários
fatores como a cota de altitude em que se encontram, relacionadas à temperatura, os
tipos de solos; a umidade vinda do oceano. A declividade do terreno não permite que
o dossel filtre completamente a luz solar, favorecendo a presença de muitas epífitas e
espécies características do estrato sub-bosque (MANTOVANI et. al., 1990).
A floresta não é muito densa, sendo formada por indivíduos de diferentes
classes de altura e diâmetro. O componente arbustivo-herbáceo não é denso e o
número de epífitos vascular é elevado. A distribuição vertical das alturas das copas
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das árvores é contínua, com maior densidade até 10m, que diminui gradativamente
até as emergentes que alcançam até 35m.
Figura 3 – Florestal Pluvial Tropical de Encosta (foto – J.V.E.Bernardi).
2.4.5. Formação Arbustiva dos Topos Montanhosos
Nos picos dos morros na Ilha ocorrem mudanças na composição florística e
fisionômica drástica em relação à floresta Pluvial Tropical de Encosta, com
diminuição acentuada da altura dos indivíduos e no número de epífitas. Pode-se
observar que algumas espécies ocorrem preferencialmente nos pontos mais altos da
encosta como Leandra quinquedentata, Nidularia bilbergioides e Fuchsia regia. O
aspecto geral é de uma vegetação de região mais seca, devido aos ventos fortes que
diminuem a umidade e por receberem água somente das chuvas que caem
diretamente nessas porções de topo.
A formação arbórea presente é sempre mais baixa, apresentando um estrato
inferior bem desenvolvido, as epífitas diminuem consideravelmente e a vegetação
herbácea é dominante. Ainda, observa-se em locais onde a ação do vento é
parcialmente interrompida, um maior número das espécies que alcançam cerca de 2
metros de altura, composta de elementos florísticos típicos da restinga.
2.4.6. Vegetação Secundária
A vegetação secundária encontrada na Ilha do Cardoso deve-se principalmente
a atividades agrícolas desenvolvidas desde o século XVIII. Com a transformação da
Ilha, na última década de 60 século XX, em Parque Estadual, ocorreu um abandono
das áreas de cultivo, desencadeando nestas áreas um processo de auto-regeneração e
sucessão florestal.
Segundo Noffs e Baptista-Noffs (1982) na evolução sucessional da vegetação
secundária existe uma nítida tendência de aumento no número árvores em relação a
vegetação de restinga. As espécies Cecropia pachystachia e Senna multijuga são
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espécies características destas áreas de vegetação secundária. Algumas espécies
ligadas às atividades antrópicas, também são encontradas como Anacardium
occidentalis (cajueiro) e Coffea arábica (cafeeiro).
A vegetação secundária pode ser encontrada ainda, em regiões de encostas
afetadas por deslizamentos. Nessas áreas, encontram-se manchas de taquaras, com
espécies que atingem até 30m de altura entre as quais se pode citar: Schizolobium
parahyba e Euterpe edulis. Este tipo de vegetação atualmente apresenta um alto grau
de desenvolvimento e complexidade, o que torna difícil a sua separação em relação às
florestas pluviais tropicais típicas das encostas.
2.4.7. Vegetação de Mangue
Na Ilha do Cardoso a vegetação de mangue cobre os sedimentos finos e
lodosos da planície litorânea encontrados na foz dos rios e ao longo do canal de
Ararapira, constituindo os manguesais. Segundo Schaeffer-Novelli (1987) os
mangues da Ilha do Cardoso apresentam padrão idêntico aos demais mangues da
costa brasileira.
Em termos ecológicos, os mangues caracterizam-se pela presença de substrato
constituído por sedimentos não consolidados, permanentemente inundado, pobre em
oxigênio e rico em matéria orgânica. As espécies vegetais adaptadas a essas
condições extremas são poucas, e se repetem por todo o litoral brasileiro. Na Ilha são
encontradas as espécies Rhizophora mangle (Rhizophoraceae), com suas
características raízes escora, Laguncularia racenosa (Combretaceae) e Avicennia
schaueriana (Verbenaceae). Nas bordas dos manguezais, por sua vez ocorrem
comumente Hibiscos pernambucensis (Malvaceae) e Spartina ciliata (Graminea).
3. PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS EMPREGADAS
3.1. Marcação dos pontos de amostragem com auxílio do GPS
Para a marcação dos transectos e pontos de coleta de dados, utilizou-se, neste
trabalho, três cartas altimétricas para formar o mapa base, imagens de satélite
LANDSAT-TM e fotografias aéreas na escala 1:35.000. As cartas altimétricas
adotadas foram: Cartas do Ministério do Exercíto-Departamento de Engenharia e
Comunicação – Folha Cananéia (SG-23-V-GI-1 – MI-2845/1); Folha Barra do
Ararapira (SG-23-V-GI-1 – MI-2844/4) e carta do IBGE – Folha Ariri (X-D-III-2 –
MI2844/2), na escala 1:50.000, digitalizada em AutoCAD R14 (AUTODESK,
Inc.1997). Devido às distorções desta carta tornou-se necessário nova digitalização e
uma correção no georreferenciamento, feito com auxilio do GPS.
O Sistema de Posicionamento Global (GPS) é um sistema multipropósitos, que
permite ao usuário determinar sua posição expressa em latitude, longitude, altura
geométrica ou elipsoidal, velocidade e o tempo em relação a um sistema de referência
definido para qualquer ponto sobre ou próximo da superfície terrestre. A grande
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vantagem deste sistema é a sua capacidade de integração com outros sistemas,
ressaltando sua integração com o Sistema de Informação Geográfica (SIG), capaz de
produzir mapas digitais em tempo real com alta precisão.
O GPS utilizado foi o modelo GARMIM 48, que opera em módulo diferencial,
permitindo assim uma precisão com um erro que pode variar de 1 a 5m. Desta forma,
foram medidos dois pontos com marcos testemunhos conhecidos da Marinha
Brasileira, sendo o primeiro no Morro do Pereirinha, localizado junto a Base do
Parque (marco no 81091) e o segundo no marco do Tratado de Tordesilhas, localizado
na Ponta de Itacuruçá, à leste da Ilha. A partir destes dois pontos conhecidos foram
realizadas 12 horas de medições para cada ponto com GPS, sendo armazenadas as
leituras a cada 30 minutos para as correções. Internamente este GPS possui um
sistema de armazenamento que permite ao equipamento armazenar as medidas a cada
15 segundos, fornecendo assim durante os 30 minutos o valor médio das leituras.
Foi usado também, de modo auxiliar, um sensor DGPS diferencial, modelo
GBR21, consistindo resumidamente em captar sinais do satélite e de uma estação de
rádio conhecida (neste caso os sinais de rádio da Ilha da Moela, próxima de Santos).
Assim o receptor de GPS fez a correção automaticamente com um erro aproximado
de 15 metros e o sensor corrigiu a leitura com um erro que varia de 1 a 5 metros. As
comparações feitas das leituras do GPS corrigidas com as dos marcos permitiram um
ajuste em torno de 2 metros para a ponta do Itacuruçá e 3 metros para o Morro do
Pereirinha. Para o restante dos pontos levantados, a precisão média foi de 2 metros
com um desvio padrão médio de 1,5 metros.
3.2. Obtenção de modelo 3D para a área de estudo.
Para a confecção da representação do mapa topográfico tridimensional, a partir
de um bidimensional, foi gerado o Modelo Digital de Elevação (MDE), utilizando-se
dos seguintes programas: AutoCAD R14, com algumas rotinas no formato “LSP”;
“DXF2DAT”; SURFER 8; COREL 9.0.(COREL DRAW, 1999).
Com o auxílio do programa AutoCAD R14, para a entrada dos dados,
digitalizou-se em mesa apropriada as curvas de nível extraídas das cartas topográficas
mencionadas no item anterior. Criou-se, então, um mapa bidimensional com as cotas
de elevação em escala 1:50.000. Com o objetivo de evitar os exageros verticais do
MDE, trabalhando-se ainda com o mesmo programa, utilizou-se o comando “change”
para alterar a altitude das cotas altimétricas, dividindo por 1000 o valor de todas as
cotas. Os valores das cotas podem também ser obtidos pelo uso da rotina “topo.lsp”.
Transformou-se o arquivo de extensão “dxf” em extensão “dat” com o auxilio
do programa “DXF2DAT”, dentro do ambiente DOS. Com auxílio do programa
SURFER gerou-se uma superfície 3D, tendo sido criada uma malha 3D do mapa
topográfico. Para esta finalidade o primeiro passo foi gerar um arquivo com extensão
“grd”. Para tanto se escolheu o algoritmo “Inverso da Distância ao Quadrado (IQD)”
como método de interpolação. A partir daí, gerou-se um mapa de contorno (isolinhas)
da altitude para sobreposição com a superfície 3D. Com as duas janelas abertas, a da
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malha “grd” e a do mapa de contorno, editou-se o “overlay” para sobreposição e
escolha do ângulo de visada.
Para edição final do modelo 3D resultante, utilizou-se o programa COREL que
permitiu a realização de uma série de ajustes gráficos, além da possibilidade de
retoques com finalidades estéticas.
3.3 Aquisição e tratamento digital das imagens de satélite
3.3.1. Seleção das imagens
Foi utilizada uma imagem orbital do satélite Landsat 5, órbita 220 e ponto 77,
quadrante D, em duas passagens, datadas de 18/07/94 e 08/06/97, adquirida junto ao
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), com bandas 1,2,3,4,5,6 e 7,
corrigidas radiométrica e geometricamente em nível 5.
3.3.2. Tratamento das imagens
Como técnicas de pré-processamento da imagem foram realizadas correções
geométricas, uma vez que o formato “tiff” não as oferece, e técnicas de realce pelo
emprego de contraste. As distorções geométricas sistemáticas, em um Nível 5 de
correção, são realizadas pelo INPE pelo método de Reamostragem pelo Vizinho mais
Próximo. Já as correções geométricas não sistemáticas, foram corrigidas pelo
georreferenciamento da imagem “tiff”.
Para iniciar o tratamento das imagens orbitais, foi necessário realizar a
conversão do formato “dat”, originalmente atribuído pelo INPE, para um formato que
possibilitasse interface com os software” utilizados no estudo. A utilização do
programa 2LTIFF, fornecido pelo INPE para a conversão da imagem ao formato
“tiff”, permitiu a compatibilização necessária.
Para o georreferenciamento da imagem foram selecionados alguns pontos de
fácil identificação. A seguir obteve-se as coordenadas geográficas de tais pontos por
meio de sua identificação na carta topográfica correspondente ou no campo. Os
pontos coletados em campo (pontos de controle) tiveram suas coordenadas obtidas
pelo uso de GPS e foram então registrados na imagem. Para tanto, se utilizou o
módulo RESAMPLE do programa IDRISI 2.0 (THE IDRISI PROJECT, 1999),
depois da conversão da imagem para o formato “img”, no módulo de importação
TIFIDRISI. Foi criado um arquivo de correspondência entre pontos de coordenadas
conhecidas e os respectivos pixels que os representavam na imagem digital.
3.3.3. Composição colorida e Análise das Componentes Principais
A análise das componentes principais foi feita com o objetivo de determinar
quais bandas apresentariam a maior percentagem de variação para a composição
colorida. Para isso, realizou-se o seguinte procedimento: foi gerada uma matriz
padronizada
de
variâncias-covariâncias
no
modulo
“Analysis/Image
Processing/Transformations, comando PCA”. A partir desta matriz foi realizada a
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análise das componentes principais, para posterior escolha das bandas com maior
porcentagem de correlação, referente à formação da imagem.
3.3.4. Tratamento do realce por contraste
O realce da imagem foi feito com o objetivo de melhorar o contraste das
bandas escolhidas através da analise das componentes principais. Para tanto, utilizouse o software IDRISI, módulo “Analysis/Image Processing/Enhancement, comando
Stretch”, aplicando a técnica de contraste Linear com Saturação de 5% para as três
bandas escolhidas, significando um corte de 2,5% de cada lado do histograma dos
tons de cinza (0 a 255), permitindo assim a exclusão dos tons muito escuros e dos
muito claros das bandas.
3.3.5. Índices de vegetação
Para evidenciar características da vegetação foi utilizado o Índice de Vegetação
(IV) proposto por Campbell (1987), que é o mais utilizado e denominado índice de
vegetação de diferença normalizada (NDVI), conforme a seguinte equação:
NDVI =
IR − RED TM 4 − TM3
=
IR + RED TM 4 + TM3
Onde: IR é o comprimento de onda da reflectância no infravermelho; RED o
comprimento no vermelho; TM 3 corresponde à banda de freqüência 3 e a TM 4
corresponde à banda 4. Outro método utilizado com as imagens para a obtenção da
densidade de vegetação é o de tons de cinza do pixel. Estes tons que apresentam
valores 0 a 255 são utilizados para designar a reflectância que por sua vez indica a
densidade de vegetação. O modulo utilizado na obtenção do índice de vegetação foi o
“Analysis/Image Processing/Restoration, comando NDVI”, usando para a
composição as bandas 4 e 3.
3.4. Emprego da classificação digital da imagem
Para a elaboração do mapa temático da vegetação da Ilha realizou-se a
Classificação Supervisionada da imagem orbital. Adotou-se para esta finalidade a
composição colorida feita anteriormente após a correção do contraste.
A Classificação Supervisionada consiste no processo de se usar amostras de
pixels da imagem, de identidade conhecida, com o intuito de classificar os pixels de
identidade desconhecida. Uma vez que o trabalho em campo possibilitou o
conhecimento da composição da vegetação e sua correlação com a imagem de satélite
em grande parte da Ilha, foi possível realizar a classificação supervisionada. Foram
delimitadas na imagem amostras de áreas homogêneas e de identidade conhecida,
chamadas de áreas de treinamento.
Dentre os diversos classificadores existentes, utilizou-se o método da Máxima
Verossimilhança. Este classificador avalia a variância e a covariância dos padrões de
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resposta espectral, de cada pixel desconhecido, classificando-o para um padrão
estabelecido.
De acordo com Lillesand e Kiefer (1994), deve-se assumir a distribuição
normal dos dados das amostras de treinamento para cada categoria. Assumindo então
esta condição os padrões espectrais podem ser descritos pelo vetor de médias e matriz
de covariância. Desta forma podemos computar a probabilidade estatística da classe
do pixel, estabelecendo a qual classe o pixel deve pertencer, escolhendo para tal a
classe de maior probabilidade.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A topografia em uma representação tridimensional pode ser visualizada na
Figura 4. O Modelo Digital de Elevação gerado adequou-se fielmente às
características geomorfológicas verificadas em campo. O algoritmo IQD, usado na
interpolação da superfície 3D, apresentou resultados satisfatórios, permitindo separar
de forma bem evidente os três domínios geomorfológicos da Ilha. O angulo de
rotação adotado foi de 23o para oeste, destacando a porção sudeste.
O contorno da planície costeira, em amarelo, em torno da região montanhosa,
em vermelho-alaranjado, mostrou-se fidedigno. As três interrupções nesse contorno,
na área dos cordões arenosos no sul, podem ser observadas com a mesma disposição
representada. Também para a área montanhosa o método mostrou-se acertado, uma
vez que não se verificou exagero vertical na representação dos picos dos morros.
Além disso, ficou evidenciado claramente o primeiro compartimento geomorfológico
da Ilha, denominado de domínio montanhoso, desenvolvido em rochas sienitomonzoníticas, formando topos angulosos com vertentes retilíneo-convexas
encaixadas no conjunto de fraturas de direção preferencial NE-SW, NW-SE e W-E de
sudeste/noroeste. No ângulo de rotação adotado para a visualização, destacam-se as
vertentes de NW-SE. Observa-se que a rede de drenagem está encaixada no
fraturamento e é muito densa, formando calhas retilíneas com alto gradiente de
inclinação.
A representação topográfica em três dimensões permitiu ainda analisar as áreas
sombreadas do terreno, onde os pixels correspondentes apresentaram valores
numéricos digitais (DNs) muito baixos. Os dados de radiação obtidos em campo
comprovam que estas vertentes de SE são mais sombreadas e mais úmidas, quando
comparadas com as vertentes de NW/NE.
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Figura 4 - Superfície 3D do Parque Estadual da Ilha do Cardoso.
Para a obtenção do mapa temático resultante da classificação da imagem de
sensoriamento remoto, as datas de passagem do satélite (18/07/94 e 08/06/97) foram
determinadas pela ausência de nuvens, pois segundo levantamento do INPE estas
eram as únicas datas disponíveis sem cobertura de nuvens.
Para se determinar as bandas que ofereciam maior número de informações
sobre a reflectância do terreno, foi aplicada a análise das componentes principais.
Esta técnica ordenou as bandas 1, 2, 3, 4, 5 e 7 por ordem de importância a partir da
percentagem de variação dos pixels de cada uma.
As componentes principais mostraram que as bandas 4 e 5 foram as mais
importantes com cargas 0,9787 e 0,9623 sucessivamente para a primeira componente.
Para a segunda componente a banda 3 apresentou a maior carga, da ordem de 0,9067.
A primeira componente explica 85,83 % da formação da imagem e a segunda
componente explica apenas 8,89 %.
A partir da análise das componentes principais que definiu as bandas 4, 5 e 3
como as mais importantes, iniciou-se o tratamento de realce da imagem.
O tratamento de realce da imagem fez-se necessário para melhorar o contraste
de cada imagem, optando-se pela técnica linear. A redução de 5% no histograma de
freqüências pelo método linear de saturação, melhorou o contraste das bandas, com
as quais iniciou-se a composição colorida.
A escolha das bandas para a composição colorida foi realizada com base na
análise das componentes principais, que indicou as bandas 3, 4 e 5 como as mais
importantes para a formação a imagem colorida (Figura 5). O resultado obtido
permitiu diferenciar pelo menos seis tipos de vegetação. Estes tipos são: vegetação
pioneira de dunas, em cor rósea; em cor verde escuro à floresta pluvial tropical de
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planície costeira; floresta pluvial tropical de encosta em cor verde limão,
correspondendo a maior área de ocorrência; em verde claro a vegetação de restinga;
vegetação de restinga de scrub e vegetação arbustiva dos topos montanhosos, cor
verde-amarelada; e a cor marrom-esverdeada, corresponde às áreas com vegetação de
mangue. A vegetação secundária não pode ser diferenciada pela composição colorida,
motivo este relacionado ao grau de desenvolvimento florestal destas áreas, o qual é
muito semelhante ao da floresta pluvial de planície litorânea.
Também na imagem correspondente ao Índice de Vegetação (NDVI), são bem
realçadas as formações vegetais encontradas na Ilha confirmando a imagem em
composição colorida, que indicou seis tipos de vegetação (Figura 6). Apesar das
cores das duas imagens apresentarem diferenças para os mesmos tipos de vegetação,
houve correlação espacial entre as mesmas formações florestais.
Figura 5 – Composição colorida RGB (543) georreferenciada.
A partir da definição espacial dos seis tipos de vegetação e com base no
conhecimento de campo sobre a vegetação e sua posição geográfica foi possível
realizar a classificação supervisionada pelo método da Máxima Verosimilhança.
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Figura 6 – Composição NDVI (bandas 4 e 3).
O mapa temático criado a partir da classificação supervisionada (Figura 7),
mostra a fisiografia da vegetação de forma coerente com os dados observados em
campo. A imagem formada pela classificação confirma espacialmente os tipos
florestais encontrados nas imagens digitais, oriundas das composições coloridas e
NDVI.
Figura 7 – Mapa temático dos tipos de vegetação do Parque Estadual da Ilha do Cardoso.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As técnicas de sensoriamento remoto utilizadas neste trabalho permitiram a
obtenção do mapa temático das composições colorida e NDVI. Os tipos de vegetação
existentes encontram-se em um gradiente de vegetação com vários mosaicos desde a
planície costeira até a região serrana. Nas áreas de mosaicos a vegetação está em
franco estado de sucessão ecológica, provavelmente provocada por deslizamentos de
solo ou ainda podendo tratar-se de áreas com afloramento rochoso, onde a vegetação
aparece na forma de arbustos.
O gradiente de vegetação encontrado está relacionado com os diferentes tipos
de substrato (rocha/solo), pois os limites são coincidentes com os das vegetações,
indicando assim, uma dependência espacial. Nos Neossolos Quatzarênicos
Hidromórficos típicos a vegetação corresponde à pioneira de dunas e restinga de
scrub e nos Espodossolos Ferrocárbicos Hidromórficos hísticos encontra-se a
vegetação de restinga (arbórea). No sopé da região montanhosa, encontra-se o solo
Neossolos Flúvicos Distróficos típico com a floresta pluvial tropical de planície
litorânea. Para a área montanhosa os solos correspondentes são Argilossolos
Amarelos Distróficos câmbicos, Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos
abrúpticos, Cambissolos Hísticos Distróficos típicos e Neossolos Litólicos Hísticos
típicos. Com exceção do ultimo tipo, que possui uma vegetação arbustiva, os outros
tipos de solos apresentam a floresta pluvial tropical de encosta. Apesar da vegetação
de mangue ter sido evidenciada nas imagens digitais, não foi possível um
acompanhamento detalhado de campo.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo/FAPESP pelo
apoio financeiro (Processo 97/06545-5) e bolsa de doutorado (Processo 97/06546-0),
ao Instituto Florestal do Estado de São Paulo pela permissão de efetuar a pesquisa na
Ilha do Cardoso e aos funcionários do Parque Estadual da Ilha do Cardoso pela ajuda.
Agradecimentos também são prestados aos três relatores, os quais com suas críticas
construtivas em muito contribuíram para a melhoria do texto.
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MELHORIA NA QUALIDADE DA ÁGUA PELA
IMPLANTAÇÃO DE UM NOVO SISTEMA DE
TRATAMENTO DE EFLUENTE INDUSTRIAL NA
REFINARIA REPLAN/PETROBRAS
IMPROVEMENTS ON WATER QUALITY BY A NEW
WASTEWATER TREATMENT SYSTEM IN
REPLAN/PETROBRAS OIL REFINARY
Wieczorek, A.¹, Angelis, D. F.², Furlan, L. T. ³; Corrêa Jr., B.³
¹ Departamento de Geologia Aplicada da UNESP/Rio Claro – [email protected]
² Departamento de Bioquímica e Microbiologia da UNESP/Rio Claro –
[email protected]
³PETROBRAS, Refinaria de Paulínia – REPLAN. [email protected],
[email protected]
RESUMO
As refinarias de petróleo utilizam diariamente grande quantidade de água nos
processos de refino de óleo. Durante estes processos são geradas complexas misturas
de substâncias químicas potencialmente poluidoras dos corpos hídricos. Para
minimizar o efeito poluidor do efluente, em setembro de 2002, a Refinaria de
Paulínia- REPLAN/PETROBRAS, implantou um novo sistema de tratamento
baseado em processos biológicos de lodos ativados. Neste trabalho avaliou-se a
qualidade do efluente gerado pela REPLAN/PETROBRAS e da água do Rio Atibaia,
receptor do efluente, nas fases pré e pós implantação do novo sistema. Foram
coletadas amostras de água quinzenalmente, acima e abaixo do ponto de entrada do
efluente no rio, no período de julho de 2001 a março de 2003. Foram quantificados
Oxigênio Dissolvido (OD), Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Amônia
(NH3), assim como os parâmetros para o cálculo do Índice de Qualidade da Água
(IQA), adotado pela Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental - CETESB
(1987), para classificação desse ecossistema. Foi realizado um teste t para verificar a
influência do novo sistema de tratamento sobre os parâmetros analisados do efluente,
comparando-se os períodos pré e pós-implantação. Os resultados demonstraram que o
novo sistema de tratamento alterou os parâmetros analisados no sentido de melhoria
da qualidade da água do efluente. Os valores médios de OD passaram de 5,0 para 8,0
mg.L-1, DBO de 30,0 para 5,0 mg.L-1 de O2, NH3 de 29,7 para 0,47 mg.L-1, o IQA de
29 para 44, classificação ruim para regular, da fase pré para a fase pós-implantação
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do novo sistema. Este estudo demonstrou que este sistema, baseado no tratamento
biológico por lodos ativados, é mais eficiente que aquele anteriormente usado pela
refinaria.
Palavras-Chave: Refinaria de petróleo; efluente industrial; qualidade da água;
tratamento de efluentes; índice de qualidade da água.
ABSTRACT
Oil refineries use day-to-day large amounts of water in their processes. During
those processes complexes chemical mixtures are generated with potential to pollute
water bodies. To minimize the pollution effect of wastewater, the refinery of
Paulínia- REPLAN/PETROBRAS (Refinaria de Paulinia/Petrobras) introduced a new
system of treatment in September 2002, based on biological process of activated
sludge. This investigation evaluated the quality of wastewater and water of Atibaia
River, the receiving of wastewater, in periods before and after the introduction of the
new system. Water samples were collected every two weeks between July 2001 and
March 2003, both upstream and downstream from the refinery. The parameters
analyzed were Dissolved Oxygen (DO), Biochemical Oxygen Demand (BOD),
Ammonia Water (NH3), and the parameters used on computation of Water Quality
Index (WQI), accepted by CETESB (1987), to classify this ecosystem. The t-test was
used to verify the influence of the new wastewater treatment system on the
parameters of wastewater, confronting the periods before and after the new system.
The results demonstrated that the new wastewater treatment system significantly
improved wastewater quality. Averages values of DO changed from 5,0 to 8,0 mg.L1
, BOD from 30,0 to 5,0 mg.L-1, NH3 from 29,7 to 0,47 mg.L-1, WQI from 29 to 44,
classification from “bad” to “regular”, from the period before to after introduction of
the new system. This study has proven that the new system, based on biological
treatment by activated sludge, is more efficient than the previous system used by the
oil refinery.
Key words: Oil refinery, wastewater, water quality, wastewater treatment, water
quality index.
1. INTRODUÇÃO
O número de produtos químicos disponíveis e utilizados pelo homem está na
ordem de centenas de milhares, grande parte deles possuindo potencial para persistir
no meio ambiente. Dentre os ecossistemas, os aquáticos acabam de uma forma ou de
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outra constituindo os receptáculos temporários ou finais de grande variedade e
quantidade de poluentes, sejam estes dispersos no ar, no solo, ou diretamente nos
corpos de água (GOLDSTEIN, 1988).
O crescente comprometimento da qualidade dos ecossistemas aquáticos tem
sido causado não só pelo excesso de esgotos domésticos lançados sem tratamento nos
corpos hídricos, como pela variedade de resíduos químicos e orgânicos provenientes
de descartes industriais e agrícolas que perfazem extensa gama de substâncias
potencialmente tóxicas (LANDIS e YU, 1985).
Nesse contexto, as refinarias de petróleo, nos processos de lavagem do óleo
cru, refino do petróleo bruto, resfriamento das torres de destilação e produção de
vapor em caldeiras utilizam grande volume de água. Contudo, nessas unidades,
empregam-se os tratamentos químicos e biológicos destas águas, gerando-se o
efluente final. Cada etapa do processo pode acrescentar ao efluente complexas
misturas de substâncias químicas. Estima-se que para cada metro cúbico de óleo
refinado, dois metros cúbicos de água são utilizados nas diversas fases do processo.
Na Refinaria de Paulínia, após a implementação de inúmeras ações de reuso de água
em suas unidades de processo, passou-se a utilizar 0,67 metros cúbicos de água para
cada metro cúbico de petróleo processado.
Brito (1996), destaca que as substâncias encontradas com mais freqüência nos
efluentes das refinarias de petróleo são as soluções cáusticas residuais, sulfídricas,
fenólicas, amoniacais e de hidrocarbonetos. A autora destacou que a amônia presente
no efluente das refinarias petrolíferas tem origem principalmente durante a quebra
dos compostos orgânicos nitrogenados nos processos de conversão, e na adição da
substância diretamente na linha de processo para controlar a corrosão.
Wieczorek et al, (2003), após avaliação do efluente da refinaria no período de
julho a dezembro de 2001, observaram que o mesmo apresentava problemas no
tocante aos compostos orgânicos, principalmente quanto a DBO e a NH3, sendo
necessário à melhoria da qualidade do tratamento para diminuição destes parâmetros.
Em maio de 2002 a refinaria iniciou a implantação de um novo processo
biológico na sua estação de tratamento de efluentes, constituído por sistemas
biológicos de lodos ativados, com o objetivo de realizar o tratamento para diminuição
de nitrogênio total, especialmente a NH3, sendo que a implantação foi considerada
encerrada quando os valores de NH3 atingiram valores próximos de zero (setembro de
2003).
Os sistemas de lodos ativados estão sendo amplamente utilizados em nível
mundial, para o tratamento de despejos domésticos e industriais. Estes processos
aplicam-se em situações que sejam necessárias elevadas qualidades dos efluentes a
serem descartados nos corpos receptores (CONEGLIAN, 2001).
Segundo Von Sperling (1997), o sistema de lodos ativados é um processo de
tratamento biológico onde a alta concentração de microrganismos é mantida em
suspensão no reator, e o oxigênio é introduzido por meio de aeradores mecânicos ou
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difusores de ar. No tratamento biológico aeróbio, o oxigênio deve ser fornecido para
satisfazer às seguintes demandas: oxidação da matéria orgânica e nitrificação.
Sendo assim, o objetivo deste estudo foi verificar a eficiência deste novo
processo implantado no sistema de tratamento mediante o monitoramento da
qualidade do efluente e da água do Rio Atibaia à montante e à jusante da refinaria.
2. METODOLOGIA
A refinaria de petróleo REPLAN/PETROBRAS localiza-se na cidade de
Paulínia e faz parte do Pólo Petroquímico de Paulínia. Capta água do Rio Jaguarí e
descarta seu efluente no Rio Atibaia (Fig 1). Estes dois rios, em confluência, formam
o Rio Piracicaba. O Rio Atibaia recebe nesta região grande aporte de esgoto urbano
vindo das cidades de Campinas, Sumaré e Paulínia, fazendo com que a qualidade da
água deste corpo hídrico seja deteriorada neste ponto (CETESB, 2002).
A Refinaria de Paulínia possui na sua Estação de Tratamento de Efluentes
Líquidos um tratamento primário baseado em processo físico-químico para separação
e remoção do óleo da água, seguido de tratamento secundário biológico em reatores
anóxicos e reatores aeróbios (processo de desnitrificação e nitrificação baseado na
tecnologia de lodos ativados).
Em conjunto com os sistemas de tratamento de efluentes, desenvolveu-se um
programa de monitoramento da qualidade do efluente e da água do Rio Atibaia à
montante e à jusante do ponto descarte do efluente no rio. O objetivo deste
monitoramento foi acompanhar a qualidade da água do efluente e sua influência
sobre as águas do Rio Atibaia.
Para o desenvolvimento deste estudo foram analisadas amostras superficiais de
água do Rio Atibaia e do efluente da refinaria, coletadas quinzenalmente no período
de julho de 2001 a março de 2003, com exceção do período de janeiro a junho de
2002.
As amostras de água do Rio Atibaia foram colhidas 200 metros à montante
(ponto 1) e 600 metros à jusante (ponto 3) do descarte do efluente da indústria no Rio
Atibaia, e amostras do efluente colhidas no ponto de saída da indústria localizado no
final do tratamento biológico (ponto 2). Foram realizadas análises químicas e físicas
das amostras, e calculados os respectivos índices de qualidade da água (IQA),
proposto pela CETESB (2002). Os resultados do IQA foram comparados com o
índice divulgado pela CETESB (2002, 2003, 2004), para um ponto de análise no Rio
Atibaia distante aproximadamente dois quilômetros à jusante da indústria (ponto 4,
Figura 1). Para avaliação da vazão do Rio Atibaia no período, e sua influência sobre
os parâmetros analisados, foram utilizados dados de vazão média mensal divulgado
por CETESB, (2002, 2003, 2004) do mesmo ponto utilizado no índice de qualidade
da água. Figura 7.
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Legenda
1- Montante 200m
2- Saída da Lagoa de
Estabilização
3- Jusante 600m
4- Cetesb 2000m
47° 15’ W
47° 07’ 30’’ W
47° W 22° 37’ 30’’
Rio Jaguari
REPLAN –
Refinaria de
Paulínia
3
2
Descarte do Efluente
1
Rio Atibaia
4
Escala – 1 : 50.000
22° 45’ W
0
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 Km
Figura 1 – Localização da REPLAN – Refinaria de Paulínia, e dos pontos de coleta das amostras de
água. Fonte: modificado de EMBRAPA (2004).
2.1. Análises Químicas e Físicas.
Os seguintes parâmetros foram analisados e suas respectivas metodologias:
oxigênio dissolvido (OD) utilizando-se leituras diretas das amostras com auxílio de
oxímetro e expresso em mg.L-1 de O2; DBO em mg.L-1 de O2 a 20ºC, expressa em 5
dias, segundo (CLESCERI et. al. 1998); NH3 em mg.L-1, medido através de eletrodo
íon seletivo.
2.2. Índices de Qualidade da Água (IQA)
O índice de qualidade da água proposto pela CETESB (2002), considera um
conjunto de nove parâmetros para seu cálculo. Estes parâmetros são: coliformes
fecais, pH, DBO, nitrogênio total, fósforo total, temperatura, turbidez, resíduo total e
oxigênio dissolvido. Coliformes fecais foram determinados utilizando Substrato
Cromogênico segundo Clesceri et. al. (1998). O pH foi determinado utilizando-se
potenciômetro. Nitrogênio, fósforo e resíduos totais foram determinados segundo
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Clesceri et. al. (1998). A temperatura foi determinada in situ, a turbidez foi
quantificada segundo o método de HACH, mediante leituras diretas em turbidímetro,
e expressa em Unidade Nefelométrica de Turbidez (NTU).
O IQA foi calculado com base no valor de cada parâmetro dado por uma curva
de variação média e por um peso atribuído a cada um.
n =9
q
IQA= ∏ i
wi
i =1
Onde: qi é o valor atribuído para cada parâmetro com relação a sua curva de
variação média e wi é o peso atribuído a cada valor.
A partir do valor calculado pelo índice pode-se atribuir uma gradação de qualidade.
Onde:
0<IQA≤19
qualidade péssima
19<IQA≤36
qualidade ruim
36<IQA≤51
qualidade regular
51<IQA≤79
qualidade boa
79<IQA≤100
qualidade ótima
2.3. Análise Estatística.
Para verificar a eficiência do sistema de tratamento de efluentes gerados na
refinaria, foi preciso comparar os valores dos parâmetros de qualidade do efluente
antes e após a implantação do mesmo. Para isso, se aplicou o teste t para comparação
das médias dos parâmetros pré e pós-instalação (ZAR, 1996). Desta maneira foi
realizada uma comparação dos valores médios dos parâmetros IQA, OD, DBO e
NH3, no período de julho a dezembro de 2001(pré-instalação), com a média dos
valores dos parâmetros no período de setembro de 2002 a março de 2003 (pósinstalação).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O tratamento do efluente implementado na refinaria implica, principalmente,
na biodegradação mediante a oxidação biológica ou fotoquímica da matéria orgânica.
Portanto, para que o processo de tratamento seja eficaz, os níveis de OD precisam ser
suficientes para que os microrganismos aeróbios degradem os compostos presentes
no efluente. Além disso, a ausência de oxigênio no processo de oxidação faz com que
os microrganismos anaeróbios e ou facultativos realizem degradação, muitas vezes
transformando-os em substâncias indesejadas como metano, gás sulfídrico e amônia,
dependendo do substrato a ser degradado (DUFFUS, 1983).
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Oxigênio Dissolvido
Montante
Jusante
mar-03
fev-03
jan-03
dez-02
nov-02
out-02
set-02
ago-02
jul-02
jun-02
mai-02
abr-02
mar-02
fev-02
jan-02
dez-01
nov-01
out-01
set-01
ago-01
jul-01
OD (ppm)
Saída da Lagoa de Estabilização
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Figura 2 – Variação do oxigênio dissolvido (em mg.L-1 de O2) no período de julho de 2001 a março
de 2003. A seta vermelha indica o início do novo sistema de tratamento e a seta preta
indica o término da implantação do sistema de efluentes da indústria.
Verificando-se a Figura 2, no período de julho a novembro de 2001, o OD
medido na saída da lagoa de estabilização, apresentou valores médios abaixo
daqueles da água do Rio Atibaia (montante e jusante). Em novembro de 2001 o valor
de OD do efluente foi aproximadamente zero, o que pode ter acarretado a inibição do
processo de nitrificação, visto que este exige um consumo de aproximadamente 4,6
mg.L-1 de O2 para cada litro de nitrogênio amoniacal oxidado, Ferreira (2000). Esta
diminuição dos valores de OD provavelmente induziu o aumento dos valores de NH3
neste mesmo período, chegando a 75 mg.L-1 (Figura 4).
No período de julho de 2002 a março de 2003, os valores de OD do efluente na
saída da lagoa de estabilização foram acima ou iguais àqueles medidos na água do
Rio Atibaia (montante e jusante), e superiores àqueles medidos no período de julho a
dezembro de 2001, sugerindo uma recuperação, provavelmente ocorrida em função
da implantação do novo sistema de tratamento de efluentes.
Comparando-se os dados de OD com a vazão média mensal do Rio Atibaia
(Figura 6), não se observou influência direta da vazão sobre os valores de OD
medidos à montante e à jusante da refinaria. Esses valores, em média sempre
próximos de 7,0 mg.L-1, sugerem uma boa qualidade deste corpo hídrico – segundo
este parâmetro - nestes pontos de análise.
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Demanda Bioquímica de Oxigênio
Saída da Lagoa de Estabilização
Montante
Jusante
80
70
60
DBO
50
40
30
20
10
mar-03
fev-03
jan-03
dez-02
nov-02
out-02
set-02
ago-02
jul-02
jun-02
mai-02
abr-02
mar-02
fev-02
jan-02
dez-01
nov-01
out-01
set-01
ago-01
jul-01
0
Figura 3 – Variação da demanda bioquímica de oxigênio expressa em mg.L-1 de O2 (5 dias) no
período de julho de 2001 a março de 2003. A seta vermelha indica o início do novo
sistema de tratamento e a seta preta indica o término da implantação do sistema de
efluentes da indústria.
A DBO do efluente demonstrou valores mais altos no período pré-instalação do
novo sistema de tratamento, comparativamente ao período pós-instalação. Este fato
está associado à melhora do sistema de oxigenação do tratamento. Como a DBO
expressa a quantidade de matéria orgânica biodegradável oxidativamente, sem
oxigênio este processo não ocorre, (FELLENBERG, 1980).
O maior valor de DBO do efluente da refinaria observado no período foi em
outubro de 2001, comparando-se o valor de OD do mesmo período (3,3 mg.L-1),
contatou-se a diminuição da biodegradação da matéria orgânica do efluente em
função da falta de OD. No entanto, o mesmo aumento da DBO não foi verificado em
novembro de 2001, quando o valor de OD foi próximo de zero, pelo contrário, os
valores de DBO diminuíram neste período. Este fato pode estar relacionado com a
degradação anaeróbia da matéria orgânica, considerando-se que o OD no efluente era
escasso. Como um dos produtos da degradação anaeróbia pode ser a NH3, este fato
pode explicar a grande produção deste composto no mesmo período (Figura 4).
Verificou-se que os valores de DBO diminuíram na lagoa de estabilização, e
também à montante e à jusante do Rio Atibaia, no período de junho de 2002 a março
de 2003, comparativamente a 2001, demonstrando melhora deste parâmetro na água
do rio. No entanto, este fato parece não estar associado à melhora nas condições do
efluente, visto que os valores de DBO diminuíram também à montante e à jusante do
descarte do efluente no rio. A melhora das condições do efluente na saída da lagoa de
estabilização foi claramente observada após a implantação do novo sistema de
tratamento.
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Amônia
Saída da Lagoa de Estabilização
Montante
Jusante
80
70
NH3 (ppm)
60
50
40
30
20
10
mar-03
fev-03
jan-03
dez-02
nov-02
out-02
set-02
ago-02
jul-02
jun-02
mai-02
abr-02
mar-02
fev-02
jan-02
dez-01
nov-01
out-01
set-01
ago-01
jul-01
0
Figura 4 – Variação da amônia expressa em mg.L-1 de NH3, no período de julho de 2001 a março
de 2003. A seta vermelha indica o início do novo sistema de tratamento e a seta preta
indica o término da implantação do sistema de efluentes da indústria.
A amônia, substância tóxica para os organismos aquáticos (METTING, 1992),
constituía um problema no processo de tratamento do efluente da Refinaria de
Paulínia. No entanto, após a implantação do novo processo, e principalmente quando
o mesmo foi encerrado, houve uma significativa diminuição nos valores deste
parâmetro. As quantidades de NH3 ficaram próximas de zero, sendo menores que os
valores encontrados no próprio Rio Atibaia. A semelhança do que foi verificado para
a DBO, este fato é derivado da melhora do sistema de oxigenação do processo de
tratamento, fato este que induz a nitrificação (FERREIRA, 2000).
Quanto aos pontos de coleta à montante e à jusante da refinaria não foram
verificadas alterações no período, sendo que os valores apresentam-se abaixo de 5
mg.L-1 de NH3, sugerindo que, quanto a este parâmetro, a NH3 oriunda do efluente da
refinaria não exercia influência na água do Rio Atibaia. Porém, a presença desta
substância acima dos valores exigidos pela Legislação Brasileira (Resolução
CONAMA 20/86), que é de 5 mg.L-1 é perigosa para a vida aquática.
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Índice de Qualidade da Água
Saída da Lagoa de Estabilização
Montante
Jusante
Jusante - Cetesb
60
50
IQA
40
30
20
mar-03
fev-03
jan-03
dez-02
nov-02
out-02
set-02
ago-02
jul-02
jun-02
mai-02
abr-02
mar-02
fev-02
jan-02
dez-01
out-01
set-01
ago-01
jul-01
0
nov-01
10
Figura 5 – Variação do índice de qualidade da água (IQA), no período de julho de 2001 a março de
2003. A seta vermelha indica o início do novo sistema de tratamento e a seta preta
indica o término da implantação do sistema de efluentes da indústria.
A variação dos índices de qualidade da água (Figura 5), mostra que a água do
Rio Atibaia nos dois pontos analisados recebeu classificação regular no período de
julho a dezembro de 2001, assim como os valores indicados pela CETESB (2002).
No período de junho de 2002 a março de 2003 o IQA apresentou uma ligeira queda,
nos pontos à montante e à jusante da refinaria, recebendo classificação ruim para
estes períodos. No ponto de coleta da CETESB (ponto 4, Figura 1), o IQA apresentou
valores mais altos com relação aos pontos à montante e à jusante da refinaria (pontos
1 e 3), porém com a classificação - regular.
O IQA com classificação regular indica que o Rio Atibaia recebe aporte de
poluentes neste trecho, e a classificação ruim indica que nestes períodos a qualidade
da água do rio foi comprometida.
O IQA calculado para o efluente da refinaria obteve classificação ruim, no
período de julho a dezembro de 2001, e regular de junho de 2002 a março de 2003,
indicando a melhoria da qualidade do efluente neste período, resultado da melhoria
no sistema de tratamento.
De maneira geral, o IQA apresentou valores semelhantes à jusante e à
montante da refinaria, sugerindo que quanto a esse parâmetro não houve influência
do descarte do efluente da refinaria sobre este parâmetro no Rio Atibaia.
Segundo CETESB (2002), o IQA apresenta algumas limitações, como a
possibilidade de superestimar a qualidade da condição real do recurso hídrico (tendo
em vista que contempla somente 9 parâmetros) e restringir-se a uma avaliação
limitada somente utilizada para fins de abastecimento público. Não é possível
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estabelecer, por exemplo, indicação de qualidade ou toxicidade para a vida aquática
utilizando este índice.
Os resultados demonstram que o sistema de tratamento implantado melhorou
os parâmetros analisados. No entanto, isso não significa um tratamento ideal, que
seria evidenciado, por exemplo, com índice de qualidade da água do efluente com
classificação ótima.
Vazão Média Mensal do Rio Atibaia
60
50
m3/s
40
30
20
10
0
jul/01
set/01
nov/01
jan/02
m ar/02
m ai/02
jul/02
set/02
nov/02
jan/03
m ar/03
Figura 6 – Variação da vazão média mensal do rio Atibaia m3/s, no ponto 4, no período de julho de
2001 a março de 2003.
3.1. Análise Estatística
A Figura 5 indica que, o IQA aumentou pós-instalação do novo processo no
sistema de tratamento da refinaria, passando do valor médio de 29 para 44. Ou seja,
alterou sua classificação de ruim para regular. O teste t realizado para este parâmetro
indicou aumento significativo no IQA, com valor de (p < 0,05). Isso demonstra que o
sistema de tratamento apresentou melhora segundo este parâmetro.
O valor médio de OD apresentou aumento de 5 para 8 mg.L-1 de O2 após a
instalação do novo processo. O teste mostrou diferença significativa com (p < 0,05).
Quanto a DBO, houve diminuição dos valores médios de 30 para 5 mg.L-1 de O2/L,
com diferença significativa, sendo o valor de (p < 0,05). O mesmo ocorreu para NH3,
onde houve diminuição dos valores médios de 29,7 para 0,47 mg.L-1, após a
implantação do novo sistema de tratamento. O teste mostrou diferença significativa
nos valores de NH3, sendo (p < 0,05).
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Oxigênio Dissolvido (ppm)
IQ A
50
10
46
9
8
42
7
38
6
34
5
30
±Std. De v.
±Std. E rr.
Mean
26
22
Pré instalação
Pós instalação
4
3
2
Pré instalação
Pós instalação
Amônia (ppm)
DB O (mgO2/L) 5 dias
50
50
40
40
30
30
20
20
10
10
0
Pré instalação
Pós instalação
0
Pré instalação
Pós instalação
Figura 7 - Valores médios dos parâmetros do efluente da lagoa de estabilização calculados préinstalação e pós-instalação. As barras verticais indicam o desvio padrão e os retângulos
indicam o erro padrão.
4. CONCLUSÃO
A análise das características químicas, físicas e do Índice de Qualidade da
Água (IQA) do efluente da refinaria de petróleo REPLAN/PETROBRAS mostrou
que o novo processo no sistema de tratamento da refinaria melhorou os parâmetros
analisados. Os resultados mostraram que a melhoria da oxigenação do sistema
contribuiu para a diminuição de NH3 para valores próximos de zero, além de
minimizar os valores de DBO, conseqüentemente melhorando o Índice de Qualidade
da Água do efluente.
O Sistema de Tratamento implementado pela REPLAN melhorou as condições
de tratamento biológico do efluente. No entanto, isso não significa um sistema ideal,
ou seja, a melhoria do sistema de tratamento deve, e está sendo efetuada no sentido
de melhorar constantemente os parâmetros de qualidade da água.
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5. AGRADECIMENTOS
À refinaria de Paulínia REPLAN/PETROBRAS, que por meio dos projetos de
pesquisa 270.2.061.01.8 e 270.4.097.03.0 colaborou com este estudo.
À equipe do Departamento de Bioquímica e Microbiologia da UNESP-Rio
Claro que participou dos projetos de pesquisa.
Ao Programa de Formação de Recursos Humanos (PRH) da Agência Nacional
do Petróleo (ANP), pelo auxílio concedido através do Programa de Formação de
Recursos Humanos da UNESP-Campus de Rio Claro - PRH-05.
Aos revisores, pelas sugestões conferidas ao trabalho.
6. REFERÊNCIAS
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com potencial de biodegradação e redução de toxicidade aguda. 1996. 186f.
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Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.
COMPANHIA DE TECNOLOGIA E SANEAMENTO AMBIENTAL. Avaliação
da toxicidade de despejos industriais na região da Grande São Paulo. São Paulo,
1987. 92p.
COMPANHIA DE TECNOLOGIA E SANEAMENTO AMBIENTAL. Relatório de
qualidade das águas interiores do Estado de São Paulo de 2001. São Paulo. 2002.
v.1, 27p.
COMPANHIA DE TECNOLOGIA E SANEAMENTO AMBIENTAL. Relatório de
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CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução CONAMA 20.
Brasília: SEMA. 1986. 98 p.
CONEGLIAN, C. M. R. Diminuição da Concentração de Amônia de Efluente
Industrial PETROBRAS/REPLAN. 2001. 138f. Tese (Doutorado em Microbiologia
Aplicada) Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.
Recebido em: 28/09/2004
Liberado para Publicação em: 24/05/2005
HOLOS Environment, v.5 n.1, 2005 - P. 36
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Examination of Water and Wastewater. 20th .ed. Washington: American Public
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DUFFUS, J. H. Toxicologia ambiental. Barcelona. Omega, 1983. 173p.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Projeto Brasil Visto
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FELLENBERG, G. Introdução aos problemas da poluição ambiental. São Paulo:
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FERREIRA, E. S. Cinética química e fundamentos dos processos de nitrificação
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GOLDSTEIN, G. E. Testes de toxicidade de efluentes industriais. AMBIENTE,
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PETRÓLEO E GÁS, 2º: 2003, Rio de Janeiro. Anais…Rio de Janeiro, 2003.
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HOLOS Environment, v.5 n.1, 2005 - P. 37
ISSN: 1519-8421
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ESTAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA DE RESÍDUOS
SÓLIDOS DOMICILIARES: HISTÓRICO E PROPOSTA
DE PROCEDIMENTOS PARA O SEU PLANEJAMENTO E
CONTROLE OPERACIONAL
DOMICILIARY SOLID WASTE TRANSFER STATIONS:
BACKGROUND AND PROPOSAL OF PROCEDURES FOR
ITS PLANNING AND OPERATIONAL CONTROL
Costa, H.S.
Instituto de Recursos Naturais - Universidade Federal de Itajubá
Av. BPS, 1303 – Pinheirinho – Itajubá – MG – CEP: 37500-903
Tel.: +55 35 3629.1157 – Fax.: +55 35 3629.1265 - E-mail: [email protected]
RESUMO
As estações de transferência de resíduos sólidos domiciliares no Brasil vêm
adquirindo importância desde a década de 50, principalmente devido ao crescimento
das cidades e ao distanciamento dos locais de disposição de resíduos sólidos em
relação ao centro urbano. Todavia, a concepção dessas instalações mudou bastante ao
longo dos anos e tende a sofrer grandes transformações em futuro próximo, uma vez
que os recursos financeiros são escassos e a preocupação com a preservação do meio
ambiente é crescente. Este trabalho relata o histórico das estações de transferência de
resíduos sólidos domiciliares no Brasil e propõe procedimentos para o planejamento e
o controle operacional destes empreendimentos.
Palavras-chave: estações de transferência, resíduos sólidos, planejamento,
indicadores de desempenho, controle operacional.
ABSTRACT
In Brazil, the domiciliary solid waste transfer stations are acquiring importance
since the decade of 50, mainly due to the growth of the cities and the disposal places
HOLOS Environment, v.5 n.1, 2005 - P. 38
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of solid waste very distant in relation to the urban center. However, the conception of
these installations changed enough long of the years and it will to suffer great
transformations in next future, a time that the financial resources are scarce and the
concern with the preservation of the environment is increasing. This work shows the
background of the domiciliary solid waste transfer stations in Brazil and considers
procedures for the planning and the operational control of these enterprises.
Key-words: solid waste, transfer stations, planning, performance pointers,
operational control.
1. INTRODUÇÃO
De acordo com Costa (1998), “estação de transferência de resíduos sólidos
domiciliares é uma instalação que possibilita a remoção ou o transbordo dos resíduos
sólidos domiciliares recolhidos por veículos ou equipamentos de coleta relativamente
pequenos (triciclos, veículos de tração animal, veículos motorizados, etc.) para outro
meio de transporte de maior capacidade de carga (normalmente carretas, mas
barcaças e vagões ferroviários são também opções de transporte), capaz de
transportar o resíduo por longas distâncias para centrais de reciclagem de material ou
para locais de processamento ou disposição de resíduos, com reduzida utilização de
mão-de-obra”.
Resíduos sólidos domiciliares são considerados resíduos de classe II e III,
segundo a classificação da ABNT (1987), ou seja, os resíduos provenientes da
varrição regular e de serviços oriundos de feira livre, construção e demolição, poda e
capinação, comércio, limpeza de parques e jardins.
Para garantir um nível satisfatório de qualidade de vida urbana, precisa-se
remover os resíduos para locais longínquos, afastados de áreas residenciais e
comerciais. Isso implica no aumento dos custos da limpeza pública, favorecendo a
utilização de estações de transferência de resíduos sólidos domiciliares, pois a
principal vantagem atribuída a elas é a possibilidade de redução nos custos do
transporte.
Todavia, essas unidades podem oferecer inúmeras outras vantagens ao
gerenciamento de resíduos sólidos, como por exemplo: ampliar o número de locais de
processamento ou disposição de resíduos sólidos, aumentar a eficiência dos veículos
de coleta e melhorar a operação no local de disposição. Além disso, tornam-se
potencialmente mais vantajosas quando a coleta é seletiva, pois a quantidade de
resíduos transferida é menor. As estações de transferência influenciam de modo
significativo a coleta e o transporte de resíduos. De acordo com Aguiar (1993), essas
etapas envolvem a maior parte dos recursos alocados pelas municipalidades nos
serviços de limpeza pública.
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HOLOS Environment, v.5 n.1, 2005 - P. 39
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Como pode ser observada na Figura 1, as estações de transferência fazem parte
de um processo cíclico contínuo e têm função muito similar à dos depósitos de
materiais, exceto que não existe custo de inventário, nem carga unitária numa estação
e o fluxo de materiais é reverso, isto é, as matérias-primas são transportadas para as
fábricas (pontos de produção), em seguida os produtos escoam para os depósitos
(pontos de distribuição) e dos depósitos para os consumidores (produtores de
resíduos); os resíduos são removidos dos domicílios para os pontos de transferência
(estações de transferência ou estações de transferência e recuperação de materiais) e
dos pontos de transferência para os locais de destino final (centrais de tratamento e
recuperação de materiais ou aterros sanitários). Se houver reciclagem de resíduos,
estes tornar-se-ão matérias-primas para a fabricação de produtos.
Ma té r ia s - Pr ima s
Po n to s d e Pr o d u ç ã o = Fá b r ic a s
Po n to s d e Dis tr ib u iç ã o = De p ó s ito s
Po n to s d e Co n s u mo e G e r a ç ã o d e
Re s íd u o s
Po n to s d e Tr a n s f e r ê n c ia
De s tin o Fin a l d e Re s íd u o s
Figura 1. – Esquema das estações de transferência de resíduos sólidos como um canal de
distribuição reverso. (COSTA, 1998, p.36)
Segundo Ballou (1993), a ínfima atenção dedicada aos canais de distribuição
reversos explica, em parte, a pouca importância atribuída aos resíduos sólidos como
fonte de matéria-prima. Não obstante, verifica-se uma tendência para realizar
reciclagem nas estações de transferência mais modernas; logo, a utilização de
resíduos como matéria-prima tende a ser mais valorizada.
No gerenciamento moderno de resíduos, de acordo com Diaz et al. (1993), a
estação de transferência deve ser um local de processamento inicial, normalmente na
forma de separação de componentes potencialmente utilizáveis. Isso é feito com o
objetivo de reduzir a quantidade de resíduo destinado a ser aterrado. Segundo
Tchobanoglous et al. (1993), a estação de transferência deve, portanto ser planejada e
operada de modo integrado com os outros elementos funcionais do sistema de
gerenciamento de resíduos sólidos (coleta, reciclagem, tratamento, disposição, etc.),
mantendo a continuidade do sistema. Vale lembrar que a redução, a reutilização ou
recuperação, o tratamento e a reciclagem podem fazer parte de uma estação de
transferência.
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2. HISTÓRICO DE ESTAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE RESÍDUOS
SÓLIDOS NO BRASIL
Com base nos arquivos da Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio
de Janeiro – COMLURB, pode-se constatar que o sistema de transferência de
resíduos é bem antigo no Brasil.
As primeiras estações de transferência ou rampas de transbordo (como eram
conhecidas) foram construídas na década de 50, no Rio de Janeiro. Eram pequenas
rampas nas quais os caminhões de coleta subiam de ré e vazavam seus resíduos
diretamente em caminhões maiores ou nos bondes elétricos especiais para transportar
o lixo.
Com o aumento das distâncias aos aterros sanitários e com o aparecimento de
modernos caminhões compactadores, que transportavam uma quantidade de lixo três
vezes maior que os caminhões tipo baú ou prefeitura, era necessário projetar-se
estações de transferência cujas carretas transportassem também uma quantidade de
lixo pelo menos três vezes superior às carretas utilizadas na época. Construíram-se
então as estações de transferência com compactação, cujo sistema se resumia em
transferir os resíduos dos caminhões de coleta para carretas de 50 m3, através de
grandes prensas estacionárias.
Foram construídas na década de 1970, no Rio de Janeiro duas dessas estações:
a Estação de Transferência Sul e a Estação de Transferência Norte. O sistema de
operação de ambas as estações era o seguinte: os caminhões de coleta tinham acesso
à plataforma de descarga por meio de uma rampa. Na plataforma de descarga,
existiam dois fossos receptores (push-pit) de 90 m3 de capacidade cada um (9 m2 de
seção por 10 m de comprimento). Os resíduos, depois de descarregados nos fossos,
eram empurrados por um sistema de placa hidráulica para os compactadores (cada
fosso possuía um compactador) que, por sua vez, compactavam o lixo diretamente
nas carretas. Cada carreta de 50 m3 transportava cerca de 30 t de lixo e possuía um
sistema de placa hidráulica (semelhante ao dos fossos) para o vazamento do lixo. Não
somente no Rio de Janeiro, mas também em São Paulo, foram construídas estações
com compactação: Ponte Pequena e Vergueiro.
Na mesma década, segundo ConsulteC/Saniplan (1979), em complementação
ao Plano de Destino Final de Lixo do Distrito Federal, foram previstas, para a Capital
Federal, quatro estações de transferência: duas no Plano Piloto, uma em Sobradinho e
a quarta no Gama. Todas as estações seriam do tipo descarga direta. Os anteprojetos
das estações eram praticamente iguais, com diferenças apenas na localização. A
estação central ficaria localizada em terreno próximo à oficina do Serviço de
Limpeza Urbana, no Setor de Garagens Oficiais. Foi dimensionada para receber
inicialmente 110 t de resíduos sólidos domiciliares, prevendo-se uma expansão a
médio prazo para 220 t/dia. Os resíduos seriam transferidos diretamente para carretas
de 30 m3. A estação consistia de uma rampa em aterro, pavimentada, a qual daria
acesso a um pátio elevado, para descarga dos caminhões de coleta. O pátio superior
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seria coberto. Uma balança rodoviária tipo plataforma, uma guarita e um pequeno
escritório complementariam o projeto.
Os investimentos necessários às obras civis e à aquisição de equipamentos
(prensas, placas e cavalos) do sistema de compactação foram bastante elevados, por
isso a equipe técnica da COMLURB, Rio de Janeiro, passou a estudar um projeto de
estação para operar com um tipo de carreta que transportasse a mesma quantidade de
lixo e cujos investimentos globais fossem inferiores. Chegou-se a um tipo de carreta
composta de dois módulos (caixas): a traseira com volume de 40 m3 e basculamento
traseiro e a central com volume de 30 m3 e basculamento bilateral.
Foram construídas no Rio de Janeiro, as estações de transferência de Bangu e
Nova Iguaçu, dentro dessa concepção. O sistema de operação dessas estações era
basicamente o seguinte: os caminhões de coleta tinham acesso à plataforma de
descarga através de uma rampa. Na plataforma de descarga, os caminhões vazavam
os resíduos diretamente nas carretas, através de defletores metálicos cuja função era
dirigir o lixo para dentro delas.
As empresas públicas brasileiras responsáveis por estações de transferência
buscaram, a partir da década de 1980, a terceirização de suas operações seguindo a
tendência de países como os Estados Unidos de acordo com Scozzafava (2004), e a
substituição gradativa do sistema com compactação pelo sistema sem compactação,
visando a reduzir os custos de manutenção e operação, diferentemente do que vem
ocorrendo em países desenvolvidos como relata Carleton (2004).
A partir de meados dos anos 90, para reduzir a formação de filas de espera dos
veículos coletores, reduzir custos e melhorar o aspecto estético das estações, tem-se
preferido: (1) a utilização de carretas abertas, sem compactação, com capacidade para
21 toneladas de resíduos, por apresentarem menores custos de investimento e
manutenção, (2) fossos de acumulação temporária de resíduos e pás mecânicas para
auxiliar a transferência, para possibilitar a esse tipo de estação a volta rápida do
coletor para o setor de coleta, (3) e unidades semi-enclausuradas para impedir a
visibilidade das operações.
Atualmente, conforme levantamento realizado pela autora, estão em
funcionamento no Brasil dezesseis estações de transferência de resíduos sólidos
domiciliares, além de seis estações que se encontram desativadas devido,
principalmente, à localização e às condições de operação não serem adequadas.
Planeja-se reformar uma unidade e construir mais sete. As estações de transferência
atuais possuem as seguintes características:
• Estão localizadas em municípios com mais de um milhão de habitantes e
nas regiões mais desenvolvidas do país.
• São empreendimentos de médio e grande portes, em contraste com o que
vem ocorrendo nos Estados Unidos da América, como relatou Brockway
(1995).
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• A maioria funciona 24 horas por dia, aproveitando o máximo de tempo
disponível para a transferência. No entanto, em zona residencial o horário
noturno produz transtorno para a vizinhança.
• Apenas em uma estação de transferência, à distância de transporte (ida e
volta) é menor que 40 km, as distâncias de transporte de mais da metade das
estações variam de 41 a 80 km e somente em uma estação à distância
percorrida pelos veículos de transferência é superior a 81 km.
• O tempo gasto no percurso de ida e volta da estação de transferência ao
aterro sanitário, para a maioria das estações, varia entre 60 e 90 min.
• As estações de transferência brasileiras não incorporam a reciclagem ou a
recuperação de resíduos à sua operação, não são construções enclausuradas
e nem realizam compactação. As estações de transferência que realizam
outras operações em suas dependências além da transferência de resíduos,
de acordo com King (2003), são chamadas estações de transferência
“verdes”, que é a mais forte tendência mundial.
• A capacidade de carga dos veículos de transferência é adequada à
capacidade de carga dos coletores empregados, pois a relação número de
coletores por veículos de transferência é superior a 1:2. Gerando uma
redução no número de veículos, na rota de transporte, na faixa de 55 a 73%.
• Apenas duas estações de transferência executam o manejo dos resíduos ao
ar livre, o que é absolutamente inadequado, pois, em períodos de chuvas, há
carreamento dos resíduos e formação de chorume, além de os resíduos
ficarem saturados de água, ocasionando aumento nos custos de transporte
nesses períodos. Todas as estações de transferência enlonam os veículos na
própria estação, antes de seguirem viagem para o aterro sanitário, fato que é
extremamente positivo.
• Realizam o controle da operação de transferência de resíduos por meio de
pesagem dos veículos de coleta e transferência em balanças eletrônicas, o
que garante uma qualidade mais apurada das informações sobre o fluxo de
carga.
As estações brasileiras de transferência de resíduos sólidos em operação
apresentam-se rudimentares e pouco integradas à comunidade, exatamente por não
possuírem programas de controle ambiental e mostrarem baixa eficácia, embora
desempenhem elevada eficiência operacional.
O sistema de transferência adotado no país evoluiu muito desde a sua
implantação. Não obstante, ainda precisa ser aprimorado para tornar-se adequado à
realidade dos municípios brasileiros.
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3. PLANEJAMENTO DE ESTAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE RESÍDUOS
SÓLIDOS
Aqui, propõem-se procedimentos a serem seguidos na etapa de planejamento,
visando a auxiliar na escolha racional de estações de transferência de resíduos sólidos
domiciliares. A Figura 2 traz as etapas da análise de planejamento para uma estação
de transferência de resíduos sólidos domiciliares.
A primeira etapa consiste na obtenção de dados e informações gerais que
permitam a caracterização da cidade em estudo e a estimativa dos custos de projeto
da estação. Coletados todos os dados necessários, eles devem ser analisados e
corrigidos os eventuais desvios. Por exemplo, dados como: (a) mapas da cidade; (b)
população atual e dos últimos dez anos; (c) densidade demográfica; (d) localização da
garagem e dos setores de coleta; (e) localização e capacidade do local de destino dos
resíduos; (f) método de destino usado; (g) número de componentes e jornada de
trabalho da guarnição; (h) costumes da população; (i) zoneamento, topografia, tipos
de calçamento e principais vias da região; (j) horários e freqüência das coletas; (k)
quantidade, tipo e capacidade dos veículos coletores; (l) distância e tempo gastos na
coleta; (m) capacidade máxima de transporte permitida por lei; (n) meios de
transporte que poderão ser utilizados; (o) planilha de custos do transporte direto.
Levantamento de Dados e Informações
Projeção de Demanda para o Horizonte de Projeto
(População e Produção de Resíduos Sólidos)
Dimensionamento
Localização
Análise Econômica
de Viabilidade de Implantação
É Viável!
Não é Viável!
Análise e Seleção
das Alternativas
Encerrar
a Análise
Projeto Final
Implantação
Operação
Figura 2. – Etapas da análise de planejamento para uma estação de transferência de resíduos
sólidos domiciliares.
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A etapa seguinte é a de previsão de população e de geração de resíduo para o
horizonte de projeto (recomenda-se 10 a 20 anos como vida útil para uma estação de
transferência). A partir dos dados históricos de população e produção de resíduo dos
últimos dez anos, conhece-se a taxa provável de crescimento da população e da
produção de resíduo domiciliar, o que permite estimar a capacidade da estação no
horizonte de projeto. Recomenda-se que se projete a estação de transferência em
módulos, prevendo expansões ao longo de sua vida útil em função do incremento da
produção de resíduos.
A terceira etapa é a determinação dos locais mais adequados para implantar a
estação de transferência, a qual deve ser realizada em conjunto com a quarta etapa: o
dimensionamento das estações.
O estudo de localização de estações de transferência pode ser subdividido nas
seguintes etapas:
1. Seleção de critérios, considerando: as restrições ambientais, urbanas e
sociais; o uso e a ocupação do solo; a malha viária existente; a área
necessária para a instalação; os tempos e as distâncias de remoção dos
resíduos; a densidade populacional e a produção de resíduos.
2. Definição da importância relativa de cada critério.
3. Aplicação de algum método ou modelo matemático já consagrado na
localização de empreendimentos, de forma a maximizar os benefícios da
transferência; melhorar a organização desse serviço; contribuir para o bem
estar e conforto da população; facilitar a circulação.
4. Análise das alternativas resultantes.
O dimensionamento de cada estação pode ser realizado utilizando as
expressões apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1. – Expressões para dimensionar estações de transferência de resíduos sólidos
Variável
Tempo total
ciclo (t)
Unidade
de
min
Número de viagens Viagem/dia
por dia (Nvd)
Expressão Matemática
Conceito
t = tc + tp + td
em que tc é o tempo de carregamento do
veículo de transferência, tp é o tempo
gasto no percurso (ida e volta) da estação
ao destino final dos resíduos e td é o
tempo de descarregamento do veículo de
transferência. Dados em minutos
Nvd = q/Cvt
em que q* é a quantidade média de
resíduos
recebida
pela
estação
(tonelada/dia) e Cvt é a capacidade média
de carga do veículo de transferência
(tonelada/viagem)
É o tempo total gasto
por um veículo de
transferência
para
remover os resíduos
para o destino final e
voltar à estação de
transferência
É a quantidade total
de viagens
necessárias para
remover os resíduos
que chegam à estação
ao longo de um dia
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Variável
Unidade
Expressão Matemática
Número de veículos Veículo
de
Nvo = (Nvd . t)/j
de transferência em transferência
em que Nvd é o número de viagens por
operação (Nvo)
em operação
dia, t é o tempo de ciclo e j é a jornada de
trabalho da estação de transferência,
partindo-se do pressuposto de que a
jornada de trabalho da estação é a mesma
dos veículos de transferência
Número
de VeículosNvr = 0,10.Nvo
veículos-reserva de reserva
de em que Nvo é o número de veículos de
transferência
transferência
transferência em operação
(Nvr)**
Número total de Veículos
de
Nvt = Nvo + Nvr
veículos
de transferência
em que Nvo é o número de veículos em
transferência (Nvt)
operação e Nvr é o número de veículos
reserva
Número de viagens Viagem/veículo
Nvv = Nvd/Nvo
por veículo (Nvv)
em que Nvd é o número de viagens por
dia e Nvo é o número de veículos de
transferência em operação
Capacidade
de t
estocagem (Ce)
Capacidade
operacional
da
estação
de
transferência (Co)
t/dia
Número de sistemas
(Ns)
Sistemas de
transferência
Ce = (Nf.Cf) + (Nvt.Cv) + (Nc.Cc)
em que Nf é o número de fossos de
acumulação de resíduos, Cf é a
capacidade de armazenamento do fosso
em tonelada, Nvt é o número de veículos
de transferência, Cv é a capacidade de
carga do veículo de transferência em
tonelada. Caso haja sistema de
compactação, adiciona-se o produto entre
Nc, que é o número de compactadores, e
Cc, que é a capacidade de acumulação de
carga no compactador em tonelada***
Co = Ct + Ce
em que Ct é a capacidade média de
transferência da estação (tonelada/dia) e
Ce é a capacidade de estocagem
(tonelada/dia)
Ns =q/Co
em que q é a quantidade média de
resíduos
recebida
pela
estação
(tonelada/dia) e Co é a capacidade
operacional da estação de transferência
(tonelada/dia)
Conceito
É a quantidade de
veículos
de
transferência
necessária
para
remover os resíduos
recebidos ao longo de
um dia
É a quantidade de
veículos adicionais
para
substituir
reparos e manutenção
de veículos em caso
de emergência
É o somatório entre o
número de veículos
em operação e o
número de veículos
reserva
É
a
quantidade
máxima de viagens
que um veículo de
transferência poderá
realizar
É a quantidade de
resíduo que a estação
de transferência pode
armazenar
É a quantidade de
toneladas
que
a
estação
de
transferência
pode
manipular
É a quantidade de
sistemas
de
transferência
necessários
Observações referentes à Tabela 1:
*Phillipi Jr. (1979) considera q como sendo a quantidade média de resíduos
recebida pela estação, acrescida de uma sobrecarga de 10%. É fundamental conhecer
não somente a quantidade diária média e de pico a ser recebida pela estação, como
também a quantidade horária de pico. A estação tem de ser capaz de transferir ou
armazenar os resíduos que chegam no horário de pico. No entanto, projetar uma
estação para esse volume de pico pode se tornar muito caro. Então, para contornar
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essa situação, o ideal é que o fluxo de veículos coletores que chegam à estação seja
ajustado e distribuído ao longo de todo o dia, reduzindo assim os picos de carga, o
que na prática nem sempre é viável. A análise dos períodos de pico de carga é
importante também para evitar a formação de filas dos coletores e tempo de espera
muito longo. Para Brockway (1997), o comprimento de fila e o tempo de espera é
estimado, geralmente, assumindo a teoria convencional de filas e a distribuição de
Poisson, válidos para os veículos coletores que chegam à estação de transferência.
**De acordo com Schaper (1986), deve-se considerar o número de veículos de
transferência reserva igual a 10% do número de veículos de transferência em
operação.
***No dimensionamento dos fossos de acumulação de resíduos, Jardim e
Wells (1995) lembram que os resíduos podem sofrer, após serem descarregados pelos
coletores compactadores, um aumento de volume de 20 a 25 %. Brockway (1997)
recomenda que, nos locais em que o nível do lençol freático está próximo à
superfície, o fosso ou o pátio de descarga de resíduos seja construído 4 a 6 m acima
do nível do solo.
É importante salientar que uma estação de transferência terá um
aproveitamento total do investimento realizado, se render o máximo de sua
capacidade, ou seja, se seus equipamentos funcionarem na máxima capacidade
efetiva. O que equivale dizer que a estação só terá um aproveitamento máximo de sua
capacidade se funcionar 24 horas por dia.
Em estações de transferência do tipo descarga direta, a rampa de transbordo
deve ser de material que evite derrapagens e deve ter uma inclinação de até 10 %,
segundo Phillipi Jr. (1979), terminando na parte superior em uma plataforma
horizontal para nivelar os coletores antes da descarga de resíduos.
Na etapa de dimensionamento é importante levar em conta:
• O tipo de resíduo que chegará à estação. Características como: peso
específico, umidade, composição física e compressibilidade devem ser
analisadas para escolher os equipamentos e os veículos de transferência
adequados.
• A quantidade dos resíduos que chegará à estação ao longo do dia, o tempo
gasto no percurso de ida e volta da estação ao destino final e as condições
de tráfego da região influenciam na quantidade e no tipo de veículo de
transferência e, também, na formação de filas para os veículos coletores.
• O tipo de equipamento de coleta. O tempo de descarga dos coletores
influencia no dimensionamento das frentes de carregamento dos veículos de
transferência, por exemplo: coletores com descarga rápida de resíduos
aumentam a rotatividade nas frentes de carregamento.
• O método de destino final dos resíduos influi na escolha do processo de
descarga dos veículos de transferência e da realização de outras operações
na estação, além da transferência propriamente dita.
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• A topografia do local escolhido. Terrenos acidentados facilitam a
construção de rampas, já que uma estação normalmente tem dois níveis de
operação.
• O tipo de vizinhança da estação influenciará no projeto arquitetônico e no
controle de poluição que deverá ser providenciado.
• A economicidade do sistema, pois a maior parcela do custo do transporte
indireto é o custo da estação de transferência.
A última etapa é a análise econômica de viabilidade de implantação de estações
de transferência para cada unidade determinada nas etapas anteriores. Portanto, o
anteprojeto e a localização de cada unidade potencial já devem estar devidamente
elaborados.
Nesta etapa, dever-se-á comparar os custos do transporte direto com os custos
do transporte indireto, determinando o ponto de equilíbrio entre os dois sistemas.
Dever-se-á também verificar a viabilidade financeira do empreendimento, ou seja,
verificar se o município é capaz de arcar (por meio de financiamentos ou recursos
próprios) com os custos do período de transição, período em que o transporte direto
estará sendo executado, a estação estará sendo construída, os equipamentos e os
veículos de transferência estarão sendo adquiridos, tudo isso ocorrendo
concomitantemente.
Se for constatada a inviabilidade econômica do empreendimento, encerra-se a
análise. Caso contrário, os resultados deverão ser analisados no que se refere a gastos
de capital, interferências no sistema de coleta e transporte, disponibilidade de locais
adequados, restrições urbanas e ambientais e, também, custos operacionais. Só então
serão selecionadas as alternativas que se mostrarem viáveis economicamente e
compatíveis com a realidade local.
Após todo esse processo descrito anteriormente, dever-se-á elaborar o projeto
final e executar as etapas de implantação e operação das unidades de transferência
determinadas pela análise realizada.
Uma vez a estação de transferência estando em pleno funcionamento, poder-seá utilizar os indicadores propostos pela autora apresentados nas Tabelas 2 e 3 para
avaliar a produtividade, a eficiência operacional, a qualidade e a segurança da
operação na estação. Esses indicadores e seus conceitos e intervalos foram elaborados
com base em revisão de literatura, pesquisas de campo e questionários recebidos de
municípios brasileiros.
Tabela 2. – Indicadores de produtividade e eficiência operacional.
Indicador
Unidade Expressão Matemática
Conceito e Intervalo
Disposição dos
componentes da
estação
-
-
Adequada: há proximidade
dos componentes da estação,
respeitando a seqüência do
fluxo de carga;
Inadequada: quando os
componentes da estação não
são dispostos de acordo com o
fluxo de carga
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Tempo de permanência
de resíduo no fosso
Grau de utilização da
estação de transferência
(EU)
Grau de utilização das
carretas
de
transferência quanto a
carga transferida (Ucc)
Grau de utilização das
carretas
de
transferência quanto a
quilometragem rodada
(Ucq)
Grau de utilização do
fosso de acumulação
temporária ou do pátio
de descarga de resíduos
(UF)
Grau de utilização da
mão-de-obra (UMDO)
Grau de mecanização
da estação (M)
h
-
-
EU = Ct/Cn
em que Ct é a quantidade total de
resíduo transferida por dia (t/dia) e
Cn é a capacidade nominal da
estação em t/dia
Ucc = Cvt/Cnv = Ct/(Nvd.Cnv)
em que Cvt é a carga média
transportada por carreta em
tonelada, Cnv é a capacidade
nominal da carreta de transferência
em tonelada, Ct é a quantidade
total de resíduo transportada por
dia (t/dia) e Nvd é o número total
de viagens da estação ao destino
final dos resíduos
Ucq = Nvd.d/(Nvo.de)
em que Nvd é o número de
viagens, d é a distância de
transporte em km, Nvo é o número
de veículos de transferência
utilizados por dia e de é a
quilometragem
média
diária
especificada pelos fabricantes dos
veículos de transferência
UF = Nf.Cf/Ct
em que Nf é o número de fossos ou
pátios, Cf é a capacidade do fosso
ou pátio em tonelada e Ct é a
quantidade de resíduos transferida
pela estação em t/dia
UMDO = MDOd/MDOi
em que MDOd é a quantidade de
mão-de-obra direta e MDOi é a
quantidade
de
mão-de-obra
indireta
MDO/t/d
M = MDOd/Ct
em que MDOd é a quantidade de
mão-de-obra direta total e Ct é a
quantidade de resíduo transferida
em tonelada
Adequado: menor que 2 horas;
Inadequado: superior a 2 horas
Utilização adequada: 0,90 a
1,00;
Boa utilização: 0,80 a 0,90;
Estação sub-utilizada: menor
que 0,80
Utilização adequada: maior
que 0,90 da capacidade de
carga
das
veículos
de
transferência;
Boa utilização: 0,80 a 0,90;
Baixa utilização: menor que
0,80
Utilização elevada: superior a
1,00; Utilização adequada:
0,90 a 1,00;
Baixa utilização: menor que
0,90
Adequado:
2/3;
Subdimensionado: menor que
2/3;
Superdimensionado:
superior a 2/3
Adequada: 0,10; Insuficiente:
menor que 0,10;
Excesso
de
mão-de-obra
indireta: maior que 0,10
Muito mecanizada: menor que
0,02 MDO/t/dia;
Mecanizada: 0,02 a 0,04
MDO/t/dia;
Pouco mecanizada: maior que
0,04 MDO/t/dia
Tamanho
adequado:
6
m2/t/dia;
Compacta: menor que 6
m2/t/dia;
Ampla: maior que 6 m2/t/dia
Adequada: 30 a 60 km/h;
Elevada: maior que 60 km/h;
Baixa: menor que 30 km/h
Dimensão da estação
(D)
m2/t/d
D = A/Ct
em que A é a área total da estação
em m2 e Ct é a quantidade de
resíduo transferida em t/dia
Velocidade média de
transporte (V)
Km/h
Quantidade
de
coletores necessários
para carregar uma
carreta (VC/C)
-
V = d/t
em que d é a distância de
transporte em km e t é o tempo
total de viagem em hora
VC/C = Cv/Cvc
Adequado: maior que 1:2;
em que Cv é a capacidade do Inadequado: menor que 1:2
veículo de transferência e Cvc é a
capacidade do coletor
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HOLOS Environment, v.5 n.1, 2005 - P. 49
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Tabela 3. – Indicadores de qualidade e segurança.
Indicador
Unidade Conceito e Intervalo
Localização da estação
Idade da frota de carretas
Tipo
de
realizada
manutenção
ano
-
Sistema de pesagem
-
Programa de treinamento
permanente dos operários
Freqüência de limpeza da
estação
Freqüência de limpeza das
carretas
Freqüência de limpeza do
fosso
Controle de poluição
-
Enlonamento das carretas
-
Utilização de
equipamentos de
segurança
-
Outras operações dentro da
estação
-
Terreno murado
-
Áreas verdes ao redor da
estação
Horário de funcionamento
da estação
Tipos de via de transporte
-
-
h
-
Adequada: zona industrial ou agrícola;
Inadequada: zona residencial ou comercial
Adequada: menor que 5 anos;
Inadequada: superior a 5 anos
Adequada: há manutenção preventiva, corretiva e
emergencial;
Inadequada: ausência de manutenção preventiva
Ótimo: há balança eletrônica;
Adequado: há algum tipo de balança;
Inadequado: não existe balança
Adequado: há treinamento permanente;
Inadequado: não há treinamento permanente
Adequada: diária;
Inadequada: ocasional
Adequada: diária;
Inadequada: ocasional
Adequada: diária;
Inadequada: ocasional
Adequado: utilização de equipamentos próprios para mitigar
a poluição gerada;
Inadequado: não há medidas preventivas e mitigadoras contra
os impactos negativos da estação
Adequado: utilização de lonas plásticas ou telas após
carregamento;
Inadequado: o não enlonamento das carretas antes de
partirem para o aterro sanitário
Adequada: utilização constante de equipamentos de
segurança por todos os operários;
Inadequada: não utilização ou utilização parcial de
equipamentos de segurança
Alta utilidade: existência de trituração, triagem,
enfardamento, etc.;
Adequada: somente a operação de transferência
Adequado: há muros altos ou cercas;
Inadequado: muros ou cercas que não impeçam sua
transposição
Adequado: se promover isolamento da estação;
Inadequado: se não isolar e melhorar a estética da estação
Adequado: de 6 às 22 horas;
Inadequado: de 22 às 6 horas
Adequado: vias expressas e preferenciais;
Inadequado: vias secundárias e locais
A idéia de propor esses conceitos e intervalos é na verdade para proporcionar
uma reflexão sobre as condições operacionais das estações de transferência e assim
melhorar o desempenho das mesmas.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A primeira vista, pode parecer que o Brasil está marchando na contramão do
desenvolvimento tecnológico da transferência de resíduos sólidos, pois em países
desenvolvidos como os EUA e a Inglaterra buscam-se intensificar a utilização de
sistemas de transferência com compactação, enquanto no Brasil o contrário vem
ocorrendo: as estações que possuíam sistemas com compactação foram remodeladas
para funcionarem sem compactação. Contudo, se olharmos mais atentamente para a
questão, constataremos, na verdade, que o Brasil está buscando sua própria
identidade, desvinculando-se assim do que é considerado apropriado pelos países
desenvolvidos e procurando o tipo de estação mais adequado para a sua realidade. Ou
seja, embora o Brasil não tenha desenvolvido uma tecnologia própria, o governo
brasileiro utiliza-se da tecnologia e da experiência estrangeira para alcançar suas
próprias metas, não sendo um mero imitador; o que é extremamente positivo, pois se
economiza tempo e dinheiro, além de demonstrar que o conceito de estação de
transferência deve ser específico para cada localidade. No entanto, esse conceito deve
respeitar o meio-ambiente e os costumes da sociedade, não se esquecendo de atender
aos requisitos técnicos. Mas, por falta de investimentos substanciais no setor, as
mudanças vêm ocorrendo de maneira lenta e gradativa.
Tendo como objetivo de provocar uma reflexão sobre as tecnologias hoje
empregadas e a adoção de alternativas compatíveis com as condições nacionais e
peculiaridades regionais, foram propostos procedimentos que auxiliem no
planejamento de estações de transferência de resíduos sólidos domiciliares e,
também, indicadores de produtividade, eficiência operacional, qualidade e segurança
que auxiliem na avaliação do desempenho destas estações. No entanto, os conceitos e
intervalos dos indicadores propostos precisam ser aperfeiçoados através de novas
pesquisas e da experiência dos técnicos que trabalham em estações de transferência.
A prática na utilização desses indicadores poderá levar ao aperfeiçoamento dos
conceitos e intervalos propostos, além de gerar parâmetros de projeto e controle de
estações de transferência.
5. REFERÊNCIAS
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Resíduos sólidos: classificação, Rio de Janeiro, 1987.
AGUIAR, E.M. Racionalização da operação de sistemas de coleta e transporte de
resíduos sólidos domiciliares para cidades de pequeno e médio porte.
1993.216f.Tese Doutorado em Engenharia de Transportes - Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993.
BALLOU, R.H. Logística Empresarial. São Paulo: Ed. Atlas S.A., 1993.
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INFLUÊNCIA DE DIFERENTES DOSES DE TORTA DE
FILTRO NO SOLO SOBRE A MIGRAÇÃO E
PERSISTÊNCIA DE STEINERNEMA GLASERI (STEINER,
1929) (NEMATODA:RHABDITIDA)
INFLUENCE OF DIFFERENTIAL DOSES OF
FILTERCAKE ADDED TO SOIL ON THE MIGRATION
AND PERSISTENCE OF STEINERNEMA GLASERI
(STEINER, 1929) (NEMATODA:RHABDITIDA)
Rodrigues, R.C.D.1, Aguillera, M.M.1, Gobbi, N.2; Pizano,
M.A.2
1
Departamento de Biotecnologia Vegetal, Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar), Centro de Ciências Agrárias (CCA), Caixa Postal:153, CEP 13600970,Araras, SP E-Mail: [email protected], [email protected],
2
Departamento de Ecologia, Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências,
Caixa Postal: 199, CEP 13506-900, Rio Claro, SP E-mail: [email protected],
[email protected]
RESUMO
Nematóides entomopatogênicos são usados no controle biológico de vários
insetos/praga. Ocorrem naturalmente, e há grande interesse em conhecer as condições
do ambiente que possam favorecer suas atividades no solo para localizar hospedeiros
potenciais e sua sobrevivência. O objetivo deste trabalho foi determinar o efeito da
torta de filtro (T.F.) adicionada ao solo (SO) sobre a migração e persistência de
Steinernema glaseri. Os tratamentos consistiram de 0, 25, 50, 75 e 100% de T.F.
adicionados em solo esterilizado: arenoso e argiloso. Galleria mellonella
(Lepidoptera:Pyralidae) foi usada como hospedeiro indicador para a atividade dos
juvenis infectivos do nematóide. No solo arenoso, a adição de T.F. em proporção de
até 50% não influenciou a migração de nematóides em direção ao hospedeiro,
enquanto em solo argiloso a proporção máxima onde ocorreu a migração foi de 25%
T.F. Os juvenis infectivos moveram-se mais para a superfície do que para o fundo da
coluna quando o substrato continha solo arenoso. Em solo argiloso, a movimentação
foi semelhante nas duas direções em todos os teores de T.F. A persistência do
nematóide foi mais elevada em substratos com solo argiloso, nos tratamentos com
maior proporção de solo em relação à torta de filtro.
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ISSN: 1519-8421
Recebido em: 10/11/2004
Liberado para Publicação em: 10/10/2005
Palavras-chave: nematóides entomopatogênicos, matéria orgânica, migração,
persistência, Steinernema glaseri.
ABSTRACT
Entomopathogenic nematodes are commonly used for the biological control of
many insects/pests. Besides their natural occurrence, there is a great interest in the
study of environmental conditions, which can favor their activities in the soil in order
to find potential hosts and survivors. The objective of this research was to determine
the effects of filtercake added to soil on migration and persistence of Steinernema
glaseri. The treatments were: 0; 25; 50; 75; and 100% filtercake added to two types
of sterilized soil: sandy and clay. Galleria mellonella (Lepidoptera: Pyralidae) was
used as an indicator host for the nematode activity. In the sandy soil, additions of up
to 50% filtercake have no influence on nematode migration towards the host, while in
clay soil the maximum proportion in which migration occurred with 25% filtercake.
Infective juveniles moved more to the top than to the bottom column, in sandy soil. In
clay soil the migration was similar in both directions at all filtercake levels. The
nematode persistence was higher in clay soil substrates, in the treatments with higher
proportion of soil in relation to filtercake.
Key words: entomopathogenic nematodes, organic matter, migration, persistence,
Steinernema glaseri.
1. INTRODUÇÃO
Nematóides entomopatogênicos do gênero Steinernema Travassos, 1927
(Rhabditida: Steinernematidae) são importantes agentes de controle biológico de
insetos e têm mostrado, através de experimentos de laboratório e casas de vegetação,
grande habilidade em localizar, invadir o corpo e matar hospedeiros pertencentes a
diversas ordens (POINAR, 1979). Podem ser produzidos em larga escala tanto “in
vivo” como “in vitro” e não apresentam os inconvenientes dos produtos químicos
(GAUGLER, 1988). Em diversas pragas de importância econômica no Brasil,
apresentam-se como candidatos potenciais para o controle biológico. De fato, desde
1985, nematóides do gênero Steinernema têm sido isolados de solos no estado de São
Paulo (PIZANO et al.,1985).
Embora testes de patogenicidade tenham mostrado a suscetibilidade de
hospedeiros, tais como Migdolus fryanus (Coleoptera: Cerambycidae), o nível de
incidência desta praga é alto em local de ocorrência do nematóide. Torna-se
necessário, portanto, estudar os efeitos de medidas que possam interferir nas
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atividades dos nematóides, visando o manejo adequado para propiciar o aumento de
populações nativas, bem como o estabelecimento de nematóides introduzidos em
novos locais.
Sabe-se que os teores de umidade e de matéria orgânica no solo podem limitar
a atividade desses nematóides (KAYA, 1990). A adição de compostos orgânicos e
inorgânicos para melhorar a fertilidade do solo e o crescimento das plantas está entre
as práticas freqüentemente usadas na agricultura, e muitos destes melhoramentos
podem interferir no desenvolvimento de nematóides benéficos no solo (MULLER e
GOOCH, 1982; RODRIGUEZ-KÁBANA, 1986; BEDNAREK e GAUGLER, 1997).
A torta de filtro é um resíduo proveniente da filtração a vácuo da mistura de
lodo dos decantadores com bagacinho, no processo de produção de açúcar. O resíduo
é um material rico em matéria orgânica, cálcio, fósforo e nitrogênio; dos
micronutrientes, o ferro aparece com destaque. Este subproduto é largamente
utilizado em áreas cultivadas com cana de açúcar, principalmente em solos arenosos,
onde, coincidentemente, as pragas de solo são mais prejudiciais (ORLANDO FILHO
et al., 1983).
Desta forma, considerando a hipótese de a matéria orgânica se constituir em
importante fator para a migração e sobrevivência de nematóides entomopatogênicos,
objetivou-se neste trabalho estudar os efeitos da torta de filtro adicionada ao solo
sobre a dispersão e persistência de Steinernema glaseri.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos em condições de laboratório, no
Departamento de Biotecnologia Vegetal, do Centro de Ciências Agrárias da
Universidade Federal de São Carlos, utilizando-se o nematóide entomopatogênico
Steinernema glaseri strain Sta Rosa. Este foi multiplicado em lagartas de 7º instar
(estádio larval) (ORLANDO FILHO et al, 1983) de Galleria mellonella L.
(Lepidoptera, Pyralidae), de acordo com metodologia desenvolvida por Dutky et al.
(1964). Juvenis infectivos foram coletados em armadilha de White (POINAR, 1979)
(constituída por placa de petri com 15 cm de diâmetro contendo uma tampa invertida
de placa de petri de 9 cm de diâmetro, e sobre esta, papel filtro de 12 cm de diâmetro
moldado de forma que os bordos fiquem em contato com água destilada colocada na
placa maior) e, posteriormente, mantidos na forma de suspensão, à temperatura de
aproximadamente 4ºC.
Os experimentos foram conduzidos em dois tipos de solo, um arenoso e outro
argiloso, cada um contendo cinco tratamentos, representando diferentes combinações
solo/torta de filtro. As análises granulométricas dos solos bem como as análises
químicas da torta de filtro foram realizadas no laboratório de Análises Físicas do
Departamento de Recursos Naturais e Proteção Ambiental, do Centro de Ciências
Agrárias.
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Foram conduzidos dois experimentos: o primeiro para o estudo da migração de S.
glaseri o segundo para o estudo da persistência deste mesmo nematóide.
2.1. Migração de Steinernema glaseri
Este experimento foi conduzido em recipientes plásticos de 17,5 cm de altura e
9,5 cm de diâmetro, com temperatura 28 ± 5º C e luz ambiente, com os seguintes
tratamentos: Tratamento A -100% Torta de Filtro (TF), Tratamento B - 75% TF +
25% solo (SO), Tratamento C - 50% TF + 50% SO, Tratamento D - 25% TF + 75%
SO, Tratamento E - 100% SO. O delineamento estatístico foi inteiramente ao acaso
com 5 tratamentos e 6 repetições, com 6 lagartas de G. mellonella por repetição. Os
substratos (torta + solo) foram colocados até completar 14 cm de altura nos referidos
recipientes.
No fundo e na superfície da coluna do substrato foram acondicionadas três
lagartas de G. mellonella. No centro da coluna, ou seja, na altura de 7 cm, foi
pipetado o inóculo que constou de 10.000 juvenis infectivos (J3) de S. glaseri,
contidos em 5,0 mL de suspensão aquosa para assegurar alto nível de infestação no
solo.
O nível inicial de umidade foi ajustado, para melhor sobrevivência dos
nematóides, em cada tratamento de acordo com avaliação preliminar feita em
laboratório (24% para o solo e 12% para a torta de filtro), pelo método gravimétrico
(KRAMER, 1969).
Para determinar a migração de nematóides foram utilizados dois parâmetros:
número de lagartas infectadas e número de adultos de 1ª geração desenvolvidos no
interior destas lagartas (EPSKY e CAPINERA, 1993). Este número representa a
quantidade de juvenis infectivos que migraram em direção ao hospedeiro, o
invadiram e se tornaram adultos. O número de lagartas infectadas foi determinado
coletando-às 96 horas após terem sido expostas ao ataque dos nematóides e
dissecando-as, em seguida, para determinar o número de adultos desenvolvidos.
2.2. Persistência de Steinernema glaseri
Foram utilizados os mesmos recipientes e substratos já inoculados para
determinação da migração. No solo arenoso foram feitas avaliações aos 7; 10; 13; 16;
26; 36; 46; 56; 66; 76 dias após a inoculação. No solo argiloso as avaliações foram
feitas de 3 em 3 dias, começando aos 7 e terminando em 79 dias após a inoculação.
Foram colocadas três lagartas de G. mellonella por repetição distribuídas no fundo,
no centro e na superfície da coluna. Assim, as lagartas permaneciam 72 horas
expostas em cada época de avaliação e eram submetidas às mesmas observações do
experimento anterior.
A determinação de maior período após as primeiras avaliações no solo arenoso
foi devida a significativa redução no número de nematóides adultos nas lagartas.
A sobrevivência dos nematóides foi determinada pela habilidade dos juvenis
infectivos de alcançar, infectar e se desenvolver em adultos nas lagartas de G.
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mellonella colocadas na superfície, no meio e no fundo dos recipientes contendo os
substratos. O delineamento estatístico foi inteiramente ao acaso com 5 tratamentos, 6
repetições e 3 lagartas por repetição.
Em ambos os experimentos, a análise estatística dos dados foi feita utilizandose o Software SAS - Statistical Analysis System, versão 6.11, e as médias
comparadas pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade. Os dados foram
transformados método arcsen da
%
.
100.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Migração de Steinernema glaseri
Nos substratos com solo arenoso, houve diferença significativa entre os
tratamentos quanto ao número de lagartas infectadas, sendo que o tratamento
contendo apenas solo apresentou o maior número e os tratamentos apenas com torta
de filtro e com 75% deste material mostraram os menores valores em relação a este
parâmetro (Tabela 1). A porcentagem de lagartas infectadas pelo nematóide variou de
61 a 100% na superfície e, de 50 a 94% no fundo da coluna, sendo geralmente mais
alta nos substratos onde a proporção de solo era igual ou mais elevada que a torta de
filtro.
Estes dados demonstram que os nematóides tendem a migrar mais
intensamente em substratos com menores teores de torta de filtro, em ambas as
direções, superfície e fundo da coluna. Quanto ao direcionamento dos nematóides
para a superfície ou para o fundo da coluna, observou-se que não houve diferença
significativa, ao nível de 5% de probabilidade.
No solo arenoso, o número de nematóides adultos encontrados dentro das
lagartas de G. mellonella variou significativamente e seguiu a mesma tendência
indicada pelo número de lagartas infectadas, ou seja, foi maior nos substratos com
menor teor de torta de filtro. No tratamento constituído apenas por torta de filtro, bem
como naquele que recebeu 75% deste material observou-se o menor número de
adultos, enquanto que no tratamento onde foi utilizado o solo nas proporções de 100,
75 e 50%, o número de nematóides adultos por lagarta foi significativamente maior
(Tabela 2).
Independentemente do substrato (torta /solo), foi obtido número
significativamente mais elevado de nematóides na superfície da coluna em relação ao
fundo (Tabela 2). Este comportamento está em concordância com o que foi
observado por (SCHROEDER e BEAVERS, 1987), os quais verificaram que S.
glaseri, diferentemente de outras espécies de Steinernema e Heterorhabditis, migra
mais em direção à superfície.
Nos substratos com solo argiloso o número de lagartas infectadas não variou
entre os tratamentos. Quanto ao parasitismo das lagartas na superfície ou fundo da
coluna, independentemente dos tratamentos, houve diferença significativa, entre as
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médias das duas posições, indicando maior migração dos nematóides para a
superfície (Tabela 3).
Da mesma forma que o número de lagartas infectadas, a variação no número
médio de nematóides que infectaram as lagartas no solo argiloso não foi significativa,
entre os diferentes tratamentos e posições na coluna de substrato (Tabela 4).
Independentemente dos tratamentos utilizados, comparando-se os dados
médios totais do número de nematóides nas lagartas infectadas, neste solo, com os
dados obtidos em solo arenoso, observou-se neste último maior movimentação, em
ambas as direções (Figura1).
Esta observação está de acordo com o que é conhecido sobre movimentação de
nematóides em relação a tamanho de partículas de solo. A porosidade afeta a
movimentação dos nematóides e, desta forma, ocorre menor migração com o
aumento da porcentagem de silte e argila no solo. O nematóide não pode mover-se
entre as partículas de solo quando o diâmetro for menor do que o comprimento do
nematóide (GEORGIS e POINAR, 1983). Juvenis infectivos de S. glaseri, utilizados
nesta pesquisa, medem de 864 a 1448µm. Poinar (1986) considera que estes
nematóides estão classificados entre os maiores do gênero Steinernema. Desta forma,
a sua movimentação é favorecida em solo arenoso, o qual possui partículas maiores
(0,02 a 2 mm) do que solo argiloso (< 0,002 mm). Kaya (1990) também considera
que a textura do solo afeta a habilidade dos nematóides de infectarem o hospedeiro,
bem como sua habilidade de dispersão vertical.
3.2. Persistência de Steinernema glaseri
Analisando os efeitos da torta de filtro sobre a persistência de S. glaseri, em
substratos com solo arenoso, a análise estatística realizada com o número de lagartas
infectadas, apresentada na Tabela 5, mostrou que não houve diferenças significativas.
Mesmo assim, continuou-se observando as lagartas no período de 76 dias. No
entanto, no final deste período houve recuperação de lagartas infectadas nos
tratamentos com 100 e 75% de TF, demonstrando assim sua persistência até este
período. Apesar de não haver diferença estatística, observou-se maior quantidade de
lagartas infectadas pelo nematóide no tratamento 100% solo.
Para o número médio de nematóides adultos de S .glaseri em G. mellonella
neste solo, também foi feita análise estatística até os 16 primeiros dias como observase na Tabela 6.
A persistência dos nematóides foi afetada pelo tipo de substrato e a maior
persistência ocorreu quando a quantidade de solo arenoso era maior do que a de torta
de filtro (TF). Avaliações feitas aos 66 e 76 dias, mostraram que havia nematóides
vivos, embora em pequenas quantidades.
Quando foi utilizado o solo argiloso, observou-se que o número de lagartas
infectadas foi maior onde a proporção de solo era maior e persistiu até o final das
avaliações com 79 dias, apesar da análise estatística ter sido feita até os 16 dias, como
no solo arenoso (Tabela 7).
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Para o número de nematóides, a persistência foi significativamente mais
elevada nos tratamentos com 50% ou mais de solo no substrato. Quando comparado
com solo arenoso o número de nematóides foi menor (Tabela 8).
4. CONCLUSÕES
O nematóide entomopatogênico S. glaseri apresenta a habilidade de migrar
verticalmente e infectar lagartas de G. mellonella em substratos com diferentes teores
de torta de filtro, mesmo naqueles com alto teor (100%) deste composto.
A textura do solo influencia a movimentação dos nematóides, sendo esta
movimentação mais intensa em solo arenoso do que em solo argiloso.
Em solo arenoso, a migração é maior em direção à superfície do que em
direção ao fundo da coluna. Já em solo argiloso, a migração ocorre igualmente nos
dois sentidos.
Os nematóides podem persistir por um período de 76 dias em solo arenoso e 79
dias em solo argiloso.
As proporções de até 25 e 50% de torta de filtro em solo arenoso e de até 25%
em solo argiloso, não apresentam efeitos negativos à S. glaseri. Acima dessas
proporções a torta de filtro atuou de forma negativa do desenvolvimento do
nematóide.
5. AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Norberto Antonio Lavorenti, do Departamento de Tecnologia
Agroindustrial e Sócio Economia Rural da Universidade Federal de São Carlos –
campus de Araras (CCA), pela orientação quanto às análises estatísticas e valiosas
sugestões.
Às Biólogas Regina Helena de Carvalho Assumpção e Lauricema Barbosa Lozada
Marchetti, do Departamento de Biotecnologia Vegetal da UFSCar, campus de Araras
(CCA), pela amizade, incentivo e colaboração na parte prática do trabalho.
6. REFERÊNCIAS
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entomopathogenic nematodes. Journal of Nematology, v. 2, n. 29, p. 220-227, 1997.
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propagation of the DD-136 nematode. Journal Insect Pathology, n.6, p. 417-422,
1964.
Recebido em: 10/11/2004
Liberado para Publicação em: 10/10/2005
HOLOS Environment, v.5 n.1, 2005 - P. 59
ISSN: 1519-8421
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Steinernema carpocapsae (Weiser) into three lepidopteran larvae. Journal of
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insects with entomopathogenic nematodes. Agriculture Ecosystem Environmental,
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infectivity of Neoaplectana glaseri (Nematoda: Steinernematidae). Journal of
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Mcgraw-Hill, 1969. 482p.
MULLER, R.; GOOCH, P.S. Organic amendments in nematode control. An
examination of the literature. Nematropica, n. 12, p. 319-326, 1982.
ORLANDO FILHO, J.; SILVA, G. M.A.; LEME, E.J.A. Utilização agrícola dos
resíduos da agroindústria canavieira. In: ORLANDO FILHO, J. (Coord.). Nutrição e
adubação da cana-de-açúcar no Brasil. Piracicaba: Instituto do Açúcar e do Álcool,
1983. p.229-264.
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POINAR, JR., G.O. Nematodes for biological control of insects. Boca Raton: CRC
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the families Heterorhabditidae and Steinernematidae in soil. Journal of Nematology,
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HOLOS Environment, v.5 n.1, 2005 - P. 60
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Recebido em: 10/11/2004
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Tabela 1. Número total e porcentagem de lagartas de Galleria mellonella infectadas por
Steinernema glaseri, em substratos compostos por solo (SO) arenoso e/ou torta de filtro
(TF) após migração para a superfície ou para o fundo da coluna.
Médias
Superf. da coluna
Fundo da coluna
Total
transform.*
Tratamentos
Nº
%
Nº
%
Nº
%
100%TF
14
77,78
9
50,0
23
63,89
1,92b
75%TF+25%SO
11
61,11
11
61,11
22
61,11
1,83b
50%TF+50%SO
14
77,78
17
94,44
31
86,11
2,58ab
25%TF+75% SO
16
88,89
15
83,33
31
86,11
2,58ab
100%SO
18
100,0
17
94,44
35
97,22
2,92a
Médias transform.*
2,43 a
2,30 a
*Médias seguidas de letras iguais não diferem estatisticamente, ao nível de 5% de probabilidade,
pelo teste de Tukey.
Tabela 2. Números médios de nematóides adultos de Steinernema glaseri em lagartas de Galleria
mellonella em duas diferentes posições na coluna de substrato, em solo (SO) arenoso.
Superfície da
Tratamentos
Médias
Fundo da coluna
Médias originais
coluna
transform.*
100%TF
36,17
61,67
48,92
3,09c
75%TF + 25%SO
92,67
62,83
77,75
3,47bc
50%TF + 50%SO
328,0
63,50
195,75
4,77ab
25%TF + 75% SO
354,67
73,17
213,92
4,92ab
100%SO
361,83
244,17
303,00
5,55a
Médias transform.*
4,72a
3,99b
*Médias seguidas de letras iguais não diferem estatisticamente, ao nível de 5% de probabilidade,
pelo teste de Tukey.
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Tabela 3. Número e porcentagem de lagartas de Galleria mellonella infectadas por Steinernema
glaseri, em substratos compostos por solo (SO) argiloso e/ou torta de filtro (TF) após
migração para a superfície ou para o fundo da coluna.
Superfície
Fundo da coluna
Tratamentos
Total
Médias
da coluna
Transform.*
Nº
%
Nº
%
Nº
%
100%TF
17
94,44
18
100,00
35
97,22
2,92a
75%TF+25%SO
13
72,22
12
66,67
25
69,44
2,08a
50%TF+50%SO
15
83,33
13
72,22
28
77,78
2,33a
25%TF+75%SO
15
83,33
11
61,11
26
72,22
2,17a
100%SO
16
88,89
12
66,67
28
77,78
2,33a
Médias transform.*
2,53a
2,20b
* Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste
de Tukey.
Tabela 4. Números médios de nematóides adultos de Steinernema glaseri em lagartas de Galleria
mellonella em duas diferentes posições na coluna de substrato, em solo (SO) argiloso.
Superfície da
Tratamentos
Médias
Médias
originais
transform.*
Fundo da coluna
coluna
100%TF
14,17
14,17
14,17
2,34 a
75%TF + 25%SO
11,00
16,17
13,59
2,18 a
50%TF + 50%SO
18,00
17,00
17,50
2,56 a
25%TF + 75% SO
56,17
31,17
43,67
3,22 a
100%SO
52,83
38,67
45,75
3,47 a
Médias transform.*
2,95 a
2,56 a
*Médias seguidas por letras iguais que não diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo
teste de Tukey
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Tabela 5. Médias originais dos efeitos principais e da interação, para lagartas infectadas em
experimento de persistência, para o solo (SO) arenoso.
Épocas/Dias
Tratamentos
Médias de Tratamentos*
7
10
13
16
100% TF
1,51
1,50
1,51
1,40
1,48a
75%TF+25%SO
1,45
1,38
1,57
1,35
1,44a
50%TF+50%SO
1,57
1,35
1,38
1,25
1,39a
25%TF+75%SO
1,57
1,51
1,42
1,36
1,47a
100%SO
1,77
1,61
1,53
1,52
1,61a
Médias Épocas*
1,57a
1,47a
1,48a
1,38a
* Médias seguidas por letras iguais não diferem estatisticamente, ao nível de 5% de probabilidade,
pelo teste de Tukey.
Tabela 6. Médias transformadas dos efeitos principais e da interação para o número de nematóides,
em experimento de persistência, para o solo (SO) arenoso.
Épocas/Dias
Tratamentos
Médias de
7
10
13
16
Tratamentos*
100% TF
3,93
2,38
2,93
1,82
2,77ab
75%TF+25%SO
3,35
1,81
2,71
1,36
2,31b
50%TF+50%SO
3,29
2,40
1,88
1,43
2,25b
25%TF+75%SO
3,42
2,86
2,24
1,44
2,49ab
100%SO
4,74
2,96
3,27
2,85
3,46a
Médias Épocas*
3,74a
2,48b
2,61b
1,78c
*Médias seguidas por letras iguais não diferem estatisticamente, ao nível de 5%de probabilidade,
pelo teste de Tukey.
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Tabela 7. Médias transformadas dos efeitos principais e da interação, para o número de lagartas
infectadas em experimento de persistência, para o solo (SO) argiloso.
Épocas/Dias
Médias dos
Tratamentos
7
10
13
16
Tratamentos*
100% TF
1,08
0,96
0,79
0,71
0,89c
75%TF+25%SO
1,40
1,45
0,88
0,96
1,17b
50%TF+50%SO
1,48
1,31
1,57
0,94
1,32ab
25%TF+75%SO
1,72
1,28
1,62
1,20
1,46a
100%SO
1,45
1,42
1,67
1,38
1,48a
Médias Épocas*
1,43a
1,28a
1,31a
1,04b
* Médias seguidas por letras iguais não diferem estatisticamente, ao nível de 5% de probabilidade,
pelo teste de Tukey.
Tabela 8. Médias transformadas dos efeitos principais e da interação, para o número de nematóides
em experimento de persistência, para o solo(SO) argiloso.
Épocas/Dias
Médias dos
Tratamentos
7
10
13
16
tratamentos*
100% TF
1,01
0,71
0,80
0,00
0,63c
75%TF+25%SO
2,19
1,78
0,23
1,05
1,31bc
50%TF+50%SO
2,86
1,91
2,91
0,48
2,04ab
25%TF+75%SO
3,54
1,76
2,42
1,82
2,39a
100%SO
3,14
1,95
3,07
1,79
2,49a
Médias Épocas*
2,55a
1,62b
1,89ab
1,03c
*Médias seguidas por letras iguais não diferem estatisticamente, ao nível de 5% de probabilidade,
pelo teste de Tukey.
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Número de nematóides
250
200
Superfície
Fundo
150
100
50
0
Solo arenoso
Solo argiloso
Tipos de solo no substrato
Figura 1. Número de nematóides adultos de S. glaseri em lagartas de G. mellonella em diferentes
posições nas colunas de solo arenoso e argiloso.
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ILHA DO MARAJÓ: REVISÃO HISTÓRICA,
HIDROCLIMATOLOGIA, BACIAS HIDROGRÁFICAS E
PROPOSTAS DE GESTÃO
THE MARAJÓ ISLAND: HISTORICAL REVISION,
HYDROCLIMATOLOGY, HYDROGRAPHICAL BASINS
AND MANAGEMENT PROPOSALS
Lima, A. M. M.1; Oliveira, L. L.2, Fontinhas, R. L.3; Lima, R.
J. S.4
1
Geóloga, Doutoranda em Gestão de Recursos Hídricos pela Universidade Federal
do Pará – Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (UFPA/NAEA).
[email protected]
2
Metereologista, Universidade Federal do Pará. [email protected]
3
Eng. Agrônomo, Secretaria Executiva de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente –
Núcleo de Hidrometereologia (SECTAM/NHM). [email protected]
4
Geólogo, Secretaria Executiva de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente –
Coordenador do Núcleo de Hidrometereologia (SECTAM/NHM).
[email protected]
Relatório Técnico. Secretaria Executiva de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente –
Núcleo de Hidrometereologia (SECTAM/NHM). Belém. 2004.
RESUMO
A Ilha do Marajó no Estado do Pará é apresentada neste trabalho, através de
suas condições hidroclimatológicas e ambientais, gerando um informe atualizado dos
principais problemas que ocorrem e podem ser agravados, pelo manejo incorreto de
seus recursos, devido às suas particularidades naturais e à sua importância como um
ecossistema único na bacia Amazônica.
Palavras chaves: Ilha do Marajó, hidroclimatologia, condições ambientais, manejo,
bacia Amazônica.
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ABSTRACT
This work was performed in the Island of Marajó city State of Para – Brazil.
The hydroclimatological and environmental conditions are summarized and
argumentation is made on possible problems related to the incorrect management of
island resources. This action can changes the island natural and specific conditions,
which are fundamental to support this important ecosystem in the Amazonian basin.
Key words: Marajó island, hydroclimatological, environmental conditions, resources
handling, Amazonian basin.
1. INTRODUÇÃO
O Arquipélago do Marajó localiza-se na foz do rio Amazonas, recebendo uma
descarga média de 209 000 m3/s valor medido próximo ao município de Afuá
(ANA/ANEEL, 1998); tal característica imprime a este conjunto uma geomorfologia
própria e paisagens naturais heterogêneas, que o fazem de grande interesse para a
pesquisa de ecossistemas e para o aproveitamento turístico. Embora com fortes
atributos naturais, seus municípios componentes, demandam por atividades
econômicas que sustentem a população ali residente.
A relevância ecológica da Ilha do Marajó, atualmente, não é contemplada com
planos de gestão ambiental e hídrica que minimizem as intervenções sofridas. Seu
potencial natural tem sido duplamente empregado, se por um lado desenvolveu-se a
pesca e o extrativismo vegetal, por outro a atividade madeireira constitui a principal
fonte de renda de diversos municípios. Tal atividade, executada sem manejo, tem sido
responsável por um quadro de degradação progressivo ao longo dos anos. A pecuária
extensiva (em especial a bubalina) é outra fonte de renda significativa.
Um dos fatores de maior contribuição à adequada gestão é a estruturação de
um sistema de informações, que possibilite o ordenamento e a análise conjugada em
função de um dado objetivo. Para tanto é fundamental: o resgate de trabalhos
anteriormente realizados, sua atualização e definição de critérios metodológicos.
Neste contexto, este trabalho tem por objetivos: o resgate dos trabalhos
desenvolvidos pelo Instituto do Desenvolvimento Econômico-Social do Pará
(IDESP), realizados entre 1970 e 1980, que até hoje se constituem do mais completo
acervo de informações desta região; reavaliar tais informações, de acordo com as
mudanças da paisagem que ocorridas e que podem ter ocasionado modificações
microclimáticas; e propor uma divisão de bacias hidrográficas para a Ilha, de acordo
com os critérios atuais vigentes nas Políticas Estadual e Nacional de Recursos
Hídricos.
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2. LOCALIZAÇÃO
A Ilha do Marajó pertence à Região Portel-Marajó, mais precisamente à SubRegião do Arquipélago do Marajó. Localizada no extremo norte do Estado do Pará,
apresenta como limites: ao norte o Estado do Amapá e o Oceano Atlântico; ao sul o
rio Pará; a leste a Baía do Marajó; e a oeste o estado do Amapá (Figura 1). Com uma
área total de 59.308,40 km2 (tomando como base somatória da área de seus
municípios componentes), corresponde à cerca de 4,7 % do Estado.
Compõe a Área de Proteção Ambiental do Arquipélago do Marajó - APA
Marajó (Artigo 13, Inciso VI î2º da Constituição do Estado do Pará, promulgada em
05/10/89), pertencendo ao Governo Estadual e controlada pela Secretaria Executiva
de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente – SECTAM. Nesta também se encontra a
Reserva Ecológica da Mata do Bacurizal e do Lago Caraparú (Lei nº 109 de
19/06/87), que pertence à prefeitura de Salvaterra, localizada a nordeste da Ilha do
Marajó, neste município.
3. ASPECTOS CLIMATOLÓGICOS
3.1. Metodologia de tratamento empregada
Em uma análise da literatura disponível, identificam-se duas abordagens que
procuram formalizar a integração do dado geográfico: uma com base em modelos
matemáticos (CÂMARA, 1995) e outra em trabalhos que procuram caracterizar os
principais operadores sobre dados geográficos, mas sem formalismo matemático
(BARBOSA, 1997). Na confecção dos mapas temáticos climáticos foi empregado o
processo de conversão entre representações geométricas de uma variável espacial,
sem formalismo matemático, incluindo a interpolação espacial procurando-se
recuperar a continuidade espacial da variável a partir de sua representação discreta
(KEMP, 1992; BARBOSA, 1997).
Figura 1. Localização no Estado e no país.
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HOLOS Environment, v.5 n.1, 2005 - P. 68
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Semelhante procedimento metodológico já havia sido empregado desde 1970,
por técnicos da Organização dos Estados Americanos (OEA), quando prestavam
colaboração técnica ao Governo do Estado do Pará, através do Instituto do
Desenvolvimento Econômico-Social do Pará (IDESP, 1990), resultando nos
primeiros documentos produzidos ainda durante a vigência do projeto Estudo
Hidroclimatológico da bacia do rio Ararí - Ilha do Marajó.
As informações altimétricas e o mapa da rede de drenagem foram elaborados a
partir das informações extraídas das cartas de elevação do terreno, produzidas a partir
de imageamento de radar acoplado a um satélite, fornecidas pala National
Geospatial-Intelligence Agency (NGA) e pela National Aeronautics and Space
Administration (NASA), disponibilizadas a partir de junho de 2003; empregando os
softwares Arq View e Global Mapper.
3.2. Configuração do sistema de informações
Com base nas informações tabulares, das estações climatológicas (médias
anuais tomando o período de 10 anos), foram estabelecidos campos numéricos, para
cada parâmetro analisado (precipitação, evaporação, temperatura, direção do vento e
umidade), permitindo a interpolação de valores. As isolinhas definidas representam
campos estimados a partir de valores reais, possibilitando a espacialização da
informação (Figura 2).
Figura 2. Sistema de isolinhas (a); Interpolação de valores de geo-campo (b).
3.3. Resultados Obtidos
Os mapas climatológicos produzidos foram elaborados a partir das informações
coletadas em três categorias de estações: Estações Pluviométricas do Instituto do
Desenvolvimento Econômico-Social do Pará (IDESP); Estações Climatológicas do
Instituto do Desenvolvimento Econômico-Social do Pará (IDESP); e Estações
Climatológicas do Instituto Nacional de Metereologia (INMET). O conjunto
possibilitou o recobrimento praticamente total da Ilha, facilitando assim o tratamento
dos dados monitorados (Tabela 1). O período de cobertura varia de 10 a 15 anos,
tendo sido considerados para este trabalho, os dados coletados entre 1970 e 1985.
HOLOS Environment, v.5 n.1, 2005 - P. 69
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Tabela 1. Estações de coleta de dados metereológicos.
Localidade
Estação/Pluviômetro
1. Breves
2. Curralinho
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
São Sebastião da Boa Vista
Muaná
Ponta de Pedras
Santana do Ararí
Camará
Cachoeira do Ararí
Soure
Tuiuiú
11. Santa Cruz do Ararí
Tipo
IDESP INMET
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Localidade
Tipo
Estação/Pluviômetro IDESP INMET
X
12. Fazenda Tapera
13. Fazenda
X
Livramento
X
14. Fazenda Cajueiro
15. Arapixi
X
X
16. Chaves
X
17. Cururu
X
18. Chaves
X
19. Afuá
X
20. Jupatí
X
21. São Miguel dos
Macacos
22. Anajás
X
3.3.1. Pluviometria
A pluviometria na Ilha de Marajó varia de 3100 mm na estação de Soure, na
costa leste da Ilha a 2500 mm na região central representada pelas estações de
Cachoeira do Ararí e Santa Cruz. Logo depois sobe novamente para oeste, na área
correspondente á região de mata, a cerca de 4000 mm. As chuvas são persistentes,
registrando-se em praticamente todos os dias no período de janeiro a junho.
Chama-se de estação mais chuvosa os meses compreendidos de dezembro a
maio, regionalmente chamado de inverno, com os maiores índices entre fevereiro e
abril; ou a menos chuvosa que vai de junho a novembro, regionalmente chamada de
verão; com os menores índices entre setembro e novembro. Apresentando entre as
duas estações um período de transição, em que pode haver antecipação ou retardo das
chuvas, com maior ou menor intensidade, o que é um fato normal em termos de
variação atmosférica.
O Mapa de Precipitação Pluviométrica (Figura 3a) mostra que à medida que há
deslocamento de norte para sul, assim como de leste para oeste, a precipitação
pluviométrica em média anual, vai ficando mais elevada, chegando a amplitudes que
variam de 2300mm a 4000mm, no norte da Ilha (município de Afuá). Isto acontece
tanto no período mais chuvoso (dezembro a maio), quanto no menos chuvoso (junho
a novembro). Este aumento progressivo das chuvas ocorre em direção à linha do
Equador, e condiciona a transição das áreas de campos naturais para floresta (Figura
3b, c).
3.3.2. Temperatura do Ar
A média geral é de 27ºC. Apresenta muito pouca variação mensal e anual,
pode-se julgar que os valores limites médios mensais estão entre 25ºC e 29ºC, sendo
que a temperatura é levemente mais baixa na zona de mata do que na de campos. As
variações diárias são mais importantes, pois se produz apreciável queda da
temperatura durante a noite.
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(a)
(b)
(c)
Figura 3. (a) Mapa de precipitação pluviométrica; (b) Mapa do período mais chuvoso; (c) Mapa do
período menos chuvoso.
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Esta característica se repete, com pequenas variações, em toda as estações e em
todos os meses. As mínimas absolutas são de cerca de 18°C e as máximas de 38°C. O
Mapa de Temperatura do Ar (Figura 4a) ilustra de forma distinta duas regiões. A
região Oriental, onde ocorrem os campos naturais, que sendo mais elevada
topograficamente, apresenta temperaturas médias anuais em torno de 27,3°C; esta
varia em direção a região Ocidental, onde predominam as florestas, atingindo valores
de 25,7ºC. Desta forma, evidencia-se que a vegetação exerce forte influencia na
variação deste parâmetro.
3.3.3. Evaporação e evapotranspiração
O Mapa Evaporimétrico (Figura 4b) mostra que existe uma Faixa de
Transição, com valores entre de 1800 a 1900 mm (média anual), que separa a região
de mata (ocidental) da região de campo (oriental). Nesta faixa encontram-se os
maiores valores de evaporação, que decrescem tanto para área de campo quanto para
a de mata, sendo que, com valores um pouco menores em direção a esta última. A
diferença de vegetação é o principal fator condicionante deste parâmetro, chegando a
variar de 1900 mm a 1100 mm, em direção ao oeste da Ilha (Furo de Breves).
3.3.4. Vento
Em função da sua especial localização, banhada pela foz do rio Amazonas e
pelo Oceano Atlântico, a Ilha do Marajó apresenta velocidade do vento de superfície
mais forte na região oriental (de campos), atingindo a marca de 2,5 m/s. Na região
ocidental (de mata) a velocidade cai chegando a 1,0 m/s a altura do município de
Breves (Figura 4c). Desta forma supõem-se que os ventos de superfície litorânea,
procedentes do nordeste mais fortes, encontram como barreira natural a vegetação de
floresta (com árvores de grande porte), gerando uma queda de velocidade de 2,6 m/s
para 1 m/s tomando a direção leste-oeste da Ilha.
(a)
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(b)
(c)
Figura 4. (a) Mapa de temperatura do ar; (b) Mapa evaporimétrico; (c) Mapa de linhas de corrente.
3.3.5. Umidade Relativa
A umidade relativa é muito alta o ano todo e matem-se acima dos 80%. Em
Cachoeira do Ararí, a zona de campo, o máximo ocorre em janeiro com 90% e o
mínimo em dezembro, com 81%. Em Anajás, zona de mata, o máximo ocorre em
março, media de 92%, e o mínimo em setembro, com 81%. Nota-se a influência da
vegetação, pela maior precipitação na zona de mata. O Mapa de Umidade do Ar
(Figura 5a) mostra que, na faixa de transição (divisão entre campo e mata)
encontram-se os menores valores de umidade relativa do ar (em torno de 90%),
crescendo tanto leste quando para oeste. Sendo que para a região de mata este
crescimento vai até 94% (Furo de Breves), considera-se este condicionado pela
vegetação, enquanto que o menor aumento em direção a região oriental, é
influenciado pelos ventos litorâneos presentes na região.
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3.3.4. Classificação climática segundo: “KOPPEN” e “THORNTHWAITE”
A classificação de KOPPEN classifica o clima a partir da temperatura anual, da
precipitação anual e da temperatura média do mês mais frio (Figura 5b). As subclassificações climáticas que determinam o regime de umidade, verificadas na Ilha do
Marajó são: Af – Clima tropical úmido, com o mês mais seco tendo uma precipitação
média maior ou igual a 60mm; e Am – Clima tropical úmido de monção, com
precipitação excessiva durante alguns meses o que compensa a ocorrência de um ou
dois meses com precipitações inferiores a 60mm, e compreende a maior parte da
Amazônia.
A classificação de THORNTHWAITE considera em sua classificação os
índices representativos de umidade, aridez e eficiência térmica, que são observados
diretamente da precipitação e da temperatura (Figura 5c). Os tipos climáticos
encontrados foram: B2rA´a´; B3rA´a; e B4rA´a´. Estes representam clima úmido,
com pequena ou nenhuma deficiência de água, megatérmico com concentração de
verão sempre inferior a 48%.
(a)
(b)
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(c)
Figura 5. (a) Mapa de umidade do ar; (b) Classificação climática segundo “KOPPEN”; (c)
Classificação climática segundo “THORNTHWAITE”.
4. RECURSOS HÍDRICOS DO MARAJÓ
4.1. Bacias hidrográficas: proposta de divisão
Para esta proposta de divisão foram considerados elementos da hidrografia
local como furos e paranás, além do lago Ararí, por isso alguns limites traçados só
serão válidos na época de seca ou águas baixas, pois durante as cheias, vários destes
ficam interligados. A Tabela 2 apresenta a classificação adotada para a Ilha do
Marajó, considerando a rede de drenagem até a 4º ordem (Figura 6). Esta segue as
normas estabelecidas pelo sistema de codificação de Bacias Hidrográficas (Resolução
nº 30 de 11/12/2002, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos) e pela proposta de
divisão em regiões hidrográficas definida no Núcleo de Hidrometereologia da
SECTAM – PA (Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente).
4.2. Bacias do Marajó Ocidental
A região Ocidental apresenta uma hidrografia representada por um emaranhado
de furos, paranás e igarapés (Figura 6). As topografias variáveis (Figura 7), porém
baixas, associadas, possibilitam a completa integração destes durante as cheias, o que
é uma marca característica deste período.
Entre os sistemas mais importantes destaca-se o conjunto Aramã – Anajás, que
com a implantação da Hidrovia do Marajó, que o interliga ao rio Atuá, uniria as duas
porções, ocidental e oriental da Ilha, possibilitando uma alternativa de navegação,
atualmente realizada pelos furos de Breves, rio Jacaré Grande e Baía do Vieira
Grande.
Como esta região apresenta uma densidade muito grande de feições fluviais,
que se interligam dificultando a definição morfológica de bacias hidrográficas, optou-
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se por considerar apenas 3 bacias como componentes: a Bacia do rio Anajás (a maior
englobando um número significativo de ilhas, furos, igarapés e canais), e as Bacias
dos rios Pracuúba e Canaticú.
Bacias
Bacias
Rio Anajás
Marajó
Oriental
Sub -Região
Hidrográfica
Arquipélago do Marajó
Rio Amazonas (afluente
pela margem esquerda e
foz)
Portel –Marajó
Região
Hidrográfica
Marajó
Ocidental
Tabela 2. Classificação adotada para hidrografia do Marajó.
Rio Pracuúba
Rio Canaticú
Rio Ararí
Rio Paracauarí
Rio Camará
Rio Atuá
Área em km2
Municípios
24082,5 Afuá, Chaves, Anajás e Breves
930,08 São Sebastião da Boa Vista
1538,35 Curralinho
Santa Cruz do Ararí;
7221,33
Cachoeira do Ararí
1211,13 Soure
1018,23 Salvaterra
3971,72 Muaná e Ponta de Pedras
4.2.1. Bacias do Marajó Oriental
Na região oriental as drenagens mais importantes são: os rios Ararí, Paracauarí,
Camará e o Atuá. A Bacia do rio Ararí é interligada a vários cursos d´água, tendo
como feição central o Lago Ararí (Figura 6). Com cerca de 110 km2 de superfície no
seu nível inferior, este lago pode ser considerado como a maior depressão da Ilha. A
bacia toda apresenta desta forma cursos que drenam em direção ao Atlântico e em
direção à Foz do Amazonas. O maior efluente do lago Ararí é o rio Ararí, que tem sua
desembocadura na porção sul da ilha. O rio Paracauarí desemboca diretamente no
Oceano Atlântico, porém as águas não são totalmente salobras devido à dissolução
causada pelo grande volume de água trazida pela baia e pelo rio Amazonas. Rios
menores, alguns com estuários importantes, completam a drenagem a oeste desta
zona.
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Figura 6. Rede de drenagem e divisão hidrográfica.
Figura 7. Variação altimétrica total da Ilha.
4.3. Hidrogeologia
Segundo Tancredi (1986) os aqüíferos da parte superior da Ilha, são
constituídos pelos depósitos sedimentares das Formações Tucunaré e Pirarucu (Grupo
Pará) e pela Formação Marajó. As demais unidades hidrogeológicas situam-se em
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profundidades que se tornam onerosas em termos de pesquisa e explotação. A recarga
destes sistemas é pela água das chuvas, por meio de infiltração direta e/ou diferencial.
A flutuação do nível hidrostático ou piezométrico apresenta valores de até 4 metros
de amplitude, estando seus valores, durante o final da estação seca a apenas 6 metros
de profundidade, em relação à superfície do terreno. O gradiente hidráulico e a
velocidade de escoamento das águas subterrâneas são pequenos e estão subordinados
ao relevo plano, de pequenas amplitudes e a baixa permeabilidade dos terrenos
argilosos, com grande distribuição na ilha.
5. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
5.1. Resgate histórico
O levantamento das informações realizado para elaboração deste trabalho
observou que o monitoramento climatológico realizado entre 1970 e 1990 foi
interrompido e repassado a prefeituras e a órgãos governamentais estaduais e federais
para a sua continuidade, o que não se concretizou. A base disponível permitiu
estruturar um conjunto de informações cartográficas referentes a: precipitação
pluviométrica, temperatura, umidade relativa, direção dos ventos, evaporação e
classificação climática.
As informações referentes à topografia e a hidrografia foram obtidas a partir do
modelo de terreno utilizando Imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission –
geradas pela NASA).
Estas conjugadas ainda compõem o acervo mais completo sobre o meio físico
do Marajó, devendo ser ampliado e atualizado pelos órgãos competentes em função
de sua importância ecológica, uma vez que o conflito entre a manutenção de seus
ecossistemas naturais e à necessidade do desenvolvimento socioeconômico local tem
produzido Índices de Desenvolvimento Humano Municipais baixos (Tabela 3), com
variações, entre os anos de 1991 a 2000, na maioria dos municípios, inferiores a 0,1,
mostrando um descompasso entre a exploração dos recursos naturais e o retorno
social local.
Tabela 3. IDH dos municípios do Marajó.
Município
IDHM, 1991 IDHM, 2000 Variação de 1991 à 2000
Afuá
0.511
0.612
0.101
Anajás
0.474
0.595
0.121
Breves
0.534
0.63
0.096
Cachoeira do Arari
0.601
0.68
0.079
Chaves
0.526
0.581
0.055
São Sebastião da Boa Vista
0.597
0.666
0.069
Curralinho
0.517
0.596
0.079
Muaná
0.584
0.653
0.069
Ponta de Pedras
0.609
0.652
0.043
Salvaterra
0.654
0.715
0.061
Santa Cruz do Arari
0.595
0.63
0.035
Soure
0.676
0.723
0.047
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. PNUD/IPEA. 2003.
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5.2. Reavaliação segundo as mudanças da paisagem
A floresta Amazônica, com característica tropical úmida e de grande extensão,
tem sido objeto de estudos por vários cientistas que, visando prever o impacto do
desmatamento sobre o clima local e global, e estudar com mais profundidade as
influências, do microclima regional e no clima do planeta, causadas pela intervenção
humana no ecossistema nos últimos anos, vêm se utilizando modelos de circulação
geral da atmosfera (MCGAs) para se avaliar o efeito das trocas de energia entre a
superfície e a atmosfera.
Dentre os estudos numéricos, alguns tratam da simulação do clima em
situações de floresta e desmatamento (substituição de superfícies vegetadas de
florestas por pastagens). Esses trabalhos, de modo geral, indicam que a substituição
em larga escala de floresta por área de pastagem tem efeitos consideráveis no clima
regional e do mundo como, por exemplo, os resultados encontrados por Nobre et al.
(1991) que observaram uma redução na evapotranspiração de 30%, um decréscimo
de 20 a 30% na precipitação e um aumento de 1° a 3°C na temperatura do ar.
Tomando como base o mapa de Temperatura do Ar (Figura 4a) observa-se que o
aumento de um grau tornaria cada vez mais a região ocidental semelhante a oriental,
em termos de seus ecossistemas dependentes componentes.
Em recentes pesquisas realizadas na Amazônia observou-se que a substituição
continua da vegetação natural da floresta úmida por pastagens afeta também o
balanço radiativo à superfície (Bastable et al.,1993) pois, em média as florestas
absorvem 11% do saldo de radiação a mais do que nas pastagens, sendo que no
período menos chuvoso, essas diferenças de intensidade de fluxo de radiação solar
entre florestas e pastagens podem estar relacionadas ao aumento de nebulosidade
sobre a pastagem ou então à influência dos aerossóis presentes na atmosfera,
associando desmatamento e queimadas, com possíveis impactos no clima, causados
pelas modificações nos balanços de radiação e energia. O Mapa Evaporimétrico
(Figura 4b) mostra uma variação mais significativa na região ocidental do que na
oriental, o que a torna mais vulnerável as variações locais de balanço hídrico.
O divisor topográfico (Figura 7) da porção central da Ilha é também refletido
no Mapa de Umidade do Ar (Figura 5a), configurando quadros distintos para as
porções ocidental e oriental; semelhante ao que ocorre no evaporimétrico.
Um número maior de queimadas ocorre no período menos chuvoso (meses
mais secos: setembro a novembro); estas se dão para renovação de pastagens com a
correção da acidez ou nivelamento do solo, abertura de novas áreas de pastagens e de
plantações de culturas. O período mais chuvoso varia de sul para norte (Figura 3b),
enquanto que o menos chuvoso varia de leste para oeste, semelhante ao resultado do
mapa de linhas de corrente (Figura 4c), desta forma os municípios de Afuá e Chaves,
no extremo noroeste da Ilha, conservam os maiores índices pluviométricos durante
todo o ano (Figura 3a).
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A precipitação pluviométrica local influencia também os sistemas aqüíferos
locais pois segundo Tancredi (1986), .a recarga destes sistemas pela infiltração direta
e/ou diferencial das águas superficiais, especialmente das chuvas.
5.3. Divisão de bacias hidrográficas
Com base na análise da hidrografia (Figura 6a) e da climatologia da Ilha, é
possível distinguir duas regiões distintas: o Marajó Ocidental e o Marajó Oriental. O
primeiro representado pelas bacias dos rios Anajás, Pracuúba e Canaticú, além de um
complexo recorte de furos e igarapés. Concentra precipitações pluviométricas que
variam de 2500 a 3500 mm (média anual), chegando a valores superiores a 4000 mm
no extremo noroeste; as temperaturas são inferiores a 26°C (média anual); com
umidade relativa do ar superior a 94% (média anual); a evaporação varia de 1400 a
1000 mm (média anual); e o período menos chuvoso apresenta valores superiores a
800 mm (média anual); tais características mostram uma região com um aporte
hídrico que garante a manutenção do sistema durante todo o ano.
O Marajó Oriental é representado pelas bacias dos rios Ararí, Paracauarí,
Camará e Atuá. Concentra precipitações pluviométricas que variam de 2500 a 3000
mm (média anual), chegando a valores inferiores a 2500 mm no extremo oriental; as
temperaturas são maiores que 27°C (média anual); com umidade relativa do ar
inferior a 90% (média anual) na região mais central e em torno de 93 a 94% (média
anual) no extremo oriental; a evaporação varia de 1500 a 1800 mm (média anual); e o
período menos chuvoso apresenta valores inferiores a 500 mm (média anual) no
extremo oriental; tais características mostram uma região com um aporte hídrico
variável, do extremo oriental até a porção central, apresentando em períodos bem
definidos, situações de estiagem, que se tornam significativas à manutenção dos
sistemas locais, principalmente na porção mais central, próxima a divisa com o
Marajó Ocidental.
5.4. Considerações Finais
De forma significativa, a climatologia e a hidrografia, mostram que existem 2
regiões distintas: O Marajó Ocidental e o Marajó Oriental.
O Marajó Ocidental apresenta uma situação de maior disponibilidade hídrica
no sistema e diversidade de sub–ambientes: insular, de furos, de igarapés, estuarino e
marinho. Seus municípios componentes são: Anajás, Afuá, Chaves, Breves,
Curralinho e São Sebastião da Boa Vista.
O Marajó Oriental apresenta uma disponibilidade hídrica variável, sendo
composto pelos municípios de: Muanã, Soure, Salvaterra, Ponta de Pedras, Cachoeira
do Ararí e Santa Cruz do Ararí; concentrando a maior parte da base econômica da
Ilha, em termos de turismo e atividade extrativista.
Como discussão principal propõe-se que:
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ƒ
ƒ
ƒ
sejam definidos critérios que compatibilizem a sustentabilidade local e a
conservação/preservação da APA, em programas específicos para as duas regiões
definidas Ocidental e Oriental;
a rede de monitoramento anteriormente instalada deve ser reativada para que a
grande quantidade de informações disponíveis possa ser comparada, em função das
mudanças na paisagem ocorridas nos últimos 20 anos. Estas se mostraram
significativas, e devem ser quantificadas em função das componentes
climatológicas e hidrológicas de seus principais rios;
as bacias hidrográficas do Marajó devem ganhar um contexto de classificação
individualizado para a Ilha, considerando as feições fluviais presentes, assim como
os volumes de água envolvidos. Uma rede para avaliar a qualidade e a quantidade
destas águas deve ser implementada, principalmente nas principais bacias que
banham sedes municipais e atravessam as áreas destinadas à criação de gado, para
avaliar a contaminação por efluentes (esgotos e resíduos urbanos) e as variações de
altura do nível das águas, como subsídio ao controle das cheias naturais.
REFERÊNCIAS
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1998.
BARBOSA, C. C. F. Álgebra de mapas e suas aplicações em sensoriamento remoto e
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BASTABLE, H.G.; SHUTTLEWORTH, W.J.; DALLAROSA, R.L.G.; FISCH, G.;
NOBRE C.A. Observations of climate, albedo and surface radiation over cleared and
undisturbed Amazonian forest. Journal of. Climatology, Chichester, v. 13, p. 783796, 1993.
CÂMARA, G. Modelos, linguagens e arquiteturas para banco de dados geográficos.
1995. Tese (Doutorado em Sensoriamento Remoto) - Instituto Nacional de Pesquisas
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IDESP. Instituto do Desenvolvimento Econômico-Social do Pará. Estudos integrados
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NOBRE, C.; SELLERS, P.; SHUKLA, J. Amazonian deforestation and regional
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KEMP, K. Environmental Modelling with GIS: A Strategy for Dealing with Spatial
Continuity. NCGIA Technical Report. 1992.
TANCREDI, A.C. Hidrogeologia da região oriental da Ilha do Marajó. Belém:
IDESP. 1986.
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QUALIDADE DA ÁGUA NAS ÁREAS ATERRADAS COM
ENTULHO EM UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS, BRASIL.
WATER QUALITY IN THE AREAS COVERED BY
WASTE MATERIAL AT UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS,
BRAZIL.
Rocha, A. L.¹, Nishiyama, L.²; Bellingieri, P. H.³
¹ Bióloga e Mestre em Geografia, pela Universidade Federal de Uberlândia.
² Geólogo e Prof. Dr. do Instituto de Geografia, da Universidade Federal de
Uberlândia.
³ Engenheiro Civil e Mestrando em Engenharia, pela UNICAMP.
RESUMO
Nos dias atuais o reaparecimento de várias doenças nas áreas urbanas evidencia
a pouca atenção dispensada ao saneamento básico e ao manejo correto e eficiente dos
resíduos sólidos, incluindo-se o entulho. Dessa forma, foram coletadas amostras de
água em três pontos diferentes da cidade de Uberlândia-MG, aterrados com entulho e
outros resíduos sólidos associados. Este estudo demonstrou através da análise
química, que há realmente sinais de contaminação das águas subterrâneas e o
monitoramento precisa ser ampliado, tanto em relação aos parâmetros analisados
quanto ao número de pontos de amostragem. Também, deve-se destacar que os níveis
de contaminação detectados confrontam às leis ambientais brasileiras e alertam que o
aterro não é o melhor destino para este dejeto.
Palavras-chave: qualidade da água, entulho, impacto ambiental, manejo de resíduos.
ABSTRACT
Nowadays the reappearing of several diseases at urban areas gives evidence of
a negligence for the basic sanitation and the correct (efficient) waste management,
including the waste material. In such case, it was collected water samples at three
different places at Uberlândia-MG, (Brazil), from areas covered by debris, waste
material and other solid residues landfill. So, this study has shown by the chemical
analysis that there are signs of subterranean water contamination and it is necessary
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Recebido em: 18/05/2005
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to extend the research with more parameters to be analyzed and, also to increase the
number of samples. Thus, the contamination signs are not following the Brazilian
environmental regulations and the landfill at Uberlândia is not best place for the
debris.
Key words: water quality, waste material, environmental impact, waste management.
1. INTRODUÇÃO
A preocupação em preservar a saúde já aparece na sociedade humana, desde os
períodos mais remotos. Na Idade Antiga, a relação das pessoas com o ambiente pode
ser notada pela escolha dos locais para a construção das vilas e cidades. Elas eram
sempre instaladas nos lugares considerados mais seguros e saudáveis, bem arejados e
iluminados. Roma, capital do Império Romano, e Atenas, principal cidade grega,
foram edificadas em locais onde o clima era agradável e os mananciais hídricos
abundantes. Partindo-se dos primeiros estudos do sanitarismo, realizados por
Hipócrates (Pai da Medicina), essas idéias ficam evidenciadas na demonstração de
uma correlação direta entre a higienização do corpo individual e do ambiente físico e
social (SILVA et al., 1997).
Com o desenvolvimento das ciências relacionadas à
saúde, esses conceitos, defendidos na Idade Antiga, resgatam seu “status” no
pensamento dos séculos XVIII e XIX; as pessoas passaram a dispor de mais
informações sobre o que é bom e o que é nocivo a sua saúde. Um resultado da
transformação sócio-econômica gerada, especialmente, pela Revolução Industrial
(COSTA, 1987; SILVA et al., 1997).
Movidos pelas mudanças sociais, políticas e econômicas, além das grandes
epidemias (por elas impulsionadas); sanitaristas, políticos e filósofos, tais como
Engels, Chadwick, Snow, Hobsbawn, debateram sobre essas idéias, a fim de se
estabelecer normas e padrões de conduta, inclusive sanitária. E a teoria miasmática
do século XIX – “as febres epidêmicas tinham origem na matéria animal e vegetal em
putrefação, nas águas estagnadas e na má circulação de ar” – sendo difundida na
aplicação dos programas de prevenção e reestruturação do ambiente urbano (COSTA,
1987; SILVA et al., 1997).
Segundo Costa (1987), todos esses esforços, na verdade, não tiveram cunho
estritamente social; as leis sanitárias objetivaram extinguir as epidemias que
ameaçavam o progresso e os interesses da sociedade burguesa e legitimar a expulsão
das populações pobres para os entornos urbanos e/ou cortiços.
De acordo com a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA, 2001), a intensa
urbanização e industrialização, com suas repercussões nas condições de vida e
trabalho das pessoas, acompanhadas das ações de controle das doenças infectocontagiosas e do aumento da expectativa de vida, fizeram com que o quadro de
morbi-mortalidade passasse por mudanças significativas ao longo do último século,
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embora de forma mais tardia e complexa nos países de industrialização recente e
economia periférica.
Minc (1997) definiu a situação das grandes cidades da seguinte maneira: “A
grande cidade agoniza: asfixiada por monóxido de carbono, cercada de lixo químico,
sitiada pelos guetos que a desigualdade criou, vitimada pela leptospirose de ratos e
picada pelos mosquitos da Dengue”.
Assim, a poluição afeta a todos, ricos e pobres, mas em especial aqueles
expostos ao contato direto com o agente poluidor.
Nos dias atuais, o reaparecimento de várias doenças nas áreas urbanas
evidência a pouca atenção dispensada ao saneamento básico e ao manejo correto e
eficiente do lixo, incluindo-se o entulho. Há muito o Brasil é exemplo desse
problema, pois, segundo o último levantamento realizado pela Associação Brasileira
de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), em 1993, 80% das consultas e 65% das
internações realizadas no país, no ano de 1992, tiveram como causas principais à falta
de água potável e de saneamento básico. Mais alarmante ainda, os dados mostraram
que, 925 dos municípios brasileiros não possuíam tratamento de esgotos, 59% não
possuíam destinação final para o lixo e em 58% não havia água tratada segundo
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais,
(CREA-MG, 1998).
Em “tempos de Dengue”, deve-se ressaltar que a proliferação de seu vetor –
Aedes aegypti – está mais diretamente relacionada com o acúmulo de lixo e a limpeza
urbana. Em lotes vagos, ferros-velhos e borracharias, o mosquito encontra ambiente
propício, já que eles servem como reservatórios de água parada. Isto é mais bem
exemplificado pela descoberta do Aedes albopictus, um vetor menos exigente que o
Aedes aegypti, capaz de se reproduzir em água suja e poluída (CREA-MG, 1998).
Assim, o objetivo desta pesquisa foi avaliar quimicamente (qualitativa e
quantitativamente) o grau de contaminação, ocorrido na cidade de Uberlândia, Minas
Gerais (Brasil), em áreas aterradas com entulho e outros resíduos sólidos: pois, o
entulho da construção civil, misturado a outros tipos de resíduos sólidos, é passível de
contaminar o solo e as águas superficiais e subterrâneas, se utilizado para fins de
aterramento em áreas de erosão (voçorocas) (ROCHA, 2000).
2. MATERIAIS E MÉTODOS
O conhecimento prévio advindo do estudo desenvolvido entre 1999 e 2000
(ROCHA, 2000), das áreas do município de Uberlândia em seu perímetro urbano
aterradas com entulho, resultou na escolha de três locais para avaliação da qualidade
da água:
™ Aterro do bairro Aclimação (ponto 01) - Originalmente era uma grande
erosão, desenvolvida há cerca de 40 anos, junto à nascente do Córrego
Perpétua, provavelmente em decorrência da ação antrópica (exploração de
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saibro). A partir de 1.999 esta área foi aterrada pela Prefeitura Municipal de
Uberlândia com resíduos da construção civil associados a outros tipos de
resíduos sólidos, aos quais se incluem resíduos domiciliares e comerciais
(ROCHA, 2000). A água da nascente existente no interior da erosão foi
drenada à jusante do aterro. Dessa forma, a coleta de amostras de água foi
realizada na saída do dreno.
™ Aterro do bairro Santa Rosa (Ponto 02) - A grande erosão desenvolvida
em decorrência da ação antrópica foi, a partir de 1996, aterrada com entulho
da construção civil e outros tipos de resíduos sólidos. Em procedimento
semelhante ao aterro do bairro Aclimação, o curso d’água existente no
interior da erosão foi drenado e canalizado para a porção jusante do aterro.
A coleta da água foi realizada na saída do dreno.
™ Aterro do bairro Morumbi (ponto 03) - Em 2.001 foram dispostos e
aterrados resíduos de construção civil e outros tipos de resíduos sólidos em
cavas existentes às margens da BR365. Em razão do não exposição da água
subterrânea fez-se necessária à perfuração de um poço até o nível do lençol
freático para coleta e monitoramento. A perfuração do poço foi realizada
sob orientação do Prof. Dr. Luiz Nishiyama (UFU) e do Eng. Civil Franklin
Moreira (Secretaria Municipal de Obras), por seu profundo conhecimento
da área em questão, utilizando-se um trado manual até a profundidade de 10
metros, cerca de 2 metros abaixo do limite entre a zona insaturada e
saturada (superfície piezométrica) do solo.
O poço foi, então, revestido internamente por um tubo de PVC de 75 mm de
diâmetro perfurado ao longo de sua extensão para permitir a entrada da
água e revestida com manta geotextil (Bidim), para impedir a entrada de
materiais finos do solo carreados pela água para o interior do poço. Cerca
de 1 m do tubo de PVC ficou acima do solo e foi fechado com uma tampa
confeccionada com o mesmo material.
Definiu-se também um ponto de referência para as análises físico-químicas.
Considerou-se, como critério para a escolha deste ponto, um local relativamente
próximo (dentro do mesmo bairro) e isento de influência dos resíduos dispostos. O
local escolhido foi um poço domiciliar, tipo cisterna, localizado à montante do aterro,
à Rua Antônio Francisco Rosa nº 65.
As coletas foram feitas de acordo com a sazonalidade climática da região,
caracterizada por duas estações bem definidas: uma estação chuvosa que corresponde
aos meses de outubro a março e, a outra, seca que compreende o período que se
estende de abril a setembro. A adoção deste critério para as amostragens deve-se a
sazonalidade climática que, por sua vez, influencia na maior ou menor quantidade de
água percolada através da superfície do aterro e, conseqüentemente, a quantidade e o
transporte de contaminantes.
As amostras referentes ao período de seca foram coletadas no dia 26 de
setembro de 2002, portanto, no auge da seca, no período da manhã, com temperatura
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ambiente em torno de 20° C e, a quantidade de água amostrada para cada ponto foi
em média, 1,5 L. Nos pontos 01 (aterro do bairro Aclimação), 02 (aterro do bairro
Santa Rosa) as amostragens foram realizadas em locais de surgência. O recipiente
coletor foi apoiado pela base e submerso até uma profundidade de 20 cm da
superfície, de modo que, a boca do recipiente ficasse voltada contra o da corrente. Em
seguida, com o auxílio de um funil, o conteúdo foi transferido a um recipiente de
vidro de coloração âmbar, previamente etiquetado com as seguintes informações
Companhia Tecnologia e Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB, 1974):
‰ Nome do coletor;
‰ N. º do ponto de coleta;
‰ Data;
‰ Horário;
‰ Temperatura da água;
‰ Temperatura ambiente; e,
‰ Quantidade de água coletada.
Também, no dia 26/09/02, no ponto 03 (aterro do bairro Morumbi) a coleta foi
realizada, no poço de monitoramento, utilizando um recipiente coletor construído
com um tubo de PVC de uma polegada e munido de um retentor de água na
extremidade inferior, com capacidade de 100 ml e preso na outra extremidade a um
cordão de comprimento suficiente para atingir o NA (9 m). Durante a amostragem
procurou-se descer o coletor através do poço sem tocar nas suas laterais e submergir
completamente na água, contudo sem tocar no fundo para não colocar em suspensão
os materiais finos (argila) ali depositados. Uma vez cheio, ele era recolhido à
superfície onde imediatamente se procedia à medição da temperatura e, em seguida, o
seu conteúdo era cuidadosamente repassado a um recipiente de coleta, previamente
etiquetado, como descrito acima. Este procedimento de coleta de água foi repetido 10
vezes para se obter o volume de 1 litro.
As coletas no período chuvoso aconteceram em 2 etapas:
I. No dia 29 de novembro de 2002, no ponto 02; já que, nos outros locais o atraso
das chuvas interferiu radicalmente no volume de água para coleta; e,
II. No dia 10 de janeiro de 2003, nos pontos 01 e 03. Entretanto, o ponto 03 teve
toda a sua faixa institucional de 30 m, onde estava localizado o poço de
monitoramento, aterrada com entulho e outros tipos de resíduos sólidos pelo
município. Assim, a coleta foi impossibilitada.
Quanto aos pontos 01 e 02, os procedimentos aconteceram no período da tarde;
em razão de chuvas intensas que aconteceram no período da manhã. A temperatura
ambiente estava em torno de 31° C e, a quantidade média amostrada para cada ponto
foi de 1,5 L.
Todas as amostras tão logo coletadas foram encaminhadas ao Instituto de
Química/Diretoria
de
Assessoramento
Técnico
e
Análise
Química
(DIAAQ)/Universidade Federal de Uberlândia.
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O material foi analisado de acordo com as exigências previstas nas Normas
Brasileiras (NBRs) e da Legislação Ambiental Brasileira para os Recursos Hídricos –
Resolução nº 20, de 18 de junho de 1986, do CONAMA.
O quadro 01, a seguir, apresenta os aspectos metodológicos empregados pelo
referido laboratório para esta etapa do estudo.
QUADRO 01 – Aspectos metodológicos empregados para análise das amostras de água, pela
DIAAQ/IQ/UFU.
PARÂMETROS
NBR
APARELHAGEM
MARCA
OBJETIVO DA
ANÁLISE
pH
TEMPERATURA
9251
phmetro
Digimed
-
Termômetro (de 10° C a 50°
C)
-
12614
Digestor para DBO
Tecnal
DQO1
10357
Digestor para DQO
Marconi
DUREZA2 TOTAL
5760
Aparelhagem convencional de
química analítica
-
5760
Aparelhagem convencional de
química analítica
-
ALUMÍNIO
15814
Espectrofotômetro de absorção
atômica
CG.AA.905
CÁDMIO
11014
MB – 3156
Espectrofotômetro de absorção
atômica
CG.AA.905
CHUMBO
11016
MB – 3157
Espectrofotômetro de absorção
atômica
CG.AA.905
DBO
DUREZA DE CÁLCIO
Determinação do pH em
amostras de corpos d’água
em geral, águas de
abastecimento, águas
salinas, residuárias,
domésticas e industriais.
Determinação da demanda
bioquímica de oxigênio
(DBO) em amostras de
coleções líquidas em geral,
efluentes domésticos e
industriais, lodos e água do
mar.
Determinação da demanda
química de oxigênio (DQO)
em águas superficiais e
residuárias.
Determinação de cálcio em
águas naturais, tratadas e de
caldeiras, empregando-se o
sal dissódico de ácido
etileno diamino tetracético
(EDTA).
Determinação de cálcio em
águas naturais, tratadas e de
caldeiras, empregando-se o
sal dissódico de ácido
etileno diamino tetracético
(EDTA).
Determinação de alumínio
em águas minerais e de
mesa, por espectrofotometria
de absorção atômica.
Determinação de cádmio em
águas minerais e de mesa,
por espectrofotometria de
absorção atômica.
Determinação de chumbo
em águas minerais e de
mesa, por espectrofotometria
de absorção atômica.
FONTE: DIAAQ/IQ/UFU, 2003.
1
DQO (DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO). Trata-se da medida da quantidade de agente oxidante químico energético necessário para oxidar a
matéria orgânica de uma amostra, expressa em unidades equivalentes à mg de O2 por litro. Segundo a NBR 10357, um valor aceitável seria em torno
de160 mg O2 / L; ou seja, uma média entre os três métodos possíveis de análise (Refluxo Aberto, Refluxo Fechado Titulométrico e Refluxo Fechado
Colorimétrico) (CETESB, 1974).
2
Dureza da água. Quase toda ela provém do cálcio e do magnésio, que contribuem para a incrustação que se produz quando a água passa por
mudanças de temperatura e de pressão. A dureza total pode ser dividida em duas partes: a dureza de carbonato – é a da porção do cálcio e do
magnésio suscetível de se combinar com o bicarbonato e a pequena quantidade de carbonato presente -; e, a dureza de não carbonato – que é a
diferença entre a dureza total e a dureza de carbonato. É causada pelo cálcio e magnésio que se combinam com íons sulfato, cloreto e nitratos
presentes. Uma dureza de 50 a 150 ppm não é objetável para a maioria dos usos da água. Acima de 150 ppm ela é decididamente perceptível
(CETESB, 1974).
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para uma melhor compreensão dos resultados, é preciso conhecer os princípios
normativos que regem o assunto.
A qualidade de uma determinada água está relacionada à sua função de uso e
da ocupação do solo na bacia hidrográfica. Desse modo a Resolução n. º 20/86 do
CONAMA diz respeito á corpos d’água superficiais e os classifica em 8 classes
diferentes:
‰ CLASSES I, II, III, IV – ÁGUAS DOCES = Águas com salinidade igual ou
inferior a 0,50%;
‰ CLASSES V e VI – ÁGUAS SALOBRAS = Águas com salinidade igual ou
inferior a 0,50% e 30%; e,
‰ CLASSES VII e VIII – ÁGUAS SALINAS = Águas com salinidade igual ou
superior a 30%.
Entretanto, no caso de um estudo como este em que houve amostra coletada
num poço de monitoramento, se faz uma comparação de valores a partir desta
Resolução, observando-se que as águas analisadas poderiam ser enquadradas na
Classe III com base nos parâmetros analisados; desde que se considerassem outros
parâmetros como o oxigênio dissolvido (OD), coliformes totais e fecais etc.
Vale ressaltar, que os parâmetros acima descritos não contemplam a todos
aqueles analisados pelo DIAAQ para este estudo. Por essa razão, foi necessária uma
consulta à literatura científica especializada para esclarecer os limites aceitos, quanto
a DQO e a Dureza da água (CETESB, 1974).
Mediante tais informações, é possível realizar a análise dos resultados
(TABELAS 01 e 02).
TABELA 01 – Resultados da análise das amostras coletadas no período seco (Setembro/2002).
Parâmetros analisados
Ponto 01
Ponto 02
Ponto 03
Ponto Referencial
pH
6,01
7,30
7,44
4,76
Temp. °C (in situ)
20
22
25
20
DBO (mg. L-1)
106
9,0
235
2,0
DQO (mg. L-1)
207
16
412
3,84
Dureza total (mg. L-1)
33,8
115
52
5,0
Dureza cálcica (mg. L-1)
23,8
81,4
37,7
3,57
Alumínio (mg. L-1)
Inferior a 0,1
Inferior a 0,1
Inferior a 0,1
Inferior a 0,1
Cádmio (mg. L-1)
Inferior a 0,1
Inferior a 0,1
Inferior a 0,1
Inferior a 0,1
Chumbo (mg. L-1)
Inferior a 0,1
Inferior a 0,1
Inferior a 0,1
Inferior a 0,1
Fonte: DIAAQ/IQ/UFU, 2002.
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TABELA 02 - Resultados da análise das amostras coletadas no período chuvoso (Novembro/2002
– ponto 02, Janeiro/2003 – ponto 01).
Parâmetros analisados
Ponto 01
Ponto 02
Ponto 03
Ponto Referencial
pH
6,76
7,02
Sem dados
4,76
Temp. °C (in situ)
28
25
Sem dados
20
DBO (mg. L-1)
237
6,0
Sem dados
2,0
DQO (mg. L-1)
440
11,0
Sem dados
3,84
Dureza total (mg. L-1)
126
208,5
Sem dados
5,0
Dureza cálcica (mg. L-1)
93
145,0
Sem dados
3,57
Alumínio (mg. L-1)
Inferior a 0,1
0,5
Sem dados
Inferior a 0,1
Cádmio (mg. L-1)
Inferior a 0,1
Inferior a 0,1
Sem dados
Inferior a 0,1
Chumbo (mg. L-1)
Inferior a 0,1
Inferior a 0,1
Sem dados
Inferior a 0,1
Fonte: DIAAQ/IQ/UFU, 2002 e 2003.
Com relação ao potencial hidrogeniônico (pH), observou-se que os valores
estão dentro dos padrões do CONAMA – 6,0 a 9,0 -, tanto no período seco (Ponto 01
– 6,01; Ponto 02 – 7,30; Ponto 03 – 7,44) quanto no chuvoso (Ponto 01 – 6,76; Ponto
02 – 7,02; Ponto 03 – sem dados). Este parâmetro está relacionado com a capacidade
de corrosão e incrustação de sistemas. A concentração relativa de íons hidrogênio na
água indica se essa atua como um ácido fraco ou como uma solução alcalina. Assim,
quando a quantidade de hidrogênio é excessiva em relação aos outros íons, resulta
uma reação ácida e, águas com esse comportamento tendem a atacar os metais. A
escala de pH é expressa da seguinte forma: um pH igual a 7,0 indica uma solução
neutra, menor do que 7,0 uma condição ácida e maior do que 7,0 uma solução
alcalina (CETESB, 1974). A única exceção foi o Ponto Referencial, cujo valor de
pH encontrado foi 4,76. Embora seja considerada uma água ácida, a acidez mineral –
aquela proveniente de uma fonte estranha, que não simplesmente do gás carbônico
(BRANCO, 1972) – só se verifica com pH inferior a 4,5 (CETESB, 1974).
Quanto a DBO e a DQO, antes de qualquer comentário dos resultados, é
preciso relembrar a dinâmica do oxigênio para a sobrevivência dos organismos vivos.
O oxigênio necessário à vida é encontrado em estado gasoso na atmosfera, onde sua
proporção é de 21% aproximadamente. A água livre de poluição e em contato com o
ar atmosférico é capaz de dissolver o oxigênio até uma certa quantidade máxima,
definida pelo ponto de saturação que depende da pressão e da temperatura. Por
exemplo, ao nível do mar (1 atm ou 760 mm Hg de pressão), o ponto de saturação do
oxigênio na água é de 14,6 mg.L-1 a 0°C e de 10,2 mg.L-1 a 15°C. Disposta no terreno
uma massa de matéria orgânica sofrerá decomposição na presença de oxigênio
(aeróbia) apenas na superfície exposta. Em seu interior, onde o oxigênio do ar não
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tem acesso, ocorrerá à decomposição anaeróbia. Entretanto, se a mesma for diluída
em grande volume de água contendo oxigênio dissolvido, o processo pode ser
totalmente aeróbio, já que essas condições propiciam uma perfeita interação entre as
substâncias orgânicas, o oxigênio e as bactérias aeróbias do solo (DACACH, 1979).
Então, a DBO e a DQO mostraram-se alteradas para os pontos 01 e 03. Dessa
forma, pode-se dizer que quanto maior a DBO e a DQO, mais elevado é o teor de
matéria orgânica presente no material. Esses resultados podem ser atribuídos a
seguintes situações. O Ponto 01 recebeu, além de resíduos da construção civil, outros
tipos de resíduos sólidos, inclusive orgânicos, até o ano de 2000; por isso, a matéria
orgânica ali presente encontra-se em franco processo de decomposição. Como existe
dificuldade na depuração, por causa do volume e profundidade do aterro,
ocasionando deficiência em luz e oxigênio, os efluentes gerados são carreados em
concentrações elevadas para a água subterrânea. Assim, verificou-se na amostra
coletada no período de chuvas valor ainda superior do que os do período de seca; já
que, a parte percolada da água da chuva contribuiu para o carreamento do material
em decomposição. No Ponto 03, apesar da ausência dos dados do período chuvoso, a
presença da matéria orgânica é bem expressiva; pois, o local ainda vem sendo
utilizado para o descarte e aterro do entulho e outros resíduos. Por fim, o Ponto 02,
que teve a disposição encerrada em 1997, o que possivelmente contribuiu para a
completa degradação da matéria orgânica, situação sugerida pelos valores destes
parâmetros encontrados nas análises físico-químicas dentro dos limites da legislação
ambiental brasileira (Resolução nº 20/86, do CONAMA).
A dureza total e cálcica apresentaram valores elevados no período seco para o
ponto 02 (115 mg.L¯¹e 81,4 mg.L¯¹). Já no período chuvoso os valores aumentaram
tanto no ponto 01 (126 mg.L¯¹e 93 mg.L¯¹) quanto no ponto 02 (208,5 mg.L¯¹ e 145
mg.L¯¹). Pode-se atribuir esses resultados ao fato de que os íons cálcio e magnésio
presente na água resultam da dissolução de carbonatos de cálcio (CaCO3) ou de
magnésio (MgCO3), ou de qualquer outra substância que contenha cálcio
(revestimento para cabos, adubo químico, gesso hospitalar, cimento e/ou concreto,
material de carga para papel e tinta, por exemplo) ou magnésio (flash fotográfico,
tijolo refratário, pigmentos, rodas de liga leve, por exemplo) (PERUZZO e CANTO,
1996). Dessa forma são liberados íons cálcio e magnésio, causadores da dureza
(CETESB, 1974).
Quanto aos metais analisados, os resultados fornecidos pela DIAAQ, no
período seco, todos os pontos apresentaram níveis inferiores a 0,1 mg.L¯¹ para o
alumínio, estando em plena concordância com a Resolução nº 20/86 do CONAMA.
No período chuvoso, apenas o ponto 02 apresentou valor superior ao limite (0,5
mg.L¯¹Al). O alumínio é um elemento encontrado em portas, janelas, iluminação e
cimento (PERUZZO e CANTO, 1996). Sua presença vem alterar a turbidez da água,
que é uma característica decorrente da presença de substâncias em suspensão, ou seja,
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sólidos suspensos finamente divididos em estado coloidal e organismos
microscópicos (OLIVEIRA, 1978).
Para o cádmio, em todos os pontos e nas duas medições (seca e chuvosa) o
resultado foi sempre inferior a 0,1 mg.L¯¹. Entretanto, pelo CONAMA, o limite
aceito para este metal é 0,01 mg.L¯¹. Nesse caso, não é possível afirmar se há traços
de cádmio uma vez que, o limite de precisão do equipamento utilizado é 0,1 mg.L¯¹.
O cádmio esta presente em baterias recarregáveis, filamentos de lâmpadas
incandescentes, proteção anticorrosiva e pigmento vermelho-amarelo (PERUZZO e
CANTO, 1996).
Segundo Pereira (1998), o cádmio existe também na fumaça resultante da
queima do carvão de pedra e na fumaça do cigarro (um fumante de 20 cigarros por
dia absorve 1 mg de cádmio por ano). Ele é absorvido pelas vias digestivas (10% do
ingerido) e respiratória (40% do inalado). A intoxicação aguda se faz geralmente pela
inalação de fumaças ou de pó contendo o metal. Seus principais efeitos são irritação
das vias aéreas, podendo ocorrer edema pulmonar grave. Na exposição crônica, pode
haver fibrose peribrônquica e enfisema pulmonar. Nos rins, as lesões aparecem
quando as concentrações atingem 200 µg/g; nessa situação, surgem lesões do epitélio
tubular e proteinúria (DE PAOLA, 1977; PEREIRA, 1998).
Quanto ao chumbo, em todos os pontos e nas duas medições (seca e chuvosa)
teve seu resultado inferior a 0,1 mg.L¯¹. Segundo a Resolução n. º 20/86 do
CONAMA, o valor permitido é 0,05 mg.L¯¹. De forma análoga ao cádmio, o limite
de precisão do equipamento utilizado é de 0,1 mg.L¯¹, torna difícil afirmar se esse
resultado inferior a 0,1 mg.L¯¹ indica concordância ou não com a legislação. O
chumbo está presente em acumuladores de eletricidade, soldas, tubulações antigas,
gasolina com alta octanagem e secante para tintas (PERUZZO e CANTO, 1996). Ele
é absorvido pelas vias digestiva e respiratória, cai na circulação e se distribui nos
tecidos moles, sendo posteriormente levado aos ossos (85%), onde se deposita e de
onde volta lentamente à circulação e aos tecidos moles. As principais lesões e
manifestações de intoxicação pelo chumbo são denominadas de Plumbismo ou
Saturnismo. Uma vez ingerido, o chumbo é fagocitado pelos macrófagos e
transportado através dos vasos linfáticos aos linfonodos regionais e seu acúmulo
progressivo produz uma coloração azulada das partes afetadas, como por exemplo,
pulmões e rins, sob a forma de manchas irregulares no parênquima do órgão (DE
PAOLA, 1977; PEREIRA, 1998).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Importantes questões foram diagnosticadas através da análise química da água,
em três pontos da cidade de Uberlândia aterrados com entulho e outros resíduos
sólidos associados. Vale ressaltar, que a escolha dos pontos de amostragem deveu-se
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especialmente pela facilidade de coleta e pela indicação precisa do aterro, por parte
do poder público municipal; já que, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos da
Prefeitura Municipal de Uberlândia, responsável por este serviço, não dispõe de um
banco de dados com informações precisas sobre todas as áreas já aterradas.
Apesar das análises terem sido realizadas em número restrito, com prazo
exíguo de realização e somado às dificuldades orçamentárias (que restringiram à
amplitude das análises laboratoriais a serem realizadas, ou seja, além das análises
físico-químicas, realizar-se-ia também as análises bacteriológicas), a ausência de
informações por parte dos órgãos públicos responsáveis, e ao fato de alguns aterros
ainda estarem em atividade (a exemplo do bairro Morumbi), os resultados
constataram indícios de contaminação das águas subterrâneas. Por isso, o
monitoramento precisa ser ampliado, tanto em relação aos parâmetros analisados
quanto ao número de pontos de amostragem, para que o município passe a dispor de
um banco de dados com informações mais definidas da qualidade das águas; bem
como, possa traçar seu planejamento de saúde pública com vistas a minimizar as
possíveis doenças a serem veiculadas através dos recursos hídricos.
Os resultados, também, demonstraram que é preciso repensar a questão da
disposição do entulho no meio ambiente; pois, embora a legislação ambiental
brasileira conceitue o entulho como material inerte, os sinais de contaminação
apresentados neste estudo, confrontam às leis ambientais brasileira, alertam que o
aterro não é o melhor destino para este tipo de resíduo.
Não obstante do ponto de vista ambiental, a cada dia mais, as cidades
convivem com a dificuldade de disponibilizar áreas para aterros, devido ao
crescimento urbano desordenado – áreas de aterro ficam impossibilitadas de se
tornarem áreas de expansão imobiliária, por serem áreas que não apresentam
condições estáveis para a ocupação humana uma vez que, o terreno, além da
instabilidade natural caracterizada pela erosão, gera a acomodação (recalque) e
facilita a percolação de efluentes. Outros inconvenientes podem ocorrer, tais como:
excesso de umidade, falta de cobertura vegetal, exposição direta aos ventos e às
chuvas e formação de gases por causa da decomposição anaeróbia da fração orgânica.
Por todas essas razões, o aterramento com entulho não é uma boa estratégia dentro do
planejamento urbano.
Assim, este estudo não é conclusivo, apenas contribui para propor solução
deste problema e abre novas perspectivas para estudos futuros.
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