ciclo reprodutivo, reprodução assistida

Transcrição

ciclo reprodutivo, reprodução assistida
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde
Departamento de Medicina Veterinária
Curso de Medicina Veterinária em Betim
Simone Vieira de Oliveira Malheiros
CICLO REPRODUTIVO, REPRODUÇÃO ASSISTIDA E CONTRACEPÇÃO EM
PRIMATAS NÃO HUMANOS: VISANDO A CONSERVAÇÃO DAS ESPÉCIES
Revisão da Literatura
Betim
2013
Simone Viera de Oliveira Malheiros
CICLO REPRODUTIVO, REPRODUÇÃO ASSISTIDA E CONTRACEPÇÃO EM
PRIMATAS NÃO HUMANOS: VISANDO A CONSERVAÇÃO DAS ESPÉCIES
Revisão da Literatura
Monografia apresentada ao Curso de Medicina
Veterinária em Betim da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel em Medicina
Veterinária.
Orientadora: Drª Maria Isabel Vaz de Melo
Betim
2013
Simone Vieira de Oliveira Malheiros
CICLO REPRODUTIVO, REPRODUÇÃO ASSISTIDA E CONTRACEPÇÃO
EM PRIMATAS NÃO HUMANOS: VISANDO A CONSERVAÇÃO DAS
ESPÉCIES - Revisão da Literatura
Monografia apresentada ao Curso de Medicina
Veterinária
em
Betim
da
Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Medicina Veterinária.
____________________________________________
Maria Isabel Vaz de Melo (orientadora) – PUC Minas
____________________________________________
Bruno Garzon Oliveira Camara – PUC Minas
____________________________________________
Regina Bueno – PUC Minas
Betim, 20 de Junho de 2013.
Dedico este trabalho a
minha mãe, ao meu esposo,
aos familiares e amigos que
incentivaram-me nessa caminhada.
Ao querido gorila Idi Amin,
eterno em minhas memórias.
AGRADECIMENTOS
À Deus, por toda inspiração e direção no desenvolvimento deste trabalho, por renovar
minhas forças todos os dias não me deixando desanimar.
À minha querida orientadora Profª. Drª. Maria Isabel Vaz de Melo pela amizade e
confiança em mim depositada. Por seu comprometimento e seriedade, pelas ideias e reflexões
comigo compartilhadas que muito contribuíram para a realização deste trabalho. Pela
dedicação, carinho, palavras de incentivo e ânimo, meu muito obrigada.
Aos professores do curso de Medicina Veterinária da PUC Minas – Betim que
disponibilizaram seu tempo me auxiliando na elaboração deste trabalho.
Aos amigos e funcionários do Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, por
compartilharem comigo seus conhecimentos e experiências e por estarem sempre dispostos a
ajudar. Enfim, pelo carinho, descontração e acolhimento durante minha estadia na cidade de
Sorocaba.
Aos amigos e funcionários da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, pelos
conhecimentos compartilhados e pela oportunidade de aprender um pouco mais sobre os
animais selvagens.
Enfim, aos familiares e amigos que sonharam comigo e que estiveram sempre ao meu
lado me apoiando e incentivando a prosseguir.
E criou Deus os animais selvagens de acordo com as suas espécies, os rebanhos
domésticos de acordo com as suas espécies, e os demais seres vivos da terra de
acordo com as suas espécies. E Deus viu que ficou bom.
Gênesis1:25
RESUMO
Os primatas não humanos são espécies que apresentam particularidades e que
demonstram grande adaptabilidade em diversos ambientes e situações, respondendo aos
desafios da evolução com múltiplos sistemas de acasalamento (monogâmico, poligínico,
poliândrico e poligâmico), diferentes tipos de ciclos reprodutivos (ciclos ovarianos estrais ou
menstruais), mecanismos de controle populacional e hábitos sociais complexos. Sabe-se que
alguns primatas não humanos encontram-se ameaçados de extinção e que o desempenho
reprodutivo dos mesmos, em cativeiro, na maioria das vezes, é consideravelmente baixo
reforçando a necessidade do estudo e emprego das técnicas de reprodução assistida neste
contexto. Dessa forma, é necessário compreender a biologia reprodutiva, os processos
fisiológicos e endócrinos das diversas espécies, já que existem variações significativas que
podem determinar o sucesso ou não da reprodução assistida em primatas não humanos.
Assim,
as
biotecnologias
da
reprodução
assistida
como:
inseminação
artificial,
criopreservação do sêmen, fertilização in vitro, transferência de embriões, entre outras, podem
auxiliar na preservação e manutenção de populações biologicamente viáveis. Entretanto, em
situações de aumento excessivo de densidade populacional ou mesmo do desequilíbrio da
fauna, visando inclusive, a sanidade e o bem estar de primatas não humanos, que são
mantidos ou não em confinamento (zoológicos, criatórios autorizados, centros de pesquisas e
reservas ambientais), a esterilização ou contracepção podem ser opções favoráveis, como
forma de manutenção do equilíbrio destes ambientes, desde que, tais espécies não se
encontrem em risco de extinção. O presente trabalho tem como objetivo realizar revisão
bibliográfica com o intuito de fazer o levantamento dos ciclos reprodutivos e das técnicas,
com potencial para serem empregadas na reprodução assistida e no controle populacional de
primatas não humanos, com ênfase nas espécies criadas ou originadas no Brasil.
Palavras-chave: Primatas não humanos. Ciclo reprodutivo. Tecnologias da reprodução
assistida. Contracepção.
ABSTRACT
Non-human primates are species which have distinct features and display great
adaptability to diverse environments and situations, responding well to the challenges of
evolution with multiple mating systems (monogamy, polygyny, polyandry, polygamy),
reproductive cycles (ovarian, estrous and menstrual), mechanisms of population control and
complex social habits. It is known that some non-human primates are threatened with
extinction and that their reproductive performance in captivity is, most of the time,
considerably low, which reinforces the need to research and employ assisted reproductive
techniques within this context. For this reason, it is necessary to understand the reproductive
biology, physiological and endocrine systems of the several species as there are significant
variations that can dictate the success of failure of assisted reproduction in non-human
primates. Therefore, assisted reproduction techniques such as artificial insemination,
cryopreservation of semen, in vitro fertilization, embryo transfer, among others, can help to
preserve and maintain biologically viable populations. However, in situations of population
density overgrowth or fauna imbalance, and with a view to assuring the health and well-being
of non-human primates, whether or not captive (zoos, authorized breeders, research centers,
and nature reserves), sterilization or contraception can be favorable options as a way to keep
the balance of these environments, given that these species are not threatened with extinction.
The aim of this paper is to review bibliography in order to survey reproductive cycles as well
as techniques with a potential to be used in assisted reproduction and population control of
non-human primates, with a focus on species bred or originated in Brazil.
Key words: Non-human primates. Reproductive cycles. Assisted reproduction
technology. Contraception.
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 -
Lista de Primatas Novo Mundo (grupo dos Platyrrhini).....................
QUADRO 2 -
Algumas espécies de Primatas Velho Mundo (grupo dos Catarrhini),
criadas no Brasil .................................................................................
QUADRO 3 -
22
Sistemas de acasalamentos descritos em algumas espécies de
primatas não humanos.......................................................................
QUADRO 4 -
20
34
Quadro sintético com dados reprodutivos e biotecnologias da
reprodução assistida, pesquisadas em alguns Primatas do Velho
Mundo..................................................................................................
QUADRO 5 -
40
Quadro sintético com dados reprodutivos e biotecnologias da
reprodução assistida, pesquisadas em alguns Primatas do Novo
Mundo..................................................................................................... 41
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 -
Divisão do ciclo reprodutivo em primatas não humanos.. ..................
FIGURA 2 -
Genêro de primatas do velho mundo (PVM - grupo dos Catarrhini) e
24
primatas do novo mundo (PNM - grupo dos Platyrrhini), que
apresentam ciclo ovariano do tipo menstrual ......................................
FIGURA 3 -
26
Gênero de primatas do novo mundo (PNM - grupo dos Platyrrhini)
que apresentam ciclo ovariano do tipo estral, descritos na literatura.. 30
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 TABELA 2 -
Resultados da avaliação do diluidor de sêmen (Sapajus apella)(ACP ®118) a 5% e 7% de glicerol - a base de água de coco em pó..
47
Resultados da avaliação do diluidor de sêmen (Sapajus apella) (ACP
®118) a 3% de glicerol - a base de água de coco em pó ..........
48
LISTA DE ABREVIATURAS
ACP – Água de coco em pó.
CR - Criticamente em Perigo.
DIU - Dispositivos intrauterinos.
DMSO – Dimetilsulfóxido.
EM - Em Perigo.
FIV – Fertilização in vitro.
FOPA – Folículos pré-antrais.
FSH - Hormônio folículo estimulante.
hCG - Gonadotrofina coriônica humana.
hFSH – Hormônio folículo estimulante humano.
hMG – Gonadotrofina menopausal humana.
IA – Inseminação Artificial.
LH – Hormônio luteinizante.
mA – Miliampère.
MIV – Maturação oocitária in vitro.
mg – miligrama.
MT – Motilidade.
MP – Movimentos progressivos.
PIVE – Produção in vitro de embriões.
PNM – Primatas do Novo Mundo.
PVM – Primatas do Velho Mundo.
pH – potencial hidrogênico.
RIE – Radioimunoensaio.
SOP – Síndrome do ovário policístico.
TE - Transferência de embriões.
TES - ácido NTrishidroximetil-metil-2-aminometanosulfônico.
TRIS - Tris-hidroximetil-aminometano.
TTR – teste de termo resistência.
UI – Unidades internacionais.
VU - Vulnerável.
LISTA DE SIGLAS
BIREME – Biblioteca virtual em saúde.
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
CITES - Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna
and Flora.
CPB – Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros.
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente.
ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
IVIS – International Veterinary Information Service.
MMA – Ministério do Meio Ambiente.
PUBMED - US National Library of Medicine National Institutes of Health.
RPPN - Reservas Particulares do Patrimônio Natural.
SCIELO - Scientific Electronic Library Online.
UC - Unidades de Conservação.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15
2. METODOLOGIA ................................................................................................. 17
2.1 A pesquisa ........................................................................................................... 17
2.2 População de amostra ........................................................................................ 17
2.3 Estratégias de ação ............................................................................................ 17
3. REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................... 19
3.1 Ciclo reprodutivo de primatas não humanos ................................................ 22
3.1.1 Ciclo ovariano menstrual ............................................................................. 25
3.1.2 Ciclo ovariano estral .................................................................................... 29
3.2 Sistemas de acasalamento .............................................................................. 32
3.3 Biotecnologias da reprodução assistida .......................................................... 39
3.3.1 Métodos de coleta de sêmen .......................................................................... 42
3.3.2 Métodos de conservação do sêmen ............................................................... 44
3.3.2.1 Criopreservação de sêmen .......................................................................... 45
3.3.2.2 Diluentes para sêmen de primatas não humanos ..................................... 45
3.3.3 Fertilização in vitro.......................................................................................... 50
3.3.4 Transferência de embriões ............................................................................ 51
3.3.5 Coleta e manipulação de oócitos e folículos antrais .................................. 52
3.3.6 Estimulação hormonal ................................................................................. 53
3.3.7 Métodos não invasivos de monitoramento hormonal ................................. 54
3.3.8 Clonagem......................................................................................................... 56
3.3.9 Conservação das espécies e controle populacional em primatas não
humanos.................................................................................................................... 56
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 62
ANEXOS .................................................................................................................. 67
ANEXO A – Diluidores utilizados na criopreservação de primatas não humanos. .............. 67
ANEXO B – Lista das espécies de primatas ameaçadas de extinção no Brasil e respectivas
categorias de ameaça - Ministério do Meio Ambiente. Instrução Normativa nº3, de 27 de maio de
2003. CR: (Criticamente em Perigo); EN (Em Perigo); VU (Vulnerável). ............................. 68
15
1. INTRODUÇÃO
As espécies pertencentes à Ordem Primates apresentam grande variação tanto
nos aspectos morfológicos fenotípicos, quanto nos comportamentais e endócrinoreprodutivos. Neste amplo espectro de variações encontramos desde espécies de
hábitos noturnos com ciclo ovariano estral, que utilizam sistemas de acasalamento
dispersos, como do tipo antropoides, com hábitos diurnos, ciclo ovariano menstrual e
sistemas poligâmicos de acasalamento. Entre estes dois extremos encontramos,
espécies que vivem em sistemas monogâmicos estáveis, com ciclos ovarianos do tipo
estral, porém acasalando em qualquer fase do ciclo (GUIMARÃES, 2007).
A ordem Primates contém ao todo treze famílias, que estão divididas em duas
subordens Prosimii e Antropoidea. A subordem Antropoidea, que será abordada nesta
revisão de literatura, é dividida em dois grandes grupos: os Platyrrhini - grupo de
primatas do Novo Mundo, ou primatas Neotropicais, (Saguis, Macaco-prego, Micoleão, Mico-de-cheiro, Bugio, Muriqui, Macaco-da-noite, Macaco-barrigudo, Macacoaranha, entre outros) e os Catarrhini - grupo de primatas do Velho Mundo (Babuínos,
Mandril, Gibão, Orangotango, Chimpanzé e Gorila).
Os primatas não humanos, assim como as demais espécies selvagens, em face
das dificuldades de reprodução que o sistema de cativeiro impõe, necessitam que
pesquisas sejam desenvolvidas com o intuito de viabilizar o conhecimento da sua
biologia reprodutiva e o desenvolvimento de biotecnologias que, aplicadas à
reprodução, possam auxiliar na preservação e manutenção de uma população
biologicamente viável (SOUZA-ARAÚJO, 2012).
O emprego de biotecnologias reprodutivas, normalmente envolve a coleta,
manipulação e armazenamento de material biológico, com o objetivo de avaliar as
características reprodutivas e, por conseguinte, melhorar a sua eficiência. Dentre as
biotecnologias já empregadas na reprodução assistida de primatas não humanos estão:
coleta de sêmen, lavagem vaginal, vibroestimulação peniana, coleta de oócitos,
produção de embriões in vitro, fertilização in vitro, criopreservação de embriões e
pesquisas aplicadas à reprodução de primatas neotropicais. Assim, a utilização da
inseminação artificial (IA), por meio da coleta, processamento e armazenamento de
espermatozoides na utilização de bancos de sêmen, constitui-se importante ferramenta
no processo de repovoamento de espécies ameaçadas. Na atualidade, essas técnicas
16
incluem a utilização de métodos não invasivos de monitoramento hormonal (SOUZAARAÚJO, 2012).
O conhecimento gerado a partir desses estudos possibilita a introdução de
programas de manejo para a conservação que asseguram o bem-estar animal, a
compreensão dos ciclos reprodutivos e reflete, em linhas gerais, as necessidades de
cada espécie (SOUZA-ARAÚJO, 2012).
Entretanto, em algumas localidades, o foco consiste no controle populacional,
visando o equilíbrio ambiental.
O presente trabalho tem como objetivo realizar revisão bibliográfica com o
intuito de fazer levantamento dos ciclos reprodutivos e das técnicas com potencial para
serem empregadas na reprodução assistida e no controle populacional de primatas não
humanos, nos últimos 21 anos, com ênfase nas espécies criadas ou originadas no
Brasil.
17
2. METODOLOGIA
2.1 A Pesquisa
A pesquisa, objeto deste estudo, caracteriza-se como uma Revisão da
Literatura, sendo constituída por releitura de textos publicados nos últimos 21 anos,
na literatura nacional e internacional, sobre o tema tratado - Ciclo reprodutivo,
reprodução assistida e contracepção em primatas não humanos.
2.2 População e amostra
A população envolvida neste estudo compreenderá toda a literatura disponível
sobre o tema proposto: Ciclo Reprodutivo, Reprodução Assistida e
Contracepção em Primatas Não Humanos.
A amostra será arbitrada e caracterizada pelo conjunto de autores que
publicaram sobre o tema em questão, de 1992 até 2013.
2.3 Estratégias de ação
Realizar buscas bibliográficas em base de dados (SCIELO, IVIS, CAPES,
PUBMED, BIREME, Royal Society Publishing – Biological Sciences) e em
sites oficiais do Ministério do Meio Ambiente, do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente (IBAMA) e da Fundação Biodiversitas, para atender aos seguintes
itens:

Conhecer as variações no ciclo reprodutivo de primatas não humanos.

Listar espécies de primatas criadas e originadas no Brasil.

Listar as biotecnologias da reprodução empregadas em primatas não
humanos, criados ou originados no Brasil, como: inseminação artificial;
criopreservação de sêmen e embrião; produção in vitro de embriões;
fertilização
in
vitro;
esterilização
e
contracepção
populacional, entre outras, publicadas nas últimas décadas.
para
controle
18

Sistematizar por espécie de primata criada ou originada no Brasil um banco
de informações sintético, para direcionamento inicial no emprego de
técnicas de reprodução assistida em criatórios ou reservas ambientais.
Estabelecer cronograma de atendimento com o orientador.
Ler e analisar as publicações selecionadas de 1992 a 2013, para coletar dados.
Elaborar a revisão da literatura.
Elaborar o Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) Final, parte escrita e
apresentação.
Apresentação e defesa da pesquisa efetuada frente à banca de avaliação do
TCC.
19
3. REVISÃO DA LITERATURA
As espécies pertencentes à Ordem Primates apresentam grande variação tanto
nos aspectos morfológicos fenotípicos, quanto nos comportamentais e endócrinoreprodutivos (GUIMARÃES, 2007).
A ordem Primates contém ao todo treze famílias, que estão divididas em duas
subordens Prosimii e Antropoidea. A subordem Antropoidea, que será abordada nesta
revisão de literatura, é dividida em dois grandes grupos: os Platyrrhini - grupo de
primatas do Novo Mundo (PNM) e os Catarrhini - grupo de primatas do Velho Mundo
(PVM) (AURICCHIO, 1995; CATÃO-DIAS; NUNES, 2006; GUIMARÃES, 2007;
KINDLOVITS, 2009; SOUZA-ARAÚJO, 2012).
No grupo dos Platyrrhini - primatas do Novo Mundo, ou primatas
Neotropicais, são reconhecidas cinco famílias (Callitrichidae, Cebidae, Aotidae,
Pithecidae e Atelidae) e 19 gêneros (Alouatta, Aotus, Ateles, Brachyteles, Cacajao,
Callibella, Callimico, Callithrix, Callicebu, Cebuella, Cebus, Chiropotes, Lagothrix,
Leontopithecus, Mico, Pithecia, Saguinus, Saimiri e Sapajus), com ampla distribuição
geográfica, desde a América Central, até a América do Sul (AURICCHIO, 1995;
PISSINATI; VERONA, 2006; GUIMARÃES, 2007; KINDLOVITS, 2009; SOUZAARAÚJO, 2012). Sabe-se que no Brasil há 139 espécies e subespécies de PNM
(Quadro 1), conforme lista taxonômica atualizada recentemente e utilizada no
Processo de Avaliação do Estado de Conservação de Primatas Brasileiros entre os anos
de 2009 a 2013 (CPB; ICMBIO; MMA,2013).
20
Quadro 1 - Lista de Primatas Novo Mundo (grupo dos Platyrrhini)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
Espécies e subespécies de Primatas Brasileiros
Alouatta belzebul
41 Callicebus hoffmannsi
Alouatta caraya
42 Callicebus lucifer
Aloutta discolor
43 Callicebus lugens
Aloutta guariba clamitans
44 Callicebus melanochir
Aloutta guariba guariba
45 Callicebus moloch
Alouatta juara
46 Callicebus nigrifrons
Alouatta macconnelli
47 Callicebus pallescens
Alouatta nigerrima
48 Callicebus personatus
Alouatta puruensis
49 Callicebus purinus
Alouatta ululata
50 Callicebus regulus
Aotus azarae azarae
51 Callicebus stephennashi
Aotus infulatus
52 Callicebus torquatus
Aotus nancymaae
53 Callicebus vieirai
Aotus nigriceps
54 Callimico goeldii
Aotus trivirgatus
55 Callithrix aurita
Aotus vociferans
56 Callithrix flaviceps
Ateles belzebuth
57 Callithrix geoffroyi
Ateles chamek
58 Callithrix jacchus
Ateles marginatus
59 Callithrix kulli
Ateles paniscus
60 Callithirx penicillata
Brachyteles arachnoides
61 Cebuella pygmae niveiventris
Brachyteles hypoxantus
62 Cebuella pygmae pygmae
Cacajao ayresi
63 Cebus albifrons
Cacajao calvus calvus
64 Cebus cuscinus
Cacajao calvus novaesi
65 Cebus kaapori
Cacajao calvus rubicundus
66 Cebus olivaceus castaneus
Cacajao calvus ucayalii
67 Cebus olivaceus olivaceus
Cacajao hosomi
68 Cebus unicolor
Cacajao melanocephalus
69 Chiropotes albinasus
Callibella humilis
70 Chiropotes chiropotes
Callicebus baptista
71 Chiropotes sagulatus
Callicebus barbarabrownae 72 Chiropotes satanas
Callicebus bernhardi
73 Chiropotes utahickae
Callicebus brunneus
74 Lagothrix cana cana
Callicebus caligatus
75 Lagothrix logothricha
Callicebus cinerascens
76 Lagothrix poeppigii
Callicebus coimbrai
77 Leontopithecus caissara
Callicebus cupreus
78 Leontopithecus chrysomelas
Callicebus donacophilus
79 Leontopithecus chrysopygus
Callicebus dubius
80 Leontopithecus rosalia
21
(continua)
81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
100
101
102
103
104
105
106
107
108
109
110
Espécies e subespécies de Primatas Brasileiros
Mico acariensis
111 Saguinus labiatus labiatus
Mico argentatus
112 Saguinus labiatus rufiventer
Mico chrysoleucos
113 Saguinus labiatus thomasi
Mico emiliae
114 Saguinus martinsi martinsi
Mico humeralifer
115 Saguinus martinsi ocharaceus
Mico intermedius
116 Saguinus midas
Mico leucippe
117 Saguinus mystax mystax
Mico manicorensis
118 Saguinus mystax pileatus
Mico marcai
119 Saguinus mystax pluto
Mico mauesi
120 Saguinus niger
Mico melanurus
121 Saguinus nigricollis nigricollis
Mico nigriceps
122 Saguinus weddelli melanoleucus
Mico rondoni
123 Saguinus weddelli weddelli
Mico saterei
124 Saimiri boliviensis
Pithecia albicans
125 Saimiri cassiquiarensis
Pithecia irrorata irrorata
126 Saimiri collinsi
Pithecia irrorata vanzolinii
127 Saimiri macrodon
Pithecia monachus monachus
128 Saimiri sciureus
Pithecia pithecia chrysocephala
129 Saimiri ustus
Pithecia pithecia pithecia
130 Saimiri vanzolinii
Saguinus bicolor
131 Sapajus apella
Saguinus fuscicollis avilapiresi
132 Sapajus cay
Saguinus fuscicollis cruzlimai
133 Sapajus flavius
Saguinus fuscicollis fuscicollis
134 Sapajus libidinosus
Saguinus fuscicollis mura
135 Sapajus macrocephalus
Saguinus fuscicollis primitivus
136 Sapajus nigritus cucullatus
Saguinus fuscus
137 Sapajus nigritus nigritus
Saguinus imperator imperator
138 Sapajus robustus
Saguinus imperator subgrisescens 139 Sapajus xanthosternos
Saguinus inustus
-
Fonte: Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros – CPB; Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio; Ministério do Meio Ambiente – MMA, 2013.
Já no grupo dos Catarrhini - primatas do Velho Mundo, as famílias mais
estudas são Cercopithecidae, Hylobatidae, Pongidae e Hominidae. Estando
distribuídas geograficamente nas regiões da África e da Ásia, em habitat natural.
Porém, tais espécies podem ser encontradas em vários países do mundo, na maioria
22
das vezes sendo criadas em zoológicos, inclusive no Brasil (CATÃO-DIAS; NUNES,
2006; GUIMARÃES, 2007; KINDLOVITS, 2009). Assim, de acordo com dados e
informações fornecidos durante visitação e estágios em alguns zoológicos (Fundação
Zoo-botânica de Belo Horizonte/MG; Parque Zoológico Municipal Quinzinho de
Barros – Sorocaba/SP; Fundação Parque Zoológico de São Paulo/SP; Zoológico e
Complexo Ambiental Cyro Gervaerd – Balneário Cambúriu/SC; Zoológico Beto
Carrero World - Centro de Primatologia– Itajaí/SC e Fundação Jardim Zoológico de
Brasília- DF), constatou-se a presença de algumas espécies de PVM que estão sendo
criadas no Brasil. (Quadro 2).
Quadro 2 - Algumas espécies de Primatas Velho Mundo (grupo dos Catarrhini),
criadas no Brasil
Primatas Velho Mundo
Erythrocebus patas
Gorilla gorilla gorilla
Macaca fasciculares
Macaca fuscata
Macaca nemestrina
Mandrillus sphinx
Pan troglodytes
1
2
3
4
5
6
7
8 Papio anubis
9 Papio hamadryas
10 Pongo pigmaeus
Fonte: Elaborado pela autora.
3.1. Ciclo reprodutivo de primatas não humanos
Nos primatas não humanos, conforme Fernandes (1982) citado por Rodrigues
(2010), assim como ocorre em várias outras espécies, a sequência durante a vida
reprodutiva de uma fêmea corresponde à ovulação, copulação, gestação, nascimento e
lactação. Este ciclo reprodutivo geralmente, não recomeça até que a prole da gestação
anterior se desenvolva, embora sejam vistas exceções para algumas espécies.
De acordo com Carlson (2002) em Rodrigues (2010), o comportamento
reprodutivo em muitas espécies de animais pode ser influenciado por vários fatores
importantes, tais como: a oferta de recursos alimentares, as mudanças na cor da
genitália feminina e, principalmente, pelos níveis dos hormônios sexuais.
23
Os órgãos reprodutores em todos os primatas consistem de: dois ovários, duas
tubas uterinas, um útero simples, vagina e genitália externa (VERAS, 2004). Sendo
que, no ovário existem duas principais unidades funcionais: o folículo e o corpo lúteo.
Estes têm diferentes funções, são transitórios e aparecem em diferentes fases do ciclo
reprodutivo. De forma geral, conforme Hodges (1987) citado por Brasil (2008), a
dinâmica hormonal e o ciclo ovariano de primatas não humanos ocorrem de modo
cíclico e compreendem uma sequência de eventos que refletem o crescimento
folicular, a ovulação de um oócito maduro e a formação do corpo lúteo.
Funcionalmente o ciclo ovariano pode ser dividido em três fases: 1- Fase folicular ou
proliferativa: que compreende eventos que levam ao desenvolvimento de um folículo
pré-ovulatório e este dependerá da ação do hormônio folículo estimulante (FSH),
determinando qual dos folículos será o dominante (destinado à ovulação); 2- Fase
ovulatória: que tem início com o pico de hormônio luteinizante (LH) e que culmina
com a ruptura folicular e extrusão de um oócito maduro; 3- Fase luteal ou secretória:
que inicia após a ovulação e se estende até o início da luteólise. Contudo, para Asa
(1996) citato por Rodrigues (2010), em primatas não humanos de ciclo ovariano
menstrual, existe uma quarta fase chamada de menstrual, que de acordo com
Hernández-López et al. (1998), ocorre colapso e parcial destruição do endométrio,
seguida de descamação do mesmo.
As diferenças entre os ciclos estral e menstrual são que no ciclo estral o
acasalamento está limitado ao período do cio, que coincide com a ovulação, enquanto
em espécies de ciclo menstrual a relação sexual não está restrita ao período periovulatório, ou seja, a relação sexual pode ocorrer em qualquer época do ciclo, e a
ovulação acontecerá na metade do ciclo menstrual (HAFEZ, 1995). O ciclo estral
estende-se de uma ovulação a outra, enquanto o menstrual delimita-se entre uma
menstruação e outra, assim, Nagle et al. (1979 e 1980) citados por Brasil (2008),
afirmam que o primeiro dia da fase menstrual é considerado o primeiro dia do ciclo.
O sangramento característico que ocorre no ciclo estral é decorrente do
aumento do estrógeno e acontece no proestro (HAFEZ, 1995), determinando aumento
da permeabilidade vascular com extravasamento. Já no ciclo menstrual, o sangramento
dá-se pela diminuição das concentrações de estrógeno e progesterona que ocorrem
durante a luteólise (HERNÁNDEZ-LÓPEZ et al., 1998).
decorre devido a isquemia com descamação do endométrio.
Neste o sangramento
24
Os PVM (FIG. 1-A) vão apresentar na sua maioria, ciclos ovarianos do tipo
menstrual (alterações hormonais e reprodutivas), semelhante ao descrito na mulher,
com ovulações espontâneas e comportamento de cópula ocorrendo em qualquer fase
do ciclo e em qualquer época do ano (DOMINGUES; CALDAS-BUSSIERE, 2006;
LINN, 2006; GUIMARÃES, 2007; KINDLOVITS, 2009).
Nos PNM (FIG. 1-B) encontramos tanto ciclos ovarianos do tipo menstrual,
como no macaco-prego (FRAGASZY; ADAMS-CURTIS, 1998), quanto ciclos
ovarianos do tipo estral, como nos saguis e nas espécies Callithrix jacchus (ABBOTT;
HEARN, 1978). Conforme Domingues e Caldas-Bussiere (2006), em Saimiri sciureus
também foi registrado o ciclo ovariano estral, e segundo registros de Gould et al.
(1973) citados por Brasil (2008), este mesmo ciclo esta presente nas espécies
Leontopithecus rosalia, L. chrysomelas e L. chrysopygus. Porém, os saguis podem
copular em qualquer fase do ciclo e inclusive realizar cópulas férteis no período pósparto e durante a lactação. Ainda, entre espécies de PNM (calitriquídeos) encontramos
a supressão social da reprodução, onde aspectos sociais regulam os mecanismos
endócrinos, promovendo inibição da ciclicidade ovariana de fêmeas subordinadas,
pela presença de fêmeas dominantes - reprodutoras (SANTOS, 2003; GUIMARÃES,
2007; BRASIL, 2008; KINDLOVITS, 2009; OLIVEIRA, 2009).
Figura 1 - Divisão do ciclo reprodutivo em primatas não humanos.
A
B
Fonte: Elaborado pela autora.
25
Segundo Hertig et al. (1971 e 1976) em Veras (2004), a maior parte dos estudos
voltados para primatas não humanos, trata de animais utilizados em pesquisas
biomédicas, portanto de famílias e gêneros diferentes. Fato que ajuda a explicar a
escassez da literatura referente aos ciclos reprodutivos de primatas não humanos.
3.1.1. Ciclo ovariano menstrual
A menstruação segundo Carosi, Linn e Visalberghi (2005) citados por
Rodrigues (2010), é uma indicação da maturidade reprodutiva.
Em Cebus spp. e Sapajus spp. o ciclo menstrual, quando comparados aos dos
PVM e humanos se correlacionam em parâmetros morfológicos e endócrinos (ORTIZ
et al., 2005).
De acordo com Aires (1999) em Rodrigues (2010), na mulher o ciclo menstrual
é caracterizado por modificações cíclicas através de hormônios sexuais no ovário, na
camada interna do útero e no miométrio. O LH e o FSH estimulam o crescimento dos
folículos ovarianos e induzem a ovulação, que inicia com a formação do corpo lúteo.
As gonadotrofinas estimulam a formação de estrógenos, progesterona e inibina, que
agem nos órgãos reprodutores femininos e no eixo hipotálamo-hipofisário. O LH age
conjuntamente com o FSH durante o período de desenvolvimento dos folículos
ovarianos. O FSH também é responsável pelo processo de ovulação que ocorre
aproximadamente na metade do ciclo sexual e também pelo estímulo da síntese de
outro esteroide sexual, a progesterona. Antes da ovulação a progesterona é sintetizada
nas células do estroma ovariano, e depois da ovulação, no corpo lúteo. Esses
esteroides, basicamente, estimulam as funções secretoras do endométrio e inibem a
contratilidade uterina, ações, portanto, muito relacionadas à manutenção do feto no
útero. Porém, segundo Fernandes (1982) citado por Rodrigues (2010), se o ovócito
não for fecundado, haverá uma diminuição de estrógeno no sangue cessando a
secreção hipofisária de LH. Na ausência do LH, o corpo lúteo (regride) deixa de
sintetizar progesterona resultando no espessamento da parede uterina ocorrendo assim,
à descamação dessa estrutura, o que é conhecido como menstruação.
Conforme Nagle et al. (1979) citados por Brito (2011), a descrição das fases do
ciclo menstrual em Sapajus apella pode ser obtida, pela determinação das
concentrações plasmáticas de hormônios ovarianos, assim como, pela utilização de
26
citologia vaginal, por parâmetros comportamentais segundo Linn et al. (1995) citados
por Brito (2011) e mais recentemente pela ultrassonografia (ORTIZ et al. 2005).
Em fêmeas de PVM (FIG. 2), a ovulação coincide com um aumento da
temperatura e modificações externas, tais como, edema e alteração na cor da vulva que
pode indicar a fase fértil (OLIVEIRA, 2009).
Figura 2 - Genêro de primatas do velho mundo (PVM - grupo dos
Catarrhini) e primatas do novo mundo (PNM - grupo dos Platyrrhini), que
apresentam ciclo ovariano do tipo menstrual.
Fonte: Elaborado pela autora.
De acordo com Santos (2003), as fêmeas também podem ser capazes de emitir
pistas olfativas, através de feromônios – que conforme Brown (1994) citado por
Santos (2003) são mensagens químicas voláteis que agem em outros indivíduos,
normalmente da mesma espécie, através de receptores olfativos ou gustativos,
alterando o comportamento ou o sistema neuroendócrino – que conforme Santos
(2003), são produzidos durante a ovulação e que informariam ao macho sua condição
27
reprodutiva. Assim, para Naiper (2000) citado por Rodrigues (2010), através dos
receptores olfativos, que cedem informações sobre o ciclo reprodutivo das fêmeas, o
macho tem percepção do estro feminino. Contudo Napier (2000) citado por Rodrigues
(2010), afirma que o comportamento sexual das fêmeas é alterado durante a fase fértil,
na qual elas tornam-se mais ativas e solicitam o acasalamento próximo a ocorrência da
ovulação.
Segundo Carnegie, Fedigan e Ziegler (2005), na fase peri-ovulatória, foi
verificado para Cebus capucinus que embora as fêmeas não forneçam pistas
morfológicas ou comportamentais de que a ovulação está ocorrendo, os machos são
capazes de detectá-la. Nesse caso, de acordo com Rodrigues (2010), o melhor
indicador da fase do ciclo pareceu ser um aumento na expressão de comportamentos
sexuais do macho dirigidos às fêmeas no período peri-ovulatório.
Conforme Fragaszy (2004) citado por Rodrigues (2010); Freeser e
Oppenheimer (1981) citados por Bicca-Marques et al. (2011), nos gêneros Cebus e
Sapajus os machos atingem maturidade sexual entre 7 e 8 anos de idade, já as fêmeas
atingem a maturidade sexual entre 0 e 4 anos de idade (sendo que, para tais autores a
maturidade sexual acontece concomitantemente ao amadurecimento das estruturas
reprodutivas, havendo inclusive mudanças hormonais e morfológicas, porém, entendese que tal conceito esta relacionado a puberdade e não a maturidade sexual), dessa
forma, as fêmeas dificilmente se reproduzem pois precisam atingir inteiramente o seu
peso adulto, e isso geralmente ocorre em torno dos cinco anos de idade. Sabe-se que o
ciclo menstrual, de ambas as espécies, dura entre 15 a 21 dias e é acompanhado de um
sangramento muito discreto (DOMINGUES, 2006). Sendo assim, durante o ciclo
menstrual a concentração do hormônio estrógeno, aumenta gradativamente e o mesmo
alcança seu pico entre o dia 7 - 10 do ciclo; já a ovulação de um único folículo ocorre
dentro de 10 - 24h após o pico estrogênico, ou seja, entre o dia 8 – 11 do ciclo; e a fase
luteal subsequente possui 12 - 13 dias. Lembrando que, conforme Neagle et al. (1979 e
1980) citados por Domingues (2006), a concentração de progesterona é baixa durante
toda a fase folicular e que após 12h do pico estrogênico ela então, começa a aumentar
até que no sexto dia após o pico estrogênico ela atinge seu valor máximo. Dando então
sequência ao ciclo, um dia antes da menstruação (caso a fêmea não tenha se tornado
gestante), ocorrerá um declínio abrupto da concentração plasmática da progesterona e
do estrógeno, que retomam seus valores basais, conforme Neagle et al. (1980) citados
28
por Domingues (2006).
Já a fase ou período menstrual em Cebus e Sapajus é descrita com duração de 1
- 8 dias conforme Wright e Bush (1977) citados por Domingues (2006), ou de 1 - 5
dias segundo Neagle et al. (1979 e 1980) citados por Domingues (2006). Sendo que,
durante a menstruação, são observados os menores valores plasmáticos de estrógeno e
progesterona de acordo com Neagle et al.(1979) citados por Domingues (2006).
A descrição das fases do ciclo menstrual em primatas não humanos podem ser
realizadas pela utilização de citologia vaginal conforme Wright e Bush (1977); Linn et
al.(1995); Martins (2004) citados por Domingues (2006); por parâmetros
comportamentais, segundo LINN et al. (1995) citados por Domingues (2006); pela
determinação das concentrações plasmáticas de hormônios ovarianos de acordo com
Nagle et al. (1979) citados por Domingues (2006) e mais recentemente, como já foi
dito, pela ultrassonografia (ORTIZ et al., 2005).
Tratando-se ainda do gênero Sapajus, sabe-se que tanto na natureza como em
cativeiro, fêmeas da espécie Sapajus apella se reproduzem sazonalmente ou
apresentam picos de nascimento dos filhotes entre os meses de outubro e fevereiro,
coincidindo com a época de maior disponibilidade de frutos e insetos de acordo com
Bicca e Gomes (2005) citados por Rodrigues (2010) e Bicca-Marques et al. (2011).
Em estudos citológicos realizados para determinar o tipo de ciclo da fêmea de Sapajus
apella, os autores Wright e Bush (1977); Neagle et al. (1979 e 1980) e Linn et
al.(1995) citados por Domingues (2006), constataram que o sangramento, apesar de
não ser pronunciado, ocorre logo após a fase luteal e não no período peri-ovulatório,
como acontece em fêmeas do ciclo estral. Esclarecendo ainda que, o pequeno
sangramento durante a fase menstrual nos PNM (FIG. 2) é decorrente da presença de
arteríolas uterinas retas ao invés de espiraladas (HERNADEZ LOPES et al., 1998;
DOMINGUES, 2006). Pois, nas espécies em que a menstruação ocorre, a
vascularização endometrial é caracterizada por arteríolas espirais, com anastomose e
formação de lagos venosos (CUNNINGHAN, 1993). De acordo com Guimarães
(2001) em Kugelmeier (2005), em PVM a menstruação é precedida de vasoconstrição
das arteríolas, resultando em necrose dos tecidos e lesões epiteliais nos vasos.
Consequentemente, assim que ocorrer o relaxamento de tais vasos ocorrerá o
sangramento.
Contudo nas espécies de PNM, também já foi verificado sangramento
29
menstrual (HERNADEZ-LOPES et al., 1998). Porém, Guimarães (2001) citado por
Kugelmeier (2005), esclarece que estes sangramentos vão ocorrer de forma discreta
devido à ausência de arteríolas espirais no endométrio de PNM. Comparando com
outras espécies de (PNM), Catellanos e Maccombs (1968), citados por Veras (2004),
verificaram que durante o ciclo reprodutivo de Cebus albifrons o sangramento
menstrual não pode ser observado macroscopicamente (assim como também ocorre
em outras espécies de PNM) e o fluxo é recorrente em intervalos específicos: em
média 17-20 dias em Cebus spp.,.
3.1.2. Ciclo ovariano estral
O ciclo estral foi dividido conforme Stabenfeldt (1992) citado por Brasil
(2008), classicamente em estádios que representam eventos comportamentais e/ou
gonadais. As terminologias utilizadas para identificar cada um dos estádios são: estro para o período de receptividade sexual; metaestro - para o período de
desenvolvimento inicial do corpo lúteo; diestro - para o período da fase madura do
corpo lúteo; proestro - período de desenvolvimento folicular, subsequente à regressão
lútea que termina no estro.
Diferentemente da maioria dos PVM, os PNM (FIG. 3), durante o ciclo
reprodutivo não apresentam modificações externas tais como edema e alteração na cor
da vulva, de acordo com Hampton (1977); Epple e Katz em (1983) citados por Moraes
(2004), sangramento menstrual (BRAND, 1981), ou mesmo um comportamento estral
notável ao associado com a fase peri-ovulatória do ciclo conforme Rothe (1977);
Hearn (1983) citados por Moraes (2004). Como exemplo, podemos citar as fêmeas da
família Callitrichidae que não menstruam, nem exibem sinais visuais na genitália, que
indiquem seu momento de receptividade sexual. Entretanto, há alterações no
comportamento afiliativo (catação, cheirar e/ou lamber os pelos do parceiro) e sexual
entre o casal ao longo do ciclo ovariano estral (SANTOS, 2003).
Segundo estudos de Kendrick e Dixson (1983) citados por Santos (2003),
durante a fase peri-ovulatória (dias que circundam a ovulação), machos e fêmeas de
Callithrix jacchus exibem com maior frequência expressões faciais específicas
(projeção da língua para fora e para dentro, interpretada como convite sexual) antes e
durante a cópula. Coincidindo com as expressões faciais, as montas e cópulas também
30
foram mais frequentes durante a fase peri-ovulatória que na fase não ovulatória.
Enfatizando que, nas espécies Callithrix jacchus e C. kuhlii, os convites sexuais
exibidos entre machos e fêmeas, durante o período peri-ovulatório, tem sido
associados ao aumento de cópulas .
Figura 3 - Genêro de primatas do novo mundo (PNM – grupo dos
Platyrrhini) que apresentam ciclo ovariano do tipo estral, descritos na literatura.
Fonte: Elaborado pela autora.
Em callitriquídeos as fêmeas costumam emitir mais convites sexuais que os
machos. Assim, parece que a exibição de convites sexuais pelas fêmeas,
especificamente durante o período peri-ovulatório, poderia estar associada à motivação
da fêmea em interagir sexualmente com seu parceiro (SANTOS, 2003).
Segundo Santos (2003), o papel das informações químicas (feromônios)
também parece ser responsáveis pelo aumento das interações socio-sexuais. As fêmeas
são mais atrativas para os machos, durante o período peri-ovulatório, que durante o
não ovulatório. Sendo assim, a fim de testar a capacidade de ambos os sexos em
discriminar possíveis sinais de feromônios emitidos pelas fêmeas ao longo do ciclo
ovariano, Ziegler (1993) citado por Santos (2003), delineou um interessante
experimento com Saguinus sp., onde amostras de marcações de cheiro de urina de
fêmeas desconhecidas foram coletadas no interior dos viveiros e, através das dosagens
de hormônios luteinizantes (LH) foram determinados os períodos não ovulatórios e
31
peri-ovulatórios. Segundo Santos (2003), durante o estudo de Ziegler, foi possível
observar diferentes reações comportamentais dos casais, quando amostras coletadas de
marcação de cheiro foram introduzidas em locais estratégicos dentro dos viveiros. As
amostras contendo informações do período peri-ovulatório de uma fêmea
desconhecida foram, significativamente, mais investigadas pelas fêmeas do que as
amostras provenientes de outros dias do ciclo ovariano. Os machos, por sua vez
copularam com suas parceiras e exibiram ereções do pênis, enquanto estiveram
expostos a marcações de cheiro e urina provenientes das amostras peri-ovulatórias.
Através deste experimento Ziegler concluiu que a fêmea pode ser capaz de emitir
pistas olfativas, através de feromônios produzidos durante a ovulação que informariam
ao macho sua condição reprodutiva. Sendo assim, a estimulação dos hormônios
ovarianos e hipotalâmicos pode possibilitar a emissão de pistas comportamentais e de
feromônios pelas fêmeas. Juntas essas pistas poderiam tornar a fêmea mais atrativa
para o macho, resultando em um aumento na frequência das montas e das cópulas. E
dessa forma, o comportamento do macho em associação com o aumento do número de
cópulas poderia maximizar as chances de fertilização da parceira (SANTOS, 2003).
De forma geral, o ciclo ovariano estral na família Callitrichidae, ocorre a cada
14 a 24 dias, conforme Kleiman (1977); Hearn (1978) citados por Moraes (2004),
podendo ter variações em alguns gêneros como em: Saguinus que ocorrerá a cada 15 18 dias segundo Hampton (1977) citado por Moraes (2004), com existência de pico de
estrogênio de acordo com Epple e Katz (1983); em Leontopithecus acontece em média
a cada 19 dias (entre 14 e 31 dias) - também ocorrendo ciclo estrogênico conforme
French e Striibley (1985) citados por Moraes (2004). Porém, nos Leontopithecus
chrysomelas o ciclo ovariano estral pode variar entre 18 e 25 dias com fase folicular
durando de 3 a 7 dias e uma fase luteal com duração de 14 a 18 dias, de acordo com
De Vleeschouwer et al. (2000) citados por Moraes (2004).
Segundo Herrick et al. (2000) em Kugelmeier (2005), a duração do ciclo estral
em fêmeas de Alouatta spp. de vida livre é de 29,5 ± 1,5 dias, de acordo com os níveis
de progesterona na urina. Porém, em estudos anteriores através de citologia vaginal e
análise microscópica dos ovários, conforme Colillas e Coppo (1978) citados por
Kugelmeier (2005) a duração do ciclo ovariano estral de Alouatta spp. seria de 19,7 ±
1,0 dias (variação de 17 a 24 dias), com uma fase folicular de aproximadamente 9 dias
e fase lútea de 7 dias.
32
Já Savage et al. (1995) em Kugelmeier (2005), relataram em Pithecia spp.,
ciclos ovarianos estrais com duração de 16,9 ± 1,6 dias.
Da mesma maneira Campbell et al. (2001) em Kugelmeier (2005), registraram
em Ateles spp., um ciclo ovariano estral de aproximadamente 20 dias com uma fase
folicular curta de 2 a 3 dias para fêmeas em cativeiro. Em fêmeas de vida livre a
duração do ciclo foi de 22, 7 dias e a fase folicular durou de 4 a 8 dias.
Através da extração e dosagem de esteroides fecais da espécie de vida livre
Brachyteles hypoxantus, Strier e Zielgier (1997) citados por Kugelmeier (2005),
verificaram um ciclo ovariano estral com duração de 21,0 ± 5,4 dias.
Segundo Baldwin (1985) em Domingues (2006), a espécie Saimiri sciureus
pode conceber a primeira vez aos 2,5 anos de idade. O S. scireus apresenta ciclo estral
de 8 a 9 dias, sendo que leva de oito a dez dias entre um pico e outro de estrógeno,
sendo assim, Wolf et al. (1977); Ghost et al. (1982) citados por Domingues (2006),
observaram pico da concentração de estrógeno aproximadamente no dia 4 do ciclo,
sendo acompanhado pelo pico de LH.
De acordo com Dukelow (1970 e 1978); Wolf et al. (1970) em Domingues
(2006), diferentemente de outras espécies de PNM, os S. sciureus apresentam uma
sazonalidade bem definida. Já segundo Hearn (1983) citado por Domingues (2006), tal
sazonalidade parece estar relacionada ao período de estação seca e não ao fotoperíodo.
Na natureza, tal espécie se reproduz de julho a setembro, com nascimentos
acontecendo em dezembro, conforme dados de Dukelow (1985) citado por Domingues
(2006).
3.2 Sistemas de acasalamento
De acordo com Strier (2000) em Decanini (2006), a definição tradicional de
sistemas de acasalamento (Quadro 3) leva em consideração o número de machos e
fêmeas reprodutoras. Dessa maneira, grupos de primatas não humanos que incluem
um macho e uma fêmea nesse papel são definidos como monogâmicos, os grupos
constituídos de um macho e várias fêmeas reprodutoras são considerados poligínicos.
Aqueles, com uma fêmea reprodutora e vários machos são definidos como
poliândricos, enquanto grupos com múltiplos machos e fêmeas são poligâmicos. No
33
entanto, o conhecimento sobre as organizações socias em primatas não humanos
mostrou que o número de machos e fêmeas reprodutores no grupo não é padronizado
para as espécies. O número de reprodutores pode variar entre grupos de uma mesma
espécie, de acordo com diferenças em habitat e condições demográficas.
Entre os PVM, o acasalamento de um único par durante a estação de
acasalamento parece se restringir às espécies do gênero Hylobates (Gibão) e às
espécies Cercopithecus neglectus (Macaco-de-brazza) e Presbytis potenziani
(SANTOS, 2003). Na natureza, o Papio hammadryas hammadryas (Babuíno-sagrado)
geralmente vive em grupos constituídos por machos “solteiros” com haréns de fêmeas
que se juntam com outros grupos à noite para dormir, enquanto as espécies Papio
hammadryas anubis (Babuíno-verde) (LINN, 2006) e Pan troglodytes (Chimpanzé)
vivem em grupos “promíscuos” - multi-macho / multi-fêmea, ou seja, poligâmicos
onde os machos adultos copulam, dentro da mesma comunidade, com qualquer fêmea,
e as fêmeas receptivas copulam com vários machos (CARVALHO, 2008). Os Pan
troglodytes (Chimpanzé) apresentam dimorfismo sexual, onde os machos adultos
pesam cerca de 40 kg, enquanto as fêmeas adultas pesam 30 kg (LINN, 2006).
Já em PNM – os calitriquídeos – além de alguns Cebidae, Sapajus (Macacoprego), Aotus (Macaco-da-noite) e Callicebus (Zogue-zogue) têm sido considerados
monogâmicos em função da exibição de um conjunto de comportamentos
característicos do sistema monogâmico de acasalamento. Por exemplo, a exibição de
padrão de ligação sócios-sexual de longo prazo; cuidado cooperativo dos filhotes, com
participação ativa do macho reprodutivo; agressividade dos dominantes em relação aos
demais membros do grupo, especialmente entre fêmeas ou indivíduos que imigram
para o grupo (SANTOS, 2003).
Porém, para Schaffner e French (2004) em Decanini (2006) e para Santos
(2003), o sistema monogâmico tem sido frequentemente registrado em calitriquídeos
criados em cativeiro, pois, na natureza, o sistema de acasalamento dos mesmos, é
variável, podendo ocorrer em uma mesma espécie tanto a poligínia, quanto a
monogamia ou a poliandria.
34
Quadro 3: Sistemas de acasalamentos descritos em algumas espécies de
primatas não humanos.
TIPOS DE
ACASALAMENTO
DEFINIÇÃO
PRIMATAS VELHO
MUNDO
Hylobates (Gibão);
Incluem um macho
MONOGÂMICO
e uma fêmea
Cercopithecus
zogue) (SANTOS, 2003); Callithrix (Saguis)(DECANINI, 2006);Callimico
neglectus (Macaco-de- (Mico de Goeldi) Garber (2005) em Bicca-Marques et al. (2011); Cebuella
brazza) e Presbytis
(DECANINI, 2006).
potenziani
(Macaco-cabeludo) Kinzey (1997) em Bicca-Marques et al. (2011);
(SANTOS, 2003).
Chiropotes (Cuxiú) Ayres (1981) em Bicca-Marques et al. (2011);
Papio hammadryas
Callithrix (Saguis) (DECANINI, 2006); Saguinus fuscicollis fuscicollis
macho e várias
fêmeas reprodutoras
sagrado) (LINN,
(DECANINI, 2006).
2006).
Brachyteles (Muriqui) Strier (1999) em Bicca-Marques et al. (2011);
Alouatta (Bugios) Steele (1989) em Kugelmeier (2005);
Callithrix (Saguis) (DECANINI, 2006); Mico (Micos); Leontopithecus
uma fêmea
(Micos-leão) Baker et al. (2002) em Bicca-Marques et al. (2011); Callimico
-------
reprodutora e vários
(Mico de Goeldi) Garber (2005) Bicca-Marques et al. (2011); Cebuella
machos
(Sagui-leãozinho) Soini (1993) em Bicca-Marques et al. (2011); Saguinus
(DECANINI, 2006).
POLIGÂMICO
(Sagui-leãozinho) Soini (1993) em Bicca-Marques et al. (2011); Pithecia
hammadryas (Babuíno- (Sagui) Calegaro-Marques (1995); em Bicca-Marques et al. (2011);
Constitídos com
POLIÂNDRICO
Sapajus (Macaco-prego); Aotus (Macaco-da-noite); Callicebus (Zogue-
reprodutores
Constituídos de um
POLIGÍNICO
PRIMATAS NOVO MUNDO
(Sagui) Sussman e Garber (1987) em Bicca-Marques et al. (2011);
Papio hammadryas
Alouatta (Bugios) Neville et al. (1988) em Kugelmeier (2005); Brachyteles
Grupos com
anubis (Babuíno-
(Muriqui) Strier (1999) em Guedes (2008); Lagothrix (Macaco-barrigudo)
múltiplos machos e
verde) (LINN, 2006);
Di Fiori (1997) em Bicca-Marques et al. (2011); Saimiri sciureus (Macaco
fêmeas
Pan troglodytes
de cheiro) Emmons E Feer (1997) em Branco et al. (2010); Sapajus apella
(DECANINI, 2006).
(Chimpanzé)
(Macaco-prego) Rowe (1996) em Oliveira (2010);
(CARVALHO, 2008);
Fonte: Elaborado pela autora.
Segundo Stevenson e Rylands (1988) em Decanini (2006), os PNM
pertencentes ao gênero Callithrix, apresentam uma estrutura social organizada,
geralmente, em torno de um casal reprodutor dominante em relação aos demais
membros do grupo.
No entanto, para Goldizen (1987); Stevenson e Rylands (1988) em Decanini
(2006), não há uma clara hierarquia linear nos grupos e a ocorrência de poliginia e
poliândria neste gênero podem indicar uma estrutura hierárquica mais complexa.
Sendo assim, é importante conhecer o comportamento e os aspectos de
socialidade dos machos calitriquídeos, pois conforme, Schaffner e French (2004)
citados por Decanini (2006), a presença de machos adultos, potencialmente
reprodutivos em grupos selvagens de calitriquídeos nos leva a questionar sobre as
35
relações desses machos com a fêmea dominante e o papel que tais machos cumprem
dentro do grupo.
Segundo, Van Schaik (1994); Van Hooff (1994 e 2000) em Decanini (2006), a
presença de machos adultos no grupo está, em geral, ligada à incapacidade do macho
dominante de expulsar os rivais, ou no benefício que esses outros machos podem
trazer. Dessa forma, tais grupos podem apresentar tanto um sistema de acasalamento
monogâmico, como poliândria facultativa. Sendo que, os custos energético de criação
dos filhotes seriam um fator chave para levar à aceitação de mais de um macho no
grupo.
Assim, de acordo com Baker et al. (1999); Schaffner e French (2004) em
Decanini (2006), machos não aparentados em Callithrix kuhlli e Callithrix jacchus
demonstraram disputas agressivas para acesso às fêmeas reprodutoras e os animais
subordinados costumam ter acesso reduzido às fêmeas do grupo ou são impedidos. Em
grupos poliândricos com machos aparentados, no entanto, não há clara disputa de
dominância entre os machos.
Já a reprodução das fêmeas de Callithrix jacchus, conforme Lazaro-Perea et al.
(2000) citado por Decanini (2006), geralmente é relacionada ao status de dominância.
A fêmea dominante recebe pouca ou nenhuma agressão, desenvolve função ovariana
completa e sua prole sobrevive mais do que a de fêmeas subordinadas - que por acaso
venham a reproduzir, pois, ainda há a possibilidade de fêmeas dominantes matarem os
filhotes das subordinadas.
Segundo Albuquerque et al. (2001) em Decanini (2006), a competição social
pelo status reprodutivo pode ocorrer entre fêmeas em grupos de calitriquídeos
selvagens e as fêmeas podem ter sua dominância contestada em consequência da
diminuição do sucesso reprodutivo da dominante pela presença de outra fêmea
reprodutora.
Ao que parece, assim como tem sido descrito nos trabalhos realizados com
calitriquídeos criados em cativeiro, fatores que podem estar relacionados com o baixo
sucesso reprodutivo das fêmeas não dominantes, tais como a redução da expressão dos
hormônios ovarianos e a agressividade da fêmea dominante direcionada às demais
fêmeas, também podem ser disparados em grupos selvagens (SANTOS, 2003).
Outros aspectos, tais como, a saturação de calitriquídeos e o isolamento da
36
mata, são fatores que tendem a reduzir a dispersão e aumentar a incidência de
poliginia. Em cativeiro, a ocorrência de acasalamentos de duas fêmeas de
calitriquídeos com um mesmo macho já foi registrada em Callithrix jacchus e
Callithrix kuhlii, e estaria relacionada, principalmente, com a introdução de um macho
não aparentado no grupo. Várias hipóteses têm sido formuladas a respeito dos
mecanismos pelos quais a fêmea dominante poderia provocar mudanças fisiológicas
nas demais fêmeas, tendo sido citada a influência de fatores feromonais, sociais e a
“barreira da endogamia” (para a manutenção da fertilidade de uma única fêmea no
grupo, o que evitaria a procriação consanguínea entre parentes). Entretanto, não
poderíamos descartar a possibilidade desses fatores atuarem conjuntamente (SANTOS,
2003).
Segundo Stevenson e Rylands (1988) em Bicca-Marques et al. (2011), os PNM
pertencentes ao gênero Mico vivem em grupos de 5 a 15 indivíduos com mais de dois
adultos, mas, normalmente, com apenas uma fêmea reprodutora, que suprime a
ovulação das fêmeas subordinadas, características essas que indicam um sistema de
acasalamento poliândrico.
Igualmente Baker et al. (2002) em Bicca-Marques et al. (2011), afirma que o
gênero Leontopithecus (PNM) também apresenta um sistema de acasalamento
poliândrico, onde os grupos são compostos de 2 a 14 indivíduos – sendo formado por
mais de um macho adulto, jovens de diferentes idades e, geralmente, por única fêmea
reprodutora.
Já Porter (2001); Garber (2005) em Bicca-Marques et al. (2011), afirmam que
os PNM do gênero Callimico vivem em grupos 2 a 12 indivíduos, contendo uma ou
duas fêmeas reprodutoras, sendo assim, podem apresentar tanto acasalamentos
monogâmicos como poliândricos.
Da mesma forma, Soini (1988 e 1993) em Bicca-Marques et al. (2011), afirma
que o gênero Cebuella (PNM) vive em grupos compostos por 2 a 9 indivíduos
contendo uma fêmea reprodutora, um macho adulto e suas crias, sendo a fêmea
reprodutora dominante sobre todos os membros do grupo, podendo inclusive copular
com mais de um macho (quando presente) sugerindo uma possível poliandría.
De acordo com Sussman e Garber (1987) em Bicca-Marques et al. (2011), o
gênero Saguinus (PNM), também apresenta sistema de acasalamento poliândrico,
37
porém, estudos de Calegaro-Marques (1995); Terborgh e Goldizen (1985) citados por
Bicca-Marques et al. (2011), registraram a ocorrência de uma ou duas fêmeas
reprodutoras
em um grupo de Saguinus fuscicollis fuscicollis, existindo assim a
possibilidade de acasalamentos poligínicos.
Entretanto, o gênero Aotus - único gênero de PNM com hábitos noturnos apresenta sistema de acasalamento monogâmico vivendo em grupos familiares de 2 a
5 indivíduos, compostos por um casal de adultos e sua prole, conforme afirmação de
Wright (1981) citado por Bicca-Marques et al. (2011).
Da mesma maneira, para Buchanan et al. (1981); Deffler (2004); Kinzey
(1997) e Robinson et al. (1987) citados por Bicca-Marques et al. (2011), o gênero
Pithecia muitas vezes é considerado monogâmico, devido a formação de pequenos
grupos que normalmente inclui um casal de adultos, alguns juvenis e muitas vezes
um único filhote. Porém, há controvérsias, já que, para Ayres (1996) e Rosenberger et
al. (1996) citados por Bicca-Marques et al. (2011), alguns aspectos de comportamento
reprodutivo, como a presença de um indivíduo adulto de cada sexo nos grupos e a
falta de evidência no cuidado parenteral pelos machos, podem indicar que estes PNM
não seguem o padrão típico de monogamia.
Outros gêneros de PNM que apresentam sistema de acasalamento monogâmico
e que vivem em grupos familiares compostos por um casal de adultos e sua prole (um
ou dois filhotes) é o gênero Chiropotes, segundo observações de Ayres (1981) citado
por Bicca-Marques et al. (2011), e o gênero Callicebus, segundo afirmação de Kinzey
(1981); Robinson et al. (1987) citados por Bicca-Marques et al. (2011).
De acordo com Di Fiori (1997) e Strier (1999) em Bicca-Marques et al. (2011),
o gênero Brachyteles (PNM) apresenta sistema de acasalamento poligâmicopoligínico, no qual fêmeas receptivas acasalam com mais de um macho durante único
período de estro.
Segundo Strier (1999) em Guedes (2008), os muriquis (Brachyteles
hypoxantus), espécie pertencente ao grupo dos PNM, similarmente aos Babuínos
(Papio cinocephalus) e aos Chimpanzés (Pan troglodytes) vivem em grandes grupos
de sexo-misto, ou seja, poligâmicos, mas diferentemente desses, vivem em uma
sociedade igualitária com baixas taxas de agressividade entre os indivíduos do grupo.
Strier (2001 e 2002); Guimarães (2001) em Guedes (2008) complementam
38
ainda que, para primatas não humanos que vivem em grupos grandes de sexo-misto
com sociedade de hierarquia e dominância, como Chimpanzés e Babuínos, as fêmeas
que possuem filhotes dependentes tendem a se unir e se distanciar dos outros
indivíduos do grupo, para que ao mesmo tempo em que diminuam a competição
durante a alimentação possam ter acesso às fontes alimentares de alta qualidade
nutricional e fornecer proteção aos filhotes. Se as fêmeas não precisam competir para
ter acesso aos recursos e se os filhotes não correm o risco de serem agredidos por
outros membros do grupo, provavelmente as fêmeas não precisem se unir para ter
acesso aos recursos e para evitar a competição durante o forrageamento. Trabalhos
anteriores de Strier (1999, 2001 e 2002) citados por em Guedes (2008), mostram que
fêmeas muriquis dormem juntas provavelmente para que os filhotes tenham
oportunidade de brincarem; e que os filhotes raramente são avistados próximos aos
machos, já que, as mães cuidam sozinhas dos filhotes, durante aproximadamente 2,5
anos - quando recomeçam a copular, podendo estender a amamentação até o final do
segundo ano pós-parto, quando filhotes completam 2 anos de idade, segundo
afirmação de Strier e Ziegler (2005); Rimoli (1998) citados por em Guedes (2008).
Portanto, pode se dizer que as fêmeas muriquis com filhotes dependentes
também fiquem próximas uma das outras, mas provavelmente por motivos diferentes
das fêmeas de Chimpanzés e Babuínos (GUEDES, 2008).
De acordo com Di Fiori (1997) em Bicca-Marques et al. (2011), o gênero
Lagothrix vive em grupos sociais grandes, compostos por 20 a 50 indivíduos, estáveis
e que contêm muitos machos e fêmeas adultos. Porém, ao contrário do observado em
Brachyteles spp., os indivíduos adultos parecem evitar a proximidade de outros
adultos do mesmo sexo. Sendo assim, as fêmeas adultas com filhotes se associam
preferencialmente com indivíduos juvenis. O sistema de acasalamento do gênero
Lagothrix também é do tipo poligâmico, já que, muitos machos costumam acasalar
com uma mesma fêmea - receptiva durante o período de estro.
Segundo Steele (1989) em Kugelmeier (2005), o gênero Alouatta apresenta
sistema de acasalamento poligínico. Entretanto Neville et al. (1988) em Kugelmeier
(2005), afirma que tal gênero também pode apresentar acasalamentos poligâmicos, já
que, a mesma fêmea pode acasalar-se com vários machos do grupo.
O gênero Saimiri sciureus, conforme Emmons e Feer (1997) citados por
Branco et al. (2010), também apresenta sistema da acasalamento poligâmico,
39
entretanto, um ou dois machos copulam com mais frequência dentro do mesmo grupo.
Da mesma forma, a espécie Sapajus apella, conforme Emmons (1990) e Rowe (1996)
citados por Oliveira (2010), apresenta acasalamentos poligâmicos e as fêmeas do
grupo reproduzem-se referencialmente com o macho dominante.
3.3 Biotecnologias da reprodução assistida
Tanto no grupo de PVM quanto no grupo de PNM, encontramos espécies
ameaçadas de extinção, principalmente devido à destruição e fragmentação do
ambiente natural e à exploração comercial de muitas delas. Sendo estes, os principais
fatores afetando as populações de primatas não humanos, aliados ao baixo
desempenho reprodutivo em cativeiro de algumas espécies, torna-se urgente que sejam
desenvolvidas técnicas de reprodução assistida. (GUIMARÃES, 2007).
Segundo Wolf (2009), a utilização de biotecnologias aplicadas à reprodução de
animais silvestres vem sendo proposta como ferramenta na conservação de espécies
em ameaça de extinção ou com linhagens de alto valor para pesquisa biomédica.
Portanto, o conhecimento e a compreensão das múltiplas características
comportamentais e endócrino-reprodutivas dos primatas não humanos são essenciais
para que possamos desenvolver e aplicar com sucesso técnicas de reprodução assistida
como: a inseminação artificial (IA), a fertilização in vitro (FIV), a transferência de
embriões (TE) e mesmo a clonagem, em casos específicos (GUIMARÃES, 2007).
Assim, buscando facilitar a compreensão a respeito das biotecnologias da reprodução
assistida empregadas em primatas não humanos, criados ou originados no Brasil,
sintetizamos as informações sobre os PVM e PNM nos (Quadros 4 e 5).
40
Quadro 4 – Quadro sintético com dados reprodutivos e biotecnologias da
reprodução assistida, pesquisadas em alguns PVM.
ESPÉCIE
Cercopithecus
spp.
Cercopithecus
aethiops
Erythrocebus
patas
Gorilla gorilla
CICLO
REPRODUTIVO
Menstrual
Menstrual
Menstrual
SISTEMA
ACASALAMENTO
...................
...................
...................
Menstrual
...............
Gorilla gorilla
gorilla
Macaca spp.
Macaca
speciosa
Macaca mulatta
Macaca
fascicularis
Macaca fuscata
Macaca
thibetana
Menstrual
Menstrual
Menstrual
Menstrual
Menstrual
Menstrual
Menstrual
Pan paniscus
Menstrual
Pan troglodytes
Menstrual
.............
.............
............
.............
............
..............
........
............
Poligâmico
Fonte: Elaborado pela autora.
BIOTECNOLOGIA DA
REPRODUÇÃO
Fertilização in vitro;
Criopreservação de sêmen;
Criopreservação de sêmen;
Coleta de sêmen (vagina
artificial); criopreservação de
sêmen; monitoramento
hormonal não invasivo;
Fertilização in vitro; IA;
Fertilização in vitro;
Criopreservação de sêmen;
Criopreservação de sêmen;
Criopreservação de sêmen;
Criopreservação de sêmen;
Criopreservação de sêmen;
Monitoramento hormonal não
invasivo
Coleta de sêmen (vagina
artificial; micropunção da
cabeça e cauda de epidídimo
pos mortem); criopreservação
de sêmen; implantes subdérmicos (Implanon®).
41
Quadro 5 – Quadro sintético com dados reprodutivos e biotecnologias da reprodução
assistida, pesquisadas em alguns PNM
ESPÉCIES
CICLO
REPRODUTI
VO
SISTEMA
ACASALAMENTO
Alouatta caraya
Estral
Políginico / Poligâmico
Coleta de sêmen (eletroejaculação); monitoramento hormonal não invasivo; vasectomia; Diluentes
(TES - Ringer-lactato);
Ateles sp.
Estral
.......
Coleta de sêmen (eletroejaculação); criopreservação de sêmen; FIV; PIVE; MIV; isolamento de
folículos pré-antrais (tissue chopper); monitoramento hormonal não invasivo;
Ateles paniscus
Estral
.......
Criopreservação de sêmen; Diluentes (TRIS - TES);
Ateles marginatus
Estral
.......
Criopreservação de sêmen; Diluentes (TRIS - TES);
Brachyteles spp.
Estral
Políginico / Poligâmico
Monitoramento hormonal não invasivo;
Monogâmico
Monitoramento hormonal não invasivo;
Estral
Monogâmico/
Poligínico / Poliândrico
Monitoramento hormonal não invasivo;
Callithrix jachus
Estral
Monogâmico/
Poligínico / Poliândrico
Callimico goeldi
...............
Monogâmico /
Poliândrico
Monitoramento hormonal não invasivo;
Cebus sp.
Menstrual
Monogâmico
Monitoramento hormonal não invasivo;
Estral
Poliândrico
Estral
Poliândrico
Pithecia pithecia
Estral
Monogâmico
Monitoramento hormonal não invasivo;
Saimiri boliviensis
Estral
..................
Coleta de sêmen (eletroejaculação);
Saimiri sciureus
Estral
Poligâmico
Saguinus sp.
Estral
Poliândrico
IA; FIV; Estimulação hormonal (FSH-hCG);ICSI (intracitoplasmatic sperm injection);
monitoramento hormonal não invasivo;
Monitoramento hormonal não invasivo;
Saguinus fuscicolis
Estral
Políginico
Monitoramento hormonal não invasivo;
Sapajus sp.
Menstrual
Monogâmico
Monitoramento hormonal não invasivo;
Poligâmico
Coleta de sêmen (eletroejaculação); criopreservação de sêmen; FIV; PIVE; MIV; isolamento de
folículos pré-antrais (tissue chopper); monitoramento hormonal não invasivo; Água de coco in
natura; tripsina; hialuronidase; TES - TRIS a 2,5% e 3,5 % de glicerol; ACP ®118) adicionado de
3%, 5% e 7% de glicerol;
Callicebus moloch
Callithrix spp.
Leontopithecus
spp.
Leontopithecus
chrysomelas
Sapajus apella
Menstrual
BIOTECNOLOGIA DA REPRODUÇÃO
Coleta de sêmen (eletroejaculação; lavagem vaginal; micropunção da cabeça e cauda de epidídimo
pos mortem); criopreservação de sêmen; PIVE; FIV; ICSI (intracitoplasmatic sperm injection);
cultivo de folículos pré-antrais; MIV; Diluentes (TRIS - TES);
Monitoramento hormonal não invasivo;
Coleta de sêmen (eletroejaculação)
Fonte: Elaborado pela autora.
42
3.3.1 Métodos de coleta de sêmen
A coleta de sêmen de PNM tem sido realizada, com maior frequência, pelo
método de eletroejaculação. Essa técnica tem sido utilizada em várias espécies de
PNM, como Sapajus apella, Callithrix jacchus, Alouatta caraya, Ateles sp.,
Leontopithecus chrysomelas, Saimiri boliviensis. Outros métodos de coleta de sêmen
têm sido descritos nos PNM, como: lavagem vaginal e a vibroestimulação peniana
(SOUZA-ARAÚJO, 2012). Ainda para primatas não humanos, existem outras opções
para realização da coleta seminal que são: o uso da vagina artificial, masturbação
peniana e a punção do epidídimo (OLIVEIRA, 2010).
Sendo que, a eletroejaculação é considerada por Sonksen e Ohl (2002) citados
em Oliveira (2010), uma importante técnica de coleta, possuindo vantagens de ter boa
aceitação clínica por não requerer cirurgia (somente a contenção química) além de
permitir que até 90% do sêmen obtido permaneça com seu DNA intacto, por não ser
uma técnica destrutiva para o espermatozoide.
Contudo, uma vez que a maioria das espécies de PNM não possuem um
protocolo definido de estímulos elétricos, a sequência de estímulos utilizados para uma
espécie, pode ser repetida em outras espécies correlacionadas (OLIVEIRA, 2010).
De acordo com Oliveira (2010), a eletroejaculação tornou-se uma técnica
importante como método de indução da ejaculação também na espécie Sapajus apella
devido ao seu volume corpóreo e comportamento agressivo, fatores que predispõem
contenção química para o manuseio seguro dos animais e que dificultam a utilização
de outras técnicas de coleta seminal nesta espécie.
Barnabe et al. (2002) em Oliveira (2010), descreveram um protocolo para
Sapajus apella, em que são realizadas 5 séries de 20 estímulos cada, em um nível
progressivo de intensidade, de 50 a 300 mA. Contudo, Araújo et al. (2009) citado por
Oliveira (2010), demonstraram que é possível induzir a ejaculação com estímulos que
variaram de 12,5 mA a 100 mA, com intervalos de 30 segundos entre cada série de
estímulos. Sendo que, o processo de ejaculação durante os intervalos de cada série é
otimizado, ocorrendo à obtenção de frações de sêmen líquidas e coaguladas. Para
Oliveira (2010), esse protocolo foi considerado vantajoso por oferecer menor risco de
injúrias aos indivíduos, em consequência das baixas amperagens empregadas.
43
Já Hernández-López et al. (2002) em Oliveira (2010), aplicou estímulos de 1
volt e 10mA até 7 volts e 100mA, em Ateles sp., aumentado 1 volt a cada 2 ou 3
tentativas sucessivas, além de realizar a estimulação manual do pênis.
Da mesma forma, Valle et al. (2004) em Oliveira (2010), utilizaram estímulos
de 0 a 8 volts em Alouatta caraya com aumentos subsequentes de 0,5 volt a cada série
de 30 estímulos, que duravam cerca de 2 a 3 segundos com intervalo de 1 a 2
segundos.
Entretanto, Lang (1967) em Oliveira (2010), alcançou bons resultados na coleta
seminal de Saimiri sciureus, ao utilizar um intervalo de voltagem de 0,95-1,15 volts,
obtendo tempo médio para ejaculação entre 2 e 3 minutos.
A eletroejaculação também pode ser utilizada, conforme Valle (2002) citado
por Kugelmeier (2005), para estudar as características físicas e morfológicas do
sêmen. Dessa forma, através da coleta de sêmen de Alouatta caraya pela técnica de
eletroejaculção, obtiveram-se os seguintes resultados: o volume do ejaculado de
Alouatta caraya foi de 0,09 ± 0,05 ml; a concentração média foi de 649,5 ± 926,7 x
106 espermatozoides por mililitro. Sendo que, ao comparar dados de machos
acasalados e de machos não acasalados, encontrou-se diferenças significativas para a
concentração espermática (maior para os machos não acasalados) e nos defeitos
maiores (maior para os machos acasalados). Sugerindo então, que a concentração
espermática mais baixa e maior percentual de anormalidades, não necessariamente
implicam em infertilidade da espécie estudada.
A vagina artificial, conforme Gould, Martin e Warner (1985) citados por
Oliveira (2010), também é uma opção para realização da coleta de sêmen de algumas
espécies de primatas não humanos como em: Gorilla gorilla (Gorila) e Pan
troglodytes (Chimpanzé) de acordo com Young, Smithwick e Gould (1995) citados por
Oliveira (2010).
Sendo que, a vagina artificial e a masturbação são métodos de coleta seminal
que conforme Valle (2002) citado por Oliveira (2010) eliminam a necessidade de
contenção química, diminuindo as interferências na qualidade do ejaculado, porém
requerem condicionamento do animal, uma vez que é necessário realizar o estímulo
pelo animal (vagina artificial) ou permitir que ele o faça (masturbação).
44
Segundo Kuederling, Morrel e Nayudu (1996) em Valle (2002) e em Oliveira
(2010), outra técnica que pode fornecer sêmen de boa qualidade é a lavagem vaginal,
e esta já foi testada em Callithrix jacchus.
A micropunção de cabeça e cauda de epidídimo trata-se de um método
usualmente empregado em animais recém-mortos (post mortem). Estudos indicam que
os espermatozoides devem ser recuperados imediatamente devido aos efeitos
deletérios da degeneração do tecido. A degeneração tecidual pode, entretanto, ser
retardada pelo resfriamento, e os espermatozoides da cauda do epidídimo são os mais
resistentes às lesões oriundas de choque frio e também apresentam maior potencial de
fertilidade (OLIVEIRA, 2010).
Conforme Young et al. (1994) em Filho (2004), a técnica de coleta de sêmen
através de micropunção de cabeça e cauda de epidídimo (em animais recém-mortos),
já foi aplicada em Pan troglodytes (Chimpanzé ) e em Callithrix jacchus (Saguis),
conforme Morrell et al. (1997) citado por Filho (2004).
3.3.2 Métodos de conservação do sêmen
De acordo com Gould et al. (1978); Sankai et al (1994); Thomson et al (1992);
Tollner et al (1990) e Valle (2002) em Valle (2003), um dos problemas que dificultam
o desenvolvimento de técnicas para a reprodução assistida é a conservação do sêmen.
Além disto, o sêmen da maioria dos PNM coagula durante ou logo após a ejaculação,
prejudicando, ou até mesmo impedindo sua análise e criopreservação, além de
dificultar a posterior utilização para fecundação.
Desta forma, conforme Filho (1978) em Valle (2003), deve-se procurar
diminuir a atividade dos espermatozoides, a fim de impedir que estes esgotem a
reserva natural presente no sêmen e venham sofrer uma autointoxicação, consequente
de seu trabalho metabólico. Esta redução de atividade se obtém, essencialmente, na
prática da conservação pelo resfriamento do sêmen. Entretanto, neste processo, é
importante que o choque térmico seja evitado, devendo o sêmen ser mantido nas
temperaturas de conservação indicadas, após ser submetido ao resfriamento gradativo.
45
3.3.2.1 Criopreservação de sêmen
O princípio dessa biotécnica, conforme England (1993) citado por Oliveira
(2010), é congelar o espermatozoide diminuindo, reversivelmente, a sua atividade
metabólica, permitindo o seu armazenamento por tempo indeterminado, o que
possibilita o emprego desse sêmen congelado em programas de inseminação artificial.
A criopreservação inclui inicialmente uma etapa de resfriamento, que consiste
na redução progressiva da temperatura do sêmen diluído, baseado no princípio de que
o frio é o agente mais eficaz na diminuição das atividades metabólicas dos
espermatozoides, podendo ser conservado em estado líquido por várias horas com
taxas de fertilidade aceitáveis, conforme observado por Mies Filho (1987) citado por
Oliveira (2010).
De acordo com Mckinnon (1996) em Oliveira (2010), quando os
espermatozoides são armazenados a 5ºC, as necessidades metabólicas decrescem a
aproximadamente 10% daquelas que teriam se estivessem à temperatura de 37ºC.
A criopreservação de sêmen de alguns primatas não humanos tem sido descrita
nas seguintes espécies de PVM: Cercopithecus aethiops; Erythrocebus patas; Macaca
speciosa; Macaca mulata; Pan troglodytes, conforme Roussel e Austin (1967); Papio
anubis, segundo Kraemer e Vera Cruz (1969); Macaca fascicularis, conforme Mahone
e Dukelow (1978); Macaca fuscata, conforme Sankai et al. (1997); Gorilla gorila,
segundo Lambert et al. (1991) e Macaca thibetana de acordo com Chen et al. (1994);
e em espécies de PNM: Callithrix jacchus, segundo Morrell et al. (1997) e Saimiri
sciureus, de acordo com Denis et al. (1976) citados por Oliveira (2010), assim como,
todos os outros referenciados neste parágrafo. Contudo, Li et al. (2005) em Oliveira
(2010), afirma que somente para cinco dessas espécies foi relatado sucesso após
inseminação artificial com sêmen descongelado.
3.3.2.2 Diluentes para sêmen de primatas não humanos
Segundo Rota (1998) em Oliveira (2010), a composição do diluente é de
extrema importância e deve ser específica para cada espécie. Devendo ser constituído
por determinadas substâncias para ser completo e eficiente, tais como: agentes
46
crioprotetores; substâncias tampão para assegurar o controle do pH (TRIS - Trishidroximetil-aminometano,
TES
-
ácido
NTrishidroximetil-metil-2-
aminometanosulfônico); ringer lactato; água de coco; citrato ; fosfato de sódio; fonte
de energia (frutose ou inusitol) e antibióticos.
Sendo que, os diluentes utilizados na criopreservação de sêmen de primatas
não humanos geralmente contêm gema de ovo, açúcares, glicerol ou DMSO
(Dimetilsulfóxido) em proporções variadas, conforme
Morrel e Hodges (1998)
citados por Oliveira (2010).
Porém, segundo Oliveira (2010) , diferentes diluidores, como glutamato de
sódio ou TES-TRIS têm sido utilizados na criopreservação de sêmen de primatas não
humanos, conforme dados do (ANEXO A).
Dessa forma, os diluentes contendo TRIS e TES já foram utilizados na
criopreservação do sêmen de espécies de PNM, como Callithrix jacchus, segundo
Morrell et al. (1998) citado por Oliveira (2010), Ateles paniscus e Ateles marginatus,
de acordo com Silva (2005) citado por Oliveira (2010).
Com relação à espécie Sapajus apella, Araújo et al. (2009) em Oliveira (2010),
demonstraram que a solução à base de água de coco in natura é eficiente na
conservação da viabilidade espermática, mantendo aproximadamente 87% de
espermatozoides vivos, em banho-maria a 37°C, por até 7 horas após a coleta do
sêmen. Este diluente apresentou também vantagens em relação a outros diluidores
contendo enzimas proteolíticas para dissolução do coágulo, como a tripsina e a
hialuronidase, que além da queda da motilidade e do vigor espermático, podem causar
danos à membrana espermática impedindo o sucesso da criopreservação, conforme
Hernández-López et al. (2002); Paz et al. (2006) citados por Oliveira (2010).
Na congelação de sêmen de primatas não humanos, diversos tipos de diluidores
e seus efeitos crioprotetores têm sido testados na espécie Sapajus apella, com a
finalidade de buscar melhor protocolo para a manutenção da viabilidade espermática.
Entretanto, somente um trabalho relata a criopreservação de sêmen de S. apella
utilizando água de coco in natura e TES - TRIS a 2,5% e 3,5 % de glicerol,
respectivamente (OLIVEIRA et al., 2011).
Porém, Leão (2011) e Leão et al (2011), avaliaram a criopreservação do sêmen
de Sapajus apella em diluidor a base de água de coco em pó (ACP ®118) adicionado
47
de 3%, 5% e 7% de glicerol, com objetivo de recuperar a motilidade espermática de S.
apella, após o descongelamento. Sendo assim, as coletas de sêmen em S. apella, foram
realizadas por eletroejaculação com probe retal, após a contenção química dos
animais. O sêmen obtido foi diluído na fração A do ACP ®118 (5,84 g de ACP ®118 e
50 ml de água ultrapura) e mantido em banho-maria a 37°C. Após a dissolução do
coágulo, o mesmo, foi acrescentado à fração B do diluidor (80 ml da fração A, 20 ml
de gema de ovo e 3%, 5% ou 7% de glicerol). Posteriormente o sêmen foi envasado
em palhetas, resfriado em geladeira a 4°C por 90 minutos e posteriormente congelado
(-196°C) em nitrogênio líquido. Após uma semana as palhetas foram descongeladas a
36°C por 30 segundos. Esclarecendo que, a motilidade, o vigor, o percentual de
espermatozoides vivos foram analisados antes e após a criopreservação. O vigor e a
motilidade foram avaliados de forma subjetiva, já o percentual de espermatozoides
vivos foi avaliado por meio de coloração eosina-nigrosina. Desta forma, conforme os
resultados obtidos (Tabela 1 e 2) os autores, afirmam que o diluidor ACP ®118, nas
concentrações de glicerol adotadas é capaz de manter espermatozoides vivos com
motilidade após a criopreservação do sêmen de S. apella, sem adição de ativadores
espermáticos, como a cafeína. Que é descrita por Mahony et al. (1996) citados por
Oliveira (2010), como um inibidor de fosfodiesterase capaz de aumentar e manter a
respiração e a motilidade espermática.
TABELA 1 - Resultados da avaliação do diluidor (ACP ®118) a 5% e 7%
de glicerol - a base de água de coco em pó - sêmen (Sapajus apella)
Resultados
Espermatozoides
vivos
Antes da
criopreservação
*
80,8 ± 12
Motilidade
76,6 ± 12,9
Vigor
4 ± 0,8
*
5% de glicerol
7% de glicerol
(após a
(após a
descongelação)
descongelação)
61 ± 4,5
*
14 ± 8
*
*
3,3 ± 0,5
*
*valores em percentuais
Fonte: LEÃO; GUIMARÃES;MIRANDA, 2011
57,3 ± 2
*
8,3 ± 5,7
*
3,3 ± 0,5
*
48
TABELA 2 - Resultados da avaliação do diluidor (ACP ®118) a 3% de
glicerol - a base de água de coco em pó - sêmen (Sapajus apella)
Resultados
Antes da
criopreservação
3% de glicerol
(após a
descongelação)
Espermatozoides vivos
80,5 ± 12,1*
56,3 ± 16*
Motilidade
Vigor
80,5 ± 14,6*
4 ± 0,9*
38 ± 24*
3 ± 0,5*
*valores em percentuais
Fonte: LEÃO, 2011.
De acordo com Valle (2003), a espécie Alouatta caraya, além de ser utilizada
em pesquisas biomédicas, serve de modelo em estudos reprodutivos para que possa ser
utilizada como referência para espécies ameaçadas de extinção.
Sendo assim, estudos com o diluente TES e RINGER foram realizados em 5
machos da espécie Alouatta caraya mantidos em cativeiro. Foram colhidas 31
amostras de sêmen pela técnica de eletroejaculação por via retal, com o animal
anestesiado e contido sobre um suporte de madeira (VALLE, 2003).
Após pré-diluição em solução de Ringer Lactato (100 ml), conforme Valle
(2002) citado por Valle (2003), com o intuito de evitar a coagulação, foram
confeccionadas lâminas para as avaliações. Em todas as análises, foi utilizada uma
gota de sêmen em lâmina pré-aquecida, sobre mesa térmica à 37ºC, sendo usada uma
lamínula, também pré-aquecida, para recobrir a gota de sêmen.
Segundo Valle (2003), foram realizadas análises iniciais (T0) de motilidade
(MT) e movimentos progressivos (MP) em microscopia ótica com objetiva de 40x.
Depois da diluição e análise inicial, as amostras colhidas foram divididas em duas
porções, na primeira adicionou-se o diluente TES, e na segunda, conforme Mota
(2002) citado por Valle (2003) utilizou-se diluente RINGER, na proporção de 1:1. As
amostras permaneceram por 30 min. à temperatura ambiente (26oC) até que fossem
levadas para o refrigerador. Entretanto, neste experimento, houve uma adaptação do
teste de termo resistência (TTR) Resfriado aplicado para sêmen de equinos, alterando
a temperatura de resfriamento de 5oC para 4oC, pois o aparelho refrigerador utilizado
no laboratório de análises do local estabilizava-se nesta temperatura, e a avaliação, que
foi realizada a cada 30 minutos ao invés de 60 minutos como no teste de sêmen
49
equino. Dessa forma, o TTR consistiu no seguinte protocolo: sujeição do sêmen sob
resfriamento à 4oC, verificando-se a manutenção da MT e MP pós-colheita, a cada 30
minutos, nos dois diluidores por um período de 5 horas ou até que se extinguissem os
movimentos. Os resultados foram uma diminuição da motilidade inicial, de 81% na
análise inicial (T0) para 74% e 71% em T30 para TES e RINGER, respectivamente e
de 74% em T0 para 65% e 63% nos movimentos progressivos também para TES e
RINGER, respectivamente, essa diminuição pode ter ocorrido em função da diluição
do sêmen nos dois crioprotetores. Na avaliação dos movimentos progressivos dos
espermatozoides em cada uma das amostras, a manutenção da viabilidade espermática
foi constatada pela média de 65% no TES e 63% no RINGER, após 30 minutos sob
refrigeração à 4ºC e 36% no TES e 33% no RINGER, após 5 horas nas mesmas
condições. Neste estudo, 33% dos espermatozoides apresentavam motilidade, que
conforme o COLEGIO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL (2002) citado
por Valle (2003) classificam a viabilidade considerando o sêmen apto ou não para sua
posterior utilização.
Baseados nos resultados Valle (2003) considerou que os diluentes TES e
RINGER demonstraram eficácia comprovada na manutenção da viabilidade
espermática no sêmen sob refrigeração à 4oC, na espécie Alouatta caraya, sendo que,
o diluente RINGER, demonstrou ser uma alternativa eficaz e vantajosa, por se tratar
de um diluente de menor custo. As avaliações entre TES e RINGER para os
parâmetros motilidade e movimentos progressivos, demonstraram que a técnica é
viável e permitirá que outros tipos de avaliações sejam realizadas. Da mesma forma, o
protocolo de TTR aplicado foi satisfatório para avaliar a viabilidade espermática nas
condições do estudo. Contudo, o autor sugere que para determinar a capacidade de
movimentação espermática, apenas um dos parâmetros, MT ou MP possa ser utilizado
em avaliações futuras.
Porém, de acordo com Valle (2003) o seu estudo inicial demonstra a
necessidade de se avançar nas análises da qualidade espermática e seus crioprotetores,
pois, apesar dos dados obtidos revelarem a eficiência do protocolo testado, a inclusão
de outros parâmetros de avaliação da viabilidade espermática do sêmen de primatas
não humanos, como análise da integridade acrossomal, patologias espermáticas pré e
após a diluição, são necessárias para o desenvolvimento de outras pesquisas em
biotecnologias de reprodução assistida.
50
3.3.3 Fertilização in vitro
Na fertilização in vitro (FIV), os espermatozoides são misturados em um meio
de cultura com oócitos (que foram aspirados diretamente dos ovários das fêmeas,
através de uma agulha guiada por fibra ótica ou ultrassom). A FIV tem sido relatada
em diversos gêneros de primatas não humanos como: Cercopithecus, Macaca e Papio
pertencentes ao grupo de PVM (FILHO, 2004).
Da mesma forma nos PNM, a produção in vitro de embriões (PIVE) tem sido
estudada em Callithrix jacchus por meio da FIV, conforme Grupen et al. (2007) citado
por Domingues et al. (2011), e da ICSI (intracitoplasmatic sperm injection) em
Callithrix jacchus, Saimiri sciureus, de acordo com Kuehl e Dukelow (1979) citado
por Domingues et al. (2011).
Lima (2011) em Domingues et al. (2011), recentemente descreveu a primeira
FIV em Sapajus apella sendo esse, o primeiro relato de PIVE em uma espécie silvestre
e em um PNM no Brasil.
Vale ainda ressaltar que em Sapajus apella foi desenvolvido um protocolo de
maturação oocitária in vitro (MIV), como alternativa ao emprego da estimulação
hormonal ovariana (DOMINGUES et al., 2010).
Segundo Loskutoff et al. (1991) em Filho (2004), através da FIV nascimentos
de diversas espécies de primatas não humanos vem sendo registrados, incluindo o
nascimento de um gorila das planícies ocidentais (Gorilla gorilla gorilla) conforme
Pope et al. (1997) citados por Filho (2004).
De acordo com Filho (2004), o Zoológico de Cincinnati localizado nos Estados
Unidos da América, notificou o nascimento de um gorila da planície ocidental (Gorilla
gorilla gorilla) após FIV e transferência de embrião de uma fêmea multípara de 21
anos
que foi tratada com hormônio folículo estimulante humano (hFSH) e
gonadotrofina coriônica humana (hCG). Dessa forma, após 35 horas do hCG, folículos
foram aspirados por sucção controlada guiada por ultrassom transvaginal. Em 21 horas
pós-FIV, finalmente, 8 óvulos estavam no estágio de duas células, sendo que, 5 foram
criopreservados e 3 foram colocados em meio de cultura - até alcançarem o estágio de
6 a 8 células e antes de realizarem a transferência uterina trans-cervical, que ocorreu
em 47 horas pós-FIV. O exame de ultrassom revelou um feto com 15 semanas pós-
51
transferência e o parto não assistido de um filhote (fêmea) de 1,37 kg ocorreu com 29
semanas. Este estudo sugere que a gonadotrofina menopausal humana (hMG) e o hCG
são efetivas em estimular a atividade ovariana em gorilas não reprodutores e que os
oócitos recuperados são capazes de serem fertilizados in vitro.
3.3.4 Transferência de embriões
Na transferência de embriões (TE), óvulos fertilizados ou embriões precoces
(geralmente no estágio de cerca de 8 células) são removidos do trato reprodutivo da
fêmea doadora e transferidos para o trato de uma mãe “adotiva”, que é quem “carrega”
os embriões ao termo e produzem os filhotes vivos. Os procedimentos de TE em
espécies não domésticas, são frequentemente realizados em conjunto com protocolos
de estimulação ovariana, permitindo assim, que grande quantidade de embriões seja
coletada, tanto para o uso imediato, como para a realização do congelamento (FILHO,
2004).
A TE apresenta muitas vantagens como técnica de reprodução, pois, aumenta
o número de ninhadas por fêmea; previne a transmissão de doenças entre populações;
promove a possibilidade de filhotes adquirirem imunidade passiva da mãe “adotiva”
(via sangue da placenta ou através da amamentação); permite facilmente o transporte
de embriões em tubos de ensaio e possibilita que embriões sejam congelados, para
posteriormente serem transferidos para fêmeas receptoras (FILHO, 2004).
A realização da coleta de embriões é geralmente aplicada no estágio de
blastocisto expandido, é feita durante a primeira semana de desenvolvimento e pode
ser feita tanto por técnicas cirúrgicas como não cirúrgicas. E geralmente, são
criopreservados por congelamento lento ou por vitrificação. Sendo que, a
sobrevivência de óvulos / embriões criopreservados difere, não somente entre os
métodos de criopreservação, mas também da espécie envolvida, do estágio de
maturação / desenvolvimento e até mesmo da qualidade do óvulo / embrião. Óvulos
não fertilizados são mais sensíveis à criopreservação do que os embriões. Igualmente
embriões formados in vitro são mais sensíveis à criopreservação do que os embriões
fertilizados in vivo (FILHO, 2004).
52
3.3.5 Coleta e manipulação de oócitos e folículos antrais
De acordo com Souza-Araújo (2012), a coleta e manipulação de oócitos para a
produção de embriões in vitro é uma biotécnica que permite o implante do embrião
produzido in vitro direto em fêmea receptora, após a punção folicular da fêmea
doadora, seguida da fertilização in vitro. Possibilitando também, a criopreservação
desse embrião por tempo indeterminado, contribuindo efetivamente no processo de
manutenção da sobrevivência da espécie.
As biópsias de tecido ovariano, punções foliculares, ovariectomias são técnicas
descritas para a obtenção de oócitos provenientes de folículos ovarianos pré-antrais e
antrais, sendo que, as duas primeiras técnicas citadas, podem ser conduzidas com o
emprego de ultrassonografia, laparoscopia e laparotomia, não sendo necessária a
remoção do ovário (DOMINGUES et al., 2007).
Segundo Domingues et al.(2011), os oócitos provenientes de folículos antrais
podem ser congelados ou utilizados imediatamente, em protocolos de maturação e
fecundação in vitro.
Em Sapajus apella, foi descrito o isolamento de folículos pré-antrais (FOPA)
utilizando-se um tissue chopper. A partir desta técnica, foi possível obter 500.000
folículos pré-antrais com diâmetro variando de 11,6 a 27,8 μm. Estes folículos préantrais, se forem devidamente cultivados in vitro, podem disponibilizar uma grande
quantidade de oócitos para estudos de maturação oocitária in vitro (MIV) e FIV, e
conforme Domingues et al. (2003) citados por Domingues et al. (2011), evitando-se
assim, o uso de técnicas invasivas como a laparotomia e laparoscopia (DOMINGUES
et al., 2011).
Nayudu et al. (2003) em Domingues et al. (2011), relataram pela primeira vez
protocolos de cultivo de folículos pré-antrais em PNM, a partir de fragmentos de
córtex ovariano e folículos isolados de Callithrix jacchus. Após o cultivo dos folículos
pré-antrais, os que formaram antro in vitro foram puncionados, e os oócitos
recuperados foram submetidos à maturação oocitária in vitro (MIV). Nos oócitos
obtidos após o cultivo dos folículos pré-antrais isolados, ocorreu o rompimento da
vesícula germinativa e extrusão do primeiro corpúsculo polar.
53
Os protocolos de MIV visam aumentar a quantidade de oócitos obtidos por
punção folicular, sendo o método utilizado com mais frequência para as várias técnicas
de produção in vitro de embriões de primatas não humanos (DOMINGUES et al.,
2011).
No entanto, os primatas não humanos submetidos a tratamentos utilizando a
superovulação, conforme Gilchrist e Thompson (2007) citados por Domingues et
al.(2011), podem não responder aos estímulos hormonais ou podem sofrer
hiperestimulação, resultando na síndrome do ovário policístico (SOP) (DOMINGUES
et al., 2011).
3.3.6 Estimulação hormonal
Um dos principais fatores limitantes das biotécnicas aplicadas à reprodução é a
obtenção de oócitos viáveis. Dentro deste contexto, estudos com fêmeas de Saimiri
sciureus têm sido desenvolvidos envolvendo indução da ovulação e estimulação
hormonal ovariana. A estimulação ovariana em S. sciureus é obtida por diversos
protocolos de estimulação hormonal. De modo geral, os trabalhos baseiam-se no prétratamento com progesterona, seguido pela associação de hormônio folículo
estimulante e gonadotrofina coriônica humana (FSH-hCG). Outros protocolos utilizam
somente o hCG ou hFSH (DOMINGUES, 2006).
Para maiores esclarecimentos Pierce et al. (1993) em Domingues (2006),
testaram os seguintes protocolos: a) controle: FSH (1mg) por quatro dias
consecutivos, e uma única dose de hCG (250 UI); b) citrato de clomifeno (2mg, 4mg
e 6mg) associado com hCG (250 UI); c) FSH, prostaglandina E1 (2 mg) e hCG (250
UI); d) somente prostaglandina E1 (2 mg). Entretanto, o grupo controle apresentou
os melhores resultados em relação à média de folículos antrais pequenos, médios e
grandes por animal, que foram de 8,3; 3,6 e 1,1; respectivamente. Já a associação
citrato de clomifeno (6mg) e hCG (250 UI) apresentou resultados similares aos do
grupo-controle, em relação à média de folículos antrais por animal. Portanto,
independente do protocolo de estimulação ovariana utilizado, alguns aspectos da
fisiologia de S. sciureus devem ser levados em consideração, como a curta duração do
ciclo estral, a sazonalidade e a alta concentração plasmática de esteroides quando
comparada com outras espécies.
54
Assim como vários protocolos de estimulação hormonal ovariana têm sido
descritos em S. sciureus, a aspiração folicular por laparoscopia ou laparotomia também
foram descritas e o número de oócitos obtidos por animal variou de dois a seis. Com
os oócitos obtidos de S. sciureus, após a estimulação hormonal e punção folicular,
estudos visando à fertilização in vitro (FIV) têm sido realizados. Ressalta-se que S.
sciureus foi à primeira espécie de PNM na qual a inseminação artificial (IA) foi
empregada, conforme Bennett (1967) citado por Domingues (2006).
3.3.7 Métodos não invasivos de monitoramento hormonal
Pesquisas aplicadas à reprodução de PNM na atualidade incluem a utilização
de métodos não invasivos de monitoramento hormonal, baseado na investigação de
metabólitos de hormônios esteroides, liberados pela urina e fezes (SOUZA-ARAÚJO,
2012).
A dosagem não invasiva de metabólitos de hormônios esteroides permitiu o
estudo da endocrinologia reprodutiva e o conhecimento das diferenças em várias
espécies de primatas não humanos (KUGELMEIER, 2005). Entre os PVM encontramse Gorilla gorilla,
conforme Myiamoto et al. (2001); Pan paniscus (Bonobo),
segundo Heistermann et al. (2001) e Papio cynocephalus de acordo com Heistermann
(1996), sendo que, todos os autores referenciados anteriormente também foram citados
por Kugelmeier (2005). Já, entre as espécies de PNM foram estudadas Ateles sp.,
conforme Campbell et al. (2001); Brachyteles spp., segundo Strier, Ziegler e Wittwer
(1999); Callicebus moloch, de acordo com Valeggia et al. (1999); Callimico goeldi,
conforme Pryce, Schwarzenberger e Dobeli (1994); Callithrix spp. e Saguinus sp., de
acordo com Lottker et al. (2004); Cebus sp. e Sapajus sp., segundo Carosi,
Heistermann e Visalbergui (1999); Leontopithecus spp., conforme Chaoui e HaslerGallusser (1999); Pithecia pithecia, segundo Savage et al. (1995); e Saimiri sciureus,
de acordo com Moorman et al. (2002), sendo que todos os autores que constam neste
parágrafo são citados por Kugelmeier (2005).
Em Alouatta caraya, Moreland et al. (2001) citado por Kugelmeier (2005),
estudaram a fisiologia reprodutiva de machos através da colheita e análise do sêmen e
dosagem de testosterona fecal. Os autores verificaram que as características do sêmen
foram similares entre machos de diferentes idades e os níveis de testosterona nas fezes
foram constantes ao longo do ano.
55
Um dos protocolos utilizados para extração de hormônios encontrado na
literatura foi descrito por Kugelmeier (2005), na espécie Alouatta caraya, onde uma
alíquota de 0,5g de fezes úmidas foram adicionadas 5,0 ml de solução metanol a 70%
(metanol : água destilada). Posteriormente a solução foi misturada em aparelho vortex
(homogeneizador de sangue) durante 30 segundos ou até que as fezes estivessem
totalmente partidas. Em seguida foram homogeneizadas em misturador mecânico por
um período de 12 horas. A mistura foi então centrifugada a 2500 r.p.m. (rotações por
minuto) durante 15 minutos. O sobrenadante foi transferido para micro tubos de
polipropileno e armazenado em freezer a (– 20oC), até a realização das dosagens.
Segundo Kugelmeier (2005), os metabólitos fecais de estrógenos e progestinas
foram dosados pela técnica de radioimunoensaio (RIE) em fase sólida, por meio de
conjunto diagnóstico comercial, desenvolvido para dosagem de estradiol e
progesterona no soro humano.
Pryce et al. (1994) em
Kugelmeier (2005),
descreve que o período de
elevação das concentrações de metabólitos fecais de estrógenos foi, em média, um dia
maior do que o período de elevação das progestinas fecais. O pico de estrógenos fecais
ocorreu no meio da elevação das concentrações de metabólitos fecais de progestinas,
entre dois e nove dias após o inicio da elevação. Em Callimico goeldi as concentrações
de estrona fecal atingiram valores de pico apenas três a cinco dias após o suposto
momento da ovulação.
Ziegler et al. (1996) em Kugelmeier (2005), encontraram maiores níveis de
estradiol do que o hormônio estrona nas fezes de Saguinus sp. e Callithrix jacchus.
Adicionalmente, os autores observaram que a maioria do estradiol fecal é encontrada
na forma de di – ou tri-conjugados derivados de estrona.
Entre as espécies de PNM estudas por meio de dosagem não invasiva de
hormônios esteroides sexuais onde este padrão foi descrito encontram-se Ateles sp.,
conforme Campbell et al. (2001); Brachyteles spp., segundo Ziegler (1997); Pithecia
pithecia, de acordo com Shideler et al., (1994); Callimico goeldi, conforme Pryce,
Schwarzenberger e Dobeli (1994); Callithrix spp., Saguinus fuscicolis, segundo
Ziegler et al.(1989), esclarecendo que todos os autores referenciados no paragráfo
acima foram citados por Kugelmeier (2005).
56
3.3.8 Clonagem
Da mesma forma como ocorre nos outros mamíferos, a produção de primatas
não humanos clonados ainda continua bastante limitada, sendo observada uma elevada
taxa de mortalidade embrionária e fetal, conforme Mitalipov et al.(2001) citados por
Domingues et al.(2011).
Segundo Zhou et al. (2006) em Domingues et al.(2011), para garantir a
eficiência da transferência nuclear nos primatas não humanos, é necessário
compreender mais detalhadamente as funções nucleares e citoplasmáticas das células
utilizadas neste processo em cada espécie.
3.3.9 Conservação das espécies e controle populacional em primatas não humanos
O aquecimento global, a destruição ou fragmentação de habitats, a introdução
de espécies exóticas nos ecossistemas, a caça ilegal ou outras pressões antrópicas têm
causado a extinção de muitas espécies animais. Número expressivo de espécies, (26)
estão ameaçadas nacionalmente (ANEXO B), o que representa quase um terço
(26,5%) das espécies com ocorrência no Brasil. As espécies de todos os PNM são
listados na Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna
and Flora (CITES) como vulneráveis à extinção (BRASÍLIA, 2008; DOMINGUES et
al., 2011).
Para a sobrevivência e perpetuação de uma espécie, é necessário que se
mantenham populações mínimas viáveis, sendo muitas vezes necessárias medidas de
proteção de seus habitats naturais (in situ), manejo das populações na natureza ou em
cativeiro, para que seja proporcionada a garantia mínima de variabilidade genética,
demográfica e ecológica. A conservação in situ consiste em uma das mais eficazes
estratégias de conservação, no entanto, dependendo da quantidade de áreas naturais
disponíveis para determinada espécie, a conservação in situ pode se tornar inviável,
em curto prazo. Por isso, atualmente, é de suma importância lançar mão de biotécnicas
de reprodução como estratégia complementar às ações de conservação in situ, uma vez
que essas podem auxiliar na recuperação e preservação do potencial genético de
animais, mesmo após a sua morte (DOMINGUES et al., 2011).
57
Atualmente, existem diversas formas de se realizar o resgate de gametas em
animais convalescentes ou post-mortem (DOMINGUES et al., 2011). Uma dessas
formas, já descrita em tópicos anteriores, é utilizando a técnica de coleta de sêmen
através da micropunção de espermatozoides de cabeça e cauda de epidídimo.
Segundo Domingues et al. (2011) os oócitos provenientes de folículos antrais
podem ser congelados ou utilizados imediatamente em protocolos de maturação e
fecundação in vitro. Lembrando que esses gametas são arsenal valioso na formação de
bancos de germoplasma e na a produção in vitro de embriões, contribuindo, assim,
para a preservação ex situ (fora do ambiente natural – criatórios ou zoológicos) de
patrimônio genético essencial para a manutenção das espécies.
Iniciativas governamentais importantes, seja nas esferas estaduais ou em
âmbito nacional, têm produzido resultados relevantes, especialmente com a criação de
novas Unidades de Conservação (UC’s) e a implantação de outras que de fato abrigam
importantes populações de primatas ameaçados de extinção. Essa iniciativa
governamental, seguida de perto por iniciativas do poder privado (como a criação de
Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPN’s), tem garantido a salvaguarda
de populações significativas de espécies Criticamente em Perigo, como é o caso do
muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus). Outras espécies ameaçadas, como os
micos-leões (Leontopithecus caissara, Leontopithecus chrysopygus e Leontopithecus
rosalia), têm recebido apoio fundamental de organizações não governamentais
(BRASÍLIA, 2008).
Além disso, vários estudos sobre distribuição geográfica, hábitos alimentares e
outros estudos ecológicos de longa duração realizados com as espécies mais
ameaçadas têm proporcionado grande avanço no conhecimento biológico de cada
uma, o que permite a aplicação de ações conservacionistas mais precisas e eficazes,
como a translocação de animais de uma área para outra, a criação em cativeiro para
reprodução e reintrodução futura, entre outras ações importantes. Trabalhos constantes
de educação ambiental nas regiões de ocorrência desses primatas e projetos de geração
de renda para as populações carentes, de um modo geral, minimizam os impactos à
fauna e flora locais, viabilizando a permanência dessas populações em longo prazo
(BRASÍLIA, 2008).
Entretanto, por outro lado, em algumas situações para se evitar a endogamia e
hibridação, é necessário recorrer a diferentes estratégias de gestão aplicadas em
58
zoológicos - geralmente empregadas para o controle de populações animais. Como,
por exemplo, a intervenção cirúrgica que será adequada se a esterilização permanente
for desejável, podendo ser realizada através da castração, vasectomia ou
ovariohisterectomia, dependendo da espécie e da dinâmica do grupo (GOODMAN,
2002; TEIXEIRA, 2003).
A vasectomia foi descrita em machos de Sapajus apella, por Teixeira (2003)
sendo realizada com um corte único na linha alba, com acesso ao cordão espermático
direito e esquerdo, o ducto deferente foi isolado (após pequena incisão na túnica
vaginal), ligado com fio de algodão 2.0 e posteriormente foi seccionado. Sugerindo
que, o período de 105 dias após a cirurgia de vasectomia, é suficiente para determinar
a condição estéril, dentro dos parâmetros propostos, para todos os exemplares de S.
apella estudados. Sendo que, tal resultado também serve de parâmetro para o manejo
reprodutivo da espécie estudada, orientando sobre o tempo necessário, após a
realização da vasectomia, para se permitir o contato dos machos com as fêmeas férteis.
Considerando ainda que são necessários três resultados negativos para células
espermáticas consecutivos para assumir que o animal esteja “esterilizado”.
Os dispositivos intra-uterinos (DIU), e contraceptivos têm sido testados em
alguns grupos. Os contraceptivos têm suas vantagens, pois, são reversíveis e não
invasivos, porém tem duração limitada e podem causar efeitos colaterais indesejáveis.
As pílulas anticoncepcionais costumam ser eficazes, mas não são confiáveis, pois os
primatas não humanos nem sempre aceitam engolir os comprimidos; já os implantes
de hormônio sub-dérmico (contendo levonorgestrel), que em seres humanos tem a
duração de até cinco anos, em primatas não humanos tem duração menor e não há
informações se podem ser usados em pequenos primatas, como, por exemplo, nos
calitriquídeos (GOODMAN, 2002).
Segundo Goodman (2002), três fêmeas de Chimpanzés - Pan troglodytes, do
Zoológico de Edimburgo localizado no Reino Unido, receberam implantes subdérmico Implanon®, após serem anestesiadas com uma combinação medetomidina e
cetamina, administrada por dardo. Os implantes sub-dérmico Implanon® são
constituídos por uma haste contendo 68 mg de etonogestrel (3ª geração progestágeno).
Sendo o núcleo constituído por copolímero de etileno-acetato de vinilo (46 mg) e a
pele de copolímero de acetato de vinilo etileno 15mg. O implante foi colocado de
acordo com as instruções do fabricante: devendo este ser inserido no interior do braço
59
superior 6-8cm acima da prega do cotovelo no sulco entre os bíceps e os tríceps. O
local de inserção foi devidamente desinfetado e cortado e, posteriormente, injetado 2
ml de lidocaína (1%) sob a pele ao longo do local da inserção do implante. Sendo a
mesma esticada, com o polegar e o dedo indicador em relação ao local de inserção. A
agulha foi introduzida sob a pele e a agulha foi inserida em toda a sua extensão. Uma
vez que o implante foi colocado e o aplicador removido, uma gota de cola de tecido
deve ser colocada no local de inserção.
Dessa forma, os resultados obtidos por Goodman (2002) foram: 1) Chimpanzé
I: Relatado último ciclo novamente em junho de 2000, após 3 anos de parida. A
contracepção oral foi iniciada em julho com Loestrin 20A (20micrograms
etinilestradiol e acetato de noretisterona 1mg). No dia 22 de outubro, ela recebeu a
pílula final e no dia 25 de outubro de 2000, o Implanon® através de anestesia geral.
Não sendo observados inchaços da genitália desde então; 2) Chimpanzé II: Os últimos
ciclos menstruais foram relatados em abril de 2000. Sendo que, no mesmo mês,
iniciou o uso do contraceptivo oral (Loestrin 20). No dia 28 de junho de 2000, o
implante Implanon® foi colocado (após 7 dias do uso de anticoncepcional oral),
recebeu anestesia geral. Não sendo observados inchaços da genitália desde então; 3)
Chimpanzé III: Inchaço da genitália foi anotado no dia 23 de fevereiro de 2001. No dia
14 de março, um implante Implanon® foi colocado em seu braço. Ficou sob efeito de
anestesia geral. O peso foi estimado em 35 kg. Não sendo observados inchaços da
genitália desde então. Esclarecendo que, de acordo com instruções do fabricante o
implante deve ser inserido preferencialmente no dia seguinte da ingestão do último
comprimido de anticoncepcional oral. E os animais devem ser considerados férteis
durante pelo menos 2 semanas após a colocação do implante no caso da presença de
folículos no início do tratamento. Tais resultados mostram que métodos contraceptivos
similares ao Implanon®, podem ser usados e foram positivos para as espécies de PVM,
porém, mais estudos voltados para os PNM são necessários, inclusive por que o Brasil
abriga a maior parte de espécies pertencentes a este grupo de primatas não humanos.
60
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A revisão da literatura sobre aspectos da reprodução de primatas não humanos
apresentados neste trabalho, possibilitou esclarecer alguns dos questionamentos a
respeito das variações que ocorrem nas espécies de primatas não humanos
pertencentes, à ordem Primates, sobre sua morfologia, comportamento, aspectos
endócrino-reprodutivos, assim como, verificar a ocorrência de diferentes ciclos
reprodutivos e diversos sistemas de acasalamento. Estas informações permitiram
compreender melhor quando e como são aplicadas as biotecnologias da reprodução
assistida, na espécie tratada, e quais dessas biotecnologias tem potencial para serem
empregadas em espécies de PVM ou de PNM.
Grande parte dos estudos realizados com primatas não humanos estão voltados
para pesquisas biomédicas ligadas à área humana, auxiliando como modelo
experimental em estudos que envolvem fisiologia humana e comportamento humano,
porém, tais pesquisas têm ênfase maior em aspectos reprodutivos (técnicas
reprodutivas, ciclo ovariano, citologia vaginal, ciclo menstrual e hormônios sexuais),
já que, os primatas não humanos possuem similaridades anatômicas, fisiológicas,
endócrinas e comportamentais em relação aos humanos.
Devido ao crescente número de espécies de primatas não humanos ameaçados
de extinção no mundo, muitos estudos utilizando as espécies como modelos
reprodutivos começaram a ser vistos como estratégias de conservação, manutenção,
sobrevivência e perpetuação das espécies. Entretanto, a maioria dos estudos, mesmo os
voltados para conservação de espécies, continuam sendo aplicados e desenvolvidos
apenas em unidades de pesquisa como, por exemplo, em centros de primatas. Portanto,
considera-se ainda que poucas pesquisas têm sido desenvolvidas e praticamente
nenhuma biotecnologia da reprodução assistida vem sendo aplicada em primatas não
humanos nos criatórios particulares, ou públicos (zoológicos e/ou centros de
conservação) e, quando os mesmos realizam algum tipo de monitoramento hormonal
ou de ciclo reprodutivo, na maioria das vezes, os objetivos não são a reprodução em si,
mas sim o controle populacional, que é realizado muitas vezes através do manejo separando machos e fêmeas - ou através de métodos contraceptivos, sendo o último
necessário em alguns casos, para evitar a endogamia e garantir mínima variabilidade
genética dentro da espécie, ou ainda, para diminuir comportamentos agressivos -
61
brigas dentro dos recintos - visando assim, o bem-estar animal.
Contudo, compreende-se que o uso de biotecnologias da reprodução assistida
em primatas não humanos ainda é muito recente, necessitando que novas pesquisas
sejam desenvolvidas. Entretanto, muitas das biotecnologias da reprodução assistida já
foram testadas em primatas não humanos - principalmente em Sapajus apella, Saimiri
sciureus e Alouatta spp. – sendo essas as mais estudas e que também podem ser
utilizadas como modelo em estudos reprodutivos visando à conservação de espécies
ameaçadas de extinção. Sendo assim, entendemos que o uso de biotecnologias da
reprodução assistida apresenta muitas vantagens, pois, de forma geral aumenta o
desempenho reprodutivo das espécies em cativeiro; proporciona maior número de
gestações positivas; proporciona maior variabilidade genética; pode auxiliar na
diminuição de intervalo entre partos, nas espécies que ciclam mesmo durante o pósparto e/ou durante a lactação; auxilia na prevenção de doenças entre populações,
inclusive prevenindo a endogamia e hibridação.
62
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67
ANEXO A – Diluidores utilizados na criopreservação de primatas não humanos.
Fonte: OLIVEIRA, 2010.
68
ANEXO B - Lista das espécies de primatas ameaçadas de extinção no Brasil e
respectivas categorias de ameaça - Ministério do Meio Ambiente. Instrução
Normativa nº3, de 27 de maio de 2003. CR: (Criticamente em Perigo); EN (Em
Perigo); VU (Vulnerável).
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