PARQUE ESTADUAL SERRA DA PRATA
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PARQUE ESTADUAL SERRA DA PRATA
Estudos técnicos para subsidiar a proposta de criação do PARQUE ESTADUAL SERRA DA PRATA Foto: Fátima Sonoda EstudosTécnicos Flora e Fauna 1 Brasília-DF, dezembro de 2012 Diretor-Presidente Henrique Brandão Cavalcanti Superintendente-Executivo Cesar Victor do Espírito Santo Administrativo-Financeiro Carlos Daniel Martins Schneider Eduardo B. Passos Paulo Henrique Gonçalves Projeto estudos para criação de unidades de conservação no Estado de Goiás Coordenação Geral - Paulo de Tarso Zuquim Antas Coordenação Executiva - Mara Cristina Moscoso Coordenação do Meio Biótico - Paula Hanna Valdujo Administrativo-financeiro - Paulo Henrique Gonçalves Consultores setoriais Sistema de Informação Geográfica Renato Prado dos Santos Edivaldo Lima de Souza Meio Biótico Vegetação Marcelo Brilhante de Medeiros Glocimar Pereira Silva Renata Corrêa Martins Fauna Ictiofauna Pedro de Podestà Uchoa de Aquino Henrique Breda Arakawa Herpetofauna Almir de Paula Mara Souza e Albuquerque e Silva Paula Hanna Valdujo Renato Sousa Recoder Avifauna e Mastofauna Lucas Aguiar Carrara de Melo Luciene Carrara Paula Faria 2 S PIDIAR ALNA Secretário do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos Leonardo de Moura Vilela Superintendente de Unidades de Conservação José Leopoldo de Castro Ribeiro Gerente de Àreas Protegidas Gilvânia Maria Silva Coordenadora do Projeto Cerrado Sustentável Susete Araújo Pequeno 3 Sumário APRESENTAÇÃO ..................................................................................................................... 7 METODOLOGIA...................................................................................................................... 9 1. Período de amostragem .................................................................................................. 9 2. Pontos amostrados ......................................................................................................... 9 3. Métodos de amostragem .................................................................................................. 17 3.1. Flora ............................................................................................................................. 17 3.2. Fauna ........................................................................................................................... 17 4. Integração dos dados primários e secundários ................................................................ 19 RESULTADOS ....................................................................................................................... 21 1. Vegetação .................................................................................................................... 21 1.1. Aspectos regionais .................................................................................................... 21 1.2. Aspectos loais ........................................................................................................... 24 2. Fauna........................................................................................................................... 29 2.1. Aspectos regionais .................................................................................................... 29 2.1.1. Ictiofauna ............................................................................................................. 29 2.1.2. Herpetofauna ........................................................................................................ 32 2.1.3. Avifauna ............................................................................................................... 34 2.1.4. Mastofauna .......................................................................................................... 37 2.2. Aspectos locais ......................................................................................................... 39 2.2.1. Ictiofauna ............................................................................................................. 39 2.2.2. Herpetofauna ........................................................................................................ 41 2.2.3. Avifauna ............................................................................................................... 46 2.2.4. Mastotofauna ....................................................................................................... 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 57 Anexo. Espécies de aves registradas na Serra da Prata durante os estudos de campo ............... 65 4 Sumário de tabelas Tabela 1. Período de amostragens realizadas pelos diferentes grupos temáticos ............................ 9 Tabela 2. Pontos de amostragem dos diferentes grupos taxonômicos .......................................... 10 Tabela 3. Espécies de peixes endêmicas da bacia do alto rio Tocantins ......................................... 30 Tabela 4. Espécies de peixes ameaçadas de extinção com ocorrência na bacia do TocantinsAraguaia, seu status de conservação e as principais ameaças a sua persistência ........................... 32 Tabela 5. Espécies de anuros endêmicas do Cerrado encontradas no nordeste goiano ................. 33 Tabela 6. Espécies de peixes amostradas ...................................................................................... 39 Tabela 7. Espécies de anfíbios e répteis amostradas. .................................................................... 42 Tabela 8. Riqueza de espécies de aves nos pontos de amostragem ............................................... 46 Tabela 9. Espécies-alvo de aves registradas ................................................................................... 46 Tabela 10. Riqueza de espécies de mamíferos nos pontos de amostragem ................................... 52 Tabela 11. Espécies de mamíferos registradas .............................................................................. 52 Sumário de mapas Mapa 1. Pontos amostrados em campo pelas equipes de meio biótico ......................................... 11 Mapa 2. Uso solo e cobertura vegetal ........................................................................................... 24 Sumário de fotografias Foto 1. Ponto de amostragem de peixes ictio2, Rio Atalaia. Foto: P. Aquino .....................................................12 Foto 2. Ponto de amostragem de peixes ictio3, afluente do rio Atalaia. Foto: P. Aquino ..............................................12 Foto 3. Ponto de amostragem de peixes ictio4, rio Atalaia. Foto: P. Aquino .................................................................13 Foto 4: Ponto de amostragem de anfíbios e répteis herpeto7, poças do rio Atalaia. Foto: R. Recoder .........................13 Foto 5: Ponto de amostragem de anfíbios e répteis herpeto2, floresta estacional decidual em afloramento de calcário. Foto: R. Recoder .........................................................................................................................................................14 Foto 6: Ponto de amostragem de aves e mamíferos ornito2, cerrado típico. Foto Aves Gerais ....................................14 Foto 7: Ponto de amostragem de aves e mamíferos ornito6, afloramentos de calcário. Foto: Aves Gerais ...................15 Foto 8: Ponto de amostragem de aves e mamíferos ornito9, cerrado rupestre em encosta. Foto: Aves Gerais ............15 Foto 9: Ponto de amostragem de aves e mamíferos ornito10, cerrado denso. Foto: Aves Gerais ................................16 Foto 10: Ponto de amostragem de aves e mamíferos ornito13, panorama da porção alta. Foto: Aves Gerais...............16 Foto 11. Fragmentos de florestas estacionais na borda sudeste em Serra da Prata. Foto: M. Brilhante .......................25 Foto 12. Pastagens artificiais onde ocorriam remanescentes de florestas estacionais deciduais. Foto: M. Brilhante ....25 Foto 13. Cerrado stricto sensu sub-tipo rupestre sobre Neossolos Litólicos. Foto: M. Brilhante ..................................26 Foto 14. Áreas contínuas de cerrado rupestre em Serra da Prata em altitudes entre 500 e 800 m. Foto: M. Brilhante .27 Foto 15. Anacardium occidentale (cajú), espécie característica do cerrado rupestre. Foto: M. Brilhante ......................27 Foto 16. Mata de galeria em um córrego intermitente na bacia do rio Atalaia. Foto: M. Brilhante ..............................28 Foto 17. Perereca Trachycephalus mambaiensis. Foto: R. Recoder ..............................................................................43 Foto 18. Gymnodactylus aff. geckoides, espécie não descrita. Foto: R. Recoder ..........................................................44 Foto 19. Coleodactylus cf. brachystoma. Foto: R. Recoder ..........................................................................................44 Foto 20. Micrablepharus maximiliani. Foto: R. Recoder ...............................................................................................45 Foto 21.Tiriba Pyrrhura pfrimeri. Foto: Aves Gerais.....................................................................................................48 Foto 22. Arara-azul Ara ararauna. Foto: Aves Gerais ...................................................................................................49 Foto 23.Tiê-do-cerrado ou cigarra-do-campo Neothraupis fasciata. Foto: Aves Gerais ................................................49 Foto 24. Mocó Kerodon acrobata. Foto: Aves Gerais...................................................................................................54 Foto 25. Macaco-prego Sapajus libidinosus. Foto: Aves Gerais ....................................................................................54 Foto 26.Punaré Thricomys sp. Foto: Aves Gerais .........................................................................................................55 5 Lista de Siglas APA COPAM EMBRAPA EROS-USGS FLONA Herbário CEN IBGE ICMBio PE PN PNCV RPPN SBF/MMA UB UC UICN UNESCO Área de Proteção Ambiental Conselho Estadual de Política Ambiental de Minas Gerais Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Geological Survey Center for Earth Resources Observation and Science Floresta Nacional Herbário da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Parque Estadual Parque Nacional Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros Reserva Particular do Patrimônio Natural Secretaria de Biodiversidade e Florestas – Ministério do Meio Ambiente Herbário da Universidade de Brasília Unidade de conservação União Internacional para Conservação da Natureza Organização das Nações Unidas para a educação, a Ciência e a Cultura 6 APRESENTAÇÃO A Fundação Pró-Natureza (Funatura) foi selecionada mediante licitação e firmou com o Governo do Estado de Goiás, o Contrato no 009/2012. O objetivo central é realizar o projeto “Criação de Unidades de Conservação no Estado de Goiás” através da análise dos dados dos componentes de biodiversidade, geodiversidade e socioeconomia com apoio de imagens de satélite e Sistemas de Informação Geográfica. Inicialmente foram avaliados 15 polígonos, indicados pela Secretaria de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do estado (Semarh-GO). Os mesmos foram selecionados pela Secretaria conforme os critérios explicitados no documento “Pré-seleção de áreas potenciais para a criação de unidades de conservação no Estado de Goiás”, produzido pela Gerência de Áreas Protegidas da Semarh-GO. Houve inicialmente a apresentação da metodologia de trabalho para a Semarh-GO e sua equipe técnica envolvida com o projeto, em agosto de 2012. A seguir foram feitas as primeiras avaliações de representatividade atual dos ecossistemas a partir de imagens de satélite e verificação de prioridades para conservação com o uso de fontes bibliográficas e bancos de dados não publicados de propriedade dos consultores ou pesquisadores consultados. Essa etapa visou elencar os polígonos frente as prioridades de conservação para os ambientes no estado, no país e internacionalmente. O detalhamento dessa etapa foi o objeto da fase anterior desse contrato e foi entregue nas formas digital e impressa para a Semarh-GO. A partir da listagem obtida foram selecionados os cinco polígonos ou grupos de polígonos (em alguns casos havia a proximidade geográfica e ecológica entre pares de polígonos indicados, sendo então avaliados em conjunto nesse momento) pela Semarh-GO, os quais passariam a ter avaliações diretas pelas equipes de consultores setoriais em campo. Além desses cinco, número pré-definido conforme a metodologia de abordagem estabelecida inicialmente, um sexto permaneceu para eventuais avaliações de campo devido a falta de fontes secundárias seguras. O relatório atual aborda os resultados referentes aos meios físicos, bióticos e socioeconômicos das áreas de estudo, bem como de sobrevoos efetuados. Para cada área estudada foram sugeridas unidades de conservação de proteção integral, com seus limites indicados em carta topográfica e sobre imagem de satélite. Além dessas áreas de estudo, a sexta foi avaliada em campo para verificação da realização de estudos mais aprofundados e o resultado é objeto de um volume em separado. Além dos relatórios por área de estudo, também é apresentado um volume integrando os resultados do sobrevoo e das sugestões de Unidades de Conservação de proteção integral. O resultado final busca ampliar o Sistema de Unidades de Conservação de Goiás com pelo menos o dobro de superfície em áreas de proteção integral criadas em relação à situação do início de 2012. A atividade está inserida no Projeto Cerrado Sustentável Goiás, componente 1 - Proteção da Biodiversidade pela Expansão e Consolidação de Áreas Protegidas no Corredor Ecológico Paranã-Pirineus e na APA João Leite. Na seleção da categoria de Unidade de Conservação de proteção integral buscou-se equilibrar a necessidade de proteção de amostras das ricas biodiversidade e geodiversidade goianas com a possibilidade da unidade representar uma fonte adicional de renda para os municípios envolvidos. 7 Nesse volume a Funatura indica a criação do Parque Estadual Serra da Prata, situado integralmente no município de Monte Alegre de Goiás. Seus limites englobam uma parte do rio Paranã onde ele já deixa de ser um rio de planície com meandros para entrar na área rochosa de corredeiras, a qual chega a seu máximo no chamado Funil, localizado a jusante da estrada GO-118 e onde todo o rio passa por uma estreita garganta rochosa entre as montanhas antes da área calunga do rio das Almas. Tendo o rio como limite, que está na cota aproximada de 390 m, a Serra da Prata lançase a grandes alturas alcançando 1020 m na sua região oriental. Em oito quilômetros há um desnível de 630 m, produzindo um maciço imponente, mais notável ainda por quem chega pelo sul ou pelo leste, vindo da planície do rio Paranã. Além dessa condição especial, o maciço ainda pode ser subdividido com uma massa de granito a oeste e um centro mais escarpado prolongando-se a nordeste em uma crista até próximo da cidade. Na face leste há um grande afloramento de calcário emoldurando a serra com sua mata seca ou decidual. Essa fitofisionomia é uma das mais ameaçadas mundialmente e no vale do rio Paranã, bem como ao longo das encostas da Serra Geral de Goiás, possui a sua maior expressão do estado. Habitam a mata decidual uma série de espécies endêmicas de aves a répteis e anfíbios, sendo que nesse último grupo foram coletados exemplares em campo de espécies ainda não descritas cientificamente. A mata ciliar do rio Paranã forma outra fitofisionomia notável, assim como os campos de altitude sobre o substrato rochoso. Nos fundos de vale além da influência do calcário ocorrem matas de galeria com outra composição de espécies. Junto com os cerrados de altitude ou do vale tornam essa área a prioritária em termos dos parâmetros de biodiversidade e geodiversidade utilizados nesse trabalho. 8 METODOLOGIA 1. Período de amostragem Os levantamentos de flora e fauna na área de estudo Serra da Prata foram conduzidos nos meses de outubro e novembro de 2012 de acordo com a tabela 1. O esforço de campo foi dimensionado de modo a obter um levantamento expedito dos diferentes grupos taxonômicos, levando em conta suas necessidades e particularidades. Tabela 1. Período de amostragens realizadas pelos diferentes grupos temáticos Grupo Temático Vegetação e Flora Ictiofauna Herpetofauna Avifauna Mastofauna Período 30/10 a 01/11/2012 28 e 29/10/2012 11 a 15/10/2012 21 a 26/10/2012 21 26/10/2012 2. Pontos amostrados Os locais amostrados pelas equipes de campo responsáveis pelo levantamento dos diferentes grupos taxonômicos na área de estudo Serra da Prata estão listados na tabela 2. A flora foi amostrada em áreas de cerrado típico, floresta estacional decidual e mata de galeria, totalizando 15 pontos. Nessa região a maior parte dos corpos d’águas apresentam pequenas dimensões, onde as comunidades de peixes não apresentam grandes variações de composição entre as estações (Couto e Aquino, 2011). O pequeno porte dos indivíduos não permite que eles realizem grandes deslocamentos, tornando assim as populações isoladas e características para cada trecho. No trecho 1, apesar da pequena quantidade de água que chegou a isolar algumas poças ao longo do curso d’água, a coleta foi facilitada pelos indivíduos estarem concentrados. Além dos rios de pequeno porte, foram realizadas amostragens no rio Paranã. Foram amostrados cinco trechos de rios (Fotos 1 a 3). Os levantamentos de anfíbios e répteis foram realizados nos diversos ambientes acessíveis dentro da área de estudo. Foram amostrados ambientes de cerrado, floresta estacional decidual e leitos de córregos, contemplando-se tanto os interflúvios quanto as drenagens. Um total de 10 pontos de amostragem foram utilizados para inventariar a herpetofauna da região (Fotos 4 e 5). A amostragem de avifauna e mastofauna na Serra da Prata foi conduzida em 13 pontos de amostragem que avaliaram nove fitofisionomias representativas da área de estudo: pasto, campo limpo, cerrado típico, cerrado denso, cerrado rupestre, cerradão, mata ciliar, mata de galeria e mata seca decídua associada a afloramentos de calcário (Fotos 6 a 10). A área apresenta grande variação altitudinal com o mínimo de 400m registrado na calha do rio Paranã (ponto 7) e o máximo de 1095m em cerrado típico da porção central da área de estudo (ponto 13). 9 Tabela 2. Pontos de amostragem dos diferentes grupos taxonômicos Ponto flora1 flora2 flora3 flora4 flora5 flora6 flora7 flora8 flora9 flora10 flora11 flora12 flora13 flora14 flora15 ictio1 ictio2 ictio3 ictio4 ictio5 herpeto1 herpeto2 herpeto3 herpeto4 herpeto5 herpeto6 herpeto7 herpeto8 herpeto9 herpeto10 ornito1 ornito2 ornito3 ornito4 ornito5 ornito6 ornito7 ornito8 ornito9 ornito10 ornito11 ornito12 ornito13 grupo flora e vegetação flora e vegetação flora e vegetação flora e vegetação flora e vegetação flora e vegetação flora e vegetação flora e vegetação flora e vegetação flora e vegetação flora e vegetação flora e vegetação flora e vegetação flora e vegetação flora e vegetação peixes peixes peixes peixes peixes anfíbios e répteis anfíbios e répteis anfíbios e répteis anfíbios e répteis anfíbios e répteis anfíbios e répteis anfíbios e répteis anfíbios e répteis anfíbios e répteis anfíbios e répteis aves e mamíferos aves e mamíferos aves e mamíferos aves e mamíferos aves e mamíferos aves e mamíferos Latitude 13°30' 34”S 13°23' 03”S 13°23' 06”S 13°25' 21”S 13°25' 42”S 13°25' 49”S 13°26' 15”S 13°26' 30”S 13°27' 00”S 13°27' 07”S 13°21' 44”S 13°21' 58”S 13°22' 42”S 13°23' 01”S 13°23' 06”S 13°31' 40”S 13°24' 37”S 13°24' 37”S 13°22' 04”S 13°36' 10”S 13°36' 09”S 13°31' 30”S 13°25' 38”S 13°25' 43”S 13°18' 09”S 13°22' 35”S 13°21' 31”S 13°25' 37”S 13°30' 57”S 13°30' 57”S Longitude 46°48' 32”W 46°54' 46”W 46°55' 43”W 46°56' 03”W 46°55' 59”W 46°56' 03”W 46°56' 05”W 46°56' 03”W 46°56' 10”W 46°56' 15”W 46°59' 12”W 46°58' 33”W 46°58' 07”W 46°58' 15”W 46°58' 27”W 47°00' 38”W 47°05' 42”W 46°56' 14”W 46°54' 02”W 46°51' 50”W 46°51' 50”W 46°49' 44”W 47°04' 15”W 47°04' 20”W 46°53' 34”W 46°56' 30”W 46°56' 05”W 47°04' 23”W 47°00' 47”W 47°00' 47”W 13°25' 43”S 13°25' 25”S 13°25' 53”S 13°29' 01”S 13°30' 33”S 46°50' 36”W 46°51' 19”W 46°52' 20”W 46°51' 48”W 46°50' 30”W 13°31' 22”S 46°49' 38”W 13°33' 36”S 13°31' 29”S 13°26' 13”S 13°25' 23”S 13°22' 27”S 13°25' 13”S 46°56' 57”W 47°00' 39”W 47°00' 41”W 47°01' 56”W 46°56' 34”W 46°56' 05”W 13°28' 40”S 46°55' 38”W aves e mamíferos aves e mamíferos aves e mamíferos aves e mamíferos aves e mamíferos aves e mamíferos aves e mamíferos Ambientes Floresta estacional decidual Cerrado stricto sensu típico Cerrado stricto sensu típico Cerrado stricto sensu típico Cerrado stricto sensu típico Cerrado s.s. rupestre Cerrado s.s. rupestre Mata de galeria Cerrado s.s. rupestre Cerrado s.s. rupestre Floresta estacional decidual Cerrado stricto sensu típico Cerrado stricto sensu típico Mata de galeria Cerrado s.s. rupestre Afluente do Rio Paranã Rio Atalaia Afluente do Rio Atalaia Rio Atalaia Rio Paranã beira do Rio Paranã afloramento calcário córrego seco em cerrado beira de açude estrada córrego seco em mata decidual Rio Atalaia cerrado queimado riacho em mata seca Corrego mata seca mata seca decídua com afloramento de calcário - pasto cerrado típico - pasto mata de galeria cerrado típico mata seca decídua mata seca decídua com afloramento de calcário mata ciliar - mata seca decídua rio cerrado típico - pasto cerrado rupestre cerrado denso - pasto mata ciliar - pasto mata de galeria campo limpo - cerrado típico cerradão - mata de galeria 10 Mapa 1. Pontos amostrados em campo pelas equipes de meio biótico 11 Foto 1. Ponto de amostragem de peixes ictio2, Rio Atalaia. Foto: P. Aquino Foto 2. Ponto de amostragem de peixes ictio3, afluente do rio Atalaia. Foto: P. Aquino 12 Foto 3. Ponto de amostragem de peixes ictio4, rio Atalaia. Foto: P. Aquino Foto 4: Ponto de amostragem de anfíbios e répteis herpeto7, poças do rio Atalaia. Foto: R. Recoder 13 Foto 5: Ponto de amostragem de anfíbios e répteis herpeto2, floresta estacional decidual em afloramento de calcário. Foto: R. Recoder Foto 6: Ponto de amostragem de aves e mamíferos ornito2, cerrado típico. Foto Aves Gerais 14 Foto 7: Ponto de amostragem de aves e mamíferos ornito6, afloramentos de calcário. Foto: Aves Gerais Foto 8: Ponto de amostragem de aves e mamíferos ornito9, cerrado rupestre em encosta. Foto: Aves Gerais 15 Foto 9: Ponto de amostragem de aves e mamíferos ornito10, cerrado denso. Foto: Aves Gerais Foto 10: Ponto de amostragem de aves e mamíferos ornito13, panorama da porção alta. Foto: Aves Gerais 16 3. Métodos de amostragem 3.1. Flora Com auxílio de cartas-imagem IRS, atualizadas para definição de rotas e áreas amostrais, foram realizados os levantamentos florísticos, a caracterização das fitofisionomias e a avaliação do estado de conservação dos remanescentes. As fitofisionomias em cada área de estudo foram georreferenciadas e caracterizadas em campo de acordo com Ribeiro e Walter (2008). O levantamento florístico qualitativo foi realizado com base nos métodos do caminhamento (Filgueiras et al., 1994) e levantamento rápido (Ratter et al. 2001; Ratter et al. 2003): caminhadas em linha reta em diferentes tipos de vegetação (fitofisionomias) foram realizadas e as espécies inéditas foram anotadas em intervalos de tempo regulares (aproximadamente 15 minutos). Nas mesmas linhas foram caracterizadas e georreferenciadas as fitofisionomias de acordo com Ribeiro e Walter (2008), com exceção das florestas estacionais, as quais foram classificadas de acordo com o IBGE (1992). A coleta botânica também foi baseada no método de levantamento rápido (Ratter et al., 2001, Ratter et al., 2003): apenas o material de plantas vasculares (fanerógamas e pteridófitas) encontrado com flores e/ou frutos de espécies com identificação duvidosa ou desconhecida foi coletado, prensado, desidratado e posteriormente incorporado no herbário da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Herbário CEN), conforme métodos usuais (Mori et al., 1985). A identificação dos táxons foi feita em campo, mediante consulta à bibliografia especializada e comparação com materiais dos herbários CEN e UnB (Universidade de Brasília) e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 3.2. Fauna a. Ictiofauna Visto o grande número de micro-hábitats (trechos encachoeirados, corredeiras e remansos; áreas sombreadas e expostas; trechos rasos e profundos; fundos de lama, areia, seixos ou blocos), a coleta dos peixes foi realizada com a combinação de diversos métodos de captura, buscando amostrar a maior quantidade de espécies de peixes presente em cada unidade amostral. Em trechos com menores profundidades e nas margens dos rios foram utilizadas peneiras (30 cm de raio e malha e 2 mm) e redes de arrasto (3 x 1 m e malha 2 mm). Em trechos com profundidades superiores a 2 m, foram utilizadas quatro redes de espera com diferentes malhas (15 × 2 m e malhas 2,0; 4,0; 6,0 e 10,0 cm entrenós), que permaneceram dentro d’água enquanto as demais técnicas de capturas eram empregadas. Como metodologia complementar, foram realizados mergulhos livres (observações naturalísticas), pescarias convencionais (linha e anzol) e entrevistas com os moradores e pescadores locais. A identificação das espécies foi realizada com a utilização de chaves para grupos específicos e auxílio de especialistas. Exemplares coletados que não puderam ser propriamente identificados em campo foram fixados em formol 10% e, posteriormente, tombados na Coleção Ictiológica da Universidade de Brasília, onde permanecerão conservados em etanol 70%. Parte do material-testemunho será encaminhado para a Universidade Federal de Goiás, campus de Goiânia. 17 b. Herpetofauna As amostragens de anfíbios e répteis foram realizadas por meio de procuras visuais e auditivas diurnas e noturnas (Heyer et al. 1994). As buscas foram direcionadas para os microambientes de maior probabilidade de encontro de espécimes, com ênfase em ambientes de interflúvio abertos ou florestais durante o dia (para captura de lagartos) e ambientes ripícolas durante a noite (para captura de anfíbios). Durante o dia, répteis e anfíbios foram buscados visualmente na superfície do solo, sob rochas ou troncos caídos ou no meio do folhiço. Durante as primeiras horas da noite, a busca foi direcionada especificamente para anfíbios, vocalizando ou em repouso, nas proximidades de corpos d’água, como riachos, poças e açudes. Para possibilitar a amostragem de um maior número de ambientes, dispersos ao máximo pela área de estudo, não foram utilizadas armadilhas de queda. Apesar de bastante eficientes, armadilhas de queda demandam um tempo longo para instalação, especialmente em ambientes rupestres, além de obrigarem os pesquisadores a retornar diariamente nos mesmos pontos durante as amostragens, reduzindo a cobertura espacial do estudo. Espécimes-testemunho de anuros, lagartos, anfisbenídeos e serpentes foram capturados, sacrificados por meio de injeção de Lidocaína, fixados em formol 10% e preservados em álcool 70%. Tais espécimes são importantes não só para confirmação da identidade dos exemplares, permitindo a comparação com material tombado em coleções, mas também permitirão que estudos taxonômicos, biogeográficos e genéticos sejam feitos no futuro. c. Avifauna As observações foram realizadas simultaneamente por dois pesquisadores logo antes do amanhecer, período de maior atividade das aves. As observações foram interrompidas no meio do dia e retomadas ao entardecer. Observações vespertinas foram conduzidas para permitir a detecção de espécies noturnas. As aves foram identificadas por observação visual direta e/ou detecção auditiva de sua vocalização específica. A reprodução da vocalização de espécies-alvo pré-selecionadas (endêmicas e ameaçadas de extinção) a partir de sistema de som foi utilizada para estimular a resposta das aves e permitir a comprovação de sua presença. A documentação das espécies foi efetuada sempre que possível, seja por fotografia ou gravação do canto. A determinação das espécies-alvo seguiu a classificação dos endemismos adotada por Bencke e colaboradores (2006) para as espécies restritas à Mata Atlântica e de Luca e colaboradores (2009) para as espécies exclusivas do Cerrado e da Caatinga. A categorização de espécies ameaçadas considerou três escalas: global de acordo com a lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN 2012); nacional conforme livro vermelho de espécies ameaçadas do Brasil (Machado et al. 2008); e regional considerando a lista de espécies ameaçadas em Minas Gerais (Deliberação Normativa do COPAM 147, de 30 de abril de 2010) em virtude da ausência de lista específica para Goiás. A taxonomia obedeceu ao adotado pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (2010). d. Mastofauna O levantamento de mamíferos foi focado na detecção de espécies de médio e grande porte que constituem um grupo heterogêneo de animais com peso acima de 1 Kg (Eisenberg e Rerdford 1999). O principal método utilizado foi observação direta e registro de pegadas, fezes e tocas. Para complementar o levantamento de dados foi utilizada uma armadilha fotográfica com sensores de movimento (Tigrinus, modelo 6.0). A armadilha 18 fotográfica foi instalada a, aproximadamente, 50 cm de altura do solo com ceva de frutas para atrair os animais. Foram escolhidos dois pontos de amostragem em cada área de estudo, onde a armadilha permaneceu acionada constantemente por dois ou três dias. As observações foram realizadas a partir de percursos livres nos ambientes mais representativos de cada área de estudo, determinados inicialmente por imagens de satélite e posteriormente por vistorias de campo. Os trajetos foram gravados com auxílio de aparelhos equipados com Sistema de Posicionamento Global (GPS – Garmim Venture e Legend) e reunidos em pontos de amostragem para permitir a avaliação das informações em setores da unidade (figura 1). Ao longo do estudo foi possível obter informações a respeito da ocorrência de algumas espécies com moradores da região. Estes dados, denominados relatos secundários, foram avaliados e selecionados quando considerados pertinentes. Para cada indivíduo observado foi anotado o ponto, data, hora, coordenadas, número de indivíduos e caracterização da vegetação, segundo proposto por Ribeiro e Walter (1998). A documentação das espécies foi efetuada sempre que possível por registro fotográfico de indivíduos, pegadas ou fezes. A taxonomia obedeceu ao adotado por Paglia e colaboradores (2012) e foram assinaladas as espécies-alvo, ou seja, com importância conservacionista para o Estado de Goiás, por apresentarem algum grau de ameaça ou endemismo. 4. Integração dos dados primários e secundários Além dos dados obtidos em campo durante os levantamentos realizados especificamente para este projeto, foram compilados dados da literatura e utilizados modelos de distribuição potencial das espécies-alvo, produzidos no contexto da atualização das áreas prioritárias para conservação do Cerrado e Pantanal. Ao longo do processo, foram compilados pontos de ocorrência para todas as espécies-alvo. Foram utilizadas bases de dados disponibilizadas por órgãos oficiais (SBF/MMA, ICMBio), pesquisadores colaboradores, além de artigos científicos, teses e planos de manejo de unidades de conservação. Todas as informações compiladas foram organizadas em planilhas contendo nome da espécie, localidade, município, estado, coordenadas e fonte. Depois da etapa de compilação, os dados foram mapeados e validados por especialistas, tendo sido excluídos registros históricos e duvidosos. Espécies com 20 ou mais registros foram mapeadas por meio de modelagem de distribuição potencial, utilizando o algoritmo Maxent (Phillips et al. 2006). Apesar desta metodologia não ter sido adotada na iniciativa de 2006, modelos de distribuição potencial têm sido frequentemente utilizados em estudos de priorização de áreas (e.g. Wilson et al. 2005). O Maxent (Phillips et al. 2006) é uma ferramenta de modelagem que utiliza um algoritmo de máxima entropia para selecionar variáveis ambientais que melhor explicam a ocorrência de uma determinada espécie. As variáveis ambientais utilizadas geralmente descrevem clima, topografia, solo e vegetação, podendo ser utilizadas tanto variáveis contínuas quanto variáveis categóricas. A função que associa a ocorrência das espécies ao gradiente ambiental é aplicada a toda a área de interesse, resultando em um mapa que representa a probabilidade de ocorrência da espécie em cada unidade de área da região de estudo. Para a produção dos modelos foram utilizadas variáveis climáticas, topográficas e de solo. As variáveis climáticas foram obtidas do WorldClim (Hijmans et al. 2005; disponível em http://www.worldclim.org/) e consiste de uma série de mapas construídos a partir de 19 interpolações de dados de estações meteorológicas do mundo todo entre os anos de 1950 e 2000. As variáveis topográficas foram obtidas do serviço geológico dos Estados Unidos (EROS-USGS; U.S. Geological Survey Center for Earth Resources Observation and Science; http://eros.usgs.gov/products/elevation/hydro1k.html). Foram utilizados dados de elevação, inclinação do terreno e fluxo cumulativo de água. Todos os mapas foram apresentados a especialistas, que fizeram sugestões quanto à inclusão ou eliminação de pontos e ajustes aos modelos. Foram eliminadas áreas onde é sabido que a espécie não ocorre, ou que os registro são muito antigos, e devido à redução da cobertura nativa, a região pode ter perdido o potencial para conservação de determinadas espécies. Para a maior parte das espécies o mapa final é uma combinação entre pontos de ocorrência, modelagem de distribuição potencial e ajustes apontados por especialistas. Esta abordagem foi descrita na literatura como a maneira de definir a distribuição geográfica de uma espécie que apresenta a maior acurácia na maior parte dos casos (Graham e Hijmans 2006). Em alguns casos, quando especialistas julgaram que o modelo não foi capaz de representar a distribuição de uma espécie, ele foi substituído por um mapa de pontos de ocorrência, ou redefinido com base em outros critérios, como a presença de corpos d´água, por exemplo. Deste modo o valor da área de estudo para a proteção da biodiversidade foi avaliado não apenas pelas espécies efetivamente detectadas em campo, mas também pelas espécies que tem potencial de serem encontradas em futuros estudos, com base nas características topográficas, climáticas e fisionômicas que compõem a área. 20 RESULTADOS 1. Vegetação 1.1. Aspectos regionais O bioma Cerrado abrange uma área de aproximadamente dois milhões km2 situado entre 5º e 20º de latitude Sul e 45º a 60º de longitude Oeste, com a maior parte de sua área localizada no Planalto Central do Brasil. A região se estende de forma contínua pelos estados de Goiás, Tocantins e o Distrito Federal, parte dos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rondônia e São Paulo e, ainda, em áreas disjuntas, separadas, nos estados do Amapá, Amazonas, Pará e Roraima, e ao sul, no Paraná (Ribeiro e Walter, 2008). O bioma compõe-se de um mosaico de formações vegetais campestres, savânicas e florestais. A vegetação é condicionada pelo clima, características físico-químicas do solo, fogo, profundidade do lençol freático e atividades antrópicas como criação de gado, desmatamento e agricultura (Ribeiro e Walter, 2008). Essas atividades antrópicas geralmente acentuam em frequência e intensidade a ocorrência de queimadas no Cerrado, as quais causam diversos efeitos negativos, principalmente para o componente lenhoso da vegetação (Miranda e Sato, 2005). Em todo o bioma Cerrado foram registradas 12.356 espécies de plantas que ocorrem espontaneamente, sendo que a flora vascular nativa engloba 11.627 espécies. As plantas arbóreas somam 1.870 espécies, as arbustivas 2.536 e as herbáceas 8.017 (Mendonça et al. 2008). Esses números são próximos aos números de diversidade da flora nas florestas Amazônica e Atlântica, e estão em um patamar muito superior aos da Caatinga, Pampa e Pantanal (Forzza et al. 2010). Em relação ao endemismo (ou espécies exclusivas do bioma), estimativas anteriores apontavam uma magnitude de 44% de endemismo para as plantas vasculares (Silva e Bates 2002). As taxas de endemismo da flora do Cerrado são, de fato, muito elevadas, sendo inferiores apenas ao bioma Mata Atlântica. Dados mais recentes indicam números um pouco menores em relação às estimativas anteriores, com 4.215 espécies endêmicas para o bioma Cerrado, incluindo sete (3,5%) de fungos, nove (4%) de briófitas (musgos e semelhantes), 48 (11,9%) de samambaias e licófitas e 4.151 (29,7%) de plantas com sementes (Forzza et al. 2010). Esses dados correspondem a uma taxa de 36,2% de endemismo para o componente da flora. A vegetação do bioma Cerrado é composta basicamente pelas mesmas famílias e gêneros que ocorrem na Mata Atlântica e na Amazônia, mas as espécies são distintas e com distribuição heterogênea dentro do bioma (Ratter et al., 2003, Bridgewater et al., 2004). Com base em 951 espécies lenhosas amostradas em 376 levantamentos ao longo do bioma, Ratter et al. (2000, 2003) indicaram sete províncias fitogeográficas para o Cerrado lato sensu (ou seja, englobando as várias formações vegetais) - “meridional”, “centro-sudeste”, “norte-nordeste”, “centro-oeste”, “áreas mesotróficas do extremo-oeste”, “áreas dispersas com forte caráter mesotrófico” e “áreas isoladas da Amazônia”. Das espécies analisadas, mais da metade é encontrada em apenas uma província, com poucas espécies comuns a todas elas (Ratter et al., 2000, 2003; Bridgewater et al., 2004). Plantas com distribuição ampla, que ocorrem em mais de 50% das áreas, restringem-se a um grupo restrito de 38 espécies (Ratter et al., 2003). De fato, o padrão de diversidade da vegetação lenhosa consiste em um número restrito de espécies relativamente comuns, 21 amplamente distribuídas, enriquecido por um vasto número de espécies raras. Dos 376 levantamentos analisados por Ratter et al. (2003), a maioria se concentrou diretamente em trechos de cerrado stricto sensu (ou propriamente dito). Embora a biodiversidade do componente lenhoso do bioma Cerrado em sua área “core”, mais típica, (Centro-Oeste) seja particularmente rica em espécies, as áreas periféricas nas bacias dos rios Xingu, Tocantins e do Araguaia e, mesmo no Estado de São Paulo, apresentam também elevados valores de diversidade. Essas áreas foram classificadas por Ratter et al. (2003) como “hotspots” (ou de grande importância para a conservação) considerando, nesse caso, apenas o parâmetro diversidade elevada. Além dos valores elevados em diversidade de espécies lenhosas em regiões como a bacia do rio Tocantins (Ratter et al. 2003), a vegetação savânica e das florestas ribeirinhas das províncias “centro-oeste” e “norte-nordeste” apresentam elevada heterogeneidade florística e estrutural, mesmo em áreas geograficamente próximas (Walter et al. 2008; Medeiros e Walter 2012). Essa elevada heterogeneidade florística entre áreas, ou diversidade beta, tem implicações importantes para o planejamento da conservação, considerando que é necessário o estabelecimento de muitas áreas protegidas em diferentes regiões para preservar a biodiversidade do bioma Cerrado de maneira adequada (Ratter et al. 1997, Bridgewater et al. 2004). Apesar da importância dos dados acima, que enfatizam a necessidade de conservação de áreas significativas e, além disso, em locais diferentes do bioma Cerrado, as perdas de habitat têm se acentuado nas últimas décadas. Os dados de mapeamento da cobertura vegetal no bioma Cerrado (MMA 2008) indicaram pelo menos 38,98% de áreas antropizadas e 60,42% de remanescentes de vegetação nativa, a maior parte na província “norte-nordeste”, enquanto outras províncias, como a “centro-oeste” apresentaram as maiores taxas de desmatamento. Com taxas de desmatamento da ordem de 1,1% ao ano (média dos períodos 1985-1993 e 1993-2002), o Cerrado fora das unidades de conservação desapareceria em 30 anos (Machado et al. 2004). No estado de Goiás os remanescentes de vegetação natural foram convertidos amplamente em áreas antrópicas, principalmente no centro-sul, leste, sudeste e sudoeste do estado. Esses remanescentes mais significativos em área se localizam principalmente na região nordeste, nas cotas de maior altitude (MMA 2008). A área do estado de Goiás abrange três províncias do bioma Cerrado: “centro-oeste”, “norte-nordeste” e “centro-sudeste”. A província “centro-oeste” é a mais representativa, compreendendo os remanescentes das regiões norte, oeste e sul do estado (Ratter et al. 2003). Essa província apresenta composição florística e fitofisionômica muito heterogênea, associada a Latossolos, Cambissolos, Neossolos Quartzarênicos, Neossolos Litólicos, Argissolos e Plintossolos (SIEG 2010). Há uma elevada abundância de especies típicas de solos mesotróficos, como tingui Magonia pubescens, gonçaleiro Astronium fraxinifolium, angico-vermelho Anadenanthera colubrina, guatambu Aspidosperma subincanum, baru ou cumbaru Dipteryx alata, mutambo Guazuma ulmifolia e carvão-branco Callisthene fasciculata (Bridgewater et al., 2004), além de comunidades associadas aos Neossolos Quatzarênicos e Litólicos nas áreas mais elevadas, entre 700 a 1600 m (Medeiros et al. 2012). Com menor representação no estado de Goiás, a província “norte-nordeste” apresenta a formação savânica cerrado stricto sensu como a mais representativa, associada à predominância de planícies bem drenadas e às chapadas (IBGE 1992; Silva et al. 2006), onde o Neossolo Quartarênico é o tipo mais comum de solo. Entre as espécies dessa fitofisionomia murici Byrsonima crassa, chorão Hirtella ciliata, curriola Pouteria ramiflora, pau-terra Qualea grandiflora, pau-terrinha Qualea parviflora, colher-de-vaqueiro Salvertia convallariaeodora e Vochysia rufa dominam trechos cerrado stricto sensu (Medeiros e Walter 2012). 22 A área de estudo Serra da Prata está incluída na unidade de paisagem caracterizada pela ocorrência de serras com predominância de formações savânicas, além de florestas estacionais e campos como formações secundárias (Silva et al., 2006). A área também abriga remanescentes de florestas estacionais deciduais, conhecidos também como matas secas, sobre afloramentos de calcário e em áreas planas do estado de Goiás, na bacia do rio Paranã, afluente do rio Tocantins. As florestas estacionais têm sido consideradas as mais ameaçadas dentre os vários tipos de floresta tropical, pela extensiva perda e fragmentação de habitats para fins agropecuários, corte de madeiras nobres e mineração (Espírito-Santo et al., 2009). Na região do vale do rio Paranã, parte significativa da vegetação já foi removida para fins agropecuários e madeireiros desde a década de 70 e, mesmo atualmente, os fragmentos remanescentes das raras florestas estacionais do estado ainda continuam sendo destruídos. Nesta região, a exploração de espécies madeireiras comerciais ameaça as últimas populações de Cedrela fissilis (cedro) e Amburana cearensis (amburana, imburana-de-cheiro), dentre outras ameaçadas de extinção (Scariot e Sevilha, 2005). A área de estudo Serra da Prata está incluída na unidade fisiográfica da Chapada dos Veadeiros, entre as latitudes 13° a 15° Sul e longitudes 47° a 49° Oeste, na região do Planalto Central e no Complexo Montanhoso Veadeiros-Araí, com altitudes entre 800 a 1650 m (Felfili, 2007). A mesorregião da Chapada dos Veadeiros é caracterizada pelos padrões muito elevados de riqueza de espécies, diversidade beta (Felfili et al. 2007;Lenza et al. 2011), e pela grande quantidade de endemismos pontuais e raridades, associados principalmente aos campos e cerrados rupestres, fitofisionomias comuns nas áreas mais elevadas (Simon e Proença, 2000; Giulietti et al., 2009; Medeiros et al., 2012). 23 1.2. Aspectos loais As florestas estacionais deciduais ocorrem ao sul, leste e nordeste da Serra da Prata, sobre afloramentos de calcário, com remanescentes importantes e bem preservados (Foto 11) (Mapa 2). A atividade pecuária é muito mais intensa nas áreas mais planas externas, em solos mais férteis, onde os remanescentes dessas formações florestais foram convertidos em pastagens artificiais (Foto 12). Mapa 2. Uso solo e cobertura vegetal 24 Foto 11. Fragmentos de florestas estacionais na borda sudeste em Serra da Prata. Foto: M. Brilhante Foto 12. Pastagens artificiais onde ocorriam remanescentes de florestas estacionais deciduais. Foto: M. Brilhante 25 Na porção centro-norte dessa área de estudo, em altitudes acima de 500 m, a fitofisionomia cerrado stricto sensu sub-tipo rupestre (Foto 13) é a principal formação vegetacional, ocupando grandes remanescentes contínuos sobre Neossolos Litólicos nas áreas mais elevadas (Foto 14), observadas em campo entre as bacias do rio Atalaia e do córrego Gameleira (Mapa 2). São espécies típicas do estrato arbóreo Curatella americana (lixeira), Byrsonima spp. (murici), Tabebuia caraiba (caraíba), Astronium fraxinifolium (gonçalo-alves), Kielmeyera spp., Neea theiphera, Chamaecrista longifolia, Syagrus comosa (catolé), Annona coriacea (araticum), Magonia pubescens (tingui), Sclerolobium paniculatum (carvoeiro), Hymenaea stigonocarpa (jatobá), Anacardium occidentale (caju) (Foto 15), Anacardium humile (cajuzinho), Andira sp., Callisthene fasciculata, Bauhinia spp. (pata-de-vaca), Miconia spp., Salvertia convallariodora (folha-larga), Salacia crassiflora (bacupari), Agonandra brasilinesis, Connarus suberosus, Caryocar cuneatum (pequi), Psidium spp. (araçás), Qualea grandiflora (pau-terra), Qualea parviflora (pauterrinha), Aspidosperma macrocarpum (guatambu), Acosmium dasycarpum, Davilla elliptica (lixeirinha), Himatanthus obovatus (burra-leiteira), Schefflera morototoni (mandiocão)i, Xylopia aromatica (pimenta-de-macaco), Antonia ovata, Attalea eichleri (piaçava), Syagrus oleracea (gueiroba), Acrocomia aculeata (macaúba) e Sthryphnodendron adstringens (barbatimão). São também comuns neste ambiente Bromelia goyazensis (bromélia), Paepalanthus sp. (sempre-viva) e Vellozia spp. (canelasde-ema). Nas vertentes ocorrem matas de galeria, onde são encontradas as espécies Protium heptaphyllum (amescla), Hirtella gracilipes, Ormosia sp., Cecropia sp. (embaúba), Luehea divaricata (açoita-cavalo), Pseudobombax tomentosum (imbiruçú), Diospyros sericea e Vatairea macrocarpa, dentre outras. Foto 13. Cerrado stricto sensu sub-tipo rupestre sobre Neossolos Litólicos. Foto: M. Brilhante 26 Foto 14. Áreas contínuas de cerrado rupestre em Serra da Prata em altitudes entre 500 e 800 m. Foto: M. Brilhante Foto 15. Anacardium occidentale (cajú), espécie característica do cerrado rupestre. Foto: M. Brilhante 27 Ainda na bacia do rio Atalaia, mais a oeste, as mesmas fitofisionomias são observadas em áreas contínuas, com remanescentes ainda intactos, principalmente nas áreas mais elevadas acima de 700 m (Mapa 2). Nas regiões mais planas, nas bordas da área, são observados remanescentes de cerrado stricto sensu sobre Neossolos Quartzarênicos e pequenos fragmentos de florestas estacionais deciduais. Em transição com o cerrado s.s. rupestre, observam-se matas de galeria geralmente impactadas pelo fogo freqüente na região. Nesse cerrado ocorrem Vellozia squamata (canela-de-ema), Qualea parviflora (pau-terrinha), Myrcia spp., Erythroxylum deciduum, Agonandra brasiliensis (quinabranca), Mimosa clausseni, Anacardium occidentale (caju), Davilla elliptica (lixeirinha), Salvertia convallariodora (folha-larga), Aspidosperma tomentosum, Byrsonima intermedia (murici), Curatella americana (lixeira), Himatanthus obovatus (burra leiteira), Attalea eichleri (piaçava) e Tabebuia ochracea (ipê amarelo). São espécies típicas dessas formações florestais (Foto 16) Inga spp. (ingás), Guazuma ulmifolia (mutamba), Alibertia edulis (marmelada-de-cachorro), Hirtella gracilipes, Myrcia spp., Acrocomia aculeata (macaúba) e Attalea eichleri (piaçava), dentre outras. Nesta mata, foram observadas largas touceiras de Mauritiella armata (buritirana) e indivíduos isolados de Mauritia flexuosa (buriti). Nas áreas mais elevadas, acima de 900 m, ocorrem os campos rupestres, em locais de difícil acesso. Além disso, uma vegetação arbórea mais densa, com cerrado stricto sensu e florestas estacionais, ocorre em maciços de granito na face oeste da área de estudo. Foto 16. Mata de galeria em um córrego intermitente na bacia do rio Atalaia. Foto: M. Brilhante 28 São exemplos de espécies alimentícias nessa área A. occidentale (caju), A. humile (cajuzinho-do-cerrado), H. stigonocarpa (jatobá), Byrsonima spp. (murici), M. flexuosa (buriti), S. crassiflora (bacupari), C. cuneatum (pequi), S. oleracea (gueiroba) e S. comosa (catolé). Além dessas, espécies de Paepalanthus (sempre-vivas), Syngonanthus (capimdourado) e Xyris (pireques), mais abundantes nas áreas mais abertas, têm grande potencial ornamental. A probabilidade de ocorrência de espécies raras e endemismos é bastante elevada na região da Serra da Prata. Porém, a maior parte dos táxons raros na mesoregião da Chapada dos Veadeiros está associada às formações campestres, e isso deve ocorrer em áreas mais centrais da área de estudo. Essas formações na Serra da Prata não foram acessadas em campo pelas dificuldades associadas a uma região sem estradas e com declividade muito acentuada. Nas proximidades da Serra da Prata, em direção ao norte, pelo menos duas populações de espécies raras da família Asteraceae foram registradas em literatura (Giulietti et al., 2009): Dimerostemma bishopii um arbusto que ocorre sobre solos calcáreos, nas áreas mais planas, próximo à cidade de Monte Alegre, e Ichtyothere connata, em campos rupestres, nas áreas mais elevadas, há cerca de 20 km de distância dos limites dessa área. Embora não detectadas no levantamento, ambas são de ocorrência possível devido ao seu habitat ter sido encontrado nessa área de estudo. A pecuária extensiva é a atividade econômica mais comum nessa região. Com baixa densidade de ocupação de rebanhos nas áreas naturais, principalmente na região norte e oeste da Serra da Prata, acima de 600 m, os impactos não são consideráveis e há um bom nível de conservação dos remanescentes. 2. Fauna 2.1. Aspectos regionais 2.1.1. Ictiofauna A bacia do Rio Tocantins-Araguaia possui uma área total de 958.163 Km2 e sua maior porção, principalmente suas nascentes, encontram-se no bioma Cerrado (613.285 Km2). Essa bacia nasce no Planalto Central Brasileiro e deságua no Rio Pará próximo ao estuário do Rio Amazonas. O trecho da bacia que se estende das cabeceiras, ao sul, até as corredeiras do Lajeado, no estado do Tocantins, caracteriza o Alto Tocantins-Araguaia (1.060 Km de extensão e 925 m de desnível; Paiva, 1982). Os cursos d’água nas cabeceiras dessa bacia nascem nas encostas das chapadas. Ao longo de seu percurso é comum a formação de corredeiras e cachoeiras. Esses trechos de pequeno porte frequentemente secam ou apresentam seus fluxos interrompidos durante os períodos de estiagem. As lagoas formadas adjacentes aos rios, comumente encontradas no médio e baixo Tocantins, apenas se conectam ao canal principal em momentos de grandes cheias (Goulding et al., 2003). As variações hidrogeológicas ao longo desses cursos formam uma variedade de ambientes e isolamentos o qual influenciam a distribuição da biota aquática. A composição da fauna aquática da bacia do Tocantins-Araguaia apresenta muitas similaridades com a da bacia Amazônica (Goulding et al., 2003). No entanto, a partir da composição da biota aquática é possível caracterizar a bacia do Tocantins-Araguaia como independente, possuindo padrões evolutivos e ecológicos próprios (Abell et al., 2008; Albert et al., 2011). Levantamentos ictiofaunísticos, principalmente relacionados às exigências legais para a construção de hidrelétricas, vêm mostrando a grande diversidade dessa bacia (Santos et al., 2004; Soares et al., 2009). Dois processos distintos, ocorridos 29 independentemente nos diferentes trechos da bacia, podem ter influenciado essa composição. Em sua porção inferior, nas terras baixas, há uma relativa conexão com o trecho do baixo Amazonas o que pode ter permitido a troca faunística entre essas bacias (Lima e Ribeiro, 2011). Já na porção superior, caracterizada por terras altas de planalto, é comum a ocorrência de eventos de captura de cabeceira (Pinto, 1993), fazendo com que a composição da fauna íctica seja compartilhada entre bacias adjacentes (Lima e Ribeiro, 2011). Esse compartilhamento pode se dar ao sul pela bacia do Paraná-Paraguai (Costa, 2007; Langeani et al., 2007), ao oeste pela bacia do Xingu (Albert e Carvalho, 2011; Lima e Ribeiro, 2011) e ao leste pela bacia do São Francisco (Costa, 2007; Lima e Caires, 2011). No Brasil são encontradas 819 espécies de peixes de distribuição restrita, que estão distribuídas em 540 sub-bacias com menos de 10.000 Km2 (Nogueira et al., 2010). Dessas espécies, 210 são restritas a sub-bacias distribuídas no Cerrado. Na região do Alto Tocantins (trecho a montante do encontro do Rio Paranã com o Rio Tocantins), apesar de algumas espécies serem compartilhadas entre bacias adjacentes, a ictiofauna apresenta um elevado grau de endemismo (Abell et al., 2008). De acordo com Bertaco e Carvalho (2010) e Bertaco et al. (2011) são encontradas pelo menos 40 espécies de peixes endêmicas para essa região (tabela 3). Tabela 3. Espécies de peixes endêmicas da bacia do alto rio Tocantins Ordem Familia Espécie Characiformes Parodontidae Apareiodon argenteus Apareiodon cavalcante Leporinus taeniofasciatus Characidium stigmosum Acestrocephalus maculosus Astyanax courensis Astyanax goyanensis Astyanax unitaeniatus Creagrutus atrisignum Creagrutus britskii Creagrutus mucipu Creagrutus saxatilis Hasemania kalunga Hemigrammus tocantinsi Hyphessobrycon hamatus Moenkhausia dasalmas Moenkhausia tergimaculata Cetopsis caiapo Cetopsis sarcodes Aspidoras albater Aspidoras eurycephalus Ancistrus aguaboensis Ancistrus jataiensis Ancistrus minutus Ancistrus reisi Corumbataia veadeiros Hemiancistrus micrommatos Hypoptopoma muzuspi Hypostomus ericae Gymnotocinclus anosteos Anostomidae Crenuchidae Characidae Siluriformes Cetopsidae Callichthyidae Loricariidae 30 Ordem Gymnotiformes Cyprinodontiformes Familia Espécie Lamontichthys avacanoeiro Ituglanis bambui Trichomycteridae Ituglanis mambai Heptapteridae Pimelodella spelaea Apteronotidae Sternarchorhynchus mesensis Rivulidae Cynolebias griseus Cynolebias notatus Rivulus planaltinus Rivulus tocantinenses Simpsonichthys marginatus Segundo Nogueira et al. (2010), são encontradas 85 espécies de peixes com distribuição restrita para a bacia do Tocantins-Araguaia no Cerrado. Essas espécies encontram-se distribuídas em 58 sub-bacias com menos de 10.000 Km2. No estado do Goiás são encontras 59 espécies de distribuição restrita, sendo 53 ocorrendo na bacia do Rio Tocantins (Nogueira et al., 2010). De acordo com a Instrução Normativa 05/04 e suas alterações (Instrução Normativa 52/05), 135 espécies de peixes de água doce são ameaçados no Brasil (136 considerando Zungaro jahu) e sete são caracterizadas como sobreexploradas (Rosa e Lima, 2008). A maioria dessas espécies pertence à família Rivulidae (52 espécies) seguida pelas famílias Characidae e Trichomycridae com 32 e 10 espécies, respectivamente. A região hidrográfica que apresenta o maior número de espécies ameaçadas (52 espécies) é a dos rios do Leste do Brasil. Em segundo lugar, a bacia do TocantinsAraguaia possui 16 espécies de peixes ameaçados (Rosa e Lima, 2008), sendo sete rivulídeos, três ciclídeos, dois caracídeos, um batracoídeo, um anostomídeo, um pimelodídeo e um esternopigídeo. A principal ameaça a esses peixes é o barramento dos rios para a construção de usinas hidrelétricas (Rosa e Lima, 2008). Muitas dessas espécies realizam piracema (migração reprodutiva) e necessitam da continuidade do fluxo do rio para orientarem os deslocamentos, chegar aos trechos a montante onde desovam e se prepararem fisiologicamente para a reprodução, mantendo suas populações. O barramento interrompe o fluxo orientador da água em longos trechos ou cria impedimentos físicos para serem transpostos pelos peixes, tornando as espécies afetadas altamente ameaçadas. A formação de grandes lagos também impõe sérios riscos às espécies de peixes anuais. Esses peixes ocorrem em lagoas intermitentes ao longo dos cursos dos rios nas planícies de inundação e o alagamento dessas áreas inviabiliza o ciclo reprodutivo de tais espécies. Elas necessitam do ciclo sazonal de enchimento e secagem dos ambientes temporários como estímulo reprodutivo (Costa, 2002; Rosa e Lima, 2008), sendo chamados de peixes anuais, pela característica do aparente desaparecimento. Entretanto, a nova geração permanece no local, como ovos viáveis misturados ao sedimento das lagoas temporárias à espera da próxima estação de chuvas. O crescimento urbano e o desmatamento de ambientes naturais também impõem sérios riscos aos peixes do Cerrado (Costa, 2002; Rosa e Lima, 2008). Para a bacia do Tocantins-Araguaia no estado do Goiás são listadas como ameaçadas de extinção nove espécies de peixes (tabela 4). Entre as ameaças à persistência dessas espécies destacam-se: a perda de habitat com o barramento dos rios para a construção de hidrelétricas; a retirada da vegetação ripária que funciona como fonte de abrigo e alimento para muitas espécies e poluição dos cursos d’água com a emissão de efluentes de origem doméstica, agrícola e industrial (Rosa e Lima, 2005; Rosa e Lima, 2008). 31 Tabela 4. Espécies de peixes ameaçadas de extinção com ocorrência na bacia do Tocantins-Araguaia, seu status de conservação e as principais ameaças a sua persistência Espécie Status Principais ameaças Brycon nattereri Mylesinus paucisquamatus Characidium lagosantense Cynolebias griseus Simpsonichthys flammeus Simpsonichthys marginatus Vulnerável Vulnerável Vulnerável Em perigo Em perigo Em perigo Barramentos e desmatamentos Barramentos e poluição Desmatamentos Barramentos Barramentos Barramentos e desmatamentos Dentre as espécies ameaçadas listadas acima, apenas duas foram, até o momento, registradas dentro de Unidade de Conservação. As espécies Mylesinus paucisquamatus e Eigenmannia vicentespelaea foram listadas no Parque Estadual de Terra Ronca, nos município de São Domingos e Guarani de Goiás no nordeste do estado de Goiás (Bichuette e Trajano, 2003). As espécies Cynolebias griseus, Simpsonichthys flammeus e Simpsonichthys notatus, apesar de não terem sido registradas nesse Parque Estadual possuem ocorrência nas suas imediações (Machado et al., 2008). Brycon nettereri também não possui registro para Unidade de Conservação no estado de Goiás, mas já foi identificada em regiões próximas ao Parque Estadual de Caldas Novas, podendo também ocorrer dentro da UC. Das espécies de distribuição restrita (i.e. endêmicas de bacias com menos de 10.000 Km2) da bacia do Alto Paraná no estado de Goiás duas apresentam ocorrência em Unidades de Conservação (Nogueira et al., 2010) (Figura 1). Steindachnerina corumbae ocorre no Parque Estadual de Caldas Novas e Simpsonichthys parallelus ocorre no Parque Nacional das Emas. Na bacia do Tocantins-Araguaia no estado de Goiás, das 53 espécies de distribuição restrita (i.e. endêmicas), apenas 11 encontram-se protegidas por Unidades de Conservação (Nogueira et al., 2010). Assim, 46 espécies com distribuição restrita não são encontradas dentro de áreas efetivamente protegidas, o que as coloca em situação de extremo risco principalmente se as condições ambientais necessárias perdem-se em função do uso e ocupação inadequados. Apesar de ainda haver carência de estudos sistêmicos sobre a ictiofauna em Goiás (Miranda e Mazzoni, 2003), há um alto grau de endemismo nesse grupo no estado (Abell et al., 2008; Bertaco e Carvalho, 2010; Nogueira et al., 2010; Bertaco et al., 2011). A oportunidade para a conservação dos trechos menos alterados dos corpos d´água da bacia do alto Tocantins é ainda mais ressaltada pela possibilidade dos impactos associados à construção de hidrelétricas (Soares et al., 2009), desmatamentos e outras formas de ocupação humana desordenada das bacias, com potencial para afetar o sistema aquático como um todo. 2.1.2. Herpetofauna No Cerrado são conhecidas 209 espécies de anfíbios, das quais 108 são endêmicas (Valdujo et al. 2012) e 268 espécies de répteis squamata (lagartos, serpentes e cobrasde-duas-cabeças), das quais 101 são endêmicas (Nogueira et al. 2011), além de três espécies de crocodilianos e oito quelônios. Dentre os répteis squamata, destacam-se pelos endemismos os anfisbenídeos (especialmente gêneros Amphisbaena, Bronia e Cercolophia), os lagartos do gênero Bachia, e as serpentes do gênero Apostolepis., 32 enquanto os endemismos de anfíbios estão mais dispersos entre os diferentes genêros e famílias (Valdujo 2011) . A região do Alto Tocantins é reconhecida como uma das dez áreas de endemismo de répteis squamata no Cerrado (Nogueira et al. 2011), e uma das três áreas de endemismo para anfíbios (Thees, 2011). Tais considerações resultam do fato de algumas espécies ocorrem exclusivamente nessa região, como os répteis Amphisbaena mensae e Atractus edioi e os anfíbios Hypsiboas ericae e Leptodactylus tapiti. Sessenta e oito espécies de anuros são conhecidas da região nordeste de Goiás, sendo 35 delas endêmicas do Cerrado (tabela 5). Tabela 5. Espécies de anuros endêmicas do Cerrado encontradas no nordeste goiano Família Espécie Aromobatidae Bufonidae Allobates aff. brunneus Rhinella mirandaribeiroi Rhinella ocellata Rhinella rubescens Rhinella inopina Odontophrynus cultripes Odontophrynus salvatori Proceratophrys goyana Ameerega flavopicta Bokermannohyla pseudopseudis Dendropsophus cruzi Dendropsophus rubicundulus Hypsiboas ericae Hypsiboas goianus Hypsiboas lundii Hypsiboas paranaiba Hypsiboas phaeopleura Phyllomedusa azurea Phyllomedusa oreades Scinax constrictus Scinax rogerioi Scinax skaios Scinax tigrinus Trachycephalus mambaiensis Eupemphix nattereri Physalaemus centralis Physalaemus marmoratus Pseudopaludicola saltica Pseudopaludicola ternetzi Leptodactylus furnarius Leptodactylus martinezi Leptodactylus tapiti Chiasmocleis albopunctata Chiasmocleis centralis Barycholos ternetzi Oreobates remotus. Cycloramphidae Dendrobatidae Hylidae Leiuperidae Leptodactylidae Microhylidae Strabomantidae 33 Apesar de algumas das espécies de anuros endêmicas do Cerrado ter distribuição ampla dentro do bioma (como Chiasmocleis albopunctata e Eupemphix nattereri), uma porção significativa tem distribuição restrita, sendo que algumas delas, como Hypsiboas phaeopleura e Leptodactylus tapiti, são conhecidas apenas de uma localidade na Chapada dos Veadeiros. Além das espécies de cerrado de altitude com afloramentos rochosos, como os lagartos Phylopezus pollicaris e Tropidurus cf. montanus e os anuros Bokermannohyla pseudopseudis, Hypsiboas ericae e Leptodactylus tapiti, a região nordeste de Goiás destaca-se pela ocorrência de matas secas, associadas a afloramentos calcários, onde podem ser encontrados os lagartos Lygodactylus klugei e Mabuya sp. (não descrita, ambos registrados em São Domingos, GO) e os anuros Rhinella inopina, Trachycephalus mambaiensis e Oreobates remotus, todos endêmicos da faixa de florestas estacionais deciduais que ocorrem nos estados de Minas Gerais, Goiás e Bahia. Outro ambiente especial da região nordeste do estado de Goiás é o chamado Pantanal Goiano, formado por lagoas que se distribuem ao longo do vão do Paranã. Apesar de não serem conhecidos endemismos dessa região, o destaque se dá por conta do tamanho das populações das espécies de anuros associadas a ambientes lênticos. Nenhuma espécie de squamata ou anuro com registro no nordeste goiano está listada como ameaçada de extinção na lista nacional ou lista estadual de Minas Gerais. Entretanto a conversão de ambientes savânicos para agropecuária, das matas estacionais deciduais para extração de calcário e atividades da agropecuária, bem como a mudança nos ciclos de vazão natural dos rios causadas por barramentos, além do avanço das mineradoras têm reduzido a extensão de hábitat disponível para tais espécies. Associado a essas pressões ou advinda de outras formas de ocupação humana, a poluição de riachos, lagoas e veredas compromete, de uma forma mais sutil e a longo prazo, a qualidade dos ambientes aquáticos onde anuros se reproduzem. Seis espécies de anfíbios e dez espécies de répteis squamata não tem registro confirmado, ou não são suficientemente conhecidos para se avaliar o potencial de ocorrência nas unidades de conservação federais e estaduais de Goiás. Destacam-se o anfíbio Allobates aff. brunneus, e a serpente Apostolepis nelsonjorgei, conhecidos apenas da região do alto Tocantins, e os anfíbios Rhinella inopina e Trachycephalus mambaiensis, associadas a florestas estacionais deciduais. 2.1.3. Avifauna O Cerrado abriga pelo menos 837 espécies de aves (Silva 1995), valor que representa 46% das espécies registradas para o território brasileiro (CBRO 2010). O valor de endemismos varia conforme os autores e o avanço das pesquisas, sendo que de acordo com Luca et al. (2009), 48 espécies são exclusivas do bioma. Portanto, a taxa de endemismo para as aves do Cerrado é inferior a 6%, considerada baixa para o grupo, ainda mais se comparada à Mata Atlântica que possui quase duas centenas de aves endêmicas (Bencke et al. 2006). A localização centralizada na América do Sul (possibilitando o contato com outros biomas onde ocorrem formações abertas como o Chaco e a Caatinga ou florestais como a Amazônia e a Mata Atlântica) e o gradiente campestre/florestal típico do Cerrado parecem explicar a baixa taxa de endemismo para as aves, permitindo o compartilhamento de espécies florestais e de espécies campestres com os biomas vizinhos (Silva 1996, Silva e Bates 2002). A pesquisa ornitológica no estado de Goiás ainda apresenta lacunas consideráveis, conforme ressaltam várias publicações recentes envolvendo a detecção de espécies registradas pela primeira vez para o Estado (Faria 2008, Dornas et al. 2009, Curcino e Feraboli 2010, Pinheiro et al. 2012). José Hidasi foi o pioneiro a reunir as informações 34 sobre as aves de Goiás (Hidasi 1983) e em 2007 sistematizou uma base de dados contendo cerca de 500 espécies de aves para o Estado (Hidasi 2007), riqueza pouco superior à encontrada no Distrito Federal (439 espécies de aves; Bagno 1996). Considerando-se a imensa diferença de extensão territorial entre as duas unidades federativas e o maior número de ecossistemas presentes em Goiás seria de se esperar um número superior no estado, situação que evidencia a necessidade da complementação do inventário ornitológico de Goiás. Reunindo as informações mais recentes disponíveis na literatura especializada (Hass et al. 2000, Braz e Cavalcanti 2002, Hass 2004, Silva Jr. et al. 2007, Alteff 2008, de Luca et al. 2009, Gwynne et al. 2010), a riqueza de aves do estado de Goiás ultrapassa 607 espécies. Dentre todas as espécies catalogadas em Goiás, é importante destacar a presença de vários endemismos que constituem um grupo chave para a determinação de áreas prioritárias para a conservação. Nesse sentido, setenta e oito aves foram categorizadas como espécies-alvo por serem endêmicas do Cerrado (36 espécies), da Mata Atlântica (38 espécies) ou da Caatinga (4 espécies). O levantamento de espécies endêmicas da Amazônia não foi foco do presente estudo. De acordo com o levantamento citado anteriormente, o Estado de Goiás abriga 72 espécies de aves ameaçadas de extinção. Esse valor contempla 19 espécies ameaçadas e 24 quase ameaçadas globalmente de acordo com os critérios adotados pela UICN (2012), 22 aves ameaçadas conforme livro vermelho das espécies brasileiras (Machado et al., 2008) e 47 regionalmente, sendo que algumas espécies constam em mais de uma lista. Para esse estudo foi utilizada como referência a lista de Minas Gerais (Deliberação Normativa do Copam no 147, de 30 de abril de 2010) em virtude da ausência de avaliação regional para Goiás. A principal ameaça à conservação destas espécies está relacionada à destruição dos ambientes naturais provocada pelo homem. A transformação da paisagem afeta principalmente as espécies mais exigentes, com baixa capacidade reprodutiva, dependentes de habitats específicos e com distribuição restrita. Além desse fator, a captura ilegal para o abastecimento do tráfico de animais silvestres pressiona diretamente algumas espécies, principalmente psitacídeos e pássaros canoros. Outros fatores afetam em menor grau a conservação das espécies (caça, invasão de espécies exóticas, uso indiscriminado de defensivos agrícolas, poluição, atropelamentos, dentre outros), porém a perda de habitat é, sem dúvida alguma, a principal ameaça à preservação das aves (Marini e Garcia, 2005). Considerando as 117 espécies-alvo representadas por aves endêmicas e/ou ameaçadas de extinção com ocorrência em Goiás, 35 não possuem registro oficial em nenhuma Unidade de Conservação de Proteção Integral do Estado (Braz e Cavalcanti 2002, Luca et al. 2007, Machado et al. 2008, IBAMA 2004, ICMBIO 2009). Outras 38 espécies foram catalogadas em apenas uma Unidade de Conservação, demonstrando que mais de 62% das aves-alvo para a conservação não estão bem representadas nas áreas protegidas de Goiás conforme os dados disponíveis. Entretanto, cabe salientar que muitas Unidades de Conservação estaduais carecem de inventários faunísticos detalhados ou até mesmo preliminares, obscurecendo a taxa real de efetividade para a preservação das espécies de aves ameaçadas e endêmicas no estado de Goiás. Dessa forma, devem ser ressaltadas as seguintes lacunas de conservação no estado de Goiás: 1) Florestas estacionais deciduais sobre solos calcários: área prioritária para a conservação em Goiás em virtude do acelerado declínio e pequena extensão restante. Estudos de imagens satélite e sensoriamento remoto demonstraram que 66% das matas secas foram totalmente extirpadas e o restante está severamente alterado e fragmentado. 35 A taxa de desmatamento anual de 2,1% é 11 vezes superior a da Mata Atlântica, indicando que as matas secas podem desaparecer completamente em menos de 20 anos (Bianchi 2010). Esses dados revelam que as mata secas, nesse ritmo de conversão, tornam-se a formação florestal potencialmente mais ameaçada de todo o mundo. O Vale do Paranã é categorizado como um dos centros de endemismos de aves do cerrado (Silva e Bates 2002, Bencke et al. 2010) e três espécies com ocorrência em Goiás estão associadas a essas formações: ciganinha Pyrrhura pfrimeri, maria-preta-do-nordeste Knipolegus franciscanus e piolhinho-do-grotão Phyllomyias reiseri. A ciganinha pode ser considerada a espécie bandeira das matas secas de Goiás, pois sua ocorrência está restrita às formações florestais deciduais do vale do Paranã. Apesar de ter sido detectada no PE Terra Ronca, a população protegida parece não ser viável a longo prazo (Bianchi 2010), sendo urgente a proteção de novas áreas. 2) Cerrado: apesar da sua grande extensão na América do Sul, o Cerrado vem sofrendo rápido declínio nas últimas décadas em decorrência da expansão do agronegócio (Machado et al. 2004), responsável pela alteração de 80% de sua área original (Silva e Bates 2002). As Unidades de Conservação de Proteção Integral perfazem apenas 5% da área restante, falhando em garantir a proteção de muitas espécies ameaçadas (Olmos 2005). Das 36 espécies de aves endêmicas do Cerrado com ocorrência em Goiás, 22 estão ameaçadas de extinção. As Unidades de Conservação de Goiás abrigam 94% das espécies endêmicas do Cerrado com ocorrência no Estado, apesar de 13 espécies estarem presentes em apenas uma das Unidades de Conservação de Proteção Integral. 3) Ambientes alagados: em Goiás existem dois polos principais de ambientes aquáticos de importância estadual, nacional e internacional. O vale do rio Araguaia e o vão do rio Paranã são os principais locais dessas formações e abrigam populações de espécies residentes e migratórias. Vinte e três espécies-alvo para a conservação de Goiás estão associadas a ambientes alagados, sejam na forma de lagoas e corpos d´água isolados, brejos, campos úmidos ou matas inundadas. Quatro espécies não foram documentadas para nenhuma Unidade de Conservação do Estado e outras 12 ocorrem em apenas uma delas. Além das espécies-alvo, várias aves migratórias de longo curso com ocorrência no Estado dependem da presença de ambientes aquáticos ao longo de suas rotas de deslocamento, reforçando a importância dos alagados para a preservação da avifauna de Goiás. 4) Campos rupestres: nas porções mais elevadas das chapadas do nordeste de Goiás, ocorre uma formação vegetal peculiar e repleta de endemismos da flora que se desenvolve sobre solos predominantemente quartizíticos. Estudos recentes demonstraram a similaridade destas formações com os campos rupestres da Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais e Bahia) e sugerem uma independência em relação ao bioma Cerrado (Rapini et al. 2002, Vasconcelos 2011). Porém, ao contrário do que ocorre nos campos rupestres mineiros e baianos, não existem aves endêmicas da formação em Goiás. Ao invés deles e provavelmente em consequência de sua posição centralizada no bioma, os campos rupestres goianos são ocupados principalmente por aves endêmicas do Cerrado e várias espécies ameaçadas de extinção, elementos que justificam sua importância para a preservação da avifauna regional. 36 2.1.4. Mastofauna O Brasil é o país com a maior diversidade de mamíferos, abrigando 701 espécies, sendo 210 exclusivas. O Cerrado possui 251 espécies de mamíferos, sendo 32 consideradas endêmicas, resultando em uma taxa de endemismo inferior a 13%, considerada baixa em relação aos biomas florestais vizinhos, mas o dobro em relação à Caatinga (10 endêmicos dentre 153 espécies) (Paglia et al. 2012). Dentre todos os biomas brasileiros, o Cerrado é o que possui maior diversidade de carnívoros (21 espécies), grupo essencial para manter a estrutura do ecossistema. O mosaico campestre / florestal típico do Cerrado possui um papel fundamental na elevada riqueza do bioma e baixa taxa de endemismo. Por um lado, favorece a ocorrência de espécies com exigências distintas em diversos habitats. Entretanto, permite o compartilhamento de espécies florestais através das matas de galeria com a Mata Atlântica e a Amazônia e de espécies campestres com a Caatinga e o Chaco. No geral, os mamíferos do Cerrado possuem poucas adaptações ao prolongado período seco do meio do ano, sendo que as matas de galeria possuem um papel chave ao fornecer os recursos necessários para suprir as necessidades ao longo de todo ano (Redford e Fonseca 1986, Marinho-Filho et al. 2002). Em virtude de sua localização central no Cerrado, Goiás apresenta as características típicas do bioma: alta diversidade de mamíferos e baixa taxa de endemismo. Apesar da dominância do Cerrado em Goiás, alguns elementos da Caatinga, da Mata Atlântica e da Amazônia permeiam regiões do Estado. Goiás não possui uma lista oficial de mastofauna, assim como carece de estudos detalhados em várias regiões. A partir da compilação de dados disponíveis na literatura científica (Goiás 1998, Rodrigues et al. 2002, IBAMA 2004, Reis et al. 2007, Machado et al. 2008, Bonvicino et al. 2008, Lemos et al. 2011, Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza 2011, IUCN 2012, ICMBio, 2009), foram reunidas, preliminarmente, 165 espécies de mamíferos com presença confirmada em Goiás. Quanto às exclusividades do Cerrado, foram assinaladas 22 espécies, resultando no percentual de endemismo de 13,3%, bastante similar ao de todo bioma. A partir do inventário de espécies com ocorrência em Goiás, foram consultadas listas de mamíferos ameaçados em nível global (UICN 2012), nacional (Machado et al. 2008) e regional. No último caso foi considerando a lista de espécies ameaçadas em Minas Gerais (Deliberação Normativa do Copam 147, de 30 de abril de 2010), em virtude da ausência de lista específica para Goiás. Considerando tais listas, existem 39 espécies de mamíferos ameaçados em Goiás. O desmatamento, principalmente no Cerrado, é a principal ameaça à preservação dos mamíferos do Estado, já que este bioma vem sendo alterado de forma muito acelerada (Machado et al. 2004). Além da perda de habitat em termos territoriais, devem ser considerados os efeitos da fragmentação, principalmente para as espécies restritas a ambientes específicos ou que necessitam de extensas áreas de vida e possuem dificuldade em transpor paisagens alteradas. Ambas padecem com a queda populacional e consequentes efeitos deletérios da endogamia que podem culminar na extinção local. A caça também representa uma ameaça significativa, sobretudo para os mamíferos de médio e grande porte nas paisagens naturais fragmentadas. Além desses fatores, a introdução de espécies exóticas afeta a conservação de determinados mamíferos e alcança efeitos desastrosos em ambientes insulares. No Cerrado, especificamente, a presença de cães e gatos afeta a conservação de pequenos mamíferos e amiúde de animais de maior porte com limitações em se defender de matilhas maiores (por ex. tamanduás). Além disso, os animais domésticos podem transmitir doenças para as espécies selvagens. 37 Outro fator que dificulta a preservação dos mamíferos é o alto número de espécies com deficiência de dados (Machado et al. 2008). A lacuna de conhecimento científico a respeito da taxonomia e biologia é ainda mais evidente no grupo dos pequenos mamíferos (roedores, marsupiais e morcegos). Enquanto não houver conhecimento mínimo sobre estas espécies, não há como traçar estratégias para a sua conservação (Costa et al. 2005). Considerando todas as Unidades de Conservação federais e estaduais inseridas no Cerrado brasileiro, apenas 2,2% são áreas de proteção integral (Klink e Machado 2005), bem abaixo do patamar de 10% considerado ideal para a proteção da biodiversidade mundial. O quadro de baixo percentual de áreas protegidas no Brasil se repete em Goiás. Dentre as 51 espécies-alvo para a conservação constituídas por mamíferos ameaçados e/ou endêmicos com ocorrência em Goiás, 25 (49%) não foram registradas em nenhuma das Unidades de Conservação do Estado. Trata-se de um valor alarmante que ressalta a importância de estudos específicos que contemplem a ocorrência de espécies-alvo e o planejamento das áreas prioritárias para preencher as lacunas de conservação. Cabe lembrar, entretanto, que muitas das Unidades de Conservação de Goiás não possuem inventários faunísticos detalhados. As principais lacunas de proteção para mamíferos que podem ser sanadas com a criação de novas UC são as seguintes: 1) Matas secas deciduais sobre solos calcários: área prioritária para a conservação do Estado de Goiás em virtude do acelerado declínio e pequena área restante. Avaliações com sensoriamento remoto demonstraram que 66% das matas secas do vale do Paranã foram totalmente extirpadas e o restante está severamente alterado e fragmentado. A taxa de desmatamento anual de 2,1% é 11 vezes superior a da Mata Atlântica, indicando que as matas secas da região podem desaparecer completamente em menos de 20 anos (Bianchi 2010). Esses dados revelam que as mata secas são a formação vegetal mais ameaçada de todo o mundo. Dentre os mamíferos que ocorrem nas matas secas, destaque para o mocó Kerodon acrobata, roedor de grande porte descrito apenas em 1997. Trata-se de uma espécie endêmica das matas secas de Goiás com possível ocorrência em Tocantins e, ao que parece totalmente vinculada aos afloramentos de calcário (Bonvicino et al. 2008). A pequena distribuição associada à restrição de habitat e a pressão de conversão sobre o mesmo são fatores que gabaritam a inclusão da espécie nas próximas listas de espécies ameaçadas de extinção. 2) Cerrado: apesar da sua grande extensão na América do Sul, o Cerrado vem sofrendo rápido declínio nas últimas décadas em decorrência da expansão do agronegócio (Machado et al. 2004) responsável pela alteração de 80% de sua área original (Silva e Bates 2002). As Unidades de Conservação de Proteção Integral perfazem apenas 5% da área restante, falhando em garantir a proteção de muitas espécies ameaçadas (Olmos 2005). Das 22 espécies de mamíferos endêmicas do Cerrado com ocorrência em Goiás, 10 estão ameaçadas de extinção e apenas cinco possuem ocorrência confirmada nas Unidades de Conservação de Proteção Integral do Estado. 4) Ambientes alagados: em Goiás existem dois polos principais de ambientes aquáticos de importância estadual, nacional e internacional. O vale do rio Araguaia e o vão do rio Paranã são os principais locais dessas formações, apesar da ocorrência de formações aquáticas de menor escala em outras regiões do Estado. Seis mamíferos-alvo com ocorrência potencial em Goiás possuem dependência de ambientes aquáticos, sendo metade de grande porte (lontra Lontra longicaudis, ariranha Pteronura brasiliensis e cervo-do-Pantanal Blastocerus dichotomus) e o restante composto por roedores (Akodon lindberghi, Gyldenstolpia fronto, Kunsia tomentosus). Cinco deles ocorrem em Unidades 38 de Conservação de Proteção Integral no Estado, sendo que o registro mais recente de G.fronto é de 1993 (IUCN 2012). 5) Campos rupestres: nas porções mais elevadas das chapadas do noroeste de Goiás, ocorre uma formação vegetal peculiar e repleta de endemismos da flora que se desenvolve sobre solos predominantemente quartizíticos. Estudos recentes demonstraram a similaridade destas formações com os campos rupestres da Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais e Bahia) e sugerem uma independência em relação ao bioma Cerrado (Rapini et al. 2002, Vasconcelos 2011). Duas espécies de roedores endêmicos estão vinculadas aos campos rupestres de Goiás: Oligoryzomys rupestris e Galea flavidens. O primeiro está restrito aos campos rupestres de Goiás e da Bahia, enquanto o segundo ocorre nas porções elevadas de Goiás e de Minas Gerais, reforçando a similaridade das formações da Serra Geral de Goiás e da Serra do Espinhaço. 2.2. Aspectos locais 2.2.1. Ictiofauna Caracterização As amostragens realizadas na área da Serra da Prata resultaram em 22 espécies, distribuídas em nove famílias e três ordens (tabela 6). A família com mais representantes foi Characidae com 10 espécies seguida pela família Cichlidae com quatro espécies. A alta diversidade (abundância e riqueza) de Characiformes apresenta-se de acordo com o encontrado para as águas continentais, não estuarinas, da região Neotropical (LoweMcConnell, 1987; Castro, 1999). A maioria das espécies coletadas pertence à família Characidae, refletindo o padrão encontrado nos ecossistemas lóticos brasileiros (Reis et al., 2003; Buckup et al., 2007). Exemplares dessa família tiveram representantes nos diversos microhábitats amostrados. Tabela 6. Espécies de peixes amostradas Família Espécie Curimatidae Steindachnerina amazonica (Steindachner, 1911) Characidium sp. Apareiodon machrisi Travassos, 1957 Hemiodus tocantinenses Langeani, 1999 Astyanax elachylepis Bertaco e Lucinda, 2005 Astyanax unitaeniatus Garutti, 1998 Bryconops aff. caudomaculatus (Güther, 1864) Creagrutus atrisignum Myers, 1927 Hemigrammus sp. Knodus savannensis Géry, 1961 Moenkhausia aurantia Bertaco, Jerep e Carvalho, 2011 Moenkhausia oligolepis (Güther, 1864) Crenuchiidae Parodontidae Hemiodontidae Characidae Characidae Characidae Characidae Characidae Characidae Characidae Characidae 1 X Trecho 2 3 4 X X X X X X X 5 X X X X X X X X X X X X X 39 Família Espécie Characidae Characidae Heptapteridae Loricariidae Phenacogaster sp. Psellogrammus kennedy (Eigenmann, 1903) Phenacorhamdia somnians (Mees, 1974) Ancistrus aguaboensis Fisch-Muller, Mazzoni e Weber, 2001 Hypostomus sp. Aspidoras albater Nijssen e Isbrücker, 1976 Aequidens hoehnei (Miranda-Ribeiro, 1918) Crenicichla labrina (Spix e Agassiz, 1831) Geophagus sp. Retroculus lapidifer (Castelnau, 1855) Callichthyidae Cichlidae Cichlidae Cichlidae Cichlidae Riqueza 1 2 X Trecho 3 4 X 5 X X X X X X X 9 X 9 X X X X 10 4 X 4 As espécies pertencentes à ordem Characiformes são caracterizadas por escamas em todo o corpo, nadadeira pélvica situada atrás da inserção das peitorais e, geralmente, presença da nadadeira adiposa. É o grupo predominante entre os peixes de água doce da América do Sul (Buckup et al., 2007). Characidae apresenta-se como o grupo mais diverso entre os Characiformes (aproximadamente 950 espécies). E dentro de Characidae o gênero Astyanax apresenta-se como um grupo de ampla distribuição geográfica e, com isso, pouco compreendido sistematicamente (havendo muitas espécies ainda não descritas). Os Siluriformes são comumente conhecidos como peixes de couro (bagres) ou cascudos. Loricariidae é a maior família da ordem Siluriformes, com 90 gêneros e 680 espécies atualmente descritas (ressalta-se a necessidade de estudos de revisão para alguns subgrupos taxonômicos). Representantes dessa família possuem o corpo coberto por um escudo ósseo e achatamento dorso-ventral (Menezes et al., 2007). A predominância da família Loricariidae sobre as demais famílias de peixes pode ser explicada pela adaptação das espécies a habitarem regiões com águas correntes (grande quantidade de oxigênio dissolvido) e substrato composto por seixos e cascalhos. Características essas muito comuns aos ambientes amostrados. A ordem Perciformes é a mais diversa dentre os teleósteos, com mais de 9.000 espécies, sendo a maioria marinha. A família Cichlidae é uma das que possuem grande número de espécies habitando ambientes límnicos. Algumas espécies dessa família apresentam forte dimorfismo sexual, com machos apresentando forte coloração e fêmeas menores tamanhos. Algumas espécies são também bastante utilizadas para alimentação. a. Espécies com interesse para conservação Apesar de não ter sido coletada, existem registros da pirapitinga Brycon nattereri nas bacias próximas à poligonal proposta para criação da Unidade de Conservação. Essa espécie encontra-se na Lista Nacional de Invertebrados Aquáticos e Peixes Ameaçados de Extinção (Instrução Normativa 05/04) e categorizada com o status vulnerável (VU) de acordo com Rosa e Lima (2005). Brycon nattereri é conhecido das bacias do Alto Tocantins, Alto Paraná e São Francisco, nos estados de Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo. Apesar do tamanho médio (indivíduos alcançando 50 cm) a espécie ocorre predominantemente em rios de menor porte, com águas claras e cursos d`água de fundo rochoso ou arenoso. Pelo seu tamanho, apresenta certo interesse para a pesca amadora. É onívoro, alimentando-se 40 preferencialmente de sementes, frutos e artrópodes terrestres de origem alóctone. Por apresentar essa dependência pelos itens alimentares oriundos das matas de galeria a preservação da pirapitinga está diretamente relacionada à preservação desse ambiente. O ciclo reprodutivo na bacia do Alto Tocantins, que ocorre geralmente nos tributários dos grandes rios dessa bacia, vai de maio a julho, período seco para a região (Lima et al., 2008). Desta forma, os barramentos, que descaracterizam os ciclos naturais de cheia e seca dos rios, são outra grande ameaça para espécie por colocar em risco seu ciclo reprodutivo (Lima et al., 2008). Espécies de interesse econômico A pesca possui importante papel socioeconômico em muitas regiões do Brasil. A partir da pesca se obtém o pescado para consumo humano e peixes para ornamentação. Desde a pré-história, se tem relatos da utilização de peixes como alimento (Santos et al., 2006). Seguramente a principal fonte de proteína animal consumida pela população ribeirinha de algumas regiões da Amazônia é a oriunda do pescado (ultrapassando 400 g de peixe por pessoa ao dia) (Santos et al., 2006). Apesar do pequeno porte, algumas espécies apresentam potencial para a aquariofilia. As famílias Parodontidae (p.ex., Apareiodon machrisi) e Characidade (p.ex., Bryconops aff. caudomaculatus, Moenkhausia aurantia e Moenkhausia oligolepis) apresentam representantes muito apreciados por aquariofilistas, por apresentarem, normalmente, formas curiosas e coloração exuberante. Das famílias Loricariida Callichthyidae se destacam as espécies Hypostomus sp. e Aspidoras albater, respectivamente, o qual apresentam forma e padrão de manchas bastante chamativo. Os representantes da família Cichlidae, além de apresentarem formas e colorido exuberantes, algumas espécies (p.ex. Geophagus sp.) apresentam marcado dimorfismo sexual e comportamento reprodutivo que atraem a atenção de criadores de peixes. Áreas com maior potencial para conservação de espécies endêmicas e ameaçadas As espécies endêmicas da região do Alto Tocantins Astyanax unitaeniatus, Creagrutus atrisignum, Ancistrus aguaboensis e Aspidoras albater foram amostradas na área da Serra da Prata. Apesar dessas espécies terem sido encontradas apenas em alguns trechos amostrados é grande as chances delas serem encontradas em outros trechos dos cursos d`água na região. São características de cursos d`água encaixados de cabeceiras, onde as águas são correntes, claras e substrato composto predominantemente por cascalho e seixos. Esse tipo de ambiente é encontrado basicamente em todos os cursos d`água na serra da Prata. Assim ao se incluir principalmente esses trechos de cabeceira dentro da área da Unidade de Conservação, haverá a garantia da preservação de populações dessas espécies com interesse conservacionistas. 2.2.2. Herpetofauna Caracterização Foram registradas 39 espécies de anfíbios e répteis na Serra da Prata, sendo 18 espécies de anuros, dez de lagartos, um jacaré, um quelônio, e sete de serpentes. Quinze espécies são endêmicas do Cerrado, das quais quatro são conhecidas apenas da região do vão do Paranã. O maior destaque da região são as florestes estacionais deciduais e suas 41 espécies de répteis e anfíbios associadas, como a perereca Trachycephalus mambaiensis (Foto 17) e os lagartos Phylopezus pollicaris, Gymnodactylus aff. geckoides (não descrita, Foto 18), Mabuya aff. frenata (não descrita) e Coleodactylus cf. brachystoma (em estudo, Foto 19). As espécies categorizadas como “não descritas” ou “em estudo” foram encontradas em outras localidades, especialmente na região de São Domingos, sempre associadas a florestas estacionais deciduais sobre afloramentos de calcário. A lista completa das espécies registradas em campo está apresentada na tabela 7. Tabela 7. Espécies de anfíbios e répteis amostradas. Espécie Barycholos ternetzi Dendropsophus melanargyreus Dendropsophus minutus Eupemphix nattereri Hypsiboas crepitans Hypsiboas raniceps Grupo anfíbio anfíbio anfíbio anfíbio anfíbio anfíbio Distribuição Endêmica – Cerrado Ampla Ampla Endêmica – Cerrado Ampla Ampla Leptodactylus cf. chaquensis anfíbio Cerrado e Caatinga Leptodactylus mystaceus anfíbio Ampla Leptodactylus fuscus anfíbio Ampla Leptodactylus labyrinthicus Physalaemus centralis Physalaemus cuvieri Pseudopaludicola cf. mystacalis anfíbio anfíbio anfíbio Ampla Endêmica – Cerrado Ampla Habitat mata ciliar riacho em mata seca riacho em mata seca riacho em mata seca mata ciliar mata ciliar floresta estacional e mata ciliar mata seca mata ciliar e floresta estacional floresta estacional floresta estacional Rio Atalaia anfíbio Ampla Rio Atalaia Pseudopaludicola cf. saltica anfíbio Endêmica – Cerrado Rhinella mirandaribeiroi anfíbio Endêmica – Cerrado Rhinella schneideri anfíbio Scinax gr. ruber anfíbio Trachycephalus mambaiensis anfíbio Paleosuchus palpebrosus Geochelone carbonaria Anolis brasiliensis jacaré jabuti lagarto Cnemidophorus cf. ocellifer lagarto Cercosaura ocellata lagarto Ampla Espécie não descrita, provavelmente endêmica do Cerrado Endêmica – vão do Paranã Ampla Ampla Endêmica – Cerrado Espécie não descrita, provavelmente endêmica do Cerrado Ampla Coleodactylus cf. brachystoma lagarto Endêmica – Cerrado Colobosaura modesta lagarto Cerrado e Amazônia Gymnodatylus aff. geckoides lagarto Mabuya aff. frenata lagarto Mabuya nigropunctata lagarto Espécie não descrita, provavelmente endêmica do vão do Paranã Espécie não descrita, provavelmente endêmica do vão do Paranã Ampla riacho em floresta estacional riacho em floresta estacional Rio Atalaia Rio Atalaia riacho em floresta estacional riacho floresta estacional floresta estacional cerrado ss cerrado ss floresta estacional e cerrado ss cerrado ss e floresta estacional afloramento calcário floresta estacional floresta estacional e 42 Espécie Grupo Distribuição Micrablepharus maximiliani lagarto Ampla Phyllopezus pollicaris Tropidurus oreadicus Bothrops moojeni Chironius flavolineatus lagarto lagarto serpente serpente Ampla Endêmica – Cerrado Endêmica – Cerrado Endêmica – Cerrado Liophis poecilogyrus serpente Ampla Oxyrhopus trigeminus Philodryas olfersii Trilepida fuliginosa Xenodon merremi serpente serpente serpente serpente Ampla Ampla Endêmica – Cerrado Ampla Habitat cerrado ss floresta estacional e cerrado ss afloramento calcário floresta estacional córrego seco floresta estacional mata de galeria e floresta estacional floresta estacional cerrado ss floresta estacional cerrado ss Distribuição geográfica segue Nogueira et al. 2011 e Valdujo et al. 2012 Foto 17. Perereca Trachycephalus mambaiensis. Foto: R. Recoder 43 Foto 18. Gymnodactylus aff. geckoides, espécie não descrita. Foto: R. Recoder Foto 19. Coleodactylus cf. brachystoma. Foto: R. Recoder 44 Foto 20. Micrablepharus maximiliani. Foto: R. Recoder Espécies com interesse para conservação A região da serra da Prata apresenta altíssima importância para conservação de répteis e anfíbios devido à presença de fragmentos de floresta estacional decidual sobre afloramento de calcário em bom estado de conservação. As espécies que estão associadas a estes ambientes, tais como a perereca Trachycephalus mambaiensis e os lagartos Phylopezus pollicaris, Gymnodactylus aff. geckoides, Mabuya aff. frenata, e Coleodactylus cf. brachystoma não são conhecidas de nenhuma unidade de conservação, embora tenha potencial para ocorrer no P. E. Terra Ronca, na região de São Domingos. Outras espécies, como Rhinella inopina e Oreobates remotus tem potencial de ocorrer na região da Serra da Prata e poderão ser reveladas em estudos futuros. A exploração crescente desses ambientes para extração de calcário ameaça as espécies associadas devido a sua forte dependência das florestas estacionais e dos afloramentos. Apesar de terem distribuição geográfica mais ampla, as espécies campestres de interflúvio, como o lagarto Cnemidophorus aff. ocellifer também está sob alto risco. A falta de estudos taxonômicos impede avaliar se essa espécie ocorre em unidades de conservação do Cerrado. Adicionalmente, as populações não protegidas desta e outras espécies campestres estão sob forte ameaça, devido a sua vinculação a habitats campestres de boa qualidade ambiental. Muitas populações foram localmente extintas em áreas convertidas para atividades de agropecuária, enquanto as remanescentes sofrem com queimadas frequentes, como as observadas durante os estudos de campo na região. Espécies de interesse econômico Não foram observadas espécies de répteis ou anfíbios com interesse econômico. 45 Áreas com maior potencial para conservação de espécies endêmicas e ameaçadas As formações de floresta estacional decidual sobre afloramento calcário e as formações campestres apresentam alto potencial para proteção de espécies que não estão propriamente representadas em unidades de conservação. A Serra da Prata apresenta um grande número de espécies não conhecidas de outras unidades de conservação, o que destaca sua importância para complementar o atual sistema de unidades de conservação no estado de Goiás. 2.2.3. Avifauna Caracterização Cento e setenta e oito espécies de aves foram catalogadas em Serra da Prata, dividas por ponto de amostragem conforme tabela 8. Vinte espécies-alvo foram identificadas, sendo 12 ameaçadas de extinção de acordo com as listas consultadas e 13 consideradas endêmicas, 12 do Cerrado e uma da Mata Atlântica. Cinco espécies estão categorizadas simultaneamente como endêmicas e ameaçadas, justificando o valor final de espéciesalvo (tabela em anexo). Tabela 8. Riqueza de espécies de aves nos pontos de amostragem Ponto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Total Espécies amostradas 81 81 43 36 51 40 58 69 24 28 34 30 48 176 Espécies endêmicas 3 4 1 0 2 3 4 2 0 2 1 1 4 13 Espécies ameaçadas 2 2 0 1 1 3 3 0 0 1 0 1 4 12 Espéciesalvo 3 4 1 1 2 4 7 2 0 2 1 2 7 20 Tabela 9. Espécies-alvo de aves registradas Espécie Ara ararauna Ara chloropterus Basileuterus hypoleucus Charitospiza eucosma Compsothraupis loricata Crax fasciolata Cyanocorax cristatellus Cypsnagra hirundinacea Hylocryptus rectirostris Ameaça Endemismo ameaçado ameaçado ameaçado Cerrado Cerrado Cerrado ameaçado Cerrado Cerrado Cerrado Vegetação Mata ciliar Floresta estacional e mata ciliar Cerrado ss Mata ciliar Mata de galeria Cerrado ss Cerrado ss Mata ciliar 46 Espécie Ameaça Knipolegus franciscanus Melanopareia torquata Neothraupis fasciata Platalea ajaja Porphyrospiza caerulescens Primolius maracanã Pyrrhura pfrimeri Rhea americana Saltatricula atricollis Spizaetus melanoleucus Trogon surrucura ameaçado ameaçado ameaçado ameaçado ameaçado ameaçado ameaçado Endemismo Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado ameaçado Mata Atlântica Vegetação Floresta estacional, cerrado ss Cerrado ss Cerrado ss Rio Cerrado ss Cerrado ss Floresta estacional Cerrado ss Cerrado ss típico e denso Floresta estacional Cerrado ss e mata ciliar Espécies com interesse para conservação Tiriba-de-pfrimer ou ciganinha Pyrrhura pfrimeri (Foto 21): ameaçada de extinção no Brasil e globalmente, a ciganinha possui distribuição atual restrita ao sudeste de Tocantins e nordeste de Goiás, vinculada às matas secas ( ou matas deciduais) da bacia do Paranã. Levantamentos por sensoriamento remoto indicaram que restam apenas 34% das matas secas da região, a maior parte severamente fragmentada (Bianchi 2010). Existem apenas três Unidades de Conservação em sua área de distribuição, sendo uma de Proteção Integral (PE Terra Ronca) e duas de Uso Sustentável (APA da Serra Geral de Goiás e Flona da Mata Grande), a última delas situada a 6km do limite sudeste de Serra da Prata. A perda acelerada de habitat representa a maior ameaça à preservação da espécie, sendo que a criação de Unidades de Conservação de Proteção Integral é considerada a principal estratégia para garantir sua preservação, preferencialmente a partir da proteção de florestas capazes de proteger populações viáveis (Bianchi 2008). A Serra da Prata atinge tais objetivos e pode ser capaz de viabilizar a perpetuação da espécie. A ciganinha foi registrada nos pontos 1, 5 e 6 de Serra da Prata, geralmente em grupos de 5 a 12 indivíduos que se alimentavam das sementes da aroeira Myracrodruon urundeuva e de outra espécie arbórea que está sendo identificada, onde foi detectado um bando com mais de 50 indivíduos. Maria-preta-do-nordeste Knipolegus franciscanus: outra espécie associada a afloramentos de calcário e matas secas, considerada ameaçada de acordo com a IUCN e endêmica do Cerrado. Vários casais foram observados nos pontos 1, 5 e 6 reforçando a relevância da área de estudo para preservação das matas secas e suas espécies associadas. Espécie pouco representada em Unidades de Conservação e em Goiás está presente apenas no Parque Estadual Terra Ronca. Gavião-pato Spizaetus melanoleucus: espécie rara com poucos registros no Cerrado (Gwynne et al. 2010) categorizada como ameaçada em Minas Gerais. Um indivíduo foi registrado na mata seca do ponto 5, maior remanescente da região e de extrema relevância conservacionista. Dentre as Unidades de Conservação de Proteção Integral de Goiás, sua presença foi confirmada apenas no Parque Nacional das Emas. Arara-vermelha Ara chloropterus: um dos maiores psitacídeos brasileiros, pressionado pela destruição de habitats e tráfico de aves, criticamente ameaçado de extinção em Minas Gerais. Sua distribuição original vem sofrendo retração acelerada e a espécie desapareceu em várias localidades do leste de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, sendo considerada extinta de toda a porção litorânea do bioma Mata Atlântica. Ocorre nas porções elevadas de Serra da Prata. 47 Maracanã Primolius maracana: espécie considerada ameaçada pela lista da IUCN. Encontrada cientificamente em Goiás pela primeira vez na década de 1930 na região de Nova Roma, na margem oposta do rio Paranã em relação a Serra da Prata, há uma expansão da distribuição conhecida no vale do rio com a inclusão dessa área. Foi detectada em dois pontos de amostragem de Serra da Prata (pontos 7 e 13), sendo o maior grupo composto por 12 indivíduos na mata ciliar do rio Paranã. Foto 21.Tiriba Pyrrhura pfrimeri. Foto: Aves Gerais 48 Foto 22. Arara-azul Ara ararauna. Foto: Aves Gerais Foto 23.Tiê-do-cerrado ou cigarra-do-campo Neothraupis fasciata. Foto: Aves Gerais 49 Espécies de interesse econômico Pavãozinho-do-pará Eurypyga helias: bela espécie amazônica rara no restante do país que apesar de não constar como espécie-alvo, possui interesse econômico, já que pode ser utilizada em programas voltados a observação de aves e educação ambiental. Um indivíduo foi observado na mata de galeria do ponto 3. Peixe-frito-verdadeiro Dromococcyx phasianellus: espécie rara e discreta, considerada extinta no Estado de São Paulo (São Paulo 1998). Ave muito peculiar em virtude do formato do corpo e hábito reprodutivo. A fêmea coloca seus ovos em ninhos de pequenas aves, sendo por isso, considerada parasita de ninhos. Espécie com grande potencial para ser utilizada em programas voltados a grupos de observadores de aves e educação ambiental. Um indivíduo foi detectado na mata seca do ponto 1, reforçando a importância das mesmas em abrigar espécies raras. Beija-flor-vermelho ou beija-flor-de-fogo Chrysolampis mosquitus: um dos beija-flores mais famosos e belos do Brasil que possui a maior extensão de penas iridescentes. Em virtude de sua extrema beleza, foi muito perseguido e sua plumagem era utilizada na confecção de roupas e flores artificiais (Sick 1997). Apesar de não constar em listas de espécies ameaçadas, possui potencial econômico ao ser uma das espécies mais apreciadas pelos observadores de aves. A espécie foi detectada no cerrado dos pontos 2 e 9, onde parece ser relativamente comum, ao menos nessa época do ano, já que o beijaflor-vermelho efetua movimentos migratórios. Andorinha Hirundo rustica: espécie migratória norte-americana, mas com distribuição em toda a zona temperada norte do planeta. Reproduz-se no Hemisfério Norte e a cada ano no mês de agosto, as populações migram para o sul. Em reprodução possui uma barriga avermelhada, chamativa, e a cauda bifurcada de penas azul-cobalto chama igualmente a atenção. Está representada em diversos trabalhos chineses e uma das aves mais conhecidas nos países temperados do norte. Nidificava originalmente em bocas de cavernas e pedras perto de rios para depois adaptar-se a casas e celeiros, sendo muito conhecida nos países de língua inglesa como andorinha-do-celeiro. Hoje em dia, raramente são vistos os ninhos em locais distantes de construções, reforçando a sua popularidade. No Brasil, apresenta áreas de invernada até o Rio Grande do Sul, geralmente, campos e pastagens com pequenos brejos onde passa a noite nos arbustos alagados. Há um potencial importante para uso em ecoturismo, pelo menos em seus momentos de passagem pelo Centro-Oeste no mês de outubro, com grandes bandos em voos contínuos ou circulando para alimentar-se de insetos, enquanto esperam o por do sol para pousar nos alagados. Azulão Cyanoloxia brisonii: espécie bastante cobiçada por traficantes para abastecer o comércio ilegal de aves. A despeito da pressão, não consta como espécie ameaçada e pode ser comum em algumas localidades. O azulão foi registrado nas matas secas do ponto 5 e 6, enaltecendo a importância da formação para a preservação de espécies raras e pressionadas. A espécie não foi catalogada até o momento em nenhuma Unidade de Conservação de Proteção Integral do Estado de Goiás. Áreas com maior potencial para conservação de espécies endêmicas e ameaçadas Em termos conservacionistas, as matas secas (ou matas decíduas) associadas a afloramentos de calcário constituem a principal formação vegetal de Serra da Prata. Estão concentradas na porção leste da área de estudo ao redor dos afloramentos que se distribuem, grosso modo, no sentido norte e sul (pontos 1, 5 e 6) e ultrapassam os limites inicialmente indicados para a área de estudo. Há também um pequeno trecho na margem 50 direita do rio Paranã que se mescla com a mata ciliar (ponto 7). Assim como na maior parte de sua distribuição, as matas secas do interior da área de estudo estão sendo extirpadas para produção de carvão, fornecimento de madeira e formação de pastagens. De acordo com Bianchi (2010), a permanência da taxa anual de desmatamento das matas secas da bacia do Paranã ocasionará o desaparecimento completo das mesmas em apenas 20 anos, assim como de todas as espécies associadas. Oitenta e cinco espécies foram registradas nas matas secas da área de estudo, incluindo quatro espécies-alvo: ciganinha Pyrrhura pfrimeri, maria-preta-do-nordeste Knipolegus franciscanus, gaviãopato Spizaetus melanoleucus e pula-pula-de-barriga-branca Basileuterus hypoleucus. As duas primeiras são totalmente dependentes de matas secas e, portanto, ameaçadas de extinção. A mata ciliar do rio Paranã é o segundo ambiente de relevância conservacionista da área de estudo pelo fato de reunir características de mata seca decídua, mata ciliar mais úmida e ambiente aquático. Sete espécies alvo foram detectadas na região (ponto 7), uma delas associada ao ambiente aquático: colhereiro Platalea ajaja. Duas espécies de psitacídeos registradas na mata ciliar merecem destaque pela abundância relativa, sendo observados bandos de 13 araras-canindés e 15 maracanãs-verdadeira Primolius maracana. A elevada riqueza de espécies-alvo observada justifica totalmente a ampliação da área de estudo para incorporar mais trechos ao longo da margem direita do rio Paranã. A terceira formação relevante para a conservação das aves de Serra da Prata é constituída por um mosaico de formações de cerrado na cota acima de 900m de altitude. Localizada na porção central da área de estudo (ponto 13), apresenta-se em bom estado de conservação, característica que refletiu na detecção de sete aves-alvo. Destaque para três endemismos do Cerrado (meia-lua-do-cerrado Melanopareia torquata, campainhaazul Porphyrospiza caerulescens e bandoleta Cypsnagra hirundinacea) e para o registro da arara-vermelha Ara chloropterus, espécie ameaçada de extinção e bastante rara no Estado de Goiás. As informações coletadas e apresentadas anteriormente comprovam a relevância de Serra da Prata para a conservação das aves de Goiás. Comparando com os resultados obtidos para as demais áreas pré-selecionadas, Serra da Prata ocupou a terceira posição em riqueza total de aves (figura 3). No que se refere às espécies-alvo, a área de Serra da Prata foi a segunda em número de espécies endêmicas e/ou ameaçadas (figura 4). Portanto, os resultados obtidos indicam que a área de Serra da Prata é prioritária para a conservação das aves do Estado de Goiás. 2.2.4. Mastotofauna Caracterização O estudo de campo na área de Serra da Prata detectou 19 espécies de mamíferos distribuídas por ponto de amostragem conforme tabela 10. Oito espécies-alvo foram identificadas, seis delas ameaçadas de extinção e duas endêmicas do Cerrado de acordo com as listas consultadas (tabela 11). 51 Tabela 10. Riqueza de espécies de mamíferos nos pontos de amostragem Ponto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Total Espécies amostradas 7 1 3 0 2 2 3 1 1 0 1 0 4 19 Espécies endêmicas 1 0 0 0 0 2 1 0 0 0 0 0 0 2 Espécies ameaçadas 0 1 1 0 0 0 1 0 1 0 0 0 4 6 Espéciesalvo 1 1 1 0 0 2 2 0 1 0 0 0 4 8 Tabela 11. Espécies de mamíferos registradas Ordem Artiodactyla Espécie Mazama americana Ozotoceros Artiodactyla bezoarticus Carnivora Cerdocyon thous Carnivora Lontra longicaudis Carnivora Nasua nasua Carnivora Panthera onca Carnivora Procyon cancrivorus Carnivora Puma concolor Cingulata Euphractus sexcinctus Cingulata Priodontes maximus Lagomorpha Sylvilagus brasiliensis Perissodactyla Tapirus terrestris Pilosa Tamandua tetradactyla Primates Alouatta caraya Primates Callithrix penicillata Primates Sapajus libidinosus Rodentia Cuniculus paca Registro observação direta Habitat floresta estacional fezes e cranio observação direta relato secundário observação direta relato secundário pegadas pegadas observação direta toca observação direta pegadas e fezes fezes observação direta observação direta observação direta observação direta Rodentia Kerodon acrobata observação direta Rodentia Thrichomys sp. observação direta cerrado ss mata seca mata ciliar mata de galeria mata de galeria mata ciliar cerrado ss rupestre floresta estacional cerrado ss cerrado ss mata de galeria floresta estacional floresta estacional floresta estacional mata de galeria floresta estacional floresta estacional com afloramento de calcário floresta estacional e mata ciliar Alvo x x x x x x x 52 Espécies com interesse para conservação Mocó Kerodon acrobata (Rodentia / Caviidae, Foto 24): descrita recentemente, desmembrada da espécie anteriormente conhecida, o mocó é um roedor mais aparentado às capivaras do que aos demais representantes do grupo. Endêmico do Cerrado, está estritamente associado aos afloramentos de calcário e matas secas do nordeste goiano, com provável ocorrência em Tocantins. O único registro em Unidades de Conservação de todo país é no Parque Estadual Terra Ronca (IUCN 2012). Além da destruição das matas secas, a deficiência de conhecimento científico a seu respeito caracteriza outra ameaça a sua preservação. A especificidade em relação ao habitat, a área de ocorrência restrita e o baixo nível de preservação das matas secas justificam plenamente a inclusão da espécie nas futuras listas vermelhas. Foi registrado apenas nos afloramentos de calcário do leste da área de estudo (pontos 1 e 6), onde é localmente abundante. Punaré Thrichomys sp. (Rodentia / Dasyproctidae, Foto 26): o gênero Thrichomys era considerado monoespecífico e a realização de estudos morfológicos, moleculares e biogeográficos demonstraram a existência de cinco espécies distintas (Braggio e Bonvicino, 2004). De acordo com Bonvicino e colaboradores (2008), a espécie registrada em Goiás ainda não foi descrita, mas já possui importância conservacionista por ser endêmica do Cerrado com distribuição restrita a Goiás, Tocantins e Distrito Federal. Foi registrada apenas em Serra da Prata, em duas ocasiões, nos pontos 6 (mata seca) e 7 (mata ciliar do rio Paranã). Veado-campeiro Ozotoceros bezoarticus (Artiodactyla / Cervidae): associado a campos abertos do Cerrado, Pantanal e Pampas, o veado-campeiro ocorre na região central e sul do Brasil e consta na lista global e de Minas Gerais. A perda de habitat e a caça são os principais fatores que ameaçam a espécie que já foi extinta em várias localidades do país. Em Serra da Prata, foi detectado de três formas distintas em cerrado típico: identificação de fezes (ponto 2), observação de indivíduo solitário e detecção de crânio. Tatu-canastra Priodontes maximus (Cingulata / Dasypodidae): maior tatu existente, de hábito noturno e fossorial, difícil de ser observado. Alimenta-se principalmente de cupins e formigas, sendo um importante regulador das populações destes insetos no ecossistema. Apesar da ampla distribuição, é naturalmente raro e está ameaçado em escala global, nacional e estadual, sendo que nas regiões sudeste e sul do Brasil está praticamente extinto. Nas áreas amostrados foram observadas tocas típicas da espécie em altitudes acima de 1000m. Este fato pode estar relacionado com a menor ocupação humana nas áreas mais elevadas. Lontra Lontra longicaudis (Carnivora / Mustelidae): espécie alvo ameaçada em Minas Gerais e com populações em declínio, principalmente pela poluição de rios e desmatamento das matas ciliares. Ocorre ao longo do rio Paranã (ponto 7), sendo importante considerar a ampliação da área de estudo para abranger mais trechos de mata ciliar e favorecer a proteção desta e de outras espécies dependentes de margens preservadas. 53 Foto 24. Mocó Kerodon acrobata. Foto: Aves Gerais Foto 25. Macaco-prego Sapajus libidinosus. Foto: Aves Gerais 54 Foto 26.Punaré Thricomys sp. Foto: Aves Gerais Espécies de interesse econômico Barbado, bugio Alouatta caraya (Primates / Atelidae): este primata folívoro é uma espécie em potencial para o turismo de contemplação de fauna. Observá-lo na natureza é fascinante, seja por sua beleza ou vocalização peculiar. Apesar de não ser espécie-alvo, a fragmentação é uma ameaça a esta espécie, que já está presente nas listas de ameaçados do Rio Grande do Sul (Marques et al. 2002), São Paulo (São Paulo 1998) e Paraná (Mikich e Bérnils 2004). Em Serra da Prata foi registrado apenas nas matas secas em três ocasiões (pontos 1 e 5), mas sua ocorrência é bastante provável na mata ciliar do rio Paranã. Áreas com maior potencial para conservação de espécies endêmicas e ameaçadas As matas secas decíduas associadas a afloramentos de calcário (pontos 1, 5 e 6) são, sem dúvida alguma, a principal formação para a conservação dos mamíferos da região. Estão concentradas na porção leste da área e ultrapassam os limites iniciais, principalmente a nordeste da área de estudo, onde existem afloramentos calcários importantes. Remanescentes maiores de mata seca ocorrem no sentido da Flona Mata Grande e a criação de um corredor entre as Unidades de Conservação seria uma ação primordial para garantir a preservação das matas secas do vale do Paranã, uma das formações mais ameaçadas do mundo. Nesse ambiente foram encontrados dois roedores endêmicos descritos recentemente e com distribuição restrita (mocó e punaré). Apesar da aparência ressequida, as matas secas abrigam uma quantidade expressiva de mamíferos e nove espécies de diversos grupos foram registradas no ambiente, incluindo primatas, carnívoros, cervídeos, roedores, tatus e tamanduás. 55 A mata ciliar do rio Paranã também representa uma formação estratégica para a proteção de vários mamíferos, assim como para a conservação da área de estudo como um todo. A mata ciliar da margem direita do Paranã (ponto 7) possui elementos de mata seca decídua, formando um ecossistema particular com a presença de espécies endêmicas e ameaçadas. Além disso, a disponibilidade de água durante todo ano favorece a existência de muitas espécies, ainda mais que boa parte da área de estudo carece deste recurso essencial durante a estação seca. Dessa forma, é importante ampliar os limites da área de estudo até as margens do rio Paranã. O Cerrado da porção central da área de estudo apresenta um desnível altitudinal considerável (400 a 500m) em relação à borda da área. Quatro mamíferos ameaçados foram detectados no local, com possibilidade de ocorrência de outras espécies, conforme indicado pela curva do coletor. O isolamento da área, o bom estado de conservação e a variedade de formações vegetais representam fatores favoráveis para a permanência destes mamíferos. 56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABELL, R., M. L. THIEME, C. REVENGA, M. BRYER, M. KOTTELAT, N. BOGUTSKAYA, B. COAD, N. MANDRAK, S. C. BALDERAS, W. BUSSING, M. L. J. STIASSNY, P. SKELTON, G. R. ALLEN, P. UNMACK, A. NASEKA, R. NG, N. SINDORF, J. ROBERTSON, E. ARMIJO, J. V. HIGGINS, T. J. HEIBEL, E. WIKRAMANAYAKE, D. OLSON, H. L. LOPEZ, R. E. REIS, J. G. LUNDBERG, M. H. S. PEREZ e P. PETRY. 2008. Freshwater ecoregions of the world: a new map of biogeographic units for freshwater biodiversity conservation. Bioscience, 58(5): 403-414. ALBERT, J. S. e T. P. 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Espécies de aves registradas na Serra da Prata durante os estudos de campo Ordem Família Espécie Nome Popular Ameaçada Endemismo Struthioniformes Rheidae Rhea americana ema Tinamiformes Tinamidae Crypturellus undulatus jaó Tinamiformes Tinamidae Crypturellus parvirostris inhambu-chororó Tinamiformes Tinamidae Rhynchotus rufescens perdiz Anseriformes Anatidae Cairina moschata pato-do-mato Galliformes Cracidae Penelope superciliaris jacupemba x Galliformes Cracidae Crax fasciolata mutum-depenacho x Suliformes Anhingidae Anhinga anhinga biguatinga Pelecaniformes Ardeidae Nycticorax nycticorax savacu Pelecaniformes Ardeidae Butorides striata socozinho Pelecaniformes Ardeidae Bubulcus ibis garça-vaqueira Pelecaniformes Ardeidae Syrigma sibilatrix maria-faceira Pelecaniformes Ardeidae Pilherodius pileatus garça-real Pelecaniformes Threskiornithidae Theristicus caudatus curicaca Pelecaniformes Threskiornithidae Platalea ajaja colhereiro Cathartiformes Cathartidae Cathartes aura urubu-de-cabeçavermelha Cathartiformes Cathartidae Coragyps atratus urubu-de-cabeçapreta Cathartiformes Cathartidae Sarcoramphus papa urubu-rei Accipitriformes Accipitridae Ictinia plumbea sovi Accipitriformes Accipitridae Geranospiza caerulescens gavião-pernilongo Accipitriformes Accipitridae Heterospizias meridionalis gavião-caboclo Accipitriformes Accipitridae Rupornis magnirostris gavião-carijó Accipitriformes Accipitridae Spizaetus melanoleucus gavião-pato x x x 65 Falconiformes Falconidae Caracara plancus Falconiformes Falconidae Milvago chimachima carrapateiro Falconiformes Falconidae Herpetotheres cachinnans acauã Falconiformes Falconidae Micrastur ruficollis falcão-caburé Falconiformes Falconidae Falco sparverius quiriquiri Falconiformes Falconidae Falco femoralis falcão-de-coleira Eurypygiformes Eurypygidae Eurypyga helias pavãozinho-dopará Cariamiformes Cariamidae Cariama cristata seriema Charadriiformes Charadriidae Vanellus chilensis quero-quero Columbiformes Columbidae Columbina talpacoti rolinha-roxa Columbiformes Columbidae Columbina squammata fogo-apagou Columbiformes Columbidae Columbina picui rolinha-picui Columbidae Patagioenas picazuro pombão Columbiformes Columbidae Patagioenas cayennensis pomba-galega Columbiformes Columbidae Patagioenas plumbea pomba-amargosa Columbiformes Columbidae Leptotila verreauxi juriti-pupu Psittaciformes Psittacidae Ara ararauna arara-canindé x x x Columbiformes caracará Psittaciformes Psittacidae Ara chloropterus arara-vermelhagrande Psittaciformes Psittacidae Primolius maracana maracanãverdadeira Psittaciformes Psittacidae Diopsittaca nobilis maracanãpequena Psittaciformes Psittacidae Aratinga leucophthalma periquitãomaracanã Psittaciformes Psittacidae Aratinga jandaya jandaiaverdadeira Psittaciformes Psittacidae Aratinga aurea periquito-rei Psittaciformes Psittacidae Pyrrhura pfrimeri tiriba-de-pfrimer Psittaciformes Psittacidae Brotogeris chiriri periquito-deencontro-amarelo Psittaciformes Psittacidae Pionus maximiliani maitaca-verde x Cerrado 66 Psittaciformes Psittacidae Amazona aestiva papagaioverdadeiro Cuculiformes Cuculidae Piaya cayana alma-de-gato Cuculiformes Cuculidae Coccyzus melacoryphus papa-lagartaacanelado Cuculiformes Cuculidae Crotophaga ani anu-preto Cuculiformes Cuculidae Guira guira anu-branco Cuculiformes Cuculidae Tapera naevia saci Cuculiformes Cuculidae Dromococcyx phasianellus peixe-fritoverdadeiro Strigiformes Strigidae Glaucidium brasilianum caburé Caprimulgiformes Nyctibiidae Nyctibius griseus mãe-da-lua Caprimulgiformes Caprimulgidae Antrostomus rufus joão-corta-pau Caprimulgiformes Caprimulgidae Hydropsalis albicollis bacurau Caprimulgiformes Caprimulgidae Hydropsalis parvulus bacurau-chintã Caprimulgiformes Caprimulgidae Hydropsalis longirostris bacurau-da-telha Apodiformes Chaetura meridionalis andorinhão-dotemporal Trochilidae Phaethornis pretrei rabo-brancoacanelado Apodiformes Trochilidae Eupetomena macroura beija-flor-tesoura Apodiformes Trochilidae Colibri serrirostris beija-flor-deorelha-violeta Apodiformes Trochilidae Chrysolampis mosquitus beija-florvermelho Apodiformes Trochilidae Thalurania furcata beija-flor-tesouraverde Apodiformes Trochilidae Amazilia fimbriata beija-flor-degarganta-verde Apodiformes Trochilidae Heliactin bilophus chifre-de-ouro Trogoniformes Trogonidae Trogon surrucura surucuá-variado Coraciiformes Alcedinidae Megaceryle torquata martim-pescadorgrande Apodiformes Apodidae Mata Atlântica 67 Coraciiformes Alcedinidae Chloroceryle amazona martim-pescadorverde Galbuliformes Galbulidae Galbula ruficauda ariramba-decauda-ruiva Galbuliformes Bucconidae Nystalus chacuru joão-bobo Galbuliformes Bucconidae Monasa nigrifrons chora-chuvapreto Piciformes Ramphastidae Ramphastos toco tucanuçu Piciformes Picidae Melanerpes candidus birro, pica-paubranco Picidae Veniliornis passerinus picapauzinhoanão Piciformes Picidae Colaptes melanochloros pica-pau-verdebarrado Piciformes Picidae pica-pau-doColaptes campestris campo Piciformes Picidae Celeus flavescens pica-pau-decabeça-amarela Piciformes Picidae Dryocopus lineatus pica-pau-debanda-branca Piciformes Picidae Campephilus melanoleucos pica-pau-detopete-vermelho Passeriformes Melanopareiidae Melanopareia torquata tapaculo-decolarinho Passeriformes Thamnophilidae Taraba major choró-boi Passeriformes Thamnophilidae Thamnophilus doliatus choca-barrada Passeriformes Thamnophilidae Thamnophilus torquatus choca-de-asavermelha Passeriformes Thamnophilidae Thamnophilus pelzelni choca-do-planalto Thamnophilidae Herpsilochmus atricapillus chorozinho-dechapéu-preto Passeriformes Thamnophilidae Formicivora melanogaster formigueiro-debarriga-preta Passeriformes Sittasomus Dendrocolaptidae griseicapillus arapaçu-verde Passeriformes Dendrocolaptes Dendrocolaptidae platyrostris arapaçu-grande Passeriformes Xiphorhynchus Dendrocolaptidae guttatus arapaçu-degarganta-amarela Piciformes Passeriformes Cerrado 68 Passeriformes Lepidocolaptes Dendrocolaptidae angustirostris arapaçu-decerrado Passeriformes Campylorhamphus Dendrocolaptidae trochilirostris arapaçu-beija-flor Passeriformes Furnariidae Furnarius rufus joão-de-barro Passeriformes Furnariidae Synallaxis frontalis petrim Passeriformes Furnariidae Synallaxis albescens uí-pi Passeriformes Furnariidae Synallaxis scutata estrelinha-preta Passeriformes Furnariidae Phacellodomus rufifrons joão-de-pau Passeriformes Furnariidae Hylocryptus rectirostris fura-barreira Rhynchocyclidae Tolmomyias sulphurescens bico-chato-deorelha-preta Rhynchocyclidae Hemitriccus margaritaceiventer sebinho-de-olhode-ouro Passeriformes Tyrannidae Phyllomyias fasciatus piolhinho Passeriformes Tyrannidae Myiopagis caniceps guaracavacinzenta Passeriformes Tyrannidae Elaenia flavogaster guaracava-debarriga-amarela Passeriformes Tyrannidae Elaenia cristata guaracava-detopete-uniforme Passeriformes Tyrannidae Elaenia chiriquensis chibum Passeriformes Tyrannidae Camptostoma obsoletum risadinha Passeriformes Tyrannidae Suiriri suiriri suiriri-cinzento Passeriformes Tyrannidae Phaeomyias murina bagageiro Passeriformes Tyrannidae Lathrotriccus euleri enferrujado Passeriformes Tyrannidae Cnemotriccus fuscatus guaracavuçu Passeriformes Tyrannidae Contopus cinereus papa-moscascinzento Passeriformes Tyrannidae Knipolegus franciscanus maria-preta-donordeste Passeriformes Tyrannidae Colonia colonus viuvinha Passeriformes Tyrannidae Myiozetetes cayanensis bentevizinho-deasa-ferrugínea Passeriformes Passeriformes Cerrado x Cerrado 69 Tyrannidae Myiozetetes similis bentevizinho-depenachovermelho Passeriformes Tyrannidae Pitangus sulphuratus bem-te-vi Passeriformes Tyrannidae Myiodynastes maculatus bem-te-vi-rajado Passeriformes Tyrannidae Megarynchus pitangua neinei Passeriformes Tyrannidae Empidonomus varius peitica Passeriformes Tyrannidae Griseotyrannus peitica-deaurantioatrocristatus chapéu-preto Passeriformes Tyrannidae Tyrannus melancholicus suiriri Passeriformes Tyrannidae Tyrannus savana tesourinha Passeriformes Tyrannidae Sirystes sibilator gritador Passeriformes Tyrannidae Casiornis rufus caneleiro Passeriformes Tyrannidae Myiarchus swainsoni irré Passeriformes Tyrannidae Myiarchus ferox maria-cavaleira Passeriformes Tyrannidae Myiarchus tyrannulus maria-cavaleirade-raboenferrujado Passeriformes Pipridae Neopelma pallescens fruxu-do-cerradão Passeriformes Tityridae Tityra cayana anambé-brancode-rabo-preto Tityridae Pachyramphus viridis caneleiro-verde Passeriformes Tityridae Pachyramphus polychopterus caneleiro-preto Passeriformes Vireonidae Cyclarhis gujanensis pitiguari Passeriformes Vireonidae Vireo olivaceus juruviara Passeriformes Corvidae Cyanocorax cristatellus gralha-do-campo Passeriformes Corvidae Cyanocorax cyanopogon gralha-cancã Passeriformes Hirundinidae Stelgidopteryx ruficollis andorinhaserradora Passeriformes Passeriformes Cerrado 70 Passeriformes Hirundinidae Tachycineta leucorrhoa andorinha-desobre-branco Passeriformes Hirundinidae Hirundo rustica andorinha-debando Troglodytidae Troglodytes musculus corruíra Passeriformes Troglodytidae Cantorchilus leucotis garrinchão-debarriga-vermelha Passeriformes Polioptilidae Polioptila dumicola balança-rabo-demáscara Passeriformes Turdidae Turdus rufiventris sabiá-laranjeira Passeriformes Turdidae Turdus leucomelas sabiá-barranco Passeriformes Mimidae Mimus saturninus sabiá-do-campo Passeriformes Passeriformes Thraupidae Saltator similis trinca-ferroverdadeiro Passeriformes Thraupidae Saltatricula atricollis bico-de-pimenta Cerrado Passeriformes Thraupidae Compsothraupis loricata carretão Cerrado Passeriformes Thraupidae Nemosia pileata saíra-de-chapéupreto Passeriformes Thraupidae Cypsnagra hirundinacea bandoleta Passeriformes Thraupidae Tachyphonus rufus pipira-preta Passeriformes Thraupidae Lanio pileatus tico-tico-rei-cinza Passeriformes Thraupidae Lanio penicillata pipira-da-taoca Passeriformes Thraupidae Tangara sayaca sanhaçu-cinzento Passeriformes Thraupidae Tangara cayana saíra-amarela Passeriformes Thraupidae Neothraupis fasciata cigarra-do-campo Passeriformes Thraupidae Hemithraupis guira saíra-de-papopreto Emberizidae Zonotrichia capensis tico-tico Emberizidae Porphyrospiza caerulescens campainha-azul Passeriformes Passeriformes Passeriformes Emberizidae Sicalis flaveola canário-da-terraverdadeiro Passeriformes Emberizidae Emberizoides herbicola canário-do-campo Passeriformes Emberizidae Volatinia jacarina tiziu Cerrado x Cerrado x Cerrado 71 Passeriformes Emberizidae Arremon flavirostris tico-tico-de-bicoamarelo Passeriformes Emberizidae Charitospiza eucosma mineirinho Passeriformes Cardinalidae Cyanoloxia brissonii azulão Passeriformes Parulidae Parula pitiayumi mariquita Passeriformes Parulidae Basileuterus hypoleucus pula-pula-debarriga-branca Passeriformes Parulidae Basileuterus flaveolus canário-do-mato Passeriformes Icteridae Psarocolius decumanus japu Passeriformes Icteridae Cacicus cela xexéu Passeriformes Icteridae Icterus cayanensis inhapim Passeriformes Icteridae Icterus jamacaii corrupião Passeriformes Icteridae Gnorimopsar chopi graúna Passeriformes Icteridae Molothrus oryzivorus iraúna-grande Passeriformes Fringillidae Euphonia chlorotica fim-fim x Cerrado Cerrado 72