fisiologia - Faculdade Montenegro

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fisiologia - Faculdade Montenegro
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• Educação nutricional
para nadadores infantis
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volum e 0 7 - núm ero 0 1 • Jan/ Abr 2 0 0 8
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EXERCÍCIO
• Aspectos físicos e fisiológicos
do jovem jogador de futebol
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ISSN 16778510
Brazilian Journal of Exercise Physiology
FISIOLOGIA
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EXERCÍCIO
v o l u m e 0 7 - n ú me ro 01 • J a n/A b r 2008
24/10/2008 17:10:00
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Brazilian Journal of Exercise Physiology
Fisiologia
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
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• Qualidade de vida após revascularização
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Fisiologia
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volu me 0 7 - nú mero 0 2 • M ai/ Ag o 2 0 0 8
Fisiologia
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do
exercício
• Freqüência cardíaca máxima e consumo de oxigênio em mulheres saudáveis
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do
exercício
v o l u m e 0 7 - nú m e r o 02 • M a i/A g o 2008
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FISIOLOGIA
de
EXERCÍCIO
DO
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FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
FISIOL OGI A
FISIOLOGIA
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
DO
EXERCÍCIO
D O
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DO
EXERCÍCIO
FISIOLO
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EXERCÍCIO
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FISIOLOGIA
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FISIOLOGIA
FISIOLOG
EXERCÍC
I Oexercícios
• Jump Fit no desempenho
dos
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resistidos
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F I S I O L O G I A FISIOLOGIA
• Identificação de riscos em adolescentes
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DO
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• Autopercepção da saúde após alongamento
FISIOLOGIA
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EXERCÍCIO
DO E X E R C Í C I O
FISIOLOGIA
volume 07 - número 03 • Set/Dez 2008
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
• Exercícios resistidos em hipertensos
• Adaptações ao destreinamento
DO
DO
E X E R CNUTRIÇÃO
ÍCIO
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
• Natação, suplementação de sacarose
e seus efeitos em
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SIOLOGIA
FISIOLOGIA
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E X ECRIOTERAPIA
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E X E R C Í C I O DO
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EXERCÍCIO
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PERGUNTAS E RESPOSTAS
FISIOLOGIA
EXERCÍCIO
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
DO
• Treinamento da força para idosos
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EXERCÍCIO
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Fisiologia_CAPA_v7n3.indd 1
FISIOLOG
Brazilian Journal of Exercise Physiology
FISIOLOGIA
DO E XESPORTE
ERCÍCIO
DO
ISSN 16778510
FISIOLOGIA
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EXERCÍCIO
volume 07 - número 03 • Set/Dez 2008
18/12/2008 23:10:00
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FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 7 número 1 - janeiro/abril 2008
EDITORIAL
Carta ao leitor, Paulo Tarso Veras Farinatti ................................................................................................................... 3
ARTIGOS ORIGINAIS
Correlação entre perfil lipídico e percentual de gordura de acordo
com a característica dos sistemas energéticos glicolítico e oxidativo
em indivíduos na faixa etária de 25 a 35 anos, Eduardo Fernandes de Miranda,
Marco Antonio Freitas de Souza, Higor Lira Bastos, Daniele Bueno Godinho Ribeiro,
Cesamar Fernandes de Miranda, João Bartholomeu Neto, Ricardo Yukio Asano,
Max Luciano Dias Ferrão, Estélio Henrique Martin Dantas ......................................................................................... 4
Nutrição de futebolistas infantis e juvenis, Silvia Teixeira de Pinho,
Daniel Medeiros Alves, Diego Vaz Vaguethi, Patrícia dos Santos Behling, Márcia Buchewaitz ..................................... 10
Educação nutricional aplicada para nadadores infantis de um clube
do município de São Paulo, Juliana Oliveira Figueiredo, Tatiana Akemi Kondo,
Eliane Araújo dos Santos Cristóvão, Renata Furlan Viebig........................................................................................... 16
REVISÕES
Esteróides anabólicos no fisiculturismo, Marcus Vinicius Grecco,
Charles Ricardo Morgan ............................................................................................................................................. 21
Aspectos físicos e fisiológicos do jovem jogador de futebol,
Giovani dos Santos Cunha, Alvaro Reischak de Oliveira.............................................................................................. 29
Respostas fisiológicas ao remo competitivo, Rafael Reimann Baptista,
Alvaro Reischak de Oliveira ......................................................................................................................................... 37
RELATO DE CASO
Efeito do percurso sobre a freqüência cardíaca de um ciclista altamente
treinado, Débora Wagner, Carlos Mota, Felipe Carpes .............................................................................................. 43
NORMAS DE PUBLICAÇÃO .................................................................................................................................. 49
EVENTOS ................................................................................................................................................................. 51
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 6 Número 1 - janeiro/dezembro 2007
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FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Conselho Editorial
Antonio Carlos Gomes (PR)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ)
Dartagnan Pinto Guedes (PR)
Douglas S. Brooks (EUA)
Emerson Silami Garcia (MG)
Fernando Pompeu (RJ)
Francisco Martins (PB)
Jacques Vanfraechem (BEL)
Luiz Fernando Kruel (RS)
Martim Bottaro (DF)
Patrícia Chakour Brum (SP)
Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Rolando Baccis Ceddia (CAN)
Robert Robergs (USA)
Rosane Rosendo (RJ)
Sebastião Gobbi (SP)
Steven Fleck (USA)
Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Vilmar Baldissera (SP)
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu
Rio de Janeiro
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20021-180 – Rio de Janeiro – RJ
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do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 6 Número 1 - janeiro/dezembro 2007
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Editorial
Carta ao leitor
Prof. Dr. Paulo Tarso Veras Farinatti
Editor-Chefe da RBFEx
É com prazer que apresentamos o primeiro número
do volume 7 da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
(RBFEx). A partir de 2008, a revista volta a ser publicada
com periodicidade quadrimestral, com a perspectiva de,
progressivamente, aumentar o número de artigos em cada
número.
A quantidade de manuscritos submetidos vem crescendo sistematicamente. De fato, de 2006 a 2008 o número
de textos enviados para avaliação elevou-se em quase 40%.
Com isso, foi possível implementar um processo efetivo
de revisão por pares, com a participação de um número
expressivo de revisores. Além disso, projeta-se em prazo
relativamente curto o aumento da periodicidade da revista,
a fim de se veicular um quantitativo anual de artigos compatível com a indexação em bases de dados que permitam
uma melhor classificação da RBFEx. Conforme apontado
em ocasião anterior, estuda-se igualmente a possibilidade
Fisiologia v7n1.indb 3
de se ampliar, a partir de 2009, a abrangência da revista.
Para tanto, devem ser criadas seções específicas tratando
dos diferentes ramos da fisiologia do exercício (básica,
treinamento físico, nutrição etc).
É claro que todos esses planos continuam dependendo da colaboração dos pesquisadores que acreditam no
projeto da RBFEx, alimentando-a com os resultados de
seus trabalhos. Somos de opinião de que a diversificação
de veículos qualificados para divulgação do que se faz em
termos de pesquisa é algo necessário para a popularização
do consumo da produção de conhecimento da área em
nosso país. Contamos com a ajuda de todos, agradecendo muito àqueles que enviaram manuscritos, investiram
energia e tempo na seleção de artigos para publicação e
que, enfim, vêm participando ativamente do processo de
publicação da revista.
Cordialmente.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
4
Artigo original
Correlação entre perfil lipídico e percentual de gordura
de acordo com a característica dos sistemas energéticos
glicolítico e oxidativo em indivíduos na faixa etária
de 25 a 35 anos
Correlation between lipid profile and the percentage of fat according
to the characteristics of the oxidative and glycolic energy systems
in people between 25 and 35 years old
Eduardo Fernandes de Miranda*, Marco Antonio Freitas de Souza**, Higor Lira Bastos**, Daniele Bueno Godinho Ribeiro***,
Cesamar Fernandes de Miranda***, João Bartholomeu Neto****, Ricardo Yukio Asano****, Max Luciano Dias Ferrão*****,
Estélio Henrique Martin Dantas******
*Especialista em Personal Training pela ESEFIC-SP, Professor da Faculdade UNIRG-TO, Laboratório do Exercício da Faculdade
UNIRG-TO, **Acadêmico do curso de Educação Física da Faculdade UNIRG-TO, Bolsista do CNPq no Laboratório do Exercício da Faculdade UNIRG, ***Acadêmico do curso de Educação Física da Faculdade UNIRG-TO, Laboratório do Exercício da
Faculdade UNIRG-TO, **** Professor da Faculdade UNIRG-TO, Laboratório do Exercício da Faculdade UNIRG-TO, *****Pesquisador do Laboratório de Biociências da Motricidade Humanas, Professor da Universidade Estácio de Sá, ******Professor Titular
do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da UCB-RJ, Pesquisador do Laboratório de
Biociências da Motricidade Humanas
Resumo
Abstract
Objetivo: Analisar a correlação do perfil lipídico e percentual
de gordura de acordo com a característica do sistema energético
(oxidativo e glicolítico). Amostra: Foram convidados 25 indivíduos
de ambos o sexo, com idade entre 25 e 35 anos. Materiais e métodos:
Utilizou-se exame de dermatoglifia para dividir os grupos de acordo
com a prevalência do sistema energético, avaliação antropométrica
para determinação da composição corporal e análise de sangue para
determinação do perfil lipídico. Análise dos dados: Através de uma
estatística descritiva que foi composta por medidas de tendência
central e a estatística inferencial para correlação linear de Pearson.
Os resultados não demonstraram perfeita correlação, nem se obteve
inexistência correlativa em ambos os grupos. Apenas os grupos femininos apresentaram alta correlação como também significância p
< 0,05 em algumas das variáveis do perfil lipídico. Grupo oxidativo:
(TG = 0,8522; VLDL = 0,8572) grupo glicolítico: (LT = 0,8597;
TG = 0,8759; VLDL = 0,8612). Conclusão: Os grupos femininos,
tanto o de sensibilidade ao sistema energético oxidativo quanto o
do sistema energético glicolítico, apresentaram maior tendência às
disfunções lipídicas quando seu percentual de gordura estavam fora
dos padrões normais.
Objective: To analyze the correlation of the lipid profile and
percentage of fat according to the characteristic of the energy system
(oxidative and glycolic). Samples: 25 people of both sexes aged between 25 and 35 were invited. Materials and methods: A dermatogliphy
exam was used to divide the groups according to the prevalence of
the energy system, anthropometric assessment to determine the
body composition and blood analysis to determine the lipid profile.
Data analysis: A descriptive statistic, which was composed by the
measures of central tendency and the inferential statistics for the
Pearson line correlation were needed. The results didn’t show perfect
correlation and the correlative inexistence wasn’t reached in any of
the sexes either. Only the female groups showed high correlation
and significance p < 0.05 in some of the changes of the lipid profile.
Oxidative group: (TG = 0.8522; VLDL = 0.8572) glycolic group:
(LT = 0.8597; TG = 0.8759; VLDL = 0.8612). Conclusion: In the
female groups the sensibility both to the oxidative energy system
and to the glycolic energy system shows higher tendency to lipid
dysfunctions when its fat percentage is off the normal patterns.
Key-words: lipid profile, energy system, fat percentage.
Palavras-chave: perfil lipídico, sistema energético, percentual de
gordura.
Recebido em 12 de maio de 2008; aceito em 23 de maio de 2008.
Endereço para correspondência: Eduardo Fernandes de Miranda, Rua C 7, 134, 7735-070 Gurupi TO, Tel: 63-33125541, E-mail:
[email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
Introdução
Materiais e métodos
A obesidade é uma desordem metabólica e nutricional
crônica que tem conseqüências graves, como aumento dos
adipócitos, a hiperlipidemia e a resistência à insulina. Atualmente é considerada um dos mais graves problemas de
saúde [1,2].
Sabe-se que tal desordem metabólica é de etiologia multicausal, ou seja, pode ser determinada por diversos fatores
- genéticos, neuroendócrinos, metabólicos, dietéticos, ambientais, sociais, familiares, psicológicos e medicamentosos -,
que proporciona acúmulo excessivo de energia no organismo,
sob a forma de gordura [3].
O tratamento dietético da obesidade deve objetivar metas
realistas quanto à velocidade de perda ponderal e à quantidade
de peso perdido. Preconiza-se prescrição de dieta hipocalórica
balanceada e enfatiza-se, inicialmente, a qualidade dos alimentos, seguindo modelo proposto pela pirâmide alimentar, com
a intenção de que o paciente adquira critérios adequados de
escolha e faça opções saudáveis [4].
A ingestão calórica excessiva provocará um acúmulo de
gordura, que está relacionado a dislipidemias, difusão caracterizada por distúrbios nos níveis de lipídios circulantes
associada a níveis séricos aumentados de colesterol total (CT);
fração de colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL)
e de triglicerídeos, que atuam como fatores de risco. Entretanto, o colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL),
que atua como fator de proteção do sistema cardiovascular,
sofrerá uma diminuição [5,6].
A pesquisa de Kannel [5] demonstra que, além do colesterol, as doenças coronarianas são precedidas por outras
variáveis biologicamente plausíveis e correlação de fatores
de predisposição de risco à saúde. As variáveis ambientais
envolvidas na alteração do perfil lipídico incluem: tabagismo,
sedentarismo e dieta, e estão associados posteriormente com
lesões avançadas de aterosclerose [6].
Alguns estudos demonstraram a relação entre obesidade
e o tipo de fibra muscular, pois pessoas com predominância
de fibra tipo II (glicolíticas) terão maior probabilidade à
obesidade; esse tipo de fibra apresenta uma baixa eficiência na utilização da gordura como fonte energética. Desse
modo, o indivíduo que apresenta predominância de fibras
tipo I (oxidativas) tem menor probabilidade de acúmulo
de gordura por ter facilidade de utilizá-las como fonte de
energia [7,8].
As fibras musculares do tipo I (oxidativa) possuem um
conteúdo mais eficiente na captação de glicose (insulinaregulado) do que o metabolismo da glicose da fibra muscular do tipo II (glicolíticas) [9]. A partir dessas informações,
por tal investigação, este trabalho visa verificar, a predominância do sistema energético e sua correlação entre perfil
lipídico e o percentual de gordura em indivíduos entre
25 e 35 anos.
Amostra
Fisiologia v7n1.indb 5
5
A amostra foi composta de 25 indivíduos na faixa etária
de 25 a 35 anos, de ambos os sexos e residentes na cidade Gurupi/TO. Foram convidadas a serem voluntárias da pesquisa,
as pessoas que estiveram presentes no Laboratório Labnort,
no horário das 7 às 10 horas, nos meses de março e abril de
2007 e que apresentassem, em seu pedido de exame médico o
perfil lipídico. A amostra foi dividida de acordo com as características dos desenhos dermatoglíficos em grupo de sistema
energético oxidativo (Grupo I) e grupo de sistema energético
glicolítico (Grupo II). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê
de Ética da Faculdade UNIRG, em fevereiro de 2007.
Procedimentos
Para que as metas propostas por este estudo fossem
alcançadas, utilizamos para determinar as características
antropométricas uma balança com estadiômetro, da marca
Balmak. Para obtermos o percentual de gordura, utilizamos o
protocolo de três dobras de Jackson e Pollock e, para isso, foi
necessário um adipômetro da marca Lange Skinford Caliper.
Através do kit Labtest, chegamos ao perfil lipídico das pessoas
que participaram do estudo. Para a dermatoglifia, utilizouse o coletor da marca Print Matic e papel branco tamanho
A4. O estudo de Abramova et al. [10] mostra um esquema
de associações das impressões das digitais com as qualidades
físicas, com a seguinte base: para o sistema energético glicolítico, a qualidade física de velocidade e a força explosiva são
caracterizadas pelo aumento das presilhas (L > 7), diminuição dos verticilos (W < 3), presença de aumento dos arcos
(A) e redução do somatório das quantidades totais de linhas
(SQTL). Já no sistema energético oxidativo, a resistência e
as atividades de combinações motoras complexas são caracterizadas pela diminuição dos A e L < 6, aumento dos W > 4
e maior contagem de SQTL. Com base em Silva et al. [11],
podemos correlacionar os sistemas energéticos (glicolítico e
oxidativo) com os parâmetros dermatoglíficos.
Arco “A” – sem delta Presilha “L” – 1 delta Verticilo “W” – 2 delta
Análise estatística
O tratamento estatístico foi realizado com o programa
BioEstat 4.0 para determinar a característica descritiva da
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
6
amostra, através dos cálculos de média e desvio padrão. Em
seguida foi determinada a normalidade da amostra através do
teste de Shapiro-Wilk. Então, utilizou-se o teste de Pearson
para determinar a correlação entre as variáveis do perfil lipídico e o percentual de gordura.
Resultados
A Tabela I apresenta os valores das médias e desvio padrão das variáveis que caracterizam as amostras masculina e
feminina do grupo com predominância do sistema oxidativo.
Utiliza-se o IMC como parâmetro de classificação da relação
peso e altura dos sujeitos da pesquisa, que ficam classificados
como em estado de sobrepeso.
Adiante, verifica-se que o percentual de gordura dos indivíduos do sexo masculino se classifica em um estado ruim.
Já quando se trata do público feminino, nesta pesquisa, os
resultados ficam classificados como estar “abaixo da média”
em relação de percentual de gordura subcutânea. Essa classificação indica que o público da pesquisa se encontra com
a quantidade de gordura subcutânea acima dos valores considerados saudáveis.
que, de acordo com o gênero, encontrou-se uma prevalência
maior de obesidade entre os jovens do sexo masculino quando
comparados aos valores do sexo feminino no índice de massa
corpórea, no mesmo estudo o autor apresenta o resultado da
gordura subcutânea, cuja prevalência foi maior no %G no
sexo feminino cerca de 92% e de 56% no sexo masculino,
confirmando os escores do estudo expostos na Tabela II. Alicerçando aos resultados obtidos da pesquisa, Paula [13], em
seu estudo com participação de adultos com idade superior
a 20 anos (homens e mulheres), com enfermidades crônicas
não transmissíveis (hipertensão arterial, diabetes mellitus,
dislipidemia), mostrou que, independentemente de tais enfermidades, 75% dos indivíduos estavam com IMC acima do
normal, ditos em obesidade grau I (Organização Mundial de
Saúde 1995, 1997). Conclui-se que as ECNT (enfermidades
crônicas não transmissíveis) foram mais prevalentes dentre
os indivíduos classificados como obesos e, no entanto, os
indivíduos do sexo feminino estão mais susceptíveis a tais
enfermidades.
Tabela II - Comportamento médio das características do grupo II.
Variáveis
Indivíduos
Índice massa
corporal
Percentual de
gordura
Lipídios totais
Triglicerídeos
Colesterol total
HDL
LDL
VLDL
Tabela I - Comportamento médio das características do grupo I.
Variáveis
Masculino
Indivíduos
5
Índice massa corporal
27,71 ±
Percentual de
gordura
Lipídios totais
Triglicerídeos
Colesterol total
HDL
LDL
VLDL
26,10 ±
Feminino
6
4,78
b
7,75b
660,20 ± 239,04a
132,60 ± 70,97a
191,80 ± 63,54a
43,00 ± 7,48c
122,60 ± 48,42a
26,20 ± 13,81a
25,51 ±
29,70 ±
6,20
b
7,55b
668,83 ± 161,58a
117,33 ± 83,64a
200,50 ± 41,63a
55,17 ± 19,49a
122,00 ± 42,01a
23,33 ± 16,87a
Normalidades: a = dentro da normalidade; b = acima da normalidade;
c
= abaixo da normalidade
A Tabela II apresenta os valores das médias e desvio padrão
das variáveis que caracterizam a amostra masculina e feminina
do grupo com predominância do sistema glicolítico. O IMC
do grupo masculino aponta uma classificação de sobrepeso. Já
a classificação do grupo feminino, dentro dos parâmetros do
IMC, fica estabelecida como normal. Por conseguinte, apresentados os resultados dos valores de percentual de gordura
da amostra, nota-se que tanto o grupo masculino quanto o
grupo feminino estão classificados, segundo Pollok e Wilmore,
como abaixo da média predita, ou seja, com valores acima do
recomendado para uma população com essas características
para a manutenção dos níveis de saúde.
Com esses resultados expostos nas Tabelas I e II, o estudo
de Pinto [12], que parte de uma análise do estudo nutricional
em adolescentes na faixa etária entre 14 e 18 anos, demonstra
Fisiologia v7n1.indb 6
Masculino
7
28,02 ± 3,38b
Feminino
7
23,47 ± 2,87ª
22,69 ± 8,78b
27,13 ±
656,70 ± 88,19a
150,43 ± 52,62a
185,57 ± 21,28a
46,00 ± 12,87c
95,40 ± 33,79a
29,89 ± 10,69a
6,30b
629,14 ± 121,09a
113,57 ± 45,21a
187,43 ± 32,12a
54,14 ± 9,65c
111,00 ± 26,94a
22,29 ± 9,20a
Normalidades: a = dentro da normalidade; b = acima da normalidade;
c
= abaixo da normalidade
O Gráfico 1 apresenta os resultados da correlação entre
percentual de gordura e perfil lipídico nos grupos masculino
e feminino, para os que têm maior predominância para utilização da fonte energética oxidativa. É notória a diferença
entre os sexos na correlação dos dados, pois no grupo masculino as variáveis analisadas que caracterizam o perfil lipídico
foram: TG (triglicerídeos) e VLDL (lipoproteína de muito
baixa densidade), entre as quais se notou baixa correlação;
já os LT (lipídios totais), o CT (colesterol total) e os LDL
(lipídios de lipoproteína de baixa densidade) apresentaram
média baixa correlação, sendo que na HDL (lipoproteína
de alta densidade) foi determinada uma média correlação
com o percentual de gordura. Adiante, observou-se que no
grupo feminino ocorreu uma maior alteração nas correlações
das variáveis do perfil lipídico, principalmente nos: TG,
VLDL, que foram classificados por apresentar uma média
alta correlação; nos LT, para os quais se notou uma média
correlação; nos LDL, com média baixa correlação; e, por
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
fim, as HDL, apresentaram uma baixa correlação com o
percentual de gordura.
No entanto, é possível afirmar, também, que os indivíduos
do sexo feminino deste grupo demonstraram uma maior correlação em algumas das variáveis lipídicas com o percentual
de gordura quando comparado com os dados dos indivíduos
do sexo masculino, com isso exibem uma maior tendência a
disfunções lipídicas.
7
Gráfico 2 - Correlação entre percentual de gordura e perfil lipídico
no grupo II
Gráfico 1 - Correlação entre percentual de gordura e perfil lipídico
do grupo I.
*indica significância para p < 0,05. **indica significância para p <
0,01. LT: Lipidios totais. TG: Triglicerideos. HDL: Lipoproteína de alta
densidade. LDL: Lipoproteína de baixa densidade. VLDL: Lipoproteína
de muito baixa densidade.
Discussão
*indica significancia para p < 0,05. LT: Lipidios totais. TG: Triglicerideos. HDL: Lipoproteína de alta densidade. LDL: Lipoproteína de baixa
densidade. VLDL: Lipoproteína de muito baixa densidade.
O Gráfico 2 apresenta os resultados da correlação entre
percentual de gordura e perfil lipídico no grupo masculino
e feminino, agora com predominância de fibras glicolíticas.
Diante dos resultados, nota-se que, nos indivíduos do sexo
masculino, as variáveis analisadas que caracterizam o perfil
lipídico, tais como LT (lipídios totais), HDL (lipoproteína
de alta densidade), e LDL (lipoproteína de baixa densidade),
apresentam média baixa correlação com o percentual de
gordura subcutânea; já entre os TG (triglicerídeos), a VLDL
(lipoproteína de muito baixa densidade) mostrou-se com
baixa correlação; no entanto, em relação ao CT (colesterol
total), verificou-se uma média correlação. Trataremos, agora,
dos convocados do sexo feminino. Pode-se afirmar que as variáveis do perfil lipídico apresentaram uma maior correlação
com o percentual de gordura, quando comparados com os
resultados dos indivíduos do sexo masculino, pois os dados
abaixo demonstram claramente tal afirmativa. Houve alta
correlação entre LT, TG e VLDL; adiante, no CT e LDL
percebeu-se média alta correlação e, por fim, no HDL,
nota-se média baixa correlação. Portanto, nos resultados
analisados dentro do universo da pesquisa, é valido dizer
que existe correlação entre o perfil lipídico e o percentual
de gordura, tanto nos indivíduos do sexo masculino quanto
e, principalmente, nos do sexo feminino. Mesmo assim, é
preciso salientar que não se obteve perfeita correlação nem
se demonstrou inexistência nas classificações das estimativas
de correlação.
Fisiologia v7n1.indb 7
Diversos estudos foram realizados em diferentes regiões
do país, com o intuito de detectar os níveis de sobrepeso e
obesidade, mas tais informações que representam a população
brasileira ainda são escassas devido à dimensão territorial,
ficando os resultados restritos a estudos regionais [12].
Portanto, na região norte do nosso país, ainda existem
poucos estudos sobre obesidade e sobrepeso, o que dificulta
uma discussão mais aprofundada sobre os dados apresentados.
Um estudo feito nas principais capitais do país, realizado
pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição [13],
evidenciou que 32% da população brasileira apresentam
algum tipo de sobrepeso, destes, 8% são obesos, sendo tal
prevalência maior entre as mulheres, as quais chegam a
38%, enquanto nos homens essa proporção chega a 27%. A
proporção de sobrepeso e obesidade aumenta com a idade,
principalmente entre os 45 e 55 anos: nos homens o índice
chega a 37% e nas mulheres a 55%. Cerca de 60% das mulheres no período da menopausa ganham peso entre 2,5 kg a
5,0 kg rapidamente [14].
Portanto, dentro da faixa etária de 25 a 35 anos, a probabilidade de adquirir obesidade é menor, pois o metabolismo
basal nesta faixa etária é mais elevado, quando comparado às
faixas etárias posteriores. Após os 35 anos de idade, inicia-se
a diminuição das variáveis orgânicas, como massa muscular,
massa óssea, potência aeróbia e neuromuscular.
A diminuição da massa muscular está relacionada à idade,
que, por sua vez, está diretamente relacionada à diminuição
do gasto calórico diário, aumentando assim as possibilidades
de aumento de massa gorda [15].
Em estudo com a participação de adolescentes de ambos os
sexos, verificou-se maior percentual de risco de sobrepeso no
sexo masculino e de gordura corporal elevada, no feminino.
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8
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
Com isso, o percentual de gordura corporal apresentou uma
tendência a ser significativamente maior no sexo feminino
[16].
É nesse sentido que o estudo de Martins [17] investigou
237 mulheres portuguesas obesas com idade média de 31 ± 14
anos e IMC médio de 34,2 ± 6,0 kg/m2, e observou índices de
hipercolesterolemia (200 mg/dl) de 36% e de hipertrigliceridemia (200 mg/dl) de 10%. Em outra investigação, Cercato
[18], em São Paulo, estudou 412 mulheres obesas com idade
média de 42,9 ± 13,4 anos e IMC médio de 38,9 ± 7,2 kg/
m2; observou freqüências maiores de hipercolesterolemia
(colesterol 240 mg/dl em 53%) e de hipertrigliceridemia
(triglicérides 200 mg/dl em 18,6%).
Partindo desses achados e com a análise dos resultados dos
indivíduos do sexo feminino do presente estudo, notou-se alta
correlação em algumas das variáveis do perfil lipídico com o
percentual de gordura. Do mesmo modo, os escores obtidos
pelo grupo de predominância de fonte energética glicolítica
apresentaram uma maior correlação em todas as variáveis do
perfil lipídico do que as do grupo com predominância de
utilização da fonte energética oxidativa. Esse fato pode ser
justificado pelo tipo de sistema predominante na fibra muscular esquelética, entretanto não é o único determinante para
obesidade. O sistema oxidativo geralmente tem uma atividade
de enzima de oxidação mais alta do que o sistema glicolítico;
na realidade, foi formado para possuir um conteúdo mais
alto do transportador de glicose (insulina-regulado) e maior
sensibilidade à insulina do que para metabolismo de glicose
do que o sistema glicolítico [9].
Com os resultados expostos nos gráficos do estudo,
pode-se dizer que houve correlações das variáveis do perfil
lipídico com o percentual de gordura no grupo masculino
e principalmente no público feminino, salientando que não
apresentou inexistência, como também não atingiu perfeição
correlativa. Entende-se que o fato ocorreu pelo baixo percentual de gordura, juntamente pela não constatação de valores
do IMC com níveis de classificação que indicam obesidade
no perfil da amostra.
Estudo realizado em crianças gravemente obesas apresentou positividade na correlação com colesterol total (CT),
triglicérides (TG), LDL e negativamente com HDL [19].
Com base no estudo de Quintão [20], a dislipidemia está
relacionada a valores aumentados de colesterol total, valores
aumentados de LDL, valores aumentados de triglicerídeos
e valores diminuídos de HDL. Dessa forma, os achados da
pesquisa expostos, não demonstraram alterações anormais
relacionadas às dislipidemias, como pode ser visto nas Tabelas
I e II.
Conclusão
Os dados da pesquisa científica demonstraram que, nos
grupos masculino e feminino, existem altas estimativas correlacionais entre o perfil lipídico e o percentual de gordura.
Fisiologia v7n1.indb 8
No entanto, os escores correlacionais obtidos nos grupos do
sexo feminino (oxidativo e glicolítico), apresentaram diferença
entre si, quanto ao grau correlacional e de significância devido
a predominância da fonte energética, assim o grupo feminino com predominância a utilização do sistema energético
glicolítico atingiu alta estimativa de correlação assim como a
significância (p < 0,05).
Portanto, o grupo feminino, tanto com predominância do
sistema energético oxidativo como do sistema energético glicolítico, tem uma maior tendência a disfunções lipídicas do que
os indivíduos do sexo masculino com a mesma sensibilidade
a utilização das fontes energéticas acima mencionadas.
A investigação revela que, para obter resultados mais expressivos relacionados à estimativa de correlação, teríamos que
selecionar um grupo com percentual de gordura mais elevado
e com os níveis de IMC indicadores de obesidade. Por fim,
estudos com o propósito de investigar a este assunto ainda
são muito escassos no meio científico e, nesse sentido, existe a
necessidade de outras investigações para que tais confirmações
possam ser ampliadas e mais fundamentadas.
Agradecimentos
Agradecemos aos Doutores Jusábdon Naves Cansado e
Wanderly Fernandes de Miranda, proprietários do Laboratório Clínico Labnort, onde foi feito o exame de identificação
do perfil lipídico. Também somos gratos aos acadêmicos de
Educação Física da Faculdade UNIRG, que participaram
como amostra da pesquisa e, em especial, ao acadêmico Marco
Antonio Freitas Souza.
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10
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
Artigo original
Nutrição de futebolistas infantis e juvenis
Nutrition in sub-15 and sub-17 soccer players
Silvia Teixeira de Pinho*, Daniel Medeiros Alves**, Diego Vaz Vaguethi ***, Patrícia dos Santos Behling****,
Márcia Buchewaitz*****
*Mestranda em Educação Física da ESEF – UFPEL, **Especialista em Treinamento Desportivo – UEL, Preparador Físico do Grêmio Esportivo Bagé, ***Graduado em Nutrição pela UFPEL, ****Graduada em Educação Física da ESEF – UFPEL,
*****Professora e Diretora da Nutrição da UFPEL
Resumo
Abstract
O presente estudo teve como objetivo traçar o perfil nutricional de jogadores de futebol e discutir a adequação dietética com
as necessidades para esse esporte. A amostra foi composta de 20
jogadores infantis e 20 jogadores juvenis. Para avaliar o hábito alimentar, aplicou-se o questionário recordatório alimentar e os dados
foram analisados no software de análise de macro e micronutrientes
(DietWin, 2003). Os resultados encontrados demonstraram uma
adequação calórica em 40% dos atletas juvenis e apenas 20% dos
atletas infantis. A adequação dos macronutrientes na categoria
juvenil foi de 50% (CHO), 50% (proteínas) e 60% (lipídeos).
Já a categoria infantil apresentou uma dieta hipolipídica (50%),
hipoprotéica (80%) e hiperglicídica (50%). Sobre os micronutrientes encontrou-se um consumo abaixo do recomendado (< 70%
adequação) em vitamina C, vitamina A, cálcio e cobre, além de
uma ingestão excedente (> 110% adequação) de ferro para as duas
categorias. Esses resultados permitem concluir que é necessário que
se faça uma intervenção nutricional nesse grupo de atletas, tanto
para otimizar o desempenho como para garantir uma prática mais
saudável para os grupos estudados.
The aim of the present study was to draw the field soccer players’
corporal and feeding profile and to discuss the dietary adaptation
with the needs of this sport. The sample was composed by 20 players
14 to 15 years old and 20 players 16 and 17 years old. To make
the evaluation of feeding habits, we used the nutritional questionnaire, analyzed by DietWin 2003 software. The results pointed
out a caloric adaptation on 40% of the sub-17 players and only
20% of the sub-15 players. An appropriation of macronutrients in
the younger category was 50% (CHO), 50% (proteins) and 60%
(fat). The sub-15 players presents a diet with less fat (50%) and
protein (80%), and hyperglicidic (50%). About the micronutrients
was found a consumption below the recommended level (< 70%
adaptation) in vitamin C, vitamin A, calcium and copper and a
spare (>110% adaptation) ingestion of iron in most of players of
the two categories. The results showed that it is necessary to make
a nutritional intervention in teenage soccer players to increase the
sport performance as well as to obtain healthier dietary practices
for those age groups.
Key-words: soccer, nutrition, corporal composition, diet.
Palavras-chave: futebol, nutrição, composição corporal, dieta.
Recebido em 10 de dezembro de 2007; aceito 15 de fevereiro de 2008.
Endereço para correspondência: Silvia Teixeira de Pinho, Rua Carlos Gotuzo Giacoboni, 1271, 96040-240 Pelotas RS, Tel: (53) 9157
3329, E-mail: [email protected]
Fisiologia v7n1.indb 10
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
Introdução
O futebol é um dos esportes mais praticados no mundo,
e conseqüentemente no Brasil. Apesar disso, o futebol ainda
carece de estudos científicos sobre os efeitos da prática dessa
modalidade em crianças e adolescentes [1]. Embora os aspectos relacionados ao alto rendimento sejam amplamente discutidos na literatura mundial, os atletas em fase de formação
raramente são objetos de estudo científicos.
Segundo Ribas [2], o exercício altera as necessidades dietéticas do atleta, devido ao aumento na utilização de substratos
energéticos. A falta de orientação nutricional pode levar a
erros na reposição energética, comprometendo assim, não só
a saúde, como também a performance do atleta.
Uma aparente solução para resolver as possíveis deficiências alimentares de atletas é a suplementação. Porém, a
escassez de estudos nutricionais para atletas, dificulta a adoção
da melhor estratégia alimentar por parte dos profissionais
atuantes na educação física e no esporte, impedindo afirmar
se o uso de suplementos é adequado ou não.
Acredita-se que a prática do futebol requisita dos atletas
elevadas demandas energéticas que compreendem valores
entre 3150 a 4300 kcal [3,4]. No entanto, diferentes estudos
têm demonstrado que o gasto calórico pode ser de 2100 a
2520 kcal em uma única partida [5,6]. No que se refere
à reposição calórica, os atletas de futebol ingerem menos
calorias do que necessitam para a reposição de seu desgaste
[5], ressaltando a importância da utilização de soluções ricas
em carboidratos (CHO) com o intuito de retardar o início
da fadiga muscular durante o exercício. Além disso, essa
estratégia dietética tem a propriedade também de promover
a reposição da perda hídrica devido ao desgaste imposto
pelo exercício.
O estabelecimento de uma dieta equilibrada possibilita ao
atleta o aporte calórico e de macronutrientes compatíveis com
o exercício, recuperando o desgaste ocorrido [7-9]. Nenhum
alimento garante altos níveis de performance em todos os
atletas [4], sendo necessário uma adequada orientação nutricional apoiada na experiência e no conhecimento científico,
evitando problemas como a superestimação ou subestimação
de nutrientes durante a dieta.
Os cuidados nutricionais com atletas devem oportunizar
um adequado desempenho esportivo e a reposição dos nutrientes utilizados durante a atividade, bem como proporcionar a reposição das perdas de vários nutrientes que ocorreram
durante os exercícios.
A adequada ingestão de carboidratos garante a reposição do glicogênio muscular e hepático utilizado durante
a atividade física [10]. Após os exercícios, o carboidrato é
utilizado para repor rapidamente os estoques de glicogênio,
beneficiando assim a recuperação e a preparação dos mesmos
músculos para atividades posteriores. Atletas que treinam
diariamente de forma intensa devem ingerir de 60 a 70% do
Fisiologia v7n1.indb 11
11
valor energético diário total ou de 6-10 g de carboidratos/kg
de peso corporal/dia [4,6,11,12].
Ressalta-se que crianças e adolescentes esportistas demandam um cuidado especial no que se refere ao seu estado
nutricional tendo em vista que estão em uma fase da vida
sobre intenso crescimento e desenvolvimento e que a prática
esportiva poderá provocar modificações de suas necessidades
nutricionais normais. Dessa maneira, torna-se importante a
realização de avaliação periódica de parâmetros de crescimento
e desenvolvimento, bem como de aspectos nutricionais que
possam sugerir risco à saúde [13].
O treinamento é capaz de estimular o crescimento muscular, porém sem uma dieta equilibrada, o resultado fica
limitado. Segundo Miller [14], além de fatores genéticos e do
treinamento, o principal fator que influência a performance
é a dieta.
Considerando as demandas fisiológicas decorrentes da
prática do futebol e o papel da nutrição dos atletas para o
fortalecimento desse esporte, o presente estudo objetivou
analisar o perfil nutricional de jogadores infantis e juvenis
de futebol de campo na cidade de Pelotas, e assim discutir
a adequação dietética dos mesmos em comparação com as
necessidades requeridas para esse esporte.
Material e métodos
A amostra foi composta de 20 jogadores de futebol de
campo com idades de 14 e 15 anos (categoria infantil) e 20
jogadores de 16 e 17 anos (categoria juvenil), de duas equipes classificadas para as semifinais do campeonato citadino,
na cidade de Pelotas, RS, todos filiados à liga pelotense de
futebol. A escolha pelos atletas se deu aleatoriamente, representando aproximadamente um terço da população total de
cada equipe.
A rotina de treinamento dos atletas constava de 5 sessões
de treinamento semanais, com duração de aproximadamente
100 minutos para os infantis e 120 minutos para os juvenis.
Para a avaliação não foram considerados os níveis de maturação biológica.
Foram coletados dados de peso e altura dos jogadores
e também as medidas das pregas cutâneas: triciptal (DTR)
e subescapular (DSE), utilizando-se o compasso de dobras
cutâneas. Para a análise do percentual de gordura utilizou-se
a equação proposta por Slaughter [13].Os materiais utilizados
foram: uma balança analógica e estadiômetro (marca Secca)
para medir a estatura, um compasso de dobras cutâneas (marca
Lange) para medir as dobras cutâneas.
Os valores médios encontrados para estatura, peso, IMC
e percentual de gordura encontram-se na Tabela I.
Observa-se que o peso médio do grupo de jogadores
juvenil apresentou valor superior ao grupo infantil o que é
indicativo de ingestão alimentar maior.
9/10/2008 17:00:19
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
12
Tabela I - Caracterização da amostra.
Ida- Altu- Peso IMC DSE DTR %
de
ra
Gord
16,4 1,75 58,2 21,1 8,7
8,9 13,8
Juve- Ménil
dia
Desv
0,6 0,06
7,3
1,9
Pad
InMé- 14,4 1,69 55,9 19,9
fantil dia
Desv
0,7 0,06
6,9
2,3
Pad
1,6
1,8
2,5
9,5
8,5
13,6
1,6
1,8
2,4
Para avaliar o hábito alimentar, aplicou-se o questionário
recordatório alimentar de 24 horas, em 3 dias não consecutivos da semana (sendo 1 no fim de semana) para se obter
uma amostra de consumo, representativa da dieta habitual
de cada jogador conforme o procedimento apresentado por
Willet [15].
O questionário foi aplicado por estudantes do curso de
nutrição e de educação física da Universidade Federal de
Pelotas, sob a orientação e supervisão de uma professora do
curso de nutrição, sendo o mesmo aplicado em uma sala
onde cada aluno era entrevistado individualmente antes das
sessões de jogo.
Os resultados dos dados de ingestão calórica de macro
e micro-nutrientes foram representados pela média dos 3
dias de recordatório, analisados em software de análises de
alimentos (DietWin, 2003) e expressos em percentuais. Os
percentuais encontrados de consumo foram comparados às
recomendações do Institute of Medicine’s Food and Nutrition
Board que preconiza as Referências de Ingestão Dietética
(DRI’s) [16] para todos os nutrientes. A estimativa do gasto
energético dos jogadores foi determinada através da Taxa
de Metabolismo Basal (TMB) dos mesmos, calculada pela
equação 66,5 + (13,75 x kg) + (5,003 x cm) - (6,775 x age)
[17]. Após a divisão do valor da TMB por hora, o resultado
foi multiplicado pelas constantes metabólicas, considerando
as atividades despendidas com as horas de treinamento físico
e outras atividades consideradas leves e muito leves, segundo
a Organização Mundial da Saúde [18].
Foram analisados os valores percentuais de adequação
dietética para o consumo calórico, consumo de macronutrinetes e micronutrientes (vitaminas e minerais) nas categorias
juvenil e infantil.
Os participantes assinaram um termo de consentimento
livre e esclarecido antes da coleta de dados.
Resultados
Observa-se na Figura I sobre a ingestão calórica total, que
40% dos jogadores da categoria juvenil consumiam dieta
adequada e 30% acima do recomendado. Para a categoria
infantil, observa-se que a grande maioria (70%), apresentou
uma dieta hipercalórica.
Fisiologia v7n1.indb 12
Figura 1 - Percentual de atletas em função do percentual de adequação da ingestão calórica total de futebolistas infantis e juvenis.
Os resultados demonstram um consumo excessivo dos
jogadores, contrariando os estudos realizados por Rico-Sanz
[5] e Leblanc et al. [19], onde a ingestão de energia total dos
atletas investigados era insuficiente.
A Tabela II apresenta a análise da adequação dos macronutrientes, respectivamente para as categorias juvenil e infantil. A
dieta dos jogadores da categoria juvenil apresentou expressivo
percentual de adequação de acordo com o recomendado para
todos os nutrientes CHO (50%); proteínas (50%) e lipídeos
(60%). Entretanto, pode-se observar também na Tabela II
que a dieta dos jogadores da categoria infantil apresentou-se,
em sua maioria: hiperglicídica (50% acima da adequação)
hipoprotéica (80% abaixo do recomendado) e hipolipídica
(50% abaixo do recomendado), respectivamente.
Tabela II - Adequação do percentual de macronutrientes.
Nutriente
Juvenil
Infantil
Carboidratos
Proteínas
Lipídeos
Carboidratos
Proteínas
Lipídeos
Adequação
Abaixo
Recomendado
30%
50%
40%
50%
20%
60%
20%
30%
80%
20%
50%
30%
Acima
20%
10%
20%
50%
20%
*Percentual de adequação – CHO: 60 – 70 %; Proteínas: 12 – 15 %;
Lipídeos: 25 – 30 %
No presente estudo, 50% dos jogadores da categoria juvenil apresentaram a proporção recomendada de consumo de
CHO, entretanto uma parcela expressiva da amostra (30%)
apresentou baixa adequação do consumo desse nutriente,
confirmando os resultados observados na literatura para
essa modalidade esportiva. Entretanto, a categoria infantil
apresentou resultados opostos ao encontrado por Ruiz et al.
[19], pois a maioria consumia CHO em proporções acima do
recomendado (50%) ou em nível recomendado (30%).
Com relação ao consumo de proteínas, observa-se que
ocorreu adequação em metade dos jogadores da categoria juvenil (50%), entretanto parcela significativa apresentou dieta
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
hipoprotéica (40%). O mesmo não aconteceu com a categoria
infantil que em sua maioria apresentou dieta hipoprotéica
(80%). No estudo de Rico-Sanz [5] foram encontrados
percentuais de proteína de 14% e 14,4%, ressaltando um
consumo de carboidratos abaixo do recomendado.
Uma vez que a depleção de glicogênio é observada após
as partidas de futebol [5], alimentos contendo grandes
quantidades de carboidratos são importantes, pois auxiliam
na reposição da reserva de glicogênio corporal. Os resultados
demonstram que a quantidade de carboidratos ingerida pelos
atletas da categoria juvenil está adequada ao recomendado
(60 –70%). Já nos jogadores da categoria infantil, observa-se
que a metade teve uma ingestão superior ao recomendado
para carboidratos e uma ingestão inferior em proteínas. Este
fato pode estar relacionado com um balanço nitrogenado
negativo, comprometendo o crescimento e desenvolvimento
dessa população de jogadores.
A Tabela III indica o percentual de adequação das vitaminas consumido pelos jogadores.
A análise da adequação de ingestão dos micronutrientes
nas duas tabelas mostra que os percentuais de adequação são
muito semelhantes para as duas categorias. Pode-se notar
que uma parte dos jogadores da categoria infantil teve um
consumo inadequado de vitaminas, sendo que todos (100%)
ingeriram quantidade marginal (< 70% adequação) de vitamina C e 70%, de vitamina A. A maioria dos jogadores da
categoria juvenil também não atingiu o percentual adequado
para o consumo de vitamina A, sendo 70% com ingestão
marginal (< 70% adequação). O mesmo observa-se quanto
13
ao consumo de vitamina C, ressaltando que 80% tiveram
adequação inferior a 70%.
A ingestão insuficiente das vitaminas A e C pode comprometer o crescimento ósseo [20], fato relevante por se tratar
de atletas em fase de crescimento. Além disso, essas vitaminas
desempenham um papel importante no metabolismo aeróbio [21], e uma ingestão inadequada pode comprometer o
desenvolvimento da capacidade aeróbia, importante para o
bom rendimento no futebol [1].
Quanto às demais vitaminas, na dieta da categoria juvenil
os maiores percentuais estavam acima do recomendado e para
a categoria infantil os maiores percentuais encontraram-se
adequados ou acima do recomendado.
Com relação aos minerais, os resultados encontrados também
apresentaram semelhanças entre as duas categorias. Na categoria
juvenil (Tabela IV), constata-se que 70% dos jogadores não atingiram um consumo maior que 70% de adequação de cálcio. Igual
resultado pôde ser constatado quanto ao consumo de cobre, já
que 100% obtiveram um consumo marginal. Quanto aos jogadores da categoria infantil (Tabela IV), apresentaram uma ingestão
inadequada para cálcio (80%) e cobre (100%) e um consumo
superior em ferro (90%). Com relação à ingestão de ferro dos
jogadores da categoria juvenil, verifica-se que a maior parte (60%)
atingiu um percentual maior do que o recomendado.
Discussão
Vários estudos realizados com atletas de futebol constataram que as gorduras têm importante participação na ingestão
Tabela III - Análise da adequação do consumo de vitaminas.
Vitaminas
Vitamina C
Vitamina B12
Vitamina B6
Vitamina A
Vitamina B2
Vitamina B1
Vitamina E
Niacina
Adequação
< 70 %
Juvenil
Infantil
80%
100%
10%
40%
30%
70%
70%
20%
20%
30%
20%
20%
30%
20%
70 – 80 %
Juvenil Infantil
20%
10%
10%
10%
10%
40%
20%
80 – 110 %
Juvenil
Infantil
10%
20%
30%
40%
10%
20%
30%
30%
30%
20%
20%
30%
40%
> 110 %
Juvenil
Infantil
20%
70%
70%
20%
20%
10%
20%
60%
50%
40%
20%
60%
80%
40%
20%
70 – 80 %
Juvenil Infantil
10%
10%
10%
10%
10%
30%
20%
80 – 110
Juvenil Infantil
20%
20%
40%
20%
30%
20%
20%
30%
30%
30%
30%
> 110 %
Juvenil Infantil
10%
60%
90%
30%
10%
60%
50%
20%
50%
40%
Tabela IV - Adequação do percentual de minerais.
Minerais
Cálcio
Cobre
Ferro
Folato
Fósforo
Magnésio
Zinco
Fisiologia v7n1.indb 13
Adequação
< 70 %
Juvenil Infantil
70%
80%
100% 100%
10%
40%
50%
10%
20%
40%
10%
20%
10%
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energética total desses atletas e ao mesmo tempo apresentam
um baixo consumo de CHO [4,16,17]. Leblanc et al. [19],
também verificaram em seu estudo que a dieta dos atletas
apresentava uma ingestão na proporção de macronutrientes
ingeridos oriundas das gorduras (29,1 a 34,1% do VCT) e
ao mesmo tempo baixa em carboidratos (48,5 a 56,6% do
VCT). Ruiz et al. [18], estudando jogadores de 14 anos de
idade, mostraram que a contribuição de CHO na ingestão
de nutrientes encontrava-se em torno de 47,4%.
Apesar dos carboidratos e gorduras serem quantitativamente os combustíveis preferenciais para o exercício, alguns
tipos de atividades podem aumentar a oxidação de aminoácidos, principalmente os de cadeia ramificada [22]. Como
resultado do aumento da oxidação de aminoácidos, estes são
irreversivelmente perdidos. No caso que esses aminoácidos
não sejam repostos pela dieta, o processo normal de síntese
protéica será prejudicado, o que resultaria em uma redução
das proteínas corporais, podendo levar a uma perda crônica de
massa muscular, que é relevante no desempenho do jogador
de futebol [23].
Uma ingestão de 1,4 - 1,7 g/kg/dia de proteína estaria
adequada para jogadores de futebol [21]. Outra recomendação
seria de 12 – 15% da ingestão energética de proteínas para
adolescentes esportistas [24], o que se pode observar na dieta
da metade dos jogadores da categoria juvenil.
A recomendação de consumo de gorduras na dieta é de
25 – 30% das calorias totais. Juntamente com o carboidrato,
a gordura é a principal fonte de energia durante o exercício.
O objetivo da utilização de gordura durante o exercício é
poupar o uso do glicogênio muscular [25]. Neste estudo
encontrou-se um consumo adequado de gordura em 60%
dos jogadores da categoria juvenil, entretanto, metade dos
jogadores da categoria infanto-juvenil teve uma ingestão
abaixo do recomendado. A restrição excessiva do consumo de
gorduras pode prejudicar o crescimento e desenvolvimento,
por restringir o consumo energético e também a absorção de
vitaminas lipossolúveis e carotenóides [26].
Em um estudo realizado com atletas nadadores com idades
entre 13 e 21 anos [27], foi observado baixo consumo em
vitamina A e elevada ingestão em ferro para os homens, dados
que corroboram com os encontrados na presente pesquisa.
Porém, a pesquisa realizada com atletas nadadores também
constatou o consumo excedente em vitamina C, resultado
esse que não foi verificado nesse estudo.
Algumas vitaminas e minerais desempenham um papel
chave no metabolismo energético [21]. A atividade física aumenta a necessidade do consumo de alguns destes nutrientes,
o que pode ser alcançado mediante a ingestão de uma dieta
adequada [11]. Estudos alertam que o aumento da ingestão
de cálcio e vitamina E, diminui os efeitos provocados pelos
radicais livres [28,29].
Ainda não há evidências científicas de que a suplementação
de vitaminas e minerais promova um efeito ergogênico para
os atletas. No entanto, a suplementação pode ser útil quando
Fisiologia v7n1.indb 14
houver necessidade de compensar dietas deficitárias devido
a aspectos, como: estilo de vida, desgaste físico devido ao
treinamento intenso, correção de inadequação nutricional,
adequando às recomendações [10].
No estudo feito por Leblanc et al. [19], também foi constatado um baixo consumo de cálcio e consumo satisfatório
de ferro pelos atletas, igualmente encontrado no presente
trabalho para as duas categorias de jogadores. Os estudos
demonstram que a carência de cálcio pode levar à desmineralização óssea, havendo diminuição da calcemia, tornado os
ossos mais predispostos à fraturas. A ingestão adequada de
cálcio é importante para maximizar o depósito deste mineral
do tecido ósseo [14].
Em outro estudo, realizado por Rico-Sanz et al. [5], foi
verificado que as ingestões de cálcio também estavam abaixo do recomendado, o que reforça a importância de se ter
um maior cuidado com esse nutriente, já que a amostra da
presente pesquisa é composta por adolescentes e, em média,
essa população consome quantidades menores do que a
recomendação.
Considerando as limitações deste estudo na área da
reposição hídrica, na utilização de suplementos por parte
dos atletas analisados e nos níveis de maturação biológica, o
estudo contribuiu para apontar problemas e soluções práticas
relativos aos aspectos nutricionais dos atletas analisados.
Conclusão
Dentro dos objetivos propostos pelo estudo, foi possível
constatar através dos resultados encontrados um elevado
consumo de carboidratos, um baixo consumo de proteínas
e gorduras dos jogadores da categoria infantil, sendo que a
maioria destes obteve ingestão do valor calórico total acima
do recomendado. Já nos jogadores da categoria juvenil, os
percentuais de adequação de macronutrientes apresentaramse dentro da normalidade e a ingestão do valor calórico total
estava adequada em 40% da amostra.
Com relação aos micronutrientes, os resultados das duas
categorias foram muito semelhantes, verificando-se ingestão
marginal (< 70%) de vitamina C, vitamina A, cálcio e cobre
nas duas categorias. No entanto, houve um elevado consumo
de ferro, também observado nas duas categorias. Esse consumo inadequado das vitaminas A e C pode comprometer o
desenvolvimento ósseo, fazendo-se necessária uma intervenção nutricional no sentido de garantir o crescimento de forma
saudável desses atletas.
Com base nesses resultados, é aconselhável uma educação nutricional a esses jogadores de futebol, sugerindo uma
adequação calórica, adequação dos macronutrientes, vitaminas e minerais, não apenas com o intuito de melhorar o
desempenho esportivo, mas também para promover hábitos
alimentares mais saudáveis que persistam no decorrer da vida
desses jogadores.
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Ainda é pequeno o número de estudos relacionados com
atividades esportivas de adolescentes. Muitas das recomendações são originadas de estudos com adultos, o que reforça
a necessidade de estudos direcionados para esta faixa etária.
Portanto, sugere-se que novos estudos sejam realizados com
o objetivo de difundir os conhecimentos referentes à nutrição
aplicada ao esporte e em especial ao futebol.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
Artigo original
Educação nutricional aplicada para nadadores infantis
de um clube do município de São Paulo
Nutritional education applied for young swimmers of a club
in the city of São Paulo
Juliana Oliveira Figueiredo*, Tatiana Akemi Kondo*, Eliane Araújo dos Santos Cristóvão*, Renata Furlan Viebig**
*Graduandas do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo-SP, **Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica,
Doutoranda em Medicina Preventiva pela FMUSP, Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo-SP
Resumo
Abstract
Objetivo: Demonstrar, por meio de gincanas aplicadas à população estudada, como as atividades educativas são importantes para
introduzir a educação nutricional de atletas infantis, especialmente
para o incentivo ao aumento do consumo de frutas, verduras e
legumes. Materiais e métodos: O estudo foi realizado com 30 nadadores mirins e para estes foram aplicadas três gincanas educativas,
focadas no tema “importância do consumo de frutas e hortaliças
para nadadores”. Resultados: Na gincana sobre a importância das
frutas, das perguntas realizadas durante a atividade houve 90% de
acerto e 10% de erro, enquanto que na gincana sobre as verduras
houve 75% de acerto e 25% de erro. Na gincana sobre legumes não
houve perguntas. Conclusão: Quanto mais cedo forem instalados
nas crianças fisicamente ativas hábitos alimentares saudáveis, direcionados para o desempenho no esporte, maior a probabilidade de
que permaneçam na vida futura como uma garantia de melhores
resultados nos eventos competitivos.
Objective: To demonstrate through education activities how is
important to introduce nutritional education for young athletes,
especially as an incentive to increase fruits and vegetables intake.
Materials and methods: The sample was composed by 30 swimming
children and were applied three educative activities, with focus in
the theme importance of fruit and vegetables consumption for
swimmers. Results: In the activities about the importance of fruits,
of the asked questions during the activity, we observed 90% correct
and 10% incorrect, while in the activities about vegetables, 75%
were correct and 25% incorrect. On the second part of the activity
about vegetables we did not make any questions. Conclusion: The
earlier the nutritional healthy patterns are installed in the physically
active children, aiming at sport’s performance, more probability
that these remain in future life, as a guarantee of better results in
competitive events.
Palavras-chave: educação nutricional, criança, frutas, hortaliças,
atividade física.
Key-words: nutritional education, children, fruits, vegetables,
physical activity.
Recebido em 10 de janeiro de 2008; aceito em 15 de março de 2008.
Endereço para correspondência: Juliana Oliveira Figueiredo, Rua Benedito Jacinto Mendes, 163, 03922-000 São Paulo SP, Tel: (11)
6705-0284, E-mail: [email protected]
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Introdução
Materiais e métodos
As crianças praticantes de atividades físicas necessitam
de um maior cuidado com a alimentação, uma vez que esta
deve suprir as necessidades da fase de desenvolvimento desses
indivíduos, além de fornecer a energia adicional que é exigida
pelo esporte [1,2].
A educação física tem forte ligação com a nutrição tanto
na área de cunho mais pedagógico e escolar, como no treinamento em esportes, visando alto rendimento ou mesmo a
promoção da saúde [2].
Os atletas jovens comumente adotam comportamentos
alimentares inadequados, os quais podem comprometer o
estado nutricional destes, bem como seu desempenho no
esporte [3]. Estudos mostram que os atletas não prestam
atenção à alimentação, e consequentemente, prejudicam seu
rendimento [4,5].
Geralmente, os indivíduos não pensam na alimentação
como uma fonte de energia para a execução de suas atividades
diárias, ou de nutrientes para a constituição do seu corpo, mas,
fundamentalmente, em termos de prazer gustativo, olfatório e
visual [6]. Assim, percebe-se que a maioria dos atletas ignora
qual seria sua nutrição adequada [4,7,8].
Nos últimos anos, notou-se que no Brasil os padrões alimentares modificaram-se, elucidando em partes o contínuo
aumento de adiposidade nas crianças em geral, como o baixo
consumo de frutas, hortaliças e leite, além do consumo elevado de guloseimas (bolachas recheadas, salgadinhos e doces) e
refrigerantes, bem como a omissão do café da manhã [9].
Atualmente, estima-se que no Brasil o consumo de frutas
e hortaliças seja inferior a metade do que é recomendado nutricionalmente [10]. Estes alimentos são fontes de vitaminas
e minerais, os quais devem ter as necessidades atingidas com
uma dieta quali-quantitativamente adequada, suprindo a
demanda energética do treinamento [11].
Desta maneira, a escolha de uma alimentação adequada
e principalmente equilibrada promove uma melhoria na resposta fisiológica do indivíduo praticante de exercícios físicos.
Assume-se, assim, que a prescrição dietética, de acordo com
o gasto energético, sexo, idade, o calendário de competição e
treinamento e o momento de ingestão de uma refeição apropriada à prática desportiva, é essencial para a performance de
atletas mirins [6].
Diante das práticas alimentares inadequadas destes indivíduos, a educação alimentar e nutricional torna-se fundamental
para converter os hábitos errôneos em saudáveis, propiciando
conhecimento, principalmente, sobre as vantagens do consumo de frutas e hortaliças para a saúde [12].
O presente estudo objetivou demonstrar, através de gincanas aplicadas à população estudada, como as atividades educativas são importantes para auxiliar na educação nutricional
de atletas infantis, no incentivo ao aumento do consumo de
frutas, verduras e legumes.
O estudo foi realizado com 33 nadadores mirins, meninos
e meninas, com idade entre 6 e 10 anos, das equipes competitivas de um importante clube do município de São Paulo.
Foram aplicadas 3 gincanas visando a educação nutricional dessa população, especificamente educativas, focadas no
tema “importância do consumo de frutas e hortaliças para
nadadores”.
A seguir, são descritos os procedimentos empregados em
cada uma das atividades educativas empreendidas.
Fisiologia v7n1.indb 17
Gincana das frutas
Objetivo: Realizar a abordagem inicial do assunto consumo
de frutas com os nadadores, mostrando a importância destes
alimentos na alimentação do atleta infantil.
Executores: Estagiárias da área de Nutrição Esportiva.
Modo de conduzir:
1) breve preleção sobre a importância das frutas na alimentação de atletas;
2) jogaram-se na piscina bexigas numeradas e não numeradas
com bolas de gude dentro, para que elas afundassem;
3) os participantes foram divididos em equipes diferentes;
4) as equipes entraram juntas na piscina para pegarem o
maior número de bexigas que conseguirem em 20 segundos, sendo que cada participante pegou uma bexiga por
vez, colocando-as em uma sacola que estava na borda da
piscina com uma das estagiárias;
5) a equipe que pegou o maior número de bexigas ganhou
1 ponto e a que pegou o maior número de bexigas numeradas também ganhou 1 ponto;
6) cada equipe respondeu a pergunta relacionada ao número
da bexiga, ganhando 1 ponto por acerto;
7) as bexigas numeradas que as equipes não pegaram foram
divididas entre as equipes para que cada uma delas respondesse uma pergunta, ganhando 1 ponto por acerto;
8) foram computados os erros e acertos em cada questão
realizada;
9) ganhou o prêmio a equipe que obteve o maior número
de pontos;
10) prêmios: vencedores – 1 barra de cereal e 1 maçã; perdedores – 1 barra de cereal.
11) ao final da gincana foram entregues informativos sobre
a importância das frutas (Figura 1), para as crianças entregarem aos pais/responsáveis.
As crianças foram fotografadas durante a execução da
atividade (Figura 2).
Materiais utilizados: computador, impressora, papel sulfite, bexigas, bolas de gude, caneta, sacolas plásticas, barras
de cereais e maçãs.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
Figura 1 - Informativo sobre a importância das frutas.
Modo de conduzir:
Figura 2 - Fotos da gincana de frutas.
1) breve preleção sobre a importância das verduras na alimentação de atletas;
2) os participantes foram divididos em equipes diferentes;
3) cada participante atravessou a piscina chegando até uma das
estagiárias, a qual estava na borda da piscina esperando o
participante para fazer uma pergunta relacionada à palestra
sobre verduras;
4) o participante que respondesse a pergunta corretamente
ganhava uma pulseira verde, a qual seria colocada no ato
da resposta, mas se a pergunta fosse respondida errada ele
ganhava uma pulseira vermelha;
5) após respondida a pergunta o integrante da equipe voltava
para a outra ponta da piscina para que o outro componente
de sua equipe atravessasse esta para responder a pergunta;
6) ganhou o prêmio a equipe que teve o maior número de
pulseiras verdes no braço.
7) prêmios: vencedores – 1 barrinha com polpa de fruta e 1
caneta; perdedores – 1 barrinha com polpa de fruta;
8) ao final foram entregues informativos sobre a importância
das verduras (Figura 3), para as crianças entregarem aos
pais/responsáveis.
Novamente as crianças foram fotografadas durante a
execução da atividade (Figura 2).
Materiais utilizados: computador, impressora, papel sulfite,
pulseiras verdes e vermelhas, barrinhas com polpa de fruta
e canetas.
Figura 3 - Informativo sobre a importância das verduras.
Gincana das verduras
Objetivo: Realizar a abordagem inicial do assunto consumo de verduras com os nadadores, mostrando a importância
destes alimentos na alimentação do atleta infantil.
Executores: Estagiárias da área de Nutrição Esportiva.
Fisiologia v7n1.indb 18
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
Figura 4 - Fotos da gincana de verduras.
19
Figura 5 - Informativo com orientações nutricionais para uma
melhor performance dos atletas.
Gincana dos legumes
Objetivo: Realizar a abordagem inicial do assunto consumo
de legumes com os nadadores, mostrando a importância destes
alimentos na alimentação do atleta infantil.
Modo de conduzir:
1) breve preleção sobre a importância dos legumes na alimentação;
2) os participantes foram divididos em equipes diferentes;
3) com os olhos vendados, cada participante sentia o cheiro
do legume cozido e tentava adivinhar o que era, se acertasse
ganhava 1 ponto;
4) após sentir o cheiro o participante que provasse o alimento
ganhava 1 ponto, o que não quisesse provar não ganhava
ponto;
5) ganhou o prêmio a equipe que obteve o maior número de
pontos;
6) prêmios: vencedores – 1 certificado; perdedores – não
houve prêmio;
7) por ser a última gincana, foram entregues informativos
(Figura 5) com orientações nutricionais para uma melhor
performance dos atletas, para as crianças entregarem aos
pais/responsáveis.
Materiais utilizados: computador, impressora, papel sulfite,
batata, cenoura, chuchu e beterraba cozidos.
Resultados e discussão
Participaram das atividades educativas 30 nadadores
competitivos do clube, sendo 27% do sexo feminino e 73%
do sexo masculino. A idade média das crianças foi de 11,06
anos.
As gincanas foram preparadas de forma que fossem divertidas e ao mesmo tempo informativas, pois estas ajudaram os
atletas na fixação do conteúdo dado na preleção antecedente
à gincana.
Fisiologia v7n1.indb 19
Na primeira gincana, sobre a importância das frutas, das
perguntas realizadas durante a atividade, houve 90% de acerto
e 10% de erro. Na gincana sobre as verduras, houve 75% de
acerto e 25% de erro nas perguntas aplicadas.
Dessa forma, considera-se que durante as gincanas os
atletas mirins conseguiram aprender o conteúdo que foi
ministrado, pois no momento das perguntas nas gincanas a
grande maioria destes acertou-as.
Na última gincana, sobre a importância dos legumes, não
foram realizadas perguntas.
No estudo de Jorge e Peres [13], realizado na cidade de
Bauru, com crianças, foi demonstrada a importância da brincadeira para o aprendizado e entronização de novos conceitos.
Os autores verificaram que a aplicação das atividades educativas foi um processo agradável tanto para quem o elaborou,
como para quem participou dos procedimentos.
Experiências anteriores mostram que o fornecimento
apenas de orientações orais representa discursos vazios e repetitivos, falhos em promover mudanças na alimentação dos
indivíduos [13,14]. Assim, a vivência dos conceitos, de forma
lúdica e divertida é um facilitador no processo de aprendizado
e aquisição de novos conhecimentos, especialmente por parte
do público infantil.
9/10/2008 17:00:20
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
A educação para a saúde sempre foi vista como um conjunto de medidas que deve induzir as pessoas a atitudes tidas
como desejáveis para a promoção da saúde e prevenção de
doença, por isso a importância da utilização de estratégias
que promovam o alcance dessa finalidade, entre elas, aulas
demonstrativas [13,15].
Conclusão
As atividades desenvolvidas neste trabalho envolveram
a criatividade aliada ao conhecimento técnico científico, o
qual foi transmitido de uma forma divertida e agradável,
facilitando o aprendizado.
Os atletas mirins representam um grupo no qual a adoção
de hábitos alimentares adequados e saudáveis é determinante
para o desempenho em competições.
Assim, o presente estudo demonstrou como é importante
a educação nutricional ser inserida desde a infância para os
pequenos atletas, do mesmo modo como enfatizou a importância da realização de atividades educativas para o aprendizado, uma vez que estas auxiliam na fixação do conteúdo, além
de ser uma forma de “aprender brincando”.
Por todas essas considerações entende-se que quanto mais
cedo forem instalados nas crianças fisicamente ativas hábitos
alimentares saudáveis, voltados para a prática de atividade
física e para a qualidade de vida, maior a probabilidade de
que estes permaneçam na vida futura dos atletas, além de
representar a garantia de melhores resultados nos eventos
competitivos.
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Revisão
Esteróides anabólicos no fisiculturismo
Anabolic steroids in bodybuilding
Marcus Vinicius Grecco*, Charles Ricardo Morgan**
*Educador físico e fisioterapeuta, mestrando na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, **Fisioterapeuta, mestrando
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Resumo
Abstract
Os atletas de fisiculturismo utilizam os esteróides anabólicos com
a finalidade declarada de aprimorar seu desempenho. A despeito dos
avisos e alertas da comunidade científica e sanções impostas pelos
órgãos administrativos de musculação, um número cada vez maior
de atletas continua a tomar essas drogas. Adotando uma posição
eticamente neutra na questão do uso da droga no esporte, este
trabalho apresenta alguns fatos a respeito dos esteróides anabólicos
assim como alguns posicionamentos éticos a favor e contra seu uso
no esporte. Contudo, os problemas de dosagem, ciclos e marcas dos
esteróides mais adequados para os fisicultores precisam de respostas,
por isso análise criteriosa de dados clínicos é necessária. Pesquisas
experimentais são importantes para tomada de decisão clínica com
mais segurança e os atletas devem ser informados pelos profissionais
que atuam na área esportiva.
Bodybuilding athletes use anabolic steroids with stated purpose
of performance improvement. In spite of scientific community alerts
and punishments imposed by administrative doping agencies, a
higher number of athletes are still using thses drugs. Adopting an
ethically neutral position regarding this question, this study present
some facts about anabolic steroids as well as some ethical positioning
the pros and the cons of its use in sport. The problems of quantity
and traces of steroids cycles more appropriate for bodybuilding
need answers, so careful review of clinical data are needed. Research
experiments are important for clinical decision-making with more
security. The athletes should be informed by professionals who
work in sports.
Key-words: bodybuilding, anabolic steroids.
Palavras-chave: fisiculturismo, esteróides anabólicos.
Recebido em 10 de outubro de 2007; aceito em 25 de março de 2008.
Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Ribeiro de Barros, 81/31,Vila Pompéia, 05027-020 São Paulo SP,
E-mail: [email protected]
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Introdução
Os esteróides vieram para ficar. O tempo já provou isto,
mas para conceituar-se esteróides, segundo Write [1], faz-se
necessário o entendimento de certos termos como por exemplo o metabolismo, significando todas as funções do corpo
envolvidas na produção, manutenção ou destruição de tecidos
e das energias. Os processos de construção são citados como
anabolismo enquanto catabolismo é o processo de quebra.
Outro conceito que precisa ser entendido é anabolismo
ou processos miotrópicos: que é o processo de reparação,
construção e crescimento dos tecidos. Os efeitos anabólicos
associados a esteróides dizem respeito à síntese de proteínas
para esta reconstrução. Já o catabolismo nada mais é do que
o oposto do anabolismo, ou seja, o processo de quebra ou de
destruição do organismo.
Os hormônios são substâncias químicas segregadas de
certa glândula que agem em um tecido alvo gerando um efeito
específico. Para o fisicultor o hormônio de maior interesse é
a testosterona (hormônio sexual masculino). Esse hormônio
tem duas funções básicas que é androgênica e anabólica. A
androgênica regula o desenvolvimento das características
secundarias masculina (timbre de voz, pêlos faciais, distribuição de gordura etc) e a anabólica regula a manutenção e
desenvolvimento da musculatura. A produção deste hormônio
no organismo masculino é de 17 mg/dia, enquanto no feminino é de 0,25 mg/dia, daí a diferença de volume muscular
entre os sexos. Portanto, Write [1] define esteróides como:
“compostos sintéticos de derivação anabólica que imitam os
efeitos do hormônio testosterona (minimizando os efeitos
androgênicos)”.
Defendis [2] fala que o anabolismo é o que mais interessa
aos atletas que utilizam esteróides, pois promove a síntese de
proteínas para a recuperação e crescimento dos músculos,
devendo-se dar preferência por esteróides mais anabólicos
e menos androgênicos, pois, além da construção muscular
(anabólicos), os efeitos colaterais são menores. Ainda, comenta
o autor, que um dos mais importantes atributos ligados aos
esteróides é a capacidade de retenção e armazenamento de
nitrogênio, conseguida através da estimulação da síntese de
proteínas. O nitrogênio é o componente básico da proteína,
e o esteróide na corrente sangüínea contribui para ativar
os genes responsáveis pela síntese protéica. Modificando o
potencial dos genes, haverá modificação do metabolismo e
conseqüentemente do anabolismo, influenciando na construção da massa muscular.
Segundo Siegel [3], quando o fisicultor está em ciclo de
esteróide deve ingerir bastantes vitaminas e minerais, pois se
acredita que esses nutrientes estejam em sinergismo com a
droga (ajudam ou facilitam os esteróides na síntese de proteínas), na retenção do nitrogênio. Os anabolizantes sozinhos são
inúteis para promover aumento de força e volume muscular
se a alimentação não for adequada, assim como um trabalho
de musculação pesado.
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Hatfield [4] comenta que nem todas as moléculas dos
esteróides atingem as células e permanecem flutuando na
corrente sangüínea e ao passarem pelo fígado são hidrolizadas
em 17 cetosteróides. A estrutura modificada da molécula de
esteróide que permanece flutuando na corrente sanguínea,
eventualmente, é recebida por outro tipo de receptor e pode
influenciar diferentes mecanismos no corpo, e esta reação,
não contribui para retenção e armazenamento de nitrogênio.
Torna-se uma das razões de alguns efeitos colaterais causados
por esteróides.
Na opinião de Akis [5], o nível de massa muscular depende
do potencial genético individual (quantidade de mitocôndrias
nos músculos favorecendo a recuperação), e não, da maneira
pela qual o atleta favorece o crescimento do músculo, intensificando os treinos ou usando drogas. As drogas não fazem
nada além do que o treinamento bem orientado não faria.
Wadler [6] diz que o metabolismo do carboidrato, da
proteína, do lipídeo (gordura) e a eliminação, desintoxicação
ou inativação de substâncias como a uréia, a bactéria, os hormônios (ex. esteróides anabólicos) e outras matérias nocivas
são funções do fígado. Nos fisicultores que usam esteróides,
os efeitos das interrupções das funções do fígado em longo
prazo são desconhecidos. Os efeitos em curto prazo foram
mínimos e reversíveis ao cessar o uso de esteróide. Contudo,
pode ocorrer a hepatite tóxica causada pelo uso continuado
do esteróide e diuréticos (amacidio).
Viana [7] e Wadler [6], em seus estudos, comentam a
relação da hipertensão como equilíbrio fluido/eletrólito,
dizendo que, muitos dos fisicultores usuários de esteróides
apresentam retenção de água (edema) no organismo, que
variam de discreto a grave.
Segundo Santarém [8], quando os fisicultores administram esteróides não existe mais necessidade de segregação da
quantidade normal de testosterona, sem isso, os testículos se
atrofiam e ocorre a eliminação na produção de espermatozóide. O autor também comenta que o excesso de drogas pode
fazer surgir, no corpo do fisicultor, a ginecomastia, ou seja, a
flacidez em torno dos mamilos acompanhados de nódulos e
sensibilidade no local. Quando o esteróide tem alto teor de
componente androgênio leva o atleta a ser muito agressivo
por aumentar a taxa de testosterona sintética no organismo.
Complementam outros efeitos de casos clínicos isolados:
como queda de cabelo, câncer, náuseas, ossificação prematura,
disfunção gastrointestinal, sonolências, epistaxe, interrupção
tireodiana etc.
Já Colgan [9] relata que nos homens as drogas podem ter
efeitos virilizantes, incluindo funções como o crescimento da
vesícula seminal, do pênis, da próstata, aumento da puberdade
e libido, mas não se sabe ainda até que ponto estas alterações
podem chegar. Na mulher pode acontecer aumento do clitóris
e a amenorréia.
McArdle & Katch [10] discutem um pouco sobre os
males dos esteróides sobre o sistema músculo-esquelético,
descrevem que quando os atletas iniciantes fazem uso de
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esteróides seus músculos aumentam de volume e os tecidos
conectivos e tendinosos não acompanham a progressão podendo causar lesões. O volume anormal conseguido através
das drogas pode tornar o músculo um tecido estruturalmente
mais fraco. Adjudicam ainda, que usando drogas, as glândulas
paratireóides – responsáveis pela distribuição do cálcio pelo
organismo – podem trabalhar em excesso desviando o cálcio
dos ossos para os músculos causando a osteoporose. Outro
efeito apontado, quando termina o ciclo pode acontecer um
enrijecimento nas articulações acometidas de dores, podendo
causar a interrupção do treino.
Em seu estudo, Brainun [11] aponta que os atletas normais
e saudáveis adaptaram o uso de esteróides em casos terapêuticos, para facilitar o desempenho no esporte, pois a droga
aumenta o volume e a força muscular. Certa quantidade de
força pode ser conseguida através da ação histológica resultante do aumento de fluído celular (sarcoplasma) e edema
em geral (retenção de água). Há ainda o aumento de volume
muscular que é conseguido com o crescimento miofibrilar e o
aumento do fluido celular. Entretanto, permanece como condição prévia: para o máximo aumento de força e volume deve
haver um treinamento intenso e alimentação adequada.
Salgado [12] relata que os fisicultores que tomam esteróides aumentam a agressividade positiva fazendo com que
treinem com mais afinco; comenta também, que muitos deles,
fazem uso de esteróides por achar que a massa muscular, a
partir de um determinado estágio, não aumentará mais sem
drogas.
Wadler [6] aponta, ainda como benefícios, o uso de esteróides em casos terapêuticos, para combater anemia, repor
hormônios, peso abaixo do normal, infecções, osteoporose,
estimular cicatrização etc. Em curto prazo os esteróides são
seguros desde que tomadas as devidas precauções determinadas na bula. Os fabricantes e médicos contra-indicam o uso
para gestantes, portadores de nefrose, obstrução biliar, câncer,
lesões hepáticas, cardíacos e diabéticos. Foram observados
efeitos colaterais irreversíveis somente em mulheres devido
ao abuso das drogas.
Segundo Voy [13], o uso das drogas tornou-se altamente
sofisticado através de casos de auto-experimentação, que
deram aos atletas um conhecimento, muitas vezes superiores
aos dos médicos (na área prática), tornando-se um modo de
vida profundamente difundida dentro do esporte (musculação). O fato de que as drogas funcionam, tornou-se evidente
a todos que pretendem aumentar a força e volume muscular
e as tentativas legais de produção serviram para aumentar o
problema do abuso.
Segundo Everson [14], o uso de esteróides pode ser bom
desde que miniminizado seu efeito negativo e maximizado seu
efeito positivo. Quem consegue esses efeitos são os “pioneiros”
que começaram a utilizar vários métodos de ciclos das drogas
para minimizar os riscos, sempre alertas para as novas drogas
ou métodos utilizados para melhorar suas performances. Os
atletas reconhecem as limitações da ajuda ergogênica que
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23
estão adotando e tem como normas a assistência médica para
a monitorização de seu organismo e melhorar técnicas de
treino. Como pioneiros, os atletas avaliam cuidadosamente a
relação vícios e benefícios, continuando com cautela e mente
aberta ao usar esteróides.
Yesalis [15] comenta alguns pontos sobre essa nova ética
que ronda o fisiculturismo, fala que não se consegue benefício
algum através de teste antidoping em competições, pois, os
atletas mais sofisticados sempre encontram uma maneira de
mascarar o uso de drogas, criando uma atitude mais desleal
do que aquela que os testes pretendem eliminar. As formas
de tentativa de ludibriar os testes são mais perigosas que as
drogas anabolizantes em si.
Write [1] fala que nenhuma pesquisa ou evidência mostra
que os fins são maiores que as recompensas, mediante o uso
adequado de esteróides. As drogas estão à disposição de todos
e a solução é a educação e o avanço científico esclarecendo
aos usuários, e não uma legislação contra o uso de esteróides.
O uso da droga em um fisicultor normal e saudável pode
melhorar seu desempenho, mas é duvidoso que esta mesma
droga o fará mais saudável.
Dieta e alimentação
Segundo Siegel [3], quando o fisicultor estiver usando
droga a alimentação deve conter uma ingestão de 500 calorias
a mais por dia, devendo ser rica em proteína para suprimento
desta necessidade calórica extra e também rica em aminoácidos essenciais. O motivo desta quantidade de calorias a mais
em uma dieta deve-se ao fato de a biossíntese muscular ser
acelerada devido ao uso das drogas chegando a ganhar cerca de
meio quilo por ciclo (nas primeiras semanas). O autor ainda
recomenda que se devem reduzir os níveis de manutenção as
calorias quando cessado o uso de esteróides. Cada refeição
deverá conter farinhas integrais, cereais, vegetais, ovos, frutas
e leite e seus derivados e fígado, para aumentar o volume de
sangue no corpo. Suplementar a dieta com vitaminas, minerais
e enzimas de boa qualidade, já que os alimentos ingeridos
poderiam não ter os nutrientes necessários para potencializar
os ganhos de volume muscular durante o ciclo. Recomenda
fazer 6 refeições ao dia com os nutrientes básicos, pois facilita
a absorção de alimentos.
Yessis [16] comenta que existem produtos naturais que
têm o mesmo efeito que os esteróides anabólicos (aumento
de força e massa muscular), mas com a vantagem de não
causarem efeitos colaterais. Os mais estudados foram: a
tirosina, que produz a norepinefrina, um neurotransmissor
com a capacidade de aumentar a atividade mental, reduzir
a fadiga e depressão e funciona também como liberador do
GH – hormônio de crescimento importante para a síntese
protéica; a inosina que é um aminoácido que ativa o sistema
nervoso e contrações musculares, produzindo uma força
comparada à dos esteróides; GO – uma substância extraída
do óleo de farelo de arroz que age sobre o hipotálamo e faz
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
desenvolver a massa muscular. Este regula a glândula pituitária
que é responsável pela liberação e produção de testosterona e
estrogênio, entre outros.
Métodos para uso de esteróides anabólicos
Para Fox & Matheus [17] existem várias maneiras para o
fisicultor manipular as drogas, uma dessas formas é o Stacking,
que é o ato de usar mais de um esteróide anabólico ao mesmo
tempo, pois, acredita-se que as drogas agem em sinergismo,
uma ajuda à outra em suas funções. Na maioria das vezes os
atletas usam uma oral e a outra injetável. Há ainda uma segunda forma: o plateaning que segue um programa de ciclagem,
não se usa a mesma por tempo suficiente para que o corpo se
habitue, resolvendo o problema da estabilização – quando os
atletas percebem que as drogas não estão fazendo mais efeito
de ganho de massa muscular. Uma terceira forma de manipulação de drogas é o staggering, que é um método para evitar
a estabilização de uma ou duas drogas. Os usuários optam
por largarem estas e usarem outras, acreditando continuar o
trabalho interrompido pela droga que estabilizou.
Write [1] comenta sobre outros dois métodos usados, o
taperig é o método mais seguro para não interromper o ciclo
e parar repentinamente a dosagem e, sim, reduzir lentamente
por um período de 4 a 6 semanas – sendo maior o tempo
de uso, mais longo deverá ser o tempo de diminuição – e o
shotgunning que é outro método (abusivo) que consiste em
tomar vários tipos de drogas na esperança de que na falta de
uma outra supra as necessidades.
Segundo Voy [13] e Yesalis [15], embora existam diferenças nos esteróides, a coisa não funciona desta forma. O
interesse principal do fisicultor é a retenção de nitrogênio
para o crescimento muscular e nesta área todos os esteróides
agem da mesma forma, sendo inútil a ingestão de vários. Cada
esteróides tem uma “vida média”, que significa o período de
tempo que a droga permanece ativa antes de ser aromatizada
ou hidrolizada. Aqueles que fazem uso de esteróides desenvolveram a perigosa idéia de que quanto mais, melhor. Isto não
é a crença correta, mesmo porque existem riscos potenciais
gerados por super doses.
Wadler [6] diz que a maneira eficiente para determinar
a dosagem é através da manutenção de um relatório de treinamento diário, monitoração dos efeitos colaterais, tanto
visualmente como por exame de sangue, e com assistência
médica. São comuns os atletas que se dedicam a um treinamento intenso com peso regular e uso de esteróides com
base na seguinte fórmula: 1 mg por quilo de peso corporal
ao dia. Mas para Leibovitz [18] esta dosagem é considerada
alta, e segundo o autor, já existem casos em que essas doses
são triplicadas trazendo perigo ao usuário.
Kawaushi [19] comenta que ciclo refere-se a manipulação da dosagem e tempo duração dos esteróides de acordo
com o programa de treinamento. É impossível relacionar
inúmeros ciclos que vem sendo utilizados através dos anos,
Fisiologia v7n1.indb 24
bem como os motivos para que estes diferentes ciclos sejam
aplicados.
Defendis [2] cita alguns ciclos que obtiveram sucesso maximizando seus benefícios e minimizando os riscos das drogas
usadas por vários fisiculturistas: o ciclo dura 6 semanas com
um intervalo de 2 a 3 semanas entre eles. Durante 6 semanas,
administra-se a droga, a partir deste tempo a dose é diminuída
continuamente, permitindo ao corpo voltar gradualmente
ao normal. Os benefícios conseguidos são de longa duração.
Os ciclos curtos ou infreqüentes de altas doses produzem
resultados que passam rapidamente, já que os aumentos de
volume e força provêm da retenção de água/ fluido e da ação
histológica. A ciclagem em longo prazo permite um aumento
mais acentuado, em elementos miofibrilares da célula, o que
permite maior volume.
A maioria dos esteróides se estabiliza em 6 ou 7 semanas e
o procedimento da primeira dose de esteróides deve ser injetável, pois os orais são mais tóxicos e possuem efeitos colaterais
maiores, exceto aquele com menor porcentagem de androgênio
que é menos tóxicos para o fígado. Os cientistas conseguiram
manipular a estrutura química da molécula base da testosterona
de tal forma que o efeito, antes de ser aromatizado ou hidrolizado, é prolongado no sistema, além disso, alguns esteróides
orais tiveram sua estrutura modificada de tal forma que não
aromatizam, por exemplo, Winstrol e Anavar.
Hatfield [4] mostra, nos quadros 1 e 2, que após a competição deve utilizar-se um programa de dosagem para “fora
de temporada”, ou seja, decrescente, a fim de “normalizar”
as funções do corpo. Podem-se usar injeções de Primoblan e
também um oral com taxa baixa de androgênio. (Ex. Anavar)
nas últimas três semanas caso exista problema de redução do
peso corporal.
Anabolizantes, marcas e procedências
Everson [14] fala de algumas drogas injetáveis usadas
pelos atletas, tais como Dianabol (EUA) conhecida também
como Anadrol 50 e usada para o desenvolvimento de volume
e força, possuindo 40% de teor androgênio; Maxibolin (EUA)
e Winstrol (EUA), usada para o desenvolvimento de volume
com 10% de androgênio; Primobolan e Equipoise (EUA)
que são drogas veterinárias para garanhões com 20% de teor
androgênio, Deca Durabolin, Durateston e Parabolan todos
de origem norte-americana e que são as mais perigosas para
o atleta, pois retém 40% de teor androgênio.
Viana [7] cita drogas orais como, por exemplo, Halotestim
(EUA) usado para o aumento de volume e força com 40% de
androgênio. Winstrol usada para ganho de volume com 20%
de teor androgênio; Maxibolin e Proviron (EUA) ambas com
20% de androgênio e usada somente para ganho de volume e
a terceira é a Oxandrolone (EUA) com 40% de androgênio e
usada para ganho de volume e força. O autor observa que os
esteróides mais seguros em relação aos efeitos colaterais são
os mais anabólicos e menos androgênicos.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
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Quadro 1 - Ciclo para fora-de-temporada e pré-temporada.
Período fora de temporada
Oral (ex. Anavar,
Maxobolan ou
Winstrol)
50 mg/dia
1 e 2 semanas (começar os
exames de sangue)
3 e 4 semanas (exame de sangue) 25 mg/dia
5 e 6 semanas
0
7 e 8 semanas
0
Injetável (ex.
Decadurabolin
ou Primobolan)
300 mg/semana
200 mg/semana
100 mg/semana
0
Gonadotrofina coriônica
2cc a cada 2 dias
Quadro 2  9 Semanas: repetir o ciclo integralmente.
Pré-temporada
6 semanas
5 semanas
4 semanas
3 semanas
2 semanas
1 semana
Oral
20 mg D.bol/dia
40 mg D.bol/dia
20 mg D.bol/dia
50 mg D.Androl/dia
100 mg Androl/dia
50 mg Androl/dia
10 mg Halotes/dia
50 mg Androl/dia
20 mg Halotestin
Injetável
100 mg/semana
200 mg/semana
300 mg/semana
400 mg/semana
1 mg
não é necessário
Voy [13] comenta que na obsessão de alcançar o primeiro
lugar, alguns fisicultores se submetem ao uso de produtos
inconcebíveis, usam anabolizantes feito de substância tirada
de hormônios de boi, de placenta de mulheres grávidas, de
mamilos de cachorro no período do cio, entre outros. O
autor cita também drogas auxiliares dos anabolizantes usadas
pelos fisicultores: Periatrim é usado para aumentar o apetite,
pois muitas drogas tiram a fome o que seria prejudicial para
desenvolvimento. O Periatrim torna o apetite voraz, mas pode
causar asma e glaucoma. Gonadotropina corionica e Clomid
são usados pelos fisicultores para que as taxas de espermatozóides voltem ao normal depois de um ciclo e não usá-las mais
do que 3 semanas após termino do ciclo. A dosagem deve ser
de 2 cc por dia e enquanto a gonadotropina corionica atua
diretamente nos testículos a Clomid atua na pituitária.
McArdle & Katch [10] falam sobre outras drogas como:
Sinemed, que é usada para aumentar o GH no organismo
podendo causar náuseas e vômitos; Exobolina é uma droga
alemã que é eficaz na síntese de proteína relacionada quimicamente com a vitamina B 12 não sendo considerado um
esteróide; Wydase – ingerida subcutaneamente em vários
pontos do corpo, onde há mais depósitos de gordura – é
usada como “difusor” para outras drogas e reduz temporariamente a gordura subcutânea, tempo bastante para fazer
um trabalho de definição muscular e competir, presume-se
que seu efeito é de mobilizar líquidos nas células adiposas.
Os autores continuam comentando que existem dezenas de
drogas sendo utilizadas geralmente de forma indiscriminada
na ânsia de melhorar a desempenho. A melhor forma de
proceder é procurar um médico desportivo que informe tudo
que o fisicultor precisa saber.
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Observação
Caso seja necessário o uso
de diuréticos antes das
competições os fisicultores
compensam com acrescímo de vitaminas protéicas
e eletrólitos.
Começam os preparativos
para modelagem.
Último dia: começam os diuréticos, quando com
excesso de peso.
Passando pelo teste antidoping
Sparkman [20] nos mostra métodos sofisticados para ludibriar o teste antidoping existente no esporte. Os dois métodos
mais usados em conjunto são: o uso de drogas substitutivas e
a ciclagem. Como exemplo cita a utilização da gonadotropina
que eleva o teor da testosterona do organismo ao seu nível
normal, de modo que a testosterona ingerida ou injetada não
possa ser detectada. Cita outro exemplo que é o do GH, que
vem sendo usado há muito tempo e não foi detectada até o
momento. Muitos fisicultores, no final da quarta ou sexta
semana de preparação para a competição, mudam para esteróides de curta duração, interrompendo também o uso destes
com antecedência suficiente para eliminá-los do sistema.
Salgado [12] diz que, como padrão, as drogas orais não
são detectáveis se interrompidas 3 a 4 semanas antes, enquanto as injetáveis permanecem no corpo até 2 meses depois
de sua administração. A probenecida é um produto usado
pelos fisiculturistas na tentativa de mascarar a presença de
drogas no organismo, mas sua eficiência não foi totalmente
comprovada.
Write [1], durante um campeonato Nacional de fisiculturismo nos EUA, em 1990, fez uma pesquisa sobre o uso de
anabolizantes obtendo o seguinte resultado: dos 61 fisiculturistas entrevistados, 45 usavam esteróides (admitiram); um
terço dos atletas acharam que o teste antidoping faz com que
diminuam o consumo de esteróides; 70% deles têm usado
outros métodos (anfetaminas, diuréticos e insulina); 20%
usam GH; 80% falam que um nível de separação muscular e
manutenção da massa não são conseguidos sem esteróides.
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O autor descobriu também que alguns fisiculturistas que
ingerem vários tipos de anabolizantes, durante o período competitivo, tentam escapar dos testes antidoping reintroduzindo
a urina que foi retirada antes do ciclo dentro de seus corpos.
Outro grupo interessante descoberto é aquele que utiliza
ciclos pesados fora de temporada competitiva e aumentam
incrivelmente seu peso, então largam as drogas meses antes
para que desapareçam do organismo; nesse período sem esteróides tentam manter seus pesos através de treinos e uma
super alimentação.
Wadler [6] tendo contato com fisiculturistas descobriu
que 90% deles estão cientes sobre alguns aspectos importantes
do uso das drogas. Os fisiculturistas utilizam um programa
intermitente de dosagem decrescente dos esteróides injetáveis;
administram drogas orais com intervalos, pois sabem que os
efeitos colaterais são menos graves, e são difíceis de serem
detectadas, quando interrompidas 3 a 4 semanas antes de
competição. São orientados por médicos desportivos e têm
consciência de que não adianta fazer ciclo se não tiverem uma
alimentação e um treino intenso. Estão conscientes também
de que as drogas podem acelerar a predisposição genética de
doenças e as drogas orais, em doses exageradas, representam
perigo maior de que qualquer outra forma de ingestão, pois
submetem ao fígado uma carga de trabalho exagerado.
Como interpretar os resultados do exame de sangue
Segundo Hatfield [4], o quadro 3 enumera vários componentes do sangue (soro) que são tipicamente incluídos dos
exames de sangue pedidos antes da administração do esteróides
ou da terapia com esteróides. Estão apresentadas as variações
“normais” para cada componente. Existem poucos dados que
permitam uma classificação como “normal” no caso de um
fisicultor submetido a um treinamento intenso de musculação
ou esforço extremo. A hipertrofia muscular, aumento de volume
muscular, também tende a elevar algumas das taxas. Portanto,
uma variação acima da “normal” seria adequada aos fisicultores. Em fisicultores submetidos a treinamento estressante são
comuns os níveis de DHL e TGO estarem altos, mas não é
comum haver taxas de 10% a 20% acima da variação “normal”
para estas duas enzimas séricas. A taxa elevada se deve ao stress
metabólico e não aos esteróides.
Abaixo o autor explica o significado de cada um dos itens
citados no quadro 3 de interesse para o fisiculturista, enquanto
estiver fazendo uso de esteróides.
Os aumentos e diminuições de cálcio no plasma sangüíneo
se devem a muitos fatores diferentes, mas um dado significativo para o fisiculturista é o fato de que o uso freqüente de
diuréticos, como Lasix, pode causar a diminuição deste. Uma
taxa anormalmente alta pode indicar a ingestão de grandes
doses de vitaminas D. O uso de esteróides não parece ser um
fator relevante.
A elevação de fósforo no sangue pode estar associada ao
hipertiroidismo e secreção elevada de hormônios de cresci-
Fisiologia v7n1.indb 26
mento. Nesta variação os esteróides parecem não ser fatores
relevantes.
Com relação à glicose, há que se frisar que os esteróides
podem alterar significativamente a tolerância de açúcar no
sangue. O nível elevado de glicose pode ser um sinal de condição diabética ou pré diabética.
A uréia é um produto derivado da quebra de proteína no
fígado, e é segregada pela urina. O alto nível de NUS pode
ser sinal de insuficiência renal. O fisiculturista deve saber que
a ingestão anormal de proteína pode causar uma discreta a
moderada elevação do NUS, da mesma forma que o catabolismo excessivo da proteína.
Elevações do ácido úrico podem significar gota, insuficiência renal, ou insuficiência cardíaca congestiva. Para o
fisiculturista a consideração mais importante é que a hiperuricemia pode ser resultante de jejum ou uso de diuréticos.
Os esteróides anabólicos parecem não alterar as concentrações
de ácido úrico.
A hipercolesterolemia, não concomitante com elevações
de bilirrubina e fosfato alcalino, pode significar doença no fígado. Os esteróides anabólicos podem freqüentemente causar
elevações no colesterol, ao mesmo tempo em que causa uma
diminuição na alta densidade de lipoproteínas. Neste caso
aumenta o risco de arteriosclerose.
Através do processo de modificação eletrônica da solução
sérica (eletroforese), as proteínas do sangue tendem a ser
acamar, possibilitando a determinação precisa dos níveis. A
variação normal entre a albumina e a globulina é de 3,2 - 4,5
mg/dl e 2,3 - 3,5 g/dl respectivamente. A elevação da globulina
e diminuição da albumina, ou seja, a variação inversa AG,
pode sugerir uma lesão crônica no fígado.
Embora um nível normal de bilirrubina total elimine
qualquer deficiência na função excretora do fígado, um nível
elevado de bilirrubina total pode ser freqüentemente indicativo de icterícia obstrutiva. A bilirrubina é um produto derivado
do metabolismo da hemoglobina e expelido pelo fígado.
Da mesma forma que o colesterol, os triglicérides podem
ser relacionados com a doença da coronária. A eletroforese
é utilizada para distinguir as diferentes classificações da hiperlipidemia (o colesterol, os triglicérides, e fosfolipídios são
classificados como lipídeos e circulam no sangue agregados a
proteína, daí o termo “lipoproteínas”).
Existem muitas causas para a taxa elevada de CF (Creatina
Fosfoquinase), incluindo: injeções intramusculares; exercícios
vigorosos; doença no músculo esquelético; infarto no miocárdio e isquemia cerebral e também hipertrofia muscular.
Parece normal que os fisicultores que treinam musculação possuam valores elevados de CF, embora na presença de
outros sintomas ou taxas sangüíneas elevadas estas devem
ser checadas.
Quando existe uma taxa extremamente alta de fosfatase
alcalina juntamente com testes elevados de função do fígado,
geralmente suspeita-se de uma doença hepática. Se a leitura
fosfatase alcalina estiver alta sem a correspondente elevação
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dos testes de função do fígado, pode haver suspeita de doenças ósseas.
A deidrogenase láctica é uma enzima envolvida na oxigenação dos ácidos lácticos e pirúvicos. Portanto é encontrada
em muitos tecidos do corpo, especialmente nos músculos
esqueléticos. Praticamente qualquer lesão nos tecidos provoca
elevação nas leituras do DHL. A fonte exata da elevação da leitura pode ser detectada através da eletroforese. Como muitas
doenças podem estar associadas às elevações de DHL, devem
ser feitos testes adicionais, particularmente relacionados com
distúrbios no fígado e no coração.
A TGO é uma enzima que cataliza a conversão de aminoácidos em certos ácidos e vice-versa. É encontrada no
coração, fígado, músculos esqueléticos, rim e ossos. As células
danificadas provocam elevação nas taxas de TGO e o local
exato da lesão pode geralmente ser determinado através de
outras leituras elevadas dos testes. As taxas geralmente chegam
ao pique nas 6 horas após a lesão, e voltam ao normal em
mais ou menos 6 dias. Não são incomuns os níveis de TGO
estarem elevados em atletas em treinamento intensivo, já
que os músculos esqueléticos são submetidos a consideráveis
traumas (distensões, contusões etc.).
Os esteróides anabólicos imitam a ocorrência normal de
testosterona, inibindo assim sua secreção. Não são incomuns
os níveis de testosterona caírem para bem abaixo do normal
durante o uso de esteróides (homens e mulheres). Este efeito é
quase sempre reversível após a interrupção do uso da droga.
Os eletrólitos em geral podem flutuar no corpo dependendo de vários fatores tais como ambiente, diversas drogas
sendo usadas, existência de certas doenças etc. De importância
para o fisicultor é o fato de que o uso de esteróides assim
como o intenso calor pode causar desequilíbrio discreto ou
grave de eletrólitos. O uso de diuréticos também provoca
perda de eletrólitos, assim como drogas antiinflamatórias (ex.
butazolidina). Como os eletrólitos desempenham um papel
importante na função muscular, é comum ocorrer a perda de
força durante o uso de antiinflamatórios e diuréticos.
Hatfield [4] insiste que o fisicultor que está fazendo uso
de esteróides anabólicos ou outras drogas, ou planejando
usá-los, deve fazer um exame de sangue completo e procurar
um médico especializado em medicina desportiva para a
interpretação dos resultados do exame de sangue.
A listagem acima foi somente para informar aos usuários
em potencial de alguns perigos, armadilhas. Muitas das taxas
estão relacionadas de formas complexas. Além do mais, os
componentes do sangue podem variar consideravelmente de
um dia para outro, dependendo da droga, dosagens e outros
fatores. São importantes que este exame seja repetido inúmeras
vezes, especialmente durante um ciclo pesado de uso da droga,
como pode ocorrer pouco antes da competição.
Os efeitos da maioria dos esteróides estão relacionados
tanto com a dosagem como o tempo de uso, podendo causar
flutuações variáveis em muitas taxas do sangue em períodos
bastante curtos de tempo.
Fisiologia v7n1.indb 27
27
Para Sparkman [20] é importante observar que a interrupção do uso da droga irá causar uma volta imediata aos
níveis normais dos elementos sangüíneos. Além disso, existe
prova científica de que as taxas do sangue não se elevam de
modo significativo – e mesmo que isso ocorra, voltam ao
normal rapidamente – durante o segmento de um programa
de diminuição da dose com interrupções de esteróides anabólicos injetáveis.
O ponto que tem sido enfatizado através de todo trabalho,
é que o uso adequado dos esteróides pode certamente reduzir
os perigos - somente um idiota se voltaria contra o que a
ciência e a experiência têm para oferecer.
Quadro 3  Descrição sobre a variação normal dos componentes
sangüíneos.
Item
Cálcio
Fosfato Inorgânico
Glicose (Lm jejum)
NUS (Nitrogênio Oléico no
Sangue)
Ácido Úrico
Colesterol
Proteína Total
Bilirrubina
Triglicérides
Creatina Fosfoquinase
Fosfatase Alcalina
DHL (Dehidrogenase Láctica)
TGO (Transaminase Glutamico
Oxalo-Acético)
TGP (Transaminase GlutamicoPerubico)
Testosterona
Sódio
Potássio
Variação normal
8,5 - 10,5 mg/dl
2.5 - 4,5 mg/dl
70 -110 mg/dl
10-26 mg/dl
2,1 - 7, 8, mg/dl (Homens)
2,0 - 6,4 mg/dl (Mulheres)
150-300 mg/dl
6,0 - 7,8 mg/dl
0,1 - 1,2 mg/dl
10 -190 mg/dl
55 - 170 Ul (Homens)
30 -135 Ul (Mulheres)
30 - 85 mU/dl
100 - 225 mU/dl
8 - 33 U/ml
1 - 36 U/ml
246 - 1238 mg/dl (Homens)
30 - 120 mg/dl (Mulheres)
136 - 142 mbq/l
3,8 - 5,0 mbq/l
Conclusão
O uso de esteróides anabólicos tornou-se um modo de
vida profundamente arraigado dentro do esporte e em todo
o mundo. O fato de que funcionam, tornou-se evidente a
todos os atletas que querem ganhar força e volume, chegando a ser mais predominante nos esportes de resistência para
aumentar a resistência muscular. As tentativas de proibição
legal serviram apenas para exacerbar o problema do abuso
da droga. Podemos dizer que a educação é a única forma de
minimizar o abuso da droga no esporte.
A pouca pesquisa feita a respeito do uso de esteróides
anabólicos no esporte demonstrou claramente a existência de
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algumas linhas de condutas que ajudam a minimizar os riscos
envolvidos e manter os benefícios em nível de utilidade para
os fisiculturistas. Estas linhas de conduta foram apresentadas
neste trabalho, principalmente falando nos ciclos, dosagens,
métodos de uso de esteróides e outras drogas que auxiliam
no desempenho do fisicultor.
Em sua procura de vencer, os atletas tentam enganar os
testes que lhes são impostos pelas respectivas autoridades desportivas. Alguns dos métodos mais utilizados para falsear os
testes foram enumerados, sendo que os principais são o uso de
drogas substitutivas e o da ciclagem. A somatotropina (GH) é
muito usada para ludibriar os testes, pois eleva a testosterona
ao seu nível normal de modo que a testosterona ingerida ou
injetada não possa ser detectada, já que a testosterona sintética diminui a testosterona endógena. Os esteróides orais são
também muito usados, pois desaparecem rapidamente do
sangue, mas são altamente tóxicos para o fígado.
O que foi citado acima é o que está acontecendo no mundo dos esportes, não se podem desculpar estas práticas, mas
pode-se chamar a atenção de todos os fisicultores que fazem
uso ou pretendem usar drogas de qualquer tipo para que procurem a maneira mais eficaz para fazê-lo. Isto sempre implicará
em: informar-se sobre as drogas a serem usadas; procurar
auxílio de um médico competente em medicina desportiva e
minimizar os riscos obtendo o máximo de benefícios.
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Revisão
Aspectos físicos e fisiológicos do jovem
jogador de futebol
Physical and physiological aspects of young soccer player
Giovani dos Santos Cunha*, Alvaro Reischak de Oliveira*
*Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Escola de Educação Física - LAPEX - Porto Alegre/RS
Resumo
Abstract
O futebol é um dos esportes mais populares do mundo e seu
desempenho depende de vários aspectos, como os fatores técnicos,
táticos, físicos, fisiológicos e psicológicos. Durante uma partida de
futebol, os jogadores percorrem em média 10 km, sendo a corrida
a atividade predominante, mas exercícios de explosão como sprints,
saltos, marcação e chute são importantes para o desempenho no
futebol. A intensidade de trabalho durante uma partida de futebol
é muito próxima do limiar anaeróbio (LAn). Os valores de LAn em
jovens jogadores de futebol são compreendidos entre 80-90% da FCou entre 75-90% do VO2máx. Tradicionalmente, jovens jogadores
máx
de futebol possuem valores de VO2máx inferiores a 60 ml.kg-1.min-1,
estes valores podem ser influenciados pela posição tática, tempo de
treinamento e pelo processo de maturação biológica. A maturação
biológica tem um impacto relevante no processo de detecção de
talentos, pois é relacionada com o desempenho técnico e físico,
no qual atletas mais avançados no processo maturacional possuem
maiores níveis de força, potência e capacidade aeróbia em relação
aos indivíduos menos avançados.
Soccer is one of the most popular sports in the world, and its
performance depends on many aspects, such as technical, tactical,
physical, physiological and psychological factors. During a soccer
match, players cover distances around 10 km, with running as the
predominant activity. But sprints, jumps, marking and kicking are
other important aspects to soccer performance. Physical work intensity during a soccer match is very close to the anaerobic threshold
(LAn). LAn values of young soccer players are between 80-90% of
maximum heart rate or between 75-90% of VO2max. Traditionally,
young soccer players have VO2max values less than 60 ml.kg-1.min-1,
and these values may be influenced by tactic position, years of
training and biological maturation process. Biological maturation
has a relevant impact upon the process of talent detection because
it is related to technical and physical performance. More advanced
athletes in regard to biological maturation process have higher levels
of strength, power and aerobic capacity in relation to less advanced
individuals.
Key-words: soccer, anaerobic threshold, maximal oxygen uptake.
Palavras-chave: futebol, limiar anaeróbio, consumo máximo de
oxigênio.
Recebido em 12 de outubro de 2007; aceito em 15 de março de 2008.
Endereço para correspondência: Giovani dos Santos Cunha, UFRGS/ESEF – LAPEX, Rua Felizardo, 750, 90690 -200 Porto Alegre RS,
E-mail: [email protected]
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Introdução
Atualmente existe uma limitação de estudos sobre os
efeitos do exercício físico e do treinamento desportivo sobre
o metabolismo das crianças e adolescentes [1-12]. Mais especificamente no futebol, que é um dos esportes mais populares
do mundo [13], praticado por homens, mulheres e crianças
com diferentes níveis de desempenho [14], a maioria dos estudos com crianças são referentes à força e velocidade [15-17],
padrão de atividade física durante o jogo [18, 19] e consumo
máximo de oxigênio (VO2máx) [18, 20-24].
O VO2máx de jogadores de futebol internacional varia de
50-75 ml.kg-1.min-1 [16,18,21-27], sendo que esta capacidade fisiológica está relacionada com a posição tática. Os
valores de limiar anaeróbio (LAn) em jogadores de futebol
são compreendidos entre aproximadamente 80% e 90%
da freqüência cardíaca máxima (FCmáx). Estima-se que a
intensidade de trabalho médio, mensurado como %FCmáx
durante uma partida de futebol coincida como os valores de
LAn [18,22,23,28,29].
Embora estes valores de VO2máx e LAn sejam evidentes em
jogadores adultos, em jovens jogadores de futebol ainda não
existe um consenso sobre o comportamento do VO2máx e do
LAn principalmente durante o processo maturacional [30,31].
A maturação biológica é referida como o progresso em direção ao estado biologicamente adulto, que varia em timing e
tempo [32] é um fator relevante na detecção de talentos e no
treinamento [33,34]. Poucos estudos investigaram a relação
entre o VO2máx e a maturação biológica [35], entretanto, algumas evidências sugerem que ela possa influenciar o VO2máx
e o LAn [8,9,11,12,17,35-38].
Torna-se importante identificar o comportamento do
VO2máx e do LAn durante o processo de maturação biológica
em jovens jogadores de futebol, para podermos prescrever e
controlar o treinamento de forma adequada a cada etapa do
crescimento destes atletas, visto que, o VO2máx é considerado
o melhor indicador de potência aeróbia [13,35,39] e o LAn
é considerado o indicador mais sensível às alterações aeróbias
em resposta ao treinamento [13, 40-42].
Neste sentido, devido a limitações de estudos sobre os
aspectos físicos e fisiológicos do jovem jogador de futebol, esta
revisão abordará aspectos referentes às demandas físicas do
futebol e a influência da maturação biológica sobre o VO2máx
e LAn em jovens jogadores de futebol.
Demandas físicas do futebol
O desempenho no futebol é multifatorial, onde podemos
citar de forma resumida os fatores técnicos, táticos, físicos,
fisiológicos e psicológicos [43]. Especificamente, o futebol
necessita de atividades físicas intermitentes, em que a seqüência de ações requer uma variedade de habilidades em
diversas intensidades. A corrida é a atividade predominante,
mas exercícios de explosão como sprints, saltos, marcação e
Fisiologia v7n1.indb 30
chute são fatores importantes para o desempenho no futebol
[15]. Outro fator importante para o futebol é à distância
percorrida, que em uma partida de futebol de alto nível são
da ordem de 9-12 km [23, 44-46] e 4 km para goleiros [43].
Muitos estudos têm apresentado que jogadores de meiocampo percorrem grandes distâncias durante o jogo e que
jogadores profissionais percorrem maiores distâncias do que
jogadores amadores [44]. No 2º tempo, a intensidade do jogo
diminui em relação ao 1º tempo, onde a distância percorrida
diminui de 5-10% [44, 45].
A posição tática dos jogadores influencia a distância percorrida durante uma partida, na qual os zagueiros percorrem
aproximadamente 7700-9700 metros (m), meio-campistas
de 9000-11000 m e atacantes 7700-11000 m [23,44-46].
A distância percorrida tem sido classificada como padrão
de atividade física, como caminhar, trotar, correr, sprint e
corrida de costas. Durante a partida, os jogadores percorrem
caminhando aproximadamente 1000-3500 m, trotam 20006000 m, correm 1000-2000 m, sprint 300-500 m e corrida
de costas 100-800 m [19, 44-46].
Durante o jogo, um sprint ocorre aproximadamente a
cada 90 segundos (s), cada um dura em media de 2-4 s [47].
Os sprints constituem de 1-10% da distância percorrida
total durante o jogo [44], que corresponde a 0,5-3,0% do
tempo efetivo de jogo [47]. No contexto de endurance do
jogo, cada jogador realiza entre 1000-1400 atividades de
curta duração alternadas a cada 4-6 s [44,47]. As atividades
realizadas no jogo são aproximadamente de 10-20 sprints,
corridas de alta intensidade a cada 70 s, 15 desarmes, 10
cabeçadas, 50 envolvimentos com bola, 30 passes, além de
mudanças de direção e grande esforço muscular para manter
o equilíbrio e o controle da bola contra a pressão da defesa
[47]. Mohr et al. [44] reportaram que laterais e atacantes
realizam sprints em maiores distâncias do que zagueiros e
meio-campistas. Da mesma forma que a distância percorrida,
a capacidade de realizar sprint também diminui ao final da
partida [44, 48].
A maioria dos resultados são referentes a jogadores profissionais, por isso, Castagna et al. [19] verificaram o padrão
de atividade física de jovens jogadores de futebol durante os
jogos (idade 11,8 anos), onde a duração de cada jogo era de
60 minutos e as medidas do campo eram de 100 x 65 m. Foi
verificado que a distância percorrida total era de 6175 m,
sendo que 1112 m e 32 m foram percorridos caminhando e
caminhando de costas respectivamente. Em média os jogadores percorriam 3200 m em baixa intensidade, 986 m em
intensidade moderada e 468 m em alta intensidade de corrida.
Em média 34 sprints com duração de 2,3 s eram realizados
durante a partida, com velocidades máximas de 18 km.h-1, o
tempo entre cada sprint foi de 118,5 segundos. A distancia
percorrida diminuía 5,53% entre o 1° e o 2° tempo. Os autores
concluíram que o padrão de atividade de jovens jogadores
de futebol é intermitente e às vezes desempenhado em alta
intensidade (9% do tempo total da partida).
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Intensidade do jogo
Por causa da duração do jogo, estima-se que o metabolismo aeróbio contribui com aproximadamente 90% do
custo energético de uma partida de futebol [14]. A intensidade de trabalho médio, mensurada como %FCmáx durante
os 90 minutos de uma partida de futebol é próximo do
LAn, compreendido entre 80-90% da FCmáx dos jogadores
[18,22,23,28,29]. Fisiologicamente, poderia ser impossível
manter esta altíssima intensidade média por um longo período de tempo, principalmente devido ao acúmulo de lactato
sangüíneo.
Assim, a fadiga é um componente importante para o
desempenho no futebol. Em recente revisão, Mohr et al.[49]
relatam que a fadiga pode ocorrer em 3 diferentes momentos
durante o jogo: após períodos de alta intensidade de exercício
tanto no 1° como no 2° tempo de partida, no início do 2º tempo de partida e no final da partida. A fadiga temporária após
exercícios de alta intensidade durante o jogo não parece estar
relacionada diretamente com as concentrações de glicogênio
muscular, acúmulo de lactato, acidose ou a quebra da creatina
fosfato. No entanto, isto pode estar relacionado a distúrbios na
homeostase iônica do músculo ou ainda a um desequilíbrio na
excitação do sarcolema. O desempenho máximo dos jogadores
de futebol é inibido no início do 2° tempo, provavelmente
devido a uma diminuição da temperatura muscular quando
comparado com o final do 1° tempo [49].
Realmente, as partidas de futebol apresentam períodos
e situações de alta intensidade de exercício, nas quais ocorre
um acúmulo de lactato sangüíneo localizado. Desta forma,
os jogadores de futebol necessitam de períodos de baixa
intensidade de exercício para poderem remover este lactato
muscular acumulado. Em termos relativos, existe pouca ou
nenhuma diferença entre a intensidade de exercício de jogadores profissionais e amadores, mas a intensidade absoluta é
maior em jogadores profissionais [43].
Stroiyer et al.[18] estudaram as demandas fisiológicas do
futebol em jovens futebolistas (idade 12-14 anos) verificaram
que o VO2 durante a partida era em média maior no 1° tempo
(50-58 ml.kg-1. min-1) do que no 2° tempo (48-54 ml.kg-1.
min-1). Estes valores correspondem a 80-85% e 78-80% do
VO2máx respectivamente. A FC média também era em média
maior no 1° tempo (180 bpm) do que no 2° tempo (175
bpm).
Estabelecendo a relação entre FC-VO2 em teste de esforço
máximo, esta relação fornece uma mensuração indireta válida
do VO2 durante uma partida de futebol. Estabelecendo a relação da FC-VO2 de cada atleta, esta pode refletir exatamente o
gasto energético do exercício em estado de equilíbrio. Bangsbo
[14] apresentou que a relação FC-VO2 é válida para exercícios intermitentes, verificada pela comparação de exercícios
contínuos e intermitentes em testes de esteira em laboratório.
A mesma relação FC-VO2 era estabelecida após um grande
aumento de intensidade [14], estes dados são suportados por
Fisiologia v7n1.indb 31
31
estudos recentes [50,51]. A relação entre FC-VO2 pode ser
uma boa estimativa de gasto energético para o futebol [50].
Assumindo que a relação FC-VO2 é uma estimativa válida
para o futebol, uma intensidade média de exercício de 85%
da FCmáx poderia corresponder a aproximadamente 75% do
VO2máx . Isto corresponde em média a 45, 48,8 e 52,5 de VO2
(ml.kg-1.min-1) para jogadores com 60, 65 e 70 de VO2máx (ml.
kg-1.min-1) respectivamente, refletindo o gasto energético do
futebol moderno [39].
VO2máx durante a maturação biológica em jovens
jogadores de futebol
Tradicionalmente, jovens jogadores de futebol apresentam
valores de VO2máx inferiores a 60 ml.kg-1.min-1 [18,23,24].
Stroyer et al. [18] verificaram o VO2máx em 3 grupos de jovens
jogadores de futebol, classificados como elite (12 anos), nãoelite (12 anos) e elite (14 anos). O VO2máx correspondia a 58,7,
58,6 e 63,7 ml.kg.-1.min-1 respectivamente, não apresentando
diferenças significativas entre os grupos. Ao contrário, outros
autores encontraram diferenças significativas no VO2máx, os
valores correspondiam a 58,2 e 55,3 ml.kg-1.min-1 entre os
grupos elite (12,3 anos) e não-elite (11,7 anos) de jogadores
de futebol respectivamente [38]. Por outro lado, Chamari et
al. [20] estabeleceram valores superiores (66,5 ml.kg-1.min-1,
jogadores com 14 anos de idade) em comparação aos estudos
citados anteriormente.
Estudos transversais têm indicado que o VO2máx absoluto
(ml.min-1) aumenta gradualmente e continuamente em meninos dos 8 aos 16 anos de idade. Após esta idade, o VO2máx
continua a aumentar lentamente [12,36,52]. Resultados semelhantes foram encontrados em jovens jogadores de futebol,
onde o VO2máx absoluto aumentava significativamente tanto
no grupo elite (2,46 para 3,99 l.min-1, n=21) como no grupo
não elite (2,10 para 2,99 l.min-1, n=28) ao longo de três anos
e meio de acompanhamento [38].
Entretanto, durante o crescimento e a maturação biológica
o VO2máx absoluto é altamente correlacionado com tamanho
corporal, ocorrendo um aumento significativo dos componentes que determinam o VO2máx, como pulmões, coração
e músculo esquelético [53]. Assim, os valores de VO2máx
absoluto aumentam com o desenvolvimento das crianças,
podendo aumentar de 1,2 l.min-1 para 2,7 l.min-1 dos 6
aos 12 anos de idade, este aumento acelerado é devido aos
hormônios anabólicos secretados durante a puberdade [53].
Desta forma, para efeitos independentes da idade cronológica,
maturação biológica e sexo sobre o VO2, é importante examinar a confusa influência do tamanho corporal, ajustando-o
devidamente [9,53].
Uma forma amplamente utilizada na literatura para tentar
ajustar o VO2máx ao tamanho corporal, é expressá-lo na forma
relativa à massa corporal (ml.kg-1.min-1). Ao contrário da
forma absoluta, quando o VO2máx é expresso na forma relativa, não existem incrementos com a idade cronológica nem
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
com o estágio maturacional, ou seja, o VO2máx apresenta um
comportamento relativamente constante durante o processo
maturacional [11,36,53,54].
Recentemente, este método tradicional de expressar o VO2-1
(ml.kg
.mim-1) tem sido contestado por não ajustar adequamáx
damente os efeitos da massa corporal [6,9-12,20,27,36,53-58].
Durante os últimos anos, existe um importante debate sobre
o melhor método para normalizar o VO2máx e ajustar os efeitos
da massa corporal em adultos e crianças. Em recente revisão,
Nevill et al. [55] exploram uma variedade de modelos utilizados
para descrever variáveis fisiológicas e antropológicas que variam
com o tamanho corporal e com outras variáveis de confusão,
como por exemplo, a idade cronológica. Os autores concluíram
que os modelos alométricos são superiores aos demais modelos.
Sendo a alometria o método matemático que expressa a medida
à qual uma variável (seja fisiológica, anatômica ou temporal) é
relacionada com uma unidade de tamanho corporal, geralmente
massa corporal em kg [53].
Entretanto, Welsman & Armstrong [59] enfatizam que
não existe um método universalmente correto de normalizar
o VO2máx e remover os efeitos da massa corporal. Todos os
métodos apresentam suas limitações, sendo que a técnica
de normalização depende da natureza da pesquisa e que sua
validade seja observada dentro de um determinado contexto.
Apesar disto, vários autores têm sugerido que para facilitar as
comparações entre grupos heterogêneos em tamanho corporal, a maneira mais apropriada de remover os efeitos da massa
corporal é utilizar a função potência (VO2max = aMb), onde (a) é
uma constante de escala e (b) é a valor do expoente referente à
massa corporal. O expoente pode ser estimado através da análise
de regressão linear após obtermos o logaritmo da equação da
função potência log e (VO2máx) = log a + b. log m.
Atualmente existe um considerável debate sobre qual o
valor que este expoente pode assumir (ex. b = 0,66; b = 0,75 ou
b > 0,75) [11,53,55,56,60-62], sendo este expoente altamente
específico de uma determinada amostra. Estudos com crianças
demonstram que este expoente pode variar de b = 0,37 a b
= 1,17 [37,53], com valor médio de b = 0,83 [53]. Tem sido
sugerido que o tamanho da amostra, a composição corporal,
o somatotipo, treinamento e o sexo podem ser responsáveis
pela grande variação nos valores dos expoentes alométricos
em crianças [53].
Vários autores têm utilizado o expoente alométrico b =
0,75 (VO2máx ml.kg-0,75.min-1) a fim de realizar comparações
adequadas do VO2máx entre jogadores de futebol de diferentes
massas corporais [16,21-23,27,50,53,63]. Diversos autores
concordam com esta afirmação [53,56,60,64]. Neste sentido,
Chamari et al.[20] compararam a capacidade aeróbia de jogadores de futebol jovens e adultos utilizando um procedimento
alométrico. Quando o VO2 foi expresso de forma relativa (66,6
e 66,5 ml.kg-1.min-1 , respectivamente), os valores de adultos
e jovens foram semelhantes, mas quando expresso na forma
alométrica (216 e 206 ml.kg-0,72.min-1 respectivamente), foi 5%
maior nos adultos do que nos jovens. Os autores concluíram
Fisiologia v7n1.indb 32
que na comparação com jovens jogadores de futebol, o VO2máx
de adultos era subestimado e a economia de movimento era
superestimada quando expresso na forma relativa.
Diferentemente da expressão relativa, quando o VO2max
é expresso na forma alométrica, este apresenta um aumento
progressivo conforme avançam os estágios maturacionais.
Welsman et al.[54] utilizaram tanto a expressão relativa como
a alométrica para remover os efeitos do tamanho corporal
sobre o VO2máx dos grupos pré-púberes (n=24), púberes
(n=26) e adultos (n=16). A expressão relativa estava de acordo
com a literatura, demonstrando que não existia diferenças
significativas no VO2máx (ml.kg-1.min-1) entre os grupos. Ao
contrário, a análise alométrica (ml.kg-0,80.min-1) demonstrou
um aumento progressivo do VO2máx entre os grupos. Estas
descobertas alteram a interpretação convencional do comportamento do VO2máx durante o crescimento e a maturação
biológica de crianças [35].
Embora a relação entre o VO2máx e o tamanho corporal
seja bem documentada e algumas vezes mal interpretada,
relativamente poucos estudos têm investigado a relação entre
o VO2máx e a maturação biológica [11,35], principalmente em
jogadores de futebol.
Malina et al.[17] estimaram a contribuição da experiência,
do tamanho corporal e do estágio maturacional nas variações
das capacidades funcionais de jogadores de futebol com idades
de 13,2 -15,1 anos. Os autores verificaram que a maturação
biológica e o tempo de treinamento eram variáveis explicativas
da resistência aeróbia em 21%.
Armstrong et al. [65] argumentam que os estudos que não
controlaram adequadamente a massa corporal pela alometria,
esta relação entre o VO2máx e a maturação biológica pode ser
obscurecida pelo uso inapropriado da normalização dos valores pela expressão relativa a massa corporal (ml.kg-1min-1).
Os autores verificaram o VO2máx de 93 meninos e 83 meninas
de 12 anos de idade e constataram que o VO2máx expresso
na forma relativa permanecia constante com a maturação.
Quando os dados eram expressos na forma alométrica, o
VO2máx apresentava um aumento com a maturação em ambos
os sexos e uma significativa influência da maturação biológica
foi observada.
Claramente, a expressão tradicional (VO2/massa) falha
em remover totalmente os efeitos da massa corporal, sendo
inapropriado para estudos epidemiológicos que desejam
comparar o VO2máx entre grupos (ex. ativos e inativos ou
crianças e adultos) que são associados ao tamanho corporal [10,54]. Atualmente, muitos autores concordam que
os modelos alométricos são os mais indicados para ajustar
corretamente o VO2máx à massa corporal [10-12,16,20-23,27,50,54,56,64,66-70].
Limiar anaeróbio em jovens jogadores de futebol
Embora o metabolismo aeróbio seja predominante na
ressíntese de energia durante uma partida de futebol, as ações
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
mais importantes são desempenhadas por meio do metabolismo anaeróbio. A liberação de energia via metabolismo
anaeróbio é exigida principalmente na execução de sprints,
saltos e disputas pela bola. Estas ações são cruciais para o
resultado da partida [71].
O padrão de lactato durante uma partida de futebol tem
apresentado maiores valores no 1° tempo (4,1-7,0 mmol/L)
do que no 2° tempo (2,7– 4,4 mmol/L) [47,49,72,73]. É
importante notar que, a concentração de lactato em jogadores
de futebol é largamente dependente do padrão de atividade do
jogador. Realmente, tem sido apresentado que os valores de
lactato são positivamente correlacionados com o aumento do
trabalho realizado previamente antes da coleta de sangue [14].
McMillan et al. [42] têm indicado que a avaliação do lactato
submáximo em jogadores de futebol pode ser utilizado com
um indicador de alterações no desempenho de endurance em
períodos específicos do treinamento. Estes autores indicam
que as concentrações de lactato fixadas entre 2 e 4 mmol.L-1
podem ser utilizadas para avaliar as respostas aeróbias de
jogadores de futebol.
Os valores de LAn também podem ser expressos de várias
maneiras, como por exemplo o método ventilatório (LV2),
%FCmáx, %VO2máx ou ainda a valores correspondentes a FC
(bpm) e VO2 (ml.min-1, ml.kg.-1.min-1, ml.kg.-0,75.min-1). Os
valores de LV2 em jogadores de futebol são compreendidos entre aproximadamente 80% e 90% da FCmáx [18,22,23,28,29].
Quando o LV2 é expresso em %VO2máx, Hoff et al. [50]
verificaram que este correspondia a 75% em jogadores com
22 anos de idade. Chamari et al. [20] identificaram que o
LV2 correspondia a 88,8% e 90,1% para jogadores com 14 e
17 anos de idade respectivamente [22]. Helgerud et al.[23]
demonstraram que este valor correspondia a 82,4 ± 3,1% em
jogadores com 18 anos de idade.
Identificamos uma limitação de estudos que verificaram
os limiares ventilatórios (LV1 e LV2) em jovens jogadores
de futebol, visto que, a intensidade de trabalho médio, mensurada como %FCmáx durante os 90 minutos de uma partida
de futebol é muito próxima do LV2. Curiosamente, não encontramos nenhum estudo verificando o comportamento do
LV1 e LV2 durante a maturação biológica em jogadores de
futebol e nem se esta exerce algum efeito sobre o mesmo.
Assim, a discussão sobre este tópico torna-se limitada.
Klentrou et al. [74] compararam os limiares ventilatórios
entre adultos e crianças praticantes de futebol. Quando os
limiares ventilatórios eram expressos em %VO2máx, os valores
correspondiam 64,9 ± 7,1% e 57,7 ± 8,0 para LV1 e 80,0 ±
3,8 e 77,3 ± 5,1 para LV2 em crianças e adultos respectivamente. Foi verificado que as crianças apresentavam um LV1
significativamente superior e LV2 semelhante ao dos adultos.
Os autores atribuíram estas diferenças ao menor potencial
enzimático da via glicolítica e ao padrão ventilatório em
resposta ao exercício.
Outras possíveis explicações acerca das diferenças nos
limiares ventilatórios (LV1 e LV2) e VO2máx dos jovens jo-
Fisiologia v7n1.indb 33
33
gadores de futebol poderiam ser atribuídas a alterações no
padrão de utilização de substrato, metabolismo enzimático,
distribuição do tipo de fibras musculares e aos estoques de
glicogênio muscular.
Maturação biológica, VO2máx e LAn - perspectivas para o treinamento do futebol
O desempenho no futebol é multifatorial e suas atividades físicas são de características intermitentes. A corrida é a
atividade predominante, mas exercícios de explosão como
sprints, saltos, marcação e chute são fatores importantes para
o desempenho no futebol de alto nível [15]. Jogadores de
futebol percorrem em uma partida cerca de 9-12 km [23,4446]. As atividades realizadas no jogo são aproximadamente
de 10-20 sprints, que ocorrem aproximadamente a cada 90s e
tem duração media de 2-4 s [47], corridas de alta intensidade
a cada 70 s, cerca de 15 desarmes e 50 envolvimentos com
bola, além de mudanças de direção e grande esforço muscular
para manter o equilíbrio e o controle de bola contra a pressão
do adversário [47].
Entretanto, os atletas necessitam recuperar suas reservas
energéticas em pequenos intervalos de tempo ou ainda
durante exercício de baixa intensidade. Durante este período, os níveis de ATP e PCr são restaurados em 70% em
aproximadamente 30 s e totalmente restaurados dentro de
aproximadamente 3 a 5 minutos [75]. Como no futebol uma
atividade de alta intensidade ocorre aproximadamente a cada
70 s, o metabolismo anaeróbio poderia ser necessário para
suprir estas demandas energéticas. A conseqüência metabólica
é um aumento das concentrações H+, diminuição do pH,
aumento das concentrações de lactato, que podem afetar o
desempenho dos jogadores [75].
Tem sido sugerido que uma elevada capacidade aeróbia
melhora a recuperação entre os exercícios intermitentes de alta
intensidade, provavelmente por remover mais rapidamente o
lactato sangüíneo e restaurar os níveis de ATP-PCr. Este fato
demonstra a importância de um atleta possuir um elevado
VO2máx e LAn. Provavelmente, estes atletas conseguiriam suportar exercícios de alta intensidade com uma menor parcela
de energia proveniente da via anaeróbia, assim diminuindo
as contrações de lactato e H+, resultando em uma melhor
manutenção do desempenho físico.
As adaptações induzidas pelo treinamento aeróbio têm
sido extensivamente estudadas em adultos, entretanto, existem
muitas controvérsias em relação às respostas do treinamento
aeróbio em crianças e adolescentes. Tem sido sugerido que
crianças não são aptas a aumentarem seu VO2máx com o treinamento aeróbio, principalmente antes da puberdade, ao
contrário, tem sido verificado efeitos positivos do treinamento
em crianças pré-púberes [76,77].
Baquet et al. [76] analisaram os procedimentos aplicados
à prescrição e aos métodos de treinamento para verificarem o
real impacto que o treinamento aeróbio exerce sobre o VO2máx
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34
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
de crianças e adolescentes. Os autores excluíram os estudos
que não atendiam a certos critérios como, ausência de grupo
controle, procedimentos estatísticos inadequados, tamanho
amostral insuficiente, protocolo de treinamento inapropriado,
populações especiais e estudos que não apresentavam os dados
sobre VO2máx. Foi levado em consideração o controle da maturação biológica, constituição dos grupos, consistência entre
o treinamento e os procedimentos, sendo que dos 51 estudos
analisados, 21 apenas foram selecionados. Os resultados de
maneira geral sugerem que o treinamento aeróbio aumenta
o VO2máx de 5-6% em crianças e adolescentes independentemente de sexo ou estágio maturacional. Quando somente os
estudos que apresentavam um significativo efeito do treinamento aeróbio eram considerados, o VO2máx aumentava de
8-10%. Os autores sugerem que as intensidades de treinamento sejam superiores a 80% da FCmáx para esperar um aumento
significativo do VO2máx em crianças e adolescentes.
Mais especificamente no futebol, McMillan et al. [21]
verificaram que após 10 semanas de treinamento aeróbio
específico para o futebol (90-95%Fcmáx), o VO2máx aumentava
de 63,4 para 69,8 ml.kg-1min-1 em 11 jogadores (16,9 anos),
sem que ocorresse prejuízos no desempenho de força, saltos
ou sprints.
Assumindo o pressuposto que crianças e adolescentes
respondem positivamente ao treinamento aeróbio, onde
aumentos no VO2máx de 5-10% têm sido verificados, este
fato demonstra que o treinamento aeróbio é um componente importante para o desempenho do futebol moderno.
Recentemente, tem sido apresentado que um aumento de
11% no VO2máx após 8 semanas de treinamento com jovens
jogadores de futebol, reflete um incremento de 20% na distância percorrida total de uma partida, aumento de 23% nos
envolvimentos com bola e um aumento de 100% no número
de sprints realizados por cada jogador [23]. Estas são algumas
das vantagens que demonstram a relação entre uma alta capacidade aeróbia e desempenho no futebol moderno [16].
A maturação biológica exerce um claro efeito sobre o VO2máx
de jovens jogadores de futebol, sendo importante o seu controle,
pois a maturação biológica é relacionada com o desempenho
físico e atletas mais avançados no processo maturacional possuem níveis maiores de força, potência e capacidade aeróbia
em relação aos indivíduos menos avançados.
Recentemente, um efeito da maturação biológica sobre
as habilidades específicas do futebol tem sido constatado
em jovens jogadores de futebol [78,79]. Malina et al. [79]
verificaram que a maturação biológica tem efeito positivo
sobre as habilidades específicas do futebol, como o controle
da bola, controle da bola com a cabeça, drible em velocidade
com passe e chute. Os autores concluíram que indivíduos
mais avançados no processo maturacional apresentam um
melhor desempenho nestas 4 habilidades específicas. Este
fato tem grande impacto na detecção de talentos, pois se
a maturação biológica não for controlada, indivíduos com
processo maturacional mais lento geralmente serão excluídos
Fisiologia v7n1.indb 34
e indivíduos mais adiantados no processo maturacional serão
favorecidos [33,34].
Visto que, o limiar anaeróbio é o indicador mais sensível
às repostas do treinamento aeróbio e que a intensidade de
trabalho médio, mensurada como %FCmáx durante os 90
minutos de uma partida de futebol é muito próxima deste
limiar. Torna-se importante desenvolver esta variável com o
treinamento, pois quanto mais elevado for o LV2, maior será
a intensidade que o atleta poderá manter durante jogo sem a
contribuição do metabolismo anaeróbio, conseqüentemente,
diminuindo as contrações de lactato e H+, resultando em uma
melhor manutenção do desempenho físico.
Conclusão
O futebol é um esporte de desempenho multifatorial,
sendo necessário conhecer o comportamento do VO2máx e do
LAn durante o processo maturacional de jovens jogadores de
futebol, visto que o VO2máx é considerado o melhor indicador
de capacidade aeróbia e o LAn é considerado o indicador mais
sensível às alterações do condicionamento aeróbio em resposta
ao treinamento. A expressão tradicional (VO2máx ml.kg-1.min-1)
falha em remover totalmente os efeitos da massa corporal,
ocultando os efeitos da maturação biológica sobre o VO2máx,
dificultando assim a comparação entre jovens jogadores de
diferentes tamanhos corporais.
A maturação biológica deve ser controlada durante o treinamento de futebol, principalmente no processo de detecção
de talentos, pois influencia o VO2máx, LAn e as capacidades
técnicas dos jovens jogadores.
Agradecimentos
Ao CNPq pelo apoio financeiro a este trabalho.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
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Revisão
Respostas fisiológicas ao remo competitivo
Physiological responses to competitive rowing
Rafael Reimann Baptista*, Alvaro Reischak de Oliveira**
*Curso de Educação Física da ULBRA Gravataí RS e Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto PUC-RS, **Escola de
Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Resumo
Abstract
No início de uma regata, o barco é acelerado e a força nos remos alcança entre 1000 e 1500 N. Durante a regata, a velocidade
é mantida em um nível inferior com um pico de força de 500-700
N por meio de 210-230 remadas em torno de 6,5 min. Remadores
utilizam um padrão fisiológico ímpar de ritmo de competição; eles
iniciam o esforço com uma largada vigorosa a qual exige uma demanda excessiva do metabolismo anaeróbico, seguida de um severo
estado estável aeróbico e um exaustivo sprint final. Os remadores
estão adaptados a este esforço devido a uma grande massa muscular
e uma alta capacidade metabólica. Remadores apresentam valores
de VO2máx na ordem de 6,1 ± 0,6 L.min-1. Cálculos aeróbicos e
anaeróbicos mostram que 70-75% da energia necessária para remar
a distância padrão de 2000 m em homens é derivada da aerobiose
enquanto que os 25-30% restantes são anaeróbicos. A respiração é
sincronizada com a mecânica da remada, um fenômeno chamado de
acoplamento respiratório-locomotor. O limiar de lactato de 4,0 mM
superestima a intensidade correspondente a máxima fase estável de
lactato (MLSS), enquanto que o limiar anaeróbico individual indica
a MLSS durante um teste de exercício com carga progressiva.
At the start of a rowing race, the boat is accelerated and the force
on the oars reaches between 1000 and 1500 N. During the race,
the speed is maintained at a lower level with a peak rowing force of
500-700 N for 210-230 strokes for about 6.5 min. Rowers utilize
a unique physiological pattern of race pacing; they begin exertion
with a vigorous sprint which places excessive demands on anaerobic
metabolism followed by a severely high aerobic steady-state and
then an exhaustive sprint at the finish. Rowers are adapted to this
effort by a large muscle mass and high metabolic capacity. Oarsmen
have VO2max values of 6.1 ± 0.6 L.min-1. Aerobic and anaerobic
calculations show that 70-75% of the energy necessary to row the
standard 2000 m distance for men is derived from aerobiosis while
the remaining 25-30% is anaerobic. The respiration is coupled
with the mechanics of the rowing stroke, a phenomenon called
locomotor-respiratory coupling. Lactate threshold of 4.0 mM overestimate the workload corresponding to maximal lactate steady state
(MLSS), while individual anaerobic threshold presumably indicate
the MLSS during an incremental workload test.
Palavras-chave: remo, fisiologia cardiovascular, fisiologia
respiratória, lactato.
Key-words: rowing, cardiovascular physiology, respiratory
physiology, lactate.
Recebido em 10 de outubro de 2007; aceito em 10 de março de 2008.
Endereço para correspondência: Rafael Reimann Baptista, ULBRA Gravataí Curso de Educação Física, Av. Itacolomi 3600, 94170-240
Gravataí RS, Tel: (51) 3431 7677, E-mail: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
Introdução
O remo é um esporte em que o sistema aeróbico possui
a maior parte da responsabilidade pela produção energética,
entre 70 e 75% da produção total de energia [1]. Todavia, em
uma competição oficial de remo, com a distância de 2000 m
e a duração entre 5 a 7min, as rotas metabólicas anaeróbica
lática e alática também são bastante requisitadas, na ordem de
25 a 30% da produção total de energia [1,2]. Normalmente
os remadores realizam um esforço vigoroso nos primeiros 30 a
45 seg da prova, o que é necessário para iniciar o movimento
e atingir uma velocidade de competição no barco, bem como
nos 45 a 60 seg finais da competição [2].
Desta forma, os momentos iniciais e finais de uma regata
apresentam uma predominância do metabolismo anaeróbico
como fonte energética, enquanto durante a maior parte da
prova a rota aeróbica é a principal fornecedora de ATP (Adenosina trifosfato) para a contração muscular. Tais características ficam bastante evidenciadas quando se verifica a produção
de força nos diferentes momentos da regata. Steinacker [3]
apresenta dados que mostram um pico de produção de força
na ordem de 1000 a 1500 N nos momentos iniciais da regata,
e entre 500 a 700 N no decorrer da mesma.
No remo, bem como em outros esportes, o limiar de
lactato é um dos parâmetros mais usados, tanto como
indicador de desempenho físico quanto na prescrição do
treinamento [4,5], podendo ser definido como o ponto de
desequilíbrio entre a produção e remoção do lactato durante
o fornecimento de energia para a execução de um exercício
físico [6-8].
Além disso, as respostas fisiológicas máximas alcançadas
em testes de campo e laboratório são largamente estudadas
e empregadas como parâmetros de prescrição e controle do
treinamento físico [9-12], existindo descrições na literatura
de que o desempenho em atividades esportivas contínuas e
prolongadas se correlacionam melhor com o limiar de lactato
do que com a potência aeróbica máxima [13]. Desta forma
o objetivo deste artigo foi revisar os aspectos fisiológicos do
remo competitivo principalmente no que tange as respostas
cardiovasculares e ventilatórias ao remo, bem como os aspectos metabólicos relacionados com o limiar anaeróbico e suas
aplicações neste esporte.
Respostas cardiovasculares ao remo
O remo é um esporte que possui um gesto esportivo extremamente peculiar, de modo que suas respostas fisiológicas
acompanham estas características e se diferenciam de outras
modalidades esportivas. Além disso, o ergômetro utilizado
na avaliação do remo (remoergômetro), em função de seu
gesto esportivo, requisita a utilização de membros superiores e inferiores, diferentemente da esteira ergométrica e do
cicloergômetro que solicitam quase que exclusivamente a
musculatura de membros inferiores.
Fisiologia v7n1.indb 38
É bem aceito que durante um exercício progressivo, a
FC e o débito cardíaco (DC) de indivíduos não-atletas aumentam linearmente enquanto que o volume sistólico (VS)
normalmente alcança um platô a aproximadamente 40% do
VO2 máx [14]. Em remadores, entretanto, Rosiello et al. [15]
demonstraram que em uma remo ergometria, com incremento
de carga progressiva, ocorria um aumento inicial no VS e
subseqüentemente um declínio no mesmo, contrastando com
a expectativa de um platô nesta variável como a encontrada
em estudos clássicos em esteira e cicloergômetro, avaliando
indivíduos ativos fisicamente, mas não-atletas [14,16,17].
A FC parece aumentar de forma similar em uma remo
ergometria e em ciclo ergometria [18,19], embora Rosiello
et al. [15] tenham verificado uma elevação progressivamente
maior na FC em remoergômetro, à medida que a intensidade
de exercício aumentava. Por outro lado, Rosiello et al. [15]
verificaram valores de FC máximas similares entre os dois
ergômetros, ao contrário do VS que foi significativamente menor durante o remo nas cargas mais elevadas de exercício.
Ambos, VS e FC, são responsáveis pela produção do
DC e provocam, portanto, durante uma remo ergometria
uma redução no DC quando comparado ao cicloergômetro,
como confirmam os achados de Cunningham et al. [19]. As
explicações para estas diferenças foram relacionadas com a
contratilidade ventricular e o mecanismo de Frank-Starling.
Rosiello et al. [15] e Cunningham et al. [19] concordam
que devido à mecânica do gesto esportivo no remo, as intensas
contrações durante a remada interferem no retorno venoso,
causando, portanto, as alterações citadas acima. A postura
corporal, bem como a massa muscular envolvida em um
exercício, influencia o retorno venoso e conseqüentemente
o volume sangüíneo central, o que modifica as respostas da
FC ao esforço [20].
Comparando as respostas da FC no remo com as respostas
obtidas na corrida, Yoshiga e Higushi [21] verificaram que em
jovens, tanto em intensidades submáximas quanto máximas,
a FC no remo era menor do que na corrida. Entretanto, no
mesmo estudo, o VO2 e o VO2máx foi maior no remo do que
na corrida em todas as intensidades, bem como o lactato ao
final do exercício.
No estudo de Yoshiga e Higushi [21], a FC foi menor no
remo do que na corrida em todas as intensidades estudadas.
Mesmo na intensidade máxima a FC foi menor no remo 194
bpm do que a encontrada na corrida 198 bpm.
As diferenças nas respostas da FC para estes dois tipos de
exercícios são justificadas pelos autores em função da maior
massa muscular envolvida no remo, o que proporciona uma
maior bomba muscular aumentando o retorno venoso e
atenuando a FC devido a um mecanismo de Frank-Starling
aumentado, no caso da corrida, em função da posição ereta,
o deslocamento de sangue para os membros inferiores em
função da gravidade, requisita uma atividade simpática para
controle da pressão arterial, o que aumenta as respostas de
FC quando comparado ao remo [21].
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Respostas ventilatórias no remo
Faria e Faria [22] verificaram que a FC, VO2 e a VE
(ventilação) de remadoras em um teste de exercício não era
significativamente diferente em um remoergômetro adaptado
usando apenas membros superiores, apenas membros inferiores ou a combinação de ambos, a uma mesma intensidade
relativa de 20% de três repetições máximas.
Entretanto, esses autores realizaram também uma comparação em um modo recíproco, ou seja, com a remoergometria
adaptada de membros superiores sendo realizada com a carga
relativa dos membros inferiores e vice-versa. Nessa situação,
embora o VO2 não tenha se mostrado significantemente
diferente, a FC foi maior devido aos membros superiores
estarem trabalhando próximos de sua capacidade máxima.
Conseqüentemente, uma parte do débito cardíaco é direcionada para os membros superiores aumentando a resistência
vascular periférica, causando um conflito no sistema circulatório bem como tônus simpático aumentado, o que segundo
os autores explica estas diferenças na FC [22].
A análise das relações entre o VO2 e a produção de dióxido
de carbono (VCO2) possibilita o estudo dos metabolismos
energéticos predominantemente envolvidos em um determinado esporte. Diversos autores têm publicado diferentes
posicionamentos quanto aos percentuais de contribuição das
rotas aeróbicas e anaeróbicas de produção de energia durante
a prática do remo, como pode ser observado na Tabela I.
Tabela I - Compilação de estudos sobre rotas metabólicas no remo.
Mäestu, 2004.
Autor
Russel et al. (1998)
Hagerman et al. (1978)
Hartmann (1987)
Mickelson e Hagerman
(1982)
Roth et al. (1983)
Secher et al. (1982)
Messonier et al. (1997)
No de
atletas
19
310
17
Aeróbica (%)
84
70
82
Anaeróbica (%)
16
30
18
25
10
7
13
72
67
70-86
86
28
33
30-14
14
Remadores adultos de elite possuem valores de VO2 máx
absoluto na ordem de 6,1 L.min-1, enquanto que remadoras
adultas de elite apresentam valores um pouco menores na
ordem de 4,1 L.min-1 [1]. O VO2 máx absoluto tem se mostrado
mais importante do que o relativo à massa corporal na avaliação da potência aeróbica de remadores, devido ao suporte
da massa corporal pelo acento do barco e pela grande massa
corporal apresentada pelos remadores comparada a outros
atletas de resistência [2].
As contrações musculares periódicas envolvidas no movimento do remo elevam a pressão pleural, a qual reduz o
retorno venoso, o volume diastólico final e o volume de ejeção
do coração [15,23]. Além disso, a pressão intra-abdominal
Fisiologia v7n1.indb 39
39
aumentada durante algumas fases do movimento da remada
dificulta a ventilação. Essas mudanças fisiológicas são encaradas como limitantes da VE e do VO2 durante um exercício
máximo no remo [15,19].
Contrariamente, Yoshiga e Higushi [24] comparando as
respostas ventilatórias entre o remo e a corrida, encontraram
maiores valores de VE máxima no remo (157 ± 16 L.min-1)
do que na corrida (147 ± 13 L.min-1). Da mesma forma, o
VO2máx se mostrou maior no remo (4,5 ± 0,5 L.min-1) do que
na corrida (4,3 ± 0,4 L.min-1).
A autora atribui essas diferenças à maior massa muscular
envolvida na prática do remo, a qual exige um maior VO2
para os músculos ativos [24]. Tais diferenças parecem estar
relacionadas também com um fenômeno característico no
remo, o acoplamento da respiração com o movimento da
remada [23].
O acoplamento da respiração com o gesto esportivo tem
sido observado durante a prática de diferentes exercícios físicos
de movimentos cíclicos por seres humanos como a corrida e o
ciclismo por exemplo, mas é no remo que este acoplamento
se torna mais evidente [23].
A despeito da variação interindividual, Siegmund et al.
[23] encontraram indicações de um padrão respiratório de 2:1,
ou seja, uma inspiração ocorrendo no início do movimento da
remada e outra no final da mesma. Os resultados ventilatórios
verificados por Siegmund et al. [23] sugerem que este seria
um padrão preferencial de respiração pelos remadores e que
esse padrão indica que os períodos citados no movimento da
remada seriam vantajosos para maiores volumes de inspiração
e expiração, o que pode ser usado pelos remadores para tirar
vantagem do movimento.
De fato, cinco anos mais tarde, Daffertshofer et al.
[25] re-analisaram os dados publicados por Siegmund et
al. [23] e concluíram, através de um estudo qualitativo
da análise espectral dos dados ventilatórios, que o gasto
energético expresso através do consumo de O2 era menor
durante os episódios de acoplamento do que comparado
aos episódios de não acoplamento, sugerindo que esse
fenômeno é dependente da demanda aeróbica envolvida
no exercício.
Limiar anaeróbico no remo
Ao que tudo indica, o termo limiar anaeróbico foi primeiramente descrito na literatura por Wassermann e Mcilroy [26]
ao estudarem as respostas de pacientes cardiopatas ao exercício, no qual o acúmulo de lactato foi diretamente relacionado
à hipóxia muscular. O limiar anaeróbico foi, então, definido
por alguns autores como sendo a intensidade de exercício
acima da qual o consumo de oxigênio não consegue suprir
totalmente a demanda metabólica, embora esta definição
possa ser questionável [4].
Parece haver uma tendência entre os pesquisadores de
uma definição mais contemporânea de limiar anaeróbico,
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
direcionando essa definição a um termo como limiar de
lactato, que estaria associado a uma intensidade de exercício relacionado a um aumento abrupto nas concentrações
de lactato, devido a uma maior produção do mesmo pelo
músculo em exercício frente à capacidade do organismo de
remoção [4,13,27].
Atualmente, o limiar anaeróbico é um dos parâmetros mais
usados tanto como indicador de desempenho físico quanto
na prescrição do treinamento, existindo evidências de que o
desempenho em atividades esportivas contínuas e prolongadas
correlaciona-se melhor com o limiar anaeróbico do que com
o VO2máx [4,5,13].
Apesar de não haver uma concordância na literatura
entre as causas relacionadas com o acúmulo de lactato, em
que basicamente dois grupos de pesquisadores parecem
apresentar teorias antagônicas na explicação desse fenômeno,
representados de um lado por uma visão mais conservadora,
aceitando a relação do acúmulo de lactato com a anaerobiose
[26,28-30] e de outro por uma abordagem mais revolucionária, que nega esta relação direta [6,31,32], o limiar anaeróbico
representa uma ferramenta útil de avaliação e prescrição de
treinamento [13].
O limiar anaeróbico pode ser avaliado por métodos
invasivos (como a lactacidêmia) e não-invasivos (como o
limiar ventilatório), cada qual apresentando prós e contras e
determinando, normalmente em função do método adotado,
uma nomenclatura específica.
A determinação dos limiares ventilatórios, onde os
trabalhos de Wassermann e Macilroy [26] e Wasserman et
al. [30] demonstraram que os níveis de lactato apresentam
uma forte correlação com a ventilação em função do tamponamento dos íons hidrogênio (H+) pelo íon bicarbonato
(HCO3-), e subseqüente eliminação na forma de dióxido
de carbono (CO2) pela respiração (H+ + HCO3- ↔ H2CO3
↔ CO2 + H2O).
Essas respostas podem ser avaliadas através da análise
gráfica de parâmetros como a própria ventilação, a produção
de dióxido de carbono, os equivalentes ventilatórios de O2 e
CO2 e as pressões expiratórias de O2 e CO2, utilizando uma
avaliação visual das quebras de linearidade nas curvas em
relação às diferentes intensidades de trabalho [30].
No remo, entretanto, o acoplamento da respiração ao
gesto esportivo apresentado pelos atletas [23,25] dificulta, e
até impossibilita, a detecção dos limiares ventilatórios. Um
método alternativo seria a lactacidemia.
Existe na literatura uma grande diversidade de nomenclaturas no que diz respeito à detecção do limiar de lactato,
como podemos observar na Tabela II. Podemos basicamente
distinguir os métodos que usam concentrações fixas de lactato
e os métodos que usam concentrações variáveis.
A utilização da concentração fixa de lactato de 4 mM (AT4
– Anaerobic Threshold of 4 mM) adotada por autores como
Heck et al. [33] e Urhaunsen et al. [34,35] é justificada como
a máxima concentração estável de lactato em um teste em es-
Fisiologia v7n1.indb 40
teira ergométrica, ou como muitas vezes é expresso na Língua
Inglesa pela sigla MLSS (Maximal Lactate Steady State).
A intensidade de exercício correspondente a esta concentração fixa, quando imposta aos atletas em um teste de carga
fixa de 20 minutos, não apresenta um aumento maior do
que 1 mM no lactato plasmático [33] e é denominada por
outros autores como início do acúmulo de lactato sangüíneo
ou como normalmente é referida pela sua sigla em inglês
OBLA (Onset of Blood Lactate Accumulation) como referem
Sjödin e Jacobs [36].
Tabela II - Nomenclaturas usadas por alguns estudos para descrever
o limiar anaeróbico. Adaptado de Tokmakidis, 1989.
Autor
Wasserman & Mcilroy (1964)
Wasserman et al. (1973)
Farrel et al. (1979)
Kindermann et al. (1979)
Ivy et al. (1980)
Sjödin e Jacobs (1981)
Stegmann et al. (1981)
Conconi et al. (1982)
Heck et al. (1985)
Cheng et al. (1992)
Tegtbur et al. (1993)
Nomenclatura
Limiar anaeróbico
Limiar ventilatório
Início do acúmulo de lactato
plasmático
Limiar aeróbico/anaeróbico
Limiar de lactato
Início do acúmulo de lactato
sangüíneo
Limiar anaerobico individual
Limiar de freqüência cardíaca
Máxima fase estável do
lactato
Distância máxima
Velocidade de lactato mínimo
Uma crítica que pode ser feita ao método AT4 é a variabilidade dos níveis de lactato encontrado no trabalho original
publicado por Heck et al. [33], que vão de 3,05 a 5,5 mM,
possibilitando que indivíduos submetidos a esta intensidade
não estejam trabalhando efetivamente no limiar, mas sim
acima ou abaixo dele.
No entanto, apesar dessa variabilidade, o método de AT4
ainda é considerado um dos mais utilizados na determinação
do limiar de lactato no remo [37]. Talvez devido às limitações
do uso de concentrações fixas de lactato na identificação do
limiar anaeróbico, muitas são as propostas de individualização
do mesmo.
Partindo deste princípio, autores como Stegmann et al.
[38], propõem a utilização de um limiar anaeróbico individual
ou IAT (Individual Anaerobic Threshold). Este método baseiase na habilidade individual do atleta de manter um estado
estável de lactato durante um exercício prolongado.
De fato, em um estudo subseqüente realizado por Jacobs [39], a intensidade de exercício correspondente ao IAT
mostrou ser a maior potência que pode ser mantida pelos
atletas por um período de exercício entre 15 a 20 min, sem
um aumento no acúmulo de lactato.
Beneke [40], assim como Bourgois et al. [37] também
refere que o limiar de AT4 é método mais comumente
usado para a detecção de limiar de lactato em remadores, e
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
juntamente com o IAT, parece ser bastante representativo do
MLSS em corrida e ciclismo. Visando verificar se esses dois
métodos também teriam uma boa correlação com o MLSS
no remo, os pesquisadores usaram de um teste de exercício
máximo em remoergômetro para comparar a potência de
limiar entre os métodos AT4 e IAT. O estudo concluiu não
haver diferenças significativas entre os dois métodos, todavia,
as cargas de trabalho identificadas pelo AT4 foram sempre
maiores que a carga de MLSS.
Contrariamente, Urhaunsen et al. [35] avaliando ciclistas, triatletas e remadores verificaram que o IAT proposto
por Stegmann et al. [38] é altamente correlacionado com o
MLSS, mas uma vez que a intensidade de IAT seja excedida
em apenas 5%, metade dos atletas estudados apresentou um
aumento progressivo no acúmulo de lactato.
No sentido de individualizar o limiar de lactato, um dos
modelos relativamente recentes e de fácil aplicação encontrado
na literatura é o método proposto inicialmente por Cheng et
al. [41] e posteriormente utilizado também por Nicholson e
Sleivert [42] e Zhou e Weston [43], intitulado Dmáx (maximal distance).
Nessa proposta, os autores fizeram uso dos valores de
lactato, VE, freqüência respiratória e produção de CO2,
coletados durante um teste incremental em cicloergômetro, os quais foram plotados contra os valores de VO2,
construindo-se uma linha de tendência exponencial. Essa
curva demonstra o comportamento das respostas fisiológicas
frente ao exercício realizado e apresenta um comportamento
crescente em função do aumento da intensidade. Posteriormente, uma reta unindo o ponto inicial e final da curva é
confeccionada e a maior distância entre a curva e a reta
construída é considerada o limiar de lactato, daí o nome
Dmáx. [41].
No estudo de Cheng et al. [41] ao se utilizar o método
Dmáx. a partir das respostas de ventilação, freqüência respiratória, VCO2 e lactato, o limiar de lactato não se mostrou
significativamente diferente daquele determinado pelos
equivalentes ventilatórios e pelo OBLA. Além disso, quando
as diferentes variáveis ventilatórias e metabólicas foram utilizadas no método Dmáx., não foram encontradas diferenças
significativas na determinação do limiar de lactato.
Alguns anos mais tarde, Nicholson e Sleivert [42] compararam a velocidade de limiar em corrida entre os métodos
Dmáx. e AT4. Nesse estudo os autores verificaram que o
método AT4 superestimou a intensidade de limiar quando
comparado aos outros dois métodos.
Os resultados provenientes da pesquisa de Nicholson e
Sleivert [42] vão ao encontro de um estudo realizado pelo
nosso laboratório [44], no qual o método AT4 superestimou a intensidade de limiar quando comparado ao método
Dmáx. em remadores. Em nosso estudo, os valores de lactato, potência e freqüência cardíaca foram significativamente
menores (P < 0,05) quando identificados no limiar de lactato
pelo método Dmáx. do que pelo método AT4.
Fisiologia v7n1.indb 41
41
Conclusão
A fisiologia do remo enfatiza a especificidade das respostas ao treinamento. O trabalho muscular realizado resulta
em respostas cardíacas, ventilatórias e metabólicas bastante
diferenciadas. As evidências disponíveis sobre a fisiologia
deste esporte reforçam que os remadores necessitam de uma
grande potência muscular e potência aeróbica. A técnica de
determinação do limiar de lactato Dmáx. parece ser a mais
adequada para estes atletas.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
43
Relato de caso
Efeito do percurso sobre a freqüência cardíaca
de um ciclista altamente treinado
Effects of course on heart rate response of a highly trained cyclist
Débora Wagner*, Carlos Mota*, Felipe Carpes**
*Universidade Federal de Santa Maria, Laboratório de Biomecânica, **Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Laboratório de
Pesquisa do Exercício
Resumo
Abstract
O objetivo deste estudo foi descrever a intensidade do exercício
de acordo com o percurso no ciclismo mountain-bike. Um atleta
de destaque, 21 anos, consumo máximo de oxigênio de 75,42 ml/
kg/min, freqüência cardíaca (FC) máxima de 200 bpm, e posicionado entre os 5 melhores do ranking nacional teve uma sessão de
treinamento monitorada. O atleta foi avaliado em laboratório para
determinação do consumo máximo de oxigênio, FC máxima e limiar
anaeróbico. A sessão teve duração de 251 minutos, FC média de 164
batimentos por minuto, correspondente a 82% da FC máxima em
laboratório. A maior FC ocorreu no início do treino. O atleta sustentou 9 minutos (4% do tempo total) de exercício em intensidade
superior a 90% da FC máxima (esforço anaeróbico). A intensidade
entre 80% e 90% da FC máxima, de esforço intenso, foi suportada
durante 178 minutos (71% do tempo total do treino). Intensidades
abaixo ou muito próximas de 80% da FC máxima totalizaram 63
minutos (25% do tempo da corrida). Estes resultados comprovam
a alta intensidade do exercício adotada no treinamento do ciclista
mountain-bike, sendo que o atleta avaliado foi capaz de sustentar
altas intensidades durante um tempo superior àquelas observadas
em provas de ciclismo profissional de estrada.
The purpose of this study was to describe profile of exercise
intensity related to cycling course for mountain-bike (MTB) cycling.
One elite cyclist, 21 years old, maximal oxygen uptake of 75.42
ml/kg/min, maximal heart rate (HR) of 200 bpm, and positioned
among the five MTB national top-ranking was evaluated during a
training session. The cyclist was tested in laboratory to achieve the
maximal oxygen uptake, maximal HR and anaerobic threshold. The
training session had duration of 251 minutes and mean HR of 164
bpm, which was corresponding to 82% of HR maximal observed
in laboratory. The highest HR was observed at the beginning of the
training. The athlete was able to maintain 9 minutes (4% of the
total time) at exercise intensity higher than 90% of HR maximal
(anaerobic effort). The exercise intensity zone between 80%-90%
of HR maximal was maintained during 178 min (71% of the total
time). Intensity below 80% of HR maximal summed 63 minutes
(25% of the total time). The result indicates the high exercise intensity of MTB cycling. The MTB exercise intensity is higher than
observed on the road cycling, and the MTB athlete evaluated was
able to support high exercise intensity during prolonged time.
Palavras-chave: treinamento, mountain bike, fisiologia do
exercício, desempenho humano, ciclo ergômetro.
Key-words: training, mountain bike, exercise physiology, human
performance, cycle ergometer.
Recebido em 10 de outubro de 2007; aceito em 12 de março de 2008.
Endereço para correspondência: Felipe Pivetta Carpes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física Laboratório de Pesquisa do Exercício, Rua Felizardo, 750, 90690-200, Porto Alegre RS, Tel: 51-3308-5859, E-mail: [email protected]
Fisiologia v7n1.indb 43
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44
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
Introdução
A freqüência cardíaca (FC) reflete a quantidade de trabalho
que o coração realiza para satisfazer as demandas aumentadas
do corpo durante uma atividade [1], sendo controlada pela
atividade do sistema nervoso autônomo através dos ramos
simpático e parassimpático [2]. Seu monitoramento tem sido
amplamente utilizado no treinamento esportivo e atualmente
o uso de monitores cardíacos por parte dos atletas é comum
e altamente funcional. Tudo isso porque o uso destes instrumentos facilita o controle da intensidade do treinamento,
principalmente quando se conhece a freqüência cardíaca
máxima [3].
A cinética da freqüência cardíaca (FC) durante o exercício
tem sido utilizada para descrever o perfil da intensidade do
esforço [4-6]. A sua fácil mensuração facilita a utilização em
situações de campo, onde demais medidas fisiológicas se tornam difíceis devido à exigência de tecnologia específica para
aquisição e armazenamento de dados que são comuns somente
em ambiente laboratorial, como por exemplo, a medida do
consumo de oxigênio, que é mais difícil de ser obtida em
campo quando comparada a FC. Quando um atleta compete
utilizando um analisador de gases portátil, por exemplo, o
peso do equipamento e o desconforto acarretam um estresse
desnecessário ao atleta.
Um grande número de estudos tem descrito a intensidade
do exercício com base na freqüência cardíaca durante o ciclismo de estrada [7-13], mas poucos têm o foco no ciclismo
mountain-bike (MTB) [14-16].
O MTB caracteriza-se por ser um esporte de resistência
praticado em trajetos com subidas e descidas em terrenos
bastante irregulares e trilhas, onde os atletas suportam alta
intensidade de exercício, inclusive superior ao observado
no ciclismo de estrada [6]. Considerado esporte olímpico
desde 1996 [6], a União Internacional de Ciclismo (UCI)
sugere competições com duração de 105 a 135 minutos e
calendários anuais incluindo um número máximo de 26 competições, no entanto a maioria dos atletas acaba por superar
essas recomendações. Com base no prolongado tempo de
exercício no ciclismo MTB, combinado ao terreno irregular
enfrentado pelos atletas, este estudo teve por objetivo analisar
o comportamento da FC durante uma sessão de treinamento
de um atleta de elite com destaque nacional, relacionando a
freqüência cardíaca ao percurso desenvolvido por um tempo
prolongado (mais de 200 minutos).
Relato de caso
Para o desenvolvimento deste estudo de caso, monitorou-se
um atleta de elite de ciclismo mountain bike, do sexo masculino,
com 12 anos de experiência em competições neste esporte, sendo 7 anos de participação como atleta federado em competições
nacionais e internacionais, repetidas vezes campeão estadual
e nacional, participante de competições a nível internacional
Fisiologia v7n1.indb 44
como campeonatos Pan-Americanos e Mundiais, e na oportunidade posicionado em quarto lugar no ranking nacional,
tendo sido campeão da Copa Internacional PowerBar Reebok
no ano em que os dados foram coletados. Ele não apresentava
sintomas de overtraining com base em informações sobre suas
características de sono e rotina de treinamento. O atleta concordou em participar voluntariamente no estudo e submeteu-se
aos procedimentos que foram empregados seguindo os preceitos
do Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos da Instituição
onde o estudo foi desenvolvido.
O treinamento do ciclista avaliado cobria aproximadamente 400 km semanais realizados em trilhas e asfalto, com
intensidade média de 75-90% FC máxima (FCmáx) avaliada
previamente em laboratório. Suas características físicas e de
desempenho estavam de acordo como reportado para ciclistas
MTB competitivos de nível internacional [6-15-17], sendo
melhor detalhadas em estudo anterior [4].
Avaliação em laboratório
Na semana prévia a avaliação em campo, o ciclista foi avaliado em laboratório para obtenção de algumas características
físicas e fisiológicas (Tabela I) que serviram como parâmetro
para avaliação do desempenho em campo. Para determinação do consumo máximo de oxigênio (VO2máx) o ciclista
foi submetido a um teste progressivo máximo em um ciclo
ergômetro SRM com acurácia de ± 0,5% reportada pelo fabricante (SRM Science, Welldorf, Alemanha). Durante o teste,
o ciclista pedalou com cadência entre 90 e 105 rpm [8-15].
Esta escolha da cadência durante a avaliação é explicada por
experiências prévias em nosso laboratório onde este ciclista
apresentou uma cadência preferida de 103 rpm durante uma
simulação de ciclismo contra-relógio de 40 km e também pelo
fato que ciclistas bem treinados preferem altas cadências a fim
de minimizar a fadiga neuromuscular [18].
O teste incremental tinha carga inicial de 100W, com
incrementos de 50W a cada três minutos. A exaustão foi
definida como o ponto onde a manutenção da carga imposta
não foi mais possível. O valor de consumo de oxigênio mais
alto obtido durante 30 segundos foi considerado o VO2 de
pico. A análise de gases foi feita a cada respiração, através
de um ergo espirômetro VMAX 229 Séries (Sensor Medics,
Yorba Linda, CA) que foi calibrado antes da sessão seguindo
as recomendações do fabricante.
Para a determinação da concentração de lactato sanguíneo
em resposta à carga aplicada, amostras capilares de sangue
foram coletadas do lóbulo da orelha direita antes do exercício,
quando o ciclista permaneceu em repouso e durante o teste
máximo a cada estágio de carga (cada 3 minutos). As amostras
foram analisadas após o término do teste através de um analisador de lactato Biosen 5030-L (EKF, Barleben, Alemanha).
Os dados do lactato sangüíneo foram usados para determinar
a concentração de lactato no repouso, a concentração máxima
do lactato e o ponto do limiar anaeróbico individual (LA)
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
do ciclista [19]. A FC foi monitorada a cada cinco segundos
durante o teste máximo empregando-se um monitor de FC
Polar Accurex Plus (Polar Electro, Oy, Finland).
Tabela I - Características físicas e de desempenho do ciclista avaliado.
Idade
Estatura
Massa corporal
Percentual de gordura
VO2máx
VO2máx
LA%VO2máx
FCLA
FC de repouso
FCmáx de laboratório
FCmáx no campo
Potência máxima produzida
Razão Potência/massa
Lactato no repouso
Lactato máximo
21 anos
1,85 m
72,1 kg
6,63 %
5,43 L/min
75,3 ml/kg/min
89 %
177 bpm
51 bpm
200 bpm
182 bpm
475 W
6,59 W/kg
1,24 mmol/L
11,06 mmol/L
VO2máx: consumo máximo de oxigênio; LA%VO2max: limiar anaeróbico
relativo ao consumo máximo de oxigênio; FCLA: freqüência cardíaca correspondente ao limiar de lactato; FC de repouso: freqüência cardíaca
de repouso; FCmáx: freqüência cardíaca máxima.
Avaliação em campo
O tempo total da prova foi de 4h11min, em um dia ensolarado, sem vento, e com temperatura de aproximadamente
24°C. A coleta de dados em campo foi realizada durante uma
sessão de treinamento de ciclismo mountain-bike em um
terreno que combinava 9 trechos de subidas e 9 trechos de
descidas, continuamente, compreendendo aproximadamente
500 metros. A sessão monitorada teve a configuração de ida e
volta, logo, os mesmos trechos que representavam subidas na
ida, na volta eram descidas, e vice-versa, o que possibilitou a
comparação entre as situações. A FC durante o exercício foi
monitorada a cada cinco segundos com um Polar S725 (Polar
Electro, Oy, Finlândia).
Durante o treino, o ciclista adotou a posição característica
do MTB – inclinação do tronco de aproximadamente 70º
segurando o guidão com os cotovelos levemente flexionados. A
adoção dessa postura minimizou os efeitos do posicionamento
sobre a resposta da freqüência cardíaca [20]. O comprimento
de pé-de-vela utilizado pelo ciclista foi de 172,5 mm em um
sistema de pé-de-vela convencional montado com pedais de
engate MTB em uma bicicleta Bianchi Carbon MTB do
próprio atleta.
Análise estatística
45
analisados em relação ao tempo total de prova. Os valores de
FC reportados foram classificados de acordo com zonas de
intensidade em percentual da FCmáx [4]. As quatro zonas
de intensidade foram > 90% (anaeróbica), 80-90% (aeróbico
intenso), 70-80% (aeróbico moderado) e < 70% FCmáx
(aeróbico intermediário) [4-7-11-20-21]. O tempo em que
o atleta sustentou cada zona de intensidade foi computado,
assim como o tempo suportado em intensidade acima do
limiar anaeróbico. Devido ao relevo do percurso, as variações
da FC em reposta as descidas e subidas foram comparadas
através de teste t de Student, seguindo um nível de significância de 0,05. O pacote estatístico utilizado foi o Statistica
5.1 (StatSoft Inc., EUA).
Resultados
O ciclista avaliado suportou uma intensidade média de
exercício correspondente a 82% da FCmáx observada previamente em laboratório, confirmando a expectativa de alta
intensidade esperada para um evento como o estudado. A
FC foi monitorada do início ao fim do exercício, sendo que
a FC máxima foi de 182 bpm, alcançada logo no início do
percurso, durante o primeiro aclive observado. A FC mínima foi de 119 bpm, reportada durante uma das descidas. A
média da FCmáx e FCmin observada durante o percurso de
ida foi de 175 bpm e 138 bpm, respectivamente, enquanto
que a média da FCmáx e FCmin avaliada durante o trajeto
de volta foi de 172 bpm e 136 bpm, respectivamente. Na
Figura I o comportamento da FC ao longo do percurso é
apresentado.
Figura I - Comportamento da freqüência cardíaca ao longo do
tempo da sessão de treinamento.
Foi observado que o atleta permaneceu 4% do tempo total
do exercício em intensidade considerada como anaeróbica.
Na Figura II é ilustrado o tempo em que o atleta manteve o
exercício sob cada uma das zonas de intensidade utilizadas
para a análise dos resultados.
Para a análise da FC mensurada durante o exercício, os
dados foram agrupados em média para cada minuto, sendo
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46
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
Figura II - Tempo de exercício sustentado para cada uma das zonas
de intensidade avaliadas.
A comparação da FC entre as subidas e descidas mostrou
diferença estatisticamente significativa para a FC mínima,
FC média e FC máxima (p < 0,05), sendo sempre a menor
FC observada nas descidas (Figura III). A freqüência cardíaca
média nas descidas apresentou diferença de aproximadamente
24 bpm abaixo do observado para subidas. Para os máximos e
mínimos valores observados em subidas e descidas a diferença
foi de 8 bpm e 23 bpm, respectivamente.
Figura III - Freqüência cardíaca mínima, média e máxima observada para subidas e descidas ao longo do percurso. Valores médios.
* p < 0,05 (diferença estatisticamente significativa em relação aos
valores observados para subidas).
Discussão
O objetivo deste estudo foi analisar o comportamento
da freqüência cardíaca de um ciclista MTB de elite durante
uma sessão de treinamento. As respostas específicas para
subidas e descidas também foram analisadas. Os resultados
indicam que o atleta de elite avaliado apresentou uma alta
capacidade aeróbica, sendo capaz de suportar 71% do tempo
total de exercício com intensidade correspondente a 80-90%
FCmáx. Para as descidas, a FC foi sempre menor, seja ela a
máxima, mínima ou média, comparada à subida. A capacidade do atleta avaliado em suportar alta intensidade de
exercício pode estar relacionada ao tempo de treinamento,
cerca de 12 anos, e o fato do referido atleta ter iniciado a
Fisiologia v7n1.indb 46
participação em eventos competitivos em idade precoce, o
que pode ter lhe rendido uma capacidade diferenciada de
adaptação ao esforço [22].
O início do exercício acarretou grande variação na FC, o
que pode ser explicado pelo fato da FC aumentar de acordo
com o aumento na intensidade do exercício [1], e também
porque é justamente no começo do treino ou competição
que o atleta vai buscar a intensidade adequada para o seu
ritmo durante o percurso. No início de uma competição
MTB os atletas buscam uma largada mais rápida a fim de
assumir a frente do pelotão, o que facilitará a entrada sozinho em trilhas e percursos mais difíceis [6], acarretando
elevação abrupta na FC. A intensidade média suportada pelo
atleta confirmou o reportado pela literatura [10], sobre a
capacidade dos ciclistas de estrada em manter o exercício
em intensidades elevadas, o que também é reportado para
ciclistas mountain-bike [4-6].
Embora o treino avaliado tenha um predomínio de vias
aeróbicas, durante uma parcela do exercício foi suportada uma
intensidade anaeróbica, o que confere ao atleta a capacidade
de suportar aumentos abruptos na intensidade em resposta
a escapadas, onde o atleta se distância do pelotão repentinamente na busca de uma melhor posição, ou sprints, realizados
geralmente no final da prova. Em dados coletados durante
uma competição na mesma temporada deste estudo, este
mesmo atleta foi capaz de suportar uma intensidade acima
do seu limiar anaeróbico durante um tempo superior a 60
minutos [4].
Uma alta intensidade de exercício também foi reportada
em 14 ciclistas amadores [21] durante uma competição de
cicloturismo. Os autores utilizaram metodologia semelhante
à empregada no presente estudo para avaliar a intensidade
de exercício com base na FC. A intensidade média mantida durante o trajeto de 230 km foi correspondente a 77%
FCmáx.
Os resultados demonstraram que durante 18,5% do
tempo total da competição (10h14min) o exercício foi
mantido sob intensidade abaixo de 70% FCmáx, 28%
do tempo total sob uma intensidade classificada como
aeróbica moderada, 39,5% do tempo total em intensidade
considerada como aeróbica intensa e 14% em intensidade
considerada anaeróbica. O atleta avaliado no presente estudo
sustentou 71% do tempo total de exercício sob intensidade
correspondente a 80-90% FCmáx. No presente estudo, o
fato do exercício ter uma duração substancialmente menor
que a reportada para os 14 ciclistas [21] pode explicar as
diferenças nas intensidades e no tempo para cada zona de
intensidade avaliada.
Nos trechos de subidas e descidas o comportamento
da FC foi similar. A maior FC durante o percurso foi
observada durante um trecho de subida. Embora a FC
continuasse alta durante toda a prova, a FC máxima, mínima e média nas descidas foi menor do que nas subidas
(p < 0,05), refletindo assim, a diminuição da intensidade
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
do esforço durante a descida, o que ocorre pela baixa necessidade de produzir altas magnitudes de força, devido a
aceleração da gravidade que favorece o ciclista em trajetos
descendentes [24].
O fato de que os ciclistas comumente pedalam em pé
para vencer uma subida pode influenciar a FC de maneira
significativa, embora não afete a eficiência muscular quando
comparadas a pedalada em pé com a sentada ou no ciclo
ergômetro [25]. A FC observada para o atleta avaliado na
subida foi semelhante ao relatado na literatura [26] para 14
ciclistas que mantiveram uma FC de 169,71 ± 7,64 bpm
ao adotar uma baixa cadência e 170,79 ± 5,73 bpm quando uma alta cadência era mantida durante as subidas. As
mudanças nas demandas fisiológicas dependem da reposta
cardíaca [27] e isso faz com que durante a subida sejam
observados os maiores valores de FC devido às mudanças
na carga de trabalho.
A FC tende a diminuir ao longo do tempo de exercício
[6]. No entanto, isto não foi observado na sessão de treino do
atleta avaliado, onde a FC apresentou sempre uma resposta
similar, talvez pelo fato do trajeto envolver subidas, onde a
FC aumentava, e descidas, onde a FC apresentava valores
menores. Este é um resultado que também contraria o reportado por outros autores [21-28], os quais afirmam ocorrer
diminuição da FC durante o percurso da corrida, baseados
na hipótese de depleção do glicogênio durante atividades de
duração prolongada.
Conclusão
A intensidade registrada durante a sessão de treinamento
mostrou que o atleta avaliado sustentou um exercício intenso
ao longo de mais de 4 horas de atividade, o que corrobora o
reportado pela literatura quanto à alta intensidade observada
no ciclismo MTB. O atleta avaliado demonstrou um desempenho de alto nível competitivo ao sustentar uma intensidade
de exercício classificada como de moderada a alta (80-90%
FCmáx) durante 71% do tempo total de exercício.
A capacidade física do atleta se deve a um treinamento
de alta intensidade, podendo estar ligada também ao fato do
atleta ter começado a participar em eventos competitivos em
uma idade bastante precoce.
Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer a disponibilidade do
atleta avaliado ao longo da temporada competitiva em que
foi monitorado e também a Polar Eletro Oy da Finlândia e
Proximus Tecnologia do Brasil pelo suporte ao estudo.
Referências
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9/10/2008 17:00:23
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
49
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação
com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade
física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica
da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos
(CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted
to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional
de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que
são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão
atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em
pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por
um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relação a aspectos
experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional
que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos,
Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel,
etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Fisiologia v7n1.indb 49
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas
à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de
um artigo de revisão.
5. Relato ou estudo de caso
São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados
em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
8. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista.
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,
será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar
a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
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50
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte
maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e
com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos
devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,
CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública
do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise
e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c)
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão
ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A
participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o
total de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para
Fisiologia v7n1.indb 50
os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências
da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no
endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do
possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as
referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com
o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site
da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser
citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa - 20241-080 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164 - E-mail: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
51
Calendário de eventos
Setembro
Outubro
4 a 6 de setembro
9 a 11 de outubro
9th IHRSA - Fitness Brasil - Latin American Conference &
Trade Show
São Paulo, SP
Informações: www.fitnessbrasil.com.br
XXXI Simpósio Internacional de Ciência do Esporte
“Da teoria à prática: do fitness ao alto rendimento”
São Paulo, SP
Informações: www.celafiscs.org.br/
17 a 20 de setembro
10 a 12 de outubro
XII Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física
dos Países de Lingua Portuguesa
Ciências do Desporto e Educação Física: Paz, Direitos
Humanos e Inclusão Social
Porto Alegre, RS
Informações: www.esef.ufrgs.br/xiipalops
8ª Convenção Norte-Nordeste Fitness Brasil
Salvador, BA
Informações: www.fitnessbrasil.com.br
Novembro
9 a 12 de novembro
V Congresso Brasileiro de História da Educação
Aracajú, SE
Informações: www.sbhe.org.br/
Fisiologia v7n1.indb 51
9/10/2008 17:00:23
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 1 - janeiro/abril 2008
Resenha
Envelhecimento
promoção de saúde e exercício
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editora Manole
Com o aumento da expectativa de vida, iniciativas que
aumentem as chances de um envelhecimento saudável e
autônomo tornam-se cada vez mais importantes. Envelhecimento, promoção da saúde e exercício aborda as características
e precauções associadas ao planejamento e desenvolvimento
de programas de atividades físicas para idosos, com destaque
para suas bases teóricas e metodológicas.
Este volume apresenta fundamentalmente:
• Aspectos conceituais da promoção da saúde e do envelhecimento.
Fisiologia v7n1.indb 52
• Estratégias para prescrição do exercício e apreciação da
atividade física em idosos.
• Impacto dos exercícios sobre a autonomia e a qualidade
de vida.
• Instrumentos de avaliação da aptidão física e da autonomia
de forma geral
Atualizada e voltada para a realidade da população brasileira, a obra será de grande aproveitamento para profissionais
da área da saúde e esporte que trabalham com idosos.
9/10/2008 17:00:23
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 7 número 2 - maio/agosto 2008
EDITORIAL
Novos desafios, Walace D. Monteiro .......................................................................................................................... 55
ARTIGOS ORIGINAIS
Perfil nutricional de praticantes de badminton, Heloá Urban Papadopoli,
Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia, Nathalia Caldeira, Marcia Nacif ........................................................................ 56
Avaliação da qualidade de vida em pacientes submetidos à revascularização
do miocárdio que realizaram reabilitação cardíaca fase I, Jaime Luiz Nunes de Aguiar,
Fabiano Souza Barbosa, André Luis dos Santos Silva, Hélio Ricardo dos Santos,
Lamara Laguardia V. Rocha, Natália Cardoso Lima, Daniel Almeida da Costa,
Marcus Vinícius de Mello Pinto .................................................................................................................................. 60
Análise comparativa de testes laboratoriais de esteira e de campo para determinar
a freqüência cardíaca máxima e o consumo máximo de oxigênio em mulheres
saudáveis, Lawrens Fabrício Cardozo Makkai, Daniela Fantoni de Lima Alexandrino,
Janaína Lubiana Altoé, Cintia Lúcia de Lima, João Carlos Bouzas Marins ................................................................... 67
Consumo de recursos ergogênicos farmacológicos por praticantes de musculação
das academias de Santa Maria, RS, Cati Reckelberg Azambuja, Daniela Lopes dos Santos ........................................ 74
REVISÕES
Treinamento de força muscular em portadores da síndrome da fibromialgia,
Sérgio Siqueira Teotônio, José Sílvio de Oliveira Barbosa ............................................................................................. 81
Estudo sobre os fatores geradores de fadiga muscular, Daniela Silva Scalon,
Vanessa Rodrigues Figueiredo, Dernival Bertoncello ................................................................................................... 93
OPINIÃO
Protocolo de recondicionamento físico após lesão nas categorias de base
de futebol no São Paulo Futebol Clube, Marco Aurélio Buchaim Regos,
Marcus Vinicius Grecco ............................................................................................................................................ 100
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 106
EVENTOS ............................................................................................................................................................... 108
54
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Conselho Editorial
Antonio Carlos Gomes (PR)
Patrícia Chakour Brum (SP)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ)
Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Rolando Baccis Ceddia (CAN)
Dartagnan Pinto Guedes (PR)
Robert Robergs (USA)
Douglas S. Brooks (EUA)
Rosane Rosendo (RJ)
Emerson Silami Garcia (MG)
Sebastião Gobbi (SP)
Fernando Pompeu (RJ)
Steven Fleck (USA)
Francisco Martins (PB)
Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Jacques Vanfraechem (BEL)
Vilmar Baldissera (SP)
Luiz Fernando Kruel (RS)
Martim Bottaro (DF)
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu
Atlântica Editora
Rua Teodoro Sampaio, 2550/cj15
05406-200 – São Paulo – SP
Atendimento e distribuição
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
55
Editorial
Novos desafios
Walace D. Monteiro
Editor Associado da RBFEx
Este volume da Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício (RBFEx) concretiza a retomada da proposta
original de publicação trimestral do periódico. A partir de
2008 a revista retoma sua periodicidade, graças ao empenho de algumas pessoas que insistiram em não abandonar
o projeto de criação da Sociedade Brasileira de Fisiologia
do Exercício, da qual a RBFEx é órgão oficial. Além de
manter a periodicidade da revista, o próximo desafio recai
na indexação da mesma em algumas bases de dados para
o seu crescimento. Esse trabalho já está sendo realizado,
para que no próximo ano possamos aumentar o impacto
das publicações, o que despertará maior interesse dos pesquisadores da área.
Visando aumentar a demanda de artigos encaminhados à revista a partir de 2009, estamos criando áreas específicas relacionadas à fisiologia do exercício. Desta forma,
a revista passará a conter sessões direcionadas aos seguintes
aspectos: a) fisiologia do exercício aplicada ao treinamento
de alto rendimento; b) fisiologia do exercício aplicada ao
condicionamento físico de não-atletas; c) fisiologia do
exercício aplicada à prescrição de exercícios para populações
com necessidades especiais (criança, idosos, indivíduos com
problemas de saúde); d) fisiologia do exercício e nutrição;
e) fisiologia do exercício e morfologia corporal; f ) fisiologia básica. Também serão aceitos artigos de revisão sobre
temas aplicados as diferentes áreas que compõem a revista.
Por fim, é importante destacar que estamos reformulando
o sistema de envio de manuscritos através de submissão
on-line, facilitando o envio dos trabalhos para a RBFEx.
Novos revisores serão adicionados ao grupo existente para
agilizar os pareceres dos trabalhos encaminhados, o que é
fundamental para a manutenção da periodicidade e qualidade da revista. Todas essas inovações estão sendo possíveis
devido à estrutura da Atlântica Editora, que sempre nos
apoiou e incentivou.
Além de melhorar a consistência do periódico, as
inovações implementadas na RBFEx têm um desafio maior,
que é fomentar a retomada das atividades da Sociedade
Brasileira de Fisiologia do Exercício. Reconhecemos que
esse é um passo mais ambicioso, contudo, viável de ser
atingido e esperamos que a RBFEx possa contribuir. É
claro, as mudanças implementadas de nada adiantarão sem
a colaboração dos pesquisadores, enviando trabalhos para
serem publicados. Acreditamos que a maior diversificação
de áreas relacionadas à fisiologia do exercício, bem como
a retomada da periodicidade da revista sejam passos nessa
direção. Mais uma vez agradecemos aos que ajudaram e
conclamamos os interessados para enviar estudos e sugestões para o aprimoramento da revista.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Artigo original
Perfil nutricional de praticantes de badminton
Nutricional profile of badminton players
Heloá Urban Papadopoli*, Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia*, Nathalia Caldeira*, Marcia Nacif, D.Sc. **
*Graduandas em nutrição pelo Centro Universitário São Camilo, **Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar pelo HC –
FMUSP, Professora do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Paulista
Resumo
Abstract
Introdução: O badminton é um esporte individual ou de duplas,
semelhante ao tênis, praticado com raquete e uma peteca. Esta atividade física é do tipo intermitente, e exige força, velocidade, agilidade,
bons reflexos e resistência. O presente estudo teve como objetivo
realizar a avaliação dos parâmetros antropométricos e nutricionais
de atletas integrantes de uma equipe competitiva de badminton,
filiados a um clube da zona sul de São Paulo. Métodos: A amostra foi
composta por 6 atletas adolescentes, sendo verificados peso, altura,
circunferências, dobras cutâneas e dados referentes ao consumo
alimentar. Resultados: Segundo o índice de massa corpórea, 16,7%
dos jogadores apresentaram sobrepeso, enquanto 83,3% estavam
eutróficos. Em relação ao percentual de gordura corporal, 66,7%
estavam acima dos padrões recomendados, e 33,33% apresentavam
percentual de gordura adequado. O consumo médio de carboidratos,
lipídios, ferro e cálcio estavam inadequados, enquanto ao consumo
de proteínas, vitaminas A e C se mostraram adequados. Conclusão:
São necessárias intervenções nutricionais, a fim de otimizar o desempenho atlético dos jogadores de badminton estudados.
Background: The badminton is a sport of individual or double,
similar to tennis, practiced with racket and a shuttle. This physical
activity is intermittent, and requires strength, speed, agility, good
reflexes and endurance. This study aimed to carry out the evaluation
of anthropometric and nutrition parameters of athletes members of
a competitive team of badminton, affiliated to a club of the south
area of São Paulo. Methods: The sample was composed of 6 athletes
adolescents, and checked weight, height, circumferences, skinfold
thickness and data on food consumption. Results: According to the
body mass index, 16.7% of the players showed overweight, while
83.3% were normal. Regarding the percentage of body fat, 66.7%
were above the recommended standards, and 33.33% had adequate
percentage of fat. The average consumption of carbohydrates, lipids, iron and calcium were inadequate, while the consumption of
protein, vitamins A and C were adequate. Conclusion: Nutritional
interventions are needed, in order to optimize the performance of
badminton players.
Palavras-chave: badminton, consumo alimentar, adolescente,
antropometria.
Key-words: badminton, food consumption, teenager,
anthropometry.
Recebido 12 de abril de 2008; aceito em 18 de agosto de 2008.
Endereço para correspondência: Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia, Rua Doutor Roberto Zwicker, 78, 02835-010 São Paulo SP,
E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Introdução
O badminton é um esporte individual ou de duplas,
semelhante ao tênis, praticado com raquete e uma peteca ou
volante. O objetivo do jogo é, usando a raquete, rebater a
peteca sobre a rede para a quadra do adversário, sem deixar a
peteca tocar no chão. Aquele que deixar a peteca cair dentro
do seu lado da quadra, ou rebater a peteca para fora da quadra,
perde a jogada. O jogo tem duração máxima de três “games”,
o famoso melhor de três, sendo o vencedor do game aquele
jogador que atingir antes 21 pontos [1].
Esta atividade física é do tipo intermitente e exige força,
velocidade, agilidade, bons reflexos e resistência. Esse esporte
que teve sua origem na Índia, atualmente é praticado por
equipes de todos os continentes, sendo mais de 130 membros
da Federação Intermacional de Badminton (IBF) [2]. Sua
popularidade aumentou em decorrência de sua inclusão como
esporte oficial nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992,
nos Jogos Pan-Americanos de Mar del Plata, Argentina, em
1995, e principalmente no Brasil pelos Jogos Pan-Americanos
Rio 2007 [3].
Praticantes de atividade física tem uma demanda energética aumentada pelo organismo, pois a energia correponde
diretamente à capacidade do indivíduo realizar o trabalho. A
avaliação nutricional e o cálculo das necessidades nutricionais,
levando em consideração a modalidade praticada, a fase de
treinamento e os objetivos da equipe são essenciais para uma
boa performance do atleta [4].
A alimentação adequada de praticantes de atividade física
e de atletas é essencial para a manutenção da saúde, controle
do peso e da composição corporal, melhora do rendimento em
treinamentos e competições. Os nutrientes fornecem a energia
necessária para o trabalho realizado durante a atividade física,
além de otimizar a obtenção e utilização dessa energia [5].
O excesso de peso e, mais especificamente, o excesso de
gordura corporal podem ser vistos como um fator de limitação
da performance dos atletas. As características da composição
corporal dos atletas podem guiar os treinadores, preparadores
físicos e fisiologistas do exercício com informações relevantes
no decorrer de um processo de treinamento seja num determinado momento, seja durante toda uma temporada ou mesmo
em toda sua vida atlética [6].
Tendo em vista a necessidade de se conhecer melhor as particularidades de um esporte cada vez mais em ascensão como
o badminton e as características de seus atletas, o presente
estudo teve como objetivo realizar a avaliação dos parâmetros
antropométricos e nutricionais de atletas integrantes de uma
equipe competitiva de badminton, filiados a um clube da
zona sul de São Paulo – SP.
Material e métodos
Estudo transversal realizado em um clube localizado na
zona sul da cidade de São Paulo, com 6 adolescentes, 2 do
57
sexo feminino e 4 do sexo masculino, com idades entre 14 a
19 anos, praticantes de badminton.
Para a avaliação antropométrica, verificou-se o peso
corporal a partir de balança digital (marca Gradiente®, com
capacidade de 150 kg e intervalo 100 g) com a pessoa descalça,
usando roupas leves e sem nenhum acessório. O adolescente
foi orientado a ficar de costas para a balança, ereto, com os
pés juntos e braços estendidos ao longo do corpo. A altura foi
verificada utilizando-se uma fita métrica inelástica (milimetrada, da marca Fiber-glass Japan Butterfly) fixada na parede,
sem relevos, onde o adolescente também permaneceu com os
pés descalços, ereto, com os braços estendidos, cabeça livre de
adereços e erguida. Os calcanhares, nádegas e ombros foram
encostados na parede e a medição foi feita com auxílio de um
esquadro (da marca AD Designer).
Foram medidas as circunferências de braço, cintura, quadril e abdômen, com o auxílio de uma fita métrica inelástica (a
mesma utilizada para verificar a estatura). As dobras cutâneas
foram verificadas com o auxílio de adipômetro (da marca
Cescorf – Equipamentos Ltda.).
O IMC foi calculado através da fórmula P/h² (na qual,
P = peso e h = altura). Os pontos de corte utilizados foram
àqueles propostos pela curva de IMC/IDADE da Organização
Mundial da Saúde [7].
O risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares
foi estimado a partir dos valores de perímetro abdominal,
segundo a IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose do Departamento de Aterosclerose da
Sociedade Brasileira de Cardiologia [8] e os pontos de corte
para análise do abdômen isolado são: mulheres com valores
de CA acima de 80 cm e homens com valores de CA maiores
a 94 cm foram classificados como apresentando um acúmulo
de gordura abdominal considerado como risco associado ao
desenvolvimento de doenças ligadas à obesidade.
A porcentagem de gordura foi calculada segundo as equações de Slaughter [9] e classificada de acordo com os pontos
de corte de Deurenberg [10].
Para a avaliação do consumo alimentar foi aplicado um
recordatório de 24 horas aos atletas, a fim de avaliar a adequação nutricional, em relação ao valor calórico, macro e
micronutrientes. Estes dados foram calculados por meio do
software Avanutri.
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro Universitário São Camilo, por meio do
documento 047/05.
Resultados
Foram avaliados 6 atletas com idade média de 16 anos.
Todos treinavam badminton com freqüência de 6 vezes na
semana, tendo os treinos duração de 2 horas.
Na tabela I podem ser observados os valores médios,
mínimos e máximos e desvios-padrão obtidos na avaliação
antropométrica dos atletas.
58
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Tabela I - Valores médios, mínimos, máximos e desvios-padrão dos
parâmetros antropométricos dos jogadores adolescentes de badminton.
São Paulo, 2008.
Parâmetros antropométricos
Peso (kg)
Estatura (cm)
IMC (kg/m²)
Circunferência do
braço (cm)
Circunferência abdominal (cm)
Circunferência do
quadril (cm)
Circunferência da
cintura (cm)
Dobra cutânea triciptal (mm)
Dobra cutânea biciptal (mm)
Dobra cutânea
suprailiaca (mm)
Dobra cutânea
abdominal (mm)
Dobra cutânea subescapular (mm)
% de gordura
ferro e cálcio está abaixo do recomendado pela Diretriz da
Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte [4].
Média
60,5
165
22,2
Desviopadrão
5,43
7,38
1,08
MáxiMínimo mo
53,5
68
156
177
20,86 24,09
27,78
1,86
26
31,5
80,6
4,4
75,5
86,5
95,58
3,12
91,5
99,5
73,86
4,97
71
80,5
15,5
3,69
10
20
10,5
2,87
6
14
Discussão
15
4
9
21
20
6,83
11
31
10,8
21,38
1,46
4,28
9
14,6
13
25,7
A composição corporal e a força muscular podem tanto
refletir no estado de saúde como predizer o desempenho em
determinadas modalidades esportivas [12]. Tendo em vista a
falta de estudos realizados com atletas e praticantes de badminton, é muito difícil precisar quais são as exigências fisiológicas
ocasionadas pela prática deste esporte e os reflexos que essas
exigências acarretarão na composição corporal dos jogadores.
Os jogadores adolescentes de badminton, participantes
do presente estudo, mostraram-se eutróficos em sua maioria
em relação ao IMC, dado também observado por Nunes e
Pazin [13], em estudo com jogadores adolescentes de tênis
de campo.
Em estudo com jogadores de basquete com idade média
de 15,1 anos foi observado que 57,1% dos adolescentes apresentavam percentual de gordura corporal acima dos padrões
recomendados, e nenhum atleta apresentava percentual de
gordura baixo ou muito baixo [14]. No presente estudo foram
observados 66,7% dos atletas com percentual de gordura
acima dos padrões recomendados por Deurenberg et al. [10]
e nenhum atleta apresentou percentual de gordura baixo ou
muito baixo.
A adequação do consumo energético e nutricional é essencial para a manutenção da performance, da composição
corporal e da saúde desses indivíduos. A baixa ingestão de
energia pode resultar em fornecimento insuficiente de importantes nutrientes relacionados ao metabolismo energético,
à reparação tecidual, ao sistema antioxidante e à resposta
imunológica [15].
O consumo energético médio encontrado foi de 2349,72
Kcal. Apesar de se considerar uma grande variação individual
do gasto energético, estes valores merecem uma análise cuidadosa, pois desvios no consumo de energia trazem consigo
alterações metabólicas e fisiológicas.
A avaliação do estado nutricional dos atletas, por meio do
indicador IMC, mostrou que 16,7% (n = 1) dos jogadores
apresentaram sobrepeso (classificados entre os percentis 85 e
97), enquanto 83,3% (n = 5) estavam eutróficos.
Com relação aos valores de percentual de gordura corporal,
verificou-se que 66,7 % (n = 4), estavam acima dos padrões
recomendados por Deurenberg et al. [10], e 33,33% (n = 2)
apresentavam percentual de gordura adequado.
De acordo com a IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias
e Prevenção da Aterosclerose do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia [8], nenhum atleta
apresentou risco para doenças cardiovasculares.
Na Tabela II podem ser observados valores médios e
desvio-padrão de calorias, macronutrientes e micronutrientes
do recordatório de 24h dos atletas de badminton.
Em relação ao consumo alimentar pôde-se observar que
o consumo médio de carboidratos dos atletas está abaixo do
recomendado, que é de 60-70% do aporte calórico segundo
a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, enquanto
que a média do consumo de lipídios está acima dos 30% do
VET recomendados por esta Instituição. Quanto à ingestão
média de proteínas verificou-se que os valores consumidos
pelos atletas estão de acordo com a recomendação de 1,2 a
1,6 g/kg/peso [4].
A média de ingestão das vitaminas A e C está adequada,
segundo as DRIs [11]. De forma contrária, a ingestão de
Tabela II - Valores médios e desvios-padrão de calorias, macro e
micronutrientes do recordatório de 24h dos jogadores adolescentes
de badminton. São Paulo, 2008.
Calorias, macro e micronutrientes
Carboidrato (% VET*)
Lipídio (% VET)
Proteína (% VET)
Caloria
Vitamina A (μg)
Vitamina C (mg)
Ferro (mg)
Cálcio (mg)
Média
49,79
34,3
15,92
2349,72
665,48
123,87
12,65
576,22
Desvio
padrão
7,93
5,59
3,89
201,34
266,13
97,9
5,73
292,33
*VET = Valor Energético Total
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
As recomendações de carboidratos para atletas são de
6-10 g/kg de peso corporal por dia ou 60-70% da ingestão
energética diária; entretanto, a necessidade individual dependerá do gasto energético, da modalidade esportiva, do
sexo e das condições ambientais. A média de consumo de
carboidratos foi de 49,79% do VET neste estudo, estando
abaixo do recomendado. O consumo adequado de carboidratos é fundamental para a otimização dos estoques iniciais
de glicogênio muscular, a manutenção dos níveis de glicose
sangüínea durante o exercício e a adequada reposição das
reservas de glicogênio na fase de recuperação [4,15].
Em geral, a ingestão dietética de lipídios de atletas deve
seguir as recomendações para a população geral, ou seja, não
deve ultrapassar 30% do VET. No presente estudo observouse um consumo médio de 34,3% do VET, sendo este um
valor acima da recomendação e que exige atenção, pois o
elevado consumo de lipídios pode significar um déficit na
ingestão de carboidratos, dado observado no presente estudo,
representando menores quantidades de glicogênio e perda de
performance [4,5].
As proteínas contribuem para o fornecimento de energia
em exercício de endurance, sendo ainda necessária na síntese
protéica muscular no pós-exercício. Atualmente, recomendase que os atletas de endurance tenham uma ingestão diária de
proteínas entre 1,2 a 1,6 g/kg/peso corporal [4]. O consumo
médio de proteínas encontrado foi de 15,92% do VET,
estando adequado.
As vitaminas e minerais participam de processos celulares
relacionados ao metabolismo energético; contração, reparação
e crescimento muscular; defesa antioxidante e resposta imune. Contudo, tanto o exercício agudo como o treinamento
podem levar a alterações no metabolismo, na distribuição e
na excreção de vitaminas e minerais. Em vista disso, as necessidades de micronutrientes específicos podem ser afetadas
conforme as demandas fisiológicas, em resposta ao esforço
[16]. A média de ingestão das vitaminas A e C estava adequada
segundo as DRIs.
A ingestão média de ferro e cálcio se mostrou insuficiente
em todos os atletas. O consumo insuficiente de ferro causa
fadiga e anemia, diminuindo o desempenho e interferindo no
treinamento. Recomenda-se atenção especial ao consumo de
alimentos com ferro, de elevada biodisponibilidade [4,16].
O consumo adequado de cálcio é particularmente importante para a mineralização adequada e manutenção do osso em
crescimento, prevenindo a ocorrência de fraturas e também a
osteoporose. Esta substância é perdida no suor e o exercício
pode aumentar sua necessidade em atletas [16,17].
Conclusão
Embora a maioria dos atletas tenha se apresentado eutrófico em relação ao IMC, houve elevada prevalência de
indivíduos com porcentagem de gordura acima dos padrões
recomendados.
59
Analisando os dados de ingestão de macronutrientes e
micronutrientes, acredita-se que sejam necessárias intervenções nutricionais, a fim de otimizar o desempenho atlético
dos jogadores de badminton.
Assim, são necessários mais estudos sobre avaliação do
estado nutricional e de hábitos alimentares, e que visem a
determinação do gasto energético e do perfil ideal de jogadores
e praticantes desta modalidade esportiva.
Referências
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[citado 2008 Fev 17]. Disponível em: URL: http://www.fpbadminton.pt/BadmintoneaHistoria.pdf
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[citado 2008 Fev 13]. Disponível em: http://www.badminton.
org.br/badminton.asp.
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competitive badminton. Br J Sports Med 2003;37:62-66.
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dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas:
comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde.
Rev Bras Med Esporte 2003;9:1-13.
5. Viebig RF, Nacif M. Recomendações nutricionais para a atividade física e o esporte. Rev Bras Educ Fís Esp 2006;1:2-14.
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atletas de basquetebol do sexo masculino participantes da liga
nacional 2003. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum
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[citado 2007 Fev 25]. Disponível em: http://www.who.int/
growthref/en/
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9. Slaughter MH. Skinfolds equations for estimation of body fatness
in children and youth. Am J Hum Biol 1988;60:709-723.
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body fat percentage by skin fold thickness measurements in childhood and young adolescence. Br J Nutr 1990;63:293-303.
11. Dietary Reference Intakes (DRIs). [citado 2007 Mar 13].
Disponível em: URL: http://www.nap.edu.
12. Schneider P, Meyer F. Avaliação antropométrica e da força
muscular em nadadores pré-púberes e púberes. Rev Bras Med
Esporte 2005;11:209-213.
13. Nunes JC, Pazin J. Utilização de técnica alométrica na análise
de variáveis aplicadas ao tênis de campo infanto-juvenil. Revista
Digital Efdeportes [serial online] 2006;11.
14. Viebig RF. Estado nutricional de atletas adolescentes praticantes
de basquetebol de um clube de São Paulo. Cadernos Centro
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FAG. Consumo alimentar de atletas: reflexões sobre recomendações nutricionais, hábitos alimentares e métodos para avaliação
do gasto e consumo energéticos. Rev Nutr 2007;20:681-692.
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60
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Artigo original
Avaliação da qualidade de vida em pacientes
submetidos à revascularização do miocárdio
que realizaram reabilitação cardíaca fase I
Evaluation of quality of life in patients submitted
to myocardial revascularization that participated in a phase I
cardiac rehabilitation program
Jaime Luiz Nunes de Aguiar, Esp*, Fabiano Souza Barbosa, Esp*, André Luis dos Santos Silva, D.Sc.*, Hélio Ricardo dos
Santos, D.Sc.*, Lamara Laguardia V. Rocha, M.Sc.*, Natália Cardoso Lima**, Daniel Almeida da Costa, Esp ***, Marcus
Vinícius de Mello Pinto, D.Sc.****
*Fisioterapeutas, Professores da Faculdade de Minas (FAMINAS – MG), **Graduanda em Fisioterapia da Faculdade de Minas
(FAMINAS – MG), ***Médico, Professor da Faculdade de Minas. FAMINAS – MG e Mestrando em Ciências da Reabilitação do
Centro Universitário de Caratinga – MG, ****Professor e Pesquisador do Laboratório de Inflamação, Dor e Laser – LABIINFLA do
Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação do Centro Universitário de Caratinga – MG
Resumo
Abstract
O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade de vida de pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio que
participaram de um programa de reabilitação cardíaca fase I. Foram
incluídos neste estudo 11 indivíduos de ambos os sexos (63,63% do
sexo masculino e 36,36% do feminino) com faixa etária variando
entre 33 e 73 anos e submetidos à cirurgia de revascularização do
miocárdio, com quadro clínico estável, participantes do programa
de reabilitação cardíaca fase I. Os dados foram obtidos após realização da cirurgia utilizando como instrumento o questionário
WHOQOL-Bref. A análise dos resultados aponta um nível de
satisfação elevada em várias modalidades avaliadas; 63,60% dos pacientes classificam sua qualidade de vida como boa e têm capacidade
de locomoção funcional. Apesar de revelarem que a dor é um fator
limitante de algumas atividades (45,40%) e que houve prejuízo em
relação ao sono (45,40%); consideram-se satisfeitos na capacidade de
realizar atividades diárias (63,60%). Este estudo sugere os benefícios
da reabilitação cardíaca fase I, a qual proporcionou autoconfiança e
retorno às atividades diárias.
The objective of this study was to evaluate quality of life of
patients who underwent myocardial revascularization surgery and
participated in a phase I cardiac rehabilitation program. 11 individuals of both genders (63.63% male and 36.36% female), aged 33-73
years old, were submitted to myocardial revascularization surgery,
with stable clinical course, and carried out a phase I cardiac rehabilitation program. Data were obtained after a surgery’s procedure,
by using a questionnaire WHOQOL-Bref. The results suggested a
high level of treatments satisfaction; 63.60% of the patients classified
their life quality as good and have locomotor capacity. Although
they confirm that the most common activity limitation was pain
(45.40%) and had some problems to sleep (45.40%) they were
satisfied to perform daily activities (63.60%). This study suggests
the benefits of phase I cardiac rehabilitation, which have provided
self-confidence and return to daily activities.
Key-words: myocardial revascularization, quality of life, cardiac
rehabilitation.
Palavras-chave: revascularização do miocárdio, qualidade de
vida, reabilitação cardíaca.
Recebido em 12 de março de 2008; aceito em 19 de agosto de 2008.
Endereço para correspondência: Marcus Vinícius de Mello Pinto, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Introdução
A reabilitação cardíaca (RC) é o processo de desenvolvimento e manutenção do nível desejável de atividade física,
social e psicológica após o início da doença coronária sintomática. Os maiores objetivos são: melhora da capacidade
funcional e da qualidade de vida, mudança de hábitos após
evento coronário, modificação dos fatores de risco e redução
dos índices de mortalidade.
Os benefícios ocorrem a partir de oito semanas, destacando-se os aumentos entre 30% e 40% do consumo máximo de
oxigênio e entre 30% e 35% na capacidade de exercício.
Melhora da qualidade de vida e estabilidade psicológica
também são relatadas após período de 3 a 6 meses [1].
A avaliação da qualidade de vida (QV) é de suma importância, uma vez que permite perceber o impacto que a doença
e as terapêuticas têm nas diferentes áreas de funcionamento do
doente, estendendo-se desde o nível somático, com a avaliação
dos sintomas físicos, a capacidade funcional e o sono, até à
avaliação das respostas emocionais, da capacidade de recreação
e sensação de bem-estar.
A fase I da RC aplica-se ao paciente internado. É o passo inicial em direção a uma vida ativa e produtiva. Devem
predominar a combinação de exercício físico de baixa intensidade, técnicas para o controle do estresse e programas de
educação em relação aos fatores de risco. O programa, nesta
fase, objetiva que o paciente tenha alta hospitalar com as
melhores condições físicas e psicológicas possíveis, munido
de informações referentes ao estilo saudável de vida.
O presente estudo teve como objetivo avaliar a qualidade
de vida em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização
do miocárdio que participaram do programa de reabilitação
cardíaca fase I, através do questionário WHOQOL-Bref.
Fatores de risco para doença cardiovascular
A doença cardiovascular (DC) é multifatorial e sistêmica, ligada a fatores hereditários, ambientais e de comportamento [2].
É nesse conjunto de fatores de risco que a RC atua, em
nível primário tentando diminuir a incidência da doença arterial coronariana (DAC), e em nível secundário pela redução
da morbidade e mortalidade. A prática de exercícios físicos,
isoladamente, parece trazer benefício pequeno em relação à
morbidade e mortalidade na DAC. Ocorre diminuição mais
significativa destas taxas com a associação do exercício à correção dos vários fatores de risco cardiovasculares e mudanças
dos hábitos de vida [3].
Um dos principais fatores de risco para complicações
cardiovasculares é a hipertensão arterial sistêmica (HAS), pois
atua diretamente na parede das artérias, podendo produzir
lesões. Daí a importância do tratamento anti-hipertensivo na
redução da morbidade e mortalidade cardiovasculares [4].
A HAS é o fator mais importante: 80% das mortes por
acidente vascular cerebral estão associadas à hipertensão arte-
61
rial, enquanto que 40% das mortes por doenças coronarianas
se acompanham de hipertensão. Além disso, a doença hipertensiva causa diretamente a morte de 5% dos que morrem
por doenças cardiovasculares [5].
Infarto agudo do miocárdio
Entre as doenças cardiovasculares, a de maior incidência
é a DAC cujas principais manifestações clínicas são a angina
pectoris, o infarto agudo do miocárdio (IAM) e a morte
súbita [3].
Aspectos como utilização de novas tecnologias de reconhecida eficácia, admissão em uma unidade de terapia intensiva,
tempo decorrido entre o início dos sintomas e o primeiro
atendimento têm mostrado importante impacto na redução
da letalidade por IAM [6].
A indicação de cirurgia de revascularização do miocárdio (CRVM) precoce, realizada logo após o IAM, tem sido
amplamente discutida com base em observações clínicas,
sem que haja consenso sobre os riscos e benefícios deste
procedimento, bem como, sobre o intervalo de tempo ideal
entre o procedimento e o IAM. Durante muito tempo a revascularização precoce foi considerada de risco. Entretanto,
mais recentemente, têm sido registrados baixos índices de
morbi-mortalidade em pacientes operados nos primeiros dias
ou semanas após o IAM [7].
Cirurgia de revascularização do miocárdio
A introdução a CRVM, há mais de duas décadas, possibilitou uma nova e eficaz terapêutica a pacientes com doença
arterosclerótica avançada, com alívio sintomático em grande
número de pacientes e aumento da sobrevida em alguns
subgrupos [8].
Na CRVM um vaso sangüíneo (geralmente a veia safena
e/ou a artéria mamária interna) é anastomosado com a artéria coronária; distal ao ponto ocluído, e a aorta ascendente,
de forma a isolar o local do vaso obstruído e restabelecer a
perfusão da artéria coronária. O objetivo da revascularização do miocárdio é aliviar a angina e preservar a função do
miocárdio [9].
A cirurgia é uma das opções no tratamento cirúrgico
destes indivíduos e tem como objetivos: prolongar a vida,
promover alívio da dor de angina e melhorar a qualidade de
vida dos pacientes [10].
Reabilitação cardíaca
Apesar de ser considerada modalidade terapêutica segura, no
Brasil os benefícios dos programas estruturados de reabilitação
são ainda pouco mobilizados em prol dos pacientes. [11]
Os estudos atuais permitem afirmar que a RC tem resultados significativos tanto no prolongamento da sobrevida com
qualidade, no controle das alterações patológicas, como na
62
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
regressão da placa arterosclerótica do indivíduo com DAC.
Isso permite o retorno mais rápido às atividades laborativas,
redução no número de re-internações hospitalares e redução
nos custos a longo prazo [12]
Idealizada inicialmente para portadores de DAC, a RC
abrange também os pacientes com HAS, doença arterial
periférica, valvopatia, cardiopatia congênita, particularmente
na sua fase pós-operatória e, mais recentemente, insuficiência
cardíaca e transplante cardíaco [13].
Os programas de reabilitação cardiovascular normalmente
compreendem três ou quatro fases distintas de atuação[14].
Inicialmente a fase I compreende o período de convalescença ou fase hospitalar. Esta deve ter sua duração em
torno de 7 a 14 dias e tem seu início em até 24 horas após
o desaparecimento dos sintomas ou de eventuais complicações. Sua finalidade é inspirar confiança ao paciente, reduzir
a tensão e o medo, evitar a ocorrência de tromboses venosas,
atelectasias pulmonares e reduzir os malefícios do repouso
sobre a capacidade física [15]. Inicia-se após o paciente ter
sido considerado compensado clinicamente.
A fase II se inicia quando o paciente tem alta hospitalar e
volta para casa. Nesta fase, o paciente deve ser submetido a trabalho de equipe multidisciplinar que objetive, além da prática
orientada e supervisionada de exercícios, fornecer orientação
nutricional e esclarecimentos [16]. Em relação à fase III da
reabilitação cardiovascular, sugere-se também o emprego de
atividades para o ganho de flexibilidade, elasticidade muscular,
força e resistência muscular, capacidade cardiorespiratória,
bem como da melhora da composição corporal. Tais atividades
têm como finalidade gerar incrementos nos componentes da
aptidão física, facilitando a realização das atividades físicas
diárias [17]. A fase IV é considerada como sendo de manutenção a longo prazo. Nesta fase devem ser enfatizados tipos
diferentes de exercícios de força e resistência muscular, bem
como a independência do paciente [18].
Qualidade de vida
A qualidade de vida (QV) está diretamente relacionada
com a recuperação depois da cirurgia cardíaca, em especial
à dimensão física. O indicador de uma baixa qualidade de
vida após a cirurgia cardíaca é uma deficiente recuperação do
estado funcional, ainda no período hospitalar [19].
A QV foi definida pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) como “a percepção do indivíduo sobre a sua posição
na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos
quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas,
padrões e preocupações”[20].
Assim, inicialmente, foi desenvolvido um instrumento de
avaliação de QV com 100 questões (o WHOQOL-100). O
desenvolvimento do WHOQOL-100 seguiu a metodologia
envolvendo a participação de vários países, representando
diferentes culturas, tendo sido desenvolvida uma versão
brasileira [21].
A necessidade de instrumentos curtos que demandem
pouco tempo para seu preenchimento, mas com características
psicométricas satisfatórias, fez com que o Grupo de Qualidade de Vida da OMS desenvolvesse uma versão abreviada do
WHOQOL-100, o WHOQOL-Bref [20].
Dados demonstram que o impacto do treinamento físico
associado à mudança de estilo de vida diminuiu a mortalidade
cardíaca de 20 a 35%. A redução na mortalidade aumenta a
longevidade, aumentando a expectativa de vida; com isto a preocupação em estudar a qualidade de vida das pessoas [12].
Materiais e métodos
Onze indivíduos de ambos os sexos com faixa etária
compreendida entre 33 e 73 anos que foram submetidos à
cirurgia de revascularização Miocárdica participaram do programa de reabilitação cardíaca fase I do Hospital Prontocor,
Muriaé – MG.
Foi entregue a todos os participantes o questionário autopreenchível, WHOQOL-Bref, composto de 26 questões,
após a realização da CRVM.
O questionário utilizado consta de 26 questões, sendo
duas questões gerais de qualidade de vida e as demais 24 representam cada uma das 24 facetas que compõe o instrumento
original [20]. Estas 24 questões são agrupadas em quatro
domínios: físico (7 itens), psicológico (6 itens), relações sociais
(3 itens) e meio ambiente (8 itens).
O instrumento não admite um escore total de QV, portanto cada domínio é pontuado de forma independente,
entretanto o questionário permite a obtenção de um escore
bruto para cada domínio.
Assim, após o cálculo do escore bruto é possível obter uma
média geral de cada domínio e dessa forma, o escore pode
variar de zero a cem, sendo que quanto maior o valor, melhor
é o domínio de qualidade de vida avaliado.
A pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Ética em
Pesquisa do Hospital Prontocor e da Faculdade de Minas –
FAMINAS.
Resultados
A média de idade da população de estudo foi de 57.72
anos, sendo 63,64% do sexo masculino com média de idade
de 61,85 anos e o restante 36,36% pertencentes ao sexo
feminino com média de idade de 50,5 anos.
Em relação ao preenchimento correto do questionário
WHOQOL-Bref, 36,40% dos participantes foram capazes de
realizar o preenchimento sem auxílio. Já 63,60% necessitaram
do auxílio do entrevistador.
Nas tabelas abaixo, pode-se observar a análise das perguntas
presentes no questionário de acordo com as opções de resposta.
Ao serem questionados sobre como avaliavam sua qualidade de vida, 63,6% dos pacientes classificam sua qualidade
de vida como boa (Tabela I).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
63
Tabela I - Distribuição percentual frente à primeira questão do WHOQOL- Bref.
Situação
Muito ruim
Como você avaliaria sua qualidade 0%
de vida
Ruim
0%
Nem ruim nem boa
27,3%
Boa
63,6%
Muito Boa
9,1%
Tabela II - Distribuição percentual frente à segunda questão do WHOQOL-Bref.
Situação
Muito insatisfeito
0%
Satisfação com a sua saúde
Insatisfeito
0%
Nem satisfeito
nem insatisfeito
9,1%
Satisfeito
Muito satisfeito
63,6%
27,3%
Tabela III - Distribuição percentual frente às questões de 3 a 9 do WHOQOL-Bref.
Situação
Nada
Muito pouco
Dor como fator limitante
Necessidade tratamento médico
O quanto você aproveita a vida
Sua vida tem sentido
Capacidade de concentração
Segurança com vida diária
Quão saudável é o seu ambiente físico
0%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
27,30%
18,20%
27,30%
9,10%
9,10%
36,30%
0%
Mais ou
menos
27,30%
18,20%
36,30%
9,10%
54,50%
27,30%
18,20%
Bastante
Extremamente
45,40%
54,50%
27,30%
36,40%
27,30%
27,30%
36,40%
0%
9,10%
9,10%
45,40%
9,10%
9,10%
45,40%
Tabela IV - Distribuição percentual frente às questões de 10 a 14 do WHOQOL-Bref.
Situação
Energia suficiente para seu dia-a-dia
Você é capaz de aceitar sua aparência física
Dinheiro suficiente para suas necessidades
Informações disponíveis para seu dia-a-dia
Oportunidades de atividade de lazer
Nada
0%
9,10%
0%
0%
9,10%
Muito pouco
0%
0%
27,30%
0%
27,30%
Médio
63,60%
27,30%
45,40%
9,10%
9,10%
Muito
36,40%
36,30%
18,20%
63,30%
54,40%
Completamente
0%
27,30%
9,10%
27,30%
10,00%
Tabela V - Distribuição percentual frente à décima quinta questão do WHOQOL-Bref.
Situação
Capacidade de locomoção
Muito ruim
0%
Ruim
0%
Nem ruim nem bom
18,20%
Bom
18,20%
Muito bom
63,30%
Tabela VI - Distribuição percentual frente às questões 16 a 25 do WHOQOL-Bref.
Situação
Muito insatisfeito
Satisfação com sono
0%
Satisfação no desempenho atividades vida diária 0%
Capacidade para trabalho
18,20%
Quão satisfeito (a) você está consigo mesmo
0%
Satisfação com suas relações pessoais
0%
Quão satisfeito (a) você está com sua vida
0%
sexual
Satisfação com apoio dos amigos
0%
Satisfação com moradia
0%
Satisfação com acessoao serviço de saúde
0%
Satisfação com meio deTransporte
0%
Insatisfeito
27,30%
18,20%
27,30%
0%
0%
18,20%
Nem satisfeito
nem insatisfeito
45,40%
63,60%
36,30%
0%
9,10%
18,20%
Satisfeito
18,20%
18,20%
18,20%
90,90%
54,40%
9,10%
Muito satisfeito
9,10%
0%
0%
9,10%
36,40%
0%
0%
0%
0%
0%
9,10%
0%
27,30%
27,40%
54,40%
63,60%
45,40%
36,30%
36,40%
36,40%
27,30%
36,30%
Tabela VII - Distribuição percentual frente a vigésima sexta do WHOQOL-Bref.
Situação
Freqüência de sentimentos
negativos
Nunca
45,40%
Algumas vezes Freqüentemente
45,40%
9,20%
Muito freqüentemente
0%
Sempre
0%
64
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Em relação à satisfação com sua saúde, os pacientes revelam satisfação, já que 63,3% assinalaram essa alternativa e
27,3% se consideram muito satisfeitos (Tabela II).
As questões de 3 a 9 apresentam como opção de resposta
nada-muito-mais ou menos-bastante e extremamente. O
percentual geral obtido em cada questão se apresenta na
Tabela III.
As questões de 10 a 14 têm como opção de resposta:
nada-muito pouco-médio-muito e completamente, assim,
na Tabela IV, apresentamos os percentuais gerais obtidos
nessas questões.
Em relação à capacidade de locomoção, esse não foi um
fator que obteve prejuízo após a CRVM, já que 63,60% dos
pacientes revelaram que sua capacidade para locomoção está
muito boa (Tabela V).
As questões de 16 a 25 têm como opção de resposta
muito insatisfeito-insatisfeito-nem satisfeito, nem insatisfeitosatisfeito-muito satisfeito. As respostas obtidas se mostram na
forma de percentuais gerais, conforme Tabela VI.
Quando questionados em relação à freqüência com que
sentem sentimentos negativos, tais como ansiedade e depressão, observa-se que apenas 9,20% dos pacientes têm esses
sentimentos frequentemente e 45,40% nunca ou algumas
vezes. (Tabela VII)
Em relação à pontuação frente aos domínios do questionário utilizado, realizou-se a distribuição da pontuação obtida
por cada indivíduo (Tabela VIII).
Tabela IX - Média (desvio padrão) do escore bruto de cada domínio,
segundo sexo.
Domínios
Físico
Psicológico
Relações sociais
Meio ambiente
Sexo
Masculino
20 (2.08)
23.4 (1.90)
10.4 (2.93)
31.1 (4.52)
Feminino
23.2 (3.09)
22 (0.81)
9.7 (2.62)
29. (5.74)
Ao estratificar por gênero percebe-se que os indivíduos
do sexo masculino mostraram índices maiores de qualidade
de vida com relação ao sexo oposto, entretanto esses valores
permaneceram muito próximos demonstrando qualidade de
vida adequada para ambos os sexos (Gráfico 1).
Gráfico 1 - Média geral do somatório dos domínios, estratificado
por sexo.
Tabela VIII - Distribuição absoluta dos escores brutos frente a
cada domínio.
Físico
Psicológico
Relações
sociais
Meio ambiente
Indivíduo 1
21
26
8
40
Indivíduo 2
25
23
12
37
Indivíduo 3
18
24
8
27
Indivíduo 4
18
24
8
27
Indivíduo 5
26
22
11
25
Indivíduo 6
19
21
6
25
Indivíduo 7
23
25
12
33
Indivíduo 8
18
23
11
29
Indivíduo 9
20
21
10
30
Indivíduo 10
23
22
10
31
Indivíduo 11
22
21
16
32
Ao dicotomizar por faixa etária percebe-se que os indivíduos acima de 60 anos relataram melhor qualidade de vida
em relação aos menores que 60 anos (Gráfico 2).
Gráfico 2 - Média geral do somatório dos domínios após dicotomização por idade.
A Tabela IX mostra a média do escore bruto obtido em
cada domínio de acordo com o sexo.
Ao examinar cada dimensão, observa-se que o maior escore
dentre os domínios foi alcançado pelo escore meio ambiente,
com média de 30,5%. Logo após, o domínio relações pessoais com média 22,5%. O domínio psicológico e o domínio
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
físico se mostram posteriormente com médias de 20,18% e
10,18%, respectivamente.
Gráfico 3 - Média do escore bruto para cada domínio.
A média e a mediana do escore geral foram 84,81 (dp =
8,37) e 84 pontos, respectivamente, demonstrando boa qualidade de vida entre os participantes. A faixa de pontuação obtida nos escores brutos do WHOQOL variou de 71 a 97.
Discussão
Apesar dos receios provenientes da cirurgia e de todo o
processo pós-operatório, observou-se, após a realização da
cirurgia, que os pacientes sentiam-se satisfeitos de forma
geral. Estes resultados suportam os achados, que estudaram 862 pacientes provenientes de CRVM e submetidos à
fase I da RC [22]. Em relação à satisfação com sua saúde,
este estudo identifica a mesma porcentagem em relação à
satisfação com a qualidade de vida. O autor ainda revela
que tais pacientes haviam retornado às atividades diárias
mais rapidamente por sentirem-se preparados fisicamente
para este retorno e emocionalmente estáveis, semelhantes
aos nossos resultados.
É relatado que os pacientes que passaram pela reabilitação
cardíaca não perceberam benefícios além daqueles decorrentes do procedimento cirúrgico [23]. Tais pacientes foram
entrevistados 6 meses e 1 ano após a cirurgia e tiveram suas
respostas equiparadas aos pacientes que não passaram pela
reabilitação.
Em nosso estudo, observa-se que a dor física ainda é
um limitante das atividades. A dor do paciente reduz a
movimentação, evita respiração profunda, e interrompe o
sono, provocando desgaste físico e menor motivação para o
tratamento [24].
Observou-se que os pacientes que passaram pela reabilitação cardíaca no período hospitalar, relataram ganhos no
campo emocional mesmo tendo sido entrevistados 6 meses
após a cirurgia [25].
De acordo com um determinado estudo, os pacientes
relataram (12%) comprometimento de funções intelectuais,
65
como a memória [14]. Em nosso estudo, esta não foi uma
variável que mostra insatisfação por parte dos pacientes.
Com relação à alteração no padrão de humor, relatada no
grupo estudado como tristeza, depressão e desânimo, alguns
autores referem que no período pós-operatório do paciente
revascularizado são comuns crises de choro e momentos de
tristeza por se tratar de um tempo de reflexão para o doente
que costuma analisar sua vida anterior [26]. Em nosso estudo
a grande maioria revela nunca ter sentimentos negativos. Este
é um resultado que leva em consideração o bom nível de satisfação revelado em outros aspectos, tais como: segurança no
dia-a-dia, condições favoráveis de moradia e transporte, acesso
aos serviços de saúde e apoio de amigos e familiares.
Na categoria locomoção, os pacientes revelam que estão
satisfeitos. Por isso, a importância da reabilitação cardíaca em
todos os aspectos, incluindo realização de um plano educacional e orientação para alta hospitalar, além disso, o paciente ao
receber alta hospitalar, deve estar confiante em sua capacidade
de enfrentar a situação doméstica [13].
No presente estudo os pacientes revelam insatisfação moderada em relação à capacidade de trabalho por não estarem
aptos ao retorno de suas atividades.
Quanto às atividades sexuais, revela-se que após cirurgia
de RVM, há tendência ao não retorno à vida sexual na população estudada [18]. Esta situação pode ser evidenciada
em nosso estudo, já que entre aqueles que responderam esse
quesito, apenas uma pequena parcela mostra-se satisfeito com
sua vida sexual.
Conclusão
Após um mês da realização da cirurgia de revascularização
miocárdica, a avaliação de qualidade de vida dos participantes
deste estudo revela que a autoconfiança foi devolvida, trazendo
melhor perspectiva de vida e segurança para a retomada das
atividades da vida diária.
Os participantes encontravam-se física e emocionalmente
melhores, referindo benefícios trazidos pela reabilitação cardíaca. Isto leva a concluir a importância de estudos qualitativos
e quantitativos para orientar a elaboração de demais estratégias
que maximizem os efeitos da reabilitação cardíaca em todos
os grupos de pacientes.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
67
Artigo original
Análise comparativa de testes laboratoriais
de esteira e de campo para determinar a freqüência
cardíaca máxima e o consumo máximo de oxigênio
em mulheres saudáveis
Comparative analysis between treadmill laboratory tests and field tests
to determine the maximum heart rate and maximal oxygen uptake
in healthy women
Lawrens Fabrício Cardozo Makkai*, Daniela Fantoni de Lima Alexandrino**, Janaína Lubiana Altoé***,
Cintia Lúcia de Lima****, João Carlos Bouzas Marins, D.Sc.*****
*Especialista em avaliação e prescrição de atividades motoras para portadores de necessidades especiais e grupos especiais (em andamento) pela UNIFOA e participante do Grupo de Pesquisa - Aspectos Biodinâmicos do Movimento Humano (UFJF), **Especialista
em musculação e personal trainer (UCB), Especialista em organização e administração da recreação e do lazer (em andamento)
pela UFJF e participante do grupo de pesquisa Corpo e Diversidade cadastrado no CNPq pela FAEFID (UFJF), ***Educação
Física, Universidade Federal de Viçosa (UFV), ****Educação Física, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Especialista em Educação pela UNIPAC e participante do Grupo de Pesquisa Corpo e Diversidade cadastrado no CNPq pela FAEFID
(UFJF),*****Professor Adjunto e coordenador do Laboratório de Performance Humana (LAPEH) do departamento de Educação
Física da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Resumo
Abstract
Os objetivos deste estudo foram comparar e analisar as respostas
da FCmáx e do VO2máx de dois protocolos máximos de esteira (Bruce
e Balke) e dois de campo (Cureton 1600 m e Cooper 2400 m),
além de comparar os dados da FCmáx obtida com a predita pelas
equações de estimação da FCmáx de Tanaka e Marins. Foram avaliadas mulheres (n = 30) com idade média 22,4 ± 1,44 anos. Para
determinar as diferenças entre VO2máx e FCmáx (obtida e estimada)
optou-se pelo teste de análise da variância Anova One Way, múltiplas
comparações – Tukey. Os resultados do VO2máx indicam haver diferença significativa entre os protocolos, exceto entre Balke e Cureton.
Concluímos que o protocolo de Balke proporciona o registro do
maior VO2máx e Cooper a maior FCMáx. A equação de Tanaka é mais
indicada para predizer a FCmáx na população estudada, nos quatro
protocolos avaliados.
The present study aims at comparing and analyzing the responses of the HRmax and VO2max from two treadmill maximum
protocols performed in laboratory (Bruce and Balke) and two of
field (Cureton 1600 m and Cooper 2400 m), as well as comparing
the HRmax data obtained from these tests to the prediction equations
suggested by Tanaka and Marins. The sample comprised women (n
= 30) aged 22.4 ± 1.44 years. The One Way Analysis of Variance,
multiple comparisons - Tukey was chosen in order to determine
the differences between HRmax and VO2max (obtained and estimated
ones). The results regarding the VO2max show a significant difference
between Balke and Cureton protocols. Therefore, we can conclude
that Balke protocol provides the register of the highest VO2max and
Cooper as well as the highest HRmax. Tanaka equation showed to be
the most adequate one to predict the HRmax in the studied sample,
in all of the four protocols analyzed.
Palavras-chave: freqüência cardíaca, consumo de oxigênio,
equação de predição.
Key-words: heart rate, oxygen consumption, prediction equations.
Recebido em 15 de maio de 2008; aceito em 20 de agosto de 2008.
Endereço para correspondência: Lawrens Fabrício Cardozo Makkai, Av. Independência 2320/1301, 36025-290 Juiz de Fora MG, Tel:
(32) 3241 3792, E-mail: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Introdução
Para a avaliação do componente cardiorrespiratório tem-se
o teste de esforço máximo, como sendo um dos exames não
invasivos mais utilizados para avaliar atletas, pessoas aparentemente saudáveis e pessoas com doença cardiovascular suspeita
ou conhecida [1]. Essa avaliação física determina entre outros
dados a freqüência cardíaca máxima (FCmáx) e o consumo máximo de oxigênio (VO2máx), parâmetros esses importantes para
a prescrição de exercícios aeróbicos de forma precisa. Esses
parâmetros podem ser identificados avaliando a capacidade
cardiorrespiratória em testes de esteira ergométrica, sendo
importante devido a sua homogeneização das condições de
avaliação e reprodutibilidade em laboratório. Contudo, esse
tipo de procedimento apresenta limitações, como o custo
elevado, utilização de aparelhagem sofisticada e inviável para
avaliar grandes grupos [2-4].
Como alternativa, têm sido proposto protocolos de
campo, devido à redução de custos e a aplicação em vários
indivíduos em um período curto de tempo. Esses testes foram
difundidos no mundo inteiro por sua praticidade, sendo utilizados para avaliar escolares, atletas e a população em geral,
fornecendo dados para a prescrição de exercícios, seleção
esportiva, avaliação da progressão do treinamento e testes
físicos para exércitos em diversos países do mundo [5].
Os objetivos de um teste de esforço variam conforme a
interpretação do avaliador. Em um diagnóstico médico, o enfoque principal é identificar possíveis disfunções miocárdicas,
distúrbios hemodinâmicos esforço-induzidos e prognosticar
doenças cardiovasculares que venham a limitar ou mesmo
impedir determinados níveis de atividades físicas [6].
Especificamente no campo da Educação Física um teste de
esforço terá como principais pontos, avaliar a progressão da
preparação física, estabelecer a FCmáx e as zonas metabólicas
de treinamento, identificar o limiar anaeróbico, auxiliando
assim, a correta prescrição do exercício [7]. O profissional de
educação física utiliza-se deste tipo de teste para direcionar e
periodizar o seu trabalho atendendo os objetivos do indivíduo
com segurança e eficiência.
A forma de aplicação de um teste de esforço inclui ergômetro de braço, cicloergômetro de membros inferiores e esteira
rolante, usualmente empregados em laboratório [8]. Contudo,
testes de campo são alternativas usuais para determinar o
VO2máx e a FCmáx, além de possuir a vantagem de reproduzir as
condições em exercício mais próximas do ambiente real, como
a temperatura externa e correntes de ar. Cabe ainda destacar
que o valor máximo da FC seja determinado individualmente
[9], sendo que os testes de campo são uma excelente forma
de monitoramento constante da FCMax [10,11].
Quando não se torna possível a realização do teste de
esforço máximo por um professor de Educação Física, devido
a fatores estruturais, idade elevada, problemas ortopédicos,
coronarianos, obesidade mórbida entre outros, torna-se necessário o emprego de equações que predizem a FCmáx, sendo
uma alternativa interessante para prescrição de exercício
[2], visto que, atualmente existem equações que predizem a
FCmáx com margens de erros mínimas de 1,6 a 1,8 bpm para
uma prova máxima [11]. Em contrapartida, a seleção de uma
equação inadequada pode gerar interpretações errôneas sobre
o desenvolvimento do teste.
Contudo, é necessário observar que existem várias equações
propostas, sendo validadas em populações de perfil totalmente
diferente, além de fatores como tipo de ergômetro, estado de
saúde, gênero e idade [10]. Estabelecer a equação mais fidedigna para cada perfil populacional significa prescrever exercícios
com mais segurança e qualidade nos resultados.
Comparando mulheres e homens fisicamente saudáveis
no que tange a FCmáx, parece não existir diferenças significativas dos seus valores na literatura [11-14]. As mulheres
geralmente apresentam em cada nível de esforço submáximo
uma FC mais alta do que os homens, este fato se associa a
um menor volume sistólico [15]. Considerando o VO2máx,
foi demonstrado que as diferenças dos valores encontrados
entre homens e mulheres, podem, em parte, ser explicado
pela maior porcentagem de gordura corporal nas mulheres e
menores taxas de hemoglobina no sangue, acarretando assim,
em uma redução da capacidade de transporte de oxigênio em
relação aos homens agindo de forma negativa no resultado
final do VO2máx [16].
Assim, os objetivos deste estudo foram comparar as
respostas da FCmáx e do VO2máx obtidos em testes de esteira
segundo protocolos de Balke [7] e Bruce et al. [17] e os
testes de campo de 1600 m de Cureton et al.[18] e 2.400
m de Cooper [5], além de validar as equações de Tanaka et
al.[19] [FCmáx = 208,75 – 0,73 (idade)] e Marins [20] [FCmáx
= 222,2 – 1,155 (idade)] para estimar a freqüência cardíaca
máxima em exercício máximo na esteira e teste de campo.
Por último, pretendeu-se verificar se as equações de Bruce et
al. [17] [VO2máx = 42,9 – 0,312 (idade)] e Neto et al. [21]
[VO2máx = 58,684 – 0,3124 (idade)] ambas para mulheres
ativas estimam o VO2máx de maneira adequada em jovens
aparentemente saudáveis.
Material e métodos
Sujeitos
A amostra foi composta por um total de 30 indivíduos
do gênero feminino, estudantes universitárias, com idade
entre 19 e 27 anos (média de 22,4 ± 1,44 anos), saudáveis e
fisicamente ativas, que se apresentaram como voluntárias para
a realização deste estudo. Todas tinham plena consciência dos
riscos envolvidos na realização dos testes e eram livres para
abandonar a pesquisa em qualquer momento. Ao longo de
todo o estudo, foram adotadas as normativas brasileiras para
estudos com seres humanos. Para melhor visualização da
amostra, a Tabela I traz referências do grupo em questão.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
69
Tabela I - Características dos indivíduos estudados.
Média
Desvio-padrão
Máximo
Mínimo
Idade (anos)
22,4
1,44
27
19
%G*
21,60
4,68
32,2
14,5
MCM ( kg)
44,87
3,55
55,16
37,23
GT (kg)
12,57
3,7
21,28
1,59
* Cálculo estimado do percentual de gordura (%G) pela técnica de Jackson e Pollock [32].
MCM = massa corporal magra; GT = gordura total.
Procedimentos
O estudo foi desenvolvido a partir da coleta de dados
no Laboratório de Performance Humana (LAPEH - UFV),
além de uma pista oficial de 400 m de atletismo. Cada um
dos indivíduos foi submetido à realização de quatro testes
distintos de esforço máximo. Não houve uma ordem predeterminada para aplicação dos testes, sendo feita de forma
totalmente aleatória.
Na fase que antecedeu os testes, os indivíduos foram instruídos a abster-se de comida pelo menos entre duas ou três
horas antes dos testes, a manter a hidratação de forma a não
se super-hidratarem, a evitar o álcool, a ter pelo menos 8 horas
de sono na noite anterior ao teste e estarem com vestimentas
confortáveis e tênis.
As avaliadas responderam ao PAR-Q proposto por Thomas
et al. [22] e receberam um termo de consentimento, revelando
todos os riscos possíveis de ocorrer durante a realização dos
testes, devendo ser assinado pela voluntária caso estivesse de
acordo.
Foram fornecidas informações prévias a respeito de cada
protocolo a ser aplicado, sendo as avaliadas instruídas a evitar
segurar-se no corrimão da esteira e a manter o ritmo de corrida
no caso do teste de campo. Foi apresentada a cada uma a escala
do índice de percepção de esforço (IPE) que compreende
valores entre 6 e 20, proposta por Borg [23].
Quatro diferentes protocolos de teste de esforço máximo
foram aplicados. Nos testes realizados em laboratório foi
utilizada uma esteira rolante (Ecafix EG 700X®). O teste de
campo foi aplicado na pista de atletismo de 400 metros do
Departamento de Educação Física da UFV.
A FC foi registrada por meio de monitores cardíacos da
marca Polar® S 610i, e a pressão arterial (PA) monitorada
com um esfigmomanômetro de coluna de mercúrio da marca
Tycos® e um estetoscópio da marca Wan Méd®. A FCmáx prevista
foi calculada por meio da equação de Tanaka et al.
Fatores ambientais como temperatura e umidade relativa
do ar, no laboratório, foram controlados, sendo mantidos
valores entre 21 e 23 °C e aproximadamente 60 a 80% de
umidade.
Foram empregados protocolos máximos em esteira rolante
de Bruce et al. e Balke, e no campo através dos protocolos de
1600 m de Cureton et al. e 2.400 m de Cooper. Os quatro
testes foram realizados exclusivamente na parte da manhã,
caso o primeiro tenha sido feito nesse período, ou exclusiva-
mente na parte da tarde, caso o primeiro tenha sido realizado
no período da tarde.
Antes de iniciar os testes, o indivíduo permanecia um
tempo assentado em repouso (entre 5 e 15 minutos), para
serem coletados o menor valor de FC e pressão arterial (PA)
inicial. Para desenvolvimento do protocolo, valores de segurança para essas variáveis foram preestabelecidos, como FC
< 100 bpm, PA diastólica < 90 mmHg e PA sitólica < 140
mmHg, representando uma ação mais conservadora que a
indicada pela SBC [6].
As avaliações foram realizadas com intervalos de pelo
menos 48 horas. Para os testes de esteira rolante foi feito
um aquecimento de três minutos, com velocidade de 3,0
milhas por hora (mph), sem inclinação. No caso dos testes
de campo, o aquecimento foi feito por meio da realização
de três voltas na pista de atletismo, sendo uma caminhada
rápida na primeira e um trote nas duas últimas, mantendo
em todas as situações a FC abaixo de 140 bpm. Na esteira,
a FC foi registrada a cada minuto, a PA e o IPE no final de
cada estágio, desde o aquecimento até o final dos testes. Na
pista, a FC foi monitorada no final de cada volta.
O tratamento estatístico deste estudo empregou uma
estatística descritiva, com a média, desvio-padrão, valor máximo e valor mínimo para cada um dos parâmetros obtidos
durante os quatro testes.
Para determinar a existência de diferenças significativas
do VO2máx ml(kg.min)-1 e FCmáx calculado e obtido, optou-se
pelo teste de análise de variância Anova One Way, múltiplas comparações – Tukey, sendo considerado um nível de
significância de p < 0,05 para considerar válida a hipótese
estatística. Utilizou-se o programa estatístico Software Sigma
Start®, versão 2.0. As equações utilizadas para estimar a FC
foram de Tanaka et al., que corresponde a [208,75 - (0,73 x
idade)], e Marins [222,2 - (1,155 x idade)]. Já para estimar
o VO2máx adotou-se as equações de Bruce et al. [VO2máx =
42,9 – 0,312 x idade] e Neto et al. [VO2máx = 58,684 –
0,3124 x idade].
Resultados e discussão
Na Tabela II são apresentados os resultados encontrados
para a FCmáx. Já a Tabela III mostra o resultado do teste estatístico, indicando a existência ou não de diferenças significativas
entre as FCmáx obtidas e estimadas.
70
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Tabela II - FCmáx obtida nos quatro protocolos de esforço máximo de Balke, Bruce, Cureton e Cooper e estimada por Tanaka et al. [19] e
Marins [7].
Média
DP
Máximo
Mínimo
Balke
Bruce
192,2
7,31
204
178
189,5
6,35
205
179
Cureton
1600 m
192,6
6,42
206
179
Cooper
2400 m
194,1
6,08
204
180
Tanaka et al. [19]
208,75 - (0,73 x id)
192,4
1,54
195
189
Marins [7]
222,2 - (1,155 x id)
196,3
2,29
200
191
id = idade; m = metros; DP = desvio-padrão.
Tabela III - Níveis de significância das médias de FCmáx (bpm)
obtidas e estimadas.
Diferença
Grupos
FCmáx (bpm)
Marins vs. Balke
Marins Bruce
Marins vs. Tanaka
Marins vs. Cureton 1600 m
Marins vs. Cooper 2400 m
Cooper 2400 m vs. Balke
Cooper 2400 m vs. Bruce
Cooper 2400 m vs. Tanaka
Cooper 2400 m vs. Cureton
1600 m
Cureton 1600 m vs. Balke
Cureton 1600 m vs. Bruce
Cureton 1600 m vs. Tanaka
Tanaka vs. Balke
Tanaka vs. Bruce
Bruce vs Balke
196,3
196,3
196,3
196,3
196,3
194,1
194,1
194,1
192,2
189,5
192,4
192,6
194,1
192,2
189,5
192,4
entre
médias
4,0*
6,7*
3,9*
3,7
2,2
1,8
4,5*
1,7
194,1
192,6
1,5
192,6
192,6
192,6
192,4
192,4
189,5
192,2
189,5
192,4
192,2
189,5
192,2
0,3
3,0
0,2
0,1
2,8
2,7
* Diferença significativa p < 0,05; bpm = batimento por minuto.
Os dados estatísticos mostram que a equação de Marins pode ser empregada para estimar a FCmáx somente
nos testes de campo de 1600 m e 2.400 m. Já a equação
de Tanaka et al. mostrou ser adequada tanto para os testes
de campo deste estudo como para os de esteira de Balke
e Bruce et al., concordando com os estudos de Marins e
Fernandez [10,11] em estudantes universitários de que
a fórmula proposta por Tanaka et al. é a mais adequada.
Cabe destacar que a equação de Marins não foi testada
nos referidos estudos.
Ao comparar as médias da FCmáx obtidas em cada protocolo, observa-se que o valor mais alto registrado (194,1 ± 6,08
bpm) para essa variável foi encontrado no protocolo de 2.400
m de Cooper apontando não existir diferença significativa
entre os protocolos, exceto entre Bruce et al. vs. Cooper onde
ocorreu essa diferença. Esses resultados estão de acordo com
os encontrados por Froelicher et al. [24], que ao compara-
rem a FCmáx em dois protocolos máximos em esteira (Bruce
vs. Balke), não observaram diferenças significativas entre os
valores da mesma.
Entre os protocolos realizados em esteira rolante, o grupo apresentou valor médio mais elevado em Balke (192,2
± 7,31 bpm). Assim como nesse estudo, já se observou em
outras pesquisas que os testes de campo tendem a provocar
maior FCmáx em relação aos de laboratório [8,9]. É possível
especular que o valor mais alto obtido em pista foi decorrente das condições ambientais, incontroláveis no teste de
campo, levando o sistema cardiovascular a um maior estresse
físico [25]. Já nos testes realizados em laboratório, as condições ambientais controladas minimizaram a influência
da temperatura e da umidade nas respostas cronotrópicas
dos avaliados.
Todos os protocolos apresentaram característica de um
teste máximo segundo as considerações feitas por Lazzoli
[26], de que testes que levassem o avaliado a atingir patamares superiores a 85% da FCmáx calculada seriam considerados
máximos. Outro critério para validação é a verificação dos
valores apresentados no último registro da FC com variação
de 10 bpm em relação a FCmáx calculada [27]. Portanto,
todas as voluntárias envolvidas neste trabalho apresentaram
respostas condizentes com as considerações dos referidos
autores.
Para indicar o emprego de uma equação estimativa da
FCmáx, Robergs e Landwehr [28] estabeleceram limites de
± 3 bpm para testes máximos e ± 8 bpm para prescrição
de exercícios. Neste estudo a equação de Tanaka et al. registrou intervalo de + 0,1 bpm a + 2,8 bpm e Marins com
intervalo de + 2,2 bpm a + 6,7 bpm em relação aos quatro
protocolos.
Quando comparados os resultados da FCmáx estimada,
em relação à idade, pelas equações de Tanaka et al. e Marins,
encontrou-se diferença estatisticamente significativa (p < 0,05)
entre elas, percebeu-se que os valores estimados por Tanaka
et al. se encontravam em maior porcentagem dentro da faixa
de flutuação de ± 8 bpm (tabela IV), corroborando com os
valores encontrados no estudo de Marins e Fernandez [11]
obtendo 81% da amostra dentro da faixa, em comparação a
Marins visto na Tabela V.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Tabela IV - Comparação da faixa de flutuação de ± 8 bpm da
FCmáx obtida nos quatro protocolos com a predita pela equação de
Tanaka et al. [19].
Teste
Balke
Bruce
Cureton 1600 m
Cooper 2400 m
Abaixo da
faixa de ±
8 bpm
15%
5%
10%
6,66%
Dentro da
faixa de ±
8 bpm
75%
90%
83,33%
76,66%
Acima da
faixa de ±
8 bpm
10%
5%
6,66%
16,66%
Tabela V - Comparação da faixa de flutuação de ± 8 bpm da
FCmáx obtida nos quatro protocolos com a predita pela equação de
Marins [7].
Teste
Balke
Bruce
Cureton 1600 m
Cooper 2400 m
Abaixo da
faixa de ±
8 bpm
30%
30%
23,33%
13,33%
Dentro da
faixa de ±
8 bpm
70%
70%
73,33%
86,66%
Acima da
faixa de ±
8 bpm
0%
0%
3,33%
0%
Assim, fisiologicamente, a equação de Tanaka et al. é
mais recomendada para sujeitos com características semelhantes às deste grupo estudado. Quanto à equação estimativa desenvolvida por Marins, foi encontrada diferença
significativa ao ser comparada com os protocolos de Balke
e Bruce et al., sendo adequada aos protocolos de Cureton et
al. 1600 metros e Cooper 2400 metros, retomando, assim,
sua proposta inicial tendo em vista que foi desenvolvida
tomando como base resultados de FCmáx obtida no teste de
Cooper 2400 m.
Os resultados obtidos ratificam as indicações de Marins
[20] para o uso da sua equação para o teste de Cooper de
2.400 m. Contudo, o uso da equação de Tanaka et al. aponta ser superior para uso deste grupo. Para o grupo avaliado,
ambas as equações são ferramentas importantes, Tanaka et al.
tanto para a interpretação dos testes ergométricos como para
prescrição de exercícios e Marins utilizada para prescrição de
exercícios e para os protocolos de pista. Sendo assim, deve
existir por parte do avaliador uma análise para selecionar
uma fórmula adequada para determinado teste, evitando
assim, mascarar a real intensidade da faixa de treinamento
71
do indivíduo podendo gerar resultados desfavoráveis quanto
aos seus objetivos.
Consumo máximo de oxigênio
Na Tabela VI são apresentados os valores de média, desviopadrão, máximo e mínimo, assim como a classificação do
VO2máx ml(kg.min)-1, obtidos nos quatro protocolos empregados, indicando haver diferença estatisticamente significativa
na predição do VO2máx entre eles, com exceção apenas entre
os protocolos de Balke vs. Cureton et al.
Os resultados obtidos de VO2máx nos quatro protocolos
também foram comparados aos resultados do VO2máx estimados pelas equações de Bruce et al. e Neto et al. para mulheres
ativas. Os dados indicam que a equação de Bruce et al. tem
uma tendência a subestimar os valores da capacidade aeróbica
quando comparados com os obtidos nos protocolos, exceto
para o teste de Cooper onde houve uma proximidade nos
resultados, 36,29 ml(kg.min)-1 representado por Cooper
contra 36,05 ml(kg.min)-1 da equação.
Já a equação de Neto et al. que foi criada para a população brasileira, apresentou valores superestimados em todos
os protocolos do VO2máx 51,69 ml(kg.min)-1 contra o maior
valor entre os protocolos 44,88 ml(kg.min)-1 obtido em Balke.
Robergs & Landwehr [28] destacam que o erro de estimativa
para propósitos de prescrição de exercícios aceitáveis na determinação do VO2máx deve ser abaixo de 3 ml(kg.min)-1.
Em relação às equações preditivas do VO2máx deste estudo,
deve-se ter precaução ao afirmar que as fórmulas subestimaram
ou superestimaram o VO2máx final, devido ao fato de não ter
sido utilizado a espirometria direta ou ergoespirometria para
análise de gases espirados.
O protocolo de Bruce et al., entretanto, parece ser o mais
indicado para pessoas bem condicionadas, com o intuito de
conhecer as respostas fisiológicas, determinar a capacidade
funcional e obter parâmetros para prescrição de exercício
físico. Na literatura, este protocolo e o de Ellestad são os
mais indicados para indivíduos fisicamente ativos e/ou jovens aparentemente saudáveis [6]. Entretanto, o protocolo
de Bruce et al. que obteve VO2máx 39,48 ± 4,71 ml(kg.min)-1
para a população deste estudo não seria indicado, tendo em
vista os relatos da maioria das avaliadas, ao apresentarem
fadiga periférica antes que ocorre-se fadiga central, fator este
Tabela VI - Resultados do VO2máx ml(kg.min)-1 obtido e estimado pelas equações de Bruce et al. [17] e Neto et al. [21] e a classificação segundo
o AHA [33].
VO2máx
Classificação
DP
Máximo
Mínimo
Balke
Bruce
Cureton
1600 m
Cooper
2400 m
44,88
Boa
4,53
52,45
36,56
39,48
Boa
4,71
48,1
31,3
43,59
Boa
3,0
50,11
37,12
36,29
Regular
3,15
43,91
30,94
Bruce et al. [17]
VO2máx = 42,9 –
0,312 x idade
35,91
X
0,83
39,4
35,1
Neto et al. [21]
VO2máx = 58,684 –
0,3124 x idade
51,69
X
0,60
52,74
50,24
72
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
responsável pela interrupção do teste reduzindo possivelmente
os valores reais do VO2máx do grupo. No trabalho de Kang
et al.[29] verificou-se valores próximos a deste estudo 40,84
ml(kg.min)-1. Testes mais curtos acarretam em valores menores
de VO2máx, possivelmente por causa de limitações musculares
causadas por elevada intensidade de esforço [21].
Os resultados deste estudo sinalizam que uma anamnese
prévia auxilia a estabelecer qual tipo de teste poderá ser mais
indicado. Em mulheres corredoras com hábito de corrida o
teste de esteira de Bruce et al. poderá ser o mais indicado. Por
outro lado, o teste de esteira de Balke será recomendado em
mulheres ativas, porém, não corredoras minimizando o risco
de interrupção do teste por fadiga periférica.
Quanto aos protocolos de Cureton et al. e Cooper, observaram-se valores médios para a capacidade aeróbica de 43,59 ±
3,0 ml(kg.min)-1 e 36,29 ± 3,15 ml(kg.min)-1 respectivamente,
confirmando os resultados encontrados por Makkai [25], para
esses protocolos, possivelmente esta diferença entre os testes
se deva ao fato do protocolo de Cureton et al. ter um tempo
de duração menor, sendo assim, o resultado pode ter sido
influenciado pelo componente anaeróbico. Outro propósito
está relacionado com a temperatura ambiente e a umidade
do ar, que no caso, poderia afetar o desempenho negativamente no teste de Cooper por este ser mais longo, expondo
a avaliada a um maior desgaste físico durante a avaliação. É
imprescindível que sejam padronizadas as aplicações no que
diz respeito principalmente ao horário do dia.
Pollock e Wilmore [30] sugerem então, que para a realização de um teste de campo seja feito um período de adaptação
para que o avaliado experimente o percurso e ritmo do teste,
sabendo, dessa forma, o seu tempo médio por volta, apresentando assim, um melhor desempenho aeróbico, mais próximo
do real. No presente estudo, a maior parte das avaliadas já
possuía este conhecimento, contudo em poucos casos foi
possível observar avaliadas com dificuldade em administrar
um ritmo de corrida constante.
Um ponto importante a ser ressaltado é em relação ao
tempo de duração do protocolo que segundo a literatura,
a faixa recomendável concentra-se entre 8 a 15 minutos
[7,30,31]. Contrariando esses autores Astorino et al. [12]
investigou sobre tempo ideal para duração de protocolos
máximos para homens e mulheres em idade universitária,
verificou que protocolos com tempo acima de 13 minutos
causavam menores resultados de VO2máx 3,45 ± 0,79 L.min-1
versus 3.58 ± 0,83 L.min-1 do protocolo com 10 minutos de
duração, concluiu seus achados determinando um tempo
entre 10 ± 2 minutos como sendo ideal para aquisição do
VO2máx e que tempos acima de 13 minutos causariam redução
de 4 a 5 % do mesmo.
Para este estudo o protocolo de Balke obteve o valor médio
mais elevado para o consumo máximo de oxigênio 44,88 ±
4,53 ml(kg.min)-1, porém, a duração da avaliação na esteira
para este teste oscilou de 19 a 22 minutos, ultrapassando
excessivamente o limite recomendado. Para solucionar este
problema quanto à aplicação deste protocolo, sugere-se iniciar
o teste desconsiderando os estágios iniciais visando manter a
avaliação dentro da faixa de tempo predita como ideal, para
a amostra deste estudo recomenda-se partir entre o sétimo e
décimo estágio do protocolo de Balke.
Conclusão
Ao comparar as médias da FCmáx obtidas em cada protocolo, observa-se que os valores foram próximos, sendo
o protocolo de 2.400 m de Cooper tendendo apresentar a
maior FCmáx.
Dos quatro protocolos de esforço máximo aplicados, os
resultados indicam haver diferença estatisticamente significativa na predição do VO2máx entre os protocolos, com exceção
apenas entre os protocolos de Balke vs. Cureton et al., onde
não existiu essa diferença.
Conclui-se que a equação de Tanaka et al. tem aplicabilidade aceitável para ser usada nos quatro protocolos, já a
desenvolvida por Marins teve resultados consideráveis para o
seu emprego nos testes de campo deste estudo.
A equação de predição do VO2máx de Bruce et al. apresentou resultados que tendem a subestimar o VO2máx obtido,
exceto em Cooper, já a equação de Neto et al. revelou valores
que superestimam o VO2máx em todos os protocolos para a
população analisada neste trabalho, porém, para concretização destes resultados deve ser aplicado o teste máximo com
analisador de gases.
Agradecimentos
Estudo parcialmente financiado pela Fundação de Apoio
à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
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74
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Artigo original
Consumo de recursos ergogênicos farmacológicos
por praticantes de musculação das academias
de Santa Maria RS
Pharmacological ergogenic resources consumption
among gymnastic academy performers in Santa Maria RS
Cati Reckelberg Azambuja*, Daniela Lopes dos Santos*
*Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS
Resumo
Abstract
O objetivo deste trabalho foi verificar como ocorre o uso de
recursos ergogênicos farmacológicos por praticantes de musculação
das academias da cidade de Santa Maria, RS. A amostra estratificada
proporcional constituiu-se de 236 indivíduos, escolhidos aleatoriamente, de ambos os sexos, das academias de Santa Maria, RS. O
instrumento de coleta de dados foi um questionário, previamente
validado, composto por 22 questões sobre o uso de recursos ergogênicos farmacológicos, tipos mais utilizados, faixa etária, nível de
escolaridade, renda, metodologia adotada para o treino, orientação,
finalidade de uso, efeitos adversos e controle bioquímico. Os dados
foram analisados através de percentuais, médias e desvios padrão.
A média de idade da amostra foi de 24,4 ± 7,04 anos, sendo que
a maioria dos pesquisados foi do sexo masculino (77,12%), com
nível de escolaridade superior incompleto (36,44%) e sem renda
própria (56,36%). Os resultados indicaram médio consumo de
recursos ergogênicos (n = 10; 4,24%). Deca-Durabolin (60%),
Durateston (50%) e Hemogenim (40%) foram as substâncias
mais citadas, motivados pelo aumento no desempenho (60%) e
de peso (50%), sendo que, 50% por vontade própria e 30% por
indicação do professor da academia. A aquisição destes ocorreu
em farmácias (50%) e através de professores (20%). A maioria dos
usuários administrou a substância na forma injetável (50%) e oral
(50%), com freqüência de uso diário (40%). Apesar de 80% dos
entrevistados que utilizaram ergogênicos terem conhecimento dos
possíveis efeitos adversos, somente 10% realizaram exames bioquímicos de controle das alterações hormonais. Os efeitos colaterais
relatados foram irritação (50%), euforia e agressividade (40%); e a
média do valor gasto mensalmente na aquisição de REF foi de R$
236,50 ± 168,05.
The aim of this work was to verify how the use of pharmacological ergogenic resources occurs when bodybuilder performers
adopt them in the gymnastic academies of Santa Maria, RS, Brazil.
The ratio of the stratified sample is constituted of 236 individuals,
randomly chosen, both sexes, from Santa Maria, in RS – Brazil,
gymnastic academies. The means through which data was collected
was a previously validated questionnaire, containing 22 questions
about the use of the pharmacological ergogenic resources, much
adopted types of those resources, age range, education level, income,
training methodology used, orientation, usage target, adverse effects
and biochemical control. Data was examined using percentage, averages and pattern deflections. Sample average age was from 24.4 ±
7.04 years, mostly men (77.12%), incomplete third grade education
level (36.44%), who did not have their own income (56.36%). The
results indicated medium consumption of ergogenic resources (n
= 10; 4.24%). Most mentioned substances were Deca-Durabolin
(60%), Durateston (50%) and Hemogenim (40%), mainly because
of their effect in the performance increase (60%) and in weight
(50%), and considering that 50% were choosing themselves those
products while 30% were using those products after their being
indicated by the coach. The purchasing of those products occurred
through shopping them in the drugstores (50%) and through
coaches (20%). Most users took the substance in the form of
shots (50%) and orally (50%), of daily usage (40%). Among the
sample group, 80% of the interviewed who were using ergogenics
had known of the possible adverse effects and even so, only 10%
took biochemical control testing on hormonal alterations. The side
effects reported were irritation (50%), euphoria and aggressiveness
(40%); and the monthly average expenditure in the acquisition of
pharmacological ergogenic resource was of R$ 236.50 ± 168.05 (R$
= Reais, Brazilian currency).
Palavras-chave: recursos ergogênicos, dopagem, musculação.
Key-words: ergogenic resources, doping, bodybuilder.
Recebido em 12 de novembro de 2007; aceito em 17 agosto de 2008.
Endereço para correspondência: Cati Reckelberg Azambuja, Rua Araújo Viana, 111/303, Centro, 97.015-040 Santa Maria RS, Tel:
(55) 30280078, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Introdução
A busca pelo corpo perfeito, tão evidenciado pela mídia,
a falta de organização em relação às atividades diárias e conseqüentemente a ilusão de resultados rápidos e facilitados e a
necessidade de melhor desempenho em competições são apenas alguns dos motivos que tem levado as pessoas a utilizarem
meios ilícitos para alcançar seus objetivos físicos [1].
A crescente comercialização observada no meio esportivo
aumentou a pressão sobre o atleta para alcançar o seu rendimento máximo a curto prazo [2]. No caso de atletas de alto
nível, o uso de drogas transcende a questão da saúde individual. As drogas que favorecem o desempenho nas diversas
modalidades são consideradas, eticamente, indesejáveis e,
portanto, ilícitas, independentemente de produzirem danos
para a saúde [3]. O American College of Sports Medicine ACSM apóia princípios éticos e deplora o uso de esteróides
anabólicos androgênicos pelos atletas.
Mais preocupante do que este fato, é o de que os freqüentadores de academias têm dividido com os atletas os percentuais
de uso destas drogas que, em sua maioria, são substâncias
de procedência duvidosa, muitas vezes, manipuladas sem
cuidados adequados de higiene, proporcionando, inclusive,
doenças infecto-contagiosas [4,5].
Os recursos ergogênicos farmacológicos, condenados pelo
Comitê Olímpico Internacional - COI são drogas destinadas a
funcionar como hormônios ou neurotransmissores encontrados naturalmente no corpo humano. Eles podem intensificar
a potência física, afetar a força mental e o limite mecânico, o
que tem despertado preocupação, visto que o consumo vem
persistindo e seu uso é considerado como doping [6].
A utilização de substâncias químicas com o propósito da
dopagem traz conseqüências nocivas para quem faz uso destas.
O exercício e o estresse físico e emocional causam alterações
bioquímicas e funcionais importantes que podem modificar
o efeito da substância [7].
Portanto, este estudo buscou averiguar como ocorre o uso
de recursos ergogênicos farmacológicos - REF nos praticantes
de musculação das academias de Santa Maria, RS.
Recursos ergogênicos farmacológicos
Ergogênicos são aquelas substâncias ou fenômenos que
melhoram o desempenho de um atleta [8]. Os recursos ergogênicos farmacológicos fazem parte da Toxicologia Social
que, segundo Oga [9], é a área da Toxicologia que estuda os
efeitos nocivos decorrentes do uso não médico de fármacos
ou drogas, causando danos não somente ao indivíduo mas
também a sociedade.
Por fármaco entende-se uma substância de estrutura química definida que, quando em contato ou introduzida em
um sistema biológico, modifica uma ou mais de suas funções.
Droga é a matéria prima de origem mineral, vegetal ou animal
que contém um ou mais fármacos [10].
75
Poucas são as substâncias disponíveis no mercado que
realmente possuem propriedades ergogênicas ou capazes de
produzir fenômenos supostamente ergogênicos [11]. Para que
uma substância seja legitimamente classificada como ergogênica, é necessário a comprovação da melhora no desempenho
pela mesma [8].
Segundo Silva [2], as substâncias consideradas de uso
proibido são agrupadas de acordo com suas propriedades
farmacológicas. A lista do COI contém os seguintes grupos:
1) estimulantes; 2) analgésicos narcóticos; 3) hormônios
peptídicos e análogos; 4) bloqueadores beta-adrenérgicos; 5)
diuréticos e 6) esteróides anabólicos.
Estimulantes são todas as substâncias utilizadas voluntariamente com a finalidade de obtenção de estados alterados
de consciência, caracterizados por euforia decorrente da estimulação do Sistema Nervoso Central – SNC [12] e podem
causar aumento da pressão arterial e da freqüência cardíaca,
propensão a arritmias cardíacas, espasmos coronarianos e
isquemia miocárdica em pessoas suscetíveis, distúrbios do
sono, tremores, agitação e falta de coordenação motora.
Os analgésicos narcóticos são indicados, terapeuticamente,
para analgesia profunda, o que pode auxiliar os praticantes
anônimos de atividades físicas e atletas que utilizam a morfina
e a heroína como recurso ergogênico. Porém, entre os vários
potenciais riscos para a saúde dos usuários se encontra a inibição perigosa da dor em atletas, o que pode agravar muito
uma lesão instalada; risco de dependência física e síndrome
de abstinência ocasionada pela cessão do uso da substância
[13].
Hormônios peptídicos e análogos têm como função principal alterar as velocidades de reações celulares específicas de
‘células alvo’ também específicas [3]. Essa modificação pode
ser conseguida através da alteração da velocidade da síntese
protéica intracelular, da mudança do ritmo da atividade enzimática, da modificação do transporte através da membrana
plasmática e pela indução da atividade secretória.
Os bloqueadores beta-adrenérgicos, como agente de
dopagem, são utilizados para reduzir o tremor muscular e o
estresse, principalmente, nas modalidades esportivas de pouca
atividade física e que exigem precisão e exatidão para a sua
prática [2]. A ação destes fármacos pode depreciar os sistemas nervoso central, cardiovascular, endócrino, respiratório
e digestivo [14].
Diuréticos são substâncias sintéticas, com estruturas
químicas bastante variadas e que, na sua maioria, atuam
diretamente nos rins sobre a função tubolar, aumentando a
formação da urina. Considerando que os rins desempenham
uma função fundamental para a manutenção da homeostase,
torna-se evidente a grande importância dos diuréticos como
possíveis agentes tóxicos [7].
Contudo, dentre os recursos ergogênicos farmacológicos,
os esteróides anabólicos ocupam o lugar principal. Seu potente
efeito anabolizante associado à prática de exercícios com pesos,
acena com a promessa do record para o atleta e do “corpo
76
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
perfeito” para o praticante de musculação que possui objetivos
estéticos. Infelizmente, cada vez mais o efeito terapêutico dos
anabolizantes é desvirtuado a ponto da própria concepção
leiga do seu nome ser associada a um perigo iminente, o que
de fato se justifica em decorrência dos abusos cometidos e dos
episódios trágicos freqüentemente relatados [15].
Materiais e métodos
A coleta de dados ocorreu entre os meses de setembro
e novembro de 2004, sendo que a amostra estratificada
proporcional constituiu-se de 236 indivíduos, escolhidos
aleatoriamente, de ambos os sexos, das academias inscritas
no Departamento de Estágios de Centro de Educação Física
e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria. O
instrumento utilizado para avaliar o objetivo proposto foi
um questionário, previamente validado, composto por 22
questões sobre o uso de recursos ergogênicos farmacológicos,
tipos mais utilizados, faixa etária, nível de escolaridade, renda,
metodologia adotada para o treino, orientação, finalidade de
uso, efeitos adversos e controle bioquímico, acompanhado
de termo de consentimento livre e esclarecido. A análise dos
dados foi realizada através de estatística descritiva [16] para determinação da média aritmética, desvio padrão e percentuais
e de forma qualitativa, conforme os objetivos da pesquisa.
Resultados e discussão
Os resultados obtidos por meio do instrumento de pesquisa indicaram que os praticantes de musculação das academias
de Santa Maria (RS), que participaram desta pesquisa, tinham
idade entre 15 e 53 anos, com média de 24,4 ± 7,04. Constatou-se que 70,34% tinham entre 15 e 24 anos. No estudo
realizado com freqüentadores de academias no RS, verificou-se
que 77,5% encontravam-se na faixa etária entre 16 e 25 anos
[17]. Já, a pesquisa nas academias de Vitória (ES) encontrou
a média de 27,5 anos entre os alunos pesquisados [18].
O perfil da amostra aponta, ainda, que a maioria dos
pesquisados era do sexo masculino. A característica de freqüentadores de academias de ginástica do Rio Grande do Sul
é essencialmente do sexo feminino (62,11%) [17]. Entretanto,
é importante ressaltar que este estudo restringiu-se aos alunos
das salas de musculação da cidade de Santa Maria (RS). Apesar
de ter aumentado o número de mulheres adeptas, a especulação
de que a musculação pode masculinizá-las ainda persiste.
A maioria dos pesquisados não possuía renda própria
(56,36%), o que é condizente com o grau de escolaridade
assinalado por 36,44% dos entrevistados - Ensino Superior
Incompleto, o que permite inferir que a maioria dos pesquisados eram estudantes universitários. Em segundo e terceiro
lugar, respectivamente, ficaram os Ensinos Médio Completo e
Superior Completo. Este dado encontra-se em conformidade
com a média da idade verificada e com a informação de que a
maioria não possuía renda própria. Outro dado interessante,
é que 66 indivíduos (27,96%) possuíam Ensino Superior
Completo, dos quais, 24 (10,16%) possuíam algum nível de
Pós-Graduação.
Verificou-se que a maioria dos entrevistados praticava
musculação há menos de um ano. Porém, identificou-se um
grupo com maior adesão, dos quais 35,08% o faziam há mais
de dois anos. No estudo de Rufino et al. [17], encontrou-se
um grupo flutuante, com até 6 meses de tempo de prática,
de 70,63%. A adesão aos programas de musculação pode
sofrer influência direta de vários fatores, como, por exemplo,
o desejo de alcançar os objetivos propostos a curto prazo.
A amostra optou pela musculação, como exercício físico,
com a intenção de promover a saúde e em função da estética.
Isso indica que a amostra preocupava-se com a aparência física,
mas não ignorava as questões relacionadas à saúde e qualidade
de vida. A mesma relação entre estética e qualidade de vida
foi observada no estudo de Rufino et al. [17]. Pesquisas têm
demonstrado que tanto homens como mulheres tem grande
interesse em modificar o corpo e, assim, a musculação contribui significativamente [19].
Outra questão importante se refere à visão de promoção da
saúde e melhor qualidade de vida, veiculada pela mídia, muitas vezes, de forma equivocada, confundida com parâmetros
puramente estéticos, o que pode deformar estes conceitos.
Destaca-se que entre os outros motivos relacionados, os
que se referem ao alívio do estresse diário e de tensões profissionais, bem como preparação específica para esportes. O
exercício físico se constitui em importante agente repressor
do estresse. Pesquisadores sugerem que o efeito positivo do
exercício físico na diminuição do estresse pode estar relacionado ao aumento da concentração de endorfina no sangue
devido à secreção desta substância pela glândula pituitária
durante o exercício físico [20].
O principal objetivo mencionado pelos alunos, praticantes
de musculação, foi a hipertrofia muscular (50%), seguido
pela definição muscular (48,73%). Como esta amostra foi
composta 77,12% por pessoas do sexo masculino, justifica-se
um percentual tão alto para os dois objetivos mais citados,
visto que, a preferência masculina está relacionada à visão de
corpos fortes e musculosos [21]. Cabe ressaltar que das 60
marcações atribuídas ao emagrecimento, 75% foram feitas
por mulheres.
Os treinos de musculação aconteciam 5 ou mais dias por
semana (61,47%), com prevalência de 5 vezes na semana
(27,97%), provavelmente porque a amostra pesquisada, na
maioria, estudantes, possuía maior disponibilidade de tempo
para praticar exercícios físicos. Dantas [22] recomenda, para
programas de treinamento de sedentários e para a manutenção
das condições de saúde, a freqüência de três a cinco vezes por
semana, pois considera esta, uma faixa suficiente de treinabilidade das qualidades físicas, ao mesmo tempo em que o risco
de lesões se mantém em níveis aceitáveis.
Verificou-se que os treinos de musculação eram divididos
em rotinas diferentes (68,64%), preferencialmente em A e B,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
em dias alternados de prática. Sobre este aspecto, dois pontos
devem ser analisados: rotinas diferentes, em dias alternados
permitem não sobrecarregar o número de horas destinadas ao
treino e, também, a permitir intervalos de recuperação de 48
horas para os grupos musculares trabalhados [22].
O alongamento é uma parte da sessão de treinamento na
musculação, assim como em qualquer outra modalidade e a
amostra tinha o hábito de realizá-los. Segundo Dantas [22],
a hipertrofia muscular e a hipertonicidade resultantes do
treinamento de musculação, se não forem trabalhadas complementamente, por meio de alongamento e flexionamento,
poderão provocar uma diminuição do arco articular de alguns
movimentos. Entretanto, Tubino [23] declara que “deve-se
evitar a aplicação, logo após as sessões de musculação, de
exercícios de flexibilidade que impliquem em estiramentos
musculares fortes, pois haverá um grande risco de tensões
nas fibras musculares”. Portanto, é oportuna a diferenciação
entre flexionamento, em que pode haver um razoável risco de
distensão e, alongamento, o qual atua com níveis de segurança
mais confiáveis.
Os resultados deste trabalho também indicaram que
4,24% (n = 10) dos alunos do grupo estudado utilizavam
recursos ergogênicos farmacológicos. Segundo pesquisa realizada nas academias de Goiânia (GO), 9% de desportistas
consumiam REF, com predominância dos esteróides anabolizantes androgênicos - EAA, sendo considerado, pelos autores,
um percentual elevado de usuários [24]. Em Porto Alegre
(RS), Conceição et al. [25] constataram em seu estudo que
24,3% dos praticantes de musculação das academias desta
capital faziam uso de EAA. Em outro estudo aplicado nas
academias americanas encontrou-se de 4 a 11% de usuários
de algum tipo de anabolizante, o que demonstrou, segundo
Yesalis et al. [26], um alto consumo destas substâncias.
Importante ressaltar que o percentual de usuários de REF
encontrado nesta pesquisa localiza-se no limite inferior do
que pode ser considerado alto. Portanto, baseado nos percentuais de outros estudos, concluí-se que o consumo destas
substâncias, pelos praticantes de musculação das academias
de Santa Maria (RS), encontra-se num padrão que pode ser
considerado de médio para alto.
Ressalta-se, ainda, que em apenas 5 academias (41,67%)
foram detectados sujeitos que utilizavam REF. Tal achado
permite inferir que há academias que estão mais predispostas
a esta prática. Outro detalhe a ser destacado, refere-se aos
percentuais individuais de cada estrato onde foram achados
questionários positivos para o uso de REF, representando de
0,5 a 20% da amostra individual, o que pode ser considerado
um alto percentual em algumas delas.
O pequeno número de usuários de REF impossibilitou o
emprego de teste estatístico para avaliar significativamente a
faixa etária na qual se concentrou o maior consumo do produto. Entretanto, contatou-se que este grupo possuía idade
entre 23 e 44 anos, com média de 29 ± 7,47, sendo, todos,
do sexo masculino. No Brasil, o consumidor preferencial de
77
EAA encontra-se entre 18 e 34 anos de idade e, em geral, é
do sexo masculino [21].
O nível de escolaridade entre os usuários concentrou-se
no Ensino Superior Completo (50%), diferentemente do
percentual encontrado na amostra total deste estudo e da
pesquisa de Araújo et al. [24] relatando que os usuários de
EAA, entre os praticantes de musculação das academias de
Goiânia (GO) possuíam, na maioria, Ensino Fundamental
ou Médio.
Analisando-se a renda individual, constatou-se que 80%
(n = 8) dos usuários recebiam entre 3 e 6 salários mínimos.
Diante destes dados, infere-se que os usuários de REF
possuíam independência financeira, o que lhes permitiu
comprometer, mensalmente, entre R$ 24,00 a 580,00, com
média de R$ 236,50 ± 168,05 dos seus salários na aquisição
dos produtos.
O tempo de prática de musculação dos usuários de REF
acompanha a tendência da amostra total, porém, é mais homogênea. Há de se destacar que 90% encontram-se na faixa
que compreende até 3 anos de prática, dos quais 30% no grupo com menos de 1 ano de prática, que pode ser considerado
como flutuante, enfatizando que muitos usuários utilizam-se
de REF para alcançar os objetivos a curto prazo.
A maioria dos usuários mencionou ter optado pela musculação, como exercício físico, com fins estéticos (50%).
Verificou-se que o objetivo principal dos usuários de recursos
ergogênicos era hipertrofia muscular (70%). Estes dados,
analisados de forma simultânea, reforçam a idéia de que cada
dia mais as pessoas acreditam que ergogênicos nutricionais e
farmacológicos podem ser usados, de forma indiscriminada,
como parte do treinamento físico. Conforme Courtine [1], as
últimas décadas ascenderam a valorização do corpo e ditaram
o modelo “ideal” de físico, desprezando o aspecto saúde, na
obtenção do mesmo. O registro crescente de consumo de substâncias ergogênicas, principalmente entre jovens, demonstra
que não há limites para a aquisição de padrões estéticos.
Quanto a freqüência de treino, 90% dos usuários de
recursos realizavam as rotinas de musculação, mais do que 4
dias na semana. Segundo Dantas [22], levando-se em consideração que o objetivo principal da maioria dos usuários era
a hipertrofia, verifica-se que a freqüência semanal de treinos
encontrava-se em conformidade com os princípios científicos
do treinamento desportivo. Santos & Santos [18] encontraram em seu estudo 56% de praticantes com freqüência
semanal de 5 vezes.
Também pode-se perceber que 90% dos usuários de recursos ergogênicos dividiam as sessões em rotinas diferentes (A e
B ou A, B e C) em dias alternados de prática, caracterizando,
desta forma, estrutura de treinos mais avançados e intensos,
condizentes com o objetivo de hipertrofia e a freqüência de
mais de 4 dias na semana, verificados anteriormente [27].
Os usuários de REF, às vezes, realizavam alongamentos
(70%) quando praticavam a musculação. Como argumentado
anteriormente, a problemática conceitual, metodológica e
78
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
fisiológica entre alongamento e flexionamento repercute de
forma negativa entre aqueles que realizam exercícios físicos
com a intenção hipertrófica, ressaltando-se que, segundo
Guiselini [27], músculos muito encurtados podem exercer
uma pressão muito grande em partes do corpo mais suscetíveis a tensões.
Os REF mais citados, entre os usuários, foram os classificados no grupo de EAA – Hemogenim, Deca-Durabolin e
Durateston, seguidos por Winstrol e Testosterona, (Tabela I).
O estudo realizado por Iriart & Andrade [21], em Salvador
(BA), verificou a predominância do uso de Testosterona e
Nandrolona, além da combinação de Testosterona e Estradiol. Segundo Araújo et al. [24], dos 17 usuários de EAA das
academias de Goiânia (GO), 66% utilizavam Hemogenim
e Testosteron.
dologia “mista”. Foi identificado entre os pesquisados um que
adotava o “ciclo” (cycling), que usava o EAA por 8 semanas
consecutivas e, após um intervalo não definido, retomava a
administração.
Tabela I - Distribuição da freqüência e percentagem de usuários,
segundo o tipo de REF usado pelos praticantes de musculação das
academias de Santa Maria (RS), 2004.
Observou-se que a grande maioria das pessoas que relataram o uso de recursos ergogênicos, especificamente os
EAA, afirmaram que a motivação se deu pelo aumento no
desempenho (60%) e do peso corporal (50%). A utilização
de anabolizantes está associada àqueles que possuem neurose
pelo corpo e são, freqüentemente, compulsivos pelo exercício
e desejam resultados a curto prazo [19].
Possivelmente, o aumento de peso corporal, associado ao
uso de esteróides anabolizantes, está relacionado às sínteses
de proteínas no músculo esquelético, principalmente devido
à regulação da transcrição do RNA ribossômico, quando aplicado por períodos curtos; porém, estes efeitos, provavelmente,
perdem-se ou diminuem após algumas semanas, ou mesmo
pelo uso continuado da droga [28].
Entre as respostas para o resultado que os usuários observaram, pode-se citar: “Estou mais forte!”; “ganhei peso e
aumentei a massa muscular”; “a recuperação é mais rápida”;
“estou mais definido”. Diante dessas afirmações é cabível a
citação de Iriart & Andrade [21]: “O anabolizante é visto
então, como uma droga poderosa que permite ao organismo
trabalhar mais rapidamente, proporcionando resultados quase
mágicos, e recompensando imediatamente o suor despendido
na malhação”.
Quando questionados sobre quem orientou o uso dos
produtos - REF, as informações concentraram-se em por
vontade própria (50%) e por orientação médica (30%).
Oportuno esclarecer, que o percentual verificado na indicação
de REF por médicos não representam significativamente a
realidade dos profissionais desta área, que desempenham suas
atividades na cidade de Santa Maria (RS). No estudo realizado
por Araújo et al. [24], a fonte mais utilizada para indicação
de anabolizantes foram o professor (11%) e por intermédio
de amigos (11%). Segundo o trabalho realizado por Rocha
& Pereira [29], 63% receberam orientação para o consumo,
dos quais 41% por profissionais da saúde e 59% através de
professores, amigos e leitura sobre o assunto.
A aquisição destas substâncias ocorreu, preferencialmente, em farmácias (50%) e através do professor da academia
Recurso ergogênico farmacológico
Deca-Durabolin
Durateston
Hemogenim
Winstrol
Testosterona
Cocaína
Ecstasy
f
6
5
4
3
3
2
3
%*
60.00
50.00
40.00
30.00
30.00
20.00
30.00
*A soma dos percentuais não totaliza 100% por ter sido permitido a
marcação de mais de uma opção.
A Tabela II demonstra que as formas de administração
mais utilizadas foram oral e injetável. Iriart & Andrade [21]
relataram no seu estudo que a via de administração injetável
é preferida por ser mais barata e produzir efeito imediato.
Foi verificado, também, que 70% dos usuários da amostra
fazem uso combinado de REF, na tentativa de potencializar
os efeitos anabólicos e, muitas vezes, minimizar os efeitos
androgênicos e adversos [4].
Tabela II - Distribuição da freqüência e percentagem de usuários,
segundo a forma de administração de REF usado entre os praticantes
de musculação das academias de Santa Maria (RS), 2004.
Formas de Administração REF
Oral
Injetável
Supositório
Adesivo
f
5
5
2
1
%*
50.00
50.00
20.00
10.00
A soma dos percentuais não totaliza 100% por ter sido permitido a
marcação de mais de uma opção
Quanto a freqüência de uso dos ergogênicos, na Tabela
III, verifica-se que houve predominância da aplicação diária
e semanal que, reforçada pela combinação de uso oral e
injetável que, segundo Lise et al. [4], caracterizaram a meto-
Tabela III - Distribuição do número e percentagem de usuários,
segundo a freqüência de uso de REF pelos praticantes de musculação
das academias de Santa Maria (RS), 2004.
Freqüência de uso REF
Somente em dias de treino
Diário
Semanal
Quinzenal
Não definido
Total
n
1
4
3
1
1
10
%
10.00
40.00
30.00
10.00
10.00
100.00
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
(20%). Outra importante ressalva faz-se necessária, visto que
se verificou que nem todos os instrutores de musculação das
academias de Santa Maria (RS) são profissionais formados
em Educação Física. Pesquisas têm demonstrado que, além
dos farmacológicos, recursos ergogênicos nutricionais têm
sido indicados por instrutores e professores das academias
[24,18,30]. Segundo o Código de Ética do Conselho Federal
de Educação Física - CONFEF [31], esta prática caracteriza
exercício irregular da profissão e demonstra uma atitude
antiética destes profissionais.
Os usuários de REF também foram questionados quanto
aos problemas relacionados à ingestão dos produtos avaliados.
Foram relatados, principalmente, irritação, euforia e agressividade (Tabela IV). Lise et al. [4] considera a euforia e a irritação
como efeitos adversos comuns. Segundo o estudo de Araújo
et al. [24], os usuários de anabolizantes referiram-se à euforia
(81%) e aumento de cravos e espinhas (94%).
Tabela IV - Distribuição da freqüência e percentagem dos efeitos
adversos causados pelo uso de REF por praticantes de musculação
das academias de Santa Maria (RS), 2004.
Efeito adverso
Irritação
Euforia
Agressividade
Hálito forte
Cãimbras
Tremores
f
5
4
4
4
2
2
%*
50.00
40.00
40.00
40.00
20.00
20.00
A soma dos percentuais não totaliza 100% por ter sido permitido a
marcação de mais de uma opção.
A maioria dos usuários (80%) afirmou ter conhecimento
sobre os possíveis efeitos colaterais que costumam ocorrer.
Apesar de alarmante, este dado confirma os achados discutidos
anteriormente: usuários com maior grau de escolaridade e
independência financeira deixaram-se iludir pelos benefícios
ergogênicos imediatos, para alcançar objetivos puramente
estéticos, menosprezando os potenciais riscos para a saúde,
a qualquer tempo.
Entretanto, segundo Iriart & Andrade [21], no estudo
realizado entre jovens de um bairro popular de Salvador (BA),
foi observado que “de maneira geral, os fisiculturistas entrevistados não demonstraram bom nível de informação sobre
os danos causados à saúde pelos anabolizantes que utilizam”.
Ressalta-se a falta de informação em relação às propriedades
farmacológicas dos EAA, o conhecimento informal através de
experiências próprias ou de amigos e a tolerância aos sintomas
mais comuns que não refletem os efeitos a longo prazo.
Confirmando o exposto anteriormente e, apesar dos usuários terem afirmado possuir conhecimento sobre os efeitos
adversos causados pelo uso de REF, 90% destes não realizam
exames bioquímicos para controlar as possíveis alterações
metabólicas, demonstrando que talvez este conhecimento
restrinja-se aos efeitos mais comuns e menos preocupantes.
79
Apesar de não ser objeto de estudo desta pesquisa, é importante registrar que 3,39% (n = 8) informaram o uso de
suplementos nutricionais, demonstrando o desconhecimento,
por parte dos usuários, do tipo de recurso ergogênico que
utilizavam.
Os recursos ergogênicos nutricionais - REN citados
foram Creatina, L-Carnitina, Albumina, Proteína de Soja
Texturizada e Levedura de Cerveja, motivados por melhora de
desempenho e pela vontade de emagrecer. Foi verificado que
a indicação ocorreu por vontade própria, através de amigos
e familiares e por informações obtidas por meio de publicações especializadas. A grande maioria relatou que adquiriu os
produtos em lojas do ramo e em farmácias. A administração
acontecia na forma oral, líquidos, cápsulas e em pó, diariamente ou somente em dias de treino. Os resultados obtidos
com o uso de REN foram diversos, desde emagrecimento,
maior disposição para treinar e aumento de massa muscular,
até o não reconhecimento de nenhum efeito. Os usuários de
REN afirmaram possuir conhecimento sobre os efeitos adversos, porém, o único relatado foi cefaléia esporádica e não
realizam exames bioquímicos de controle. Em relação ao gasto
mensal na aquisição dos suplementos, verificou-se que estes
se encontram numa faixa de valores bem inferior a dos REF,
concentrando-se em aproximadamente R$ 20,00.
Conclusão
Os dados produzidos neste estudo permitem concluir que
o uso de recursos ergogênicos farmacológicos por praticantes
de musculação nas academias de Santa Maria, RS é considerado de médio para alto quando comparado às pesquisas
consultadas, representando 4,24% da amostra estudada.
Entre os recursos ergogênicos farmacológicos mais utilizados, os esteróides anabolizantes androgênicos ganharam
destaque, sendo, o Deca-Durabolin, Hemogenin e Durateston, os mais citados.
Todos os usuários eram do sexo masculino e, a maioria
deles, tinha idade entre 23 e 28 anos, nível de escolaridade
superior, renda até 6 salários mínimos e comprometiam entre
R$ 136,00 e R$ 248,00 mensais na aquisição dos REF.
A estética foi a maior motivação entre os usuários para
praticar a musculação. O tempo de treino variou até três anos,
sendo a hipertrofia, o principal objetivo. A maior parte dos
usuários treinava de quatro a seis dias por semana, em rotinas
subdivididas e às vezes incluíam alongamentos à sessão.
Melhor desempenho físico foi o motivo que levou os
usuários a utilizarem os REF, por vontade própria, adquiridos,
principalmente, em farmácias.
A administração ocorria nas formas oral e injetável, diariamente, e verificou-se alguns relatos positivos de resultados.
Contudo, os usuários de REF admitiram ter conhecimento
sobre os efeitos colaterais e não realizarem exames bioquímicos
de controle. Euforia, irritação e agressividade foram os efeitos
adversos mais assinalados.
80
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Diante da pouca literatura encontrada sobre o consumo
de REF entre os praticantes de exercícios físicos brasileiros,
faz-se necessário a realização de outros trabalhos para identificar com maior precisão o consumo destas substâncias pelos
freqüentadores de academias de ginástica.
Considera-se de suma importância a divulgação das conseqüências do uso de REF e orientação das pessoas diretamente
envolvidas na prática esportiva, visto que o consumo deste
tipo de substância apresenta-se significativa.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
81
Revisão
Treinamento de força muscular em portadores
da síndrome da fibromialgia
Muscle strength training in patients with fibromyalgia syndrome
Sérgio Siqueira Teotônio*, José Sílvio de Oliveira Barbosa**
*Licenciatura Plena em Educação Física e Desportos na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, **Orientador, UERJ
Resumo
Abstract
A Síndrome da Fibromialgia (SFM) é uma condição dolorosa
generalizada, crônica, não-inflamatória. É considerada síndrome pela
razão de englobar uma série de manifestações clínicas, como dor,
fadiga, indisposição, distúrbios do sono, entre outras. Apesar de a
SFM poder apresentar-se de forma extremamente dolorosa e incapacitante, ela não ocasiona comprometimento articular inflamatório
ou restritivo. A dor muscular é uma manifestação muito freqüente
na fibromialgia, podendo ser difusa ou acometer preferencialmente
algumas regiões, como o pescoço e os ombros. Os exercícios físicos
geralmente são incluídos no programa de reabilitação de pacientes
com SFM. Apesar de haver muitos estudos examinando o efeito
do treinamento aeróbio, relaxamento muscular e alongamentos,
o treinamento de força (TF) como meio de tratamento foi pouco
estudado. Apenas recentemente, os pesquisadores têm avaliado e
incluído o TF em programas de exercício físico para indivíduos
com fibromialgia. Assim, o TF vem surgindo como mais uma
estratégia de intervenção ou opção de tratamento, no sentido de
intervir positivamente no tratamento da SFM, minimizando o
quadro miálgico, bem como melhorando a qualidade de vida dos
indivíduos por ela afetados.
The Fibromyalgia Syndrome (FMS) is a non-inflammatory
chronic pain condition. It is considered a syndrome due to clinical
symptoms: musculoskeletal pain, fatigue, tiredness, sleep disturbances and headache. Although FMS maybe extremely painful, there
is no inflammatory or restrictive findings. Pain may be diffuse or
focused in determined points on the body as neck and shoulders.
Physical exercises are included in rehabilitation program for FMS.
There are several studies analyzing effects of aerobic training, muscular relaxation, stretching on FMS, but few researches focused on
resistance training (RT) as treatment tool for FMS. There are recent
studies including RT in physical exercises programs for FMS, so
that RT appears as an auxiliary tool for FMS treatment. Exercises
are commonly included. Treatment plans must be individualized to
respond to the patient’s needs and lifestyle. Several studies show the
effect of aerobic treatment, muscular relaxing and extension. Exercise
has proven to be beneficial and essential as a natural treatment for
fibromyalgia. Strength training as a treatment for fibromyalgia has
not been much studied. Nowadays it has been included as another
way of treatment and can produce great improvements in overall
health.
Palavras-chave: treinamento, força, fibromialgia.
Key-words: training, strength, fibromyalgia.
Recebido em 26 de maio de 2008; aceito em 22 de agosto de 2008.
Endereço para correspondência: Sérgio Siqueira Teotônio, Rua Júlio de Castilho, Lt 06, Qd 12, Parque São Judas Tadeu, 25540-330
São João de Meriti RJ
82
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Introdução
A Educação Física vem ampliando seu campo de ação e
se especializando em diferentes áreas em função da crescente
demanda por atividades preventivas e terapêuticas. A prescrição de exercícios está buscando cada vez mais atender às
peculiaridades de cada indivíduo.
Para pessoas portadoras de doenças crônicas isso não é
diferente. Como veremos mais adiante, diversos estudos vêm
sinalizando para a importância da inclusão de exercícios físicos,
em suas rotinas de vida, auxiliando a prevenção e ao tratamento.
Há uma crescente demanda por estas atividades, ainda mais
por possuírem efeitos terapêuticos sobre a dor [1].
Dentre as patologias que apresentam dor crônica, a Síndrome da Fibromialgia (SFM) – ou, simplesmente, fibromialgia –
vem despertando cada vez mais interesse de pesquisadores pela
necessidade de respostas a diversas questões que continuam
parcialmente respondidas e pelo grande número de pessoas
que procuram clínicas, ambulatórios, centros esportivos,
clubes e academias em busca de exercícios físicos adaptados
a suas necessidades. Vale ressaltar o aumento da pesquisa e
melhoria da qualidade científica de estudos sobre SFM e
exercícios físicos nos últimos 20 anos [2].
Para que possa ser oferecida mais uma variedade de atividade
física ao portador de fibromialgia, possibilitando mais um auxílio ao controle de seu quadro clínico e ainda melhorando sua
qualidade de vida, buscou-se através desta revisão de literatura,
identificar os prováveis benefícios proporcionados pelo treinamento de força, ainda hoje carente de um número maior de
publicações sobre sua efetividade, benefícios e mecanismos.
Sabendo que a fibromialgia é uma patologia que acomete
o músculo esquelético, torna-se necessário saber sobre sua
estrutura e funcionamento, como ele se compõe, assim como
sobre a síndrome e da possível contribuição do treinamento de
força no controle do quadro clínico e melhora da qualidade
de vida de seus portadores.
Este trabalho divide-se, portanto, em quatro partes: a
primeira faz uma descrição da síndrome da fibromialgia; em
seguida, uma breve abordagem sobre os aspectos musculares
do corpo humano; depois, as possíveis contribuições do
treinamento de força para os portadores da síndrome; e por
fim, são apresentadas algumas sugestões para prescrição de
um programa de treinamento de força.
Para o desenvolvimento deste estudo, optou-se pela pesquisa bibliográfica, em função desta demonstrar diferentes
metodologias empregadas no treinamento da força muscular
em portadores da SFM e seus respectivos resultados, auxiliando para uma futura prescrição de exercícios mais segura
e com alguma perspectiva.
A síndrome da fibromialgia
Dor difusa não é um sintoma novo. A partir dos anos
70, do século passado, ela passou a ser estudada com maior
interesse. Um grupo específico de pacientes com quadro de
dor difusa foi melhor caracterizado clinicamente recebendo
então a denominação de Síndrome da Fibromialgia (SFM).
Desde então houve grande divulgação desta enfermidade
e suas particularidades, assim como das crenças que não
apresentavam o menor fundamento. Durante um determinado período houve um questionamento por parte de alguns
membros da comunidade médica reumatológica acerca do
diagnóstico da SFM, isso, antes do estabelecimento dos critérios de diagnóstico; principalmente pela crença de que tal
enfermidade apresentava etiologia psicogênica [3].
Felizmente, essa visão vem decrescendo aceleradamente
à medida que clinicamente a fibromialgia tem sido melhor
caracterizada e o conhecimento dos possíveis mecanismos
envolvidos na sua sintomatologia tem avançado.
O reconhecimento das vias aferentes, das vias inibitórias
de dor e da ação de neurotransmissores permitiu compreender melhor os mecanismos que controlam o processamento
central da dor. Alterações do fluxo sangüíneo cerebral bem
como sua atividade metabólica em pacientes com dor crônica
corroboram a hipótese da presença de alterações no processamento central da dor e que justificam a alodínea e hiperalgesia
observadas nestes pacientes [1].
A musculatura esquelética representa um importante
alvo na SFM, pois muitos pacientes relatam ser o local onde
sentem maior dor e rigidez [4]. Isso ocorre devido ao fato da
dor muscular ser o sintoma principal da síndrome. Por esse
motivo, os estudos sobre a musculatura esquelética recebem
a atenção de muitos investigadores.
Atualmente sabe-se que a fibromialgia é uma forma de
reumatismo associada à sensibilidade do indivíduo frente a
um estímulo doloroso. O termo reumatismo pode ser justificado pelo fato de a fibromialgia envolver músculos, tendões
e ligamentos. O que não quer dizer que acarrete deformidade
física ou outros tipos de seqüela [3].
A fibromialgia tem despertado crescente interesse da classe
médica em diferentes especialidades, pois suas manifestações
vêm associadas geralmente a outras doenças. Portanto, se
uma pessoa apresentar queixas de dor muscular por um
período maior que três meses consecutivos, aconselha-se que
ela procure o seu médico para que o diagnóstico correto seja
estabelecido [5].
Uma patologia crônica como a SFM, necessita de uma
abordagem multidisciplinar [1]. Portanto, a abordagem
atual do indivíduo com SFM baseia-se na associação de terapêuticas medicamentosa, psicológica e de reabilitação física,
dependendo da gravidade dos sintomas, das caracterísicas
físicas e psicológicas do paciente, da presença ou não de doenças concomitantes e de fatores agravantes. O tratamento
da SFM deve objetivar o controle e até mesmo uma possível
redução dos sintomas no quadro fibromiálgico. Dentre os
resultados identificadores de sucesso no tratamento, pode-se
citar a redução da dor, principal característica da síndrome;
e a melhoria do sono, sendo que distúrbios do sono são rela-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
tados na maioria dos casos [6]. Assim, o tratamento da SFM
ajuda o fibromiálgico a lidar com as tarefas da vida diária de
maneira mais eficiente.
Após o diagnóstico e a avaliação do médico, bem como a
identificação de qualquer doença associada, o próximo passo
é estabelecer os objetivos em curto, médio e longo prazo.
Segundo Norm e Hanson [7], o objetivo imediato é educar
e informar o paciente sobre sua doença, assegurando-lhe
que seus sintomas são reais e podem ser controlados. Em
seguida a isso, a terapêutica pode ser dividida em nãomedicamentosa e medicamentosa. Na realidade, as duas
são aplicadas concomitantemente e se complementam [1].
Apenas 25 a 45% dos pacientes respondem, contudo, ao
tratamento com drogas [8]. Após cinco anos, mais de 80%
continuam sintomáticos [9]. Sendo assim, a terapia medicamentosa sozinha é insuficiente no tratamento de pacientes
fibromiálgicos. As formas de tratamento não medicamentoso
atualmente utilizadas são: acupuntura, tratamento cognitivo comportamental, biofeedback (técnica de relaxamento
e reeducação corporal na qual o indivíduo monitora sua
contração e relaxamento por meio de eletroneuromiografia
– EMG) e exercícios físicos [1].
Definição e breve histórico
No início do século XX, pessoas que apresentavam dor
generalizada e uma série de queixas mal definidas não tinham
sua condição tratada como sendo sua patologia a fibromialgia.
Por vezes, diagnósticos envolvendo problemas emocionais
consideravam tais problemas como fator determinante desse
quadro ou então um diagnóstico errôneo estabelecia como
“fibrosite”, inflamação das fibras musculares. Isso ocorria, pois
se acreditava que houvesse o envolvimento de um processo
inflamatório muscular, daí a terminação “ite” [10].
Atualmente sabe-se que as dores difusas – com recorrência
durante determinado tempo – não estão somente relacionadas
com problemas emocionais ou estresse da vida diária, como
é o caso da Síndrome da Fibromialgia [11].
Epidemiologia
Com base em pesquisas internacionais, a freqüência da
fibromialgia é de 1 a 5% na população em geral [11]. Nos
serviços de clínica médica, essa freqüência é em torno de
5%, e nos indivíduos hospitalizados, 7.5%. Em clínicas de
reumatologia, por sua vez, essa síndrome é detectada entre
14% dos atendimentos. No Brasil, uma pesquisa feita com
as populações de Porto Alegre, Fortaleza e Rio de Janeiro, em
1982, observou que 10% da população total destes estados
era portadora de fibromialgia, além de ressaltar a influência
de fatores sócio-econômicos [1].
A fibromialgia é mais freqüente no sexo feminino, que corresponde a 80% dos casos [11]. As estimativas de prevalência
variam de acordo com os estudos, a população avaliada e a
83
metodologia aplicada, mas, de maneira geral, a fibromialgia
afeta indivíduos do sexo feminino, entre 80 e 90% dos casos
detectados. Cerca de 10 % das mulheres adultas jovens entre
20 e 49 anos são afetadas, sendo que a prevalência tende a se
elevar com a idade, alcançando cerca de 23% das mulheres
na sétima década de vida [12-14].
Em média, a idade do seu início varia entre 29 e 37 anos,
sendo a idade de seu diagnóstico entre 34 e 57 anos, pois em
geral tardiamente o paciente consegue encontrar um profissional que lhe dê um diagnóstico preciso. Os sintomas de dor,
fadiga e distúrbios do sono tendem a instalar-se lentamente
na vida adulta. No entanto, 25% dos casos referem apresentar
estes sintomas desde a infância [11].
Manifestações clínicas comumente encontradas
A principal queixa dos pacientes com fibromialgia é a
dor difusa e crônica, muitas vezes difícil de ser localizada ou
caracterizada com precisão [15]. Os distúrbios do sono e a
fadiga são relatados por 75% dos casos, fadiga esta que tem
início logo ao despertar e duração maior do que uma hora,
reaparecendo no meio da tarde. Os pacientes referem, ainda,
rigidez matinal e sensação de sono não restaurador, apesar de
terem dormido de 8 a 10 horas. O sono é superficial, tendo
os pacientes, facilidade de acordar frente a qualquer estímulo,
além de apresentar um despertar precoce [6].
Embora os distúrbios do humor estejam presentes em
grande parte dos indivíduos com fibromialgia, em pelo menos
25% não se encontra indício algum de distúrbio emocional.
Tal dado contraria a origem psíquica da fibromialgia. Sabese hoje que a sensibilidade dolorosa apresenta dois componentes, o discriminativo e o comportamental. Este último
sofre influência constante de nosso estado do humor. Esta
interação entre o componente comportamental da dor e o
estado emotivo nos possibilita entender como os distúrbios
do humor influenciam a sensibilidade dolorosa. Cerca de 50%
dos pacientes possuem depressão. Ansiedade, alteração do
humor e do comportamento, irritabilidade ou outros distúrbios psicológicos acompanham aproximadamente 1/3 destes
pacientes, embora o modelo psicopatológico não justifique a
presença da fibromialgia [16].
Apesar de a fibromialgia poder apresentar-se de forma
extremamente dolorosa e incapacitante, ela não ocasiona
comprometimento articular inflamatório ou restritivo [17].
A presença dos pontos dolorosos é um achado importante do
exame físico, não se observando edema ou sinovite, a não ser
na concomitância de patologias como a osteoartrite ou artrite
reumatóide [18]. A fraqueza muscular, o adormecimento e
tremor em extremidades, embora referidos por 75% dos pacientes, não são comprovados ao exame neurológico [19].
Outros achados do exame físico incluem o espasmo
muscular localizado, referidos como nódulos, a sensibilidade
cutânea ao pregueamento (alodinia) ou dermografismo, após
compressão local. A sensibilidade ao frio também pode estar
84
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
presente e manifestar-se como “cutis marmorata” em especial
nos membros inferiores [20].
A dor muscular, apesar de difusa, pode acometer preferencialmente algumas regiões, como o pescoço e os ombros
e então propagar-se para outras áreas do corpo. O indivíduo
descreve sua sensação de dor das mais diferentes formas, desde
um leve incômodo até uma condição incapacitante. Por vezes
relata ardência, dor em pontadas, rigidez, câimbras [21].
bios do sono) poderiam ativar nociceptores e meconoceptores,
que ocasionariam excitação na neurotransmissão da dor por
meio do Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso
Simpático (SNS); a dor e a inatividade conduziriam ao descondicionamento do músculo e à fadiga, ficando o músculo
mais exposto ao microtrauma. Os distúrbios do sono e outras
condições orgânicas ou psicológicas poderiam agravar o microtrauma muscular.
Possíveis fatores desencadeantes
Diagnóstico
A fibromialgia está relacionada à interação de fatores genéticos, neuroendócrinos, psicológicos e distúrbios do sono
[22]. Frente a processos dolorosos, a esforços repetitivos, à
artrite crônica, a situações estressantes como cirurgias ou
traumas, processos infecciosos, condições psicológicas e até
retirada de medicações, como corticosteróides, pode haver
alterações nos mecanismos de percepção da dor, predispondo o indivíduo à fibromialgia [24,25]. Assim sendo, uma
infecção, um episódio de gripe ou um acidente de carro pode
estimular o aparecimento dessa síndrome. Por outro lado, os
sintomas de fibromialgia podem provocar alterações no humor
e diminuição da atividade física, o que agrava a condição de
dor. Pode-se observar, portanto, uma “via de mão dupla”
nesta doença [11].
Não se pode afirmar que a fibromialgia seja uma condição
psiquiátrica primária, porém fatores psicológicos apresentam
atuação importante em alguns pacientes [26,27].
Parece que os distúrbios psicológicos como a ansiedade,
depressão e estresse atuam como fatores de retro-alimentação
positiva à condição dolorosa crônica em portadores da SFM
[24].
Doenças crônicas, como as artropatias inflamatórias,
devem, muitas vezes, ser encaradas dentro de um contexto
biopsicossocial, uma vez que não existe um processo biológico
único envolvido em sua origem, no entanto, evidências de
lesão tecidual estão presentes. O termo “síndromes disfuncionais” foi proposto por Yunus [24] para melhor compreender os
mecanismos biofisiológicos envolvidos em síndromes crônicas
nas quais não se detecta lesão tecidual. Pela denominação
“mecanismos biofisiológicos”, entende-se a natureza de uma
determinada entidade clínica, suas causas, processos e conseqüências. Este modelo integrado é o que melhor se aplica
ao estudo da fibromialgia.
Uma idéia bastante razoável sugerida por Feldman [28],
para explicar como o músculo esquelético é afetado pela SFM,
engloba, entre outros fatores, a microcirculação muscular e
o microtrauma repetitivo do músculo. Fatores preexistentes
(alterações nos receptores de serotonina, endorfina) e fatores
precipitantes (trauma repetitivo, descondicionamento, distúr-
Estudos demonstram que a definição do diagnóstico bem
como a melhor compreensão por parte do paciente sobre a
natureza da sua doença contribuem para aliviar seu “comportamento doentio”, aliviar sua sintomatologia complexa e
conseqüentemente reduzir sua procura por serviços médicos
diminuindo os gastos com a saúde. Estes pacientes adquirem
melhores condições de enfrentamento de situações adversas
apresentando uma evolução mais favorável [29].
Como não existem exames complementares que por si só
confirmem o diagnóstico, a experiência clínica do profissional
que avalia o indivíduo com fibromialgia é fundamental para o
sucesso do diagnóstico e do tratamento. Porém, é importante
ressaltar que a boa descrição dos sintomas – em detalhes – e
da duração dos mesmos são fatores também determinantes
para um diagnóstico efetivo [30].
Há pesquisas que indicam, ainda, que o portador da SFM
pode apresentar problemas cardiorrespiratórios [31].
Em 1990 foram elaborados critérios diagnósticos que,
embora sejam atualmente criticados, ainda são muito utilizados, sobretudo em estudos de pesquisa clínica. Esses critérios
auxiliam no diagnóstico dessa síndrome, diferenciando-a de
outras condições que acarretem dor muscular ou óssea. Eles
valorizam a questão da dor difusa por um período maior que
três meses e a presença de pontos dolorosos padronizados [3235]. Esses pontos são considerados presentes quando, ao serem
pressionados pelo médico a uma certa intensidade (4 kgf de
pressão máxima), o indivíduo refere dor [36]. A presença de
sensibilidade dolorosa em determinados sítios anatômicos,
é um achado clínico importante e são chamados de “tender
points” [37] ou “pontos dolorosos”.
Faz-se importante ressaltar que os “pontos dolorosos”
não são geralmente conhecidos pelos pacientes, e normalmente não se situam na zona central de dor por eles
referida. Os critérios de resposta dolorosa em pelo menos
11 desses 18 pontos é recomendado como proposta de
classificação, mas não deve ser considerado como essencial
para o diagnóstico. Alguns pacientes com menos de 11
sítios dolorosos podem ser classificados como portadores
de fibromialgia [38].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Figura 1 - “Tender Points” ou “Pontos Dolorosos”.
Desde 1990 esses critérios estabelecidos pelo Colégio
Americano de Reumatologia (ACR) são adotados internacionalmente para o diagnóstico da fibromialgia [39].
Fatores moduladores
As manifestações de dor podem variar de acordo com o
horário do dia, intensidade dos esforços físicos realizados,
condições climáticas, aspectos emocionais e ligados ao padrão do sono [40]. Os principais fatores geradores e também
moduladores são: estresse emocional, processos infecciosos
(principalmente virais) e traumas físicos (DORT, cervicalgia
pós-acidente, cirurgias de grande porte). As situações de estresse, falta de condicionamento físico e a reação psicológica
às doenças poderiam atuar como amplificadores nociceptivos
e perpetuadores dos sintomas dessa síndrome [1].
A dor
Devido ao fato de a dor muscular ser o sintoma principal
desta condição, os estudos do músculo tem recebido atenção
de muitos investigadores. Durante os últimos anos, os estudos
controlados, comparando a estrutura e a função muscular
desses pacientes, apresentaram resultados controversos.
Os achados histológicos nesses pacientes, tanto por microscopia ótica como por microscopia eletrônica, têm se mostrado
normais ou com alterações estruturais não-específicas, que
também são encontradas nos pacientes-controle [41-44].
A isquemia ou o distúrbio metabólico parece exercer
influência, pelo menos nos sítios denominados “tender
points”, pois os estudos do metabolismo muscular concluíram que existem anormalidades de oxigenação nesses pontos
musculares [45,46]. Contudo, não foi provado ainda se tal
anormalidade seria uma alteração primária do músculo, ou
85
seria secundário ao descondicionamento físico aeróbio desses
indivíduos, uma vez que cerca de 80% dos fibromiálgicos
apresentam níveis abaixo da média nos estudos de condicionamento aeróbio [47].
Uma antiga hipótese sobre a possibilidade de que “a
hipóxia produziria espasmo muscular e isquemia, que conseqüentemente aumentaria a dor causando mais espasmos, e
assim formaria um ciclo vicioso”, não se sustentou pela falta
de evidência eletrofisiológica de espasmo muscular nestes
pacientes [43].
A força e o desempenho muscular de pacientes portadores
de SFM são comparáveis aos das pessoas normais [48,49]. Porém, existe uma diminuição da contração voluntária máxima
(provavelmente pela falta de esforço voluntário) e, em alguns
casos, uma diminuição na capacidade de relaxamento durante
os intervalos de contração muscular dinâmica [43,50,51].
Trabalhos recentes aplicando a técnica de espectroscopia
por ressonância magnética nuclear utilizando fósforo (P31),
no intuito de estudar o metabolismo muscular na fibromialgia, não conseguiram demonstrar anormalidades, tanto nos
“tender points” como em sítios não-dolorosos [52,53].
Os estudos de fluxo sangüíneo muscular demonstram
alterações que podem ser justificadas apenas pelo descondicionamento físico [47].
Outra hipótese sugere que a origem da dor nesta síndrome
seria por tensão muscular excessiva, que conduziria a uma
excitabilidade elevada de seus nociceptores, ocasionando um
aumento no tônus muscular, juntamente com uma disfunção
simpática que levaria a um distúrbio na microcirculação e,
novamente, a uma excitação de nociceptores [54]. Entretanto,
estudos de eletroneuromiografia não demonstraram tensão
muscular excessiva ou qualquer disfunção nervosa simpática
[55-59].
Há também hipótese bastante razoável, em que são consideradas alterações centrais (sistema nervoso central) e periféricas (musculatura) na fibromialgia, que engloba, dentre outros
fatores, a microcirculação muscular e o microtrauma repetitivo
no músculo. Fatores genéticos (alterações nos receptores de
serotonina, endorfina) e fatores precipitantes (trauma repetitivo, descondicionamento, distúrbios do sono) poderiam
levar os nociceptores e mecanoceptores, que ocasionariam excitação na neurotransmissão da dor através SNC e do sistema
nervoso simpático, a dor e a inatividade, que conduziriam ao
descondicionamento do músculo e a fadiga, ficando o músculo mais exposto ao microtrauma. Os distúrbios do sono e
outras condições orgânicas ou psicológicas poderiam agravar
o microtrauma muscular [47]. Como se percebe, então, essa
hipótese envolve também fatores centrais, como o estado
psicológico ou as alterações nos neurotransmissores.
Yunus [60] propõe um modelo de fisiopatologia que
integram muitas das idéias publicadas e que sugere que
o distúrbio primário na fibromialgia seria uma alteração
em algum mecanismo central de controle da dor, o qual
poderia resultar de uma disfunção de neurotransmissores.
86
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Tal disfunção neuro-hormonal incluiria uma deficiência de
neurotransmissores inibitórios em níveis espinhais ou supraespinhas (serotonina, encefalina, norepinefrina e outros),
ou uma hiperatividade de neurotransmissores excitatórios
(substâncias P, glutamato, bradimicina e outros peptídeos),
ou ainda ambas as condições poderiam ser geneticamente
predeterminadas e talvez desencadeadas por algum estresse
não-específico como, por exemplo, uma infecção viral,
estresse mental ou trauma físico.
Uma excelente revisão foi publicada discutindo as
anormalidades do eixo hipófise-hipotálamo-adrenal e o
sistema nervoso simpático, que são os principais sistemas
de resposta ao estresse, e suas interações com outras disfunções neuro-hormonais, e que podem todas contribuir
para essa síndrome dolorosa crônica. Neste trabalho,
sugere-se que a vulnerabilidade ao desenvolvimento de
fibromialgia possa ser influenciada por fatores genéticos,
ambientais e hormonais, causando alterações nos receptores
neuro-hormonais; algum fator estressante agudo poderia
desencadear o desenvolvimento de perturbação do eixo
hipófise-hipotálamo-adrenal por mecanismos ainda não
esclarecidos, mas que poderia envolver o sistema nervoso
simpático e o sistema serotoninérgico. Talvez, então, o eixo
hipófise-hipotálamo-adrenal possa desempenhar um papel
na mediação e na perpetuação dos sintomas da síndrome
da fibromialgia [61].
Evidências de anormalidades centrais e neuro-hormonais
têm sido declaradas desde os primeiros estudos de polisonografia em fibromialgia que reportaram um padrão anormal
de instrução de ondas alfa durante os estágios 2, 3 e 4 do
sono não-REM, conhecido como traçado “alfa no delta”
[6,62]. Esse achado corresponde a um aumento da tonicidade
muscular global, a um aumento na freqüência respiratória e
ao aparecimento de mioclonias. Convém lembrar que esses
achados não são exclusivos da fibromialgia, podendo ocorrer
na síndrome da fadiga crônica, na artrite reumatóide, na
depressão e em outras condições ou, até mesmo, em pessoas
saudáveis.
Apesar da incerteza quanto à causa dos distúrbios do sono
na fibromialgia, sabe-se que alterações nos neuro-hormônios
modulares da dor exercem influência na fisiologia do sono
e nos sintomas desta síndrome. A deficiência de serotonina,
um neuro-hormônio inibitório da dor, pode contribuir
para as anomalias do sono, depressão e amplificação da
dor [63].
A liberação de sustância-P, um neuro-hormônio excitatório, é influenciada pela deficiência de serotonina,
seja no sistema nervoso central, seja no sistema nervoso
periférico e pode causar um aumento na percepção da
dor [63].
Alguns acreditam que o triptofano, um precursor da
serotonina e também um neuromodulador, e outros nove
aminoácidos teriam sua concentração plasmática diminuída
na fibromialgia e ainda, que existiria uma maior afinidade na
ligação de imipramina aos receptores serotonérgicos plaquetários nesses pacientes [34].
Pesquisas também evidenciaram uma diminuição dos
níveis de triptofano e de outros aminoácidos, e um aumento da concentração de substância-P, endorfinas e ácido
5-hidroxi-indolacético no sangue e no líquor de portadores
de fibromialgia [33,34,60,63].
Em contraste com os estudos dos neuropeptídios moduladores da dor, pouca atenção foi dada a investigação das
estruturas do SNC que estão envolvidas na percepção da dor.
Os primeiros estudos neste sentido empregaram a tomografia
computadorizada por emissão de fóton único (SPECT), no
sentido de estudar fluxo sanguíneo cerebral. Em um deles
constatou-se uma diminuição significativa do fluxo sanguíneo
nas regiões bilaterais do tálamo e do núcleo caudado cerebral
dos portadores da fibromialgia quando comparados com
indivíduos saudáveis [64]. Esses achados trazem implicações
importantes, uma vez que o tálamo exerce papel essencial
na integração dos sinais da dor e nas gerações de sinais que
regulam o eixo hipófise-hipotálamo-adrenal e, por sua vez,
o núcleo caudado também está envolvido na percepção da
dor, pois se demonstrou que uma quantidade expressiva de
neurônios nociceptores específicos estão sitiados no núcleo
caudado [65].
Em outro estudo, os resultados mostraram uma média
normal de fluxo sangüíneo local e demonstrou reduções
principalmente em áreas frontais, e também em regiões
temporais, centrais e/ou parietais do córtex cerebral, sendo
algumas de envolvimento bilateral [66]. Este trabalho pode
ser interpretado como uma possibilidade da fibromialgia estar
correlacionada com os distúrbios discretos, primários e/ou
secundários, da função cerebral e com uma acentuação da
disfunção em regiões corticais frontais.
Ambos os estudos sustentam a hipótese de que a anormalidade de percepção da dor, que ocorre na fibromilagia,
possa ser o resultado de um distúrbio funcional em estruturas
cerebrais.
As mais diversas anormalidades têm sido observadas nos
portadores dessa síndrome músculo-esquelética crônica.
Dentre elas as mais importantes são a substância-P elevada
no líquor, a serotonina reduzida nas plaquetas; um nível baixo
de triptofano e de adenosina e um metabolismo anormal de
carboidratos nas hemácias; regulação da produção de cortisol;
e diminuição de fluxo a sangüíneo em determinadas estruturas
cerebrais [66].
Nenhumas dessas disfunções são específicas, portanto não
devem ser empregadas para fins diagnósticos. Contudo, elas
vêm possibilitando um melhor discernimento desta moléstia
e conduzindo as diferentes atitudes terapêuticas em relação
a seus portadores.
A figura a seguir é proposta como um esquema resumido
da hipótese neuro-hormonal da fisiopatologia da fibromialgia
adaptada por Crofford e Demitrack.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Figura 2 - Esquema resumido da hipótese neuro-hormonal da
fisiopatologia da fibromialgia – adaptado de Crofford e Demitrack
[1].
87
venções não-farmacológicas [2]; apenas 5 foram encontrados
analisando treino de força isoladamente.
Apesar das evidências relatadas em estudos científicos
demonstrarem um efeito benéfico do trabalho de força, ainda
são necessários estudos que aprofundem os conhecimentos
sobre os verdadeiros mecanismos que podem estar gerando
esses efeitos positivos, assim como o estabelecimento de
dose-resposta (freqüência, intensidade e volume) adequada e
os efeitos crônicos. Com isso, são necessárias pesquisas com
uma amostra maior, que possa comprovar a efetividade do
treinamento de força. Tudo isso dará um maior embasamento
teórico à prática dessa atividade.
Treinamento da força muscular na síndrome da
fibromialgia
Exercícios e a fibromialgia
Um dos primeiros investigadores a observar a relação
entre dor e exercício foi Moldofsky [6]. Este estudo demonstrou que a privação do sono diminui o limiar de dor
em sedentários, mas o mesmo não acontece em indivíduos
treinados. Apenas uma década mais tarde, ensaios clínicos
foram publicados demonstrando que exercícios aeróbios e o
treinamento de força contribuem na diminuição da dor na
fibromialgia [3,35,67].
Tendo referência no quadro apresentado, obtemos um
somatório de resultados que ajudam a perceber o quanto pode
o treinamento de força vir a contribuir na melhoria do quadro
da SFM, pois foram encontradas melhora na força muscular;
no quadro de depressão; uma melhora significativa da força
muscular, sem aumento do quadro de dor proporcionado
pela síndrome; e ainda, possivelmente ser responsável por
melhoria do quadro clínico.
De acordo com o levantamento bibliográfico, consultando
artigos de periódicos nacionais, internacionais e eletrônicos
no sistema Medline e Scielo e livros recentemente publicados,
foram publicados nos últimos 20 anos: 30 ensaios clínicos
sobre exercício físico no tratamento da fibromialgia, incluindo
aproximadamente 1500 indivíduos: 12 avaliaram o condicionamento aeróbio; 10 estudaram programas combinados ou
associados ao tratamento medicamentoso ou outras inter-
Poucos estudos, com amostras pequenas, têm sido publicados sobre o fortalecimento muscular na fibromialgia. Estes
demonstraram que o treino de força promove um conjunto
maior de benefícios comparado com o treino de flexibilidade
[69,71]. Além disso, estudos comprovam que o treinamento
de força é seguro, não aumentando os sintomas de dor e nem
provocando lesão, quando bem dirigido [71,72]. Mais estudos
com relação ao treinamento de força são necessários, para
haver maior garantia de sua seguridade e de seus benefícios à
qualidade de vida [35,55].
Pacientes com SFM parecem necessitar de um período
maior e mais esforço pessoal para adaptação a um programa
de exercício. Por isso a progressão da carga deve ser mais
lenta que o habitual. Além disso, alguns autores notaram que
alguns pacientes podem até piorar nas primeiras 8 semanas de
atividade física [76]. Este fato pode explicar porque ensaios
de curta duração não demonstraram nenhuma melhora na
qualidade de vida, enquanto, programas mais longos, com
mais de 15 semanas, conseguiram observar melhora em vários
aspectos, inclusive qualidade de vida.
Um estudo piloto feito por Rooks et al. [72], em que se
treinaram exercícios de força e aeróbios em portadores da
SFM, observou melhoria geral de força e dos sintomas da
SFM, sem ocorrência de lesões, e o que é destacado como
mais importante: integração social, companheirismo, diversão também são alcançados durante o treinamento de força,
além de todos os benefícios físicos adquiridos. Também foi
observado que, com estímulo apropriado, a força pode ser
desenvolvida, trabalhando-se com intensidades baixas inicialmente. Posteriormente, poderá ocorrer aumento gradual da
carga (intensidade) de trabalho, com a garantia de poderem
retornar a valores mais baixos caso não se adaptassem. Enfim,
tal opção ficou por conta das próprias participantes. Esta
estratégia deu segurança aos participantes e acredita-se que
foi responsável pelos resultados obtidos. Acredita-se ainda
que o excesso de cautela na determinação das intensidades
em estudos anteriores, como a utilização de pesos inferiores
àqueles que poderiam ser trabalhados para prevenir lesão
88
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Tabela I - Principais estudos encontrados envolvendo treinamento de força e portadores da SFM
Autor
Martin et al. [68]
Häkkinen et al.
[69]
Jones et al. [70]
Geel et al. [71]
Rooks et al. [72]
Häkkinen et al.
[73]
Valkeinen et al.
[74]
Kingsley et al [75]
Exercício
Freqüência
Intensidade
A = 3x semana
A = exercício aeróbico, força 6 semanas
e flexibilidade
B = 1x semana 60-80% FCmáx.
B = relaxamento
6 semanas
A = Treinamento de força
B = Controle
(sem treinamento)
C = Indivíduos Saudáveis
(com treinamento)
A = fortalecimento
progressivo
B = flexibilidade estática
A = musculação
B = controle (sem treinamento)
Treinamento de força e exercício aeróbio
A = treinamento de força
B = controle
(sem treinamento)
C = Indivíduos saudáveis
(com treinamento)
A = musculação
B = controle
(sem treinamento)
A = Treinamento de força
B = Controle
(sem treinamento)
Sujeitos Resultados
A = 18
B = 20
Melhora significativa nos pontos
de dor, escore de mialgia e condicionamento aeróbio do grupo A.
A = 11
B = 10
C = 12
Melhora da força muscular e do
quadro de depressão em A comparado a B.
2x semana
21 semanas
Cargas
crescentes
12 semanas
0,5 a 1,5 kg
A = 28
B = 28
Melhora significativa da força 2x
mais em A comparado a B, sem
aumento da dor.
2x semana
8 semanas
60-70% de 1RM
A = 10
B=6
Redução dos sintomas clínicos e
melhoria da força muscular.
Cargas
progressivas
N = 15
Treinamento de força é seguro.
21 semanas
Cargas
crescentes
A = 11
B = 10
C = 12
Magnitude e o tempo de curso de
adaptação neromuscular compatíveis entre os grupos A e C.
2x semana
21 semanas
Cargas progressivas
A = 13
B = 11
Aumento de 33% na força de
extensão de perna e de 13% na
flexão no grupo A em relação a B.
2x semana
12 semanas
40-80% 1 RM
A =15
B =14
Melhoria da força e do quadro
clínico.
20 semanas
durante o estudo, foi responsável pela não ocorrência de alterações fisiológicas. Chegou-se a conclusão que o treinamento
de força pode ser seguro, viável e benéfico para portadores
de SFM e que mulheres com esta síndrome podem executar
exercícios submáximos a uma intensidade suficiente para
estimular adaptações fisiológicas na força muscular, sendo a
aderência e a progressão do exercício fatores fundamentais
para este processo. Os resultados obtidos sugerem a inclusão
do treinamento de força nos programas de exercícios voltados
aos portadores de SFM.
Outro estudo realizado por King et al. [77] foi de grande
importância para a constatação de como pode ser benéfico o
treinamento de força para melhoria do quadro da SFM. Em
um estudo randomizado, com treinamento de força isolado e
uma baixa evasão (9%), concluiu-se que mulheres com SFM
podem participar de um programa de treinamento de força
especialmente delineado e obterem uma melhoria geral em seu
quadro clínico, sem exacerbação dos sintomas por conta dos
exercícios e sem aumento na utilização de medicamentos.
Existem pesquisas que compararam a força de mulheres com
fibromialgia e mulheres saudáveis e verificou-se que, em ambas,
o sistema neuromuscular possui a mesma capacidade para se
exercitar, mostrando também que este treino trouxe resultados
positivos no tratamento dos sintomas da síndrome [28].
Programa de treinamento para portadores de
fibromialgia
Antes de iniciar um programa de exercícios é importante realizar uma avaliação funcional e cardiovascular para
identificar condições que possam interferir no desempenho
e na resposta ao exercício ou oferecer risco como doença
coronariana e hipotensão postural. As co-morbidades musculoesqueléticas podem limitar o treinamento e devem ser
tratadas previamente [32].
A anamnese também deve conter informações da história
pregressa de hábito de atividade física – freqüência, modalidade, preferência, tolerância e comportamento familiar em
relação ao exercício. Estas informações ajudam a individualizar
a prescrição e aumentar a adesão [2].
A prescrição do exercício deve detalhar orientações sobre
a intensidade inicial do treino e como aumentar progressiva-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
mente a carga. Para adequada prescrição individual é importante considerar as preferências do indivíduo, co-morbidades,
uso de medicamentos e capacidade funcional [79].
Estudos que buscam identificar os benefícios trazidos pelo
treinamento de força no controle da fibromialgia, utilizando o
alongamento como intervenção-controle, deveriam procurar
um método menos questionável, pois foi observada alguma
melhora na utilização de alongamento para o controle do
quadro fibromiálgico [24].
A sugestão aqui oferecida sobre o programa de treinamento
levou em consideração alguns aspectos do posicionamento
oficial do American College of Sports Medicine [37] sobre
o treinamento de força, para adultos saudáveis. Foram feitas
algumas adaptações para a população com fibromialgia [1]:
Freqüência das sessões de musculação: duas a três vezes
por semana para alunos iniciantes, ou seja, para aqueles que
nunca tiveram contato com exercícios físicos ou há muito
tempo não os pratica; e de quatro a cinco vezes por semana
para alunos que já tenham completado a fase de adaptação
ou já vêm vindo de uma prática de atividade física recente,
isto é, não iniciantes.
Intensidade: evitar cargas excessivas. Iniciar com um trabalho muscular em torno de 40 a 60% da carga máxima (1
RM) ou da carga que possibilite o aluno a executar o número
limite de repetições prescritas, ou seja, um treinamento de
resistência muscular localizada.
Volume: evitar grande número de repetições e séries extensas. Usar entre 10 a 15 repetições, com uma a três séries
por exercício. O número de exercícios deve ser reduzido e
devem ser usados exercícios, principalmente, para os grandes
grupos musculares no princípio (cinco). A quantidade de
exercícios deverá aumentar conforme a resposta fisiológica
de cada aluno, com o desenvolvimento da força muscular e
melhoria de seu quadro clínico.
Seqüência dos exercícios: colocar primeiro os grupos musculares maiores e depois os menores, e priorizar os exercícios
multiarticulares e depois os mono articulares.
Velocidade de contração moderada: 1-2 segundos na fase
concêntrica e 1-2 segundos na fase excêntrica (lembre-se: não
enfatize a fase excêntrica).
Intervalo: usar intervalos de descanso entre 60 a 120
segundos.
Tipos de exercícios contra-indicados: Microlesões em
fibras musculares foram observados após treinamento excêntrico e com pré-estiramento. Cabe ressaltar que a recuperação
do dano causado nas fibras musculares durante o treinamento
não segue o mesmo padrão temporal da dor pós-exercício
- “dor tardia” - sentida por quem praticou a atividade: as
fibras se recuperam, mas a dor ainda se encontra presente.
Provavelmente, o dano da fibra muscular em si pode não ser
a única causa da dor pós-exercício; outros fatores, tais como
edema, inchaço ou inflamação, causados conjuntamente,
poderão também estar relacionados [78]. Assim, exercícios
com componente excêntrico elevado e exercícios com pré-
89
estiramento devem ser evitados para se evitar que, somado
ao quadro de dor da SFM, acabe também por acarretar a
“dor tardia” devido a estes tipos de exercícios, como descrito
anteriormente.
Progressão: aumentar o peso, gradativamente, entre 2 a
10% quando o aluno conseguir executar uma ou duas repetições a mais do que o número de repetições prescrito.
Respiração: usar a respiração de forma natural ou passiva
eletiva (expira na fase concêntrica e inspira na fase excêntrica).
Material: elástico ou garrote (reduz o efeito da fase excêntrica), pesos livres, máquinas de musculação de resistência
variável.
O profissional que for ministrar o treinamento de força
para portadores da SFM deve providenciar sua integração em
uma equipe multidisciplinar: mantendo contato com médicos
(reumatologista, endocrinologista), psicólogo, fisioterapeuta,
massagista, acupunturista etc. É importante a troca de informações entre especialistas da área da saúde ou áreas afins,
pois a SFM é uma patologia muito complexa e única em
cada indivíduo, o que torna muito difícil o estabelecimento
de uma única forma de tratamento.
Monte, se possível, uma aula específica para um grupo
com indivíduos portadores de SFM: a participação em grupo
ajuda a encorajar, pois o sucesso de um contagia e motiva os
demais. Lembre-se de que estes indivíduos sentem dor mesmo quando estão parados, então, a tendência é que, cada vez
mais, eles diminuam seu nível de atividade física. Isso ocorre
porque imaginam que a dor pode aumentar se fizerem esforço
físico, quando na realidade, acontece o contrário; o baixo
condicionamento físico pode agravar ainda mais os sintomas
da SFM. Portanto, seu papel é estimulá-los.
O programa deve incluir educação sobre a SFM: esclarecimentos sobre a doença irão ajudar seu aluno a compreender
melhor suas limitações e possibilidades. O indivíduo precisa
se sentir seguro e confiante. Monte um ciclo de palestras em
sua academia com especialistas no assunto a fim de enriquecer
seu trabalho e para que os alunos possam esclarecer as dúvidas.
Isso ajudará e estimulará os bons resultados.
Avaliação: primeiramente, seu aluno deve ser avaliado e
diagnosticado pelo médico. O médico irá verificar, também,
se o indivíduo não tem nenhuma outra patologia associada,
que geralmente irá influenciar a gravidade dos sintomas da
SFM. Após a liberação médica para a prática de exercícios
físicos, o profissional de Educação Física, atento às avaliações
e diagnósticos médico, deverá fazer uma anamnese de seu
aluno portador da SFM, a fim de obter informações sobre
seu nível de atividade física, sua experiência motora anterior
e suas expectativas. O educador físico poderá pedir auxílio
aos médicos ou psicólogos quanto à aplicação de questionários específicos para SFM, que possam complementar sua
avaliação dos resultados com os indivíduos. Exemplos são
Arthritis Impact Measurement (AIMS) e o Fibromyalgia Impact
Questionnaire (FIQ), que é o mais usado no Brasil, avaliados
90
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
como válidos em uma população com SFM, ou mesmo o
Short-Form Health Survey (SF-36), instrumento genérico que
avalia a incapacidade física e para o trabalho.
Estabelecer os objetivos de seu programa: informar
aos portadores da SFM que o tratamento que irá propor
é mais paliativo, ou seja, tem como objetivo maior o de
amenizar seu quadro clínico, e não de provocar um desaparecimento por completo dos sintomas, pois ainda não
há cura para a SFM. É importante estabelecer objetivos em
curto, médio e longo prazos. Dentre os principais objetivos
do programa de treinamento estão a redução do quadro
miálgico, a melhora do sono e da capacidade funcional,
o reforço muscular, o aumento da resistência aeróbia e o
alívio do estresse.
Conclusão
O treinamento de força (TF) foi pouco pesquisado em
portadores da Síndrome da Fibromialgia (SFM). Apenas recentemente o TF tem sido reconhecido como um recurso para
promover saúde e melhoria da qualidade de vida em pessoas
acometidas por doenças crônicas, porém ainda são poucos
os estudos que buscaram obter seus efeitos em portadores da
SFM, além disso, as amostras estudadas foram pequenas e o
tempo de intervenção curto.
Portanto, há necessidade de um número maior de estudos
sobre a eficácia e efetividade, os benefícios e mecanismos do
treinamento de força para portadores de fibromialgia, assim
como estudos com maiores amostras, maior tempo de intervenção, e entre outras, questões metodológicas que possam
interferir nas evidências produzidas.
Pesquisas com relação à aplicação dos princípios do treinamento tornam-se necessárias, para maior seguridade no ato
da prescrição dos exercícios.
Tendo em vista que é uma síndrome que acomete grande
porcentagem da população nacional, precisa ser mais divulgada nos meios acadêmicos, para que haja maior número de
profissionais preparados para atender a demanda.
Todavia, a literatura existente informa que o treinamento
de força pode ser recomendado e utilizado, pois é eficaz e
parece não acarretar lesão para os portadores da Síndrome da
Fibromialgia (SFM), quando bem direcionado.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
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Revisão
Estudo sobre os fatores geradores de fadiga muscular
A study about the factors involved in muscle fatigue
Daniela Silva Scalon*, Vanessa Rodrigues Figueiredo*, Dernival Bertoncello, Ft., D.Sc.**
*Acadêmicas do curso de Fisioterapia da Universidade de Uberaba, **Docente responsável pelo Laboratório de Bioengenharia e disciplina de Ciências Fisiológicas da Universidade de Uberaba, Uberaba – MG
Resumo
Abstract
A fadiga é um processo fisiológico em que ocorre depleção
das reservas energéticas associada ao acúmulo de catabólitos no
organismo ou a outros fatores. Isto dificulta a continuação da
atividade física, podendo provocar até incapacidade temporária
para o exercício e/ou para o desempenho psicológico do indivíduo.
Pode ser encarada como um elemento importante ou até mesmo
essencial do estímulo global para os músculos aprimorarem sua
força ou fazerem outras adaptações estruturais e metabólicas. A
fadiga parece preceder uma lesão funcionando como mecanismo
de proteção para evitar o esgotamento total das reservas físicas.
Este estudo teve o objetivo de avaliar os fatores geradores de fadiga
muscular, procurando identificar aqueles que envolvem aspectos
clínicos. Para isso, foram realizadas buscas em bases de dados que
contemplam periódicos científicos, como Medline, Pubmed e Lilacs.
O período tomado como base para coleta de artigos científicos foi
dos últimos 10 anos. A pesquisa também tomou como base livros
e textos de caráter didático relacionados ao tema. Conclui-se com
esta pesquisa quais os principais agentes metabólicos que levam à
fadiga, seja ela de origem central ou periférica. Procurou-se elucidar a
função deste processo não como falha do organismo, mas sim como
agente protetor de lesões.
Fatigue is a physiological process in which there is a depletion
of energy reserves related to the accumulation of catabolites in the
organism or to other factors. It makes it hard to continue the physical activity and it can even cause temporary incapacity to physical
exercise and/or psychological performance. It can be considered as
an important or even an essential factor to global stimulus in order
to make muscles gain strength and make structural and metabolic
adaptations. Fatigue seems to be a lesion working as a mechanism
of protection to avoid the total debility of physical reserves. This
study aims at evaluating the factors responsible for muscular fatigue,
trying to identify those which involve clinical aspects. To accomplish
it, our research database included data from scientific publications,
such as Medline, Pubmed and Lilacs. The articles consulted were
published within ten years. The research was also based on textbooks
related to the subject. This research points the main metabolic agents
that lead to central or peripheral fatigue. We tried to elucidate the
function of this process not as a failure of the organism, but as a
protecting agent against muscular damage.
Key-words: muscle fatigue, muscle damage, central fatigue,
peripheral fatigue.
Palavras-chave: fadiga muscular, lesões musculares, fadiga
central, fadiga periférica.
Recebido em 12 de janeiro de 2008; aceito em 20 de agosto de 2008.
Endereço para correspondência: Daniela Silva Scalon, Rua Silva Jardim, 358, 38190-000 Sacramento MG, E-mail: daniscalon@
yahoo.com.br
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Introdução
Na fisiologia do exercício a fadiga muscular tem se destacado como um dos temas mais estudados [1]. Durante
este processo, ocorre esgotamento das reservas energéticas e
redução da atividade enzimática, os quais provocam o acúmulo de catabólitos e leva a distúrbios hídricos, alterações nas
trocas eletrolíticas, na coordenação (inter e intramuscular), na
percepção sensorial, além de diminuição na produção do neurotransmissor presente no neurônio motor somático [2].
Dentre os fatores geradores desse processo, estão a movimentação de íons potássio (K+), sódio (Na+), cloro (Cl-),
magnésio (Mg++) em suas atividades intra e extracelulares;
modificações de pH, temperatura e do fluxo sangüíneo, além
de resultados metabólicos da hidrólise, como a adenosina
monofostato (AMP), adenosina difosfato (ADP), inosina
monofosfato (IMP), fosfato inorgânico (Pi) e amônia; lesão
muscular, destacando aquela ocorrida por exercício predominantemente em contrações excêntricas; também, o stress
oxidativo ou a perda da homeostasia do íons cálcio (Ca++)
[1,3].
Da mesma forma, ocorre queda na produção hormonal,
em especial de corticóides e adrenalina e acúmulo ou falta
de acetilcolina nas sinapses, essenciais para realização da
atividade física [4].
Essas modificações fisiológicas fazem com que haja queda
da capacidade de desempenho físico e/ou psicológico; ainda
assim sendo possível a manutenção da carga mesmo que isto
custe maior gasto energético. Podem surgir distúrbios na
atenção, na concentração e no pensamento em conjunto com
atenuação de vontade e aumento do tempo de reação [3-8].
Até 1977, Guyton [9] definia a fadiga como um processo
com origem apenas sobre a depleção de ATP nas fibras musculares, de modo que o trabalho nervoso continuaria a funcionar
– os impulsos nervosos seriam transmitidos, normalmente, da
junção neuromuscular para a fibra muscular e os potenciais
de ação naturalmente se propagariam pelo músculo.
Em conceito mais atual, Pires e Grosso [10] conceituaram
a fadiga como falência da propagação do potencial de ação e do
acoplamento do sistema de contração-relaxamento. Pode-se
encontrar esse resultado através da eletroestimulação neuromuscular de baixa e média freqüência. É mais apropriado
conceituar a fadiga como um mecanismo protetor da vida por
prevenir o início de aumento de força muscular irresponsável
e suas conseqüentes e numerosas lesões desportivas, além de
proteger os processos de recuperações subseqüentes [8,11].
Os dois principais processos implicados no surgimento
do fenômeno da fadiga, que são constituídos da transmissão
do sinal nervoso e da cadeia energética metabólica, interagem
fortemente e se sobrepõem constantemente, constituindo em
tal modo, seja singular ou sinergicamente, a causa desencadeante deste fenômeno [12].
Outro fator relacionado à fadiga é a emoção intensa que
acompanha competições importantes, pois são capazes de
desencadear os fatores psicológicos e emocionais que devem
ser considerados tanto na análise da estrutura quanto na metodologia do desenvolvimento da resistência à fadiga [13]. A
fadiga muscular pode acontecer em quase todos os exercícios
físicos, sejam eles realizados por indivíduos sadios ou por
indivíduos debilitados.
O presente estudo procurou oferecer embasamento teórico
sobre os fatores desencadeadores de fadiga, os quais poderão
contribuir para outros trabalhos e para melhores avaliações
de pacientes e atletas. Assim, este estudo teve o objetivo de
identificar os fatores geradores de fadiga muscular procurando
relacionar aqueles que envolvem aspectos práticos.
Material e métodos
Foram utilizados neste estudo buscas em bases de dados,
que contemplam periódicos científicos, como Medline e
Bireme, usando as combinações de palavras: fadiga muscular
(muscle fatigue), fadiga física (physical fatigue), exercícios e
fadiga (fatigue and exercise)
Os artigos selecionados foram os compreendidos no período de 1994-2006, com destaque aos nacionais.
A partir dessas informações, foi elaborado um texto de
revisão no qual foram discutidos os aspectos da fadiga muscular periférica, fadiga central e os instrumentos de avaliação
da fadiga.
Fatores determinantes do processo de fadiga
Ascensão et al. [1] citam que a ocorrência de fadiga pode
ser influenciada pela idade, sexo e pela prevalência dos padrões
de ativação e coativação de alguns grupos musculares.
O sistema neuromuscular possui características importantes como a capacidade de adaptação crônica de acordo
com os diferentes estímulos recebidos. A fadiga muscular é
um exemplo comum de adaptação às alterações agudas que
ocorrem em exercícios intensos e suas manifestações podem
ocorrer durante e após o exercício, seja ele máximo ou submáximo [1,3].
Adicionalmente, os mecanismos responsáveis pela fadiga
dependem de fatores como intensidade, tipo (aeróbico ou
anaeróbico) e duração do exercício, atividade contrátil, composição fibrosa do músculo em contração – as fibras do tipo
II se fadigam mais facilmente que as fibras tipo I – e nível de
condicionamento individual [5,8,14,15].
Em exercício físico intenso e prolongado, a fadiga está relacionada à hipoglicemia –diminuição da glicose e conseqüente
diminuição da oxidação de carboidratos. Já em exercícios com
intensidade alta (90% de VO2máx) e de curta duração, uma
parte da energia, que seria destinada para a atividade física, é
utilizada na produção de metabólitos como o lactato, íons hidrogênio (H+), Pi e ADP que acabam por acumular-se levando
à diminuição do rendimento, mesmo tendo sido utilizados os
fosfatos de alta energia e preservado o glicogênio [5].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Pinto et al. [16] afirmam que o aumento da temperatura
corporal, gerado pelo metabolismo na atividade física e/ou
influência ambiental, como também o estado de hidratação do indivíduo, poderiam acelerar o início da fadiga. Os
mecanismos capazes de diminuir a elevação da temperatura
corporal em ambientes quentes podem ser: a umidificação da
pele; resfriamento facial; o uso de roupas especiais; a exposição
prévia a ambientes frios e a imersão em água fria poderiam
provocar mais tolerância ao esforço [17,18].
A fadiga possui causas multifatoriais e pode ser dividida
em dois componentes principais: a fadiga periférica, ou local,
e a fadiga central. Na fadiga periférica ocorrem as modificações fisiológicas já descritas e que resultam em disfunção
no processo de contração. Esta alteração é levada ao sistema
nervoso central através de nervos sensoriais (fadiga central)
que, por sua vez, transmite sinais inibitórios provocando
um declínio ou queda total do desempenho físico cujo objetivo é preservar a integridade estrutural da fibra muscular,
prevenindo possíveis danos irreversíveis à mesma [6,18].
Porém, também pode resultar de decréscimo progressivo da
velocidade e freqüência de condução em impulso voluntário
na atividade física (fadiga predominantemente central) [1].
Segundo Santos, Dezan e Sarraf [8], a fadiga central acontece
quando é afetada a parte nervosa da contração muscular, e
a periférica, quando se verifica deterioração dos processos
bioquímicos e contráteis.
Fadiga periférica
Um erro, ou uma limitação em um ou mais processos
na unidade motora – neurônios motores, nervos periféricos,
nas ligações neuromusculares ou fibras musculares – leva à
fadiga periférica [8].
A fadiga sináptica ocorre quando o período de excitação
é progressivamente prolongado e intensificado, reduzindo
gradualmente a transmissão sináptica, tornando deprimida
a sensibilidade dos circuitos neuronais [19].
A acetilcolina é um neurotransmissor que possui como
principal precursor a colina, cujo consumo reduzido parece
provocar a diminuição da capacidade dos impulsos nos músculos esqueléticos [8].
O início desse modo de fadiga depende do tipo de fibra
muscular utilizada no exercício, pois as fibras de contração
rápida (tipo II) têm melhor desempenho anaeróbico favorecendo maior capacidade de formar ácido lático. Contudo,
o acúmulo de ácido lático poderia dificultar a função muscular através de dois mecanismos fisiológicos. Por um lado,
o aumento de H+ reduz o pH intracelular deteriorando o
processo de excitação-contração por reduzir a quantidade de
Ca++ liberada pelo retículo sarcoplasmático (RS) de modo
que interfere na capacidade de fixação cálcio-troponina. Por
outro lado, uma maior concentração de H+ torna a glicólise
mais lenta, reduzindo, por conseguinte, a disponibilidade de
ATP na produção de energia [8].
95
Já as fibras de contração lenta (tipo I), têm o sistema oxidativo mais desenvolvido na produção energética e, em estudos
com animais, verificou-se que a redução da força deste tipo de
fibra seria devido a alterações miofibrilares e no RS [6].
Uma das hipóteses para a causa da fadiga periférica é a
da “depleção de glicogênio”, uma das principais formas de
armazenamento energético. O glicogênio normalmente é
quebrado para formar moléculas de ATP, a qual representa
a energia potencial para a realização dos diversos trabalhos
biológicos que necessitam energia, por exemplo, a contração
muscular [5].
A quebra da creatina fosfato e a degradação do glicogênio muscular a ácido lático ocorrem durante o exercício
de alta intensidade sendo as maiores vias de fornecimento
de ATP. Com a diminuição do glicogênio e da creatina, a
energia anaeróbica e o desempenho do exercício podem
diminuir [3].
Durante a contração muscular, ocorre hidrólise do ATP
em ADP e o seu retorno à ATP (refosforilação) acontece durante processos aeróbicos ou oxidativos, como também em
exercícios anaeróbicos de alta intensidade. Cada dois ADPs
geram um ATP e um AMP. Quando há déficit nessa refosforilação, aumenta o número de ADP e AMP. Este último é
quebrado a IMP em atividade moderada, liberando amônia
durante a reação, que é vinculada tanto à fadiga central como
à periférica. O aumento da sua concentração na atividade
física tem relação com a composição das fibras musculares,
com a intensidade e o tempo de exercício [5].
Durante a realização de séries repetidas, o nível de fosfocreatina (CP) e sua ressíntese sofrem redução em vista de sua
utilização na formação de ATP durante as séries acarretando
em queda na ressíntese de ATP e levando à fadiga [17].
Quando ocorre a ressíntese de ATP e de CP há incorporação de H+ às reações. Com aumento dessas ressínteses,
então, aumenta-se o consumo de H+ evitando a queda de pH
e prevenindo a instalação da fadiga [17].
A formação de IMP e amônia no exercício intenso e
prolongado é inversamente proporcional à degradação do
glicogênio intramuscular, o qual leva à deficiência de energia
no nucleotídeo de adenina [5].
Neste mesmo tipo de atividade, ocorre acúmulo de lactato
acarretando queda do pH. Esta condição de acidose inibe a
enzima PFK (fosfofrutoquinase) e reduz o processo de glicólise prevenindo, desta forma, a acidez para que não aconteça
morte celular ou a fadiga precoce [5,8].
Pode ainda ocorrer diminuição na geração máxima de
força devido ao acúmulo de ácido láctico. Isso constitui um
dos principais fatores causadores da fadiga. A acidose por aumento do H+ interfere na contração muscular ou no processo
de excitação-contração.
O declínio na geração de força contrátil no músculo via
efeito metabólico nas proteínas contráteis e a redução da
liberação de Ca++ do retículo sarcoplasmático são fatores que
geram fadiga. Este processo pode ter início pelas altas con-
96
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
centrações de lactato por aumentar a concentração de íons
H+ diminuindo o pH [3].
Essas alterações no retículo sarcoplasmático podem ser
críticas, pois ele atua como local de armazenamento de Ca++
e ainda controla as concentrações citoplasmáticas deste íon,
a qual regula a força das contrações. A redução de Ca++ pode
causar dificuldade no relaxamento e a redução da força perante a fadiga [3].
A análise do lactato plasmático permite verificar as fases
aeróbica e anaeróbica durante o esforço físico e definir o momento em que o indivíduo estará mais predisposto à fadiga
[5]. É possível ainda, predizer o treinamento ideal e, assim,
permitir que a pessoa tenha melhora da performance sem
prejudicar suas funções corporais.
Fadiga central
A importância do metabolismo de proteínas e aminoácidos
para o desempenho em atividades prolongadas permaneceu
relegada a segundo plano por muitos anos [5].
Pode-se dizer que a fadiga central ocorre por queda
da condução do impulso nervoso de forma voluntária ou
involuntária, causando redução relativa de unidades motoras e da freqüência de ativação dos motoneurônios. Para
estudar o papel do sistema nervoso central na produção da
fadiga, utilizam-se exercícios em contrações interpoladas
nos quais se promove, através da eletroestimulação, uma
contração maior que a máxima e, assim, compara-se com
a máxima gerada pelo indivíduo. Nesta situação ocorre feedback reflexo advindo de mecanoceptores – fusos
neuromusculares, e/ou órgãos tendinosos de Golgi, ou
terminações nervosas do tipo III e IV – sensíveis ao acúmulo de alguns metabólitos que, por isso, inibem a taxa de
descarga dos motoneurônios durante a fadiga. Além disso,
ocorre déficit na condução do impulso nervoso a partir
das regiões superiores do cérebro [1]. Quando ocorre em
nível supra-espinhal é através da inibição aferente desde os
fusos neuromusculares, sendo que pode acontecer redução
de sensibilidade causada pela excessiva utilização da maior
parte dos circuitos neurais [8].
O neurotransmissor dopamina foi o primeiro a ser estudado em sua relação com a fadiga central. Possivelmente
ela inibe parte das sínteses de metabolismo da serotonina
(5-HT) retardando a fadiga central. Baixas concentrações
de dopamina possivelmente diminuem a coordenação e leva
à perda de motivação. O aumento da dopamina em relação a 5-HT, em algumas regiões do cérebro, pode levar ao
desenvolvimento de motivação, estimulação e coordenação
muscular. Entretanto, quando a serotonina está em maior
concentração em relação à dopamina, é possível a ocorrência
de fadiga [5,8].
Alguns esportistas passaram a ingerir drogas dopaminérgicas a fim de aumentar o desempenho por melhorar
a função motora. Além disso, utilizou-se para a perda de
peso por ser um agente também anorético e supressor de
apetite [5].
Tem sido estudada a comparação do tempo de exercício
até a exaustão com a variação da síntese e liberação, no cérebro, de alguns neurotransmissores, os mesmos, associados à
motivação, à atenção, ao humor, à depressão, e à coordenação
neuromuscular. Por exemplo, a razão serotonina/dopamina, o
papel da cafeína – bloqueia receptores da adenosina, a qual é
um potente inibidor excitatório do SNC – em exercícios de
longa duração [1,5].
Conforme Kreider apud Rogero, Mendes e Tirapegui
[20], quando há diminuição dos estoques de energia como
conseqüência da redução do glicogênio muscular, pode ocorrer estimulação da oxidação intramuscular de aminoácidos
de cadeia ramificada (AACR), como a leucina, isoleucina
e valina, os quais competem com o triptofano livre pela
ligação a um mesmo transportador de aminoácidos neutros
na barreira hemato-encefálica fazendo com que haja sua diminuição plasmática. Isto facilitaria a captação hipotalâmica
de triptofano e, a partir deste, ocorreria maior produção de
serotonina estabelecendo-se a fadiga central caracterizada,
principalmente, pela desmotivação [8,17,20,21].
Portanto, a fadiga que ocorre por aumento da atividade
serotonérgica no cérebro é chamada fadiga central [5], visto
que a modulação da serotonina relaciona-se diretamente com
a regulação da dor, comportamento alimentar, humor, fadiga
e sono [17,20,21].
A amônia (NH3) em acúmulo no cérebro pode prejudicar
a coordenação, o controle motor e o sistema oxidativo local.
Pode ser resultado do catabolismo dos AACR associado à
fadiga central [8].
O triptofano (TPF) é encontrado no plasma de forma
livre ou ligado à albumina. No exercício prolongado, há
aumento da forma livre, pois os ácidos graxos, que estão em
maiores concentrações, competem com o TPF para ligaremse à albumina. O TPF é transportado através da barreira
hemato-encefálica em sua forma livre, ou seja, quando não
está ligado à albumina, gerando um acréscimo na síntese
cerebral de serotonina [1,17,20,21].
Alguns estudos, por isso, sugerem a suplementação ergogênica com AACR já que concorrem com o TPF pela entrada
no cérebro podendo retardar a fadiga em exercícios de longa
duração [1].
A acetilcolina é um neurotransmissor produzido de acordo com a disponibilidade de seu precursor, a colina, sendo
normalmente relacionada com a produção de força muscular.
Portanto, há relação entre a queda plasmática de colina e o
início da fadiga em exercícios de longa duração, mesmo que
ainda não esteja determinado se esta é um tipo de fadiga
central ou de fadiga periférica. Contudo, não houve sucesso
em estudo conduzido por Spector et al. , citado por Ascensão
[1], com suplementação oral de bitartrato de colina, pois não
houve como resultado aumento do tempo de exercício até a
exaustão ou aumento plasmático de colina.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Métodos de avaliação da fadiga
Muitos modelos experimentais são utilizados visando o
entendimento das causas da incapacidade de manutenção
de um nível de performance. Dentre esses modelos, pode-se
citar os estudos in vitro na busca da verificação da função
das estruturas celulares, por exemplo, o sarcolema, o retículo sarcoplasmático (RS), as mitocôndrias ou o aparelho
miofibrilar. Neste tipo de estudo, também, pode-se verificar
alterações metabólicas de adenosina trifosfato (ATP), ADP,
Pi, potencial de hidrogênio iônico (pH) e íons cálcio, relacionados à fadiga [1].
Da mesma forma, o tecido muscular pode ser estudado
in vitro. Neste caso, são estudadas fibras individuais (com sarcolema intacto ou removido), onde são impostas a diferentes
protocolos de estimulação elétrica para se obter a relação entre
as mudanças nas condições do meio e a tensão gerada pelas
fibras. Outro tipo de estudo possível é o in situ, de unidades
motoras isoladas estimulando-se o nervo motor de animais
anestesiados. Este tipo de estudo, assim como os do tipo in vitro
não permitem recrutar de forma relativa as fibras musculares de
acordo com seu nível de fadiga. Os trabalhos in vivo são os que
se destacam no estudo da fadiga, visto que há uma análise das
ações orgânicas e sistêmicas na atividade e na recuperação. Para
isso, podem ser realizadas biópsias musculares rapidamente,
durante e imediatamente após a finalização do exercício [1].
A eletromiografia (EMG) é uma técnica que possibilita o
registro dos sinais elétricos que são gerados pela despolarização
das células musculares possibilitando estudo in vivo. Assim, a
EMG possibilita o registro da atividade muscular durante o
movimento. No entanto, essa técnica não fornece informação
a respeito do torque e é preciso ter entendimento quanto à
utilização e limitações do equipamento e é realizada freqüentemente em condições isométricas, mesmo que a fadiga possa
ser induzida por qualquer outro tipo de exercício. Portanto,
a EMG é uma técnica para avaliação da fadiga muscular e
representa o instrumento eletrodiagnóstico mais utilizado em
procedimento clínico [1,16,22].
O limiar de fadiga pode ser observado através da relação
limiar entre intensidade e a taxa de aumento da atividade
eletromiográfica. O limiar de fadiga seria a intensidade do
exercício, a qual poderia ser mantida indefinidamente sem
alterações na ativação neuromuscular, ou seja, sem aumento
dos sinais eletromiográficos ao longo do tempo [23].
Através do sinal mioeletétrico, pode ser observado o
comportamento temporal da amplitude e da freqüência.
Pela velocidade de propagação dos potenciais de ação das
fibras musculares, pode-se também observar as mudanças
na permeabilidade do sarcolema em função do acúmulo de
metabólitos e, conseqüentemente, nas suas propriedades
em relação à propagação dos potenciais de ação das fibras
musculares [22].
A redução da freqüência na fadiga muscular, segundo Ascensão et al. [1], parece ser influenciada, predominantemente,
97
pela diminuição da velocidade de condução do potencial de
ação por conseqüência, pelo menos em parte, do aumento
da concentração de ácido lático no exercício levando à diminuição do pH.
O aumento da amplitude do sinal do EMG na situação
de fadiga muscular parece ocorrer devido ao aumento da
amplitude do potencial de ação, mudança na ordem de recrutamento das unidades motoras, aumento do recrutamento
de unidades motoras ou pela elevação das taxas de disparo do
neurônio motor. Isto ocorre com o objetivo de compensar a
redução da função motora [24,25].
Outro método para análise é através da lactacidemia. A
partir de uma determinada intensidade de trabalho, a concentração sanguínea de lactato aumenta devido à intensificação
da via glicolítica resultando na conversão do piruvato em
lactado [26].
Como existe relação entre fadiga e depleção das reservas
de gliocogênio, a diminuição da velocidade em que ocorre o
limiar de lactacidemia sugere maior possibilidade de fadiga.
Assim sendo, a medida do lactato pode ser usada como instrumento de avaliação da fadiga. No entanto, não deve ser
o único parâmetro utilizado para analisar a aproximação da
fadiga periférica [5].
Um dos métodos utilizados na quantificação da lactacidemia é a espectroscopia de Raman, que consiste em uma
técnica de espectroscopia vibracional usada para determinação
da estrutura molecular e para a identificação e quantificação
de materiais. É utilizada como uma possível ferramenta para
identificação de metabólitos como o ácido láctico no sangue
ou em músculo esquelético, in vivo, e de uma forma não-invasiva, baseados no fato de que cada componente bioquímico
apresenta um espectro vibracional característico, com bandas
estreitas e bem resolvidas. Em trabalho realizado por Souza
et al. [27], com ratos Wistar machos, utilizando a técnica de
forma in vivo e in vitro, houve confirmação de que este método
apresenta informações da presença de ácido láctico quando há
aumento de sua concentração na musculatura. Porém, trata-se
ainda de uma tecnologia em desenvolvimento.
O dinamômetro isocinético também tem se apresentando como um equipamento de grande importância para se
identificar o momento em que o indivíduo tem queda da
performance do movimento e, assim, identificar índice de
fadiga [28,29]. No entanto, o custo ainda elevado do equipamento dificulta sua aplicabilidade em situações de avaliação
e/ou tratamento.
Também, utiliza-se de procedimentos de ressonância
nuclear magnética para uma análise mais precisa da situação
metabólica no músculo induzida pelo exercício. A eletromiografia constitui outra técnica que busca analisar a fadiga
através de alguns dos seus indicadores [1].
Cada parâmetro avaliado, a fim de se considerar o índice
ou grau de fadiga, pode ser complementado por análise
subjetiva, como a proposta pela escala de Borg, em que o
indivíduo sinaliza sua percepção do esforço em determina-
98
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
do momento [23,30]. A escala analógica de dor também é
apresentada como uma ferramenta útil na prática clínica,
a fim de considerar o fator dor como sinal da presença de
fadiga [31,32].
Implicações da fadiga para a clínica
Através da eletroestimulação (EE) pode-se promover
fortalecimento e hipertrofia muscular, ajudando como um
complemento no processo e facilitando a conduta fisioterapêutica. É realizada através de corrente elétrica fazendo com
que ocorra contração muscular. Porém, devido à fadiga, a
maior limitação da EE é a queda precoce da força muscular.
Binder Mac Leond e Mc Dermond apud Pires e Grosso [10]
afirmam que os fatores determinantes da força muscular são
a intensidade e a freqüência, propondo que quanto maior a
freqüência, maior a fadiga muscular. Os segundos autores
indicam a corrente de média freqüência para produzir maior
força e menor fadiga musculares.
A fadiga muscular induzida pela EE pode ser avaliada pela
análise da atividade do sinal eletromiográfico e também pela
escala visual analógica [10].
A mensuração da eletromiografia, dos metabólitos e da
força durante um exercício cansativo, possibilita a identificação dos possíveis fatores causadores da fadiga [6].
Em relação aos atletas de alta performance, as lesões
provenientes do processo de supertreinamento comumente
ocorre após sucessivas manifestações de fadiga. Os métodos
para avaliação e identificação do overtraining são pouco utilizados. No entanto, se o treinador conhecer os mecanismos
geradores de fadiga, pode identificar o momento de parar ou
diminuir a carga de treinamento, através dos sinais e sintomas
apresentados pelo atleta [33-36].
Na clínica geral ou de especialidades, os fatores geradores de fadiga podem ser indicativos da presença de doença,
já instalada ou em vias de desenvolvimento. Um exemplo
é das manifestações clínicas da fibromialgia, cujos sinais e
sintomas são muitas vezes decorrentes do processo de fadiga
física [37,38].
Visto que os fatores desencadeantes da fadiga muscular
sofrem a influência do estado emocional do indivíduo, há que
se sugerir a estimulação verbal, na qual parece ser necessário
certo apelo psicológico no intuito de elevar o limiar de fadiga
por tornar forte a vontade de realizar e vencer a atividade
imposta. Isso pode ser conseguido com frases imperativas
de incentivo cuidando para que não haja aumento, por essa
influência, da “auto-cobrança”, pois esta poderia, de forma
equívoca, atrapalhar o desempenho.
Também, estímulos táteis na atividade ativo-assistida
poderiam incentivar positivamente, pois assim é demonstrado que com um pouco mais de vontade, pode-se chegar ao
movimento máximo sem que ocorra a fadiga.
Outra condição seria evitar o excesso de treinamento
que, portanto, deverá ser quantificado e qualificado indivi-
dualmente de modo que o terapeuta deverá estar atento às
características e aos objetivos do tratamento ou treinamento.
Um indivíduo melhor condicionado parece ter um limiar de
fadiga mais elevado comparando-se àquele descondicionado
considerando a melhor capacidade anaeróbica ou metabólica
em geral.
Conclusão
A redução, principalmente, de fosfocreatina e glicogênio
além de alterações em outros compostos desempenham
papel-chave no desencadeamento da fadiga. Não obstante, é
influente o aspecto psicológico ou de motivação individual,
os quais imperam no desempenho físico de forma voluntária
ou involuntariamente. Novas pesquisas devem ser realizadas
no intuito de desvendar como alguns outros componentes,
não citados neste trabalho, estão relacionados a esse processo, por exemplo, o monóxido de azoto, os radicais livres e
magnésio.
Ao finalizar essa revisão pode-se concluir que a fadiga é
representada por fenômenos sucessivos e interdependentes
e, mesmo sem saber qual o fator desencadeante inicial, este
processo acontece na cadeia fisiológica da contração muscular
visando à proteção. Desta forma, funciona como mecanismo
protetor da atividade celular por prevenir o início de aumento
de força muscular excessivo e suas conseqüentes e numerosas
lesões desportivas. Além disso, protege os processos de recuperações subseqüentes.
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100
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Opinião
Protocolo de recondicionamento físico após lesão
nas categorias de base de futebol no São Paulo
Futebol Clube
Physical reconditioning protocol after injury in soccer players
of São Paulo Football Club
Marco Aurélio Buchaim Regos*, Marcus Vinicius Grecco**
*Preparador Físico do Centro de Formação de Atletas do São Paulo Futebol Clube, Especialista em Fisiologia do Exercício pela UNIFESP e Especializando em Treinamento Desportivo pela UNIFESP, **Mestrando em Fisiopatologia das Afecções Músculo-Esquelética da Faculdade de Medicina da USP
Resumo
Abstract
Uma das áreas mais desafiadoras da reabilitação desportiva é
o recondicionamento do atleta após lesão atlética. O objetivo de
qualquer programa de recondicionamento físico é levar o atleta ao
estado ideal anterior à lesão e elaborar um programa de manutenção
preventiva capaz de minimizar a possibilidade de o atleta ter nova
lesão. Os protocolos mostrados neste trabalho ajudam o preparador
físico a ter constância e continuidade durante todo o processo de
recondicionamento físico, lembrando que se trata apenas de diretrizes, pois sabemos que cada atleta tem suas necessidades específicas
quando se trata de futebol. Portanto, são essenciais as avaliações
iniciais e as reavaliações subseqüentes ao programa de recondicionamento físico para o controle da sobrecarga.
One of the most challenging areas of sports rehabilitation is
the athlete reconditioning after athletic injury. The objective of any
program of physical reconditioning is to take the athlete to previous
ideal state of the injury and to elaborate a program of preventive
maintenance capable to minimize the possibility to have new injury.
The protocols shown in this work, help the physical instructor to
have constancy and continuity during all the process of physical
reconditioning, remembering that these are only some procedures,
because we know that each athlete has its specific needs when we are
talking about soccer. Therefore, it is essential the initial evaluations
and the subsequent reevaluation to the physical reconditioning
program for the overload control.
Palavras-chave: recondicionamento físico, lesão, futebol.
Key-words: physical reconditioning, injury, soccer.
Recebido em 12 de fevereiro de 2008; aceito em 12 de agosto de 2008.
Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Ribeiro de Barros 81/31, Vila 05027-020 Pompéia SP, E-mail:
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Introdução
O atleta, após a reabilitação fisioterápica, estará clinicamente recuperado, mas, dependendo do grau da lesão e do
tempo que o atleta esteve em recuperação, ele não estará apto
a suportar as cargas de treinamento e competição. De um
modo geral, na Fisioterapia, o foco principal é restabelecer
clinicamente o membro lesionado, fazendo com que haja
um déficit de coordenação intra e intermuscular nos demais
grupos musculares não lesionados.
Para que este déficit seja minimizado, torna-se necessário
um período de recondicionamento físico para que o atleta
tenha condições físicas e psicológicas de voltar a trabalhar em
grupo. Antes de o atleta entrar em um programa de recondicionamento físico, será preciso seguir os critérios provenientes
de uma avaliação detalhada da equipe de medicina esportiva,
composta por médicos e fisioterapeutas:
• ter amplitude normal do movimento da coluna e extremidades;
• força muscular até 20% de diferença com o lado não cometido, sendo o ideal situar-se entre 0 e 10%;
• exame neurológico sem anormalidades;
• edema não persistente;
• estabilidade articular adequada;
• sem dor ao movimento;
• sem uso de medicamento.
O condicionamento físico (CF) pode ser entendido como
exercícios orientados, que visam aumentar qualitativa e ou
quantitativamente o desempenho físico. A função do CF não
se embasa exclusivamente no aumento de rendimento físico
do atleta, mas também na prevenção de lesões, manutenção da
saúde do atleta e da capacidade funcional do movimento. Em
geral, o CF indica modificação do rendimento físico, refletido
na performance geral dos atletas. O objetivo principal do CF
é o desenvolvimento das capacidades motoras (condicionais
e coordenativas) do atleta, necessárias para obter um melhor
rendimento motor, que se faz por meio de exercícios corporais.
Na prática, traduz-se pela execução variada de exercícios apropriados para fins de performance educacional no movimento
esportivo. O CF é pautado por uma visão de totalidade que
reconhece, na dinâmica da organização dos diversos sistemas
corporais envolvidos na prática de exercícios, a capacidade de
interação com o meio ambiente, possibilitando uma via de
desenvolvimento do potencial atlético. A plasticidade humana,
funcional ou estrutural, caracteriza-se como um grande diferencial no processo de adaptação ao treinamento, demonstrando
a capacidade de interação de organismo humano e meio ambiente, resultando, dessa maneira, na organização e obtenção
de novos patamares de estabilidade atingidos [1-3].
O grande mérito do CF, com intuito reabilitativo, é fazer
com que o atleta retorne às suas atividades nas mesmas condições prévias a uma lesão, promovendo também a prevenção
de lesões e estabelecendo a manutenção e progressão para
um CF ideal de alto rendimento. No entanto, a estrutura
101
deve estar baseada em uma equipe interdisciplinar (médico,
fisioterapeuta, educador físico, nutricionista etc.) e recursos
materiais (espaço físico, material esportivo e de avaliação
etc.) que proporcionarão condições para que a prescrição
do recondicionamento físico possa ser realizada e cumprida
com êxito frente a todos os aspectos envolvidos no retorno ao
esporte competitivo. O São Paulo Futebol Clube é um centro
de excelência no que diz respeito à reabilitação e preparação
física de atletas de futebol. Seu departamento médico realiza,
além do diagnóstico e tratamento, avaliações e orientações de
condicionamento físico e aptidão física, que servirão como
parâmetros mensuráveis e objetivos da evolução, estado clínico
e resultados esportivos.
Por se tratar de categorias de base no futebol competitivo,
o condicionamento físico (CF) tem que ser respaldado, além
de avaliações fisiológicas e de aptidão física, de uma boa avaliação maturacional para controle adequado de sobrecarga de
treino, que se resume na averiguação dos seguintes itens:
• idade de espemarca, desenvolvimento dos genitais e pêlos
pubianos;
• análise percentual de maturação das cartilagens de crescimento nas imagens radiológicas de punho e mão;
• análise laboratorial de dosagens plasmáticas dos hormônios
adrenal desidroepiandrosterona que indicado para avaliar
a maturidade dos meninos;
• idade dental.
Os protocolos, que serão apresentados, foram elaborados
pelo preparador físico responsável pelo recondicionamento
físico destes atletas das categorias de base de futebol do São
Paulo Futebol Clube. O objetivo dos protocolos é reintegrar
o atleta ao grupo em condições de suportar as cargas de treino e competição sem ter que trabalhar separado do grupo
e não dividir o foco do preparador físico de cada categoria
com trabalhos paralelos ao trabalho do grupo. Sendo assim,
o trabalho de recondicionamento físico que se inicia após a
alta da fisioterapia irá abordar capacidades físicas latentes ao
bom desempenho do atleta dentro de campo [1,4,3].
Força
Quando o treinamento de força é diminuído ou cessado,
ocorre uma perturbação no estado biológico das células
musculares e órgãos do corpo. Isso resulta em uma diminuição acentuada no bem estar fisiológico e na produção
física do atleta [5]. A falta do treinamento de força diminui
progressivamente a força de contração muscular e, toda vez
isso ocorre, o mesmo acontece com velocidade, potência
e rapidez nas mudanças de direção. Para atletas inativos, a
taxa de perda de força por dia pode ser, grosso modo, de 3 a
4% na primeira semana. Para alguns atletas, especialmente
no futebol onde a força e velocidade dominam, esta pode ser
uma perda substancial [2].
Quando esta interrupção chega a 2 ou 3 semanas, podem
causar um aumento de perturbações psicológicas, como ce-
102
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
faléias, insônia, sensação de exaustão, maior tensão, maiores
oscilações de humor, falta de apetite e depressão psicológica,
podendo qualquer atleta sofrer um desses sintomas ou uma
combinação deles. Todos os sintomas estão relacionados
à queda nos níveis de testosterona e à beta-endorfina, um
composto neuroendócrino que é o principal precursor das
sensações de euforia após os exercícios [6,5,7]. Esses sintomas
não são patológicos e podem ser revertidos com um reinício
rápido do treinamento.
O trabalho de força será orientado apenas para sua manifestação de resistência de força, utilizando os exercícios e
métodos aplicados na sua própria categoria.
da corrida, precisando de estímulos proprioceptivos para
recuperar seu padrão normal de movimento. O estímulo de
velocidade sem sobrecargas adicionais e recuperação completa
é muito importante para a coordenação intramuscular (sincronização das unidades motoras) e intermuscular, pois exige
maiores amplitudes articulares e alta freqüência de execução,
atuando seletivamente sobre as fibras musculares IIb [2,11].
Coordenação
A Coordenação está presente em todas as capacidades
citadas acima, pois todas elas estão intimamente ligadas entre
si (Figura 1).
Resistência
A resistência cardiovascular (VO2) é visivelmente afetada por médias e longas fases de inatividade. Estudos têm
mostrado uma queda de 6% no VO2, após 2-4 semanas de
inatividade, e declínios de 15% após uma interrupção de 3
meses [2].
A manutenção da resistência cardiovascular é mais difícil
quando o treinamento regular é interrompido, em comparação com a força, velocidade e agilidade. Estudos mostram que
o treinamento de resistência cardiovascular deve ser realizado
3 vezes por semana, para que não haja declínio nos valores
de VO2máx [8,9].
O trabalho de resistência poderá ser orientado para a capacidade aeróbia, potência aeróbia e resistência mista aeróbiaanaeróbia, de acordo com a necessidade do atleta e do tempo
em que esteve parado. Propõe-se a corrida contínua com o
objetivo exclusivamente regenerativo nos dias seguintes aos
treinos de força e coordenação. Os métodos de treinamento
intervalado e as corridas com variação de velocidade serão utilizados de acordo com a evolução individual de cada atleta.
Velocidade
A velocidade tende a ser a primeira capacidade a ser afetada pela inatividade, já que o rompimento da proteína e a
degeneração das unidades motoras diminuem as capacidades
de potência da contração muscular. A velocidade requer um
alto nível de adaptação das células nervosas. Sua perda pode,
em princípio, estar relacionada à sensibilidade do Sistema
Nervoso à inatividade [10]. Uma melhora da velocidade está,
igualmente, ligada à da força. O trabalho de velocidade será
orientado para o aspecto coordenativo da corrida de velocidade e salto, com prioridade para a primeira.
Os estímulos de velocidade são os exercícios educativos e
coordenativos de corrida, exercícios de agilidade e mudanças
de direção em espaços pequenos, multisaltos, pliometria com
os dois pés ou um pé só. São empregados tempos de recuperação completa entre os exercícios e séries, enfatizando sempre
a qualidade do movimento. Os atletas que ficam afastados
muito tempo têm uma alteração no padrão da marcha ou
Figura 1 - Interrelação da coordenação com outras qualidades
físicas.
A coordenação é a capacidade de um atleta acionar diferentes grupos musculares para produzir um determinado
movimento específico. Os atletas com capacidades coordenativas bem desenvolvidas otimizam suas capacidades físicas e
obtêm uma melhor performance na sua modalidade esportiva
[12]. São utilizados exercícios de propriocepção e equilíbrio,
exercícios cognitivos e exercícios combinados. Os exercícios e
métodos aplicados serão adotados de acordo com o protocolo
utilizado em cada categoria.
Tempo de recondicionamento físico
Sugere-se para os atletas que disputam competições: a)
1 semana na Fisioterapia = volta direto para a equipe; b)
passando de 1 semana: recondicionamento físico = tempo
de Fisioterapia ÷ 2. A liberação do atleta pode ocorrer antes
ou depois deste prazo, dependendo da resposta individual
de cada um.
As tabelas 1 a 3 apresentam exemplos de atletas que ficaram 8 semanas apenas sendo tratados na fisioterapia. Nota-se
que o prazo máximo que se deveria submeter um atleta ao
recondicionamento físico é de 8 semanas, ou seja, se o atleta
ficar inativo por 20 semanas, ele será submetido a ‘apenas’ 8
semanas de recondicionamento físico. Contudo, frisamos que
nos referimos apenas a diretrizes mais gerais. A sensibilidade
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
do preparador físico é fundamental no acompanhamento e
na prescrição dos exercícios.
Nas Tabelas, o soccer test refere-se a uma medida de
resistência aeróbica contendo 4 níveis de intensidade, cada
um deles com 60 metros. Entre um nível e outro aumentase a velocidade da corrida por estimulo auditivo. Ao final de
cada nível há um intervalo de 10 segundos para se passar para
o próximo nivel. Ao final do 4º nível, caso o atleta consiga
103
alcançá-lo, afere-se a freqüência cardíaca. O treino contínuo
refere-se ao treinamento de resistencia aeróbia, mantendose uma intensidade estável determinada pelo treinador. A
potência aeróbia-treino intervalado (4x2, significa 4 minutos em velocidade baixa e 2 minutos em velocidade alta)
determinando-se a intensidade do treino através do soccer
test e aplicada para aumentar o limiar anaeróbio.
Tabela I - Protocolo de recondicionamento físico (Categoria Sub 15).
2a. Feira
3a. Feira
* Avaliação matura1o. Microciclo
cional
Força (peso corporal /
Resistência contínuo Treinamento funcional
Esteira (20 minutos) 70% / musculação). 70%
FC Soccer Test*
da carga utilizada pelo
Atleta na Categoria
2a. Feira
3a. Feira
* Avaliação matura2o. Microciclo
cional
Força (peso corporal /
Treinamento funcional /
Resistência contínuo musculação) + coorCampo ** (30 minutos)
denação 80% da carga
80% FC Soccer Test
utilizada pelo Atleta na
Categoria
2a. Feira
3a. Feira
* Avaliação matura3o. Microciclo
cional
Força (peso corporal /
treinamento funcional /
Potência aeróbia 4x
musculação) + coor(5x2)*** (28 minutos)
denação 90% da carga
90% FC Soccer Test
utilizada pelo atleta na
categoria
2a. Feira
3a. Feira
* Avaliação Matura4o. Microciclo
cional
Força (peso corporal /
Potência aeróbia 3x (8x2) Treinamento funcional /
musculação) + coorde(30 minutos) 90% FC
Soccer test + flexibilinação 100% da carga
utilizada pelo atleta na
dade
categoria
4a. Feira
5a. Feira
6a. Feira
Resistência contínuo Campo (30 minutos)
70% FC Soccer Test
Coordenação + flexibilidade
Resistência intervalado
- Esteira FartLek 3x1 (20
minutos) 70% x 85% FC
Soccer Test
4a. Feira
5a. Feira
Resistência intervalado
- Esteira FartLek 3x1 (20
minutos) 75% x 85% FC
Soccer Test
Velocidade (sem bola)
4a. Feira
5a. Feira
6a. Feira
* Avaliação maturacional
Força (Peso Corporal /
Treinamento Funcional /
Musculação) + Coordenação 80% da carga
utilizada pelo Atleta
naCategoria
6a. Feira
Coordenação + agilidaResistência contínuocampo (30 minutos) 80% de + velocidade (com
Trabalho técnico
FC Soccer Test
bola)
4a. Feira
5a. Feira
6a. Feira
Resistência contínuocampo (30 minutos)
80% FC Soccer Test +
flexibilidade
Agilidade + coordenação + velocidade com
mudanças de direção
Trabalho técnico
104
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Tabela II - Protocolo de recondicionamento físico (Categoria Sub 17).
2a. Feira
1o. Microciclo
3a. Feira
Força (treinamento
Resistência contínuo funcional / musculação).
esteira (20 minutos) 70%
70% da carga utilizada
FC Soccer Test
pelo atleta na categoria
2a. Feira
3a. Feira
2o. Microciclo
Força (treinamento
Resistência contínuo funcional / musculação)
campo (30 minutos) 80% + coordenação 80%
FC Soccer Test
da carga utilizada pelo
Atleta na Categoria
2a. Feira
3a. Feira
3o. Microciclo
Força (Treinamento
Potência aeróbia 4x (5x2) funcional / musculação)
(28 minutos) 85% FC
+ coordenação 90%
da carga utilizada pelo
Soccer Test
atleta na categoria
2a. Feira
3a. Feira
4o. Microciclo
Força (treinamento
Potência aeróbia 3x (8x2)
funcional / musculação)
(30 minutos) 90% FC
+ coordenação 100%
Soccer Test + flexibilida carga utilizada pelo
dade
atleta na categoria
4ª. Feira
5a. Feira
Resistência contínuo Campo (30 minutos) .
70% FC Soccer Test
Coordenação + flexibilidade
4ª. Feira
5a. Feira
Resistência intervalado
- esteira FartLek 3x1 (20
minutos) 70% x 85% FC
Soccer Test
Velocidade (sem bola)
4ª. Feira
5a. Feira
6a. Feira
Resistência intervalado
- esteira FartLek 3x1 (20
minutos) 70% x 85% FC
Soccer Test
6a. Feira
Força (treinamento
funcional / musculação)
+ coordenação 80%
da carga utilizada pelo
atleta na categoria
6a. Feira
Força (treinamento
Resistência contínuoCoordenação + agilida- funcional / musculação)
+ coordenação 100%
campo (30 minutos) 70% de + velocidade (com
da carga utilizada pelo
FC Soccer Test
bola)
atleta na categoria
4ª. Feira
5a. Feira
6a. Feira
Resistência contínuocampo (30 minutos)
80% FC Soccer Test +
flexibilidade
Agilidade + coordenação + velocidade com
mudanças de direção
Trabalho técnico
5a. Feira
6a. Feira
Tabela III - Protocolo de recondicionamento físico (Categoria Sub 20).
2a. Feira
1o. Microciclo
3a. Feira
Força (treinamento
Resistência contínuo funcional / musculação)
esteira (30 minutos) 70%
70% da carga utilizada
FC Soccer Test
pelo atleta na categoria
2a. Feira
3a. Feira
2o. Microciclo
Força (treinamento
Resistência intervalado
funcional / musculação)
- Esteira FartLek 2x3 (30
+ coordenação 80%
minutos) 70% x 85% FC
da carga utilizada pelo
Soccer Test
atleta na categoria
2a. Feira
3a. Feira
3o. Microciclo
Força (Treinamento
Potência Aeróbia 5x (4x1
funcional / musculação)
/ 5x2 / 6x3 / 7x4) (32
+ Coordenação 90%
minutos) 85% FC Soccer
da carga utilizada pelo
Test + flexibilidade
atleta na categoria
2a. Feira
3a. Feira
4o. Microciclo
Potência aeróbia 4x (7x3) Força (treinamento
(35 minutos) 90% FC
funcional / musculação)
Soccer Test + flexibili100% da carga utilizada
dade
pelo atleta na categoria
4ª. Feira
Resistência contínuo Coordenação + flexibicampo (30 minutos) 70%
lidade
FC Soccer Test
4ª. Feira
5a. Feira
Resistência contínuo campo (30 minutos) 80% Velocidade (sem bola)
FC Soccer Test
4ª. Feira
Força (treinamento
funcional / musculação)
+ Coordenação 90%
da carga utilizada pelo
atleta na categoria
4ª. Feira
Resistência intermitente
(30 minutos) 75% a
90% FC Soccer Test +
flexibilidade
5a. Feira
Resistência intermitente
(30 minutos) 75% a
90% FC Soccer Test +
flexibilidade
5a. Feira
Agilidade + coordenação + pliometria +
velocidade com mudanças de direção
Resistência intervalado
- esteira FartLek 3x2 (30
minutos) 70% x 85% FC
Soccer Test
6a. Feira
Força (treinamento
funcional / musculação)
+ coordenação 80%
da carga utilizada pelo
atleta na categoria
6a. Feira
Força (treinamento
funcional / musculação)
+ coordenação 100%
da carga utilizada pelo
atleta na categoria
6a. Feira
Trabalho técnico
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação
com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade
física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica
da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos
(CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted
to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional
de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que
são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão
atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em
pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
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limitando-se unicamente ao estilo literário.
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Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
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com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
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dados originais de descobertas com relação a aspectos
experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional
que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos,
Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel,
etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas
à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de
um artigo de revisão.
5. Relato ou estudo de caso
São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
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com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
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digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados
em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
8. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista.
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,
será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar
a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte
maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e
com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos
devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,
CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública
do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise
e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c)
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão
ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A
participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o
total de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para
107
os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências
da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no
endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do
possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as
referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com
o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site
da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser
citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa - 20241-080 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164 - E-mail: [email protected]
108
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Calendário de eventos
2008
2009
Novembro
Janeiro
9 a 12 de novembro
10 a 14 de janeiro
5 a 8 de dezembro
11 a 14 de fevereiro
V Congresso Brasileiro de História da Educação
Aracajú, SE
Informações: http://www.sbhe.org.br/
Australian and New Zealand Society for Comparative
Physiology and Biochemistry
University of Sydney
http://www.zoo.latrobe.edu.au/anzscpb/
E-mail: [email protected]
24º. Congresso Internacional de Educação Física
Foz de Iguaçu, PR
Informações: www.congressofiep.com
XIII Simpósio Brasileiro de Fisiologia Cardiovascular
Ouro Preto, MG
Informação: www.xiiisbfc.ufop.br
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 7 número 3 - setembro/dezembro 2008
EDITORIAL
Que 2009 possa nos sorrir a todos! Paulo Tarso Veras Farinatti............................................................................... 111
ARTIGOS ORIGINAIS
Identificação precoce de riscos em adolescentes sugere exclusão em programas
de exercícios, Akinori Cardozo Nagato, Frank Silva Bezerra,
Eduardo Tavares Lima Trajano, Marco Aurélio dos Santos Silva,
Éric Machado Guimarães, Samuel Santos Valença ..................................................................................................... 112
A influência aguda de uma sessão de Jump Fit no desempenho
dos exercícios resistidos, Adriana Lemos, Roberto Simão,
Humberto Miranda, Jefferson da Silva Novaes .......................................................................................................... 118
Autopercepção da saúde de mulheres acima de 30 anos após participação
em programa de alongamento estático voltado para promoção da saúde,
Josenei Braga dos Santos, Everton Silveira Campos, André Junqueira Xavier ............................................................ 123
Efeitos do exercício de natação em ratas com suplementação nutricional
de sacarose, Danilo Aparecido Rodrigues, Faissal Serhan, Mariana Rotta Bonfim,
Ricardo Zacharias, Renato Pedroso, Susimary, Trevizan Padulla,
Regina Miranda Burneiko, Ivânia Garavello, Ethel L B Novelli ................................................................................. 127
O efeito da crioterapia na fase inflamatória da lesão muscular em ratos
(Rattus norvegicus), Maria Paula Mellito da Silveira, Renato Claudino,
Karla Denise de Alcantara Evaristo ............................................................................................................................ 133
REVISÕES
Características funcionais e fisiológicas do destreinamento – respostas
hormonais e cardiovasculares, Michel Arias Brentano, Tiago Santi ......................................................................... 139
A importância dos exercícios resistidos em pacientes hipertensos,
Graziela Rodrigues da Costa, Elaine Cristina Martinez Teodoro ................................................................................ 145
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Treinamento da força para idosos, Paulo de Tarso Veras Farinatti,
Nádia Souza Lima da Silva ........................................................................................................................................ 151
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................... 158
EVENTOS ............................................................................................................................................................... 160
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
110
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Conselho Editorial
Antonio Carlos Gomes (PR)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega
(RJ)
Dartagnan Pinto Guedes (PR)
Douglas S. Brooks (EUA)
Emerson Silami Garcia (MG)
Fernando Pompeu (RJ)
Francisco Martins (PB)
Jacques Vanfraechem (BEL)
Luiz Fernando Kruel (RS)
Martim Bottaro (DF)
Patrícia Chakour Brum (SP)
Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Rolando Baccis Ceddia (CAN)
Robert Robergs (USA)
Rosane Rosendo (RJ)
Sebastião Gobbi (SP)
Steven Fleck (USA)
Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Vilmar Baldissera (SP)
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu
Administração e vendas
Antonio Carlos Mello
Atlântica Editora e Shalon Representações
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910
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Todo o material a ser publicado deve ser enviado
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para o seguinte endereço de e-mail:
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estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
111
Editorial
Que 2009 possa nos sorrir a todos!
Prof. Dr. Paulo Tarso Veras Farinatti
Editor-Chefe da RBFEx
Chegamos ao final de 2008 e apresentamos, conforme
planejado, o terceiro número deste volume da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx). É com prazer que
retomamos a periodicidade normal de nossa revista. O volume de artigos recebidos e atualmente em avaliação permite
acreditar que 2009 será um ano de consolidação. Logramos
êxito na implantação de um sistema de revisão por pares, o
corpo editorial passa por um processo de renovação, pretendemos ampliar a quantidade de consultores ad hoc. Houve,
além disso, um importante aporte de assinantes da revista,
o que denota estar ela cumprindo seu papel de aproximar a
produção de conhecimentos dos profissionais que o utilizam
em sua prática cotidiana. Enfim, faz parte dos planos para
2009 a solicitação de apoio a órgãos de fomento à pesquisa,
bem como buscar a indexação da RBFEx em bancos de dados
que aumentem sua credibilidade e pontuação na classificação
Qualis da CAPES.
Nada disso seria possível sem a confiança dos pesquisadores que encaminharam seus manuscritos para avaliação ou
sem a colaboração voluntária daqueles que trabalharam para
que o órgão oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do
Exercício voltasse a circular. Em época de fim de ano, não
é demais agradecer nominalmente àqueles que investiram
tempo e energia na RBFEx. Especial agradecimento vai
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 111
para os editores associados, Pedro Paulo Soares (UFF) e, a
partir de 2009, Walace Monteiro (UERJ). Suas idéias são
e serão importantes para a evolução da revista. O apoio da
Sra. Guillermina Arias, nossa editora assistente vem sendo
fundamental – arrisco dizer que, sem a sua competência teria
sido muito difícil fazer voltar a RBFEx.
No que diz respeito especificamente ao presente número
da RBFEx, além das habituais seções com artigos originais
e revisões da literatura, iniciamos a título experimental uma
nova seção, intitulada de “Perguntas e Respostas”. Sua proposta é convidar um especialista em determinada área a travar
um diálogo entre a teoria e a prática, por meio de perguntas e
respostas. As perguntas procuram remeter a temática na qual
o pesquisador milita a aspectos eminentemente relacionados
com a aplicação do conhecimento na perspectiva da intervenção profissional. É claro, isso sem abdicar do rigor científico
e da qualidade argumentativa. Cremos que essa nova seção
vai ao encontro das características da RBFEx e, uma vez o
retorno por parte dos leitores revelando-se positivo, a intenção
é repeti-la ao menos uma vez por ano.
Finalmente, resta-nos desejar a todos um excelente final
de ano, em paz e harmonia junto de suas famílias e entes
queridos. Que 2009 possa nos sorrir a todos, sendo um ano
pleno de alegrias e realizações!
Cordialmente.
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112
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
Artigo original
Identificação precoce de riscos em adolescentes sugere
exclusão em programas de exercícios
Identification of initial risks in teens suggests exercise program exclusion
Akinori Cardozo Nagato*, Frank Silva Bezerra**, Eduardo Tavares Lima Trajano***, Marco Aurélio dos Santos Silva***,
Éric Machado Guimarães***, Samuel Santos Valença****
*Laboratório de Reparo Tecidual – Departamento de Histologia e Embriologia – Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes
– Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Pós-Graduação em Fisioterapia Cardio-Respiratória e Pneumo-Funcional – Universidade Castelo Branco, **Pós-Graduação em Ciências Morfológicas – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Curso de Fisioterapia
– Universidade Severino Sombra, Curso de Fisioterapia – Universidade Severino Sombra, ***Curso de Fisioterapia – Universidade
Severino Sombra, **** Laboratório de Reparo Tecidual – Departamento de Histologia e Embriologia – Instituto de Biologia Roberto
Alcântara Gomes – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
Abstract
Atualmente, a premissa dos estudos preventivos tem se direcionado a um estilo de vida saudável, incluindo a participação precoce
em programas de exercícios, sob uma orientação profissional. As
triagens precoces de saúde permitem a elaboração de prescrições
mais apropriada e efetiva destes programas. O presente estudo
teve como objetivo investigar se adolescentes de duas instituições
da rede particular de ensino da cidade de Vassouras (RJ) estavam
aptos para a inclusão direta em um programa de exercício, segundo
as orientações do The American College of Sports Medicine. Para isto,
foi utilizado um questionário baseado nos critérios da The Canadian
Society of Exercise Physiology, o Physical Activity Readiness Questionnaire (PAR-Q). Os resultados revelaram: relatos de desconforto
torácico durante a prática de exercício físico (15,9%), perda do
equilíbrio em virtude de uma tonteira ou perda da consciência
(28,7%) e problemas ósseos ou articulares (16,5%). A maior parte
dos adolescentes (53%) apresentava indicação direta para uma
orientação prévia antes da inclusão em um programa de exercício
físico. Observou-se que, embora a prática de exercício físico seja
freqüente, os resultados obtidos sugerem inaptidão dos adolescentes
para inclusão direta, sem orientação profissional, em um programa
de exercício físico.
The premise of preventive studies has been currently directed to
a healthy lifestyle, including early participation in exercise programs
under a professional care. The health preliminary trials allow most
appropriate and effective requirements for development of programs.
Our aim was to investigate the prospective exercise program for
direct inclusion of teens from private schools in the city of Vassouras
(RJ) according to the guidelines of The American College of Sports
Medicine. We used a questionnaire based in The Canadian Society
for Exercise Physiology (Physical Activity Readiness Questionnaire - PAR-Q). After or during physical exercise we found reports
of chest distress (15.9%), misbalance and faint (28.7%) and joint
problems (16.5%). Some teens (53%) presented direct indication
for orientation prior to inclusion in a physical exercise program. We
observed in teens frequent physical exercise practice. However, our
results suggest unfitness for inclusion of teens unaccompanied by
professional supervision in a physical exercise program.
Key-words: exercise program, teens, care identification.
Palavras-chave: programa de exercício, adolescentes,
identificação de riscos.
Endereço para correspondência: Samuel Santos Valença, LRT/DHE/IBRAG/UERJ, Av. Prof. Manuel de Abreu, 444, 20550-170 Rio de
Janeiro RJ, Tel: 2587-6509
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Introdução
A relação inversa entre a prática de exercícios e a prevalência de doenças crônicas tem sido destacada em vários estudos
[1-4]. Os mais recentes têm considerado, ainda, que uma vida
sedentária na infância pode estar associada às doenças cardiovasculares durante a vida adulta [5-7]. A verdade é que não
há dificuldades em selecionar evidências de cunho biológico
ou psicoemocional quanto às vantagens dos adolescentes se
tornarem adequadamente ativos fisicamente [8].
A prática de educação física, tida como um componente
curricular da educação básica, prevista na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), hoje integra à proposta pedagógica da escola,
ajustando-se às faixas etárias e às condições da população
escolar. Porém, é difícil avaliar a atividade física, principalmente quando restrita às crianças e adolescentes, por haverem
fatores de interferências como falta de pessoal capacitado
para a coleta de dados e dificuldades de apoio financeiro para
custeio desse tipo de estudo. Trabalhos recentes têm utilizado
padrões referenciados por critérios como inquérito de aptidão
física [9-14], onde colaboram ao encorajar os profissionais
da saúde em estabelecer programas de triagem de saúde que
interceptam mais precocemente os fatores positivos que
contra-indicam os indivíduos para os exercícios.
A triagem de saúde é importante por aprimorar a segurança durante a participação de uma atividade física, assim como
permite elaborar uma prescrição mais apropriada e efetiva
da mesma. Esta investigação deve ser aplicada por recursos
válidos, custo efetivo e eficiente do ponto de vista temporal,
devendo ainda a monitorização dessas tendências se dar de
forma prática [9,8]. Sob estes aspectos, os questionários autoadministrativos têm se demonstrado valiosos no auxílio aos
estudos sobre a atividade física [15,16].
O presente estudo teve como objetivo investigar se adolescentes de duas instituições da rede particular de ensino da
cidade de Vassouras (RJ) estavam aptos para a inclusão direta
em um programa de exercício, segundo as orientações do
Colégio Americano de Medicina Esportiva [17,18].
Material e métodos
O presente estudo, tipo inquérito, foi realizado após aprovação do projeto de pesquisa “Triagem de saúde e relação de
riscos precoces à aptidão para inclusão em um programa de
exercícios”, supervisionado pela Universidade Severino Sombra e seu respectivo comitê de ética para trabalhos científicos
com seres humanos.
Foram selecionadas duas entidades de ensino da cidade de
Vassouras reconhecidas pelo Ministério da Educação, intituladas Colégio Sul-Fluminense de Aplicação (CA) e Colégio
dos Santos Anjos (CSA). A opção pelo envolvimento dessas
escolas se deu pela similaridade quanto às práticas administrativas (escolas da rede privada que oferecem o ensino médio),
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 113
113
a localização geográfica (escolas próximas e localizadas no
centro da cidade de Vassouras), ao perfil socioeconômico de
seus alunos e à similaridade quanto ao tempo destinado para
a disciplina de educação física, aproximadamente 50 minutos
por aula dividida em duas aulas semanais.
Foram selecionados para essa pesquisa os estudantes devidamente matriculados nas 1ª, 2ª, e 3ª série do ensino médio
das escolas citadas, que demonstraram desejo em participar
da pesquisa e que estiveram presentes no dia de visita dos
pesquisadores. Inicialmente, essa amostra era composta de
166 alunos. Destes, apenas dois apresentava idade < 15 anos,
o que foi sugestivo para exclusão dos mesmos para análise,
uma vez que não atendiam as recomendações da Sociedade
Canadense para Fisiologia do Exercício como critério inicial
para responderem o Physical Activity Readiness Questionnaire
(PAR-Q), onde se recomenda um limite de idade compreendido entre 15 e 69 anos (Tabela I) [19].
Tabela I - Número de adolescentes que participaram do estudo
respondendo o PAR-Q.
Idade
15 anos
16 anos
17 anos
18 anos
19 anos
15 - 19
anos
Feminino
n
%
22
26,8%
41
50,0%
13
15,9%
4
4,9%
2
2,4%
Masculino
n
%
29
35,4%
31
37,8%
18
22,0%
4
4,9%
0
0,0%
Total
n
51
72
31
8
2
82
82
164
100%
100%
%
31,1%
43,9%
18,9%
4,9%
1,2%
O questionário, validado e proposto para inclusão, direta
ou sob orientação médica, em uma atividade física foi aplicado
a 164 escolares, 82 do sexo masculino e 82 do sexo feminino,
cuja média da idade e desvio padrão foi, respectivamente:
15,96 ± 0,88 e 16,06 ± 0,92. Além das questões relacionadas
ao PAR-Q, os estudantes foram indagados sobre suas respectivas idades, sexo, dados antropométricos (altura e peso), e
quatro questões específicas que apresentavam somente duas
alternativas de resposta, uma para afirmação (sim) e outra para
negação (não). As questões formuladas foram:
1. A instituição de ensino oferece a prática de educação física?
2. Você participa das aulas de educação física?
3. Você considera importante a prática de exercícios?
4. Fora das dependências da sua instituição de ensino você
pratica alguma atividade física?
Para a aplicação do PAR-Q os adolescentes foram reunidos
em uma sala de aula na proporção de 15-20 estudantes para
cada examinador a fim de que eventuais dúvidas pudessem ser
prontamente esclarecidas. Foram veiculadas com o questionário instruções e recomendações para o seu preenchimento.
Não foi estabelecido limite de tempo para o preenchimento do
questionário, e durante sua aplicação os adolescentes permaneceram sem comunicação paralela a fim de que não houvesse
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
114
possíveis interferências nas respostas. Foram considerados os
critérios estabelecidos no próprio instrumento de investigação
(PAR-Q) para a sugestão quanto à indicação ou não de uma
orientação prévia para a participação de uma atividade física.
Os questionários foram conduzidos para análise dos dados do
grupo amostral a partir da equação IMC = peso (kg)/altura
(m)2. O IMC específico para adolescentes foi estabelecido
como baixo peso (BP) - 17,5 kg/m2, excesso de peso (EP)
compreendido entre 25 kg/m2 e 30 kg/m2 e obesidade (OB)
valores maiores que 30 kg/m2[20].
Os dados são apresentados em tabelas e gráfico. Para o
cálculo da distribuição de freqüência do IMC e PAR-Q+ e
PAR-Q– utilizou-se o teste qui-quadrado (Tabela VI). Para
comparar as médias do IMC entre os alunos que apresentaram
PAR-Q+ e PAR-Q– utilizou-se o teste t com a correção de
Welch. Em ambos os casos a diferença estatística foi considerada quando valor de p ≤ 0,05.
Resultados
O perfil antropométrico dos adolescentes que participaram do estudo está representado na Tabela II. As observações
destes dados não evidenciaram diferenças significativas entre
os dois grupos amostrais estudados. A idade média (anos), o
peso (kg), a altura (m) e o IMC (kg/m2) dos adolescentes de
ambas as instituições foram, respectivamente, 16,01 ± 0,91,
61,32 ± 9,74, 1,70 ± 0,07 e 21,09.
Ambas as instituições que participaram do estudo ofereciam a prática de atividade física em seu programa curricular,
dado confirmado pelos adolescentes em 99,4%. A maior parte
dos matriculados estava inserido em um programa de exercícios (90,9%). Do total de adolescentes, 98,8% consideraram
a atividade física importante, ainda que grande parte dos
mesmos relatou não praticar nenhuma atividade física fora
das dependências da escola (40,2% - Tabela III).
Os adolescentes entrevistados apresentaram um perfil
de aptidão para a atividade física bastante heterogênea, se
consideramos os critérios do Colégio Americano de Medicina
Esportiva propostos no PAR-Q. Considerando os dados de
ambas as instituições (CA e CSA) representadas na Tabela
IV, percebemos que os relatos sugestivos de maior sugestão
de inaptidão para a inclusão direta em uma prática de exercícios foram:
1. presença de desconforto torácico durante a prática de
atividade física (15,9%);
2. perda do equilíbrio em virtude de uma tonteira ou perda
da consciência (28,7%);
3. sofrimento de algum tipo de problema ósseo ou articular
com possibilidade de piora por uma mudança em sua
atividade física (16,5%).
Tabela II - Dados antropométricos dos adolescentes das duas instituições particulares de ensino de Vassouras,RJ.
CA
n
Idade (anos): (d)
Peso(Kg):
(d)
Altura (m)
(d)
IMC (Kg/m2)
Sexo masculino
40
16,05
0,90
68,48
9,02
1,78
0,06
21,66
Sexo feminino
44
16,02
0,85
54,13
7,45
1,64
0,06
20,15
total
84
16,04
0,88
61,30
8,23
1,71
0,06
20,90
CSA
Sexo masculino
42
15,88
0,86
65,75
10,28
1,75
0,07
21,51
Sexo feminino
38
16,11
1,01
56,93
12,20
1,65
0,07
21,03
total
80
15,99
0,93
61,34
11,24
1,70
0,07
21,27
CA + CSA
164
16,01
0,91
61,32
9,74
1,70
0,07
21,09
CA = Colégio de Aplicação; CSA= Colégio dos Santos Anjos; (d)= desvio padrão. Os dados foram expressos em média ±desvio
padrão da média.
Tabela III - Distribuição de freqüências do número de adolescentes que responderam ‘SIM’ OU ‘NÃO’ às perguntas sobre a atividade física.
I
sim
n
43
40
83
II
sim
n
35
37
72
III
sim
n
44
38
82
IV
sim
n
15
31
46
não
não
não
não
CA
%
n %
%
n
%
%
n %
%
n
%
Feminino
97,7%
1 2,3%
79,5% 9
20,5%
100,0% 0 0,0%
34,1%
29 65,9%
Masculino
100,0% 0 0,0%
92,5% 3
7,5%
95,0% 2 5,0%
77,5%
9
22,5%
CA
98,8%
1 1,2%
85,7% 12 14,3%
97,6% 2 2,4%
54,8%
38 45,2%
CSA
Feminino
38
100,0% 0 0,0%
35
92,1% 3
7,9%
38 100,0% 0 0,0%
17 44,7%
21 55,3%
Masculino 42
100,0% 0 0,0%
42
100,0% 0
0,0%
42 100,0% 0 0,0%
35 83,3%
7
16,7%
CSA
80
100,0% 0 0,0%
77
96,3% 3
3,8%
80 100,0% 0 0,0%
52 65,0%
28 35,0%
CA + CSA 163 99,4%
1 0,6%
149 90,9% 15 9,1%
162 98,8% 2 1,2%
98 59,8%
66 40,2%
I - oferece a prática de educação física? II - Você participa das aulas de educação física? III - você considera importante a prática de
exercícios? IV - fora das dependências da sua instituição de ensino você pratica alguma atividade física?
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
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Tabela IV - Distribuição de freqüência do número de indivíduos que responderam ‘sim’ ou ‘não’ aos questionamentos do PAR-Q.
CA
Feminino
sim
CSA
Feminino
sim
não
n
%
n
%
n
%
n
não
%
n
%
n
%
n %
n
%
n
%
n
%
I
1
2,3%
43
97,7%
2
5,0%
II
8
18,2%
36
81,8%
7
17,5%
38
95,0%
1
2,6%
37
97,4%
1
2,4%
41
97,6%
5
3,0%
159
97,0%
33
82,5%
8
21,1%
30
78,9%
3
7,1%
39
92,9%
26
15,9%
138
III
5
11,4%
39
88,6%
3
7,5%
84,1%
37
92,5%
5
13,2%
33
86,8%
3
7,1%
39
92,9%
16
9,8%
148
90,2%
Masculino
sim
não
CA + CSA
Masculino
sim
não
sim
não
IV
16
36,4%
28
63,6%
11
27,5%
29
72,5%
13 34,2%
25
65,8%
7
16,7%
35
83,3%
47
28,7%
117
71,3%
V
11
25,0%
33
75,0%
8
20,0%
32
80,0%
5
13,2%
33
86,8%
3
7,1%
39
92,9%
27
16,5%
137
83,5%
VI
1
2,3%
43
97,7%
0
0,0%
40
100,0% 1
2,6%
37
97,4%
0
0,0%
42
100,0%
2
1,2%
162
98,8%
VII
3
6,8%
41
93,2%
5
12,5%
35
87,5%
15,8%
32
84,2%
1
2,4%
41
97,6%
15
9,1%
149
90,9%
6
I - Seu médico já lhe disse que você é portador de uma afecção cardíaca e que somente deve realizar a atividade física recomendada por um médico? II - Você sente dor no tórax quando realiza uma atividade física? III - No último mês, você teve dor torácica
quando não estava realizando uma atividade física?IV - Você perdeu o equilíbrio em virtude de uma tonteira ou já perdeu a consciência? V - Você sofre algum tipo de problema ósseo ou articular que poderia ser agravado por uma mudança em sua atividade física?
VI - Seu médico está lhe receitando atualmente medicamentos (por exemplo, diuréticos) para a pressão arterial ou alguma condição
cardíaca? VII - Você está a par de alguma outra razão pela qual não deveria realizar uma atividade física?
Tabela V - Distribuição de freqüência do número de adolescentes que responderam ‘não’ a todas as questões do PAR-Q ou ‘sim’ a pelo menos
uma ou mais questões do PAR-Q.
CA
Feminino
Masculino
Total
n
%
n
%
SIM’ para uma ou mais questões 29 65,9% 23 57,5%
52 61,9%
NÃO’ a todas as questões
15 34,1% 17 42,5%
32 38,1%
CA = Colégio de Aplicação; CSA = Colégio dos Santos Anjos
Cabe ressalvar que 9,1% dos entrevistados ainda afirmaram desconhecer alguma outra razão pela qual não deveriam
realizar uma atividade física.
A Tabela V apresenta a porcentagem de adolescentes que
responderam “não” à todas as sete perguntas do PAR-Q (ou
seja, estavam aptos para a inclusão direta em um programa
de exercício físico). Pode-se observar que somente 47,0% dos
adolescentes representavam esta parcela, enquanto a maior
parte (53%) apresentava indicação direta para uma orientação prévia antes da inclusão em um programa de exercício
físico – ou seja: aqueles que responderam “sim” a pelo menos
uma das questões.
A análise do teste qui-quadrado mostrou diferença significativa (p < 0,03) ao investigar a distribuição de freqüência do
número de adolescentes que apresentaram PAR-Q+ (PAR-Q
positivo = adolescentes que responderam “sim” a uma ou
mais questões) e PAR-Q- (PAR-Q negativo = adolescentes
que responderam “não” a todas as questões) segundo o IMC
(Tabela VI).
Finalmente as médias dos IMC dos adolescentes que relataram dor torácica durante a prática de atividade física com
PAR-Q+ foi significativamente menor (p < 0,002) comparado
aqueles identificados como “aptos” para a inclusão direta
(PAR-Q-) em um programa de exercícios (Figura 1).
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 115
CSA
Feminino
n
%
19 50,0%
19 50,0%
CA + CSA
Masculino
n
%
16 38,1%
26 61,9%
Total
35 41,7%
45 53,6%
n
%
87 53,0%
77 47,0%
Tabela VI - Distribuição de freqüência do número de adolescentes
que apresentaram PAR-Q positivo e PAR-Q negativo segundo o
IMC
IMC (Kg/m2)
<17,5
17,5 - 25
PAR-Q
+
15
60
7
63
10
5
25-30
>30
0
4
PAR-Q + = adolescentes que responderam “sim” a uma ou
mais questões, e que sugere-se uma orientação prévia de um
profissional da saúde para a inclusão em um programa de
exercício. PAR-Q - = adolescentes que responderam “não” a
todas as questões e estão aptos para a inclusão direta em um
programa de exercício.
Discussão
Inúmeros benefícios sobre a prática de exercícios físicos
podem ser encontrados na literatura, tais como: diminuir o
risco de aterosclerose e suas conseqüências (angina, infarto do
miocárdio, doença vascular cerebral), ajudar no controle da
obesidade, hipertensão arterial, diabetes, osteoporose, dislipidemias, ansiedade, depressão, doença pulmonar obstrutiva
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
Figura 1 - Média do IMC dos adolescentes que já apresentaram
dor torácica por conta de uma atividade física.
crônica, asma; diminuir o risco de afecções osteomusculares e
de alguns tipos de câncer (colo e de mama), além de proporcionar melhor auto-estima e ajudar no bem-estar e socialização
do indivíduo [17,21-25].
Apesar da amplitude destes benefícios, e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) colocar a Educação
Física como componente curricular, no Brasil quase a metade
dos escolares não tem aulas regulares de educação física [26].
Um estudo realizado em escolas públicas no Rio de Janeiro
apontou índice de sedentarismo de 85% entre adolescentes
do sexo masculino e de 94% nos do sexo feminino [27].
Tem-se observado que a participação em atividades físicas
vem declinando consideravelmente com o crescimento, especialmente da adolescência para o adulto jovem [28]. Neste
contexto, nosso estudo pôde identificar que a realidade das
escolas particulares do município de Vassouras (CA e CSA)
apresenta-se em disparidade quanto às demais instituições
públicas do estado, apresentando uma representativa participação dos adolescentes na prática de educação física (90,9%).
Parece ainda estar inserida nesse contexto a concepção da
importância de participar de um programa de exercício, visto que 98,8% dos adolescentes consideravam importante a
prática de exercícios. Nosso estudo sugere também que uma
parcela dos adolescentes está efetivamente participando destes
programas. No entanto, ainda são ineficazes os instrumentos
de avaliação da atividade física e escassos os instrumentos que
apontem preventivamente para uma inserção equivocada
nestes programas de exercícios.
Identificou-se na literatura que a utilização do PAR-Q,
sob a perspectiva de liberação prévia para a prática de exercício físico, foi aplicado, precocemente a grupos variados de
adultos [29,30]. Entretanto, em adolescentes, este estudo
foi o primeiro a especificamente a relatar esta importância.
Identificamos, através da sua utilização, que mais da metade
dos adolescentes responderam positivamente a uma ou mais
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 116
questões do PAR-Q, sugerindo uma orientação prévia de um
profissional da área médica para estes se tornarem fisicamente
mais ativos.
Acreditamos que nossos esforços em buscar relações entre
os dados antropométricos e a dor torácica e tonteira relatada
pelos adolescentes esteve dificultada pelos inúmeros fatores intervenientes que não pudemos controlar, como, por exemplo:
tipo de hábito alimentar e nível de estresse. Entretanto, esta
dificuldade parece estar constantemente presente em estudos
com adolescentes, pois ao contrário do que ocorre em adultos, não há consenso sobre os critérios antropométricos mais
adequados para classificar sobrepeso e obesidade na infância
e adolescência, mesmo se tendo utilizado, para esta finalidade
diversos parâmetros, como: tabelas de crescimento, curvas de
referência do IMC para a idade, IMC percentual, índice de
massa corporal magra e medidas de pregas cutâneas; o que
dificulta claramente a comparação de resultados.
Em conclusão, grande parte dos adolescentes observados
exibiu, em diferentes graus, inaptidão inclusão direta, sem
supervisão profissional ou avaliação médica, em programas
de exercício físico.
Conclusão
A prática de exercício físico é freqüente nas instituições
estudadas, estando grande parte dos adolescentes inseridos na
prática de educação física e ainda praticando algum exercício
físico extracurricular. Apesar de uma grande parcela dos adolescentes considerarem a prática de exercício físico importante,
os resultados obtidos no presente estudo sugerem inaptidão
dos adolescentes para inclusão direta (sem orientação de um
profissional da saúde) em um programa de exercício físico. Isto
nos leva a um questionamento fundamental: Estariam todos
estes adolescentes corretamente incluídos em um programa
de exercícios?
Assim, outros estudos deveriam dedicar-se especificamente
à proposição de instrumentos de investigação precoce de
riscos relacionados à prática de exercícios. Como atualmente
a premissa dos estudos preventivos tem se direcionado a um
estilo de vida que se relaciona diretamente aos fatores de riscos
precoces, comportamentos indesejáveis na adolescência podem afetar negativamente a saúde na vida adulta. Dentre esses
hábitos, destaca-se a prática inadequada de exercício físico.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
118
Artigo original
A influência aguda de uma sessão de Jump Fit
no desempenho dos exercicios resistidos
Acute influence of a Jump Fit class in resistive training performance
Adriana Lemos*, Roberto Simão*, Humberto Miranda*, Jefferson da Silva Novaes*
*Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Educação Física e Desportes
Resumo
Abstract
Existem evidências de que o treinamento de resistência antecedendo os exercícios resistidos (ER) pode influenciar no desempenho
deste último. O objetivo deste estudo foi verificar a influência de
uma aula de Jump Fit sobre o número de repetições em uma seqüência nos ER. A amostra foi de sete mulheres (23,7 ± 2,2 anos;
162,1 ± 5,7 cm; 54 ± 5,3 kg, praticantes de ER e Jump Fit. O
estudo envolveu quatro visitas com intervalo de 48 horas entre as
mesmas. Na primeira visita, foram avaliados a freqüência cardíaca
em repouso, medidas antropométricas e o teste de 10 repetições
máximas (10 RM). Após 48 horas realizamos um re-teste de 10 RM.
Nos dois dias seguintes, após a obtenção das cargas, os indivíduos
foram submetidos a duas sessões de treinamento, organizada em
duas formas seqüenciais (SEQ A e SEQ B): SEQA – leg press 450,
cadeira extensora e cadeira flexora, sendo três séries com cargas de
10RM, e intervalos de dois minutos entre as séries e exercícios. A
SEQB – consistia primeiramente na aula de Jump Fit e em seguida
a realização dos ER na mesma ordenação da SEQA. A realização das
seqüências foi definida pelo balance cross-over design. Para verificar o
comportamento do número de repetições, realizou-se uma ANOVA
fatorial de duas entradas, seguida do teste post-hoc de Tuckey (p
< 0,05). Comparando o número total de repetições dos ER sem
a execução prévia do Jump Fit e após o Jump Fit, todas as séries
comparadas apresentaram redução no número de repetições, com
exceção da 1a série da flexão do joelho. Verificamos que a aula de
Jump Fit influencia negativamente no desempenho dos ER.
There are evidences that endurance training, if applied before
resistive training (RT), may influence the performance of the last
one. This study intends to verify the influence of a Jump Fit class
over the number of repetitions in an RT sequence. The sample we
have used included seven women (23.7 ± 2.2 yrs; 162.1 ± 5.7 cm;
54 ± 5.3 kg), who practice RT and Jump Fit. The study has included
four visits, with a 48-hour interval between them. In the first visit
we have evaluated the heart frequency at rest, anthropometrics
and the maximum weight in 10 maximum repetitions (10RM).
Forty-eight hours after obtaining the load in 10 RM the re-test
was made. After two days, the individuals were submitted to two
training sessions, organized in two types of sequences (SEQ A and
SEQ B): SEQA – leg press 450, leg extension and leg curl, of which
3 sets using 10 RM weights, and 2-minute intervals between sets and
exercises. The SEQB – consisted of a Jump Fit class, followed by the
performance of RT in the same order of SEQA. The way sequences
were performed was defined by balance cross-over design. In order
to verify the behavior of the number of repetitions, we have used a
ANOVA two-way followed by the Tuckey post-hoc (p < 0.05) test.
We have used the software Statistica 5.5 (Statsoft ®, USA). When
we compared the number of RT repetitions, without previous Jump
Fit exercise and after Jump Fit, all the sets compared have shown a
reduction in the number of repetitions; with the exception of the
first set of leg curl. We have verified that the Jump Fit class has a
negative influence in RT performance. However, when the objective
includes cardio resistance, Jump Fit training may be recommended
as a good practice for fitness centers.
Palavras-chave: treinamento aeróbio, treinamento de força,
treinamento concorrente, fadiga.
Key-words: aerobic training, strength training, concurrent training,
fatigue.
Endereço para correspondência: Roberto Simão, E-mail: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
Introdução
Os exercícios resistidos (ER) são constituintes importantes nos programas de condicionamento físico direcionados
a promoção da saúde [1,2]. Sua prática continuada provoca
adaptações fisiológicas favoráveis que podem variar em
função de aspectos como intensidade da carga, número de
repetições, freqüência semanal, ordem dos exercícios, intervalo
entre as séries e sessões e período de duração do treino [2].
Tais diferenças podem ou não resultar em ganhos de força e
hipertrofia muscular [2].
O treinamento aeróbio tem sido apontado como responsável por promover aumentos na densidade mitocondrial,
enzimas oxidativas, mioglobina, consumo máximo de oxigênio e a capacidade de desempenhar trabalhos prolongados
sem associação ao aumento de força e hipertrofia muscular
[3,4].
Contudo, o treinamento simultâneo de exercícios aeróbios
e de força parece modificar o curso destas respostas, interferindo positivamente, ou até comprometendo o desenvolvimento
de tais valências [4,5]. Alguns autores [6,7] argumentaram
que a realização de um treinamento combinado envolvendo
trabalho de força e aeróbio acarreta menores ganhos de força
em comparação com indivíduos que realizam somente o
treinamento de força. No entanto, outros estudos [4,8,9]
revelaram que há ainda uma grande indefinição sobre os
reais efeitos fisiológicos, morfológicos e neuromusculares
decorrentes deste tipo de treinamento. Sendo assim, sua
interpretação depende de vários fatores, incluindo o nível de
condicionamento dos indivíduos, o volume e a freqüência de
treinamento, além da experiência motora e da forma como
os dois métodos estão integrados.
Uma das novas atividades que desenvolvem aptidão
aeróbia e atualmente tem sido muito procurada nas academias é o Jump Fit, que constitui um programa de exercícios
ritmados de membros superiores e inferiores sobre um mini
trampolim. Seus benefícios são basicamente os mesmos que
os alcançados pela prática regular dos exercícios aeróbios
[10]. Contudo, não possuímos nenhuma evidência cientifica
sobre o real comportamento dos ER após a metodologia
de treino pré-coreografado. Desta forma, o objetivo deste
estudo foi verificar a influência de uma sessão de Jump Fit
no desempenho dos ER para membros inferiores em mulheres treinadas.
Materiais e métodos
Amostra
Fizeram parte da amostra, sete mulheres (23,7 ± 2,2 anos;
162,1 ± 5,7 cm; 54 ± 5,3 kg), praticantes de ER e Jump Fit.
Para seleção da amostra respeitaram-se os seguintes critérios
de inclusão: a) prática regular de atividades no Jump Fit e
ER pelo menos seis meses, com freqüência semanal míni-
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 119
119
ma de três vezes; b) índice de massa corpórea ≤ 21 kg/m-2,
evitando-se níveis de sobrepeso que comprometessem a qualidade de execução dos movimentos; c) questionário PAR-Q
negativo; d) ausência de problemas osteomioarticulares que
viessem limitar a realização dos exercícios propostos. Todas
as voluntárias assinaram um termo de consentimento pósinformado, conforme sugerido pela Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde, após aprovação pelo Comitê
de Ética da Instituição.
Coleta de dados
O estudo envolveu quatro dias de coleta de dados com
intervalo de 48 horas entre as mesmas. Na primeira visita,
foi avaliada a freqüência cardíaca em repouso, composição
corporal e medidas de estatura, massa corporal e a carga
em um teste de 10 repetições máximas (10 RM) [11]. As
voluntárias foram aconselhadas a não praticar exercícios
físicos nas 48 horas anteriores aos testes. Na segunda
visita, realizou-se um re-teste de 10 RM para verificar a
reprodutibilidade das cargas alcançadas nos testes. Diferenças superiores a 5% nas cargas obtidas em ambos os
testes não poderiam ser utilizadas. A obtenção de cargas no
teste de 10 RM constou dos seguintes exercícios: leg-press
450, cadeira extensora e cadeira flexora, em função da sua
grande utilização em academias e facilidade de execução.
Objetivando reduzir a margem de erro no teste de 10 RM,
foram adotados os seguintes procedimentos: a) instruções
padronizadas foram fornecidas antes do teste, de modo que
o avaliado estivesse ciente de toda a rotina que envolvia a
coleta de dados; b) o avaliado foi instruído sobre a técnica
de execução do exercício; c) o avaliador permanecia atento
quanto à posição adotada pelo praticante no momento da
medida, pois pequenas variações no posicionamento das
articulações envolvidas no movimento poderiam acionar
outros músculos, levando a interpretações errôneas dos
escores obtidos; d) estímulos verbais foram realizados a fim
de manter alto nível de estimulação.
Foram executadas até cinco tentativas na obtenção das
cargas para 10 RM. Os intervalos entre as tentativas em cada
exercício durante o teste foram fixados entre dois a cinco
minutos. Após a obtenção da carga em 10 RM em determinado exercício, intervalos não inferiores a 10 minutos foram
aplicados.
Na 3a e 4a visitas, após 48 horas da obtenção das cargas
nos testes de 10 RM, os indivíduos foram submetidos a duas
sessões de treinamento, com intervalo de 48 horas entre as
mesmas. Nos intervalos entre as sessões não foi permitida
a realização de exercícios que pudessem influenciar nos
dados. A condução do treinamento durante as sessões foi
realizada através de duas formas seqüenciais: seqüência A
(SEQA) – consistia realização dos ER na seguinte ordem: leg
press 450, cadeira extensora e cadeira flexora. Eram realizadas
três séries, com cargas de 10 RM até a falha concêntrica.
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Os intervalos entre as séries e exercícios eram fixados em
dois minutos. A capacidade de desempenho nas repetições
foi determinada pela exaustão ou incapacidade de manter
o padrão do movimento. Todos os exercícios supracitados
foram realizados em equipamentos da marca Technogym@
selection. A seqüência B (SEQB): consistia na realização da
coreografia da aula de Jump Fit e logo em seguida a realização dos ER na mesma ordenação da SEQA. Antes da aula
de Jump Fit, todas as avaliadas permaneceram sentadas em
repouso durante 10 minutos em uma sala isolada. A temperatura situou-se entre 18º e 21º centígrados e a umidade
relativa do ar entre 43 a 65%.
A inclusão dos indivíduos nas distintas seqüências de
exercícios foi definida pelo balance cross-over design. O aquecimento na SEQA consistiu em trabalho específico de 12
repetições com 40% da carga de 10RM. Esse procedimento
foi adotado apenas no primeiro exercício da seqüência. Já na
SEQB, o aquecimento respeitava o padrão da aula do Jump
Fit, descrito a seguir.
O Jump Fit consiste em rotinas coreográficas que envolvem
exercícios de corrida, polichinelos, deslocamentos, e elevações
de joelhos e calcanhares, combinados com movimentos dos
braços, e executados sobre um mini trampolim. O equipamento permite a realização de exercícios que envolvem a força
da gravidade, além da aceleração e desaceleração, devido à sua
superfície elástica e sistema de fixação de molas de especial
resistência, que permitem atingir uma alta performance na execução dos exercícios. Os exercícios propostos são apresentados
em forma de coreografias simples e de fácil execução, iniciando
com uma coreografia no solo, seguido de um estágio de aquecimento (pre-training), entrando na parte principal, também
denominada cardio-training. Sua fase final é composta por
movimentos suaves utilizados para volta à calma.
Análise estatística
Figura 1 - Número de repetições para o exercício leg-press 450 realizado sem a execução do Jump Fit (coluna cinza) e após a execução
do Jump Fit (coluna diagonal).
*Diferença significativa para a série correspondente realizada sem a
execução do Jump Fit.
Figura 2 - Número de repetições para a flexão do joelho realizado
sem a execução do Jump Fit (coluna cinza) e após a execução do
Jump Fit (coluna diagonal).
* Diferença significativa para a série correspondente realizada sem a
execução do Jump Fit.
Figura 3 - Número de repetições para o exercício extensão do joelho realizado sem a execução do Jump Fit (coluna cinza) e após a
execução do Jump Fit (coluna diagonal).
Para verificar a influencia da aula de Jump Fit no número
de repetições nos ER, realizou-se uma ANOVA de duas
entradas com medidas repetidas, seguida do teste post-hoc
de Tukey. Utilizou-se como significância estatística, p <
0,05. Os dados foram tratados no software Statistica 5.5
(Statsoft ®, USA).
Resultados
Ao comparar o número de repetições dos ER sem execução prévia do Jump Fit com a execução após sessão Jump Fit,
observou-se uma redução do número de repetições em todos
os exercícios estudados, exceto na primeira série da cadeira
flexora. No que diz respeito a influência da sessão de Jump Fit
nas distintas séries em cada exercício, observaram-se reduções
significativas na terceira série do leg press 450 e cadeira flexora
(Figuras 1 e 2, respectivamente), na segunda e terceira série
da cadeira extensora (Figura 3).
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 120
*Diferença significativa para a série correspondente realizada sem a
execução do jump-fit
Discussão
Alguns estudos demonstram que os exercícios aeróbios
realizados previamente aos ER exercem efeitos deletérios neste
último, como a redução do desempenho agudo em testes espe-
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cíficos [12,13]. Uma possível explicação para tal fato é que uma
sessão de trabalho aeróbio promoveria mudanças metabólicas
agudas durante a sessão dos ER subseqüentes [4,14].
Vale ressaltar que a literatura sugere um comprometimento
das adaptações decorrentes dos ER em virtude da realização
prévia do treinamento aeróbio [6,15]. O contrário, porém,
parece não ser constatado em alguns experimentos [9,13].
Existem diferentes posicionamentos sobre a interferência
da combinação do treinamento aeróbio de intensidade elevada nos programas de ER [16]. A natureza do treinamento
aeróbio também difere muito nos estudos. Corrida [6,17],
ciclismo [7,12,18], remo [4,8], arremesso [5] e a combinação
de corrida com ciclismo [19] têm sido apresentados como
constituintes do treinamento aeróbio de estudos sobre treinamento concorrente.
Alguns autores [17,20] sugerem que o treinamento aeróbio
possivelmente interfira na capacidade do sistema neuromuscular em gerar a força máxima, hipótese associada diretamente
ao efeito agudo. Embora um número considerável de estudos
tenha relacionado às adaptações no desempenho com o treinamento concorrente, poucos analisaram os mecanismos fisiológicos marcantes responsáveis pela inibição da força [6,7,9].
O treinamento aeróbio previamente aos ER compromete as
adaptações decorrentes do estímulo de força através da alteração
do padrão de recrutamento muscular e/ou da atenuação da
hipertrofia [14]. Segundo Kraemer et al. [6], há uma diminuição na hipertrofia de fibras do tipo II quando o treinamento
aeróbio é conjugado ao treinamento de força.
A maior diferença na metodologia do presente estudo em
relação aos obtidos na literatura existente parece que a maior
diferença reside na especificidade do treinamento aeróbio aplicado previamente a uma seqüência de ER. Não foi encontrado
na literatura nenhum material referente à utilização do Jump Fit
antecedendo uma seqüência de ER. Entretanto, nossos achados parecem concordar com diversos estudos que utilizaram
outros exercícios de treinamento aeróbio, que demonstraram a
influência negativa do treinamento contínuo de longa duração
precedendo os ER no desempenho da força [12,13].
Após sessão de Jump Fit em todos os exercícios e séries,
exceto na primeira série de flexão de joelhos, observou-se
uma redução no número de repetições em cada série, quando
comparados à mesma seqüência sem o Jump Fit.
Os estudos que demonstram a influência dos exercícios
aeróbios antecedendo aos ER possuem uma duração média
entre 21 a 160 minutos [14]. Parece claro que exercícios com
essa faixa de duração influenciam negativamente no desempenho dos ER. Os fatores influenciadores mais prováveis
na fadiga podem ser: o estresse térmico, a desidratação, o
percentual do VO2pico no qual se exercita, o limiar de lactato
do indivíduo, a percentagem de fibras do tipo I recrutadas, a
biomecânica de execução e o conteúdo de glicogênio muscular
[5,6,14]. No presente estudo, observamos que os exercícios
realizados no mini-trampolim, durante 60 minutos antes dos
ER, influenciaram negativamente no desempenho. Tal fato
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 121
121
pode estar relacionado à intensidade da aula, caracterizada em
recente estudo [10] como de intensidade moderada para alta.
Nesse caso o trabalho correspondeu aproximadamente à 75%
do VO2pico. Outro fator importante que pode ter influenciado
no desempenho dos ER foi a fadiga de membros inferiores,
principalmente nas séries da cadeira extensora, onde observouse redução significativa do número de repetições na segunda
e terceira séries, quando comparada as séries executadas sem
o treinamento prévio do Jump Fit. Isso nos leva a crer que a
aula de Jump Fit pode exercer uma forte fadiga na musculatura
do quadríceps, visto que na realização da extensão de pernas,
a redução no número de repetições ficou mais evidente.
Em estudo proposto por Leveritt et al.[16], 26 estudantes
foram divididos em três grupos selecionados de forma aleatória. O primeiro grupo realizou somente ER. Já o segundo,
realizou somente o treinamento aeróbio, enquanto o terceiro,
realizou simultaneamente trabalho aeróbio e ER. O programa
nos ER consistia nos exercícios leg-press, extensão de pernas,
flexão de pernas, supino horizontal, puxada no pulley, flexão
de cotovelos, elevação lateral dos braços e abdominais. Os
sujeitos treinaram por seis semanas, três vezes semanais, com
cargas de 4-8 RM e intervalo entre as séries de três minutos.
O treinamento de resistência no ciclo-ergômetro consistia
em períodos de cinco minutos nas intensidades de 40, 60,
80, 100% do VO2depico com intervalos de cinco minutos leves
para recuperação. Utilizou-se o teste de 1 RM para avaliação
da carga. Após seis semanas de treinamento, os resultados
demonstraram que os grupos que realizaram somente os
ER e o treinamento simultâneo aumentaram a força significativamente no teste de 1 RM, mas o grupo que treinou
somente força teve maior ganho. Em compensação, o grupo
que treinou somente treinamento aeróbio não aumentou
força de forma significativa. Isso demonstra que sessões de
treinamento aeróbio de longa duração, conjugados aos ER
podem trazer prejuízos ao desempenho da força.
Em outro estudo que verificou os efeitos crônicos do treinamento aeróbio sobre o desempenho da força, os resultados
foram similares. Jolpe et al. [3] verificaram a influência de um
treinamento de corrida no desempenho da força. As voluntárias foram divididas em três grupos. Um treinava somente
ER, enquanto o segundo fazia 25 minutos de corrida a 75%
da FC de reserva acompanhado por ER. Já o terceiro grupo
serviu como controle. Os ER consistiam de 10 exercícios, sendo
quatro para membros inferiores (leg press, extensão de pernas,
flexão de pernas e panturrilha) e seis para membros superiores.
As voluntárias treinaram durante nove semanas, uma hora por
dia, três vezes semanais (2a, 4a e 6a), de forma periodizada de
acordo com o modelo de Stone e O’Bryant [21]. Os testes de
força eram realizados a cada duas semanas no exercício leg-press.
Como resultado, não foram observadas diferenças significativas
entre os grupos que treinaram somente ER e o treinamento
simultâneo. Apesar das diferenças metodológicas na aplicação
do treinamento e na forma de coleta de dados entre os dois
últimos experimentos, os resultados foram similares.
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No que diz respeito aos efeitos agudos do treinamento
concorrente envolvendo trabalho aeróbio e de força, isso
também parece ocorrer. Em nossos achados, verificamos que
o treinamento trouxe uma redução do número de repetições
em praticamente todos os exercícios. Como pode ser visto
nas figuras 1, 2 e 3, o desempenho nos ER, expresso pelo
número de repetições máximas nos exercícios, foi menor com
a prática do Jump Fit antes. Isso se mostrou mais evidente,
principalmente com a evolução das séries. Nesse caso, pode-se
observar que na terceira série do leg-press e cadeira flexora, bem
como na segunda e terceira séries da cadeira extensora, a queda
do desempenho foi mais evidente. Com base nos resultados
supracitados, podemos acreditar que ganhos de força podem
sofrer prejuízo no treinamento simultâneo envolvendo Jump
Fit e ER. Porém, se o objetivo primordial recair no ganho de
força, seria melhor treinar os ER antes do Jump Fit, devido à
menor possibilidade de fadiga. Em contrapartida, se o objetivo
recair na melhora do condicionamento cardiorrespiratório, o
treinamento simultâneo iniciado com o treinamento aeróbio
parece ser aceitável.
Na sessão de Jump Fit, cujo modelo do programa é fixo
nos tempos musicais, verificou-se uma FC média em esforço
de 166 bpm, o que pode ser considerado elevado, ainda mais
para uma duração do esforço em 60 minutos. Dessa forma,
devido aos elevados graus de intensidade e volume de trabalho
em uma sessão de Jump Fit, acredita-se que possa haver uma
fadiga local, afetando o treinamento posterior.
Conclusão
Com base nos resultados encontrados no presente estudo,
pode-se concluir que a aula de Jump Fit apresenta alta intensidade e volume de trabalho, trazendo como efeito agudo a
influencia negativa no desempenho da força em mulheres
treinadas, quando realizada antes dos ER. Contudo, quando
o objetivo principal do treinamento recair na melhoria do
condicionamento cardiorespiratório, o treinamento de Jump
Fit parece ser uma atividade indicada como opção de aula nas
academias. Importante também destacar, que a magnitude da
influência das aulas de Jump Fit no desempenho agudo da
força tende a ser mais pronunciada com a evolução das séries.
Nesse sentido, em uma sessão de exercícios realizados com
séries simples, a aula de Jump Fit parece não exercer influência
negativa no desempenho da força. Estudos futuros necessitam
ser conduzidos para melhor investigar a influência das sessões
de Jump Fit sobre o desempenho dos ER.
Agradecimentos
À professora Cida Conti pelo seu apoio e incentivo nas
pesquisas relacionadas ao Jump Fit; à academia Companhia
Athletica (RJ-Brasil), pelo apoio ao estudo; aos professores Cid
Queiroz e Grazielle Bonato, pelo apoio na coleta de dados.
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 122
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Artigo original
Autopercepção da saúde de mulheres acima de 30
anos após participação em programa de alongamento
estático voltado para promoção da saúde
Health self-perception of women above 30 years after participation
in a static stretching program directed toward health promotion
Josenei Braga dos Santos, M.Sc.*, Everton Silveira Campos, M.Sc.**, André Junqueira Xavier, D.Sc.***
*Engenharia de Produção (Área de Concentração – Ergonomia/UFSC), Educação Física – Universidade Regional de Blumenau
(FURB), Lótus Fisioterapia e Serviços na Área da Saúde, **Engenharia de Produção (Área de Concentração - Ergonomia/UFSC),
Fisioterapia – Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Lótus Fisioterapia e Serviços na Área da Saúde, ***Informática em Saúde (UNIFESP/EPM), Medicina – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Resumo
Abstract
O objetivo deste estudo foi avaliar a autopercepção de saúde
de mulheres acima de 30 anos participantes de um programa de
alongamento estático voltado para a promoção da saúde. A amostra
foi composta por dez sujeitos do sexo feminino, entre 30 e 55 anos,
que apresentavam desconfortos corporais, sendo que três relataram
ter algum problema de saúde. O estudo obedeceu a três etapas:
pré-teste - questionário sobre as condições de saúde, avaliação da
flexibilidade por meio do Teste de Sentar e Alcançar (TSA) e classificação conforme Canadian Society of Exercise Physiology – CSEP;
intervenção - 26 sessões de alongamento estático, por quatro meses,
duas vezes por semana em dias alternados, com duração de 30 a 45
minutos cada sessão, três repetições de exercícios para cada articulação (pescoço, ombros, coluna vertebral, quadril, joelhos e tornozelos)
com duração de 15 a 30 segundos em cada posição, exercícios de
resistência muscular localizada, três séries de 10 repetições, orientações sobre hábitos de saúde, postura corporal, técnicas de respiração
e relaxamento; e pós-teste os mesmos procedimentos do pré-teste
mais avaliação qualitativa dos sujeitos. Os resultados mostraram que
antes da intervenção, a flexibilidade de 10% dos sujeitos estava em
situação excelente, 30% em situação boa, 40% em situação regular
e 20% precisava melhorar. Após a intervenção, 10% estavam em
situação excelente, 50% em situação boa, 30% em situação regular
e 10% precisavam melhorar. Assim, percebeu-se que as sessões ajudaram os sujeitos a manter a flexibilidade e até melhorá-la em alguns
casos, bem como, auxiliou os sujeitos que estavam com problema
de saúde a mudarem seus hábitos de vida.
The aim of this study was to evaluate the self-perception of
women health above 30 years who were participants of a static
stretching program directed toward health promotion. The sample
was composed by ten female subjects, age group 30-55 years, who
showed body discomforts, three of them reported to have health
problems. The study followed three stages: pre-test - questionnaire
on health conditions, evaluation of flexibility by seat-and-reach
test and classification according to Canadian Society of Exercise
Physiology - CSEP; intervention - 26 sessions of static stretching
for four months, two times per week in alternated days, duration
30-45 minutes each session, three repetitions of exercises for each
joint (neck, shoulders, vertebral column, hip, knees and ankles)
duration of 15-30 seconds in each position, exercises of located
muscular resistance, three series of 10 repetitions, orientation on
health habits, body posture, techniques of breath and relaxation;
and post-test - same procedures of pre-test and subjects qualitative
evaluation. The results showed that before intervention, flexibility
of 10% of the subjects was excellent, 30% good, 40% regular and
20% needed to improve. After intervention, 10% were in excellent
condition, 50% in good condition, 30% in regular and 10% needed
to improve. Thus, one concludes that the sessions helped the subjects
to keep the flexibility and improve in some cases, and also helped
those who had health problems to change life habits.
Key-words: static stretching, flexibility, empowerment.
Palavras-chave: alongamento estático, flexibilidade,
empoderamento.
Endereço para correspondência: Josinei Braga dos Santos, Rua Prof. Bento Águido Vieira 340/102, 88036-410 Florianópolis SC, Tel:
(48) 3334-0010, E-mail: [email protected]
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 123
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
Introdução
Segundo Cyrino et al. e Araújo [1,2], o uso de exercícios de
flexibilidade dentro dos programas de atividade física que visam à
prevenção e a promoção da saúde representam um componente
para a melhoria da aptidão física. Para Nahas, Porto et al., Terra,
Lima e Gobbi, Bertazolli, Achour-Júnior e Nieman [3-8], uma
boa condição física facilita no desenvolvimento das atividades
diárias (AVD), melhora a integração das pessoas através de atividades esportivas/recreativas, evitam a fadiga e os desconfortos
posturais, diminuem a tensão e o estresse, reduzem o risco de
lesões musculares e articulares, desenvolve a manutenção do
equilíbrio musculoesquelético e, conseqüentemente, ajudam
no funcionamento músculo-articular. Já Coelho e Araújo [9]
vão mais além, afirmando que os programas de atividades físicas
também têm sido utilizados para melhoria da saúde pública e
que diferentes estratégias têm sido utilizadas para que as pessoas
tenham mais acesso aos programas de exercícios.
Em virtude destas afirmações, pretendeu-se, neste estudo,
trabalhar com o alongamento estático que é uma técnica simples, barata e de fácil aplicação para melhora da flexibilidade,
redução das dores musculares e desconfortos posturais na
busca pela promoção de saúde, qualidade de vida, bem estar
e autonomia das pessoas.
Segundo Achour-Júnior e Teixeira [10,11], esta técnica é
uma das mais utilizadas nos programas de treinamento para
a aptidão física objetivando saúde e, conseqüentemente,
melhora da flexibilidade pelo fato de alongar de modo lento
e progressivo o grupamento muscular até a maior amplitude
articular confortável.
De acordo com estes autores, ela deve ser praticada em dias
alternados, sem desconforto insuportável, buscando sustentar
nesta posição durante 20 a 30 segundos. Sabe-se que as maiores
amplitudes são obtidas nos 15-20 segundos iniciais, por isso,
deve-se repetir de duas a quatro vezes cada principal grande articulação e seus movimentos básicos, em virtude do risco de lesão
ser baixo, requerendo pouco tempo e nenhum auxílio externo,
e que seus objetivos estão voltados para diminuição da tensão
muscular e a pressão sanguínea, melhorando o aproveitamento
da energia mecânica, o que dá comodidade ao movimento e
facilita a aprendizagem das posições.
Entende-se por flexibilidade uma qualidade física que é
responsável pela execução voluntária de movimentos de grande amplitude (movimentação articular), ou sob forças externas
dentro dos limites morfológicos, sem o risco de provocar lesão
em torno das articulações [3,8,12-16].
Segundo Ciryno et al. [1] considerando que a flexibilidade
de uma articulação é dependente do seu nível de utilização,
o envolvimento em programas regulares de exercícios físicos
pode favorecer a melhoria dos níveis de flexibilidade, principalmente de sujeitos sedentários, uma vez que as articulações,
até então pouco utilizadas e, provavelmente, encurtadas,
passarão a receber um estímulo progressivo que acarretará
adaptações bastante positivas em médio ou longo prazo.
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 124
Com isto, é extremamente importante que se priorize,
amplie e desenvolva exercícios de flexibilidade, o que para
Campos e Coraucci-Neto, Guiselini e Nahas [3,17,18], tem
relação direta com o aumento da produção de força dos
músculos devido à relação força-comprimento exibida pelo
tecido muscular.
Sendo assim, objetiva-se neste estudo avaliar a autopercepção de saúde de mulheres acima de 30 anos praticantes de um
programa de alongamento estático voltado para promoção da
saúde. Para seu desenvolvimento, adotou-se como referência
duas fundamentações teóricas: a) Morin [19,20] quando fala
em educação sobre a importância da inteligência geral para
resolução de problemas do ser humano, do conhecimento, da
consciência de sua identidade complexa e comum a todos os
outros humanos; e b) a cultura de empoderamento na saúde,
proposta pela Organização Panamericana de Saúde [21],
ou seja, ajudá-las a gerenciar sua própria saúde por meio da
prática de exercício físico.
Materiais e métodos
A amostra foi composta por um grupo de dez sujeitos
(sexo feminino), com faixa etária entre 30 a 55 anos (43,9 ±
10,02), que relataram ser sedentárias e apresentavam queixas
de dores musculares e desconfortos posturais. Destas, três
relataram ter algum problema de saúde: a) sujeito 2 apresentava sintomas de depressão controlada por medicamento,
fazia acompanhamento médico e tinha obesidade grau I; b)
sujeito 4 sofria de asma, possuía condromalacia nos joelhos
e fazia tratamento com sessões de reeducação postural global
(RPG); e c) sujeito 8 tinha artropatia mecânica na região
lombar, controlada por medicamento, apesar da indicação
de tratamento cirúrgico, fazia acompanhamento médico e
apresentava obesidade grau I.
A pesquisa obedeceu a três etapas: 1ª. etapa (pré-teste) - questionário sobre as condições de saúde e avaliação da flexibilidade
por meio do teste de sentar e alcançar (TSA), proposto por Wells
e Dillon [22] e classificação conforme Canadian Society of Exercise Physiology – CSEP [23], 2ª. etapa (intervenção) - 26 sessões
de alongamento estático, por um período de quatro meses, praticados duas vezes por semana em dias alternados, com duração
de 30 a 45 minutos cada sessão, na qual foram realizadas três
repetições de exercícios para cada articulação: pescoço, ombros,
coluna vertebral, quadril, joelhos e tornozelos com tempo de
permanência de 15 a 30 segundos em cada posição. Também
se desenvolveu um trabalho de resistência muscular localizada
por meio de exercícios abdominais, três séries de 10 repetições
e orientações sobre hábitos de saúde, postura corporal, técnicas
de respiração e relaxamento e 3ª. etapa (pós-teste) - questionário
sobre as condições de saúde, avaliação da flexibilidade por meio
do (TSA) e avaliação qualitativa para saber os benefícios causados
pelos exercícios físicos praticados.
Para desenvolvimento do estudo, seguiu-se a resolução
específica do Conselho Nacional de Saúde [24]. No que se
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
refere ao termo de consentimento livre e esclarecido, todas
assinaram, confirmando que estavam cientes dos propósitos
da investigação e dos procedimentos que seriam utilizados e
autorizaram a publicação dos dados obtidos.
Análise estatística
Os resultados do questionário e do TSA foram digitados
em uma planilha eletrônica do programa Microsoft Office
Excel® 2003, seguida da conferência manual para identificação
de outliers, na qual foram observados os valores extremos e
corrigidos, se necessário. Para análise dos dados, utilizou-se
a estatística descritiva tomando como referência mostrar os
níveis de flexibilidade (pré e pós) do grupo, assim como,
apresentar o percentual (%) de melhora do maior para o
menor valor numérico.
Resultados
Como pode ser observado, na Tabela I, apresenta-se a
avaliação do nível de flexibilidade das mulheres acima de 30
anos mostrando as alterações ocorridas durante o período de
quatro meses.
Após o desenvolvimento das sessões, identificou-se que os
sujeitos obtiveram 80,38% de participação. No que se referiu à
flexibilidade antes da intervenção, segundo a CSEP [23], um sujeito estava em situação excelente (10%), três sujeitos em situação
boa (30%), quatro em situação regular (40%) e dois precisavam
melhorar (20%). Após a intervenção, um sujeito permaneceu na
situação excelente (10%), cinco em situação boa (50%), três em
situação regular (30%) e um precisava melhorar (10%).
Discussão
Como pode ser observado, houve mudança em duas classificações após a intervenção. A primeira podendo ser explicada
pelo fato do sujeito 1 relatar que durante o período de inter-
125
venção passou a praticar musculação como complemento da
atividade e a segunda pelo fato do sujeito 4, começar a praticar
caminhadas durante a semana. Estes resultados refletem o que
diz Ciryno et al. [1], quando afirmam que a prática regular
de programas de exercícios físicos voltados para o desenvolvimento ou manutenção da aptidão física relacionada à saúde
pode exercer papel fundamental ao longo da vida das pessoas.
Outro fator apontado por estes autores é que o treinamento
com pesos pode contribuir efetivamente para a preservação
ou melhoria dos níveis de flexibilidade.
Em virtude do número de participantes do grupo ser pequeno, neste estudo, não se pode mostrar diferenças estatisticamente significativas entre o pré e o pós-teste, mas observa-se
que houve melhora nos valores de flexibilidade de sete sujeitos,
bem como, manutenção das classificações, o que pode ser considerado como um fator benéfico para a saúde destes sujeitos.
Em um estudo parecido, só que com idosos, desenvolvido por
Rebelatto et al. [25], mostrou que quando eles estudaram a influência de um programa de exercícios físicos prolongados sobre
a flexibilidade, os idosos mantiveram a classificação, evitando
assim, perdas naturais que o processo de senescência determina, mas não conseguiram mostrar diferenças estatisticamente
significativas entre as medidas no decorrer deste período.
Já nas pesquisas de Candeloro e Caromano [26] quando
verificaram o efeito de um programa de hidroterapia na
flexibilidade de idosas saudáveis e sedentárias, comprovaram
que o programa foi eficiente com diminuição da distância
punho-tornozelo no teste de flexão anterior de tronco e na
distância dedo-dedo no teste de envergadura. Enquanto que
Souza e Silva, Albertini e Costa [27] quando analisaram as
diferenças nas capacidades físicas de adultos com idades entre
45 a 75 anos (grupos de indivíduos treinados e sedentários),
identificaram um melhor parâmetro de flexibilidade nos indivíduos treinados (24,8 ± 11,8 cm) do que nos indivíduos
sedentários (17,5 ± 5,1 cm).
De acordo com o que está preconizado na literatura,
consegue-se perceber que a prática de exercícios físicos que
Tabela I – Avaliação do nível de flexibilidade de mulheres acima de 30 anos durante o período de quatro meses.
Sujeito
1
2*
3
4*
5
6
7
10
9
10*
Média
DP
Total de sessões Idade
20
51
19
43
23
49
17
31
21
30
23
55
14
47
25
30
26
55
21
48
20,9
43,9
3,63
10,02
Testes
Pré (cm)
18
11
30
31,4
33
30,3
27,8
44
28,7
29,3
28,35
8,77
Classificação
Melhorar
Melhorar
Bom
Regular
Bom
Bom
Regular
Excelente
Regular
Regular
Pós (cm)
31,7
14,6
32
32,5
34
30,6
28
43,5
27,5
27
30,14
7,21
Classificação
Bom
Melhorar
Bom
Bom
Bom
Bom
Regular
Excelente
Regular
Regular
Melhora (%)
76,11
32,72
6,66
3,50
3,03
0,99
0,71
- 1,13
- 4,18
- 7,84
Classificação Boa - CSEP (1998) 30 a 39 anos (32 a 35 cm) 40 a 49 anos (30 a 33 cm) 50 a 59 anos (30 a 32 cm)
*Sujeitos que relataram ter problemas de saúde
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visam melhora da flexibilidade, têm uma relação direta com
a saúde, contribuindo para melhora da promoção de saúde,
qualidade de vida, bem estar e autonomia das pessoas.
Com relação aos sujeitos que estavam com problema de
saúde, o sujeito 2 decidiu, junto com seu médico, diminuir
a medicação e mudar os hábitos alimentares, o sujeito 4 afirmou que as sessões ajudaram a controlar as dores no joelho,
passando a praticar caminhadas durante a semana e o sujeito
10 adotou como estratégia, controlar as dores por meio de
sessões de fisioterapia com abordagem mecânica, parou de
tomar medicação e começou a fazer acompanhamento nutricional para redução do peso corporal.
No que se refere à avaliação qualitativa, todos relataram
perceber aumento da flexibilidade, redução das dores musculares e desconfortos posturais, maior disposição, melhora na
qualidade do sono, auto-estima, concentração e consciência
corporal e buscaram ampliar esta prática para seus familiares
e para suas atividades profissionais. Estes relatos caracterizam
bem o que dizem Guiselini, Nahas e Coelho e Araújo [3,9,18],
quando afirmam que um estilo de vida ativo estimula positivamente mudanças de comportamentos que se refletem na
melhoria da saúde, qualidade de vida e bem estar das pessoas,
proporcionando mais autonomia para a vida.
Conclusão
Este estudo mostrou que a prática destes tipos de exercícios
físicos (alongamento estático e resistência muscular localizada)
mais o acréscimo da cultura de empoderamento tiveram um
impacto positivo sobre a saúde e qualidade de vida desses
sujeitos, ajudando-os a manter a flexibilidade e até melhorála em alguns casos e estimulou para a adoção de um estilo de
vida mais ativo durante este período.
Outro ponto de destaque e de grande importância foi que
a atividade em grupo, além de auxiliar no processo de integração, comunicação e cooperação, também colaborou para
a tomada de decisão dos sujeitos que estavam com problema
de saúde a mudarem seus hábitos.
Cabe ressaltar que o período de quatro meses com intervenção, demonstrou ser um tempo suficiente para ajudá-las a
manter suas classificações e fazer com que as participantes entendessem um pouco mais sobre como gerenciar sua saúde.
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Artigo original
Efeitos do exercício de natação em ratas
com suplementação nutricional de sacarose
Effects of swimming in rats with sucrose dietary
supplementation of sucrose
Danilo Aparecido Rodrigues*, Faissal Serhan*, Mariana Rotta Bonfim*, Ricardo Zacharias**, Renato Pedroso**,
Susimary, Trevizan Padulla, D.Sc.***, Regina Miranda Burneiko***, Ivânia Garavello***, Ethel L B Novelli****
*Acadêmicos do Curso de Educação Física da FCT-UNESP-Presidente Prudente,**Acadêmicos do Curso de Fisioterapia da FCTUNESP-Presidente Prudente, ***Profa do Departamento de Fisioterapia da FCT-UNESP-Presidente Prudente, ****Profa Titular do
Departamento de Química e Bioquímica do IB-UNESP, Botucatu
Resumo
Abstract
O objetivo deste trabalho foi determinar o efeito do exercício
de natação sobre a glicose e triacilglicerol (TG) sanguíneos, morfometria e metabolismo energético do músculo sóleo de ratas que
receberam suplementação nutricional com sacarose. Ratas Wistar
com peso médio de 76 g foram divididas em: grupo controle sedentário (CS); grupo controle exercitado (CE); grupo suplementado
sedentário (SS); grupo suplementado exercitado (SE). Aos grupos
suplementados foi oferecida solução aquosa de sacarose 30% e dieta
basal ad libitum. Os grupos controle receberam dieta basal e água
ad libitum. Os animais nadaram uma hora três dias por semana. As
análises sanguíneas mostraram aumentos da glicose no grupo SS e
do TG nos grupos SS e SE. Houve redução do TG muscular no
grupo CE, elevação do hidroperóxido de lipídio (HP) no grupo SS
e da citrato sintase nos grupos SS e SE em relação aos seus respectivos controles. O grupo CE apresentou aumento significativo dos
diâmetros das fibras. Conclui-se que dieta balanceada associada à
prática de exercícios físicos está relacionada a uma diminuição do
conteúdo lipídico intramuscular, associado a um aumento das fibras
musculares e utilização de TG como fonte energética.
The objective of this study was to determinate the effect of the
swimming exercise on glucose and triacylglycerol (TG), morphological and energy metabolism in the muscle soleo of female rats
that received nutritional supplementation with sucrose. Female
Wistar rats with medium weight of 76 g were divided into: sedentary control group (SC); exercised control group (EC); sedentary
supplemented group (SS); exercised supplemented group (ES). 30%
sucrose aqueous solution and basal diet ad libitum were offered to
the supplemented groups. The control groups received basal diet
and water ad libitum. The animals swam three times a week for
one hour. Blood analysis showed an increase in blood glucose in
groups SS and of TG in groups SS and SE. It was found a muscle
reduction of TG in group EC, higher levels of lipid hydroperoxide
(HP) in group SS and citrate synthase in group SS and ES in relation
to respective controls. Group EC showed a significant increase on
fiber diameters. We conclude that a combination of balanced diet
and physical exercise is connected to a decrease in intramuscular
lipid content associated to an increase of muscle fibers and use of
TG as energetic source.
Palavras-chave: exercício, sacarose, metabolismo energético.
Key-words: exercise, sucrose, energetic metabolism.
Endereço para correspondência: Regina Miranda Burneiko, Rua Roberto Simonsen, 305, 19060-900 Presidente Prudente SP, Tel:
(18)3229-5356 Ramal: 214, E-mail: [email protected]
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Introdução
Materiais e métodos
Historicamente, a atividade física teve papel relevante para a sobrevivência do homem. Entretanto, com o
advento da modernidade, inúmeras facilidades materiais
incorporadas ao dia-a-dia tornaram o homem cada vez mais
sedentário [1].
Da mesma forma, a evolução da tecnologia alterou os
hábitos alimentares da população, induzindo um consumo
excessivo de dietas ricas em lipídeos e açúcares e conseqüentemente a um desequilíbrio entre a energia ingerida e o dispêndio de energia necessário ao organismo [2,3].
A ingestão de bebidas ricas em sacarose associadas ao
consumo de alimentos sólidos de alta caloria, parece induzir
um balanço energético positivo na dieta [4], bem como uma
redução no controle do apetite [5,6].
Estudos de Parks et al. [7] relatam que as estratégias dietéticas com restrições no consumo de gorduras e alta ingestão
de carboidratos, induzem a hipertrigliceridemia, reduzindo o
colesterol de alta densidade (HDL), aumentando o colesterol
de densidade muito baixa (VLDL), a glicemia e a insulinemia
no período pós-prandial.
A inadequação dietética e o sedentarismo estão associados
à obesidade, diabetes mellitus e dislipidemia, sendo que alguns
estudos apontam que dietas ricas em carboidratos podem
desenvolver resistência à insulina, hipertrigliceridemia, hipertensão arterial, estresse oxidativo e acentuado ganho de peso
em animais [5,8]. Tais fatores estão associados à ocorrência
de doenças cardiovasculares (DCV) e desenvolvimento de
distúrbios músculo-esqueléticos [9-12].
Nesse sentido, como medida de interação terapêutica
para combater os efeitos nocivos advindos do sedentarismo
e da ingestão de dietas hipercalóricas, tem sido recomendada a prática regular de atividades físicas aeróbias. Os efeitos
positivos do exercício físico podem ser observados na função
cardíaca, circulação periférica, função pulmonar e musculatura esquelética [13].
Há evidências de que a musculatura esquelética é um
importante alvo terapêutico nas doenças cardiovasculares
e metabólicas, sendo considerado por alguns autores um
“órgão endócrino”, devido à sua ação primária na melhora
da tolerância à glicose, na resistência insulínica e na dislipidemia [14]
A prática regular de atividade física está relacionada a
alterações benéficas e estruturais da musculatura esquelética,
bem como à adequação de parâmetros bioquímicos séricos
[15,16]. Entretanto, ainda não estão totalmente estabelecidos
os efeitos do exercício físico associados ao hábito diário de
ingestão de sacarose.
Desta forma, o objetivo deste trabalho foi verificar o efeito
do exercício físico de natação sobre a glicose e triacilglicerol
sanguíneo, morfometria e metabolismo energético do músculo sóleo de ratas recém-desmamadas, até a idade adulta.
Foram utilizadas 24 ratas Wistar, recém desmamadas, com
peso aproximado de 76 g, provenientes do Biotério Central
da UNESP “Campus de Botucatu” e transferidas para o
Biotério da FCT/UNESP, Campus de Presidente Prudente,
mantidas em gaiolas individuais onde permaneceram à temperatura de 23°C, umidade 60 ± 5 % e período claro-escuro
de 12 horas.
Os animais foram divididos aleatoriamente em 4 grupos
contendo 6 animais. O grupo controle sedentário (CS) recebeu dieta padrão e água; grupo controle exercitado (CE)
recebeu dieta padrão, água e realizou exercício de natação. O
grupo sacarose sedentário (SS) recebeu dieta padrão e solução
aquosa com sacarose 30%; grupo sacarose exercitado (SE)
recebeu dieta padrão, solução aquosa com sacarose 30% e
realizou exercício de natação.
Todos os animais receberam dieta basal (Purina) que contem 3,0 kcal/g, água e/ou solução aquosa de sacarose 30% ad
libitum e foram pesados semanalmente durante os 12 meses
de experimento.
O exercício realizado foi a natação, em tanques coletivos
medindo 100 X 80 X 80 cm contendo água aquecida na
temperatura mantida entre 32 e 34°C e trocada após cada
sessão.
Na primeira semana, os animais se adaptaram ao meio
aquático durante 15 minutos. A partir da segunda semana os
animais nadaram uma hora, três vezes por semana durante o
período de 11 semanas.
Após 24 horas da última sessão de exercício e 12 horas de
jejum foram realizadas análises de glicose (G) e triacilglicerol
(TG) por punção caudal e lido por meio do glicosímetro
(Boehringer Mannheim, Eli Lilly do Brasil, São Paulo) e
com o aparelho digital Accutrend GCT® (Roche Brasil, Rio
de Janeiro, Brasil). Imediatamente após, os animais foram
anestesiados (Xilazina (0,7 ml/kg) e Ketamina 10% (1 ml/
kg) e sacrificados por decapitação.
Amostras do músculo sóleo foram rapidamente retiradas
e congeladas em nitrogênio líquido. Foram realizados cortes
histológicos de 8 μm, corados a partir do método Hematoxilina e Eosina [16] para mensuração do tamanho das fibras
musculares (μm), seguindo os critérios de Dubowitz e Brooke
[17] e utilizando o software Image Pro-Plus® em sistema de
análise de imagem computadorizada.
Amostras do músculo sóleo foram homogeneizadas e
centrifugadas a 10.000 rpm por 15 minutos em centrífuga
refrigerada a –4oC [18]. Os sobrenadantes foram utilizados
para a determinação das concentrações de proteínas totais, de
triacilglicerol através de kits CELM© (Companhia de Equipamentos Laboratoriais Modernos, São Paulo, Brasil). A análise
do estresse oxidativo foi realizada através da concentração de
substâncias antioxidantes totais (SAT) e do hidroperóxido de
lipídio (HP). As SAT foram determinadas através da capacidade de antioxidantes inibirem a oxidação de ácido 2,2’- azinobis
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(3-etilbenzetiazilcolina-sulfonico) (ABTS) [19,20]. O HP
foi determinado através da oxidação do Fe2+ (sulfato ferroso
amoniacal) a 560 nm. O Fe3+ formado reage com alaranjado
de xilenol formando composto colorido [21].
O metabolismo energético [21] foi analisado através das
enzimas reguladoras das vias metabólicas, beta-hidroxi-acil
CoA desidrogenase (OHADH, E.C.1.1.1.35.), relacionada
a oxidação dos ácidos graxos; lactato desidrogenase (LDH,
E.C.1.1.1.27.) associada à glicólise e ao metabolismo anaeróbico, bem como da citrato sintase (CS, E.C.4.1.3.7.),
reguladora do fluxo de metabólitos através do Ciclo de Krebs
e marcadora do metabolismo aeróbio [22].
A atividade da OHADH foi determinada em meio contendo
acetoacetil CoA 0,05 mM e NADH 0,1 mM [22]. A atividade da
LDH foi determinada pela velocidade de consumo de NADH,
medida a 340 nm, tendo como substrato o piruvato [23]. A
atividade da CS foi determinada em tampão tris-HCl 50 mM,
pH 8.0, contendo acetil CoA 0,1 mM, dithiobis-2-nitrobenzoato
0,1 mM (DTNB) e oxaloacetato 0,5 mM [22].
As leituras foram realizadas em espectrofotômetro com
controle de temperatura (UV/visível Ultrospec 5,000 com
Swift II software, Cambridge, England, UK) e em leitor de
microplaca (μQuant-MQX 200 Bio-Tech Instruments, Inc.,
Winooski, VT, USA) com controle através do software Kcjúnior
(Bio-Tech Instruments, Inc., Winooski, VT, USA).
129
O consumo alimentar de ração, de líquidos e a energia
ingerida foram calculados com base na quantidade consumida
e na energia metabolizável da dieta. A análise estatística foi
realizada através da análise de variância (ANOVA). Para se
determinar a diferença entre os tratamentos foi aplicado o
pós-teste de Tukey, com nível de significância de 5% [24].
Resultados
Análises do peso e consumo alimentar
O peso inicial dos animais apresentou-se aumentado nos
grupos CS e SE. Não houve diferença entre os grupos na
avaliação do peso final e ganho de peso ao final do experimento (Tabela I).
Animais suplementados com sacarose ingeriram maior
quantidade de líquido e reduziram o consumo de ração em
relação aos seus respectivos grupos controle. A energia ingerida
foi maior no grupo SE em relação aos grupos CE (Tabela I).
Análise sangüínea
Na Tabela I observa-se que a concentração de triacilglicerol
dos grupos SS e SE foi significativamente maior que a encontrada nos seus respectivos controles. Animais sedentários su-
Tabela I - Peso inicial, peso final, ganho de peso corporal, consumo de ração, ingestão de líquidos, energia ingerida, triacilglicerol e glicose
sanguínea dos grupos: (CS) ratas ingerindo dieta padrão, água e sedentário, (CE) ratas ingerindo dieta padrão, água e realizando exercício de
natação, (SS) ratas ingerindo dieta padrão, solução aquosa com sacarose 30% e sedentário, (SE) ratas ingerindo dieta padrão, solução aquosa
com sacarose 30% e realizando exercício de natação.
Grupos
Peso inicial(g)
Peso final (g)
Ganho de peso (g)
Ingestão de líquido (ml/dia)
Consumo alimentar (g/dia)
Energia ingerida (kcal/dia)
Triacilglicerol (mg/dl)
Glicose (mg/dl)
CS
76,17 ± 0,81AC
309,83 ± 32,28A
233,66 ± 21,92A
32,52 ± 3,11A
17,49 ± 1,07A
40,68 ± 2,44AC
166,66 ± 6.06A
84,17 ± 2,32 A
CE
73,13 ± 0,71B
295,88 ± 23,82A
222,75 ± 24,52A
31,55 ± 3,19 A
18,29 ± 1,04A
39,78 ± 2,25A
165,62 ± 13.78 A
90,50 ± 4,63AB
SS
71,17 ± 0,69B
311,67 ± 34,16A
240,5 ± 27,51A
42,19 ± 2,36 B
5,97 ± 0,40B
46,81 ± 4,45BC
218,16 ± 14.04B
100,33 ± 1,24B
SE
76,63 ± 0,92A
322,5 ± 37,8A
245,87 ± 26,72A
43,07 ± 4,12 B
6,57 ± 0,60B
49,25 ± 3,21B
237,12 ± 16.14C
89,88 ± 8,15AB
Resultados expressos como média ± desvio-padrão. Letras diferentes indicam diferenças significantes entre os grupos, p < 0,05.
Tabela II - Concentrações musculares de proteína, triacilglicerol (TG), hidroperóxido de lipídio (HP) e atividades da beta-hidroxiacil coenzima
A desidrogenase (OHADH), lactato desidrogenase (LDH) e citrato sintase dos grupos: (CS) ratas ingerindo dieta padrão, água e sedentário,
(CE) ratas ingerindo dieta padrão, água e realizando exercício de natação, (SS) ratas ingerindo dieta padrão, solução aquosa com sacarose
30% e sedentário, (SE) ratas ingerindo dieta padrão, solução aquosa com sacarose 30% e realizando exercício de natação.
Grupos CS CE SS SE
Proteína (%)
TG (%)
HP (nmol/g tecido)
OHADH (nmol/mg tecido)
LDH (nmol/mg tecido)
Citrato Sintase (nmol/mg tecido)
14,84 ± 1,48A
1,07 ± 0,1A
73,79 ± 5,11A
7,06 ± 3,63A
10,36 ± 2,51A
23,82 ± 3,11A
14,69 ± 1,38A
0,82 ± 0,12B
74,49 ± 1,0A
7,19 ± 2,71A
10,51 ± 2,03A
25,95 ± 1,75AB
17,90 ± 3A
1,12 ± 0,26A
110,36 ± 17B
7,32 ± 4,25A
10,78 ± 3,19A
28,97 ± 1,88B
16,00 ± 3,62A
1,15 ± 0,276A
84,19 ± 9,97A
7,76 ± 3,2A
11,56 ± 1,72A
33,32 ± 4,01C
Resultados expressos como média ± desvio-padrão. Letras diferentes indicam diferenças significantes entre os grupos, p < 0,05.
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plementados com sacarose (SS) apresentaram maior glicemia
de jejum em relação ao grupo sedentário controle (CS).
Análises musculares
Os parâmetros bioquímicos musculares estão apresentados
na Tabela II, onde se pode observar que não houve alteração
significativa na concentração de proteínas totais entre os grupos estudados. Com relação às concentrações de triacilglicerol
(TG), verifica-se que o grupo CE apresentou as menores
concentrações em relação aos outros grupos.
O grupo SS apresentou elevação significativa na concentração de hidroperóxido de lipídio (HP). Não foram observadas
alterações significantes nas atividades das enzimas betahidroxiacil coenzima A desidrogenase (OHADH) e lactato
desidrogenase (LDH) nos diferentes grupos estudados.
A atividade da citrato sintase, mostrou-se elevada no grupo
SS em relação ao CS. Animais do grupo SE apresentaram
atividades da citrato sintase mais elevadas em relação aos
demais grupos.
Análise histológica
Verificou-se que os valores morfométricos do músculo
sóleo apresentam diferenças estatisticamente significantes
entre todos os grupos. Os animais do grupo CE apresentaram
fibras de maiores diâmetros, seguidos pelo grupo SS, grupo
SE e grupo CS. Os resultados encontrados podem ser visualizados na Figura 1.
Figura 1 - Análise morfométrica das fibras do músculo sóleo dos
grupos: (CS) ratas ingerindo dieta padrão, água e sedentário, (CE)
ratas ingerindo dieta padrão, água e realizando exercício de natação,
(SS) ratas ingerindo dieta padrão, solução aquosa com sacarose 30%
e sedentário, (SE) ratas ingerindo dieta padrão, solução aquosa com
sacarose 30% e realizando exercício de natação.
Discussão
Os resultados deste estudo mostraram que dieta com sacarose não induziu alteração no ganho de peso corporal nos
animais suplementados em relação ao grupo controle, durante
o período pós-desmame até a idade adulta.
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 130
Este fato pode estar associado à reduzida eficiência alimentar dos grupos SS e SE ao longo do experimento. A
menor ingestão de ração foi compensada pelo alto consumo
de energia proveniente das calorias adicionais da sacarose.
É interessante notar que os animais suplementados com
sacarose apresentaram menor consumo alimentar que seu
respectivo controle, independente de pertencerem ao grupo
sedentário ou exercitado e mantiveram pesos corporais finais
semelhantes (Tabela I).
Mahan e Escott-Stump [25] verificaram que no período
pós-atividade, a refeição ofertada deve ser à base de carboidratos complexos, visando manter a massa corporal magra.
Estudo realizado por Lima et al. [26] mostrou que o tratamento com carboidratos complexos proporcionou maior peso
corporal, sugerindo a contribuição da massa corporal magra
nos valores do peso corporal.
De maneira geral, quando a energia ingerida excede o gasto
energético, o excesso de energia é depositado como gordura,
caracterizando, a obesidade [27]. Considerando desta maneira
simplista, desde que obesidade é observada quando a energia
ingerida excede o gasto energético, intuitivamente a perda de
peso seria obtida quando a ingestão calórica fosse menor que
o gasto energético, independentemente dos componentes
da dieta. Entretanto, a variação nos componentes da dieta,
além do conteúdo calórico, bem como o número de refeições
diárias influencia consideravelmente o ganho de peso [28] e
os parâmetros metabólicos a ela associados [29].
Neste estudo, os animais que receberam suplementação
com sacarose apresentaram consumo alimentar reduzido,
porém, a ingestão de líquidos foi significativamente elevada.
Estes achados podem estar relacionados à palatabilidade das
dietas. Resultados semelhantes foram encontrados por Burneiko et al. [30] em estudos associando dieta hipercalórica
ao exercício de natação em ratos.
Segundo Himaya et al. [31] o consumo alimentar
reduzido, compensado pela ingestão elevada de líquidos,
está relacionado à regulação do nível de saciedade. Níveis
séricos elevados de glicose, de triglicerídeos e de colesterol
estimulam receptores hipotalâmicos reguladores da fome e
da saciedade.
Embora não tenha sido observado ganho de peso em nenhum dos grupos estudados, sacarose e exercício induziram
significantes alterações bioquímicas na glicose e triacilglicerol
séricos.
Dieta rica em sacarose elevou a glicemia dos animais no
grupo SS. Esses resultados concordam com o estudo realizado
por Holloszy [32], o qual afirma que após a ingestão de dietas
com elevado teor de carboidratos, a redução de glicose sérica
é menos provável de ser verificada na análise glicêmica. De
acordo com estudos previamente publicados, a combinação
de inatividade física com o consumo de dietas hipercalóricas
estão associados ao aumento significativo na glicemia de ratos
sedentários [12,29,33]. Desta forma, sugere-se que a elevada
ingestão de sacarose está associada a alterações na resposta
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
insulínica, sendo que sua associação ao sedentarismo atuou
como fator deletério ao organismo.
No estudo desenvolvido por Rique et al.[34] verificou-se
que após a prática de exercícios aeróbios diários, a captação de
glicose pelo músculo continua e intensifica-se, demonstrando
aumento da sensibilidade à insulina enquanto o glicogênio
é ressintetizado. Entretanto, exercícios três vezes por semana
não apresentaram o mesmo efeito, sugerindo que não houve
melhora na resposta insulínica induzida pelo programa de
exercícios nestes animais.
A energia ingerida e o dispêndio de energia necessário
ao organismo são determinantes do perfil lipídico [35].
Dieta suplementada com sacarose elevou significativamente
a concentração de triacilglicerol (TG) sanguíneo dos animais, e exercícios de natação três dias por semana não foram
eficazes para reduzir este aumento. Estudos de Burneiko et
al.[30] mostraram que concentrações do triacilglicerol sérico
elevadas em animais suplementados com dieta hipercalórica
não foram reduzidas nos grupos que realizavam exercícios
intermitentes, duas vezes por semana, apenas nos animais
exercitados diariamente.
Animais do grupo SE comparados ao SS mantiveram os
valores de trigliceridemia elevados, sugerindo menor captação
muscular. A manutenção da concentração de TG muscular no
grupo exercitado pode estar associada à sua utilização como
fonte de energia, demonstrada pela elevação da citrato sintase.
Constituído por uma molécula de glicerol e três de ácidos
graxos, o triacilglicerol é considerado um eficaz armazenador
de energia no tecido adiposo dos seres vivos [36]
O aumento do TG sérico no grupo SS disponibilizou mais
energia para a função muscular, mesmo nos animais sedentários. A elevação da citrato sintase e a manutenção dos valores
de triacilglicerol muscular indicaram que o triacilglicerol foi
oxidado no ciclo do citrato [26,37]. Desde que a função da
enzima citrato sintase é medir o fluxo de metabólitos pelo
ciclo de Krebs, podemos verificar que, nestas condições o
fluxo de elétrons na cadeia respiratória resultou em aumento
de espécies reativas do oxigênio (ERO), culminando com a
elevação do HP.
Os valores reduzidos de TG muscular no grupo CE podem
estar relacionados à maior utilização de lipídios como fonte
energética para a prática do exercício físico, uma vez que as
contrações isoladas no músculo esquelético podem estimular a captação, a hidrólise e a oxidação dos triacilglicerídeos
intramiocelulares e sanguíneos [36].
O exercício normalizou o HP muscular no grupo suplementado, indicando que o fluxo de metabolitos pelo ciclo
do citrato e na cadeia respiratória foi convertido em energia
para contração muscular, sem a formação de ERO observada
no grupo SS.
Supõe-se, portanto, que o exercício de natação foi suficiente para melhorar a capacidade mitocondrial dos animais
do grupo SE, desde que houve aumento da citrato sintase
associado à redução de HP. De forma semelhante, estudos de
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 131
131
Bruce e colaboradores [38] verificaram que indivíduos obesos
submetidos à atividade física apresentaram uma melhora na
capacidade mitocondrial para captação e oxidação de ácidos
graxos, entretanto sem modificação no TG muscular, o que
também pôde ser verificado no presente estudo.
Os resultados obtidos na análise morfométrica do músculo sóleo mostraram um aumento do diâmetro das fibras
no grupo CE associado à redução na concentração de TG
e a manutenção dos demais parâmetros bioquímicos. Desta
forma, o aumento das fibras pode estar associado à hipertrofia
muscular que, segundo Boonyarom [39], é uma das respostas
adaptativas da musculatura esquelética ao exercício e está
associada a um aumento de volume das fibras musculares
nos grupos exercitados.
Resultados semelhantes foram observados no estudo de
Camargo Filho et al.[40] no qual ratos foram submetidos a
sessões de natação e suplementação ou não com esteróide
anabólico. Verificou-se que os animais placebo exercitados pela
natação apresentaram valores de diâmetro de fibras musculares
maiores que os animais controle, sendo tal fato relacionado
à hipertrofia muscular.
Conclusão
Verificou-se que uma dieta balanceada associada à prática
de exercícios físicos está relacionada a uma diminuição do
conteúdo lipídico intramuscular, associado a um aumento das
fibras musculares e utilização de TG como fonte energética.
O consumo de TG como fonte de energia ocorreu mantendo
HP e, portanto o equilíbrio entre os sistemas oxidantes e
antioxidantes celulares.
Desta forma, podemos concluir que o protocolo de exercício utilizado, nas duas condições alimentares, teve efeito
benéfico. Na dieta padrão diminuiu o TG muscular e na
dieta rica em sacarose, aumentou o metabolismo aeróbico e
reduziu o estresse oxidativo.
Agradecimentos
Ao Sidney Siqueira Leirião, técnico do laboratório de
histologia e biotério da FCT –UNESP Campus de Presidente
Prudente, aos pós-graduandos do laboratório de química e
bioquímica do Instituto de Biociências da UNESP Campus
de Botucatu.
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Artigo original
O efeito da crioterapia na fase inflamatória da lesão
muscular em ratos (Rattus norvegicus)
The effect of criotherapy in the acute phase of muscular injury
in rats (Rattus norvegicus)
Maria Paula Mellito da Silveira, D.Sc.*, Renato Claudino**, Karla Denise de Alcantara Evaristo***
*Oceanografia Biológica, **Especialista em Fisioterapia Geriátrica, ***Especialista em Exercício Físico Aplicado à Reabilitação
Cardíaca e a Grupos Especiais
Resumo
Abstract
A aplicação do gelo para fins terapêuticos é utilizada há centenas
de anos, o qual se insere amplamente nos protocolos de tratamento
de diversas patologias. Porém há contradições sobre o tempo de
aplicação da crioterapia na fase aguda da lesão muscular e seus
possíveis efeitos na reparação deste tecido. O objetivo deste estudo
foi comparar células inflamatórias (neutrófilos e macrófagos) de
forma quantitativa e eventos vasculares de forma qualitativa em até
48 h de tratamento com crioterapia após lesão tecidual induzida.
Foram utilizados 42 ratos distribuídos aleatoriamente em 2 grupos (controle e tratado), sendo subdivididos em 7 grupos de três
animais para cada hora pré-determinada. Foi realizada uma lesão
perfuro-cortante na pata traseira esquerda dos animais (controle e
tratado). Após a lesão, foi aplicada criomassagem por um período
de 7 minutos, nas horas acima citadas, nos grupos tratados. O grupo controle não recebeu a técnica de criomassagem. Os resultados
encontrados nos achados histológicos evidenciaram que o grupo
submetido à técnica de criomassagem apresentou significativa redução tanto dos neutrófilos quanto de macrófagos, durante as 48
horas de tratamento. Podemos concluir que a crioterapia aplicada
na inflamação aguda do músculo esquelético minimiza a presença
de neutrófilos e macrófagos na área lesionada.
Ice therapy has been used for hundreds years and is well accepted in many protocols of different pathologies. However there are
contradictions about the time of appliance of cryotherapy in the
acute stage of muscle lesion and its possible effects to repair tissue.
The purpose of this study was to compare inflammatory cells (neutrophils and macrophages) in a quantitative and qualitative way and
vascular events up to 48 hours of treatment with cryotherapy after
tissue injury induced. We used 42 rats randomized into 2 groups
(control and treated) which are divided into 7 groups of three animals for each predetermined hour. We performed a sharp-edged
injury in the animals left hindfoot (control and treated). Thereafter,
a cryomassage was applied for 7 minutes, during the mentioned
hours, in the treated groups. The control group did not receive the
cryomassage technique. The histological findings showed that the
group using the cryomassage technique showed significant reduction
on both neutrophils and macrophages, during 48 hours treatment.
We can conclude that the cryotherapy applied in acute inflammation of skeletal muscle minimizes the presence of neutrophils and
macrophages in the injured area.
Key-words: inflammation, muscle injury, skeletal muscle,
cryotherapy.
Palavras-chave: inflamação, lesão muscular, músculo esquelético,
crioterapia.
Endereço para correspondência: Renato Claudino, Rua Alameda Bela Aliança, 763, Jardim America, 89160-000 Rio do Sul SC, Tel:
(47) 9909-9307, Email: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
Introdução
O músculo esquelético constitui o maior tecido do organismo, correspondendo a cerca de 40% do peso corporal. Sua
função primária é prover mobilidade ao esqueleto ósseo, pela
contração de suas fibras [1]. No entanto, esta função pode ser
prejudicada por vários tipos de lesões.
As lesões do sistema musculoesquelético dependem da
intensidade, da energia do agente agressor, da localização e da
extensão de lesão [2]. Estas lesões ocasionam modificações dos
padrões neuromusculares, irritação local, dor e incapacidade
[2-5]. A primeira resposta do organismo a esta lesão é o desenvolvimento de um processo inflamatório, com o objetivo
de livrar o organismo tanto da causa inicial da agressão celular,
quanto do dano causado por esta agressão.
De acordo com Brasileiro Filho [2], a inflamação é a
primeira resposta do organismo a reação dos tecidos vascularizados, com o objetivo de livrar o organismo tanto da causa
inicial da agressão celular, quanto do dano causado por esta
agressão a um agente agressor, caracterizada pela saída de
líquidos e de células do sangue para o interstício. A histamina
liberada após dano tecidual produz vasodilatação, acarretando
um aumento drástico no fluxo sangüíneo [6]. O efeito global
desse processo é o surgimento e a manutenção de grandes
quantidades de líquido edematoso [6,7].
Os neutrófilos são as primeiras células a chegarem ao
local da lesão, penetrando no tecido, e imediatamente iniciam a fagocitose através de seus pseudópodes, englobando a
partícula estranha. Entretanto, possuem um tempo de vida
curto e morrem no local da inflamação formando pus [8-10].
Assim, cada vez que ocorre uma lesão tecidual no organismo,
a reparação tecidual é feita por um conjunto de fenômenos
que leva à integridade funcional e estética do tecido, ou seja,
a regeneração [9].
Os macrófagos são células de vida longa e são capazes de
sintetizar um sistema fagócito oxidase, possuindo uma segunda via de radicais livres [10,11]. Entre outras funções podemos
destacar a ativação da coagulação, estímulo à proliferação dos
fibroblastos e degradação de material necrótico pela liberação
de colagenase e proteoglicanos [9-11] e pela fagocitose de
agentes físicos, químicos ou biológicos [12].
Sendo assim, a inflamação tem como objetivo defender
a área lesionada contra substâncias estranhas, removendo
o tecido morto ou necrosado de modo que a cicatriz possa
acontecer e promover a regeneração normal [13,14]. A regeneração é um processo complexo, porém essencial, sem o
qual o corpo seria incapaz de sobreviver [14,16]. Qualquer
tecido danificado por uma agressão ou enfermidade é capaz
de reparar sua estrutura e função, envolvendo a reposição do
tecido destruído por um novo tecido, semelhante quanto à
sua natureza ao tecido original [16].
O remodelamento da matriz do tecido imaturo começa
quase ao mesmo tempo em que se forma um novo tecido. A
matriz é gradualmente substituída e remodelada nos meses
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 134
e anos subseqüentes à medida que o tecido cicatricial amadurece [9].
Progressivamente observa-se a diminuição de células inflamatórias, a rede vascular normaliza-se, a produção de colágeno
estabiliza-se, reduzindo o tipo III, deixando lugar para fibras
do tipo I de elastina, para proporcionar elasticidade e solidez
à ferida, assim os miofibroblastos são eliminados por morte
celular programada, desaparecendo por apoptose, os núcleos
se tornam compactos diminuindo de tamanho, sendo fagocitados [9,11]. A cicatrização pode ser compreendida como
resultado final do processo de restauração, no qual observamos necessariamente a ocorrência de fibrose, pela formação
de um tecido de granulação envolvido por pequenos vasos
sanguíneos [17].
Segundo Knight [18], crioterapia significa, literalmente,
terapia com frio. Todo e qualquer uso do gelo ou aplicação de
frio para fins terapêuticos é crioterapia. A ação do frio durante
o tratamento imediato nas lesões agudas reduz o tempo de
reabilitação e promove um retorno mais rápido as atividades.
Estes efeitos são denominados pelas seguintes variáveis: redução da inflamação, redução da hipóxia secundária, redução
do edema e do hematoma, e diminuição do metabolismo.
Podendo dar início ao processo de reparação mais rapidamente
e com menor tempo para reabilitação [19,20].
Quando utilizada de modo adequado, as técnicas de
crioterapia são instrumentos poderosos para o tratamento de
patologias musculoesqueléticas, seja na fase de atendimento
inicial em trauma agudo, seja durante a reabilitação de patologias musculoesqueléticas variadas [15].
Segundo Rodrigues e Guimarães e Andrews et al.
[6,20], o maior benefício da aplicação de crioterapia na
fase aguda é a diminuição da dor e do espasmo muscular,
permitindo a mobilização precoce, acelerando o processo
de recuperação e retorno precoce às atividades. Entretanto,
o tempo de aplicação da crioterapia é ainda muito controverso. Conforme Tepperman [21], a técnica recomenda
aplicação do frio durante 20 a 30 min., com intervalo de
2 horas, nos tecidos moles lesados. A aplicação deve ser
realizada durante as primeiras 24 a 48 horas após a lesão,
para minimizar o edema, o espasmo muscular e a dor. De
acordo com Guirro et al. [9], o efeito da crioterapia atua
nas primeiras doze a vinte e quatro horas após a lesão. No
entanto, a crioterapia exerce seus efeitos benéficos quando
aplicada em até 48 horas após a lesão, segundo Tepperman
e Kisner [19,21].
O tempo de aplicação da crioterapia também pode
variar de acordo com a técnica aplicada. Para bolsas de
gelo é recomendada aplicações de 10 a 30 minutos; para
pacotes de gel, recomenda-se aplicações inferiores a 10
minutos; para compressas frias químicas, o tempo deve ser
de 30 minutos; para imersão, o tempo de aplicação varia
entre 10 a 20 minutos. E finalmente, o tempo de aplicação
para massagem com gelo varia de 7 a 10 minutos afirma
Stamford [23].
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Materiais e métodos
O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório de
Fisiologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade
do Vale do Itajaí - UNIVALI, na cidade de Itajaí, Santa
Catarina.
A amostra foi constituída de 42 ratos machos (Rattus
norvegicus albinus), da linhagem Wistar, com peso corpóreo
variando entre 180 a 200 gramas, procedentes do Biotério da
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, SC.
Os animais foram confinados em gaiolas com assoalho
recoberto de serragem, com dieta livre do tipo ração sólida
e água à vontade, em sala com temperatura ambiente, ciclo
dia-noite natural.
Para realização do experimento os animais foram divididos aleatoriamente em dois grupos: Grupo Tratado e o Grupo
Controle. Cada grupo perfazendo um total de 21 animais,
que foram subdivididos em sete subgrupos. Cada subgrupo
com três animais.
Os subgrupos foram classificados respectivamente por
tempo de lesão e aplicação da crioterapia, ou seja, o grupo
I tratado foi lesionado, aplicado crioterapia e sacrificado na
hora zero, já o grupo II tratado foi lesionado na hora zero e
aplicado crioterapia, três horas depois foi aplicado crioterapia
novamente e sacrificado, o grupo III tratado, foi lesionado na
hora zero, aplicado crioterapia, após três horas foi aplicado
crioterapia novamente e após mais três horas foi aplicado
crioterapia e sacrificado, e assim foi realizado até o grupo
VII tratado.
O grupo controle seguiu os mesmos critérios do grupo
tratado, porém sem aplicação da crioterapia. Todos os animais
foram anestesiados com éter etílico e submetidos à tricotomia
da pata traseira esquerda, região correspondente ao músculo
gastrocnêmico.
Seguiu-se então de anti-sepsia com álcool iodado 70%, e
assim o uso de um objeto perfuro-cortante, o qual apresentava 2,7 mm de diâmetro na base e 0,9 mm de diâmetro no
ápice. O comprimento delimitado da lesão foi de 4 mm. O
tratamento foi realizado após a lesão muscular, nos intervalos
de tempo determinado para cada subgrupo do grupo tratado,
conforme Tabela I.
Tabela I - Horário de aplicação da crioterapia - Grupo Tratado.
Horário
Subgrupo I
Subgrupo II
Subgrupo III
Subgrupo IV
Subgrupo V
Subgrupo VI
Subgrupo VII
0h
x
x
x
x
x
x
x
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3h
6h
9h
12h
24h
48h
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
135
De acordo com cada intervalo de tempo determinado
na Tabela I, aplicou-se massagem com gelo na pata traseira
esquerda do animal tratado, em movimentos circulares sobre a
lesão (Figura 1). Cada aplicação da crioterapia teve a duração
de 7 minutos, segundo Stamford [25]. O sacrifício foi realizado imediatamente após a última aplicação de crioterapia de
cada subgrupo tratado. Embora os subgrupos controle não
recebessem crioterapia, foram sacrificados no mesmo horário
dos subgrupos tratados correspondentes.
Imediatamente após o sacrifício foi realizado a dissecção
do músculo gastrocnêmico, para procedimento de análise
histológica.
Todos os fragmentos do músculo gastrocnêmio em experimento foram fixados em formol 10%, e posteriormente
transferidos para álcool 70%, sendo depois desidratados em
álcool, diafanizados em xilol, impregnados e incluídos em
parafina. Os cortes histológicos foram feitos com aproximadamente 7 micrômetros de espessura, em secções longitudinais,
corados com hematoxilina-eosina.
As análises foram efetuadas em microscópio óptico, sendo
realizada a contagem de neutrófilos, macrófagos e fibroblastos,
em três campos aleatoriamente escolhidos em cada lâmina.
Os resultados foram comparados entre o grupo de animais
controle e o grupo de animais tratados, e analisados através
do teste t para os números de células encontradas.
Resultados
Na análise histológica, foram considerados neutrófilos,
células com núcleos constituídos de dois a quatro lóbulos
interconectados.
Os macrófagos foram considerados células com núcleos
ovóides, com citoplasma claro e superfície irregular. Quanto
às células gigantes, visto que as mesmas envolvem a fusão de
muitos macrófagos, foram consideradas aquelas com tamanho
evidentemente maior e que possuíam diversos núcleos.
Quanto aos fibroblastos, foram consideradas as células
mais alongadas, fusiformes, com prolongamento citoplasmático irregulares, núcleo claro, grande, de forma ovóide e
evidente.
Considerando a contagem de neutrófilos e macrófagos,
através do teste t, foi possível verificar diferenças significativas
para p < 0,05, nos horários mostrados nas Tabelas II e III.
Para fibroblastos, no entanto, o teste não mostrou diferença
significativa em nenhum dos momentos de coleta
Conforme Tabela II, houve uma redução considerável
de neutrófilos nos animais tratados em relação aos animais
controle. Sendo que esta redução se manteve em todos os
períodos de aplicação. Os dados podem, também, ser visualizados na Figura 1.
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Tabela II - Média ± desvio-padrão do número de neutrófilos nos vários momentos de coleta; valor obtido no teste t e sua respectiva significância
e variações a menor no número de células após aplicação de crioterapia.
Hora
0h
3h
6h
9h
12h
24h
Com gelo
14,55 ± 7,60*
29,33 ± 12,61*
39,66 ± 16,48*
31,88 ± 8,23*
36,77 ± 16,84
49,11 ± 32,01*
Sem gelo
46,66 ± 17,54
52,88 ± 22,12
63,88 ± 25,71
75,22 ± 26,22
57,66 ± 31,83
132,55 ± 45,35
t
5,03
2,77
2,37
4,72
1,73
4,50
p
0,000121
0,013528
0,030141
0,000227
0,101216
0,000357
Taxa de variância
< 3,2
< 1,8
< 1,6
< 2,35
< 1,5
< 2,7
48h
41,11 ± 15,53
57,66 ± 31,24
1,42
0,173843
< 1,4
Tabela III - Média ± desvio-padrão do número de macrófagos nos vários momentos de coleta; valor obtido no teste t e sua respectiva significância e variações a menor no número de células após aplicação de crioterapia.
Hora
0h
3h
6h
9h
12h
24h
Com gelo
2,11 ± 1,05*
3,33 ± 2,87*
3,00 ± 1,69*
9,11 ± 3,95
8,77 ± 2,86
16,33 ± 9,04
Sem gelo
10,55 ± 5,91
6,66 ± 4,03
16,89 ± 13,29
12,11 ± 12,06
12,66 ± 5,50
22,55 ± 8,70
t
4,21
2,02
3,09
0,70
1,88
1,48
p
0,000659
0,060419
0,006936
0,488642
0,078211
0,156386
Taxa de Variância
<5
<2
< 5,6
< 1,3
< 1,4
< 1,4
48h
22,22 ± 8,87*
52,33 ± 28,19
3,05
0,007542
< 2,35
Figura 1 - Médias e intervalos de confiança para número de neutrófilos em todos os momentos de coleta, com e sem tratamento.
Figura 2 - Médias e intervalos de confiança para número de macrófagos em todos os momentos de coleta, com e sem tratamento.
O número de macrófagos analisados, microscopicamente,
também apresentou redução significativa do grupo tratado
em relação ao grupo controle. Seu pico de redução máximo
foi nas primeiras 6 horas, conforme Figura 2.
Em relação aos fibroblastos, não houve diferença estatisticamente significativa. A vascularização, analisada qualitativamente através de microscópio óptico, apresentou-se
aumentada no grupo controle. Já no grupo tratado houve
significativa redução.
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Discussão
Segundo Knight [18], o tempo de aplicação da crioterapia,
para promover efeito significativo na inflamação aguda, deve
ser de aproximadamente 30 minutos. Para as áreas de grandes
massas musculares deve-se aplicar por 40 minutos, a cada duas
horas. Recomenda também que a aplicação seja realizada num
período de 12 a 72 horas, ou até que a tendência ao edema
tenha desaparecido.
O tempo de aplicação utilizado para realização deste
trabalho foi de 7 minutos, conforme Stamford [23], por
um período de 48 horas, com intervalo de 3 horas a cada
aplicação.
Em relação à periodicidade, este é um dado não muito claro na literatura. Porém, os resultados microscópicos
obtidos mostraram que o intervalo de três horas para cada
aplicação foi suficiente para reduzir a intensidade da resposta
inflamatória aguda.
A massagem com gelo foi a técnica utilizada para realização da pesquisa. Segundo Knight [18], a técnica pode sofrer
influência quando comparada com as outras técnicas de crioterapia. Conforme a área é massageada, o gelo fica em contato
com uma região específica do tecido apenas brevemente, a
seguir o tecido é exposto a temperatura ambiente. Isto é uma
desvantagem quando o objetivo é de reduzir a temperatura
do tecido. Embora apresente algumas desvantagens, a opção
por esta técnica é justificada por se tratar de uma área de lesão
muito pequena, haja vista a reduzida dimensão do músculo
gastrocnêmio do rato. Assim, a área tratada, não perdia o
contato com o gelo, mantendo sempre a temperatura de
resfriamento. Obviamente, quando realizada em grandes
áreas, talvez não seja a técnica mais adequada. Porém, com
os resultados obtidos, a técnica mostrou-se eficaz na redução
da resposta inflamatória aguda.
De acordo com os dados obtidos, pode-se comprovar
estatisticamente que houve redução significativa no número
de células inflamatórias (neutrófilos e macrófagos) mediante a
aplicação de crioterapia. Embora qualitativamente, também se
pode observar a redução circulatória na área lesada mediante
aplicação de crioterapia.
Em situações normais, onde haja uma inflamação aguda,
os neutrófilos e os macrófagos são as primeiras células a chegarem ao local da lesão, penetrando no tecido, e imediatamente
começam a fagocitose [9]. A migração dessas células da luz do
vaso ao foco inflamatório, não se faz de modo aleatório. De
fato, os polimorfonucleares neutrófilos (PMNs) são as células
dominantes nas primeiras 24 horas a 48 horas após a agressão.
Segundo Brasileiro Filho [2], os fatores que retardam o processo cicatricial são aqueles que mantêm a reação inflamatória
em atividade. Para Andrade [13], enquanto houver inflamação
ativa, o processo de cicatrização não se completa.
Em situações onde haja aplicação de crioterapia, há poucas evidências literárias sobre os eventos celulares ocorridos
durante a inflamação aguda. Segundo Rodrigues e Guimarães
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 137
137
[20], a aplicação da crioterapia atua diretamente na permeabilidade capilar e a resposta celular varia diretamente com
a temperatura. Knight [18] afirma que a aplicação do frio
diminui a temperatura do tecido, os vasos sanguíneos são
resfriados e constringem-se, reduzindo a permeabilidade e,
portanto, limitando a hemorragia para o tecido, diminuindo
a passagem de células inflamatórias para o tecido lesado. Esta
redução no número de células inflamatórias contribui para
redução da resposta inflamatória exacerbada. Para Jass [24],
os principais locais de armazenamento da histamina são os
mastócitos, basófitos e as plaquetas. O principal efeito da
histamina no processo inflamatório agudo inclui aumento
da permeabilidade vascular e a quimiotaxia dos neutrófilos.
Neste contexto, o frio atua na reação inflamatória, reduzindo
a liberação de histamina. Logo, o desenvolvimento da inflamação – liberação de histamina, aumento da permeabilidade
capilar, liberação de detritos e mais reações secundárias – estará controlado. Este controle é muito importante na lesão
aguda, pois o resfriamento imediato do local lesado impede
a instalação do processo inflamatório [25].
Os fibroblastos, característicos do processo inflamatório
crônico, originam-se dos fibrócitos em repouso situados nas
margens da lesão, migrando para dentro dela em resposta à
atração de agentes químicos e físicos. Os fibroblastos têm
seu pico máximo de 4 a 6 dias após a lesão [26]. Em relação
à contagem celular de fibroblastos, os dados mostraram-se
insignificantes estatisticamente. Segundo o trabalho realizado por Feix e Tribess [29], uma alteração na presença de
fibroblastos ocorre de forma lenta e gradual, atingindo seu
valor máximo por volta de 8 a 10 dias. O número reduzido
de células observadas no experimento, explica o fato de não
haver significância estatística para este tipo de célula entre o
grupo controle e o grupo tratado.
Os resultados deixam indícios que, a técnica de crioterapia apresentou grande habilidade de redução na migração
de neutrófilos e macrófagos no processo inflamatório agudo.
Uma vez que a redução acentuada no número de neutrófilos
e macrófagos analisados sugere isto.
Conclusão
De acordo com os dados obtidos, podem-se evidenciar
os efeitos da crioterapia no controle de um dos eventos da
resposta inflamatória aguda. Embora haja pouquíssimas evidências na literatura a respeito da atuação da crioterapia nos
eventos celulares do processo inflamatório agudo, os dados
comprovam a redução do número de células inflamatórias.
Assim, com a redução do processo inflamatório, a cicatrização
inicia mais rapidamente, e conseqüentemente uma diminuição do tempo total de cicatrização.
Estes dados são de fundamental importância para os
fisioterapeutas, pois dessa forma, ficou comprovado que a
crioterapia atua diretamente na redução da resposta inflamatória, diminuindo o influxo de neutrófilos e macrófagos
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na área lesionada, podendo então ser optada como recurso
de tratamento para auxiliar no processo de recuperação de
lesões musculares.
No entanto, vale ressaltar a necessidade de novas pesquisas, a fim de comprovar se a diminuição da resposta
inflamatória exerce influência sobre a remodelação total do
tecido lesado.
Para tanto, seria indicado um experimento que comprovasse o efeito da crioterapia no tempo total de reparação tecidual após uma lesão, necessitando para isto, um procedimento
experimental de maior duração.
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Revisão
Características funcionais e fisiológicas
do destreinamento – respostas hormonais
e cardiovasculares
Physiologic and functional characteristics of detraining – hormonal
and cardiovascular responses
Michel Arias Brentano, M.Sc.*, Tiago Santi**
*Ciências de Movimento Humano, **Educação Física
Resumo
Abstract
Estudos têm demonstrado que o destreinamento causa reversões nas adaptações morfológicas e fisiológicas alcançadas com o
treinamento. Em um período médio/longo percebem-se ainda
reduções no VO2máx, além de um aumento na ventilação, quociente respiratório e utilização de glicogênio como fonte energética.
Além disso, ocorrem aumentos na freqüência cardíaca e na pressão
arterial de repouso. Paralelo às reduções no desempenho aeróbio,
existe uma redução na atividade das enzimas oxidativas e expressão
mitocondrial. Porém, algumas enzimas glicolíticas não são alteradas
em indivíduos treinados em endurance. Em indivíduos treinados
em força ocorre uma elevação da relação testosterona x cortisol após
o destreino, provavelmente pela tentativa de manutenção da massa
muscular. Em atletas de endurance, os níveis de catecolaminas tendem a aumentar, provavelmente pela maior utilização de glicogênio
como substrato.
Studies have shown that detraining leads to a reversal of the
morphological and physiological adaptations achieved through
training. In the medium/long term reductions are perceived in
the VO2max as well as increases in ventilation, respiratory quotient
and the use of glycogen as an energy source. Add to that, there is a
rise in heart rate and blood pressure. Together with the reductions
in aerobic performance, there is a reduction in oxidative enzyme
activity and mitochondrial expression. However, some glycolytic
enzymes remain unaltered in endurance trained individuals. Strength
training individuals show an increase in testosterone x cortisol ratio
after detraining, probably to preserve the lean body mass. Endurance
athletes show higher catecholamine levels after detraining, probably
because the higher glycogen utilization during exercise.
Key-words: detraining adaptations, exercise, inactivity,
cardiovascular and endocrine adaptations.
Palavras-chave: adaptações ao destreinamento, exercício físico,
inatividade, adaptações cardiovasculares e hormonais.
Endereço para correspondência: Michel Arias Brentano, Laboratório de Pesquisa do Exercício, GPAT, UFRGS, Rua Felizardo, 750,
90690-200 Porto Alegre RS, Tel: (51)3308-5820. E-mail: [email protected]
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Introdução
Quando se interrompe ou se reduz o treinamento, seja
em seu volume, intensidade ou freqüência, ou mesmo uma
associação destes, esta interrupção poderá implicar destreinamento, sendo este, um processo de descondicionamento que
afeta o desempenho através da diminuição da capacidade fisiológica [1]. Esta interrupção pode ser espontânea, ou condicionada devido a uma lesão, às vezes passível de imobilização.
Como resultado do destreinamento verificamos reduções nas
adaptações cardiovasculares (VO2máx, capilarização, FC de
repouso) e hormonais que influenciam de forma negativa o
desempenho de atletas.
Sendo assim, o objetivo do presente estudo é revisar as
principais características funcionais e fisiológicas acarretadas pelo destreinamento, causado pela interrupção treinamento.
O destreinamento
Uma das mais importantes características do músculo
esquelético é a sua capacidade de adaptação a variados estados e demandas funcionais, atividades neuromusculares e
estímulos hormonais [2]. O treinamento físico implica em
estresse fisiológico, que provoca adaptações funcionais no
músculo para resistir a tal estresse. Por outro lado, o processo
inverso, ou seja, o destreinamento gera a reversão total ou
parcial das adaptações funcionais alcançadas em treinamento
hormonais [2].
Em relação ao treinamento de força, a diminuição na
massa magra é mediada pela diminuição no tamanho e/ou
número de células musculares, especialmente as fibras tipo
II [3]. Teoricamente, a atrofia de fibras musculares extremamente hipertrofiadas – como é o caso de atletas altamente
treinados em força –, especialmente fibras do tipo II, causa
diminuições na força muscular. Alterações hormonais podem
também contribuir para a atrofia. Por outro lado, uma redução
na condução neural das unidades motoras pode reduzir a força
máxima sem atrofia muscular [3]. Também é conhecido que
em destreinamento ocorrem diminuições na ativação voluntária máxima do músculo, e na força em adultos jovens,
acompanhadas de atrofia muscular [3].
Em relação às modalidades esportivas essencialmente
aeróbias – também conhecidas como esportes de endurance
–, reduções no consumo máximo de oxigênio (VO2máx) em
destreinamento são associadas a reduções na performance
em endurance [4-8]. Estas alterações são acompanhadas
por fatores como redução na atividade de enzimas oxidativas [4-6,8-11], alterações cardiovasculares e respiratórias
[4,6,7,10,12].
Como as adaptações decorrentes do destreinamento são
variadas, a seguir, elas serão apresentadas separadamente.
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 140
Consumo máximo de oxigênio e respostas cardiovasculares
Em adolescentes e jogadores de futebol, o destreinamento
de 6 meses, reduziu o VO2 máx (volume máximo de oxigênio),
aos valores pré-treinamento, tanto para jogadores treinados
em endurance, como em sprint [5]. Também são observadas
reduções significativas no VO2máx em atletas de endurance,
destreinados por longos [6] e curtos períodos [9] (Tabela I),
juntamente com a redução do limiar de lactato. O mesmo
resultado foi verificado em indivíduos não-atletas após três
[8,10] e oito semanas [4] de abstenção da atividade aeróbica.
Costill et al. [12] verificaram um grande declínio da capacidade respiratória muscular (QO2) (Tabela I), após uma semana
de destreinamento em nadadores, sugerindo que o QO2 pode
não ter uma relação com o VO2máx, já que este não apresenta
alterações em um período tão curto (entre 5-12 dias) [11,12].
Esta rápida redução estaria associada a reduções na atividade
enzimática mitocondrial após o destreinamento.
Madsen et al. [13] não verificaram reduções do VO2máx
de atletas de endurance após quatro semanas de destreinamento, apesar de relatarem uma grande diminuição no
tempo de exaustão em exercício submáximo. Esta resposta
foi atribuída a um aumento de Mg²+ muscular nos sujeitos
destreinados, que poderia ter causado a exaustão, pois, um
grande volume de Mg2+ livre, inibiria o retorno de Ca2+ para
o retículo sarcoplásmatico; e com menos cálcio disponível,
a interação da actina-miosina poderia ser prejudicada. Entretanto, durante o período de destreinamento, os atletas
não permaneceram totalmente inativos, realizando um
trabalho de alta intensidade (95% da freqüência cardíaca
máxima), com um volume semanal de treinamento bastante
reduzido (de ± 8.3 h/semana para 35 min/semana). Talvez
este treinamento tenha contribuído para a não alteração em
parâmetros como o VO2máx, densidade capilar, ventilação e
concentração de lactato, assim como já havia servido para
manter a atividade da citrato sintase constante após as
quatro semanas.
A freqüência cardíaca sub-máxima [6,7,13], a ventilação
[6], e o quociente respiratório (RER) de indivíduos treinados em endurance, são aumentados após o destreinamento.
Particularmente em relação ao RER, esse aumento parece
estar associado à maior utilização de carboidratos como
substrato energético [6,10,13], que também aumenta após
um destreinamento em atletas de endurance. Houston et al.
[9] inclusive, verificaram aumentos na freqüência cardíaca
máxima após 15 dias de destreinamento em corredores de
elite, enquanto Madsen et al. [13] não relataram alterações na
freqüência cardíaca máxima e na ventilação após 4 semanas
sem treinamento (Tabela I). A pressão arterial apresentou aumentos em seu valor, que foram acompanhados pelo aumento
da tensão vascular periférica, em exercício sub-máximo, após
um período de destreinamento em corredores [7]. Ainda, a
freqüência cardíaca submáxima de indivíduos não-atletas
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Tabela I - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações cardiovasculares, Onde: A = aeróbio; VO2 máx = consumo máximo de oxigênio; QO2 = capacidade respiratória muscular; D cap = densidade capilar; RER = quociente respiratório; VS = volume sistólico;
VE = volume de ejeção; DC = débito cardíaco; PA = pressão arterial total; TVP = tensão vascular periférica; FC Max = freqüência cardíaca
máxima; FC sub = freqüência cardíaca sub-máxima; n.s.= não significativo.
Referência
Houston et al [9]
Klausen et al [4]
Fournier et al [5]
Costill et al [12]
Coyle et al [6]
Coyle et al [7]
Moore et al [10]
Wibom et al [8]
McCoy et al [11]
Condições
Período Treino
15 dias A
8 sem
A
6 meses A
4 sem
A
12 sem A
4 sem
A
3 sem
A
3 sem
A
10 dias A
Adaptações cardiorrespiratórias
RER
VO2 máx QO2 D cap
n.s.
-15%
-11%
-50% -15%
n.s.
6%
n.s.
-
VS
- 9%
-
VE
-12%
-
DC
-8,9%
-
PA
+7%
-
TVP
-
FCmáx
+ 4 bpm
n.s.
-
-
FCsub
- 10%
+5,1%
n.s.
n.s.
-
Tabela II - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações metabólicas e nos substratos energéticos. Onde: LAC = lactato;
GLI = glicose; GLC = glicogênio muscular; AGL = ácidos graxos; ns = não significativo.
Condições
Alterações metabólicas
Substratos energéticos
Período
Treino
pH
LAC
GLI
GLCG
AGL
Houston et al [9]
15 dias
4 semanas
12 semanas
3 semanas
aeróbio
aeróbio
aeróbio
aeróbio
- 1%
-
n.s.
+ 131%
+ 68%
n.s.
- 26,1%
-
- 39,2%
-
n.s.
-
McCoy et al [11]
10 dias
aeróbio
-
-
n.s.
-
-
Madsen et al [13]
Costill et al [12]
Coyle et al [6]
treinados aerobicamente apresenta um aumento após o destreinamento [4] ou não se altera [8].
O destreinamento pode causar uma redução no volume
de ejeção cardíaca [7]. O volume sanguíneo também parece
sofrer influência do destreinamento, sendo reduzido em 4
semanas, com uma maior redução no volume de plasma
em comparação ao volume de eritrócitos, sendo este fator
considerado como um dos principais responsáveis pela redução da performance em destreinamento de curto/médio
prazo [7]. Justificando esta afirmação, no trabalho citado,
os sujeitos realizaram o mesmo teste ao final do destreinamento, após a elevação artificial de seu volume sanguíneo,
resultando em reversões de várias variáveis prejudicadas pela
inatividade, como volume de ejeção, freqüência cardíaca e
tensão vascular periférica, sendo a última, responsável pela
retomada dos valores normais de pressão arterial, sugerindo
que o volume sanguíneo influencia diversos aspectos da
regulação cardiovascular durante o exercício, provavelmente
afetando receptores de baixa pressão, sensíveis ao retorno
venoso para o coração [7].
Capilarização
Em duas a três semanas de inatividade, a densidade capilar
no músculo diminui [2,4]; apesar da redução observada por
Klausen et al. [4] não apresentar uma implicação prática,
pois foi acompanhada por atrofia das fibras musculares, o que
ocasionou um número de capilares por mm² de fibra idêntico
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 141
ao inicial. Madsen et al. [13], em contraste, não verificaram
alterações na capilarização das fibras musculares após quatro
semanas de destreinamento em endurance. A diferença artério-venosa de O2 também parece diminuir com 3-8 semanas
de destreinamento em atletas de endurance [2].
Alterações bioenergéticas e atividade enzimática
Verificou-se que, em períodos de inatividade, os níveis de
lactato dehidrogenase aumentaram em ciclistas e corredores
após 7-12 semanas de destreinamento [6,14], enquanto
outros pesquisadores [9,13,15] relataram modificações em
sua atividade.
Atletas de endurance, após um período de inatividade
de longa duração, apresentam um aumento da concentração
de lactato sanguíneo [6,12], acompanhada por um aumento
da utilização de carboidrato como fonte energética, sendo
esta alteração evidente já no 21° dia de destreinamento [6];
porém em períodos menores de destreinamento (15 dias) não
se verificou nenhuma alteração na concentração de lactato
sanguíneo [9,13].
Apesar das alterações de lactato e redução no bicarbonato sanguíneo verificadas por Costill et al. [12], não houve
uma alteração significativa no pH sanguíneo (Tabela II). Já
indivíduos não atletas, não apresentam alterações após três
semanas de destreinamento subseqüentes ao treinamento de
endurance [9], ou podem aumentar a concentração de lactato
sanguíneo [10,16].
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Com o destreinamento, atletas de endurance não demonstraram alterações na glicose plasmática [6,11,13] e ácidos
graxos livres [6]; porém o conteúdo muscular de glicogênio
parece sofrer reduções significantes [12-14]. Madsen et al. [13]
observaram uma alta concentração de ácidos graxos livres,
durante o exercício, após o período de destreinamento, sem
nenhuma alteração no glicerol plasmático, atribuindo este
fator a uma redução da oxidação de ácidos graxos e não a um
aumento de sua mobilização, já que o glicerol é um indicador
desta mobilização. Este resultado pode ter sido causado pela
baixa atividade da enzima beta-hidroxiacil CoA dehidrogenase
e/ou um menor transporte de ácidos graxos na membrana da
mitocôndria pelo sistema carnitina-palmitil transferase.
Para atletas e não-atletas treinados aerobicamente, o
destreinamento parece reduzir a atividade de enzimas oxidativas (Tabela III), como a citrato sintase [6,8,10,11,16], a
succinato desidrogenase [4-6,9,16], a beta-hidroxiacil-CoA
dehidrogenase [6,13,16] a citocromo oxidase [4], a malato
dehidrogenase mitocondrial [8,16] e a glutamato dehidrogenase [8].
Entretanto, alguns autores não observam essas respostas,
particularmente em relação à malato dehidrogenase citoplasmática, sucinato citocromo c redutase, NADH citocromo c
redutase e betahidroxiacil-CoA dehidrogenase [8,13] e citrato
cintase [13]. Essas respostas podem ser influenciadas, em
parte, por um destreinamento caracterizado pela prática de
treinamento de alta intensidade com um volume muito mais
baixo que o normal [13]. Essa possibilidade é sustentada pelos
resultados de Fournier et al.[5], que verificaram uma resposta
da sucinato dehidrogenase diferente em destreinamento após
treinamento de endurance e de sprint, reduzindo no primeiro
caso, e permanecendo igual no segundo. Entretanto, Houston
et al. [15], avaliando sujeitos treinados em força, não verificaram alterações na atividade da succinato desidrogenase e
da após 12 semanas de inatividade.
As avaliações com enzimas glicolíticas (Tabela IV) mostram
que a hexoquinase apresenta uma redução em sua atividade
com o destreinamento para treinados em endurance [6,16],
mas não se altera para treinados em força [15]; enquanto a
fosfofrutoquinase [6,12,15,16], a fosforilase [6,9,12,16], a
beta-hidroxibutirato dehidrogenase [16], a frutose bi-fosfatase
[16], a adenilato quinase [16] e a creatina quinase [16] não
foram alteradas pelo destreinamento em indivíduos treinados
em endurance. Entretanto, para atletas de força, destreinados
por períodos de longa duração, há uma redução na concentração plasmática de creatina quinase [18], isto, segundo
Tabela III - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações enzimáticas 2. Onde: CS = citrato sintase; cMDH = malato
dehidrogenase citoplasmática; mMDH = malato dehidrogenase mitocondrial; GDH = glutamato dehidrogenase; HAD = beta-hidroxiacilCoA dehidrogenase; SCR = sucinato citocromo c redutase; NCR = NADH citocromo c redutase; COX = citocromo c oxidase; SDH = sucinato
dehidrogenase; n.s.= não significativo.
Referência
Houston et al [15]
Klausen et al [4]
Fournier et al [5]
Chi et al [14]
Houston et al [9]
Coyle et al [6]
Moore et al [10]
Wibom et al [8]
McCoy et al [11]
Condições
Período
15 dias
8 semanas
6 meses
7 semanas
12 semanas
12 semanas
3 semanas
3 semanas
10 dias
Treino
aeróbio
aeróbio
aeróbio
aeróbio
força
aeróbio
aeróbio
aeróbio
aeróbio
Proteínas e enzimas oxidativas
GLUT-4 CS
cMDH mMDH
- 35% - 39% - 28%
- 40% n.s.
- 35,7% - 10% n.s.
- 28%
- 33,2% - 28,6% -
GDH
- 17%
-
HAD
- 17%
n.s.
n.s.
n.s.
-
SCR
n.s.
-
NCR
n.s.
-
COX
n.s.
-
SDH
- 24%
- 40%
- 42%
- 28%
n.s.
- 25%
-
Tabela IV - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações enzimáticas 1. Onde: HK = hexoquinase; PFK = fosfofrutoquinase; PRHL = fosforilase; LDH = lactato dehidrogenase; CK = creatina quinase; Beta-H = beta-hidroxibutirato dehidrogenase; Frut-bifos =
frutose bi-fosfato; ADEN = adenilato quinase; n.s .= não significativo.
Referência
Houston et al [9]
Klausen et al [4]
Fournier et al [5]
Chi et al [14]
Houston et al [15]
Costill et al [12]
Coyle et al [6]
Wibom et al [8]
Hortobagyi et al [18]
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Condições
Período
15 dias
8 semanas
6 meses
7 semanas
12 semanas
4 semanas
12 semanas
3 semanas
12 semanas
Treino
aeróbio
aeróbio
aeróbio
aeróbio
força
aeróbio
aeróbio
aeróbio
força
Enzimas anaeróbicas
HK
PFK
PHRL
n.s.
n.s.
n.s.
- 21% n.s
n.s.
n.s.
n.s
n.s.
n.s.
n.s.
- 20% n.s.
+ 16% -
Beta- H
n.s.
-
Frut-bifos
n.s.
-
ADEN
n.s.
-
LDH
- 13%
- 10%
+ 21,1%
n.s.
+ 20%
-
CK
n.s.
n.s.
- 82,3%
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Tabela V - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e as adaptações hormonais. Onde: I=insulina; C = cortisol; GH = hormônio
do crescimento; T = testosterona; A = adrenalina; N = noradrenalina; ns = não significativo.
Condições
Madsen et al [13]
Costill et al [12]
Coyle et al [6]
Houston et al [15]
Hortobagyi et al [18]
McCoy et al [11]
Período
15 dias
4 semanas
12 semanas
3 semanas
12 semanas
10 dias
Adaptações hormonais
Treino
aeróbio
aeróbio
aeróbio
aeróbio
força
aeróbio
I
n.s.
n.s.
Clarkson apud Hortobagyi et al. [18], pode indicar uma
reorganização miofibrilar. Entretanto Houston et al. [9] não
relataram alterações na sua atividade após 12 semanas de inatividade subseqüentes ao treinamento de força. Em contraste
a estes resultados, Klausen et al. [4] verificaram uma redução
na atividade da fosfofrutoquinase após destreinamento, assim
como Fournier et al. [5] para treinados em sprint - porém a
atividade não se alterou quando o treinamento priorizou a endurance - enquanto Wibon et al. [8] verificaram um aumento
da atividade da fosfofrutoquinase após destreinamento.
Paralelo as reduzidas atividades enzimáticas, Wibon et
al. [8] observaram reduções na quantidade de mitocôndrias
musculares com o destreinamento em sujeitos sedentários,
o mesmo sendo sugerido por Moore et al. [10]. Além disso,
McCoy et al. [11] verificaram um sensível decréscimo de
GLUT-4 após 10 dias de destreinamento em triatletas, paralelo e altamente correlacionado a uma redução na atividade
da citrato cintase (Tabela IV).
Alterações hormonais
Em indivíduos altamente treinados em força muscular,
o destreinamento causa um aumento da concentração basal
de hormônio de crescimento (GH) e testosterona, com uma
diminuição do cortisol plasmático (Tabela V), alterando
a relação testosterona x cortisol [18], estes dados sugerem
um aumento dos processos anabólicos, possivelmente como
feedback de resposta aos processos catabólicos causados pelo
destreinamento, entretanto, isto não indica necessariamente
um aumento no anabolismo muscular.
Em atletas de endurance, a insulina não apresenta variação
na sua concentração após períodos curtos [11,14] ou longos
de destreinamento [6]. Apesar disso, mesmo em reduzidos
períodos de destreinamento, a sensitividade do organismo
à ação da insulina parece ser alterada [11,14], alterando a
utilização de substrato energético durante o exercício.
Os níveis de adrenalina e noradrenalina não apresentaram
variação nas três primeiras semanas de destreinamento, mas
ao final de 12 semanas, seus níveis plasmáticos aumentaram
em atletas de endurance, entretanto os mesmos níveis não se
alteraram após um teste em intensidade submáxima (75%
do VO2máx), permanecendo os mesmos encontrados no teste
antes do destreinamento [6]. Esse aumento na concentração
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C
+ 21,5%
-
GH
+ 58,3%
-
T
+ 19,2%
-
A
+ 99%
-
N
+ 65%
-
de catecolaminas circulante pode ser relacionado em alguns
fatores observados no destreinamento, entre eles, uma maior
utilização de glicogênio como fonte energética, e um aumento
da freqüência cardíaca e pressão arterial [6].
Conclusão
Verifica-se que as reduções no VO2máx nas primeiras semanas de destreinamento, podem ser devido a redução do débito
cardíaco [6,19] e, após este período inicial, contribuições
como a redução na diferença artério-venosa de O2 [6,19], reduções na capilarização e atividade das enzimas oxidativas [4]
podem ser as principais responsáveis pela queda do consumo
máximo de O2. Entretanto o VO2máx não necessariamente se
modifica na mesma magnitude que as alterações das enzimas
oxidativas, sendo que estas últimas apresentam variações
muito maiores que o VO2máx [6,7,9,10]. Modificações na
atividade enzimática são apontadas como uma das principais
responsáveis pela diminuição do desempenho aeróbio, sendo
que essas alterações parecem ser mais importantes nas fibras
musculares do tipo I [28].
A queda no débito cardíaco seria mediada pela queda no
volume de ejeção, e esta, mediada pela redução do volume
sanguíneo – o destreinamento parece reverter rapidamente a
hipervolemia de estado treinado ದ, dos reflexos cardiovasculares e/ou do retorno venoso [19]. A redução no VO2máx através
deste mecanismo, poderia ser compensada pelo aumento da
freqüência cardíaca máxima, apontado em alguns estudos, o
que contribuiria para que esta redução fosse pequena. Além
disso, esta redução no volume de ejeção poderia ser responsável por uma redução do volume ventricular esquerdo, porém
esta redução não é claramente confirmada.
Também se atribui a responsabilidade das alterações
nas respostas metabólicas e cardiovasculares ao aumento da
atividade simpato adrenal, já que os aumentos nos níveis
plasmáticos de catecolaminas podem contribuir para grandes
aumentos na freqüência cardíaca, ventilação, e concentração
de lactato sanguíneo, devido ao maior uso de substrato
energético derivado de carboidrato. Porém deve-se ressalvar
que no estudo citado, os maiores aumentos na freqüência
cardíaca e concentração de lactato sanguíneo ocorreram nos
primeiros 21 dias, e os níveis de catecolaminas permaneceram praticamente inalterados neste período, mostrando
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uma alteração consistente apenas em períodos mais longos
de destreinamento.
Além disso, verifica-se que aumentos da pressão arterial,
após destreinamento, podem ser causados pela queda da
pressão das veias centrais, que causam a vasoconstrição da
pele, músculos inativos e outras áreas periféricas aumentando
a tensão vascular periférica. Este aumento da pressão arterial,
por sua vez, pode contribuir para as reduções no volume de
ejeção cardíaco, por causar de uma sobrecarga na sístole.
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Revisão
A importância dos exercícios resistidos
em pacientes hipertensos
The importance of resistance exercise in hypertensive patients
Graziela Rodrigues da Costa*, Elaine Cristina Martinez Teodoro, M.Sc.**
*
Fisioterapeuta, Faculdade de Pindamonhangaba – FAPI, Pindamonhangaba - SP, **Fisioterapeuta, Especialista em Fisiologia do
Exercício (UNIFESP/EPM), Doutoranda em Engenharia Mecânica, Departamento de Mecânica – Universidade Estadual Paulista
(UNESP) Guaratinguetá – SP
Resumo
Abstract
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) pode ser conceituada
como uma patologia multifatorial capaz de acometer os chamados
órgãos-alvo, tais como: coração, rins, aorta, cérebro e olhos. Sua
prevalência no Brasil é alta, o que a torna um grande problema de
saúde pública. A HAS é considerada um grande fator de risco para
as doenças cardíacas e vasculares. Desse modo, o presente trabalho
aborda a importância da realização dos exercícios resistidos em
pacientes hipertensos, e que são definidos como qualquer forma de
exercício ativo, no qual a contração muscular estática ou dinâmica
é resistida por uma força externa que pode ser aplicada manual ou
mecanicamente. Conclui-se que a realização de um treinamento
resistido com cargas leves promove grandes benefícios para a saúde
dos portadores de HAS, reduzindo o índice de mortalidade e morbidade destes pacientes.
Systemic Arterial Hypertension (SAH) can be considered a
multifactor pathology affecting target organs such as heart, kidneys, aorta, brain and eyes. Its prevalence in Brazil is high, making
it a considerable problem of public health. SAH is considered a
serious factor of risk for heart and vascular disease. The present
study addresses the importance of performing resistance exercises
on hypertensive patients. Such exercises are defined as any form of
active exercise in which static or dynamic muscular contraction is
resisted by an external force, which can be applied either manually
or mechanically. It was concluded that performing resistance training
with light loads offers considerable benefits to the health of patients
with SAH, reducing mortality and morbidity rates.
Key-words: blood pressure, hypertension, resistance exercise, risk
factors.
Palavras-chave: pressão arterial, hipertensão arterial sistêmica,
exercício resistido, fatores de risco.
Endereço para correspondência: Elaine Cristina Martinez Teodoro,Avenida Osvaldo Aranha, 1961, 12600-000 Lorena SP, Tel: (12)
3152-8023, E-mail: [email protected]
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 145
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Introdução
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é definida como
uma patologia multifatorial e multicausal, sendo conceituada
como uma síndrome caracterizada pela presença de níveis
tensionais elevados, associados às alterações metabólicas, hormonais e fenômenos tróficos, tais como hipertrofia cardíaca
e vascular [1]. Sua presença pode contribuir para lesão dos
chamados órgãos-alvo, como coração, cérebro, vasos sanguíneos, rins e retina [2].
A pressão arterial é a pressão que o sangue exerce contra as
paredes das artérias, sendo geralmente expressa em milímetros
de mercúrio (mmHg). A HAS é representada pelo aumento
da pressão sistólica acima dos valores de 139 mmHg, e acima
de 89 mmHg para diastólica [3].
À medida que a população envelhece e se torna mais obesa,
a incidência de hipertensão continua a aumentar, em todas
as sociedades desenvolvidas e naquelas em desenvolvimento
[2].
Sua prevalência no Brasil é alta e está presente em cerca
de 15 (10%) a 30 (20%) milhões de pessoas, atingindo quase
65% dos idosos. Os negros (38%) têm maior prevalência do
que os brancos (29%) e os homens (33%) uma prevalência
maior do que as mulheres (27%), até aproximadamente os
cinqüenta anos. Após esta idade, a doença torna-se mais comum nas mulheres. Embora seja predominante na fase adulta,
sua prevalência em crianças e adolescentes não é desprezível,
representando 7% [2].
A HAS é um fator de risco para várias doenças cardíacas e
vasculares. São muitos os fatores que contribuem para o seu
desenvolvimento, tais como: alimentação inadequada, fatores genéticos, alcoolismo, obesidade, sedentarismo, estresse,
tabagismo, dislipidemia, diabetes mellitus, idade acima de
sessenta anos e sexo [2].
Desse modo, tornam-se necessárias mudanças no estilo de
vida, como alimentação adequada e a realização de exercícios
físicos, visto que alguns estudos têm demonstrado efeitos benéficos tanto dos exercícios aeróbicos como os de resistência
para a diminuição dos fatores de risco. Entretanto, o exercício
de resistência, além de reduzir os níveis pressóricos, mantém
e aumenta a massa muscular magra do indivíduo [1].
Para a realização do exercício físico, o indivíduo deve ser
avaliado, a fim de obter parâmetros para uma prescrição adequada, possibilitando melhor aproveitamento dos benefícios
dos mesmos [1].
Portanto, este estudo tem como objetivo analisar as respostas hemodinâmicas, os ajustes fisiológicos e a importância
do exercício de resistência em pacientes hipertensos.
Hipertensão arterial sistêmica
mantidos cronicamente em valores iguais ou superiores a 140
mmHg, para a pressão arterial sistólica e ou 90 mmHg para
a pressão arterial diastólica [5].
A HAS é reconhecida como um dos principais fatores de
risco de doenças cardiovasculares e a primeira causa de morte
nos países industrializados e no Brasil [6].
Alguns dados epidemiológicos indicam que, no mundo,
um em cada cinco indivíduos com idade superior a 18 anos
apresenta hipertensão arterial. Os dados estatísticos revelam
que 22% a 44% da população adulta são portadoras desta
síndrome [5].
Estudos populacionais realizados em algumas cidades
brasileiras mostram a prevalência da hipertensão arterial
com níveis pressóricos mantidos acima de 140/90 mmHg
em 22,3% a 43,9% da população e de 160/95 mmHg em
11,3% a 32,7% [6]. Os fatores associados são: excesso de peso,
sedentarismo, envelhecimento, raça e sexo. Enfatiza-se ainda
o aumento da circunferência abdominal e a baixa estatura
das mulheres [7].
Segundo algumas pesquisas, 50% dos hipertensos morrem
por doença arterial coronariana ou insuficiência cardíaca,
sendo 33% por acidente vascular encefálico e 10% a 15%
por insuficiência renal crônica [3].
No Brasil, em 2003, 27,4% dos óbitos foram decorrentes de doenças cardiovasculares, atingindo 37% quando são
excluídos os óbitos associados às doenças sem diagnóstico e à
violência. A principal causa de morte em todas as regiões do
país é o acidente vascular cerebral, acometendo as mulheres
em maior proporção [8].
Quanto à raça, o impacto da hipertensão não é uniforme, os negros apresentam os maiores níveis pressóricos,
possivelmente relacionados à maior ingestão de sal, quando
comparados entre si e com outras raças, sendo esta prevalência
1,77% maior que nos brancos [9].
Classificação
A HAS pode ser classificada em sistólica e diastólica,
conforme ilustram as Tabelas I e II. [4].
Tabela I - Classificação diagnóstica da hipertensão arterial diastólica
(> 18 anos de idade).
PAD
< 85
85 – 90
90 – 99
100 – 109
≥ 110
< 90
Classificação
Normal
Normal limítrofe
Hipertensão leve (estágio I)
Hipertensão moderada (estágio II)
Hipertensão grave (estágio III)
Hipertensão sistólica isolada
Fonte: III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (1999).
O indivíduo é considerado hipertenso quando, na ausência da terapia anti-hipertensiva, seus níveis pressóricos são
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Tabela II - Classificação diagnóstica da hipertensão arterial sistólica
(> 18 anos de idade).
PAS
< 130
130 – 139
140 – 159
160 – 179
≥ 180
≥ 140
Classificação
Normal
Normal limítrofe
Hipertensão leve (estágio I)
Hipertensão moderada (estágio II)
Hipertensão grave (estágio III)
Hipertensão sistólica isolada
Fonte: III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (1999).
Fisiopatologia
Os determinantes da pressão arterial são o débito cardíaco
e a resistência vascular periférica: qualquer alteração em um
ou outro, ou em ambos, interfere na manutenção dos níveis
pressóricos normais [7].
No indivíduo hipertenso, a interação de fatores genéticos
e fatores ambientais levam ao desequilíbrio desses sistemas,
que resulta no aumento da pressão arterial associado à maior
incidência de morbidade e mortalidade [7].
A manutenção, bem como a variação momento a momento da pressão arterial, depende de mecanismos complexos e
redundantes que determinam ajustes apropriados da freqüência e da contratilidade cardíaca, do estado contrátil dos vasos
de resistência e de capacitância e da distribuição de fluido
dentro e fora dos vasos [10].
A regulação neuro-hormonal da pressão arterial funciona
como um arco-reflexo envolvendo receptores, aferências,
centros de intregação, eferências e efetores, além de ações
hormonais [11].
Os barorreceptores arteriais são um dos principais responsáveis
pelo ajuste da pressão. Trata-se de mecanorreceptores constituídos
por terminações nervosas livres que se situam na camada adventícia de grandes vasos e que são estimulados por deformações de
suas paredes, normalmente provocadas pela onda de pressão e
pelas características mecano-elásticas da parede [12].
O controle da pressão arterial também ocorre por meio
do sistema renina-angiotensina-aldosterona, que causa vasoconstrição, estimula mecanismos centrais que favorecem a
hipertensão e aumenta a absorção tubular de sódio, enquanto
sua inibição tem efeitos contrários. A angiotensina II também
influencia a hemodinâmica renal e exerce efeitos tróficos sobre
os vasos e o coração, que favorecem o aumento da resistência
vascular e a hipertrofia cardíaca [13].
Diagnóstico
A medida da pressão arterial é o elemento chave para
o estabelecimento do diagnóstico de hipertensão arterial e
avaliação da eficácia do tratamento [8].
O método mais utilizado para aferição na prática clínica
é o indireto, com técnica auscultatória e esfignomanômetro
de coluna ou aneróide [8].
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O diagnóstico da HAS é realizado quando são detectados
valores pressóricos maiores ou iguais a 140 mmHg para a
pressão sistólica e ou 90 mmHg para a diastólica [14].
Além de cuidados com a aferição correta, o exame físico
geral deve ser realizado de maneira minuciosa e completa,
sempre com o intuito de se identificar lesões de órgãos-alvo
e eventuais causas secundárias de hipertensão arterial [15].
Sua confirmação depende fundamentalmente dos cuidados dispendidos durante as aferições para minimizar os
riscos de falsos diagnósticos, tanto de hipertensão quanto de
normotensão, e suas repercussões na saúde dos indivíduos e
no custo social envolvido [8].
Exercício resistido
Os exercícios resistidos caracterizam-se por atividades nas
quais ocorrem contrações voluntárias da musculatura esquelética de um determinado segmento corporal contra alguma
resistência externa, ou seja, contra uma força que se opõe ao
movimento, sendo que essa oposição pode ser oferecida pela
própria massa corporal, por pesos livres ou por outros equipamentos, como aparelhos de musculação, objetos elásticos
ou de resistência manual [16].
Efeitos fisiológicos
Os exercícios resistidos apresentam efeitos cardiovasculares
diferentes em função de sua intensidade, sendo a atividade
de intensidade alta responsável por picos pressóricos extremamente elevados, oferecendo risco potencial ao paciente. Já as
atividades de baixa intensidade parecem promover aumentos
seguros da pressão arterial durante o exercício, e podem ser
indicativos de um potencial hipotensor pós-exercício [16].
A análise de alguns estudos concluiu que o treinamento
de resistência diminui a pressão arterial sistêmica com uma
redução da resistência vascular, onde o sistema nervoso simpático e o sistema renina-angiotensina parecem estar envolvidos
e concomitantemente afetam de maneira favorável os fatores
de risco das doenças cardiovasculares [17].
O exercício físico de resistência apresenta efeitos tanto
fisiológicos quanto psicológicos como: diminuição do estresse,
melhora da função cardiorrespiratória, remoção de fatores
como tabagismo, melhora da circulação sistêmica e aumento
da circulação colateral [18].
O exercício intenso de resistência pode ser prejudicial para
os indivíduos que sofrem de doenças cardíacas e vasculares,
principalmente para os destreinados, pois o mesmo produz
um aumento na tensão, principalmente na fase concêntrica
da contração muscular e comprime o sistema arterial periférico, fazendo com que haja uma diminuição na perfusão
muscular e um aumento da resistência vascular periférica
total. Como conseqüência, há um aumento na atividade do
sistema nervoso simpático, no débito cardíaco e na pressão
arterial média, como tentativa de restaurar o fluxo sangüíneo
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muscular. Desse modo, para pessoas com hipertensão arterial
sistêmica, são indicadas formas mais rítmicas de exercício
moderado [1].
Os mecanismos apontados como possíveis responsáveis
pelo aumento da pressão arterial nos exercícios de alta intensidade são a pressão mecânica da musculatura contraída
sobre os vasos sanguíneos esqueléticos e a elevação da pressão
intratorácica gerada pela manobra de valsalva, cuja realização
é inevitável quando o exercício é feito em intensidade acima
de 75% a 80% da carga voluntária máxima [16].
Durante o exercício de resistência, a pressão arterial sistêmica reduz em média 5 a 7 mmHg, imediatamente após
uma sessão. O efeito hipotensor pode ocorrer por até 22 horas
pós-atividade [19].
amplitude específica de movimento, uma única vez e com
execução correta [23].
O ACMS preconiza que o treinamento de resistência
seja parte integrante de um programa de aptidão física para
adultos e idosos. Suas recomendações incluem pelo menos
uma série de oito a dez exercícios para os principais grupos
musculares, com freqüência de duas a três vezes por semana.
Cada exercício deve envolver dez a quinze repetições e a
duração das sessões deve ser de 20 a 60 minutos no máximo,
pois estudos comprovaram resultados satisfatórios durante
este período [1].
Segundo Lopes, Barreto-Filho e Riccio [24] o exercício
de resistência muscular localizada pode ser realizado com
sobrecarga que não ultrapasse 50% da contração voluntária
máxima.
Benefícios
Método
Atualmente, esse tipo de atividade tem sofrido uma série
de investigações, devido à importância que atingiu no desenvolvimento do condicionamento cardiorrespiratório e neuromuscular. Dentre as atividades físicas que podem melhorar a
saúde, a prática de exercícios resistidos tem sido recomendada
pelas principais agências normativas de atividade física, como
o American College of Sports Medicine (ACMS), e a American
Heart Association (AHA), devido a sua relativa segurança,
mesmo em populações ditas especiais [20].
Os exercícios resistidos trazem benefícios como adaptações
neuromusculares, aumento de força e resistência muscular,
aumento da capacidade de realizar atividades de vida diária,
supressão de queda de força relacionada à idade, atenuação
das respostas cardiovasculares ao esforço e diminuição de risco
de doença coronariana [21].
Prescrição
De acordo com Cléroux, Feldman e Petrella [22], as
pessoas com hipertensão leve devem praticar exercícios
de intensidade moderada de 50 a 60 minutos, 3 a 4 vezes
por semana, para redução da pressão arterial. O exercício
físico deve ser prescrito como um adjunto à terapia medicamentosa, e pessoas que apresentam hipertensão devem
participar de exercícios regulares, uma vez que o mesmo
irá diminuir a pressão arterial e reduzir o risco de doenças
coronarianas.
Este treinamento pode ser prescrito como um adjunto
à atividade aeróbica, devido ao fato deste tipo de exercício
ajudar a manter e construir a massa muscular, especialmente
em um corpo envelhecido. Entretanto, o exercício de resistência não deve servir como atividade preliminar, pois não
tem os mesmos efeitos anti-hipertensivos que o exercício
aeróbico [19].
Para o controle da intensidade do exercício, é necessária
a realização do teste de uma repetição máxima, o qual é
definido como a maior carga que pode ser movida por uma
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Trata-se de uma revisão bibliográfica constituída por
artigos científicos que utilizou os seguintes bancos de dados:
Bireme, Pubmed e Comut da Faculdade de Engenharia de
Guaratinguetá, FEG – UNESP. As bases de dados consultadas
foram Medline, Scielo e Lilacs.
Foi realizado um levantamento bibliográfico utilizando as
seguintes palavras-chave: pressão arterial, hipertensão arterial
sistêmica, exercício resistido, fatores de risco, blood pressure,
hypertension, resisted exercise, risk factors.
Foram selecionados apenas artigos publicados nos idiomas
inglês e português, com ano de publicação compreendido
entre 1991 a 2007.
Discussão
Dentre as condutas não farmacológicas, a prática regular
de exercícios físicos tem sido utilizada por profissionais da
área da saúde devido às evidências clínicas encontradas na
literatura, as quais demonstram sua eficácia para a redução
dos níveis da pressão arterial em pacientes hipertensos, além
da diminuição dos efeitos colaterais provocados pelo tratamento farmacológico, reduzindo a resposta pressórica diante
de estímulos fisiológicos, como no exercício físico submáximo
e em situações de estresse mental [25].
Segundo Forjaz et al. [16], o exercício de resistência reduz
os níveis pressóricos pós-exercício tanto em sujeitos normotensos como em hipertensos, proporcionando cronicamente
uma série de adaptações fisiológicas, tais como: hipertrofia,
aumento de força muscular e densidade óssea, reduzindo assim
a prevalência da osteoporose. O mesmo foi observado por
Parise, Brose e Tarnopolsky [26], os quais concluíram também
um aumento de força e hipertrofia das fibras musculares, após
realizarem um estudo com 30 indivíduos, em um programa
de treinamento resistido.
De acordo com Braith e Stewart [25], o exercício de resistência vem sendo incluído como parte de um programa de
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promoção à saúde e prevenção do risco de doenças cardiovasculares, aprovado pela American Heart Association, American
College of Sports Medicine e American Diabetes Association,
funcionando como um complemento ao exercício aeróbio
para prevenção, tratamento e controle da hipertensão arterial,
o que condiz com as afirmações de Laterza e Rondon [27],
os quais abordam que os exercícios de resistência devem ser
empregados somente como forma complementar ao exercício
aeróbio.
Kelley [28] realizou um estudo com 259 indivíduos, com o
objetivo de analisar os efeitos fisiológicos do exercício de resistência aplicado ao paciente hipertenso, tendo como resultado
reduções de 3 a 4% das pressões arteriais sistólica e diastólica,
concordando com os resultados obtidos em outros estudos,
como no de Mediano, Paravidino, Simão, Pontes e Polito
[29], que realizaram um experimento com 20 indivíduos de
ambos os gêneros, portadores de hipertensão controlada por
fármacos e participantes de um programa de exercícios para
treinamento de força, os quais concluíram que uma sessão de
exercício resistido pode promover reduções significativas dos
níveis sistólicos da pressão arterial. Este efeito também pode
ser observado nos estudos de Fagard, Franklin e Pescatello
[30], onde foi realizada uma análise dos efeitos do treinamento de resistência sobre a pressão arterial em 320 indivíduos,
os quais apresentaram reduções significativas de cerca de 3
mmHg para as pressões sistólica e diastólica.
Para Lopes, Barreto Filho e Riccio [24], o exercício resistido com carga moderada promove alterações hemodinâmicas,
autonômicas e neuro-humorais que reduzem a pressão arterial
no pós-exercício imediato e de maneira sustentada quando
sua prática é regular, porém, exercícios com cargas elevadas
parecem não promover os mesmos efeitos benéficos, podendo
levar a uma alteração autonômica.
Marceau, Kouame, Lacourciere, Cleroux [31] realizaram
um estudo com exercício resistido utilizando intensidades
de leve a moderada, sendo 50% a 70% de uma repetição
máxima respectivamente, e obtiveram como resultado reduções de cerca de 5 mmHg em ambas as pressões o que
condiz com a V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial
[8], onde preconiza-se que os exercícios de resistência em
sujeitos hipertensos devem ser realizados com sobrecarga
de até 50% a 60% de 1 repetição máxima, sendo o mesmo
interrompido quando a velocidade diminuir antes da fadiga
concêntrica surgir.
Laterza, Rondon e Negrão [5] recomendam que os
exercícios de resistência aplicados ao paciente hipertenso
devem ser realizados com freqüência de três ou mais vezes
por semana e com 50% a 60% da carga voluntária máxima,
sendo estes exercícios realizados como forma complementar
ao exercício aeróbio, condizendo com o trabalho de Chintanadilok e Lowenthal [32], os quais relatam que os exercícios
de resistência devem constar de três a cinco dias por semana,
20 a 30 minutos por sessão, utilizando 50% a 70% da carga
voluntária máxima.
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149
Com relação ao número de séries e repetições dos exercícios
resistidos, Howley [33] sugere uma série de 8 a 12 repetições
para adultos com até 50 anos de idade e 10 a 15 repetições
para indivíduos com mais de 50 anos, com intensidade de
95% da carga voluntaria máxima, o que contradiz com as
propostas de Fagard e Cornelissen [34], os quais sugerem que
os exercícios resistidos devem ser realizados com intensidade
de 40% a 60% da carga voluntária máxima, condizendo
também com os estudos de Simões, Dionísio e Mazzonetto
[3], os quais afirmam que estes valores de carga voluntária
máxima (40 a 60%) podem ser utilizados, pois não impõem
riscos aos indivíduos hipertensos.
Braith e Stewart [27] recomendam que o treinamento de
resistência deve utilizar uma intensidade moderada que varia
de 30% a 40% a partir do teste de uma repetição máxima,
para os exercícios de membros superiores, e 50% a 60% para
os membros inferiores, com no mínimo oito a dez repetições,
contradizendo os estudos de Fargard e Tipton [35], que recomendam que os exercícios resistidos sejam realizados com
intensidade de 50% a 70% da carga voluntária máxima,
independente do membro que será exercitado.
Segundo Forjaz et al. [16], os exercícios resistidos podem
ser executados em diferentes intensidades, tais como: leves
com 40% a 60% da carga voluntária máxima, com 20 a 30
repetições, os quais resultam num aumento da resistência da
musculatura envolvida no exercício. Por outro lado, quando os
exercícios são realizados em intensidades mais elevadas, acima
de 70% da carga voluntária máxima, o número de repetições
não pode ser muito alto, cerca de 8 a 12 são suficientes e resultam no aumento da massa muscular envolvida no exercício.
Simões, Dionísio e Mazzoneto [3] realizaram um estudo
envolvendo seis indivíduos de ambos os sexos, com idade
entre 50 e 60 anos, divididos em dois grupos, sendo um grupo
submetido a atividades aeróbias e o outro a atividades anaeróbias, com intensidade de 50% da carga voluntária máxima.
Eles realizaram cinco tipos de atividades, com 3 séries de 12
repetições para cada uma, e obtiveram como resultado, maior
queda da pressão arterial sistólica após a aplicação do exercício anaeróbio e da pressão arterial diastólica após o exercício
aeróbio. Estes resultados apóiam aqueles encontrados por
Mediano, Paravidino, Simão, Pontes e Polito [29], os quais
afirmam que o exercício de força com intensidade de 50%
da carga voluntária máxima pode reduzir a pressão arterial
sistólica pós-esforço, tanto em indivíduos normotensos como
naqueles hipertensos, o que também condiz com as afirmações de Lopes, Barreto-Filho e Riccio [24], que recomendam
que a atividade física constituída por exercício de resistência
muscular localizado pode ser realizada com sobrecarga que
não ultrapasse 50% da contração voluntária máxima.
Forjaz et al. [16] concluem que o treinamento resistido
de baixa e moderada intensidade é indicado ao paciente
hipertenso em complemento ao exercício aeróbio, enquanto
o treinamento resistido de alta intensidade deve ser evitado
pelos mesmos.
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Conclusão
O presente trabalho conclui que a Hipertensão Arterial
Sistêmica (HAS) é uma patologia multicausal, associada a um
alto índice de comprometimentos sistêmicos. Sua ocorrência
está intimamente relacionada a alterações metabólicas, hormonais e a fenômenos cardiotróficos.
Quanto à perspectiva de atuação dos exercícios de resistência, conclui-se que os mesmos podem ser considerados uma
importante ferramenta para o tratamento não farmacológico
da HAS. Seus efeitos fisiológicos incluem desde a melhora na
função muscular, como a redução dos níveis pressóricos, porém em valores menos expressivos que os exercícios aeróbicos.
Eles devem ser realizados em intensidades leves a moderadas
para não proporcionar picos hipertensivos, os quais podem
elevar ainda mais o risco cardiovascular destes pacientes.
Portanto, pode-se concluir que os exercícios resistidos promovem grandes benefícios aos indivíduos hipertensos, devendo ser
utilizado como um adjunto aos exercícios aeróbicos para diminuir
os fatores de risco, melhorar a capacidade funcional, reduzir o
risco de doenças cardíacas e vasculares, bem como proporcionar
uma melhora na qualidade de vida destes pacientes.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
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Perguntas e respostas
Treinamento da força para idosos
Aging and strength training
Paulo de Tarso Veras Farinatti*, Nádia Souza Lima da Silva**
*Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Instituto de Educação Física e Desportos, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Mestrado em Ciências da Atividade Física, Universidade Salgado de Oliveira, ** Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Instituto de Educação Física e Desportos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
Abstract
Este texto teve por objetivo responder a questões freqüentemente
levantadas por aqueles que trabalham com prescrição de exercícios
para idosos, especificamente no que toca ao treinamento da força
muscular. Como estratégia metodológica optou-se por enunciar
dez perguntas sobre diversos temas e respondê-las em linguagem
simples, mas procurando não se afastar do rigor científico. Os
seguintes aspectos foram abordados: a) possíveis benefícios e riscos
do treinamento de força para idosos; b) características da elaboração
do treinamento de força para esta população; c) comparação com o
treinamento aeróbio no controle do peso e prevenção de doenças; d)
relação do treinamento da força com doenças crônico-degenerativas.
Concluiu-se que o treinamento de força pode ser realizado por idosos
com segurança, com efeitos positivos não apenas no ganho de força,
mas também em uma melhor capacidade de realização das atividades
cotidianas e na manutenção da massa magra, contribuindo com a
prevenção do acúmulo de gordura corporal. Isso, por si só, tende a
diminuir os riscos de desenvolvimento de doenças cardiovasculares
e metabólicas, como a hipertensão arterial ou diabetes.
The aim of the study was to review the literature on aging and
strength training. The adopted methodological strategy was to
pick up frequently asked questions by those who deal with exercise prescription for the elderly, especially in which concerns the
strength training. All the questions were formulated and answered
in a simple and direct language, but based on scientific framework.
The following aspects were addressed: a) possible benefits and risks
of strength training for the elderly; b) characteristics of strength
training design for this population; c) comparison with aerobic
training on weight control and disease prevention; d) relationship
of strength training with chronic and degenerative diseases. In
conclusion, the review suggests that strength training can be safe
for elderly subjects, with positive effects on the muscle strength
profile and daily living activities execution performance, as well on
the prevention of lean body mass decrease. Strength training can
be considered as an effective strategy to improve physical capacity,
contributing to prevent cardiovascular and metabolic diseases as
hypertension and diabetes.
Palavras-chave: força, envelhecimento, treinamento, saúde.
Key-words: strength, aging, training, health.
Endereço para correspondência: Paulo Farinatti, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Rua São Francisco Xavier 524,
sala 8133-F, 20550-013 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected] ou [email protected].
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
Introdução
Faz parte das preocupações do Laboratório de Atividade
Física e Promoção da Saúde (LABSAU) a disseminação de
informações sobre temas relativos à prática de atividades físicas pelos idosos. Recentemente, tem ocupado certo espaço
na mídia o fato de pessoas de idade iniciarem treinamento
contra-resistência – ou musculação – em centros como academias de ginástica, clubes e Universidades. Muito é falado
e discutido sobre os possíveis benefícios e riscos que podem
estar associados a essa prática, despertando a curiosidade dos
profissionais que trabalham com esta população e, por que
não dizer, dos próprios idosos.
Nesse contexto, o LABSAU desenvolve projeto de atividades físicas para pessoas com mais de 60 anos – um projeto
de extensão denominado ‘Idosos em Movimento: mantendo a
autonomia (Projeto IMMA)’. Esse projeto oferece aos idosos
um programa variado, buscando, de forma lúdica e por meio
da interação social, trabalhar qualidades físicas necessárias à
manutenção da independência funcional. A quantidade de
questões que são colocadas nas aulas do Projeto IMMA (tanto
pelos idosos participantes quanto pelos estagiários), motivounos a escrever esse texto. Seu objetivo é fazer um apanhado
do que apresentam os estudos disponíveis na literatura sobre
treinamento da força e envelhecimento.
Não se trata de um estudo de revisão, mas de um diálogo
do tipo Frequent Asked Questions, no qual foram selecionadas
dez questões que se apresentam comumente entre os participantes do Projeto IMMA. Apesar de terem sido trabalhadas
em linguagem simples, buscou-se ao mesmo tempo não se
afastar do rigor científico. Espera-se, com isso, contribuir para
o esclarecimento de dúvidas que profissionais que trabalham
junto a pessoas de idade avançada possam ter, dentro de uma
abordagem coerente com o que se espera de intervenções junto
aos idosos e cursos de formação e extensão universitária, como
as conduzidas pelo Projeto IMMA.
Musculação para idosos: dez perguntas e respostas
Até pouco tempo, atividade física para idosos era mais
associada a exercícios aeróbios. Quando e por que se começou
a recomendar também a musculação?
De fato, embora o treinamento de força seja aceito há
muito como meio para desenvolver a massa e a força muscular,
seus benefícios em outras esferas da saúde só foram reconhecidos recentemente. Em um passado próximo, costumava-se
contra-indicar este tipo de atividade para hipertensos, cardiopatas, idosos e outros grupos considerados como especiais.
Por exemplo, até 1990 os exercícios de força não constavam
das recomendações para exercício e reabilitação da American
Heart Association ou do American College of Sports Medicine
(ACSM), duas das mais reputadas entidades associadas ao
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exercício físico. As atividades aeróbias, por sua clara relação
com diminuição dos fatores de risco para uma série de doenças, eram praticamente a única opção aconselhada.
Em 1990, o ACSM reconheceu o treinamento da força
como um componente importante da aptidão física referenciada à saúde para adultos de todas as idades, tendo efeitos sobre
aspectos tão diversos como a mineralização óssea, sensibilidade
à insulina, tolerância à glicose e capacidade cardiovascular
[1]. Além disso, revela-se um aliado importante no controle
do peso, contribuindo com o aumento da massa muscular
e do metabolismo de repouso. Finalmente, há evidências de
que o risco de intercorrência cardiovascular no treinamento
de força não seria grande, quando comparado ao associado
às atividades aeróbias [2,3]. A aceitação deste tipo de treinamento, com isso, veio aumentando paulatinamente, ao ponto
em que, no ano 2000, a American Heart Association publicou
um posicionamento defendendo e fornecendo recomendações
para o treinamento contra-resistência em indivíduos com e
sem doença cardiovascular [4].
É claro que isso refletiu sobre todos os grupos antes considerados “de risco” para este tipo de atividade, inclusive os
idosos. Hoje, acumulam-se os estudos que demonstram os
benefícios que as pessoas de idade avançada podem obter com
o treinamento da força muscular, desde prevenção de fatores
de risco para doenças variadas até efeitos psicológicos, como a
melhoria da auto-estima, passando por aspectos importantes,
como a manutenção da autonomia funcional.
Quais os benefícios dos exercícios aeróbios e da musculação
para essa população?
Ambas as atividades trazem benefícios. Os exercícios aeróbios têm uma repercussão maior sobre o sistema cardiorrespiratório – capacidade de trabalho do coração, capacidade de
consumo de oxigênio –, levando a uma melhoria do potencial
geral de trabalho físico. Isso é importante, quando se sabe que
a capacidade aeróbia declina com o envelhecimento, podendo chegar a comprometer a autonomia funcional em idades
avançadas. De fato, uma boa capacidade aeróbia é importante
para uma vida independente, pois relaciona-se à produção da
energia necessária aos processos metabólicos. Se, na juventude,
as atividades cotidianas não representam demandas excessivas,
as diferenças entre os indivíduos mal ou bem condicionados
fisicamente tornam-se evidentes com a idade: o esforço relativo
imposto por tarefas como subir escadas, transportar pesos ou
caminhar longas distâncias pode aproximar-se perigosamente
da capacidade máxima de trabalho. Finalmente, em longo prazo
as atividades aeróbias estão associadas à diminuição de fatores
de risco para doenças cardiovasculares e metabólicas (como a
doença coronariana e o diabetes), em razão de alterações positivas do perfil lipídico sangüíneo, da sensibilidade à insulina e
da morfologia corporal [5,6].
Quanto à força, sabe-se que uma das características
mais marcantes do processo de envelhecimento é o declínio
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gradual da capacidade de desempenho muscular, fenômeno
que constitui uma das causas principais da perda da independência funcional dos idosos. Efetivamente, a reserva
funcional de força pode vir a ser tão reduzida nos idosos, que
perdas à primeira vista sem importância podem representar
a diferença entre uma vida autônoma ou não – a função
muscular é, inegavelmente, importante para um grande
número de atividades do dia a dia. Níveis moderados de
força fazem-se necessários para caminhar, transportar compras, subir escadas, subir e descer de transportes coletivos,
cozinhar, assim como em várias atividades profissionais e
de lazer. A manutenção da força muscular contribui para
prevenir a instabilidade articular e a osteoporose [7-10],
diminuir o risco de quedas [11,12] e mesmo para uma
melhor auto-estima [13].
É importante dizer que os dois tipos de atividades podem
ter influências mútuas. Por exemplo, o aumento da força
muscular pode contribuir para a manutenção da capacidade
de consumo de oxigênio [14,15]. Além disso, como a massa
muscular é o tecido metabolicamente mais ativo do organismo, mantê-la significa elevar o metabolismo de repouso e os
gastos calóricos diários, ajudando a evitar que o percentual
de gordura aumente [16,5]. Isso é importante em programas
visando promoção da saúde.
Qual é o mais vantajoso e por quê?
Com base no exposto na questão anterior, é difícil definir
qual o tipo mais vantajoso de atividade. Por um lado, deve-se
reconhecer que as atividades aeróbias têm um efeito mais global, associando-se tanto à melhoria da aptidão físico-funcional
quanto à prevenção de fatores de risco para doenças típicas
da velhice. Porém, também é verdade que um dos fenômenos
mais marcantes do processo de envelhecimento é a perda da
massa muscular, o que pode ser um fator limitante para as
próprias atividades aeróbias. A prescrição de uma ou outra
atividade depende dos objetivos que se desejam alcançar. Um
programa de exercícios para idosos deveria combinar atividades aeróbias com certa exigência de força ou contemplar um
equilíbrio entre as atividades propostas.
Pode-se optar por um tipo em detrimento de outro?
Sim, claro que se pode optar por quaisquer das atividades. Contudo, como dito, o ideal seria combiná-las, uma
vez tendo efeitos benéficos mútuos e ambas as qualidades
físicas sendo importantes para a manutenção da autonomia
funcional. Por outro lado, caso não haja alternativa senão a
de indicar apenas uma delas, a opção deveria ser feita pelas
atividades aeróbias de intensidade moderada. Isso porque,
para a maioria dos idosos, as exigências de força neste tipo
de atividade, aliada às atividades cotidianas, já poderia
representar uma sobrecarga suficiente para manter a massa
muscular [17,18].
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Há estudos que comparem benefícios como condição
cardiovascular, perda de peso e gordura, ganho de massa
muscular, força e flexibilidade, em exercícios aeróbios e
musculação com idosos?
Há estudos que demonstram que tanto os exercícios
aeróbios quanto os de força acarretam benefícios mútuos,
extensíveis a outras qualidades físicas, em idosos como em
qualquer outro grupo. Os temas dessa questão serão discutidos
separadamente, para facilitar o entendimento:
a) condição cardiovascular: os exercícios aeróbios são os
mais indicados com este objetivo, já que são específicos para
tanto. No entanto, o aumento da massa muscular, com treinamento da força, pode favorecer ao aumento do potencial
de consumo de oxigênio, já que se aumenta o volume de
tecido responsável por este consumo. O trabalho isolado de
musculação, no entanto, dificilmente vai ter efeitos importantes sobre a condição cardiovascular, a não ser em indivíduos
extremamente sedentários [19,20];
b) perda de peso e gordura: ambas as atividades trazem
benefícios neste aspecto. As atividades aeróbias podem ser
consideradas como grandes consumidoras de calorias, enquanto a musculação contribui com o aumento da massa
muscular e, portanto, diminuição do percentual de gordura.
É importante dizer que os dois tipos de atividades podem
estar associados a uma elevação do metabolismo de repouso
em médio prazo, o que é fundamental para a perda de peso
e a sua manutenção nos níveis desejados [5,19];
c) ganho de força: evidentemente, a musculação é superior neste sentido. No entanto, atividades aeróbias estão
associadas ao ganho de força em indivíduos sedentários,
como é o caso freqüente de idosos. Mais ainda, os ganhos
de força, mesmo que pequenos, muitas vezes têm grande
impacto sobre a autonomia funcional, sobre a capacidade de
se realizar as atividades cotidianas [21,22]. De fato, muitas
vezes nota-se uma melhoria do potencial para a realização
das atividades diárias – velocidade e padrão da marcha, equilíbrio dinâmico, levantar-se e sentar-se etc. –, dependentes
das qualidades físicas trabalhadas (força, flexibilidade, capacidade aeróbia), mesmo quando não se consegue perceber
variações destas últimas. Ou seja, os efeitos do treinamento
em idosos não precisam necessariamente fazer-se sentir em
nível micro para que suas influências positivas manifestemse em nível macro;
d) flexibilidade: em geral, quanto mais ativa a pessoa,
maiores as amplitudes de movimento que pode realizar [23].
Logo, em princípio, o indivíduo ativo tende a exibir maior
flexibilidade que o sedentário [24]. Isso é bom para o idoso,
já que a flexibilidade é uma das primeiras qualidades físicas
que declina com o envelhecimento [25,26]. Cabe lembrar,
no entanto, que nem sempre as atividades aeróbias e de
musculação envolvem amplitudes de movimento que contribuam à manutenção da flexibilidade. Assim, seria sempre
aconselhável a realização de exercícios de alongamento após
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as sessões de treinamento, sem procurar atingir amplitudes
limites de movimento.
Todos os idosos podem exercitar-se? Todos podem fazer
musculação?
Em princípio, todos os idosos podem exercitar-se, na
medida de suas capacidades. É preciso realçar que, quando
se fala em exercício, isso compreende um grande espectro de
volumes de treinamento, associando intensidade, freqüência
e duração das atividades. Assim, raros são os casos em que
não se consegue adequar a prescrição às necessidades e potencialidades do praticante. No caso da musculação, a não ser na
presença de problemas ósteo-mio-articulares sérios, ao ponto
de impedir a execução dos gestos dos exercícios, não há por
que pensar em contra-indicações.
Alguns problemas típicos da idade avançada, como varizes,
mialgias ou equilíbrio deficiente podem ser minorados pela
adoção de posições favoráveis de execução dos exercícios ou
pela administração de cargas leves. Os riscos cardiovasculares,
freqüentemente apontados como motivo para contra-indicar
a atividade, na verdade são reduzidos. A sobrecarga miocárdica está associada ao aumento da pressão arterial e da
freqüência cardíaca no exercício – o produto entre estas duas
variáveis define o que se denomina duplo-produto. Pois bem,
o duplo-produto é mais reduzido em exercícios dinâmicos
contra-resistência do que em exercícios aeróbios [27,3]. As
prováveis razões para isso são um menor pico de freqüência
cardíaca no exercício de força e uma melhor perfusão subendocárdica associadas à alternância de fases dinâmica e estática
no exercício [4].
Apesar de o risco de intercorrência cardiovascular em
praticantes de musculação ser reduzido, isso não quer dizer
que não exista. Seria, então, aconselhável um exame clínico
antes do engajamento em programas de treinamento da força,
como de resto para qualquer programa de atividades físicas.
Da mesma forma, e isso ganha importância quando se trata
de grupos com necessidades especiais (como os idosos), o
programa deveria ser elaborado por profissional de educação
física com qualificação e experiência específica.
Existe uma preferência dos idosos por um ou outro tipo de
exercício?
Freqüentemente, a principal motivação do idoso em
engajar-se em programas de atividades físicas é a busca por
atividades em grupo, a interação social com outros de mesma
idade [28]. Dificilmente atividades individuais atingem uma
adesão prolongada, o que, aliás, acontece em muitos locais
que tentam atrair a clientela dos idosos.
A musculação, particularmente, tem esse problema, é
uma atividade extremamente solitária – muito da motivação
dos que a praticam é o resultado obtido, principalmente em
termos estéticos, objetivos estes que, a literatura demonstra,
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são secundários para os idosos [29]. Deveriam ser traçadas
estratégias de engajamento dos idosos em grupos nos quais se
sintam bem, com que possam interagir durante as sessões de
treinamento, sob pena de fracasso em longo prazo.
A prescrição de exercícios de força para idosos é muito diferente
da feita para adultos jovens? O que difere basicamente?
Não há grandes diferenças na prescrição de exercícios de força entre adultos jovens e idosos. A administração de sobrecargas,
ordenação dos exercícios e técnicas de execução são basicamente
as mesmas. A única observação que se poderia fazer é que, como
as séries de musculação estão associadas à produção de ácido
lático, metabolizado mais lentamente pelos idosos, os períodos
de recuperação dentro da sessão podem ser maiores.
O que permanece indefinido, porém, é a forma pela
qual os idosos respondem ao treinamento da força, ou seja,
até que ponto vai a sua treinabilidade. A literatura indica
que programas de exercícios contra-resistência para idosos
são altamente eficazes, principalmente em razão de que,
freqüentemente, seu estado de treinamento é muito baixo.
Assim, alguns estudos puderam relatar aumentos da força em
músculos como o quadríceps, da ordem de 150 a 240% em
oito a dez semanas [30-32].
Acontece que, em um período inicial, os ganhos de força
se dão principalmente pela otimização da coordenação neuromuscular (o que se chama componente neural da força) e
não por aumento do volume da musculatura (componente
hipertrófico) [33]. Este segundo componente começaria
a predominar após cerca de dez semanas de treinamento,
quando os ganhos de força passam a ser sensivelmente mais
lentos. O que não se sabe, hoje, é se os idosos têm potencial
para ganhar força em treinamentos de prazo longo, ou seja,
se têm boa treinabilidade quando o componente hipertrófico
predomina. São poucos os estudos com amostragem e tempo suficientes para que se chegue a uma conclusão: alguns
sugerem que haja um platô, outros que a melhoria, apesar de
lenta, continua [16,34,35].
Assim, geralmente, os idosos exibem ganhos muito
rápidos no início dos programas de treinamento, o que vai
declinando até o ponto que, em programas de longo prazo,
torna-se francamente mais lenta do que em adultos jovens.
Deve-se estar preparado para o fato de os indivíduos, a partir
de determinado estágio de treinamento, demorarem mais a
exibir efeitos observáveis. Isso deve ser levado em conta no
planejamento e avaliação das atividades. Sabendo-se disso,
uma boa estratégia seria a variação dos exercícios, trabalhando
múltiplos grupamentos musculares, mudando a ênfase da
aplicação das cargas assim que se constatasse uma estabilização
prolongada da força em um exercício qualquer. Um outro
benefício disso, no caso de desmineralização óssea, seria a
variação dos vetores de força, favorecendo o reforço do osso
em diferentes angulações.
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As cargas podem ser altas para os idosos?
Sim, as cargas podem ser altas para os idosos. Aliás, como
a prescrição do exercício é basicamente a mesma, elas são semelhantes à de adultos jovens, ao menos em termos relativos.
Quer dizer, um determinado percentual da carga máxima
pode corresponder a pesos absolutos menores, mas a cargas
relativas similares. Isso é determinado em função do estado
físico individual, não da idade. Um comentário adicional
que pode ser feito, diz respeito à contraposição que se faz
entre poucas repetições e cargas altas e muitas repetições com
cargas baixas. Na verdade, uma prescrição mais segura deveria
afastar-se destes extremos. Cargas muito elevadas, com poucas
repetições, impõem um estresse demasiado à estrutura ósteoarticular dos idosos, não raro mais frágil que a de jovens. Além
disso, cargas elevadas representam contrações isométricas
longas, o que pode levar a picos hipertensivos [36].
Por outro lado, cargas baixas com demasiadas repetições
podem aumentar o risco de lesões por estresse de repetição.
Outro risco associado a esse tipo de prescrição é o aumento
da carga imposta ao miocárdio [3], o que não seria desejável. O treinamento da força é uma atividade razoavelmente
segura, em virtude de seu caráter intermitente, mas muitas
repetições induzem a uma situação semelhante à observada nas
atividades de longa duração, aumentando as necessidades de
monitorização do exercício. Idealmente, é indicado trabalhar
com cargas intermediárias, que possam melhorar igualmente a
força máxima e a resistência muscular, com riscos reduzidos de
intercorrências cardiovasculares e/ou ósteo-mio-articulares.
O risco de lesões e acidentes é maior entre idosos? Como
prevenir?
Em virtude dos efeitos do processo de envelhecimento
sobre a estrutura óssea, articular e cardiovascular, o risco de
lesões é maior entre idosos. Isso se torna ainda mais evidente quando se sabe que os períodos de recuperação entre as
sessões de treinamento tendem a ser mais longos para este
grupo. Se precauções não forem tomadas, situações de supertreinamento (overtraining) podem ocorrer, potencializando o
risco de lesões.
Muitas providências podem ser tomadas para prevenir os
riscos de lesões em idosos praticantes de musculação. É importante realizar um exame clínico, levantando principalmente as
condições ósseas, articulares, musculares e cardiovasculares. O
profissional de educação física deve levar em consideração estas
informações não apenas para liberação dos praticantes para a
atividade, mas para planejá-las. Algumas situações patológicas
específicas, com a respectiva providência para diminuir o risco
de acidentes são listadas a seguir [23,37,38]:
a) Osteoporose: evitar atividades com impacto excessivo.
Aumentar as cargas gradativamente, dedicando especial atenção à técnica de execução dos movimentos, para otimizar os
vetores de força sobre os ossos e diminuir os riscos de fraturas.
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No entanto, deve-se lembrar que cargas altas são necessárias
para se ter algum efeito sobre a mineralização óssea;
b) Artrose: enfatizar a condução dos movimentos de forma
lenta, até o máximo possível de sua amplitude e respeitando
os limites da dor. Nestes casos, a administração das cargas
é secundária, devendo-se valorizar a manutenção do arco
funcional de movimento;
c) Varizes: optar sempre pela posição de realização dos
exercícios que mais facilite o retorno venoso. Como isso,
freqüentemente, está relacionado à posição deitada, ter atenção aos riscos de hipotensão postural. Evitar cargas muito
altas, associadas a contrações estáticas ou demasiadamente
longas;
d) Hipertensão: os níveis de pressão arterial devem estar
obrigatoriamente controlados. Evitar cargas altas, pois contrações intensas, longas ou estáticas, provocam picos hipertensivos indesejáveis;
e) Diabetes: a glicemia deve estar obrigatoriamente controlada. Observar atentamente sinais de hipoglicemia durante
as sessões, principalmente na parte da manhã. O diabético
deveria evitar tomar insulina cuja ação máxima coincida com
o momento do treinamento, além de ser aconselhável não
injetá-la na musculatura que será trabalhada naquela sessão;
f ) Cardiopatias: apesar do pouco risco de intercorrências
em cargas moderadas e número não excessivo de repetições, o
cardiopata deveria realizar o treinamento da força em clínicas
especializadas, com capacidade de monitorização cardíaca do
esforço e de intervenção imediata. As cargas são, em geral,
moderadas. O número de repetições não deve ser excessivo,
devido à maior sobrecarga miocárdica. Uma boa opção é
dividir as séries em duas partes, intercalando períodos de
repouso freqüentes entre elas.
Fora isso, pode-se mencionar algumas recomendações
gerais:
Evitar cargas ou repetições demasiadamente altas.
Trabalhar com faixas intermediárias, de 8 a 12 repetições
máximas;
De forma geral, ordenar os exercícios dos grandes para os
pequenos grupamentos musculares. Nos idosos, isso parece
diminuir o acúmulo de ácido lático e a fadiga durante a sessão,
com repercussão sobre a percepção do esforço realizado;
Evitar interferir no tempo de recuperação entre as séries
e os exercícios, alongando-os tanto quanto possível. Lembrar
que a recuperação do idoso é mais lenta;
Realizar os movimentos em uma velocidade de conforto.
Velocidades altas aumentam os riscos de lesão articular, dificultando uma execução com boa qualidade técnica;
Evitar mudanças bruscas de posição (sentado, deitado, em
pé) devido aos riscos de hipotensão postural;
Evitar exercícios com equilíbrio instável (tipo agachamento), em razão do risco aumentado de quedas;
Evitar bloquear a respiração quando da aplicação da tensão
muscular (manobra de Valsalva), em virtude do aumento a
da pressão arterial e da pressão intratorácica, com elevação da
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sobrecarga cardíaca e limitação do retorno venoso durante a
execução do exercício;
Observar a evolução dos ganhos de força, variando os
exercícios quando constatada uma estabilização por longos
períodos.
Conclusão
Conclui-se que o trabalho de força direcionado aos idosos,
quando bem administrado, traz efeitos positivos não apenas
no nível dos ganhos de força, mas também em uma melhor
capacidade de realização das atividades cotidianas. Uma maior
reserva de força nas tarefas do dia-a-dia, certamente, terá
influências no perfil de autonomia funcional do indivíduo
que envelhece.
Além disso, a manutenção da massa magra, provavelmente, tem repercussões positivas sobre as taxas metabólicas
basais, contribuindo com a prevenção do acúmulo de gordura
corporal. Isso, por si só, tende a diminuir os riscos para o
desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas,
como a hipertensão e o diabetes.
Vem sendo demonstrado que o trabalho com pesos em
níveis moderados, longe dos extremos de repetição ou carga,
implica menos riscos para intercorrências cardiovasculares
que as próprias atividades aeróbias. Assim, o treinamento da
força vem sendo aceito – e até indicado – para populações
para as quais era contra-indicado até um passado recente. É
comum ver centros em que pacientes hipertensos, cardiopatas, diabéticos, portadores de osteoporose realizam atividades
dessa natureza.
O mesmo é observado em indivíduos idosos. No entanto,
em sendo uma prática recente, muitas dúvidas ainda persistem, como as referentes às possibilidades de treinabilidade
da força em longo prazo. Por outro lado, algumas certezas
já se configuram – dentre elas, o fato de que o treinamento
da força é uma atividade em que os benefícios superam, em
muito, os riscos que porventura possam existir.
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effect of resistance-intensity on strength-gain response in the
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adults. Med Sci Sports Exerc 2001;33:2145-56.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação
com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade
física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica
da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos
(CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted
to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional
de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que
são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão
atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em
pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por
um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relação a aspectos
experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional
que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos,
Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel,
etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 158
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas
à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de
um artigo de revisão.
5. Relato ou estudo de caso
São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados
em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
8. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista.
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,
será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar
a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte
maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e
com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos
devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,
CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública
do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise
e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c)
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão
ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A
participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o
total de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 159
159
os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências
da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no
endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do
possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as
referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com
o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site
da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser
citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - E-mail: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 3 -setembro/dezembro 2008
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Calendário de eventos
Abril
2009
3 a 7 de abril
Janeiro
35º ENAPEF
Capão da Canoa, RS
Informações: www.apefrs.com.br
10 a 14 de janeiro
XXIVº Congresso Internacional de Educação Física
Foz de Iguaçu, PR
Informações: www.congressofiep.com
Junho
11 a 13 de junho de 2009
Fevereiro
XIIIo Congresso Paulista de Educação Física
Jundiai, São Paulo
Informações: www.editorafontoura.com.br
11 a 14 de fevereiro
XIIIo Simpósio Brasileiro de Fisiologia Cardiovascular
Ouro Preto, MG
Informações: www.xiiisbfc.ufop.br
Novembro
6 a 8 de novembro
Março
26 a 29 de março
Saúde Sport e Fitness
Centro de Convenções de Goiânia
Informações: (61) 3349-0101
E-mail:[email protected]
XIIIº Simpósio Internacional de Atividades Físicas do Rio
de Janeiro - SIAFis RJ
Rio de Janeiro, RJ
Informações: 2295-5340, www.ipcfex.ensino.eb.br
24 a 25 de novembro
III Seminário de Pesquisa em Ciências da Atividade Física
da Universo
Niterói, RJ
Tel: (021) 3604-6396
Cursos
Janeiro
Julho
24 a 31 de janeiro
18 a 26 de julho
CTE- Centro de Treinamento Esportivo
Tel: (11) 2714-5677/2714-5664
Informações: www.institutophorte.com.br
E-mail: [email protected]
VI Encontro Internacional Esporte e Atividade Física
Informações: (011) 2714-5678
Site: www.encontrophorte.com.br
E-mail: [email protected]
Abril
11 a 17 de abril
Ciências da Performance Humana
UFRJ - Especialização Latu Sensu
EEFD / UFRJ
Informações: (21) 2562-6803 / 2562-6826 / 8122-0060
E-mail: [email protected]
Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 160
18/12/2008 23:33:19

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