Maio de 2012 -N 426 - Agência de Comunicação da UFSC

Transcrição

Maio de 2012 -N 426 - Agência de Comunicação da UFSC
A reabertura do Museu Arqueológico e Etnográfico Oswaldo
Rodrigues Cabral e a inauguração do Pavilhão Expositivo Sílvio
Coelho dos Santos reuniu na UFSC duas gerações de museólogos e antropólogos. O espaço também trará ao público a obra
de Franklin Cascaes, que não podia ser exibida por falta de condições adequadas. Exposição Ticuna em dois tempos pode ser
vista até 25 de outubro
p. 10
Foto: Cláudia Reis
Museu para o mundo
Impresso
Especial
991295/2006-DR/SC
UFSC
CORREIOS
Jornal
Universitário
Universidade Federal de Santa Catarina - Maio de 2012 - Nº 426
“A UFSC que queremos”
toma posse
EdUFSC
Romance e
surpresa
p. 4
Nova reitoria promete administrar com ética e diálogo permanente
p. 2, 6 e 7
Foto: Wagner Behr
Biodiversidade
Sinal
vermelho
p. 8
A comunidade vê o que
a Universidade faz
Obesidade
A Ciência
se mexe
p. 9
Show
Paul une
gerações
p. 12
Alvaro Prata transmite o cargo para Roselane Neckel em cerimônia concorrida no Centro de Cultura e Eventos
Cultura
Aplicação inspira jovens cientistas
I Mostra de Projetos de Iniciação Científica do Ensino Médio do Colégio de Aplicação
apresentou 31 trabalhos sobre diversos
temas; bolsistas são orientados por profes-
sores do Colégio, têm currículos inscritos na
plataforma Lattes e apresentem relatórios de
pesquisa periódicos
p. 5
Janela para
a poesia
p. 11
Caiu na cesta
Do Editor
Ética & transparência
Família unida. Roselane Neckel foi muito aplaudida
ao apresentar pai, mãe, filha, marido e Francisco, o filho
de quatro anos que subiu ao palco na hora do discurso.
A reitora também foi muito ovacionada quando chamou
para dentro das universidades os movimentos sociais.
“Querido Paraná”. O ex-reitor Alvaro Prata, que
assume secretaria no MCTI, fez uma referência toda
especial ao seu vice, Carlos Alberto Justo da Silva.
Moacir Loth
Comunicação parceira. A equipe da Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional
da Universidade Federal do Ceará (UFC) deflagrou
uma cooperação com a Agecom/UFSC, cuja direção
conheceu, in loco, o belo trabalho que vem realizando
a instituição parceira.
Voz ativa. A dirigente do DCE limitou-se, na Mesa,
a cumprimentar a reitora eleita. Ignorou Prata e até
a ministra Ideli, mas citou Florestan Fernandes.
Parceria. A Revista História Catarina, editada há
seis anos em Lages, tem sido uma parceira preciosa
da UFSC. Seu editor, Cláudio Rodrigues da Silveira,
vem abrindo espaço permanente à comunidade
acadêmica. os contatos podem ser feitos via e-mail:
[email protected].
51. O deputado federal Pedro Uczai provocou risos
ao propor uma cachacinha em comemoração à posse.
Ações afirmativas. As cotas nas universidades
venceram de goleada no STF: 10 votos a zero.
Inclusão. O pessoal de Libras deu um show à
parte. A UFSC é referência na área.
Ironia. Chargista Wagner Behr, da Agecom,
ganhou de presente o livro Confesso que bebi, do
cartunista Jaguar. A fila de empréstimo é grande...
Governabilidade. A governabilidade, na opinião
da vice-reitora Lúcia Pacheco, deve ser amparada pelo
respeito aos princípios éticos e à responsabilidade
social da Administração que ora assume a UFSC.
Ponderado. Celso Ramos Martins (Sintufsc) surpreendeu com discurso político e articulado.
Incentivo. A ministra Ideli Salvatti encorajou a reitora a vencer os enormes desafios que terá pela frente.
Na retaguarda. Mais adjuntos, os servidores
técnico-administrativos minguaram no primeiro escalão
da nova Reitora.
Cultura. O Madrigal fez chorar entoando o Hino da UFSC.
Educação. Vaias abafaram o discurso do Secretário de Estado da Educação, Eduardo Deschamps, que
não fez feio representando o governador Colombo.
Carta ao Convivência. Caso o destino do prédio
do Centro de Convivência for mesmo a implosão, é
bom avisar antes para que não caia em cima dos
Correios que ali resistem e funcionam bem.
Memória
Morreu no dia 29 de abril o
ex-professor Carlos Raul Borenstein, de 59 anos, formado
em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul e que lecionou na UFSC de
1976 a 2000, quando se afastou
para o tratamento de um câncer.
Além de dar aulas nos departamentos de Energia Elétrica e
de Automação, ele coordenou o
curso por 10 anos e participou do
Conselho de Pesquisa da instituição. Deixou mulher e uma filha.
Não se trata exatamente de uma
guerra, mas a prefeitura já fez a primeira vítima no debate sobre a cessão
do terreno da UFSC para ampliação da
Rua Deputado Antônio Edu Vieira: a
verdade. Ora, o próprio vice-prefeito
manifestou a necessidade da ampliação para uso exclusivo de transporte
público em ofício ao conselheiro que
elaborou um dos pareceres sobre o
processo. Esta opinião embasou o
parecer que suspende (sem negar!)
a cessão até que se tenha elaborado
um projeto consistente de via exclusiva para ônibus ou outra destinação
que priorize o transporte público em
detrimento do automóvel. Não se entende, portanto, onde está o interesse
na celeuma criada pela PMF contra a
universidade.
Para piorar o ataque à seriedade
da postura da UFSC, surge a proposta
absurda do deputado Marcos Vieira
de encaminhar à Alesc um projeto de
lei revertendo a doação do campus
da Trindade que o Estado fez à UFSC!
Incidentalmente, o vice-prefeito gosta
de citar meu nome quando diz que na
“academia” eu seria o único a defender
sua visão de BRTs para a cidade.
O homem da rua e
a ruiva do homem
tisfazendo exatamente carências jurídicas
encontradas nas abundantes, dinâmicas
e defeituosas normas que regem as relações das IFES com suas apoiadoras. Proporcionam segurança jurídica, frente aos
constantes questionamentos e demandas
dos Órgãos de Controle, aperfeiçoamento
e simplificação dos procedimentos e instrumentos de avenças e mais agilidade na
resolução dos processos. Enfim, transmitem a certeza da presença de uma efetiva
advocacia pública capaz e preparada não
apenas para prestar consultoria e assessoramento jurídicos, como também para
promover defesa junto aos Órgãos de
Controle e ao Poder Judiciário.
Creio que todos quantos tiveram necessidade dos serviços da Procuradoria
Federal junto à UFSC encontraram sempre presentes, acessíveis e à disposição o
procurador-chefe, os demais procuradores
e os servidores técnicos, administrativos
e de apoio. Perceberam grande esforço
no sentido de bem atender. E receberam,
por certo, pronto atendimento, soluções
adequadas e respostas concretas que
satisfizeram plenamente. Ou seja, a Procuradoria desempenha sua função, sem
favor algum. Cumpre seu dever. Por essa
razão, tem sido destaque incontestável
nesses últimos quatro anos.
Quem o viu pregado ao mesmo chão
por tantos anos, não ousou tirar-lhe dali
para apregoá-lo à outra serventia. O
homem da rua, cordial pela prudência
do tempo, justificava a mesmice da sua
moradia pela descoberta de onde, nele,
a mesmice morava. Respirava com a ardência e a expectativa de um paciente a
livrar-se da alta. Ardia e passava a língua
pela poeira dos calçados amarrotados
dos homens de casa que volta e meia
voltavam e não o despertavam. Ardia
pelo estômago o refugo do ar que o tinha
sobrado ou que, por piedade, tinham lhe
deixado. O que restava, a mancha do
estômago libado, servia-o pela mesma
utilidade que a mancha dum borro numa
xícara de café. O que restava era sair da
pequena estância para despedir-se da
sua companhia. Não suportava, e era
natural que fosse assim, ter o próprio
corpo como cúmplice e própria alma
como castigo. Era preciso mandar-se
embora para se conhecer assim como
era preciso esperar o sono para acordar.
Da mania de esconder-se por debaixo dos pés ou por detrás das portas,
descobriu que se fazia existir pelas costas
dos olhos. Só através dele se encontrara.
Observava-o com veracidade, e não havia maior nudez do que fechar os olhos
copiosamente. Assim, vestia-se como
queria e se escondia como pudera. A
livrar-se das suas manias.
O homem da rua, cordial pela cumplicidade do trajo, disfarçava a verdade
para admiti-la. Arrancou-lhe a roupa
do peito como quem rasga a página
de um livro, sem hesitar, sem tempo
para arrependimento. Com o tempo,
iria arrancar os dentes para agarrar
as desculpas entre a boca e arrastar
a saudade pela calçada. O homem da
rua desinfetava-se da personagem do
engano, decidia-se pelo bem me quer
de cada cílio, arrancando-os um de cada
vez. E descobria que cruzar os braços
sobre o peito, como quem debruçasse
os cotovelos numa janela – feito do coração um resguardo – era o único jeito
de receber um abraço. Ardia, pastava do
medo, fingia falar grego para denunciar
sua tragédia e ria, caçoava, gargalhava
nas costas da dor.
Explicar-se na língua nativa, lembrar-se da voz, é desmaiar de olhos
arregalados. O homem da rua, cordial
pela benevolência dos sentidos, tinha da
memória um incômodo. A voz perdia-se dele como de um traço de lápis,
apagava-se com o tempo. Primeiro, a
voz. A primeira a se apartar da lembrança. Depois a imagem, a escrita, o gesto,
o cheiro. Mas antes de tudo, a voz. O
homem ressoava num canto a busca
do tom desperdiçado pelo abandono.
Moldava a mandíbula, a laringe, os
pulmões. Buscava as formas do rosto
de quem lembrasse para imitar a voz,
queria era mesmo, ouvir-se noutro
corpo. Já havia esquecido, e era natural
que fosse assim, onde, nele, as vozes
moravam.
O homem da rua, cordial por obediência, despertava de um corpo pronto
para ir embora. E a alma, cheia de
torpor, pronta para jamais lhe dizer
adeus. O homem, da rua cordial, queria
descobrir em que parte do seu corpo e
onde, nele, a ruiva morava.
Nilto Parma
Ex-chefe da Procuradoria Federal/UFSC
Ricardo Pessetti
Bolsista de Jornalismo na Agecom
Estranhamente, quando a voz do
egrégio Conselho Universitário é no
sentido de priorizar projetos para
transporte por ônibus, o vice-prefeito
vem a público acusar a UFSC de negar
o bem-estar à população.
Lamentavelmente, a súbita mudança
de postura em favor de projetos viários
imediatistas traz prejuízos à verdade e à
construção de uma alternativa moderna
e sustentável de mobilidade urbana com
transporte público de qualidade.
Werner Kraus Jr.
Professor da UFSC
Foto: Wagner Behr
Jornal Universitário II. Além das dificuldades
de distribuição, só não é mais lido porque o hábito da
leitura, no campus, é crítico! No Fórum, a crítica ao
JU não foi sentida. Soou como incentivo, até porque
quase 1.500 exemplares são enviados para leitores
da comunidade externa!
Tempo. Tem razão Octavio Paz: “O presente é
fruto no qual vida e morte se fundem”.
“
Frase
Consideramos que a UFSC tem um
papel fundamental de intervenção
social e um dever com a sociedade de
difundir o conhecimento-- Roselane
Neckel, reitora da UFSC
A professora Neide Almeida Fiori, que trabalhou
durante 23 anos na Universidade Federal de Santa
Catarina (Departamento de
Sociologia e Ciências Políticas), onde se aposentou
em 1999, morreu no dia 4
de maio em Florianópolis.
Mestre em Ciências Sociais
pela Escola de Sociologia
e Política de São Paulo e
doutora em Sociologia pela
UFSC, ela tinha 77 anos e le-
cionava no curso de Mestrado em Educação da Unisul.
Publicou dezenas de artigos
e escreveu seis livros durante a carreira, entre eles
“Santa Catarina de todas as
gentes: história e cultura”,
que foi adotado pela rede
estadual de ensino. Também
desenvolveu muitos projetos
de pesquisa com apoio do
CNPq, tendo sua Bolsa de
Produtividade em Pesquisa
alcançado o nível IA.
Expediente
Elaborado pela Agecom - Agência de Comunicação da UFSC . Campus Universitário - Trindade - Caixa Postal 476 . CEP 88040-970, Florianópolis - SC.
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Fotografia: Brenda Thomé (Bolsista), Dayane Ros (Bolsista), Wagner Behr . Arquivo Fotográfico: Aldy Maingué, Ledair Petry . Editoração e Projeto Gráfico: Cláudia Schaun
Reis (Jornalista) . Divisão de Gestão e Expediente: João Pedro Tavares Filho (Coord.), Beatriz S. Prado (Expediente), Rogéria D´El Rei S. S. Martins, Romilda de Assis (Apoio) .
Impressão: Arte Brasilis
UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 2
A verdade atropelada
Jornal Universitário I. O JU é uma referência
entre as universidades brasileiras. Por aqui ganhou
ou foi finalista de quatro prêmios de jornalismo, disputando com os jornalões.
“
Realizados em três expedientes nos dias 2, 3 e 4
de maio, no auditório principal do Centro de Cultura
e Eventos, o Fóruns de Planejamento da gestão “A
UFSC que queremos”(2012/2016) podem ter inaugurado uma nova era na cultura administrativa da
universidade. Bem divulgados e abertos à comunidade interna e externa, focaram as áreas e setores
essenciais para o bom funcionamento de uma instituição comprometida com a sociedade e a nação.
A participação abaixo das expectativas não comprometeu os conteúdos e a qualidade dos debates e
propostas. Os diagnósticos produzidos pelas equipes
de transição são preliminares e carecem de aperfeiçoamento, mas constituem uma base sólida para
a administração Roselane Neckel-Lúcia Pacheco dar
os primeiros passos à frente do maior patrimônio
público dos catarinenses.
Superando nas eleições a chapa Carlos Alberto
Justo da Silva (Paraná) e Vera Bazzo, que representaram a Administração na sucessão do professor
Alvaro Toubes Prata, as novas reitoras assumem o
desafio de dar conta dos compromissos inadiáveis
com a transparência, a pluralidade, a responsabilidade administrativa, a valorização das pessoas, a
profissionalização da gestão, o fortalecimento da
democracia interna e a sustentabilidade. A tarefa
é complexa, porém plenamente exequível com o
engajamento e a participação de toda a comunidade
universitária.
A solenidade de posse, no dia 10 de maio, encheu
o auditório do Centro de Eventos, ficando marcada
como um evento democrático, emocionante e representativo.
O diálogo franco e aberto, exercido diuturnamente com os três segmentos da universidade, será com
certeza um divisor de águas nas relações de poder
na universidade.
A gestão do reitor Diomário de Queiroz representou uma fratura ideológica na UFSC em 1992 e,
de quebra, colocou na vice-reitoria uma mulher, a
professora Nilcea Lemos Pelandré.
Na última eleição, aconteceu uma revolução de
gênero. Duas mulheres, pela primeira vez, comandam a UFSC. Roselane, entre outros fatores, foi favorecida pelo bom desempenho das Ciências Humanas,
pelo contexto político, pelas alianças estratégicas
(Irineu Manoel de Souza e Carlos Righi), pelos atos
falhos dos adversários e pela facilidade do discurso.
Na abertura do Fórum, a reitora repetiu o que
já havia frisado na campanha: a comunicação é
essencial para o equilíbrio e o funcionamento de
qualquer instituição, pois envolve diálogo, respeito,
ética, além da arte de saber ouvir.
É, portanto, espaço legítimo para o exercício da
democracia e da liberdade de expressão. A comunicação pública, sublinhou a reitora, vai respaldar
as ações e reflexões, isto é, está na base da Gestão
e no conceito da Administração. A Lei de Acesso à
Informação, vigente a partir do dia 16 deste mês,
vai corroborar com a disposição da Reitoria.
A Política Pública de Comunicação da UFSC é detentora do principal prêmio de Jornalismo Científico
do País (o José Reis, do CNPq). Conversar, dialogar,
mediar, educar, avaliar e compartilhar são verbos
conjugados na Agecom.
Comunicação pública não é sinônimo de Política
Pública. Eis a questão!
A comunicação cuida da saúde da instituição
Artigos
Uma Procuradoria presente
A Procuradoria Federal junto à UFSC,
a partir do nosso comando e com o nosso
compromisso, passou a percorrer o caminho
mais curto para a eficiência, e estabeleceu,
com sucesso, verdadeiras parcerias, na prática. Na mais importante e visível, a atual
Administração da UFSC não tem medido
esforços no sentido de dotar a Procuradoria
e seus Procuradores de excelentes condições de trabalho para proporcionar melhor
desempenho das funções: espaço físico
e equipamentos de qualidade invejável;
biblioteca composta de títulos dos mais importantes juristas da atualidade, suficientes
à boa pesquisa no ramo de atividade da
Procuradoria; cursos de capacitação; meios
para realização e participação de eventos;
inserção no Plano de Saúde; alocação de
pessoal técnico, administrativo e de apoio;
alocação de estagiários de direito e de informática. De sua parte, a Procuradoria tem
sido incansável no atendimento pessoal e
por telefone aos componentes da Administração da UFSC; na manifestação aos
mais de três mil processos administrativos
anuais e mais de novecentas demandas em
processos judiciais; no assessoramento a
inúmeros processos de licitações, de contratos, de convênios e de acordos de parceria;
na análise e consideração das demandas
por repactuação; na elaboração e revisão
de instrumentos de convocação, no encaminhamento e na assistência aos diversos
procedimentos disciplinares; no ofereci-
mento de palestras e cursos de capacitação
aos servidores da UFSC; na participação em
reuniões promovidas pela Administração da
UFSC; e em eventos internos e externos,
especialmente representando a UFSC e a
Procuradoria Federal.
Outras parcerias no campus envolvem
necessariamente as Fundações de Apoio,
as quais, não se pode deixar de reconhecer,
têm estado diariamente ao lado da Procuradoria. Destaque especial para a Fapeu,
a qual, inclusive, abriga a Procuradoria
Federal em suas instalações, gentil e graciosamente, mas sem qualquer interferência.
São as Fundações de Apoio, aliás, que
proporcionam condições à UFSC de executar com destacado e notório sucesso os
projetos de pesquisa, extensão, ensino e
desenvolvimento. Para tanto, seus serviços
mostram-se ágeis, sempre prontos, com
pessoal preparado. Geram eficácia.
A cada dia compreende-se mais a importância que representam as Fundações
de Apoio para as Instituições Federais de
Ensino Superior. Sem elas, a execução dos
projetos fica um pouco órfã, um tanto desamparada, sujeita ao tratamento comum
atribuído no serviço público aos processos
administrativos em geral. Aliás, nesse aspecto, seus expressivos e incontestáveis
resultados positivos desmentem os céticos
e os contrários.
E essas parcerias entre a Procuradoria
Federal e as Fundações de Apoio vêm sa-
UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 3
Glauber Rocha volta à cena com reinvenção do romance
Colégio de Aplicação estimula pesquisa desde cedo
Editora da UFSC lança, em parceria com Itaú Cultural, nova edição de Riverão Sussuara, obra literária única e definitiva do cineasta
I Mostra de Projetos de Iniciação Científica do Ensino Médio do Colégio de Aplicação apresentou 31 trabalhos sobre diversos temas
Foto: Raquel Wandelli
Raquel Wandelli
Jornalista na SeCArte
O diretor da EdUFSC, Sérgio Medeiros,
também é o editor da obra
Conhecido por sua rebeldia intelectual e por uma obra cinematográfica
admirada e incompreendida, Glauber
Rocha também atravessou com inventividade o deserto da literatura. No aniversário de 30 anos de sua morte, a Editora da UFSC resgata a dívida do Brasil
com a obra literária de um dos seus
mais criativos artistas e intelectuais,
que revolucionou o cinema e reinventou
a língua portuguesa. Riverão Sussuarana, o único e definitivo romance do
mentor do Cinema Novo, esgotado há
mais de três décadas, ganhou em abril
uma nova edição, publicada em parceria
com o Instituto Itaú Cultural.
Polêmico, vociferante, ousado, erudito e transgressor, Glauber sempre
será um marco na cultura brasileira.
Para dar visibilidade a esse acontecimento, o lançamento da obra, na Fun-
dação Cultural Badesc, começou com
uma mesa redonda sobre a importância
de Riverão Sussuarana. Os professores
Jair Fonseca, do Curso de Literatura da
UFSC, e a professora Dirce Waltrick do
Amarante, do Curso de Artes Cênicas,
discutiram as relações do cinema e da
literatura de Glauber com James Joyce
e Guimarães Rosa. Fonseca, que assina
o posfácio do livro com o ensaio “Guimarães Rocha e Glauber Rosa”, mostrou
a influência de Rosa sobre os “filmes
sertanejos” de Glauber, a exemplo de
Deus e o diabo na Terra do Sol, de 1964,
enquanto Dirce falou principalmente
sobre as aproximações de linguagem
com o escritor irlandês.
Ao abrir a mesa redonda, o professor
salientou o grau de experimentação e
ousadia com que o diretor de Deus e o
diabo na Terra do Sol e Terra em transe
brinca com os mitos sagrados da cultura
brasileira, como a figura do sertanejo
e o próprio significado emblemático
de Guimarães Rosa, autor de Grande
sertão: veredas, que vira personagem
da desnovela do cineasta tropicalista.
“O romance é uma injeção de estímulo
nos dias de hoje, quando a literatura
brasileira se tornou tão careta”.
Ao seu modo tropicalista e antropofágico de criação, Glauber processa as
diversas contribuições dos grandes nomes da cultura moderna e pós-moderna
com gênio crítico e inventivo, inovando
na trama e na linguagem, crivada de neologismos e palavras-valise (onde vários
vocábulos compõem um só). Marcada
pelo memorialismo, pela autobiografia
e pela autoficção, a obra teve um impacto estético e cultural silencioso, mas
profundo, alcançando, como o cinema
premiado de Glauber, admiradores no
exterior. Além de uma espécie de alucinado making off sobre o romance feito
pelo próprio autor, a edição traz duas
resenhas analíticas assinadas por Fonseca e o crítico Mário Câmara.
Renovela, desnovela, recordel
Depois de dois anos de negociação com a família do cineasta, Riverão... volta às livrarias envolto em
duas capas sobrepostas: a original,
desenhada pela viúva Paula Gaettan,
na publicação da Record de 1978,
sobreposta pela atual, da artista
gráfica catarinense Lúcia Iaczinski,
de modo que é possível ler nesse
palimpsesto as tendências estéticas
e políticas de diferentes períodos
históricos da cultura brasileira.
A intersecção pela linguagem
e pela travessia do sertão entre
os dois autores brasileiros, que
dividem, além das iniciais, uma
intertextualidade com a obra de
James Joyce, outro inovador da
linguagem narrativa, foi aprofundada pela professora Dirce. “Sua
obra subverte as classificações de
gênero, misturando novela, jornalismo, literatura de cordel, teatro,
romance, poesia, música”, explica
a professora. Glauber extrapola as
classificações de gênero, como o
próprio autor explica em entrevista
em 1981: “O livro é ao mesmo tempo um manifesto literário e estético.
A teoria e a prática daquele livro são
transferidas para a música, para o
cinema, qualquer tipo de arte. [...]
Incorpora uma espécie de renovela,
de desnovela, de recordel”.
Para ilustrar o painel, alunos do
Curso de Artes Cênicas dirigidos por
Dirce apresentaram uma divertida
leitura performática da peça de
teatro que integra o romance da
página 119 a 137, interrompendo
a narrativa épica com o que o autor
chama de “um teatrinho sertanejo”.
Jacqueline Kremer, Marina Vershagem, Angélica Mahfuz, Márcio
Cabral, Lourenço Lombardi, Robson Walkowski e Eduardo Stahelin deram vida aos personagens
sertanejos, coronéis e jagunços de
Glauber, de modo que os 30 anos
de sua morte foram bem marcados
em Florianópolis.
Surpresa marca Concurso Rogério Sganzerla
Trinta e quatro anos separam a confecção das duas
capas; a original (acima)
foi concebida pela viúva
de Glauber, Paula Gaettan, e a atual é criação
de Lúcia Iaczinski, artita gráfica da EdUFSC
da EdUFSC, Sérgio Medeiros, o vencedor
compareceu à Editora em seguida para
combinar a publicação das peças. “Com
certeza temos uma revelação da dramaturgia aí”, assinalou Medeiros. “Duas criações
premiadas de um mesmo autor mostram
talento e consistência”.
Ator do grupo Dearaque Cias, que participou da Maratona Cultural com a peça Medo
de morrer longe de ti, André diz que as duas
peças são suas primeiras experiências de
autoria completa com roteiro para teatro.
Já assinou, contudo, algumas adaptações e
está concluindo um terceiro roteiro chamado A distância, que deverá também dirigir
depois de retornar da Argentina, onde concluirá e defenderá sua dissertação. A alegria
da notícia aumentou quando o dramaturgo
se soube triplamente vencedor: no mesmo
dia, seu grupo de teatro também ganhou o
Edital Nelson Rodrigues, da Funarte, com
uma peça em comemoração ao centenário
de nascimento do autor.
Como prêmio, André terá seus roteiros
publicados ainda este ano em forma
de livro junto com a biografia do
autor e ainda três ensaios comentando suas peças assinados pelos
integrantes do Júri, as professoras
Clélia Mello, do Curso de Cinema
da UFSC, Dirce Waltrick do Amarante, do Curso de Artes Cênicas,
e Márcio Markendorf, do Curso de
Literatura. Por considerar as peças
de André superiores às demais inscritas, entre um total de 15 roteiros O diretor da EdUFSC elogiou André: “Duas criações
para teatro e cinema, a comissão premiadas de um mesmo autor mostram talento e
decidiu premiar duas obras do consistência”.
mesmo gênero. Clélia conta que se
surpreendeu com a escrita distinta
e Rogério Sganzerla em uma área carente de
das peças vencedoras, Suéter laranja, mais profissionais em Santa Catarina, conforme
leve e tragicômica, e Não sempre, mais explica o diretor da Editora, Sérgio Medeiros.
dramática. “Pareciam duas personalidades Em 2010, o catarinense Sganzerla, que permuito distintas e não o mesmo autor. Essa tenceu ao grupo de jovens cinemanovistas
maleabilidade mostra que existe aí um artis- liderados por Glauber e Júlio Bressane,
ta de fato”, comentou a presidente do Júri. também teve sua obra ensaística reunida
O Concurso de Roteiros busca incentivar na obra Edifício Rogério, mais uma parceria
o surgimento de talentos como o de Glauber entre EdUFSC e Itaú Cultural (R.W.)
UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 4
O vídeo falava de lembranças, e uma delas fez com
que as crianças e os adolescentes pensassem em como
se relacionam com os símbolos de exaltação da pátria: a
professora de Letras da UFSC, Alai Garcia Diniz, registrou
que, durante a ditadura brasileira (1964-1985), permaneceu cerca de um mês presa, sendo obrigada a cantar
o hino nacional várias vezes todos os dias. Das tantas
cicatrizes da época, a docente guarda a convicção de que
seu sentimento patriótico tornou-se vazio e nunca mais
entoou a canção oficial. Resultado final do trabalho intitulado “Ditadura Militar: olhares do passado e do presente”,
de Ana Luiza Shimomura Spinelli, 16 anos, o vídeo foi
apresentado durante a I Mostra de Projetos de Iniciação
Científica (Pibic) do Ensino Médio do Colégio de Aplicação
(CA) da UFSC, realizada em 18 de abril, no próprio CA. Ao
todo, foram 31 trabalhos sobre os mais diversos temas
desenvolvidos em 2011.
“A Mostra comprova que a pesquisa é possível, viável
e muito importante na formação dos alunos”, defende o
professor Manoel Teixeira dos Santos, coordenador de
pesquisa e extensão do Colégio e orientador de Ana Luiza. Além de ressaltar a sensibilidade que os estudantes
desenvolveram durante o trabalho de campo, com os
entrevistados, o professor entende que o evento, como
finalização de todo o processo, atingiu seu objetivo. “Constatamos nas apresentações que os estudantes dominaram
os temas abordados, e a Mostra foi fundamental para
que compartilhassem essas novas informações com os
colegas, estimulando os bolsistas deste ano a avançarem
em suas pesquisas”.
Lina Ribeiro Venturi, 16 anos, estuda clarinete, e Otto
Henrique Thiel, 17, piano. Os dois decidiram entender
o porquê da exclusão da mulher na história da música
erudita. A partir do trabalho, produziram vídeo com passagens da vida de algumas musicistas, como Maria Anna
Mozart – irmã de Wolfgang Amadeus –, entrevistas com
professores do CA e profissionais da área. A pesquisa
apontou que, antes do século XIX, as mulheres eram
consideradas incapazes de produzir música de qualidade;
peças com vozes agudas eram executadas por meninos,
que, não raro, eram castrados – a fim de evitar a produção
dos hormônios que tornam a voz dos rapazes mais grave
a partir da puberdade – se quisessem continuar a cantar.
Isis Shandra Santos, 15 anos, também utilizou a bolsa
Pibic para buscar respostas a questões do seu dia a dia.
Integrante de uma família de vegetarianos, nunca tinha
entendido muito bem porque a mãe insistia em utilizar
cosméticos que não são testados em animais. Depois da
pesquisa, a estudante percorreu o campus com lista de
empresas que testam seus produtos e outra das que não
testam em mãos. “Eu perguntava a marca do rímel que
as mulheres usavam, então lhes contava como os testes
eram aplicados nos bichos”.
Hoje ela diz que seu entendimento sobre a questão
mudou. “Tenho outro olhar sobre as empresas; se as
pessoas pararem de consumir, os processos serão modificados, evitando o sofrimento de muitos animais”. Isis quer
cursar Biologia, mas pensa também em Direito, para se
“especializar na área ambiental e defender os animais”. O
próximo tema que pretende pesquisar é a influência que
a mídia exerce nos jovens.
Fotos: Wagner Behr
Os bolsistas têm Currículo Lattes, são orientados por
profesores do CA e apresentam relatórios de pesquisa;
na foto de baixo, Ana Luíza e o professor Manoel
Pibic do Ensino Médio e PIP-CA
Desde o Fundamental
Desde 2010 o Colégio de Aplicação oferece anualmente 34 bolsas Pibic
Ensino Médio a seus alunos. Com duração de 12 meses, o projeto do governo
federal, vinculado ao CNPq e oferecido pela Pró-Reitoria de Ensino de Graduaçao
(PREG) e pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão (PRPE), estipula que seus
bolsistas sejam orientados por professores do CA, tenham currículos inscritos na
plataforma Lattes e apresentem relatórios de pesquisa no decorrer do processo.
Para concorrer às bolsas os estudantes têm seus boletins avaliados e realizam
entrevista com os orientadores. Devido à grande procura, em 2012 o CA criou o
Programa de Iniciação à Pesquisa (PIP-CA), abrindo mais 18 vagas e mantendo
as especificações do Pibic – incluindo aí o valor das bolsas, de R$100 mensais.
Antes de chegar ao Ensino Médio, porém, os alunos já têm contato com a pesquisa:
na oitava série do Ensino Fundamental cursam a disciplina de Iniciação Científica, que
é atrelada ao projeto Pé na Estrada do Conhecimento, instituído no CA há doze anos.
A partir do projeto, os estudantes realizam viagens de estudo, conhecendo lugares
como a barragem de Itá, onde entrelaçam diversas áreas do conhecimento, estudando
a ocupação histórica, a geologia do local e a produção de energia.
Por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) em parceria com o CNPq, o Colégio mantém também o Pibic Junior,
que oferece duas bolsas de pesquisa para alunos do Ensino Fundamental.
Mais informações com o professor Manoel: [email protected].
Foto: Fernanda Canto
Resultado confere ao jovem André Felipe Costa Silva os dois prêmios do concurso promovido pela Editora da UFSC
Um novo talento da dramaturgia catarinense foi revelado pelo Concurso Rogério
Sganzerla de Roteiros para Cinema e Teatro,
promovido pela Secretaria de Cultura e Arte
e Editora da UFSC. Sob os pseudônimos
Ariosto Montanha e Moreno Auc, André Felipe Costa Silva foi duplamente vencedor do
concurso, para surpresa do público e do júri,
que esperava dois primeiros colocados. Na
noite de lançamento de Riverão Sussuarana,
de Glauber Rocha, em 18 de abril, o público
conheceu a decisão unânime da comissão
julgadora, que premiou André duas vezes
com os roteiros para teatro Suéter laranja
em dia de luto e Não sempre.
Formado em Artes Cênicas pela Udesc
em 2009 e mestrando em dramaturgia pelo
Instituto Universitário Nacional Del Arte,
de Buenos Aires, o jovem dramaturgo não
estava presente na cerimônia e recebeu a
notícia do resultado na manhã do dia seguinte por telefone. “Fiquei muito surpreso
e feliz”, diz o artista, que completou 25
anos no dia 14 de abril. A convite do diretor
Cláudia Schaun Reis
Jornalista na Agecom
Prevenção do câncer na mira
de pesquisadores mirins
Ana Luísa Funchal
Bolsista de Jornalismo na Agecom
Os fatores genéticos têm papel importante na incidência do câncer, mas já
está comprovado que adotar hábitos mais
saudáveis pode diminuir a ocorrência da
doença. As alunas do Colégio de Aplicação
da UFSC Júlia Ceccon Ortolan e Heloisa
Marques Baumgratz escolheram o tema
“Câncer e hábitos de vida: como viver de
forma preventiva” para sua pesquisa de
iniciação científica, apresentada na I Mostra de Iniciação Científica do Ensino Médio.
O objetivo das estudantes foi estudar
outros fatores, não os hereditários, e
como uma mudança de postura pode
influenciar na prevenção à doença.
Orientadas pela professora Mariana
Borsa, utilizaram estatísticas do Instituto
Nacional do Câncer (INCA) e dados do
livro “O Anticâncer: Prevenir e Vencer
Usando Nossas Defesas Naturais”, do
médico frânces David Servan Schreiber,
morto em julho do ano passado, e que há
20 anos lutava de forma alternativa contra
um câncer no cérebro.
Além de explicarem as diferenças entre
um tumor benigno e maligno, como ocorre
a metástase (disseminação de células cancerígenas através do sistema sanguíneo
ou linfático no organismo) e quais são os
tipos de câncer de maior incidência entre
mulheres, homens e etnias, as alunas
apresentaram um cardápio ideal.
Júlia e Heloisa ressaltam que os legumes
são importantes. No entanto, é preciso
saber qual a procedência, já que a maioria
é tratada com agrotóxicos, agentes que
podem causar diversos tipos de câncer. A
preferência é pela ingestão de alimentos
orgânicos ou pela compra em mercados
variados, para que não sejam consumidos
sempre os mesmos alimentos, tratados
com as mesmas substâncias, evitando o
acúmulo no organismo.
As estudantes também abordaram o
consumo de gorduras trans. Presente em
produtos industrializados, além de ser desnecessária para o organismo e aumentar as
taxas do colesterol ruim, pode duplicar as
chances de desenvolvimento de câncer de
mama. E alertaram sobre cereais refinados,
que perdem suas propriedades nutritivas
após o processo industrial, aumentam as
taxas de insulina e podem causar câncer
em diversas partes do corpo, como o fígado, rim, pele e colo-retal. Por esse motivo,
é preferível a ingestão de cereais integrais.
Entre as fontes de proteína, a preferência é para os peixes. Defumados, presuntos
e bacon apresentam alcatrão, substancia
cancerígena, que também está presente no
cigarro. O tabagismo e a alta ingestão de
álcool estão entre os hábitos de risco estudados pelas alunas Júlia Ceccon e Heloisa
Marques. O sedentarismo é outro vilão na
luta pela prevenção. Realizar atividades
físicas pode diminuir em 11% as chances
UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 5
de desenvolvimento do câncer de mama.
“Um sistema imunológico fragilizado
facilita o desenvolvimento de neoplasias
(alterações celulares ou crescimento exagerado das células)”, explica Júlia sobre
a importância de uma vida mais calma e
de evitar o estresse. Como produto final
da pesquisa, as alunas elaboraram uma
cartilha de prevenção. “Ela é quase uma
provocação para questionar os hábitos de
vida atuais das pessoas”, conta Heloísa.
O estudo é um dos 31 trabalhos integrados ao Projeto de Iniciação Científica
do Ensino Médio do Colégio Aplicação. “A
pesquisa no Ensino Médio é muito importante para formação, uma oportunidade
privilegiada. Ela consolida a pesquisa no
Colégio Aplicação. A parceria com o CNPq
[Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico] dá um respaldo
para o colégio”, explica Manoel Teixeira
dos Santos, coordenador de pesquisa e
extensão do CA.
A UFSC sob nova direção
Posse da primeira reitora da UFSC lotou Centro de Cultura e Eventos; Roselane Neckel reforçou o comprometimento de posicionar a UFSC a serviço do Estado e do País
Foto: Wagner Behr
Foto: João Neto/MEC
Paulo Clóvis Schmitz
Jornalista na Agecom
Muito emocionada, e agradecendo a formação recebida dos pais, moradores do interior de Santo Amaro da
Imperatriz, a professora Roselane Neckel foi empossada
no dia 10 deste mês como a primeira reitora mulher da
Universidade Federal de Santa Catarina. Ela e a vice-reitora Lúcia Helena Martins Pacheco, vencedoras do
segundo turno da eleição realizado em 30 de novembro
de 2011, receberam os cargos do reitor Alvaro Toubes
Prata e prometeram trabalhar para que “a instituição
não cometa os erros do passado e ajude na construção
de um Brasil melhor”. Elas vão comandar os destinos
da UFSC até maio de 2016.
Desde o momento em que subiu ao palco para
compor a mesa, a nova reitora foi muito aplaudida,
especialmente pelos estudantes, que foram essenciais
para a sua vitória no pleito do ano passado. Após a
solenidade, que contou com a presença da secretária
de Relações Institucionais da presidência da República, Ideli Salvatti, do deputado federal Pedro Uczai e
do secretário de Educação do Estado, Eduardo Deschamps, além de representantes de alunos, servidores
e de outras entidades da área da educação, a reitora
anunciou os nomes dos pró-reitores e ocupantes dos
demais cargos que farão parte de sua equipe.
As manifestações mais fortes do discurso de Roselane Neckel foram no sentido de colocar a UFSC a
serviço do Estado e do País. “Devemos ser um espaço
de construção de sujeitos cidadãos”, afirmou. “Temos
o direito de sonhar com um Brasil melhor e superar
desigualdades sociais que nos atingem de norte a
sul”. Ela também ressaltou a importância de continuar sendo humilde, mesmo investida num cargo de
tamanha relevância, e destacou que de pouco valem
os títulos se não houver o compromisso com a ética
e a seriedade na postura pessoal e profissional.
Entre os compromissos que assumiu estão a ado-
ção de uma política de permanência dos estudantes,
reduzindo a evasão acadêmica, a potencialização do
uso dos recursos públicos e uma postura pró-ativa e
propositiva frente aos governos federal, estadual e
municipal.
Também houve manifestações críticas à política
federal na área da educação, por parte do representante do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos (Sintufsc) da Universidade, Celso Ramos
Martins, e da representante do Diretório Central dos
Estudantes (DCE). O deputado Pedro Uczai destacou
o governo federal na expansão dos Institutos Federais de Educação e a criação da Universidade Federal
da Fronteira Sul (UFFS), com sede em Chapecó. E a
ministra Ideli Salvatti valorizou a presença crescente
das mulheres na direção de universidades no país, já
que na mesma semana o ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, empossou Roselane Neckel e mais duas
reitoras em Brasília.
Em seu pronunciamento, o reitor Alvaro Prata afirmou que saía com o sentimento do dever cumprido,
mas ressaltou que “a universidade está sempre inacabada”. “Se mais não fizemos”, disse, “foi por não
ter conseguido superar obstáculos de uma instituição
complexa como a nossa”.
Homenagem – Um dia antes da posse, a professora Roselane Neckel foi homenageada pelos servidores
técnico-administrativos, professores e estudantes
do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da
universidade, onde desenvolveu a maior parte de sua
carreira. Nos discursos, foi lembrada a sua trajetória,
desde quando lecionava, passando pela direção do
Centro, até tornar-se reitora da instituição. No final
da cerimônia, ela recebeu flores, um cartão e uma
placa para registrar a despedida. Roselane agradeceu
e enfatizou que seu trabalho só foi possível pelo apoio
recebido do CFH. “Várias pessoas sempre pensam melhor do que uma e nós só chegamos até aqui graças
ao trabalho de todos”, disse.
Os novos pró-reitores e seus adjuntos
Posse em
8 de maio,
no MEC; em
seu discuso,
Roselane
Neckel disse
que irá
priorizar a
extensão
Foto: Wagn
er Behr
Festa surpresa de
despedida e de
aniversário de Roselane,
no CFH. “Só chegamos até
aqui graças ao trabalho
coletivo de todo o Centro”
O momento de
transmissão do
cargo: a nova
reitora agradeceu
a formação
recebida dos pais
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Durante a
cerimônia de
transmissão
de cargo,
Roselane
empossa a
vice-reitora,
Lúcia Martins
Pacheco
Chefia de Gabinete
Carlos Antonio Oliveira Viera e Elci Terezinha de Souza Junckes
Pró-Reitoria de Graduação
Roselane Fátima Campos e Rogério Luiz de Souza
Pró-Reitoria de Pós-Graduação
Joana Maria Pedro e Juarez Vieira do Nascimento
xo
Foto: Velho Bru
Pró-Reitoria de Pesquisa
Jamil Assereuy Filho e Heliete Nunes
O filho
Francisco
também subiu
ao palco para
prestigiar a
posse da mãe
Pró-Reitoria de Extensão
Edison da Rosa e Maristela Helena Zimmer Bortolini
Pró-Reitoria de Planejamento e Orçamento
Luiz Alberton e Izabela Raquel
Pró-Reitoria de Administração
Antônio Carlos Montezuma Brito e Irvando Luiz Speranzini
Foto: Wagner Behr
Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis
Beatriz Augusto de Paiva e Simone Matos Machado
Secretaria Especial de Aperfeiçoamento Institucional
Airton Lisle Cerqueira Leite Seelaender e Jeanine Nicolazzi Philippi
Secretaria de Cultura
Paulo Ricardo Berton e Luiz Fernando Pereira
Secretaria de Relações Internacionais
Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho
Secretaria de Gestão de Pessoas
Neiva Aparecida Gasparetto Cornelio e Suzana da Rosa Tolfo
Foto: Wagner Behr
Os Fóruns e o debate democrático
Foram realizados entre os dias 2
e 4 de maio, no Centro de Cultura
e Eventos, os Fóruns de Planejamento para a Nova Administração
da UFSC, gestão 2012-2016, com
nove sessões temáticas. O objetivo
era apresentar para a comunidade
o diagnóstico realizado pela Equipe de Transição, debatendo com o
público, de forma franca, crítica e
O Centro de Cultura e Eventos ficou lotado durante a cerimônia histórica
propositiva, as políticas para a administração da reitora Roselane Neckel e da vice-reitora Lúcia Helena
Martins Pacheco, que assumiram no
dia 10 de maio. O Fórum também
recebeu sugestões e propostas das
comissões que cuidaram das políticas para a extensão e para as áreas
do planejamento, infraestrutura e
patrimônio.
Assuntos estudantis
Pesquisa e Pós-graduação
Hospital Universitário
Entre as necessidades apresentadas pela Comissão de
Políticas Estudantis apareceram a revisão dos critérios de
concessão da Bolsa Permanência (hoje atrelada unicamente
ao fator socioeconômico), a
ampliação de vagas na Moradia
Estudantil em Florianópolis e
a construção de edificações
destinadas à residência dos
alunos nos campi de Joinville, Curitibanos e Araranguá.
Também foram sugeridos o
fortalecimento da assistência
à saúde dos estudantes e o
incentivo às práticas esportivas por meio de programas e
projetos institucionais.
Na área da Pesquisa e Pós-graduação, a criação de uma política
institucional que inclua, além destas áreas, a inovação, reforçada pelo
estímulo à implantação de projetos cooperativos com pesquisadores de
outros países, foi objeto de propostas feitas durante os Fóruns de Planejamento. Também foi sugerida a articulação com autoridades para colocar
o conhecimento a serviço de políticas públicas. Não menos relevantes
foram as ideias de ampliar o papel das câmaras, aumentar o número de
bolsas PIBIC e de pós-graduação e investir na melhoria da comunicação
organizacional para facilitar o fluxo de informações.
As recomendações incluíram a criação de um setor
para acompanhar os projetos de ensino, pesquisa e
extensão, a oficialização da carga horária de 30 horas
semanais e a revisão da estrutura do HU, dimensionando com equidade a questão dos CDs e FGs. Também foram citados a criação de um setor de auditoria
interna, a inclusão de um representante do HU no
Conselho Universitário, a melhoria da segurança dos
pacientes e servidores, a valorização do Conselho
Diretor do hospital (completando a sua composição) e
um estudo das necessidades de pessoal, considerando
os cargos vagos em função da expansão e também
do aumento do número de aposentadorias.
Novos campi
Em relação aos novos campi da UFSC, o Fórum ouviu sobre a necessidade
de superar deficiências como a falta de autonomia administrativa e orçamentária, de estrutura organizacional, de laboratórios de ensino, de funcionários
e de segurança. Os representantes dos campi de Joinville, Curitibanos e
Araranguá também propuseram a ampliação do foco de cada campus para
além dos municípios sede, o acercamento das áreas e a implantação de
melhor iluminação para abrir a possibilidade de turmas noturnas.
UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 6
O Fórum também recebeu sugestões e propostas
das comissões que cuidaram das políticas para a
extensão e para as áreas do planejamento, infraestrutura e patrimônio.
Comunicação institucional
Uma das propostas é a criação do Comitê Gestor
de Comunicação, que trabalhe pelo estabelecimento
de diretrizes estratégicas e princípios norteadores
para uma política institucional no setor. Outra ideia
é conferir autonomia, sobretudo financeira, aos
setores envolvidos com a comunicação. No fórum,
Graduação
a comunidade sugeriu que dar maior visibilidade ao
conhecimento produzido na Universidade, melhorar
a comunicação interna (entre os setores), trabalhar
a comunicação institucional em um nível estratégico
(dando a ela um status executivo de secretaria) e
utilizar as redes sociais para a divulgação científica.
Cultura e arte
Nesta área, que ganhou status de secretaria e
maior visibilidade na última gestão, há a necessidade de remover o problema de falta de pessoal e de
equipe preparada para a busca de recursos via editais
em alguns setores. A SeCArte conta com orçamento
próprio, porém o Departamento Artístico Cultural e o
Museu de Arqueologia e Etnologia Professor Oswaldo
Rodrigues Cabral têm suas atividades prejudicadas
pela falta de recursos. Entre as propostas apresentadas estão as de aparelhar melhor o teatro, restaurar
exemplares do patrimônio (como a Igrejinha), investir
no Centro de Cultura e Eventos, concluir as obras
do Centro de Convivência e implantar projetos mais
intensos e contínuos na área da cultura e arte.
Relações institucionais
Melhorar a interação da universidade com os governos municipal, estadual e federal, qualificar a relação
entre as instituições e fundações públicas e privadas
vinculadas à UFSC e criar um canal de comunicação
com os órgãos externos fazem parte do rol de propostas
para a área das relações institucionais apresentadas no
Fórum de Planejamento. No âmbito das relações internacionais, um dos desafios é melhorar a estrutura para
auxiliar os jovens que vêm do exterior para estudar na
universidade. Outra proposta é agilizar o trabalho dos
departamentos e coordenações de cursos para adaptar
disciplinas e o quadro de horário a esses estudantes.
A preocupação com a evasão acadêmica fez parte
dos debates relativos ao ensino de graduação, porque,
mesmo tendo caído de 1.670 para 664 em quatro anos
(de 2008 a 2011), as desistências ainda precisam ser
reduzidas na universidade. Com ampla participação
da plateia, a sessão discutiu outros temas importantes
para a graduação, como a aproximação da pró-reitoria
com os novos campi, a integração entre os ensinos a
distância e presencial e a valorização das licenciaturas.
Gestão de pessoas
Identificar com clareza os objetivos dos diferentes
setores que compõem a instituição, suas atividades
e estruturas, facilitando que se chegue a definições
sobre “por que fazer, para que fazer, como fazer”, é
um dos desafios da universidade na área de gestão
de pessoas. A comissão que trabalhou esse tema no
Fórum identificou que diversos setores têm atribuições semelhantes, que são executadas de formas
distintas, quando poderiam ter maior qualidade em
processos sistematizados e padronizados. O público presente também levantou questões relevantes
como a capacitação dos futuros gestores e elevada
carga de trabalho e suas implicações sobre a saúde
dos trabalhadores (P.C.S).
UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 7
Biodiversidade marinha em alerta
Crianças: alimentação X atividade física
Rede Nacional de Pesquisa em Biodiversidade Marinha comprova redução de peixes no litoral do Brasil
Projeto do Departamento de Nutrição beneficiará estudantes de sete a dez anos
Arley Reis
Jornalista na Agecom
Resultados preliminares da Rede
Nacional de Pesquisa em Biodiversidade Marinha (Sisbiota Mar) confirmam
cientificamente cenário conhecido na
prática por pescadores e comunidades
litorâneas brasileiras: a quantidade de
peixes na costa está muito menor do que
em ambientes mais protegidos, como as
ilhas oceânicas. Nestas ilhas, a biomassa
marinha chega a ser quatro vezes maior
do que nas localizadas próximo ao litoral.
Os dados que resultam de censos
visuais subaquáticos, realizados em
expedições marinhas, serão apresentados na Austrália, no mês de julho,
em um dos mais importantes eventos
científicos na área de pesquisa marinha,
o 12th International Coral Reef Sympo-
sium (ICRS 2012).
“As ilhas oceânicas estão muito
mais preservadas do que as da costa,
pois no litoral a pressão é muito maior.
Era um dado já esperado e agora documentado”, informa o professor do
Departamento de Ecologia e Zoologia
da UFSC Sergio Floeter, coordenador
da Rede Nacional.
O apoio financeiro direcionado ao
Sisbiota-Mar pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado
de Santa Catarina (Fapesc) e CNPq já
permitiu a realização de expedições
ao Atol das Rocas, Barreirinhas e Maracajaú (no estado do Rio Grande do
Norte); a Tamandaré e ao arquipélago
de Fernando de Noronha (Pernambuco);
a Maragogi (Alagoas); a Ilhas de Guarapari (Espírito Santo) e Baía de Todos
os Santos (Bahia).
Quatro quilômetros quadrados
em baixo d´água
Em cada uma das saídas de campo, censos visuais possibilitaram o
levantamento da biomassa. Esse dado representa a média de peixes
em quilogramas, em áreas demarcadas de 40 metros quadrados. As
informações são registradas pelos pesquisadores em mergulhos, com
estimativas sobre quantidade e tamanho dos peixes. De acordo com
Floeter, essa é uma metodologia adotada por pesquisadores da vida
marinha há mais de 20 anos. A Rede já realizou levantamentos de
cerca de 100 amostras de 40 metros quadrados em cada ilha ou local
da costa (o que representam aproximadamente quatro quilômetros
quadrados investigados em baixo d’água em cada expedição).
Dados que já haviam sido obtidos em estudos anteriores e sua
comparação com os atuais revelam grandes diferenças entre os
ambientes. Em relação a ilhas de Santa Catarina, por exemplo, o
ambiente oceânico de Atol das Rocas (também uma Reserva Biológicas Marinhas, assim como a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo)
tem biomassa quatro vezes maior (12.9 kg/40m² documentados no
Atol e 3,3 kg/40m² em ilhas de Santa Catarina).
Fotos: Projeto Sisbiota/Mar
A quantidade de peixes na costa está quatro vezes menor do que em ambientes
mais protegidos, como as ilhas oceânicas
Há esperança para a Arvoredo
De acordo com Floeter, a
Ilha da Trindade, localizada
cerca de 1.200 quilômetros
a leste de Vitória, é outro
local em que foi documentada grande biomassa. “Não é
um parque ou reserva, mas
é muito distante, por este
motivo fica mais preservada”,
avalia o biólogo que integra o
Programa de Pós-Graduação
em Ecologia da UFSC e já
orientou diversos trabalhos
de graduação e pós-graduação sobre as comunidades de
peixes no litoral catarinense.
No caso das ilhas de Santa Catarina, com estudos
realizados pela equipe de
Floeter desde 2006 e que
incluem ambientes da Reserva Biológica Marinha do
Arvoredo, os dados não são
bons. “Mas a biomassa dentro da Reserva é ainda assim
bem melhor do que fora
dela”, ressalta o pesquisador, otimista com o trabalho
proporcionado pela pesquisa
em rede, que integra estudiosos de oito universidades
brasileiras (UFSC, UFRGS,
USP, UFF, UFRJ, UFES, UFC
e UFRPE), envolve 15 programas de pós-graduação,
15 Pesquisadores de Produtividade do CNPq e jovens
pesquisadores.
Ana Luísa Funchal
Bolsista de Jornalismo na Agecom
Uma pesquisa anual divulgada pelo
Ministério da Saúde indica que o Brasil
mantém uma tendência ao aumento do
excesso de peso e obesidade entre adultos. A preocupação envolve também
crianças, pois cerca de um terço entre
cinco e nove anos estão com excesso
de peso e 14% estão obesas, segundo
dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2010 do IBGE.
Um projeto do Departamento de
Nutrição da UFSC vai ajudar a monitorar
o problema entre estudantes de sete
a dez anos. Com recursos do Fundo
Nacional de Saúde, ligado ao Ministério da Saúde, está sendo desenvolvido
um sistema de vigilância online para
acompanhar o consumo alimentar e a
atividade física nesta faixa etária.
O projeto coordenado pela professora Maria Alice Altenburg de Assis é
pioneiro no Brasil. “Outros programas
de monitoramento já existem junto ao
Ministério da Saúde, como um para
estudo de comportamentos de risco em
adultos (Vigitel), que abrange o consumo de álcool e tabaco, e a Pesquisa
Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), que
monitora comportamentos de risco em sobre vendas de alimentos e oferta de
adolescentes matriculados no nono ano merenda.
do ensino fundamental. Mas o sistema
Para a validação do sistema, a
que estamos desenvolvendo é o único expectativa da equipe é de que entre
que estudará o consumo alimentar e as outubro e novembro deste ano os aluatividades físicas
nos da Escola Luiz
entre o segundo
Cândido da Luz,
e o quinto ano
no bairro Vargem
do ensino funGrande, em Floriadamental, prinnópolis, respondam
Finalizada a etapa
cipalmente em
online perguntas
relação à obesisobre o que comede validação,
dade”, explica o
ram durante o dia,
o sistema será
doutorando Fiquais atividades
testado em 35
lipe Ferreira da
realizaram e qual
Costa, que partio grau de satisfaescolas públicas de
cipa do trabalho.
ção do alimento
Florianópolis que
A proposta
ingerido. Finalizada
atendem cerca de
é coletar dados
a etapa de valianualmente no
dação, o sistema
6.300 crianças
meio digital. Os
será testado em 35
resultados podeescolas públicas de
rão ser acessaFlorianópolis que
dos por escolas
atendem cerca de
ou municípios, como um suporte ao 6.300 crianças na faixa etária abordada.
Programa Nacional de Alimentação “Nosso objetivo é testar o sistema de
Escolar (PNAE) e a outras iniciativas monitoramento apostando em alcançar
que busquem a promoção de atividade uma abrangência maior no futuro”,
física e alimentação saudável. O sistema complementa Filipe, sobre a possibilitambém poderá colaborar com o acom- dade de o sistema ser integrado a todas
panhamento da eficiência da legislação as escolas públicas do país (A.R).
Os frutos da bromélia nativa da Mata Atlântica combatem doenças respiratórias
Foto: Flora SBS
Arley Reis
Jornalista na Agecom
suporte científico
dos peixes
antidade e tamanho
timativas sobre qu
es
m
co
s,
lho
rgu
me
pesquisadores em
o registradas pelos
As informações sã
UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 8
Os dados serão coletados anualmente,
e os resultados poderão ser acessados
por escolas ou municípios
Aproveitamento sustentável do caraguatá
Estratégias para
Ao longo de três anos,
devem ser aplicados quase
R$3 milhões em pesquisas
que vão gerar suporte científico para estratégias de conservação da biodiversidade
marinha nacional e conhecimento sobre o potencial
farmacológico dos biomas
marinhos. Nos dias 26 e 27
de março, pesquisadores da
Rede se reuniram em Vitória
(ES), para integração e compartilhamento dos estudos.
De acordo com Floeter, a
equipe já processa também
resultados promissores sobre espécies marinhas que
podem contribuir com o
desenvolvimento futuro de
fármacos, mas que levarão
ainda algum tempo para
serem divulgados.
Foto: Brenda Thomé
“A espécie mostra potencial econômico e seu
uso pode ser estimulado com a utilização
em programas de diversificação ou de
incremento de renda para comunidades
rurais e semi-urbanas” - Samantha Filippon
“Seus frutos são ingeridos tanto
in natura como em preparados, como
remédio contra a tosse, com ação expectorante nas infecções respiratórias,
recomendados para o tratamento de
asma e de bronquite. Os mesmos frutos são considerados antihelmínticos,
sendo que seu sumo tem ainda efeito
sobre tecidos decompostos, deixando
feridas completamente limpas”. A
descrição do potencial da Bromelia
antiacantha, publicada pelo padre
pesquisador Raulino Reitz no fascículo da Flora Ilustrada Catarinense
Bromeliáceas e a malária - bromélia
endêmica permanece como estímulo
a novos estudos.
Um deles é a tese Uso e manejo de
Caraguatá (Bromelia antiacantha) no
Planalto Norte Catarinense: está em
curso um processo de domesticação?,
em desenvolvimento junto ao Programa de Pós-Graduação em Recursos
Genéticos Vegetais da UFSC.
O trabalho da bióloga Samantha
Filippon com a bromélia nativa da
Mata Atlântica é uma continuidade dos
estudos iniciados em seu mestrado,
orientado no mesmo programa pelo
professor Maurício Sedrez dos Reis (e
agora com coorientação do professor
Nivaldo Peroni).
A pesquisa é realizada em áreas
da Floresta Nacional de Três Barras,
UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 9
administrada pelo Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A floresta é localizada
no planalto norte de Santa Catarina,
entre os municípios de Três Barras
e Canoinhas. O trabalho envolve a
comunidade de Campininha, que participa da “Rede para geração do conhecimento na conservação e utilização
sustentável dos recursos florestais
não madeiráveis da Floresta Ombrófila
Mista”, financiada e coordenada pela
Embrapa.
A meta é esclarecer aspectos sobre
o manejo do caraguatá nas paisagens
com maior interferência humana,
principalmente na confecção das cercas vivas. O projeto vai buscar informações sobre a seleção das plantas,
de onde vêm as mudas, quem faz
as cercas e por que – pois ainda que
não sejam mais utilizados os antigos
mangueirões, ainda são feitas cercas
com a bromélia.
“Essa espécie mostra potencial
econômico e seu uso pode ser estimulado com a utilização em programas
de diversificação ou de incremento de
renda para comunidades rurais e semi-urbanas”, considera a bióloga. “Mas são
necessários mais estudos para avaliação
do impacto da extração sobre a diversidade genética e a regeneração natural,
assim como sobre sua disponibilidade
para a fauna, o que pode auxiliar o estabelecimento de estratégias sustentáveis
de manejo”, complementa.
UFSC inaugura o maior museu arqueológico do Sul do País
A edificação tem três grandes salas de exposição com controle de temperatura e umidade, acessibilidade, terraço, laboratório, café, salas para atividades educativas e conferências
Fotos: Cláudia Reis
Raquel Wandelli
Jornalista da SeCArte
O Museu Universitário da UFSC é hoje uma das
maiores estruturas museológicas do país em tamanho
e excelência
Duas gerações de antropólogos e museólogos
se encontraram na noite de terça, 24 de abril, para
celebrar a evolução do Museu Universitário em cinco
décadas de história. A instituição que começou a
funcionar em uma estrebaria adaptada, na antiga
Fazenda Assis Brasil, onde a UFSC se instalou na
década de 60, passa agora a ostentar uma das maiores estruturas museológicas do país em tamanho e
excelência. O encontro ocorreu durante a reabertura
do Museu Arqueológico e Etnográfico Oswaldo Rodrigues Cabral e inauguração do Pavilhão Expositivo
Sílvio Coelho dos Santos, que agora poderá expor
coleções arqueológicas e indígenas de valor cultural
inestimável, além da obra de Franklin Cascaes, que
não podiam ser exibidas por falta de espaço adequado
de conservação. A primeira exposição, denominada
“Ticuna em dois tempos”, uma herança de Sílvio Coelho, abriu no dia 9 de maio (veja box).
Com a inauguração do pavilhão, o museu reabre
suas portas após uma década em que se manteve
fechado ao público, concentrando-se apenas no trabalho de pesquisa. Ao abrir a cerimônia, o reitor Alvaro
Prata disse estar entregando à comunidade de Santa
Catarina um prédio construído inteiramente com recursos próprios (R$ 5 milhões) dentro do que há de
excelência em matéria de museu e acessibilidade. Prata
acrescentou que a universidade precisará do apoio das
instituições de fomento cultural e da comunidade catarinense para equipar e mobiliar a obra, com um total
de 2.400 metros quadrados, seguindo o seu padrão
internacional. A então secretária de Cultura e Arte,
Maria de Lourdes Borges, afirmou que o museu será
uma referência na América Latina, pela importância do
seu acervo que agora poderá ser conhecido.
Cerca de 300 pessoas, entre estudantes, professores, pró-reitores, diretores de centro, ex-reitores,
jornalistas, parlamentares, dirigentes de instituições
culturais do estado participaram da primeira visita
ao Pavilhão, composto por cinco andares com elevadores, sendo dois mezaninos, três grandes espaços
expositivos e um terraço para exposição de grandes
objetos e apresentações artísticas, além de salas
para atividades culturais e educativas, laboratórios
de restauração, café e sala de estar. O grande homenageado da noite foi o antropólogo Sílvio Coelho dos
Santos, ex-pró-reitor de Ensino e de Pesquisa e Pós
Graduação da UFSC, e um dos fundadores do museu
ao lado de Oswaldo Rodrigues Cabral, Walter Piazza
e Anamaria Beck. Representado pela esposa, Alair
Santos, o filho Paulo e a neta Júlia, bióloga, Silvio
Coelho deixou antes de morrer, em 2008, coleções
de objetos das etnias indígenas de Santa Catarina de
grande importância histórica e cultural e também dos
índios Ticuna, de Manaus.
Diretoras de três períodos diferentes do museu
participaram da solenidade: Anamaria Beck, Neusa
Bloemer e Teresa Fossari, a atual dirigente. Uma das
fundadoras do antigo Instituto de Antropologia, que
deu origem ao museu, Anamaria Beck fez um relato
sobre os desafios que ela e Sílvio Coelho dos Santos
enfrentaram para criar a instituição e fomentar os
acervos e confessou: “Pensei que não fosse suportar a
emoção quando vi o seu nome na entrada do pavilhão”.
Revolução na concepção e filosofia de atuação
Com três grandes salas de exposições totalizando
1.900 metros quadrados, todas apresentando condições ideais de climatização, iluminação, controle de
umidade e um eficiente sistema de segurança monitorado, a nova construção vai dar vazão ao trabalho
de pesquisa que o museu manteve durante todas
essas décadas. “Nossas coleções são peças-chave
para compreender a formação do povo catarinense”,
salientou Teresa Fossari. A diretora disse também que
o prédio possibilitou a mudança de estatuto e nome
do Museu Universitário para Museu de Arqueologia e
Etnologia Professor Oswaldo Rodrigues Cabral (MArquE). “Agora temos um padrão de conservação apto
Ticuna em dois tempos:
homenagem ao amor
e ao conhecimento
Foto: Wagner Behr
Acervo foi reunido no final dos anos 60
em plena selva amazônica
para receber qualquer acervo do mundo em circulação
pelo país”, lembrou Fossari, que agradeceu o empenho
de toda a equipe.
Até mesmo a manifestação de uma turma de estudantes de Geologia, que aproveitou a inauguração
para protestar contra a falta de professores, entrou no
espírito de congraçamento em torno da conquista. Garantindo que a reitoria está envidando todos os esforços
para que o Congresso Nacional aprove a contratação de
mais professores, o reitor considerou justa e procedente
a manifestação dos alunos, que espontaneamente recolheram as faixas e cartazes e participaram em harmonia
do evento e da visita ao novo museu.
Desde a vivência com os Ticuna
(Túkuna, na grafia original) até o dia
de sua morte, em outubro de 2008, de
câncer, Sílvio Coelho dos Santos dedicaria sua inteligência e energia física à
compreensão do modo de ser índio. No
dia 9 de maio o MArquE apresentou pela
primeira vez ao público a coleção com
53 objetos recolhidos entre os Ticuna e
os registros de campo, compostos por
135 diapositivos (slides) e dois diários
produzidos pelo antropólogo catarinense
no coração da selva amazônica. Desde
que retornou da expedição, no final dos
anos 60, esse legado esteve depositado
na Reserva Técnica da antiga sede do
Museu Universitário, do qual ele foi um
dos fundadores, aguardando as condições de climatização e conservação que
um acervo dessa natureza e importância
exige para ser exposto.
A exposição “Ticuna em dois tempos”, que fica aberta ao público até 25
de outubro, traz à tona essa história de
Padrão para qualquer acervo do mundo
amor ao conhecimento e homenagem
a mais numerosa nação indígena da
Amazônia brasileira e também do país.
Cruza dois olhares de duas épocas
distintas em duas coleções produzidas
com critérios e objetivos diferentes sobre a mesma etnia. De um lado, o olhar
do historiador e antropólogo catarinense representado no material coletado
durante a sua participação no Curso
de Especialização em Antropologia no
Museu Nacional (da antiga Universidade
do Brasil), no Rio de Janeiro, na década
de 1960. Integram o conjunto de Sílvio
Coelho adornos pessoais, cerâmicas,
cestos e utensílios domésticos, bonecas
esculpidas em madeira, estatuetas em
madeira de macaco prego, esculturas
antropozoomorfas, mantas, remos,
indumentárias completas, brinquedos
infantis, um tambor e principalmente
bastões cerimoniais, máscaras e outros
objetos ritualísticos utilizados na Festa
da Moça Nova, além de slides de figuras
UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 10
humanas e paisagens.
De outro lado, está o olhar estético do artista plástico Jair Jacmont,
que formou sua coleção na década
de 1970, adquirindo os objetos dos
próprios índios, na cidade de Manaus.
São mais 135 peças, entre esculturas
antropomorfas e bastões de ritmo
usados para danças e rituais, além
de uma considerável quantidade de
máscaras esculpidas em madeira.
Sob a guarda do Museu Amazônico
da Universidade Federal da Amazônia
desde 1994, essa coleção veio para
Florianópolis como parte de uma
parceria com a Rede de Museus do
Instituto Brasil Plural (IBP). Explica a
diretora do MArquE Teresa Fossari que
a exposição conjunta é um projeto
alimentado há longa data pelas duas
instituições de extremos opostos do
Brasil, com o objetivo de promover o
diálogo entre esses dois reveladores
olhares para a mesma cultura (R.W.).
Foto: Dayane Ros
Ombudsman
A saúde da instituição
Vou subverter a ordem e começar a análise da edição n° 425
de trás pra frente, do mesmo jeito que se deveria sempre viver a
história do mundo, olhando para
trás para recolher as histórias do
passado. O que passou é tesouro
bruto a ser refinado. Dando-lhe o
devido valor é possível detectar
certos cacos antigos que insistem no presente. E percebê-los e
recolhê-los nos livra de cortar os
pés andando pela rua no futuro.
E também, na verdade, sempre
li o jornal de trás pra frente.
Cultura de família do Sul...
Boa matéria da contracapa,
e melhor ainda é o fato em si.
Alunos de Farmacologia fazendo
intervenções poéticas nos frios
banheiros e corredores da sua
Faculdade. Tomar tal atitude é levar quem lê à sinergia, é dar cores a pensamentos cansados do
cotidiano, é transformar mentes
estressadas em almas inquietas
pela surpresa da arte. É aplicar
em quem passa, e em si mesmo,
o conhecimento adquirido, com a
emoção de compartilhar a ânsia
da própria alma, e o gosto de ser
e viver a universidade. A foto da
matéria ilustra bem isso: ambiente insípido onde até o mais
tímido sorriso é colorido.
São 52 anos de uma Universidade que pulsa! Idosos na
academia se gabando da idade
mínima de 80 anos, a Instituição
exibindo com orgulho autores de
obras catarinenses singulares.
Produção de cultura, produção
de conhecimento, assistência
e legitimação de comunidades
distantes. São transformações
realizadas com a única base possível para uma real mudança de
vida e na vida: o conhecimento.
É certo que esta é a missão
da Universidade: produzir conhecimento, assim como divulgá-lo.
Veículos como o JU são fundamentais nas duas proposições.
Quem escreve divulga e abre
o saber a novas descobertas:
a descoberta do outro que lê e
também a própria. Inestimável
o papel do JU e dos que estão
aqui para divulgar e defender os
seus: perscrutar a esfera pública
da vida acadêmica. Todos os que
trafegam nessa esfera merecem
ser ouvidos, a própria Instituição, os servidores, os colaboradores, os alunos, a comunidade
que nutre e é nutrida por ela.
A matéria sobre a duplicação da rua Edu Vieira deixa
isso muito claro. Como pode
um governo fazer exatamente
a mesma proposta indecente
de anos atrás que já tinha sido
recusada por motivos óbvios de
ineficiência? Brava UFSC, que
exige participação em todo o
processo de rearranjo urbano
na região. Ninguém mais qualificado e com interesses reais
de melhoria do espaço do que
a própria Instituição, que tem
as comunidades todas, exceto
a política, ao seu lado. O JU e
sua equipe refletem isso: aqui
não estão a fazer política e nem
acordos financeiros, aqui estão
pelo bem maior: o interesse pelo
público, a dedicação ao próximo (que mesmo distante lhe é
próximo), o debate, o empenho
em estimular o aprendizado e
o ensino. Sábia frase da coluna
de Moacir Loth: a comunicação
cuida da saúde da instituição!
A fase na comunidade acadêmica é de mudança de diretrizes,
enquanto a Instituição, com
seus alunos e docentes, segue a
transitar pelas premiações e importantes colocações na pesquisa
científica. São 52 anos de pesquisa, de formação de cidadãos, são
52 anos de sonhos e de lutas por
uma sociedade melhor. São homens e mulheres de pulso firme
e punhos cerrados peleando por
educação, saúde, comunicação,
cultura e dignidade. Universidade
é lugar de experiência e liberdade. Os textos podem se soltar
mais e criar novas gramáticas,
pois alguns parecem obedecer
as restrições de linguagem da
grande mídia, que não precisam
nem devem constranger os bravos profissionais da UFSC. Mas
caminhando no exercício dessa
liberdade, o JU revela os cacos
da história cotidiana, informa,
ensina e encanta!
Julia Gazzola
Jornalista
Transparência também no site
Além de estar sendo
distribuído pelo campus,
também se encontra disponível na página da Agecom o Relatório 4 anos de
Gestão (2008-2012).
O documento resume
as ações da gestão Prata-Paraná, e soma-se aos
outros três já publicados
a cada ano da Administração da Universidade do
Século XXI.
Os relatórios podem ser
acessados em agecom.ufsc.
br/relatorios-de-gestao.
Imagem
Era para ser apenas uma jornada de atividades em homenagem ao Dia Internacional
da Dança. Mas a força dessa arte acabou tomando as praças, teatros e palcos ao ar livre
do campus universitário de domingo a domingo, em horas de chuva e de sol. Foram oito
dias de workshop, cursos, conferências, oficinas, performances e mostras que atraíram um
público aproximado de mil pessoas durante a I Semana da Dança na UFSC, realizada no
fim de abril. Certamente, como falou o bailarino e coreógrafo internacional Martin Kravitz
em sua participação no evento, “o mundo seria melhor se mais pessoas dançassem”.
Caminhada profissional
A jornalista Elaine Tavares lançou no dia 10 de abril,
na pizzaria San Francesco, em Florianópolis, o livro Em
busca da utopia – Os caminhos da reportagem no Brasil
dos anos 50 aos anos 90. Funcionária da Agecom/UFSC,
ela analisa textos de revistas que fizeram história no país,
como Cruzeiro e Realidade, e outras mais contemporâneas, casos de Veja e Época, para “desvelar sob quais
influências veio se construindo o pensamento teórico
acerca do jornalismo e da reportagem no Brasil”. Num
segundo momento, investiga nessa trajetória as marcas
da utopia, a partir de reflexões sobre a própria caminhada
profissional, iniciada na década de 70.
O
mar não cabe nas palavras
O poeta Alcides Buss, ex-diretor da Editora
da UFSC, lançou o livro Janela para o Mar. Os
poemas foram escritos ao longo
dos últimos 15 anos e são uma
celebração ao mar. A publicação
é dividida em capítulos: O “Mar
de Dentro”, subjetivo, o “Mar de
Fora”, a imagem da praia, o ruído,
o “Mar de Amar”, do amor. O livro
ainda contém os blocos “Língua
do Mar”, “Música do Mar, “Foriamar: ficções”, “Mar Inúmero”.
Criado em pequenas cidades do interior de Santa
Catarina e do Paraná, Alcides
somente foi conhecer o mar
aos 18 anos. Ficou tão impressionado, que exclamou:
“Nossa, o mar é tão grande
que não cabe nas palavras!”
Vivendo há bastante
tempo na Ilha de Santa Catarina e cercado de mar por
todos os lados, mergulhou
em sua diária presença,
nunca igual à da véspera.
Daí tirou lições e entregou-se às imagens subjetivas de sua grandeza.
O livro vem apresentado e recomendado
pelo poeta e tradutor, membro da Academia
Brasileira de Letras, Ivan Junqueira: “Buss é,
acima de tudo, um lírico, mas um lírico que
não se esgota no lirismo estrito e autocompla-
UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 11
cente do subjetivismo pessoal. Há nele, além
de uma adesão autêntica e orgânica ao tema
que elegeu, uma viva preocupação por aquilo
que entendemos como o mistério da
existência, esse mistério
de que o mar, com suas
profundezas abissais, é
mensageiro privilegiado.”
Professor universitário,
durante dezessete anos Alcides Buss dirigiu a Editora
da Universidade Federal de
Santa Catarina, substituindo
o romancista Salim Miguel.
Além das traduções e edições
acadêmicas, manteve sempre
viva uma coleção destinada
a novos escritores. Garantiu
ainda a edição de uma revista
para estímulo e iniciação literária dos estudantes, a Poité.
Após duas dezenas de títulos, entre eles dois infantis
sempre reeditados (A poesia
do ABC e Pomar de palavras), e
inúmeros prêmios, Alcides Buss
oferece aos leitores agora esse
Janela para o mar (Caminho de Dentro Edições,
128p, R$ 20). Livro temático, explora o mar
enquanto entidade fabulosa e inesgotável: o
mar de dentro, o mar de fora, o mar enquanto
música, o mar inúmero como o de Cacaso: “Mar
de mineiro / é Minas”.
Chuva e lágrimas embalam gerações
Brenda Thomé
Bolsista de Jornalismo na Agecom
Foi só ele aparecer no palco que
começou a chover, e não parou mais.
Sir Paul McCartney começou seu show
no dia 25 de abril com a esperada pontualidade britânica, às 21h30. Os primeiros acordes de Magical Mistery Tour
levaram à loucura as 30 mil pessoas
que esperavam ansiosas para ver um
pedacinho do que restou dos Beatles no
estádio da Ressacada, em Florianópolis.
E que espera! Teve gente aguardando na fila por dias, horas, viajando muitos quilômetros e acampando por uma
chance de ver o ídolo mais de perto.
Para passar o tempo valia tudo: escrever um cartaz para chamar a atenção do
cantor, tocar violão e até ler um livro no
meio da multidão barulhenta. Mas para
aqueles que, como eu, decidiram ir mais
tarde, o trânsito estava uma maravilha:
era só pegar um ônibus no centro para
chegar rapidamente ao sul da ilha.
Considerado o 11º melhor cantor
de todos os tempos e uma das pessoas
mais influentes na história do rock, o
veterano McCartney, do alto dos seus 70
anos, apresentou um show enérgico e
longo, recheado de canções dos Beatles
compostas por ele, músicas românticas
da carreira solo e muitas homenagens.
Os clássicos como Hey Jude, Yesterday
e Let it Be foram os momentos catárticos do show, assim como as homenagens que fez para sua esposa Nancy
Shevell, a ex-esposa Linda McCartney
e os amigos e ex-companheiros de Beatles, John Lennon e George Harrison.
O público composto por várias gerações emocionou-se tanto nas quase três
horas de show, que ao final já não sabia
se estava mais molhado pela chuva ou
pelas próprias lágrimas. Uma menina
nas costas do pai fazia um coração com
a mão e jogava beijos para Paul. Marcelo, um rapaz com deficiência visual,
veio de Curitiba só para estar no show.
“Foi tão lindo que até chorei!”, disse
ele agarrado ao braço de um homem
que o ajudava a voltar para a rodoviária. Senhoras realizavam um sonho da
adolescência. Entre elas estava Iraci
Trentini, servidora aposentada da UFSC,
que foi ao estádio com duas amigas.
Para ela, foi uma chance de ver um
pouquinho dos Beatles, conhecer um
ídolo, relembrar a sua juventude e as
músicas dos anos 60. Sua sobrinha de
15 anos também estava lá para conferir
o show. Afinal, como disse Iraci, “Boa
música não tem idade e não dá para
desperdiçar a chance de ver ao vivo
clássicos como esses dos Beatles na
voz de um deles.”
Na saída, encharcado e com frio, o
público esperou até três horas na fila
para pegar ônibus e voltar para casa.
Foi um caos de transportes lotados,
muitos turistas sem saber para onde
ir, desrespeito aos cadeirantes e pouca gente para orientar os caminhos.
Nada resume melhor o resultado da
noite do que a fala de um turista de
Lages, que estava em um ônibus com
a família:“Paul mostrou tanto respeito
por todos fazendo um show lindo desses
e homenageando pessoas importantes
para ele. Agora a organização nos trata
como cachorros na saída. Só não pode
deixar isso estragar a lembrança de
uma festa tão bonita”.
Público não quis perder
a chance de assistir aos
clássicos dos Beatles na
voz de um deles
Fotos: Brenda Thomé
A beleza do
show de Paul
McCartney
acabou
maculada
com o caos
produzido pela
“organização”
na saída
*Brenda foi credenciada do JU no show.
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