Viagens - Agrupamento de Escolas Henriques Nogueira AEHN

Transcrição

Viagens - Agrupamento de Escolas Henriques Nogueira AEHN
VIAGENS
Descrição de paisagens
Ericeira
O forte que estampa representa está sobraceiro à calçada que dá
para a praia, e hoje acha-se desguarnecido. Segundo se depreende
duma inscrição sobre a porta foi edificada por D. Pedro II em 1760.
No chafariz chamado a Fonte do Cabo existe uma pedra
embutida na parede com um emblema e legenda em caracteres góticos
em relevo, que parece significar: «Feita na era de mil e quatrocentos e
cinquenta e sete anos».
Ainda existem restos do palácio do senhorio desta vila, o
conde da Ericeira: Pela parte superior de algumas janelas vêem-se
pedras com um leão esculpido. Estas paredes, a que o povo chama de
Paço, são dignas de veneração por terem servido de residência, e quem
sabe se de academia, ao nosso douto escritor D. Francisco de
Meneses.
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A meia légua ao nascente desta vila está aberta uma mina de
barro branco no sítio chamado a Avesseira, que já tem sido explorada
por conta das fábricas de louça das Janelas Verdes e Vista Alegre.
Também por este mesmo sítio é situado o chamado Pinhal
dos Frades, por ter pertencido ao Convento de Mafra. É uma importante
propriedade nacional, assim pelo número como pela bondade e
préstimo das árvores, que excedem em diâmetro e altura as de todos os
outros pinhais circunvizinhos.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p.190.
(Colaboração de Dário Nascimento e Diogo Bento, 12º A)
VIAGENS
Descrição de viagem de barco
Viagem a Londres
Subi à tolda para respirar a aragem livre. Entretanto o navio
levantou ferro, e começou a mergulhar seus fortes e velocíssimos
remos. O sonho dourado de toda a minha vida ia finalmente
realizar-se! Cortando por grandes dificuldades e endurecendo o
coração a impressões tão pungentes, eu empreendia, só e
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desprotegido, uma viagem, cujo móvel principal era o amor puro,
franco e desinteressado.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p.201.
(Colaboração de Noémia Santos, professora de Português)
Descrição de viagem de barco
Viagem a Londres
Evidentemente pelo tempo e pelo tombar compassado e violento
do barco, navegámos em pleno oceano. O estrondo das águas
quebrando-se no costado do navio, o ranger monótono do cavername, a
bulha
do
vento
e
da
máquina
eram
o
pouco
harmonioso
acompanhamento que tive durante horas tristes de ansiedade. «Quem
me manda a mim ser tolo, disse eu comigo e com os meus botões, para
trocar pelos cómodos domésticos os dissabores ou os perigos de uma
viagem? Por que não faço eu como tantos outros, que só de si curam,
dando ao Diabo tudo que os molesta?» Perdoe o benévolo leitor este
desabafo de egoísmo, que tinha suficiente desculpa no meu aflitivo
estado. A imaginação representando-me a perspectiva de 5 dias assim
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ou pior passados, tornava-me mais medonho o meu sofrimento.
Felizmente, ao cabo de bastantes experiências, pude encontrar posição,
se não cómoda, pelo menos suportável. Habituei-me ao seco balouço
do meu novo berço, e fiz por aplacar a insurreição do meu estômago,
que se ia tornando permanente. Para esse fim apurei a língua, e pedi ao
nosso steward um pouco de chá verde. Em boa hora apareceu a
chávena de green-tea trazida pelo diligente e caritativo criado. Foi,
sendo suponho, recebida com especial agrado, porque sobre ela deixeime ligeiramente adormentar. Ao cair da tarde desse dia interminável
consegui tomar um caldo, uma laranja, e um copo de vinho do Porto.
Este frugal jantar, variado pelo chá e biscoito, ao almoço e merenda,
repetiu-se todos os dias que passei embarcado, isto é, deitado.
No leito superior ia um jovem e esgrouviado inglês que,
segundo lhe pude tirar do bucho, era empregado na diplomacia. O meu
sossegado companheiro era, com efeito, de uma reserva exemplar.
Creio que durante a passagem não gastou nem me fez gastar uma
dúzia de frases. Somente de horas em que quando dirigia algum
monossílabo ao steward, que chamava em tom doce, sonoro, e, se é
lícito dizê-lo, distintamente aristocrático Antes do jantar, de que eu não
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partilhava senão o ingrato cheiro, vi suspensas e como caídas do tecto
as longas e esguias pernas, coroadas pelo descarado tronco do silêncio
attaché
que
passou
a
compor
o
seu
vestuário,
quase
tão
esperadamente como se fosse para um baile de corte. Invejei-lhe o
sossego com que fazia estes preparativos. À hora do costume veio o
criado apagar a frouxa lamparina e fechar a porta do beliche. Cessou o
ruído do perpassar da gente. Somente de quando em quando, a
campainha estridente do relógio e as vozes confusas do quarto
quebravam o silêncio da noite. Enquanto os outros dormiam, velava eu,
devorando o tempo com a impaciência do que não está bem. Sobre a
madrugada pude também descansar um pouco.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, pp. 279-280.
Dário Nascimento e Diogo Bento, 12º A
VIAGENS
Descrição de viagem de barco
Viagem a Londres
No dia seguinte, pela tarde, entrámos a segura e profunda
baía de Vigo. Não careci de aviso. A progressiva serenidade com
que o barco navegava era claro indício de que pairávamos sobre
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águas mais quietas e bonançosas. Levantei-me logo, e escrevi a
minha mãe. Vim depois gozar a vista da cidade, e observar o
admirável porto que a Providência concedeu à Península para
refúgio dos navegantes em suas tempestuosas costas. A cidade,
que se assenta em anfiteatro no fundo do porto, tem um aspecto
tristonho e miserável. O forte que a domina apresenta aos olhos do
espectador a tosca frontaria de seus casebres e muros amarelados.
A povoação é pequena. Não sobressaem nela, como devia esperarse, os estaleiros, nem as docas, nem os outros estabelecimentos de
comércio. Avulta o castelo, imagem da guerra, e faltam os navios,
imagem da paz! As montanhas que abrigam o porto do lado do
norte, são altas, aprumadas e pitorescas. A ria alonga-se para o
interior, e perde-se de vista em seu curso sinuoso por entre
margens de selvática beleza. A duas léguas de distância banha-se
em suas águas a vila de redondela, nomeada pelo número dos seus
pescadores, e pela abundância dos seus vinhos.
Enquanto permanecemos fundeados, atracava o barco um
cardume de botes galegos, cujos marinheiros se distinguiam por
camisolas vermelhos-escuras, e por seu peculiares barretes. Um
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compatriota nosso, que se destinava a mais longa digressão, mas
que não pôde pactuar com o enjoo, saltou em terra. O mesmo faria
eu, se dali aos Pirenéus houvesse um caminho-de-ferro! O vapor
largou daí a pouco, e eu gozei de novo sobre a tolda a vista das
escuras e verdejantes serras, que encaixam paralelamente, numa
grande extensão, a barra mais segura de Espanha. Ao anoitecer
passávamos o ilhéu de Baiona. O frio e a agitação recrescente do
mar obrigaram-me dentro em pouco a entrar em quartéis de
inverno. Deitei-me, e dessa vez por largo espaço, até defronte das
costas de Inglaterra.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p. 280.
Rafaela Bandeiras Santos, 12ºPTG
Descrição de Londres
A estação do caminho-de-ferro é edifício vasto e construído
nesse inimitável gosto da moderna arquitectura inglesa, em que a
simplicidade se encontra quase sempre reunida à elegância. Era
domingo e, segundo o costume do país, havia, por tal motivo,
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menor número de carreiras. O trem estava a partir. Um guarda
tomou a minha bagagem apressadamente e indicou-me, na longa
fila de carros e carruagens, o waggon* para o qual devia subir. O
trem posava sobre um alto e espaçoso telheiro, e dali a pouco
entrou de andar com tal lentidão e suavidade, que me parecia ser
puxado por cavalos. Mas não tardou que o silvo agudo da
locomotiva e uma para mim extraordinária, mas mui agradável
velocidade, me advertissem a que eu era transportado pelo vapor, o
gigante do século XIX. O espaço desaparecido diante dos meus
olhos
maravilhados!
Ao perto as
pequenas cottages*
dos
cultivadores, guarnecidas de vidraças, os seus quintalinhos
verdejantes, os seus moradores grandes e pequenos, homens e
mulheres, as lisas azinhagas das aldeias, orladas de árvores, os
serpejantes riachos e canais, cortando o terreno em todas as
direcções, os campos tão regular e cuidadosamente amanhados,
como se fossem tabuleiros de horta, belos grupos de maciços
bosques de árvores frondosas, como principalmente se encontram
neste país, onde a sua cultura é esmerada, e o fértil solo e a
constante humidade do clima favorecem a sua vegetação, tudo isto
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figurava-se uma bela miniatura de paisagem Suiça. Ao longe, no
extenso horizonte, elevavam-se os azulados outeiros, suaves
ondulações do solo que lhe quebram a monotonia, sem lhe
alterarem sensivelmente a planura. Aqui e ali, a maior ou menor
distância do nosso voo rasteiro, avistavam-se as ricas povoações
ostentando a massa considerável de seus edifícios e altas torres.
Desta sorte passarem diante de nós, como em revolvente
panorama, Winchester com a sua soberba catedral e antiga
povoação;
Basingstoke,
Kingston
e
outros
lugares
menos
importantes, com as suas asseadas e alegres estações. Ao nosso
lado ficavam os altos e elegantes colunelos do telégrafo eléctrico
sustentando oito ou dez fios condutores de suas notícias.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p. 284.
Francisco Menezes Leal, nº12 10ºC
Inês Fernandes Gomes nº13 10ºC
Mariana Matias Zeferino nº19 10ºC
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VIAGENS
Descrição de Londres
A cidade, aglomeração inextricável, infinita, imponente de
soberbos palácios e de elevados coruchéus; o Tamisa revolvendo lá
em baixo suas águas negras e túmidas, sulcadas por centenares de
navios de todas as dimensões; as pontes monumentais, que a
consideráveis distancias comunicam as duas margens; tudo isto
constitui um quadrado por tal forma gigantesca, que a imaginação
sacia-se, e a vista cansada sucumbe debaixo do peso de tanta
grandeza. Ao menos assim me aconteceu a mim, pobre filho de
uma pobre terra, ao contemplar a face da moderna babilónia. Tanto
fausto, tanto apuro, tanto progresso ao passo que me interessavam
como objectos de estudo, vertiam na alma o sentimento indefinível
de tristeza e de pesar, porque me lembrava o meu país, hoje tão
arrasado e empobrecido, também outrora empunhava o ceptro dos
mares, e que posteriormente concorreu não pouco, pelo desmazelo
e ignorância dos seus naturais, para a existência destes
monumentos, cuja magnificência me humilhava. Pagamos e
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enriquecemos os mestres. Justo era, que agora, ao menos,
aproveitasse-mos das lições!
Entretanto atravessei Trafalgar Square, majestosa praça
ornada de soberbos edifícios e gloriosos monumentos, onde vem
confluir as ruas de maior trânsito da imensa movediça capital. Dali a
pouco achava-me no Oliveira’s hotel, Golden Square, em casa de
português, e em campainha de portugueses. Essa circunstancia
proporcionou-se, não só simpática hospedagem, mas excelentes
companheiros para algumas digressões, e aprazível e em ensejo de
pensar e de falar muitas vezes a respeito de Portugal. Ali pude
colher também muitas e úteis informações sobre as cousas do país
em que acabava de entrar.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, pp. 285-286.
Emanuel Gomes Nº10 10ºC
Mário Nunes Nº20 10ºC
Descrição de Londres
O que é Londres – Um passeio pelas ruas, praças e jardins –
Regent Street à noite – As crianças em St. James – O chapéu –
Pobre Irlanda! – O gaiato – Policia modelo – Londres ao domingo.
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Não tentarei a descrição de Londres. Sobre ser quadro vasto,
impossível de acomodar-se nas breves notas de uma viagem, não
me julgo habilitado para traça-lo; e todavia demorei-me ali cerca de
dois meses, e vi muitas das principais cousas, que chamam a
atenção do observador. Mas é que Londres resume a grandeza, a
ciência, a industria, a riqueza, e o fausto da Inglaterra, e por isso
carece de anos para conhecer no admirável desenvolvimento de
suas instituições, de suas empresas, e suas obras gigantescas.
Direi, pois, pouco e sobre poucas cousas, traduzindo com fidelidade
as variadas impressões que elas me suscitaram.
Londres divide-se naturalmente em três grandes bairros, a
cidade velha, a cidade nova, e a cidade de além-rio. A cidade velha,
ainda hoje denominada a city, é a parte quase exclusivamente
comercial da povoação. Nela se encontram as docas, a alfândega,
o banco, a moeda, o correio, e muitos dos principais armazéns. No
seu centro campeia a majestosa Catedral de São Paulo, sobre a
pequena eminência de Ludgate reid. À beira do Tamisa numa ligeira
encosta está situada a antiga Torre de Londres. Este bairro tem
uma fisionomia particular. As ruas são nele geralmente mais
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estreitas, e os edifícios mais antiquados e irregulares. Sobretudo a
concorrência de gente em algumas das suas ruas e veículos, e
pasmosa e quase processional. Não é raro ter o viandante de
esperar cinco ou dez minutos que se interrompa por um pouco a
longa fila de ómnibus, carruagens, cabs, waggons e carros de mão,
para atravessar de um lado para outro. A cidade nova se estende
para o oeste, desde o Strand até Chelsea, Paddington e Regent’s
Park, é a parte elegante, grandiosa e aristocrática da povoação. Ali
se vêem as mais belas ruas, os lindos squares, os soberbos
edifícios, os vastíssimos passeios, e os numerosos teatros, museus
e bazares. Trafalgar Square é o centro deste magnifico bairro onde
vêm confluir as ruas mais frequentadas dele. A formosa Abadia de
Westminter, o colossal palácio do Parlamento, o riquíssimo Museu
Britânico, a formosa Regent Street, primeira rua do mundo, o vasto
Colosseum, distinguem-se ali entre milhares de construções mais
ou menos sumptuosas e originais. As classes ricas povoam em boa
parte este grande bairro, e Eaton Square, Belgrave Square,
Portman Square e Portland Place, são residências dignas de
príncipes. Infinitos ómnibus e luzidas equipagens cruzam as ruas,
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em cujo largos passeios a turba peã gira e espairece. As lojas
ostentam em seus amplos e rasgados mostradores infinita
variedade de valiosas mercadorias. Tudo o que a arte ou a natureza
pode oferecer e mais belo ali se encontra; tudo que o luxo pode
apetecer de mais caprichoso ali se satisfaz. Money é a varinha
mágica que tudo alcança.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, pp. 287-288.
Ana Catarina Gonçalves nº2, 10ªC
Ana Rita Gomes nº4, 10ªC
VIAGENS
Descrição de Londres
A cidade de além–rio, denominada Southwark, que se estende
desde Lambeth até Surrey e Deptford, é a parte, a bem dizer, fabril
da povoação. Além de vastos armazéns e estaleiros, predominam
ali as fábricas de diversos géneros, principalmente fundições de
ferro, saboarias e gasómetros. A grande quantidade de chaminés,
altas e esguias, como mineretes de mesquita oriental, espalham na
atmosfera nuvens de fundo de carvão, cujos vestígios enegrecem
as paredes dos muros e oficinas, este barro possui,todavia,
algumas ruas espaçosas, como Borough e Westminster Road,
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principalmente habitadas por mercadores e lojistas. As concorridas
estações dos caminhos de ferro do Sul e Leste, que por Folkston e
Shouthampton comunicam a Inglaterra com a França e o oceano,
acham – se ali estabelecidas. Ainda que ligada á margem do Norte
por pontes, esta parte da cidade apresenta, em geral, um notável
contraste de inferioridade, pelo que respeita ao movimento, ás
construções e ao asseio. Tais são as divisões naturais da opulenta
capital das dez mil ruas,travessas, becos e pátios, das oitenta
praças de todos os tamanhos, e das cento e setenta mil casas!
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p.288.
Maryline nº21, 10ºC
Mafalda nº17, 10º C
VIAGENS
Descrição de Londres
O domingo em Londres é duma sensaboria proverbial. As
lojas fechadas, as ruas desertas, os repiques dos sinos, as igrejas
cheias de devotos, as tabernas atulhadas de fregueses. O honesto
cidadão encaixa-se em casa ou vai espairecer ao campo. A tafula
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criada de servir sai a passeio, e só de noite regressa à casa de
seus amos. Os passeios são também concorridos ao domingo.
Todavia nunca descobri neles, nem noutra alguma parte, o tipo puro
e extremo do peralvilho, como avulta em Lisboa, e como depois o
fui observar em Paris. Os ingleses têm o admirável bom gosto de
não serem janotas. São muito livres em seus movimentos para se
sujeitarem
ao
empertigado
molde
de
um
espartilho,
e
bastantemente judiciosos para perderem o tempo por cavacos e
soalheiros em escandalosa ociosidade. Contentam-se da modesta
honra de apresentarem o seu pais cortado de caminhos-de-ferro,
coalhado de fábrica, primorosamente cultivado, e abundantemente
cheio de tudo quanto há rico ou curioso útil ou agradável a vida. E
por isto lhes não quero eu mal. Assim o seu Governo não
procurasse engrandecer-se, como o tem feito, a custa e com o suor
e o sangue dos povos pequenos, francos e atrasados!
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p.292.
Bruno Daniel Ferreira Rodrigues, 12º PTG
Joana Dias ,12ºPTG, nº10
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VIAGENS
Descrição de Londres
O Instituto Politécnico oferece algumas horas de instrutiva
recreação. O salão central tem um vasto tanque, onde se fazem as
experiencias do sino mergulhador. Os curiosos pagam por esse
divertimento mais um shilling adicional. Na noite em que ali fui, vi
sair dentro dele, como pintos de sob as asas da galinha, três
homens e duas senhoras. Não me pareceu que ficassem com
vontade de repetir o ensaio. Depois meteu-se debaixo de agua, e
nela, esteve, durante alguns minutos, um búzio, vestido com fato
impermeável, e coberto superiormente por um forte capacete, do
qual saía um tubo condutor do ar. O robusto inglês, quando se viu
livre das suas “calças pardas”, suava como um touro. É inumerável
a quantidade de desenhos, de modelos e de pequenas maquinas,
que ali se observam. Algumas delas, as de vapor por exemplo,
estão em movimento. Advertidos por um ligeiro toque de sineta os
concorrentes vão assistir á prelecção de ciência aplicada ás artes e
aos usos da vida. Estas prelecções todas práticas, experimentais e
expostas num estilo simples e ás vezes jocoso, costumam ser feitas
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por homens de bastante crédito científico, cujo o nome se anuncia
previamente. Durante meia hora ouvi discorrer sobre pneumática
com aquela abundante facilidade dos oradores ingleses, que é o
apanágio dos aproveitadores do tempo por excelência, e o tormento
dos que, como eu, lhes não podem seguir o fio.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p.295.
Cláudia Macedo, 12º PTG
VIAGENS
Descrição de Londres
O Panorama de Londres e o Terremoto de Lisboa atraem há
muitos anos visitadores ao Colesseum. Fui lá uma noite. Subindo a
aristocrática Portland Place e tomando à direita no Park Crescent,
encontra-se a poucos passos a extremidade de Albany Street, solitária e
larga rua, por onde se entra para a magnífica exposição de vistas do
Colesseum.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p. 302.
12º PTG
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VIAGENS
Descrição de Londres - Espectáculos
Os esplêndidos Willis’ Rooms em King Street, onde se
dão os célebres bailes de Almaks, oferecem repetidas vezes
concertos e jantares públicos. Fui convidado a assistir a um
concerto diurno em que tocaram piano, harpa e rabeca alguns
artistas distintos, cujos nomes infelizmente me passaram da
memória, acrescendo a esta circunstância haver-se-me extraviado
nítido programa, que lá se distribuía. A reunião era numerosa e
escolhida. A mais religiosa atenção foi prestada aos diversos
artistas. O grande salão era guarnecido de belas colunas, de
trabalhosos relevos de estuque, e de profusos doirados. Enormes e
magníficos espelhos decoravam o salão de imediato. Tudo
conduzia, tudo respirava grandeza e elegância nesta noble
mansion, que me deu ideia de que são célebres clubs de pall mall,
soberbos palácios, construídos pelos primeiros arquitectos, onde os
subscritores gozam, a certos respeitos, um serviço de príncipes. A
associação, como e onde quer que a apliquem, produz sempre
maravilhas.
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NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p.304.
(Colaboração de Isabel Santos, professora de Inglês)
VIAGENS
Descrição de Londres
Os clubes são uma das instituições mais originais e
admiráveis da opuleta e engenhosa Inglaterra. Quem passar por
diante do Athenaeum Club House ou do Reform Club e observar
simplesmente os vestíbulos destes edifícios, cuidará que eles
alojam reis ou imperadores. Pois nada disto assim é. Estes palácios
não chegam mesmo a pertencer a qualquer membro poderoso da
aristocracia britânica. Pertencem a vários homens, muitos deles
medianamente ricos, mas superiormente ilustrados, que se
associaram para gozarem em comum as comodidades, os prazeres
e o luxo, que individualmente excediam as suas forças. Há clubes
para as diferentes classes sociais, mas especialmente para as
superiores. Há-os, também, pelo menos em nome, para membros
de certas parcialidades políticas. A admissão dos sócios é feita por
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votação de esferas. Paga-se jóia de entrada e uma subscrição
anual destinada a suprir as despesas ordinárias do serviço. As
comidas e bebidas são pagas simplesmente pelo preço de custo.
Mr.Walker descreve assim as vantagens destas associações: «Uma
das maiores e mais importantes mudanças modernas é o actual
sistema dos clubes. As facilidades da vida foram por eles, a muitos
respeitos,
maravilhosamente
aumentadas,
entretanto
que
a
despesa diminuiu consideravelmente. A custo de poucas libras por
ano gozam-se vantagens que só grandes fortunas poderiam
possuir. Vou explicar isto mais claramente por um exemplo
particular. O único clube a que pertenço é o do Athaenum, o qual
consta de mil e duzentos membros, entre os quais, em cada classe
– civil, militar e eclesiástica, pares espirituais e temporais (noventa e
cinco nobres e doze bispos), membros da Câmara dos Comuns,
homens das profissões científicas, assim os ligados À ciência, às
artes e, nos seus principais ramos, como os destinos que não
pertencem a uma determinada classe. Muitos deles encontram-se
todos os dias, vivendo com a mesma liberdade, que teriam em suas
próprias casas. Por seis guinéus anuais cada sócio tem às suas
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ordens
uma
excelente
livraria,
mapas,
jornais
ingleses
e
estrangeiros, as principais publicações periódicas, e o necessário
para escrever, com suprimento de tudo o que precise. A casa é uma
espécie de palácio, e é regida com o mesmo cuidado e conforto,
como uma habitação particular. Cada sócio +e um dono, mas sem
nenhum dos cuidados do dono. Pode vir quando quiser, e estar
ausente o tempo que lhe agradar, sem que as cousas corram mal.
Tem às suas ordens criados atenciosos, sem ter de lhes pagar ou
de os dirigir. Pode ter qualquer comida ou bebida que deseje, a toda
a hora, e servir-se delas com o asseio e conforto da sua própria
casa. Manda justamente o que lhe convém, sem ter de pensar
senão em si. Numa palavra é impossível supor um grau maior de
liberdade no viver. Os clubes, tanto quanto a minha experiência o
mostra, são favoráveis à economia do tempo. Há um lugar fixo,
onde se chegue; tudo é servido com a maior expedição, e não é
ordinário ter grande demora à mesa. São, também, favoráveis à
temperança. Parece que, quando a gente pode regalar-se à sua
vontade, e quando tem oportunidade de viver parcamente raras
vezes se cai em excessos.
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NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, pp.304-305.
Joana Bárbara Severiano, 12º PTG
VIAGENS
A sociedade inglesa
O
espírito
filantrópico
dos
Ingleses
e
o
seu
génio
eminentemente empreendedor suprem, até onde é possível, os
monstruosos defeitos da sua organização social. Sem as inúmeras
instituições, que a caridade e a associação têm levantado naquele
país para amparo das classes pobres e laboriosas, a sorte delas
seria cem vezes mais lamentável do que é. As variadas misérias do
pobre encontram ali quase sempre o seu lenitivo. Além das
utilíssimas Work-houses há hospícios particulares para certas e
determinadas doenças; há dispensary, boticas gratuitas em que se
dão os remédios; há consultórios também gratuitos; há asilos para
órfãos; há-os para mulheres grávidas e para convalescentes. Há,
também, sociedades particulares consagradas a prevenir os vícios,
os desmazelos e as doenças do povo. A soma que elas despendem
anualmente só em dinheiro de donativos voluntários, sem contar os
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serviços pessoais, passa de 50 milhões de libras. Há, igualmente,
sociedades destinadas a propagar a instrução popular, a proteger
as mulheres, a educar os órfãos e a moralizar as classes viciosas.
Há, finalmente, estabelecimentos económicos, em que o pobre
encontra, por um preço módico, alojamento, comida, lavadouro,
banhos, livros e asilo para si e para os seus filhos durante as horas
de trabalho.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p.311.
Renato Filipe Félix Oliveira
VIAGENS
Descrição de Londres
Londres e o Tamisa, vistos de grande altura sobre o
pavimento de Charing Cross Bridge*, são com efeito um quadro
arrebatador. Olhando por esse rio abaixo, vêem-se a distâncias
descomunais diversas pontes de variada e magnifica arquitectura. A
cidade, estendendo-se por um e outro lado, fecha o horizonte com a
mole imensa e seus edifícios. Não parece somente um cidade a que
o espectador tem diante dos olhos, mas sim o acampamento de
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uma grande nação , em que as barracas são templos e palácios. Na
terra em que tudo é majestoso até as águas dos seus rios
encobrem maravilhas, que a não estarem patentes pareceriam
contos fantásticos. Costeando a margem esquerda do Tamisa, e
descendo as estreitas e húmidas ruas de St. Catherine e Wapping,
chega-se a um casebre de mesquinha aparência, por onde se
desce ao famoso tunnel de Londres. Á
porta paga-se penny. A
escala é de uma profundidade considerável, mas espaçosa e clara.
Os muros interiores são decorados com algumas pinturas a fresco,
representado paisagens.
*Ponte de Charing Cross
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, pp.315-316.
Liliana Firmino, 12º PTG
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CIÊNCIA, TECNOLOGIA E
PROGRESSO SOCIAL
Evidentemente o espírito humanitário do século XIX alarga, de
dia para dia, o horizonte de suas aspirações. Auxiliado pela ciência
e pela riqueza ele encurta as distâncias, liga os continentes,
aproxima os povos, destrói as barreiras e convida os produtores de
todos os países a um certame nobilíssimo de aperfeiçoamento e de
esforço. Os caminhos de ferro, as carreiras de vapores, os
telégrafos eléctricos, as ligas de alfândegas, as exposições de
indústria, os congressos da paz são os meios, materiais e morais,
que a filosofia do nosso tempo emprega para aproximar a tão
desejada, tão necessária e ainda tão distante harmonia universal.
De todos esses meios, porém, todos eficazes e convergentes ao
mesmo fim, um dos mais engenhosos e interessantes é o das
exposições em grande e larga escala. Os governos e os indivíduos
dos diversos países têm um igual interesse em que a sua indústria
seja aí dignamente representada. Os governos lucram porque a
apresentação de um produto natural ou artificial, consideravelmente
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distinto, vai muitas vezes desenvolver uma indústria amortecida e,
por consequência, aumentar a matéria tributável. Os indivíduos
lucram, porque essa apresentação os acredita como produtores ou
exploradores, e os enobrece com os prémios do júri eminentemente
respeitável. Os próprios expositores não premiados lucram, porque
ficam habilitados, talvez, a concorrer com mais fortuna em outra
ocasião. Sobretudo lucram, e muito, os produtores dos países mais
atrasados, se podem examinar os bons, os melhores exemplares da
sua
especialidade
para,
em
seus
trabalhos
ulteriores,
se
aproximarem deles, e até para os igualarem ou excederem, se tão
alto lhe fosse dado subir. Os indivíduos que por interesse particular
ou por mera curiosidade concorrem a estas exposições, lucram
também, vendo milhares de coisas, de que pouca ou nenhuma ideia
faziam. Voltando aos seus lares eles são naturalmente os
promotores dos melhoramentos, que os impressionam. Assim
progride a civilização. Os inventores contam-se um a um. Os
imitadores podem aparecer aos milhares.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo III, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p.76.
José Rodrigo, 12ªA, Nº17
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CIÊNCIA, TECNOLOGIA E PROGRESSO SOCIAL
Exposição de Paris
Estas reflexões foram-nos suscitadas pela próxima exposição
de paris. O Governo nomeou uma comissão de homens de ciência,
para estudar ali os progressos da indústria com aplicação ao nosso
país. Procedendo deste modo, o Governo fez o que cumpria em
assunto tão ponderoso. Os nomes dos comissários oferecem ao
país sólidas garantias de que o seu exame será tão consciencioso
como fecundo em proveitosas indicações. Providenciou também o
Governo para que dez artistas de Lisboa e Porto fossem àquela
exposição observar o que se pudesse convir ao aperfeiçoamento
dos seus respectivos misteres.
Foi uma resolução judiciosa. Os homens de ciência encaram
ordinariamente as questões em grande, no seu ponto de vista mais
geral, nas suas aplicações, nos seus resultados, na sua influência
sobre a economia social. Os homens de pratica atendem
particularmente aos detalhes, às minuciosidades, a tudo o que pela
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sua pequenez relativa escapa aos olhos menos experimentados. De
uns e outros o concurso é necessário. Os primeiros colhem factos
para o campo do raciocínio. Os segundos tiram instruções para a
laboração da oficina.
Mas se isto assim é, se tão acertadamente se promove a
instrução da classe fabril, porque se negará à agricultura um
estimulo igual? Será esta numerosíssima e importante classe
menos digna de protecção? Não carecerá ela tanto ou mais do que
qualquer outra de ver e aprender o bom que lá por fora existe, e que
seguramente se há-de reunir no templo do trabalho? Não merece
ela que do muito com que concorre para o tesouro se tire um pouco
com que seja, não já distinguida como deveria sê-lo, mas
equiparada às outras classes produtoras? Cremos que sim – e
todavia estranhamos que a seu respeito e contra os seus
manifestos interesses se haja guardado um tão prolongado silêncio.
Não esperamos que o Governo faça nomear, pelo modo mais
conveniente,
uma
comissão
de
agricultores
das
diferentes
províncias, que seja incumbida de estudar, na exposição de Paris,
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quanto possa ser aplicável e proveitoso á primeira das nossas
indústrias.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo III, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p.77.
Liliana Ferreira, 12ªA, Nº18
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