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AESE Escola de Direcção e Negócios Publicação: quinzenal Director: J.L.Carvalho Cardoso Editor e Proprietário: AESE Impresso por: Moinho Velho Depósito legal: nº 21228/88 Preço: e 1 20º Ano CORREIO DA AESE PANORAMA Nº 497, 15-11-2008 ONU alerta contra drogas sintéticas e o cannabis contra tópicos amplamente difundidos para justificar o uso destas drogas (que se poderiam resumir na frase «as pastilhas não matam nem difundem a SIDA»). Na realidade, não são totalmente inócuas e costumam servir como ponto de partida para a adesão a drogas mais duras. A verdade é que o número de consu- «As drogas são ilegais porque são perigosas, não midores de drogas sintéticas no último ano superou são perigosas por serem ilegais.» Disse-o numa o conjunto daqueles que tomaram heroína ou entrevista recente Antonio Maria Costa, italiano e cocaína. director do UNODC, o Departamento da ONU para as Drogas e o Delito (www.unodc.org). Perante os dados sobre o auge do consumo de drogas sintéticas A população jovem é a principal consumidora de drogas sintéticas. Isto explica o auge do seu e as legislações ingenuamente permissivas, o UNODC consumo que foi detectado no Sudeste Asiático e elevou o tom das suas advertências. «Quem gostaria Médio Oriente, zonas com economias em cresci- que um piloto, um maquinista de comboio ou o mento constante e com uma população jovem jovem que guia o automóvel que nos aparece pela emergente. frente estivesse sob os efeitos das drogas?», interroga-se o próprio Costa. No entanto, é preciso distinguir entre os motivos que as levam a ser consumidas: enquanto na Ásia Este organismo da ONU tornou público em costuma ser para resistir a mais horas de trabalho, no Setembro o seu relatório de 2008 sobre estimulantes Ocidente estão claramente vinculadas ao lazer de de tipo anfetamínico como o ecstasy. O relatório fim-de-semana: entretenimento em discotecas. sublinha que o consumo destas drogas estabilizou nos Para enfrentar o problema, o UNODC arrancou países ocidentais, mas a situação piorou muito no com o programa SMART (Synthetics Monitoring: Sudeste Asiático e no Médio Oriente. Na Europa não aumentou o consumo, mas detecta-se pouca sensibilidade perante os problemas que derivam das drogas sintéticas e do cannabis. Analyses, Reporting and Trends). Com ele, pretende-se prestar assessoria aos governos, especialmente aos dos países mais vulneráveis, para que se envolvam mais na luta contra o consumo de ecstasy e outras É significativo o fenómeno nos países latino- drogas sintéticas: desde a actuação policial e o -americanos: na sua luta antidroga dão prioridade ao controlo das principais rotas destas drogas até à controlo dos mercados de cocaína, mas não reforma das legislações mais suaves ou ao desenvol- entendem como verdadeira ameaça o consumo de vimento de campanhas para sensibilizar a opinião estimulantes. O responsável do UNODC alertou pública. Porque elas ganham menos O Instituto Nacional de Estatística (INE) espanhol, em colaboração com o Instituto da Mulher, publicou a terceira edição do relatório anual Mujeres y hombres en España. Nele indica-se que a sua finalidade é «reflectir, através de uma selecção de indicadores, a situação de homens e mulheres em todas as áreas sociais e políticas, analisando as suas inter-relações, as suas diferenças no acesso e uso dos recursos, as suas actividades e as suas reacções a mudanças, intervenções e políticas». O relatório Mujeres y hombres en España apresenta este ano um interesse maior, visto ser o primeiro que o INE apresenta após a entrada em vigor da Lei de Igualdade. Juntamente com indicadores como família, população, educação ou emprego, figura o de rendimento, que mede e analisa as diferenças salariais entre homens e mulheres. O salário médio anual ascende a 21 093 euros para os homens e 15 294 euros para as mulheres: a média do salário feminino representa, portanto, 72,5% do masculino. No entanto, como explica o relatório, as diferenças reduzem-se imenso se forem tidas em conta variáveis como o tipo de profissão, a modalidade de contrato, o grau de formação, a duração da jornada de trabalho, etc. Concretamente, é muito superior a percentagem de mulheres que trabalham a tempo parcial, algo que tem uma forte incidência na média salarial. Feito o desdobramento correspondente (salário bruto anual combinado com tipo de jornada de trabalho e sexo), a média de salário feminino situa-se em 81% do masculino. Contudo, parece mais ajustada à realidade a medida do salário bruto por hora trabalhada, pois tem em conta o elevado número de contratos femininos de meia jornada de trabalho: atendendo a esta variável, o salário da mulher situa-se em 88,7% do salário do homem. Outras duas notas significativas depreendem-se do relatório Mujeres y hombres en España 2008: uma em relação à idade e outra que pondera o nível de formação. Por um lado, as diferenças salariais por sexo são menores no caso das mulheres mais jovens, algo obviamente relacionado com a sua melhor qualificação e formação profissional. Concretamente, entre mulheres com menos de 35 anos, a média de rendimento é de 81% em relação ao salário masculino; esta percentagem reduz-se a taxas de cerca de 70% ou 65% nas mulheres com mais idade. Por outro lado, atendendo ao nível de formação, as diferenças são menores no caso das que possuem títulos de ensino superior (88%); pelo contrário, entre Correio da AESE mulheres com menores níveis de formação no ensino (primário ou secundário) a diferença salarial situa-se nos 80%. Contudo, acontece que existe uma diferença menor em relação aos homens nas mulheres que concluíram apenas o ensino primário que naquelas que tiraram o ensino secundário e não acederam a um título do ensino superior: 82,5% do salário médio masculino no caso das primeiras, contra 77% no das segundas. Os imigrantes não voltam ao país de origem se não melhorou As políticas para fomentar o retorno de imigrantes têm um sucesso muito limitado, pois dependem principalmente de a situação política, económica e social no país de origem ter melhorado, segundo o relatório Perspectivas das Migrações Internacionais 2008, apresentado recentemente pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económicos (OCDE). O tema tem particular interesse num momento em que a crise económica se abate sobre os países que atraíram mão-de-obra estrangeira. O estudo salienta que até ao momento se prestou muito pouca atenção ao fenómeno do retorno, mas que nos últimos dez anos se observa um interesse crescente, sobretudo desde que a figura da migração temporária começa a ser vista como um modo de combater a escassez de trabalhadores nos países da OCDE. O relatório destaca a necessidade de «garantir a eficácia e a credibilidade» dos programas temporários, que se estruturam como um misto de incentivos e compromissos para assegurar o regresso, ao mesmo tempo que se oferece às empresas o acesso a mão-de-obra estrangeira, legal e por um período de tempo limitado. Mas a melhoria na definição deste tipo de estratégias apresenta também numerosas dificuldades, visto que devemos acrescentar elementos de carácter pessoal muito mais determinantes do que os incentivos oficiais. Para John P. Martin, director do Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais da OCDE, «a assistência e a ajuda financeira do país de acolhimento raramente servem para convencer um número significativo de imigrantes a voltarem aos seus lugares de origem». O relatório da OCDE, que apresenta o resultado de dez anos de investigações, oferece aos governos nova informação sobre os fluxos de retorno dos trabalhadores: pelos dados recolhidos em questioná6 rios aos imigrantes e outras reuniões de especialistas, entre 20% e 50% dos imigrantes deixam o país de acolhimento no máximo cinco anos após a sua chegada, embora a maioria o faça durante os três primeiros anos, e haja também outros grupos menores que esperam pela idade da reforma. É relevante que a migração de retorno se concentre nos extremos do ciclo vital, «tanto entre as pessoas jovens chegadas recentemente ao país receptor, como entre aquelas que têm mais idade e estão próximas da reforma». Os retornos podem-se classificar também por níveis de educação: «os menos qualificados e os que têm um maior nível educativo são mais propensos ao regresso». Os motivos principais para o regresso costumam ser a dificuldade em se integrarem socialmente ou em encontrarem o trabalho adequado no país receptor; terem alcançado o nível de poupança previsto e o aparecimento de novas oportunidades de trabalho no país de origem. Outra tendência põe em relevo que, quanto menor é a diferença no desenvolvimento entre o país de origem e o de acolhimento, existe uma maior propensão para o regresso. Além das vantagens de ajustar políticas de retorno para os imigrantes, o relatório da OCDE destaca o impacte positivo do regresso dos trabalhadores no nível de desenvolvimento dos seus países de origem. «Os emigrantes levam consigo educação e experiência laboral que adquiriram no estrangeiro; regressam com financiamento - as poupanças acumuladas durante a sua estadia - e, por último, possuem um capital social específico obtido durante a sua experiência», resume o relatório. Alguns dos trabalhadores preferem uma solução menos radical e optam por um regresso temporário, que consiste em manter um duplo ponto de apoio em ambos os países, o de origem e o de destino. Deste modo, mantêm os laços que forjaram no país receptor e asseguram o acesso aos serviços sociais a que têm direito. Para a OCDE, também esta fórmula permite que os emigrantes contribuam para o desenvolvimento do seu país, sem a obrigatoriedade do retorno. Se houver condições para favorecer o regresso temporário dos trabalhadores, também se consegue a transferência de conhecimentos ou de utilização de tecnologias. «Assim, reforçam-se os laços com o país de origem e a alguns é facilitada a reintegração se decidem regressar mais tarde.» Por exemplo, na Polónia, sem necessidade de uma política que favoreça o retorno, muitos polacos que tinham ido trabalhar para a Grã-Bretanha estão a regressar ao seu país. A ida de polacos para a Grã-Bretanha, aquando da entrada da Polónia na União Europeia em 2004, foi um dos fenómenos mais marcantes das modernas migrações europeias. Pelo menos meio milhão de polacos foram à procura de fortuna na Grã-Bretanha e encontraram trabalho no sector dos serviços, na construção civil, na saúde. Nos 7 anos que se seguiram, a comunidade polaca cresceu até ao milhão de pessoas e converteu-se na terceira maior a viver nesse país. Agora, com a crise económica e a travagem da construção civil, trabalhar na Grã-Bretanha já não é tão fácil. Além disso, a depreciação da libra esterlina relativamente à moeda polaca (40% nos últimos dois anos) torna menos vantajoso trabalhar lá. A verdade é que a maioria dos trabalhadores têm as suas famílias na Polónia e enviam-lhes dinheiro. Embora não haja estatísticas oficiais sobre o retorno dos trabalhadores polacos, vários indicadores parecem corroborá-lo. Os trabalhadores inscritos na Embaixada da Polónia têm diminuído; a Federação dos Polacos na Grã-Bretanha diz que o volume da comunidade está a diminuir; o Ministério do Interior confirma que está a descer a entrada de trabalhadores das Europas Central e do Leste. Mas o mais decisivo para o regresso é o estado da economia polaca, que tem vindo a crescer a um ritmo de 5% ao ano e onde é fácil encontrar emprego. Durante os últimos anos, a escassez de trabalhadores qualificados que tinham emigrado foi um obstáculo para o desenvolvimento. Agora, os que regressam poderão preencher os lugares vagos. Assim, o caso polaco confirma que a política do retorno depende mais do estado da economia do país de origem que do país receptor. M. A. B. As pensões em sociedades que envelhecem O envelhecimento da população na Europa e em países industrializados de outros continentes não permitirá manter os sistemas de pensões como nos primeiros tempos do Estado Providência. Quanto vão pesar os encargos sociais e o que se pode fazer para os sustentar? Dois estudos recentes dão indicações. Um, do Eurostat («Ageing characteristics the demographic perspectives of the European societies», Statistics in Focus, 72/2008), estima a evolução demográfica da UE até meados deste século; o outro, da OCDE [John P. Martin e Edward Whitehouse, «Reforming retirement-income systems: lessons from the recent experiences of OECD countries», OECD Social, Employment and Migration Working Papers, DELSA/ ELSA/WD/SEM(2008)3], examina como os membros da organização estão a enfrentar o problema. Correio da AESE O Eurostat calcula que a partir de 2015 haverá mais mortes do que nascimentos na UE (para se ser exacto, nos 27 países que hoje a compõem) e que o saldo migratório positivo não compensará o défice para lá de 2035, ano em que a população total começará a diminuir. De agora até 2060, catorze países registarão descidas; as maiores - mais de 20%, ou quase - serão no Leste da UE: Bulgária, Letónia, Lituânia, Roménia, Polónia. Dos treze que ganharão habitantes, crescerão bastante a Irlanda (+50%), a Grã-Bretanha (+25%) e a Suécia (+18%). Assim, em 2060, a Alemanha - que baixará de 82,2 para 70,7 milhões - já não será a primeira potência demográfica da UE, pois irá ser suplantada pela Grã-Bretanha (76,6 milhões) e pela França (71,8 milhões), que agora são a terceira e a segunda, respectivamente. No quarto lugar continuará a Itália, com uma população de quase tantos habitantes como agora (59,4 milhões), e no quinto lugar, a Espanha (51,9 milhões, após alcançar um máximo de cerca de 53 milhões em 2035). Como adverte o Eurostat, essas previsões são hipotéticas e não podem ser tomadas como exactas. Mas é praticamente seguro que nas próximas décadas a população da UE irá envelhecer, pelo menos pela inércia de dois fenómenos que já aconteceram: a baixa da fecundidade e o aumento do número de pessoas idosas. No conjunto da UE, em 2035, um em cada quatro habitantes terá mais de 65 anos, e 8 em cada 100 terão mais de 80. Em geral, as pensões dos reformados de 2060 não poderão sair apenas dos bolsos daqueles que então trabalhem, pois a taxa de dependência passará de quatro activos por pensionista hoje, para somente dois nessa altura. As taxas máximas (mais de 60%) acontecerão nos mesmos países centro-europeus, citados atrás, onde haverá maior baixa da população, juntamente com a Eslovénia e a República Checa (a Espanha, com 59,1%, não andará longe). O problema está previsto. Já em 2005, as pensões públicas custavam 7% do PIB da OCDE, como salienta outro estudo. Por isso, a maioria dos 30 países da organização ajustaram os seus sistemas de pensões. Mais precisamente, desde 1990, 16 fizeram reformas gerais, entre eles 6 dos 10 que têm maiores gastos (8% ou mais do PIB em 2005): Alemanha, Áustria, Finlândia, França, Itália e Suécia (a Grã-Bretanha tinha-o feito na década anterior). O mesmo fizeram, para prevenir problemas, os 10 países com menores gastos (de 1% a 5%), nomeadamente o Japão, que conhece um envelhecimento muito marcado. Os restantes países da OCDE limitaram-se a retoques. A medida mais comum nos 16 grandes reformadores foi atrasar a idade na qual se pode começar a cobrar a pensão completa, que desde os anos 60 tinha vindo a baixar até aos 62,2 anos para Associação de Estudos Superiores de Empresa l os homens e os 60,7 anos para as mulheres (média da OCDE em 1993). Em 11 desses 16 países, a idade aproximou-se dos 65. Mas não se consegue muito se se atrasar a idade de reforma teórica mas não a efectiva pelas pré-reformas. Para conseguir a segunda, 9 países implantaram estímulos para se continuar a trabalhar até ao fim: penalizações por se reformar antes, aumentar o número de anos de descontos exigidos para cobrar a pensão inteira ou prémios para quem se reformar mais tarde. Outro modo de aliviar a carga das pensões é reduzir a quantia alterando a fórmula pela qual é determinada. Por exemplo, em França agora é fixada de acordo com a média dos salários dos melhores 25 anos de vida laboral, em vez dos 10 melhores, que era o sistema antigo. Também diminui o custo das pensões públicas se forem actualizadas atendendo somente à inflação, não à subida de salários: assim, os reformados não perdem poder de compra, mas ficam excluídos das melhorias económicas de que gozam os activos. Cinco países empreenderam uma mudança mais radical, pois passaram de um sistema de repartição para um de capitalização: Hungria, México, Eslováquia, Polónia e Suécia. Todos eles - mais Islândia, Suíça e Grã-Bretanha, que o fizeram antes estabeleceram a obrigatoriedade de subscrição de algum plano privado de pensões. A última medida de reforma é ajustar a quantia das pensões anuais à esperança de vida (o que a capitalização efectua automaticamente, ao converter o capital acumulado em anualidades). Fizeram-no Alemanha, Finlândia, França e Portugal. Nas suas conclusões, os autores do estudo olham para os efeitos das reformas, tanto para as finanças públicas, como para os reformados. No primeiro caso, observa-se uma melhoria nos sistemas de pensões, que caminhavam para a falência. Mas advertem que em bastantes casos (citemos Alemanha e Portugal), para retardar os efeitos negativos e assim desgostar menos os votantes, foi decidido aplicar as medidas muito lentamente, ou estipularam-se garantias para limitar a baixa das pensões. Dizem também que continua a haver incentivos à reforma antecipada, mesmo nos sistemas reformados. Destacam que dois dos países com maior gasto público em pensões, Grécia (10% do PIB) e Espanha (8%), precisam de uma reforma geral do sistema e não a fizeram. Para os reformados, naturalmente que as reformas significarão que irão receber menos do Estado. E a poupança privada, diz o relatório, não basta por agora para suprir a perda. Perante o risco de que um grande número de pensionistas caia na pobreza, é necessário estimular mais essa poupança, com fórmulas que a facilitem aos que não entendem de investimentos. Administração: Calçada de Palma de Baixo, 12 – 1600-177 LISBOA – Tel.: 21 722 15 30 – Fax: 21 722 15 50 – E-mail: [email protected]