Parte2 - PPG
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Parte2 - PPG
1. INTRODUÇÃO No horizonte temporal do Plano 2015 da Eletrobrás, ainda vigente, destaca-se o aproveitamento das reservas hidroelétricas do país, que ainda apresenta-se como a alternativa mais econômica para a expansão da oferta de energia elétrica no Brasil. Ocorre, entretanto, que a priorização da hidroeletricidade em momento algum excluiu ou inviabilizou a opção termoelétrica, principalmente para os sistemas isolados da região Norte e seu caráter de complemento de carga nas regiões de Sistema Interligado com o Sul, Sudeste, Centro Oeste e Nordeste do país. Com efeito, o atual programa que inclua a geração termoelétrica como complementação ao atual sistema hidroelétrico, se mostra a melhor opção a curto e médio prazo, para a matriz energética nacional. Contudo os sistemas isolados continuam seu caminho natural para as fontes térmicas, sendo demonstrado principalmente nas comunidades do interior da Amazônia, que utilizam as usinas térmicas para gerar eletricidade para seu bem-estar e desenvolvimento econômico. As usinas térmicas, como em qualquer empreendimento industrial, destacam-se sua importância quanto considerada o prazo de montagem e início de operação, onde as mesmas apresentam menor tempo em sua montagem que as usinas hidrelétricas, o que beneficia a opção termoelétrica em detrimento à hidroelétrica. A reestruturação do setor elétrico brasileiro se iniciou em 1995, com a promulgação da Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre o Regime de Concessão e Permissão da Prestação de serviços Públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal e dá outras providências. Com isso, destaca-se a Lei nº 9.074, de 7 de julho de 1995, que estabeleceu normas para outorga e prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos, e em especial, a constituição de um novo agente dentro da 2 matriz energética nacional, o Produtor Independente de Energia Elétrica (PIE), sendo objeto desta pesquisa na cidade de Manaus. As mudanças no âmbito institucionais que estão ocorrendo atualmente no setor elétrico brasileiro levaram a inserção de um novo agente, o Produtor Independente de Energia (PIE), para o qual projeto termoelétrico é bastante atraente, visto se tratar de empreendimentos de curto prazo de maturação, construção e financiáveis. Haja visto, o produtor independente gerar energia por conta e risco, e possuir consumidores específicos que consumem grande quantidade de eletricidade. O uso de usina térmica para geração de eletricidade, independentemente da tecnologia e do combustível utilizado, é um conjunto de processo de conversão de energia, e como tal, pode ter seu desempenho analisado, o que possibilita identificar melhorias a serem efetuadas no processo. Isto é uma variável que pode contribuir para reduzir seus danos ambientais, principalmente relacionada a emissão de poluentes atmosféricos. Exemplo disto são as térmicas a gás natural que reduziram de forma significativa à liberação de poluentes na atmosfera. Neste trabalho busca-se apresentar uma análise da matriz energética do sistema isolado Manaus e a participação do produtor independente dentro deste cenário. Primeiro para se fazer a contextualização da produção de energia elétrica na cidade de Manaus faz-se necessário elaborar um perfil histórico da geração na cidade, destacando-a que como uma das primeiras a usufruir desse avanço tecnológico. Segundo, identificar a produção industrial em Manaus e sua importância para geração de renda e desenvolvimento econômico do Estado. Terceiro, destacar a inserção do capital estrangeiro na produção de energia elétrica na matriz energética brasileira, representada na compra direta 3 das empresas estatais e a própria participação na modalidade de produtor independente de energia elétrica. Por fim, identificar a responsabilidade ambiental do PIE, através de suas ações mitigadoras e estabelecimento de sua conformidade ambiental. O novo modelo do setor elétrico brasileiro prevê a separação das atividades de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia. Esse princípio, chamado de desverticalização foi inclusive reforçado pelo Comitê de Revitalização do Setor Elétrico como medida importante para evitar novos problemas, semelhantes aos que aconteceram no ano de 2001 e culminaram com o racionamento. Tem contribuído para aumentar o número de novos empreendimentos termelétricos na modalidade de produtor independente de energia elétrica nas regiões Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. O contexto atual de alterações no setor elétrico brasileiro, em que se redesenha a presença do Estado, em que se reorganiza o setor pela desverticalização das atividades de geração, transmissão e distribuição e, em que se introduz a competitividade na geração e na comercialização; caracteriza-se pela flexibilidade na matriz elétrica do país. Qualquer que seja a solução a ser adotada para produção de eletricidade no Brasil, não poderá desconsiderar a dimensão dos sistemas isolados, tornando impraticável a segmentação em alguns casos, os quais exigem instrumentos regulatórios e distintos, daqueles empregados nos sistemas interligados, ou de maior porte. A regulação, ainda que necessária, em vista da natureza igualmente monopolista dos mercados abrangidos pelos sistemas isolados, deverá enfatizar instrumentos de incentivos à eficiência que os levem à subsídios.(GUERRA,2000) redução constante da dependência de 4 Além disso, deverão ser adotados procedimentos pouco exigentes em termos de necessidades informacionais, sob risco de tornar a atividade regulatória mais danosa ao bem estar social do que tem sido a própria atividade a ser regulada. Estas considerações sinalizam, primeiro, para a exigência de regulação econômica baseada em incentivos para limitar o nível dos subsídios, evitando-se, de um lado, as distorções provocadas com a CCC - como o deslocamento preponderante de investimentos para geração térmica convencional. De outro, a sobrecarga sobre aqueles consumidores aos quais é imputada a conta dos subsídios oferecidos. Segundo, para o relaxamento da regulação econômica nos casos em que o subsídio não se fizer necessário, ou for sendo eliminado. (GUERRA, 2000) Esta pesquisa trabalhou o rendimento técnico das usinas e o custo sócio-ambiental de um produtor independente de energia elétrica para abastecer de eletricidade os sistemas isolados na região amazônica, especificamente, os que utilizam usinas térmicas. 5 2. MEMORIAL DA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA EM MANAUS 2.1 - A energia no período colonial Antes dos europeus chegarem à Amazônia, no século XVI, os nativos que habitavam a região eram numerosos, formados por diferentes nações com língua e costumes próprios. Desenvolviam o cultivo da mandioca, a pesca e a caça, moravam em habitações amplas e arejadas feitas de troncos de árvores e cobertas de palhas. Eram detentores do domínio sobre o fogo produzido dentro de suas malocas, a partir do atrito de madeiras e palhas, servindo como fonte de calor e energia, cozimento de alimentos e proteção. Entre os povos que habitavam a região do Rio Negro, três deles se destacaram historicamente por serem valentes frente aos conquistadores europeus: os Manáos, os Barés e os Tarumãs. Os Manáos constituíam o grupo étnico mais importante da área, habitavam as duas margens do Rio Negro e sua população era estimada em dez mil índios no século XVII, números avaliados após os primeiros violentos choques travados com os portugueses. Em 1639, Pedro Teixeira toma posse da região amazônica em nome da coroa portuguesa. E somente trinta anos depois o governador geral do Grão Pará ordena a construção da fortaleza de São José do Rio Negro um ponto militar importante para resguardar o rio dos invasores e inimigos (holandeses e espanhóis) da coroa portuguesa. O núcleo urbano que deu origem à cidade Manaus surgiu em 1669, hoje capital do Estado do Amazonas, localizada à margem esquerda do Rio Negro, teve início com a construção do Forte de São José da Barra do Rio Negro, por Francisco da Mota Falcão, a exemplo de várias outras cidades brasileiras cujo objetivo era demonstrar a presença lusitana e fixar o seu 6 domínio. Isso era típico da política de Portugal, que buscava preservar a soberania sobre as terras conquistadas. FIGURA 2.1 - Ruína do Forte da Barra FONTE Mario Ypiranga Monteiro, Fundação de Manaus, 1994:107. A propósito AGNELLO BITTENCOURT, em seu livro Fundação de Manaus Pródomos e Seqüências, quando das comemorações do tricentenário de Manaus afirma: Já antes, pela necessidade de garantir os portugueses na boca do rio Negro contra os jesuítas espanhóis e os indígenas hostis, aliados aos holandeses da Guiana, foi construída em 1669, pelo capitão Francisco da Mota Falcão, a Fortaleza de São José do Rio Negro, origem da cidade de Manaus. E explicou: tratava-se de uma obra rústica, de forma quadrangular, feita de grossas paredes de pedra e barro, com uma das faces para o rio (...) e cuja construção durou cerca de quatro anos.(1969:15) Em função de sua favorável disposição geográfica o forte estava em uma pequena elevação, entre os dois igarapés, aproximadamente 18 quilômetros acima da confluência dos rios Negro e Solimões e foi equipado com duas peças de bronze e duas de ferro, de calibres um e três. Seu 7 primeiro comandante foi o capitão Angélico de Barros. Seu capelão foi o padre Anacleto de Carvalho Silva, responsável pela capela de Jesus, Maria e José. Na época, o lugar se limitava a três acanhadas ruas. (MONTEIRO, 1994) Quando da construção do forte, já havia no local uma pequena aldeia indígena, valorizada pelo equipamento militar, embora a principal autoridade tenha continuado a ser o encarregado do Diretório. À sombra da fortaleza vieram abrigar-se alguns grupos nativos de passes, paisanas, urequenas, manáos, júris, constituindo o primeiro núcleo populacional da futura vila, cidade, município e capital do Estado do Amazonas. Sobre o surgimento de Manaus, diz com propriedade ARTHUR CEZAR FERREIRA REIS, no livro Manaus e outras Vilas: Foi à senhora protetora do fortim, que nasceu Manaus. Como Santa Maria de Belém, a Fortaleza, o Natal. A princípio, simples aldeamento de nativos que vinham, naturalmente, entreter comércio com os soldados da guarnição. Comércio de drogas de sertão, de especiarias cobiçadas, de nativos mesmo, uma vez que o posto militar existia (...) para zelar a entrada, a façanha, o arranjo dos sertanistas das tropas de resgates.(1934:28) A energia utilizada no forte de São José da Barra do Rio Negro era originária da queima de madeira e para iluminação usava-se óleo proveniente da Europa trazido pela guarnição e também se utilizava óleos extraídos de animais da região. O núcleo urbano que se formou ganhou nova organização a partir da chegada dos religiosos carmelitas em 1695, que logo construíram uma igreja coberta de palha sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição. 8 2.2 - Organização política e administrativa da capitania A direção administrativa da capitania localizava-se em Belém e devido a grande extensão territorial e ameaça constante de invasão, o governador do Pará e Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, enfrentou grandes dificuldades para atender às necessidades das novas ocupações que se fixaram na região e ao mesmo tempo garantir a paz com os índios, além de manter o domínio para Portugal. O governador resolveu criar um novo governo na região, subordinado ao governo do Pará. O Rei de Portugal, Dom José I, autorizou esta divisão política e administrativa através da expedição de duas cartas-régias, de 3 de março de 1755 criando a Capitania de São José do Rio Negro e a de vila de Borba. Marco histórico para o que seria futuramente o Estado do Amazonas. MONTEIRO comenta a respeito: A carta-régia foi por assim dizer o elemento gerativo da fórmula estatal e municipal moderna, e devemos à perspicácia de Mendonça Furtado a expedição do diploma político que iria rasgar novos horizontes para a Amazônia. (1994:91) A sede da nova capitania deveria ser instalada na foz do Rio Javari. Porém no dia 4 de maio de 1758, Mendonça Furtado fundou a sede na missão Mariuá, atual Barcelos, dando posse a Joaquim de Melo e Povoas em 7 de maio do mesmo ano. Em 21 de dezembro de 1791, Lôbo d Almada transfere a sede da Capitania para a Barra, atual Manaus, devido a conflitos de interesse com o governador geral do Grão-Pará, dom Francisco de Sousa Coutinho. Em maio de 1799, a capital volta a Barcelos e é nomeado governador interino da Capitania o capitão de milícias José Antônio Salgado, homem de confiança do governador geral. A transferência definitiva da capital de Barcelos para o Lugar da Barra ocorreu em 29 de março de 1808, fato decretado pelo governador da capitania 9 do Grão-Pará, o conde dos Arcos, dom Marcos de Noronha e Brito, e o novo governador da Capitania do Rio Negro seria o capitão de mar-e-guerra José Joaquim Vitório da Costa. Durante longo tempo a Barra serviu de capital da Capitania, mais tarde de capital da Província. 2.3 - A energia em Manaus no século XIX e meados do XX A ascensão política da Barra começa, portanto, às vésperas da independência do Brasil. Este período de grande agitação política no país foi também vivenciado na Província. As notícias trazidas pelos regatões que chegavam de Belém do Pará eram sobre as atitudes patriotas tomada contra o ato do Rei Dom João VI de mandar prender Batista Campos em Belém, crítico do governo imperial, além de trazer informações a respeito dos conflitos gerados com a nova constituição Portuguesa declarada em 1820 e seu reflexo sobre o Brasil. O resultado de todo esse drama é a notícia da proclamação da independência do Brasil, acontecimento que alterou o cotidiano da vida dos moradores da Barra. MONTEIRO comenta sobre a independência do Brasil na província: Povo e tropa, solidários todos, acorreram à praça da Trincheira (atual praça de 9 de Novembro) para ouvir as notícias e os boatos e celebrarem o inusitado acontecimento. Os moradores iluminaram as fachadas das casas durante três dias e o rio Negro ficou feericamente iluminado pelas lanternas improvisadas que bubuiavam ao sabor da corrente. (1994:101) No ano de 1833 a Barra é elevada à categoria de vila, com o nome de Manaus. Progredindo mais rapidamente, embora enfrentando vários problemas decorrentes da sua situação de capital de uma Província anexa ao Pará pela Constituição de 1823. Somente com a promulgação da Constituição 10 de 1891 o Município de Manaus entra na sua fase de autonomia administrativa. Neste período da formação e evolução política da cidade de Manaus, observamos que até final do século XIX, a energia gerada na cidade era para produzir trabalho e iluminação, a partir do uso da tração humana e animal para gerar trabalho e a queima de óleos de origem animal, em especial de ovos de tartaruga, além de óleos vegetais em menor quantidade para produção da iluminação. MONTEIRO afirma sobre a iluminação gerada no lugar da Barra: A iluminação doméstica e pública das póvoas dependia, em grande cópia, da manteiga ou banha de ovos de tartaruga. Fazia-se uso também da banha de peixe-boi, e em menor escala do tambaqui e do jacaré. Os óleos vegetais eram consumidos em proporções mínimas. (1994:121) Surge neste período a figura de dois agentes importantes para a economia e a iluminação pública da capitania: o Comandante-de-praia e o Lampista ou Acendedor de Lampiões. Nesta época as praias do governo e os pesqueiros reais eram fiscalizados rigorosamente por um funcionário nomeado pela câmara municipal, contudo sem ônus para o governo, mas com direito a uma parte da produção gerada na produção de manteiga de tartaruga, este funcionário era o comandante-de-praia escolhido pela Câmara do lugar da Barra. MONTEIRO descreve o perfil que deveria ter este agente: Os indivíduos que serviam esse emprego eram escolhidos entre gente experimentada, moralmente abonada, conhecedores dos biótipos por larga e fixa querência nas principais áreas exploradas . (1994:122) Quando chegava a época da desova das tartarugas o comandante-depraia junto com seus guardas ou fiscais delimitavam com bandeiras as áreas da praia que deveriam ser exploradas pelo virador , homem encarregado de virar as tartarugas de casco para baixo após sua desova, impedindo seu 11 retorno ao rio. Além de realizar a coleta dos ovos das praias e produzir a manteiga , seu pagamento era feito com uma pequena parcela de manteiga e alguns animais capturados. Interessante notar, que de acordo com a pureza na produção de manteiga de ovos de tartaruga classificava-se o produto em dois tipos: a pura , sem a presença de gema, reservada à exportação ou para a iluminação pública do povoado; e a bastarda que apresentava mistura de gema que servia para abastecer a cozinha da população local na fabricação de alimentos. A atividade da produção da manteiga de ovo de tartaruga e sua caça, por aproximadamente mais de dois séculos, afetaram de forma significativa a sobrevivência deste animal, chegando quase a sua extinção. MONTEIRO (1994:123) argumenta que Bilhões de ovos eram macerados, pisoteados no poço das canoas reduzidas a pasta e apurados nos panelões de barro . Outros aspectos deste período que merece destaque são as olarias do governo, encarregadas da fabricação dos potes para atender ao serviço de iluminação pública e iluminação das repartições públicas. Estas olarias também forneciam potes, utilizados para atender a necessidade de iluminação nos eventos sociais e oficiais realizados na capitania, quando necessitavam de um número maior de potes. O segundo agente a ser destacado é o Lampista ou Acendedor de Lampiões encarregado de acender os lampiões públicos no início da noite e mantê-los acesos. Os lampiões públicos eram instalados nas esquinas das ruas, praças, pontes, em postes curtos. MONTEIRO (1994:128) descreve o trabalho realizado por este funcionário da seguinte forma: O lampista encostava a escada no poste e chegava a mecha ao pavio de algodão boiando na manteiga . Também ignoramos até hoje quanto percebia pelo serviço . Este funcionário era nomeado pela Câmara Municipal, que além de 12 receber a função de diariamente acender os lampiões públicos, deveria limpálos e recarregá-los semanalmente. Caso não mantesse aceso sofreria uma multa pelo fiscal da Câmara que zelava por esta atividade. Detalhe interessante, que nas noites de claro luar na região, ARTUR CÉSAR FERREIRA REIS (1965), na sua publicação de Súmula de História do Amazonas, destaca que na época do luar amazônico os lampiões não se acendiam. A cidade continua crescendo e há a necessidade de aumentar a iluminação pública, devido a criação de novos bairros e os constantes fluxos migratórios para província. Destacamos que em 1852, no governo de Tenreiro Aranha na província, o município da Barra possuía uma população de 5.132 habitantes, subindo para 9.813, em 1856 e 14.603, em 1859 triplicando a população no lugar da Barra.(IGHA, 2001) A partir de 1856, e definitivamente, após 1858, a borracha superou o pirarucu seco, como o maior produto de exportação e, desde então a Província entrou no monoextrativismo, uma vez que as demais produções ultrapassavam pouco mais de 10% do total dos produtos exportados na região Amazônica. O governo provincial através da Lei nº 67, de setembro de 1856, no seu art. 5º, autorizou a compra de 25 lampiões a gás líquido de hidrogênio na cidade de Belém, ao custo de 915$733 réis. Entrando em funcionamento no dia 7 de agosto de 1858. (IGHA, 2001) A Câmara Municipal de Manaus era a responsável pela iluminação pública. Um fato interessante foi que em 1862 não apareceu nenhum interessado no fornecimento de lampiões para iluminação. E a Câmara através da Lei nº 123, de 21 de junho do corrente ano, transfere a responsabilidade ao governo provincial. SOUZA explica sobre o fato: 13 Tempos depois, em 1869, o governo resolveu aceitar uma proposta da empresa Thury e Irmão, contratando-a em 5 de junho de 1869 para conceder iluminação com 60 lampiões a querosene, em colunas de madeira de 12 palmos de altura mínima, pela importância de 10:415$980 réis por ano. (1996:6) A empresa Thury e Irmão recebeu um contrato de 8 anos para fornecer iluminação pública, que teve iniciou com a chegada dos lampiões provenientes dos Estados Unidos e começando a funcionar em janeiro de 1870. A iluminação a gás foi autorizada pela Câmara Municipal através da Lei nº 302, § 4º, de 13 de maio de 1874, de responsabilidade do engenheiro Joseph Gaune e o comerciante Mesquita e Irmãos. Em 1880, a cidade de Manaus crescia na direção da rua 7 de Setembro, até além da rua Joaquim Nabuco, já ultrapassando as suas duas pontes, e a rua dos Remédios, após a construção da ponte de ferro, até a região do futuro mercado, logo a ser construído; pelo norte, atingia a Praça da Saudade pela Epaminondas e a Praça São Sebastião. 14 FIGURA 2.2 - Ponte de Ferro da Sete de Setembro FONTE: Lembranças de Manaus, SEMED,1996 Neste período, a cidade apresentava um crescimento urbano resultante da extração do látex na região, que fez com que algumas melhorias fossem realizadas. Dentre elas destaca-se em 1856, a iluminação a gasogênio e o cemitério São José; entre 1867/68 o calçamento da avenida 7 de Setembro e a construção do Cais da Praça Tamandaré; 1870 ocorre a chegada da iluminação a querosene; de 1874 a 1880 foi construído o prédio da Câmara Municipal, depois transferido para a sede da Prefeitura de Manaus retornando décadas mais tardes; 1882 inicia iluminação a gás (gás globo); 1883 inaugura o novo Mercado Municipal; 1888 começa os serviços de água e telefone; 1884 a 1896 período de construção do Teatro Amazonas; 1895 a 1896 construção da primeira usina de energia elétrica; 1899 edificação do Palácio da Justiça; 1900 a 1909 montagem do Porto de Manaus e 1906 construção da rede de esgoto da cidade. A produção de energia elétrica era um projeto considerado audacioso demais para a época, conforme relatos históricos, o próprio governador do Amazonas, na época Eduardo Ribeiro, dissera que a energia transformaria 15 uma aldeia em uma moderna metrópole . O significativo melhoramento, porém, foi inaugurado três meses após de ter deixado o governo. No dia 15 de outubro de 1896, no governo de Fileto Pires Ferreira começa a geração de energia elétrica na cidade de Manaus. A responsabilidade de geração e distribuição de energia elétrica ficou a cargo da empresa inglesa Manaos Eletric Lighting Company. A iluminação pública era de excelente qualidade, pois a intensidade da sua luz refletia em todo a cidade de Manaus. SOUZA (1996:7) relata a quantidade de lâmpadas e o primeiro agente criado para executar o controle da geração de energia elétrica em Manaus: Em 1901, a iluminação era com 327 lâmpadas a arco voltáico, tendo sido criada a Superintendência Geral de Fiscalização dos Serviços por Eletricidade, em 15 de novembro de 1911 . O objetivo desta superintendência era executar os serviços de fiscalização das atividades que utilizavam energia elétrica na produção. A empresa Travassos & Maranhão assumiu o serviço de fornecimento de energia elétrica na cidade de Manaus que depois foi transferido a Antônio Lavandeyra permanecendo até 1909, quando a empresa The Manaos Tramways and Light Co. adquiri o direito de fornecer os serviços de geração e distribuição de energia em Manaus. O parque gerador do Plano Inclinado foi construído dentro do perímetro urbano da cidade, em 1910, na rua Wilkens de Matos, no bairro da Aparecida, pela The Manaos Tramways, uma nova usina termoelétrica que utilizava a lenha como combustível. Em 1939, construiu a sub-usina no bairro da Cachoeirinha na rua 7 de setembro, após a ponte de ferro, para complementar a produção de energia requerida pela cidade. O pioneirismo do governador Eduardo Ribeiro levou Manaus a ser a segunda cidade brasileira a possuir energia elétrica, e talvez tenha sido a primeira a utilizar eletricidade nos processos industriais. Naquela época, a 16 cidade contava com os serviços de comunicação telegráfica, de um transporte de navegação fluvial contínuo, um porto para exportação, serviços de água e esgoto, além do transporte coletivo realizado com bondes elétricos. O ciclo da borracha continuava atraindo milhares de pessoas oriundas do exterior e do nordeste nos anos iniciais da república, devido ao aumento na utilização das câmaras de borrachas para bicicleta e depois nos pneus para automóveis. A procura do produto tornava-se cada vez maior e seus preços sempre em ascensão nas bolsas de Londres e de Nova Iorque. Este período áureo da borracha da Amazônia perdurou até a grande queda de preços em 1910, artificialmente mantidos altos para a capitalização das empresas inglesas, pois necessitavam de capital para manter suas plantações de borrachas localizadas no oriente. Entre 1886 e 1915, Manaus e Belém foram as mais progressistas das capitais brasileiras, adiantando-se a quase todas as demais cidades, em seus melhoramentos urbanos e de infra-estrutura. A qualidade de vida urbana atingiria o seu pico neste período em Manaus. A população do município cresceu para 52.000 habitantes em 1900. A Cidade continuara crescer até a Cachoeirinha, chegando à avenida Castelo Branco, Borba e Carvalho Leal, por onde seguia a linha de bonde, e indo além do Boulevard alcançando até então, ao distante bairro de Flores. Esse período de prosperidade, que durou cerca de 30 anos, sucedeu uma fase de decadência, resultante da perda do monopólio mundial da borracha. Os serviços públicos de primeira qualidade, criados por exigência de uma população socialmente desenvolvida, entraram em processo de falência, e com o passar dos anos os equipamentos instalados tornaram-se completamente obsoletos e precários. A partir de 1910, com as sucessivas quedas de preço e aumento da produção da Malásia e Indonésia, a cidade e a região entram em decadência. 17 LOUREIRO (2001:98) aponta um reflexo do início da decadência econômica de Manaus: Em 1913, existiam somente no centro de Manaus, mais de 2.500 casas abandonadas, o que representaria umas 20.000 pessoas a menos , que abandonaram a cidade e várias localidades do interior do estado. A população do município atingira uns 100.000 habitantes em 1910 e entre os anos de 1920 até 1950 a população da cidade apresentou uma queda em torno de 60.000 habitantes voltando a crescer no final da década de 50. (IGHA, 2000) O sistema elétrico de Manaus não pôde escapar a este período de decadência, a energia que dera glamour e desenvolvimento econômico estava sucateado, com tendência ao total estrangulamento na década de 50. Manaus mergulhou na estagnação econômica e social, com futuro incerto e parecia fadada a não mais sair dessa falência , quando começou a discussão sobre alternativas para incentivar o desenvolvimento da cidade. Surgindo neste momento, a proposta de constituição de uma nova companhia energética, dotada de elementos necessários para solucionar o problema de energia elétrica na cidade. Foi concebido pelo então deputado federal Paulo Pinto Nery, o projeto de criação da empresa que teria a concessão dos novos serviços de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica apresentado ao Congresso Nacional e convertendo-se na Lei nº 1654, de 28 de julho de 1952. Antes, porém, que a Companhia de Eletricidade de Manaus (CEM) começasse a gerar energia, outra obra da maior importância foi construída na cidade em 1956, uma refinaria de petróleo. Foi construída a Companhia de Petróleo do Amazonas (COPAM) pelo empresário Isaac Benaynon Sabbá, equacionando o problema do abastecimento de combustíveis. Na década de 70 passou a integrar o Sistema Petrobrás, com o nome REMAN Refinaria de 18 Manaus. Hoje, tem a capacidade de refinar de 45.000 baris de petróleo por dia. Somente dez anos após a lei nº 1.654, de 28 de julho de 1952, em 5 de setembro de 1962, seriam acionadas as máquinas do novo complexo de geração e distribuição de energia elétrica de Manaus. Nesta data, nascia a Companhia de Eletricidade de Manaus (CEM) constituída pelo governo do Estado e transformada em subsidiária da Eletrobrás, em 1965. A partir de 62 as luzes voltaram a brilhar na cidade de forma mais intensa, contudo continuava a preocupação em relação ao atraso econômico em Manaus. A Companhia de Eletricidade de Manaus (CEM) assume então, a partir deste momento, a responsabilidade de garantir o abastecimento de eletricidade do município de Manaus, que sofreu prejuízos em virtude da falência de seu antigo sistema elétrico, e a necessidade de ampliar seu parque gerador à medida que a cidade crescia. Um estudo realizado em 1962 pela CEM, identificou e ratificou que o consumo de energia elétrica em Manaus era crescente, então jamais seria contido nos limites de consumo atuais de mercado. Constatou então, que a demanda sempre esteve acima da previsão, o que obrigou a empresa encomendar em 1967, um novo estudo técnico-econômico de ampliação do sistema de geração, cinco anos após a inauguração da usina pioneira da Aparecida . O governo do Estado do Amazonas com autorização da Assembléia Estadual criou em 1963, as Centrais Elétricas do Amazonas (CELETRAMAZON), empresa estadual responsável pelo suprimento de energia elétrica em todo o Estado, com exceção da capital. A concessionária contava com dezenas de pequenas usinas termelétricas, acionadas principalmente a óleo diesel. Mas alguns municípios, como Tefé, dependiam da lenha como fonte de combustível para abastecer a usina térmica. 19 Em 1967, a Zona Franca de Manaus foi criada pelo Decreto Lei nº. 288, de 28 de fevereiro, dentro do plano nacional de desenvolvimento para a região Amazônica, sendo um novo modelo econômico, tendo por base a criação de uma área de livre comércio de importação, exportação e de incentivos fiscais, durante o governo militar. A zona Franca trouxe um crescimento espantoso e desordenado à cidade, com a criação de numerosos empregos, trazendo uma quantidade enorme de imigrantes oriundos principalmente do Pará, Ceará e interior do Estado. SOUZA cita sobre o assunto: Imediatamente após a instalação da Zona Franca foram implantadas uma série de indústrias e oferta de quarenta mil empregos. No que toca a divisão do trabalho, as indústrias da Zona Franca operavam as fases finais de montagem e acabamento do produto. Fases que exigiam um número maior de mão-de-obra. Aproveitando a legislação, essas indústrias se estabeleceram numa área da cidade de Manaus, no chamado Distrito Industrial, onde receberam terrenos a preços irrisórios, totalmente urbanizados. (1994:163) O progresso que a cidade experimentou depois de 1967, nos quatro anos seguintes, fez ultrapassar novamente a estimativa de consumo. O crescimento da demanda, entre os anos de 1968 e 1971, foi superior a 20 por cento ao ano. Em 1970, a venda de energia elétrica per capita correspondeu a 368 kw/h. (ELETRONORTE, 1998) Então houve a necessidade de executar a expansão do sistema elétrico da cidade, com início em 1967 e executado em dois anos, que acrescentou ao sistema 20.775 KW, sendo 11.400 KW correspondentes a seis unidades diesel compactas, que começou a funcionar no dia 28 de março do mesmo ano. E em 1971, mais cinco unidades diesel compactas foram instaladas, somando 7.500 kW, aumentando a capacidade de geração para 50.775 KW 20 no total. Todas essas ampliações localizadas na Usina Termoelétrica de Manaus nº 1 (UTM 1), no bairro da Aparecida, na rua Wilkens de Matos. (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL,1996) FIGURA 2.3 - Usina Térmica de Manaus (UTM 1), Aparecida. FONTE: Eletronorte - 25 anos. Memória da Eletricidade, Rio de Janeiro, 1998 A Usina Termoelétrica de Manaus nº 2 (UTM 2) comumente denominada de Usina do Mauá, localizada no distrito industrial de Manaus, na margem do Igarapé do Mauazinho, estava inicialmente prevista para entrar em operação a partir de 1973, contudo foi inaugurada quatro anos após a data inicial, o que ocorreu oficialmente no dia 15 de novembro de 1977, com as presenças do presidente Ernesto Geisel e do ministro das Minas e Energia, Shigeaki Ueki. 21 FIGURA 2.4 - Usina térmica de Manaus 2 (UTM 2), Mauazinho FONTE: Eletronorte - 25 anos. Memória da Eletricidade, Rio de Janeiro, 1998 A UTM 2 acrescentou ao parque gerador da Companhia de Eletricidade de Manaus 37.218 KW de potência, em sua primeira etapa, através da entrada em operação de duas unidades de 18.609 KW. Na sua segunda etapa, a usina do Mauazinho somou ao sistema energético de Manaus mais 100.000 KW, através de duas unidades geradoras de 50.000 KW. (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL,1996) Na década de 70 ocorreu um certo perigo de crise de energia elétrica, que naquela altura rondava a capital do Amazonas, principalmente em vista da expansão do distrito industrial, com a montagem de novas fábricas que necessitavam de energia para executarem seu processo de produção. Destacamos que quase a totalidade das indústrias do Pólo Industrial de Manaus é de montagem eletro-eletrônico e que necessitam de grande bloco de energia. Este perigo foi afastado com a entrada em operação da Usina do Mauazinho, cujas linhas de transmissão e sistema de distribuição garantiram a energia necessária para o distrito industrial. 22 Manaus passou a dispor, com o pleno funcionamento de suas unidades de geração somando as usinas UTM 1 e UTM 2 de 169.093 KW para um consumo de pico registrado na cidade na ordem de 124.000 KW em 1977. Entretanto, a capacidade ainda não era satisfatória a CEM, que precisava manter uma capacidade firme acima da previsão de pico máximo já atingido na cidade para confiabilidade do sistema elétrico e não gerar prejuízos à cidade. (ELETRONORTE,1998) A capacidade firme, em termo energético, resulta da subtração da capacidade do maior gerador do sistema do total da potência gerada pelo parque energético. Assim, o parque gerador da CEM dispunha de 119.093 KW de capacidade firme, ou seja, 169.093 KW total de carga menos 50.000 KW potência do maior gerador na UTM 2. Uma pane ou manutenção em uma das duas unidades de 50.000 KW deixaria a CEM abaixo do pico de consumo, trazendo risco de racionamento para seus consumidores. A possibilidade de um pico maior que a capacidade firme de geração, fez com que a CEM providenciasse uma nova usina de energia elétrica flutuante, com potência de geração que iria dobrar a capacidade firme do sistema elétrico da cidade. Em 1980, chegou a Manaus a Usina Electron, proveniente da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), dotada de turbina a gás capaz de gerar 120.000 KW, através de 6 unidades de 20.000 KW sendo acoplada à Usina do Mauazinho em 22 de dezembro do mesmo ano. A usina Electron funcionaria a princípio somente para manter o equilíbrio entre produção e o consumo de energia, substituindo com suas unidades de 20.000 KW, a potência dos geradores a vapor das usinas de Aparecida ou Mauazinho que eventualmente entrassem em pane ou manutenção. Com o acoplamento da Usina Electron a capacidade instalada passou a ser de 289.093 KW ou 289 MW. 23 FIGURA 2.5 - Usina Electron. 2002 FONTE: PRÓPRIA/ABRIL/2002 Interessante observar que o uso dos geradores a gás da Electron gerou uma economia de combustível e um equilíbrio operacional para a Companhia. Na tabela 2.1 identificamos a evolução da capacidade de geração do parque térmico de Manaus que cresceu rapidamente nas três últimas décadas, do final da década de 60 ao início dos anos 80. Em 3 de setembro de 1980, o ministro das Minas e Energia César Cals determinou a criação de uma comissão especial incumbida de proceder aos levantamentos necessários às transferências dos sistemas de distribuição e geração da CEM, respectivamente para Celetramazon e Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte). 24 Tabela 2.1 - Evolução da produção de Energia em Manaus ANO Sistema anterior a 1968 1968 1969 1971 1973 1976 1978 1980 1990 2000 PRODUÇÃO kW 22.500 3.900 15.000 9.375 37.218 20.000 100.000 120.000 549.000 941.000 Fonte: Manaus Energia S.A. 2000 Nota: http://www.Manausenergia.com.br/informações/2000. A proposta de encampação da CEM pela Celetramazon feita pelo ministro das Minas e Energia César Cals, durante o governo estadual de José Lindoso, recebeu vários protestos dos deputados estaduais, principalmente, na figura do deputado José Belo Ferreira, presidente da Assembléia Legislativa do Estado da época. Afirmando que a Celetramazon não teria capacidade financeira de investir na CEM, por apresentar problemas de ordem econômica, os parlamentares aprovaram a proposição do deputado Josué Filho de encaminhar ao Presidente da República João Batista de Figueiredo, o protesto dos parlamentares amazonenses contra a transferência da CEM para a companhia estadual. O governo federal e a Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás) anunciaram, no dia 27 de outubro de 1980, sua decisão baseada no relatório elaborado pela Comissão responsável de avaliar a Companhia de Eletricidade de Manaus, que os serviços de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica de Manaus seriam transferidos para a Eletronorte, a partir de 01 de janeiro de 1981. 25 2.4 - Ação estatal na produção de energia na região amazônica: Eletronorte A região amazônica abriga a maior floresta tropical úmida da terra, que recobre uma área de 5,5 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 3,3 milhões estão no Brasil e possui o mais importante e complexo sistema de água doce do mundo, com aproximadamente 7 milhões de quilômetros quadrados de áreas drenadas, incluindo o rio Tocantins. Sua imensa bacia hidrográfica é formada por mais de 1.100 rios de tamanhos variados. (ELETRONORTE, 1998) O Rio Amazonas é o principal sistema fluvial de drenagem, que nasce na região andina e percorre 6.711 quilômetros até sua foz, no Estado do Pará. A descarga média final do Amazonas é de 175 mil metros cúbicos por segundo, representando 20% do total das águas doces do mundo drenadas aos oceanos. A região ainda apresenta uma baixa densidade demográfica, algo em torno de 3 habitantes por quilômetro quadrado. As maiores concentrações localizam-se no baixo e médio Amazonas. Abrigando apenas 11% da população brasileira e contribuindo com cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). A renda per capita situa-se entorno da metade da média brasileira com exceção, a população que vive na cidade de Manaus que alcança quase a média nacional. (IBGE, 2000) A Amazônia Legal, definida por critérios geopolíticos, compreende os estados do Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Tocantins, oeste do Maranhão e norte do Mato Grosso, com 5 milhões e 26 mil quilômetros quadrados e uma população de 20 milhões, censo 2000, entre os quais 140 mil índios que representam 80% do contingente indígena do país. 26 A Amazônia detém considerável reserva de minerais tradicionais (ferro, bauxita, ouro e cassiterita), além de minerais com novas aplicações tecnológicas (nióbio, manganês, titânio entre outros). Apresenta potencial hidrelétrico superior a 50% da reserva nacional. Concentra a maior reserva de madeira tropical do mundo, com quase 300 milhões de hectares de floresta densa e 140 milhões de hectares de floresta aberta. (ELETRONORTE, 1998) Na década de 60, a Amazônia tornou-se uma frente de ocupação e urbanização induzida pelo governo, bem como de investimentos de capital internacional e nacional, o que resultou numa mudança nas formas tradicionais de uso do espaço, diversificando-se as atividades produtivas, os conflitos de interesses e as áreas desmatadas.(BECKER, 1998) O governo federal lança em 1970 o Programa de Integração Nacional (PIN), que tem por base a construção de rodovias, portos e a implantação de programas de colonização e reforma agrária por meios de projetos agropecuários e agroindustriais nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, tendo como objetivo integrar essas regiões a economia nacional e não permitir sua ocupação por outra nação. BECKER realiza uma análise sobre o papel da Amazônia dentro PIN: A Amazônia assume posição-chave frente às prioridades econômicas e geopolíticas de ordem interna e externa. No plano interno é vista como capaz de promover uma solução conjunta para os problemas de tensão social do Nordeste e para a continuidade do crescimento do Sudeste, abrindo a possibilidade de novos investimentos, recursos e mercados em tempo rápido. (1990:12) Os grandes projetos de infra-estrutura viária, de ocupação agropastoril e os projetos hidrelétricos provocaram intensa migração para Amazônia. Sobre o processo migratório BECKER comenta a respeito: 27 A partir da década de 70, contudo, a intensificação da apropriação privada das terras e o controle das terras virgens pelo governo impedem o movimento espontâneo de ocupação. Simultaneamente, a migração passa a ser fortemente induzida e orientada pelo governo (...). Isto porque a migração constitui condição não só do povoamento, mas também da formação da força de trabalho.(1990:46) Na região Norte, as intervenções do Estado no campo da energia elétrica permaneceram limitadas até o final da década de 1960, quando se fez necessários novos estudos de mercado e a construção um planejamento integrado de produção de energia para região. O governo federal criou em 31 de dezembro de 1968, o Comitê Coordenador dos Estudos Energéticos da Amazônia (ENERAM), no governo do presidente da República Gen. Artur da Costa e Silva, mediante a promulgação do Decreto nº 63.952/68, onde este comitê era subordinado ao Ministério das Minas e Energia. O ENERAM, em 1969 iniciou sua atividade de reconhecimento do potencial energético da bacia hidrográfica da Amazônia. O ENERAM contratou a firma HIDROSERVICE como consultora para realizar os estudos e levantamentos energéticos sobre as seguintes áreas: Manaus, Tefé e Boa Vista. Em 6 de janeiro de 1972, o ENERAM encerrou suas atividades apresentando relatório final elaborado por seus consultores, ao ministro da Minas e Energia, Antonio Dias Leite com os resultados dos estudos hidroenergéticos e dos inventários e as recomendações quanto às possibilidades e condições efetivas de aproveitamentos hidrelétricos em diferentes rios da Amazônia. No Estado do Amazonas, os estudos realizados apontaram para o aproveitamento dos seguintes rios: Alalaú, Jatapu, Uatumã e Urubu. Os 28 consultores contratados pelo ENERAM escolheram o rio Jatapu, em detrimento do rio Alalaú. No início da década de 70, a idéia de constituir uma empresa de energia elétrica de âmbito regional para a Amazônia tomou força, e atendendo a sugestão do ENERAM foi criada as Centrais Elétricas do Norte do Brasil. A criação das Centrais Elétricas do Norte do Brasil (ELETRONORTE) foi prevista na Lei nº 5.824, promulgada em 14 de novembro de 1972 pelo presidente Emílio Médici. Com responsabilidade de coordenar o programa de energia elétrica na Amazônia incluindo a construção e a operação de centrais elétricas, mas os sistemas de transmissão. No dia 20 de junho de 1973 foi instalada oficialmente a Eletronorte, em Brasília. (ELETRONORTE,1992) Com o Decreto nº 72.548, de 30 de julho de 1973, a Eletronorte recebeu autorização para funcionar como concessionária de energia elétrica na região amazônica. De acordo com o estatuto de constituição da empresa, a Eletronorte ficou responsável pela realização de estudos e projetos energéticos para a região; a construção e operação de usinas geradoras de eletricidade e linhas de transmissão da mesma; a coordenação dos programas de energia elétrica na Amazônia Legal, podendo inclusive associar-se a outras empresas de energia elétrica, além de adquirir o controle acionário, ou mesmo criar novas empresas na região e contribuir na prestação de serviços de seus técnicos à Eletrobrás e às empresas de energia elétrica da sua área de atuação. A área de atuação da Eletronorte compreende a Amazônia Legal brasileira, composta por todos os estados da região Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia e Tocantins), mais a parte norte do estado do Mato Grosso acima do paralelo 18 e a parte oeste do Maranhão. Conforme representa a figura 2.6 a seguir. 29 FIGURA 2.6 - Área de atuação da Eletronorte: Amazônia Legal FONTE: Eletronorte, 1999 Com a mudança de governo, em março de 1974, foi lançado o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), contribuindo para reforçar o papel da Eletrobrás e suas empresas na região Norte. Neste período, com a primeira crise do petróleo, em outubro de 1973, e a estimativa de crescimento do PIB no país na ordem de 10 a 12% ao ano, fez com que o II PND apontasse para uma grave crise energética para os próximos dez anos, o que contribuiu para a tomada de decisão em optar pela construção de hidrelétrica na Amazônia. A ação da Eletronorte entre 1976 a 1980 deve ser compreendida no contexto das mudanças que afetaram a economia brasileira nesta época, da dinâmica de ocupação e o próprio desenvolvimento da região amazônica. Neste período, a Eletronorte desenvolveu estudos para a implantação de mais quatro hidrelétricas na região, mas somente, Balbina no Amazonas e Samuel em Rondônia foram construídas.(ELETRONORTE,1998) A escolha do aproveitamento hidrelétrico do rio Uatumã em detrimento ao rio Jatapu para construção da hidrelétrica de Balbina, ocorre contrário aos estudos realizados pelo ENERAM que indicava o rio Jatapu com melhor 30 potencial hidrelétrico. Na mesma época, a CELETRAMAZON executou um estudo detalhado sobre o rio Uatumã e sua potencialidade. Em 1973, a Eletronorte firmou um contrato com o consórcio MONASA Projetos e ENGE-RIO Consultoria e Engenharia e Consultoria, para realizar um inventário sobre o rio Uatumã. Os consultores recomendaram no relatório final que a construção da hidrelétrica de Balbina fosse no rio Uatumã, distante 146 quilômetros de Manaus. OLIVEIRA explana sobre a hidrelétrica de Balbina: A hidrelétrica de Balbina foi, dos projetos públicos executados recentemente na Amazônia, o mais criticado. As críticas iam da inviabilidade econômica, ao impacto causado ao meio ambiente e ao desrespeito aos direitos das populações atingidas. A sua construção mostrou de forma inequívoca os resultados e os contrastes de um planejamento centralizado, autoritário e excludente que norteou a ação do Estado no Amazonas. (2000:160) Em setembro de 1979, o projeto básico da usina hidrelétrica de Balbina foi concluído e confirmado a capacidade instalada de gerar 250 MW, composta por cinco turbinas com potência de 50 MW cada, previsto dentro dos estudos de viabilidade de construção da hidrelétrica. As obras civis iniciaram em 1981, após assinatura do contrato com a construtora Andrade Gutierrez. Em fevereiro de 1989, o reservatório atingiu a quota de 50 metros e Balbina entrou em operação com uma unidade geradora de 50 MW e iniciou seu abastecimento de energia para Manaus. O fechamento da barragem inundou uma área de 2.360 quilômetros quadrados, formando um lago com profundidade média de 7,4 metros e mais de mil ilhas. No decorrer do ano de 1989, mais três máquinas entraram em operação, elevando a capacidade da hidrelétrica para 200 MW, suficiente para abastecer 80% do consumo bruto da cidade de Manaus. A geração de Balbina permitiu a substituição parcialmente da energia térmica gerada em Manaus. A hidrelétrica de Balbina caracteriza-se pela efetiva utilização dos rios da bacia 31 Amazônica na geração de energia elétrica para abastecer um sistema isolado. (ELETRONORTE, 1992) O setor energético, apesar do agravamento da crise econômica do país, investiu em obras de geração e transmissão, executadas pelas empresas regionais. A exemplo da Companhia de Eletricidade de Manaus (CEM), depois transformada em Eletronorte que ampliou o parque de geração na cidade de Manaus neste período. No dia 31 de dezembro de 1980, ocorre a transferência das usinas da CEM em Manaus para a Eletronorte. O sistema recebido da CEM contava em 1981 com 289,2 MW instalados em 3 usinas: a térmica diesel flutuante Electron com 120 MW e as térmicas a óleo combustível Aparecida (UTM I) com 32 MW e Mauazinho com 137,2 MW (UTM II). Os sucessivos adiamentos da entrada em operação de Balbina, em função das limitações de recursos, levaram a companhia a reforçar o parque térmico da capital com a instalação de unidades de pequeno investimento e rápida montagem, ociosas em outro sistema elétrico no país. (ELETRONORTE,1998) O parque térmico de Manaus, 1989, contava com 457,5 MW. O aumento de potência deveu-se exclusivamente às máquinas da usina a gás de Aparecida. A usina UTM I começou a operar em 1984, com duas unidades de 26 MW cada uma. Dois anos depois, foram instaladas mais duas de mesma potência e, em 1988, três geradores de 21,1 MW. As sete máquinas totalizando 167,3 MW vieram da usina de Tapanã II, em Belém do Pará. Além de aumentar a geração no parque térmico de Manaus, a Eletronorte fez uma expansão na linha de transmissão de 69 Kv. (ELETRONORTE, 1999) No final do ano de 1989, a cidade de Manaus contava com uma potência de 657,5 MW instalado no seu sistema elétrico, isto representa a somatória da potência do parque térmico instalado em Manaus mais as quatro 32 máquinas que entraram em operação na hidrelétrica de Balbina. (ELETRONORTE, 1998) 2.5 - A crise de eletricidade de 1997 em Manaus: desafio a Eletronorte A década de 90 inicia-se, com uma potência total instalada próxima do 700 MW, assegurando energia para a produção do Pólo Industrial de Manaus (PIM) e bem estar da população local. Neste período, a Eletronorte não realiza nenhuma ampliação no parque térmico da cidade de Manaus, ao contrário da década anterior em que foram feitos investimentos de ampliação na geração de eletricidade, contudo observa-se que a demanda de energia continua crescendo na cidade. Em 1997, a região amazônica sofreu ação intensa de um fenômeno climatológico chamado El Niño que determinou alterações climáticas na região. Caracteriza-se por induzir baixos índices pluviométricos, principalmente na margem esquerda do rio Amazonas, diminuindo bastante o nível dos rios e prejudicando a navegação e a produção de energia das hidrelétricas. As reduções de chuvas e elevação da temperatura foram fatores que contribuíram para aumentar o consumo de energia elétrica na cidade de Manaus. A crise no sistema elétrico de Manaus em 1997 não foi ação exclusiva do El Niño . Mas, também a conseqüência da ausência de investimentos do governo federal por um período próximo de 10 anos no parque térmico da cidade. O último grande investimento foi a construção da Usina hidrelétrica de Balbina inaugurada em 1989, a partir deste momento não houve nenhum novo investimento na geração de energia. A ação do El Niño , a falta de investimentos, a quebra de geradores nas térmicas e o aumento no consumo, no segundo semestre de 1997, obrigou a Eletronorte instituir um racionamento no fornecimento de energia para toda a cidade de Manaus com cortes alternados de 3 horas por dia. O que resultou na redução da produção do Pólo 33 Industrial de Manaus, prejuízo no comércio e grande mal-estar na população pela falta deste bem do mundo moderno. Para solucionar o problema da falta de energia foram contratados dois produtores independentes de energia elétrica, a El Paso e a CMI Power, ambas empresas estrangeiras norte-americana. Este foi o segundo contrato realizado no Brasil entre uma concessionária de energia e um produtor independente, amparado na Lei nº 9074 de Julho de 1995, que instituiu a figura do produtor independente de energia elétrica no sistema elétrico brasileiro. O contrato foi assinado pelas empresas americanas com a Eletronorte, com duração de cinco anos e prorrogável por mais dois anos, onde ficou a empresa El Paso International responsável em gerar 242 MW e a empresa CMI Power 50MW. No dia 22 de dezembro 1997 entraram em operação as primeiras máquinas da El Paso na Planta A com 50 MW, amenizando a crise de energia vivida na cidade. Contudo, o navio-usina da CMI Power com capacidade de geração de 50 MW que deveria ter entrado em operação no dia 20 de dezembro de 1997, não iniciou sua produção devido as avarias ocorridas durante a viagem dos Estados Unidos ao Amazonas e o licenciamento ambiental da usina. Solucionado o problema técnico, o naviousina não recebeu a licença ambiental do órgão estadual de proteção ambiental (IPAAM), pois não estava em conformidade com as normas ambientais para produção de energia embarcada, segundo informações da Eletronorte. No decorrer do ano de 1998 entraram em operação no parque térmico de Manaus, mais duas unidades da El Paso, a Planta B instalada na Usina do Mauazinho (UTM II) com capacidade nominal de 120 MW e Planta C numa balsa atracada na Usina de Aparecida (UTM I) com capacidade nominal de 100 MW. A Planta C saiu de operação em 1998 com a entrada da Planta 34 D montada no plano inclinado na usina de Aparecida no mesmo ano. (RIMA EL PASO, 1997) A construção e operação do parque térmico do produtor independente, a manutenção das máquinas com problema da concessionária e a recuperação no nível da barragem da hidrelétrica de Balbina estabilizaram a produção de energia e a confiabilidade do sistema da Eletronorte, assegurando a produção do Pólo Industrial de Manaus e conforto da sociedade de Manaus em 1998. O sistema de produção de energia elétrica em Manaus é verticalizado e isolado, pois compreende a geração, distribuição e comercialização. A Eletronorte busca enquadrar-se hoje dentro do processo de privatização das empresas estatais do governo federal. Para tanto, procura seguir as diretrizes do Plano Nacional de Desestatização. Com a finalidade de preparar a privatização do sistema elétrico de Manaus, dentro deste processo, criou uma nova subsidiária da Eletronorte para operar no sistema Manaus, a empresa Manaus Energia S.A. que a partir de 04 de fevereiro de 1998, tornava-se responsável pela energia elétrica na cidade de Manaus. Destacamos que no ano de 1983, foi realizada uma mudança na razão social na companhia energética pertencente ao estado do Amazonas, de Centrais Elétricas do Amazonas (CELETRAMAZON) para Companhia Energética do Amazonas (CEAM) com as mesmas atribuições e responsabilidades de eletrificar o interior do Amazonas. Em abril de 2000, ocorre a federalização da CEAM e sua administração é transferida para a Manaus Energia, agora assumindo a responsabilidade de gerar eletricidade para 61 municípios e 33 comunidades interioranas herdadas da CEAM, ampliando sua ação a todo Estado do Amazonas. Contudo, até junho 2002, este processo de transferência não havia sido concluído. 35 A tabela 2.2 demonstra o consumo médio em KVA/hora/mês em abril de 2001 de dez municípios do Amazonas, que integram o sistema da CEAM. TABELA 2.2 - Consumo médio de energia em dez municípios do Amazonas Município Itacoatiara Manacapuru Parintins Tefé Iranduba Coari Tabatinga Humaitá São Gabriel da Cachoeira Maués Consumo KVA/hora/mês 4,350 milhões 4,315 milhões 3,760 milhões 2,855 milhões 2,527 milhões 2,495 milhões 2,107 milhões 1,975 milhões 1,495 milhões 1,340 milhões Fonte: CEAM, balanço,2000 Nota: publicado em abril 2001 Em matéria publicada em nove de outubro de 2001, no Jornal A Crítica que circula na cidade de Manaus, reforça que a Manaus Energia S.A., dispõe 790 MW para atender a demanda do verão na cidade de Manaus neste ano, e ressalta que possui uma capacidade total de 990 MW mesmo estando algumas máquinas em manutenção preventiva. A empresa informou que o maior pico de consumo aconteceu nos meses de setembro e outubro de 2001, atingindo um consumo pico na ordem 610 MW. A maior demanda é representada pelo setor industrial com 35,3% da carga consumida, seguida pelo setor residencial com 30,3%, o setor comercial com 18,6%, zona rural com 0,2%, o poder público com 7,1%, a iluminação pública com 2,1%, o serviço público com 5,0% e consumo próprio com 1,4%. 36 FIGURA 2.7 - Demanda Máxima de Energia Manaus Energia 630 610,0 609,5 610 582 590 556,5 MWh/h 570 550 582,0 535 560,0 547,4 535 535,0 555,0 542,0 561,0 2000 535,0 503,9 510 490 556,5 513,0 2002 2001 551,0 530,2 530 568,0 506,2 476,0 499,2 470 476,0 472,3 476,8 464,3 450 Jan 495,5 Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ag Set Out Nov Dez MESES FONTE: Manaus Energia, Balanço 2001 A capacidade total de geração da Manaus Energia é de 990 MW distribuído pela produção de energia da usina hidrelétrica de Balbina com 250 MW; o parque térmico da Manaus Energia, com 349 MW e o parque do produtor independente de energia El Paso , com 391 MW. 2.6 - Sistema isolado Manaus e as usinas termelétricas A cidade de Manaus caracteriza-se por ter um sistema isolado de energia, baseado numa geração hidráulica e térmica, correspondente respectivamente a Usina hidrelétrica de Balbina e as duas usinas térmicas existentes em Manaus, da concessionária e do produtor independente. Destacamos que as térmicas do PIE estão localizadas nas mesmas áreas da concessionária da Manaus Energia, nos bairros de Aparecida e Mauazinho, interligando seu sistema de geração na rede pública de distribuição da concessionária. 37 As termelétricas construídas em Manaus pelo produtor independente utilizam como força motriz dos grupos geradores, motores a diesel e turbinas a gás. Estes equipamentos consomem óleo diesel, óleo para turbina elétrica (PTE) e óleo para gerador elétrico (PGE), além de possuir a alternativa de alguns grupos gerados utilizarem gás natural, após um up-grade de seus motores e turbinas. Os grupos geradores a diesel nasceram a partir do motor a diesel como acionador primário do gerador e estão disponíveis em quase todos os tamanhos, onde uma ampla faixa de potência é muito utilizado nas cidades da Amazônia. A geração de energia a partir de grupos diesel apresenta uma variada faixa de velocidade entre 100 a 1800 rotações por minuto (rpm). A faixa de velocidade caracteriza os grupos geradores de baixa, média e alta velocidade, entre 100 a 277 rpm é de baixa velocidade, os de média velocidade estão entre 300 a 600 rpm e os de alta velocidade de 720 a 1800 rpm. O motor a diesel pode utilizar na sua combustão óleos destilados leves (diesel) e óleo pesado médio como o óleo combustível (1A e 2A). Os motores de velocidade alta e média podem utilizar como combustíveis certos gases, tais como: o gás natural, gás liquefeito de petróleo (GLP) e outros. SOUZA comenta sobre as dificuldades para o uso de óleo diesel no interior do estado do Amazonas: As centrais térmicas a óleo diesel são largamente empregadas no Estado do Amazonas. No entanto, elas têm-se mostrado pouco eficientes devido ao elevado custo do combustível e à dificuldade de transporte deste. (1996:77) O sistema isolado Manaus apresenta-se configurado com geração, transmissão, distribuição e comercialização controlada pelo sistema Eletronorte, que é representada diretamente pela sua subsidiária Manaus 38 Energia S.A., responsável pela energia na capital do estado, além de fornecer energia elétrica para os municípios de Pres. Figueiredo e Rio Preto da Eva, ficando a distribuição e comercialização para Companhia Energética do Amazonas (CEAM). O sistema Manaus é o maior sistema isolado da região norte e do país, que até 1989 era abastecido exclusivamente por usinas termelétricas. Atualmente, o parque gerador de eletricidade de Manaus é um sistema verticalizado constituído de um parque hidrotérmico, representado pelas usinas térmicas de Aparecida e do Mauazinho, mais a geração da hidrelétrica de Balbina. 39 3. Projeção do mercado de energia elétrica em Manaus 3.1 Perfil do mercado de energia na cidade de Manaus Situada no médio vale do Amazonas, Manaus é o centro da microregião do rio Negro-Solimões considerada a cidade economicamente mais importante do Estado. Na década de 80 concentravam-se na cidade os empreendimentos mais significativos para a sustentação da economia regional da Amazônia Ocidental. Exemplos disso é o início da primeira ampliação da refinaria de petróleo de Manaus de 6.000 barris/dia para 17.000 barris/dia controlada pela Petrobrás, o começo da operação da Companhia Siderúrgica do Amazonas (SIDERAMA), única usina siderúrgica construída na região norte, mais breve em seu funcionamento e o próprio fortalecimento do distrito industrial de Manaus, com a implantação de modernas indústrias de montagem de aparelhos elétricos, eletrônicos e mecânicos. A criação da Zona Franca de Manaus trouxe importantes repercussões econômicas e sociais, destaca-se o aumento e atração do volume de negócios para cidade, incremento do turismo de compra e com conseqüente acréscimo da renda real da população. Isto proporcionou a Manaus a concentração de 95% da economia do Estado, distribuída entre o pólo industrial como maior gerador de receita, e atualmente responsável por parte da produção de eletro-eletrônico nacional, vale lembrar que o pólo industrial usufrui de incentivo fiscal e o setor comercial que até início dos anos 90 contribuía para gerar receita ao Estado através do turismo de compra de produtos importados. Ambos representando as parcelas mais importantes da receita do Estado. O setor industrial gerou aproximadamente 80 mil empregos, mas devido a redução das taxas de importação e abertura do mercado nacional para produtos importados, houve queda na produção e do comércio local, 40 conseqüentemente reduziu o nível de empregos na cidade tanto na indústria quanto no comércio. Outra atividade econômica de grande potencialidade e destaque no final da década dos anos 80 é a exploração mineral da cassiterita, pela empresa mineradora Taboca do Grupo Paranapamena, gerando o Imposto Único sobre Minerais (IUM) que ultimamente ocupa posição de destaque na arrecadação de tributos do Amazonas. Destacamos como conseqüência da implantação da Zona Franca de Manaus até o início dos anos 90 o aumento da população urbana que triplicou em três décadas, a expansão da cidade nas direções da zona norte e leste de Manaus, melhoria no padrão de vida com aumento nos números de postos de trabalho na indústria e no comércio, o que elevou o nível de consumo da população inclusive relacionado com aumento no consumo de eletricidade residencial e industrial. Contudo no decorrer da década de 90 com fortalecimento do processo de globalização e a forte concorrência do comércio internacional sobre a economia dos países em processo de industrialização, caso do Brasil, fez com que se gerasse um impacto sobre a economia nacional, principalmente nas áreas que se beneficiavam da isenção das taxas sobre produtos importados, caso da Zona Franca de Manaus, isto produziu a decadência do comércio de compra de produtos importados, pois a redução do imposto de importação favoreceu o comércio das demais regiões do Brasil, levando a um impacto negativo sobre o comércio da cidade de Manaus, além do que, obrigou o parque industrial a tornasse competitivo no mercado, para tanto, implementou medidas de automação no seu processo produtivo. As combinações destes fatos contribuíram para aumentar o desemprego, tanto no comércio quanto na indústria. 41 Hoje suprir o consumo de energia e continuar fornecendo energia com qualidade exigirá da concessionária Manaus Energia um contínuo aumento de unidades geradoras, conforme demonstra a projeção da energia e demanda requerida para a cidade de Manaus, entorno de 8% ao ano. Manaus caracteriza-se como um sistema isolado abastecido por um parque de usinas hidrotérmicas, não sendo possível no momento uma interligação ao sistema nacional de energia das outras regiões do país.(MANAUS ENERGIA, 2002) 3.2 Demanda e oferta de energia na capital do Amazonas A geração, distribuição, transmissão e comercialização de energia elétrica no Estado do Amazonas, a partir de 2001, vem passando por mudanças na sua forma estrutural, a partir do processo de federalização da Companhia Energética do Amazonas (CEAM), que respondia integralmente pela eletrificação do interior do Estado e ampliação de ação da empresa estatal federal Manaus Energia S.A. Temos ainda que considerar a existência dos autoprodutores, que se localizam em áreas rurais não atingidas pelas linhas de transmissão das duas concessionárias. O que representa uma quantidade marginal quando comparado com o sistema Manaus Energia/CEAM. O Amazonas consome menos de 1% de toda energia final produzida no Brasil, onde cerca de 87% do consumo de eletricidade concentra-se na cidade de Manaus. Espera-se um contínuo crescimento econômico e populacional no Estado e, em particular, em Manaus o que implicará maior utilização de energia. As estimativas apontam para um crescimento na ordem de 8% no consumo de eletricidade para os próximos 10 anos na cidade de Manaus, segundo informações da Manaus Energia. E para satisfazer as expectativas de crescimento econômico e melhorar a condição material da população, a concessionária conta com apóio operacional de um produtor independente de energia elétrica (PIE) operando na cidade.(ELETRONORTE, CENÁRIOS 2020) 42 No balanço de energia elétrica anualizado de 2000 e 2001, da Manaus Energia S.A, indica uma produção total de 3.641.967 MWh e 3.803.331 MWh, respectivamente para os anos de 2000 e 2001. Observasse um aumento de 4,4% no ano de 2001 na energia total produzida no sistema isolado de Manaus. (MANAUS ENERGIA, BALANÇO 2001) FIGURA 3.1 - Produção de energia no sistema Manaus anos 2000 e 2001 2.446.967 2.500.000 2.000.000 1.708.203 1.558.421 Produção Total de Energia (MWh) 1.500.000 2000 2001 882.260 1.000.000 474.104 500.000 375.343 0 Mesa Balbina Produtor PIE Fonte: Manaus Energia, Balanço, 2000 e 2001. Nota: Elaboração própria No balanço do ano de 2000, a participação da geração hidráulica de Balbina foi de 1.558.421 MWh, correspondente a 42,8 % da geração total, enquanto a geração térmica produziu 2.083.546 MWh, 57,2% de toda geração do sistema Manaus, dentro da geração térmica encontra a geração própria da concessionária Manaus Energia com 375.343 MWh, o que equivale a 10,3% do total produzido e a geração do produtor independente (PIE) com 1.708.203 MWh, 46,9% da geração total do sistema Manaus de 3.641.967 MWh, quando analisamos individualmente cada agente produtor identificamos o PIE como o principal produtor de energia no sistema isolado de Manaus, ratificando sua 43 importância estratégica para manter a produção industrial e bem estar da população local. (MANAUS ENERGIA, BALANÇO 2001) No ano de 2001, o balanço registrou uma produção de 3.803.331 MWh de energia, distribuído da seguinte forma: a geração hidráulica de Balbina produziu 882.260 MWh, o equivalente a 23,2% total gerado. A geração térmica própria da Manaus Energia S.A. representou 474.104 MWh, 12,5% da geração do sistema e a produção do produtor independente foi de 2.446.967 MWh, isto equivale a 64,3% de geração de energia elétrica produzida no sistema isolado Manaus. A produção do PIE destaca-se mais uma vez como principal produtor de energia elétrica da cidade de Manaus. (MANAUS ENERGIA, BALANÇO 2002) FIGURA 3.2 Participação do PIE no sistema Manaus em 2000 e 2001 100 90 80 64,3 70 Produção Total de Energia (Porcentagem) 60 46,9 50 42,8 2000 2001 40 23,2 30 20 10,3 12,5 10 0 Mesa Balbina PIE Produtor Fonte: Manaus Energia, Balanço 2000 e 2001. Nota: Elaboração própria Quando comparamos a produção da geração térmica de 2000 com a produção de 2001, observa-se uma variação de 40,2% no aumento da participação das térmicas no sistema de geração de Manaus. Ao mesmo tempo, que se registra aumento na participação do produtor independente na 44 ordem de 43,2% na geração de Manaus.(MANAUS ENERGIA, BALANÇO 2002) A El Paso Amazonas como produtor independente de energia iniciou suas operações no segundo semestre de 1997 em Manaus, com um contrato de cinco anos para fornecer energia elétrica, podendo ser prorrogado por dois anos, ou elaborado novo contrato de fornecimento pelo mesmo período, após licitação pública. (MME, DNAEE, Portaria nº 323, 1997) Para elaborar uma projeção de mercado de energia elétrica faz-se necessário trabalhar dois elementos fundamentais a demanda e a oferta da área de interesse. Utilizaremos os principais critérios estabelecidos pelo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica DNAEE que dispõe de uma metodologia própria para estabelecer um modelo de projeção de mercado por classe de consumo ou demanda. Definida na portaria nº 377 de 26 de março de 1975. As principais classes são: Classe residencial representa a primeira parcela significativa de consumidores dentro da estrutura de mercado e é dotada de um significado social. Serve de base para as empresas projetarem seus mercados. Classe industrial - representa a segunda grande parcela significativa dentro da estrutura de mercado é base para projetar mercado, devido exigir grande bloco de energia. Classe comercial, serviços e outras atividades esta classe de consumo merece também destaque dentro da projeção de diversificação mercado abrangendo das empresas. consumidores Apresenta de tipos 45 diferentes, como comércio, transportes, comunicações e serviços, que apresenta certa dificuldade em sua análise. Classe rural compreende os consumidores rurais comum, cooperativas de eletrificação, as indústrias, as indústrias rurais e outras coletividades rurais. Poderes públicos apresenta características bem definidas, não oferecendo problemas para projeção de mercados. Iluminação pública possui aspectos especiais que lhe dão condições diferenciadas na projeção de mercados. Consumo próprio consumo próprio, a Portaria nº 377 define a classe de anteriormente não levada em consideração pelas empresas na projeção de mercados. Representa o consumo da empresa. Demanda máxima são conhecidas duas formas de estimar a demanda máxima. A primeira é a projeção direta dos valores registrados no passado; a segunda é obtida na demanda máxima anual através da determinação do fator de carga do sistema e sua aplicação aos valores de energia requerida. Os cenários de demanda de energia elétrica são desenvolvidos assumindo-se hipótese sobre o ritmo de crescimento da economia; mudanças estruturais na composição do produto e evolução do nível de intensidade energética dos diversos setores. 46 A tabela 3.1 indica que cerca de 84,8% dos clientes da Manaus Energia pertencem as classes residenciais, comerciais e industriais. Os 15,2% restantes se referem as demais classes de consumidores (rural, poder público, iluminação pública, serviços públicos e consumo próprio). Tabela 3.1 - Classes de Consumidores de energia em Manaus - ano 2001 Classe Consumidor Participação(%) Classe industrial 35,3 Classe residencial 31,3 Classe comercial 18,2 Rural 0,2 Poder público 6,7 Iluminação pública 2,3 Serviço público 4,6 Consumo próprio 1,4 Fonte: Manaus Energia, Balanço ano 2002 No Pólo Industrial de Manaus (PIM) os maiores consumidores industriais de energia são as empresas: a Moto Honda da Amazônia Ltda, Refinaria Isaac Sabbá Saneamento do Amazonas REMAN, Gillette do Brasil Ltda, Companhia de Águas do Amazonas, Samsung Display Devices do Brasil Ltda, Videolar S/A, Engepack Embalagens da Amazônia Ltda, Itautinga Agro Industrial S/A, Multibrás, Tecnocério e White Martins, sendo todos atendidos em tensão de 69 kV. (Manaus Energia, 2002) A cidade de Manaus nos últimos seis anos (1995 a 2001), de acordo com a tabela 3.2, fornecida pela Manaus Energia S.A. indica um aumento na demanda máxima registrada na ordem de 40%, quando comparamos os dados deste período e observasse uma manutenção na capacidade instalada na ordem de 950 MW médio de 1998 a 2001. Concluísse que a demanda 47 contínua crescendo e a capacidade de geração contínua a mesma, sem aumento no parque gerador de Manaus. TABELA 3.2 - Demanda Máxima registra de 1995 a 2001 Ano Demanda Máxima Capacidade MW Instalada MW 1995 403 591 1996 445 559 1997 488 629 1998 526 929 1999 548 1.032 2000 568 941 2001 610 990,5 FONTE: Manaus Energia S.A., Balanço 2001 A empresa Manaus Energia responsável em gerar energia para Manaus possui uma capacidade instalada de geração atualmente na ordem de 990,5 MW para atender seus consumidores nas suas diferentes classes. A tabela 3.2 demonstra a evolução no quadro da capacidade instalada na geração da Manaus Energia somando a geração da própria Manaus Energia de base hidrotérmica com a energia produzida pelo parque térmico do produtor independente, a partir de 1998, a capacidade instalada se estabilizou sendo suficiente para abastecer a demanda atual do sistema Manaus. Lembrando que o produtor independente iniciou sua participação no mercado no final de 1997 em Manaus. Fato a destacar é quando analisamos o quadro de demanda máxima em Manaus, observa-se uma queda anualmente na demanda, de 1995 a 1996 foi na ordem 10,4%; de 1996 a 1997 registrou 9,6%; de 1997 a 1998 atingiu 7,7%; de 1998 a 1999 foi de 4,1% e de 1999 a 2000 registrou apenas um aumento na demanda de 3,6%. Os fatores que contribuíram para esta queda foram redução no número de empresas no distrito industrial, redução no comércio da cidade e menor número de consumidores residenciais. 48 As três principais classes de consumidores em Manaus compreendem as classes residenciais, comerciais e industriais. Enquanto, o aumento no número de consumidores foi na ordem de 31%, observado na tabela 3.3, referente aos consumidores em Manaus, que no ano de 1995 possuía 251.150 consumidores e alcança em 2001, a marca de 330.901 consumidores. Tabela 3.3 - Total de consumidores em Manaus de 1995 a 2000 Ano Consumido r industrial Consumido r comercial 1995 Consumid or residencial 226.671 20.555 Demais consumidore s 1.994 Total de consumidore s 251.150 1.930 1996 234.261 2.103 23.167 2.135 261.666 1997 252.580 2.292 25.676 2.188 282.736 1998 265.487 2.346 26.837 2.210 296.880 1999 281.074 2.458 28.306 2.177 314.015 2000 297.724 2.278 28.520 Fonte: Manaus Energia. Balanço 2002 2.379 330.901 A Eletronorte empresa responsável pela produção de energia elétrica na região amazônica está com uma capacidade de produção de 7 milhões de quilowatts (7.000 MW), quase o dobro da energia consumida na região, que gira em torno de um consumo médio 4 milhões de quilowatts (4.000 MW), viabilizando infra-estrutura energética necessária ao desenvolvimento dos estados que integram a Amazônia, esta informação foi fornecida pela Eletronorte e publicada nas revistas de circulação nacional de março de 2002.(ELETRONORTE,2001) Hoje, a produção de energia no estado do Amazonas é responsabilidade do sistema Manaus Energia e do sistema CEAM. A Manaus Energia gera energia para a capital do estado, a cidade de Manaus, mais os municípios de Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva, além do distrito do 49 Puraquequara próximo a Manaus, atingindo uma população de 1.500.000 habitantes, quase 55% da população do estado. As 61 sedes municipais e, mais 33 comunidades interioranas recebem energia das térmicas da CEAM instaladas em cada município, e nas pequenas comunidades do Amazonas. Na tabela 3.4 demonstra a produção da CEAM de 1995 a 2001 no interior do estado. Tabela 3.4 - Total de energia gerada pela CEAM Ano Produção MWh 1995 8.598 1996 11.430 1997 12.188 1998 14.333 1999 16.623 2000 20.113 2001 28.013 Fonte: Manaus Energia. Balanço 2001 Hoje, o produtor independente representa 64,3% de toda oferta de energia disponível pela concessionária para abastecer o mercado de Manaus. Além de apresentar a capacidade de ampliar sua participação no mercado, porque seu parque é todo térmico, o que possibilita uma flexibilização na sua capacidade de produção, com o emprego de novas tecnologias, o que facilitará o aumento em sua capacidade de geração de suas usinas instaladas. 3.3 - Perspectiva de privatização no setor de elétrico da Amazônia Na primeira metade da década de 50, dois processos fundamentais, cujas bases foram lançadas na década de 30, tiveram continuidade em ritmo 50 acelerado: a industrialização, principalmente impulsionada pelo Estado nos setores básicos de infra-estrutura industrial e, paralelamente ao processo de industrialização ocorreu a própria modernização do Estado, interessado particularmente no fortalecimento econômico. Para alcançar seu objetivo de desenvolvimento industrial acelerado, o Estado priorizou em suas políticas públicas, investimentos em programas maciços de infra-estrutura, transporte e energia. A entrada em operação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e o projeto siderúrgico mineiro; a criação da empresa Petróleo Brasileiro S. A. (PETROBRÁS) e da Centrais Elétricas Brasileiras (ELETROBRÁS). São empreendimentos direto do Estado voltado à consolidação de um setor industrial de bens de produção que servisse de alavanca ao desenvolvimento posterior dos demais ramos industriais. No plano de ação do Estado, destaca-se a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e sua linha financiamento voltado à indústria, através do FINAME; na região amazônica destaca-se a ação do Banco da Amazônia (BASA), a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) com objetivos de desenvolver os estados integrantes da Amazônia Legal. COSTA afirma sobre a política econômica do Estado brasileiro: Desde a década de 50 que as políticas econômicas formuladas pelo Estado passaram a ser integradas em macroplanos de desenvolvimento, em que as questões setoriais, inclusive as regionais, passaram a ser integradas a uma estratégia que fosse válida para o país como um todo. (1989:61) Fato de destaque na ação do governo federal foi a elaboração do Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico e Social (1967-1976), que não 51 chegou a ser implementado, mas foi importante por criar uma nova perspectiva na questão regional do ponto de vista da integração nacional. Esta integração nacional estaria baseada na Teoria dos Pólos de Desenvolvimento , formulado pelo francês PERROUX que o define como: O pólo de desenvolvimento é uma unidade econômica motriz ou um conjunto formado por várias dessas unidades. Uma unidade simples ou complexa, um empresa, uma indústria, um complexo de indústrias, dizem-se motriz quando exercem efeitos de expansão [ por intermédio de preços de insumos e produtos, fluxos de informações e de serviços e de antecipações de procura e de decisão de investir] sobre outras unidades que com ela estão em relação (...). Num espaço econômico e social determinado, determinada unidade diz-se motriz quando a resultante de todos os esforços que gera é positiva, no sentido de transformar as estruturas por forma a elevar a taxa de crescimento do produto real global e líquido do conjunto considerado (1967:192-194) A respeito dos pólos de desenvolvimento implantados na Amazônia, COSTA explana que estes projetos receberam incentivos econômicos e fiscais: Os marcos da ocupação recente, pela sua importância para as políticas territoriais da região (...) mecanismos de incentivos fiscais, regulamentados em lei em 1968. Por esse mecanismo, empresas privadas interessadas em investir na região, poderiam obter isenção de até 100% do imposto de renda, por 15 anos, além de outros benefícios fiscais específicos.(1989:68 ). A questão das empresas estatais, como instrumentos de intervenção econômica do Estado nas sociedades capitalistas do final do século XX, constituiu uma grande controvérsia, pois a tendência da política neoliberal é deixar o mercado estabelecer suas próprias regras sem ação dos governos na economia. 52 Ressalta-se que atualmente o papel do Estado dentro do processo de privatização e após sua efetivação estaria reservado a postura de moderador no processo de desestatização e regulador e/ou fiscalizador de mercado e das empresas que atuariam no país, objetivando que os serviços prestados tenham confiabilidade e qualidade para os consumidores, independente de sua categoria. Para SILVA, o papel do Estado moderno é: O Estado deverá participar ativamente como controlador, para possibilitar a elevação da qualidade no nível da democracia, ou seja, tem de ter participação no processo, mas com sua gradual saída da economia.(1997:15) . A região Amazônica dentro de seu aspecto espacial e histórico de ocupação, apresenta um cenário diferenciado em seu processo de ocupação e desenvolvimento econômico e social. A exemplo do que ocorreu no Estado do Amazonas, que a partir da década de 60, centrou seu desenvolvimento em um modelo econômico baseado no modelo Zona Franca que concretizava a efetivação de um pólo de desenvolvimento industrial e comercial voltado a integrar o Estado aos demais da região e, conseqüentemente, a Amazônia Ocidental ao Sudeste e Sul do país. Observamos que o pólo de desenvolvimento criado na Zona Franca de Manaus concentra sua ação espacial na própria cidade de Manaus, fortalecendo as relações urbanas e infra-estrutura básica, dentre elas a produção de energia elétrica, com total ação estatal na produção desse serviço. O processo de privatização estabelecido pelo governo federal na última década enquadra-se dentro da filosofia mundial do neoliberalismo, que prega a retirada das normas que regulam o mercado de trabalho, bens e serviços, questionam a intervenção do Estado na economia, defendem a privatização, 53 pregam a abertura das economias internas à concorrência internacional e ao capital estrangeiro, justificando que é o mercado e não o governo que deve proporcionar o bem-estar social. (SANTOS, 2001:291) Atualmente, o Brasil faz parte de um grupo de países considerados industrializados. Apesar de ter atingido um patamar de crescimento econômico significativo com o desenvolvimento do setor secundário da economia, que também se reflete nos setores primário e terciário, as condições de subdesenvolvimento continuam penalizando a sociedade brasileira. Imensa parcela da população continua excluída da participação da renda auferida na produção industrial e conseqüentemente do desenvolvimento econômico. A dinâmica de crescimento do Brasil, ao contrário do que pregam algumas teorias econômicas neoliberais e monetaristas da atualidade, não ocorreu de forma espontânea. A ação intervencionista do Estado em contextos históricos particulares foi responsável pela base estrutural dos setores de energia e transportes, pela legislação trabalhista administrando conflitos entre capital e trabalho, pelas políticas fiscal e cambial e pela produção direta, através da criação de empresas estatais, atuando em setores de estrangulamento do crescimento industrial brasileiro, tais como: industriais de base e infra-estrutura de energia e transportes. Tomadas em conjunto, essas medidas constituíram a base da inserção da economia do Brasil, e atualmente industrializada, na dinâmica de globalização das atividades. Contudo, hoje a sociedade brasileira apesar de competitiva em todos os níveis, não está livre da ação perigosa da concorrência do grande capital estrangeiro com o pequeno capital nacional, por isso ainda é necessária a interferência estatal em algumas áreas básicas da sociedade. (SENE, 1998:196) No governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, a legislação do setor elétrico sofreu novas mudanças, tendo em vista a abertura ao capital 54 privado, promovendo o aumento da competição e a aceleração do processo de privatização, tanto de empresas federais, quanto de empresas estaduais. O artigo 175 da Constituição federal que trata da outorga da concessão dos serviços públicos e sua licitação foi regulamentado com a Lei nº 8.987, em fevereiro de 1995. Em julho do mesmo ano, a Lei nº 9.074 fixou regras específicas para as concessões do serviço de eletricidade, e reconhecendo a figura do Produtor Independente de Energia (PIE), liberando os grandes consumidores do monopólio comercial das concessionárias estatais e assegurando livre acesso aos sistemas de geração, transmissão e distribuição. SOUZA discorre sobre o assunto: Tenta-se atualmente modificar a legislação do setor, de forma a permitir e atrair o ingresso do capital privado, o que possibilita a retomada dos investimentos, reduzindo-se a necessidade futura de racionamento ou constrangimento econômico no futuro. Este fato assume importância maior quando sabemos que em geral os projetos hidrelétricos demoram por volta de dez anos para serem concluídos e poderem gerar energia.(1996:129) Como reflexo da nova legislação sobre concessão de serviços públicos. Em 1995, a Eletronorte perdeu as concessões de Cachoeira Porteira, no rio Trombetas, Santa Isabel, no rio Araguaia e Marabá, no rio Tocantins, situadas no Estado do Pará, e mais cinco no Estado do Tocantins, referentes aos aproveitamentos de Serra Quebrada, Estreito, Tupiratins, Lajeado e Ipueiras, no rio Tocantins. Em 3 de maio de 1995, a Eletronorte e demais empresas regionais da Amazônia controladas pela Eletrobrás e a própria holding federal foram incluídas no Programa Nacional de Desestatização (PND) pelo Decreto nº 1.481, alterado em 25 de maio do mesmo ano pelo Decreto nº 1.503. De imediato, a Eletrobrás depositou no Banco Nacional de Desenvolvimento 55 Econômico e Social (BNDES), órgão gestor do PND, o certificado de ações correspondente a 67.272.080 ações ordinárias nominativas, o que representa sua participação no capital social da Eletronorte. (ELETRONORTE,1998) O Ministério das Minas e Energia (MME) contratou em 1996 um grupo de consultores internacionais para auxiliá-lo na definição do novo modelo institucional do setor de energia elétrica levando em conta a privatização das empresas federais e das concessionárias estaduais. É interessante observar a separação dos segmentos de geração, transmissão e distribuição para efeito de privatização. Dentro do cenário nacional, o processo de reestruturação da Eletrobrás e de suas controladas, se deu através de Medida Provisória, aprovada pelo Congresso Nacional em 27 de maio de 1998, dando origem a Lei nº 9.648. Esta lei autorizou a criação de seis sociedades por ações a partir da reestruturação da Eletronorte, sendo duas para geração, transmissão e distribuição de energia elétrica relativamente aos sistemas elétricos isolados Manaus e Boa Vista, uma para geração da usina hidrelétrica de Tucuruí, uma empresa para geração nos sistemas elétricos dos estados do Acre e Rondônia, Uma nova para geração no estado do Amapá e a última empresa exclusiva para transmissão de energia elétrica no estado.(ELETRONORTE, 1998) O processo de privatização da Eletronorte na região norte foi iniciado 1996 com a contratação de consultores para a avaliação técnica e operacional de seus sistemas elétricos. Em junho de 1997, o Conselho Nacional de Desestatização (CND) estabeleceu que os sistemas Manaus e Boa Vista seriam vendidos de forma integrada desde a geração até a comercialização da energia elétrica de forma verticalizada. A Eletronorte em dezembro de 1997 criou duas subsidiárias, a Manaus Energia S.A., responsável pela energia na cidade de Manaus e a segunda 56 empresa, a Boa Vista Energia S.A., responsável pela geração na cidade de Boa Vista. Ambas constituídas com capital simbólico, por meio de escritura pública, conforme determinação dos acionistas. As duas subsidiárias iniciaram suas atividades como empresas independentes da Eletronorte em 4 de fevereiro de 1998. A partir da regulamentação do artigo 175 da Constituição Federal com a Lei nº 8.987 e a publicação da Lei nº 9.074 em 1995, criaram e definiram importantes critérios para participação efetiva do capital estrangeiro na geração de energia no Brasil, e em especial na cidade de Manaus. Motivado por uma grave crise de energia, que punha em risco todo o desenvolvimento industrial e as condições sociais básicas da população. A entrada em operação do PIE, efetiva uma nova modalidade de ação do capital externo no parque elétrico brasileiro, representado pela empresa americana El Paso na cidade de Manaus. 3.4 Inserção do capital externo no sistema elétrico brasileiro A energia elétrica redimensionou a noção de tempo e espaço, mediante a utilização da tração e da força. Vista inicialmente como grande novidade e constituindo um privilégio de poucos, com o passar do tempo a energia elétrica foi sendo incorporada à cidade e desfrutada pela maioria da população, ao menos no que se refere aos seus usos básicos. A partir de então, com a crescente interação entre os processos produtivos e o consumo de energia elétrica, tornou-se impossível separar vida urbana de eletricidade, não se concebendo mais a primeira sem a segunda. No Brasil, o suprimento de energia elétrica seguiu sua linha natural de evolução, isto é, iniciou com base num pioneirismo em que a intenção era a prestação de serviço e incentivar o progresso; mas logo se desenvolveu passando a apresentar uma característica que será sua referência durante 57 longo período de sua história, o monopólio. Este monopólio levará a indústria de energia no país a escapar das leis fundamentais da sociedade capitalista a lei da oferta e procura e a lei da livre concorrência especialmente. O desenvolvimento da indústria elétrica no Brasil nos últimos anos vem despertando o interesse do grande capital externo que encontra espaço necessário para sua expansão devido, principalmente, a um parque industrial crescente e um constante aumento do consumo domiciliar. A própria Constituição Federal de 1988 estabelece no título da ordem econômica e financeira, no capítulo I, artigo 172. A lei disciplinará, com base no interesse nacional, os investimentos de capital estrangeiro, incentivará os reinvestimentos e regulará a remessa de lucros . O Brasil destaca-se entre os países pioneiros na montagem de usinas elétricas. E Manaus apresenta-se entre as primeiras a usufruir desta tecnologia, observando que a participação do capital estrangeiro foi importante para consolidar esta indústria neste período. Exemplo desta presença no Estado é a empresa inglesa Manaos Eletric Lighting Company responsável em gerar energia elétrica no final do século XIX. A entrada de grandes trustes estrangeiros no mercado de energia elétrica no país, principalmente no período entre 1924 e 1929, encontrou no Brasil o serviço público que apresentava maior capitalização era o transporte ferroviário. Optando estas empresas estrangeiras produtoras de energia elétrica por alcançar seus lucros através de operações financeiras. Tais operações tornavam-se possíveis dentro do tipo de organização destas empresas os holding em que funcionavam com a criação de suas subsidiárias atuando no mercado. BRANCO relata a respeito deste fato: No Brasil, para relembrar uma operação deste tipo, em 1958 o deputado federal Dantom Coelho solicitava uma informação do ministro da Fazenda: desejava saber como é que a Brazilian Traction , havendo obtido um empréstimo com garantia do 58 Governo brasileiro a três e meio por cento de juros anuais, emprestava o mesmo dinheiro a sua subsidiária no Brasil, grupo Light, a oito por cento .(1975) A presença dos produtos independentes de energia elétrica, primeiro na região Norte, a exemplo da cidade de Manaus e que num período de cinco anos atingiu diversas regiões do país, isto representa uma modalidade de participação efetiva do capital estrangeiro na geração de energia na matriz elétrica do Brasil. O PIE reduz a necessidade de investimentos por parte das empresas do governo na ampliar seu parque gerador. No Amazonas, observamos que em décadas anteriores, fora o breve período de operação da Manaos Eletric Lighting Company a responsabilidade de gerar energia ficou a cargo do poder público, que procurou recurso financeiro nos empréstimos, tanto do capital nacional quanto do externo para construir e ampliar o sistema de eletricidade no Estado. O setor de energia elétrica, apesar do agravamento da crise econômica do país nas décadas de 70 e 80, investiu maciçamente em grandes obras de geração e transmissão, executadas pelas empresas de âmbito regional da Eletrobrás e algumas concessionárias controladas pelos governos estaduais. PRADO aponta sobre o volume empregado em obras para geração de energia: Os investimentos globais do setor aumentaram progressivamente, passando de 4,8 bilhões de dólares em 1974 para 6,8 bilhões de dólares em 1976, alcançando o máximo de 8,6 bilhões de dólares em 1978. Permaneceram acima do patamar dos 8 bilhões de dólares até 1980, não obstante a queda verificada nos dois últimos anos da década (1996: 73) O setor recorreu de maneira crescente ao endividamento tanto interno como externo. Em relação aos empréstimos internos, as empresas obtiveram 59 financiamentos de bancos e entidades oficiais, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e a Agência Especial de Financiamento Industrial (FINAME). As duas agências concederam vultosos créditos para a produção nacional de máquinas e equipamentos elétricos e a aquisição de bens importados não fabricados no Brasil. Os empréstimos externos aconteciam devido à política econômica do governo que estimulava o setor elétrico a aumentar o seu endividamento junto aos organismos internacionais como o Eximbank, o Banco Mundial e os bancos internacionais privados como o banco alemão Manufacture Hanover e o francês Banquem de L Union Européenne para implementar seus projetos energéticos. Os investimentos do setor de energia elétrica na região Norte crescem significativamente a cada ano. Em 1976, somaram 272 milhões de dólares, correspondentes a 4,1% do total nacional, menor índice entre as regiões do país. Quatro anos depois, em 1980, o valor já superava os montantes destinados a regiões Nordeste e Sul na ordem de 1,345 bilhões de dólares, equivalente a 17,2% do total do investimento nacional. (ELETRONORTE,1998) Grande parte dos investimentos da Eletronorte neste período foi aplicada na construção da hidrelétrica de Tucuruí e de seu sistema de transmissão, incluindo as linhas de interligação com o sistema Chesf. Neste período a empresa assumiu o papel de agência de desenvolvimento regional no que se refere à energia elétrica. Contribuindo na melhoria e ampliação do parque gerador térmico de Manaus, ampliação do sistema de transmissão da usina de Coarcy Nunes no Amapá, os estudos de inventário de potencial hidrelétrico, abrangendo as bacias dos rios Xingu, Jamari e Branco e a elaboração dos projetos básicos das usinas de Balbina no Amazonas e Samuel em Rondônia, tendo em vista o suprimento de energia nas cidades de Manaus e Porto Velho respectivamente. 60 4. Produtores Independentes de Energia 4.1 - Mudança na infra-estrutura brasileira O sistema elétrico brasileiro nos últimos anos tem passado por significativas transformações, tanto no processo de reestruturação das empresas estatais, assim como no processo de desregulamentação do setor e a abertura para a participação do capital estrangeiro no processo de privatização da indústria elétrica do Brasil. Durante longo período da história do país encontramos a produção de eletricidade concentrada em empresas estatais, que na época de sua implantação eram responsáveis de construir a infra-estrutura básica para geração do país. Contudo, necessitou de grande aporte de dinheiro para sua efetivação, recorrendo a empréstimo a instituições financeiras internacionais, o que acarretou aumento da dívida externa do país. Hoje, estas estatais apresentam certa restrição financeira para ampliar a capacidade de geração e distribuição de energia, o que tem limitado sua expansão para executar novas obras ou mesmo redimensionar as existentes, tanto térmicas quanto hidráulicas. A restrição financeira e a contínua necessidade de ampliar a capacidade de fornecimento de energia elétrica são desafios que as concessionárias tem de superar para investir na construção ou na repotenciação das centrais de geração térmica ou hidráulica. A constituição da figura do Produtor Independente de Energia Elétrica (PIE) foi através da lei nº 9.074, em março de 1995, criando um agente dentro do sistema elétrico brasileiro de caráter privado, que iria se responsabilizar pelo risco em gerar energia, sem a necessidade do comprometimento das finanças públicas em investir grande aporte de dinheiro para produzir eletricidade. Isto representa para as concessionárias detentoras do serviço 61 público pelo fornecimento de energia elétrica, a principal vantagem de comprar energia de um produtor independente (PIE). A partir do ano de 1997, este agente começou a constituir-se de forma embrionária no Brasil. Após cinco anos operando no Brasil começa a se destacar dentro da matriz térmica nacional com vários projetos em andamento. Nos países europeus, no próprio Estados Unidos e mesmo na Argentina sua participação dentro da matriz energética é bastante comum. Certamente a solução, em curto prazo, para a questão da escassez da oferta de energia passa por este novo agente do setor elétrico brasileiro, devido sua flexibilidade. A El Paso Energy Internacional do Brasil, com sede no Rio de Janeiro, foi uma das primeiras a atuar como PIE no país, inaugurando em dezembro de 97, na cidade de Manaus suas primeiras centrais termelétricas, bairro de Mauazinho e Aparecida com capacidade total de 238 MW, o que efetiva sua participação no mercado brasileiro de energia elétrica. Assim como a participação da empresa Guascor como produtor independente gerando eletricidade para comunidades isoladas no estado Pará. O debate em torno dos impactos ambientais no Brasil está adquirindo, e em especial na Amazônia, uma maior dimensão em decorrência da consciência ambiental da população e principalmente das instituições. O que ocasionou a formulação de uma política ambiental, dentre as quais se destacam: as exigências do Banco Mundial para liberação de empréstimos, as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e a própria lei ambiental de 1998, que estabeleceu e definiu responsabilidades, criou critérios básicos e diretrizes gerais para usos dos recursos naturais. Além de propor a implementação de uma avaliação sistemática do impacto ambiental gerado pela atividade industrial, dentre elas as do setor elétrico. 62 As novas térmicas construídas em Manaus pelo produtor independente de energia elétrica necessitaram enquadrar-se dentro da legislação ambiental com a elaboração de RIMA para receberem sua licença de operação. 4.2 Identificação dos Produtores Independentes de Energia em Manaus O sistema elétrico brasileiro nos últimos anos vem atravessando profundas transformações na regulamentação governamental e revisão do papel do governo dentro do setor elétrico. A constituição e regulamentação do produtor independente e do autoprodutor de energia elétrica são exemplos da flexibilização dentro do setor energético nacional, além do próprio programa nacional de desestatização (PND), como instrumento de reestruturação do setor público, em especial, o elétrico. No governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso o processo de privatização se fortaleceu através de mudanças na legislação, tendo em vista, a abertura ao capital privado e o aumento da competição no setor elétrico. A regulamentação do artigo 175 da Constituição com a Lei nº 8.987, de fevereiro de 1995, e posteriormente a fixação da Lei nº 9.074, de 7 julho de 1995 e o Decreto nº 2.003, de 10 de setembro de 1996, determinando regras específicas para a concessão do serviço de eletricidade, liberando médios e grandes consumidores, além de reconhecer a figura do Produtor Independente de Energia e assegurar o livre acesso aos sistemas de transmissão e distribuição de eletricidade contribuiu para formar este novo cenário. Com a instituição da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) a responsabilidade pelo setor elétrico passa ao controle da Agência, constituindo-se num órgão regulador, fiscalizador e mediador em todo o território nacional do sistema elétrico. A Agência Nacional de Energia Elétrica é o órgão federal responsável em conceder as autorizações e fiscalizações de todo o setor elétrico brasileiro, independente de serem empreendimentos 63 estatais ou da iniciativa privada, enquadrando inclusive os produtores independentes de energia elétrica e os autoprodutores de energia elétrica. Uma das primeiras autorizações baseada na nova legislação foi a concedida pelo Ministério das Minas e Energia, na gestão do ministro Raimundo Brito, através da portaria nº 323, de 5 de novembro de 1997, autorizando a El Paso Amazonas Energia Ltda, com sede na cidade de Manaus, a tornar-se um produtor independente de energia elétrica na região norte do país. Esta autorização vigorará pelo prazo de dez anos, contado a partir da data da publicação desta portaria, prorrogável a critério do poder concedente, podendo ser também revogada. A central geradora do produtor seria composta por três usinas térmicas, como segue: - UTE A , com duas unidades geradoras de 25 MW cada uma totalizando 50 MW; - UTE B , com duas unidades geradoras de 60 MW cada uma totalizando 120 MW; - UTE C , com três unidades geradoras, duas unidades de 25 MW e uma unidade de 50MW totalizando 100 MW. No ano de 1997, o Ministro de Estado Raimundo Brito, das Minas e Energia, autorizou também através da Portaria nº 340, de 17 de novembro de 1997, a CMI Power Amazonas Ltda, com sede em Manaus, a estabelecer-se como produtor independente de energia elétrica, recebendo autorização por um período de dez anos, a partir da publicação desta Portaria, podendo ser prorrogável a critério do poder concedente ou revogada. A central geradora de energia elétrica da CMI Power Ltda seria constituída de uma usina térmica flutuante, com duas unidades de 25 MW de potência totalizando 50 MW. 64 A Agência Nacional de Energia Elétrica através de sua resolução de nº 285, de 04 de setembro de 1998, autorizou a empresa Wärtsilä Rio Negro Energia Ltda, a se estabelecer como Produtor Independente de Energia Elétrica, com sede na cidade de Manaus. Recebendo uma autorização de operação que vigorará pelo prazo de trinta anos, contado a partir da publicação desta Resolução, podendo ser prorrogada a critério da Agência ou revogada caso não cumpra as resoluções da ANEEL de acordo com o contrato estabelecido com as concessionárias. A produção de energia elétrica da Wärtsilä será através de uma usina termelétrica com 8 unidades, com potência de 15,75 MW, totalizando 126 MW de potência, a ser implantada em Manaus. Um fato a destacar, com a constituição da Agência Nacional de Energia Elétrica é que as resoluções referentes à autorização para constituição do Produtor Independente de Energia Elétrica incluem as resoluções e solicitações de documentos relativos ao empreendimento, antes não solicitado nas portarias de autorização do Ministério da Minas e Energia, tais como, o estudo de viabilidade; projeto básico; projeto básico ambiental (PBA); estudo de impacto ambiental (EIA) e o relatório de impacto ambiental (RIMA), conforme a legislação ambiental brasileira entregue pelo empreendedor a Agência Nacional de Eletricidade. A Resolução nº 254, de 17 de agosto de 1999, autoriza a transferência do controle acionário da Wärtsilä Rio Negro Energia Ltda. para a El Paso Amazonas Energia Ltda. Ficando sub-rogada em direitos e obrigações definidos na Resolução ANEEL nº 285, de 04 de setembro de 1998, que autorizou a Wärtsilä operar como produtor independente de energia elétrica. A Resolução nº 277, de 27 de setembro de 1999, autoriza para fins de regularização, a Wärtsilä Rio Negro Energia Ltda. a ampliar a capacidade de 65 geração independente de energia elétrica em Manaus, de sua central geradora termelétrica adicionando as unidades geradoras número nove e dez com potência 16,63 MW cada uma. Totalizando a usina 166,36 MW em dez máquinas geradoras. A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), através da Resolução nº 335, de 7 de dezembro de 1999, autoriza a El Paso Amazonas Energia Ltda em ampliar a sua capacidade de geração independente de energia elétrica em Manaus, com a entrada em operação da UTE D composta de duas unidades geradoras com potência de 60,50 MW cada uma, totalizando 121 MW e autoriza sua operação por um período de 5 anos, até dia 15 de janeiro de 2005, podendo ser prorrogada a critério da ANEEL e a pedido da autorizada. A mesma Resolução revoga a autorização outorgada pela Portaria nº 323 do MME, de 5 de novembro de 1997, para a UTE C embarcada retirando-a de operação. A capacidade total de produção da El Paso Amazonas com as plantas A, B e D estão na ordem de 291,40 MW em Manaus. 4.2.1 El Paso Energy International A empresa El Paso Energy International em 70 anos de história evoluiu de uma companhia regional americana de gasoduto em uma das líderes mundiais no desenvolvimento de infra-estrutura de energia. A holding El Paso atua em vários setores da indústria de energia em diferentes países, com mais de US$ 10 bilhões de investimentos e um faturamento de US$ 5 bilhões nas áreas de transporte, estocagem e processamento de gás, geração de energia, distribuição de gás e eletricidade. Durante a década de 90, a El Paso Energy Internacional vem ampliando sua estrutura através da aquisição do controle de empresas de 66 energia ou de participação acionária significativa dentro de empresas de energia. Em 1992 a expansão da El Paso utilizou recursos provenientes do sistema Burlington , adquirindo no ano de 1996 a empresa Tenneco Energy numa operação de US$ 4 bilhões. No período que compreende os anos de 1997 a 1999, a empresa expandiu suas operações na produção e comercialização de energia para 17 países, dentre eles o Brasil. No decorrer do ano de 1999 a El Paso ampliou sua participação no mercado norte americano com aquisição de 14 usinas elétricas ao custo de US$ 259 milhões, além da compra da empresa americana Sonat Inc. por US$ 6 bilhões, resultando na criação de uma empresa para atuar no setor de gás natural dentro dos Estados Unidos, com patrimônio de US$ 14 bilhões e um faturamento anual de US$ 6 bilhões (El Paso Energy International, 2000) As operações internacionais da El Paso Energy International faz-se presente nos cinco continentes, com 26 usinas que produzem mais de 6.641,5 MW, e mais de 7.315 km em gasodutos. Seus investimentos ultrapassam o valor de US$ 5,8 bilhões em financiamento de projetos energéticos. A matriz da empresa localiza-se na cidade de Houston, nos Estados Unidos, com dez escritórios regionais distribuídos pelas seguintes cidades: Cidade do México (México), Rio de Janeiro (Brasil), Santiago do Chile (Chile), Buenos Aires (Argentina) no continente americano; Londres (Inglaterra) na Europa; Jacarta (Indonésia) e Manilla (Filipinas) no continente asiático e as cidades australianas de Perth, Brisbane e Adelaide na Ásia. O continente africano não registra a participação da El Paso na exploração de energia e gás natural, um dos prováveis motivos é por apresentar um mercado consumidor ainda insignificante. 67 As principais operações na América Latina concentram-se na Argentina e no México, a Usina Samalayuca II com capacidade de produção de 700 MW e a operação de um gasoduto de 35 km. No Peru, a Usina Aguaytia com 155 MW, o gasoduto de 317 km e a exploração de um campo de gás natural. Na Bolívia a exploração e produção de gás natural. A operação do gasoduto Del Pacífico de 523 km entre a Argentina e Chile. Exclusivamente na Argentina a operação das usinas Capsa de 726 MW, a Central Costanera e CBA de 2.495 MW e a Energia Del Sur de 76 MW, além da operação de campos de óleo e gás. No Brasil os projetos Manaus Power e Rio Negro, além da operação do gasoduto Bolívia/Brasil. Na Europa as ações da El Paso localizam-se na Escócia, com a operação da Usina Fife com capacidade de geração 115 MW. Na Inglaterra, a Usina Enfield de 396 MW. Em Portugal e na Polônia a presença da El Paso está numa associação para explorar e produzir gás natural. Na República Tcheca a operação da Usina Kladno com a disponibilidade de 363 MW e na Hungria através da Usina Ema de 70 MW. No continente asiático a El Paso produz 1154 MW, distribuído nos seguintes países: Paquistão com a Usina Fauji Kabirwala, com a capacidade de 151 MW; Na Índia a Usina PPN de 346 MW; Bangladesh opera a Usina Haripur responsável em gerar 110 MW; Nas Filipinas a usina de Recursos Ásia Leste com 412 MW e na Indonésia a operações da Usina Sengkang de 135 MW e de um gasoduto de 40 km, além da exploração de um campo de gás. A Austrália concentra as operações da El Paso na Oceania, através de sua subsidiária EPIC energy, líder na infra-estrutura de gás natural, operando os gasodutos de Pilbara Energy e a expansão do gasoduto Burrup de 241 km; o gasoduto Dampier-Bunbury de 1.489 km, o gasoduto de Moomba-Adelaide de 785 km e o gasoduto Sudoeste Queensland de 756 km. A tabela 4.1 referentes às usinas elétricas em operação ou em construção da El Paso no 68 mundo e a tabela 4.2 os gasodutos em operação ou em construção da empresa. Tabela 4.1 - Usinas da El Paso em operação ou em construção no mundo. Usina Cidade País Costanera/C BA Energia Del Sur Capex Buenos Aires Chubut Neuquen Basin Haripur Haripur Manaus Manaus Rio Negro Manaus Power Kladno Kladno Enfield Ema Power PPN Sengkang I Samalayuca Fauji Kabirwala Aguaytia East Asia Power Fife TOTAL Londres Dunaujvaros Chennai Sulawesi Samalayuca Kabirwala Aguaytia Várias cidades Edinburgh Argentina Combu stível GN Potência MW 2.495 Argentina GN 76 O Argentina GN 726 O Óleo/ Gás Óleo Óleo 110 EC 234 157,5 O O Carvão/ GN GN GN Nafta GN GN GN 363 O/EC 396 70 346 135 700 151 EC O EC O O O Peru Filipinas GN Diesel 155 412 O O Escócia Gás 115 6.641,5 O Bangladesh Brasil Brasil Rep. Tcheca Inglaterra Hungria Índia Indonésia México Paquistão Fonte: El Paso Energy International/2000 Nota: O = Operação EC = Em Construção GN= Gás Natural Condição O 69 Tabela 4.2 - Gasodutos da El Paso Energy International Gasoduto Western Austrália South Austrália Southwest Queensland Pilbara /Burrup Ext. Bolívia-Brasil Del Pacífico Samalayuca Aguaytia Pipeline Sengkang Total Quilometro 1.489 785 756 241 3.219 523 35 317 40 7.315 Condição O O O O EC EC O O O Fonte: El Paso Energy International Nota O = Operacional EC = Em Construção As operações do grupo El Paso Energy nos Estados Unidos após a fusão com a Sonat Inc. em 1999, representaram a distribuição de 180 milhões de m³ de gás natural por dia, assim como atingiu a geração de 18,8 milhões de MWh de energia elétrica no país, com a operação das 23 usinas termelétricas da empresa e mais as que estão em construção, a empresa terá uma capacidade de geração total de 3.800 MW. O grupo El Paso é um dos maiores produtores independentes de óleo e gás natural nos Estados Unidos, com reservas comprovadas de 45 bilhões de m³ e produção anual de 5 bilhões de m³. É o maior operador do país na transmissão interestadual de gás natural, com 25% do mercado, representando 65.000 km de gasodutos e um fornecimento de 350 milhões m³/dia de gás. Os principais investimentos no setor pela empresa concentramse na Tennessee Gás Pipeline, El Paso Natural Gás, Southern Natural Gás, East Tennessee Natural Gás, Midwestern Transmission e uma participação de 50% na empresa Florida Gás Transmission. (El Paso Energy International, 2000) Em relação ao processamento, armazenamento e transmissão local de gás natural, a El Paso é sócia majoritária da empresa Leviathan Gás Partners, 70 L.P. que detém o segundo maior estoque dos Estados Unidos, com um volume de estoque e tratamento superiores a 4.000 Btu/dia e mais de 17.000 km de gasodutos locais. Além de possuir 23 usinas de processamento e tratamento, com mais de 1 trilhão Btu/dia. Os maiores estoques offshore no Estados Unidos pertencem à empresa El Paso com 8 plataformas offshore. 4.2.2 El Paso Energy International do Brasil Ltda A concretização das operações da El Paso Energy International no Brasil, efetivaram-se com a entrada em operação dos seus dois parques térmicos na cidade de Manaus na modalidade de produtor independente de energia elétrica em 1997. Hoje, existem vários projetos em operação, e em andamento da empresa no país, tanto na produção de energia elétrica, quanto na construção e operação de gasoduto. Os projetos atualmente em operação no país são: Projeto Manaus Power no Amazonas, na cidade de Manaus, que apresenta a capacidade de produzir 234 MW, distribuídos a partir de três usinas termelétricas, as plantas A, B e D e a planta W que compreende o Projeto Rio Negro, também localizado na cidade de Manaus, uma usina capaz de produz 157,5 MW para concessionário local Manaus Energia, totalizando 391,5 MW. O Projeto Porto Velho Rondônia, é outro projeto do qual participa a empresa El Paso na região amazônica, em um consórcio com a Wärtsilä, que é a usina termelétrica Termo Norte I, operando em ciclo combinado de 405 MW. A El Paso pretende expandir sua atuação na geração de energia no Brasil. Em busca desta meta participa de projetos de térmicas em várias regiões do país. Um projeto de grande porte relacionado à área de gasoduto é a construção e operação do Gasoduto Bolívia-Brasil, com 3.200 km ligando as cidades de Santa Cruz de La Sierra na Bolívia a São Leopoldo no Brasil, este é um empreendimento da El Paso em parceria com a Petrobrás, BHP e British Gás. 71 Outros projetos em andamento no Brasil pela empresa El Paso são voltados para a produção de energia elétrica. Ao lado da espanhola Initec e General Eletric (GE) que integram um consórcio que vai construir e operar quatro termelétricas a gás natural no ABC paulista, com potência total de 2.000 MW. A empresa participa de um consórcio para a construção de uma usina na cidade de Macaé, no estado do Rio de Janeiro, com capacidade de produção de 800 MW. Tem ainda participação de 30% no consórcio de construção do projeto da térmica de Araucária, no Paraná, de 480 MW, que deverá entrar em operação em 2002. Os integrantes deste consórcio são as empresas Companhia Paranaense de Energia (Copel) com 20% de participação, a Petrobrás Distribuidora também com 20% e a British Gás com 30%. Esta central receberá gás natural proveniente do gasoduto BrasilBolívia, para mover duas turbinas (a gás e a vapor) gerando os 480 MW da usina, sendo estimado o consumo de combustível na ordem de 2,2 milhões m³/d e um investimento previsto para a obra de US$ 300 milhões. 4.2.3 El Paso Amazonas Energia Ltda. A participação da El Paso Amazonas Energia Ltda na matriz energética do estado do Amazonas, e em especial na cidade de Manaus, inicia-se em dezembro de 1997, com a entrada em operação da planta A de 50 MW, usina térmica localizada no bairro do Mauazinho, ao lado da térmica da Manaus Energia. No ano seguinte, começam operar a planta B também instalada na usina do Mauazinho com mais 110 MW e a planta C numa barcaça com capacidade de gerar 100 MW na usina de Aparecida. Mais tarde substituída pela planta D em terra com 80 MW, gerando a partir de duas turbinas GE LM 6000, de 40 MW cada. A última planta a iniciar sua operação no ano de 98 foi a W da Wärtsilä NSD com 157,5 MW. A tabela 4.3 demonstra a atual capacidade de geração da EL Paso na cidade de Manaus. 72 Tabela 4.3 - Capacidade de geração do produtor independente de energia em 2001 Unidades Planta A Planta B Planta D Planta W Total de geração Potência (MW) 44 110 80 157,5 391,5 Fonte: Manaus Energia/2002/ internet A energia produzida pelo PIE é vendida à Manaus Energia, subsidiária integral da Eletronorte que atende consumidores da capital do Amazonas e da região próxima alimentada pelo sistema Manaus. No período da crise energética em Manaus a geração dos produtores independentes chegou a representar 80% da energia distribuída pela concessionária. Passados cinco anos após a crise de energia na cidade de Manaus, a participação da El Paso representa ainda hoje de 60 a 80 % da demanda de energia na cidade. A planta W foi construída pela empresa Wärtsilä NSD, de origem finlandesa, responsabilizando-se pelo projeto de engenharia, construção, fornecimento de equipamentos e comissionamento da usina Rio Negro, de 157,5 MW de potência. Esta unidade funciona em ciclo simples e uma das maiores centrais movidas a óleo diesel do Brasil e exigiu investimentos da ordem de US$ 116,5 milhões. Equipada com dez motores de 15,75 MW cada, a operação da usina também é responsabilidade da Wärtsilä NSD, através de um contrato de terceirização de operação no esquema BOO (build, own, operat) fechado com a El Paso, que recebeu através da portaria nº 254, de 17 de agosto de 1999, autorização para a transferência do controle acionário da Wärtsilä Rio Negro Energia Ltda. para a El Paso Amazonas. Os motores e turbinas das usinas termelétricas do PIE poderão, no futuro, ser convertidos para utilizar gás natural. Segundo técnicos da El Paso, o gás ainda não está disponível na Região Norte e por isso as térmicas ainda 73 funcionam a óleo. A gerente de marketing da El Paso, MELISSA BIVAR, afirma numa entrevista concedida em outubro de 1999, para a revista Eletricidade Moderna EM, A empresa tem interesse na utilização do gás, por ser um combustível menos poluente e mais barato .(1999:152) O contrato celebrado entre a El Paso e a Manaus Energia tem a duração de cinco anos, podendo ser prorrogado por mais anos. O preço estabelecido para compra da energia produzida pelo produtor independente é de US$ 23/MWh como valor de referência pago pela concessionária. (EM, 1999) Um fato a destacar, neste contrato com o produtor independente referese ao fornecimento de óleo diesel para alimentar suas máquinas ser de responsabilidade da Manaus Energia, que compra o óleo diesel da Petrobrás, arcando com o valor do equivalente hidráulico de R$ 25/MWh. O custo da energia final comprada pela concessionária acaba sendo em torno de R$ 70 MWh, contabilizando o preço do óleo fornecido a El Paso.(DNAEE,1997) 4.2.4 Wärtsilä NSD A Empresa Wärtsilä é um holding de origem finlandesa que busca desenvolver tecnologias para motores de alta, média e baixa velocidade nas áreas de geração de energia, propulsão marítima e aplicações industriais, a Wärtsilä NSD foi formada pela fusão das empresas Wärtsilä Diesel e New Sulzer Diesel. Possuem fábricas em vários países da Europa e linhas de montagem na Espanha, Estados Unidos, Indonésia e Índia. Seu faturamento global gira em torno de US$ 2 bilhões. A empresa é líder mundial na fabricação e produção de geradores e um dos maiores provedores de soluções para descentralização de geração de energia, além de fornecer suporte técnico e serviços de manutenção das suas máquinas. 74 Desde que chegou ao Brasil em 1989, entre seus principais projetos desenvolvidos no país estão as térmicas de Santana, de 45 MW, na cidade de Macapá, no Amapá e os sistemas de co-geração com motores a gás da fábrica de cerveja Kaiser, no Ceará, a co-geração da Refinaria de Manaus Remam na cidade de Manaus, equipada com motores Wärtsilä W32 e capaz de gerar 6,4 MW energia, que podem utilizar como combustível o óleo diesel, óleo combustível 1 A e o gás natural; e os geradores do novo parque gráfico do Jornal O Globo, no Rio de Janeiro. Os novos e principais projetos no Brasil da Wärtsilä a serem implantados são a térmica Global com três unidades de 18 MW modelo V46 no Rio Grande do Norte. Na Paraíba, a Conteminas, com duas unidades de 18MW modelo 220SG. Em Pernambuco, a Termocabo, com três unidades de 18 MW modelo V46. Na Bahia, as térmicas Petrolina com oito unidades de 18 MW modelo V46, a Promon com três unidades de 18 MW modelo V38 e a Fels Barges com três unidades de 30 MW, todas as usinas localizadas na região Nordeste do Brasil. Na região Centro-Oeste, em Goiás, a térmica Engebra com quatro unidades de 18 MW modelo de máquina V38 e na região Sudeste, a térmica HRG em Minas Gerais, com doze unidades de 18 MW modelo V46. A Wärtsilä Power enquanto industria tem desenvolvido seus produtos e serviços para melhor beneficiar os produtores independentes de energia elétrica, que agora representam o segmento dentro do setor elétrico com maior flexibilidade, tornando-se um grande consumidor de máquinas e equipamentos. A empresa junto aos produtores independentes contribui com serviços financeiros através de financiamento de usina, construções de térmicas e, em longo prazo, a empresa firma contratos de manutenção e operação de plantas. Exemplo que ocorre na cidade de Manaus, onde existe um contrato de terceirização de serviços da planta W que pertence a empresa El Paso com a empresa Wärtsilä que opera esta planta através de sua subsidiária que se chama Operadores de Energia instalada na cidade. 75 4.3 Investimentos dos Produtores Independentes de Energia em Manaus Os projetos industriais das usinas termoelétrica das plantas A, B, C e D do produtor independente de energia elétrica (PIE) montada em Manaus são de turbinas a gás de ciclo Brayton alimentada com combustível líquido (óleo diesel, óleo combustível 1A e óleo PTE). Na Figura 4.1 demonstra-se o esquema de uma usina térmica, considerando cada componente como uma unidade de controle, envolvendo os equipamento que compõe o conjunto compressor-turbina-gerador. A planta W do produtor independente de energia elétrica utiliza tecnologia de motores geradores acoplados, alimentado com óleo combustível pesado com baixo teor de enxofre, podendo consumir óleos leves, na faixa do óleo diesel e o óleo para geradores elétricos (PGE). FIGURA 4.1 - Arranjo esquemático de uma turbina a gás ciclo simples C ompr. Gás C âmara de Combustão C ompressor FONTE: Wärtsilä, 2002. Turbina a Gás Gerador 76 4.3.1 - Empreendedor: El Paso Amazonas Energia Ltda (PIE) Usina A e B A central de geração de energia da El Paso Amazonas localizada na região do bairro do Mauazinho tem a capacidade de 164 MW instalados em duas plantas. A usina A com potência de 44 MW iniciou sua operação em 17 de dezembro de 1997. O conjunto gerador é do modelo FT4UNC com duas turbinas a gás de 25 MW e um grupo gerador de 50 MW. O sistema de combustível que abastece a usina A poderá ser de óleo diesel convencional, Óleo Combustível - OC - 1A ou PTE. A usina B é composta de dois conjuntos de turbo-geradores com capacidade de 60 MW por conjunto e total de geração de 120 MW iniciando sua operação em 20 de janeiro de 1998, fabricados pela General Eletric (GE). O combustível utilizado para abastecer os turbo-geradores na usina B é o óleo combustível do tipo 1 A, OC1A ou PTE fornecido pela Petrobrás. FIGURA 4.2 Usina A El Paso - Mauazinho FONTE: El Paso, 1999. 77 FIGURA 4.3 Usina B El Paso - Mauazinho FONTE: El Paso, 1999. 4.3.2 Empreendedor: El Paso Amazonas Energia Ltda (PIE) Usina C - Barcaça A usina C ficou localizada na margem esquerda do rio Negro no bairro da Aparecida, ao lado da usina termelétrica da Aparecida com capacidade de geração de 100 MW em três unidades geradoras que utilizavam turbinas a gás do modelo e capacidade de geração assim distribuída: uma unidade FT4C-3 TWIN PACK com capacidade de 50 MW, uma unidade FT4C-3 POWER PACK de 25MW e uma unidade FT4A-II MOBILE PACK com 25 MW. Iniciando sua operação em 1998. Esta usina não está mais operando em Manaus. 4.3.3 - Empreendedor: El Paso Amazonas Ltda (PIE) Usina D A Planta D da El Paso na cidade de Manaus é composta por dois geradores do modelo LM 6000 PC, com potência bruta nominal de 46 MW, suas turbinas são aeroderivativas modelo GE. Possui os sistemas de entrada de refrigeração de ar, sistema de óleo para consumo de PTE e sistemas auxiliares (ar comprimido, incêndio e controle). Esta usina gera em 13,8 Kw, 78 em 60 Hz, e alimentada o sistema público da concessionária em 69 Kw através de dois transformadores de 100 MVA. Foi construída em 18 meses e gera 80 MW para abastecer o sistema da Manaus Energia S.A. Sua principal característica é apresentar a melhor relação entre combustível consumido e potência gerada das usinas do PIE em Manaus (Heat Rate). Apresenta baixo dano ambiental em sua área de influência, mesmo localizada em uma área de grande concentração populacional na cidade de Manaus, não havendo necessidade de ações mitigadoras. FIGURA 4.4 - Usina D - El Paso - Aparecida FONTE: El Paso, 1999. 79 4.3.4 Empreendedor: CMI Power Amazonas Ltda (PIE) Navio Usina Este produtor apresentava uma característica que o diferenciava dos demais PIE, devido ser um antigo navio de guerra da marinha norte americana transformado em um navio usina para produzir energia. Onde foram reutilizadas a forma do navio e suas duas caldeiras para gerar vapor que alimentaria seus dois geradores. As caldeiras são do fabricante americano Babcock e Wilcox com grande experiência na construção e montagem de caldeira. A capacidade total de produção de vapor era de 62.370 kgf/hora de vapor com pressão na saída do superaquecedor de 8,28 MPa e serviria de força motriz dos geradores. O navio-usina apresentava a capacidade de gerar 50 MW na somatória das duas unidades turbo-geradoras de 25 MW cada. O fator de potência 0,8 com ciclos de 60 Hz e voltagem de 12.200 V. O combustível para alimentar as caldeiras seria o óleo combustível do tipo 1A. FIGURA 4.5 Navio Usina da CMI em Manaus Fonte: Própria/abril/2002 80 4.3.5 Empreendedor: Wärtsilä Rio Negro Energia Ltda (PIE) Planta W A usina termelétrica Wärtsilä Rio Negro é uma central de geração de energia elétrica composta de dez motores fixos de ciclo diesel, de quatro tempo, injeção direta, turbo-alimentados, configuração em formato em V , de 18 cilindros, velocidades de 514 rpm e potência no eixo do motor de 17550 Kwm, operam na base de geração em paralelo como o sistema público existente da Manaus Energia. A unidade utiliza óleo combustível pesado com baixo teor de enxofre (PGE), podendo, no entanto utilizar óleos leves, na faixa do óleo diesel tradicional, sob a forma de reserva e também para partidas e parada da usina. A central termelétrica tem os acionadores primários fabricados pela própria Wärtsilä para os dez grupos gerados de modelo 18V46, que apresentam as seguintes características dos geradores: potência gerada de 126.000 KW, 157.500 KVA e fator de potência 0,8. Voltagem Primária de 13,8 KV. Voltagem Secundária de 69 KV, freqüência de 60 Hz e velocidade do gerador de 514 rpm. A planta de geração da Wärtsilä Rio Negro é composta de vários sistemas industriais, cuja função é assegurar uma perfeita operação das unidades geradoras. Composta de sistema de combustíveis, sistema de ar de comprimido, sistema de refrigeração, sistema de admissão de ar, sistema de descarga, sistema de automação e sistema de recuperação de calor. Esses sistemas integrados controlam a descarga de gases para a atmosfera do parque térmico, além de possuir um sistema de combate a incêndio para a usina. O sistema de combustível é composto pelo sistema de óleo diesel usado sempre que ocorre algum problema operacional ou em partida das máquinas, após longos períodos sem operação e o sistema de óleo 81 combustível pesado utilizado na campanha normal dos motores. A principal função dos sistemas de combustíveis é alimentar os motores com óleo na vazão, pressão, viscosidade e grau de pureza adequado controlados para uma perfeita combustão e redução na emissão de gases. O sistema de ar comprimido é necessário para alimentar a partida dos motores, instrumentação e controle dos equipamentos. Fundamental para a malha de controle dos grupos geradores. O sistema de resfriamento tem por função manter a temperatura das carcaças dos motores adequadas para operação das máquinas e juntamente com seus equipamentos auxiliares. O sistema de admissão de ar é composto de filtro de ar do tipo molhado com óleo, junta de expansão e silenciadores de admissão de ar. O sistema de descarga apresenta silenciadores de gás de escape, do tipo de absorção equipado com eliminador de faixa, coletor de fuligem e dreno, com nível de atenuação de ruído na ordem de 25 decibéis. Os conjuntos de tubos de escape de gás, junta de expansão e chaminés de quatro tubos cada com altura de 35 metros. FIGURA 4.6 Usina W FONTE: El Paso/1999 Antiga Wärtsilä atual El Paso Rio Negro 82 4.4 - Responsabilidade sócio-ambiental dos Produtores Independente de Energia Elétrica. A sociedade brasileira contemporânea vive sob novos paradigmas ambientais diversos daqueles que vigoravam há mais de três décadas. O primeiro marco dessa mudança foi Estocolmo em 1972, que despertou para os problemas causados pelos danos ambientais à sociedade humana. O segundo marco mais recente que fortaleceu esta mudança foi a conferência das Nações Unidas (ONU) no Rio de janeiro em 1992, mais conhecida como Rio 92, obtendo como resultado significativo a possibilidade de influenciar o comportamento e despertar a opinião pública sobre a questão ambiental, que saiu da apatia à sensibilidade em curto espaço de tempo. Exemplo dessa mudança são as atitudes de empresários modernos que procuram inserir em seus empreendimentos compromissos com a qualidade de vida de seus consumidores e a sustentabilidade de suas empresas na forma econômica e ambiental duradouras. Alcançar este perfil depende, em grande parte, do correto gerenciamento da demanda de energia e utilização dos recursos naturais, além da gestão adequada dos resíduos sólidos, dos efluentes e das emissões geradas por cada tipo de empreendimento. Hoje, surgiram novos instrumentos legais, institucionais e administrativos de regulamentação e normatização ambiental, nos diversos níveis globais, assim como no nível local. Observamos também atualização dos antigos instrumentos de regulação e controle que se tornaram instrumentos muito mais severos e criteriosos na fiscalização e licenciamento das diversas atividades humanas geradoras de impactos ambientais. No Brasil, a maior parte da geração de energia elétrica é de origem das usinas hidrelétricas que representam 63.512.066 Kw, em 560 hidrelétricas de pequeno a grande porte, que correspondem a 82,25% da produção nacional 83 de energia. É importante considerar a geração de eletricidade, a partir das usinas térmicas que produzem cerca de 11.465.114 Kw, centralizadas em 641 usinas em operação, totalizando 14,89% da produção nacional de eletricidade gerada no país. (ANEEL/SIH/2002) As usinas térmicas geralmente são equipadas com motores que utilizam óleo diesel ou óleos combustíveis, aproveitados em larga escala por cidades e comunidades isoladas, principalmente na região Amazônica, e responsáveis por emissões de poluentes, bem como de gases geradores do efeito estufa. Existem também, os casos das unidades termelétricas localizadas no sul do país que utilizam como matéria-prima o carvão mineral, que são muito importantes para a economia de seus respectivos estados. Porém estas usinas são responsáveis por elevadas emissões de poluentes na atmosfera. No Brasil, independente da tecnologia utilizada pelo empreendimento termelétrico existe um controle e monitoramento baseado numa legislação ambiental que busca controlar as emissões estacionárias das usinas térmicas, delimitada em uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) de nº 3, de 06 de junho de 1990, que dispõe sobre padrões de qualidade do ar, previsto dentro do Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar (Pronar), que foi estabelecido dentro de outra Resolução CONAMA de nº 5, de 5 de junho de 1989. A resolução do CONAMA de nº8, de 6 de dezembro de 1990, também se refere aos padrões de qualidade do ar, previsto dentro Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar. O CONAMA após avaliar a necessidade de ampliar o número de poluentes atmosféricos passíveis de monitoramento e controle no país, estabeleceu na resolução nº 3, de 1990, em seu artigo 1º 84 São padrões de qualidade do ar as concentrações de poluentes atmosféricos que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde, a segurança e o bem-estar da população, bem como ocasionar danos à flora e à fauna, aos materiais e ao meio ambiente em geral. (1999:273) Esta resolução estabeleceu os padrões de qualidade do ar, a partir de poluentes atmosféricos gerados por qualquer fonte de energia ou forma de matéria acima dos níveis estabelecidos que possam tornar o ar impróprio ao seu consumo. Os poluentes atmosféricos estabelecidos são as quantidades de partículas totais em suspensão, fumaça, partícula inalável, dióxido de enxofre, monóxido de carbono, ozônio, dióxido de nitrogênio. Também ficam estabelecidos os métodos de amostragem e análise dos mesmos. A resolução nº 3 de 1990 assegura que o monitoramento da qualidade do ar é atribuição dos Estados, além de estabelecer os níveis de qualidade do ar para elaboração do plano de emergência para episódios críticos de poluição do ar com o objetivo dos governos dos Estaduais e Municipais tomarem medidas de prevenção contra situações grave e iminente risco à saúde da população. A resolução do CONAMA nº 8, de 1990, estabelece os limites máximos de emissões de poluentes atmosféricos nos processos de combustão industrial de fonte externa fixa, enquadrando-se principalmente neste critério as usinas térmicas de ciclo Rankine. Outro fato a ser destacado é a contribuição das emissões veiculares como fonte de poluição do ar, sendo também necessário estabelecer seus limites. O CONAMA nº 8 de 1990 estabeleceu em nível nacional os limites de emissões de poluentes atmosféricos, tanto de fonte fixa quanto móvel. Dentro das recentes discussões do Protocolo de Kioto para redução de gases de efeito estufa, acena-se com a possibilidade de se concretizar o chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, visando a comercialização 85 de créditos de carbono. Com este mecanismo espera-se contribuir para viabilizar projetos de geração de energia através de tecnologias mais eficientes e menos poluentes, em particular, as energias renováveis, auxiliando os países a atingir um desenvolvimento sustentável e melhorando a qualidade de vida da população. Tabela 4.4 - Os padrões nacionais de qualidade do ar Poluentes Tempo de amostrage m Partículas 24 horas totais em (1) suspensão MGA (2) Dióxido de 24 horas enxofre (1) MAA (3) Monóxido 1 hora (1) de carbono 8 horas (1) Ozônio Fumaça Partículas inaláveis Dióxido de nitrogênio Padrão primário, g/m³ 240 80 Padrão secundário, g/m³ 150 60 Método de medição 365 80 100 40 Parosanilina 40.000 (35 ppm) 10.000 (9ppm) 160 100 40 Infravermelho não dispersivo 150 50 Separação inercial/filtração 190 100 Quimioluminescência 40.000 (35 ppm) 10.000 (9ppm) 1 hora (1) 160 24 horas 150 (1) 60 MAA (3) 24 horas 150 (1) 50 MAA (3) 1 hora (1) 320 MAA (3) 100 Amostrador de grandes volumes Quimioluminescência Refletância Fonte: Electo Silva Lora, 2000 Nota: (1) Não deve ser excedido mais que uma vez ao ano. (2) Média geométrica anual. (3) Média aritmética anual. Atualmente as centrais térmicas brasileiras utilizam basicamente as seguintes tecnologias: as térmicas de ciclo Rankine convencional a vapor, que consiste em um conjunto com os seguintes equipamentos, caldeira, uma turbina, um condensador, um sistema de bomba e pré-aquecedores. Os pré- 86 aquecedores visam elevar a temperatura da água na entrada da caldeira, para reduzir o consumo de combustível e aumentar o rendimento da mesma, proporcionando economia de combustível na usina. A segunda alternativa é a térmica de ciclo Brayton constituídas de turbinas a gás, que produzem uma combustão, com excesso de ar que passa pela turbina e descarrega na atmosfera. Possui um compressor acionado pela turbina para garantir a pressão de ar que entra na câmara de combustão. Os dois sistemas apresentam concepções diferentes, o que gera diferenças em seus projetos de construção, operacional, econômico e ambiental. As centrais termelétricas a vapor são instalações mais complexas, onde as caldeiras podem funcionar com diferentes tipos de combustíveis podendo ser sólidos como o carvão mineral; líquidos do tipo de óleo diesel, óleo combustível ou outro óleo que apresente poder calorífico e além de combustíveis gasosos como o gás natural. Este último apresentando elevado rendimento e reduzido índice de poluição, em comparação aos outros combustíveis. As térmicas são responsáveis por uma parcela significativa nas emissões de gases causadores do efeito estufa e chuva ácida, conjuntamente com os complexos industriais instalados na zona urbana, localizados nas cidades que concentram melhores condições socioeconômicas e grande concentração populacional. Esta conclusão baseia-se no estudo realizado pelo Centro Nacional de Referências em Biomassa Nacional de Energia Elétrica CENBIO para a Agência ANEEL, em 2000, referente às medidas mitigadoras para a redução de emissões de gases de efeito estufa na geração termelétrica brasileira. O estudo utilizou a metodologia do Interagency Panel on Climate Change IPCC para cálculo das emissões de gases de efeito estufa nas térmicas e nas indústrias, que consiste na multiplicação do Fator de Emissão 87 de cada combustível pelo Nível de Atividade de cada combustível, levando em consideração o consumo de combustível utilizado pelos empreendimentos, tais como, óleo diesel, óleo combustível, gás natural, lenha, carvão mineral, gás de coqueria, bagaço e lixívia. Para todos os cálculos considera-se a relação entre a quantidade consumida de combustível e a quantidade de carbono existente em sua composição. A partir destas informações o IPCC estabeleceu a seguinte fórmula para cálculo das emissões de gases: Emissões = F.E. * P.C.I * Consumo Onde: F.E P.C.I Fator de Emissão (t/TJ de combustível) Poder Calorífico Inferior (kJ/kg ou kJ/m³/ano) Consumo Consumo Anual de Combustível (kg/ano ou m³/ano) Emissões = F.E. * P.C.I * Consumo As usinas térmicas equipadas com turbinas a gás consolidaram-se entre o final da década de 70 e início da década de 80. Anteriormente seu uso concentrava-se na propulsão de aeronaves, com avanço tecnológico resultou no aumento significativo de sua eficiência térmica, ampliando sua aplicação em usinas térmicas. O gás natural apresenta-se com melhor eficiência na queima e obtendo como resultado baixo índice de monóxido de carbono sem a presença de enxofre. Quando comparamos o aspecto econômico das duas tecnologias usadas nas térmicas, observa-se que as usinas que operam com turbinas a gás apresentam menor custo e as facilidades de instalação, operação e manutenção, sem levar em consideração o tipo de combustível utilizado pelas mesmas. 88 As gerações termelétricas no Brasil concentram-se principalmente na Região Amazônica e em poucas centrais térmicas no Sul, Sudeste e CentroOeste do país, o que representa um percentual na matriz energética brasileira na ordem de 14,89% da matriz energética nacional. Entretanto, este quadro tende a sofrer alterações, considerando a recente construção e operação do gasoduto Brasil-Bolívia que fornecerá gás natural para as centrais termelétricas, o que possibilitará a maior geração de eletricidade. Destaca-se também o Programa Prioritário de termelétricas, com este programa ocorrerão alterações na matriz energética nacional, através do fortalecimento do parque térmico, que proporcionará aumento em mais de 20%, a participação da termeletricidade na oferta de energia elétrica no país até o ano de 2009. A geração termelétrica a partir do gás natural ainda é pouco utilizada no Brasil, pois a tecnologia para a fabricação das turbinas até a operação destas modernas centrais de ciclo combinado necessita do domínio sobre essa tecnologia. Tanto que, a implantação do Programa Prioritário de termelétricas, que utilizam turbinas a gás, vem encontrando dificuldade em sua importação, devido a oferta reduzida destes equipamentos no mercado internacional e a própria necessidade de qualificação de técnicos capazes de operar e gerenciar esta tecnologia. COELHO et alii acentua a importância social e econômica do uso do gás natural: Por outro lado, o desenvolvimento destas novas tecnologias, a capacitação pessoal para fabricar as turbinas a gás e operar os ciclos combinados, o aumento do mercado de trabalho e o incremento do comércio internacional, poderão ser algumas das vantagens do aumento da participação do gás natural na matriz energética do País.(2000:21) 89 A ampliação da Refinaria de Manaus - Reman ocorrida em 2000, em seu projeto para elevar a capacidade de refino de 16.000 ton/dia de petróleo refinado para 45.000 ton/dia, incluiu a construção de uma co-geração do tipo de Ciclo Brayton com capacidade de gerar 6,4 MW e além de caldeiras que usam os gases de exaustão da turbina para gerar vapor com capacidade total de carga de 3,0 ton de vapor/hora, com pressão de operação de 17,5 kgf/cm². O conjunto compreende dois geradores de energia do tipo horizontal e duas caldeiras de gás de exaustão. De acordo com o projeto de construção foram instalados dois motores Wärtsilä Vasa 9R32LNGD e dois geradores ABB AMG900SK10 DSEA fixo. Os motores Wärtsilä são turbo-geradores, que podem ser alimentados com óleo diesel, óleo combustível tipo 1A e gás natural sua configuração é em forma de R, de nove cilindros e rotação de trabalho de 720 RPM. Os geradores são tipo horizontal com saída de 4.000 KVA, fator de potência de 0,8 gerando uma voltagem de 13.800 V; uma amperagem de 167A; 60 Hz de freqüência; rotação de 720 RPM e capacidade de gerar 3,2 MW em cada máquina. As duas caldeiras de recuperação de calor pedido ou gás de exaustão são do tipo aletado e operam de acordo com pressão de operação estabelecida pela refinaria na ordem de 17,5 Kgf/cm². O contrato de construção incluiu também o treinamento do corpo de técnicos da Petrobrás que operariam a co-geração, além do que os técnicos chamaram de operação assistida, que durante os seis primeiros meses de início de operação da nova unidade, haveria uma equipe de técnicos da Wärtsilä acompanhando a operação dos técnicos da Petrobrás. Com relação ao controle ambiental realizado pela Petrobrás, observouse a falta de um controle das emanações de gases da co-geração para determinar os níveis de CO, CO2, CH4, NOx, N2O e outros gases gerados na 90 combustão, independente do combustível utilizado, somado a falta de um acompanhamento das especificações químicas do combustível que alimenta o equipamento. Segundo informações dos técnicos da Empresa, somente são realizadas análises diárias da água do circuito fechado de refrigeração das máquinas e a água que alimenta as caldeiras, além de uma periodicidade não informada de análise do óleo lubrificante usado nos motores. Não foram informadas quando são realizadas análises dos resíduos oleosos e sólidos da co-geração. FIGURA 4.7 - Co-geração da Refinaria de Manaus FONTE: Petrobrás/REMAN/2001 Hoje no País devido à utilização do óleo diesel e óleo combustível como principal combustível usado nas térmicas demonstra que houve uma elevação nas concentrações de dióxido de carbono, óxido de nitrogênio, óxido de enxofre, monóxido de carbono e particulados, além das pequenas concentrações de compostos orgânicos voláteis de não metano emanados das usinas nos grandes centros urbanos. 91 Considerando os atuais estudos voltados a utilização do gás natural e a relação de seus danos ambientais reduzidos, visualiza-se a possibilidade de expansão da oferta de energia elétrica baseada em termelétricas a partir do gás natural, o que resultará em menor impacto ambiental, apesar de apresentar como resultado de sua queima elevadas emissões de nitrogênio. O futuro cenário criado para as usinas térmicas brasileiras baseia-se no uso do gás natural como principal combustível, isto resultará em um fortalecimento das usinas térmicas dentro da matriz energética nacional. Um fato a destacar, e que chamou bastante atenção na atual legislação ambiental brasileira foi à falta de padrões de limitação do nitrogênio e seus derivados gerados na queima a partir do gás natural como fonte primária de energia nas turbinas a gás, havendo necessidade de analisar os impactos ambientais da emissão desses gases gerados em grande quantidade pelo novo combustível tanto na indústria, quanto nos emissões de automóveis. O gás natural apresenta-se como uma alternativa concreta e interessante para os derivados de petróleo, por ser um energético que produz menos impactos ambientais que os tradicionais combustíveis a base de petróleo, além de facilitar sua queima e transporte. O incremento na oferta de energia com as operações dessas novas térmicas levarão a um aumento significativo na emissão de poluentes atmosféricos, em particular as emissões de carbono e óxidos de nitrogênio, segundo cálculo do CENBIO1 - Centro Nacional de Referência em Biomassa, mais de 16 milhões de toneladas de carbono e de 205.000 toneladas de óxidos de nitrogênio serão emitidos com a mudança de combustível para o gás natural. A expansão do parque de energia térmica no estado do Amazonas é hoje uma necessidade indiscutível e fundamental para gerar um bem estar social e econômico da população local, para construir um desenvolvimento social e econômico baseado em uma sustentabilidade duradoura e harmoniosa com o meio ambiente. 1 Nota Técnica III, publicada pelo CENBIO em junho de 2000 92 Hoje, as realidades das usinas térmicas no interior do Amazonas são bastante preocupantes com suas instalações constituídas de máquinas com tecnologia antiquada e de baixo rendimento insuficientes para abastecer o mercado local, causando prejuízo aos municípios o que limita seu desenvolvimento. As principais características técnicas dessas usinas são: o uso de motores queimando óleo diesel com baixo rendimento energético, o difícil transporte e armazenamento de óleo diesel contribuindo na elevação do custo da geração de energia elétrica e grande riscos de impactos ambientais. Uma alternativa possível para a região seria realizar a troca dos motores e geradores existentes que queimam diesel para os que usam gás natural. COELHO et alii comenta sobre o uso de turbina a gás em sistemas isolados A turbina a gás é uma boa opção para sistemas isolados, pois sua instalação é fácil e rápida e seu custo compete com a vantagem com outras alternativas. Pode também ser utilizada em usinas termelétricas de ciclo combinado, em instalações de co-geração e para o atendimento nos horários de pico. (2000:44) Os estudos das emissões de gases de efeito estufa na geração termelétrica, levam em consideração os dados referentes a geração e consumo de eletricidade em cada localidade, e os dados relativos ao consumo de combustíveis fósseis e biomassa em cada setor produtivo do local. Na maior parte da Amazônia e principalmente nos sistemas isolados das cidades de Manaus e Boa Vista encontramos a geração elétrica concentrada nas usinas térmicas que consomem elevadas quantidades de óleo diesel. Especificamente em Manaus, encontramos o consumo de óleo diesel, óleo combustível pesado do tipo 1A, o óleo leve para turbina elétrica (PTE) e óleo leve para gerador elétrico (PGE), utilizados para alimentar máquinas da Manaus Energia e as usinas térmicas do produtor independente de energia. 93 As centrais térmicas que utilizam óleo combustível do tipo 1A irão produzir grande quantidade de gases e particulados de conforme o ajuste de sua combustão, sendo necessário ajustar a mistura do ar, tipo de atomizadores, os queimadores, a temperatura do óleo e as condições gerais de operação. Outro fator de importância fundamental é a concentração de carbono e enxofre que compõem o óleo combustível. Obtendo-se como resultado a queima 95% do carbono presente no combustível, isto resultará na oxidação do carbono produzindo CO2 e reduzirá a presença de particulados. A produção de CO2 em larga escala é muito prejudicial ao ambiente, contribuindo de forma significativa para o efeito estufa e aquecimento da Terra. O óleo combustível do tipo 1A apresenta elevada concentração de enxofre e produzirá dióxido de enxofre SO2 e fumaça. As formações dos óxidos de nitrogênio dependerão da concentração de nitrogênio existente no combustível (óleo diesel, óleo combustível e gás natural) e as condições operacionais das usinas térmicas, destacando-se que quanto maior a temperatura do processo e maior o excesso de ar na combustão resultarão taxas mais elevadas do óxido de nitrogênio, principalmente nas térmicas que utilizam turbinas a gás natural. As térmicas do produtor independente de energia elétrica (PIE) em Manaus, consomem óleo diesel, PGE e PTE. Atualmente, o óleo Leve para Turbina Elétrica (PTE) e óleo Leve para Gerador Elétrico (PGE) estão substituindo ao óleo diesel automotivo usados nas turbinas a gás aeroderivadas e industriais da El Paso. Esta substituição está proporcionando uma economia de R$ 27 milhões por ano, para Manaus Energia que fornece o combustível para o PIE, tendo em vista que este combustível é 15% mais barato que o óleo diesel automotivo anteriormente utilizado. A criação desses novos produtos, o PTE e o PGE foram o resultado do trabalho em conjunto das empresas Eletronorte, Eletrobrás, Manaus Energia, El Paso, Wärtsilä, Petrobrás e BR distribuidora para produzir um óleo com 94 qualidade superior, para atender a todas as especificações físico-químicas definidas pela legislação ambiental brasileira e pelos fabricantes das turbinas. Contudo, existe a perspectiva de expansão do uso do óleo PTE e PGE em outras térmicas da Eletronorte na região amazônica, como resultado alcançado na sua capacidade calorífica nas térmicas de Manaus dos referidos óleos; além da redução de seus danos ambientais com menor emissão de particulados e menores emissão de gases nocivos à atmosfera, resultado do avanço tecnológico e principalmente a redução no custo de sua compra junto a Petrobrás. 4.4.1 - Responsabilidade ambiental do Produtor Independente de Energia Elétrica em Manaus O novo ambiente que se configura no setor elétrico brasileiro está provocando uma mudança significativa no comportamento dos agentes e na própria estrutura da indústria elétrica. A integração entre os agentes do setor elétrico e a própria participação da sociedade buscando valorizar suas conquistas e fortalecer seu papel como objetivo final de qualquer atividade industrial, tem contribuído para aumento da responsabilidade sócio-ambiental de cada empreendimento, garantido o bem-estar e manutenção das gerações futuras. O estudo sobre a responsabilidade sócio-ambiental do produtor independente de energia elétrica, na cidade de Manaus, como agente ativo do setor elétrico local, tem como referência um estudo da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), realizada em 1999, pelo Prof. Roberto do Santos Vieira, que versava sobre a Problemática Energética e Ambiental na Amazônia: Avaliação e Perspectivas (Parte II Regulação Ambiental). O estudo realizado foi dividido em três partes básicas: a primeira analisa a questão ambiental no contexto dos sistemas energéticos brasileiro e sua evolução histórica; a segunda parte faz uma análise das diretrizes legais e 95 interfaces com o setor elétrico e, a terceira, compreende as perspectivas do setor elétrico frente aos novos instrumentos de regulação ambiental. VIEIRA (1999) comenta a respeito do estudo realizado: Ao longo daquele estudo são feitas algumas recomendações para que sejam aprofundadas as pesquisas sobre o uso de instrumentos econômicos e fiscais no controle da qualidade ambiental. É também recomendado que haja o aprofundamento da análise dos custos de conformidade de empreendimentos geradores e transmissores de energia elétrica e seus potenciais impactos no nível de investimentos do setor no futuro (1999:2) A sugestão de VIEIRA (1999) de se abordar os custos das conformidades ambientais desde as fases iniciais do empreendimento, iniciando na fase do planejamento do projeto até a entrada em operação do mesmo, com o devido monitoramento e acompanhamento da planta produtora de energia elétrica e, em especial se estive localizada na Amazônia, é importante para minimizar os danos industriais ao meio ambiente e reduzir os custos de investimentos. VIEIRA (1999) em seu estudo sobre conformidade ambiental toma como referência a usina termelétrica da El Paso Rio Negro (ex-Wärtsilä) a planta W localizada na cidade de Manaus como de melhor conformidade ambiental. Sua escolha baseia-se nos estudos feitos sobre o relatório de impacto ambiental (RIMA), plano de contingência e pesquisa bibliográfica para estabelecer um padrão de conformidade desta usina. Este padrão leva em consideração, os aspectos financeiros, tecnológicos e de engenharia da usina no âmbito dos ambientes externo e interno e com reflexos ao meio ambiente. Analisando o RIMA elaborado para as térmicas construídas pelo produtor independente em Manaus e tomando como referência a proposta de conformidade ambiental sugerida pelo Prof. Roberto Vieira em 1999, para usinas térmicas, identificamos que ação ambiental do produtor independente 96 de energia em Manaus ocorre através do monitoramento das emissões gasosas, líquidas e sonora das usinas, o que é realizado através do plano de coleta de amostra elaborada pela empresa El Paso e enviado os resultados ao órgão ambiental estadual, para manter-se dentro das conformidades ambientais. Destacamos que a empresa procura seguir uma política ambiental estabelecida por sua matriz nos EUA. A empresa El Paso para obter o licenciamento ambiental para seus empreendimentos procura enquadra-se dentro da legislação ambiental brasileira e seguir as regras ambientais estabelecida do Banco Mundial, haja visto, o banco ser um grande agente financiador de seus empreendimentos dentro dos Estados Unidos e nos demais países onde possuem projetos de usinas térmicas e exploração de gás natural. Segundo a entrevista do Eng. de Meio Ambiente da El Paso, Paulo Oranje, que comenta a respeito da conformidade ambiental praticada pela empresa, sobre a legislação ambiental brasileira que não específica sobre a emissão gasosa para usinas térmicas que utilizam o Ciclo Brayton, de turbinas e motores de combustão interna. Que apenas as resoluções do CONAMA nº 03 e 08 de 1990 são mais aplicáveis para fonte de combustão externa, do tipo de Ciclo Convencional Rankine, principalmente para caldeiras. Contudo estas resoluções são utilizadas como referências para licenciamento ambiental pela empresa. As Resoluções CONAMA de nº 03 e 08 de 1990, estabeleceram o padrão para qualidade do ar e o método de amostragem e análise dos poluentes atmosféricos, através da determinação de opacidade, que é a cor da fumaça expelida pela chaminé; quantidade de particulados, material sólido resultante da queima do combustível; limites de gases resultantes da combustão tais como: dióxido de enxofre, monóxido de carbono, ozônio e dióxido de nitrogênio. Observamos que a legislação estabelece padrão de 97 qualidade do ar, mas não determina o padrão de emissão dos gases gerados na combustão. As usinas térmicas A, B e D da El Paso Amazonas são plantas compostas por equipamentos de combustão interna, que apresentam baixa emissão de fumaça, ruído, particulados e emissões de óxido de enxofre e óxido de nitrogênio, isto devido a moderna tecnologia utilizada em suas máquinas com resfriamento direto da câmara de combustão e a mudança de combustível para o tipo PTE (Óleo para Turbina Elétrica), que apresenta a concentração de enxofre limitada a 1%, semelhante ao óleo diesel e menor que a concentração de óleo combustível do tipo 1A que é limitada a 2,5% de enxofre. Nestas plantas procura-se estabelecer o Ponto Ótimo de Queima (POQ), que configura na relação entre Taxa de Emissão (TE) e Temperatura (T), conforme gráfico abaixo, reduzindo a emissão de óxido de nitrogênio (NOx). FIGURA 4.8 - Ponto Ótimo de Queima Fonte: Setor de Engenharia da El Paso Amazonas. 2002 Nota: (1) NOx (2) MP Óxido de Nitrogênio Câmara de combustão A Planta W da El Paso Rio Negro é uma usina composta por um conjunto de motor e gerador, onde o motor tem como princípio a explosão interna, o que reduz a temperatura da combustão do combustível, 98 conseqüentemente reduzindo as emissões de óxido de enxofre e óxido de nitrogênio. Esta unidade de geradora utiliza como combustível o óleo PGE (Óleo para Gerador Elétrico), que apresenta composição físico-química semelhante ao PTE (Óleo para Turbina Elétrica). A El Paso procura seguir os padrões internacionais de monitoramento para emissões de gases, e anualmente é feito um teste de emissão de gases para terminar a concentração de óxido de enxofre, óxido de nitrogênio, particulado e opacidade, através de teste realizado por uma empresa especializada nesta atividade. Dos resultados apurados é emitida uma cópia ao órgão ambiental estadual do Estado, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM). A empresa não realiza o controle de emissão de monóxido de carbono e dióxido de carbono. A empresa apesar de não possuir um laboratório para análise físicoquímica, possui um químico que acompanha os resultados das análises feitas diariamente pela operação e além da rotina mensal de análise das plantas térmicas. O controle de qualidade do óleo PTE e PGE é feito através da coleta de 20 (vinte) amostras diária de óleo para análise no aparelho, chamado Spectroil M Oil Analysis Spectrometers . Este aparelho é indicado pela General Electric (GE) fabricante da turbinas das usinas. Nesta análise identifica-se a concentração de vanádio, cálcio, potássio, lítio e sódio. Além dessa rotina, retira-se diariamente uma amostra de óleo para contra-prova e enviada a empresa ITS no pólo petroquímico de Camaçari na Bahia, comparando os resultados obtidos. 99 FIGURA 4.9 Sistema de filtragem de óleo da El Paso - Mauazinho FONTE: El Paso/2000 Os tanques que armazenam óleo combustível recebem tratamento químico anticorrosão com produtos da empresa NOW, não especificado pela El Paso. Um tratamento desengraxante biodegradável a base de fenol hidrossolúvel e uma dosagem de biocida da Best-Dermo para evitar o aparecimento de bactérias no tanque. O óleo lubrificante usado nas plantas é importado pela empresa dos Estados Unidos. No início de sua operação a El Paso encontrou dificuldades na logística do transporte do lubrificante, o que foi resolvido com o contrato firmado de fornecimento com a MOBIL OIL, responsabilizando-se pela entrega e retirada do óleo lubrificante, o qual é reprocessado pela empresa LW Star em São Paulo. O controle dos efluentes líquido, oleoso e aquoso é feito pela El Paso através de um separador de água e óleo, onde se separa o óleo da água pelo princípio de decantação. A água é lançada no corpo hídrico ao lado da usina e resíduo oleoso é coletado pela Manaus Energia, responsável contratual pelo fornecimento de óleo combustível e seu resíduo. 100 O monitoramento do efluente líquido aquoso é realizado de dois em dois meses, com a coleta de uma amostra do efluente líquido e do corpo hídrico, que recebe o lançamento do efluente da empresa comparando os resultados obtidos, para ter um parâmetro se houver alteração do corpo hídrico. A água utilizada para consumo humano, quanto para o processo é de origem do lençol freático, retirada através de um poço artesiano de 150 m de profundidade, perfurado tanto na planta montada no bairro do Mauazinho, como na planta do bairro da Aparecida. A água utilizada para consumo humano não necessita de nenhum tratamento físico, químico ou bactericida. A água usada no processo industrial passa por tratamento para retirar impureza existente, através de uma osmose reversa, uma cadeia de células eletroquímicas e um tratamento em resina de troca iônica (catiônica e aniônica). As resinas são regeneradas periodicamente com uma solução a 5% de soda cáustica (aniônica) e uma solução de ácido clorídrico também a 5 % (resina catiônica). A El Paso do Amazonas executa uma política de reciclagem de materiais sólidos ferrosos, madeira, plásticos, filtros de papel, trapo e resíduos orgânicos não contaminados de óleo, caso algum material esteja impregnado de óleo, este material é enviado a Manaus Energia para um destino final. O produtor independente de energia elétrica, El Paso apresentou quanto da obtenção da licença ambiental junto ao órgão ambiental estadual, um Plano de Prevenção, Controle e Contingência para acidentes ambientais. Este plano atualmente passa por uma atualização com consultores externos da empresa, além existência de uma brigada de incêndio e um sistema de combate a incêndio próprio. 101 A compensação ambiental ou medidas mitigadoras com a construção das usinas térmicas do produtor independente não foram necessárias, porque as áreas ocupadas para implementação do empreendimento fazem parte do sítio onde a Manaus Energia se estabeleceu há mais de 20 anos. O terreno inclusive já estava reservado para futuras expansões da concessionária local. 4.4.2 - Responsabilidade social do Produtor Independente de Energia Elétrica em Manaus Nos últimos anos, tem sido observado que as empresas privadas vêm mobilizando um volume cada vez maior de recursos destinados a iniciativas sociais. PELIANO comenta sobre o papel da iniciativa privada: No Brasil, como em toda a parte, cresce o entendimento de que uma política de desenvolvimento social está a exigir a participação de novos atores. O estado, sem dúvida, deve ser o principal protagonista. Contudo, não possui condições nem para elaborar sozinho essa política, nem para implementá-la. Assim, face às limitações da ação estatal e á natureza do fenômeno da exclusão social, somente com uma ampla mobilização da sociedade será possível reunir recursos suficientes para enfrentar o problema. Trata-se, portanto, de buscar parceiros fora do estado, isto é, na sociedade ou, mais especificamente, nas empresas privadas e no terceiro estado.(2000:9) É importante definir o conceito de ação social empresarial e PELIANO define ação social como: Inicialmente, é importante registrar que o conceito utilizado para definir a ação social empresarial foi, deliberadamente, abrangente: considerou-se qualquer atividade que as empresas realizem para atender às comunidades, nas áreas de assistência social, alimentação, saúde, educação, meio ambiente e desenvolvimento comunitário, dentre outras.Essas 102 atividades abrangem desde pequenas doações eventuais a pessoas ou aos empregados da empresa e seus familiares.(2000:10) O envolvimento das empresas privadas em ações sociais voltadas para a comunidade e para seus empregados fortalece sua imagem dentro do mercado competitivo existente hoje, além de criar vínculos entre empresas e sociedade. Entretanto, o problema social trabalhado pelas empresas hoje independentes de seu caráter ser privado ou estatal, se faz necessário analisar este objeto se é uma prática de assistência social ou uma promoção social da empresa envolvida. Para determinados grupos da população em condições de miséria e necessidades emergenciais, o atendimento assistencial é fundamental e indispensável, e isto ocorre mesmo nos países mais desenvolvidos. PELIANO explica sobre assunto: Além disso, porque nada impede ao contrário, tudo recomenda que as ações assistências e emergências sejam complementadas por atividades capazes de promover o desenvolvimento humano e social daqueles que são assistido.(2000:17) A grande característica da ação social empresarial é a filantropia, as empresas que realizam atividades sociais o fazem por motivos humanitários. A satisfação pessoal e as melhorias nas condições de vida da comunidade são, de longe, os principais resultados percebidos pelo setor empresarial na sua ação social. As ações desenvolvidas pelas empresas são: assistência social, alimentação e abastecimento, segurança, esporte, educação e alfabetização, saúde, cultura, desenvolvimento comunitário e mobilização social, meio ambiente, defesa dos direitos, lazer e recreação e qualificação profissional, 103 segundo estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA,2000), para Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. O produtor independente de energia elétrica no estado do Amazonas é representado pela empresa El Paso Amazonas Ltda, filial da El Paso International dos Estados Unidos. Quando analisado sua relação com as comunidades de entorno de suas plantas térmicas observa de forma bastante limitada, exemplo disso acontece no bairro de Aparecida com fornecimento de água potável retirada de seu poço artesiano e liberada à comunidade, através de um único ponto para enchimento de garrafas. O principal programa social comunitário desenvolvido pela EL Paso no estado do Amazonas é em parceria com os Serviços Médicos Internacionais para a Saúde (INMED), uma Organização Não Governamental (ONG) internacional. O projeto Produzindo Saúde está sendo desenvolvido há três anos, em Manaus, voltado à conscientização de parte da população sobre a importância dos cuidados com a saúde e a higiene. A iniciativa beneficia 5 mil alunos da rede pública estadual, entre 5 a 14 anos, que apresentavam altas taxas de infecção parasitária e deficiência nutricional. O projeto tem como objetivo não somente controlar e prevenir doenças, mas estimular e capacitar crianças a se tornarem agentes de transformação no meio em que vivem. O projeto Produzindo Saúde foi implantado em Manaus por intermédio do Programa Comunidade Solidária, dos Ministérios da Saúde e Educação e Organização Mundial de Saúde, e conta com apoio das secretarias estaduais de Educação e de Saúde. As escolas que participam do projeto e o bairro que estão localizadas são: Osmar Pedrosa (Cidade Nova 1), Herbert Palhano (Nossa Senhora da Graça), Thomé de Medeiros Raposo (Redenção), Agrícola Mirim (Colônia Antônio Aleixo), Duque de Caixas (Compensa) e Paula A. Frassinetti (Morro 104 da Liberdade). Este projeto limita-se às crianças que freqüentam o ensino público regular na cidade de Manaus destes locais. As ações desenvolvidas exclusivamente para os funcionários da empresa compreendem treinamento, qualificação com a contribuição de 50% das mensalidades da faculdade, plano de saúde familiar e seguro de vida. O estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA,2000), para Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. O qual identifica as principais ações sociais desenvolvidas pelas empresas privadas junto a comunidades, observamos uma baixa participação do produtor independente como agente de mudança na sociedade local. Contudo, a participação do produtor independente na matriz energética do sistema isolado de Manaus deu maior confiabilidade e segurança ao sistema elétrico, o que resultou no fortalecimento do parque industrial montado em Manaus e melhor bem-estar das condições de vida da população, com fornecimento contínuo de eletricidade. 105 5. O PRODUTOR INDEPENDENTE DE ENERGIA E O DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO DE MANAUS 5.1 - Os sistemas isolados na Amazônia A Amazônia é uma região de contrastes profundos e marcantes, de extensão continental, correspondendo a mais da metade do Brasil, mas que devido às suas potencialidades e peculiaridades é hoje de extrema importância para o país, não somente no que diz respeito aos seus ecossistemas admiráveis e seus recursos naturais, como também reserva de fontes de energia capazes de assegurar o desenvolvimento brasileiro de forma continuada e independente. O atual Estado brasileiro tem atuado na qualidade de promotor da integração, ocupação e desenvolvimento sustentável da Amazônia, com atenção voltada para as suas peculiaridades, a fim de que suas ações decorrentes da política implementada para a região resultem na exploração racional e sustentada das riquezas naturais atualmente existentes. Contrárias às suas ações de décadas anteriores que visavam apenas a exploração econômica da região, exemplificada nos projetos minerais, agro-industriais e de ocupações populacionais da Amazônia, sem atender as necessidades básicas da sociedade da Região.(BECKER,1998) A Centrais Elétricas do Norte do Brasil S. A (Eletronorte), empresa subsidiária da Centrais Elétricas Brasileiras S. A (Eletrobrás), concessionária do serviço público para gerar energia elétrica na Amazônia Legal, tem como missão atender ao mercado de energia elétrica, integrando crescimento e desenvolvimento da sua área de ação. Área que representa 58% do territorial nacional, o que abrange os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, o Oeste do Maranhão, mais o Norte do Mato Grosso, conforme Figura 2.6. (ELETRONORTE, 1993). 106 A Eletronorte recebeu o desafio de criar infra-estrutura de energia elétrica na Amazônia, através da aplicabilidade de soluções inéditas e inovadoras para a região, principalmente em gerar eletricidade a partir de fonte hidráulica em substituição às fontes térmicas existentes na Região, que consumiam enormes quantidades de derivados de petróleo. Esta prática serviu apenas para as capitais dos estados do Pará, Maranhão e Tocantins. As capitais dos estados do Amazonas, Rondônia e Amapá apesar de possuírem usinas hidrelétricas, necessitam completar sua carga com a geração de usinas térmicas. Contudo, a grande maioria das localidades no interior da Amazônia é abastecida por usinas termelétricas. O suprimento de eletricidade para os sistemas isolados na Região Norte do Brasil constitui, ainda, um grande desafio. Os sistemas de pequeno porte apresentam custos de operação e manutenção elevados e inúmeras dificuldades logísticas para o suprimento de combustível para as térmicas. Segundo informações do Ministério de Minas e Energia mostram que dos 5,5 milhões de condomínios rurais no Brasil, somente 900 mil são eletrificados e que cerca de 25 milhões de brasileiros não tem acesso à eletricidade. Esses números seriam ainda mais expressivos se não existissem iniciativas como a CCC (Conta de Consumo de Combustíveis) que subsidia o atendimento de razoável número de comunidades isoladas, principalmente na Região Norte. Os recursos da CCC, só com os sistemas isolados, são da ordem de 250 milhões de dólares por ano. (ALMANAQUE ABRIL,2001) Muitas comunidades na região amazônica dispõem de recursos energéticos renováveis: solar, biomassa, e até mesmo a energia de pequenos aproveitamentos hídricos. No entanto, o emprego destas fontes para geração de energia elétrica requer, ainda, desenvolvimentos e incentivos do ponto de vista tecnológico e logístico de aproveitamento dos recursos energéticos da região. A implantação dos sistemas de geração alternativa eficaz na Região Norte seria a concretização da viabilidade técnico-econômica e sócioambiental das fontes alternativas para geração de energia elétrica, com 107 aproveitamentos dos recursos naturais existentes na região em substituição ao diesel. O empreendimento termoelétrico configura para o interior da Amazônia a alternativa mais concreta para viabilização do atual modelo de expansão da oferta da energia elétrica, idealizada para expansão da capacidade de geração, porque independe das condições hidrológica, é de fácil montagem em relação a usina hidrelétrica estando ligado apenas à disponibilidade do combustível e da unidade geradora em si, que pode estar próxima ao centro consumidor. (NEGRI,1997). A década de 90 foi marcada por uma mudança na matriz mundial da geração de energia elétrica, observada em quase todos os países. Novas oportunidades surgiram devido ao avanço tecnológico obtido na fabricação de grupos geradores, permitindo reduzir a diferença no segmento da geração de energia e, conseqüentemente, possibilitar a competição no mesmo, as medidas descentralizadoras do Estado e ações da própria iniciativa privada em investir no setor elétrico. Tal mudança propiciou o surgimento de novos tipos de empresas geradoras de energia, atuando no mercado na modalidade de produtores independentes de energia elétrica e autoprodutores. Estas empresas estão atuando na região Amazônica e construindo um novo cenário na matriz energética local com a livre participação do PIE como agente gerador deste sistema. 108 5.2 - Papel da Agência Reguladora de Energia Elétrica e o PIE A Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996, instituiu a Agência Nacional de Energia Elétrica ANEEL, para disciplinar o Regime das Concessões de serviços públicos de energia elétrica e conceder outras providências relevantes ao setor elétrico. A complexidade, extensão e dinâmica da legislação e regulação do setor tornaram fundamental a tarefa da Agência Reguladora do setor elétrico para consolidar e estruturar a geração de energia no país. A ANEEL tem por finalidade regular e fiscalizar a geração, a produção, a transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, em conformidade com as políticas e diretrizes do governo federal (Lei nº 9.427/1996). Dentro das suas atribuições a Agência deverá promover a utilização dos recursos hídricos para produção de energia em conformidade com a Política Nacional de Recursos Hídricos, realizar licitações à contratação de concessionárias de serviços públicos e outorga de concessões para aproveitamento de potenciais hidráulicos, celebrar e gerenciar os contratos de concessão ou de permissão de serviços públicos de energia elétrica de acordo com o uso do bem público, fiscalizar as concessões e as prestações dos serviços de energia elétrica, inclusive resolver as divergências entre os agentes do setor elétrico e se necessário penalizar com multas, facilitar a concorrência entre os agentes e impedir a concentração do setor elétrico em uma empresa ou grupo empresarial, além de acompanhar as práticas de mercado realizadas pelos agentes do setor elétrico brasileiro. GUERRA acentua a importância da regulação do setor elétrico quando afirma: O objetivo fundamental da regulação é o de instrumentalizar o mercado para aproximá-lo de sua condição competitiva, através do desenho institucional de instrumentos regulatórios que atuem no sentido de 109 atender adequadamente ao interesse público e à eficiência econômica. (2000:38) Entre as finalidades estabelecidas para a ANEEL estão os seguintes objetivos: promover o processo de descentralização de atribuições da Agência, que poderá delegar seu poder de fiscalização da concessão e do serviço de energia elétrica prestado nos estados, inclusive seu papel de mediadora de conflitos e de ouvidoria, através da celebração de convênios com órgãos e agências estaduais, conforme o art.3º, inciso IV, da Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996, de criação da ANEEL. A descentralização de atividades tem por alvo aproximar as ações de regulação, fiscalização e mediação entre dos agentes do setor e os consumidores, além de agilizar os próprios processos de regulação, fiscalização, mediação e outorgas das empresas, adaptando as ações da Agência às circunstâncias locais e trazer soluções dos problemas surgidos ao próprio local de origem. A descentralização de ação adotada pela Agência Nacional visa atender ao interesse público relacionado à facilitação na prestação do serviço de energia elétrica para gerar bem estar e desenvolvimento da sociedade. A ANEEL já assinou 13 convênios de descentralização com as agências estaduais das 19 existentes atualmente, e está negociando com mais agências estaduais, conforme demonstra a figura 5.1- mapa das agências estaduais. A ação da Agência Nacional de Energia está também presente de forma direta na própria regulação do mercado de energia elétrica, baseado no art.3º, inciso VIII e IX, da Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996, de sua criação. Quando busca propiciar a concorrência efetiva entre os agentes e impedir a concentração econômica dos serviços e atividades relacionadas a 110 energia elétrica em uma única empresa ou grupo empresarial. Além de atuar no cumprimento da legislação de defesa da concorrência e acompanhar as práticas de mercado dos agentes do setor de energia elétrica. (ANEEL, 2000) FIGURA 5.1 - Atuação descentralizada da ANEEL Fonte: ANEEL/ junho /2002 A figura do PIE é uma pessoa jurídica ou grupos de empresas reunidas em consórcio que recebam autorização ou concessão da Agência Nacional de Energia Elétrica para produzir energia destinada ao comércio de toda ou parte da produção por sua conta e risco. Com esta flexibilização os produtores independentes são capazes de ampliar e melhorar as condições de oferta e prestação de serviços tendo como garantia o livre acesso aos sistemas elétricos, arcando com seus custos, além de possuir uma autonomia para fechamento de contratos bilaterais de compra e venda de energia, observados os critérios estabelecidos no art.12 da lei de criação dos PIE. No período que compreende o ano de 1998, ano de criação da Agência Nacional de Energia Elétrica, até junho de 2002, conforme a tabela 5.1 foram 111 autorizados 271 empreendimentos dos quais: 204 são produtores independentes de energia elétrica (PIE), 62 autoprodutores (AP) e 5 serviços públicos (SP), englobando agentes dos setores públicos e privados. Uma análise que podemos realizar é que a efetiva construção e operação de todas essas usinas térmicas resultariam numa geração de 29.256,83 KW, o que equivaleria a 38% da atual produção de energia do país na ordem de 76.990.053 KW. As informações coletadas junto a Agência Nacional reguladora do setor sobre os pedidos de autorizações concedidos para os projetos de construções e ampliações de usinas termelétricas, seguiu as determinações da Resolução nº 112 de 1999, da ANEEL que estabelece a forma de autorização para usinas com potência superior a 5 MW. (ANEEL/2002) Tabela 5.1 Autorizações UTE´S ANO Nº AUTORIZAÇÕES PIE AP SP 1998 62 11 1999 11 5 2000 25 11 4 2001 53 25 1 2002 53 10 TOTAL 204 62 5 Fonte: ANEEL/junho/ 2002 Nota: PIE POTÊNCIA KW 2.156,75 1.879,21 8.229,57 14.545,38 2.445,92 29.256,83 Produtor Independente de Energia Elétrica AP Autoprodutor SP Serviço Público A ação dos produtores independentes de energia elétrica não se limita as usinas termelétricas, podendo gerar energia a partir de outras fontes energética, desde que receba autorização do órgão regulador do setor. Ao longo de sua atuação, a Agência Nacional de Energia Elétrica concedeu 132 autorizações para Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), conforme Resolução da ANEEL nº 395 de 1998, que abrange empreendimentos com capacidade de geração 1 a 30 MW de potência, dos quais 119 foram autorizações para os produtores independentes e 13 para autoprodutores. 112 Os projetos industriais que utilizarem fontes alternativas para gerar energia elétrica, seguem as mesmas regras utilizadas para usinas termelétricas o que necessita de autorização da Agência Reguladora, conforme Resolução ANEEL nº 112 de 1999, para os projetos que apresentarem em seu escopo potência superior a 5 MW. Nos últimos quatros anos, as usinas eolioelétricas na modalidade de produtor independente receberam 47 autorizações da ANEEL, isto ratifica o caráter de flexibilidade e agilidade do produtor como agente dinâmico dentro de qualquer sistema energético do país. (ANEEL,2002) Nos últimos cinco anos foram concedidas pela ANEEL 58 autorizações exclusivamente para projetos de usinas termelétricas de produtores independentes de energia de elétrica para Região Norte, destacando que o estado de Rondônia recebeu o maior número de autorizações na ordem de 39 outorgas enquanto, o estado do Amazonas recebeu cinco autorizações sendo quatro para cidade de Manaus e uma para cidade de Itacoatiara. Conforme informações da tabela 5.2 sobre autorizações para Região Norte. Os registros das Usinas termelétricas (UTE s) junto a Agência Nacional de Energia Elétrica ANEEL, também é regulamentada pela Resolução nº 112 de 1999, da Agência Reguladora do setor elétrico que limita a potência das usinas até 5 MW. No período correspondente ao ano de 1999 a junho de 2002, foram registradas 29 usinas na modalidade de produtor independente de energia, 6 de serviço público e 168 autoprodutores. Predominando os registros de autoprodutores devido às características do empreendimento de baixa capacidade de geração. (ANEEL,2002) 113 Tabela 5.2 - Autorizações UTE´S PIE Região Norte Estado Acre Amapá Amazonas Pará Rondônia Roraima Tocantins Total 1998 13 1 37 51 1999 3 4 2000 2 2 2001 1 1 2002 - Fonte: ANEEL/Junho/2002. Elaboração própria Os registros das Pequenas Centrais Hidrelétricas - PCH também seguem a Resolução da ANEEL de nº 395 de 1998, que se aplica aos empreendimentos hidrelétricos com potência de até 1 MW e seu registro junto ao órgão regulador. Até junho de 2002 foram registrados 19 como produtores independentes de energia elétrica, 36 como serviço público e 59 autoprodutores. Observa-se a superioridade de registros na modalidade de autoprodutores para as PCH, que representam usinas de baixa capacidade de geração. (ANEEL,2002) As centrais de energia elétrica de fonte alternativa do tipo eólica e fotovoltáica com capacidade de geração inferior a 5 MW potência são regulamentadas pela Resolução da ANEEL de nº 112 de 1999. Atualmente estão registradas 7 centrais eólicas todas na modalidade de produtor independente de energia elétrica conforme a tabela 5.3 gerando na totalidade 5,19 MW de energia. Com relação a central fotovoltáica existe apenas um registro no país como produtor independente de energia, pertencente a Fundação de Amparo à Pesquisa Fapeu, no município de Nova Mamoré em Rondônia e gerando 0,02 MW de energia. (ANEEL,2002) 114 Tabela 5.3 - Centrais Eólicas Ano Registro Potência 1999 1 0,08 2000 2 1,28 2001 1 2,40 2002 3 1,43 Fonte: ANEEL/ Registros/2002 Desde que passou a funcionar em 1998, a ANEEL expediu 913 outorgas de geração na forma de concessão, autorização, registros e ampliações, que totalizam 49.984 MW e investimentos estimados em R$ 68,9 bilhões dentro do sistema elétrico brasileiro, com objetivo de fortalecer o parque de geração e sua confiabilidade. (ANEEL, Registro,2002). O mercado de energia elétrica no país é atendido por 64 concessionárias de serviço público, entre estatais e privadas, que geram eletricidade em seus próprios parques térmicos ou integrados com os produtores independentes e/ou autoprodutores. As concessionárias estatais estão sobre o controle dos governos federal, estadual e municipal atualmente passando por processo de desestatização, enquanto na iniciativa privada verificamos a presença de capital nacional e estrangeiro no controle de várias empresas de energia. Hoje todas sob a efetiva fiscalização e regularização da Agência Nacional de Energia Elétrica. O setor elétrico brasileiro está se reestruturando, introduzindo a competição nos segmentos, geração e comercialização, além de promover a desverticalização das empresas e do livre acesso aos sistemas de transmissão e distribuição. Dentro deste novo cenário foram criadas entidades especializadas para atuarem no sistema elétrico, com as funções de regulação, planejamento da 115 expansão do setor elétrico, a operação e comercialização de energia elétrica no período de curto, médio e longo prazo para o país. Cabe a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) a responsabilidade de regular e fiscalizar o setor, ao Operador Nacional Sistema Elétrico (ONS), função de acompanhar a operação dos empreendimentos elétricos e ao Mercado Atacadista de Energia (MAE), o papel de executar a comercialização de energia. A entidade encarregada pelo planejamento da expansão do sistema elétrico ficou a cargo do Comitê Coordenador do Planejamento da Expansão dos Sistemas Elétricos (CCPE), criado pela Portaria MME nº 150, de 10 de maio de 1999, o que concretiza uma proposta conjunta do SEN/MME, ANEEL e ELETROBRÁS para estruturação do CCPE. Ela baseou-se nas recomendações do Grupo de Trabalho do qual participaram representantes das diversas concessionárias e agentes que atuam no setor. As referidas recomendações foram também convalidadas por um Conselho Consultivo , constituído especificamente para orientar o grupo de trabalho, composto de representantes do ONS, MAE e de Associações de classe, órgãos governamentais, concessionários e conselho de consumidores. (ANEEL,2000) GUERRA afirma sobre o novo cenário de estruturação na matriz energética brasileira: No Brasil, a reestruturação do setor elétrico tem como linha central à separação dos serviços de eletricidade, de sua produção, a partir da segmentação do suprimento elétrico em quatro atividades distintas geração, transmissão, distribuição e comercialização vinculadas a estruturas de mercado igualmente distintas. Essa divisão visa possibilitar a concorrência nos segmentos potencialmente competitivos, como o são a geração e a comercialização. Diante dessas alterações no setor elétrico, em que se redesenha a presença do Estado, modificações fundamentais na articulação entre as estruturas institucionais precisam 116 ser empreendidas para adequá-los a essa nova realidade. (2000:37) A exploração dos serviços de energia elétrica compreende as atividades de geração, transmissão, distribuição e comercialização, sujeita às restrições de concentração econômica e de poder de mercado, definidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), contudo assegurado o livre acesso aos agentes econômicos interessados em participar do mercado de energia no país. A ANEEL estabeleceu as regras de participação no Mercado Atacadista de Energia (MAE) nas transações de compra e venda de energia elétrica dentro dos sistemas interligados firmado entre os interessados, cabendo a agência homologar os acordos firmados pelo mercado, além de buscar estabelecer os mecanismos de proteção dos interesses dos consumidores dentro do mercado, pois representam o objetivo principal da geração de energia. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é uma entidade de direito privado e regido por estatuto próprio, aprovado pela Agência Nacional de Energia e não poderá desempenhar qualquer atividade comercial de compra e venda de energia elétrica, mas se responsabiliza pela coordenação e controle da operação e transmissão nos sistemas interligados. A Agência Nacional energia elétrica tem contribuído para alcançar um desenvolvimento sustentável e bem estar da sociedade brasileira, a partir do momento que orienta e solicita dos empreendedores a observância e cumprimento da legislação ambiental e de recursos hídricos, solicitando que os mesmos providenciem o licenciamento de seus empreendimentos junto aos órgãos ambientais responsáveis, de acordo com a característica do projeto. A ANEEL outorga as concessões, permissões e autorizações em caráter condicionado, antes mesmo da licença ambiental, ficando o empreendedor responsável pela sua obtenção. Como o início da obra, ou da 117 operação, depende obrigatoriamente da licença ambiental, nenhuma dessas etapas poderá ser efetivada se a licença não for obtida. O atraso na obtenção da licença poderá implicar em atraso no cronograma do empreendimento aprovado pela ANEEL, podendo o empreendedor ser penalizado, inclusive perder a outorga. Atualmente a ANEEL tem convênio com nove órgãos ambientais estaduais, mais o IBAMA objetivando auxiliar na criação de infraestrutura que viabilize maior celeridade na análise dos projetos do setor elétrico. 5.3 Análise de Custo versus Benefícios dos PIE em Manaus Podemos apontar as seguintes vantagens na adoção de parcerias entre o setor público e o setor privado, na condução de novos empreendimentos energéticos no país: redução dos encargos financeiros entre as partes pela divisão dos investimentos necessários, otimização dos tempos de retorno de investimentos, complementação tecnológica, dispersão de riscos e otimização quanto à utilização de recursos. Apresentam-se duas possibilidades na execução das funções públicas segundo a Constituição Federal: de forma direta do serviço ou por concessão. No primeiro caso, seria vedado estabelecer parceria naquilo que a Constituição considerar poder indelegável do Estado, de relevante interesse público. No segundo caso, a parceria implicaria em cessão extraordinária da função pública julgada papel do Estado, considerando que em uma concessão o poder público tem poder-dever de intervir na atividade prestada pelo concessionário, para adequá-la ao interesse público podendo revogar o contrato a qualquer tempo, encampando a concessão .(JUSTEN FILHO, 1997) Relativamente ao estado do Amazonas, a companhia elétrica detentora da concessão do fornecimento de energia elétrica na cidade de Manaus é a Eletronorte, hoje representada por sua subsidiária Manaus Energia S.A., que 118 promoveu um processo de parceria com a iniciativa privada na cidade de Manaus, em novembro de 1997, para geração de energia na capital do estado. O contrato foi estabelecido na modalidade de exploração de produtor independente de energia elétrica (PIE), com a montagem de seu próprio parque térmico por conta e risco, assim constituído para tal finalidade, assegurado num contrato de cinco anos, prorrogável por um período de dois anos. A participação do produtor independente representa uma forma de reduzir os investimentos da concessionária na construção de novas usinas para suprir a demanda de eletricidade. No caso da geração de energia elétrica, o PIE atuará no âmbito da área de concessionária conforme contrato e poderá fornecer eletricidade para consumidores livres de outras regiões. Ao atribuir a geração de energia em sua área de concessão ao PIE, a Manaus Energia deixou de ser responsável integralmente por toda a cadeia produtiva pertinente ao serviço que lhe fora outorgado, o que, do ponto de vista econômico, poderia ser plenamente justificável, caso o motivo seja a busca de redução de seus custos ao desvencilhar-se de parte de suas atividades periféricas ou principal, como a geração. Nestas circunstâncias, a Eletronorte, hoje representada pela sua subsidiária Manaus Energia constituída em 1998, estaria mantendo suas responsabilidades sociais decorrentes da concessão outorgada, embora atribuindo a outro o dever de realizar parte das atividades que lhe foram atribuídas. Ao PIE foi atribuído caráter de complementariedade à concessão principal, no caso pertencente a Manaus Energia, o produtor recebeu mediante um processo de autorização conduzido pelo Ministério das Minas e Energia em 1997 e ratificado a partir de 1998 pela ANEEL, para operar em Manaus. 119 Pretende-se discutir os aspectos atinentes aos custos e benefícios das funções do PIE na cidade de Manaus. A configuração de um novo cenário na matriz energética nacional com a participação do PIE, representa parte da especialização advinda da heterogeneidade do mercado com a desregulamentação e a privatização do setor elétrico brasileiro. Isto sinaliza para as vantagens nas atividades elétricas através da recorrência aos Produtores Independentes. (JUSTEN FILHO, 1997) O processo de geração de energia elétrica a partir de centrais termelétricas envolve custos altos e a despesa com combustível é o fator responsável por até 50 % dos custos totais de geração. Se considerarmos apenas os custos operacionais, os gastos com o combustível podem superar 80%, dependendo da planta térmica e tecnologia usada. Diante desta realidade fica evidente a importância do controle da eficiência térmica para o gerenciamento dos custos da planta termelétrica. Através de testes periódicos de rendimento global, medições e controle dos parâmetros operacionais e testes nos principais equipamentos, pode-se identificar e quantificar desvios ou perdas na eficiência térmica da planta. Estes desvios, quantificados em termos de custo operacional, quando comparados ao custo de uma intervenção para manutenção das condições originais, fornecerão dados para uma tomada de decisão sobre o momento ideal de uma parada da unidade. O produtor independente instalado na cidade de Manaus, a partir de 1997, junto as unidades térmicas já existentes da concessionária local Manaus Energia, nos bairros de Aparecida e Mauazinho, são constituídos de cinco plantas com capacidade total de geração de 391,5 MW representando aproximadamente hoje 64,3% da potência total do sistema Manaus, estas 120 usinas foram construídas com tecnologias disponíveis pelo produtor dentro de padrão mundial estabelecido pela empresa EL Paso International. Hoje o produtor em Manaus procura alcançar a otimização de seus custos operacionais e maximinização dos seus lucros baseados na operação de seus parques térmicos, com o uso de práticas e rotinas operacionais para alcançar um padrão de eficiência de geração, para isto, constantemente são avaliados os riscos operacionais antes de começar uma atividade nova ou desativar uma unidade em operação, estimular esforços pró-ativos para obtenção de melhorias em tecnologias, além de monitorar e preparar relatórios de desempenho da operação para obter melhorias contínuas de suas unidades termelétricas. Baseado nestes princípios o produtor independente estabeleceu um conjunto de diretrizes para reduzir seus custos operacionais, e alcançar maximinização de suas plantas térmicas, seguindo estes procedimentos: - Prever o rendimento térmico de qualquer unidade geradora térmica; - Determinar as curvas características de CE (2) e rendimento térmico de qualquer usina termelétrica de maneira segura, simples, confiável e a um custo desprezível; - Treinar as equipes de operação, de testes e de manutenção; - Reduzir os custos de geração das usinas termelétricas,com reflexos diretos para as empresas e para a conta de consumo de combustíveis (CCC); - Otimizar a disponibilidade de geração para o atendimento da carga e manter a capacidade de oferta máxima de energia a ser comercializada. Os benefícios a serem obtidos com a implantação da operação econômica são: - Redução de consumo de combustível; 2 CE Custo Energético 121 - Operação das unidades com alto rendimento térmico; - Menor desgaste das unidades; - Menor temperatura das unidades; - Melhor conservação das unidades; - Alongamento da vida útil de equipamentos e usinas; - Redução dos custos de manutenção; - Redução dos custos com combustível; Quando se estabelece uma rotina para identificação de pontos de perda de eficiência e a sistematização de medição e monitoramento do processo, é possível realizar o gerenciamento da planta com custo otimizado e com economia de milhões de reais ao ano em sua operação. A forte demanda energética na cidade de Manaus, causada por uma industrialização acelerada na década de 70 e 80, a crise do petróleo na década de 70 e a explosão populacional na cidade, motivado pela busca de emprego na indústria e no comércio recém criados. Estes fatores foram decisivos para assegurar uma mudança na matriz energética local, até então de base termelétrica, indo agora em busca da utilização dos recursos hídricos existente na região amazônica, o que levou o governo a optar pela construção de uma usina hidrelétrica no rio Uatumã, a usina de hidrelétrica de Balbina, baseado em um modelo nacional de aproveitamento hidráulico para gerar energia, com o caráter de complementar a produção de eletricidade gerada anteriormente exclusivamente por usinas térmicas localizada na cidade de Manaus de forma deficitária. Com a consolidação do modelo de desenvolvimento idealizado para o estado do Amazonas baseado numa Zona Franca, que busca o crescimento econômico abalizado em um pólo industrial e comercial, a partir daí sirva de influência para o desenvolvimento econômico dos demais estados da Amazônia ocidental. 122 Observa-se que nas últimas décadas do século XX, este desenvolvimento trouxe para a região Norte, um crescimento de 123 vezes maior o consumo de energia no período de 1960 a 1996, ainda que a difusão do meio técnico-científico-informacional serem pontual, localizados nas principais cidades da Amazônia.(SANTOS, 2001) A Manaus Energia definiu dentro do seu planejamento empresarial, referenciado pelo fim do atual contrato com produtor independente de energia elétrica e aumento no consumo energia com os crescimentos populacionais, industriais e comerciais de Manaus, está prevendo para o mês de agosto de 2002, o início no processo de licitação para contratação de um novo produtor independente para a construção de um novo parque térmico com capacidade de geração de 800 MW, equivalente a atual capacidade de geração da empresa hoje. A previsão para entrada em operação da usina do produtor independente é a partir de dezembro de 2003. Esta planta térmica deverá utilizar um sistema de combustível dual-fuel, ou seja, poderá utilizar duas fontes de combustível para abastecer a usina, prioridade para o gás natural que reduzirá o custo de geração e danos ambientais, e a opção de uso do óleo diesel dependendo da disponibilidade de cada produto. Mas a prioridade é a utilização do gás natural devido seu menor preço como combustível e reduzido impacto ao meio ambiente, além do efetivo aproveitamento comercial dos poços existentes na região Amazônica. Considerar que este novo empreendimento baseado na construção de uma usina termelétrica na modalidade de produtor independente de energia, com capacidade de geração de 800 MW representará um investimento de grande porte, haja visto, que desde a criação da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) em 1998, apenas nove autorizações foram concedidas para produtor independente com capacidade de geração superior a 750 MW. (ANEEL,2002) 123 Com a construção do novo parque, a Manaus Energia deverá desativar algumas usinas, mas não perderá em capacidade de geração de energia elétrica. A prioridade é a desativação dos geradores da usina térmica do Mauazinho construídas na década de 70 e com tempo de vida útil esgotado, o que necessita de contínua manutenção e custo operacional alto. Devem ficar em operação pelo projeto da nova matriz elétrica as usinas de Aparecida e a hidrelétrica de Balbina que juntas ao novo sistema térmico a ser construído, deverá gerar em torno de 1.120 MW de energia, suficiente para suprir o consumo de Manaus e a interligação com os municípios de Manacapuru, Iranduba, Novo Airão e Itacoatiara. Esta nova usina térmica do produtor independente deverá ser construída no trecho entre o município de Manaus e Presidente Figueiredo, área de abrangência da concessionária Manaus Energia que compreende os respectivos municípios citados, mas o município do Rio Preto da Eva. A partir do segundo semestre de 2002, a área de ação da Manaus Energia será ampliada com a interligação dos sistemas elétricos dos municípios de Manacapuru, Novo Airão e Iranduba. Isto representará no primeiro momento a substituição da Companhia Energética do Amazonas (CEAM) concessionária local responsável pela geração de energia elétrica desses municípios para o sistema elétrico da empresa Manaus Energia. Dois fatos na interligação dos sistemas elétricos dos municípios ao sistema de Manaus: primeiro, a interligação através de cabos subaquáticos lançados da subestação da Empresa Águas do Amazonas, localizada na Ponta do Ismael no bairro da Compensa, com potência de 26,6 KVA de transformação atravessando o Rio Negro em uma extensão de 4.200m. Para complementar as interligações serão construídas três novas subestações com as seguintes capacidades de transformação em Manacapuru uma subestação com capacidade de transformação de 26,6 KVA, Iranduba uma subestação de 13,3KVA e Novo Airão uma subestação de 2,5KVA, maior será construída em Manacapuru devido apresentar o maior mercado consumidor. O segundo 124 destaque refere-se ao universo de consumidores beneficiados nesses municípios. Manacapuru possui uma população de 73.695 habitantes, Iranduba 32.303 habitantes e Novo Airão 9.651habitantes, totalizando uma população de 115.649 habitantes.(IBGE,2000) A capacidade de geração de energia elétrica, ano de referência de 2001, do município de Manacapuru foi de 16.020 Kw, Iranduba de 11.000 Kw , Novo Airão de 1.778 Kw totalizando 28.798 Kw, o que representará um aumento na demanda de energia elétrica na ordem 3.15% sobre o parque gerador de Manaus. (CEAM,Balanço de 2001) Na segunda fase da interligação ao sistema elétrico de Manaus, a cidade de Itacoatiara com um consumo de 11.840 Kw e a localidade de Novo Remanso com consumo de 832 Kw, a demanda destas duas áreas representaram um aumento de 1,41% sobre a produção de energia sobre o parque térmico da cidade de Manaus. Ampliando a área de ação da empresa e ao mesmo tempo contribuindo com CEAM para minimizar os graves problemas de energia do interior do estado, todo formado por sistemas isolados. Esta interligação representará um fornecimento contínuo de energia elétrica para estes municípios fortalecendo sua infra-estrutura básica, com reflexos positivos para suas economias baseadas principalmente no comércio e na indústria local, além de contribuir para elevar o padrão de vida e bemestar social da população. 125 5.4 Desenvolvimento sustentável de Manaus: energia elétrica como base Na Amazônia, a maioria das cidades surgiu às margens dos rios e deles utilizam como meio de transporte de pessoas e mercadorias, como fonte de alimento e atualmente para a produção de energia de base hidráulica. Hoje, o espaço que se produz no interior da Amazônia, influenciado pela expansão do capital, ocorre num contexto mais abrangente de produção em que homens enquanto atores sociais produzem sua história, sua consciência e sua relação com o mundo natural. Nada existe na história e na sociedade que não seja produzido, mesmo a natureza tal como se apresenta intocável ou modificada, fazendo parte de um espaço social que é produto de vários aspectos e de movimentos significantes e não significantes, percebidos e vividos, ligados à prática social.(LEFEBVRE, 1972) A cidade de Manaus tomada como exemplo de cidade da região Amazônica vivencia o processo de produção de seu espaço a partir da ação de vários agentes, tais como os pequenos agricultores, os pescadores, as populações ribeirinhas, os assalariados, trabalhadores sem-terra, os posseiros, as populações indígenas e urbanas relacionadas entre si e com a natureza em sua volta, produzindo novos espaços. E completa-se com a ação do Estado num complexo e extenso sistema burocrático, criado e reformulado nos últimos 50 anos para possibilitar a produção da Amazônia como fronteira e inserir na lógica do mercado capitalista. (OLIVEIRA,2000) Ao longo das três últimas décadas após realização das duas conferências mundiais sobre meio ambiente até os dias atuais, consolidou-se a consciência de que não é possível, do ponto de vista ambiental, a generalização em escala mundial dos padrões tecnológicos de produção e consumo vigentes nas economias industriais modernas. Hoje, a questão ambiental tornou-se ponto obrigatório de discussão em qualquer agenda de política pública e investimento da iniciativa privada. Principalmente após a 126 pressão crescente da opinião pública, tanto internacional quanto nacional, a favor do estabelecimento de medidas de proteção ambiental, para tanto, avalia o fato de que os impactos ambientais gerados no atual modelo de desenvolvimento econômico não só afetam somente as condições de vida da população de determinado lugar ou região, mas já atingem proporções mundiais, afetando outras populações e regiões. Entretanto, já existe um consenso sobre a existência do problema e a necessidade de intervir para solucioná-lo e criar medidas preventivas para evitar graves danos ao meio ambiente. A degradação ambiental deve ser entendida como o resultado de um conjunto de ações e processos sobre o ambiente que se não for respeitado essa sua capacidade de suporte e sua aptidão, acarretará o comprometimento dos recursos naturais e, conseqüentemente, a qualidade de vida e a própria existência do ser humano. (TUNDISI, 1991) Hoje é de fundamental importância determinar o estilo de desenvolvimento de cada lugar, pois é necessário definir os recursos humanos, a tecnologia e os tipos de materiais a serem utilizados, que interagidos com o meio ambiente possam produzir estruturas e bem estar à população. Poder definir desenvolvimento basicamente como um processo de mudança estrutural, global e contínua de liberação individual e social, que tem como objetivo as necessidades humanas, iniciando pelas básicas até alcançar a qualidade de vida das gerações presentes e futuras.(MATEO,1995) GOMES (1995) define desenvolvimento como sendo um processo pelo qual um organismo, uma pessoa humana ou um sistema social, materializa suas capacidades potenciais, atingindo níveis superiores e mais desejáveis de realizações e organizações. Faz-se necessário diferenciar desenvolvimento de desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento sustentável é um processo no qual as bases 127 teóricas do desenvolvimento são ampliadas rompendo com os conceitos citados anteriormente e enquadrados nas definições citadas a seguir. Alguns autores e instituições definiram desenvolvimento sustentável como sendo: Um desenvolvimento que satisfaça as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazer as atuais (BRUNDTLAND,1988) Um processo de mudança contínua, na qual a utilização dos recursos, a orientação das invenções e a própria evolução tecnológica, definiram os rumos do desenvolvimento ecológico, além da mudança das instituições, para estarem de acordo com o potencial e as necessidades das gerações atuais e futuras da sociedade. (BECKER, 1995; JIMENEZ,1995) Um conjunto de estratégias dirigidas a melhorar a qualidade de vida humana dentro dos limites da capacidade de carga dos sistemas ambientais (CHRISTOFOLETTI, 1995) Aquele que utiliza os recursos naturais abaixo de sua capacidade de renovação, distribuindo atividades no território de acordo com sua capacidade de obtenção e praticam tais atividades, de tal maneira, que a emissão de contaminantes seja inferior a capacidade de assimilação. (GOMES, 1995) Entendemos como desenvolvimento sustentável a gestão e administração dos recursos e serviços ambientais e a orientação das mudanças tecnológicas e institucionais, no sentido de assegurar e alcançar a contínua satisfação das necessidades humanas para as gerações presentes e futuras, dentro dos limites da capacidade de sustentação dos sistemas ambientais. 128 O conceito de desenvolvimento sustentável foi decisivo para os debates da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992 e é base da Agenda 21 que se tornou um amplo programa de ações de curto, médio e longo prazo, aprovados pela Conferência no sentido de garantir a sustentabilidade ambiental dos novos investimentos produtivos e recuperar áreas já degradadas pelo uso predatório dos recursos naturais. Um aspecto fundamental na teoria do desenvolvimento sustentável é a definição do conceito de sustentabilidade. Neste sentido, pode-se conceber a sustentabilidade ambiental como uma noção de gênero que deve abranger outras categorias, tais como, sustentabilidade geoecológica, econômica e social. Assim sustentabilidade ambiental é um atributo de uma entidade espaço-temporal em que se incorpora a relação sociedade-natureza. Isto implica na coexistência harmônica do homem com seu meio ambiente, mediante o equilíbrio de sistemas transformados e criados através da eliminação de detritos. Pressupõe-se a incorporação de conceitos temporais, tecnológicos e financeiros, refletindo um processo dinâmico e aleatório de transição de fluxos de Energia, Matéria e Informação (EMI) entre todos os componentes espaciais. (MATEO,1995) A dimensão ambiental complementa o conceito de sustentabilidade, que corresponde de forma integrada ao manejo dos recursos, através da sua utilização em função da atividade, procurando limitar, conservar e potenciar a base ambiental do patrimônio facilmente esgotável. Procurando respeitar a complexidade funcional, os mecanismos de autoregulação e estrutural para manter a integridade, os ciclos e ritmos da natureza, minimizando os danos e impactos ambientais.(MATEO,1995). A concretização da operacionalização de um modelo de desenvolvimento sustentável aconteceria através da relação espaço/tempo de uma sociedade, onde buscaria um equilíbrio entre o crescimento econômico, a 129 eqüidade social e a sustentabilidade ambiental. Nos últimos anos, começou a ganhar corpo à consciência dirigida para a interação com o meio ambiente e a valorização dos recursos naturais renováveis e as opções que promovam o desenvolvimento econômico sustentável, perdendo importância o mero crescimento da economia. A energia é um bem público essencial para o desenvolvimento, e sua falta em qualquer comunidade torna-se fator de inibição ao desenvolvimento sócio-econômico. No processo de desenvolvimento, entendido em seu sentido mais amplo, a energia assume papel fundamental, em vista de atuar como indutor. O atendimento às necessidades energéticas adquire, portanto, caráter prioritário frente a quaisquer outras ações promotoras do desenvolvimento. Além disso, os sistemas energéticos cumprem uma função clara e precisa na sociedade: o provimento de energia útil ao desenvolvimento das atividades humanas. Neste sentido, tais sistemas existem de forma articulada com o modelo de desenvolvimento, exigindo criteriosos estudos de planejamento energético para que essa articulação possa funcionar de forma ordenada. (GUERRA,2000) Na Amazônia, os estudos voltados aos sistemas energéticos devem buscar formas que harmonizem as características peculiares da região com o desenvolvimento sócio-econômico e o aproveitamento racional dos recursos, preservando o meio ambiente e contribuindo para a criação de um processo continuado de desenvolvimento. A Zona Franca de Manaus figura 5.2 se diferençou das demais zonas francas ou áreas de livre comércio existentes no mundo, visto que, além de comercializar produtos estrangeiros, criou condições para a instalação de indústrias indispensáveis à absorção, em larga escala, da mão-de-obra abundante na região e imigrantes. 130 O modelo Zona Franca se desenvolveu e foi estabelecida uma área para instalação do seu parque industrial na cidade de Manaus, contando com incentivos fiscais especiais, com objetivo de atrair os investidores estrangeiros para a região da Amazônia ocidental, em face das vantagens advindas dos incentivos quando comparada com outras regiões do país, além de que a região amazônica possui a maior bacia hidrográfica do planeta, com a imensa possibilidade de gerar energia a partir de usinas hidrelétricas. FIGURA 5.2 Pólo Industrial de Manaus - PIM Fonte: Suframa/junho/2002 O Pólo Industrial de Manaus trouxe, especificamente, um grande crescimento econômico, o que provocou um grande crescimento populacional atraídos de outras regiões e do interior pela facilidade de emprego. Além do que, nos últimos trinta anos houve uma melhoria das condições econômicas locais. Contudo para manter estáveis os níveis econômicos e de competitividade das fábricas do distrito industrial na década de 90, com abertura do mercado brasileiro ocorreu o processo de automação das empresas, que agravou a situação de pobreza e miséria na cidade, interferindo diretamente na qualidade de vida da população, na expansão da 131 favelização e no desaparecimento de grande quantidade de área verde de Manaus. Mas tal modelo de crescimento deixou um passivo ambiental muito grande representado pelo crescimento populacional desordenado da cidade com a multiplicação do contingente populacional. A população de 300 mil habitantes, na década de 70, ultrapassou a faixa de um milhão e quinhentos mil pessoas, em trinta anos depois, representando um crescimento médio de 8% ao ano da cidade da cidade de Manaus. Houve um relaxamento no cumprimento do Plano Diretor Local Integrado para Manaus (PDLI) instituído pela Lei municipal nº 1.213/75 e a própria atualização da Lei. Como conseqüência da ausência de um planejamento urbano da cidade que acabou por determinar a ocorrência de vários problemas ambientais em Manaus, tais como: falta de saneamento básico fundamental para manter as condições ambientais dos igarapés e saúde da população, o crescimento da cidade ocorre em cima da floresta primária afetando todo o ecossistema em volta de Manaus, as invasões que acontecem com muita freqüência na cidade são em áreas verdes, as queimadas urbanas ao contrário do que se imagina, nem sempre são queimadas de floresta, mas em sua maioria simplesmente a queima de folhas, de resíduos sólidos e de lixo no quintal das casas, a poluição sonora e a poluição do ar. Preocupam-nos quais os mecanismos ideais para solucionar estes problemas. Acredita-se que a discussão ampla do novo Plano Diretor e de um Código Ambiental municipal pode ser o início para a solução destes problemas.(CAMARA MUNICIPAL DE MANAUS, 2000) Do ponto de vista regional merece destaque a característica espacial relativamente ao conceito de complexo produtivo, considerando que as interações entre as atividades das cadeias produtivas produzem efeitos multiplicadores de renda e de emprego, os quais, por sua vez, refletem-se sobre a área geográfica de suporte do sistema produtivo. 132 O Pólo Industrial de Manaus é um importante parque fabril da América Latina, o qual abriga mais de 400 empresas com elevados índices de inovação tecnológica, competitividade e produtividade. Apresenta um faturamento médio anual superior a US$ 10 bilhões e suas exportações chegaram a US$ 851,2 milhões, em 2001. O Pólo Industrial de Manaus já gerou mais de 50 mil empregos diretos e 350 mil indiretos, somente na cidade de Manaus e outros 20 mil nos demais estados da região Amazônia. (SUFRAMA, 2001) O governo brasileiro reconhece a importância do Pólo Industrial de Manaus (PIM) na economia nacional. E, na definição de políticas públicas para o desenvolvimento industrial, estabeleceu diretrizes para inseri-lo no processo de globalização da economia, fortalecendo a sua base tecnológica, assegurando o aumento da competitividade de suas indústrias, viabilizando o pólo como um destacado centro exportador do país, além de estimular a interiorização do desenvolvimento em toda a Amazônia Ocidental. No Pólo Industrial de Manaus (PIM), predomina o setor eletroeletrônico responsável por 55% do faturamento industrial. As empresas são de bens de consumo (áudio, vídeo e fornos microondas), indústrias de informática (telefone celular, computadores e seus periféricos), equipamentos profissionais (fotocopiadoras, aparelhos telefônicos e de fac-símile e outros aparelhos de telecomunicações) e componentes eletrônicos. Igualmente modernos e competitivos são os segmentos de duas rodas, relojoeiro, ótico (lentes e armações oftálmicas), químico, de aparelhos e produtos descartáveis, brinquedos, termoplástico e metalúrgico, o que significa que o Parque Industrial de Manaus tem contribuído para o aperfeiçoamento tecnológico do país. (SUFRAMA, 2002) As indústrias do PIM com o processo de globalização e abertura do mercado brasileiro procuram adotar modernos métodos de gestão, investindo em produtividade e competitividade no seu parque industrial para competir no mercado nacional e internacional. O produto industrializado em Manaus 133 apresenta alta densidade tecnológica, elevado valor unitário e absorvem com rapidez mudanças na tecnologia de produção, características importantes para assegurar sua especialização, o aumento da escala de produção e a elevação dos níveis de produtividade e competitividade do parque industrial. Hoje, grande parte das empresas está certificada com as Normas das séries ISO 9000 (sistemas de produção) e 14000 (meio ambiente) e BSI OHSAS 18000 (recursos humanos). Assim, passaram a ser valorizado o estudo voltado à produção e utilização de energia, tendo em vista a dependência dos recursos naturais, e seu caráter intensamente interativo com todos os setores socialmente importantes. A Zona Franca de Manaus mudou não apenas a condição de vida no Amazonas, mas de toda Amazônia Ocidental. Assim sendo, as suas dificuldades devem ser superadas com os esforços das administrações Federal, Estadual e Municipal, e com a participação ativa de todos os parlamentares da Amazônia no Congresso Nacional em busca de um desenvolvimento sustentável para a região. A superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) órgão gestor da Zona Franca de Manaus tem procurado dentro do seu planejamento estratégico, prioriza a identificação de investimentos, a atração de investimentos e parcerias, objetivando a auto-sustentabilidade, a geração de emprego e renda em busca de um desenvolvimento sustentável para a cidade. Um dos fatores fundamentais para a concretização dessas metas é a questão energética, uma vez que as maiorias das localidades do interior da Região Amazônica não dispõem de energia elétrica. Além disso, a produção de energia renovável a partir do aproveitamento racional dos recursos naturais da região pode se transformar em um negócio promissor, considerando-se a abundância de recurso hídrico, solar e biomassa existente na Amazônia. 134 O equilíbrio entre a oferta e a demanda de energia elétrica é fundamental para a prática da livre concorrência e qualidade de serviço. Resultando na competitividade das fábricas instaladas na Zona Franca de Manaus, o que gerou um Produto Interno Bruto (PIB) para o Estado do Amazonas na ordem de 1,60 do PIB do Brasil. (SUFRAMA.2001) Quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) Manaus atingiu o índice de 0,815, superior a média nacional que é de 0,750. O Brasil apresenta índice de 0,8 e o Amazonas de 0,7. No entanto, a cidade de Manaus alcançou índice de 0,815 dentro dos indicadores estabelecidos para determinar o IDH, quando avaliados os níveis de renda, as taxas de educação e a expectativa de vida da população local.(CÂMARA MUNICIPAL DE MANAUS,2001) Estes índices foram alcançados com a participação do Pólo Industrial de Manaus, que possui um papel importante no crescimento econômico da cidade, gerando renda e emprego, contudo produziu um passivo ambiental extremamente significativo para o município de Manaus tais como: aumento populacional, saturação do espaço urbano, poluição sonora, poluição do ar, resíduo sólido e degradação dos recursos hídricos. Em particular, destaca-se a qualidade do ar e sua relação com o parque industrial de Manaus, devido ser um pólo industrial com características peculiares, basicamente de montagem eletrônica não produz gazes prejudiciais a atmosfera. A poluição do ar na cidade de Manaus apresenta como principal fonte poluidora os veículos ciclomotores, destacando os movidos a óleo diesel, tais como, ônibus e caminhões que circulam pela cidade e os movidos à gasolina. Também como fonte irradiadora, destaca-se a usina termelétrica distribuída em duas áreas do núcleo urbana de Manaus. O Pólo Industrial de Manaus gera uma quantidade reduzida de poluentes atmosféricos, quando comparado com a indústria de base localizada, principalmente, em São Paulo e Rio de Janeiro. Mas a expansão de usinas térmicas na cidade acarreta uma ameaça contínua aos níveis de poluição atmosférica da cidade de Manaus. 135 Os maiores danos ambientais na cidade de Manaus são os igarapés na área urbana poluídos, servindo como rede de esgoto, a ocupação antrópica das margens desses igarapés, a falta de uma política pública de proteção das áreas verde, o crescimento desordenado de Manaus possuindo como área de expansão as zonas leste e norte da cidade e o crescimento populacional. 136 6. CONCLUSÃO O marco desta pesquisa é o ano de 1997 na cidade de Manaus a qual vivência um período de racionamento de eletricidade, provocado pela conjunção de vários fatores que culminaram em restrição e privação à sociedade local. Entre os principais motivos destacam-se a falta de uma política e um planejamento energético por parte do governo voltado a suprir o crescimento da demanda de energia elétrica na cidade, além da ação momentânea de um fenômeno climatológico chamado El Niño, que provocou um período de estiagem sobre a região amazônica. Contudo, para solucionar este problema o governo tomou uma medida emergencial contratando dois produtores independentes de energia elétrica, baseado na Lei nº 9.074 de 7 de julho de 1995, que instituiu este novo agente na matriz energética nacional. O produtor independente de energia elétrica em Manaus é o principal objeto de estudo da pesquisa realizada e relacionar suas responsabilidades econômicas, sociais e ambientais na cidade de Manaus. Nesta pesquisa foi realizada uma caracterização espacial e temporal da formação da cidade de Manaus, destacando sua organização política e administrativa, a constituição da sociedade local e seus ciclos econômicos, em especial o da borracha, e simultaneamente o avanço na geração de eletricidade, com uso de óleos de origem vegetal e animal, a exemplo da manteiga de tartaruga para iluminação pública utilizada durante décadas na região, posteriormente o uso de lampiões a gás e a própria produção de energia elétrica no final do século XIX, tornando uma das primeiras cidades a possuir usinas térmicas instaladas no Brasil, o que resultou no melhoramento da infra-estrutura de Manaus. Após a crise internacional no preço da borracha em 1914 e a concorrência da produção asiática, as principais cidades da Amazônia entram 137 em decadência, inclusive Manaus, o que provocou o sucateamento das usinas térmicas montadas e a decadência econômica na cidade. Esta situação de falência econômica teve um reflexo social com o aumento da pobreza na população e o isolamento econômico do estado, que perdurará até o final da década de sessenta, quando novas medidas governamentais são implementadas para romper a decadência econômica do estado. A Zona Franca de Manaus é um exemplo dessa ação do governo, assim como, os projetos minerais e os assentamentos populacionais baseados em agrovilas para Amazônia. A implantação da Zona Franca concretiza a desenvolvimento política de regional desenvolvimento como zona baseado irradiadora de em pólo crescimento. de A consolidação do projeto Zona Franca produziu melhorias quanto a geração de eletricidade com a ampliação da usina de Aparecida, a construção de uma nova usina localizada próximo ao distrito industrial, a usina térmica do Mauazinho, a chegada de uma usina térmica flutuante, a Electron e própria construção da hidrelétrica de Balbina. Do lado da oferta de energia elétrica constatou-se que em Manaus existem descompassos entre disponibilidade e os requisitos de energia elétrica, sobretudo em função da expansão da demanda a médio e longo prazo da cidade, sendo necessário iniciar uma ampliação na capacidade de produção de eletricidade para suprir esta futura demanda. Em seqüência, avaliou-se a atual mudança no setor elétrico brasileiro, em que se redesenha o papel do Estado, a reorganização do setor pela desverticalização das atividades de geração, transmissão e distribuição e a introdução da competitividade na geração e na comercialização de eletricidade. Estes processos se fortaleceram com o início da privatização no setor elétrico e a própria constituição do produtor independente de energia elétrica, o qual não apresenta restrição financeira e isto faz com que invista por conta e risco na produção e comercialização de energia elétrica no país. 138 Atualmente o fornecimento de energia elétrica aos sistemas isolados da Amazônia tem apresentado custos elevados e atende consumidores de baixo poder aquisitivo, o que transforma o acesso a energia elétrica uma questão social, havendo a necessidade de criar medidas ou mecanismos compensatório, tais como, o subsídio proporcionado pela CCC, que reduz o preso da energia gerada na região para abastecer as populações que habitam o interior da Amazônia. A pesquisa enfatiza a necessidade de elaborar um modelo energético capaz de satisfazer as necessidades de energia da sociedade do futuro garantindo uma oferta de energia coerente com as necessidades do desenvolvimento, com mínimo custo econômico, respeitadas as restrições sociais, ambientais e estratégicas. È necessário que este modelo satisfaça as necessidades futuras, mas que também deva primeiro atender a necessidade presente da sociedade, através de um desenvolvimento sustentável e a partir daí as necessidades futuras serão alcançadas. 139 7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA ANEEL. www.aneel.gov.br./ autorizações/aplicações/acompanhamento.29.04.2002. Agenda 21 Brasileira Resultado da Consulta Nacional / por Mª do Carmo de Lima Bezerra, Márcia Maria Facchina e Otto Ribas. Brasília MMA/PNVD 2002. ALMANAQUE Abril 2002. São Paulo: Abril de 2002. BECKER, Bertha K. Amazônia. São Paulo. Editora Ática, 6ª edição. 1990. _______, Bertha K; A. 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