Poesias de Poetas Famosos

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Poesias de Poetas Famosos
Insane Delirium Home Page
Poesias de
Poetas Famosos
Coletânea de poesias
feita pelo Poeta Insane Delirium
Volume I
© 2015 – http://insanedeliriumhp.wordpress.com/
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Poesias
de
Poetas Famosos
(Coletânea)
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Sobre o site e o livro
A Insane Delirium Home Page tem como objetivo preservar e divulgar a cultura gótica
e romântica.
Este livro tem como intuito compilar as melhores poesias de autores famosos
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(1a edição)
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Poesias de Poetas Famosos
(Coletânea)
Volume I
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Sumário
O Corvo (Edgar Allan Poe) ….............................................................. Pág. 07
Só (Edgar Allan Poe) ……..................................................................... Pág. 16
Se eu morresse amanhã (Álvares de Azevedo) …............…….............. Pág. 19
Lembrança de morrer (Álvares de Azevedo) ….................................. Pág. 21
Ideias íntimas (Álvares de Azevedo) …............................................... Pág. 25
O lenço dela (Álvares de Azevedo) ….................................................. Pág. 28
Eterna Mágoa (Augusto dos Anjos) ................................................... Pág. 30
Mágoas (Augusto dos Anjos) …........................................................... Pág. 32
Versos íntimos (Augusto dos Anjos) …................................................ Pág. 34
A esmola de Dulce (Augusto dos Anjos) ….......................................... Pág. 36
Psicologia de um vencido (Augusto dos Anjos) …............................... Pág. 37
Minha alma é triste (Casimiro de Abreu) …........................................ Pág. 39
Amor e Medo (Casimiro de Abreu) ….................................................. Pág. 46
Segredos (Casimiro de Abreu) ….......................................................... Pág. 51
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Edgar Allan Poe
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O Corvo
Por Edgar Allan Poe (tradução de Machado de Assis)
“Em certo dia, à hora, à hora da meia noite que apavora
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
‘É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais’
Ah, bem me lembro! bem me lembro!
Era no Glacial dezembro
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
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Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus chamam Lenora
E que ninguém chamará mais”
Logo, ele conclui que deva ser alguma “…visita amiga e
retardada… há de ser isso e nada mais”.
“Minh’alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: ‘imploro de vós, – ou senhor ou senhora,
Me desculpeis tanta demora
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e mansa
Batestes, não fui logo, prestemente,
Certificar-me que aí estais’
Disse; a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite e nada mais.”
Nosso triste homem suspira ao ver a escuridão:
“…Só tu, palavra única edileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso da minha trite boca sais;
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E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isto apenas, nada mais”
Na sexta estrofe, o homem tenta acalmar o coração:
“…Devolvamos a paz ao coração medroso,
Obra do vento e nada mais”
A sétima estrofe marca o encontro:
“Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou uma lady. E pronto e reto,
Movendo no ar suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais”
A oitava, junto com a nona, a décima e a décima primeira são
minhas preferidas… Aí estão:
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“Diante da ave feia e escura, naquela rígida postura,
Com o gesto severo, – o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: ‘Ó tu das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhorais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?’
E o corvo disse:’Nunca mais’.
Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera,
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome:’Nunca mais’
No entanto, o corvo solitário
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Não teve outro vocabulário
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: ‘Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora’
E o corvo disse: ‘Nunca mais’
Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! É tão cabida!
‘Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convicência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz , tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: ‘Nunca mais'”
O homem pensa na ave, e no significado de suas palavras:
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“…Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: ‘nunca mais'”
O pobre infeliz lembra de sua Lenora ao olhar em volta… a
loucura parece atingi-lo suavemente pelos braços da saudade:
“Assim posto, devaneando,
Meditando, conjeturando,
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava.
Conjeturando fui, tranqüilo a gosto,
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.”
“Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
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E eu exclamei então: ‘Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora’.
E o corvo disse: ‘Nunca mais’.
‘Profeta ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: existe um bálsamo no mundo?’
E o corvo disse: ‘Nunca mais’.
‘Profeta ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
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Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais,
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!’
E o corvo disse: ‘Nunca mais’.
‘Profeta ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fique no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua.
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua.’
E o corvo disse: ‘Nunca mais’
E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
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No chão espraia a triste sombra; e, fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!”
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Só
Por Edgar Allan Poe
Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como os outros viam.
Minhas paixões não tirava de fonte igual à deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto que acordava
meu coração para a alegria.
Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, na alba
da tormentosa vida, ergueu-se no bem, no mal,
de cada abismo, o meu mistério.
Veio dos rios, das fontes,
de rubra escarpa da montanha,
do sol que me envolvia
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
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e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se alterava,
só, no amplo azul do céu puríssimo,
ante meus olhos, como um demônio.
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Álvares de Azevedo
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Se eu morresse amanhã
Por Álvares de Azevedo
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que dove n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito,
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã…
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
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Lembrança de morrer
Por Álvares de Azevedo
Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento;
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
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Como o deserto de minh’alma errante,
Onde o fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade – é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas…
De ti, ó minha mãe, pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!
De meu pai… de meus únicos amigos,
Poucos – bem poucos – e que não zombavam
Quando, em noite de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda
É pela virgem que sonhei… que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
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Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores…
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo…
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
— Foi poeta – sonhou – e amou na vida —
Sombras do vale, noites da montanha
Que minh’alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!
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Mas quando preludia ave d’aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosques, abri os ramos…
Deixai a lua prantear-me a lousa!
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Ideias intimas
Por Álvares de Azevedo
(fragmentos)
IX
Oh! Ter vinte anos sem gozar de leve
A ventura de uma alma de donzela!
E sem na vida ter sentido nunca
Na suave atração de um róseo corpo
Meus olhos turvos se fechar de gozo!
Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas
Passam tantas visões sobre meu peito!
Palor de febre meu semblante cobre,
Bate meu coração com tanto fogo!
Um doce nome os lábios me suspiram,
Um nome de mulher… e vejo lânguida
No véu suave de amorosas sombras
Seminua, abatida, a mão no seio,
Perfumada visão romper a nuvem,
Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras
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O alento fresco e leve como a vida
Passar delicioso… Que delírios!
Acordo palpitante… inda a procuro;
Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas
Banham meus olhos, e suspiro e gemo…
Imploro uma ilusão… tudo é silêncio!
Só o leito deserto, a sala muda!
Amorosa visão, mulher dos sonhos,
Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto!
Nunca virás iluminar meu peito
Com um raio de luz desses teus olhos?
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O lenço dela
Por Álvares de Azevedo
Quando, a primeira vez, da minha terra
Deixei as noites de amoroso encanto,
A minha doce amante suspirando
Volveu-me os olhos úmidos de pranto.
Um romance cantou de despedida,
Mas a saudade amortecia o canto!
Lágrimas enxugou nos olhos belos…
E deu-me o lenço que molhava o pranto.
Quantos anos, contudo, já passaram!
Não olvido porém amor tão santo!
Guardo ainda num cofre perfumado
O lenço dela que molhava o pranto…
Nunca mais a encontrei na minha vida,
Eu contudo, meu Deus, amava-a tanto!
Oh! quando eu morra estendam no meu rosto
O lenço que eu banhei também de pranto.
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Augusto dos Anjos
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Eterna Mágoa
Por Augusto dos Anjos
O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do Mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!
Não crê em nada, pois, nada há que traga
Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.
Quer resistir, e quanto mais resiste
Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.
Sabe que sofre, mas o que não sabe
É que essa mágoa infinda assim, não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda
Transpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda!
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Mágoas
Por Augusto dos Anjos
Quando nasci, num mês de tantas flores,
Todas murcharam, tristes, langorosas,
Tristes fanaram redolentes rosas,
Morreram todas, todas sem olores.
Mais tarde da existência nos verdores
Da infância nunca tive as venturosas
Alegrias que passam bonançosas,
Oh! minha infância nunca tive flores!
Volvendo à quadra azul da mocidade,
Minh’alma levo aflita à Eternidade,
Quando a morte matar meus dissabores.
Cansado de chorar pelas estradas,
Exausto de pisar mágoas pisadas,
Hoje eu carrego a cruz de minhas dores!
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Versos íntimos
Por Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
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A esmola de Dulce
Por Augusto dos Anjos
E todo o dia eu vou como um perdido
De dor, por entre a dolorosa estrada,
Pedir a Dulce, a minha bem amada
A esmola dum carinho apetecido.
E ela fita-me, olhar enlanguescido,
E eu balbucio trêmula balada:
– Senhora dai-me u’a esmola – e estertorada
A minha voz soluça num gemido.
Morre-me a voz, e eu gemo o último harpejo,
Estendendo à Dulce a mão, a fé perdida,
E dos lábios de Dulce cai um beijo.
Depois, como este beijo me consola!
Bendita seja a Dulce! A minha vida
Estava unicamente nessa esmola.
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Psicologia de um vencido
Por Augusto dos Anjos
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
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Casimiro de Abreu
Página 38
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Minha alma é triste
Por Casimiro de Abreu
Minh’alma é triste como a rola aflita
Que o bosque acorda desde o alvor da aurora,
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.
E, como a rôla que perdeu o esposo,
Minh’alma chora as ilusões perdidas,
E no seu livro de fanado gozo
Relê as folhas que já foram lidas.
E como notas de chorosa endeixa
Seu pobre canto com a dor desmaia,
E seus gemidos são iguais à queixa
Que a vaga solta quando beija a praia.
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Como a criança que banhada em prantos
Procura o brinco que levou-lhe o rio,
Minha’alma quer ressuscitar nos cantos
Um só dos lírios que murchou o estio.
Dizem que há, gozos nas mundanas galas,
Mas eu não sei em que o prazer consiste.
— Ou só no campo, ou no rumor das salas,
Não sei porque — mas a minh’alma é triste!
II
Minh’alma é triste como a voz do sino
Carpindo o morto sobre a laje fria;
E doce e grave qual no templo um hino,
Ou como a prece ao desmaiar do dia.
Se passa um bote com as velas soltas,
Minh’alma o segue n’amplidão dos mares;
E longas horas acompanha as voltas
Das andorinhas recortando os ares.
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Às vezes, louca, num cismar perdida,
Minh’alma triste vai vagando à toa,
Bem como a folha que do sul batida
Bóia nas águas de gentil lagoa!
E como a rola que em sentida queixa
O bosque acorda desde o albor da aurora,
Minha’ahna em notas de chorosa endeixa
Lamenta os sonhos que já tive outrora.
Dizem que há gozos no correr dos anos!…
Só eu não sei em que o prazer consiste.
— Pobre ludíbrio de cruéis enganos,
Perdi os risos — a minh’alma é triste!
III
Minh’alma é triste como a flor que morre
Pendida à beira do riacho ingrato;
Nem beijos dá-lhe a viração que corre,
Nem doce canto o sabiá do mato!
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E como a flor que solitária pende
Sem ter carícias no voar da brisa,
Minh’alma murcha, mas ninguém entende
Que a pobrezinha só de amor precisa!
Amei outrora com amor bem santo
Os negros olhos de gentil donzela,
Mas dessa fronte de sublime encanto
Outro tirou a virginal capela.
Oh! quantas vezes a prendi nos braços!
Que o diga e fale o laranjal florido!
Se mão de ferro espedaçou dois laços
Ambos choramos mas num só gemido!
Dizem que há gozos no viver d’amores,
Só eu não sei em que o prazer consiste!
— Eu vejo o mundo na estação das flores
Tudo sorri — mas a minh’alma é triste!
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IV
Minh’alma é triste como o grito agudo
Das arapongas no sertão deserto;
E como o nauta sobre o mar sanhudo,
Longe da praia que julgou tão perto!
A mocidade no sonhar florida
Em mim foi beijo de lasciva virgem:
— Pulava o sangue e me fervia a vida,
Ardendo a fronte em bacanal vertigem.
De tanto fogo tinha a mente cheia!…
No afã da glória me atirei com ânsia…
E, perto ou longe, quis beijar a s’reia
Que em doce canto me atraiu na infância.
Ai! loucos sonhos de mancebo ardente!
Esp’ranças altas… Ei-las já tão rasas!…
— Pombo selvagem, quis voar contente…
Feriu-me a bala no bater das asas!
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Dizem que há gozos no correr da vida…
Só eu não sei em que o prazer consiste!
— No amor, na glória, na mundana lida,
Foram-se as flores — a minh’alma é triste!
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Amor e Medo
Por Casimiro de Abreu
Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
— “Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!”
Como te enganas! meu amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco…
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo…
Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.
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O véu da noite me atormenta em dores
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair cias tardes,
Eu me estremece de cruéis receios.
É que esse vento que na várzea — ao longe,
Do colmo o fumo caprichoso ondeia,
Soprando um dia tornaria incêndio
A chama viva que teu riso ateia!
Ai! se abrasado crepitasse o cedro,
Cedendo ao raio que a tormenta envia:
Diz: — que seria da plantinha humilde,
Que à sombra dela tão feliz crescia?
A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho
E a pobre nunca reviver pudera.
Chovesse embora paternal orvalho!
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Ai! se te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas! …
Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos — palpitante o seio!…
Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Trêmula a fala, a protestar baixinho…
Vermelha a boca, soluçando um beijo!…
Diz: — que seria da pureza de anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
Tu te queimaras, a pisar descalça,
Criança louca — sobre um chão de brasas!
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No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem,
Vil, machucara com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!
Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço,
Anjo enlodado nos pauis da terra.
Depois… desperta no febril delírio,
— Olhos pisados — como um vão lamento,
Tu perguntaras: que é da minha coroa?…
Eu te diria: desfolhou-a o vento!…
Oh! não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo é que te adoro e muito!
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!…
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Página 50
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Segredos
Por Casimiro de Abreu
Eu tenho uns amores – quem é que os não tinha
Nos tempos antigos ? – Amar não faz mal;
As almas que sentem paixão como a minha,
Que digam, que falem em regra geral.
– A flor dos meus sonhos é moça bonita
Qual flor entreaberta do dia ao raiar;
Mas onde ela mora, que casa ela habita,
Não quero, não posso, não devo contar!
Oh! Ontem no baile, com ela valsando
Senti as delicias dos anjos do céu!
Na dança ligeira, qual silfo voando
Caiu-lhe do rosto o seu cândido véu!
Página 51
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– Que noite e que baile! Seu hálito virgem
Queimava-lhe as faces no louco valsar,
As falas sentidas que os olhos falavam,
Não quero, não posso, não devo contar!
Depois indolente firmou-se em meu braço,
Fugimos das salas, do mundo talvez !
Inda era mais bela rendida ao cansaço,
Morrendo de amores em tal languidez !
– Que noite e que festa ! e que lânguido rosto
Banhado ao reflexo do branco luar !
A neve do colo e as ondas dos seios
Não quero, não posso, não devo contar !
A noite é sublime! Tem longos queixumes,
Mistérios profundos que eu mesmo não sei:
Do mar os gemidos, do prado os perfumes,
De amor me mataram, de amor suspirei!
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Agora eu vos juro… Palavra!- Não minto!
Ouvi a formosa também suspirar:
Os doces suspiros que os ecos ouviram
Não quero, não posso, não devo contar!
Então nesse instante nas águas do rio
Passava uma barca, e o bom remador
Cantava na flauta: – “Nas noites d’estio
O céu tem estrelas, o mar tem amor !”
E a voz maviosa do bom gondoleiro
Repete cantando: “viver é amar !”
Se os peitos respondem à voz do barqueiro…
Não quero, não posso, não devo contar !
Trememos de medo… A boca emudece
Mas sentem-se os pulos do meu coração
Seu seio nevado de amor se entumece
E os lábios se tocam no ardor da paixão.
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Depois… mas já vejo que vós, meus senhores,
Com fina malícia quereis me enganar;
Aqui faço ponto; – segredos de amores
Não quero, não posso, não devo contar!
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Fim
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