Poesias de Poetas Famosos
Transcrição
Poesias de Poetas Famosos
Insane Delirium Home Page Poesias de Poetas Famosos Coletânea de poesias feita pelo Poeta Insane Delirium Volume I © 2015 – http://insanedeliriumhp.wordpress.com/ Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Poesias de Poetas Famosos (Coletânea) Página 2 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Sobre o site e o livro A Insane Delirium Home Page tem como objetivo preservar e divulgar a cultura gótica e romântica. Este livro tem como intuito compilar as melhores poesias de autores famosos publicadas no site, reunindo-as em um material para distribuição aos apreciadores da cultura gótica. Considere baixar o e-book “Poesias de Insane Delirium – Volume I” (gratuito) com a coletânea das melhores poesias do autor do site; e adquirir o livro “Poesias de Insane Delirium – Volume II” com as poesias inéditas (não publicadas) no site do poeta Insane Delirium. Os livros de poesias do Poeta Insane Delirium podem ser baixados/adquiridos aqui: Site Insane Delirium HP (Volume I e II): https://insanedeliriumhp.wordpress.com/livros/ ou Site do Bookess: http://www.bookess.com/read/23082-poesias-de-insane-delirium-volume-ii/ Site do Clube de Autores: https://www.clubedeautores.com.br/book/178246--Poesias_de_Insane_Delirium Site: http://insanedeliriumhp.wordpress.com E-mail para contato: [email protected] (1a edição) Página 3 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Poesias de Poetas Famosos (Coletânea) Volume I Página 4 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Insane Delirium Home Page http://insanedeliriumhp.wordpress.com Sumário O Corvo (Edgar Allan Poe) ….............................................................. Pág. 07 Só (Edgar Allan Poe) ……..................................................................... Pág. 16 Se eu morresse amanhã (Álvares de Azevedo) …............…….............. Pág. 19 Lembrança de morrer (Álvares de Azevedo) ….................................. Pág. 21 Ideias íntimas (Álvares de Azevedo) …............................................... Pág. 25 O lenço dela (Álvares de Azevedo) ….................................................. Pág. 28 Eterna Mágoa (Augusto dos Anjos) ................................................... Pág. 30 Mágoas (Augusto dos Anjos) …........................................................... Pág. 32 Versos íntimos (Augusto dos Anjos) …................................................ Pág. 34 A esmola de Dulce (Augusto dos Anjos) ….......................................... Pág. 36 Psicologia de um vencido (Augusto dos Anjos) …............................... Pág. 37 Minha alma é triste (Casimiro de Abreu) …........................................ Pág. 39 Amor e Medo (Casimiro de Abreu) ….................................................. Pág. 46 Segredos (Casimiro de Abreu) ….......................................................... Pág. 51 Página 5 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Edgar Allan Poe Página 6 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos O Corvo Por Edgar Allan Poe (tradução de Machado de Assis) “Em certo dia, à hora, à hora da meia noite que apavora Eu, caindo de sono e exausto de fadiga, Ao pé de muita lauda antiga, De uma velha doutrina, agora morta, Ia pensando quando ouvi à porta Do meu quarto um soar devagarinho, E disse estas palavras tais: ‘É alguém que me bate à porta de mansinho; Há de ser isso e nada mais’ Ah, bem me lembro! bem me lembro! Era no Glacial dezembro Cada brasa do lar sobre o chão refletia A sua última agonia Eu, ansioso pelo sol, buscava Sacar daqueles livros que estudava Página 7 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Repouso (em vão!) à dor esmagadora Destas saudades imortais Pela que ora nos céus chamam Lenora E que ninguém chamará mais” Logo, ele conclui que deva ser alguma “…visita amiga e retardada… há de ser isso e nada mais”. “Minh’alma então sentiu-se forte; Não mais vacilo e desta sorte Falo: ‘imploro de vós, – ou senhor ou senhora, Me desculpeis tanta demora Mas como eu, precisando de descanso, Já cochilava, e tão de manso e mansa Batestes, não fui logo, prestemente, Certificar-me que aí estais’ Disse; a porta escancaro, acho a noite somente, Somente a noite e nada mais.” Nosso triste homem suspira ao ver a escuridão: “…Só tu, palavra única edileta, Lenora, tu, como um suspiro escasso da minha trite boca sais; Página 8 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço; Foi isto apenas, nada mais” Na sexta estrofe, o homem tenta acalmar o coração: “…Devolvamos a paz ao coração medroso, Obra do vento e nada mais” A sétima estrofe marca o encontro: “Abro a janela, e de repente, Vejo tumultuosamente Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias. Não despendeu em cortesias Um minuto, um instante. Tinha o aspecto De um lord ou uma lady. E pronto e reto, Movendo no ar suas negras alas, Acima voa dos portais, Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas; Trepado fica, e nada mais” A oitava, junto com a nona, a décima e a décima primeira são minhas preferidas… Aí estão: Página 9 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos “Diante da ave feia e escura, naquela rígida postura, Com o gesto severo, – o triste pensamento Sorriu-me ali por um momento, E eu disse: ‘Ó tu das noturnas plagas Vens, embora a cabeça nua tragas, Sem topete, não és ave medrosa, Dize os teus nomes senhorais; Como te chamas tu na grande noite umbrosa?’ E o corvo disse:’Nunca mais’. Vendo que o pássaro entendia A pergunta que eu fazia, Fico atônito, embora a resposta que dera, Dificilmente lha entendera. Na verdade, jamais homem há visto Cousa na terra semelhante a isto: Uma ave negra, friamente posta Num busto acima dos portais, Ouvir uma pergunta e dizer em resposta Que este é seu nome:’Nunca mais’ No entanto, o corvo solitário Página 10 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Não teve outro vocabulário Como se essa palavra escassa que ali disse Toda a sua alma resumisse. Nenhuma outra proferiu, nenhuma, Não chegou a mexer uma só pluma, Até que eu murmurei: ‘Perdi outrora Tantos amigos tão leais! Perderei também este em regressando a aurora’ E o corvo disse: ‘Nunca mais’ Estremeço. A resposta ouvida É tão exata! É tão cabida! ‘Certamente, digo eu, essa é toda a ciência Que ele trouxe da convicência De algum mestre infeliz e acabrunhado Que o implacável destino há castigado Tão tenaz , tão sem pausa, nem fadiga, Que dos seus cantos usuais Só lhe ficou, na amarga e última cantiga, Esse estribilho: ‘Nunca mais'” O homem pensa na ave, e no significado de suas palavras: Página 11 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos “…Entender o que quis dizer a ave do medo Grasnando a frase: ‘nunca mais'” O pobre infeliz lembra de sua Lenora ao olhar em volta… a loucura parece atingi-lo suavemente pelos braços da saudade: “Assim posto, devaneando, Meditando, conjeturando, Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava, Sentia o olhar que me abrasava. Conjeturando fui, tranqüilo a gosto, Com a cabeça no macio encosto Onde os raios da lâmpada caíam, Onde as tranças angelicais De outra cabeça outrora ali se desparziam, E agora não se esparzem mais.” “Supus então que o ar, mais denso, Todo se enchia de um incenso, Obra de serafins que, pelo chão roçando Do quarto, estavam meneando Um ligeiro turíbulo invisível; Página 12 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos E eu exclamei então: ‘Um Deus sensível Manda repouso à dor que te devora Destas saudades imortais. Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora’. E o corvo disse: ‘Nunca mais’. ‘Profeta ou o que quer que sejas! Ave ou demônio que negrejas! Profeta, sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno Onde reside o mal eterno, Ou simplesmente náufrago escapado Venhas do temporal que te há lançado Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo Tem os seus lares triunfais, Dize-me: existe um bálsamo no mundo?’ E o corvo disse: ‘Nunca mais’. ‘Profeta ou o que quer que sejas! Ave ou demônio que negrejas! Profeta, sempre, escuta, atende, escuta, atende! Por esse céu que além se estende, Pelo Deus que ambos adoramos, fala, Página 13 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Dize a esta alma se é dado inda escutá-la No éden celeste a virgem que ela chora Nestes retiros sepulcrais, Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!’ E o corvo disse: ‘Nunca mais’. ‘Profeta ou o que quer que sejas! Ave ou demônio que negrejas! Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa! Regressa ao temporal, regressa À tua noite, deixa-me comigo. Vai-te, não fique no meu casto abrigo Pluma que lembre essa mentira tua. Tira-me ao peito essas fatais Garras que abrindo vão a minha dor já crua.’ E o corvo disse: ‘Nunca mais’ E o corvo aí fica; ei-lo trepado No branco mármore lavrado Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho. Parece, ao ver-lhe o duro cenho, Um demônio sonhando. A luz caída Do lampião sobre a ave aborrecida Página 14 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos No chão espraia a triste sombra; e, fora Daquelas linhas funerais Que flutuam no chão, a minha alma que chora Não sai mais, nunca, nunca mais!” Página 15 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Só Por Edgar Allan Poe Não fui, na infância, como os outros e nunca vi como os outros viam. Minhas paixões não tirava de fonte igual à deles; e era outra a origem da tristeza, e era outro o canto que acordava meu coração para a alegria. Tudo o que amei, amei sozinho. Assim, na minha infância, na alba da tormentosa vida, ergueu-se no bem, no mal, de cada abismo, o meu mistério. Veio dos rios, das fontes, de rubra escarpa da montanha, do sol que me envolvia em outonais clarões dourados; e dos relâmpagos vermelhos que o céu inteiro incendiavam; Página 16 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos e do trovão, da tempestade, daquela nuvem que se alterava, só, no amplo azul do céu puríssimo, ante meus olhos, como um demônio. Página 17 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Álvares de Azevedo Página 18 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Se eu morresse amanhã Por Álvares de Azevedo Se eu morresse amanhã, viria ao menos Fechar meus olhos minha triste irmã; Minha mãe de saudades morreria Se eu morresse amanhã! Quanta glória pressinto em meu futuro! Que aurora de porvir e que manhã! Eu perdera chorando essas coroas Se eu morresse amanhã! Que sol! que céu azul! que dove n’alva Acorda a natureza mais louçã! Não me batera tanto amor no peito, Se eu morresse amanhã! Mas essa dor da vida que devora A ânsia de glória, o dolorido afã… A dor no peito emudecera ao menos Se eu morresse amanhã! Página 19 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Página 20 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Lembrança de morrer Por Álvares de Azevedo Quando em meu peito rebentar-se a fibra Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nem uma lágrima Em pálpebra demente. E nem desfolhem na matéria impura A flor do vale que adormece ao vento; Não quero que uma nota de alegria Se cale por meu triste passamento. Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Página 21 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Como o deserto de minh’alma errante, Onde o fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade – é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia. Só levo uma saudade – é dessas sombras Que eu sentia velar nas noites minhas… De ti, ó minha mãe, pobre coitada Que por minha tristeza te definhas! De meu pai… de meus únicos amigos, Poucos – bem poucos – e que não zombavam Quando, em noite de febre endoudecido, Minhas pálidas crenças duvidavam. Se uma lágrima as pálpebras me inunda, Se um suspiro nos seios treme ainda É pela virgem que sonhei… que nunca Aos lábios me encostou a face linda! Página 22 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Só tu à mocidade sonhadora Do pálido poeta deste flores… Se viveu, foi por ti! e de esperança De na vida gozar de teus amores. Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo… Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo! Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nela: — Foi poeta – sonhou – e amou na vida — Sombras do vale, noites da montanha Que minh’alma cantou e amava tanto, Protegei o meu corpo abandonado, E no silêncio derramai-lhe canto! Página 23 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Mas quando preludia ave d’aurora E quando à meia-noite o céu repousa, Arvoredos do bosques, abri os ramos… Deixai a lua prantear-me a lousa! Página 24 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Ideias intimas Por Álvares de Azevedo (fragmentos) IX Oh! Ter vinte anos sem gozar de leve A ventura de uma alma de donzela! E sem na vida ter sentido nunca Na suave atração de um róseo corpo Meus olhos turvos se fechar de gozo! Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas Passam tantas visões sobre meu peito! Palor de febre meu semblante cobre, Bate meu coração com tanto fogo! Um doce nome os lábios me suspiram, Um nome de mulher… e vejo lânguida No véu suave de amorosas sombras Seminua, abatida, a mão no seio, Perfumada visão romper a nuvem, Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras Página 25 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos O alento fresco e leve como a vida Passar delicioso… Que delírios! Acordo palpitante… inda a procuro; Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas Banham meus olhos, e suspiro e gemo… Imploro uma ilusão… tudo é silêncio! Só o leito deserto, a sala muda! Amorosa visão, mulher dos sonhos, Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto! Nunca virás iluminar meu peito Com um raio de luz desses teus olhos? Página 26 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Página 27 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos O lenço dela Por Álvares de Azevedo Quando, a primeira vez, da minha terra Deixei as noites de amoroso encanto, A minha doce amante suspirando Volveu-me os olhos úmidos de pranto. Um romance cantou de despedida, Mas a saudade amortecia o canto! Lágrimas enxugou nos olhos belos… E deu-me o lenço que molhava o pranto. Quantos anos, contudo, já passaram! Não olvido porém amor tão santo! Guardo ainda num cofre perfumado O lenço dela que molhava o pranto… Nunca mais a encontrei na minha vida, Eu contudo, meu Deus, amava-a tanto! Oh! quando eu morra estendam no meu rosto O lenço que eu banhei também de pranto. Página 28 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Augusto dos Anjos Página 29 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Eterna Mágoa Por Augusto dos Anjos O homem por sobre quem caiu a praga Da tristeza do Mundo, o homem que é triste Para todos os séculos existe E nunca mais o seu pesar se apaga! Não crê em nada, pois, nada há que traga Consolo à Mágoa, a que só ele assiste. Quer resistir, e quanto mais resiste Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga. Sabe que sofre, mas o que não sabe É que essa mágoa infinda assim, não cabe Na sua vida, é que essa mágoa infinda Transpõe a vida do seu corpo inerme; E quando esse homem se transforma em verme É essa mágoa que o acompanha ainda! Página 30 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Página 31 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Mágoas Por Augusto dos Anjos Quando nasci, num mês de tantas flores, Todas murcharam, tristes, langorosas, Tristes fanaram redolentes rosas, Morreram todas, todas sem olores. Mais tarde da existência nos verdores Da infância nunca tive as venturosas Alegrias que passam bonançosas, Oh! minha infância nunca tive flores! Volvendo à quadra azul da mocidade, Minh’alma levo aflita à Eternidade, Quando a morte matar meus dissabores. Cansado de chorar pelas estradas, Exausto de pisar mágoas pisadas, Hoje eu carrego a cruz de minhas dores! Página 32 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Página 33 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Versos íntimos Por Augusto dos Anjos Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija! Página 34 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Página 35 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos A esmola de Dulce Por Augusto dos Anjos E todo o dia eu vou como um perdido De dor, por entre a dolorosa estrada, Pedir a Dulce, a minha bem amada A esmola dum carinho apetecido. E ela fita-me, olhar enlanguescido, E eu balbucio trêmula balada: – Senhora dai-me u’a esmola – e estertorada A minha voz soluça num gemido. Morre-me a voz, e eu gemo o último harpejo, Estendendo à Dulce a mão, a fé perdida, E dos lábios de Dulce cai um beijo. Depois, como este beijo me consola! Bendita seja a Dulce! A minha vida Estava unicamente nessa esmola. Página 36 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Psicologia de um vencido Por Augusto dos Anjos Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância… Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme – este operário das ruínas – Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! Página 37 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Casimiro de Abreu Página 38 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Minha alma é triste Por Casimiro de Abreu Minh’alma é triste como a rola aflita Que o bosque acorda desde o alvor da aurora, E em doce arrulo que o soluço imita O morto esposo gemedora chora. E, como a rôla que perdeu o esposo, Minh’alma chora as ilusões perdidas, E no seu livro de fanado gozo Relê as folhas que já foram lidas. E como notas de chorosa endeixa Seu pobre canto com a dor desmaia, E seus gemidos são iguais à queixa Que a vaga solta quando beija a praia. Página 39 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Como a criança que banhada em prantos Procura o brinco que levou-lhe o rio, Minha’alma quer ressuscitar nos cantos Um só dos lírios que murchou o estio. Dizem que há, gozos nas mundanas galas, Mas eu não sei em que o prazer consiste. — Ou só no campo, ou no rumor das salas, Não sei porque — mas a minh’alma é triste! II Minh’alma é triste como a voz do sino Carpindo o morto sobre a laje fria; E doce e grave qual no templo um hino, Ou como a prece ao desmaiar do dia. Se passa um bote com as velas soltas, Minh’alma o segue n’amplidão dos mares; E longas horas acompanha as voltas Das andorinhas recortando os ares. Página 40 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Às vezes, louca, num cismar perdida, Minh’alma triste vai vagando à toa, Bem como a folha que do sul batida Bóia nas águas de gentil lagoa! E como a rola que em sentida queixa O bosque acorda desde o albor da aurora, Minha’ahna em notas de chorosa endeixa Lamenta os sonhos que já tive outrora. Dizem que há gozos no correr dos anos!… Só eu não sei em que o prazer consiste. — Pobre ludíbrio de cruéis enganos, Perdi os risos — a minh’alma é triste! III Minh’alma é triste como a flor que morre Pendida à beira do riacho ingrato; Nem beijos dá-lhe a viração que corre, Nem doce canto o sabiá do mato! Página 41 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos E como a flor que solitária pende Sem ter carícias no voar da brisa, Minh’alma murcha, mas ninguém entende Que a pobrezinha só de amor precisa! Amei outrora com amor bem santo Os negros olhos de gentil donzela, Mas dessa fronte de sublime encanto Outro tirou a virginal capela. Oh! quantas vezes a prendi nos braços! Que o diga e fale o laranjal florido! Se mão de ferro espedaçou dois laços Ambos choramos mas num só gemido! Dizem que há gozos no viver d’amores, Só eu não sei em que o prazer consiste! — Eu vejo o mundo na estação das flores Tudo sorri — mas a minh’alma é triste! Página 42 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos IV Minh’alma é triste como o grito agudo Das arapongas no sertão deserto; E como o nauta sobre o mar sanhudo, Longe da praia que julgou tão perto! A mocidade no sonhar florida Em mim foi beijo de lasciva virgem: — Pulava o sangue e me fervia a vida, Ardendo a fronte em bacanal vertigem. De tanto fogo tinha a mente cheia!… No afã da glória me atirei com ânsia… E, perto ou longe, quis beijar a s’reia Que em doce canto me atraiu na infância. Ai! loucos sonhos de mancebo ardente! Esp’ranças altas… Ei-las já tão rasas!… — Pombo selvagem, quis voar contente… Feriu-me a bala no bater das asas! Página 43 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Dizem que há gozos no correr da vida… Só eu não sei em que o prazer consiste! — No amor, na glória, na mundana lida, Foram-se as flores — a minh’alma é triste! Página 44 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Página 45 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Amor e Medo Por Casimiro de Abreu Quando eu te vejo e me desvio cauto Da luz de fogo que te cerca, ó bela, Contigo dizes, suspirando amores: — “Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!” Como te enganas! meu amor, é chama Que se alimenta no voraz segredo, E se te fujo é que te adoro louco… És bela — eu moço; tens amor, eu — medo… Tenho medo de mim, de ti, de tudo, Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes. Das folhas secas, do chorar das fontes, Das horas longas a correr velozes. Página 46 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos O véu da noite me atormenta em dores A luz da aurora me enternece os seios, E ao vento fresco do cair cias tardes, Eu me estremece de cruéis receios. É que esse vento que na várzea — ao longe, Do colmo o fumo caprichoso ondeia, Soprando um dia tornaria incêndio A chama viva que teu riso ateia! Ai! se abrasado crepitasse o cedro, Cedendo ao raio que a tormenta envia: Diz: — que seria da plantinha humilde, Que à sombra dela tão feliz crescia? A labareda que se enrosca ao tronco Torrara a planta qual queimara o galho E a pobre nunca reviver pudera. Chovesse embora paternal orvalho! Página 47 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Ai! se te visse no calor da sesta, A mão tremente no calor das tuas, Amarrotado o teu vestido branco, Soltos cabelos nas espáduas nuas! … Ai! se eu te visse, Madalena pura, Sobre o veludo reclinada a meio, Olhos cerrados na volúpia doce, Os braços frouxos — palpitante o seio!… Ai! se eu te visse em languidez sublime, Na face as rosas virginais do pejo, Trêmula a fala, a protestar baixinho… Vermelha a boca, soluçando um beijo!… Diz: — que seria da pureza de anjo, Das vestes alvas, do candor das asas? Tu te queimaras, a pisar descalça, Criança louca — sobre um chão de brasas! Página 48 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos No fogo vivo eu me abrasara inteiro! Ébrio e sedento na fugaz vertigem, Vil, machucara com meu dedo impuro As pobres flores da grinalda virgem! Vampiro infame, eu sorveria em beijos Toda a inocência que teu lábio encerra, E tu serias no lascivo abraço, Anjo enlodado nos pauis da terra. Depois… desperta no febril delírio, — Olhos pisados — como um vão lamento, Tu perguntaras: que é da minha coroa?… Eu te diria: desfolhou-a o vento!… Oh! não me chames coração de gelo! Bem vês: traí-me no fatal segredo. Se de ti fujo é que te adoro e muito! És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!… Página 49 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Página 50 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Segredos Por Casimiro de Abreu Eu tenho uns amores – quem é que os não tinha Nos tempos antigos ? – Amar não faz mal; As almas que sentem paixão como a minha, Que digam, que falem em regra geral. – A flor dos meus sonhos é moça bonita Qual flor entreaberta do dia ao raiar; Mas onde ela mora, que casa ela habita, Não quero, não posso, não devo contar! Oh! Ontem no baile, com ela valsando Senti as delicias dos anjos do céu! Na dança ligeira, qual silfo voando Caiu-lhe do rosto o seu cândido véu! Página 51 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos – Que noite e que baile! Seu hálito virgem Queimava-lhe as faces no louco valsar, As falas sentidas que os olhos falavam, Não quero, não posso, não devo contar! Depois indolente firmou-se em meu braço, Fugimos das salas, do mundo talvez ! Inda era mais bela rendida ao cansaço, Morrendo de amores em tal languidez ! – Que noite e que festa ! e que lânguido rosto Banhado ao reflexo do branco luar ! A neve do colo e as ondas dos seios Não quero, não posso, não devo contar ! A noite é sublime! Tem longos queixumes, Mistérios profundos que eu mesmo não sei: Do mar os gemidos, do prado os perfumes, De amor me mataram, de amor suspirei! Página 52 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Agora eu vos juro… Palavra!- Não minto! Ouvi a formosa também suspirar: Os doces suspiros que os ecos ouviram Não quero, não posso, não devo contar! Então nesse instante nas águas do rio Passava uma barca, e o bom remador Cantava na flauta: – “Nas noites d’estio O céu tem estrelas, o mar tem amor !” E a voz maviosa do bom gondoleiro Repete cantando: “viver é amar !” Se os peitos respondem à voz do barqueiro… Não quero, não posso, não devo contar ! Trememos de medo… A boca emudece Mas sentem-se os pulos do meu coração Seu seio nevado de amor se entumece E os lábios se tocam no ardor da paixão. Página 53 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Depois… mas já vejo que vós, meus senhores, Com fina malícia quereis me enganar; Aqui faço ponto; – segredos de amores Não quero, não posso, não devo contar! Página 54 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Página 55 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Fim Página 56 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Poesias de Poetas Famosos (Coletânea do site) Obrigado por apoiar nossa cultura. Poesias de Poetas Famosos (Coletânea) Site: http://insanedeliriumhp.wordpress.com E-mail para contato: [email protected] Página 57 Insane Delirium Home Page - Poetas Famosos Sobre o site e o livro A Insane Delirium Home Page tem como objetivo preservar e divulgar a cultura gótica e romântica. Este livro tem como intuito compilar as melhores poesias de autores famosos publicadas no site, reunindo-as em um material para distribuição aos apreciadores da cultura gótica. Considere baixar o e-book “Poesias de Insane Delirium – Volume I” (gratuito) com a coletânea das melhores poesias do autor do site; e adquirir o livro “Poesias de Insane Delirium – Volume II” com as poesias inéditas (não publicadas) no site do poeta Insane Delirium. Os livros de poesias do Poeta Insane Delirium podem ser baixados/adquiridos aqui: Site Insane Delirium HP (Volume I e II): https://insanedeliriumhp.wordpress.com/livros/ ou Site do Bookess: http://www.bookess.com/read/23082-poesias-de-insane-delirium-volume-ii/ Site do Clube de Autores: https://www.clubedeautores.com.br/book/178246--Poesias_de_Insane_Delirium Site: http://insanedeliriumhp.wordpress.com E-mail para contato: [email protected] Página 58