I SIMPÓSIO INTERNACIONAL DO NÚCLEO DE PESQUISA EM
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I SIMPÓSIO INTERNACIONAL DO NÚCLEO DE PESQUISA EM
I SIMPÓSIO INTERNACIONAL DO NÚCLEO DE PESQUISA EM PINTURA E ENSINO – NUPPE Instituto de Arte / Universidade Federal de Uberlândia – IARTE/UFU MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 10 a 13 de setembro de 2012, Uberlândia – MG – Brasil VIDEO-PINTURA: UMA DISCUSSÃO DO ÍNTIMO NA ARTE CONTEMPORÂNEA. Camila Moreira, Eliane Chiron e Hervé Penhoat1 Resumo: A presente comunicação visa dialogar à partir das obras de Éliane Chiron e Hervé Penhoat a vídeo-pintura ou o aparecimento de uma pintura sem tinta e pincel, transgredindo os meios ditos “convencionais” caminhando face uma nova linguagem – tecnologia contemporânea. À partir de dois vídeos produzidos pelos artistas e discutidos-apresentados pelos mesmos, essa comunicação buscará os limites e encontros entre o movimento e o pictural. Em uma discussão do íntimo dentro da arte contemporânea, da cor, da matéria, da forma e da perspectiva. Resumé Cette communication a pour objectif d’établir un dialogue à partir des oeuvres d’Éliane Chiron et d’Hervé Penhoat avec la vidéo– peinture ou la naissance d’une peinture sans encre et sans pinceau, établissant une transgression des moyens dit « conventionnels », pour tenter une ouverture vers un nouveau langage/technologique contemporain. À partir de deux vidéos produites par ces artistes et 1 Camila Moreira é artista plástica, Mestre em Artes Plásticas pela Université Paris 1 Panthéon Sorbonne e doutoranda em Artes Plásticas pela mesma Université Paris 1 Panthéon Sorbonne- França. (membro: NUPPE/UFU, CRAV-Paris1). Eliane Chiron é artista plástica, professora émerita da Université Paris 1- Panthéon Sorbonne, Diretora do CRAV-Centre de Recherche en Arts Plastiques- Paris 1. Bolsista da CAPES - Proc. 01312/12-6. Hervé Penhoat é artista plástico, Mestre em Artes Plásticas pela Université Paris 1 Panthéon Sorbonne e doutorando em Artes Plásticas pela mesma Université Paris 1 Panthéon Sorbonne- França. (membro: CRAV- Paris 1) MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil présentées par eux mêmes, cette communication cherchera les limites et les rencontres (interconnections) pouvant se faire entre le «mouvement» et le «pictural». Ceci autour d’une discussion de l’intime dans l’art contemporain, la couleur, la matière, la forme et la perspective. Em pleno século XXI, onde as novas tecnologias afrontam nossos desejos e expectativas, voltemos o olhar para o íntimo, para a produção de uma pintura que transcende o pincel, a tinta e suas representações ditas usuais de criação. Fala-se aqui de uma apreensão pictural, na qual o vídeo projeta a imagem, captura a cena em movimento e ao mesmo tempo, imortaliza. A pintura é narrada com uma nova densidade, de perspectivas particularizadas, de sombras e luzes projetadas, colhidas, traçadas. Mas, o que define a semelhança ou a aproximação destas duas formas únicas e ao mesmo tempo dispares de apresentação? Como chamar de pintura uma projeção em movimento, uma cena em looping, uma controvérsia que indaga a matéria e a forma e apresenta-se materialmente virtual? Camila Moreira LES NAGEUSES «Éliane Chiron» Cette vidéo provient de la piscine d’un grand hôtel de la capitale du Bahreïn, filmée en plongée depuis la fenêtre de ma chambre quand j’y suis allée récemment. L’eau n’est pas cadrée par la forme de la piscine mais par les bords de l’écran de contrôle. Déjà nous ne savons plus où nous sommes. Déjà je suis perdue. Par le traitement numérique, notamment le travail de la couleur-matière, j’ai voulu donner l’impression que les Nageuses se MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil déplacent à l’intérieur de leur corps, tout d’abord dans leur propre sang. C’est comme lorsqu’on passe dans la rue devant la vitrine : on est hors de chez soi, mais on est dans la ville. Inversement, il fallait que les Nageuses donnent l’impression de faire naître, de leurs mouvements, les couleurs. Quand nous inspirons l’air, c’est pour que notre corps fabrique de l’eau. Ce processus biologique est ici augmenté de la permanence, restée plus vive chez l’artiste, d’une mémoire fœtale. D’où cette oscillation irréductible : les nageuses respirent-elles de l’air ? Sont-elles en apnée ? Sont-elles en train de se donner la vie, comme le fait l’artiste qui naît de son œuvre ? Prennentelles le risque de l’artiste, d’y perdre la vie, et de renaître ? D’être comme ce que Paul Klee a fait écrire sur sa tombe : « aussi bien chez lez morts que chez ceux qui ne sont pas encore nés » ? Au cours du travail, je me suis aperçue que la vidéo retrouvait le sens originel de purification qu’a le mot piscine, y compris dans les centrales nucléaires, où s’y effectue la désactivation des impuretés. Ici, ce sens est sous-jacent et sourdement contredit. D’une part le son semble provenir d’un corps-machine. D’autre part la lenteur produit l’impression d’un liquide épais, devenant lave en fusion qui consume la nageuse, à la septième et dernière séquence. Cette eau lourde, nocturne, ne devient jamais pure. Les nageuses restent impures, même si, en artistes, c’est leur propre vie qu’elles se donnent ; à l’aide du matériau digital qu’elles façonnent. Le travail du numérique procède d’une obscure histologie du corps, fusion du code digital (0-1) et du code génétique, avatar de la « race des femmes » dont parle Hésiode (Nicole Loraux, Les enfants d’Athéna), femmes « fabriquées », dérivées, comme Ève. Fusion où l’artiste, trinité d’un nouveau genre, hybride, tient aussi les rôles d’Hephaïstos qui fabrique Pandora et de Zeus qui en donne l’ordre. Ainsi, se révèle un désir de voir isomorphe au chiasme de la vision : désir de voir que les tissus : soies, velours, ou autres, dont se MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil vêtent les femmes (comme on a richement vêtue et ornée Pandora), soient le retournement de nos tissus et liquides physiologiques. Et inversement. En somme : « faire corps ». Alors que nous n’échappons pas à notre enveloppe corporelle, les Nageuses en ont le pouvoir. Dans et hors de leur corps écranique, qui est leur matériau et leur chantier, elles s’affairent à leur réversibilité, réitérant la lente phylogenèse humaine, que rappelle François Dagognet (Philosophie d’un retournement). Et ce chantier de l’œuvre, que l’artiste puise en soi, en son corps d’artiste, envahit l’espace public, faisant apparaître, entrelacé avec la rue, la ville, le fleuve qui la traverse, ce que Merleau-Ponty nomme « la chair du monde ». En ce sens les Nageuses, plus intensément que nous, sujets socialisés, sont « à la ville », « à la rue ». Ce qu’on nomme l’immersion numérique dans l’art contemporain serait une actualisation de la « chair du monde », d’un monde à naître à chaque œuvre, aussi bien que de l’« altérité intime » selon Marc Augé, où l’artiste en nageuse brouille les genres et réactive les mythes, retrouve le chemin du sang d’une généalogie mythique. En s’incarnant dans d’autres corps, l’artiste se fond dans le paysage liquide comme le sang dans les veines, incorpore ce paysage intime où son corps ne trouve pas sa place. Cette chair du monde, cette altérité intime, c’est ma part impersonnelle.2 2 “Esse vídeo provém da piscina de um grande hotel do Bahreïn, filmada em mergulho da janela do meu quarto onde eu fui recentemente. A água não está enquadrada pela forma da piscina mas pelas bordas da tela de controle. Logo, nós não sabemos mais onde estamos. Logo, eu estou perdida. Pelo tratamento digital, em especial para o trabalho da cor-matéria, eu quis dar a impressão que Les Nageuses se deslocam no interior de seus corpos, inicialmente dentro do seu próprio sangue. É como quando caminhamos na rua diante de uma vitrine : nós estamos fora de casa, mas estamos na cidade. Inversamente, é preciso que Les Nageuses dêem a impressão de fazer nascer, de seus movimentos, as cores. Quando nós inspiramos o ar, é para que nosso corpo MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil fabrique água. Esse processo biológico é aqui aumentado em permanência, ficando mais vivo no artista, em uma memória fetal. De onde essa oscilação irredutível : as nadadoras respiram o ar ? Elas estão em apneia ? Elas se dão à vida, como faz o artista que nasce de sua obra ? Elas tomam o risco do artista, de perder a vida, e de renascer ? Ser como Paul Klee mandou escrever na sua tumba : « bem melhor com os mortos que com quem ainda não nasceu » ? Ao longo do trabalho, eu percebi que o vídeo encontrava o sentido original de purificação que a palavra piscina, compreende dentro das centrais nucleares, onde se efetua a desativação das impurezas. Aqui, o sentido está subjacente e contradiz. De uma parte, o som parece vir de um corpo máquina. De outra parte, a lentidão produz a impressão de um líquido espesso, diante da larva em fusão que consome a nadadora, na sétima e última sequência. Essa água pesada, noturna, não se torna pura. As nadadoras ficam impuras, mesmo si, em artistas, é sua própria vida que elas se dão, com a ajuda do material digital que lhes dão forma. O trabalho digital procede de uma obscura histologia do corpo, fusão do código digital (0-1) e do código genético, avatar da « raça das mulheres » no qual diz Hésiode (Nicole Loraux, As crianças de Atenas), mulheres « fabricadas », derivadas como Eva. Fusão onde o artista, trinidade de um novo gênero, híbrido, tem também os papéis de Hephaïsmos, que fabrica Pandora e de Zeus que dá a ordem. Assim, se revela um desejo de ver disforme ao “chiasme” da visão : desejo de ver os tecidos : sedas, veludos, ou outros, cujo se vestem as mulheres (como ricamente foi vestida e ornada Pandora), sendo o retorno de nossos tecidos e líquidos fisiológicos. E inversamente. Em suma : « fazer o corpo ». Desde que nós não escapemos à nosso envelope corporal, as nadadoras, tem o poder. Dentro e fora de seu próprio corpo, que é o material de seu campo, elas se relacionam à sua reversibilidade, reintegrando a gênese filogênica humana, que lembra François Dagognet (filósofo do retorno). E esse campo da obra que o artista possa em si, em seu corpo de artista, esvaziar do espaço público, fazendo aparecer, entrelaçado com a rua, a cidade, o rio que atravessa, isso que Merleau-Ponty nomeia « a carne do mundo ». Nesse sentido, as nadadoras, mais intrinsicamente que nós, sujeitos socializados, estão « na cidade », « na rua ». Isso que a gente nomeia imersão digital dentro da arte contemporânea seria uma atualização da « carne do mundo », de um mundo à nascer em cada obra, assim como a « alteridade íntima » segundo Marc Augé, onde o artista em nado queima os gêneros e reativa os mitos, reencontra o caminho do sangue de uma genealogia mítica. Se encarnado dentro de outros corpos, o artista se funde dentro da paisagem MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil ÉLIANE CHIRON Les nageuses, 2010 Vidéo numérique, 6’50 en boucle Traitement des images et son : Hervé Penhoat © Éliane Chiron Mémoire Hors Champs3 «Peindre la mémoire du temps4» Hervé Penhoat Il est des hasards étonnants. Mais est-ce bien un hasard lorsque cela a attrait à notre pratique artistique. C’est durant ma reprise d’étude à l’Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne alors que je résidais en Belgique à Bruxelles que la cours d’école que j’observais de ma fenêtre depuis 2 années s’est révélée à moi. Peut être puis-je voir là le punctum du peintre nécessaire à la création. Cette part intime que l’on ne voit pas, qui est devenu évidente pour moi et qui ne se révélera que par la suite, une fois la vidéo réalisée, montée et présentée au public. líquida como o sangue dentro das veias, incorpora essa paisagem íntima onde seu corpo não encontra lugar. Essa carne do mundo, essa alteridade íntima, é minha impessoalidade. (Trad. Gabriela Moreira) 3 Le pluriel est ici voulu et correspond à ma recherche plastique. 4 Claude Guibert, texte de présentation pour l’exposition «La peinture et après...» à la Galerie Roi Doré, Paris, 2011. MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil C’est cet élément qui peut nous surprendre, ce quelque chose d’inattendu dont parle très bien Georges Didi-Huberman5. Il s’agirait là du lien qui me relie à la peinture, au dessin. David Hockney l’explique très bien dans ses échanges avec Martin Gayford, après son retour en Angleterre, « Quand je suis arrivé ici, les haies n’étaient pour moi qu’une espèce de fatras. Puis j’ai commencé à les dessiner dans un petit carnet à dessin japonais […] Après avoir dessiné des herbes, j’ai commencé à les voir réellement.6» On comprend que le regard de l’artiste appuyé par sa main arrive à analyser ce qu’il observe, à se fusionner avec son sujet de telle sorte qu’il le digère et peut le retranscrire, l’interpréter, le partager, le faire connaitre. La peinture et plus particulièrement le dessin serait cette base, l’outil indispensable qui permettrait à tout artiste de développer sa pratique et de révéler cet intime au public. Le numérique avec la vidéo a cette part insaisissable qui attire chacun de nous. Telle la quête Celte pour l’au-delà, nous percevons dans cet entre-deux une fenêtre impalpable entre le paysage et notre corps. Cette onde invisible de la vidéo transmute toute notion de situation. L’image est à la fois distance et temps, elle s'étale dans la durée, sans limite, et devient hors-champ. Le temps de la peinture et de la vidéo Si la peinture se travaille sur un certain temps, ce temps est différent pour la vidéo. Le temps de la peinture serait un temps « espace », quand le temps de la vidéo serait un temps « durée ». Deleuze parle bien de deux temps pour le cinéma : le cadrage et le 5 Marc Augé, Georges Didi-Huberman, Umberto Eco, L’expérience des images, Paris, INA éditions, 2011, p. 84-85. 6 Martin Gayford, Conversations avec David Hockney, traduit de l’anglais par Pierre Saint-Jean, Paris, Seuil, 2011, p. 32. MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil montage. Et de préciser que « c’est le montage lui-même qui constitue le tout, et nous donne ainsi l’image du temps7». Par cette analyse, le geste du peintre pourrait être compris comme le geste du monteur qui, part ses choix, ses réflexions, ses analyses sur les plans qu’il est en train de monter et le traitement qu’il en fait va se retrouver et pouvoir se comparer aux techniques utilisées en peinture. Lorsque je travaille sur une vidéo, le processus de création pourrait se shématiser en trois temps : - L’étape de la recherche, durant laquelle j’étudie les lieux en fonction de mon sujet, du ressenti, de l’atmosphère. - L’étape du tournage qui pourrait se rapprocher de l’instantané puisque la captation se déroule sur le réel, sans recule, tel le reporter témoin d’une scène lors d’un voyage. - L’étape du montage qui pourrait se confondre avec l’atelier et son peintre. Un peu à la manière de Gaspart David Friedrich, je me retrouve dans une salle obscure face aux images que j’ai tourné. Ces images qui témoignent d’un réel déjà passé et qui vont se mixer avec les traces mémorielles de mes souvenirs. C’est l’instant où l’imaginaire présent chez le peintre se mélange avec le réel de l’image vidéo. C’est à ce moment précisémment que je peux prendre cette distance avec l’image filmée et ainsi l’envisager autrement. On pourrait dire que l’écran vidéo opère une mutation vers la toille sur laquelle je vais poser mes couleurs, mes lignes et ainsi libérer cette part d’intime identique que l’on pourrait retrouver en peinture. Si l’on arrive à un juste équilibre pour un film entre le passé et le futur, celui-ci en devient hors de tout temps puisque déjà filmé il ne peut être dans le présent. C’est dans cet instant que la vidéo peut devenir peinture. On perd tous symboles du réel qui pouraient définir 7 Gilles deleuze, Cinéma 2, L’image-temps, Paris, Les Editions de Minuit : 1985, p. 51. MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil l’imagerie vidéo telle qu’on la perçoit au travers des différents médias (télévision, internet…) Pour ma série de vidéos Mémoire Hors Champs, je recréer un univers proche des œuvres du XVIème siècle de la peinture flamande. Sans doute cette attirance des pays du nord liée à mes origines celtes. J’accentue également cette vision par le traitement numérique et la lenteur de l’image. Je filme de loin et en plongée permettant ce recul et cette réflexion sur soi. La caméra haute définition est installée derrière ma fenêtre. Elle est légèrement de biais orientée vers la droite. Le verre de la vitre situé entre le sujet filmé et l’objectif de la caméra est de facture ancienne. Il ondule légèrement créant une discrète déformation de l’image. Cette notion de légère mutation de la vision par des procédés installé in-situ face à moi, que je vais utiliser dans mon projet, sont autant d’éléments importants dont je dois absolument tenir compte. Il est important dans ma pratique artistique d’utiliser les altérations, les défauts d’un lieu. Je ne souhaite pas interférer sur l’élément présent. On s'attendrait pour l’image présentée, par sa fixité et son immobilité même, qu’elle immortalise son contenu, ici ces parcelles de vie. De fait, c'est souvent le rôle qui lui est assigné. On attend d’elle qu’elle fixe à jamais un moment destiné sans cela à nous échapper, une scène dont nous doutons de pouvoir nous souvenir. Toutefois, ce qu'elle nous rend maintenant n'est pas quelque chose de mort, mais au contraire une nature tout à fait vivante, telle qu'elle m’est apparue au moment de la prise de vue. Ces images ne montrent pas les lieux, elles nous y transportent. Par le traitement numérique et le jeu réalisé sur la distorsion de la vitesse, les corps des enfants perdent leur âge ; les objets, les formes deviennent hors-temps. La vitesse de l’image interdit tout rattachement au corps, permettant à la pensée de voyager dans ces souvenirs intimes. L’image semble avoir perdu toute couleur. Seuls MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil certains éléments semblent encore garder précieusement des touches colorées d’un apparat passé. Le traitement numérique opéré sur l’image lors du montage, supprime toute possibilité de reconnaissance géographique de cet espace. C’est cette idée « Invisible-Visible » que l’on retrouve dans l’art pictural chinois qui, par le trait, cultive l’art de ne pas tout montrer8. Toute perturbation de l’image dans cette vidéo pouvant rappeler la présence de la caméra est à éviter. On se retrouve devant une peinture-vidéo qui, comme un tableau doit être fixe. Le mouvement autorisé ici est celui de l’action qui se déroule dans l’image et non pas le mouvement que pourrait opérer la caméra. Celleci doit complètement disparaître de l’imaginaire du spectateur. François Cheng parlant de l’importance du vrai Vide dit que c’est lui qui, « sous forme de fumées, de brumes, de nuages ou de souffles invisibles, porte toutes choses, les entraînant dans le processus de secrètes mutations9 ». Ce Vide pourrait être cette part du corps dans le paysage. Ce corps qui, par l’utilisation de l’outil numérique, se mute dans cet espace. Ce matériau numérisé devient un témoignage intime d’un temps passé se révélant par les interconnexions de la mémoire corporelle stockées dans notre inconscient. On se retrouve «horstemps» notamment par le traitement des couleurs, mais surtout par l’importance du travail sur le temps dilaté10 . Au fil des années, on stocke des documents, des images photographiques, des « rush » vidéo, des sons, qui sont autant d’éléments de matière prévus dans notre inconscient pour un travail à venir. Cet étalement dans le temps 8 F. Cheng, Vide et plein. Le langage pictural chinois, Paris, Seuil, 1991, p. 84-85. 9 F. Cheng, op. cit, p. 46. 10 R. Cahen, Passaggi. Videodocumentazione di Cristina Nistico e Sergio Ponzio, Lucca, 2009. MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil permet à l’œuvre qui en ressort d’être hors temps, tout en « révélant des vérités plus profondes11 ». La main, geste de l’artiste. Le geste de l’artiste serait universel. Il voyage et n’a pas de frontières. C’est peut être pour cette raison que l’on peut retrouver des similitudes entre différents traitements en peinture. Puisque « L’image ne vaut que pour autant qu’elle est capable de modifier notre pensée, c’est-à-dire de renouveler notre propre langage et notre connaissance du monde12 ». Entre les scènes de vie de Peter Brueghel et celle de Kim Hong-do13, la ressemble est très frappante. Ne s’agirait-il pas de la mémoire du geste. Celui du peintre qui a parcouru le monde? Ce que l’on sait, est que ce peintre s’intéressait et connaissait la peinture occidentale. Pratiquement deux siècles séparent ces deux peintres, ce qui permet d’imaginer que la vision des peintures de Brueghel ont pu être connu par Kim Hong-do? Ne peut-on pas imaginer que le geste d’un peintre peut être étudié et assimilé par un autre peintre en observant son œuvre, comme s’il observait un paysage par exemple. On parle du passeur pour la danse contemporaine lorsqu’un(e) chorégraphe transmet son geste, le punctum de ses créations. Cette touche que l’on comprend par l’utilisation des nouvelles technologies et plus particulièrement la vidéo. Puisque si celle-ci a évolué depuis ces origines, la part technologique reste importante. Pourtant on peut observer que l’œuvre du véritable artiste traverse les âges ne se préoccupant pas de cette évolution. La dépendance à un matériau, une technique révèle cette M. Rush, Les Nouveaux Médias dans l’art, Paris, Thames & Hudson SARL, 2000, p. 29. 11 12 Marc Augé, Georges Didi-Huberman, Umberto Eco, op. cit, p. 87. La poésie de l’encre, Tradition lettrée en Corée 1392-1910, Paris, Editions de la Réunion des musées nationaux, 2005, P. 206. 13 MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil absence d’âme, de créativité. Et cette approche rejoint celle de la peinture par son évidence de la beauté révélée au public. Altérité de la vidéo Mon inconscient transcrit, transcode cette mémoire. Et c’est ce qui va s’opérer également dans toute ma pratique. La mémoire musculaire14 me fera aborder de cette même manière la cour d’école dans le choix du rythme, du cadre, du traitement de l’image, etc... Si la mémoire du corps est le moteur de la création, Gilles Deleuze explique que « L’attitude du corps met la pensée en rapport avec le temps comme avec ce dehors infiniment plus lointain que le monde extérieur15 ». Le travail en vidéo s’inscrit totalement dans une recherche plastique et je ne peux le concevoir autrement. Comme les analyses faites au début de l’ère photographique. Le rapport avec le sujet devenait différent puisque le procéder de reproduction évoluait vers un autre réel. « La nature qui parle à l’appareil photographique diffère de celle qui s’adresse à l’œil ; elle est autre, avant tout parce qu’au lieu d’un espace consciemment élaboré par des hommes, c’est un champ tramé par l’inconscient 16 ». On peut donc comprendre cette perception différente qui va s’opérer entre la vidéo et la peinture…. Par son mode de fonctionnement sur l’instant, l’objectif va capter ce qui se déroule dans son champs d’action. Cette technique semble se rapprocher du réel. Et c’est cette part volontaire que l’artiste va libérer 14 É. Chiron « La mort dans les yeux du paysage », dans É. Chiron, R. Triki, N. Kossentini (dir.), Paysages croisés. La part du corps, Paris, Publications de la Sorbonne, 2009, p 39. 15 16 G. Deleuze, Cinéma 2, L’image-Temps, Paris, Les éditions de minuit, 1985, p 247 Walter Benjamin, Petite histoire de la photographie, Paris, Editions ALLIA, 2012, P. 17. MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil après la prise de vue puis le montage vidéo, permettant l’observation de son travail. La part de l’intime Jean Markale explique que les Celtes avaient découvert depuis longtemps une sorte de catharsis 17 , cette libération de l’intime que l’artiste montre au public. Ce goût des Celtes pour les navigations extra-temporelles 18 pourrait s'assimiler à mon processus de création par l’utilisation des outils numériques pour la captation du paysage. Par le traitement numérique réalisé sur l’image, sur la vitesse, et sur le son, la vidéo révèle alors l’intimité de l’artiste au spectateur. L’outil numérique apporte cette distance avec le sujet tourné. Cet intérêt pour ce vide temporel et matériel situé entre mon corps et ce que capture l’objectif ressemble à l'intérêt de mes ancêtres pour cet espace de l'ailleurs. Il se joue quelque chose dans ce moment qui excède la prise effective du cliché. Si j’ai pris la peine de garder pour le spectateur cet entrelacement du temps et de l'espace, c'est certainement qu'il s'y révèle quelque chose de mon souvenir que je ne veux montrer. 19 17 J. Markale, Les celtes et la civilisation celtique, mythe et histoire, Paris, Payot, 1973, p. 462. 18 Ibid., p. 461. 19 “Os acasos são supreendentes. Mas, é bem um acaso quando isso atrai nossa prática artística. Foi durante minha retomada de estudos na Universidade de Paris 1 Panthéon Sorbonne, quando eu ainda morava na Bélgica, em Bruxelas que o pátio da escola que eu observava da minha janela havia dois anos se revelou em mim. Talvez eu possa ver aqui o punctum do pintor necessário à criação. Essa parte íntima que a gente nao vê, se torna evidente para mim e se revelará somente à partir da sequência, uma vez o vídeo realisado, montado e apresentado ao público. É esse elemento que pode nos surpreender, esse algo inesperado no qual fala muito bem Georges Didi-Huberman19. Trata-se aqui dos laços que me ligam à pintura, ao desenho. David Hockney explica muito bem nas suas trocas com Martin GAYFORD, após o seu regresso à Inglaterra, "Quando cheguei aqui, as barreiras foram para mim uma espécie de bagunça. Então eu comecei a desenhar num MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil pequeno livro de desenho japonês [ ... ] Depois de ter desenhado as gramas, comecei as ver realmente. "19 Compreendemos que olhar do artista confirmado pela sua mão vem analisar o que ele observou, ao fundir-se com seu sujeito de tal forma que ele o digere e pode transcrevê-lo, interpretá-lo , compartilhá-lo, para enfim conhecê-lo. A pintura e, em especial, o desenho seria esta base, a ferramenta indispensável que permitiria qualquer artista de desenvolver sua prática e revelar este íntimo ao público. O vídeo digital tem essa parte de incompreensível que prende cada um de nós. Tal como as pesquisas celtas por um além, nós percebemos nesse dualidade, uma janela impalpável entre a paisagem e nosso corpo. Essa onda invisível do vídeo modifica a natureza profunda de toda noção de situação. A imagem é ao mesmo tempo distância e tempo, ela se desprende da duração, sem limite, e torna-se fora do campo. O tempo da pintura e do vídeo Se a pintura trabalha sobre um certo tempo, esse tempo é diferente para o vídeo. O tempo da pintura seria um tempo “espaço”, enquanto que o tempo do vídeo seria um tempo “duração”. Deleuze fala bem de dois tempos para o cinema: o enquadramento e a montagem. E precisar que “é a montagem ela mesma que constitue o todo, e nos dá assim a imagem do tempo” 19 . Nesta análise, o gesto do pintor poderia ser compreendido como o gesto do montador que, faz suas escolhas, suas reflexoes, suas análises sobre os planos que ele está montando e o tratamento que ele faz vai se reencontrar e poder se comparar as técnicas utilizadas na pintura. Quando eu trabalho em um vídeo, o processo de criação se esquematiza em três tempos: -A etapa da pesquisa, durante a qual eu estudo os lugares em função do meu sujeito, do que sinto, da atmosfera. - A etapa da gravação que poderia se aproximar do instantâneo pois a captação se desenvolve sobre o real, sem recuo, tal como o repórter testemunha uma cena em uma viagem. - A etapa da montagem que poderia se confondir com o atelier e seu pintor. Um pouco à maneira de Gaspart David Friedrich, eu me encontro dentro de uma sala escura diante das imagens que eu gravei. Essas imagens que testemunham um real já vivido e que vão se mixar com os traços memorizados das minhas lembranças. É o instante onde o imaginário presente na pintor se mistura com o real da imagem do vídeo. É nesse momento precisamente que eu posso me distanciar da imagem filmada e assim a visualizar de outra forma. MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil Poderíamos dizer que a tela do vídeo opera uma mutação sobre a tela na qual eu vou colocar minhas cores, minhas linhas e assim liberar essa parte íntima idêntica que poderia se encontrar na pintura. Se chegamos a um equilíbrio para um filme entre o passado e o futuro, este se torna fora do tempo, pois como ele já foi filmado, não pode estar no presente. É dentro desse instante que o vídeo pode se tornar pintura. Perdemos todos os símbolos do real que poderiam definir o imaginário do vídeo tal qual nós o percebemos através das diferentes mídias (televisão, internet...) Para minha série de vídeos Memória Fora de Campo, eu recrio um universo próximo das obras do século XVI da pintura flamenca. Sem dúvida essa atração pelos países do norte está ligada as minhas origens celtas. Eu reforço igualmente essa visão pelo tratamento digital e a lentidão das imagens. Eu filmo de longe e essa imersão permite um recuo e uma reflexão de si mesmo. A câmera de alta definição está instalada atrás da minha janela. Ela está ligeiramente orientada para a direita. O vidro do vitrô situa-se entre o sujeito filmado e a objetiva da câmera que é antiga. Ela ondula ligeiramente criando uma discreta deformação da imagem. Essa noção de leve mutação da visão pelos processos instalados in situ diante de mim e que utilizarei no meu projeto, são elementos importantes nos quais eu tenho que levar em consideração. Na minha prática artística, é importante utilizar as alterações, os defeitos de um lugar. Eu não quero interferir no elemento presente. Espera-se para a imagem apresentada, pela sua fixação e mesmo pela sua imobilidade, que ela imortalise o conteúdo, aqui essas parcelas de vida. De fato, é frequente o papel à ela atribuido. Esperamos que ela fixe para sempre um momento destinado sem escapar uma cena na qual sem dúvida não nos lembraríamos. Todavia, o que nos devolve agora não é alguma coisa da morte, mas ao contrário, uma natureza de fato viva, tal qual me apareceu no momento do registro. Essas imagens não mostram os lugares, elas nos transportam à eles. Pela a numerização e o jogo realizado sobre a distorção da velocidade, os corpos das crianças perdem sua idade, seus objetos, suas formas tornam-se fora do tempo. A rapidez da imagem impede todo prendimento ao corpo, permitindo ao pensamento de viajar nas lembranças íntimas. A imagem parece ter perdido toda sua cor. Somente certos elementos parecem ainda guardar preciosamente os toques coloridos de um passado aparente. O tratamento numérico operado sobre a imagem no momento da montagem, apaga toda possibilidade de reconhecimento geográfico desse espaço. Essa idéia “invisível-visvel” que encontramos na arte pinctural chinesa que, pelo tratamento, cultiva a arte de não mostrar tudo 19. MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil Toda pertubação da imagem dentro desse vídeo que lembre uma câmera deve ser evitado. Nós nos encontramos diante de uma pintura-vídeo que, como um quadro, deve estar fixa. O movimento autorizado é esse da ação que se desenrola da imagem e não o movimento que poderia operar a câmera. Esse deve desaparecer completamente do imaginário do espectador. François Cheng, falando da importância do verdadeiro Vazio diz que é ele que “ sobre a forma de fumaça, neblina, nuvens ou procedentes invisíveis, traz todas as coisas, misturando-as no processo de mutações secretas” 19 . Esse vazio poderia ser essa parte do corpo dentro da paisagem. Esse corpo que, pela utilização da ferramenta digital, transforma-se no espaço. Esse material digital torna-se um testemunho íntimo de um tempo passado revelando-se pelas interconexões da memória corporal estocada dentro do nosso inconsciente. A gente se encontra “fora do tempo” de certo modo, pelo tratamento das cores, mas sobretudo pela importância do trabalho sobre o tempo dilatado19. Ao passar dos anos, a gente estoca documentos, imagens fotográficas, os “rush” de vídeo, os sons, que são elementos de matérias previstas dentro do nosso inconsciente para o trabalho a vir. Este intervalo no tempo permite à obra se lançar no ser fora do tempo, “revelando as verdades mais profundas” 19. A mão, gesto do artista. O gesto do artista seria universal. Ele viaja e não tem fronteiras. É talvez por essa razão que a gente encontra as similitudes entre diferentes tratamentos em pintura. Como “ a imagem tem validade somente pela sua capacidade de modificar nosso pensamento, quer dizer de renovar nossa própria linguagem e conhecimento do mundo”19.Entre as cenas de vida de Peter Brueghel e as de Kim Hong-do19, a semelhança é tocante. Não seria a memória do gesto do pintor que percorreu o mundo? O que sabemos, é que esse pintor se interessava e conhecia a pintura ocidental. Praticamente dois séculos separam esses dois pintores, o que permite imaginar que a visão das pinturas de Brueghel puderam ser conhecidas por Kim Hong-do? Não poderíamos imaginar que o gesto de um pintor pode ser estudado e assimilado por outro pintor observando sua obra, como se ele observasse uma paisagem, por exemplo. Falamos do passista para a dança contemporânea quando o coreógrafo trasmite seu gesto, o punctum de suas criações. Esse toque que compreendemos pela utilização das novas tecnologias e mais particularmente, o vídeo. Já que si esta evoluiu desde suas origens, a parte tecnológica continua sendo importante. Portanto podemos observar que a obra do verdadeiro artista atravessa as MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil idades não se preocupando com essa evolução. A dependência de um material, uma técnica revela essa ausência de alma, de criatividade. E toda aproximação se junta à pintura pela sua evidência de beleza revelada ao público. Alteridade do vídeo Meu inconsciente transcrive, transcodifica essa memória. E é isso que vai operar igualmente dentro de toda a minha prática. A memória muscular19 me faz abordar essa mesma maneira do pátio da escola dentro da escolha do ritmo, do enquadramento, do tratamento da imagem, etc.... Se a memória do corpo é o motor da criação, Gilles Deleuza explica que “ A atitude do corpo coloca o pensamento em relação com o tempo, como com esse “fora” infinitamente distante que o mundo exterior” 19 . O trabalho em vídeo se inscreve totalmente dentro de uma pesquisa plástica e eu não posso o conceber de outra forma como as análises feitas no início da primeira era fotográfica. A relação com o sujeito tornava-se diferente pois o procedimento da reprodução evoluia em direção a um autro real. “ A natureza que fala ao aparelho fotográfico difere dessa que se adressa ao olho; ela é outra, antes de tudo porque no lugar de um espaço conscientemente elaborado pelos homens, é uma campo tramado pelo insconsciente.”19 Podemos então compreender essa percepção diferente que se opera entre o vídeo e a pintura.... pelo seu modo de funcionamento sobre o instante, a objetiva vai captar tudo o que se passa no campo da ação. Essa técnica parece se aproximar do real. E é essa parte voluntária que o artista vai liberar depois do olhar em seguida a montagem do vídeo, permitindo a observação do seu trabalho. A parte do íntimo Jean Markale explica que os Celtas haviam descoberto há muito tempo uma espécie de liberação19, essa leveza do íntimo que o artista mostra ao público. Esse gosto dos Celtas pelas navegaçoes extra-temporais19 poderiam se assimilar ao meu processo de criação pela utilização das ferramentas numéricas para a captação da paisagem. Pelo tratamento numérico realizado sobre a imagem, sobre a velocidade, e sobre o som, o vídeo revela então a intimidade do artista ao espectador. A ferramenta numérica traz essa distância com o sujeito filmado. Esse interesse pelo vazio temporal e material situado entre o meu corpo e aquele que captura o objetivo parece interessar meus ancestrais por este espaço de outro lugar. Acontece alguma coisa nesse instante que excede a tomada efetiva do clichê. Se eu me dei o trabalho de guardar para o espectador este entrelaçamento do tempo e do MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil Hervé Penhoat, Mémoire hors Champs II, Duraçao: 40’ Imagem 1 :"Le Dénombrement de Bethléem - 1566" Brueghel / Bruxelles - Musées royaux des Beaux-Arts Imagem 2 : "Paysage à la trappe d'oiseaux - vers 1566" Brueghel / Bruxelles - Musées royaux des Beaux-Arts Tiré d'un paravent comportant 8 panneaux intitulé : "Scènes de la vie Yangban" Kim Hong-do/Collection Musée Guimet (1745-1814) Vídeo-pintura Camila Moreira À partir da obra narrada, da vídeo-pintura de Éliane Chiron e espaço, é porque certamente que à ele se revela alguma coisa da minha lembrança que eu não quero mostrar. (Trad. Gabriela Moreira) MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil Hervé Penhoat, partimos à defesa e encontro dessas duas maneiras de apresentação da cor, da forma, do gesto, dentre outras; repeitando suas particularidades dispares. Logo, chamar de pintura uma imagem em movimento nos faz adentrar as similitudes para além das discrepâncias, aonde a cor/matéria ocuparia o primeiro vislumbre representacional e ideológico. Face a uma pintura, um dos primeiros sinais que procuramos e retemos pelo sistema corpóreo retiniano é a cor ou sua ausência. Logo, por similitude, em uma projeção digital é também esse o primeiro encontro que gera a forma e retrata os componentes de seu enquadramento gravado, escolhido, narrado. Se diminuimos o volume de sombras, se ajustamos a tonalidade, enfim, se projetamos sobre essa imagem numérica qualquer ação que a deforme, anule de seu original, o que guardaremos como imagem captada será sempre: a cor. Como tudo que captamos pelo sensorial visual é cor ou ausência da mesma, o que captamos pelo sentido táctil (para os desprovidos de visão) será a cor subjacente, oculta, própria às suas faculdades. “C’est pour soutenir cette idée somme toute triviale, trop triviale que j’ai commencé par la couleur. À la différence des formes, et plus encore des figures, la couleur paraît soustraite du moins par son”effet”, par sa puissance d’affecter le sentiment, aux circonstances du contexte, à la conjucture et en general, à tout intrigue.(...)Je sais bien que la couleur change avec la lumière, les éclairages, le temps qu’il fait, et le temps qui passe.”20 Dessa 20 forma, traçamos como possibilidade de um LYOTARD, Jean François. L’inhumain. Causeries sur le temps. Paris: Galilée, 1988. p. 163. (“Para sustentar essa idéia trivial, muito trivial, aue eu comecei pela cor. Diferente das formas, e mais ainda das figuras, a cor parece substrair menos pelo seu“efeito”, pelo seu poder de afetar o sentimento, as circunstâncias do contexto, na conjuntura e em geral, à toda intriga.(...) Eu sei bem que a cor muda com a luz, a claridade, o tempo preciso, o tempo que passa.”) Moreira. Trad. Camila MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil enquadramento do vídeo em pintura, sua fluidez retida pela cor, direcionando a representação recolhida da imagem. Assim como na pintura, uma apresentação idealizada e retida pelo olhar do criador/artista; esse vídeo torna-se pictural pelas suas vertentes cromáticas, alteradas, refeitas em composição desejada pelo olhar do artista. Não se trata de um vídeo – registro, de uma imagem colhida do “real”(se assim podemos dizer), e projetada na irrealidade do tempo, captado da cena, guardado para sempre respeitando seus traços invocados. Trata-se sim de um processo pictórico, refeito em um atelier compactado pelo computador, pelas novas tecnologias, pelas novas mídias que nos afrontam e nos engolem na contemporaneidade. Essa imagem produzida como resultado de uma cena imaginária à partir da ação/figura registrada, será transformada, migrando para o pictural sua possibilidade de transgressão. “La couleur n’est pas une robe; la couleur ne devrait jamais venir sur le corps, comme un recouvrement; lorsqu’elle le fait, ele n’est qu’un linceul, ou bien un fard. (...) Et si la couleur sait montrer qu’elle n’est pas simplement déposée sur son “objet”, mais en constitue l’apparaître même, le coloris, alors, ele devient ce qui rend à la peinture le “vivant” et le “naturel” qu’elle vise tradicionellement.”21 Para denominarmos de vídeo-pintura, fica o limiar, o instante do piscar os olhos e guardar da imagem posta, a cor pulsante que em ambos os casos (nesses vídeos e na pintura) é essencial. Não cabe chamar todo vídeo de pintura; cabe aqui questionar a pintura nesse vídeo, em um repertório de semelhanças, aproximações mas também, 21 DIDI-HUBERMAN, Georges, La peinture incarnée. Paris: Les Éditions de Minuit, 1985, p. 21. (A cor nao é um vestido; a cor nunca deveria vir sobre o corpo; recobrindo; desde que ela o faz, ela nao é que uma mortalha, ou bem um fardo. (...) E se a cor sabe mostrar que ela nao é simplesmente depositada sobre seu “objeto”, mas constitue a aparência mesma, o colorido, então torna-se o que faz a pintura “viva” e o “natural” que la visa tradicionalmente.) Trad. Camila Moreira. MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil divergências. Quando comunmente pensamos o pintor em seu atelier ou face à sua pintura, pensamos sempre em uma cena (que pode ser imaginária, real, mera composição, abstrata, ilusória, etc). Se pensamos no artista e o vídeo, por que não a repetição dessa trajetória, somada à sua interferência pós-ação, gerando uma nova ação, na obra ja pré-existente? Por que ele não poderia ser assim, um pintor sem pincéis, sem tintas; mas de desejo e cor, que usou da cena, do movimento, do real e transformou em composição, em abstração, figuração, imaginário? “Ce que montre la peinture, c’est sa cause matérielle, c’est-à-dire la peinture”22. Diante da imagem projetada nesses vídeos, registradas em um outro tempo, recobertas de cor, de matéria e consequentemente de formas, temos um afrontamento de uma nova “pintura”, projetada na ação continua do vídeo, imortalizada pelo registro, presa no tempo. O pintor, face à cena retratada ou mesmo à cena sonhada, desejada, que é expulsa de seu corpo pelas ligações do mesmo; pode ser o mesmo pintor que registra, que modifica em seu computador as cores, o tempo, as formas, as luzes. Em ambos os casos, guardamos o olhar do artista, que se mantém imaculado pelo seu próprio desejo, e transmitido em obra, à estética do olhar; a cor, o cheiro, o som, que só à ele coube sentir. 22 DIDI-HUBERMAN, Georges. Devant l’image. Paris: Les Éditions Minuit: 1990, p.281. ( “O que mostra a pintura, é sua causa material, quer dizer, a pintura”)Trad. Camila Moreira. MOVÊNCIAS DA PINTURA ISSN 2316 – 2279 Uberlândia – MG – Brasil Bibliografia: AUGÉ, Marc, DIDI-HUBERMAN, Georges, ECO, Umberto. L’expérience des images. Paris : INA éditions, 2011. BENJAMIN, Walter. Petite histoire de la photographie. Paris : Editions ALLIA, 2012. CAHEN, Robert. Passaggi. Videodocumentazione di Cristina Nistico e Sergio Ponzio, Lucca, 2009. CHENG, François. Vide et plein. Le langage pictural chinois. Paris : Seuil, 1991. CHIRON, Éliane. « La mort dans les yeux du paysage »in : É. Chiron, R. Triki, N. Kossentini (dir.), Paysages croisés. La part du corps. Paris : Publications de la Sorbonne, 2009. 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Master Appropriation du Français, langue non-maternelle et dispositifs d’enseignement par apprentissage - Université de Besançon, France).