ISSN 1984-0780 - Disciplina de Infectologia
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ISSN 1984-0780 Tendências em HIV•AIDS Volume 5 - Número 4 - 2010 Editor chefe Ricardo Sobhie Diaz – Universidade Federal de São Paulo Corpo editorial Adauto Castelo Filho – Universidade Federal de São Paulo André Lomar – Hospital Israelita Albert Einstein Artur Kalichman – Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS – SP Artur Timerman – Hospital Heliópolis Breno Riegel – Hospital Nossa Senhora da Conceição, Rio Grande do Sul Celso Spada – Universidade Federal de Santa Catarina Celso Ramos – Universidade Federal do Rio de Janeiro Celso Francisco Hernandes Granato – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo David Salomão Lewi – Universidade Federal de São Paulo – Hospital Israelita Albert Einstein Eduardo Sprinz – Universidade Federal do Rio Grande do Sul Érico A. Gomes de Arruda – Hospital São José de Doenças Infecciosas do Ceará Esper Georges Kallas – Universidade de São Paulo - USP Estevão Portella – Universidade Federal do Rio de Janeiro Giovana Lótici Baggio-Zappia – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo Guido Levi – Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo João da Silva Mendonça – Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo José Luiz de Andrade Neto – Universidade Federal do Paraná Jeová Keny Baima Colares - Universidade de Fortaleza, Ceará. Jorge Simão do Rosário Casseb – Universidade de São Paulo, USP. Márcia Rachid – Assessoria de DST/Aids da Secretaria do Estado do Rio de Janeiro Marcos Montani Caseiro – Fundação Lusíadas, Santos, SP Marcos Vitória – Organização Mundial de Saúde Marinella Della Negra – Instituto de Infectologia Emílio Ribas Paulo Feijó Barroso – Universidade Federal do Rio de Janeiro Paulo Roberto Abrão – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo Reinaldo Salomão – Universidade Federal de São Paulo – Casa de Saúde Santa Marcelina Ricardo Pio Marins – Organização Panamericana de Saúde Rosana Del Bianco – Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo Shirley Cavalcante Vasconcelos Komninakis – Fundação Lusíadas, Santos – SP Simone Barros Tenore – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo Unaí Tupinambás – Universidade Federal de Minas Gerais Valdez Madruga – Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS – SP Índice ESCOLHA DOS MEDICAMENTOS NO ESQUEMA ANTIRRETROVIRAL DE RESGATE................................................................................... 5 Tânia Regina Constant Vergara SARCOMA DE KAPOSI RELACIONADO À AIDS: CONCEITOS ATUAIS........................................................................................................ 11 Ana Luiza de Castro Conde Toscano TRIM 5α: UM FATOR GENÉTICO DO HOSPEDEIRO ASSOCIADO COM SUSCEPTIBILIDADE À INFECÇÃO PELO HIV............................ 17 Joice Bueno, Wagner Alkmim e Mário Janini DA MORTE IMINENTE AO TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES - COMO EVOLUÍMOS?........................................................................... 22 Tânia Regina Constant Vergara DESTAQUES...................................................................................................................................................................................................... 25 Resumos de Dissertações e Teses.......................................................................................................................................................... 28 Atha Comunicação & Editora Planejamento Editorial, Diagramação e Produção Gráfica Rua Machado Bittencourt, 190 - Cep: 04044-000 - São Paulo - SP - Tel: 55-11-5087-9502 - Fax: 55-11-5579-5308 E-mail: [email protected] EDITORIAL Neste interessante fascículo do Tendências em HIV/aids, encontramos artigo da Dra. Vergara sobre a escolha dos medicamentos no esquema antirretroviral de resgate, analisando todas as variáveis clinicamente relevantes. A ênfase mais óbvia é na obtenção da supressão da viremia e sabemos que em casos de resistência extensa, comodidade posológica e a baixa toxicidade podem não fazer parte da realidade do tratamento de resgaste. Mas a pergunta natural que pode ser feita agora é: Em um futuro próximo, quais serão os pacientes que necessitarão de tratamento antirretroviral de resgate? Atualmente, espera-se que ao se iniciar um tratamento antirretroviral, este seja eficiente, em termos de supressão virológica, por um longo período de tempo. Os tratamentos em todo o mundo têm sido iniciados pela associação de dois análogos aos nucleosídeos associados a um inibidor não análogo aos nucleosídeos. A opção do terceiro medicamento recai sobre o efavirenz, que será cada vez mais custo efetivo no mundo, visto que o mesmo, em breve, se tornará medicamento genérico nos países desenvolvidos. A nevirapina ganha novamente fôlego a partir de resultados demonstrando sua eficácia comparável a do atazanavir com ritonavir, como demonstrado no estudo ARTEN, e pela possibilidade segura de uso em dose única diária. Suponhamos, entretanto, que ocorra falha com resistência no tratamento inicial contendo dois análogos e um não análogo aos nucleosídeos. O mais óbvio é que não se possa mais utilizar os não análogos de primeira geração e se passe a usar um esquema com inibidor de protease associado ao ritonavir ou, em futuro relativamente breve, um inibidor de protease com outro medicamento que cumpra o papel do ritonavir. Novamente, aqui se espera que a eficácia virológica seja permanente. Neste último caso, ocorrendo falha virológica, muito provavelmente não haverá resistência na protease. Assim, o resgate poderá conter qualquer outro inibidor da protease com ritonavir ou até o mesmo o mesmo inibidor da protease que estava sendo usado. Ou seja, para a obtenção da supressão da viremia nestes casos não seriam necessariamente usados os novos medicamentos ou medicamentos de outras classes. Será então que o papel dos novos medicamentos ficaria simplesmente restrito, na maior parte dos casos, aos pacientes muito antigos, com resistência mais extensa e principalmente com resistência ampla na região da protease viral? Aqui entrariam outras questões no quebra cabeças do tratamento antirretroviral: a intolerância e os efeitos adversos. Dessa forma, é importante mantermos em perspectiva que o real impacto do uso prolongado dos antirretrovirais no corpo humano ainda é desconhecido. Estamos falando aqui, talvez, de várias décadas para que estas questões sejam eficientemente respondidas. A opinião de quem escreve este editorial é de que novos medicamentos terão, no futuro, um papel importante não só no resgate, mas na substituição de medicamentos usados por pacientes que tenham efeitos colaterais. Novos medicamentos deverão ser empregados também como opções de tratamento inicial. Inibidores de integrase como o raltegravir e antagonistas do CCR5 como o maraviroque já foram aprovados para tratamento inicial pelo FDA e pelo Mercado da Comunidade Européia. Não análogos como a etravirina e rilpivirina tem sido testados como terceiro medicamento para tratamento inicial, bem como outros inibidores da integrase como elvitegravir e GSK572 (veja tudo isto na seção destaques na Cobertura da XVIII International AIDS feita pelo Dr Barbosa). Pode ocorrer também, em minha opinião, que futuras diretrizes utilizem os novos medicamentos em substituição aos análogos aos nucleosídeos em casos de efeitos adversos ao invés dos análogos em tratamentos iniciais. Ninguém mais discute hoje em dia que apesar de consideravelmente bem tolerados, esta classe (análogos aos nucleosídeos) contem os medicamentos mais tóxicos. Ricardo Sobhie Diaz 4 Artigo de Atualização Escolha dos medicamentos no esquema antirretroviral de resgate Choice of medications in the rescue antiretroviral regimen Tânia Regina Constant Vergara Disciplina Infectologia, Departamento de Medicina, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo Endereço para Correspondência: Rua Conde de Bonfim 369 sala 506 CEP 20530-080. Tijuca RJ / RJ. E-mail: [email protected] Resumo A composição de um esquema de drogas ARV eficaz e durável é um desafio diário. A abordagem do paciente em falha virológica deve primeiramente englobar a definição de falha virológica, os testes de resistência, a comodidade posológica visando melhor adesão e o conhecimento das drogas em si: Inibidores da transcriptase reversa, inibidores da protease, antagonistas de CCR5, inibidores de fusão e da integrase. A meta de tratamento para esses pacientes e carga viral abaixo de 50 copias/ml e todas as combinações podem ser usadas, desde que de forma apropriada. Descritores: HIV, Terapia ARV, Falha virológica, Combinação de drogas. Abstract The efficient and sustained ARV drugs combination is a daily challenge. The approach of the virologic failing patient should first involve the definition of virological failure, the resistence tests, posology to achieve better adherence and the knowledge of the drugs themselves. Classes of drugs such as reverse transcriptase inhibitors, protease inhibitors, CCR5 antagonists, fusion and integrase inhibitors are available. The treatment goal for these patients is viral load below 50 copies/ml and any drug combinations can be used if is appropriate fot the patient Keywords: HIV, ARV Terapy, Virological failure, Drugs combination. Dilema do dia a dia de todos os médicos envolvidos no tratamento de pacientes HIV/AIDS, a composição de um esquema antirretroviral eficaz e durável nos obriga a avaliar inúmeras variáveis, não só no que diz respeito às drogas a serem utilizadas, mas, principalmente, à viabilidade de o paciente seguir a prescrição. Devemos pensar com cuidado na abordagem inicial de um paciente em falha virológica. Primeiro passo - definição de falha virológica Definimos falha virológica como a não-obtenção ou nãomanutenção de carga viral confirmada abaixo de 400 cópias/ mL após 24 semanas ou abaixo de 50 cópias/ mL após 48 semanas de tratamento ou, ainda, para indivíduos que atingiram supressão viral completa, por rebote confirmado de carga viral acima de 400 cópias/mL1. A manutenção de um esquema na presença de falha virológica diminui, progressivamente, as opções terapêuticas futuras, com redução de eficácia e durabilidade. Os estudos EuroSIDA evidenciaram que manter um esquema falhado leva a uma média de aparecimento de 2 novas mutações de resistência e perda de 1,25 drogas antirretrovirais a cada 6 meses2 o que vai comprometer muito as opções terapêuticas posteriores3, mas devemos lembrar que estes estudos foram da era pré IP potencializado por RTV. Antes de estabelecermos o diagnóstico de falha virológica é necessário afastarmos adesão ineficiente e outras razões que possam estar prejudicando o desempenho dos Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 05-10) medicamentos utilizados. Se tudo indica que o esquema terapêutico falhou, precisamos detectar qual o perfil de resistência do vírus. Segundo passo - teste de resistência Hoje temos disponíveis, tanto na Rede Nacional de Genotipagem (RENAGENO), quanto na rede de laboratórios privados, os testes de resistência genotípica. Uma vez caracterizada falha virológica, a primeira atitude a ser tomada é a realização da genotipagem. A interpretação do resultado deve levar em conta, não só o perfil mutacional quanto a história de uso de antirretrovirais. Em um cenário onde seja impossível a obtenção do resultado do teste antes da troca da medicação, torna-se ainda mais importante a avaliação criteriosa dos esquemas antirretrovirais já utilizados e os motivos pelos quais foram mudados, se por falha ou por efeito adverso. É preciso lembrar que alguns efeitos adversos não representam contra-indicação absoluta para a reutilização do medicamento em uma situação onde outras opções estejam indisponíveis, enquanto outros efeitos adversos proíbem que usemos novamente a droga, como é o caso dos pacientes que tiveram reação de hipersensibilidade ao abacavir ou hipersensibilidade grave a nevirapina. Lembremos também das resistências cruzadas entre drogas da mesma classe. Uma vez que tenhamos o resultado da genotipagem vamos analisar qual a melhor droga para aquele paciente. Comecemos por pensar na adesão. 5 Nenhum tratamento é bom se o paciente não usa adequadamente a medicação. Deste modo, dentre as possibilidades existentes, devemos priorizar as que melhor se adéquem àquele indivíduo. Sendo um tratamento contínuo, o menor número de doses diárias, a independência do jejum ou da alimentação, o menor número de interações medicamentosas, a facilidade de transporte e conservação, por exemplo, podem fazer toda a diferença na adesão ao tratamento. Devemos ter tempo para abordarmos com o paciente, com clareza, todo o espectro de possibilidades de sucesso e insucesso. Vamos estudar possibilidades tendo em mente que o objetivo atual de todo tratamento antirretroviral, mesmo em pacientes com história de múltiplas falhas, é atingir carga viral inferior a 50 cópias/mL4,5. Comodidade posológica Hoje, praticamente, todos os antirretrovirais podem ser administrados em 1 a 2 doses diárias4,5. Dentre os inibidores de transcriptase, a didanosina (DDI), a lamivudina (3TC), a emtricitabina (Emtriva) o efavirenz (EFV) e o tenofovir (TDF) e a combinação tenofovir/ emtricitabina e a combinação tenofovir/emtricitabina/efavirenz podem ser administrados em dose única diária. No Brasil não temos disponíveis através de distribuição pelo Programa Nacional de AIDS, até o momento, nem a emtricitabina pura nem sua forma combinada ao TDF e EFV. O abacavir (ABC) ou a combinação ABC com 3TC e zidovudina (combinação não disponível no Programa Nacional DST/AIDS), a estavudina (d4T), a etravirina (ETR), a nevirapina (NVP) e a zidovudina (ZDV) pura ou combinada a 3TC devem ser administrados duas vezes ao dia. Há estudos recentes mostrando que é seguro o uso da NVP 1 vez ao dia em pacientes naive6. Na classe dos inibidores da protease (IP), doses únicas diárias de atazanavir (ATV), darunavir (DRV), fosamprenavir (FPV), lopinavir (LPV) podem ser utilizadas, com a ressalva de que o DRV, o FPV e o LPV/r devem ser utilizados em duas doses diárias naqueles pacientes que não sejam virgens de IP. O uso de IP potencializado com ritonavir (RTV; r) deve ser obedecido, exceto em raros casos nos quais não seja possível, já que esquemas de IP/r mostraram-se mais eficazes e duráveis pelo menor risco de desenvolvimento de resistência. A enfuvirtida (ENF), o maraviroque (MVC) e raltegravir (RAL), inibidor de fusão, antagonista de CCR5 e inibidor de integrase, respectivamente, são todos administrados duas vezes ao dia. Os prós e os contras de cada droga na hora de compor um esquema de resgate. Qualquer esquema terapêutico com, pelo menos, duas drogas plenamente ativas pode ser utilizado, dependendo da capacidade de aceitação do paciente e dos medicamentos ativos. Precisamos escolher o que melhor se adéqua ao paciente. Para a composição de um novo esquema antirretroviral é necessário que este contenha pelo menos duas, mas, idealmente, três drogas plenamente ativas4,7-12 6 Inibidores da Transcriptase Reversa nucleosídeos e nucleotídeos ITRN Amplamente utilizado como droga única ou em esquemas com duplas de análogos, apesar de ser uma droga que requer várias mutações para que atinja altos níveis de resistência, a ZDV pode estar seriamente comprometida nos esquemas de resgate devido ao acúmulo de mutações associadas aos análogos da timidina (TAM)13-15 que emergiram durante as falhas terapêuticas prévias. A presença de TAM pode conferir resistência ao d4T e parcialmente ao ABC, DDI e TDF. Também extensivamente usado em esquemas duplos estão a didanosina e a lamivudina. A didanosina, no momento atual, pode ser substituída, na maioria das vezes, por drogas menos tóxicas e mais ativas. A mutação M184V, principal mutação de resistência ao 3TC e que confere resistência parcial ao ABC e ao DDI, por outro lado reduz a capacidade replicativa do HIV em relação ao vírus sem esta mutação16-18 e é capaz de hipersusceptibilizar e agir sinergicamente com a ZDV e o TDF. Para que o efeito benéfico da M184V permaneça nos esquemas de resgate é importante lembrar que é necessário manter a lamivudina como parte do esquema ARV. Por sua elevada toxicidade mitocondrial a estavudina está com seu espaço cada vez mais restrito, especialmente porque novas drogas com potência igual ou superior estão disponíveis19-21 . O tenofovir tem sido utilizado, não só em esquemas iniciais, mas como parte de esquemas de resgate já que, mesmo na presença de mutações de resistência pode ter seu efeito resgatado total ou parcialmente na presença da M184V. Alguns estudos evidenciam que o desenvolvimento de insuficiência renal é mais frequente com o uso do TDF do que com outros ARV e outros nos quais não foram encontradas diferenças entre o TDF e outros ITRN2226 . Estudos recentes apontam para a tendência de maior risco de desenvolvimento de insuficiência renal com uso prolongado de TDF26-28. O estudo EuroSIDA encontrou um aumento de 16% do risco relativo de desenvolver doença renal crînica, por cada ano de uso do TDF29. ITRNN O efavirenz é uma droga de administração única diária, bem tolerado pela maioria e se mostra muitíssimo eficaz no tratamento antirretroviral30-32. Tem a possibilidade de levar ao aparecimento de sintomas relacionados ao sistema nervoso central que podem chegar a ser impeditivos do seu uso. Um exemplo desta situação ocorre com indivíduos que necessitem de muita atenção no trabalho para evitar acidentes. Seu uso está, até o momento, contra-indicado durante a gestação o que nos obriga a prescrever com bastante cautela em mulheres em idade fértil. Alimentos gordurosos podem elevar a área sob a curva (AUC) do EFV e aumentar os efeitos adversos. Pode se usado em pacientes com insuficiência renal na dose padrão. A potência da nevirapina é semelhante a do EFV em pacientes naive33. Não necessita de ingestão de alimentos e apresenta perfil lipídico favorável. É o único ITRNN recoTendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 05-10) mendado para grávidas. Devido ao elevado risco de hepatotoxicidade, seu uso deve ser evitado em mulheres com CD4 basal acima de 250 células/mm³ , em homens com CD4 >400/mm³ e em pacientes com hepatopatias4,34-36. Reação e hipersensibilidade grave pode ocorrer em mais de 15% dos pacientes37,38. Esta droga mostrou-se segura como estratégia de simplificação de esquema em pacientes já com experiência com IP39-41. É extremamente importante que, ao examinar um teste de resistência do qual estejam ausentes mutações de resistência aos ITRNN, como o EFV e a NVP, seja levado em consideração se o indivíduo está em uso de uma destas drogas, se alguma delas foi usada no passado e se, neste caso, há história ou possibilidade de falha em uso desta medicação. A resistência cruzada entre esta classe de drogas é elevada 42-44 e, por isso, mesmo na ausência de mutações específicas na genotipagem, se há história de falha possível a qualquer uma das duas ou a delavirdina, elas devem ficar de fora da composição do novo esquema. Devemos lembrar que a manutenção de um IRTNN falhado pode comprometer o resgate com a etravirina, já disponível no mercado e que tem uma maior barreira genética que seus companheiros de classe. Ela é capaz de agir sobre HIV que tenha a mutação K103N, mas sua atividade varia de acordo com o número de mutações45. A presença da mutação Y181C, selecionada pela NVP e o maior número de mutações de resistência são as maiores causas de resposta diminuída a ETR. A presença de TAM, M184V, 69D/N e 74I/V conferem hipersusceptibilidade a ETR45. As análises post-hoc dos estudos DUET demonstraram que em pacientes em falha terapêutica, com mutações de resistência na protease, a inclusão da etravirina a um esquema com DRV/r reduz a incidência de rebote virológico e limita o desenvolvimento de resistência aos inibidores da protease, particularmente ao darunavir.46 Inibidores da Protease Em pacientes sem história prévia de uso de IP, qualquer IP/r poderá ser utilizado. Pacientes em primeira falha terapêutica em uso de TARV contendo IP potencializado por RTV, em geral, não apresentam mutações de resistência a IP e a falha provavelmente está associada à adesão inadequada, interações medicamentosas ou não uso do RTV. O atazanavir, recomendado sempre em associação com RTV, em especial em esquemas de resgate, apresenta a vantagem de poder ser administrado 1 vez ao dia. Exceto pelas dificuldades de alguns pacientes em manter o RTV em geladeira (o que é necessário devido à nossa formulação em cápsulas), em geral é um esquema muito bem aceito. O paciente só terá que tomar os medicamentos uma vez ao dia, desde que os outros ARV também sejam de tomada única. Necessita ser ingerido com alimentos. A icterícia decorrente da alteração na conjugação da bilirrubina é, em geral, leve ou moderada, mas pode causar um desconforto ao paciente. Trata-se de um IP, que mesmo quando associado à RTV tem um efeito muito pequeno sobre a resistência insulínica e os lipídios. Os inibidores de bomba são contra-indicados e, diante da impossibilidade da suspensão deles o ATV deve ser substituído. O ATV tem sido relacionado ao desenvolvimento de insuficiência renal Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 05-10) em um alguns pacientes47,48. O estudo EuroSIDA, cuja base de dados contém as informações de saúde de aproximandamente 17.000 pessoas em 35 países, encontrou um aumento de 21% do risco relativo de desenvolver insuficiência renal para cada ano de uso do ATV, independente do uso associado de TDF.29 Precisamos ficar atentos em caso de falha terapêutica em pacientes que já usaram IP já que o ATV tem uma barreira genética inferior aos demais IP hoje utilizados. Pacientes que no passado falharam com IP não associado à RTV e que foram resgatados com ITRNN costumam ter um número razoável de mutações na protease, algumas das quais podem desaparecer após anos sem pressão da droga. Conforme demonstrado nos estudos Klean e Alert a eficácia do fosampreanavir/r é semelhante a do LPV/r e ATV/r. O FPVé uma boa opção no que diz respeito ao perfil lipídico e resistência insulínica, quando potencializado com 100 mg de RTV. Neste caso, pode ser administrado em dose única diária de 1400 mg (2 comprimidos)32, conforme já publicado em consensos internacionais4,49. Se for administrado uma vez ao dia, em esquema que contenha EFV, a dose de RTV precisa ser aumentada para 300 mg. Para pacientes com história de falha virológica prévia a IP, esta opção posológica não está indicada, devendo ser obedecida a dose de 700 mg FPV + 100 mg RTV a cada 12 horas. Não há necessidade de ajuste de dose em pacientes com insuficiência renal, cada vez mais comum quanto maior a idade dos pacientes.O estudo observacional independente de Calza at al50, com 82 pacientes em uso de FPV/r ou LPV/r, demonstrou incidência significativamente menos de diarréia e de hipertrigliceridemia no grupo em uso de FPV/r. O lopinavir/r tem como maior vantagem ser o IP/r com o maior tempo de observação. Sua eficácia na supressão virológica está, portanto, muito bem documentada51. Ser co-formulado com RTV representa, para muitos uma vantagem, já que dispensa o uso da geladeira. Seu uso 1 vez ao dia também é permitido para pacientes sem história prévia de falha. Para TARV subsequente deve ser usado a cada 12 horas. Tem alta barreira genética o que favorece seu uso em esquemas de resgate. Uma de suas de desvantagens é a alteração lipídica e a resistência insulínica. Dos IP disponíveis, a maior barreira genética é a do darunavir. O grau de resistência ao DRV pode ser avaliado através de um sistema de escore que leva em conta o número de mutações principais52. É uma droga de potencia elevada e tem excelente atividade contra HIV resistentes a outros IP7,53-58. Tem boa tolerabilidade, tem menos efeitos sobre os lipídios46. Em esquemas de resgate a dose é de 600mg a cada 12 horas, cada dose associada a 100mg de RTV, com alimentos. O tipranavir, medicamento não distribuído pelo Programa Nacional de DST/AIDS é ativo contra muitas cepas resistentes a outros IP, mas sua eficácia é reduzida se a resistência é extensa58,59. Deve ser utilizado em duas doses diárias, com alimento. Possui inúmeras interações medicamentosas. Não pode ser utilizado em combinação com a ETR. Necessita ser potencializado com 400mg de RTV/dia o que aumenta os efeitos adversos, como hepatotoxicidade, distúrbios lipídicos e sangramento no sistema nervoso central. 7 Antagonista de CCR5 O melhor momento para se pensar no uso de antagonista de CCR5 em esquemas de resgate é, por uma questão lógica, nas primeiras falhas virológicas já que, quanto mais antiga é a infecção, maior a probabilidade que o vírus R5 altere se tropismo para X4. Sabe-se que quanto maior o número de falhas terapêuticas, mais alta a frequência de vírus X460. O único antagonista de CCR5 aprovado é o maraviroque. Esta classe de drogas interfere com o CCR5, um dos coreceptores utilizados pelo HIV para penetrar na célula. O teste de tropismo determina que receptor está sendo utilizado, naquele momento para a entrada do HIV na célula, ou seja, se o vírus está se ligando a célula CD4 do hospedeiro através do co-receptor CCR5 ou do CXCR4. Chama-se de vírus R5 trópico àquele que usa apenas o coreceptor CCR5. O teste de tropismo standard é fenotípico e o que esta disponível é o Trofile (Monogram Biosciences). Para a realização deste teste é necessário que a carga viral seja ≥ 1000 cp/mL. O exame é de custo elevado e a atual versão é mais sensível que a primeira61. Um teste gentípico de acurácia comparável ao teste fenotípico foi desenvolvido pelos pesquisadores da University of British Columbia62. O teste examinou a alça V3 da proteina do envelope viral para determinar o tropismo, o que foi feito em uma genotipagem standard. O estudo comparou os resultados do Trofile com o teste genotípico quanto a capacidade de predizer resposta (nas semanas 8 e 24) nos 1216 pacientes que participaram dos estudos MOTIVATE 1 e 2 e do A40010269,10,62,63 que avaliaram a resposta ao maraviroque em pacientes já com experiências prévias de tratamento. O estudo demonstrou alto grau de concordância entre o Trofile e o teste genotípico da alça V3, sendo o segundo muito mais rápido e barato. Estudo genotípico foi validado no Brasil e já está disponível.64 Uma vez determinado se o vírus R5 trópico, o MVC, cuja eficácia e segurança foram demonstradas nos estudos, pode ser utilizado10. Deve ser administrado a cada 12 horas, com ou sem alimento. Inibidor de integrase O único inibidor de integrase disponível até o momento é o raltegravir. Este medicamento mostrou-se eficaz como parte dos esquemas iniciais de tratamento e de resgate8,65,66. Trata-se de uma droga de alta potência, que deve ser administrada 2 vezes ao dia, sem restrição dietética e não induz nem inibe o citocromo P450. No estudo Switchmrk67 os pacientes que substituiram o LPV/r por RAL tiveram maior taxa de falha na semana 24, talvez porque muitos pacientes haviam falhado com nucleosídeos e as mutações arquivadas teriam deixado o RAL em desvantagem em relação ao IP/r. Um novo estudo randomizado com 222 pessoas selecionadas com CV <50 por mais de 24 semanas de tratamento com TARV contendo IP e dividiram em dois grupos, um recebendo 800 mg de RAL uma vez ao dia e o outro cm 400 mg 2 vezes. Trinta e três por cento dos voluntários tinham registro de resistência a nucleosídeo. Falha virológica ocorreu em 6% dos participantes e em apenas um não havia história de resistência a nucleosídeo. Neste pequeno estudo, trocar IP por RAL não teve impacto negativo, desde que não houvesse registro de mutações de resistência a nucleosídeos. Os estudos Switchmrk67 também demonstraram que a substituição do LPV/r pelo RAL promoveu importante redução nos lipídios. Inibidor de fusão A enfuvirtida (ENF) é o primeiro inibidor de entrada aprovado para uso no tratamento da AIDS que pode ser uma importante opção terapêutica para pacientes em falha virológica que não tenham ou não possam se utilizar das drogas de administração oral. Embora de barreira genética muito baixa, a ENF é uma droga de potência elevada que se mostrou muito eficaz em todos os estudos de pacientes em falha virológica do qual foi um dos componentes do esquema de tratamento7,12,65,69-70. Possui a desvantagem de só estar disponível em formulação injetável por via SC a cada 12 horas, sendo comuns as reações nos locais de injeção. Pode ser aplicada em pacientes com insuficiência renal e hepática. Apesar dos incovenientes relacionados a via de administração, a ENF não deve ser esquecida em situações onde poderá ser uma das poucas opções de drogas ativas para compor um esquema ARV eficaz. Concluindo Para o correto manejo do paciente em falha terapêutica, devemos estar atentos para problemas com a adesão, história de tratamento antirretroviral, falhas prévias, eventos adversos, intolerância, interações medicamentosas, co-morbidades e por fim evitarmos, a menos que impossível, iniciar novo tratamento sem o resultado do teste de resistência feito em vigência do tratamento em falha. A meta atual é de supressão virológica abaixo de 50 cópias/mL para todos os pacientes. Podemos usar qualquer combinação de drogas, desde que de forma apropriada. Referências 1. Gallant JE. Approach to the treatment-experienced patient.Infect Dis Clin N Am. 2007: 21: 85-102. 2. Cozzi-Lepri A, Phillips AN, Ruiz L, Clotet B, Loveday C, Kjaer J, Mens H, Clumeck N, Viksa L, Antunes F, Machada L, Lundgren JD. 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Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 05-10) Artigo de Atualização SARCOMA DE KAPOSI RELACIONADO À AIDS: CONCEITOS ATUAIS AIDS associated Kaposi sarcoma: an update Ana Luiza de Castro Conde Toscano1,2 1 - Instituto de Infectologia Emílio Ribas 2 - CRT/DST-AIDS São Paulo Endereço para Correspondência: Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS. Av. Santa Cruz, no. 81. Hospital-Dia. 2°. andar. CEP 04121-000 E-mail: [email protected] RESUMO Embora descrito desde 1872, o Sarcoma de Kaposi (SK) atingiu importância clínica mundial como doença oportunista já nos primeiros relatos da epidemia de AIDS. Ainda hoje, o SK permanece como a neoplasia mais freqüente em indivíduos com infecção pelo HIV e é uma doença definidora de AIDS. O uso da Terapia Antirretroviral Altamente Efetiva (HAART) levou a uma redução importante na incidência do sarcoma de Kaposi. Apesar disso, pacientes que respondem a terapia antirretroviral continuam a ser diagnosticados com SK, sendo a baixa contagem de células CD4 considerada fator fortemente associado à incidência de SK. O objetivo do tratamento é diminuir a morbidade, mortalidade, a progressão da doença sistêmica e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Para todos é recomendado iniciar ou manter HAART. Apesar das atividades atiangiogênicas descritas para os Inibidores de Protease, não há diferenças em tempo de resposta e risco de desenvolvimento da doença entre pacientes utilizando ITRNN ou IP. As antraciclinas lipossomais substituíram a quimioterapia convencional por sua eficácia semelhante com menor toxicidade. Este artigo visa uma atualização a respeito de fatores etiológicos, prognósticos e terapêuticos do SK relacionado à AIDS, além de descrever o impacto do HAART no desenvolvimento dessa neoplasia. Descritores: AIDS, Sarcoma de kaposi, HAART. ABSTRACT Although described since 1872, Kaposi’s sarcoma (KS) reached clinical importance worldwide as an opportunistic disease since the first reports of epidemic AIDS. Nowadays, KS remains the most common cancer in individuals with HIV infection and it is an AIDS defining illness. The use of highly effective antiretroviral therapy (HAART) has led to a significant reduction in the incidence of Kaposi’s sarcoma. Nevertheless, patients responding to antiretroviral therapy continue to be diagnosed with KS, with low CD4 cell count considered significant factor associated with the incidence of KS. The goal of treatment is to decrease morbidity, mortality, progression of systemic disease and improve quality of life of patients. For all patients is recommended to initiate or maintain HAART. Despite the anti-angiogenic activities described for the protease inhibitors, there are no difference in response time and risk of developing the disease among patients using NNRTI or PI. Liposomal anthracyclines have replaced conventional chemotherapy for their similar efficacy with less toxicity. This article seeks an update regarding etiologic factors, prognosis and treatment of AIDS-related KS, and to describe the impact of HAART on the development of this neoplasia. Keywords: AIDS, Kaposi´s sarcoma, HAART Introdução O sarcoma de Kaposi é definido como uma neoplasia de células endoteliais de capilares e células conectivas perivasculares (mesenquimais) de origem multicêntrica. Embora descrito desde 1872, em sua forma clássica1, o Sarcoma de Kaposi (SK) atingiu importância clínica mundial como doença oportunista já nos primeiros relatos da epidemia de AIDS em 19812. Quase três décadas depois, apesar dos avanços no diagnóstico e terapia dos portadores de HIV/ AIDS, o sarcoma de Kaposi permanece como a neoplasia mais freqüente em indivíduos com infecção pelo HIV3 e é uma doença definidora de AIDS. Este artigo visa uma atualização a respeito de fatores etiológicos, prognósticos e terapêuticos do Sarcoma de Kaposi epidêmico (relacionado à AIDS), bem como o impacto da terapia Antirretroviral Altamente Efetiva no desenvolvimento dessa neoplasia. Aspectos epidemiológicos Em 1994 foi identificado fragmentos de DNA de um novo herpes vírus em uma lesão de pele de um paciente com AIDS e SK denominado Herpes vírus Humano Tipo 8 (HHV-8) ou Herpes Vírus relacionado a Sarcoma de Kaposi (SKHV), posteriormente, foi identificado em biópsias de lesões de SK Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 11-16) 11 procedentes de pacientes com SK em suas quatro variantes clínicas: Clássica, Endêmica ou Africana, Relacionada a transplantes ou Iatrogênica e Epidêmica ou Relacionada à AIDS4. A via principal de transmissão do HHV8 acredita-se que seja a sexual. Alguns autores acreditam que existem outras vias de disseminação como horizontal, vertical e parenteral. Embora identificado um agente etiológico, existem vários fatores que contribuem à expressão da doença e que ainda não estão completamente esclarecidos, como o papel das citocinas, hormônios e fatores geográficos5. Epidemiologicamente, a distribuição geográfica do SK, varia de acordo com o gênero, contato sexual, raça, idade, país de origem e nos pacientes HIV positivos segundo a forma de infecção. Pacientes com AIDS apresentam risco 20.000 vezes maior que de apresentar a doença os outros pacientes imunossuprimidos6. Predomina em homens jovens homossexuais ou bissexuais (95% dos casos), 20 vezes mais frequente que nos pacientes com AIDS não homosexuais em similares graus de imunosupressão. A baixa prevalência entre mulheres é similar à encontrada em pacientes HIV+ hemofílicos (1%), ou UDEV heterossexuais (3%)7. Mulheres infectadas pelo HIV, parceiras de homens bissexuais com SK, apresentam risco aumentado de desenvolverem SK, quando comparadas com outros grupos de mulheres HIV +8. Fatores de risco para o desenvolvimento do SK O herpes vírus humano 8 (HHV-8) é encontrado em todas as formas de Sarcoma de Kaposi e sua presença é necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento do SK9, 10. A infecção pelo HIV é um dos mais importantes preditores do risco de SK em indivíduos infectados pelo HHV-8. A proteína Tat do HIV (um produto do gene de transativação) age como um co-fator no desenvolvimento do SK, estimulando a angiogênese11. Camundongos transgênicos, possuindo o gene tat desenvolveram lesões angiogênicas semelhantes às do SK12. A proteína tat liga-se às proténas expressas nas células fusiformes do SK, estimulando a proliferação dessas células e induzindo a produção de citocinas inflamatórias que, consequentemente, estimulam a angiogênese13. Alguns estudos demonstram que elevada viremia do HHV-8 está associada com o risco de desenvolvimento e progressão do SK14,15, assim como elevados níveis de anticorpos contra os antígenos de latência e líticos do vírus16. No Brasil, os títulos de HHV-8 tiveram correlação com níveis de imunossupressão, mas nenhuma correlação foi encontrada entre títulos de anticorpos contra HHV-8 e estágio do SK17. Outro estudo brasileiro encontrou correlação da detecção de altas taxas do DNA do HHV-8 com a presença de lesões viscerais de SK, sugerindo a viremia como marcador prognóstico de tumor em pacientes com AIDS e SK18. Impacto do HAART O uso da Terapia Antirretroviral Altamente Efetiva (HAART) levou a uma redução importante na incidência do sarcoma de Kaposi19, 20, 21. O uso da HAART prolonga a sobrevida global de pacientes com SK e está associado a uma redução de 80% do risco de morte22, O SK responde à terapia antirretroviral (TARV) 12 em 50% dos pacientes23,24 e HAART está associado com prolongada tempo para falha do tratamento em pacientes tratados com terapia sistêmica específica25. Há várias explicações possíveis para essas constatações: a inibição da replicação do HIV e da produção e liberação da proteína Tat do HIV-1, um fator de progressão do SK, a melhoria das respostas imunes contra humanos herpesvirus 8 (HHV8), e os efeitos antiangiogênicos diretos de alguns inibidores da protease26, 27. Um estudo envolvendo 57.350 pacientes HIV positivos realizado nos EUA demonstrou uma queda significativa na incidência a partir de 199628. O mesmo foi observado em outro estudo avaliando a incidência de SK nos EUA de 1973 a 1998 6 . Em uma análise combinada de indivíduos HIV positivos da América do Norte, Europa e Austrália, foi obeservada uma queda de incidência de aproximadamente três vezes nos períodos de 1992 a 1996 e 1997 a 19993. A incidência de SK como doença definidora de AIDS também regrediu de 25,6 casos por 1000 pessoas-ano no início dos anos noventa para 7,5 pessoas-ano entre 1996 e 1997 em uma coorte multicêntrica envolvendo 1813 homens infectados pelo HIV-129. No Estado de São Paulo, a importância do sarcoma de Kaposi como doença definidora de AIDS caiu de 4,6% dos casos notificados de AIDS no período de 1990-1995 para 1,6% no período de 2001-2005. Ainda assim, o sarcoma de Kaposi predomina como a neoplasia mais incidente nos indivíduos com HIV30. Vale ressaltar que os casos de SK diagnosticados no Brasil, após o indivíduo ter sido notificado com AIDS, não são registrados sistematicamente, havendo, portanto, um número maior de casos de SK do que consta nos registros oficiais. A queda de incidência de SK, entretanto, não pode ser unicamente atribuída à queda na incidência de infecção pelo HHV-8, desde que foram demonstradas taxas de prevalência de HHV-8 constantes em homens homossexuais em São Francisco, desde o início da epidemia do HIV31. Em um estudo conduzido na França de óbitos relacionados a doenças malignas entre indivíduos infectados pelo HIV, o SK foi responsável por apenas 2% dos óbitos e não houve alteração na proporção de óbitos atribuídos ao SK entre as análises realizadas em 2000 e 200532. Um estudo clínico randomizado demonstrou que indivíduos que interromperam o uso da terapia antirretroviral apresentaram maior risco de desenvolverem doenças malignas relacionadas à AIDS, incluindo o SK, do que os indivíduos que utilizam HAART de forma initerrupta (1,9 versus 0,3 para SK, respectivamente)33. Apesar disso, pacientes que respondem a terapia antirretroviral continuam a ser diagnosticados com SK, sendo a baixa contagem de células CD4 considerada fator fortemente associado com a incidência de SK34, 35, 36, 37. Um estudo realizado no Estado de São Paulo demonstrou que 64,1% dos indivíduos notificados de AIDS tendo SK como doença definidora apresentava contagem de células CD4 < 200 células/mm3 36. Apresentação clínica SK-AIDS O acometimento cutâneo das lesões de SK é o mais comum. Geralmente, apresenta-se multifocal e simétrico. As lesões podem surgir rapidamente em poucos dias, inicialmente como Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 11-16) máculas, pápulas e nódulos. Variam desde lesões mínimas, como um achado incidental ao exame físico, até apresentações graves com grande morbimortalidade. Antes da era HAART, a apresentação oral correspondia a 30% das manifestações de SK no paciente com AIDS38. O envolvimento de estruturas anexiais ocular acontece em 20% e a lesão de conjuntiva era relativamente freqüente e benigna. As lesões podem sumir espontaneamente, mesmo que apareçam outras em áreas próximas. As manifestações orgânicas podem se dividir em mucocutâneas e viscerais, sendo esta última a mais comumente ameaçadora da vida. O Trato Gastrointestinal (TGI) está envolvido em aproximadamente 40% dos pacientes com diagnóstico inicial de SK e 80% nas autópsias. Pode haver acometimento na ausência de lesões cutâneas. A endoscopia é um bom exame para diagnóstico e são visualizados nódulos hemorrágicos isolados ou confluentes em qualquer porção do TGI. A biópsia pode ser negativa, pois as lesões tendem a ser submucosas39. No Trato Respiratório, os pacientes afetados poderão apresentar taquipnéia, febre, tosse, hemoptise ou dor torácica. O SK promove ambos os padrões radiológicos nodulares e intersticiais. O acometimento parenquimatoso clinicamente se manifesta por dispnéia, hipoxemia, tosse seca, hemoptise, febre e ocasionalmente insuficiência respiratória. Lesões endobrônquicas de cor violáceas podem ser vistas em mucosas das vias respiratórias baixas ou altas. Essas lesões são geralmente assintomáticas, mas pode surgir tosse intratável, roncos, hemoptise, obstrução de vias aéreas superiores e atelectasias. Geralmente, a biópsia não é necessária devido à apresentação típica das lesões. Derrames pleurais são observados em 2/3 dos pacientes com SK parenquimatoso e ocasionalmente como um achado isolado40. O SK-AIDS causa significativa morbidade com disfunção orgânica como obstrução linfática ou falência pulmonar rapidamente progressiva. Outros órgãos como faringe, coração, medula óssea, trato urogenital e rins são menos acometidos. Apresentação em cérebro e lesão intraocular é extremamente raro, provavelmente pela falta de drenagem linfática local41, 42. Fatores prognósticos O sistema mais amplamente utilizado para estabelecer critérios de prognóstico, tratamento e resposta terapêutica foi desenvolvido pelo AIDS Clinical Trials Group (ACTG)43 que divide os pacientes em grupo de risco favorável e desfavorável e leva em consideração os seguintes critérios: extensão do tumor (T), severidade da imunossupressão (I), outras doenças associadas à infecção pelo HIV-1 (S). Os pacientes são classificados em melhor risco (O) ou pior risco e a sobrevivência é significantemente mais curta em pacientes com pobre risco para cada variável TIS, como se segue: Tumor (T) Melhor Risco: Confinado à pele, gânglios e/ou pequenas lesões orais. Pior Risco: SK visceral, lesões orais extensas e lesões cutâneas associadas a edema e/ou ulcerações. Sistema Imune (I) Melhor Risco: CD4 > ou = 200 céls/mm3. Pior Risco: CD4 < ou = 200 céls/mm3. Doenças Sistêmicas (S) Melhor Risco: Sem história de Infecção Oportunista. Índice de Karnofsky > 70. Sem sintomas constitucionais. Pior Risco: Com história de Infecções Oportunistas ou outras patologias associadas ao HIV (ex: linfoma). Índice de Karnofsky < 70. Com perda de peso > 10% e/ou temperatura > 37,8°C por mais de duas semanas. Em 1993, estes fatores foram revistos e os níveis de CD4 não pareceram estar relacionados a fatores prognósticos44. Tratamento Para pacientes com AIDS e Sarcoma de Kaposi, o advento do HAART aumentou a sobrevida de forma geral e reduziu a mortalidade em cerca de 80%, além de prolongar a sobrevida em pacientes com SK pulmonar que também fazem uso de quimioterapia. O objetivo do tratamento é diminuir a morbidade, mortalidade, a progressão da doença sistêmica e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Para todos é recomendado iniciar ou manter terapia HAART. Vários estudos apontam a que a interação entre os mecanismos imunológicos desencadeados pelos vírus HIV e HHV8 como a indução da expressão de genes, produção de citocinas e a potencialização da patogenicidade de ambos. Terapia antirretroviral O uso de inibidor de protease (IP) no esquema HAART foi descrito em vários estudos como efetivo para a remissão de lesões de SK em pacientes com AIDS. Os IPs bloqueiam a enzima necessária para a produção de partículas virais 45. Também provocam remissão completa e parcial das lesões de sarcoma46. Um estudo com administração sistêmica de indinavir ou saquinavir em cobaias bloqueou o desenvolvimento e induziu regressão de lesões angioproliferativas SK-like, demosntrando potente ação anti-angiogênica e antitumoral47. Entretanto, um estudo clínico recente, objetivando avaliar a resposta do SK às terapias antirretroviral e específica, evidenciou que o uso recente de HAART foi o único fator associado com resolução e ambos HAART e quimioterapia foram independentemente associados com melhora clínica, sugerindo que a introdução de ambos possa induzir a uma resposta inicial ao SK, embora somente o HAART estivesse associado com completa remissão da doença. Este mesmo estudo demonstrou não haver diferença em tempo de resposta entre pacientes utilizando Inibidor da Transcriptase Reversa Não-Nuncleosídeo (ITRNN) ou IP, ou IP-Ritonavir48. Este fato também já havia sido relatado anteriormente49. Da mesma forma, foi demonstrado que o uso de HAART com IP ou ITRNN é igualmente efetivo como fator protetor ao desenvolvimento de SK50. Terapia Local O tratamento local para o SK que podem reduzir ou mesmo erradicar as lesões, porém as recaídas são freqüentes. É particularmente útil nos casos de lesões sintomáticas ou esteticamente estigmatizantes. Não previne o aparecimento de lesões em áreas não tratadas. Os principais são: Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 11-16) 13 Crioterapia: O uso tópico de nitrogênio líquido para lesões cutâneas tem mostrado bons resultados, evidenciando 85% de resposta parcial ou completa em 11 semanas de tratamento, independente da contagem de células CD4. Os efeitos colaterais são dor e queimaduras51. Quimioterapia intralesional e tópica: Em lesões cutâneas, a terapia intralesional com vincristina ou vimblastina gera 74% de resposta clínica parcial ou completa. Hiperpigmentação é o principal efeito adverso à droga52. Radioterapia: Antes da epidemia da AIDS, a radioterapia foi a primeira forma de terapia local para Sarcoma de Kaposi não-AIDS. Pacientes com AIDS, com poucas lesões em área limitada, podem ser tratados com radiação, sendo relatado alívio sintomático e redução tumoral53. Entretanto, a maioria dos pacientes com baixo risco, obtém resposta com uso de HAART, sendo discutível a necessidade de terapia específica para SK nesses casos. Terapia Sistêmica Para os pacientes com doença disseminada, progressiva ou sintomática, a terapia sistêmica está indicada com quimioterapia citotóxica. Existem basicamente sete tipos de agentes quimioterápicos que podem ser usados isolados ou em combinação: vimblastina, vincristina, bleomicina, doxorrubicina, doxorrubicina lipossomal e daunorrubicina lipossomal e paclitaxel. A combinação de doxorubicina, bleomicina e vimblastina podem alcançar taxas de resposta entre parcial e completa em até 88% dos pacientes54, porém, atualmente, esta combinação foi amplamente substituída por novas drogas menos tóxicas. Ensaios clínicos randomizados multicêntricos, mostraram eficácia igual ou maior à quimioterapia convencional (ABV), em relação à taxa de resposta, porém foram observados menos efeitos colaterais com o uso de antraciclinas lipossomais55, 56. Doxorrubicina lipossomal: É eficaz mesmo nos pacientes que tiveram progressão dos tumores recebendo doxorrubicina convencional. Em ensaio controlado, 258 pacientes foram randomizados usando doxorrubicina lipossomal e esquema ABV. A taxa de resposta foi maior no grupo com doxorrubicina lipossomal (46% versus 25% ; p< 0.001) e foi associada a menor toxicidade56. Daunorrubicina lipossomal (DL): Em estudo controlado e randomizado, 227 pacientes usaram a daunorrubicina lipossomal e a combinação ABV, mostrando maior eficácia no grupo que usou DL (28% versus 25%). Os efeitos colaterais foram menores no grupo que usou a daunorrubicina lipossomal57. Paclitaxel: é uma droga que apresenta propriedades antiangiogênicas58. Apesar de sua maior toxicidade se comparado as antraciclinas, esta droga tem demonstrado boa eficácia como tratamento de segunda linha para o SK. Apresenta metabolização no citocromo P450, com interação com alguns antirretrovirais. Agentes biológicos e Terapias experimentais Interferon alfa: As taxas de resposta se correlacionam com os níveis de CD4 e com uso de antivirais59. Inibidores da angiogênese, como o inibidor do crescimento vascular endotelial e talidomida e retinóides, como a tretinoina e ácido retinóico têm atividade contra o sarcoma de Kaposi60,61. Porém, os relatos de resposta a esses agentes são isolados e ainda não há estudos controlados recentes publicados. 14 Uso de antivirais Estudos in vitro demonstrando sensibilidade do HHV-8 aos antivirais são discordantes. Um estudo demonstrou que o HHV-8 é sensível a antivirais como o Cidofovir, Ganciclovir e fracamente sensível ao Aciclovir. Entretanto, não agem na forma latente do vírus, que, no caso do SK, é a forma tumorogênica62. Outro, porém, não encontrou sensibilidade ao aciclovir, mas demonstrou atividade ao Ganciclovir, ao Foscarnet e ao Cidofovir, também na fase replicativa63. Em um estudo clínico com pacientes com AIDS e retinite por citomegalovírus, pacientes que receberam ganciclovir oral ou intavenoso tiveram risco reduzido de desenvolverem SK64. Entretanto, as drogas estudadas até o momento têm importantes efeitos sistêmicos, com administração intravenosa, tornando impraticável seu uso profilático em longo prazo. Um estudo clínico multicêntrico está sendo realizado atualmente visando determinar o efeito da daunorubicina lipossomal na expressão de gene viral do Herpes Vírus associado ao Sarcoma de Kaposi em tumores. Isto testará a hipótese de que a daunorubicina lipossomal reativa o HHV-8 no tumor de uma fase latente para uma fase lítica. Este estudo está sendo realizado no Brasil (Instituto de Infectologia Emílio Ribas e CRT/DST AIDS São Paulo) com recursos internacionais e ainda está em fase de inclusão de pacientes65. Critérios de resposta Os critérios de resposta ao tratamento das lesões de SK se definem como completa, parcial, mínima, estável ou progressiva, de acordo com as definições a seguir: Resposta Completa Regressão de todas as lesões: passam de nodulares para planas. Biópsia de lesão pigmentar sem evidência de SK. Ausência de edema secundário ao SK. Endoscopias digestivas ou broncoscopia normais, com paciente assintomático. Resposta Parcial Regressão de mais de 50% do número ou tamanho das lesões. Ausência de lesões novas de SK cutâneo-mucoso ou visceral. Melhora de edema ou efusões associados ao SK. Melhora padrões radiológicos, endoscópicos e clínicos do envolvimento visceral. Resposta Mínima Regressão menor que 50% e maior que 25% do número ou tamanho das lesões. Ausência de lesões novas de SK cutâneo-mucoso ou visceral. Padrão radiológico ou endoscópico inalterado. Edema ou efusões inalterados. Doença Progressiva Aumento maior ou igual a 25% no número ou tamanho das lesões pré-existentes. Mudança no aspecto das lesões de macular para nodular em 25% ou mais das lesões. Aparecimento de novas lesões. Surgimento ou piora de edema ou exudações associados ao SK. Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 11-16) Qualquer resposta que não preencha os critérios descritos acima definirá Doença Estável. Sarcoma de Kaposi como Síndrome da Reconstituição Imune O início do HAART tem sido associado à progressão do SK dentro de três a seis semanas após o início da terapia antirretroviral. Geralmente, a interrupção do HAART não se faz necessária e a regressão tumoral é observada após uso de quimioterapia sistêmica66, 67. Considerações finais Apesar dos avanços na terapia antirretroviral, o sarcoma de Kaposi permanece como a neoplasia mais freqüente em pacientes infectados pelo HIV. Independentemente dos níveis de CD4, o SK é uma doença definidora de AIDS. Até o momento, não há agentes específicos anti-HHV8 e nem todos os pacientes têm acesso à terapia quimioterápica com antraciclinas lipossomais. Desta forma, a detecção precoce e o controle da infecção pelo HIV permanecem como a estratégia principal de prevenção e controle do desenvolvimento desta neoplasia. Referências 1. Kaposi M. Idiopathic multiple pigmented sarcoma of the skin. Arch Dematol Syphil 1872; 4: 265-273 (English translation: CA-A Cancer J Clin 1982; 32: 342-365). 2. Friedman-Kien A, Leubastein L, Mermor M, Hymes K, Green J, Ragaz A, et al. Kaposi’s sarcoma and Pneumocystis pneumonia among homosexual men - New York City and California. MMWR 1981; 30: 305-8. 3. International Collaboration on HIV and Cancer. 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Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 11-16) Artigo de revisão Trim 5α: Um fator genético do hospedeiro associado com susceptibilidade à infecção pelo HIV Trim 5 alpha: Host genetic factor associated with susceptibility to HIV infection Joice Bueno1, Wagner Alkmim1,2, Mário Janini1,2 1 - Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia, Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo. 2 - Departamento de Medicina, Disciplina de Infectologia, Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo. Correspondência: Wagner Alkmim, Laboratório de Retrovirologia, Universidade Federal de São Paulo Rua Pedro de Toledo, 781, 16º andar, Vila Clementino 04039032 – São Paulo – SP (Brasil) – E-mail: [email protected] Resumo Os retrovírus e elementos retro-transponíveis invadem o genoma dos seus hospedeiros há milhões de anos, consequentemente, os organismos hospedeiros foram obrigados a evoluir e desenvolver formas de proteção contra a infecção por patógenos que podem causar uma variedade de doenças. Nos últimos anos, tornou-se evidente que há um sistema de atividades antivirais mediadas por proteínas celulares referidas como fatores de restrição. Estas proteínas podem bloquear a infecção por vírus sensíveis, após a introdução destes na célula hospedeira. Tais proteínas são espécie-específicas, de maneira que cada uma pode restringir um subconjunto de vírus com requintada sensibilidade. Com o fracasso dos últimos ensaios vacinais anti-HIV há um interesse crescente por este tipo de imunidade, bem como em saber se esses inibidores podem ser aproveitados para restringir a infecção pelo HIV-1 em humanos. Nesta revisão são abordados os principais conceitos e os avanços recentes, considerando os mediadores intracelulares do sistema imune inato associado com a susceptibilidade à infecção pelo HIV, com ênfase na proteína TRIM5α. Palavras-chave: HIV; Interação patógeno hospedeiro; Imunidade inata; Trim 5α. Abstract Retroviruses and reverse-transcribing transposable elements have been invading their host’s genomes for millions of years, consequently, host organisms have been obliged to evolve ways to protect themselves from infection by pathogens that can cause a variety of diseases. Over the past few years it has become apparent that there is a system of antiviral activities mediated by intracellular proteins referred to as restriction factors. These proteins can robustly block infection of sensitive viruses after theyr entry into the host cell. These proteins are species specific in that each species can restrict a subset of viruses with exquisite sensitivity. With the failure of recent HIV vaccine trials there is an increased interest in this type of immunity and the question of whether such inhibitors can be harnessed to restrict HIV-1 infection in humans. This review presents the main concepts and the recent developments, considering the intracellular innate immune mediators associated with susceptibility to HIV infection, with emphasis on protein TRIM5α. Keywords: HIV; Host-Pathogen interactions; Innate immunity; Trim 5alpha. Introdução Diferenças entre os indivíduos expostos ao HIV-1 têm sido observadas desde o início da pandemia. A susceptibilidade à infecção pelo HIV-1 e a história natural da doença são altamente variáveis, devido à complexa interação entre o vírus, o seu hospedeiro humano e o ambiente. Nos últimos 20 anos, as pesquisas em genética dos hospedeiros do HIV desvendaram uma série de variantes gênicas que modulam a resposta à exposição retroviral. Isso parcialmente explica porque algumas pessoas não são infectadas, mesmo quando expostas Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 17-21) repetidamente ao HIV-1, ou por que um subgrupo de pacientes infectados é capaz de manter um nível normal de imunidade após anos de infecção1-3. Grande parte das descobertas até agora resultaram de estudos de genes candidatos, em que as variantes alélicas foram analisadas em genes conhecidos ou suspeitos de desempenhar um papel na imunopatogênese da infecção pelo HIV-1. Como consequência, os marcadores genéticos relevantes que foram identificados até agora são relacionados aos genes que podem ser amplamente classificados em uma dessas duas categorias: 1) genes do hospedeiro que estão implicados no ciclo de vida 17 do HIV-1, desde a entrada na célula alvo até as diferentes etapas intracelulares que são necessárias para a replicação e propagação viral; 2) genes relacionados ao sistema imunológico, que codificam fatores para a resposta imune inata e adaptativa, bem como para as proteínas envolvidas na regulação imune e nos mecanismos de defesa anti-retrovirais específicos1-4. Além das proteínas do hospedeiro que são necessárias para o HIV-1 se replicar de forma eficiente, o genoma humano codifica moléculas que têm uma função anti-retroviral intrínseca: mais notavelmente, TRIM5α e APOBEC3G têm se mostrado potentes inibidores da replicação viral. A TRIM5α restringe o HIV-1 após a sua entrada na célula, numa fase do ciclo viral conhecida como pré-integração, reconhecendo a entrada do capsídeo e a promoção da sua desmontagem prematura. Este processo de inibição é espécie-específico. Na verdade, a capacidade da TRIM5α humana inibir a replicação do HIV-1 ainda é limitada, enquanto a sua proteína ortóloga de símios restringe o vírus humano de forma muito eficiente. Experimentos in vitro mostraram que vários polimorfismos do gene TRIM5α humano correlacionam-se diretamente com as diferenças encontradas na atividade anti-retroviral, embora alguns dados in vivo sugiram apenas modesta influência sobre a AIDS5-8. A Família TRIM Assim como as APOBECs, as proteínas da família TRIM passaram a ser reconhecidas como importantes moléculas envolvidas na resposta imune inata antiviral. A família TRIM (Tripartite Motif) é uma expansão da família de proteínas RING (Really Interesting New Gene), também conhecidas como proteínas RBCC por conter um motivo RBCC, que compreende um domínio RING, uma ou duas regiões B-Box e um motivo Coiled-Coil (CC). Este motivo RBCC é geralmente seguido por um ou dois domínios C-terminais que são específicos para cada TRIM9. O motivo RBCC, localizado na extremidade N-terminal, é bem conservado entre as proteínas TRIM, enquanto que o domínio C-terminal pode variar. O domínio C-terminal determina a classificação das 72 proteínas TRIM humanas em 11 subfamílias, enquanto um grupo (incluindo TRIM14 e TRIM20) permanece sem classificação, devido à falta de um domínio RING10-11. Entre outros, a subfamília C-IV engloba vários membros com atividade anti-viral11. Esta subfamília é caracterizada por um domínio SPRY em combinação com um domínio PRY para formar um domínio chamado B30.2 localizado no C-terminal imediatamente após o motivo RBCC (Figura 01). Tripartite Motif C-IV RING B1 B2 Coiled-coil B30.2/SPRY Figura 1. Representação dos domínios presentes na classe C-IV das proteínas da família TRIM/RBCC. As proteínas TRIM compartilham os motivos RING, BBox1, B-Box2 e Coil-Coiled enquanto que o C-terminal é variável. A subfamília C-IV, que inclui a TRIM5 é caracterizada pela presença de apenas um B-Box 2. Fonte: Kajaste-Rudnitski et al., 2010. 18 Quanto à estrutura, as proteínas TRIM formam complexos moleculares que se localizam em compartimentos subcelulares específicos presentes no citoplasma ou no núcleo 9. Por exemplo, a TRIM19 ou Proteína da Leucemia Promielocítica (PML) existe em estruturas subnucleares conhecidas como “corpos nucleares”, enquanto que a TRIM5 está normalmente localizada em distintos agregados citoplasmáticos denominados “corpos citoplasmáticos”. Estes corpos são móveis, estruturas altamente dinâmicas que se movem rapidamente devido à troca de proteínas entre o núcleo e o citoplasma12. A formação de corpos citoplasmáticos, no entanto, não é um requisito para restrição retroviral13-14. O primeiro motivo RBCC/TRIM foi identificado no Fator Nuclear 7 de Xenopus (XNF7)15. A família TRIM cresceu lentamente, e atualmente, são conhecidos mais 70 genes codificadores de proteínas TRIM em humanos, além de homólogos identificados em muitas espécies, desde primatas até peixes. Estas proteínas estão envolvidas em vários processos celulares, incluindo proliferação, desenvolvimento e diferenciação celular, oncogênese e apoptose10, no entanto, somente alguns membros da família foram bem caracterizados9,11. Diante da informação de que os IFNs são críticos mediadores da resposta imune inata à infecção viral, a observação de que os genes que codificam as proteínas TRIM são transcripcionalmente regulados pelo IFNs do tipo I sugere um papel para as proteínas TRIM na imunidade inata. A TRIM1 e a TRIM22 interferem na replicação do vírus da leucemia murina N-trópico (NMLV) e do HIV-1, respectivamente. A TRIM19, inibe a replicação de uma variedade de vírus RNA e DNA, incluindo o vírus herpes simples tipo 1 (HSV-1) e o HIV-110. A TRIM5α inibe a replicação dos lentivírus, incluindo o HIV-110-11. A TRIM5α Em 2004, num rastreamento realizado na biblioteca de cDNA do macaco Rhesus, Stremlau e colaboradores identificaram a proteína TRIM5α como um componente de corpos citoplasmáticos que confere resistência a infecção pelo HIV-116. Esta proteína é capaz de restringir a infecção por retrovírus por meio da ligação à proteína do capsídeo viral, mediada pelo seu domínio C-terminal B30.2, causando desmontagem prematura do capsídeo de forma espécie-específica 17-19. Além disso, estudos têm mostrado que a TRIM5α pode interferir em eventos tardios do ciclo de vida viral que afetam a liberação das partículas, promovendo a degradação de proteínas Gag nascentes20. No entanto, essa interpretação tem sido debatida, uma vez que exige elevados níveis de expressão da TRIM5α21 para que tal fenômeno ocorra. De fato, o mecanismo exato de restrição mediada por TRIM5α ainda não está totalmente elucidado, embora o papel do domínio B30.2 em restringir retrovírus tornou-se evidente em experimentos iniciais que mostraram que as proteínas TRIM5α humana e TRIM5α de macaco Rhesus interagem diretamente com a proteína do capsídeo do MLV e HIV-1, respectivamente22-23. Stremlau e colaboradores17 realizaram um estudo para detectar proteínas específicas do capsídeo viral e observaram que a expressão de TRIM5α humana nas células alvo causou uma diminuição na quantidade de partículas do capsídeo de N-MLV e um aumento concomitante da proteína citosólica do capsídeo de N-MLV, ao passo que a expressão de TRIM5α de rhesus diminuiu as partículas do capsídeo do HIV-1. O aumento simultâneo da proteína do capsídeo do HIV-1 na fração citosólica não foi Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 17-21) detectada, possivelmente porque o aumento foi mínimo. Isso apóia a hipótese de que TRIM5α causa desencapsulamento e/ou desmontagem prematura do capsídeo viral, o que é prejudicial para a transcrição reversa23. Embora o mecanismo de restrição seja ainda desconhecido, a transcrição reversa do RNA viral é inibida. A estabilidade dos fatores TRIM5α diminui quando essa proteína entra em contato com um núcleo retroviral sensível a restrição24. A TRIM5α de macaco Rhesus bloqueia a infecção pelo HIV-1 logo após a entrada do vírus na célula alvo. Embora a TRIM5α humana iniba fracamente a infecção por HIV-1, esta proteína possui grande poder de restrição contra a infecção por N-MLV. Algumas espécies de macacos do Velho Mundo e do Novo Mundo codificam TRIMCyp em vez de TRIM5α. A TRIMCyp é uma fusão de TRIM5 com a ciclofilina A e restringe alguns retrovírus, incluindo o HIV-122-23. A TRIM5α é composta de um domínio RING, um B-Box2 e um domínio Coiled-Coil, típicos das proteínas TRIM e um domínio B30.2 carboxi-terminal (SPRY). O gene trim5 humano está localizado no cromossomo 11p15, onde também estão TRIM6, TRIM34 e TRIM22. Estudos mostraram que variações no splicing do transcrito primário levam a expressão das isoformas de TRIM5, denominadas de α, γ e δ. A isoforma α carrega o domínio B30.2, essencial para a atividade antiviral. O gene trim5α possui uma extensão de 15369 nucleotídeos e a proteína resultante apresenta 8 éxons e 493 resíduos aminoácidos. Nesta, o domínio RING está localizado entre os aminoácidos 15 e 59, B-BOX entre os aminoácidos 97 e 129, SPRY compreende os resíduos 298 a 493 e o motivo CC os resíduos 132 a 233 (Figura 2)25. O domínio RING não é absolutamente necessário, mas contribui para a potência da restrição retroviral, uma vez que desempenha um papel importante na degradação rápida de TRIM5α26. Este domínio é um tipo especializado de zinc-finger (Znf), de 40 a 60 resíduos, que liga dois átomos de zinco, provavelmente envolvidos em mediações de interações proteínas-proteína, além de possuir atividade E3 ubiquitina ligase que promove a adição de ubiquitina à proteínas que serão alvo de degradação proteossômica27-28. Esta observação levou à hipótese de que a destruição do capsídeo do HIV-1 pode ser mediada por ubiquitina, embora os estudos independentes mostraram que a degradação proteossomal não é necessária para a restrição viral mediada por TRIM5α29. TRIM5-α 15 59 97 129 132 TRIM5-γ 298 328 330 332 233 298 347 RING 298 TRIM5-δ 493 326 B-box 2 Coiled-coil B30.2/SPRY C-terminal Figura 2. Representação esquemática do splincing da proteína TRIM5, resultando nas isoformas α, γ e δ. Fonte: Kajaste-Rudnitski et al., 2010. O B-BOX é também um tipo de domínio Znf e, geralmente, se apresenta em combinação com outros motivos, mediando interação proteína-proteína. Além disso, está relacionado à Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 17-21) localização de proteína, controle de crescimento, diferenciação celular e regulação transcricional30. Nas proteínas TRIM são encontrados dois motivos com 40 resíduos cada, B-BOX1 e B-BOX2, que diferem na seqüência consenso e no afastamento dos resíduos 7-8 de ligação ao zinco. Muitas proteínas contêm os dois tipos, sugerindo um nível de cooperação entre estes dois domínios31-32; quando isto ocorre, B-BOX1 precede B-BOX2, enquanto sozinho é encontrado somente o B-BOX2 33. Estudos realizados com a TRIM5α de macaco Rhesus demonstraram que a deleção do domínio RING pode diminuir, mas não eliminar a atividade antiviral desta proteína, enquanto a deleção do domínio B-BOX2, elimina completamente a atividade de restrição ao HIV-134-35. O motivo Coiled-Coil (CC) é uma proteína-domínio que forma um feixe de duas ou três α-hélices. Domínios CC curtos estão envolvidos em interação de proteínas, enquanto que domínios CC longos são encontrados compondo proteínas estruturais3132 . Estes motivos podem se unir a outra estrutura CC mediando interações homo e hetero-oligoméricas. Na família TRIM, a região CC promove a multimerização de cada polipeptídeo, um processo necessário para ligação eficiente ao capsídeo viral, sendo que sua deleção impede a auto-associação destas proteínas9. Assim, análises estruturais mostram que os CC de proteínas TRIM são propensos a formarem dímeros e trímeros. Em relação a TRIM5α, sugere-se que a trimerização permite sua interação com o capsídeo retroviral, o qual exibe pseudosimetria trimérica 36. A deleção do domínio CC de TRIM5α de macaco rhesus interrompe a interação da proteína com o complexo capsídeo-nucleocapsídeo do HIV-123. O domínio B30.2 (SPRY), que media o reconhecimento do capsídeo, determina a especificidade viral de restrição37. Este domínio é necessário para ligação ao capsídeo viral e restrição, como observado em um estudo de deleção deste domínio e como ocorre naturalmente nas isoformas de TRIM5 de rhesus onde o mesmo é ausente, impedindo a restrição ao HIV-123. Além disso, a substituição de segmentos da região variável do domínio B30.2 da TRIM5α humana, que não se restringe o HIV-1, com seções análogas de TRIM5α rhesus, demonstrou atividade de restrição contra o HIV-117. Experimentos adicionais de mutagênese mostraram que uma alteração em um único aminoácido de TRIM5α humana (R332P), combinado a um resíduo semelhante na região variável de B30.2 de TRIM5α rhesus, confere atividade antiviral contra HIV-138, 17, 19. Outro estudo sugeriu que uma região variável do domínio B30.2 está sob seleção positiva18. Curiosamente, esta região variável está dentro do domínio PRY (aminoácidos 298-355) do domínio B30.2, uma adição relativamente recente ao domínio SPRY que só encontrada nos vertebrados18. Estas observações suportam a noção de que uma pressão seletiva positiva durante a evolução levou a um bloqueio espécie-específica das infecções retrovirais e que o domínio B30.2 da TRIM5α é um determinante de tropismo retroviral espécie-específico25. TRIMCyp A importância da TRIM5α na infecção retroviral é realçada por um evento de retrotransposição que ocorreu em macacos-coruja (Aotus trivirgatus), levando à geração de um ortólogo do TRIM5α que bloqueia a infecção por HIV-1 nesta espécie. O evento de retrotransposição excluiu o domínio B30.2 da TRIM5α e a substituiu pela seqüência de co- 19 dificação de Ciclofilina A (CypA), um alvo bem conhecido de drogas imunossupressoras, tais como a Ciclosporina A (CsA), levando a uma proteína de fusão denominada TRIMCyp39. Em macacos rhesus, TRIMCyp foi descoberto como fator de restrição para a infecção pelo HIV-240. CypA é uma peptidilprolil isomerase que foi anteriormente demonstrada por interagir com a proteína do capsídeo do HIV-1, mas não do HIV-241. O rompimento da interação entre CypA e o capsídeo do HIV-1 por inibidores competitivos, como a CsA, por mutações na proteína do capsídeo viral (G89V ou P90A), ou pela supressão da expressão de CypA demonstraram que a infecção pelo HIV-1 em células humanas é altamente dependente da interação entre o capsídeo viral e CypA41-43. Nos primatas não-humanos, CypA não se liga ao capsídeo, porém quando CypA é fundida a TRIM5, restringe o HIV-1 da mesma forma que faz o B30.2 faz para TRIM5α. Assim, as funções de CypA se apresentam de forma oposta em células de primatas não-humanos em relação às células humanas, promovendo a restrição ao invés de replicação44. Polimorfismos na TRIM5α associados com atividades de restrição ao HIV-1 A proteína TRIM5α humana possui importante diversidade em sua seqüência gênica, dado comprovado a partir de estudos que relacionam o potencial papel destas variantes na modulação da susceptibilidade ao HIV45-46. Sawyer e colaboradores46 analisaram a diversidade genética do TRIM5α humana e identificaram vários polimorfismos de único nucleotídeo (Single Nucleotide Polymorphisms - SNPs) não-sinônimos, mas somente um destes (H43Y) estava relacionado à aspectos funcionais. A mutação H43Y na verdade é um tipo de substituição nucleotídica e é encontrada no domínio RING, podendo afetar negativamente a atividade E3 ubiquitina ligase. Embora a TRIM5α humana possua baixa restrição ao HIV, o H43Y pode reduzir esta restrição a um nível ainda menor46. Neste estudo, foram geradas sequências DNA genômico (4879 pb) de 37 indígenas, geograficamente diversos. Vinte SNPs foram identificados incluindo o H43Y e o R136Q. A freqüência do R136Q foi de 18%, enquanto que para o H43Y foi de 19%. Chan e colaboradores relatam esses dados em um estudo posterior e correlacionam essa diferença de freqüências à possibilidade desta mutação estar associada a outro alelo, com papel importante na susceptibilidade e progressão da infecção pelo HIV-147. No estudo de Goldschmidt e colaboradores, uma coorte de 979 indivíduos caucasianos infectados pelo HIV-1 e sem tratamento antiretroviral foi analisada. Destes, 47 tiveram amostras seqüenciadas para identificação dos polimorfismos H43Y, V112F e R136Q. Goldschmidt e colaboradores relataram que estas mutações possuem um efeito modesto ou ausente e que estas variantes ocorrem em sítios conservados ao longo da evolução5. Speelmon e colaboradores estudaram uma população de 236 indivíduos americanos descendentes de europeus, predominantemente homens que fazem sexo com homens, dos quais 96 eram soronegativos expostos a alto risco e 140 estavam infectados pelo HIV-1. O grupo investigou a hipótese de que a variação genética na codificação da seqüência da TRIM5α humana ou de sua suposta região regulatória estava associada com as alterações clínicas como a aquisição da infecção por 20 HIV-1, o aumento da carga viral e diminuição do número de células CD4+ após infecção45. Neste estudo foram identificados 48 SNPs, sendo que 8 eram não-sinônimos, incluindo os polimorfismos H43Y e R136Q, que estão relacionados ao poder de restrição antiretroviral da TRIM5α humana. Destes somente um SNP estava localizado no domínio SPRY (H419Y), um no domínio RING (H43Y), quatro no B-BOX2 (G110E, V112F, R119W e R119Q) e dois no CC (R136Q e V140L)45. Em um estudo realizado por van Manen e colaboradores, numa população de 327 caucasianos homossexuais, foi demonstrando que o polimorfismo H43Y está relacionado com a acelerada progressão da infecção pelo HIV em homozigotos 43Y. Ademais, houve uma associação do polimorfismo R136Q a um pequeno aumento da atividade anti-HIV-1 da TRIM5α humana, observada em indivíduos soronegativos com alto risco de adquirir a infecção, porém somente após o surgimento das variantes X4 do HIV-1 e quando a carga viral foi de 104,5 cópias por mL de plasma8. Este efeito protetor do R136Q foi também demonstrado por Javanbakht et al (2006) após estudo com uma população de 3604 indivíduos, 2171 americanos descendentes de europeus e 1433 americanos descendentes de africanos. Para a identificação dos polimorfismos, os pesquisadores utilizaram amostras de 94 descendentes europeus e 94 descendentes americanos. Os afro-americanos apresentaram uma maior freqüência do alelo 136Q em indivíduos não infectados expostos a alto risco e indivíduos soronegativos, sugerindo um efeito protetor, enquanto que em descendentes europeus a maior freqüência do alelo 136Q estava entre os infectados, dado confirmado pelo estudo de Speelmon e colaboradores 45 . Javanbakht et al 34 associam esta diferença da atividade de restrição, quando observado o mesmo polimorfismo, ao tempo de exposição dos indivíduos ao vírus e, principalmente, à diferenças genéticas6. No estudo de Price e colaboradores46 foi investigado o papel dos polimorfismos de TRIM5α na resistência e susceptibilidade ao HIV-1 em profissionais do sexo de Pumwani, Nairobi. Para tanto, um fragmento do éxon 2 do gene trim5 foi amplificado e seqüenciado a partir de amostras de mulheres HIV-1 soronegativas com PCR negativo, repetidamente expostas ao risco de infecção pelo HIV-1 e de mulheres HIV-1 soropositivas. Foram encontrando os polimorfismos R136Q e H43Y, numa freqüência de 10,8% e 4,84% respectivamente. Neste estudo não foi encontrada associação entre os polimorfismos e progressão da doença, após basearem-se em parâmetros laboratoriais. No entanto, concluíram que o polimorfismo R136Q conferia um efeito protetor às mulheres de Pumwani após verificarem que em mulheres HIV-1 soronegativas (porém expostas a risco) a freqüência deste polimorfismo foi de 34,1%, enquanto que em mulheres HIV-1 soropositivas a freqüência encontrada foi de 14,7%48. Diante destas informações sugere-se que um maior ou menor poder de restrição contra o HIV poderia estar associado a estas variações na seqüência de nucleotídeos da proteína TRIM5α humana. Considerações Finais O curso clínico da infecção pelo HIV-1 é altamente variável entre os indivíduos e variações genéticas no hospedeiro são responsáveis por uma parte considerável destas diferenças. O estudo dos polimorfismos nos fatores de restrição do sistema inato que Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 17-21) apresentam atividade de antiviral sobre a susceptibilidade à infecção pelo HIV-1 e a progressão para a doença podem fornecer insights para o desenvolvimento de estratégias vacinais efetivas e novas modalidades de tratamento. A TRIM5α é um importante fator de restrição do sistema imune inato e, claramente, apresenta forte bloqueio espécieespecífico da transmissão zoonótica de vírus sensíveis, como o HIV e o MLV. A família TRIM possui 72 genes dos quais apenas alguns foram estudados em detalhe. A descoberta da atividade de restrição da TRIM5α à replicação do HIV-1 em células de macacos tem contribuído para uma melhor identificação de fatores de restrição descritos há 50 anos. Várias questões, contudo, ainda não estão completamente elucidadas, como por exemplo, qual o mecanismo exato de bloqueio da infectividade exercido pela TRIM5α. A identificação de padrões celulares e virais direcionará o desenvolvimento de novas drogas para mimetizar e/ou aumentar os efeitos desses fatores de restrição. Outra questão ainda em aberto diz respeito aos níveis de expressão e inducibilidade dos membros da família TRIM em indivíduos infectados pelo HIV-1 durante a progressão para a doença e em resposta às drogas anti-retrovirais. É possível usar intervenções que estimulam o sistema imune inato como adjuvantes para melhorar protocolos vacinais clássicos por meio do sinergismo com respostas adaptativas. Acreditamos que o estudo de fatores de restrição e de elementos da imunidade inata como a TRIM5α eventualmente nos auxiliará no desenvolvimento de técnicas para a manipulação acurada de novos antivirais e, portanto, poderemos amplamente melhorar a efetividade da resposta terapêutica nos indivíduos infectados pelo HIV. REFERÊNCIAS 1. O’Brien SJ, Nelson GW. Human genes that limit AIDS. Nat Genet 2004;36:565–574. 2. Telenti A, Bleiber G. 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Endereço para Correspondência: Rua Conde de Bonfim 369 sala 506 CEP 20530-080. Tijuca RJ / RJ E-mail: [email protected] Resumo Este é o relato do caso de um paciente infectado pelo HIV no início da epidemia de AIDS, que esteve gravemente enfermo por longo período e que recebeu tratamento antirretroviral sequencial, conforme a disponibilidade de cada ocasião. Após vários anos de falha virológica e imunológica conseguiu beneficiar-se de um esquema de tratamento com novas drogas ativas. Hoje, com viremia indetectável e em recuperação imunológica o foco é o enfrentamento dos efeitos adversos relacionados ao tratamento. Palavras-chave: HIV, AIDS, tratamento, complicações de tratamento. Abstract This is a case report from a HIV infected patient that got infected on the beginning of HIV/AIDS epidemic. The patient used to be severely ill for a long period of time and have taken sequential antiretroviral therapy, in accordance with local guidelines and its availability in Brazil. After years of virologic and immunologic failure, the patient took benefit from a newly regimen with active drugs. Nowadays, with undetectable viral load and under immunologic recovery, his new focus is his battle against treatment related adverse events. Keywords: HIV, AIDS, treatment, treatment complications. Paciente masculino, pardo, 30 anos, natural do Rio de Janeiro, casado, hemofílico A grave. Primeiro anti HIV + em abril de 1996, anti HCV + em 1996, PCR HCV indetectável em 2007. História de herpes zoster em abril 1994, pneumonia por MAC (Mycobacterium avium complex) com diagnóstico confirmado em cultura de escarro em 1995, candidíase oral de repetição e prurigo. Iniciou tratamento antirretroviral em 1996 e foi tratado de forma sequencial, de acordo com a disponibilidade da época. Em abril de 2001 fez a primeira genotipagem. O resultado revelou tratar-se de HIV-1 subtipo B, com o seguinte perfil mutacional: Mutações na protease:- L10I, K20R, L24I, M36I, M 46I , I 54V, V82A Interpretação: resistência parcial: APV, SQV Resistências totais: IDV, NFV, RTV Mutações na transcriptase reversa: -K70R, T215F, K219Q, K101E, Y181C, G190A Interpretação: Resistência parcial ABC Resistência total: ddI, d4T, ddC, AZT, EFV, NVP De acordo com o resultado e as drogas disponíveis na ocasião, AZT + 3TC + EFV + LPV/r , obteve melhora imunológica, mas nunca atingiu supressão virológica. Em 2002 abandonou o tratamento e apresentou recidiva da pneumonia por MAC. O tratamento antirretroviral e o tratamento para MAC foram 22 reiniciados e o paciente apresentou involução do quadro pulmonar e melhora imunológica. Durante os anos que se seguiram, sua contagem de células T CD4 variou de 5 a 50 células/ mm3 e a carga viral sempre permaneceu detectável, acima de 50.000 cópias/ml. Em 06/2004 foi incluído em um estudo com tipranavir, mas um grave quadro de pancreatite aguda há menos de 5 meses após o início do tratamento retirou-o do estudo. Os esquemas antirretrovirais que utilizou de julho de 1995 a abril de 2005 estão dispostos na tabela abaixo. Tabela 1- Esquemas antirretrovirais utilizados de Julho 1995 a abril 2005 Período Esquema ARV 07/1995 a 06/1996 AZT 07/1996 a 09/1996 AZT + 3TC 09/1996 a 03/1998 AZT + 3TC + IDV 04/1998 a 10/1998 D4T + 3TC + IDV 11/1998 a 02/1999 AZT + DDI + SQV+RTV + hidroxuréia 03/1999 a 09/2000 NVP + d4T + DDI + NFV + hidroxiuréia 10/2000 a 04/2001 D4T + 3TC + EFV + LPV/r 05/2001 a 02/2002 AZT + 3TC + EFV + LPV/r 04/2002 a 03/2003 ABC + TDF + SQV/r 04/2003 a 10/2003 AZT + 3TC + TDF + SQV/r 11/2003 a 05/2004 DDI + TDF + 3TC + LPV/r 06/2004 a 11/2004 DDI + TDF + 3TC + TPV/r 12/2004 a 04/2005 TDF + 3TC + LPV/r Intercorrências Alergia ABC Pancreatite aguda Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 22-24) Em janeiro de 2005 nova genotipagem foi realizada. O paciente apresentava inúmeras mutações, tanto na protease quanto na transcriptase, conforme descritas a seguir : IP - L 10 I, K 20 R, I 25 V, E 35 D, M 36 T/I, M 46 I, I 54 V, Q 58E, I 62 V, L 63 T, V 82 T, I 84 V. TR - D 67 N, T 69 N, K 70 R, L74 I, K 101 E, V 179 I, M 184 V, G 190 A, T 215 F Interpretação: AZT AZT+3T ABC DDI 3TC D4T TDF TDF+3T EFV NVP R I R R R R S S R R SQV SQV/R IDV IDV/R APV APV/R NFV RTV ATV ATV/R R R R R R R R R R R O regime de resgate proposto incluiu AZT + 3TC + TDF + APV/R + T20 e, enquanto aguardava a disponibilização da enfuvirtida, utilizou AZT + 3TC + TDF + APV + RTV, alterado para AZT + 3TC + TDF + SQV + RTV devido à piora da insuficiência renal, apesar dos ajustes de doses. Finalmente, em julho de 2005 foi acrescentado o T20. Manteve-se em uso de AZT + 3TC + TDF + SQV + RTV + T20 sem nenhuma melhora imunológica ou virológica, porém o paciente sentia-se melhor. Em maio de 2006 fez outra genotipagem que, mais uma vez evidenciou o elevado perfil de resistência viral. IP: L10I, I15V, K20R, L24I, E35D, M36I, M46I, I54V, Q58E, I62V, L63T, V82T, I84V. ITRN M41L, D67N, T69N, K70R, K101E, V79I, M184V, G190A, T215F, K219Q Interpretação: AZT AZT+3T ABC DDI 3TC D4T TDF TDF+3T EFV NVP R R R R R R R R R R SQV SQV/R IDV IDV/R APV APV/R NFV RTV ATV ATV/R TPV TPV/R TMC114 R R R R R R R R R R S S S Fenotipagem virtual (Virco®) foi realizada evidenciando, na TR, resistência completa a ABC e emtricitabina, resposta reduzida ao AZT, DDI e TDF, resposta mínima a 3TC e susceptibilidade a d4T (fold change 2,9 / CUT-off 2,1. Resistência completa a NVP, DLV, EFV. Para os IP, resistência ao RTV, FPV, ATV e TPV, resposta mínima a IDV, IDV/r, NFV, SQV, APV, APV/r, LPV/r. Em 16/08/06 iniciou Biovir + TDF + DRV/r + Etravirina + T20. Dois meses depois de iniciado o tratamento já estava com a CV abaixo de 400 cópias/ml e CD4 acima de 100 células/mm3. Em 2009 o T20 foi substituído por RAL, sem nenhum prejuízo ao tratamento. Evoluiu com recuperação imunológica progressiva e está agora com CD4 de 521/ mm3 (21%), CD8 de 986/mm3 e carga viral do HIV indetectável abaixo de 50 cópias/ml Comentários: Este caso ilustra o avanço da terapia antirretroviral nos últimos 20 anos. Trata-se de um paciente hemofílico, contaminado pelo HIV através do uso de fator VIII da coagulação, na época em que, primeiro, não era conhecida a causa da AIDS e não estavam estabelecidas as vias de transmissão e, segundo, não havia testes disponíveis para detectar a Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 22-24) presença do vírus no sangue e, por fim, já conhecido o vírus, não se sabia como inativá-lo nos concentrados de fatores da coagulação. Foi uma época muito difícil. Grande número de hemofílicos e outras vítimas da AIDS morriam sem que conseguíssemos atuar e conter o aparecimento dos eventos oportunistas. Em 1995, iniciou o tratamento com apenas 3 linfócitos CD4 e já com doença definidora e pneumonia por MAC. Inúmeras combinações de drogas foram feitas e recicladas sem que houvesse mais que uma pequena e rápida melhora clínica. É um dos inúmeros casos de tratamento sequencial que hoje sabemos ser ineficaz e levar à redução das possibilidades terapêuticas futuras. Em março de 2002, abandonou o tratamento e retornou 2 meses depois gravemente enfermo, com pneumonia intersticial difusa, com escarro induzido negativo para P. jirovesi e BAAR, mas com cultura positiva para MAC. Reintroduzidos ARV, agora ABC/TDF/SQV/r. Desenvolveu reação alérgica ao ABC, que hoje sabe-se relacionada ao HLAB*5701. Desde 2002 apresentava algum comprometimento da função renal, portanto, anterior ao uso do TDF. Nunca conseguimos definir se este acometimento relacionava-se ao próprio HIV ou à medicação. Hemofílico e gravemente imunodeficiente, concluimos que submetê-lo a biópsia renal não seria o mais adequado. É importante ressaltar, entretanto, que o fato de ser hemofílico não é contra-indicação absoluta para procedimentos invasivos, desde que o paciente receba quantidade adequada de fator de coagulação para manter sua coagulação normal até a cicatrização. Em 2004, teve a oportunidade de receber um inibidor de protease não peptídico, o tipravanir, como voluntário de pesquisa. O TPV foi combinado com DDI, TDF e 3TC escolhidos por teste de resistência. Tivemos aí a primeira séria complicação de tratamento. Descrita, em especial com o uso do DDI, uma grave pancreatite aguda acometeu o paciente, acompanhada de piora da função renal. Toda a sua medicação teve que ser interrompida até que o quadro pancreático regredisse e ele teve que se retirar do estudo do qual estava participando. Não tínhamos mais como obter TPV. Em Janeiro de 2005, nova genotipagem evidenciou elevado perfil de resistência aos inibidores da protease, sensibilidade ao tenofovir e parcial a combinação AZT/3TC. Depois de anos com apenas inibidores de transcriptase e de protease disponíveis, surgiu uma nova classe de ARV, um inibidor de fusão, a enfuvirtida. Já sabíamos que a situação ideal para o início de uma nova classe de drogas seria, pelo menos, duas classes plenamente ativas. Tínhamos o TDF e o T20. Outra questão surgiu na época: Poderia um hemofílico usar injeção, mesmo que subcutânea, duas vezes ao dia? Não seria um alto risco de complicações hemorrágicas? Possibilidade aventada precisávamos arriscar, mas, por ser a aplicação subcutânea e com agulha fina, o risco não parecia maior que o benefício potencial. O resgate proposto foi composto pela combinação AZT/3TC/TDF/APV-r/T20. Havia dificuldades para a obtenção da enfuvirtida que só foi disponibilizada em maio de 2005 o que, possivelmente, favoreceu o aparecimento de mais mutações de resistência. Até a chegada do T20 ficou com as outras drogas do esquema. Nos meses que se seguiram, a resposta laboratorial e clínica foi discordante. A carga viral continuava subindo, o CD4 diminuido, mas o paciente sentia-se melhor, mais bem disposto e até reduziu a incidência e a duração da candidíase oral que o acompanhava. Novamente houve piora da função renal. 23 Decidimos pela substituição do APV/r por SQV/r já que, por falta de drogas ativas, não consideramos adequado retirar as outras drogas, já ajustadas para a insuficiência renal A decisão de iniciar um esquema ARV com uma nova classe de drogas representou, no caso, a oportunidade de poder se beneficiar dos ARV que surgiram à seguir. Em junho de 2005 continuava com CD4 igual a 8 céls/mm³- 1,2% e carga viral do HIV de 62500cópias.ml (4,8 log). Permaneceu desta forma até que em Junho 2006 foi recrutado para outro protocolo de estudo com TMC 125 e TMC 114. Apesar da grave imunodeficiência que o acompanhou por mais de 10 anos, recuperou-se de forma espetacular e está em supressão virológica desde 2006. Atualmente o paciente está com CV indetectável, abaixo de 47 cópias/ml, CD4 de 512 células/mm3 (21,7%) e CD8 de 986 células/mm3 (41,8%). Nesse momento, nos preocupamos com a dislipidemia, o sobrepeso, a osteopenia e o acompanhamento renal. Digno de nota é o fato de que mantém a alteração renal estável desde 2002, com exceção dos períodos nos quais adoeceu e que foram descritos anteriormente. Nosso caso ilustra a tremenda evolução no tratamento antirretroviral, a necessidade de não perdermos o melhor momento para iniciarmos o resgate e de estarmos atentos para as novas complicações que temos que enfrentar, não só devido a efeitos colaterais das drogas, mas pelo envelhecimento dos pacientes. Referências recomendadas 1. Cahn P, Haubrich R, Leider J, Pialoux G, Schechter M, Walmsley S et al.. Pooled 24-Week Results of DUET-1 and -2: TMC125 (Etravirine; ETR) vs Placebo in 1203 Treatment-Experienced HIV-1-Infected Patients. 47th Interscience Conference on Antimicrobial Agents and Chemotherapy. Chicago, IL. September 17-20, 2007. Abstract H-717. 2. Clotet B, Bellos N, Molina JM, Cooper D, Goffard J C, Lazzarin A et al, 2007. Efficacy and safety of darunavir-ritonavir at week 48 in treatment-experienced patients with HIV-1 infection in POWER 1 and 2: a pooled subgroup analysis of data from two randomised trials. Lancet 369: 1169-1178. 3. Katlama C, Esposito R, Gatell J M, Goffard J C, Grinsztejn B, Pozniak A et al, 2007. Efficacy and safety of TMC114/ritonavir in treatment-experienced HIV patients: 24week results of POWER 1. AIDS 21: 395-402. 4. Kirk O, Mocroft A, Reiss P, De Wit S, Sedlacek D, Beniowski M et al (for the EuroSIDA Study Group). Chronic kidney disease and exposure to ART in a large cohort with long-term follow-up: the EuroSIDA study. 17th Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections. February 16-19, 2010. San Francisco. Abstract 107LB. 24 5. Lalezari JP, Henry K, O’ Hearn M, Montaner JSG, Piliero PJ, Trottier B et al. Enfuvirtide, an HIV-1 Fusion Inhibitor, for Drug-Resistant HIV Infection in North and South America (on behalf of the TORO 1 Study Group) N.Eng J Med 348(22): 2175-2185. 6. Lazzarin A, Clotet B, Cooper D, Reynes J, Arastéh K, Nelson M et al (on behalf of TORO 2 Study Group), 2003. Efficacy of enfuvirtide in patients infected with drugresistant HIV-1 in Europe and Australia. N EngJ Med. 29;348(22):2186-95. 7. Lazzarin A, Campbell T, Clotet B, Johnson M, Kaltlama C, Moll A et al (on behalf of the DUET-2 study group), 2007. Efficacy and safety of TMC125 (etravirine) in treatmentexperienced HIV-1-infected patients in DUET-2: 24-week results from a randomised, double-blind, placebo-controlled trial. The Lancet 370(9581): 39-48. 8. Madruga J V, Cahn P, Grinsztejn B, Haubrich R, Lalezari J, Mills A et al. (on behalf of the DUET-1 study group), 2007. Efficacy and safety of TMC125 (etravirine) in treatment-experienced HIV-1-infected patients in DUET-1: 24-week results from a randomised, double-blind, placebo-controlled trial. The Lancet 370(9581): 29-38. 9. McComsey GA, Tebas P, Shane E, Yin MT, Overton T, Huang JS et al, 2010. Bone Disease in HIV Infection: A Practical Review and Recommendations for HIV Care Providers. Clinical Infectious Diseases 51(8):000–000. Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 22-24) Destaques Cobertura da XVIII International AIDS Conference – Viena 2010 Por Alexandre Naime Barbosa Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP ESTUDOS DE PREVENÇÃO A. Gel de Tenofovir Um dos estudos de maior repercussão apresentados em Viena foi o CAPRISA 004, que avaliou a efetividade e segurança do gel vaginal de tenofovir (ITRN) a 1%, na prevenção da transmissão do HIV para a mulher1. O trial, conduzido de forma duplo-cega e randomizada, comparou o gel de tenofovir (n=445) com gel placebo (n=444) em mulheres não infectadas pelo HIV, com vida sexual ativa, de 18 a 40 anos, na zona urbana e rural de KwaZulu-Natal, África do Sul. As recomendações incluíam uma aplicação 12 horas antes do ato sexual, uma segunda dose tão logo quanto possível até 12 horas após o coito, e não mais que duas doses do gel, dentro de um período de 24 horas, sendo avaliada também a adesão a essas medidas. No geral, após 30 meses, o gel de tenofovir reduziu em 39% a aquisição do HIV, sendo que essa taxa chegou a 54% em mulheres com alta adesão. Não foi observado impacto relacionado a efeitos adversos, bem como não houve mudanças na CV ou surgimento de mutações de resistência ao tenofovir nas mulheres que soroconverteram1. Um sub-estudo (n=434) do CAPRISA 004 avaliou a proteção do gel de tenofovir na aquisição do HVS-2, e mostrou redução de transmissão de 51%, em comparação ao placebo(1). B. Vacina Quadri-Valente para HPV (qHPV) O uso da vacina qHPV (sorotipos 6/11/16/18), em comparação a placebo, após 30 meses da aplicação, esteve associada a redução de 90% na incidência de verrugas genitais e lesões extra-genitais em homens de 16 a 26 anos, sem evidência clínica no passado ou no presente de infecção por HPV2. Da mesma forma, a vacina qHPV também teve sucesso em diminuir 78% dos casos de neoplasia intra-epitelial anal e câncer anal em homens que fazem sexo com homens2. Não foi observado impacto relacionado a efeitos adversos. TERAPIA ANTIRRETROVIRAL A. Novas Recomendações Terapêuticas (IASEUA) 2010 Introdução Durante a XVIII IAC 2010, o painel de especialistas da IASEUA, realizou uma sessão especial, em forma de discussão de casos clínicos, com a finalidade de apresentar as novas Diretrizes de Terapia Antirretroviral da IAS-EUA, publicadas Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 25-27) um dia antes no JAMA3. Melanie Thompson e Pedro Cahn, autores principais do consenso, foram os moderadores esse debate, que ainda contou com a participação de outros responsáveis pelo documento. Melanie, presidente do painel, também comentou as mudanças em uma coletiva de imprensa. “A TARV bem sucedida está associada à diminuição dramática na ocorrência de condições definidoras de AIDS, e a mortalidade associada. A expansão das opções de tratamento e a evolução dos conhecimentos exigem revisão das orientações para o início e manutenção a longo prazo da TARV em adultos com infecção pelo HIV”, declarou Melanie. Quando Começar Os dois primeiros casos clínicos abordaram a questão de início de terapia. “A importância de doenças não definidores de aids, como uma das principais causas atuais de morbimortalidade em pacientes com replicação do HIV, sugere que o início precoce da TARV pode melhorar a qualidade e a expectativa de vida de pessoas vivendo com HIV”, discutiram os autores. Eles acrescentaram que o comprometimento do paciente em iniciar tratamento é um elemento chave para decidir o momento da introdução. A contagem de CD4 deixa de ser a principal variável na tomada de decisão, visto que não há uma faixa de CD4 em que a TARV seja contra-indicada. A TARV é recomendada, independentemente da contagem da contagem de CD4, em pacientes sintomáticos (também na fase aguda), gestantes, carga viral acima de 100.000 cópias/ ml, coinfecção pelo VHB e/ou VHC (doença ativa), nefropatia pelo HIV, declínio acentuado da contagem de CD4 (> 100/μL por ano), alto risco para doenças cardiovasculares, e situações em que há alto risco de transmissão do HIV, como em casais sorodiscordantes. Em indivíduos assintomáticos, o início da terapia é recomendado para todos aqueles com contagem de CD4 inferiores a 500 células/m3, sendo que acima dessa faixa, a TARV deve ser considerada se o paciente não for um controlador de elite (CV HIV < 50 cópias/ml, na ausência de TARV). Uma vez iniciada, a TARV deve ser mantida, exceto no contexto de ensaios clínicos. Esquemas Iniciais Nos dois casos seguintes, a discussão recaiu sobre a escolha terapêutica inicial. Segundo os autores, os componentes dos esquemas iniciais e subsequentes devem ser individualizados, especialmente no contexto de mais de uma condição de comorbidade. Combinações de dose fixa são recomendadas sempre que possível, por conveniência 25 Iniciar TARV Aids Sintomática Considerar TARV Resgate CD4 ≥ 500 cels/mm , mas rápido declínio (> 100 céls/ano) 3 nefropatia associada ao HIV, Racional: Idealmente 3 ARVS ativos (pelo menos 2 são necessários) Falha Inicial (Esquema inicial: 2 ITRNs + IP ou Preferencial: 2 ITRNs Ativos + IP/r (DRV, se houver IP/r ou ITRNN) resistência na protease) Alternativo: Uso de ETV, RAL ou MRQ + IP/r ou ITRNs hepatite C, hepatite B, Multifalhado Assintomáticos: CD4 ≤ 500 céls CV-HIV > 100,000 cópias/ml, alto risco CV, Racional: 3 ARVS ativos fase aguda sintomáticos, Prefencial: Uso de novas classes gestantes, Evitar duplo IP idade > 60 anos, Evitar 3TC isolado alto risco de transmissão (casais sorodiscordantes) do paciente. A associação tenofovir/emtricitabina é a dupla de ITRN recomendada, ficando como opção alternativa a combinação abacavir/lamivudina. A opção de terceira droga contempla o efavirenz (ITRNN) ou o atazanavir/ritonavir (IP) ou o darunavir/ritonavir (IP) ou o raltegravir (II), ficando como alternativa o uso de lopinavir/ritonavir, ou fosamprenavir/ritonavir ou maraviroque. A associação de três ou quatro ITRNs não é recomendada. Esquema Inicial ITRNN + 2 ITRNs EFV IP + 2 ITRNs ATV/r DRV/r II + 2 ITRNs RAL Alternativos (IP ou IE) + 2 ITRNs LOP/r; FPV/r, MRQ TDF/FTC + ABC/3TC Monitoração A carga viral do HIV deve ser monitorizada frequentemente quando o tratamento é iniciado, ou quando alterado por falha virológica, até atingir CV indetectável. Após conseguir CV indetectável por um ano, e contagens de CD4 estáveis acima de 350 células/mm3, o paciente com adesão confiável pode ser monitorizado de seis em seis meses. A genotipagem é indicada não só em casos de falha terapêutica, mas também para pacientes virgens de TARV. O objetivo da terapia, mesmo em pacientes multi-falhados, deve ser CV indetectável. Esquemas de Resgate O último caso apresentado abordou estratégias de resgate terapêutico. A falha virológica deve ser prontamente identificada e tratada o mais precocemente possível. Na situação de resistência às três classes (ITRN, ITRNN e IP), os esquemas de resgate devem conter três drogas ativas, incluindo agentes de novas classes. Não é recomendado o uso de dois IPs concomitantemente, ou mesmo da lamivudina (ou emtricitabina) como ITRN isolado para diminuir o fitness viral, por falta de evidências que suportem essas estratégias. Da mesma forma, não se deve indicar AZT em concomitância com TDF, com o intuito de prevenir a emergência da mutação K65R. As interrupções do tratamento devem ser evitadas, exceto no contexto de ensaios clínicos. 26 B. Novos Antirretrovirais e Novas Estratégias Terapêuticas Introdução Apesar de algumas sessões estarem reservadas para a apresentação de novos antirretrovirais e novas estratégias, foram poucas as novidades que se candidatam como promissoras. O mercado de novas drogas para HIV está sofrendo considerável redução, há pouco tempo dois estudos de novas moléculas (apricitabina e bevirimat) em fase adiantada de pesquisa foram descontinuados, o que pode ser extremante preocupante para pacientes que exibam falha aos esquemas de resgate de “última linha”, com resistência ampla e concomitante aos ITRNs, ITRNNs, IPs, IF, II e IE4. S-GSK1349572 Foram apresentados resultados de dois estudos fase II-b, SPRING-1 e VIKING-1, de um novo inibidor de integrase (SGSK1349572), que estão em andamento. O estudo SPRING-1 (multicêntrico, parcialmente cego, randomizado, n= 205) analisou o uso de diferentes doses em pacientes virgens de TARV, em combinação com tenofovir/ emtricitabina ou abacavir/lamivudina, em comparação com efavirenz, após 16 semanas5. Houve boa tolerabilidade e potente atividade antiviral, superior ao efavirenz, em todas as doses estudadas5. Já o estudo VIKING (internacional, multicêntrico, braço único, n= 27) avaliou a nova droga em pacientes com resistência ao raltegravir (três vias: Y143, Q148, N155), juntamente com base otimizada, após 11 dias4. A maioria dos pacientes (78%) teve sucesso virológico (CV < 400 c/ml, ou redução > 0,7 log), sendo que aqueles com a via Q148, e suas mutações secundárias apresentaram menor resposta (33%)6. Em conclusão, a S-GSK1349572 teve bom desempenho nos estudos de fase II b, tanto para pacientes virgens de TARV, quanto naqueles com falha ao raltegravir (com exceção daqueles com via mutacional Q148). Estudos de fase III são necessários para avaliar a eficácia e segurança dessa nova molécula em coortes de tamanho amostral e tempo de observação adequados. Rilpivirina Os estudos ECHO (TMC278-C209) e THRIVE (TMC278-C215) (randomizados, duplo cegos, multicêntricos de fase III), que analisam o uso da rilpivirina (ITRNN) + 2 ITRN em pacientes virgens de TARV, em comparação com o efavirenz + 2 ITRN, foram apresentados após 48 semanas7. Apesar dos resultaTendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 25-27) dos mostrarem não inferioridade da rilvipirina em comparação ao efavirenz, a falha virológica foi mais frequente com a nova droga, além dessa falha selecionar mutações cruzadas com a etravirina em 90% dos casos (E138K, M184I)7. O perfil de tolerabilidade foi melhor no braço da rilpivirina, principalmente em relação aos efeitos neurológicos, psiquiátricos, rash cutâneo e aumento de lípides7. O papel dessa nova droga ainda deve ser discutido no atual cenário de terapia inicial, e estudos mais longos são necessários a fim de verificar a não inferioridade em comparação ao efavirenz. Outras Estratégias Estudo PROGRESS: Lopinavir/ritonavir + raltegravir vs lopinavir/ritonavir + tenofovir/emtricitabina mostrou não inferioridade após 48 semanas8. Estudo ODIS: Raltegravir em substituição de IPs em esquemas com supressão virológica esteve associado a baixo risco de falha após 24 semanas, em pacientes sem resistência prévia à ITRNs9. Estudo VERxVE: Dose diária de nevirapina liberação prolongada + tenofovir/emtricitabina foi não inferior à nevirapina duas vezes ao dia + tenofovir/emtricitabina em pacientes virgens de tratamento após 48 semanas10. Estudo A4001078: Maraviroque em dose única diária + atazanavir/ritonavir teve eficácia similar a atazanavir/ritonavir + 2 ITRNs em pacientes virgens de tratamento após 24 semanas11. Estudo SPARTAN: Atazanavir duas vezes ao dia + raltegravir teve eficácia virológica similar à dose única diária atazanavir/ ritonavir + tenofovir/emtricitabina em pacientes virgens de tratamento após 24 semanas, mas o estudo foi descontinuado por apresentar maior toxicidade no primeiro braço12. C. Coinfecção HIV/Tuberculose Estudo CAMELIA Os resultados do estudo CAMELIA mostraram que no indivíduo coinfectado HIV/Tb, virgem de terapia para ambos, o início precoce da TARV (duas semanas pós-início da Tbterapia) esteve associado à redução de 52% na mortalidade, em comparação com início tardio (oito semanas pós-início da Tb-terapia), em situações de CD4 ≤ 200 céls/mm3. Paralelamente, o grupo de início precoce teve significativamente mais episódios de Síndrome da Reconstituição Imune Inflamatória (IRIS). A taxa de supressão virológica (CV < 50) foi semelhante (95%) durante o estudo (50 semanas)13. Referências 1. Sokal D, Karim Q, Omar Z, ET al. Safety of 1% tenofovir vaginal microbicide gel in South African women: results of the CAPRISA 004 trial. Program and abstracts of the XVIII International AIDS Conference; July 18-23, 2010; Vienna, Austria. Abstract TUSS0504. 2. Jessen H, Giuliano A, Palefsky F, et al. Quadrivalent HPV vaccine efficacy against HPV 6/11/16/18 infection and disease in men. Program and abstracts of the XVIII International AIDS Conference; July 18-23, 2010; Vienna, Austria. Abstract THLBB101. 3. Thompson MA, Aberg JA, Cahn P, et al. Antiretroviral Treatment of Adult HIV Infection: 2010 Recommendations of the International AIDS Society-USA Panel. JAMA 304(3): 321-333. 4. Sax PE. Another HIV Drug Development Program Bows Out. HIV and ID Observations. June 16th, 2010. [Citado em 03/Ago/2010]. Disponível em http://blogs.jwatch. org/hiv-id-observations/index.php/another-hiv-drug-development-programs-bowsout/2010/06/16/ 5. Arribas J, Lazzarin A, Raffi F, et al. Once-daily S/GSK1349572 as part of combination therapy in antiretroviral naïve adults: rapid and potent antiviral responses in the interim 16-week analysis from SPRING-1 (ING112276). Program and abstracts of the XVIII International AIDS Conference; July 18-23, 2010; Vienna, Austria. Abstract THLBB205. 6. Eron J, Durant J, Poizot-Martin I, et al. Activity of a next generation integrase inhibitor (INI), S/GSK1349572, in subjects with HIV exhibiting raltegravir resistance: initial results of VIKING study (ING112961). Program and abstracts of the XVIII International AIDS Conference; July 18-23, 2010; Vienna, Austria. Abstract MOAB0105. 7. Cohen C, Molina J-M, Cahn P, et al. Pooled week 48 efficacy and safety results from ECHO and THRIVE, two double-blind, randomised, phase III trials comparing TMC278 versus efavirenz in treatment-naïve, HIV-1-infected patients. Program and abstracts of the XVIII International AIDS Conference; July 18-23, 2010; Vienna, Austria. Abstract THLBB206. 8. Reynes J, Lawal A, Pulido F, et al. Lopinavir/ritonavir combined with raltegravir Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 25-27) demonstrated similar antiviral efficacy and safety as lopinavir/ritonavir combined with tenofovir disoproxil fumarate/emtricitabine in treatment-naïve HIV-1 infected subjects. Program and abstracts of the XVIII International AIDS Conference; July 18-23, 2010; Vienna, Austria. Abstract MOAB0101. 9. Vispo E, Barreiro P, Maida I, et al. Simplification from protease inhibitors to once or twice daily raltegravir: the ODIS trial. Program and abstracts of the XVIII International AIDS Conference; July 18-23, 2010; Vienna, Austria. Abstract MOAB0102. 10. Gathe J, Bogner J, Santiago S, et al. Comparison of 48 week efficacy and safety of 400 mg QD nevirapine extended release formulation (Viramune XR) versus 200 mg BID nevirapine immediate release formulation (Viramune IR) in combination with Truvada in antiretroviral (ARV) naïve HIV-1 infected patients (VERxVE). Program and abstracts of the XVIII International AIDS Conference; July 18-23, 2010; Vienna, Austria. Abstract THLBB202. 11. Mills A, Mildvan D, Podzamczer D, et al. Safety and immunovirological activity of once daily maraviroc (MVC) in combination with ritonavir-boosted atazanavir (ATV/r) compared to emtricitabine 200mg/tenofovir 300mg QD (TDF/FTC) + ATV/r in treatment-naïve patients infected with CCR5-tropic HIV-1 (Study A4001078): A week 24 planned interim analysis. Program and abstracts of the XVIII International AIDS Conference; July 18-23, 2010; Vienna, Austria. Abstract THLBB203. 12. Kozal MJ, Lupo S, DeJesus E, et al. The SPARTAN study: a pilot study to assess the safety and efficacy of an investigational NRTI- and RTV-sparing regimen of atazanavir (ATV) experimental dose of 300mg BID plus raltegravir (RAL) 400mg BID (ATV+RAL) in treatment-naïve HIV-infected subjects. Program and abstracts of the XVIII International AIDS Conference; July 18-23, 2010; Vienna, Austria. Abstract THLBB204. 13. Blanc FX, Sok T, Laureillard D, et al. Significant enhancement in survival with early (2 weeks) vs. late (8 weeks) initiation of highly active antiretroviral treatment (HAART) in severely immunosuppressed HIV-infected adults with newly diagnosed tuberculosis. Program and abstracts of the XVIII International AIDS Conference; July 18-23, 2010; Vienna, Austria. Abstract THLBB106. 27 Resumos de Dissertações e Teses Úlceras esofágicas em portadores do Vírus da Imunodeficiência Humana: etiologia e análise comparativa entre métodos diagnósticos Aluno: Mariângela Ottoboni Brunaldi Orientador: Sérgio Zucoloto Instituição: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo As infecções virais são as maiores responsáveis pelas úlceras esofágicas no portador do HIV, sendo o Citomegalovírus (CMV) o agente mais observado, seguido pelo Herpes Vírus Simples (HSV). A abordagem clínica adequada e a utilização de métodos diagnósticos precisos são de grande relevância para o estabelecimento etiológico. Os objetivos deste trabalho foram: avaliar a prevalência de úlceras esofágicas em portadores do HIV; pesquisar os agentes etiológicos associados; verificar a acurácia dos métodos diagnósticos comparando as impressões obtidas pela endoscopia digestiva alta (EDA), histologia utilizando o método de Hematoxilina-Eosina (H&E) e Imuno-histoquímica (IH) para pesquisa de CMV e HSV; avaliar o impacto da coloração para fungos (Gomori metenamina prata- GMS) e bacilos álcool-ácidos resistentes [BAAR- ZiehlNeelsen (ZN)] e a relevância numérica da amostragem tecidual na avaliação etiológica. Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, do tipo transversal, baseado em levantamento de dados demográficos, clínico-laboratoriais, endoscópicos obtidos por revisão de prontuários e análise histológica às cegas de biópsias endoscópicas (H&E, IH, GMS e ZN) de úlceras esofágicas em 41 portadores do HIV, no período de agosto de 2002 a setembro de 2006. A IH foi considerada método padrão. No período avaliado, 399 portadores do HIV submeteram-se à EDA, detectando-se úlcera esofágica em 41 pacientes (23 homens, 25 a 56 anos) com uma prevalência de 10,27%. A mediana da contagem de CD4 foi 49 céls/mm3 e da carga viral 58869,5 cópias/ml. A EDA revelou 29/41úlceras esofágicas suspeitas de infecção pelo CMV; 7/41 pelo HSV; 2/41 relacionada ao refluxo gastroesofágico (DRGE); 1/41 por monilíase; 1/41 por paracoccidioidomicose (PCM) e 1/41 inespecífica. O H&E detectou: 25/41 úlceras com aspectos inflamatórios inespecíficos (61%); 6/41 associadas à monilíase (16%); 4/41 por infecção pelo CMV (10%); 2/41 HSV (5%); 1/41CMV e HSV (2%); 1/41 por PCM (2%); 1/41 devido a Histoplasmose (2%) e 1/41 infiltração neoplásica por Linfoma não Hodgkin (2%). A IH para CMV e HSV confirmou os achados do H&E e detectou mais um caso. A EDA revelou sensibilidade alta (100%) para a detecção da úlcera esofágica, especificidade baixa para a caracterização etiológica viral (15%) quando comparada ao H&E e a IH. O H&E mostrou-se um método adequado para avaliação etiológica com sensibilidade de 87% e especificidade de 100% quando comparada a IH. A pesquisa de BAAR pelo ZN foi negativa nas 34 amostras realizadas. O GMS confirmou a presença de fungos detectados ao H&E e foi fundamental na caracterização morfológica do Histoplasma capsulatum e do Paraccocidioides brasiliensis. O número de amostras não influenciou na avaliação etiológica final. Os nossos achados recomendam o H&E como método adequado na avaliação etiológica de úlceras esofágicas no portador do HIV e indicam a IH para pesquisa viral somente nos casos suspeitos, porém, não típicos ao H&E. 28 Caracterização das atividades para melhoria da adesão à TARV em serviços de saúde do SUS no Estado de São Paulo Aluno: Joselita Maria de Magalhães Caraciolo Orientador: Maria Inês Baptistella Nemes Instituição: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo O emprego da terapia antirretroviral (TARV) proporcionou dramático impacto na mortalidade por aids e aumento na sobrevida. Entretanto, esse panorama depende da manutenção de altas taxas de adesão ao tratamento medicamentoso. A relevância da adesão tem sido reconhecida pelo Programa Nacional de DST e Aids desde o final dos anos 1990. Em que pese o destaque que o plano propositivo do Programa tem dado para a questão, ainda não dispõe de estudo atualizado sobre o número e tipo das atividades que estão em curso nos serviços. Este estudo teve por objetivo descrever as atividades de adesão em curso nos serviços de HIV/aids do Estado de São Paulo. Foi enviado um questionário semi-estruturado para todos os 179 ambulatórios de HIV/aids do Estado, com perguntas sobre o tipo de serviço, pessoas sob TARV, formas e frequências de avaliação de adesão, atividades desenvolvidas (individuais, coletivas e para grupos específicos) e parcerias com organizações não governamentais. Para testar associação entre variáveis categóricas utilizou-se o teste Quiquadrado de Pearson ou os testes exato de Fisher ou teste da razão de verossimilhanças, no nível de significância de p<0,05. A análise de agrupamento foi utilizada para investigar cada uma das associações de cada resposta com as variáveis: tamanho do município, tipo e tamanho das clínicas. 136 dos ambulatório (76%) responderam à pesquisa. Quase todos (96,3%) relataram incentivar a adesão na prática clínica, predominantemente nas consultas de médicos (94,1%) e enfermeiros (67,6%). A maioria (78,7%) relatou avaliar a adesão através de registros da farmácia. Grupos (38,2%) e palestras (28,7%) foram as atividades de grupo mais conduzidas. A análise de agrupamento identificou três grupos de ambulatórios, dois deles muito distintos. Grupo 1 (27 ambulatórios) foi composto predominantemente por unidades de saúde básica, com menos de 100 pacientes, apresentaram a menor freqüência de avaliação da adesão e menos atividades individuais e em grupo. Grupo 2 (51 ambulatórios) foi constituído principalmente por ambulatórios especializados em HIV/aids, com mais de 500 pacientes, com maior freqüência de avaliação da adesão, maior participação de psicólogos, assistentes sociais e farmacêuticos e mais atividades individuais e em grupo. Grupo 3 (56 ambulatórios) foi composto em sua maioria por ambulatórios de especialidades e de médio porte, com a maioria das atividades semelhantes ao Grupo 2, exceto pela ausência de atividades para grupos específicos e menos envolvimento multidisciplinar. Dado o amplo reconhecimento da importância da adesão por parte das clínicas, ainda há poucas atividades específicas de adesão no Estado. As clínicas maiores e mais especializadas tendem a oferecer mais atividades individuais e em grupo, utilizando abordagens multidisciplinares. Maior atenção deve ser dada para a descentralização do atendimento às pessoas vivendo com HIV para assegurar cuidados de qualidade mais homogêneos em toda a rede ambulatorial. Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 28-29) Padronização da extração de DNA em papel filtro para a aplicação em amostras suspeitas de infecção perinatal pelo HIV-1 Aluno: Tatiane Pedroso Kitamura Orientador: Sandra Cecília Botelho Costa Instituição: Universidade de Campinas A Aids é causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana Tipo 1 (HIV-1). A infecção por este vírus tem diminuído significativamente entre a população pediátrica nos últimos anos, devido à atenção especial do Governo Brasileiro a pacientes infectados pelo HIV-1, entre eles as gestantes. A transmissão perinatal do HIV-1 pode ocorrer durante a gestação, na hora do parto ou após o parto, através do aleitamento materno. O diagnóstico da infecção pelo HIV-1 em adultos e em crianças com idade superior a 18 meses é usualmente estabelecido por ensaios sorológicos que identificam anticorpos específicos contra o HIV-1. Entretanto, o recém - nato adquire os anticorpos maternos da classe IgG, durante a gestação, o que pode levar a um diagnóstico falso-positivo nessa criança. O Ministério da Saúde no Brasil recomenda que o diagnóstico em crianças com idade inferior a 18 meses, seja feito através de técnicas de biologia molecular, pois estes detectam partículas virais e não os anticorpos contra o HIV-1. Um teste bastante eficiente é a reação em cadeia da polimerase (PCR), por ser um método de diagnóstico precoce, rápido, sensível, e que pode ter sua sensibilidade e especificidade elevada ainda mais com a realização de uma segunda reação de amplificação (“Nested-PCR”). A PCR detecta fragmentos - alvo do genoma viral, porém, para que as realizações das amplificações sejam satisfatórias, é necessária uma quantidade de sangue considerada de grande volume para recém - natos. Com base na necessidade de um diagnóstico precoce do HIV-1 e de uma melhor qualidade da amostra em pequenos volumes sangüíneos, este projeto teve como objetivo principal, a padronização da técnica de extração do DNA através de amostras sangüíneas colhidas em papel filtro, com utilização do kit FTA Cards (Life Technologies). Para confirmação da eficácia do método proposto foi realizada a técnica da “Nested-PCR”, já previamente padronizada no laboratório onde foi desenvolvida a pesquisa, a partir de sangue periférico colhido com EDTA. Para a realização da PCR e “NestedPCR” foram utilizados quatro pares de “primers” externos (PCR) e internos (“Nested-PCR”) para genes que flanqueiam regiões conservadas do HIV-1 (gene gag, gene pol e duas regiões do gene env). Foram analisados 71 pacientes, sendo: 43 crianças com suspeita de infecção perinatal pelo HIV-1, 11 crianças e 14 adultos soropositivos (para controle positivo da reação) e 03 crianças negativas para infecção pelo HIV-1 (controle negativo da reação). Os resultados obtidos mostraram concordância entre os dois métodos de extração estudados, confirmando dados da literatura, onde há a afirmação de que a extração de DNA colhido em papel filtro é uma técnica que pode ser aplicada com sucesso para a realização da “Nested-PCR” em diagnóstico de crianças com suspeita de infecção perinatal pelo HIV-1. Caracterização fenotípica e funcional de linfócitos T de memória de indivíduos infectados pelo HIV reativos a epítopos T CD4+ derivados de sequências do consenso B do HIV-1 Aluno: Adriana Coutinho Borgo Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 4 - 28-29) Orientador: Simone Gonçalves da Fonseca Instituição: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo A persistência de células T de memória funcionais é importante para garantir uma imunidade protetora na infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). As células T de memória têm sido subdivididas em memória central (TCM), memória efetora (TEM) e memória efetora altamente diferenciada (TEMRA) com base na expressão de moléculas de superfície como CCR7 e CD45RA, e na capacidade de produzir citocinas e proliferar. Recentemente, identificamos 18 peptídeos derivados de seqüências do consenso B do HIV-1, ligadores de múltiplas moléculas HLA-DR e amplamente reconhecidos por linfócitos T de sangue periférico de pacientes infectados pelo HIV. Diante disso e considerando a importância das células T de memória na manutenção da resposta imune específica, nosso objetivo foi caracterizar fenotípica e funcionalmente as subpopulações de células T de memória de indivíduos infectados pelo HIV envolvidas no reconhecimento in vitro desses epitopos. Foram incluídos 14 indivíduos controles sadios e 61 pacientes HIV+ com contagem de linfócitos T CD4+ maior que 250 células/mm3. Os pacientes HIV+ foram divididos em seis diferentes grupos clínicos de acordo com o estágio da infecção, carga viral (CV) plasmática e uso de terapia anti-retroviral (ART): não progressores por longo tempo (LTNP), avirêmicos em uso de ART (AV-ART), virêmicos em uso de ART (VI-ART), virêmicos sem uso de ART (VI sem ART), virêmicos recéminfectados sem uso de ART (VI-RI) e controladores. Células mononucleares do sangue periférico dos indivíduos do estudo foram estimuladas com o conjunto de peptídeos do HIV-1 e com um conjunto de peptídeos do Citomegalovírus (CMV). A freqüência de células de memória produtoras de IFN- e IL-2 e a proliferação celular antígeno-específica foram detectadas por citometria de fluxo de multiparâmetros. Nossos resultados mostraram que o conjunto de peptídeos do HIV-1 foi capaz de ativar subpopulações funcionais de memória TCM, TEM e TEMRA secretoras de IFN- e IL-2 em 100% dos pacientes HIV+ dos diferentes grupos clínicos. O conjunto de peptídeos do HIV-1 também induziu proliferação das subpopulações de linfócitos T de memória. As freqüências de TEMRA CD4+IFN-+, TEMRA CD4+IFN-+ total, TCM CD8+IFN-+, TCM CD8+IFN-+ total, TEM CD8+IFN-+, TEM CD8+IFN-+ total e TEMRA CD8+IFN-+ correlacionaram-se negativamente com a carga viral do HIV em pacientes virêmicos. Esses dados sugerem que essas subpopulações de memória funcionais são importantes no controle da viremia. Comparando as respostas HIV e CMVespecíficas observamos freqüências mais elevadas de células T de memória produtoras de IL-2, IFN-/IL-2 e IFN- em respostas ao pool de peptídeos do HIV. Esses dados sugerem que esse conjunto de peptídeos derivados de seqüências do HIV-1 ativa respostas polifuncionais de subpopulações de linfócitos T de memória. Nossos resultados mostraram que o conjunto de peptídeos do HIV-1 foi capaz de estimular diferentes subpopulações distintas de linfócitos T de memória produtores de IFN-, IFN-,/IL-2 e IL-2 de indivíduos em diferentes estágios da infecção pelo HIV e sugerem o envolvimento de subpopulações de memória funcionais no controle da viremia. Estes achados fortalecem a possibilidade de uso desses peptídeos em uma formulação vacinal bem-sucedida em humanos. 29 TENDÊNCIAS EM HIV/AIDS INSTRUÇÕES AOS AUTORES A revista Tendências em HIV/AIDS é uma publicação trimestral da Disciplina de Infectologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. O intuito dessa publicação é apresentar artigos de revisão preparados por especialistas da área que expressem o conhecimento e a experiência desses pesquisadores. Os artigos são todos escritos por líderes de opinião nesse campo do conhecimento com o intuito de conhecer como caminha a ciência na área, principalmente no que possa refletir a prática do dia-a-dia do clínico. Muitas das estratégias e opiniões aqui apresentadas são inovadoras e modernas. Portanto, os conceitos apresentados podem estar à frente de consensos e da prática corriqueira atual. Dessa forma, pretende-se manter a missão deste periódico, que é a de disseminar a informação de alta qualidade e com potencial inovador. O seleto corpo editorial da revista é também responsável pela escolha dos temas de interesse e pela indicação de especialistas que se dedicam ao desenvolvimento desses temas. A aprovação dos artigos está sujeita à avaliação por uma comissão de revisores que recebem o texto de forma anônima e decidem por sua publicação, sugerem modificações, requisitam esclarecimentos aos autores e efetuam recomendações ao Editor Chefe que por fim as encaminha aos autores. Categorias: O próprio autor deve indicar se o seu texto pertence à categoria: a) artigo de revisão b) artigo de atualização c) relato de caso A Tendências em HIV/AIDS também publica resumos de teses sobre HIV/ AIDS defendidas no trimestre anterior. Os resumos devem ser enviados para o mesmo endereço eletrônico e estão sujeitos à avaliação pelo Corpo Editorial. Os resumos podem ser submetidos no formato em que foram publicados na referida Dissertação ou Tese. Em uma seção denominada “Destaques”, a Tendências em HIV/AIDS, por meio de especialistas convidados, apresenta os temas de maior relevância abordados em congressos da área ou mesmo temas escolhidos pelo Corpo Editorial da Revista. Dessa forma, artigos que não pertençam às categorias a, b e c, acima citadas, não devem ser encaminhados à Tendências em HIV/AIDS sem que tenham sido solicitados formalmente pelo Corpo Editorial, por meio de convite oficial enviado via e-mail Artigos de revisão e atualização: Devem ser apresentados de forma didática e conter: resumo, palavras chave, abstract, Keywords, texto e referências bibliográficas. Tabelas e figuras também podem ser apresentadas, se necessário. Caso as figuras não sejam originais, o autor deverá providenciar a permissão para reprodução. Figuras não originais desacompanhadas de permissão de reprodução serão automaticamente excluídas do artigo, sem consulta prévia ao autor. O mesmo critério de originalidade se aplica às tabelas e quadros. Relatos de Caso: Deverão conter: resumo, palavras-chave, abstract, Keywords, introdução, descrição do caso, discussão. Destaques: Nessa seção são aceitos apenas os trabalhos escritos por autores convidados pelo Corpo Editorial da Tendências em HIV/AIDS. Normas para preparação dos artigos Os artigos devem ser redigidos em língua portuguesa. É obrigatória a apresentação de um resumo em português e um em inglês. Os artigos devem ser digitados no MS Word, formato txt e encaminhados por e-mail, no endereço eletrônico: [email protected] Em caso de aceite, o autor será comunicado e o artigo será publicado mediante apresentação de carta de autorização de publicação assinada pelos autores. Os autores devem certificar-se de que o manuscrito está de acordo com as “instruções aos autores”. O protocolo estabelece que: a) Os conceitos emitidos nos artigos são de total responsabilidade dos autores; b) Os artigos devem ser inéditos, ou seja, não devem ter sido publicados anteriormente, nem devem ter sido disponibilizados na Internet, com exceção das teses, dissertações e dos trabalhos apresentados em congressos; c) Caso sugestões ou mudanças sejam sugeridas aos autores como condição para publicação na Tendências em HIV/AIDS, os autores devem responder se aceitam ou não essas sugestões dentro de um prazo de 48 horas. Os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria da Tendências em HIV/AIDS. Os artigos enviados passarão a ser propriedade da Tendências em HIV/AIDS. d) Uma vez aceito para publicação, o artigo torna-se propriedade Tendências em HIV/AIDS e somente a revista poderá autorizar a reprodução dos artigos nela contidos. 30 e) A publicação do artigo, quando aceita, obedecerá à programação editorial. Página de rosto A página de rosto deve conter: a) o título do artigo, na língua portuguesa e em inglês; b) Categoria a que pertence o trabalho; c) nome completo dos autores e afiliação institucional; d) nome endereço, telefone e e-mail do autor responsável para correspondência. Segunda página a) Resumo, sem exceder 200 palavras; b) Abstract: versão fidedigna do resumo; c) 3 a 6 palavras-chave extraídas do vocabulário DeCS - Descritores de Ciências da Saúde (http://decs.bvs.br); d) 3 a 6 keywords, baseadas no MeSH - Medical Subject Headings sss(http:// www.nlm.nih.gov/cgi/mesh/2006/MB_cgi). Caso não sejam encontrados descritores apropriados para cobrirem o assunto do trabalho, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido. Referências Bibliográficas As referências devem ser numeradas de forma consecutiva, de acordo com a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez no texto, utilizando-se númerais arábicos sobrescritos e sem parênteses ou colchetes. As referências devem seguir o estilo Vancouver, como exemplificado: Revistas Científicas Linnen J, Wages J, Jr., Zhang-Keck ZY, Fry KE, Krawczynski KZ, Alter H, et al. Molecular cloning and disease association of hepatitis G virus: a transfusiontransmissible agent. Science 1996;271(5248):505-8. Livros Ringsven MK, Bond D. Gerontology and leadership skills. 2nd ed. Albany(NY): Delmar Publisher; 1996. Capítulos de Livro Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. P. 465-78. Anais de Congressos Kimura J, Shibasaki H. Recent advances in clinical neurophysiology. Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical Neurophysiology; 1995 Oct 15-19; Kyoto, Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996. Dissertações e Teses Kaplan SJ. Post-hospital home health care: the elderly’s access and utilization [dissertation]. St. Louis(MO): Washington Univ.; 1995. Tabelas e Ilustrações a) todas as partes do artigo devem ser incluídas em um único arquivo, sendo que as tabelas e as ilustrações devem ser apresentadas ao final do corpo do texto, após as referências bibliográficas; b) as tabelas deverão ser numeradas seqüencialmente através de algarismos arábicos e identificadas na parte superior pelo termo “Tabela” seguido do número, dois pontos, espaço e seu título; c) as ilustrações deverão ser numeradas seqüencialmente por meio de algarismos arábicos e identificadas na parte inferior pelo termo “Figura” seguido do número, dois pontos, espaço e seu título; d) os títulos das tabelas devem ser suficientemente explicativos. Conflito de Interesses Conforme exigências do Comitê Internacional de Editores de Diários Médicos (ICMJE), grupo Vancouver e resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000 os autores têm a responsabilidade de reconhecer e declarar conflitos de interesse financeiros e outros (comercial, pessoal, político, etc.) envolvidos no desenvolvimento do trabalho apresentado para publicação. Reprodução Somente a Tendências em HIV/AIDS poderá autorizar a reprodução dos artigos nelas contidos. Estamos acessíveis a críticas e sugestões e poderemos ser contatados pelos endereços eletrônicos: [email protected] e [email protected] Dúvidas e sugestões também podem ser resolvidas através da editora: Atha Comunicação e Editora A/C: Fernanda Colmatti/ Arthur T. Assis Rua: Machado Bittencourt,190, cj.410 - Vila Mariana - São Paulo - Capital CEP 04044-000 - [email protected] C M Y CM MY CY CMY K 2 2 Referências Bibliográficas: 1 - HARDY, WD. et al. Efficacy and safety of maraviroc in treatment-experienced patients infected with R5 HIV-1: 96-week combined analysis of MOTIVATE 1 and 2 studies. In: INTERNATIONAL CONGRESS ON DRUG THERAPY IN HIV INFECTION, 9, 2008, Glasgow. Congress sessions: Hot topics and late breakers 2. Disponível em: <http://www.hiv9.com/webcasts/MDI/index.htm>. Acesso em: 21 out. 2010. 2 - Celsentri ® (maraviroque). Bula do produto. CEL A 02 DEZ/10 Estrada dos Bandeirantes, 8464 Jacarepaguá - Rio de Janeiro/ RJ - CEP 22783-110 CNPJ:33.247.743/0001-10 Distribuído por: Material de distribuição exclusiva para profissionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar medicamentos. Recomenda-se a leitura da bula e da monografia do produto, antes da prescrição de qualquer medicamento. Mais informações à disposição sob solicitação ao Serviço de Informação Médica (DDG 0800 701 22 33 ou http://www.sim-gsk.com.br). Celsentri* (maraviroque) é uma molécula antagonista reversível da interação entre o CCR5 humano e a gp120 do HIV-1. O bloqueio desta interação previne a entrada do vírus HIV-1 CCR5-trópico nas células. Indicações: em combinação com outros medicamentos antirretrovirais, é indicado para pacientes adultos, experientes no tratamento, e infectados somente com o vírus HIV-1 CCR5-trópico detectado. Contra-indicações: pacientes com hipersensibilidade ao maraviroque ou a qualquer componente da fórmula. Advertências e precauções: Celsentri* deve ser administrado como parte do regime antirretroviral combinado e deve ser utilizado apenas quando o vírus HIV-1 CCR-5 trópico é detectado (isto é, CXCR4-trópicos ou com tropismo duplo/misto não detectado) conforme determinado por um método de detecção validado e sensível. Alterações no tropismo viral ocorrem ao longo do tempo em pacientes infectados pelo HIV-1. Por esta razão, é necessário iniciar o tratamento logo após a obtenção do resultado do teste de tropismo. Ajustes apropriados na dose de Celsentri* devem ser considerados quando este é administrado concomitantemente com inibidores e/ou indutores do CYP3A4. Verifique as bulas dos outros medicamentos antirretrovirais utilizados em combinação. Os pacientes devem ser informados que as terapias antirretrovirais, incluindo Celsentri*, não demonstraram prevenir o risco de transmissão do HIV para os outros através de contato sexual ou contaminação sanguínea. Eles devem continuar a usar as precauções apropriadas. Os pacientes também devem ser informados que Celsentri* não é uma cura para infecção por HIV-1. Utilizar com cautela em pacientes com risco aumentado de eventos cardiovasculares e em pacientes com histórico de hipotensão postural ou concomitantemente a medicamentos conhecidos por reduzir a pressão sanguínea. Em pacientes infectados com HIV com imunodeficiência grave no momento da instituição da terapia antirretroviral altamente ativa (HAART) pode aparecer reação inflamatória contra patógenos oportunistas residuais ou latentes e causar condições clínicas graves ou agravamento dos sintomas. Qualquer sintoma inflamatório deve ser avaliado e o tratamento deve ser iniciado quando necessário. Pacientes com disfunção hepática pré-existente, inclusive hepatite crônica ativa, podem apresentar aumento na frequência de anormalidades da função hepática durante o tratamento antirretroviral combinado e devem ser monitorados de acordo com a prática padrão. A segurança e eficácia de maraviroque não foram especificamente estudadas em pacientes com insuficiência renal, portanto maraviroque deve ser usado com cautela nesta população e/ou que também estejam utilizando inibidores potentes do CYP3A4. Uso durante a Gravidez: nenhum dado clínico significativo sobre a exposição durante a gravidez está disponível. Celsentri* deve ser utilizado durante a gravidez somente se o benefício potencial justificar o risco potencial ao feto. Celsentri* é um medicamento classificado na categoria B de risco de gravidez. Portanto, este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica. Uso durante a Lactação: não se sabe se maraviroque é secretado no leite humano. As mães devem ser instruídas a não amamentar caso estejam recebendo Celsentri* devido ao potencial de transmissão do HIV e qualquer efeito indesejado possível durante a amamentação do lactente. Efeitos na Habilidade de Dirigir ou Operar Máquinas: não foram realizados estudos sobre os efeitos na habilidade de dirigir ou operar máquinas. Celsentri* pode causar tontura. Os pacientes devem ser instruídos que caso eles apresentem tontura, eles devem evitar tarefas potencialmente perigosas, tais como dirigir ou operar máquinas. Vide bula completa do produto com outras “Advertências e Precauções”. Interações medicamentosas: maraviroque é um substrato do citocromo CYP3A4 e da Gp-P. O ajuste de dose de Celsentri* é recomendado quando ele é administrado concomitantemente com inibidores e/ou indutores do CYP3A4. A administração concomitante de maraviroque e Erva de São João (Hypericum perforatum) não é recomendada. Estudos demonstraram que o maraviroque não inibe ou induz as enzimas P450 importantes em concentrações clinicamente relevantes. Em alta exposição ao maraviroque uma inibição potencial do CYP2D6 não pode ser excluída. O clearance renal é estimado em aproximadamente 23% do clearance total do maraviroque quando Celsentri* é administrado sem inibidores do CYP3A4. O maraviroque pode inibir a glicoproteína-P no intestino e portanto, pode afetar a biodisponibilidade de certos medicamentos. Vide tabela com interações medicamentosas e doses recomendadas com outros medicamentos na bula completa do produto. Reações adversas: as frequências das reações adversas comuns (≥ 1/100 a < 1/10), assim como as taxas de interrupções em decorrência de qualquer reação adversa foram maiores nos pacientes recebendo Celsentri* 300 mg a cada 12 horas + TBO comparado com àqueles recebendo TBO isoladamente. Comum: insônia, neuropatia periférica, tontura, parestesia, disgeusia, sonolência; tosse, dor abdominal, distensão abdominal, constipação; dispepsia, rash, alopecia; espasmo muscular, dor nas costas, dor nas extremidades; noctúria; astenia; fadiga, aumento da alanina aminotransferase, da aspartato aminotransferase, da gama-glutamiltransferase, creatinina fosfoquinase, triglicérides e diminuição do peso. Vide demais reações adversas na bula completa do produto. Posologia: o tratamento com Celsentri* deve ser iniciado por um médico com experiência na condução da infecção por HIV. A dose padrão recomendada de Celsentri* é de 150 mg, 300 mg ou 600 mg a cada 12 horas, dependendo das interações com os antirretrovirais e outros medicamentos administrados concomitantemente. Celsentri* pode ser administrado com ou sem alimentos. Vide demais situações posológicas na bula completa do produto. Superdose: a maior dose administrada em estudos clínicos foi 1200 mg. A reação adversa dose limitante foi hipotensão postural que foi observada com a dose de 600 mg. Não há antídoto específico para superdosagem com Celsentri*. O tratamento da superdosagem deve consistir de medidas gerais de suporte incluindo a manutenção do paciente na posição supina, cuidadosa avaliação dos sinais vitais do paciente, pressão sanguínea e ECG. Caso seja indicado, a eliminação de maraviroque ativo não absorvido deve ser obtida através da emese ou lavagem gástrica. A administração de carvão ativado também pode ser utilizada para ajudar na remoção do fármaco não absorvido. Apresentações: comprimidos revestidos de 150 mg ou 300 mg em embalagens contendo 60 unidades. USO ADULTO. USO ORAL. USO SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA COM RETENÇÃO DA RECEITA. ATENÇÃO – O USO INCORRETO CAUSA RESISTÊNCIA DO VÍRUS DA AIDS E FALHA NO TRATAMENTO. A persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado. Para maiores informações, consulte a bula completa do produto (ces08). Documentação científica e informações adicionais estão à disposição da classe médica mediante solicitação. Laboratórios Pfizer Ltda., Rua Alexandre Dumas, 1860 – Chácara Santo Antônio, São Paulo, SP – CEP 04717-904. Tel.: 0800-16-7575. www.pfizer.com.br. Celsentri*. MS – 1.0216.0217. EFICÁCIA SUSTENTADA EM 96 SEMANAS, PARA PACIENTES HIV+ EXPERIMENTADOS ¹ 100 90 - Pacientes (%) 80 70 60 - Braço de randomização semana 0 MVC 2x/dia + TBO (N=426) MVC 1x/dia + TBO (N=414) ĸ Opção de troca para MVC 2x/dia aberto Placebo + TBO (N=209) 50 - 45,1% 46,5% 40 - 43,7% 43,5% 41,3% 38,9% 16,7% 7,2% 30 20 10 - - - - - - 8 12 16 20 24 - 0 - - 0 23,0% 32 40 48 56 60 64 72 80 84 88 96 Tempo (semanas) Adaptado a partir da referência 1 87% dos pacientes no braço, duas vezes ao dia, que estavam com supressão completa na Semana 48 continuaram suprimidos na Semana 96.1 Eventos adversos de categoria C, malignidades e alterações de enzimas hepáticas tiveram frequências semelhantes nos grupos maraviroque e placebo.1 1473287 LT LO CEL REVISTA TENDENCIAS EM HIV V5 N4 - CELSENTRI Resposta virológica com carga viral <50 cópias/mL, com diferença estatisticamente significante, quando comparada ao grupo placebo¹