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Cluster do Conhecimento Energias Renováveis Utilização de algas para a produção de biocombustíveis Dezembro 2010 Raquel Antunes Inês Cristóvão Silva Examinadoras de patentes Índice 1. Introdução……………………………………………………………………………3 2. Biocombustíveis – Enquadramento legal………………………………………...5 3. Utilização de algas para a produção de biocombustíveis……………………...7 3.1 Potencial das algas para a produção de energia………………………7 3.1.1 Bioetanol………………………………………………………….8 3.1.2 Hidrogénio………………………………………………………..9 3.1.3 Metano…………………………………………………………..11 3.1.4 Biodiesel………………………………………………………...12 3.2 Cultura de microalgas……………………………………………….…..15 3.3 Extracção e processamento dos óleos………………………………..20 3.4 Engenharia genética…………………………………………………….23 3.4.1 Engenharia genética de microalgas………………………....24 3.4.2 Engenharia genética do metabolismo lipídico………………26 4. A inovação na área dos biocombustíveis: tendências de patenteamento….30 5. Considerações Finais……………………………………………………………..34 6. Referências………………………………………………………………………...35 2 1. Introdução A procura de recursos limpos que permitam assegurar as necessidades energéticas futuras constitui um dos maiores desafios da actualidade. O crescente preço dos combustíveis e o foco internacional sobre o impacto ambiental das emissões gasosas têm vindo a conduzir à procura de recursos renováveis e ao desenvolvimento de tecnologias verdes que suportem a indústria e as necessidades do mercado mundial. Na União Europeia, o sector dos transportes é responsável por cerca de um quarto das emissões de gases com efeito de estufa1, pelo que é de importância primordial procurar formas de reduzir as emissões poluentes deste sector, quer através de veículos mais limpos e eficientes, quer através da utilização de biocombustíveis que permitam reduzir a dependência energética dos combustíveis fósseis. Os biocombustíveis constituem recursos não-tóxicos, biodegradáveis e renováveis, e estão associados a vantagens ambientais uma vez que permitem a redução das emissões poluentes, nomeadamente de gases com efeito de estufa, pelo que, no panorama actual, representam uma alternativa energética cada vez mais explorada. Contudo, a actual geração de biocombustíveis com recurso a culturas alimentares, como canola, milho, soja, açúcar e colza têm conduzido a um aumento do preço dos alimentos e à desflorestação agravada, além de produzirem elevadas emissões de gases com efeito estufa. Na busca de alternativas para fornecer energia mais verde, forte entusiasmo tem vindo a ser gerado em torno do grande potencial oferecido pelas algas como fonte energética. Neste domínio, as microalgas afiguram-se como uma alternativa auspiciosa para a próxima geração de biocombustíveis, apresentando um potencial considerável para a produção de biocombustíveis e, em particular, de biodiesel2, uma vez que têm a capacidade de duplicar sua biomassa várias vezes por dia e produzir pelo menos 15 vezes mais óleo por hectare do que as culturas alimentares concorrentes. A maior parte do petróleo no mundo de hoje foi formada pela decomposição de algas que datam de há milhões de anos atrás. Este processo pode ser replicado para nos proporcionar uma energia mais limpa, tendo unicamente como input a luz solar, a água e dióxido de carbono, durante o 3 processo de fotossíntese. O grande desafio actual consiste na optimização dos processos de produção e extracção dos óleos, e na identificação e manipulação dos recursos biológicos com maior potencial de exploração com vista à valorização desta fonte energética no futuro. 4 2. Biocombustíveis – Enquadramento legal Em Portugal, no âmbito do Decreto-Lei nº 62/2006 (que transpõe a Directiva nº 2003/30/CE de 8 de Maio), são considerados biocombustíveis os seguintes produtos: 1. Bioetanol: etanol produzido a partir de biomassa e/ou da fracção biodegradável de resíduos para utilização como biocombustível; 2. Biodiesel: éster metílico e/ou etílico, produzido a partir de óleos vegetais ou animais, com qualidade de combustível para motores diesel, para utilização como biocombustível; 3. Biogás: gás combustível produzido a partir de biomassa e/ou da fração biodegradável de resíduos, que pode ser purificado até à qualidade do gás natural, para utilização como biocombustível ou gás de madeira; 4. Biometanol: metanol produzido a partir de biomassa para utilização como biocombustível; 5. Bioéter dimetílico: éter dimetílico produzido a partir de biomassa para utilização como biocombustível; 6. Bio-ETBE (bioeteretil-terc-butílico): ETBE produzido a partir do bioetanol, sendo a percentagem em volume de bio-ETBE considerada como biocombustível igual a 47%; 7. Bio-MTBE (bioetermetil-terc-butílico): combustível produzido com base no biometanol, sendo a percentagem em volume de bio-MTBE considerada como biocombustível de 36%; 8. Biocombustíveis sintéticos: hidrocarbonetos sintéticos ou misturas de hidrocarbonetos sintéticos produzidos a partir de biomassa; 9. Bio-hidrogénio: hidrogénio produzido a partir de biomassa e/ou da fracção biodegradável de resíduos, para utilização como biocombustível; 10. Óleo vegetal puro produzido a partir de plantas oleaginosas: óleo produzido por pressão, extracção ou processos comparáveis, a partir de plantas oleaginosas, em bruto ou refinado, mas quimicamente inalterado, quando a sua utilização for compatível com o tipo de motores e os respectivos requisitos relativos a emissões. 5 A Directiva 2003/30/CE, que visa também criar mecanismos para promover a colocação no mercado de quotas mínimas de biocombustíveis, estabeleceu um valor de incorporação de biocombustíveis de 5,75% até 2010 e de 20% até 2020. O Decreto-Lei 62/2006 de 21 de Março, que constituiu um dos documentos de apoio à “Estratégia Nacional para a Energia”, RCM nº 169/2005 de 24 de Outubro de 2005, veio antecipar as metas europeias ao estipular uma meta de 10% em 2010 para os biocombustíveis utilizados nos transportes, meta esta que se mantém na nova Estratégia Nacional para a Energia (ENE 2020). Adicionalmente, o Decreto-Lei 66/2006 de 22 de Março, que altera o Código dos Impostos Especiais sobre o Consumo, constitui também um incentivo à utilização de biocombustíveis, consagrando a isenção de Imposto sobre os Produtos Petrolíferos aos biocombustíveis integrados na gasolina e no gasóleo. 6 3. Utilização de algas para a produção de biocombustíveis 3.1 Potencial das algas para a produção de energia O biodiesel é o combustível derivado das algas que tem vindo a receber maior atenção dada a sua elevada potencialidade para substituir a dependência dos combustíveis fósseis, principalmente no domínio dos transportes. Contudo, diversas formas alternativas de energia podem ser obtidas a partir desta matéria-prima, nomeadamente etanol, hidrogénio, metano, biomassa para combustão e gaseificação e outras variantes de hidrocarbonetos combustíveis. Na figura 1 encontram-se representados os principais produtos energéticos provenientes das algas e as respectivas vias de produção. Figura 1 – Vias de obtenção de diversos produtos energéticos derivados das algas3 7 3.1.1 Bioetanol O etanol pode ser obtido a partir das algas através da conversão do amido e da celulose. Uma vez que são ricas em polissacáridos e possuem paredes celulares finas, as algas são a fonte ideal para o bioetanol de segunda geração. A problemática actual prende-se com o facto de haverem diversos produtos de elevado valor que podem adicionalmente ser obtidos a partir desta matéria-prima (e.g. carrageno, agar), pelo que a obtenção de um produto de baixo valor como o etanol não é prioritário. Entre as espécies que se apresentam como as mais promissoras para a produção de etanol contam-se fundamentalmente macroalgas, nomeadamente: O • Sargassum • Glacilaria • Prymnesium parvum • Euglena gracilis processo de produção de etanol a partir das algas baseia-se, fundamentalmente, na fermentação dos açúcares, e engloba diversas etapas4: 1. Crescimento das algas em meio de aquacultura. 2. Colheita das algas, de modo a constituir uma reserva de biomassa. 3. Início da decomposição (para que ocorra ruptura das paredes celulares e libertação dos polissacáridos). 4. Sacarificação do amido. 5. Fermentação da biomassa em decomposição; os microorganismos utilizados são, normalmente, as leveduras da cerveja (Saccharomyces cerevisiae e Saccharomyces uvarum) ou bactérias geneticamente modificadas. 6. Separação do etanol formado da restante solução de fermentação. Alternativamente, o etanol poderá também ser produzido a partir de algas após extracção do seu conteúdo oleaginoso. De um modo geral, a biomassa das algas compreende três componentes principais: hidratos de carbono, proteínas e lípidos. Após a extracção dos lipídica para a produção de 8 biodiesel, os hidratos de carbono existentes no bolo vegetal remanescente podem ser utilizados como substrato de fermentação para a produção de etanol, o que permite uma optimização da biomassa potencialmente energética das algas. Figura 2 – Produção combinada de biodiesel e bioetanol4. Adicionalmente, o dióxido de carbono resultante do processo de fermentação pode, por sua vez, alimentar a produção de nova biomassa, o que permite o funcionamento em sistema fechado (Fig. 2). A produção combinada de biodiesel e etanol apresenta-se, portanto, como uma alternativa com elevado potencial relativamente à qual alguns ensaios estão já a ser levados a cabo4. 3.1.2 Hidrogénio O hidrogénio é visto como a energia no futuro, pois constitui um recurso renovável, não contribui para o "efeito estufa", liberta grandes quantidades de energia por unidade de peso na combustão, e é facilmente convertida em energia eléctrica em células de combustível. 9 A produção biológica de hidrogénio apresenta várias vantagens sobre a produção de hidrogénio por processos fotoeletroquímicos ou termoquímicos, uma vez que a produção de hidrogénio por microrganismos fotossintéticos por exemplo, requer o uso de um reactor solar simples (e.g. uma caixa transparente fechada), com requisitos de baixa energia, enquanto que processos electroquímicos requerem o uso de baterias solares de alta energia5. Existem três métodos de produção de hidrogénio a partir das algas: Processos bioquímicos, gaseificação e reformação a vapor de metano5. Sob condições específicas, as algas produzem hidrogénio, através de processos biológicos e fotobiológicos. As microalgas e cianobactérias, juntamente com as plantas superiores, são capazes de fotossíntese aeróbica de acordo com a seguinte reacção5: CO2 + H26 [CH O = 2O] + O2 A fotossíntese consiste na conversão de energia luminosa em energia bioquímica numa reacção fotoquímica, e na redução de CO2 a compostos orgânicos, tais como fosfatos de açúcar, através da utilização desta energia bioquímica pelas enzimas do ciclo de Calvin. Sob certas condições, porém, em vez de redução de CO2, alguns grupos de microalgas e cianobactérias consomem energia bioquímica para produzir hidrogénio molecular, através da acção de hidrogenases e nitrogenases. O hidrogénio pode também ser produzido por gaseificação da biomassa das algas. Durante a gaseificação a biomassa é convertida numa mistura gasosa (CO e H2), pela aplicação de calor sob pressão, na presença de vapor e de uma quantidade controlada de oxigénio. Diversas metodologias têm vindo a ser desenvolvidas com vista à separação do H2 a partir do gás de síntese5. 10 Figura 3 – Gaseificação da biomassa algal6. Por último, o hidrogénio pode também ser obtido a partir do metano resultante da fermentação de biomassa das algas, através de técnicas tradicionais de reformação a vapor (SMR). A reformação a vapor é o método mais comum de produção de hidrogénio comercial, e constitui também o método menos dispendioso. A altas temperaturas (700 - 1100°C) e na presença de um catalisador metalálico (níquel), o vapor reage com o metano para produção de monóxido de carbono e hidrogénio, através da reacção7: CH4 + H2O → CO + 3H2. 3.1.3 Metano O metano é importante para geração de energia eléctrica em turbinas a gás ou caldeiras a vapor, sendo que a sua queima produz menos CO2 por unidade de calor libertado do que outros hidrocarbonetos. Adicionalmente, 11 verifica-se que o metano produz mais calor por unidade de massa do que outros hidrocarbonetos complexos. Em muitas cidades, o metano é canalizado em residências para aquecimento doméstico e para cozinhar, contexto no qual é geralmente conhecido como gás natural, sendo também utilizado na forma de gás natural comprimido como combustível para veículos8. Teoricamente, o metano pode ser produzido a partir de qualquer um dos três componentes de algas – hidratos de carbono, proteínas e lípidos. Para a produção de metano, os bio-reactores fechados para cultivo de algas constituem uma alternativa promissora para a obtenção de biomassa para a produção de bio-metano. Estes sistemas permitem o cultivo de microalgas em grandes quantidades (150-300 toneladas por hectare por ano), o que corresponde, teoricamente, a um rendimento 200,000-400,000 m de metano por ha por ano8. A digestão anaeróbia constitui o método mais directo de produção de metano a partir de algas, envolvendo as seguintes etapas sucessivas8: - Pré-tratamento das algas para despolimerização da matéria sólida, formandose uma suspensão de partículas finas. - Passagem da suspensão num leito fluidizado com enzimas que convertem a biomassa em açúcar, e bactérias capazes de transformar os açúcares em ácidos gordos voláteis. - Decantação da suspensão, de modo a eliminar quaisquer partículas sólidas que possam permanecer. - Passagem do líquido decantado num leito fixo contendo bactérias metanogénicas. 3.1.4 Biodiesel O biodiesel refere-se a qualquer biocombustível equivalente ao diesel e obtido a partir de materiais biológicos renováveis, tais como óleos vegetais ou gorduras animais, e consiste em hidrocarbonetos saturados de cadeia longa. Pode ser usado na forma pura (B100) ou pode ser misturado ao diesel em qualquer concentração9. 12 Culturas como a soja, palma, canola e colza são considerados como matérias-primas de primeira geração, visto terem sido as primeiras culturas utilizadas para a produção de biodiesel. A maior parte das matérias-primas de primeira geração podem igualmente ser utilizadas como culturas alimentares. Contudo, uma vez que este tipo de culturas, quando utilizadas para a produção de biodiesel, estão associadas a um rendimento muito inferior comparativamente ao das algas10 (tabela 1), muito dificilmente a primeira geração de biocombustíveis terá uma produtividade suficiente sem que haja alocação exclusiva de grandes extensões de terra arável para culturas destinadas à produção de combustíveis. Matérias-primas de origem biológica mas não alimentar são utilizadas na produção de biodiesel de segunda geração. Estes produtos podem ser convertidos em combustível através de métodos standard de transesterificação, ou usando tecnologias de “biomass-to-liquid” (BTL), tais como o processo de Fischer-Tropsch ou o processo de pirólise rápida. Este tipo de matérias-primas permite eliminar a concorrência relativamente aos recursos alimentares, reduzir a utilização de terra arável, além de que são obtidos subprodutos que podem ser reaproveitados noutros processos químicos ou queimados para geração de calor e energia. Contudo, tal como no caso dos combustíveis de primeira geração, estas matérias-primas oferecem modestas reduções relativamente ao uso de combustíveis fósseis e às emissões de gases de efeito estufa com os métodos de processamento actualmente existentes. As algas, constituindo a terceira geração de biocombustíveis, apresentam-se, teoricamente, como a única fonte de biocombustível que pode vir a substituir a dependência do petróleo no futuro de uma forma económica e socialmente viável. Uma das principais razões pelas quais as algas são cada vez mais exploradas como matéria-prima, particularmente para a produção de biodiesel, é o seu elevado rendimento, uma vez que a produção de algas gera 30 vezes mais energia por hectare do que as culturas terrestres. As microalgas representam os organismos unicelulares fotossintéticos com crescimento mais acelerado, podendo completar um ciclo de crescimento em poucos dias. Algumas espécies de microalgas têm alto teor de óleo (até cerca de 80% de óleo por peso seco, tabela 2) e podem produzir até 137.000 litros de óleo por hectare por ano, em condições óptimas10. 13 Tabela 1 – Comparação entre fontes de biodiesel10 Produção de óleo Área cultivável necessária (L/ha)* (Mha)a Milho 172 1540 Soja 446 594 Colza 1190 223 Coco 2689 99 Óleo de palma 5950 45 136900 2 58700 4.5 Cultura Microalgas (70% óleo/peso seco) Microalgas (30% óleo/peso seco) *valor de referência para cumprir 50% das necessidades energéticas dos transportes nos Estados Unidos. Tabela 2 – Conteúdo oleaginoso de algumas espécies de microalgas10 Microalga Conteúdo oleaginoso (% peso seco) Botryococcus braunii 25-75 Chlorella sp. 28-32 Crypthecodinium cohnii Cylindrotheca sp. Dunaliella primolecta Isochrysis sp. Monallanthus salina 20 16-37 23 25-33 >20 Nannochloris sp. 20-35 Nannochloropsis sp. 31-68 Neochloris oleoabundans 35-54 Nitzschia sp. 45-47 Phaeodactylum tricornutum 20-30 Schizochytrium sp. 50-77 Tetraselmis sueica 15-23 14 Embora, no que diz respeito ao teor lipídico (% de lípidos relativamente ao peso seco), as algas sejam equivalentes à biomassa de outras culturas oleaginosas, a grande vantagem da sua utilização reside efectivamente na elevada produtividade, sendo que o aumento do teor de óleo por unidade de área obtido a partir das algas constitui um dos temas mais pesquisados actualmente. 3.2 Cultura de microalgas A produção de biomassa algal é, de um modo geral, mais dispendiosa do que as culturas alimentares terrestres visto que a manutenção dos parâmetros físico-químicos é mais difícil em meio aquático. O crescimento fotossintético requer a presença de luz, dióxido de carbono, água e sais inorgânicos, assim como a manutenção da temperatura entre os 20-30ºC. No que se refere à produção de microalgas a redução de custos assenta essencialmente na utilização de luz natural, embora as variações diárias e sazonais constituam uma limitação inevitável. Os meios de crescimento de microalgas devem fornecer todos os elementos inorgânicos que constituem as células das algas, sendo que os elementos essenciais incluem azoto, fósforo, ferro e silício. Os requisitos nutricionais mínimos podem ser estimados usando a fórmula molecular aproximada da biomassa algal CO0.48H1.83N0.11P0.0111. Geralmente o meio utilizado é água do mar suplementada com fertilizantes comerciais, o que constitui um recurso pouco dispendioso. A biomassa das algas contém cerca de 50% de carbono por peso seco12, na sua maioria derivado da metabolização de dióxido de carbono. Este gás deverá ser fornecido em regime constante durante o período diurno, mas sob condições controladas para manutenção do pH dentro dos valores óptimos. Uma das vantagens da produção de biodiesel a partir de microalgas poderá ser a utilização de CO2 proveniente da queima de combustíveis fósseis em centrais térmicas, o que constitui um recurso disponível a baixo custo10. A produção de algas em larga-escala geralmente recorre ao cultivo contínuo durante o período diurno, com adição de meio de cultura a uma taxa 15 constante e remoção de uma quantidade equivalente de biomassa algal. Durante a noite mantém-se apenas a agitação do meio de cultura para evitar o assentamento das algas. Cerca de 25% da biomassa produzida no período diurno pode ser perdida durante a noite devido à respiração, sendo que a proporção de perda de biomassa depende do nível de luminosidade, e temperatura durante a fase de crescimento, assim como a temperatura durante a noite10. Actualmente os únicos métodos praticáveis para produção de microalgas em larga-escala compreendem a utilização de tanques abertos (“raceway ponds”) ou de fotobioreactores tubulares fechados10. Os “raceway ponds” são usados para o cultivo de microalgas desde os anos 50, pelo que os conhecimentos inerentes a esta tecnologia estão já bem consolidados. Os tanques utilizados são geralmente constituídos por canais de recirculação independentes, os quais formam um loop fechado, tipicamente com cerca de 20-30 cm de profundidade, e com recirculação e agitação promovidos pela acção de pás. Em termos de área, este tipo de instalações ocupa entre 0.5-1 ha até 200 ha no caso de cultivos extensivos (e.g. cultivo de D. salina na Austrália)13. Figura 4 – Raceway pond6 16 O cultivo de microalgas para a produção de biodiesel em “raceway ponds” (Fig. 4) tem sido largamente avaliado em estudos financiados pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos10 visto que constitui uma metodologia menos dispendiosa que os fotobioreactores em termos de custos de construção e manutenção. Contudo, este tipo de cultivo, embora apresente produtividades geralmente superiores a 10 g de peso seco/m2d, mantém-se aquém do rendimento dos fotobioreactores10. Uma vez que é um sistema aberto está sujeito a flutuações diárias e sazonais da temperatura, e as perdas para a atmosfera por evaporação tornam também a utilização do CO2 menos eficiente, o que conduz a uma produtividade sub-óptima. Adicionalmente, a contaminação por algas e microorganismos que se alimentem de algas afecta também a eficiência da produção de biomassa. Não obstante, este tipo de sistema é geralmente encarado como a base para a cultura de microalgas em larga escala para a produção de biodiesel, embora estejam ainda a ser optimizadas as condições para cultura das espécies-chave para a produção de biodiesel10. Por sua vez, os fotobioreactores permitem essencialmente monoculturas de microalgas, tendo vindo a ser usados com sucesso para a produção de biomassa microalgal10. Um fotobiorector consiste numa série de tubos transparentes, geralmente feitos de plástico ou vidro, os quais actuam como colectores solares (Fig. 5). 17 Figura 5 – Fotobioreactor6 Os biorreatores para cultivo de microalgas apresentam vantagens técnicas, em termos de minimização da contaminação, maiores densidades de cultura e maior controlo sobre as condições físico-químicas. Numerosas tipologias destes bioreactores têm sido descritas na literatura científica13 e em patentes, sendo que apenas uma pequena parte foi comercializada até à data. Esta tecnologia envolve fundamentalmente a produção fotoautotrófica, com iluminação natural ou artificial, embora os fermentadores convencionais possam também ser usados para a cultura de algumas espécies de microalgas de forma heterotrófica em altas densidades, sem a presença de luz13 (Fig. 6). Os fotobioreactores incorporam geralmente os seguintes componentes13: - Reservatório de cultura, geralmente permeável à luz, - Sistema de fornecimento de luz, geralmente com lâmpadas fluorescentes ou que fornecem radiação fotossinteticamente activa (λ=400-700 nm). No caso dos reactores exteriores é utilizada simplesmente luz natural incidente ou dispositivos colectores de energia solar de complexidade variável. - Sistema de trocas gasosas, para fornecer CO2 e remover o oxigénio gerado fotossinteticamente, para impedir a inibição do metabolismo celular - Sistema de recolha de biomassa. 18 Figura 6 – Fermentador6 Os fotobioreactores mais sofisticados são projectados de forma a oferecer um percurso óptico curto sob iluminação externa, principalmente através de sistemas tubulares ou placas planas, de forma a minimizar a atenuação luminosa entre a superfície e o centro do reservatório de cultura, utilizando para tal tubos ou placas com diâmetro/espessura de aproximadamente 0.05m13. A configuração dos fotobioreactores tubulares é variável, incluindo dispositivos horizontais, verticais, helicoidais, enquanto que as placas planas são normalmente câmaras rectangulares finas posicionadas na vertical ou orientadas de acordo com a radiação solar, podendo também ser constituídas por canais internos que fornecem rigidez estrutural e permitem um eficaz fluxo do meio de cultura. Actualmente, os elevados custos de construção e operacionalidade destes reactores limitam o número de sistemas comerciais em larga-escala, sendo que os fotobioreactores fechados não apresentam condições para suportar de forma economicamente viável o cultivo de microalgas em grande escala necessária para a produção de biocombustíveis. Representam, contudo, uma importante tecnologia para produção de inóculos sem contaminantes para 19 alimentação de grandes tanques em circuito aberto13. Adicionalmente, a investigação actual procura, portanto, promover a combinação entre a tecnologia dos fotobioreactores e “raceway ponds”, para reduzir a contaminação e a duração dos ciclos de cultivo nos tanques abertos, optimizando a produção de biomassa em tanques exteriores, de forma a que se apresentem como uma alternativa competitiva no mercado dos biocombustíveis. 3.3 Extracção e processamento dos óleos A extracção e processamento dos produtos obtidos das microalgas constituem as áreas mais problemáticas relativamente à utilização de algas para a produção de biocombustíveis, principalmente devido ao custo do processo de recuperação dos produtos a partir de soluções diluídas. Diversas metodologias podem ser utilizadas para a colheita de microalgas. No passado, pouca atenção tem sido dada ao desenvolvimento de técnicas de colheita que maximizem o valor dos produtos obtidos a partir das microalgas (biorefinação). Os óleos representam apenas um dos muitos produtos com valor comercial, sendo que a escolha do organismo a cultivar requer a avaliação de todas as matérias potencialmente produzidas. A figura 7 ilustra a implementação do conceito de biorefinaria, em que o petróleo é produzido em paralelo com outros extractos úteis e com reciclagem dos nutrientes e água utilizados no processo (Fig. 8). 20 Figura 7 – Representação esquemática de uma biorefinaria para obtenção de produtos úteis a partir das microalgas13 Figura 8 – Secagem da biomassa da microalgas6 21 Figura 9 – Extracção dos óleos6 Os custos de colheita da biomassa representam cerca de 20-30% do custo total13. Actualmente, a recolha da biomassa de microalgas baseia-se em processos de sedimentação em campo gravitacional, centrifugação, flutuação e filtração13. Seguidamente, para que haja uma extracção eficaz dos materiais contidos no interior das células, é necessário proceder à disrupção celular. Embora existam diversas metodologias para disrupção celular, o critério fundamental é a maximização do valor dos materiais obtidos. A disrupção mecânica das células é geralmente o método por excelência uma vez que evita contaminação química da preparação, preservando simultaneamente a maior parte da funcionalidade do material celular. A etapa final no processo de extracção consiste no fraccionamento dos extractos, geralmente com recurso a solventes orgânicos, e recolha dos óleos13 (Fig. 9). 22 3.4 Engenharia genética Embora as microalgas se apresentem como uma alternativa promissora no futuro dos biocombustíveis, várias barreiras técnicas têm ainda que ser ultrapassadas para que este tipo de matéria-prima possa ser utilizada de forma economicamente viável. As dificuldades apresentam-se fundamentalmente ao nível de14: - Desenvolvimento de métodos de recolha com baixo consumo energético, - Produção de biomassa em larga-escala em sistemas exteriores, - Presença de espécies invasivas nos tanques de cultura, - Baixa penetrância luminosa em culturas de elevada densidade, - Optimização de métodos de extracção de baixo consumo energético - Fracas propriedades de escoamento a frio da maior parte do biodiesel derivado de microalgas. Para que haja um incentivo à utilização de microalgas na produção de biocombustíveis, é importante que sejam desenvolvidas soluções para optimizar a produtividade dos sistemas de cultivo de microalgas, e desenvolver esforços de bioprospecção para identificação de estirpes com caracteres desejáveis para a produção de combustíveis. Estima-se que existem mais de 50.000 espécies de microalgas, embora apenas uma fracção de cerca de 30.000 espécies tenha sido estudada e analisada15. Durante as últimas décadas extensas colecções de algas têm vindo a ser criadas em diversos países, sendo a colecção de algas de água doce da Universidade de Coimbra um dos maiores repositórios do mundo, com mais de 4000 estirpes e 1000 espécies15. Embora estes esforços demonstram que muitas espécies de microalgas têm propriedades que são desejáveis para a produção de biocombustíveis, a maioria apresenta condicionantes que impediram, até à data, o surgimento de uma indústria economicamente viável de biocombustíveis a partir de algas. As culturas alimentares tradicionalmente usadas têm vindo a ser optimizadas ao longo dos anos através da selecção dos caracteres mais favoráveis, enquanto que no caso das bioalgas este processo está ainda em fase muito incipiente. 23 Por esse motivo, a engenharia genética afigura-se como a solução para ultrapassar a morosidade do processo de selecção. Contudo, apesar dos recentes avanços nas abordagens biotecnológicas, o potencial da engenharia genética só seria completamente alcançado se as técnicas de reprodução das espécies mais significativas estiverem solidamente estabelecidas de forma a permitir a combinação dos caracteres e mutações genéticos mais desejáveis14. 3.4.1 Engenharia genética de microalgas Na última década têm sido alcançados progressos significativos na genómica das microalgas, nomeadamente com a criação de bases de dados de marcadores de sequências expressos (EST) e a sequenciação do genoma de diversas espécies. Historicamente, a alga verde Chlamydomonas reinhardtii tem sido o foco de investigação genética e molecular pelo que a maioria das ferramentas para a expressão ou knockdown de genes e são específicas para esta espécie. Contudo, estão também a ser rapidamente desenvolvidas ferramentas adaptadas a espécies de maior interesse comercial14. 24 Figura 10 – Vias metabólicas das microalgas relativamente às quais estão a ser optimizadas estratégias de optimização da produção de óleos14 Descodificação do genoma No que se refere à descodificação do genoma, vários projectos de sequenciação do genoma nuclear encontram-se já concluídos, nomeadamente para C. reinhardtii, Phaeodactylum, Thalassiosira pseudonana, Cyanidioschyzon merolae, Ostreococcus, Ostreococcus tauri, e Micromonas pusilla14. Por sua vez, encontram-se em cursos projectos para sequenciação de Fragilariopsis cylindrus, Pseudo-nitzschia, Thalassiosira rotula, Botryococcus braunii, Chlorella vulgaris, Dunaliella salina, Micromonas pusilla, Galdieria sulphuraria, Porphyra purpurea, Volvox carteri, e Aureococcus anophageferrens14. 25 Métodos de transformação e expressão A transformação genética foi já conseguida para diversas espécies, nomeadamente algas verdes (Chlorophyta), vermelhas (Rhodophyta) e castanhas (Phaeophyta), diatomáceas, euglenófitas e dinoflagelados14. Os métodos primariamente desenvolvidos para C. reinhardtii demonstram que a estabilidade da expressão pode ser melhorada através de utilização de codões adequados e promotores endógenos fortes, da inclusão de terminações 5’,3’ específicas de cada espécie e da utilização de sequências de intrões14. A eficiência de transformação parece estar fortemente correlacinada com a espécie usada, e os métodos de transformação têm de ser cuidadosamente seleccionados e optimizados para cada microalga. Entre os métodos de transformação que têm sido utilizados para a transferência de DNA em células de microalgas encontram-se, fundamentalmente, a agitação na presença de esferas de vidro, eletroporação, o bombardeamento com micropartículas de biobalística e transferência de genes mediada 14 Agrobacterium tumefaciens . 3.4.2 Engenharia genética do metabolismo lipídico Nas algas, a biossíntese e catabolismo de lípidos e catabolismo, assim como as vias que determinam o comprimento e saturação dos ácidos gordos não foram ainda exaustivamente estudados como nas plantas terrestres. No entanto, muitos dos genes envolvidos no metabolismo lipídico nas plantas terrestres possuem homólogos nos genomas das microalgas. Portanto, pelo menos algumas das estratégias utilizadas para modificar o teor lipídico em plantas superiores afiguram-se também eficazes nas microalgas. Biossíntese lipídica A figura 10 apresenta uma visão simplificada das vias de síntese de lípidos, ao nível das quais poderão ser levadas a cabo manipulações genéticas 26 para aumentar o conteúdo oleaginoso das algas. Em particular, o fornecimento de ácidos gordos parecem ser determinantes para a regulação da síntese de óleos14, pelo que grande ênfase foi inicialmente dado aos estudos focados no aumento da expressão de enzimas envolvidas nas vias de síntese de ácidos gordos, embora com pouco sucesso. Mais recentemente, a sobre-expressão de genes envolvidos na formação de triacilgliceróis (TAG) parece revelar-se a abordagem de maior sucesso14. Outra abordagem alternativa para aumentar o conteúdo celular lipídico consiste em bloquear as vias metabólicas responsáveis pela acumulação de compostos energéticos, tal como o amido. A disrupção do gene da ADP-glucose-pirofosforilase ou isoamilase em algas parece revelar-se particularmente eficaz para a acumulação de triacilglicerol14. Catabolismo lipídico Uma estratégia complementar para aumentar a acumulação de lípidos consiste na redução do seu catabolismo. Os genes envolvidos na activação do triacilglicerol e dos ácidos gordos livres, assim como os genes envolvidos na βoxidação dos ácidos gordos, foram já alvo de estudos de inactivação, resultando em aumento do conteúdo lipídico celular. Contudo, grande parte do conhecimento disponível neste domínio provém de estudos em plantas superiores. Por esse motivo, e para ultrapassar a falta de recombinação homóloga eficiente em microalgas, a inactivação genética terá que ser promovida através de mutagénese aleatória ou através do silenciamento de RNA14. 27 Figura 11 – Vias metabólicas da biossíntese lipídica em microalgas14 Adicionalmente, importa considerar os ciclos diários, uma vez que várias microalgas iniciam o armazenamento de TAG durante o dia, mas consomem essas reservas durante a noite para suportar os requisitos energéticos e a divisão celular. Consequentemente, a inibição da β-oxidação iria impedir a perda de TAG durante a noite, mas com a consequente redução da taxa de crescimento. Por esse motivo, esta estratégia poderá não ser viável para microalgas cultivadas em tanques abertos exteriores, mas pode ser uma estratégia válida para aumentar a produção lipídica em microalgas cultivadas em fotobiorreatores com fontes exógenas de carbono e/ou luz contínua14. 28 Modificação das características dos lípidos Alternativamente à engenharia genética direccionada para a produção aumentada de lípidos, uma estratégia que se poderá afigurar também auspiciosa visa o aumento da qualidade dos lípidos com vista à sua adequabilidade como matéria-prima para biodiesel, nomeadamente no que se refere ao comprimento das cadeias. O comprimento da cadeia dos ácidos gordos é determinado por acil-ACP tioesterases, que libertam os ácidos gordos da sua cadeia de síntese. Existem várias tioesterases obtidas a partir de uma grande variedade de organismos e que são específicas para determinados comprimentos de cadeia dos ácidos gordos, pelo que a sua sobreexpressão trangénica poderá ser usada para optimizar os óleos obtidos a partir de microalgas14. O Potencial para a modificação do conteúdo lipídico em microalgas É razoável pensar que algumas das estratégias que resultam no aumento do conteúdo de óleo nas sementes de plantas terrestres poderão ser também aplicáveis em microalgas. Muitas microalgas não produzem uma grande quantidade de lípidos de armazenamento durante o seu crescimento. Em vez disso, quando estão sobre stress ambiental, como a falta de azoto, elas diminuem a sua proliferação e começam a produzir produtos energéticos de armazenamento, tais como lípidos e/ou amido. É assim interessante verificar como a sobre-expressão de genes responsáveis pelas vias de síntese de lípidos pode afectar a proliferação de microalgas. Um resultado possível será o aumento da síntese lipídica conduzir à redução da divisão celular. 29 4. A inovação na área dos biocombustíveis: tendências de patenteamento Efectuou-se uma análise ao patenteamento na área dos biocombustíveis obtidos a partir de microalgas. Esta análise teve como objectivo identificar quais as principais empresas/instituições (requerentes) que fizeram pedidos de patente nesta área tecnológica, e também quais os principais países intervenientes nesta mesma área. Analisou-se ainda a evolução do número de publicações de documentos ao longo da presente década, bem como a evolução do número de publicações por pais de origem. Figura 12 – Número de publicações das principais empresas/requerentes que fizeram pedidos de patente na área dos biocombustíveis obtidos a partir de microalgas no período de 2000 a 2010 (2010-12-22). Como se pode constatar pela observação da figura 12, não existe um requerente principal, que se destaque dos restantes, na área dos biocombustíveis obtidos a partir de microalgas. Pode-se no entanto salientar os seguintes: Sapphire Energy Inc, Chevron USA Inc, Eni SPA, UOP LLC e a Universidade de Tsinghua. 30 Figura 13 – Evolução do número de publicações, por requerente, no período de 2000 a 2010 (2010-12-22). Relativamente à evolução do número de publicações por requerente, observa-se que só em 2009 e 2010 as empresas começaram a ter uma maior expressão nas publicações de documentos de patente. Nos anos anteriores, apenas as Universidades efectuaram publicações de documentos de patente, tendo no entanto este número diminuído em 2010 para valores semelhantes a 2005. Estes resultados mostram o papel importante que as Universidades e os Centros de Investigação têm não só no desenvolvimento cientifico como também no desenvolvimento económico, ao iniciarem os estudos de I&D e identificarem áreas técnicas onde o investimento financeiro leva a um claro e substancial desenvolvimento económico. 31 Figura 14 – Evolução do número de publicações de patentes no período entre 2000 e 2010 para a área tecnológica dos biocombustíveis obtidos a partir de microalgas. Analisando a figura 14, referente à evolução do número de publicações de patentes no período entre 2000 e 2010, verifica-se um aumento substancial a partir de 2008. Estes dados mostram um clara tendência no aumento da significância tecnológica e económica desta área de investigação e desenvolvimento. Uma análise em maior detalhe desta evolução (figuras 15 e 16), através da identificação do número de pedidos por país/via de protecção, mostra que a subida descrita pela figura 14 é essencialmente devida ao grande aumento dos pedidos internacionais. O aumento dos pedidos provenientes dos Estados Unidos da América merece também ser salientado, apesar de não ser tão significativo como o aumento dos pedidos WO. É no entanto de referir que muitos destes pedidos WO têm uma prioridade norte-americana, provavelmente devido ao facto de 8 dos 10 requerentes identificados no “top 10” serem também de nacionalidade norte-americana. 32 Figura 15 – Evolução do número de publicações de patentes no período entre 2000 e 2010, de acordo com a via de protecção (WO – via internacional; US – Estados Unidos da América; CN – China; FR – França; GB – Grã-Bretanha). Figura 16 – Número de publicações por país de patentes na área dos biocombustíveis obtidos a partir de microalgas no período de 2000 a 2010 (2010-12-22). 33 5. Considerações Finais As crescentes preocupações sobre a diminuição da disponibilidade dos combustíveis fósseis, juntamente com os problemas ambientais resultantes da sua exploração, produção e utilização, têm estimulado a investigação científica de forma a desenvolver e melhorar a síntese de biocombustíveis a partir de recursos renováveis. A substituição dos combustíveis ditos tradicionais por biocombustíveis acarreta não só vantagens ambientais, mas também político-económicas. Desta forma, a nível político-económico, uma grande vantagem é tornar as nações mais independentes dos combustíveis fósseis esgotáveis e também dos próprios fornecedores, não ficando assim sujeitas às variações de mercado. Uma outra vantagem resulta na geração de desenvolvimento rural costeiro, em especial nos países em desenvolvimento, e que têm grande potencial para a produção de biomassa. É o caso dos países africanos, latinoamericanos e asiáticos. As algas, e em particular as microalgas, apresentam grande potencial para a produção simultânea de biodiesel, bioetanol, hidrogénio e metano, assim como de produtos químicos de elevado valor, pelo que grande foco e investimento têm sido dados à optimização das metodologias de produção e extracção de produtos energéticos a partir de algas. No que diz respeito à importância da Propriedade Industrial nesta área específica, a partir do diagnóstico tecnológico apresentado no ponto 4., concluise que se trata de uma área tecnológica em crescimento, onde é previsível um aumento do investimento em I&D, visto que os pedidos de patente feitos por empresas começam agora a surgir. O facto de existirem várias empresas, directamente relacionadas com os combustíveis, a desenvolver trabalho científico nesta área, leva a crer que a protecção de direitos de incidência tecnológica assuma uma posição relevante neste domínio tecnológico. Os biocombustíveis obtidos a partir de microalgas representam claramente uma alternativa promissora para o futuro. Contudo, o grande desafio actual prende-se ainda com a necessidade de reduzir os custos de produção para que esta fonte energética se torne economicamente viável relativamente aos combustíveis tradicionais. 34 6. Referências 1. http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_OFFPUB/KS-31-09-272/EN/KS31-09-272-EN.PDF 2. Budiman, M. Algae Fuel. Condensed Matter - Materials Engineering Newsletter, McMaster University. Hamilton: McMaster University, Department of Materials Science and Engineering, 2009. Vol. 1, 4 3. http://mse.mcmaster.ca/Condensed%20Matter/November2009.pdf 4. http://www.oilgae.com/ref/report/report.html 5. http://www.oilgae.com/algae/pro/eth/eth.html 6. http://www.oilgae.com/algae/pro/hyd/hyd.html 7. http://cnode3.slideboom.com/presentations/159830/engineering-in-algaeenergy/download 8. http://www.oilgae.com/algae/pro/hyd/pro/pro.html 9. http://www.oilgae.com/algae/pro/met/met.html 10. http://www.oilgae.com/algae/oil/biod/biod.html 11. Chisti, Y. 2007. Biodiesel from microalgae. Biotechnology Advances, 25: 294-306. 12. Grobbelaar, J.U. 2004. Algal nutrition. In: Richmond, A, editor. Handbook of microalgal culture: biotechnology and applied phycology. Blackwell. Pp 97115. 13. Mirón, S., García, C., Gómez, C., Camacho, G., Grima, M., Chisti, Y. 2003. Shear stress tolerante and biochemical characterization of Phaeodactylum tricornutum in quasi steady-state continuous culture in outdoor photobioreactors. Biochemical Engineering Journal, 16: 287-297. 14. 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