O polêmico olhar de Buffet

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O polêmico olhar de Buffet
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O polêmico olhar de Buffett
Tradução dos ensaios do multibilionário é um guia
de negócios e finanças para empresários e investidores
Por Carlos Gudin
O
maha é a cidade porto
do Estado de Nebraska, localizada à
beira do rio Missouri, que abriga
a Berkshire Hathaway – uma companhia cujas raízes remontam a
um grupo de operações têxteis iniciadas no começo do século 19.
Em 1964, Warren Buffett assumiu o comando da Berkshire quando o valor contábil da ação era US$
19,46. Hoje, os papéis valem, nos
livros, US$ 40 mil cada. A companhia, fabulosos US$ 70 bilhões.
Após vários anos de prejuízos, a
Bershire encerrou suas atividades no
setor têxtil. Atualmente, atua em vários segmentos. O mais importante é
o de seguros, com destaque para a
GEICO Corporation, a maior seguradora de veículos dos Estados Unidos,
e a General Re Corporation, uma das
quatro maiores resseguradoras do
mundo. As seguradoras lhe proporcionam custos de captação altamente atrativos e conferem grande vantagem comparativa à Berkshire.
O “case” Berkshire transformou
Buffett em ícone por sua visão industrialista: o olhar de dentro para fora
como acionista, administrador e controlador. Esta abordagem criou o oráculo de Omaha para os investidores
que comparecem à assembléia anual
da Berkshire.
A tradução e edição de Rui Tabakov Sena Rebouças para Os Ensaios de Warren Buffett –Lições para
Investidores e Administradores, lançada em julho, traz uma importante contribuição ao mercado de capitais brasileiro. Os textos foram
originalmente concebidos para um
simpósio realizado na Faculdade
de Direito Benjamim N. Cardozo,
e atualizados com as cartas aos aci-
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CAPITAL ABERTO
Setembro 2005
onistas. A seleção e edição dos textos couberam a Lawrence Cunningham, do Boston College.
Os temas governanca corporativa, finanças corporativas, fusões
e aquisições, contabilidade e avaliação de empresas são discutidos no
estilo Buffett de construir um
“novo olhar”. Ele resgata a importância da análise fundamentalista
dentro da economia globalizada.
A governança é praticada na
linguagem simples de suas cartas
aos acionistas, criando um estilo
pessoal no exercício da transparência, na prestação de contas aos
“parceiros” e na seleção de gerentes competentes. “Ter pessoas de
primeira linha na equipe é mais
importante do que desenhar hierarquias e definir quem relata para
quem e em que momento”.
Sua visão industrialista desperta
polêmica ao rejeitar o Modelo de
Sharpe: “A moda do beta sofre da falta de atenção para um princípio fundamental: é melhor estar aproximadamente certo, do que precisamente
errado. Sucesso em investimento de
longo prazo não depende do estudo
de betas e da manutenção de uma carteira diversificada, mas do reconhecimento de que, como investidor, se
é proprietário de um negócio. A reformulação de uma carteira para acomodar o desejado perfil de risco ba-
seado no beta frustra o sucesso do investimento de longo prazo”.
Com relação às opções de compra de ações para a gerência, Buffett
recomenda disciplina. Sugere a remuneração da administração com
bônus por desempenho, deixando a
compra de ações das empresas
Berkshire para decisão individual
dos funcionários.
Buffett concorda que é possível usar opções para encorajar a
cultura do proprietário, mas defende que o alinhamento de interesses não é perfeito. Enquanto os acionistas já possuem seu capital em
risco, os portadores de opções podem ou não vir a comprometer seu
patrimônio.
Para as fusões e aquisições,
Buffett é pontual ao definir que a
política da Berkshire é comprar
partes ou o todo de negócios com
aspectos econômicos excelentes e
dirigidos por gerentes pelos quais
Buffett e seu sócio Charles Munger sentem apreço, confiança e admiração. Argumenta que, na compra de um negócio inteiro, raramente há qualquer razão para o pagamento de ágio.
Para investidores e analistas, a
leitura dos ensaios de Buffet promete trazer novas referências de
alocação de capital. Para os empresários e acionistas controladores, tem-se aqui um verdadeiro guia
de negócios.
Ensaios de Warren Buffett
Lições para Investidores e
Administradores
Warren E. Buffett (autor)
Lawrence Cunningham (organizador)
309 páginas
Editora Rui Tabakov Sena Rebouças

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