Usando Métodos de Observação para Avaliar

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Usando Métodos de Observação para Avaliar
Journal of Physical Activity and Health, 2010, 7(Suppl 2), S146-S154
© 2010 Human Kinetics, Inc.
Usando Métodos de Observação para Avaliar Espaços
Públicos e Atividade Física no Brasil
Adriano Akira Ferreira Hino, Rodrigo S. Reis, Isabela C. Ribeiro, Diana C. Parra,
Ross C. Brownson, e Rogério C. Fermino
Contexto: Espaços públicos têm sido identificados como locais importantes para a promoção de atividade física
(AF) em nível comunitário. Os principais objetivos deste estudo são descrever as características dos usuários
de espaços públicos e explorar o quanto essas características estão associadas ao comportamento fisicamente
ativo. Métodos: Um sistema de observação direta foi usado para avaliar os níveis de AF nos parques e praças
(pequenos parques) e as características dos usuários (sexo e idade). Os 4 parques e as 4 praças observados
foram selecionados em bairros com nível socioeconômico e características ambientais diferentes. Os espaços
foram observados 3 vezes por dia, 6 dias por semana, durante 2 semanas. Resultados: Mais homens do que
mulheres foram observados nos parques (63,1%) e praças (70,0%), bem como mais adultos e adolescentes de
que idosos e crianças. Os usuários foram mais ativos nos parques (homens=34,1%, mulheres=36,1%) do que
nas praças (homens=25,5%, mulheres=22,8%). Conclusões: As características dos espaços públicos podem
afetar a AF nos lugares observados. As iniciativas para aumentar o nível de AF em instalações públicas devem
considerar as características e preferências dos usuários para serem mais efetivas e assim atingir um maior
número de pessoas.
Palavras chaves: Atividade física, parques, lazer, medidas, observação
A atividade física (AF) regular tem sido recomendada para reduzir o risco de doenças crônicas e promover
bem o estar físico e psicológico.1-3 Nesse sentido, uma
das atuais prioridades das organizações públicas de
saúde é a promoção da AF.2 Embora existam evidências
dos benefícios da AF, existe uma grande prevalência de
inatividade física tanto nos países desenvolvidos quanto
em países em desenvolvimento.4 De acordo com dados do
Sistema de Vigilância de Fatores de Riscos e Prevenção
para Doenças Crônicas do Brasil, entre 24,9 e 32,8% da
população adulta (entre 18 e 60 anos de idade) nas capitais
do brasileiras são inativos.5
Estudos recentes têm demonstrado que o ambiente
construído pode influenciar a prática regular de AF.6,7
Saelens e Handy6 encontraram uma associação positiva entre a caminhada como forma de deslocamento e
algumas características do ambiente, como a densidade
populacional, distância até destinos não residenciais, uso
misto do solo, conectividade até os destinos e acesso aos
Hino, Reis, Ribeiro, e Fermino estão com o Dept. de Educação
Física, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba,
Brasil. Parra e Brownson estão com Centro de Prevenção e Pesquisa em St. Louis, George Warren Brown Escola de Serviços
Sociais, Washington University em St.Louis. Brownson esta
também com o Centro Alvin J. Siteman Cancer, Washington
University Escola de Medicina, Washington University em
St.Louis.
S146
parques e espaços abertos. Alguns estudos7-11 têm também
mostrado associação entre proximidade e disponibilidade
de equipamentos dentro de espaços públicos e maiores
níveis da AF. Estas evidências têm aumentado a importância dos espaços públicos, como parques, para aumentar
a AF em níveis comunitários.12–14
Uma das formas de avaliar o uso dos parques, nível
de AF e características dos usuários é a observação
de espaços públicos usando o Sistema de Observação de Atividades Físicas e Recreativas na População
(SOPARC).15 Vários estudos têm sido conduzidos nos
Estados Unidos usando esse método.13,15,16 O SOPARC
não tem sido utilizado na população da América Latina
e, apesar de evidências mostrarem que lugares públicos
têm efeito na AF, as observações sistemáticas são escassas
na região. Documentar o tipo de AF realizado em parque
sem termos de idade e sexo, pode ser importante para
fornecer informações aos administradores de parques
públicos com o intuito de estabelecer prioridades na
promoção de AF.
Este artigo é parte do Projeto GUIA (Guia Útil de
Intervenções em Atividade Física no Brasil e na América
Latina). O projeto é coordenado pelo Prevention Research
Center em St. Louis e o Centers for Disease Control
e Prevention, e tem como objetivo analisar e divulgar
estratégias de promoção de AF baseadas em evidências
na América Latina, especialmente no Brasil. A primeira
fase do Projeto GUIA examinou as intervenções de AF
Características dos usuários dos Parques e Praças S147
na América Latina e identificou 2 intervenções para
serem avaliada na segunda fase. Durante a primeira
fase, o projeto GUIA identificou 3 novas promissoras
categorias de intervenção para aumentar o nível de AF
na população. Dentre elas estão “Divulgação de mensagens curtas relacionadas a AF´s” e “Aulas de AF em
ambientes comunitários” utilizadas para promover AF e
normalmente oferecidas por meio de espaços públicos.
Os resultados de uma das intervenções avaliadas no
projeto GUIA na segunda fase, o “Academia da Cidade,”
está publicada em outro periódico.17 A segunda intervenção comunitária avaliada está localizada na cidade de
Curitiba, região Sul do país. Este documento apresenta
o resultado de uma observação sistemática realizada em
parques e praças na cidade de Curitiba, durante a segunda
fase do Projeto GUIA.Apesar da reconhecida e documentada existência de programas de AF na cidade18–20 e
o grande potencial que os parques e praças apresentarem
para a promoção da AF, nenhuma avaliação usando a
observação sistemática foi realizada em Curitiba e é
desconhecido como as características desses lugares
podem afetar o nível de AF. Praças são pequenos parques
ou praças públicas com uma área média de 6.217m2, na
qual, aproximadamente, 70% são equipadas com algum
tipo de estrutura para a prática de AF, como pista de corrida/caminhada, quadras de esportes ou áreas de alongamentos/exercícios de força.21 Estas características tornam
as praças locais apropriados para a prática e promoção de
AF. Um estudo conduzido pela Secretaria Municipal da
Saúde em 2006 mostrou que 79,6% da população adulta
em Curitiba relataram ter algum tipo de lugar perto da
residência para a prática de AF, incluindo praças. Dessa
maneira, o atual estudo tem como objetivo descrever
as características dos usuários dos parques e praças e
explorar como estas características são associadas com
a prática de AF nesses lugares.
Métodos
Curitiba é a capital do estado do Paraná, localizado na
região sul do Brasil, com uma população de aproximadamente 1.797.408 habitantes,22 da qual 52% são mulheres.21 Curitiba é uma cidade reconhecida pelas suas
políticas de promoção da saúde e pela atenção especial
dedicada a áreas verdes, como meio de desenvolvimento sustentável.20 Até o momento do estudo existiam
18 parques (18.580.617 m2), 33 áreas de preservação
(19.251.878 m2), e 443 praças (2.750.740 m2) espalhados nos 75 bairros de Curitiba.21 Atualmente, 27
“Centros de Esportes e Lazer” estão distribuídos pela
cidade. Estes centros são locais onde atividades organizadas são oferecidas para as crianças, adolescentes,
adultos e idosos.
Observação dos Usuários
Foi utilizado o método SOPARC (Sistema de Observação
de Atividades Físicas e Recreativas na População) para
caracterizar sexo, idade e nível de AF dos usuários dos
parques e praças. SOPARC foi desenvolvido para obter
informações diretas sobre o nível de AF dos usuários em
espaços públicos comunitários, suas características e o
contexto na qual a AF ocorre.15 O método é baseado em
um sistema de amostragem momentânea para realizar
observações (scans) sistemáticas de áreas alvos. As
áreas alvo são áreas de observação predeterminadas,
onde usuários dos parques podem praticar AF, como
quadras de esportes, pista de caminhada/ciclismo,
playgrounds, etc.
Scan
Para avaliar as características dos usuários, o SOPARC
utiliza amostras momentâneas para realizar observações sistemáticas (uma observação da esquerda para a
direita) de cada pessoa dentro das áreas alvo.15 A AF foi
codificada em “sedentária” (deitado, sentado ou em pé),
“caminhada” (leves caminhadas ou com mais movimentos) ou “vigorosa” (atividades moderadas ou vigorosas,
correr, exercícios de resistência, etc.). A faixa etária
foi dividida em “crianças,” “adolescentes,” “adultos”
e “idosos”. Os níveis de AF e idade foram realizados
separadamente por homens e mulheres para ser possível identificar diferenças entre gêneros. Por exemplo,
de acordo com o protocolo original do SOPARC,15no
primeiro scan os observadores registraram o nível de AF
e faixa etária somente para homens e no segundo scan
somente para mulheres.
Programa
Todas as áreas alvos foram avaliadas em 3 horários
diferentes (7:00, 11:00 e 17:00) e a coleta de dados foi
conduzida entre março e abril de 2008. Cada parque/praça
foi observado por 2 semanas, incluindo finais de semanas
e dias da semana, com exceção das sextas-feiras. Optouse em excluir a sexta-feira para ser possível identificar
com maior precisão a diferença entre final de semana
e dia da semana. No total foram realizados 12 dias de
observações em cada espaço.
Treinamento de Observadores
As observações foram realizadas por 16 avaliadores sob
a supervisão de 2 coordenadores do campo. O treinamento foi conduzido durante 2 dias que incluiu aulas
para a familiarização dos observadores com as definições
operacionais, convenções os códigos e categorização
dos níveis de AF e das faixas etárias. Os observadores
treinaram a codificação e receberam o feedback sobre
as suas pontuações utilizando os exemplos contidos no
DVD de treinamento do SOPARC, fornecido pelo autor
do instrumento. As observações das áreas-alvo foram
conduzidas no segundo dia de treinamento, durante o
período da manhã e da tarde, utilizando os contadores
mecânicos. Após o treinamento de campo os observadores continuaram o treinamento em duplas com mais
S148 Hino et al
10 horas de coleta de dados para testar a concordância
inter-observador. Foi obtido 90% de concordância para
o nível de AF e a categoria do grupo de idades.
Seleção dos Parques e Praças
Devido ao grande número de parques e praças na cidade,
foi necessário desenvolver um método de seleção que
permitisse identificar os parques e praças que pudessem
ser avaliados. Primeiro todos os 75 bairros da cidade de
Curitiba foram classificados de acordo com a disponibilidade das instalações para AF, utilizando informações
fornecidas pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento
Urbano (IPPUC).21 As características utilizadas para
esta classificação foram a densidade de parques (área
dos parques/área total do bairro), densidade das praças
(área das praças/área total do bairro), densidade do
comprimento da ciclovia (comprimento das ciclovias/
área total do bairro) e número de Centros de Esportes
e Lazer por bairro. Estas informações foram corrigidas
pela densidade populacional dos bairros. Os bairros foram
então classificados pela mediana da renda de acordo com
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
disponibilizado pelo IPPUC.21 Como resultado, todos
os bairros foram classificados em alta, média e baixa
qualidade de ambiente (AMB) para AF, e em alto, médio
e baixo nível socioeconômico (NSE), distribuídos em 9
diferentes grupos.
Os bairros localizados nos 4 grupos extremos (alto
AMB e alto NSE; alto AMB e baixo NSE; baixo AMB e
alto NSE; e baixo AMB e baixo NSE) foram analisados
para identificar todos os parques e praças disponíveis
naquelas áreas. Finalmente, uma lista com todos os
parques e praças dentro dos 4 grupos extremos foi
enviada para os coordenadores da Secretaria Municipal
de Esportes e Lazer e da Secretaria Municipal da Saúde,
as 2 secretarias responsáveis pela maioria das intervenções de AF em Curitiba. Os coordenadores ofereceram
informações sobre os lugares onde os programas de AF
e atividades eram mais prováveis de acontecer. Depois
de 3 rodadas de consulta, 4 parques e 4 praças foram
selecionados para a avaliação.
Avaliação das Áreas Alvos
Antes da coleta de dados, todas as potenciais áreas alvo
para a prática de AF foram visitadas, medidas e mapeados
em cada parque e praça. As características contextuais
das áreas alvos foram coletadas e codificadas antes da
coleta de dados, incluindo o tipo de instalação (quadras
esportivas, pistas, campos, ginásios, gramados, etc.),
instalações permanentes (linhas pintadas no chão, gols
do futebol, arcos do basquete, etc.) e tipo de superfície
(grama, areia, concreto, etc.). Três observadores foram
previamente treinados para conduzir esta avaliação. As
inconsistências foram discutidas até haver consenso. O
protocolo SOPARC foi então aplicado para coleta de
dados.15
Analises Estatística
Para descrever as características contextuais e dos
usuários, foi utilizada a estatística descritiva (distribuição
de frequência absoluta e relativa, média e desvio padrão).
As características das áreas alvos (quantidade, tamanho
e tipo) e dos usuários (sexo, idade e nível de AF) foram
analisadas de acordo com o tipo do local (parques e
praças). As características dos usuários foram também
analisadas de acordo com os dias da semana e período
do dia (horário). Todas as comparações foram testadas
usando o teste Qui-quadrado, considerando o nível de
significância de 5% usando a versão 11.0 SPSS e Microsoft Excel versão 2007.
Resultados
Um total de 109 áreas alvos foram mapeadas e observadas
em 4 parques e 4 praças durante 2 semanas (tabela 1).
Trinta e quatro áreas alvos e 5 pistas de caminhadas/corridas foram observadas nos parques. O tamanho médio
das áreas-alvo foi de 1.183,4 m2 (variando de 78,5 m2 a
7.480 m2). As áreas esportivas foram as áreas alvos mais
comuns encontradas (56,4%), seguidas por playgrounds
(15.4%) e pistas de caminhada e corrida (13,1%). Nas
praças, foram observadas 66 áreas-alvo e 4 pistas de
caminhada/corrida. O tamanho médio dessas áreas foi de
310,1 m2 (variando de 33,7 m2 a 1.132,0 m2). A maioria
das áreas nas praças se destinava à prática esportiva
(51,4%) seguidas de playgrounds (25,7%) e outros (10%).
Um total de 5536 indivíduos foram observados
nos parques (63,1% homens) e 2401 nas praças (70%
homens). Os indivíduos em parques eram menos sedentários (mulheres=22,8%, homens=25,6%) do que nas
praças (mulheres=36,1%, homens=34,1%). Mais mulheres foram observadas caminhando nos parques (32,2%)
do que nas praças (15,6%), enquanto mais homens foram
vigorosamente ativos nos parques (47,4%) quando comparados com as praças (38%) (figura 1).
No geral, foram observados mais adultos em
parques (mulheres=67,6%, homens=60,4%) e praças
(mulheres=55,4%, homens=39,1%) do que em relação
às outras faixas etárias (tabela 2). Mais adolescentes
do gênero masculino (17,9%) foram observados nos
parques comparados com mulheres (11%). Nas praças,
55,4% dos frequentadores eram mulheres adultas e
17,8%%, adolescentes. Entre os homens, 39,1% eram
adultos e 37,2%, adolescentes. Nos parques, mais adultos
foram observados durante a semana (mulheres=78,6%,
homens=64,9%) comparados com os finais de semana
(mulheres=60,5%, homens=57,3%). Mais crianças e
adolescentes do gênero feminino foram observados nos
finais de semana (crianças=19,5%, adolescentes=14,3%)
quando comparado aos dias de semana (crianças=7,8%,
adolescentes=5,9%). Nas praças a proporção de crianças,
adolescentes e adultos foi similar durante a semana e
finais de semana. Mulheres mais velhas foram observadas
Características dos usuários dos Parques e Praças S149
Tabela 1 Características das áreas alvo dos parques e praças
Características
Parques (n = 4)
Praças (n = 4)
Pistas de caminhada/corrida (número)
5
4
Áreas alvo (número)
34
66
Média
1183,4
310,1
Desvio padrão
1605,3
218,5
78,5–7480,0
33,7–1132,0
Áreas de esportes
56,4
51,4
Áreas de exercícios de resistência/alongamento
7,7
7,1
Áreas abertas
7,7
0,0
Pista de caminhada/corrida
12,8
5,7
Outras (patinação, atletismo, skate, outros)
0,0
10,0
Áreas de recreação
15,4
25,7
Tamanho da área alvo (m2)
Mínimo - Máximo
Tipo da área alvo (%)
Figura 1 — Nível de atividade física em parque e praças de acordo com o gênero.
mais frequentemente durante a semana (15,3%) quando
comparado ao final de semana (9,3%).
Entre os usuários dos parques, foram observados
mais crianças às 11:00 da manhã (mulheres=19,3%,
homens=21,6%) e adolescentes às 5:00 da tarde (mulheres=17,3%, homens=28,4%), enquanto adultos (mulheres=81%, homens=82,5%) e idosos (mulheres=14,7%,
homens=14,4%) foram observados com maior frequência
às 7:00 da manhã. Os usuários das praças seguiram o
mesmo padrão.
Entre os usuários dos parques, mais pessoas
estavam vigorosamente ativas durante a semana (mulheres=59,3%, homens=57,9%) quando comparado aos
finais de semana (mulheres=35,8%, homens=40,3%)
(Tabela 3). As mulheres foram mais sedentárias às 11:00
da manhã (26,2%), caminharam mais às 5:00 da tarde
(37,8%) e foram mais vigorosamente ativas no período
da manhã (7:00 – 67%). Um padrão similar foi observado
para os homens na caminhada, a qual teve alta frequência
às 11:00 da manhã (30.7%). Os usuários das praças foram
mais sedentários (mulheres=48,2%, homens=39,3%) e
caminharam mais (mulheres=18.4%, homens=28.8%)
durante os finais de semana. Durante os dias da semana
os usuários foram mais vigorosamente ativos (mulheres
= 58.8%, homens = 45.6%). Em função do período do
dia, as atividades vigorosas foram mais frequentes no
período da manhã (7:00 da manha) tanto para mulheres
(81,4%) quanto para homens (76,1%).
19,4
Finais de Semana (%)
* P < 0,001.
Total
valor do teste de χ
14,8
16,0
5–6 da tarde (%)
2
0,0
19,3
7–8 da manhã (%)
11–12 da manhã (%)
Período do dia
valor do teste de χ2
7,7
4,3
81,0
63,9
66,1
11,0
67,6
125,0*
17,3
7,7
60,5
78,6
101,8*
14,3
5,9
AdolesCrianças centes Adultos
Dias de Semana (%)
Período da Semana
Período
Mulheres (n = 2.041)
Homens (n = 3.495)
6,6
2,8
7,0
14,7
5,8
7,8
13,8
11,6
21,5
0,4
19,3
5,6
82,5
54,2
59,3
17,9
60,4
420,3*
28,4
11,3
2,7
57,3
64,9
181,7*
18,5
17,1
AdolesIdosos Crianças centes Adultos
Parques (n = 4)
7,9
5,8
7,9
14,4
4,9
12,4
13,7
17,5
19,2
0,0
13,4
14,0
5,8
49,0
52,8
69,5
58,0
53,8
17,8
55,4
130,5*
26,7
19,2
1,1
19,3
16,9
AdolesIdosos Crianças centes Adultos
Mulheres (n = 721)
Homens (n = 1.680)
13,1
6,8
8,8
29,4
9,3
15,3
15,6
16,3
20,0
0,0
17,6
14,3
5,2
31,1
43,2
66,0
40,0
38,6
37,2
39,1
376,4*
49,9
27,8
2,5
34,9
38,6
AdolesIdosos Crianças centes Adultos
Praças (n = 4)
Tabela 2 Características dos usuários dos parques e praças de acordo com o dia da semana e período do dia
S150
8,1
2,7
9,0
31,5
7,5
8,5
Idosos
26,2
22,9
11–12 da manhã
5–6 da tarde
* P < 0,001.
Valor do teste de χ2
13,4
7–8 da manhã
Período do Dia
Valor do teste de χ2
20,3
24,5
Dia de semana
20,4
125,0*
37,8
31,4
19,6
119,7*
39,7
59,3
39,3
42,4
67,0
35,8
24,5
26,6
28,0
16,3
26,4
17,6
420,3*
28,8
30,6
11,7
133,8*
33,3
44,6
41,4
72,0
40,3
57,9
Vigoroso
Homens (n = 3495)
Sedentário Caminhada
Parques (n = 4)
Vigoroso
Mulheres (n = 2041)
Sedentário Caminhada
Final de semana
Período da Semana
Período
44,9
46,8
6,2
48,2
27,5
130,5*
19,9
12,9
12,4
46,4*
18,4
13,7
Sedentário Caminhada
58,8
35,2
40,3
81,4
33,4
27,5
34,7
40,9
12,2
39,2
376,4*
34,0
23,3
11,7
37,5*
28,8
26,9
Caminhada
31,3
35,8
76,1
32,0
45,6
Vigoroso
Homens (n = 1680)
Sedentário
Praças (n = 4)
Vigoroso
Mulheres (n = 721)
Tabela 3 Nível de atividade fisica nos parques e praças de acordo com gênero, dia da semana e período do dia (frequência relativa)
S151
S152 Hino et al
Discussão
Este estudo teve o objetivo de descrever as características
dos usuários e os níveis das AF realizadas em parques e
praças de Curitiba, Brasil. Pessoas adultas e do gênero
masculino foram os grupos mais frequentemente observados. O número de usuários observados foi diferente
de acordo com sexo e tipo do local, parques ou praças.
Baixos níveis de AF foram mais observados nos parques
de que nas praças e as atividades vigorosas foram mais
frequentes durante os dias da semana e também durante
os períodos da manhã em ambos os locais.
De acordo com um estudo populacional realizado nas
capitais brasileiras, a caminhada é o tipo mais comum
de AF durante o tempo de lazer, para homens (28%) e
mulheres (61%). Apesar do custo beneficio deste tipo
de estruturas já ter sido demonstrado, foi verificado que
as pistas de caminhadas/corridas não são as estruturas
mais presentes.
Um elevado percentual de homens foi observado
em parques e praças. Diversos estudos na literatura
suportam essa constatação.11,19,21,31 Reed et al16 destacam
que, embora as informações do censo mostrem que
51% da população seja do sexo feminino, as mulheres
representam apenas 37% dos usuários dos parques. Um
padrão similar foi observado no presente estudo. Embora
a proporção de homens e mulheres seja, relativamente, a
mesma (52 e 48%, respectivamente), um elevado percentual de homens foi observado nas áreas-alvo avaliadas.
Essa diferença pode ser explicada devido aos tipos de
áreas disponíveis nos locais, onde 56,4 e 51,4% das áreas
de parques e praças, respectivamente, foram designadas
para atividades de esportes estruturados (futebol, voleibol, basquetebol, etc.), enquanto um pequeno percentual
foi designado para caminhada/corrida (parques=12,8%,
praças=5,7%). Evidências mostram que, no Brasil, os
homens preferem jogar futebol durante o tempo de lazer,
enquanto mulheres preferem caminhar.23 Estas características podem explicar, em parte, o maior número de
homens do que mulheres nos locais estudados.16
Independentemente do sexo, as pessoas tendem
a ser mais sedentárias nas praças do que nos parques.
Uma das possíveis explicações é a presença de menor
número de pistas de caminhada/corrida nas praças do
que nos parques. A presença das pistas de caminhadas
tem sido associada com o alto nível de AF, assim como
maior uso.13,16 Outra explicação é o alto número de áreas
recreativas nas praças, levando em conta que as crianças
precisam estar acompanhadas de adultos os quais, na
maioria das vezes, permanecem sentados ou em pé.
Este estudo identificou que as mulheres foram mais
vigorosamente ativas nas praças quando comparado
aos homens, e não foi encontrada nenhuma diferença
significativa nos parques. Essa evidência contradiz as
constatações da maioria dos estudos conduzidos nesta
área nos Estados Unidos, a qual indica que os homens
são mais ativos que as mulheres em lugares comparáveis
as praças de Curitiba. Mckenzie et al,15 verificaram que
homens são mais fisicamente ativos que as mulheres e
possuem aproximadamente duas vezes mais chance de
estarem envolvidos em AFs vigorosas (18,8% contra
10,2% mulheres). Reed et al16 e Cohen et al13 também
encontraram que homens são 2 vezes mais envolvidos
em atividades vigorosas que mulheres (42% contra 20%;
19% contra 10%)Este estudo encontrou que parques e
praças foram predominantemente utilizados por adultos e
que os usuários tendem a visitar mais frequentemente os
locais no período da manhã. Essa evidência corresponde
com o que tem sido encontrado por outros estudos nos
Estados Unidos.13,16 Embora um número maior de adultos
tenha sido observado nas praças, a proporção de adolescentes foi similar, e mais alta entre os meninos no período
da tarde. As praças podem ser mais acessíveis aos adolescentes que não dirigem, uma vez que são encontradas
em grande quantidade e uniformemente distribuídas por
toda cidade, quando comparado com os parques. Em um
estudo conduzido com 1718 adolescentes em Curitiba,
Reis et al26 reportaram que a percepção de falta de espaços
e da falta de equipamentos adequados para AF´s estavam
associadas com a menor probabilidade do uso de espaços
públicos.27
Para adultos e adolescentes existe uma pequena
variação em termos de utilização de parques e praças
durante os dias de semana e finais de semana. Entre
as crianças a frequência de uso dos parques foi maior
durante os finais de semana, quando comparado com
os dias da semana. Além disso, o fácil acesso as praças
parece favorecer sua utilização pelas crianças, considerando que os pais não necessitam percorrer longas
distâncias para acompanhar seus filhos no período da
manhã e tarde. Estes períodos são aqueles tipicamente
utilizados pelos pais e responsáveis para levar as crianças nos parques e praças no Brasil. De fato, estudos têm
mostrado que a proximidade a áreas de recreativas11,28
e os tipos de estruturas disponíveis nessas áreas,29 são
positivamente associadas com maiores níveis da AF
entre crianças.
A proporção de indivíduos fisicamente ativos e sedentários variou consideravelmente segundo os períodos
do dia e os dias da semana. O período da manhã e os dias
de semana apresentam uma proporção maior de pessoas
vigorosamente ativas que outros períodos do dia e finais
de semana. As diferentes características desses locais
não parecem afetar esse padrão. No entanto, as pessoas
tendem a serem mais sedentárias ao meio-dia e caminhar
mais durante as tardes.
Algumas limitações deste estudo devem ser consideradas. Em primeiro lugar, o desenho transversal
do estudo não permite identificar a relação causal nas
associações encontradas. Em segundo lugar, todos os
espaços observados estão na cidade de Curitiba, Brasil,
o que compreende características ambientais, culturais
e política próprias. Por exemplo, o clima úmido subtropical da cidade oferece verões suaves e um inverno
relativamente frio, mas geralmente, o clima é agradável.
No entanto, no outono, a variação da temperatura do dia
é mais intensa e frequente e poderia evitar a prática de
AF durante todo o dia nos espaços abertos.
Características dos usuários dos Parques e Praças S153
Este estudo apresenta alguns pontos fortes a
serem destacados. Embora o SOPARC seja baseado em
amostras momentâneas, oferecendo somente informações
instantâneas sobre o ambiente, foram conduzidas um
número considerável de observações sistemáticas o que
aumenta a validade das medidas.15 Os observadores foram
rigorosamente treinados para alcançar um elevado grau de
concordância entre as observações, oferecendo medidas
confiáveis. Apesar de algumas informações sobre uso
dos parques e suas associações com os níveis das AF´s já
estarem atualmente disponíveis, este é o primeiro estudo
conduzido em um país em desenvolvimento.
Conclusão
Informações específicas dos usuários dos parques e o
contexto em que eles estão fisicamente ativos podem
ser uma importante estratégia para os gestores e responsáveis pelos programas de AF para que eles atinjam as
populações específicas e mais necessitadas.15 Entre 79,5
e 88,7% da população no Brasil é inativa no tempo de
lazer.5 A falta de recursos para a utilização de ginásios e
outras instalações privadas para a prática de AF é uma das
principais barreiras para AF.30 Nesse sentido, a criação
e melhorias de espaços públicos para atividade de lazer
como os parques e praças pode ser uma importante estratégia para a promoção da AF. Parques públicos exercem
uma função importante em facilitar a AF e aumentar
interação social entre as pessoas.12,13
De acordo com as evidências de 8 espaços públicos
observados nesse estudo, os gestores responsáveis pela
promoção da AF deveriam considerar o tempo e o dia da
semana, quando aplicarem os programas, aumentando
assim a sua efetividade. Os programas direcionadas as
crianças, poderiam ser oferecidos nos finais de semana e
no começo da tarde, enquanto os programas para idosos
deveriam ser organizados durante os dias da semana,
no período da manhã. Novos estudos devem explorar
quais características especificas dos parques e praças são
associadas com grupos específicos de cada idade, dessa
forma, futuras intervenções podem aumentar a participação nas AFs em locais abertos, de acordo com cada
característica. Pesquisas longitudinais são necessárias
para aumentar o número de evidências sobre parques
e AF. Programas para promover AF deveriam levar em
conta as preferências e diferenças entre a população alvo,
e dar atenção especial as crianças e idosos – população
menos observada durante o estudo atual.
Agradecimentos
Este estudo foi realizado através do Centers for Disease Control
and Prevention (Centro de Controle de Doenças e Prevenção)
contrato U48/DP000060-01 (Prevention Research Centers Program). Os autores são gratos pela contribuição do pessoal das
Secretarias Municipais de Esporte e Lazer, Saúde, Educação,
Planejamento Urbano, Transportes, Acao Social, e Ambiente da
cidade de Curitiba, particularmente, os coordenadores do programa, Marcia Krempel (SMS) e Dalton Grande (SMEL). Nós
também somos gratos pelo suporte administrativo de Madalena
Soares, Diva Brunieri e o Research Group of Physical Activity
and Quality of Life (GPAQ). (Grupo de Pesquisa da Atividade
Fisica e Qualidade de Vida).
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