Brasil não aproveita adequadamente uma de suas

Transcrição

Brasil não aproveita adequadamente uma de suas
corrente contínua
Ano XXXII - Nº 229- Novembro/Dezembro -2009
A REVISTA DA ELETRONORTE
Castanheira:
Brasil não aproveita
adequadamente
uma de suas
maiores riquezas
florestais
Eletronorte
MEIO AMBIENTE
Página 3
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Eletronorte e Breu Branco:
18 anos juntas na energia, na
educação, na saúde e na história
Castanheira, fundamental para
a manutenção da biodiversidade
Página 34
Página 18
TECNOLOGIA
II Seci: gerações
se unem na inovação
AMAZÔNIA E NÓS
Bravo povo acriano
Página 50
Página 26
A segurança da infraestrutura
e do conhecimento
César Fechine
Página 9
TRANSMISSÃO
Viagem para o sistema
de transmissão do Madeira
Novidades nos cabos condutores
de aluminio de grande bitola
GERAÇÃO
sumário
GERAÇÃO
A segurança da infraestrutura
e do conhecimento
CORRENTE ALTERNADA
XX SNPTEE reúne a inteligência
do Setor Elétrico brasileiro
Nos últimos anos, os serviços de inteligência
dos maiores países do mundo têm sido orientados a desenvolverem planos de proteção aos
serviços de infraestrutura crítica, bem como
ao conhecimento sensível,
que pode ser definido como
‘informação estratégica’. “O
que nos torna diferenciados e
competitivos é o que devemos
proteger, além das nossas instalações. Toda a informação
que obtivemos com trabalho e
inteligência, que tivemos que
dominar no tempo, despender
custos, capacidades, esforço,
isso tem valor. Nós estamos
falando disso, de valor, da informação como elemento competitivo”, afirma
Mário Dias Miranda (foto acima), coordenador
de Relações Institucionais da Eletronorte.
Todo plano de segurança institucional deve
começar pela proteção da infraestrutura crítica
- instalações, serviços, bens e sistemas -, que,
se forem interrompidos ou destruídos, provocam sério impacto social, econômico, político
ou à segurança do Estado e da sociedade. “A
Eletronorte criou o Comitê de Monitoramento
de Informações Institucionais visando à implantação de um gabinete de crise para, em
situações excepcionais, assessorar a Diretoria
na tomada de decisões frente a qualquer adversidade que possa atingir as nossas instalações”, explica Miranda.
Mas, antes que surja a necessidade de instalação desse gabinete, a Eletronorte trabalha
na análise e no planejamento de informações
para antecipar e evitar possíveis crises. Para
isso, foi firmado um acordo de cooperação técnica com a Agência Brasileira de Inteligência
– Abin, que prevê a execução de uma série de
ações para proteger as instalações e os conhecimentos sensíveis, manuseados ou mantidos
Página 44
CORREIO CONTÍNUO
Página 58
FOTOLEGENDA
corrente contínua
corrente contínua
2
SCN - Quadra 06 - Conjunto A
Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2
CEP: 70.716-901
Asa Norte - Brasília - DF.
Fones: (61) 3429 6146/ 6164
e-mail: [email protected]
site: www.eletronorte.gov.br
Prêmios 1998/2001/2003
Diretoria Executiva: Diretor-Presidente - Jorge Palmeira - Diretor de Planejamento e Engenharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone
- Diretor Econômico-Financeiro - Antonio Barra - Diretor de Gestão Corporativa - Tito
Cardoso - Coordenação de Comunicação Empresarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira
- Gerência de Imprensa: Alexandre Accioly - Equipe de Jornalismo: Alexandre Accioly
(DRT 1342-DF) - Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron de Quevedo (DRT 7566DF) - César Fechine (DRT 9838-DF) - Érica Neiva (DRT 2347-BA) - Michele Silveira
(DRT 11298- RS) - Assessorias de Comunicação das unidades regionais - Estagiárias:
Camila Marques e Márcia Alvarenga - Fotografia: Alexandre Mourão - Roberto Francisco - Rony Ramos - Assessorias de Comunicação das unidades regionais - Revisão:
Cleide Passos - Arte gráfica: Jorge Ribeiro - Arte da contracapa: Alexandre Velloso - Impressão: Brasília Artes Gráficas - Tiragem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral
Tucuruí sofreu invasão em maio de 2007
corrente contínua
Página 59
3
corrente contínua
Tucuruí - A Eletronorte é o primeiro órgão da
administração indireta a firmar um acordo com
4
Exemplo de conceito de proteção em profundidade
a Abin visando à implantação de um sistema
de planejamento de informações para proteger
tanto a parte de infraestrutura física quanto de
conhecimento sensível, por meio do Programa Nacional de Proteção ao Conhecimento
– PNPC. Pelo acordo, a Empresa recebe informações da Agência de como proteger as suas
instalações, fornecendo, em contrapartida, dados sobre o funcionamento do sistema elétrico
e suas peculiaridades.
Para divulgar as ações de proteção ao conhecimento sensível, um treinamento foi realizado recentemente com os empregados da
Eletronorte, com o objetivo de evitar ameaças
e perdas das informações estratégicas. “A Eletronorte possui conhecimentos extremamente
importantes não apenas para a Empresa, mas
também para o Brasil, e é função da Abin apoiar
esse arcabouço gerador de potencial competitivo e relevante para a defesa dos interesses nacionais”, declara José Renato de Oliveira (foto à
esquerda), oficial de Inteligência da Abin.
A parceria com a Agência começou pela Usina Hidrelétrica Tucuruí, devido à sua importância não apenas para o sistema elétrico, mas também por ser a responsável principal pela receita
Sala de operação de Tucuruí: mais segurança e dificuldade de acesso
da Eletronorte. Está sendo feita a avaliação da
segurança física da Usina, ou seja, a capacidade
de adequação frente a ameaças e riscos.
Mas como a instituição deve se proteger?
São consideradas como possíveis ameaças
externas pelo serviço de contrainteligência
os grupos terroristas, organizações criminosas, grupos de protesto, outras corporações
ou de inteligência adversa. Já as ameaças
internas podem ser funcionários insatisfeitos,
grupos antagônicos, por interesses ou ideologia, ou que envolvam questões financeiras.
E como proteger? Dificultando o acesso nãoautorizado, físico e lógico, e melhorando a
capacidade de percepção de ameaças por
meio da análise do perímetro. Os objetivos
do trabalho de análise de riscos são fornecer
uma base para a tomada de decisão e planejamento, identificar ameaças e possibilitar
a gestão pró-ativa e eficiente na alocação e
uso de recursos.
“Esse trabalho compreende três aspectos
principais, começando pela proteção física da
Usina, considerando-se o perímetro e a proteção em profundidade. O segundo é a gestão
de pessoas, que envolve a seleção dos recursos humanos, comportamento e ética. E o terceiro é a proteção dos sistemas eletrônicos e
de automação”, explica Állison Raposo, coor-
denador-geral de Proteção ao Conhecimento
Sensível da Abin.
A preocupação com a proteção dos serviços essenciais envolve também o Gabinete
de Segurança Institucional da Presidência da
República -GSI. A infraestrutura
crítica do País foi dividida em oito
grandes grupos: segurança pública, energia, finanças, transportes,
água, saúde, telecomunicações e
alimentos. “No caso da tecnologia
da informação, a integridade dos
dados e a proteção dos ativos são
prioridade. Em automação, a segurança da planta é o mais importante”, informa Állison.
Os pontos críticos estão sendo
mapeados para a elaboração dos
planos de segurança. A metodologia utilizada compreende o estabelecimento do contexto, a caracterização da fonte de
ameaça, a avaliação dos sistemas de proteção,
estimativa da efetividade e do impacto, e determinação do risco. “Vamos sugerir melhorias
do sistema de proteção para cada vulnerabilidade identificada. A tendência para todo o Setor Elétrico é criar um plano para acionamento
automático em caso de crise”, acrescenta Állison (foto acima).
corrente contínua
na instituição. A Abin possui a competência
legal de planejar e executar a proteção do conhecimento que, por sua importância estratégica para o Estado e para a sociedade, necessitam de medidas especiais de salvaguarda.
Proteger as suas instalações
é um dever da Eletronorte. Como
concessionária do serviço público
de geração e transmissão de energia elétrica, a Empresa é responsável, contratualmente, pelas instalações que opera e por assegurar
a produção de energia com qualidade, continuidade e segurança.
“Esses são elementos intrínsecos
do contrato de concessão. Se algum intruso invadir as instalações
e paralisar a produção de energia
nós vamos responder e seremos penalizados.
Se um terceiro invadir as instalações, sofrer um
acidente ou levar um choque, nós podemos ser
responsabilizados civilmente perante a Justiça
e pagar indenização”, acrescenta Miranda.
5
“Por uma cultura de segurança”
6
Matriz detalhada - A avaliação da segurança
orgânica de Tucuruí envolve todos os aspectos
relativos ao acesso de visitantes e à tramitação
de informações digital e documental. O engenheiro de planejamento, Orlando Correa, trabalha no projeto que está sendo desenvolvido
com a Abin e detém uma série de treinamentos
na área de inteligência e especialização em planejamento estratégico e segurança. Ele explica
que os especialistas da Agência já fizeram três
viagens a Tucuruí e participaram de várias reuniões com os técnicos da Empresa.
A Eletronorte e a Abin estão construindo
uma matriz detalhada com o objetivo de listar
as possíveis situações de risco e de ameaça à
Empresa. “Nos Estados Unidos, esse trabalho
rada, em 1978, a primeira versão do Plano de Emergência
Externo. Desde então, o plano
sofreu diversas alterações de
formatação e responsabilidades pela sua execução, sendo
que, em 1994, sob a coordenação da Secretaria de Defesa
Civil do Estado do Rio de Janeiro e já intitulado Plano de
Emergência Externo do Estado
do Rio de Janeiro.
Esse plano passou a considerar, de forma plena, a
atuação de órgãos sediados efetivamente na região de Angra dos Reis, principalmente a Defesa Civil do município.
Nele constam ações específicas a serem implementadas
nas Zonas de Planejamento de Emergência, que são áreas
vizinhas, delimitadas por círculos, com raios, respectivamente, de três, cinco, dez e 15 quilômetros, centrados no
Edifício do Reator de Angra 1.
As ações envolvem, também, a participação das seguintes organizações: Exército, Marinha, Aeronáutica,
Agência Brasileira de Inteligência - Abin, Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes - Dnit, Polícia
Rodoviária Federal, Polícia Militar do Estado do Rio de
Janeiro, Defesa Civil de Angra dos Reis, Defesa Civil de
Paraty, empresa de eletricidade e empresa de transporte
urbano da região, além de outras secretarias estaduais e
municipais.
Visando manter o plano sempre em condições de acionamento, são realizados, anualmente, nos anos pares os
exercícios de emergência parcial, quando são testadas
a eficácia da cadeia de comunicações e a eficiência da
ativação dos centros de emergência. E nos anos ímpares
é feito pela CIA, que cuida da parte de inteligência, e pelo FBI, na contrainteligência. Nós
vamos terminar até o final de 2009 o relatório
contendo a matriz da análise de riscos e ameaças às quais a Eletronorte está exposta”, afirma
Orlando Correa (abaixo).
São questões, por
exemplo, como o controle
nas barreiras para acesso
à Usina. Na guarita de
Tucuruí ficam seguranças da Eletronorte e da
construtora contratada.
“Como se dá a decisão
para entrar na Usina? Até
que ponto existe uma pro-
os exercícios de emergência geral, quando são colocadas
em prática e testadas todas as ações revistas no plano,
inclusive a capacidade de mobilização de meios em pessoal e material; a disseminação de informações ao público
e à imprensa; a ativação de alguns abrigos e até mesmo
a evacuação de voluntários residentes nas proximidades,
embora, na realidade, a possibilidade de a população ter
que ser removida seja uma hipótese remota.
E a proteção do conhecimento sensível garante a integridade da Empresa. “Este aspecto do conhecimento enteção para possíveis situações de emergência?
O único sinalizador para a pessoa entrar é um
emblema no pára-brisa do carro. Nós listamos
esses aspectos para ver até que ponto isso pode
provocar uma vulnerabilidade”, detalha Correa.
Outros pontos relativos aos recursos humanos
são os cuidados com a contratação de pessoal
para trabalhar na segurança da Usina, como
acontece o treinamento e o acompanhamento
desses profissionais.
Quanto ao perímetro, são analisadas formas
de dificultar a ameaça de chegar ao alvo, no
caso a Usina, e o grau de dificuldade de acesso, com a colocação de proteção e obstáculos.
A dificuldade deve ser crescente à medida que
se aproxima do controle operacional da Hidre-
volve a segurança da informação e do direito autoral, numa
perspectiva do desenvolvimento de novas tecnologias e que é
uma segurança estratégica”, afirma José Manuel.
Para o superintendente, trata-se, enfim de empreender
uma cultura de segurança. “Hoje, a nossa prioridade é estabelecer uma cultura de segurança. A segurança do trabalho e
industrial, da informação e do meio ambiente, a proteção radiológica, todas precisam estar integradas. É preciso proteger
o homem que está trabalhando, o que está do lado de fora da
usina, além do meio ambiente.”
létrica. A avaliação dessas questões conta também com a participação do Exército Brasileiro,
por meio do Esquadrão de Cavalaria Mecanizada de Tucuruí.
Amazônia - A experiência do acordo entre Eletronorte, Abin e GSI é considerada um
marco por unir órgãos de inteligência e uma
empresa energética. “Não existe no mundo
uma experiência em nível de profundidade tão
grande quanto esta, que envolve segurança e
conhecimento sensível, e que deverá servir de
referência no futuro”, opina Orlando Correa.
E o trabalho está apenas começando. O
próximo passo é fazer a análise das condições
de segurança das linhas de transmissão que
corrente contínua
corrente contínua
O fator segurança é prioridade quando se trata de usina
nuclear. No Brasil, as usinas nucleares de Angra 1 e 2 (foto na
página ao lado) geram dois mil MW e trabalham com o urânio238, que possui capacidade térmica muito grande. Uma única pastilha de urânio, por exemplo, gera mais calor do que o
equivalente a um vagão de trem de carvão.
A geração de energia nuclear começa com a fissão dos átomos de urânio dentro do núcleo do reator. Essa fissão gera
calor e aquece a água do sistema primário. No gerador de vapor, essa água aquece a água do sistema secundário, transformando-a em vapor. Após movimentar a turbina, o vapor passa
pelo condensador, onde é resfriado pela água do mar (sistema
terciário) e reinicia o processo retornando ao gerador de vapor.
O gerador elétrico acoplado ao eixo da turbina produz a eletricidade que abastece a rede de energia elétrica.
Um dos principais critérios no aspecto de segurança dos
projetos nucleares é a defesa em profundidade. “Nós temos
diversas proteções físicas, que são concêntricas em relação
ao reator. Os envoltórios de contenção das usinas são prédios
cilíndricos compostos por uma estrutura de aço revestida por
um prédio de concreto armado, com 60 cm de espessura”,
explica José Manuel Diaz Francisco (foto à direita), superintendente de Comunicação e Segurança da Eletronuclear.
As usinas também possuem sistemas de segurança redundantes, independentes e fisicamente separados, em condições de prevenir acidentes e, também, de resfriar o núcleo
do reator e os geradores de vapor em situações normais ou
de emergência. Além disso, há a proteção não-física, que é a
qualificação do pessoal. Para operar os reatores nucleares é
exigido um treinamento que pode chegar a sete anos, culminando com o licenciamento pela Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN.
O Plano de Emergência de Angra prevê a evacuação da
população em caso de acidentes graves. Para atender aos requisitos de licenciamento da Usina Nuclear Angra 1, foi elabo-
7
8
Em um ambiente de intensa competitividade
em escala mundial, a sobrevivência das próprias empresas está cada vez mais associada
à gestão e à proteção do conhecimento. Principalmente quando se trata da Amazônia, onde
estão os grandes potenciais hidrelétricos, recorda Mário Miranda. “O nosso conhecimento
de Amazônia, os levantamentos, os registros e
os dados cultivados em 36 anos têm um valor
imensurável. Isto é informação estratégica.”
Bruna Maria Netto
Breu Branco, município brasileiro do Estado do Pará, localizado a cerca de 350 km
de Belém, conta com uma população de
47.069 habitantes e em nada lembra aquela
Vila de Breu Branco de anos atrás. No início
dos anos 1970 a população não passava de
200 pessoas. Em 1983, a cidade começou a
transformar-se, culminando no ano de 1991,
na sua municipalização. A emancipação do
lugar, antes ligado ao município de Tucuruí,
surgiu justamente em consequência da Usina Hidrelétrica Tucuruí e da formação do seu
lago, cuja construção resultou no reassentamento da população local para uma nova vila,
com água, saneamento básico e energia de
qualidade. Com ajuda da Eletronorte, Breu
Branco, que em 2009 completa 18 anos, ga-
Qualidade de vida em Breu Branco é referência
nha não apenas a maioridade, mas também
demonstra a força de um povo que soube
crescer e se manter a partir de uma grande
oportunidade.
A história da parceria da Eletronorte com
Breu Branco começou bem antes de sua municipalização, com a região ganhando novos
ares já em 1983. Naquela época, os estudos
mostraram que a área que deveria ser inundada para a construção do lago de Tucuruí atingiria uma vila, a de Breu Branco, localizada à
margem esquerda do Rio Tocantins, a 43 km
de Tucuruí. Seu nome está vinculado à grande
quantidade de árvores da espécie denominada breu branco. É macia, de odor agradável e
fresco, e produz uma resina utilizada na fabricação do breu. Breu é um betume artificial obtido a partir de secreções resinosas de várias
plantas, especialmente das coníferas, utilizado
corrente contínua
RESPONSABILIDADE SOCIAL
corrente contínua
As atuais
barreiras de
acesso à
visita podem
ser pontos
vulneráveis
partem de Tucuruí. Posteriormente, será feito
o levantamento das condições de segurança
do Sistema Norte-Nordeste, responsável pelo
intercâmbio de energia com os sistemas Sul e
Sudeste, bem como de todas as instalações da
Eletronorte no Pará, Maranhão, Tocantins e, em
seguida, nos outros estados.
“Hoje, preocupa-nos muito, por exemplo, o
fato de a linha de transmissão caminhar em paralelo com a ferrovia da Vale, no Maranhão, que
tem sido alvo de manifestações de etnias indígenas”, lembra Mário Miranda. “Nós pretendemos
levar esse trabalho também para Itaipu, Paulo
Afonso, Ilha Solteira e para todos os grandes sistemas de transmissão”, completa Állison.
Eletronorte e Breu Branco:
18 anos juntas na energia, na
educação, na saúde e na história
9
pelos calafates para dar acabamento e cobrir
as costuras do tabuado do navio
No assentamento, aproximadamente 127
pessoas viviam da caça, pesca, do cultivo da
castanha-do-pará, extração de madeira e de
lavoura. Com a construção da Estrada de Ferro Tocantins, houve um deslocamento da população para as proximidades da
ferrovia, objetivando a melhoria
de condições de transportes de
pessoas e de carga. Um desses
moradores é a agricultora Maria
Madalena Basílio (ao lado).
10
A cidade nasce...
to médico também. Veio gente de Castanhal,
Maranhão, Bahia, de todos os locais. Quando
chegavam a Breu Velho gostavam muito de lá
e não queriam voltar para suas terras. Nós vivemos uma vida maravilhosa por lá”.
Apesar da vida pacata, a Vila de Breu Velho
não oferecia condições de higiene e de infraestrutura aos moradores. A educação funcionava precariamente, com apenas duas salas
de aula, uma mantida pela Estrada de Ferro
Tocantins - em construção na época - e outra
pela Igreja Católica, onde se estudava até a 2ª
série do ensino fundamental. A Secretaria de
Saúde fornecia os medicamentos necessários
ao atendimento da saúde da população, realizado em um pequeno posto por uma auxiliar
de enfermagem, também remunerada pela
Estada de Ferro Tocantins. O fornecimento
de água era extremamente precário (foto à
esquerda), forçando os moradores a se abastecerem nos igarapés. A energia era fornecida via motor e distribuída apenas das 19h às
22h. O lazer, limitado à praia local, ao futebol
no campinho de chão batido e às igrejas. Dona
Madalena é testemunha: “Nossa casa era sem
cobertinha, de tabuinha. A gente tinha energia elétrica somente até as 22h, trazida pelo
motor. Buscávamos água na cabeça, lá do igarapé, mas vivíamos muito unidos. Éramos um
povo muito unido”.
...a cidade cresce
Assim como dona Madalena, muitos vieram a Breu Branco por conta da implantação
dos grandes projetos federais na Amazônia no
século XX, a exemplo da Estrada de Ferro Tocantins, da Rodovia Transamazônica e, posteriormente, pela construção da Usina Hidrelétrica Tucuruí. O gaúcho Valdemar Dagnoluzzo
(abaixo) também foi para Breu Branco, mas
com outra função: técnico em edificações,
coordenou a construção
das obras para a realocação dos breuenses:
“A vila de Breu Branco,
conhecida como Breu
Velho, era uma passagem para quem vinha do
Sul, sendo a única via de
acesso existente para a
Transamazônica no sentido Tucuruí. Eram 75
km de estrada de terra, e
essa vila ficava no meio
do caminho. Era uma
localidade muito antiga, quase uma estação
ferroviária da Estrada de Ferro Tocantins. Nos
anos 70, depois da abertura da Transamazônica, é que houve essa ligação da estrada
que passava dentro da vila”. Como gerente
de uma empresa contratada pela Eletronorte
para construção de canteiros e vilas, frutos
da implantação da obra de Tucuruí, Valdemar
percorreu todas as localidades relacionadas
ao empreendimento. Foi então que passou
a atuar na Eletronorte, estando ainda hoje na
área de obras.
Quem relembra a situação daquela época é Humberto Gama
(à direita), gerente de Obras de
Geração da Eletronorte, à época
engenheiro residente de Tucuruí,
que tinha entre outros encargos
o de refazer as cidades que seriam inundadas. “Breu Branco
era um amontoado de casas,
Não chegava a ser um município, mas dava suporte à estrada
de ferro antiga. Mas, como seria
inundada, houve a decisão de
realocar os moradores da vila, e por decisão
da própria população do Breu foi escolhido
o local onde montamos a nova cidade. E foi,
em minha opinião, um lugar muito bem escolhido”.
Breu Novo - A partir da intervenção das
equipes da Eletronorte, o Breu Velho passou
a ser chamado de Breu Novo, e a nova vila
trouxe benefícios a cerca de 250 pessoas, incluindo dona Madalena e sua família. “Nós
fizemos a mudança num caminhão, e nele
corrente contínua
corrente contínua
Breu Velho - Dona Madalena
tem “26 anos de Breu”, como ela
mesma diz. “Trouxe um filho com
nove meses para cá, e ele já tem
26 anos”, completa. A agricultora,
depois de casada, se mudou para
o ‘Breu Velho’, como a Vila era conhecida,: “Nasci no município de Mocajuba,
mas fui criada em um lugar chamado Remansão, à beira do Rio do Tocantins, que passa por
debaixo do Jatobal (pequena cidade a 83 km
de Tucuruí)”. De acordo com Madalena, “nos
demos muito bem com o povo que já estava lá.
Passamos muitos anos vivendo naquela comunidade, da caça e do plantio na roça. O peixe
que comíamos no almoço era pescado pouco
antes da nossa refeição, e tínhamos nossos
plantios no fundo dos quintais, que eram bem
grandes. Vivemos lá por volta de dez anos”.
Madalena descreve o lugar com a precisão
de quem conhece Breu Velho como se vivesse
no local ainda hoje: “Lá onde morávamos havia
apenas a rua principal, com um campo de futebol no meio da rua. A igreja de São Sebastião
ficava ao lado do campo; o colégio se chamava Gonçalo Oliveira, e tinha um pequeno pos-
11
Com o Pirtuc,
novas obras
vão surgindo,
como o
ginásio
esportivo
vinham de quatro a cinco famílias juntas. A
mudança foi boa, não tenho nada a reclamar.
Até hoje, todos aqueles que se mudaram estão em Breu Novo”.
Valdemar conta que a transferência do
Breu Velho para o que hoje é conhecido
como Breu Novo foi rápida. “Numa primeira fase a Eletronorte indenizou as famílias e,
em seguida, realocou aqueles que quiseram
ficar. Foi um processo rápido, com duração
de menos de um ano, iniciado em 1983. Em
fins de 1984 as comportas foram fechadas
e o lago encheu. Foi um pouco complicado,
porque o pessoal realocado teve reações diferentes, pois tinham um meio de vida numa
vila pequena, em que todos se conheciam
e de onde tiravam seu sustento, e quando
chegaram numa cidade planejada ficaram
ressabiados”.
Um terreno de 660 mil m² foi preparado e limpo para o Breu Novo. A obra custou,
na época, algo em torno de US$ 8 milhões.
Segundo Humberto Gama, “a obra demorou
cerca de um ano e meio, desde preparar a
terra até pintar a última casa, pois tínhamos
um prazo para realocar a população e formar
o lago. Trabalhávamos 12 horas por dia”.
A construção da vila pela Eletronorte fez com
que cada morador previamente cadastrado ganhasse uma casa própria, escriturada, com
água encanada e energia elétrica 24 horas por
dia. Ela era composta por três quartos, sala,
cozinha e banheiro, além de toda a infraestrutura urbanística. “Nós fizemos a coisa arrumadinha, mas com um “projeto de engenheiro”,
composto por quadras quadradas e retangulares, sem a mão do artista do arquiteto”, afirma
Humberto. Valdemar enumera o que foi realizado: “Foi construída toda a infraestrutura inicial
que, na realidade, não existia em Breu Velho,
por se tratar de uma pequena vila no interior
da Amazônia sem qualquer base ou apoio. O
que havia na verdade eram pequenos barracos
construídos em madeira, pau-a-pique e barro.
A Eletronorte construiu as casas e também os
prédios públicos do município, como igrejas,
postos de saúde, escolas, rodoviária, delegacia
e o sistema de água e esgotos”.
Humberto destaca que as obras de esgoto na região renderam inclusive uma matéria
para a Rede Globo. “Uma vez um repórter foi
fazer uma matéria com o visível intuito de falar
mal das obras. Eu o levei e falei ‘vem ver o que
estamos fazendo aqui’. Quando viu a escola
e as demais construções em fase avançada,
o que mais lhe chamou atenção foi um buraco no meio da rua. Ao perguntar o que era,
expliquei que tratava-se do esgoto, e, quando
contei que anteriormente na cidade não havia
esgoto tratado, ele levou um susto”.
Ruas
asfaltadas
até nos
bairros mais
distantes
corrente contínua
As obras realizadas
em Breu Branco e nas
demais localidades
vizinhas à Usina
Hidrelétrica Tucuruí são,
desde 2002, também
assistidas pelo Plano
de Inserção Regional
da Usina Hidrelétrica
Tucuruí – Pirtuc. Desde
então, foram realizadas
diversas obras, incluindo
a construção de escolas,
delegacias, posto de
saúde, quadra de
esportes, urbanização de áreas e asfaltamento
de estradas. O gerente da Divisão de Meio Ambiente
da Gerência de Obras de Tucuruí, que coordena o Pirtuc
em Breu Branco, Crisogno Frazão (foto), conta nesta
entrevista as atividades relacionadas ao convênio.
12
Quando surgiu o projeto em Breu Branco?
Apesar de a Eletronorte ser parceira do município de Breu
Branco bem antes de 1991, data de sua emancipação, em
2002 a parceria foi ampliada, com o Pirtuc. O Plano foi iniciado em Breu Branco por meio de convênios, com ações
voltadas a diversas áreas, especialmente, as de saúde, educação, esporte e lazer, infraestrutura e saneamento básico.
É importante registrar que a Empresa iniciou em 2000
as ações socioambientais compensatórias no município,
com a implantação do Programa de Apoio aos Municípios
do Entorno do Reservatório da Usina Hidrelétrica Tucuruí,
criado para atender às questões sociais emergentes.
Quais foram as motivações que fizeram
a Eletronorte investir em Breu Branco?
As principais foram a visão da Empresa de que teria
que enfrentar os problemas sociais do município, a ausência do Estado e o compromisso com a compensação
socioambiental.
Quais são as principais
atividades e construções realizadas
pela Eletronorte por meio do Pirtuc?
Considero a construção de escolas; de postos de saúde; de prédios públicos; de áreas de lazer; implantação
de microssistemas de abastecimento de água; melhoria
do sistema de tratamento de esgoto; urbanização da orla;
recuperação de estradas vicinais e de vias públicas urbanas; apoio à atenção básica à saúde; e a implantação do
Programa de Educação em Saúde e Apoio à Vigilância
Epidemiológica, executado pelo Núcleo de Vigilância Epidemiológica - Nuve.
Quantas pessoas já foram
beneficiadas pelo Pirtuc em Breu Branco?
Entendo que fazer referência a pessoas beneficiadas
com as ações do Pirtuc seria reduzir a magnitude e amplitude desse plano, reconhecido como referência na região
Opções de lazer e esporte
Nova delegacia de polícia
pelas ações que realiza, onde parte delas se restringe a
alguns segmentos da sociedade, mas a maioria é direcionada à sociedade em geral. Assim, diante da importância
que representa para o conjunto da sociedade e de sua
inestimável contribuição para o processo de desenvolvimento sustentável da região, posso afirmar que o Pirtuc,
ao longo desses anos, vem beneficiando toda a população do município de Breu Branco, atualmente estimada
em 47 mil pessoas.
Quais os principais impactos
do Pirtuc na população de Breu Branco?
Destaco a elevação da oferta de vagas escolares nas modalidades de ensino infantil, fundamental e médio; ampliação do número de atendimentos na área da saúde; melhoria do escoamento da produção agrícola; da estrutura física
de prestação de serviços públicos; da saúde e das atividades
de esporte, lazer e cultura da população.
Qual é o seu sentimento, como ambientalista e empregado
da Eletronorte, em ajudar toda uma população?
Inicialmente gostaria de registrar que eu e minha equipe
sentimo-nos honrados e gratificados pela responsabilidade
de tocar o Pirtuc em Breu Branco e nos outros municípios
do entorno de Tucuruí. Sendo natural da região e conhecedor
da carência e das necessidades do povo paraense, sobretudo dos municípios dessa área de influência, igualmente me
sinto feliz em poder contribuir para o resgate da dignidade
da população, trabalhando da melhor forma possível, tendo
sempre em vista que ela constitui nossa clientela principal,
com direito aos serviços públicos necessários ao bem-estar e
à elevação da qualidade de vida.
corrente contínua
Pirtuc inaugura um novo tempo
13
A maioridade também
atinge os breuenses
Dona Madalena se recorda do ganho da
qualidade de vida em consequência da casa
nova, onde criou cinco dos seus nove filhos:
“Eu gostei muito do Breu Novo, é como se o
tivesse fundado, e onde ficarei até o resto da
vida. Cheguei aqui e me deram uma casa com
três quartos, onde criei meus filhos. Ainda hoje
duas filhas moram comigo; outra mora em
Palmas e os outros dois moram em Jacundá.
A saúde aqui é um pouco atrasada, pois há
apenas um hospital, mas é difícil em qualquer
lugar. A cidade está bem maior, na época da
criação havia apenas 300 famílias. Agora temos água tratada e luz elétrica”.
Valdemar se lembra da dificuldade de alguns moradores na adaptação às novas casas
providas de certas comodidades: “No início
o pessoal ficou até desorientado, porque eles
moravam naquelas casinhas sem infraestrutura. As instalações sanitárias, por exemplo, eram
feitas de fossa no padrão da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e, ao receberem uma
casinha toda diferente, com sistema de água e
de esgoto, o pessoal ficou até sem saber como
usar tudo aquilo. Parece mentira, mas os moradores ficaram um pouco perdidos ao chegar
aos novos lares. Ruas largas e sistema de água
e de esgoto acabaram criando impacto”.
‘Projeto Arara’ - A construção das casas
deu-se de forma padronizada e os lotes foram
sorteados entre os antigos moradores de Breu
corrente contínua
Sistemas
de água e
esgoto vem
melhorando
ao longo
dos anos
14
Velho. No entanto, em uma das escolhas houve disputa: a da casa com a cor mais bonita.
Pintadas com cores que remetem à riqueza da
fauna amazonense, as novas habitações em
nada lembram aquelas construídas nos reassentamentos de programas habitacionais.
Humberto explica: “O que se imaginava
era que todas as casas seriam de cor branca,
seguindo o padrão das casas populares da
época. Porém, não se tratava de casas populares e sim de moradores reassentados. Na
fase de acabamento das casas, o empreiteiro
me procurou e fez uma proposta: ‘Eu tenho
tintas novas, excedentes de outras obras, se
puder usar essas tintas de cores variadas, cobro a metade do serviço de pintura’. Daí eu
topei e, para não ficar um negócio muito padronizado, determinei o seguinte: ‘Você pinta
uma casa de uma cor com as portas e janelas
de outra, e a casa seguinte com as cores invertidas’. Eu digo que ficou exótico, mas ficou
muito bonito também. Meus colegas brincam
dizendo que eu fiz o ‘projeto arara’, por conta
das cores da tinta. Mas na hora da escolha
das casas as mais procuradas foram as de
cores mais exóticas”.
vida melhor, com mais oportunidades de emprego. A presença de
parentes na região incentivou a vinda para a cidade que surgia e
onde Lucileno continua ainda hoje trabalhando no Programa Nacional de Inclusão de Jovens – o Projovem. “Aqui faço todo tipo
de artesanato com a minha turma. Em épocas de festas como, no
mês do Natal, fazemos árvores, guirlandas e muitos enfeites natalinos com material reciclado. Além disso, participo das oficinas
de dança, faço aula de hip hop e gosto de dançar”.
Lucileno observa as mudanças em Breu Branco, mas percebe que o município pode melhorar ainda mais para a nova
geração como a dele: “Eu acho que a cidade melhorou bastante,
pois está com a infraestrutura bem melhor. Gosto do campo de
futebol, jogo bola quase toda semana. Uma coisa que não está
muito legal é que os jovens daqui não praticam esporte por falta
de incentivo. Aqui também não tem uma faculdade, há pouco
emprego. Precisamos de mais oportunidades para os jovens”.
Maioridade – Após a criação da nova vila,
a comunidade breuense, com base no artigo
83 da Constituição do Estado do Pará, de 5 de
outubro de 1989, organizou-se em comissão
e planejou a caminhada rumo à emancipação
da Vila de Breu Branco para Município de Breu
Branco. Em 1989, reuniu-se no centro comunitário da igreja a Comissão de Emancipação
de Breu Branco. O plebiscito ocorreu no dia
28 de abril de 1991. Na ocasião, aproximadamente 90% dos eleitores que compareceram
às urnas votaram sim à emancipação, quando
a Vila de Breu Branco foi elevada à categoria
de município pela Lei estadual nº 5.703, de 13
de dezembro de 1991.
“Por vezes há dificuldades, porque o
custo com manutenção das escolas e postos de saúde, por exemplo, é alto”, ressalta
Valdemar. “Hoje é uma cidade muito bonita,
com todas as ruas asfaltadas, saneamento,
escolas, igrejas e esses prédios públicos que
acredito, com raras exceções, foram quase
em sua totalidade construídos por meio dos
convênios com a Eletronorte. A cidade já
cresceu muito. Viajo ainda hoje pelo interior,
nos municípios a jusante, e a diferença de
corrente contínua
Troca de
cores no lugar
do branco:
“projeto arara”
Alguns dos jovens breuenses nasceram na época da
municipalização da Vila de Breu Branco, em 1991. Eles
são a nova geração que hoje comemora a maioridade juntamente com o município onde cresceram e viram evoluir.
Um desses jovens é Lucileno Costa (foto), conhecido como
‘Barqueiro’, que aos 18 anos tem sonhos como qualquer
rapaz de sua idade para melhorar de vida. Lucileno conheceu a Usina Hidrelétrica Tucuruí apenas uma vez, em
um passeio da escola. Mas é consciente de que do campinho onde joga futebol, até as ruas asfaltadas, tudo tem a
interferência da Eletronorte.
O apelido de ‘Barqueiro’ dado a Lucileno não veio sem
uma explicação. Morador da região amazônica, a vida de
Lucileno, assim como de seus conterrâneos, é intimamente
relacionada com as águas do Norte, que à época lhe serviu
de maternidade. “A gente sempre morou perto da água,
no lago da Usina Hidrelétrica Tucuruí. Quando minha mãe
começou a sentir as dores do parto, ela foi levada ao hospital de barco, mas eu nasci antes de chegar lá. Ela conta
que foi muito rápido, não deu tempo (entre risos). Hoje me
chamam de Barqueiro só porque nasci no barco”.
A mãe de Lucileno veio do Estado de Goiás, enquanto
seu pai saiu de Tucuruí procurando em Breu Branco uma
15
poder aquisitivo e da estrutura das cidades,
em relação ao Breu, é quase de terceiro para
Primeiro Mundo”.
Com a ajuda dos royalties gerados pela
Usina Hidrelétrica Tucuruí – apenas em 2009
foram R$ 4,3 milhões -, Breu Branco conta
com boa saúde financeira. Além disso, a Eletronorte, com projetos como o Plano de Inserção Regional da Usina Hidrelétrica Tucuruí – Pirtuc (ver box), continua levando mais
benefícios à população breuense. A Empresa
tem prestado relevante serviço não apenas
na construção de prédios públicos, mas também na capacitação de professores, doação
de equipamentos, profissionalização de jovens, apoio a eventos de cunho cultural, de
lazer e educativo. De acordo com a Prefeitura
Municipal de Breu Branco, a Eletronorte está
construindo um novo tempo, criando para
o cidadão condições necessárias ao pleno
exercício do seu potencial produtivo, permitindo que ele possa dar, com o seu trabalho,
a melhor contribuição ao desenvolvimento
econômico e social do município e do Pará.
Fala Valdemar: “Me sinto muito gratificado
por esses 25 anos de trabalho, fazendo obras
voltadas para a população carente. Vejo o
trabalho feito ali refletido no cotidiano das
pessoas. Ele não é passageiro, ficará ali permanentemente. Vejo boas escolas, as crianças saudáveis brincando e estudando, o que
me faz feliz em saber que há um pedacinho
nosso lá dentro”.
Fala Humberto: “Enfrentamos dificuldades. Com pouca energia e sem televisão,
pegávamos os videotapes que vinham de
Belém e tínhamos de ver tudo repetido. Era
um tal de ver o Incrível Hulk tantas vezes
que a imagem ficava cor-de-rosa! Chegamos a ter 31 mil empregados nas obras de
Tucuruí. Do engenheiro ao médico, passando pelo peão, levávamos tudo. Apesar
disso, foi uma experiência ótima. Até hoje
me emociono ao relembrar que participei
daquilo tudo desde o começo. Eu sou um
grãozinho de areia que ficou plantado ali e,
somando os outros grãozinhos, fez-se todo
aquele colosso”.
16
No dia 12 de dezembro de 2009, os presidentes da Eletrobrás, José Antonio Muniz, e da Eletronorte, Jorge Nassar
Palmeira; e o diretor de Planejamento e Engenharia da Eletronorte, Adhemar Palocci, receberam homenagem da Prefeitura do Município de Breu Branco, que comemorou 18
anos de sua criação. Em cerimônia ao ar livre, os diretores
receberam a chave da cidade e a honraria de Cidadão de
Breu Branco. A comemoração também serviu de palco para
a assinatura de convênios entre os municípios que formam
o Consórcio dos Municípios Paraenses Alagados pelo Rio Tocantins – Compart, e a Eletronorte.
A Eletronorte, por meio do Plano de Inserção Regional da
Usina Hidrelétrica Tucuruí – Pirtuc, assinou oito convênios
com as prefeituras, com vistas ao incremento da infraestrutura regional, totalizando cerca de R$ 23,5 milhões de investimentos. Entre eles, a construção do complexo administrativo e do terminal rodoviário de Breu Branco, somando
R$ 5,5 milhões. Em Goianésia serão construídos o ginásio
poliesportivo e a rodoviária, com R$ 8,3 milhões. Já no município de Jacundá serão construídos o terminal rodoviário e
a pavimentação asfáltica, ao custo de R$ 9,0 milhões. Em
Nova Ipixuna a Eletronorte participará da pavimentação das
vias urbanas e da coleta de lixo, investindo R$ 629 mil.
Participaram do evento os prefeitos de Breu Branco, Goianésia do Pará, Tucuruí, Jacundá, Nova Ipixuna, Itupiranga e
Baião. Estiveram presentes também os deputados estaduais
Parsifal Pontes (PMDB - PA) e Deley Santos (PV-PA), além
do secretário de Estado de Transporte, Valdir Ganzer. Egon
Kolling, prefeito de Breu Branco, salientou a importância da
parceria entre prefeituras, sociedade civil organizada, estado
e a Eletronorte na viabilização do desenvolvimento dos municípios da região do lago de Tucuruí: “Sabemos o quanto
precisamos da Eletronorte e da Eletrobrás, mas, mais do que
isso, tenho que dizer o quanto somos gratos pelos investimentos que se somam para o crescimento dessa região”.
Adhemar Palocci
Investimentos – José Antonio Muniz Lopes lembrou
que há nove anos luta para garantir investimentos para
os municípios da região, principalmente para Tucuruí e
Breu Branco, maiores detentores do empreendimento
da Usina Hidrelétrica Tucuruí. Ele afirmou que a Eletronorte tem uma dívida histórica com o povo dos sete municípios da região e que tem procurado ajudar a todos
de maneira igualitária. Muniz Lopes disse ainda que a
Eletrobrás, por intermédio da Eletronorte, tem firmado
parcerias importantes para garantir o desenvolvimento,
gerando inclusão social e renda para a população. “Esses convênios são importantes, pois garantem o pão das
crianças de Breu Branco e dos outros municípios da região da barragem. Esse é o nosso compromisso”, frisou
o presidente da Eletrobrás.
Adhemar Palocci foi agraciado com o título de Cidadão Breuense. Segundo ele, “a Eletronorte tem se esforçado para que os investimentos sejam aplicados no
desenvolvimento socioeconômico da região. Sabemos
que ainda falta muito, mas estamos no caminho certo
para consolidar o crescimento sustentável no entorno do
lago de Tucuruí ”.
Representando o diretor-presidente da Eletronorte, o
gerente da Regional de Produção de Tucuruí, Antonio
Augusto Bechara Pardauil, ressalta que “a Eletronorte
tem considerado as características, demandas e potenciais de cada município, e os investimentos realizados
ao longo dos anos têm ajudado na construção de um
cenário promissor, baseado na participação social, na
integração das ações públicas e na promoção de atividades sustentáveis”.
População
satisfeita
com as
benfeitorias
José Antonio Muniz Lopes
corrente contínua
corrente contínua
Eletronorte assina convênios
que somam R$ 23,5 milhões
17
18
Uma das definições para a palavra ‘viagem’
no dicionário é: ato de transportar-se de um
ponto ao outro distante. É o que vai ocorrer
com os 6.300 MW das duas linhas do Complexo do Madeira ao percorrerem 2.375 km,
de Porto Velho (RO) até Araraquara (SP), no
maior sistema de transmissão do mundo. A
Eletronorte, como líder do Consórcio Integra-
ção Norte Brasil, está interessada em obter
novos conhecimentos para atender à grandiosidade do empreendimento. Para construir a
linha dessa grande viagem de energia, a Empresa também viajou. O gerente Marcos César
de Araújo e o engenheiro Ricardo Vasconcelos,
da Gerência de Projeto e Linhas de Transmissão da Eletronorte, foram para Oakland (EUA)
para visita uma técnica à empresa Pacific, Gas
and Electric (PG&E), no mês de novembro de
2009. Na PG&E os engenheiros adquiriram
conhecimentos e informações sobre a experiência com a implantação de linhas de transmissão com cabos condutores de alumínio de
grande bitola e níveis de tracionamento mecânico diferenciado.
O interesse pelo assunto parte das especificidades do projeto e do conhecimento, quase
que pioneiro da PG&E, com esse tipo de cabo.
A principal novidade é que a transmissão será
em corrente contínua, com cabos feitos somente com fios de alumínio, que terão secção
transversal grande e serão esticados com alto
nível de carga.
“Em Itaipu já é utilizada a tecnologia de
corrente contínua, mas a que será usada no
sistema do Madeira possui características
diferentes. A principal delas é o cabo condu-
tor utilizado. Em Itaipu, e em todo o mundo,
o cabo mais comumente usado é o de alumínio com alma de aço (fio de aço no centro, que agrega mais resistência ao cabo).
No sistema de transmissão do Madeira será
utilizado um cabo todo composto de fios
de alumínio, sem a alma de aço. O alumínio é um material de alta condutividade, ou
seja, é ótimo para a transmissão de energia,
mas ele não tem tanta resistência mecânica
como um cabo com alma de aço”, explica
Marcos César.
Foi para superar obstáculos, como a menor resistência mecânica desse cabo, que a
empresa norte-americana foi procurada. “A
PG&E é uma das poucas no mundo que tem
experiência com esse tipo de cabo. Além disso,
a experiência é longa: são mais de 40 anos”,
acrescenta Marcos sobre a credibilidade das
informações obtidas.
corrente contínua
TRANSMISSÃO
corrente contínua
Viagem para o sistema
de transmissão do Madeira
Novidades nos cabos
condutores de alumínio
de grande bitola
19
Novidades - As inovações nesse empreendimento são necessárias devido ao fato de as
linhas de transmissão precisarem atravessar
obstáculos de longas distâncias, transmitindo
grande quantidade de energia com agilidade e
segurança. Uma delas é o tamanho da bitola
do cabo. Marcos César explica essa característica que determina a quantidade de energia
que o cabo vai transmitir. “A bitola é uma característica do cabo, que numa unidade própria exprime a secção transversal dele. Logo,
o cabo pode ser determinado pelo diâmetro,
pela área ou pela bitola. O mais comum é cha-
mar o cabo pela bitola. O cabo que será usado
no sistema do Madeira vai ter uma bitola de
aproximadamente 2.300 MCM (Mil Circular
Mil). Isso é quase o dobro da bitola usada no
sistema de Itaipu”.
O uso da corrente contínua para transmitir a energia também é algo novo. Essa tecnologia é apropriada para sistemas que não
tenham necessidade de subestações e precisam atravessar longas distâncias. “O principal
benefício do uso da corrente contínua frente
à corrente alternada é a redução das perdas
elétricas ao longo da linha”, afirma Marcos.
A novidade que está demandando mais
investimento em pesquisa e inovação é o
material do cabo condutor de energia e foi
um dos fatores que motivaram a viagem até
à PG&E. No Brasil o cabo feito de alumínio
nunca foi usado para uma linha desse tamanho e exige a superação do conceito que determina a carga com a qual o cabo pode ser
esticado sem romper.
Constituem o sistema de transmissão do
Madeira duas linhas de transmissão em corrente contínua, cada uma com capacidade de
1.300 MW: o bipolo 1 é composto pelas empresas Furnas, Chesf e Cetef, e o bipolo 2 é
formado pela Eletronorte, Abengoa e Eletrosul.
Para a viagem aos EUA foram representantes
das empresas e da Marte Engenharia, responsável pelo projeto básico dos dois grupos.
O estudo econômico feito pela Marte Engenharia mostrou que para o sistema em corrente contínua, e para percorrer uma grande
distância, o cabo de fios de alumínio é uma
opção mais econômica do que o cabo com
alma de aço, por conduzir melhor a energia.
Porém, o cabo de alumínio não é tão resistente
quanto aquele com alma de aço. Por isso as
vantagens do cabo de alumínio só podem ser
aproveitadas se alguns conhecimentos forem
superados.
A PG&E
recebeu
a comitiva
brasileira
(abaixo) para
a troca de
experiências
20
corrente contínua
corrente contínua
EDS - Marcos César explica: “A nova metodologia para tracionamento de cabos evoluiu.
Hoje está bem mais consolidada, e nos leva
para o crescimento sobre um critério antigo,
baseado em uma característica chamada EDS
(Every Day Stress), que é a força média que
o cabo fica diariamente esticado, ao longo de
sua vida útil. No passado, só trabalhávamos
21
corrente contínua
Os testes
nos cabos
de alumínio
estão sendo
feitos nos
laboratórios
da UnB
22
com EDS na ordem de 18%, ninguém ousava
ir além desse limite porque quanto mais o cabo
é esticado, mais problemas ele pode ter com
a vibração provocada pelo vento, por exemplo.
O cabo de alumínio, em relação ao cabo com
a alma de aço quando esticado com o mesmo
EDS produz uma maior flecha (curvatura que
aproxima o cabo da terra). Dessa forma, para
respeitar a distância de segurança do solo, as
torres que sustentam o cabo de alumínio devem ser mais altas, o que aumenta o custo da
obra. Por isso o cabo de alumínio só se torna
grande quantidade de energia produzida nas
usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio,
o cabo será muito mais grosso que o usual, ou
seja, o tamanho da bitola tornou-se uma novidade para os engenheiros. Como a fabricação
do cabo é feita em lances durante a construção
das linhas, existem duas opções para se fazer
as emendas. Uma é a compressão, com um
tubo metálico que une as pontas dos lances
e é comprimido com uma espécie de prensa;
e a outra com uma emenda pré-formada, na
qual as pontas do cabo são passadas de forma
helicoidal para unir uma parte à outra.
“Eu considero fundamental esse item porque vai ditar o desenvolvimento da obra. Se
tiver muito problema de emenda a obra vai
demorar mais para ser realizada. A informação que recebemos da PG&E é que eles usam
a emenda à compressão, o que tem atendido
ao sistema deles”, esclarece Ricardo. As duas
possibilidades de emenda ainda estão sendo
consideradas e ambas são desenvolvidas no
Brasil. Ainda que os fabricantes dos dois tipos
não tenham o produto pronto para um cabo
com uma bitola deste tamanho, por ser uma
novidade. De qualquer forma o relato da experiência da PG&E é útil, pois antecipa o que os
engenheiros podem esperar com a utilização
desse material.
O engenheiro Marcos César relata sobre outras duas recomendações que a PG&E fez em
relação à utilização da armadura de vergalhões
Equipe
no campo
confere a
aplicabilidade
de equipamentos
como os
isoladores
poliméricos
corrente contínua
competitivo com o cabo com interior de aço
quando pode ser mais esticado, para diminuir
a flecha e reduzir a altura das torres. É nisso
que estamos investindo agora, na evolução da
metodologia do EDS”.
Nessas condições, o cabo de alumínio
é vantajoso e incentiva a pesquisa para que
seja utilizado, pois economiza também em
material, em comparação ao cabo com aço.
O alumínio é melhor condutor de energia que
o aço, por isso o cabo com alma de aço precisa compensar a parte ocupada pelo aço com
mais fios de alumínio para conduzir a mesma
quantidade de energia que o cabo só de alumínio. O cabo com alma de aço sempre terá
um diâmetro maior que o de alumínio e será
usado mais material.
A viagem técnica para a PG&E ofereceu uma
prévia de como será o trabalho com o cabo de
alumínio. O engenheiro Ricardo Vasconcelos
conta: “Eu acho que esses intercâmbios de
informação são sempre bons, porque aprimoram o conhecimento e oferecem subsídio. Em
relação ao tamanho da linha de transmissão
do Madeira, é inexistente a utilização desse
cabo e a PG&E conseguiu nos tranquilizar, por
ter uma longa experiência. Uma das dúvidas
que levamos foi a respeito do tipo de emenda
que será utilizada e eles nos adiantaram como
é a experiência deles”.
A preocupação com o tipo de emenda surgiu devido ao fato de que para transportar a
23
corrente contínua
Marcos César
e Ricardo
Vasconcelos:
toda inovação
traz ganho
para o futuro
24
e o material dos isoladores. “No Brasil temos
a prática de aplicar uma proteção em cima do
cabo quando ele passa no grampo, chamada
armadura de vergalhões. Na PG&E eles não
utilizam essa proteção e nunca tiveram problemas. O mesmo foi confirmado quando consultamos os fabricantes nacionais, que recomendaram a aplicação do cabo sem essa armadura
para não encarecer a obra. Outra questão é
sobre uma tecnologia que tem sido proposta
para nós, o uso de isolador polimérico (feito de
borracha). Segundo a PG&E, esse tipo de isolador tem um histórico de falhas e já substituiu
quase todos por outros de material diferente”.
Além disso, Marcos César explica que a indústria nacional não vai ter prejuízos por falta
de procura de seus produtos, pois grande parte dos materiais utilizados é fabricada no País.
“Embora não utilizemos o cabo de alumínio em
grande escala no Brasil, ele é usado em subestações e em linhas de menor capacidade de
distribuição. Os fabricantes nacionais estão habilitados para produzir torres, isoladores e ferragens. Apenas nas subestações conversoras
e nas inversoras alguns equipamentos serão
importados, porque são tecnologias restritas a
praticamente dois fabricantes no mundo”.
Marcos César também acredita na prosperidade e nos bons resultados a prazo longo.
“Toda inovação no conhecimento, nas nossas
práticas de projeto e na implantação de linhas
de transmissão sempre trazem ganho para o
futuro. Nós temos ainda grandes sistemas a
serem construídos no Brasil, um deles associado ao Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte,
que pode cogitar usar linhas em corrente contínua. Logo, essa tecnologia que vamos aplicar
no sistema do Madeira com certeza vai servir
para empreendimentos futuros”.
Colaborou Márcia Alvarenga
Da mesma forma que a PG&E fornece informações
pertinentes ao comportamento do cabo e deu dicas
para sua utilização, uma pesquisa da Universidade de
Brasília - UnB contribui subsidiando o uso de percentuais maiores de EDS. Ou seja, tão importante como o conhecimento das características do cabo, é o desenvolvimento de pesquisas que superam as informações e os
critérios existentes. O benefício é que o aprendizado vai
servir tanto para um bom desempenho da linha do Rio
Madeira, quanto para que a Eletronorte se engaje em
novos empreendimentos.
A Lei nº. 9.991, de 24 de julho de 2000, estabelece
que as empresas do Setor Elétrico devem investir parte
da receita operacional em pesquisa, desenvolvimento e
em eficiência energética. Com base nessa regulamentação, e por meio de parceira, desde 2006, o Departamento de Engenharia Mecânica da UnB e a Eletronorte
desenvolvem um projeto de pesquisa & desenvolvimento (P&D) que testa a fadiga de cabos condutores
de energia em níveis de tensões elevados, ou seja, o
EDS suportado pelo cabo.
O projeto é intitulado Resistência Dinâmica e Avaliação da Utilização da Fórmula de Poffenberger-Swart
para Sistemas Cabo/Grampo Operando com Altos Níveis de Tensão de Trabalho e é anterior aos estudos
sobre o Madeira. “Quando esse projeto começou, nós
vislumbrávamos que a Região Norte, pelo tamanho, iria
exigir futuramente que as linhas de transmissão fossem esticadas com maior força para, como exemplo,
atravessar rios largos por onde passam embarcações”,
explica José Alexander Araújo, coordenador do laboratório do Departamento de Engenharia Mecânica da
UnB (foto acima).
Sobre a relevância do projeto José Alexander acrescenta: “Um cálculo de empresas do Setor Elétrico mostra que para atravessar uma extensão de dois quilômetros de rio com a carga de EDS padrão é necessário
ter torres com mais de 300 m de altura, para respeitar
a altura mínima da passagem de embarcações. Isso
tornariam mais difícil a manutenção e a logística de
construção dessas torres. Por isso é importante a possibilidade de esticar com segurança o cabo com cargas
elevadas”.
José Alexander conta que, por tradição, os engenheiros no Brasil não ultrapassam a carga de 20% para
esticar os cabos e no laboratório da UnB os ensaios
são feitos com carga de até 30% para prosseguir com
a inovação do conhecimento sobre o EDS. Isso permite
progressos na área, como ele explica: “Se conseguirmos montar metodologias e teorias que permitam calcular quanto tempo o cabo vai durar, conseguimos enviar
equipes de manutenção aos locais mais críticos da linha
com a antecedência devida para fazer uma manutenção
preventiva. Ou seja, refinar o processo de manutenção e
acompanhamento dessa linha ao longo dos anos”.
Laboratório - O laboratório, formalmente chamado de
Laboratório de Fadiga e Integridade Estrutural de Cabos
Condutores de Energia, por suas inovações tecnológicas é
destaque no hemisfério sul. Nele são realizados os testes
do projeto da parceria entre a Eletronorte e UnB, que José
Alexander considera proveitosa. “É uma troca de conhecimentos. A Eletronorte traz o investimento e o conhecimento técnico e a UnB tenta retornar esse conhecimento
com mais profundidade para a Empresa”.
Nesse laboratório são feitos ensaios acelerados nas
condições pretendidas de desenvolvimento do sistema de
transmissão do Madeira para promover o aprofundamento dos estudos e oferecer informações mais precisas, que
podem permitir que a Eletronorte interfira na linha antes
que um dano mecânico aconteça. Ao entrar no laboratório,
além dos dois longos cabos que vibram com ajuda de equipamento, o frio chama a atenção.
A professora de engenharia mecânica Aida Fadel, que
também participa do projeto, dá a explicação científica: “Nos
testes, a temperatura e a frequência do movimento, que representa o balanço provocado pelo vento, são controladas
com ajuda de equipamentos e do amortecedor. Em procedimentos científicos, quando existem três variáveis é preciso
manter duas constantes para se descobrir a outra”.
Segundo a professora Aida, o que iria demorar anos para
ocorrer no campo, no laboratório é feito em ensaio acelerado.
“Nós criamos uma forma de saber o que acontece dentro
do cabo, uma alternativa mais barata que um aparelho de
raio x. Sabemos que na estrutura do cabo os fios de alumínio
são enrolados no formato helicoidal e as camadas seguintes
são enroladas em sentido contrário e, assim como uma corda
quando é cortada gira, o cabo também. Aproveitamos isso e
fixamos uma estrutura parecida com uma régua ao cabo, de
forma vertical, e paralelamente a essa estrutura estão fixados
dois sensores com laser, cada um apontando para o centro
do cruzamento de dois traços desenhados nas duas extremidades da régua. Isto indica a posição inicial do cabo. Logo,
quando o laser deixa de apontar para o centro do desenho
significa que alguns dos fios do cabo estão quebrados”.
A dissertação de doutorado da professora Aida Fadel,
resultado da parceria entre a UnB e Eletronorte, chama-se
Análise da Resistência Dinâmica e Avaliação da Fórmula de
Poffenberger-Swart para Sistemas Cabo-Grampo Operando
com Elevados Níveis de Carga de Esticamento. Apesar do
nome complicado o que o trabalho pretende é avaliar a influência da variação da carga na qual é esticado o cabo sobre sua vida útil, e as limitações das metodologias existentes
para mensurar o efeito das vibrações em cabos condutores
– entre elas a fórmula de poffenberger-swart. Nesse sentido
os capítulos do trabalho detalham cada elemento que interfere no desempenho do cabo em campo e também realizam
ensaios acelerados no laboratório da UnB.
Aida (ao lado) considera que o crescimento do País está
ligado à confiabilidade e melhoria dos processos do Setor
Elétrico. Dessa forma, a professora acredita que essas pesquisas podem contribuir para o desenvolvimento nacional à
medida que atendam novas demandas de instalações com
torres mais distantes e cabos esticados com maior carga. A
professora considera que é preciso dois cuidados básicos
no Setor Elétrico: gerar mais energia e transmiti-la com segurança. “Para nós, quanto mais o cabo durar, melhor será,
pois trata-se de um investimento enorme, que pesa no bolso
do consumidor. O sucesso de uma pesquisa desse tipo tem
grande impacto sobre o valor final da conta de luz e nos juros
pagos aos bancos, pois com mais desenvolvimento o País
passa a receber mais investimento. Até o preço do pãozinho
que compramos pode ser alterado pelo fato de se ter mais
segurança na energia fornecida”.
corrente contínua
Parceria com a UnB
aprimora conhecimento
sobre EDS
25
Byron de Quevedo
A capital do Maranhão, São Luís, recebeu a
II Semana Eletronorte do Conhecimento e Inovação Tecnológica – Seci, evento integrador
das práticas de gestão do conhecimento e de
inovações tecnológicas, visando à produção e
compartilhamento do conhecimento, que este
ano congregou também o XIV Painel Integrado da Qualidade – PIQ, a IV Feira de Inovação
Tecnológica, o I Seminário de Tecnologia da
Informação e o IV Prêmio Muiraquitã de Inovação Tecnológica.
“Existe uma barreira entre a ideia e a sua
formatação para apresentação ao público.
Precisamos vencer essa
dificuldade. Os nossos
inventores têm algo novo
a apresentar, mas até
chegarem a traduzir os
dados técnicos numa realidade patenteável, há
dificuldades. Foros como
a Seci são importantes,
pois é uma oportunidade
para essas pessoas se
apresentarem. Quando
um inventor desiste de
corrente contínua
Da esquerda
para a direita:
Francisco,
Adolfo, Omar,
Benjamin,
Mauro,
Charone
e Eder
26
suas ideias renovadoras, a sociedade também
perde”. Foi o que afirmou, oportunamente, o
anfitrião do evento e gerente da Regional de
Transmissão do Maranhão, Mauro Luiz Aquino
dos Santos (foto abaixo, à esquerda).
A II SECI trouxe à luz inovadores do corpo
técnico da Empresa e suas inovações sobre
melhoria de processos, criação de produtos,
serviços, redução de custos, programas de
proteção à propriedade intelectual, operações
de sistemas elétricos, equipamentos e linhas
de transmissão, preservação e mitigação de
impactos socioambientais, entre outros.
“Já o PIQ, evento que deu origem aos demais, é fruto de quase duas décadas de investimentos em conhecimento e inovações,
deixando evidente que as diretorias passam,
mas a perseverança dos empregados aos processos é que faz a diferença”, afirmou José
Benjamim do Carmo, assistente da Presidência e representante do diretor-presidente da
Eletronorte, Jorge Palmeira.
O PIQ tem 245 trabalhos apresentados,
94 deles premiados nos últimos 13 anos. E a
Empresa também vem acumulando prêmios
e reconhecimento público. Este ano o público
presente na Seci foi brindado com depoimentos que dão a exata dimensão do encontro entre almas criativas.
Como o de Dimitri Ramos (acima), premiado na modalidade Trabalho Consolidado, categoria Processo de Apoio, com o seu projeto
‘Reestruturação da rede de computadores da
Eletronorte’, que reformulou a comunicação
via rede na Sede, em Brasília.
“Nosso trabalho é de equipe, mas ajudoume a clarear a mente e, assim, consegui vencer barreiras pessoais de relacionamento. Hoje
estou aqui feliz e representando a minha área.
O pessoal da Região Norte reconhece o valor
da Eletronorte. Talvez pessoas de outras regiões não tenham a dimensão exata do que ela
representa para o Norte e para o País. Nasci na
região, conheço o sofrimento e a fibra do nosso
povo, também merecedor de desenvolvimento
e apoio. Minha admiração pela Empresa vem
desde criança. Quando a conheci, fiquei fascinado e jurei que um dia ainda trabalharia nessa instituição grandiosa. E, graças a Deus, tive
a oportunidade de fazer parte do seu quadro
de empregados e, hoje, da sua história”.
Blecaute sem pânico - No momento em
que aconteceu o último grande blecaute no
Brasil, o XIV PIQ, premiou na modalidade
Trabalho Inédito, categoria Processo Finalístico, mais uma luz em matéria de segurança.
Trata-se do projeto para facilitar a compreensão do Automatismo do Serviço Auxiliar
nas Subestações, dos técnicos Jonir da Silva
Costa, da Divisão de Transmissão do Tocan-
Unidade mais inovadora – o gerente da Regional de Planejamento e Engenharia do Maranhão e Tocantins, Omar Barroso Maia Junior
(abaixo), fez a entrega do troféu de Unidade
corrente contínua
TECNOLOGIA
II Seci: gerações
se unem na inovação
tins e Windsor Oliveira (abaixo, à esquerda),
técnico de Segurança do Trabalho, também
lotado na Regional de Transmissão do Tocantins. Eles aplicaram-se numa invenção preditiva. É apenas uma planilha, mas muito útil em
ambientes automatizados. E para justificá-la
Jonir constrói um pequeno caos imaginário:
“As portas DJ1, DJ3, DJ5 funcionaram bem,
porém DJ4 não fechou. Mas deveria estar fechada e por que não está? Localizem os desenhos. Mas são centenas de desenhos! Traga o
específico, aquele que tem a porta DJ4”. Essa
planilha, por meio de uma interface amigável
e intuitiva, ajuda a eliminar perdas por erros
operacionais. Ou seja, é possível compreender
quais são as pré-condições necessárias num
momento em que uma máquina apaga ou o
automatismo falha.
“Nesse caso passamos para o plano B, com
ênfase no ser humano. A nossa pretensão é
tornar compreensível a operação, num momento de emergência, mostrando quais são os
procedimentos que o técnico deve tomar para
fechar o equipamento ou mudá-lo de posição.
E ao mesmo tempo, permitir a ele visualizar
as chaves certas e saber qual o painel em
que se encontra aquela chave. Fornecemos
a localização do painel, o tipo de chave e o
local onde ela está instalada. Vivemos 11 anos
sem apagão. Isto nos deixou meio sossegados.
Deveríamos recordar mais quais são as atitudes a tomar, quando houver disparo de equipamentos. Há treinamentos constantes, mas
os procedimentos das rotinas pouco usadas
acabam caindo no esquecimento. O operador
também faz parte das ações do serviço auxiliar
de restauração do sistema. Podemos também
utilizar essa ferramenta para a função simuladora. O técnico pode simular, sem provocar
efeitos reais nos equipamentos e no campo
27
Feira de Inovação Tecnológica - A II Seci
revelou-se integradora de gerações, uma vez
Jesse Lima de Assunção
Francisco Roberto França recebe
prêmio de Unidade mais Inovadora
Custo evitado na montagem feita com técnicos
da casa, aproveitando peças descartadas, mais
o tempo de indisponibilidade do equipamento
e compra de peças novas: R$ 630 mil, para
recuperação de 108 acumuladores, agora já
em uso. Custo de fabricação do kit: R$ 100,00.
Há ainda dois mil acumuladores a serem recuperados na Eletronorte. Custo evitado para
o Sistema Eletrobrás: alguns milhões de reais.
Custo evitado projetando-se a demanda reprimida mundial neste nicho de mercado: chame
o matemático Oswald de Souza.
Dispositivo hidráulico para desmontagem
e montagem das caixas de molas dos disjuntores. A desmontagem era feita com tirantes,
algo perigoso, pois as molas robustas ficam
sob pressão. Eram necessárias três pessoas
para a troca da peça, num trabalho difícil e
sob risco de vida. O invento baixou o tempo
de desmontagem e montagem da caixa de
30 minutos para três minutos, e com apenas
uma pessoa trabalhando, em segurança. Cada
disjuntor de 500 kV possui seis caixas de molas e um de 230 kV, três caixas. O custo evitado por caixa de mola: R$ 7,8 mil. Custo do
equipamento de desmonte, usando material
reciclado: R$ 480,00. Custo evitado com 56
caixas de molas: R$ 436 mil.
corrente contínua
corrente contínua
28
Mais Inovadora da II Seci aos colaboradores do
Centro de Tecnologia. Omar enfatizou que gerir
o conhecimento é gestar uma grande empresa: “Somos a melhor do Setor Elétrico devido
a essa preocupação com a aquisição do saber
e com a melhora da gestão do conhecimento.
Esse é o marco a ser atingido”.
Para a superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, e Eficiência Energética, Neusa Maria Lobato (acima, premiando
Enedilson Santos Reis), esse troféu significa o
conjunto das demais pontuações. “Fico muito feliz pelo número de pesquisadores e inventores jovens presentes na II Seci. Todos
aprendem a todo instante, só que os jovens
não têm a percepção de filtrar. E
muitas vezes, até por influência
de amigos, se metem por caminhos que os levam a experiências
danosas às suas vidas. Os mais
idosos têm seus filtros e os jovens
também deveriam tê-los. Vamos
ajudá-los nessa missão de compreender melhor a vida, pois eles
são nossas estrelas”.
A psicopedagoga do Sebrae,
Rosanira Leite Dias (ao lado),
convidada para compor a Banca
Examinadora, disse que foi uma
grande experiência ver trabalhos inovadores
com a participação de muitos jovens. “É importante a Empresa ouvir seus empregados,
premiá-los e aproveitar as sua ideias, contribuindo para sua autoestima e suas valorização. É uma soma de experiências muito positivas. As empresas não devem trabalhar apenas
os processos mecânicos, têm que valorizar
também o lado biológico, as pessoas. Essas
homenagens estimulam aqueles que criam
algo, a criar mais”.
que a Eletronorte admitiu muitos jovens em
recente concurso público, que foram vencedores em várias categorias nos diversos prêmios, em parceria com empregados antigos.
Por sua vez a IV Feira de Inovação Tecnológica
apresentou inovações geradoras do diferencial
competitivo, que fazem a Eletronorte figurar
entre as empresas mais inovadoras do País.
A II Seci, e notadamente a IV Feira, tiveram
uma característica especial: surgiram por lá
inventos não para promover a grande revolução tecnológica do século XXI, mas criações
específicas para o Setor Elétrico, baratas,
funcionais e de aplicabilidade imediata pelos
recursos que geram ou que evitam serem gastos. Esse é o caso das invenções da equipe
composta pelo engenheiro mecânico Moisés
Antônio Soares (abaixo) e pelos técnicos em
eletromecânica, Jessé Lima de Assunção, Antônio Paulo Souza do Nascimento e Rui Braga,
todos trabalhadores da Divisão de Engenharia
e Qualidade da Regional de Transmissão do
Maranhão.
Veja algumas invenções dessa turma incrível:
Kit de ferramentas para montagem e desmontagem dos anéis coletores e máquinas
rotativas dos compensadores síncronos, que
são os estabilizadores das variações na transmissão de energia, absorvendo as oscilações
de tensões e garantindo a estabilidade do
sistema. Os anéis coletores, dentro dos compensadores instalados nas subestações, são
componentes rotativos que se desgastam com
o tempo. Segundo Moisés, antes se contratava
o fabricante dos disjuntores para fazer a troca
dos anéis e a operação demorava até 12 horas.
Hoje esse tempo caiu para duas horas e é feita
por técnicos da Eletronorte. Custo do invento:
R$ 1,5 mil. Custo evitado, por compensador
síncrono retificado: R$ 428,5 mil. Tempo de
duração do anel coletor retificado: 15 anos.
Economia total gerada com todos os compensadores recuperados: R$
2,5 milhões.
Kit de ferramenta para
desmontagem de acumuladores de disjuntores de
500 kV e 230 kV, que retifica esse complexo componente dos disjuntores,
submetido a altas pressões. Antes, a desmontagem era feita pelo fabricante, em uma hora de
serviço. O kit reduziu esse
tempo para dois minutos.
29
Banca examinadora
30
Kit corretor para retirar o anel elástico de
válvula de abertura e fechamento dos disjuntores de 500 kV e 230 kV e os cilindros de
verdadeira imagem. Antes não se fazia manutenção nessas válvulas, importavam-se novas
peças e as antigas eram descartadas. Custo
de cada uma, mais o cilindro de verdadeira
imagem: R$ 35 mil. Com esse kit o tempo de
retirada da válvula caiu de 20 minutos para 20
segundos, evitando ainda longos processos de
aquisição de peças. Custo do kit: R$ 100,00.
Custo evitado: R$ 630 mil para a recuperação
de 36 disjuntores.
Bicicleta de quatro roldanas (abaixo). É
uma invenção do especialista em manutenção
elétrica, Ademir Ferreira da Silva, que trabalha com linha viva. Ele comenta que antes era
usada uma bicicleta de duas roldanas, para
se trabalhar com um cabo, o que dificultava
o serviço de troca dos espaçadores e lâmpadas de balizadores (sinalização noturna). “A
nossa bicicleta de quatro roldanas, uma gaiola
de alumínio que entra na mesma tensão da
linha para igualar o potencial, trabalha apoiada em dois cabos de 250 V. Antes era preciso desligar a energia e levavam-se de oito
a 14 horas para trocar balizadores, luvas de
reparos, esferas de sinalização diurna e espaçadores. Atualmente, trabalhando de forma
bem mais confortável, gastamos de três a dez
horas para trocar esses sobressalentes com a
linha ligada, o que gerou uma economia de
R$ 7,0 milhões. Custo da bicicleta: R$ 12 mil.
A vantagem do nosso equipamento é que ele
passa por cima dos espaçadores, antes era
necessário tirá-los para a bicicleta chegar até
à peça a ser trocada”.
Segundo Moisés, hoje os empregados podem fazer a sua carreira profissional e, pa-
ralelamente, ter uma carreira como inventor,
ainda mais interessante financeiramente e
como realização pessoal. “Está aí a corrente
contínua no sistema de transmissão do Madeira (ver matéria na página 18). É um novo
mundo, desafiador e carente de soluções,
uma tecnologia dominada por poucos. Já
sabemos muito sobre a corrente alternada,
mesmo assim há muitos desafios nela também, pois é uma tecnologia importada. Muitos fabricantes já inseriram nossas ideias nos
seus equipamentos e depois vendem para a
Eletronorte máquinas e equipamentos com as
melhorias criadas por nós. Daí a importância
das patentes, que rompe esse ciclo vicioso.
Hoje, os nossos inventos estão sendo patenteados”, observou.
Segurança - José Adolfo Ramos da Conceição, assistente do Diretor de Gestão Corporativa, em sua palestra sobre “Tecnologia da infor-
mação nas organizações: dilemas, paradoxos
e desafios”, ressaltou a importância da segurança dos dados, muitas vezes negligenciada.
Mencionou o fato de muitas pessoas deixarem
as telas dos computadores abertas, com informações pessoais ou da própria instituição.
“Para vários arquivos o computador pergunta
se queremos gravar, e sem pensar teclamos
‘sim’, e as informações ficam arquivadas. A
cada dia 35 mil tipos de novos vírus surgem
na internet. Quem abre qualquer e-mail pode
vir a ter, um dia, a sua conta no banco zerada.
Há de se ter cuidado também com senhas óbvias. Nesses casos, o sistema da Eletronorte
solicita a troca de senha. Estamos conectados
com o mundo e isto nos dá acesso ao legal
e ao ilegal a qualquer instante. Aí surgem as
questões de ética quanto ao uso do que é pessoal ou do que é corporativo. Às vezes informações sigilosas vazam, pois inadvertidamente as deixamos disponíveis sem compreender
a sua importância estratégica. Determinadas
palavras acionam o sistema de segurança da
Eletronorte e surge na tela a advertência de se
ter infringido a IN-01. Há ainda pessoas que
guardam tudo, o que exige uma caixa de email maior, como não dá, vai-se para a pasta
particular e quando o HD fica cheio, cria-se
uma pasta no servidor. Muitos arquivos, certamente, não deveriam estar a superlotar os
sistemas da Empresa”.
Adolfo Conceição também fez a entrega do
certificado de primeiro lugar na modalidade Trabalhos Inéditos, na categoria Processo Finalístico, para o trabalho Monitoramento de Caixas
Separadoras de Óleo na UHE Tucuruí, apresentado por Markle Fernandes Vieira (foto acima).
Markle e sua equipe revelaram-se inventores promissores. O seu simples sensor pode
evitar catástrofes ecológicas, dando sinais de
vazamentos de óleo para o meio ambiente. A
invenção poderá ser usada em lixões, postos
de gasolina, fábricas e usinas de tratamento
de combustíveis. “O invento é para garantir
a segurança do óleo contido nas caixas, nas
subestações. Quando criamos esse sensor
jamais imaginávamos que ele pudesse ser
usado para tantas coisas, em tantos lugares”,
declarou Markle.
Colhendo os frutos - Segundo o coordenador da II Seci e gerente de Gestão de Conhecimento, Francisco Fernandes Neto (abaixo,
ao centro, ladeado por Jessé e Gerivan) “foi
bom verificar que neste evento já surgiram
os trabalhos, inclusive premiados, da nova
geração. Os veteranos continuam a fazer as
coisas acontecerem, mas a nova geração já
coloca vários incrementos, ao falar de suas
realizações com empolgação e emoção. Ouvi-
corrente contínua
corrente contínua
Inventores,
a nova
produção da
Eletronorte
31
mos histórias de jovens que um dia sonharam
em trabalhar na Empresa e hoje já participam
de um encontro como esse, evidenciando o
reconhecimento daqueles que se esforçam e
querem crescer”.
O Prêmio Muiraquitã é outra ferramenta de
gestão que reconhece a inventividade dos trabalhadores da Eletronorte. Entre 2006 e 2008
foram 60 inovações apresentadas, com 32
projetos premiados. O valor total da premiação foi R$ 409 mil. Com o resultado dessas
inovações deixou-se de gastar R$ 48 milhões.
Houve ainda o significativo aumento de registros da propriedade intelectual. “Está evidente
a importância de se investir no conhecimento,
inovações e nos espíritos criativos dos colaboradores. Os prêmios não são o mais importante. O compartilhamento das ideias é o fator
que permite às pessoas entenderem a dimensão do que elas representam no mundo. Em
2005, tínhamos um único pedido de patente
fruto de inovação. Hoje temos 42, com ganhos
enormes de tempo e dinheiro. De 2002 a 2009
concluímos 139 projetos de P&D. Estamos
apresentando soluções patenteáveis, inclusive
remunerando os inventores. Talvez até percamos alguns talentos para outras empresas
que desejam tê-los, mas não se pode deixar
de investir em P&D, por causa disto”, declarou o diretor de Produção e Comercialização,
Wady Charone Júnior (na foto à esquerda, em
palestra).
Francisco Neto enfatizou: “Vínhamos trabalhando com o PIQ, até 2006, com uma média
de 30 a 40 trabalhos. O número de iniciativas,
neste ano, foi de 123 trabalhos, chegando-se
aos 32 finalistas. Para o Prêmio Muiraquitã
foram apresentados 72 trabalhos na primeira
fase, e 50, na final, totalizando 125 projetos,
um número muito significativo. O Maranhão
está de parabéns, por ter sido o anfitrião de um
belo encontro, onde uma grande equipe teve
que se envolver. Nossa missão foi cumprida”.
Os trabalhos apresentados na II Seci estão
disponíveis na intranet da Eletronorte.
corrente contínua
“Estamos migrando da era industrial para a era do conhecimento, onde se destaca a sociedade em rede. Surge
aí a cultura aberta, compartilhada, de reutilização, de combinação das culturas, nos possibilitando ferramentas possantes de compartilhamento. E para quem se sente desconfortável com a abundância de informação, vou dar uma má
notícia: a coisa deverá aumentar absurdamente. E tudo isto
e muito mais está na internet, gratuitamente”. A afirmação
é do diretor do Polo SP da Sociedade Brasileira de Gestão
do Conhecimento- SBGC, André Saito (foto à direita), que
participou da II Seci. Entretanto, ao mesmo tempo em que
o ser humano se depara com a vasta gama de informações,
por outro lado estão os direitos dos inventores e geradores de cultura, nunca antes tão violados. Nesta entrevista o
professor Saito nos ajuda a compreender esse momento em
que a comunicação de massa toma nova direção.
32
O compartilhamento nos levará ao
despojamento total do saber individual
em prol do conhecimento coletivo?
Há um cenário de colaboração em rede, informação distribuída do conhecimento coletivo. O despojamento é importante porque parte da constatação de que há um conhecimento e nós precisamos sabê-lo para recombinar as coisas e
ter as nossas próprias ideias. Por isto é que precisamos cedêlo. Agora, esse despojamento não é total, pois vivemos numa
economia de mercado, onde ainda é importante a exploração econômica do capital intelectual. O segredo está no meio
termo. Daí vem a importância da gestão do conhecimento organizacional. É a organização agindo de forma coletiva e em
colaboração com os contribuintes do saber e clientes. Abrir
mão desse saber, sim, mas até certo ponto. O mais valioso é
o conhecimento tácito. É como usar as informações. A questão chave é como fazer a comunidade empresarial abrir mão
dos seus conhecimentos, discutir, comentar, colaborar de
forma produtiva e dar os feedbacks.
A propriedade intelectual implica
direitos restritos. Qual a vantagem de
se produzir conhecimento num cenário aberto?
Antes só se tinha duas opções ao produzir propriedades intelectuais: ou se protegia ou tornava disponível, não
havia o meio termo. A propriedade intelectual é protegida
por até 50 anos. O que de certa forma impedia a inovação. O domínio público total também não é interessante, pois o invento é fruto de pesquisa, investimentos e os
criadores precisam ganhar algo. Então surgiu a educação
aberta, com a universidade viabilizando aulas pela internet, gratuitamente, muito bom para uma pós-graduação
ou MBA. Há também iniciativas semelhantes na área de
saúde, com grupos desenvolvendo registros médicos,
buscando eficiência. A Eletronorte, é um bom exemplo
na área de inovações tecnológicas, propiciando-as internamente, mas em parceria com universidades, fornecedores, clientes e entidades de pesquisas. Outro exemplo
é o Google e indústrias parceiras, com o seu sistema
operacional para celulares, no mesmo estilo do Linux. Há
prêmios para pessoas físicas, desenvolvedores comuns,
contribuindo para este sistema com suas visões. A Proctor & Gamble, está em colaboração com governos, fornecedores, institutos de pesquisa, onde todos podem propor
inovações, inclusive usando patentes dela. A Dell tem um
site para as inovações dos produtos. Ou seja, há todo um
envolvimento da comunidade, fornecedores, público em
geral no processo de inovação e há outros exemplos de
colaboração em rede com a liberação distribuída.
Isto também vem acontecendo
em relação à comunicação?
O processo de comunicação muda. Começamos com
o telefone, correios, telégrafos, carta. Aí veio o fax, agilizando a aprovação de documentos, contratos, comprovantes e propostas. Com o e-mail, messenger, chats, vieram outras mudanças. Antes tínhamos a comunicação de
um para muitos: rádio, TV, jornais, revistas. Então surgem
os multimídias, vídeos, blogs, redes sociais. Com essas
novas ferramentas, os veículos e pessoas já conseguem
interagir com seus públicos, com mensagem organizada
em ordem cronológica, e com a possibilidade de se comentar os assuntos, por meio de ferramentas de comunicação distribuída, de forma assíncrona. Ou seja, sem
depender de estarmos todos juntos, ao mesmo tempo. É
a comunicação de muitos para
muitos. Há pouco tempo só se
trabalhava juntos num só local.
Agora temos ambientes de colaboração, com redes sociais,
com vários textos, vários links.
Todos a inserir as mudanças,
com espaço de debates e troca
de ideias. Conclusão: há uma
plataforma onde todos podem
colaborar, deixando as suas
marcas.
Ou seja, todos se tornam
criativos ou exploradores
de uma criatividade
que estava latente.
Sim. Estamos saindo de um
mundo onde a tecnologia e a
informação eram o principal,
para outro onde o importante
é a interação entre as pessoas. Devemos criar a cultura
da inovação, aquela que é fruto do trabalho coletivo árduo
de pesquisa do dia a dia. Ela vem em milhares de detalhes
que vão se afunilando até gerar o novo, o diferente; o que já
passou pela pesquisa, geração de ideias, seleção, validação,
implementação e comercialização. É um processo que depende de tentativas e erros. Não é suficiente se fazer o melhor, tem que se fazer diferente. A criação do novo depende
de mentes diversas, visões diferentes, pois os o talentos se
somam. Na inovação há um processo político de negociação
das mudanças. Nem sempre tudo é bom para todos. Uma
ideia pode ser fantástica, mas para vingar ela tem que ser
bem vendida e acordada entre as partes.
corrente contínua
A era do conhecimento
33
MEIO AMBIENTE
Castanheira,
fundamental
para a manutenção
da biodiversidade
Brasil não aproveita bem
essa riqueza e está atrás
da Bolívia em produtividade
“Marabá, cidade do sudeste do Pará, já foi
a maior produtora mundial de castanha-dopará. Passamos de maior produtor mundial
entre as décadas de 1930 e 1970, à produção
zero. Hoje encontramos poucas quantidades,
apenas para consumo. Vi tudo isso acontecer
com a maior tristeza, pois a castanheira é um
árvore maravilhosa, de até 60 m de altura por
quatro metros de diâmetro na base do tronco. É triste ver uma espécie que vive até 800
anos ter sido destruída”. O biólogo e presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá, Noé Von Atzingen, descreve o sentimento
de quem acompanhou o auge e declínio da
espécie em Marabá.
Nóe nasceu em São Paulo e há 33 anos
mora em Marabá. Para ele, a importância
da castanheira na região foi além da questão
econômica, alcançando a cultura, a política e
o povoamento. “O brasão de armas do município tem no seu centro uma castanheira.
O projeto urbanístico foi inspirado na árvore, onde o centro da cidade é o tronco e os
bairros as folhas. O ciclo da castanha atraiu
enorme contingente, principalmente de nordestinos. Esses deslocamentos populacionais
fomentaram a criação de cidades como Jacundá, Nova Ipixuna e São João do Araguaia.
Por sua vez, as concessões dos castanhais
eram feitas a grandes fazendeiros ligados à
política local”, conta Noé.
De acordo com os primeiros registros, a exploração da castanheira-do-pará, Bertholletia
excelsa, na região de Marabá começou em
1913, período que coincide com o início da decadência do caucho - árvore que produz o lá-
34
corrente contínua
corrente contínua
Érica Neiva
35
36
tex usado para fabricação de borracha - devido
à expansão dos seringais no sudeste asiático.
Em 1923 se colhiam 62 mil hectolitros (medida que equivale a 100 litros) de castanhas. Em
1979, houve uma produção recorde, 300 mil
hectolitros; em 1982, 200 mil; em
1983, 100 mil. A partir da década de 1990 é praticamente zero a
coleta da castanha, hoje conhecida e comercializada no exterior
como ‘castanha-do-brasil’
Milhares de castanheiras centenárias desapareceram nos últimos 30 anos no sudeste do Pará,
região que abrange 38 municípios, sendo Marabá o mais importante em termos econômicos.
Com cerca de 200 mil habitantes,
hoje as principais atividades econômicas da cidade são a criação de gado e
a siderurgia. Os diferentes ciclos econômicos
que predominaram na cidade trouxeram pessoas de diferentes partes do Brasil. O biólogo
Noé (foto acima) veio para ficar apenas um
ano, mas decidiu permanecer. “A minha relação com Marabá é uma relação de amor. Vim
para ficar um ano no campus da Universidade
de São Paulo - USP que existia aqui, no entanto, nunca mais voltei. Marabá tem muitas
coisas para serem resolvidas, mas é uma terra
de oportunidades. Com boa vontade e inteligência os propósitos dão certo aqui”.
Causas da decadência - O pesquisador da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-
Embrapa e doutor em economia rural, Alfredo
Homma (foto abaixo), responsável por trabalhos sobre a Amazônia, economia de recursos naturais e extrativismo vegetal, relata que
a extração da castanha-do-pará tornou-se a
principal atividade econômica do sudeste do
Pará durante 60 anos, sustentando milhares
de extrativistas e uma oligarquia decorrente
dessa riqueza. O sudeste paraense sofreu forte
devastação com a abertura de rodovias e ferrovias na década de 1960, deslocamento de
migrantes, obras de infraestrutura, criação de
novos municípios, a expansão da pecuária e a
extração madeireira.
Segundo o pesquisador, “a abertura de
estradas (foto abaixo) provocou a perda de
controle no comércio de castanha, antes feita
por via fluvial, e a destruição das castanheiras
decorrente da expansão da fronteira agrícola
pla, pois talvez os produtos extrativistas nunca
atinjam um valor que os torne economicamente atraentes. A importância do extrativismo,
envolvendo certas circunstâncias, locais e produtos, está em ganhar tempo até que surjam
alternativas econômicas”, frisa Alfredo.
Importância ambiental - A castanheira tem
a sua área de distribuição nas partes amazônicas do Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa.
No Brasil destacam-se na extração da castanha os estados do Acre, Amazonas, Pará e
Rondônia. Ela tem por habitat a mata virgem
alta de terra firme, em agrupamentos mais ou
menos extensos, tradicionalmente conhecidos
como castanhais, sempre associados a outras
espécies florestais de grande porte. É a árvore
que se destaca das outras pela altura da copa,
o que a faz ser chamada também de ‘rainha
da floresta’.
A castanheira é importante do ponto de
vista ecológico, pois é fundamental para a
corrente contínua
corrente contínua
No passado, embarque de castanhas no porto de Marabá
terminou enfraquecendo as famílias que controlavam as áreas de castanheiras e o seu comércio. A partir do final dos anos 60, porém, o
governo começou a apoiar a agropecuária, por
entender que renderia mais que a mata em
pé. Com isso, posseiros, colonos e fazendeiros avançaram sobre a floresta, substituindo-a
aos poucos por culturas anuais e pastos. A
extração de madeira começou com o mogno
e depois atingiu outras espécies, inclusive a
castanheira. Em consequência, até 1997, cerca de 70% das áreas de castanhais já haviam
sido desmatadas no sudeste paraense” destaca Homma.
Alfredo Homma diz que as famílias não se
sustentam somente com o extrativismo, o que
leva à agricultura de subsistência, com risco
para a sustentabilidade ecológica e econômica. Ele afirma que os assentamentos fundiários e as invasões de propriedades são outras
causas da derrubada de castanheiras. “Nas
frentes pioneiras, a agricultura familiar se instala acompanhando as estradas de extração
de madeira, derrubando e queimando o que
resta da floresta. Madeireiros e agricultores
familiares são os principais atores nas frentes
pioneiras da Amazônia. Os primeiros extraem
de maneira predatória o maior número possível de árvores com madeiras de maior valor e,
assim que elas se esgotam, avançam na fronteira, abrindo caminho para a instalação dos
segundos. Reduzir a destruição da floresta,
portanto, exige um esforço hercúleo: além de
coibir a extração ilegal de madeira e controlar derrubadas e queimadas, será necessário
conscientizar a população quanto a esse erro
conceitual”.
Outro problema apontado pelo pesquisador
é que, na Amazônia, com o aumento populacional e a urbanização, os preços relativos
das culturas anuais, em especial alimentos,
subiram ao longo do tempo, e por isso muitos
dos que viviam da coleta de produtos florestais
mudaram para a agricultura. “A destruição das
castanheiras, apesar da proteção legal e do
mercado definido, decorre ainda da perda de
competitividade da castanha-do-brasil. O açaizeiro, por exemplo, já é conservado pelos coletores em função da valorização dos frutos. No
caso das castanheiras, porém, é mais lucrativo
vender as árvores, fazer carvão, ou substituir a
mata por culturas agrícolas ou pastos. O tamanho dos lotes não garante a sobrevivência apenas com a extração da castanha, feita apenas
na época chuvosa. A preservação desses recursos deve ser feita com uma visão mais am-
37
38
manutenção da biodiversidade. Suas flores,
folhas e frutos são excelentes alimentos. O
analista ambiental da Eletronorte, Rubens
Ghilardi (acima), explica que os animais contribuem para a manutenção da castanheira.
“Na época em que a castanheira está florindo
os guaribas, espécie de macacos, ficam o dia
inteiro comendo flores e folhas novas que são
altamente nutritivas. Além do vento, as araras
também derrubam o fruto que por ser muito
duro é aberto por poucos animais, a exemplo
da paca. Animais como a cutia, esquilo, antas
e veados alimentam-se dos restos deixados
pela paca. A cutia é uma excelente dispersora
de sementes, pois come algumas castanhas e
enterra o restante com o objetivo de reservar
alimento. Muitas dessas sementes não são localizadas depois e acabam brotando”.
Existem leis municipais e estaduais no Brasil que proíbem o corte das castanheiras, fundamentadas na Lei Federal nº 4.771, de 15 de
setembro de 1965 que instituiu o Código Florestal. No Estado do Pará existe a Lei nº 6.895,
de 1º de agosto de 2006, que declara a preservação permanente, de interesse comum e
imune ao corte da castanheira. De acordo com
a lei, a supressão total ou parcial da castanheira só é admitida mediante prévia e expressa
autorização do órgão ambiental competente e do proprietário ou possuidor do imóvel,
quando necessária à execução
de obras, planos, atividades ou
projetos de utilidade pública, de
relevante interesse social, bem
como em caso de iminente perigo
público, ou outro motivo de interesse público.
Mesmo com a proibição expressa do corte, o engenheiro florestal
da Eletronorte, João Marcelo de
Rezende (ao lado), explica que as
castanheiras continuam morrendo
devido às modificações causadas
A castanha-do-pará também foi um produto de destaque na economia de Tucuruí, cidade no sudeste do
Pará. Prova disso foi a construção da Estrada de Ferro
Tucuruí, em 1905, na margem esquerda do Rio Tocantins. Mas a estrada pouco contribuiu para o escoamento da castanha, devido à irregularidade da via férrea,
dos descarrilamentos, da falta de força da locomotiva
na subida, da dificuldade de transbordo e do armazenamento nos dois extremos da ferrovia, além de ataques de índios Assurini.
Com a expansão da atividade agropecuária na região,
o número de castanheiras hoje é pouco significativo.
Boa parte das matrizes que restam dessas árvores foram
preservadas devido às ações do Banco de Germoplasma, criado pela Eletronorte na década de 1980, com a
formação do reservatório de Tucuruí, promovendo o reflorestamento e a conservação de material genético das
espécies e contribuindo para a manutenção das reservas naturais. Diversas espécies de sementes e mudas
foram resgatadas em vários
pontos do antigo leito do Rio
Tocantins e plantadas na Ilha
de Germoplasma, que possui cerca de 54,36 hectares,
onde existem 2.449 matrizes,
das quais 56 são de castanheiras. Há também as áreas
nativas com 1.896 matrizes,
das quais 171 são castanheiras centenárias.
A engenheira agrônoma
da Eletronorte, Sandra Moreira do Nascimento (ao lado),
explica: “A castanha-do-pará foi uma espécie resgatada
como recurso genético da região e mantida na Ilha. Fazemos a manutenção das matrizes plantadas, dos acessos
e a coleta. Temos a área de coleta de sementes onde as
matrizes nativas são inventariadas, marcadas e identificadas. Parte das sementes e mudas coletadas de várias
espécies, inclusive as castanheiras, são doadas para
instituições de pesquisas, comunidade e campanhas de
sensibilização ambiental, para incentivar a recomposição
no ecossistema pelas queimadas e desmatamento para a instalação de atividades agropecuárias. “As pessoas continuam pegando glebas de terra, desmatando, fazendo queimadas
e deixam apenas as castanheiras. Elas sozinhas não sobrevivem por diversos fatores: mudanças no microclima da floresta com variação
da temperatura e umidade, com a devastação
da espécie. Considero muito importante o trabalho da Eletronorte, pois permite que o material genético coletado se
multiplique na forma de sementes, mudas e doações para
a sociedade. Qualquer trabalho que se faça para a manutenção das matrizes é importante”.
Comunidade – Em 2009, a Eletronorte iniciou um trabalho em parceria com a Embrapa que visa a treinar as
populações tradicionais, geralmente ribeirinhos, e aquelas
em áreas rurais, para que conheçam suas reservas, façam
pequenos inventários florestais e saibam a importância
econômica de cada espécie. “A partir do momento em
que o agricultor conhece o recurso dele, começa a valorizar melhor a sua matéria-prima, transformando-a numa
renda a mais para sua família e não permitindo a entrada
de madeireiros na sua área para cortar a madeira e levar
a floresta fica exposta à insolação, aos ventos,
o solo fica desprotegido, tornando-se suscetível
à erosão e à perda de nutrientes. Além disso, a
castanheira é uma planta alógama, ou seja, necessita de polinização cruzada para que ocorra
a frutificação e a produção. Assim, os desmatamentos e as queimadas, ao destruir o habitat
do agente polinizador (Hymenoptero do gênero
embora. Isso é uma forma de contribuirmos com a manutenção
da espécie. Priorizamos as espécies ameaçadas com potencial
de renda interessante, como andiroba e copaíba”, afirma a agrônoma Sandra.
Em setembro de 2009 houve um treinamento com cerca de
sessenta índios das aldeias Kateté e Djudjekô, da Terra Indígena dos Povos Xikrin, nos municípios de Ourilândia do Norte e
Água Azul do Norte, com as instalação de bases para a produção das mudas e identificação de áreas rentáveis para coleta
de sementes como forma de fomentar as iniciativas de recuperação de áreas alteradas na Amazônia contidas na política
florestal do Pará. Durante o treinamento, trilhas com potenciais
áreas de coletas de sementes foram identificadas e as árvores
registradas e demarcadas como matrizes fornecedoras das sementes com maior qualidade. Dessa forma, os povos indígenas
poderão utilizar as trilhas para a prática de coleta de sementes.
“Estamos cada vez mais conscientes de que é um caminho interessante. Não que a doação de mudas não seja, mas o fato de
capacitarmos as pessoas para que elas valorizem as reservas
e não vendam suas riquezas por qualquer trocado. Sua matriz
pode sair da sua reserva legal e ele pode perdê-la como fonte
de renda permanente”, destaca Sandra.
Bombus spp.), têm contribuído para a redução
da produção. As leis não se mostram tão eficazes, pois apesar de poupada, a castanheira
acaba ficando estéril e morrendo”.
Luta - Durante seus diferentes ciclos econômicos a região amazônica recebeu brasileiros
de todas as regiões, mas o maior número foi de
corrente contínua
corrente contínua
Tucuruí já exportou castanha.
Hoje produz mudas e matrizes
39
40
migrantes nordestinos. Entre estes Luiz Targino
de Oliveira (abaixo), que trabalhou no extrativismo da borracha e da castanha-do-pará: “Nasci
em 3 de fevereiro de 1933. Vim do Ceará para
o Acre, em 1953, na época com 19 anos. Primeiro cortei seringa na Bolívia por três anos,
depois voltei para o Brasil, onde
trabalhei 37 anos no seringal da
Cachoeira, hoje chamado reserva
Chico Mendes. Trabalhei 41 anos
na castanha. Casei com 25 anos,
tive nove filhos. Todos eles estudaram, quatro deles têm formatura e
duas filhas trabalham no seringal”,
descreve o extrativista.
Targino hoje mora em Xapuri, próximo à Fundação Chico
Mendes. Mas as coincidências
com o seringalista Chico Mendes, assassinado em 1988, não
ficam apenas na proximidade de suas residências, elas são mais profundas e envolvem
uma vida de amizade e luta. “Acompanhei
a luta do sindicato até assassinarem o Chico Mendes. Conheci o Chico quando ele tinha 13 anos, morando no seringal. Éramos
amigos de jogar bola e baralho, andávamos
em festas juntos. Todos gostavam dele. Era
uma pessoa humilde, não tinha ambição de
poder. Em 1977, fundamos o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Xapuri com outros
companheiros seringueiros. Resolvemos entrar na luta para que a terra não fosse devastada, pois é dela que os pobres tiram o
sustento dos seus filhos. Hoje tudo está dife-
rente, houve muito desmatamento, a luta foi
ardente. O Chico perdeu a vida no seringal. A
borracha não tem mais preço, é difícil retirála, pois o seringueiro não dispõe de transporte para pegá-la e gasta-se muito com frete”.
Targino explica que nas áreas dos seringais
havia castanhais que chegavam a render entre
mil e três mil latas de castanha. A colheita é
uma atividade sazonal, feita principalmente no
período das chuvas quando caem os frutos das
castanhas, chamados ouriços, entre os meses
de dezembro e março. “Cada seringueiro quebra a sua castanha no mato, faz um paiol com
palha e guarda a castanha para ser transportada. Na época da colheita, acordava às 3h da
madrugada, fazia o café, comia uma farofa e
esperava o dia amanhecer. Levava um pouco
de comida para o mato. Começava a quebrar
castanha 7h da manhã e só voltava no escuro,
com o vagalume acendendo. A castanha só
dá uma vez por ano, ao contrário da seringa
que se pode cortar por dez anos sem parar.
A única coisa que atrapalha são as chuvas. O
seringueiro começa a quebrar em novembro e
no final de fevereiro a colheita termina. A castanheira é muito alta, não tem como ninguém
subir ou balançar. Ela cai pela própria natureza. A época de colheita é muito perigosa, vários seringueiros já morreram ou ficaram com
deficiências físicas com a queda do ouriço,
que pode pesar mais de dois quilos”.
Beneficiamento – Informações especializadas indicam que um castanheiro treinado
pode juntar, diariamente, de 700 a 800 ouri-
neira vibratória, na qual se procura separar o pó
que acompanha os talos centrais do interior do
ouriço (umbigo) e castanhas ocas, que representa aproximadamente 3% da massa inicial.
Alfredo Homma esclarece que a escolha
das castanhas adquiridas, a maneira como foi
efetuado o armazenamento na floresta e nas
comunidades, se as amêndoas foram lavadas,
o grau de umidade, a contaminação com óleo
diesel ou peixe salgado durante o transporte
nas embarcações, precisam ser observados,
pois refletem na qualidade do produto final.
Outro problema é a exigência de capital de giro
para adquirir a castanha, efetuar o armazenamento para conseguir um estoque que permita o funcionamento da fábrica por um período
mais longo e a manutenção dos trabalhadores
por mais tempo.
“O fracasso das tentativas de beneficiamento de castanha nos estados do Acre e Amapá
decorrem da complexidade da cadeia produtiva e de beneficiamento, composta e gerenciada por mão de obra sem a qualificação
necessária para gestar uma empresa, além da
falta de pessoal técnico especializado e com
capacidade gerencial. Observa-se que a economia regional está incorrendo em grandes
perdas, estimada em mais de US$ 14 milhões
anuais, decorrente da exportação de castanha
em casca. Em longo prazo, a sustentabilidade da indústria de beneficiamento depende
da implantação de plantios racionais de castanheiras para garantir uma oferta confiável e
da formação de estoques adequado em áreas
mais próximas e acessíveis dos locais de beneficiamento, além do correto manejo pelas
populações nativas, permitindo a regeneração
da espécie e a manutenção da fauna dependentes dos frutos da castanheira” analisa o
pesquisador.
corrente contínua
corrente contínua
O beneficiamento é uma das etapas que precisam ser aprimoradas pelo Brasil
ços, produzindo dois hectolitros. Os ouriços
são transportados nas costas, em jamaxins
(cestos adaptados para transporte). O castanheiro apanha os ouriços do chão com uma
vara de três pontas ou com a ponta do terçado. Os frutos são amontoados em determinado
ponto estratégico da floresta, onde é efetuado
o corte para a retirada das amêndoas e o seu
transporte. Um ouriço pode pesar de 0,5 kg a
2,50 kg, com diâmetro de 8 cm a 15 cm, contendo de 12 a 25 castanhas. De acordo com o
local, o número de castanheiras varia de 33 a
107 unidades em 50 hectares, apresentando
grande variação, pois nem todas produzem no
mesmo ano.
O armazenamento e o transporte das castanhas podem prejudicar o produto e aumentar
o risco de contaminação. Assim, ao chegar à
usina de beneficiamento, elas são submetidas
ao processo de limpeza, passando por uma pe-
41
42
se iguale a ela. É um produto que não plantamos, recebemos da natureza. É fundamental
mantermos a tradição da colheita, o beneficiamento e a venda do produto”.
Bolívia x Brasil - A extração de castanha no
Brasil vem declinando a partir da década de
1990, passando à Bolívia a posição de maior
produtor mundial. De acordo com o economista Salo Vinocur Coslovsky, hoje 58% do
valor da produção mundial vêm da Bolívia e
apenas 32% do Brasil. “Ao contrário do que
alguns poderiam imaginar, a Bolívia domina o
mercado da castanha não só em quantidade
exportada, mas também em tecnologia, níveis
sanitários e, principalmente, valor agregado.
A Bolívia controla 71% do mercado de castanha processada, enquanto o Brasil é responsável por apenas 18% desse nicho. Entre as
principais razões, destaca-se a desarticulação
do setor industrial da castanha no Estado do
Pará, enquanto os bolivianos de Riberalta e
Cobija procuraram formar um cluster com
financiamento europeu, mão de obra barata
sem direitos trabalhistas, administração profissional das 30 indústrias localizadas e troca
de experiências. A presença de modernas
indústrias de beneficiamento em Riberalta e
Cobija fizeram com que 56,41% da castanha
com casca brasileira fosse drenada para a Bolívia, grande parte sem controle fiscal, atravessando a fronteira seca entre os dois países”
Alfredo Homma explica que as dificuldades do processo de beneficiamento, a falta
de capacidade administrativa de dirigentes
egressos de movimentos sindicais, disputas
de lideranças e falta de conhecimento técnico,
levaram muitas dessas iniciativas ao fracasso.
“Outro problema foi causado pela destruição
das castanheiras e a pressão excessiva na exploração da castanha, causando a redução da
oferta da amêndoa para alimentar a fauna e a
própria regeneração da espécie. Cenários que
indicam um problema de sustentabilidade ambiental em longo prazo dessa espécie vegetal.
A predominância de uma forma de mercado
com poucos compradores a qual os extratores
são submetidos e o oligopólio na venda do produto beneficiado, no qual muitas vezes estão
conectados, tem dominado o mercado desse
produto na Amazônia, por várias décadas. A
capilaridade e a infraestrutura necessária para
coletar e concentrar a produção, além da complexidade da indústria de beneficiamento e de
comercialização sempre dificultarem a entrada de novos concorrentes nesse mercado”.
Bolo de castanha-do-pará
A castanha-do-pará é uma fonte rica de selênio, mineral necessário para a produção de serotonina, hormônio que promove bem-estar. O selênio também é um
excelente antioxidante, impedindo a degeneração celular,
pois envolve a membrana da célula e protege o sistema
imunológico. A castanha é muito utilizada na indústria de
cosméticos, o seu ouriço é matéria-prima do artesanato,
mas é no preparo de carnes, biscoitos, cremes, sorvetes
e bolos que ela conquista o paladar dos brasileiros. Como
nesta receita do bolo de castanha-do-pará:
Ingredientes:
Massa:
1 xícara (200 g) de manteiga
1 xícara de açúcar
3 ovos
1 e 1/2 xícara de farinha de trigo peneirada
1 colher (chá) de baunilha
1 colher (chá) de fermento em pó
1 xícara de castanhas-do-pará moídas
1 xícara de leite
licor de sua preferência (facultativo)
Recheio:
1 lata de leite condensado
1 xícara de castanhas-do-pará moídas
1 colher (sopa) de manteiga
Pré-aqueça o forno médio (180°). Unte uma forma
redonda de aro removível com manteiga e polvilhe com
farinha de trigo. Na batedeira, bata a manteiga e o açúcar.
Depois vá acrescentando um ovo de cada vez, batendo a
cada adição, até obter um creme claro. Junte a farinha,
a baunilha e o fermento. Misture as castanhas e o leite.
Espalhe a massa na forma e asse por 40 minutos. Deixe
esfriar. Desenforme e corte o bolo em duas ou três camadas Umedeça-as com licor e reserve.
Para o recheio, misture o leite condensado, as castanhas e a manteiga em uma panela e leve ao fogo médio,
mexendo até que o creme se desprenda do fundo. Recheie as camadas do bolo, colocando uma sobre a outra.
Decore o bolo com castanhas moídas ou em lâminas.
Fonte: O Grande Livro de Receitas de Claudia (2006), p. 215.
corrente contínua
corrente contínua
Pecuária e
agricultura
passaram a
ser inimigas
naturais da
castanheira
Cooperativa - No Brasil, de acordo com
dados do IBGE, em 2008, foram produzidas
30.815 toneladas de castanha. Desse total, cerca de 98% foram extraídas na Região
Norte, onde o Acre é o maior produtor, com
11.521 toneladas. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio
Exterior, em 2008 a exportação de castanhas
representou um saldo de US$ 4,08 milhões
para o País, que exporta principalmente para
os Estados Unidos, Austrália, Holanda, Itália,
Hong Kong, Bolívia e China.
A região do Acre que mais produz castanha
é Xapuri. Com 16 mil habitantes, o extrativismo
da castanha é o carro-chefe da cidade durante
os quatro meses de produção. Na época da
colheita, cerca de 70% das pessoas da zona
rural estão envolvidas na atividade A extração
da seringa e as fábricas de beneficiamento de
castanhas, preservativos e piso também empregam muitas pessoas. O período de 2006
a 2009 foi o que mais se produziu castanhas,
cerca de dois milhões de quilos.
A Cooperativa Agroextrativista de Xapuri tem
sido uma alternativa importante para garantir o
preço do produto e maior lucro para os castanheiros, conforme explica o seu presidente,
Luiz Iris de Carvalho, que atua na cooperativa
há 20 anos. “Começamos com a comercialização das castanhas, em 1989. Na época tínhamos 50 associados. Hoje são mais de 260. A
nossa fábrica foi a primeira a exportar para os
Estados Unidos, em 1992. Em 2000, o governo
fez uma fábrica em Xapuri e outra em Brasiléia
com beneficiamento de 200 mil latas por ano.
Os nossos associados produzem anualmente
mais de 100 mil latas, das quais cerca de 60
mil são comercializadas pela cooperativa. Recebemos a produção e fazemos o processo de
beneficiamento tipo exportação”.
As caixas com 20 kg de castanhas custam
em média R$ 250,00. Ao ser beneficiada, cerca de dez quilos caem para três. O produto é
levado para a cooperativa que realiza a pesagem e o beneficiamento – secagem, descascamento, embalagem a vácuo e a classificação.
A castanha empacotada a vácuo dura dois
anos e a in natura em média seis meses. Para
Luiz Iris a cooperativa melhorou a vida de seus
associados. “Hoje estamos resgatando o papel
da cooperativa e do associado com as duas
fábricas. O melhor preço é pago pela cooperativa. Costumamos dizer que a castanha é ouro
branco em Xapuri. Não há outro produto que
43
44
Com a participação recorde de mais de
2.200 profissionais e a apresentação de 480
informes técnicos em 15 grupos de trabalho, o XX Seminário Nacional de Produção e
Transmissão de Energia Elétrica – SNPTEE, foi
realizado entre os dias 22 e 25 de novembro
de 2009, em Recife (PE), patrocinado pelo Cigré-Brasil e coordenado pela Chesf. Segundo
o coordenador da Comissão Técnica, Antonio
Simões Pires (à ditreita), “os trabalhos apresentados pelos técnicos do Setor Elétrico brasileiro foram de altíssima qualidade, superando
as expectativas. Os debates foram de elevado
nível técnico, contribuindo para elevar ainda
mais a imagem dos profissionais do setor”.
O SNPTEE é o maior evento do Setor Elétrico
e reúne a inteligência maior que o Brasil possui
nessa área. Abordando temas que vão dos estudos de geração hidráulica e térmica; de fontes
não convencionais; de sistemas de transmissão;
controle e automação; comercialização e regula-
ção; até impactos ambientais e eficiência energética e pesquisa e desenvolvimento, o SNPTEE
reúne e compartilha informações de excelência.
O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp,
não teve como fugir de um tema de interesse
de todos, o apagão do dia 10 de novembro
de 2009, que desligou boa parte do sistema
elétrico brasileiro. Assim, como outros dirigentes presentes à mesa de abertura do evento,
Chipp destacou a importância de valorizar os técnicos
do setor elétrico que reúne o
melhor da engenhaira nacional: “Ao vivenciarmos o novo
modelo do Setor Elétrico,
temos nos dedicado a segmentos importantes, como a
comercialização, a participação nos leilões, a expansão
da geração e da transmissão,
mas temos nos esquecido de
teia do conhecimento adquirido pela humanidade. Devemos pensar que, certamente,
os nossos problemas não são únicos e temos
que levar sempre em consideração a experiência dos outros, para não só evitarmos
repetir erros, como adotarmos
as melhores práticas e soluções
para cada caso e assim gerarmos economia para nossas empresas e nossos países. Da mesma forma, devemos pensar que
nossas experiências poderão ser
úteis a outros e que divulgá-las
e compartilhá-las sempre serão
atividades gratificantes, que nos
engrandecerão espiritualmente
e profissionalmente, e nos completarão como seres humanos”.
A Eletronorte se fez presente
ao evento com a participação de 35 artigos,
34 autores, quatro relatores e o coordenadorgeral. A Empresa teve dois trabalhos premiados
(ver boxes), sendo um no Grupo de Geração
Hidráulica e outro no Grupo de Estudo de Eficiência Energética e Gestão da Tecnologia, da
Inovação e da Educação. O XXI SNPTEE será
coordenado pela Eletrosul e realizado em 2011
na cidade de Florianópolis (SC).
corrente contínua
CORRENTE ALTERNADA
corrente contínua
XX SNPTEE reúne a inteligência
do Setor Elétrico brasileiro
dedicarmos parte do nosso tempo à valorização efetiva da parte técnica, que está sendo
relativizada por nós, dirigentes. Está na hora,
e o XX SNPTEE é uma boa oportunidade, de
revisitarmos a valorização técnica dos nossos
especialistas, em todos os sentidos”.
Hermes Chipp disse que um grupo de 70
técnicos especialistas estava trabalhando nas
causas do apagão, mas sinalizou um dos trabalhos apresentados como uma explicação
para as possíveis causas do desligamento (ver
box), relacionado a defeitos em isoladores provocados por chuvas intensas.
O coordenador do Cigré-Brasil e do Comitê de Gestão Administrativa do SNPTEE, José
Henrique Machado Fernandes (à direita), disse
que “o Seminário proporcionou um ambiente
propício ao debate e ao contato com o que há
de mais moderno na indústria de energia elétrica, não só por meio das apresentações dos
artigos técnicos, como também pela exposição
bastante diversificada, composta por estandes
de empresas que atuam no Setor Elétrico”.
Acompanhando o pensamento do DiretorGeral do ONS, José Henrique deixou um
recado aos técnicos mais jovens: “O nosso
ramo de atuação nos oferece uma janela
aberta para o mundo e nos conecta à grande
45
46
Os técnicos Rogério Magalhães de Azevedo (foto), Francisco M. S. Carvalho e Orsino Oliveira Filho, do Cepel, e Waldenir A. S. Cruz e Sylvia G. Carvalho, de Furnas, fizeram a
apresentação mais concorrida do XX SNPTEE, uma vez que
os estudos apresentados podem se relacionar com as possíveis causas do apagão do dia 10 de novembro de 2009.
Denominado Estudo de Coordenação do Isolamento baseado em Sobretensões Provocadas por Aplicação e Eliminação
de Defeitos, e sua Relação com
Chuvas Intensas, o trabalho analisou distúrbios que ocorreram
na Subestação Itaberá (SP), que
opera na tensão 765 kV. Por meio
de simulações, investigaram o
desempenho dos para-raios e
concluíram que os curtos-circuitos ocorreram por uma relação
entre a intensidade da chuva e a
redução da suportabilidade dielétrica dos isoladores. Essa relação
foi comprovada em ensaios de
tensão alternada sob chuva, realizados nos laboratórios do Cepel
em isoladores retirados da subestação.
Tudo começou em fevereiro de 2007, quando a Subestação Itaberá, integrante do sistema de transmissão em 765 kV
de Furnas, foi atingida por um forte temporal com incidência
de muita chuva e descargas atmosféricas, provocando curtoscircuitos e, consequentemente, o desligamento de linhas de
transmissão e de um dos barramentos de 765 kV da subestação. Outras ocorrências com as mesmas características aconteceram no mesmo local em 2003 e 1989.
As simulações mostraram que os curtos-circuitos ocorreram para valores relativamente baixos de sobretensões, indicando que, ou as sobretensões não atingiram o nível de
proteção dos para-raios, ou eles atuaram devidamente. Além
disso, como parte da investigação de possíveis causas para os
defeitos, alguns para-raios foram ensaiados nos laboratórios
do Cepel. Uma possível relação entre a intensidade da chuva
e a redução da suportabilidade dielétrica dos isoladores da
subestação é apresentada, baseada em dados históricos de
precipitação pluviométrica na região de Itaberá e em trabalhos publicados na literatura. Posteriormente, essa relação foi
comprovada em ensaios de tensão alternada sob chuva, realizados nos isoladores de pedestal retirados da subestação.
Efeito da chuva - As condições para a disrupção
(ruptura) nos isoladores submetidos a uma sobretensão temporária é dependente, entre outros fatores, da
intensidade da chuva. A maior influência nesse sentido
é o gotejamento ou o próprio escoamento da água entre as saias do isolador. Numa condição extrema, sob
chuva intensa, pode-se formar até mesmo uma cascata, paralela ao comprimento da cadeia. A simulação
mostra a curva do fator de correção da tensão crítica
de frequência fundamental de uma cadeia de isoladores vertical em função da intensidade da chuva. Nessa
curva, pode-se notar que uma chuva extremamente
intensa pode causar uma redução da suportabilidade
dielétrica da cadeia em cerca de 30% ou mais.
Entretanto, deve-se ressaltar que os ensaios
sob chuva para determinação das tensões críticas ou suportáveis, não podem ser repetidos
de forma confiável. Outros fatores que também
devem ser levados em conta nessa redução
são a contaminação e o envelhecimento dos
isoladores. Baseado nos resultados anteriores, o conhecimento do valor de intensidade
da chuva (por exemplo, taxa de precipitação a
cada cinco minutos) no momento dos defeitos
na subestação, seria um dado importante para
o esclarecimento das causas do distúrbio.
Um exemplo de registro pluviométrico indica uma chuva com intensidade de 4,2 mm/m
no posto de Itararé em 1981. Porém, esses registros pluviométricos foram coletados somente
até 1999. A partir daí, somente estão disponíveis dados horários ou diários de precipitação.
Conclusão - O trabalho apresentado, sobre coordenação do isolamento, baseado nas simulações de
aplicação e eliminação de defeitos, permite que sejam
feitos os seguintes comentários:
- A comparação dos resultados das simulações com
os oscilogramas obtidos mostrou que houve atuação
dos para-raios, que limitaram as sobretensões na subestação em níveis compatíveis com seu nível de proteção sem, contudo, evitar os defeitos nos isoladores
de pedestal;
- A diminuição da suportabilidade dielétrica dos isoladores de pedestal pode estar associada à intensidade
da chuva. Entretanto, não estão disponíveis dados meteorológicos para fundamentar uma análise conclusiva
em relação a essa possibilidade;
- Os operadores da subestação deram um importante relato de quanto intensa era a chuva no momento das ocorrências. Além disso, um estudo realizado
pelo DAEE-SP e USP, em 1999, mostra a possibilidade
de chuvas com intensidade acima de 3,0 mm/m para
um período de retorno igual a dez anos.
Inovar ou perecer, um grande desafio
para a sobrevivência das empresas
Neusa Maria Lobato Rodrigues (foto), superintendente
de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico e Eficiência
Energética da Eletronorte, apresentou um dos trabalhos
premiados no XX SNPTEE. Segundo ela, “essa premiação
é uma forma de reconhecimento pelo trabalho que vem
sendo desenvolvido pela Eletronorte no que se refere à
inovação. Apresentamos as sete regras que uma empresa
deve seguir para inovar. Seguimos as regras, e o resultado
não poderia deixar de ser o reconhecimento entre as quatro empresas mais inovadoras do Brasil. Questionamos
sobre o desafio de inovar ou perecer? Inovamos e continuaremos a inovar para jamais perecer!”
A Eletronorte, por meio do Prêmio Muiraquitã de Inovação Tecnológica, vem seguindo as sete regras de inovação propostas pelos professores de Wharton. O Prêmio
foi criado para incentivar os empregados a desenvolverem novas tecnologias para a Empresa, contribuindo para
melhoria de seus produtos e processos, alcançando uma
dimensão econômica capaz de trazer algum retorno financeiro, e fortalecendo sua imagem perante o mercado
como empresa inovadora (veja matéria na página 26).
Inovação, desenvolvimento tecnológico, propriedade
intelectual, patente, rede de inovação, todas são palavraschave em que muitas empresas acreditam, enquanto outras continuam achando que inovação é questão de sorte, ao mesmo tempo em que nem fazem idéia de como
se implementa. Outras ainda buscam inovar de alguma
maneira, mas se esquecem de quais são as regras que
devem seguir.
A pergunta é: existe regra para inovar? A resposta é:
existe sim, e isso pode ser constatado com o trabalho que
vem sendo desenvolvido na Eletronorte. Inovação é a capacidade que a organização tem de crescer, sobreviver e,
até mesmo, influenciar nos rumos do setor a que pertence. É real e é possível ser inserida de forma sistemática,
bastando seguir algumas regras como as propostas pelos professores de Wharton, no livro”Making Innovation
Work: How to Manage It, Measure It, and Profit From It”.
As regras são sete: liderança, cultura, alinhamento, balanceamento entre criatividade versus captação de valor,
anticorpos organizacionais, rede de inovação e indicadores de desempenho.
Tais regras podem e devem ser utilizadas para qualquer tipo de organização, mesmo uma unidade governamental. Hoje, uma empresa que não dá espaço para seus
colaboradores melhorarem ou inovarem seus produtos ou
processos está fadada ao fracasso. Aos poucos as empresas estão aprendendo a liberar seus colaboradores para
que eles empreendam.
O empreendedorismo deve ser aplicado também em atividades internas e não apenas na criação de novos produtos. O reconhecimento de uma propriedade intelectual significa divisas
para um país, já que todos os que se aproveitam de alguma forma da invenção são obrigados a pagar pelo uso da ideia. Além
do crescimento das receitas geradas no exterior, mediante o
pagamento dos royalties, a venda de produtos com alto valor
agregado se faz relacionada com a propriedade intelectual.
Setor Elétrico - O Setor Elétrico não tem a cultura da propriedade intelectual. O número de processos de patentes (pedido
de depósito mais cartas de patentes vigentes) entre os períodos
de 1999 a 2004 conforme fonte do Instituto Nacional de Propriedade Industrial – Inpi são de 157, dos quais a Eletronorte
possuía um único processo de pedido de patente. É importante
ressaltar que esse número representa menos da metade do número de patentes da Usiminas, por exemplo.
A falta de cultura de propriedade intelectual resulta na perda
de ativos intangíveis e isso se deve em princípio, aos seguintes
fatores: inexistência de cultura de proteção, de conhecimento
do processo de patenteabilidade, de competitividade entre as
empresas, de proteção para
os resultados das pesquisas
e de estímulo para pesquisas, bem como regras claras
de inovação que as empresas
devem seguir.
Na Eletronorte, por meio
de programas corporativos, o
capital intelectual vem sendo
trabalhado
continuamente
em vários ciclos, já apresentando resultados relevantes.
Por exemplo, o Programa Eletronorte de Propriedade Intelectual, criado em 2004 com
o objetivo de criar a cultura
da propriedade intelectual.
A cultura da propriedade
intelectual traz benefícios
como o direcionamento das pesquisas para um determinado
problema técnico, identificando rotas tecnológicas e evitando
duplicidade de esforços. Para exemplificar, o continente europeu desperdiça em média, por ano, 15 bilhões de euros em
pesquisas já realizadas, e quase 30% da pesquisa européia é
duplicada.
Muiraquitã - Outro grande benefício é o aumento da receita
com a comercialização da propriedade intelectual, cujo recurso
corrente contínua
corrente contínua
Uma possível
causa do apagão
de novembro de 2009
47
48
Conclusão - A análise dos resultados obtidos após implantação do Prêmio demonstrou que essa é uma das formas de
incentivar os grandes inovadores a desenvolverem inovações e
melhorias em seus produtos e processos. Percebe-se que atitudes de natureza inventiva entre as pessoas com essa característica não está relacionada a nenhuma pretensão de ganhos
financeiros, pois o fazem por possuírem veia inventiva.
Entretanto, é evidente a satisfação que demonstram por serem reconhecidos e, acima de tudo, por tornar público algo que
foi fruto de um resultado que buscaram por assim acreditarem.
Das 60 inovações premiadas apenas quatro foram desenvolvidas por colaboradores de nível superior ou mestrado. Os demais foram por pessoas que costumamos chamar de “chão de
fábrica”, ou seja, os que trabalham diretamente com operação
e manutenção.
Hoje a Eletronorte possui 52 pedidos de patentes junto ao
Inpi, um aumento de 5.200% em relação a 1999. Sem dúvida,
programas que estimulam a criatividade de empregados são de
extrema importância em uma empresa. Todos ganham: o empregado, por ver sua competência reconhecida e pelo retorno
financeiro; a empresa, por meio do custo evitado resultante das
inovações e melhorias nos seus produtos e processos, e ainda
por motivar outros colaboradores a inovarem e desenvolverem
suas atividades com maior comprometimento; e ganha o País e
toda a sociedade brasileira.
Metodologias
para a implantação
de turbinas
hidrocinéticas
na Amazônia
O gerente de Projetos Eletromecânicos de Hidrelétricas da Eletronorte, Carmo Gonçalves (foto), em
conjunto com Antonio Brasil C. Pinho Junior, da Universidade de Brasília – UnB, apresentou outro trabalho premiado no XX SNPTEE, sobre a utilização das
unidades hidrocinéticas, contendo os procedimentos
básicos para facilitar a gestão e a implantação desse
sistema de geração e transmissão de energia elétrica
para comunidades isoladas ribeirinhas, principalmente
na região amazônica. Segundo ele, “foi uma satisfação
ter tido a oportunidade de participar do Seminário.
Recebemos a premiação com muita alegria e como
uma forma de consolidação externa dos trabalhos que
estamos desenvolvendo na Eletronorte, principalmente na área de pesquisa e desenvolvimento”.
As crescentes exigências ambientais para a expansão do potencial hidroenergético brasileiro, os elevados índices de poluição ambiental e o alto custo da
geração térmica a diesel, têm levado à busca de fontes alternativas, mesmo para pequenas comunidades
isoladas. Dessas destacam-se as ribeirinhas da Amazônia, que normalmente têm como fonte de recursos
a floresta e o rio, e vivem a contradição de um precário abastecimento de energia elétrica, ou às escuras,
o que promove um estado degradante de pobreza e
baixo desenvolvimento, contribuindo para a migração
dos seus habitantes para as sedes dos municípios e
capitais.
O consumo de combustíveis fósseis, as dificuldades da manutenção dos motores de combustão interna e do transporte, o alto custo de painéis fotovoltaicos
associado ao baixo fator de capacidade, as dificuldades do uso da biomassa, até situações como linhas
de transmissão de alta tensão passando nas proximidades dos vilarejos sem poder atendê-los, são fatores
que estão contribuindo para que a Eletronorte se interesse pelas turbinas hidrocinéticas, especialmente
as que estão sendo desenvolvidas em parceria com o
Departamento de Engenharia Mecânica da UnB .
A turbina hidrocinética, que converte a energia
cinética dos rios em hidroeletricidade, não requer a
construção de barragens, e tão pouco emite qualquer tipo
de poluente. Entretanto, a sua implantação requer alguns
requisitos básicos e avaliações preliminares, que são tratados nesse trabalho.
A turbina - A região amazônica, grande extensão territorial com baixa densidade demográfica, é dotada de
enorme potencial hidráulico a ser explorado para a geração de energia elétrica limpa. Ali, cerca de 300 mil famílias vivem em comunidades isoladas, sem acesso a energia elétrica até a chegada do programa Luz para Todos,
do Governo Federal.
O problema de abastecimento de energia elétrica também atinge as grandes e médias comunidades isoladas,
aonde o custo de geração termelétrica a óleo diesel chega
a atingir R$ 827,61/MWh gerado, o que torna essa geração totalmente inviável sem o subsídio do governo.
Para as comunidades isoladas, principalmente as ribeirinhas, a turbina hidrocinética se destaca pelos seguintes
motivos: tecnologia totalmente nacional, fácil fabricação,
robustez e durabilidade, facilidades de manutenção,
operação, transporte e instalação (permite instalação na
margem do rio ou sobre um flutuador estaiado que admite variações de níveis de água sem danificar a turbina
e sem a necessidade de obras civis ou desvio do rio, ou
seja, sem impacto ambiental); além do custo competitivo
quando comparado com alternativas de fontes de energia
renováveis.
Ressalta-se que as turbinas hidrocinéticas devem ser
instaladas próximas aos centros de consumo e a profundidade do rio deve permitir a sua submersão total. A Eletronorte e a UnB desenvolveram o modelo e o protótipo
da turbina hidrocinética de geração III, com o propósito de
ser mais compacta, mais leve, de fácil transporte, dotada de
gerador elétrico submerso do tipo bulbo.
Dentre os parâmetros e necessidades destinados à implantação das turbinas hidrocinéticas, destacam-se: avaliação das condições existentes na comunidade isolada, tais
como posicionamento geográfico, recursos naturais, necessidade energética, nível de formação escolar dos seus habitantes, previsões de desenvolvimento e crescimento local;
as principais características e o comportamento do rio, tais
como variação de nível ao longo do ano, principais cheias
históricas ocorridas, velocidade do fluxo de água, profundidades nos períodos seco e úmido, o potencial hidrocinético, as condições das suas margens e a distância do rio à
comunidade isolada; definição dos critérios e técnicas de
montagem, testes, manutenção e operação das unidades
hidrocinéticas e do sistema de transmissão associado.
O modelo de implantação de turbinas hidrocinéticas apresentado é dinâmico e recomenda-se a sua atualização, com
as experiências advindas de projetos e instalações realizadas e poderá ser aplicado em outras regiões do Brasil e no
exterior, inclusive com sistemas híbridos. Uma continuidade
importante para esse trabalho é o levantamento das comunidades isoladas na Amazônia e em todo o Brasil, passíveis de
utilização do sistema hidrocinético para geração de energia
elétrica, e os locais potenciais para a implantação de fábricas
desses equipamentos com os seus sistemas associados.
Conclusão - A geração de energia elétrica por intermédio
de sistemas hidrocinéticos mostrou-se competitiva quando
comparada com outras fontes alternativas, tais como microcentrais a diesel, sistema solar, biomassa e sistema eólico; a
avaliação econômica da hidrocinética com precisão é complexa, pois o levantamento dos custos para a sua implantação exige uma retroalimentação de informações precisas do
local de instalação; as características e o comportamento do
rio são fundamentais para o estabelecimento das definições
e recomendações para a implantação da hidrocinética, pois
baixas velocidades implicam em menor energia gerada, turbinas maiores e aumento dos custos envolvidos.
A distância do rio à comunidade é importante, em virtude
das perdas de transmissão. Grandes distâncias implicam
na necessidade de se inserir transformadores elevadores e
abaixadores de tensão no projeto, o que implica em custos
adicionais de aquisição, montagem, manutenção e mais
pontos de possíveis falhas no sistema.
O modelo desenvolvido, um guia metodológico, tem o
conteúdo e o propósito de preencher uma lacuna identificada nesse segmento e facilitar a gestão da implantação
das turbinas hidrocinéticas, melhorar os custos envolvidos
aproveitando ao máximo os recursos naturais das comunidades, e contribuir para difundir a cultura da turbina hidrocinética no Brasil.
corrente contínua
corrente contínua
é revertido em novas pesquisas. Em 2005, a Eletronorte criou o
Prêmio Muiraquitã de Inovação para incentivar os colaboradores para melhorias e inovações de seus produtos e processos,
alcançando uma dimensão econômica capaz de trazer algum
retorno financeiro para a Empresa.
Os empregados que desenvolvem melhorias em processos e
produtos são premiados de forma pecuniária não incorporável
ao salário. É um valor correspondente a 20% das vantagens auferidas pela comercialização do produto pela Eletronorte, com
a exploração da patente ou direito autoral científico durante a
vigência do contrato.
O Prêmio Muiraquitã é de grande importância para a Empresa em virtude dos seus impactos como qualidade do produto,
redução de custos e ganhos de capacidade e flexibilidade operativa, bem como outros aspectos ligados à segurança, padronização e impacto ambiental.
Hoje, a Eletronorte, por meio do Prêmio Muiraquitã, vem seguindo exatamente as sete regras propostas pelos professores
de Wharton, da seguinte forma: (liderança), os lideres dos processos indicam os caminhos e decidem sobre o que precisa
sobre a inovação; (cultura), integra a inovação à mentalidade
do negócio; (alinhamento), a estratégia da inovação segue no
mesmo compasso que a estratégia da Empresa; (balanceamento entre criatividade versus captação de valor), o gestor calibra
as doses de criatividade e as doses de captação de valor; (anticorpos organizacionais), preparam as ações que surgem bloqueando os processos de inovação; (rede de inovação), criação
de uma rede composta por um representante de cada unidade
regional; (indicadores de desempenho), mede-se a inovação,
pois só é possível gerenciar aquilo que é medido.
49
6 de Agosto
(Areal Souto)
Onde é que este homem vai pelas margens distantes
Do rio solitário... É o titã do nordeste
Que vem oferecer os seus braços possantes
Ao Acre verde e rico. Em vão contra ele investe
Da natureza hostil a trágica revolta.
E este homem não para! ... e este homem não volta! ...
E vai subindo mais, e sobe... e sobe até...
Onde ele já não sabe a terra de quem é.
E correndo a rechã, amansando o cacique,
Pondo a broca na mata e a seringueira em pique,
Um dia descansou. Era a posse tranquila
Da terra que vencera e devia possuí-la.
Galvez Rodrigues de Arias. Depois, no dia 6 de
agosto, liderados pelo gaúcho Coronel Plácido
de Castro, os heróis da revolução acriana brigaram bravamente para anexar o Acre ao Brasil, sendo resolvido o litígio diplomaticamente
pelo Tratado de Petrópolis em novembro de
1903. Em 1962 o território do Acre foi elevado
à categoria de estado após manifestações do
Movimento dos Autonomistas. Exemplo de coragem seguido também pelo seringalista Chico
Mendes. Conhecido mundialmente, esse líder
seringueiro defendia a preservação da floresta
para manter o modo de vida das comunidades
tradicionais e o uso sustentável dos recursos
naturais.
Com uma área de 152.581,388 km², o
Acre corresponde a 1,92% do território nacional. Tem uma população aproximada de 700
mil habitantes, distribuídos em 22 municípios.
Está situado num planalto com altitude média
de 200 m, localizado no sudoeste da Região
Norte. Os limites são formados por fronteiras
internacionais com Peru (O) e Bolívia (S) e por
divisas estaduais com os estados do Amazonas (N) e Rondônia (L).
Fotos: Agência de Notícias do Acre e Sérgio vale
AMAZÔNIA E NÓS
Bravo povo
acriano
Ao contrário dos adjetivos relacionados ao
gênero acre nos dicionários, o Estado do Acre
possui uma história saborosa para se contar,
uma história contada em poesia, versos e melodias. O nome Acre é originado da palavra
indígena ‘aquiri’, que significa ‘rio dos jacarés’
na língua nativa dos índios Apurinã, habitantes originais da região banhada pelo rio que
empresta o nome ao estado. Os exploradores
da região transcreveram o nome do dialeto indígena, dando origem ao nome Acre.
Até 1877, os primeiros habitantes da região
eram os índios, quando, então, os imigrantes
nordestinos corajosamente arregimentados
por seringalistas para trabalhar na extração
do látex iniciaram a abertura de seringais para
iniciar a atividade econômica que, na época,
se mostrava extremamente lucrativa, pois a região era a única fornecedora da matéria-prima
utilizada nos processo de industrialização no
final do século XIX.
A coragem desse povo vem de berço. Esse
pedacinho do Brasil chegou a ser até uma nação conhecida como Estado Independente do
Acre, tendo como presidente o espanhol Luiz
50
corrente contínua
corrente contínua
Mas, quando de uma vez, um audaz invasor
Quis lhe tomar o lar; quis arrancar-lhe o amor,
Ele, o conquistador dos caboclos bravios,
Ele, o dominador dos paludes doentios,
Ele, o desbravador da terra abandonada,
Põe balas no bornal, corta a volta da estrada,
E tomando do rifle a mira contra o rosto
Começou a lutar... e fez o 6 de agosto.
51
52
O Acre é o destino certo para quem deseja conhecer a cultura, dizeres e saberes dos
povos tradicionais da floresta amazônica, onde
vivem de forma harmoniosa 14 etnias indígenas, seringueiros e extrativistas. Nessa multiplicidade sociocultural em convívio direto com
o meio ambiente – o Acre possui 88% de sua
floresta preservada – é possível apreciar o tempo em que o homem era despojado de suas
vaidades, mas que ainda utiliza os rios como
o seu principal meio de transporte e a floresta
como a sua principal fonte de alimentação.
Cachoeiras - Para quem realmente quer aventura na selva, que tal visitar o Parque Nacional
Serra do Divisor? Desembarcando no aeroporto
da cidade de Cruzeiro do Sul, segunda maior cidade do Estado do Acre, fundada por Gregório
Thaumaturgo de Azevedo em 1904 e localizada
no extremo oeste, segue-se até à cidade vizinha
Mâncio Lima e de lá, por meio do Rio Moa, inicia-se a verdadeira odisseia da selva.
É impossível não se surpreender com as
paisagens deslumbrantes de uma Amazônia
semidesconhecida, quase que intocada pelo
ser humano, composta por montanhas, rios,
florestas, fauna, ribeirinhos e tribos indígenas
nas barrancas do rio. No Parque destacam-se
as cachoeiras Formosa, Pirapora, Pedernal e Ar
Condicionado, e o mirante da Jaquirana. Uma
visão desse ponto vale todo o esforço da aventura, mas o que vale a pena mesmo é ter o prazer de conhecer o homem da floresta em seu
habitat, no seu casebre e ouvir suas histórias.
No Acre também nasceu a doutrina conhecida internacionalmente como Santo Daime,
que mistura valores espirituais das tradições
indígena, negra e cristã, e faz uso de um chá
sagrado que há milhares de anos diversos povos indígenas amazônicos utilizam, feito da
mistura de um cipó (jagube) com as folhas de
um arbusto (chacrona) da floresta. No Peru,a
bebida é conhecida como ayahuasca, o ‘vinho
das almas’, antes utilizada nos rituais pelos sacerdotes incas.
Culinária - A capital Rio Branco, com belos
parques urbanos, concentra quase a metade
da população do Acre e é uma cidade tradicional e moderna, acolhedora, efervescente,
iluminada, limpa, organizada e segura. Quem
vai a Rio Branco consegue logo observar a característica principal dos acrianos, a hospitalidade. A capital emociona os visitantes pelo
cuidado do povo com sua história, preservando as lutas e conquistas.
Arqueologia - Para quem gosta de pesquisar e apreciar a arqueologia, o Acre também
é um bom destino. A 20 km de Rio Branco
é possível avistar geoglifos (abaixo). São apro-
ximadamente 150 geoglifos catalogados. Geoglifos são estruturas fascinantes, construídas
com a movimentação de terras em formato
geométrico (quadrado, retângulo, círculo, hexágono e outros). Essas estruturas chegam a
medir cerca de 500m de diâmetro, com valas
de até quatro metros de profundidade por dez
de largura. É um mistério a ser desvendado.
Como foram construídos? Qual a finalidade?
Foi construído antes ou depois da floresta? A
que civilização pertenceu, aos incas, pré-incas
ou extraterrestres? Até o momento ninguém
chegou a uma resposta que fosse capaz de
convencer a maioria, mas há quem diga que
serviam de muralhas para proteção, outros dizem que eram locais para rituais. O certo é que
essas formas são únicas no mundo e vistas de
cima despertam curiosidades intrigantes.
Atualmente, o Estado do Acre respira os
ares da esperança do desenvolvimento e já
se pode ver parte da realização desse sonho.
Uma delas é a construção da rodovia no Peru
que irá interligar a BR-364 ao Oceano Pacífico. Essa obra está programada para ser inaugurada em 2010. Com a conclusão da Transoceânica, como está sendo chamada, servirá
como alternativa mais barata que o Canal do
Panamá para o escoamento de produtos brasileiros aos mercados da Ásia e da costa oeste
dos Estados Unidos, pois será facilitada pela
proximidade com o porto de Ilo, no Peru. Pela
Transoceânica já é possível percorrer o Peru.
Quem vem ao Acre pode aproveitar a rodovia
e conhecer a famosa cidade do império inca,
Machupicchu.
corrente contínua
corrente contínua
Rio Branco
concentra
metade da
população
do Acre
Rio Branco é a porta de entrada para as
aventuras na floresta. A primeira forma de se
ambientar é experimentar a culinária típica regional, com influências nordestina, indígena,
boliviana, peruana e dos imigrantes sírios e libaneses. A comida típica utiliza o pato e o pirarucu, herdada dos índios; o bobó de camarão,
vatapá e a carne de sol com macaxeira, trazidos do Nordeste; o charuto, prato da culinária
libanesa, o tacacá de origem indígena e a salteña, salgado típico da Bolívia. Essas iguarias
podem ser encontradas no Mercado Novo, no
Mercado do Bosque, nos quiosques ao longo
do Parque da Maternidade, nas lanchonetes e
restaurantes.
O artesanato acriano reflete a grande biodiversidade das florestas, manifestada na
utilização de matéria-prima natural variada:
sementes, fibras, raízes, cocos, madeiras, e
cumpre ainda importante papel social junto
a comunidades carentes. Desenvolve processos de manejo e beneficiamento dos recursos
disponíveis, visando à sustentabilidade da floresta e das comunidades que vivem de seus
recursos. É da floresta que vem o material para
a produção do artesanato acriano, como cestas indígenas, colares de contas vermelhas,
sementes de açaí e jarina, miniaturas de pássaros em látex natural e as distintas botas de
borracha.
53
Principais atrativos - Mercado Velho: O prédio de 1929 foi restaurado e abriga alguns dos
mais antigos comerciantes da cidade. O espaço reúne lojas de souvenires, artesanato, ervas
medicinais e artigos religiosos, além de lanchonetes que servem o típico café da manhã
acriano: tapioca, mingaus, bolo de macaxeira e
baixaria. Receita de baixaria: cuscuz com carne moída, ovo frito mexido e cheiro verde.
Segundo Distrito/Gameleira - Data de 1882, quando ainda arbusto, onde acampou o desbravador Neutel Maia, fundador do Seringal Empreza, origem de Rio
Branco. A gameleira é uma frondosa árvore com mais de
2,5 m de diâmetro no tronco, mais de 20 m de altura e,
com o sol a pique, sua sombra tem por volta de 30 m de
diâmetro. Foi testemunha de duas batalhas da revolução
acriana. Com a construção do novo calçadão e a reurbanização do sítio histórico do Segundo Distrito, a gameleira
transformou-se em ponto de encontro, de entretenimento
e de um bom papo.
Tentamen - A Sociedade Recreativa Tentamen foi criada em
11 de abril de 1924 por um grupo
liderado pelo Dr. Mário de Oliveira, com o objetivo de proporcionar lazer aos donos de seringais,
autoridades, funcionários públicos e comerciantes. Construído
em madeira, em estilo próprio da
época, representando um marco
na vida cultural acreana.
Praça da Revolução Cel. Plácido de Castro - Até os anos 1920, essa praça não existia. O local era apenas uma área de mata do
antigo campo do seringal Empreza. Em 1930
a área de floresta teve que dar lugar a uma
área aberta que denominou-se Praça Rodrigues Alves. Em 1950 a Praça Rodrigues Alves
foi verdadeiramente urbanizada, recebendo o
seu traçado definitivo. Em 1964, com a reforma empreendida, a Praça Rodrigues Alves ganhou uma estátua do coronel gaúcho Plácido
de Castro. Graças ao fato, o povo passou espontaneamente a chamá-la de Praça Plácido
de Castro. Hoje, depois de uma existência de
80 anos, a velha praça, verdadeiro coração de
Rio Branco, foi completamente reconstruída
e modernizada, e construído um monumento
de 12 m de altura em homenagem aos heróis
anônimos da Revolução Acreana.
Memorial dos Autonomistas - O espaço
cultural tem arquitetura moderna e foi erguido
em homenagem aos heróis que lutaram pela
autonomia política do Acre. No prédio funciona uma galeria de arte, o Theatro Hélio Melo e
o Café do Theatro.
Parque Chico Mendes - Uma casa de madeira localizada na entrada do parque expõe
fotos e painéis com um resumo da vida do ambientalista Chico Mendes. Trilhas conduzem a
um pequeno zoológico com espécies amazônicas, como a onça-pintada e a réplica de
uma casa típica de seringueiro. Tem ciclovia
e quiosques.
54
Museu da Borracha - Reúne acervo com
documentos históricos do Acre, fotografias e
peças de arqueologia e paleontologia. Possui
mostra permanente de objetos e utensílios de
extração do látex.
corrente contínua
corrente contínua
Memorial aos combates da Revolução
Acreana - Mastro de 60 m de altura e a bandeira gigante do Acre, foram inaugurados em
2003, em homenagem ao centenário da Revolução Acreana, e pode ser avistado de vários
pontos da cidade de Rio Branco. Duas vezes
por ano há solenidade de troca da bandeira.
55
Caminhos de Chico Mendes – Dois municípios próximos de Rio Branco, Senador Guiomard (24 km) e Capixaba (62 km), têm comunidades de seringueiros que mantêm seu
modo de vida baseado no manejo sustentável
dos recursos da floresta. A 188 km fica Xapuri, local onde nasceu Chico Mendes.
corrente contínua
Palácio Rio Branco - Construído em 1930
com projeto de Alberto O. Massler. Seu desenho arquitetônico foi inspirado na arquitetura
grega seguindo o estilo grave e majestoso da
ordem jônica, tendo sua fachada ornamentada por quatro imponentes colunas terminadas
em capitéis de fino traçado. Foi recentemente
revitalizado e parte do prédio ambientado com
exposições que apresentam as fases históricas
do povo acriano.
56
Parque da Maternidade - O maior parque
de Rio Branco tem infraestrutura de ciclovias,
áreas verdes, anfiteatro, quadras de esportes,
bares e restaurantes. Abriga a Casa dos Povos da Floresta, a Biblioteca da Floresta e a
Casa do Artesão.
Caminhos da Revolução - Fundada por
bolivianos no fim do Século XIX, Porto Acre é
a mais importante cidade histórica do estado
– foi cenário dos principais combates da revolução feita pelos seringueiros brasileiros para
incorporar essas terras ao Brasil. O município
de Plácido de Castro também integra os Caminhos da Revolução, com parque ecológico e
pratos regionais.
Caminhos do Pacífico - A divisa com a
Bolívia fica a 200 km de Rio Branco, nos municípios de Epitaciolândia e Brasiléia. Em Cobija, na província boliviana de Pando, há uma
zona franca. Mais 110 km na rodovia BR-317
e chega-se a Assis Brasil, na tríplice fronteira
entre Brasil, Bolívia e Peru. O Oceano Pacífico
está a 1.900 km de distância de Rio Branco
pela rota internacional Amazônia – Andes –
Pacífico, ou Carretera Interoceânica como é
conhecida no Peru. No meio do caminho, a
1.070 km, está a cidade de Cusco, que por
sua vez fica a 80 km das místicas ruínas de
Machupicchu.
Caminho das Aldeias e da Biodiversidade - Segunda maior cidade do Acre, com
74 mil habitantes, Cruzeiro do Sul fica no
Vale do Rio Juruá, que nasce no Peru, percorre os estados do Acre e do Amazonas e
deságua no Solimões. Os principais atrativos
da região são a biodiversidade – a maior do
planeta, segundo pesquisas científicas – e a
cultura indígena.
Colaborou Leandro José Alves,
da Regional de Produção do Acre
Pirarucu em pérolas de tucupi
Este prato foi premiado em 1º lugar
no concurso nacional Brasil Sabor 2009.
O prato é feito do lombo de pirarucu recheado com jambu e camarões
secos, guarnecidos com farinha de tapioca em tucupi.
Ingredientes
2,5 kg de lombo de pirarucu fresco
10 g de sazon verde
1 limão
1 cebola ralada
3 xícaras de jambu cozido
250g de camarão tutoia limpo
250g de farinha de tapioca
2 litros de tucupi
Modo de Preparo
- Lavar a peça inteira do lombo de pirarucu
em água corrente e suco de limão
- Escorrer e secar com papel toalha
- Colocar na geladeira por uma hora para ficar firme
- Processar o camarão lavado e reservar
- Cobrir a tábua com filme plástico e colocar o lombo
- Fazer um corte no sentido do comprimento de 1,5 cm de profundidade
- Abrir com cuidado para não furar, até formar uma manta
- Temperar os dois lados com sazon
- Espalhar a cebola ralada na parte de cima
- Cobrir com as folhas de jambu cozido
- Espalhar o camarão processado
- Enrolar o peixe como rocambole apertando bem
- Untar com azeite de oliva
- Enrolar o peixe com o filme que está sobre a tábua, apertar bem
- Enrolar novamente com outra folha de filme
- Torcer bem as extremidades e prender
- Colocar o rocambole numa assadeira com uma xícara de água
- Assar em forno médio (180ºC) por 30 minutos
- Retirar do forno e da assadeira, deixar esfriar
- Fatiar o peixe em 10 porções iguais
- Deixar de molho em um recipiente a farinha de tapioca em um litro de tucupi durante 12h
- Coar a farinha de tapioca
- Ferver um litro de tucupi até reduzir a aproximadamente à metade.
- Em seguida acrescentar a farinha de tapioca coada e ferver até as bolinhas
da farinha de tapioca adquirirem uma consistência macia.
- Fazer um leito de pérolas de tucupi e colocar duas fatias de peixe
- Decorar com folhas de jambu embebidas em tucupi e pimentas vermelhas
Observações : A parte da emenda do peixe deve ficar para baixo na hora
de assar e de servir. Não usar sal, pois tem no camarão. Rende dez porções.
Receita cedida gentilmente pela chef Denise de Melo Silva Borges.
corrente contínua
Praça Povos da Floresta - Praça ornamentada por imponentes árvores, coretos adornados com paxiúba e cipó e grandes pórticos.
Foi instituída para homenagear o líder seringueiro Chico Mendes, sendo representado por
uma estátua do líder conduzindo uma criança,
confeccionada em argila e bronze em tamanho
natural. Nela, encontra-se, ainda, o Centro de
Atendimento ao Turista instalado no antigo Bar
Municipal, edificado em 1945.
57
“Senhores e senhoras, parabenizamos a todos da equipe pelo excelente trabalho. As matérias estão de
qualidade e bem diversificadas”.
Ediresa Garcia Ferreira
- Assessoria de Gestão da Qualidade- Brasília – DF
fotolegenda
CORREio contínuo
“Senhor Presidente, tenho a honra de cumprimentá-lo e agradecer o envio da edição nº227, ano XXXII,do
mês Julho/Agosto, da revista Corrente Contínua. Aproveitando o ensejo para elevarmos nossos protestos de
alta estima e consideração”
Leandro Domingos Teixeira Pinto
- Presidente da Fecomércio-AC – Rio Branco - AC
“Prezado Alexandre, sabemos que é mais fácil recebermos críticas do que elogios pelos nossos trabalhos.
Tenho recebido algumas observações sobre a Corrente Contínua, o que causa certo desconforto para o empregado que se vê na matéria com o nome ou foto trocados. Nessa última edição, 228, foram trocadas as fotos
entre Jacqueline e Auriléia. Na edição 222, também trocaram o Martins pelo Hamilton”.
Arthur Quirino da Silva Neto
- Assessoria de Comunicação da Eletronorte no Maranhão – São Luís – MA
N.R.: Aos leitores e colegas que tiveram o dissabor de verem suas fotos trocadas, nossas desculpas. Estamos alerta para não cometermos mais este tipo de falha.
“Trabalho na Cemig e sou engenheira eletricista, da área de pré-operação do sistema elétrico de distribuição e transmissão até a tensão de 138 kV. Gostaria de verificar a possibilidade de disponibilizarem a assinatura da revista Corrente Contínua para o nosso setor. Esta revista terá circulação para 58 pessoas, abrangendo
também a área de coordenação de proteção. No aguardo de uma solução favorável desde já agradeço a
atenção dispensada”.
Vanessa Aparecida Dias Coelho
– Cemig – Belo Horizonte – MG
N.R.: a distribuição desta revista é gratuita, estando disponível também no site da Eletronorte
(www.eletronorte.gov.br), em Imprensa.
“Prezado Oscar, li sua matéria. Parabéns! Está linda! Sou apaixonada pela coluna Amazônia e Nós. Ela nos
proporciona conhecer e prestigiar mais ainda as belezas, os povos, a natureza entre outras riquezas do Norte.
Vou tentar fazer por aqui a receita que você sugeriu (Caldeirada da Amazônia). Fiquei com ‘água na boca’ só
de ver a foto do prato na revista”.
Terezinha Félix de Brito
- Assessoria de Comunicação da Eletronorte em Rondônia – Porto Velho – RO
corrente contínua
“Querido Arthur, acabei de receber a revista Corrente Continua e sem dúvida, a matéria ficou ótima. Ainda
não tive a oportunidade de agradecer pelo carinho que você sempre tem demonstrado, mas dessa vez não
poderia deixar passar. Parabéns e obrigada”.
Katiana Silva Santos
– Divisão de Transmissão de Imperatriz - Imperatriz- MA
58
“Parabéns ao poeta Alexandre Accioly e ao fotógrafo Rony Ramos pela Fotolegenda do bimestre Setembro/
Outubro, que me deixou extasiada. O texto é mais que um poema, porque emociona, toca na alma. Traduz
ricos sentimentos de paz, solidariedade, fraternidade, solidão e beleza. Beleza típica dos povos da floresta.
Gostei tanto que decorei a ‘poesia’”.
Bárbara Santana Fernandes
– Gerência de Promoção da Qualidade de Vida – Brasília - DF
Sou pequeno, mas sou um timoneiro sério
Olho sempre à frente e dirijo meus pensamentos para além do rio
Olho as pedras do caminho, me desvio das grandes, ignoro as pequenas
Olho os galhos que seguem na água, se tem folhas, se tem frutos
Mas os troncos podem nos afundar
Rema forte, ordeno, rema junto, olha o banco de areia!
Pego da corrente, agito no ar, bato no chão, chamo o vento!
Veja a força dos meus braços, das minhas mãos que não tremem
Sou assim, criado nas águas, cheirando brisa matutina
Sou pequeno, mas sou sério
Tenho certeza que vou chegar
Porque sei aonde quero chegar
Onde porei meus pés e deixarei a marca da minha passagem
A minha marca, o meu sinal, a minha sina.
Texto: Alexandre Accioly
Foto: Rony Ramos
corrente contínua
“Caro César, muito obrigado pelo envio da revista Corrente Contínua. O secretário de Gestão, Marcelo Viana,
solicitou que o link para a edição eletrônica fosse publicada no Portal do GesPública. Receba nosso abraço”.
Cesar Pereira Viana - Gerente do Prêmio Nacional da Gestão Pública
- Departamento de Programas de Gestão
- Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – Brasília - DF
59

Documentos relacionados