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AVALIAÇÃO DAS METODOLOGIAS, CONCEITOS,
INDICADORES, MÉTRICAS E FERRAMENTAS RELACIONADAS
AO USO DA ÁGUA, BALANÇO HÍDRICO E EMISSÕES
HÍDRICAS E SUA APLICAÇÃO AO SETOR DE PRODUÇÃO DE
ALUMÍNIO.
Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Agosto/2013
ÍNDICE
ITEM
TÓPICO
PÁGINA
1.
Objetivo
2
2.
Resumo executivo
3
3.
Contextualização
6
4.
11
4.1.
Principais iniciativas e abordagens com foco na governança e uso da água
e/ou redução das emissões hídricas
Iniciativas voltadas às organizações (corporações)
4.2.
Iniciativas voltadas às operações
31
4.3.
Iniciativas com foco nos produtos (pegada hídrica)
38
4.4.
Outras iniciativas
44
5.
Uso das melhores técnicas disponíveis (BATs)
45
5.1.
Produção de metais não ferrosos – aspectos comuns
46
5.2.
Produção de alumínio
51
6.
Análise crítica das metodologias e iniciativas para suporte a governança
da água
Recomendações para o processo de adoção de boas práticas para
conservação da água e redução das emissões hídricas e suas ferramentas
Referências bibliográficas
52
7.
8.
16
53
58
Página 1
1.
OBJETIVO
Este relatório tem como objetivo subsidiar o setor de produção de Alumínio, por intermédio da
sua entidade associativa a ABAL, no que se refere à governança da água e suas métricas. Ele
contempla os seguintes itens:
(a)
Análise crítica das metodologias, métricas e ferramentas existentes e em
desenvolvimento associadas ao uso da água e emissões hídricas;
(b)
Contextualização da metodologia MCA-SMI – Balanço hídrico (contabilização hídrica)
desenvolvido pela Minerals Council of Australia em conjunto com Sustainable Minerals
Institute of the University of Queensland;
(c)
Contextualização da metodologia ISO/DIS 14046 que estabelece princípios e requisitos
para a determinação da pegada hídrica de produtos;
(d)
Identificação e avaliação de pontos comuns e discrepâncias entre estas duas
abordagens;
(e)
Recomendações quanto a aplicação dos conceitos, métricas, metodologias e padrões
de governança da água, em especial no que se refere a implementação das iniciativas
SMI-MCA e ISO/DIS 14 046.
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2. RESUMO EXECUTIVO
É crescente o interesse da sociedade e do mercado em relação ao uso eficiente da água pelas
organizações. Apesar disso, o relatório publicado em 2012 “ Clearing the Waters: A Review of
Corporate Water Risk Disclosure in SEC Filings “ que faz uma avaliação dos aspectos de
governança e publicidade (transparência) de informações sobre o uso da água nas
corporações, constata que a maioria dos dados reportados pelas empresas apresenta
inconsistências em relação ao uso da água, riscos associados às operações e aspectos
correlatos na cadeia de suprimentos (CERES, 2012).
Em parte, a dificuldade de reportar se deve a ausência de um padrão claramente definido em
linha com as demandas de mercado, apesar das inúmeras iniciativas existentes e em
desenvolvimento.
Observa-se que estas iniciativas têm focos e abordagens distintas, dificultando o seu uso pelas
empresas, conforme pode ser visto ao longo deste relatório.
Desta forma, recomenda-se começar pelo mais simples, que é a padronização dos conceitos e
métricas, bem como a realização do balanço hídrico das unidades operacionais. O grau de
evolução a partir deste aspecto deve ser interligado com as diretrizes de um programa
estruturado de governança da água.
Em linhas gerais as diretrizes recomendadas no âmbito das empresas são:
 A padronização das métricas de uso da água, emissões hídricas, eficiência operacional,
índice de reutilização e de balanço hídrico nas unidades operacionais;
 Avaliação das ferramentas e modelos para subsidiar o programa estruturado de
governança da água;
 Definição de indicadores de desempenho;
 Sistemática de monitoramento das metas e indicadores;
 Uso das melhores técnicas (BATs);
 Atuação sobre fornecedores;
 Gestão dos riscos associados ao uso da água;
 Divulgação do desempenho;
Página 3
 Envolvimento da alta direção e atrelamento de metas associadas ao uso racional da
água em programas de remuneração variável;
 Verificação de 3ª parte dos relatórios e/informações sobre o uso responsável da água;
 Em bacias sujeitas e escassez ou estresse hídrico, ou em locais onde se faça uso
intensivo da água, é importante que as empresas participem dos fóruns de discussão
gestão dos recursos hídricos (de forma associativa ou individualizada);
 Participação e apoio por intermédio de parcerias a programas públicos ou privados
voltados a promoção do uso racional da água e melhoria da governança;
Em termos de métricas de contabilização do uso da água (balanço hídrico), destaca-se que a
metodologia que melhor se ajusta ao setor de mineração é o modelo operacional MCA-SMI,
desenvolvido Minerals Council of Australia em conjunto com Sustainable Minerals Institute of
the University of Queensland. Isto se deve ao fato de considerar a questão de barramentos,
reservação e desvios - que são situações típicas do processo produtivo - no balanço hídrico.
A perspectiva do uso da água relacionada aos produtos (pegada hídrica) não é abordada nestas
diretrizes uma vez que a metodologia/norma ainda não está consolidada. Neste momento,
recomenda-se acompanhar o processo de desenvolvimento da norma ISO 14046.
Além do mais, no processo de melhoria contínua é possível complementar esta abordagem
quando as normas relativas à pegada hídrica estiverem disponíveis. Ou seja, a uniformização
das métricas e realização de balanço hídrico precede a aplicação de uma norma de ACV, a
exemplo da norma ISO/DIS 14046.
Em relação a ISO 14.046, considerando-se a complexidade da aplicação das normas que
quantificam o desempenho ambiental de produtos com base em estudos de avaliação do ciclo
de vida (ACV), é importante que as organizações conheçam e entendam as suas aplicações e
limitações, em especial no que se refere à comparação entre produtos.
Esta preocupação é ainda mais relevante na norma de pegada hídrica, que têm um apelo
importante na mídia, reflexo da demanda da sociedade em identificar produtos com melhor
desempenho ambiental. Dificilmente a pegada hídrica é entendida/vista como uma
ferramenta associada a processos internos de avaliação e melhoria do desempenho ambiental.
Afirmações comparativas (entre produtos) devem ser vistas com cautela em relação à pegada
hídrica – mesmo que sua quantificação siga rigorosamente o padrão ISO 14046. Do ponto de
vista ambiental, não se pode afirmar que um produto é superior a outro usando-se somente a
pegada hídrica. Um produto com uma pegada hídrica menor pode apresentar impactos
potenciais muito maiores em relação às outras categorias de impacto, por exemplo, impacto
no uso do solo, impacto na qualidade do ar, etc.
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Por fim, em relação à metodologia de pegada hídrica proposta pelo WFN, recomenda-se
precaução na sua utilização no âmbito empresarial, tendo-se em vistas a fragilidade das
questões conceituais e de delimitação de escopo. Afirmações comparativas e sua divulgação
não são suportadas por esta metodologia e podem gerar distorções importantes e
desinformação. Sua utilização, contudo, pode ser feita no âmbito interno das empresas, desde
que sua aplicação considere estas limitações.
Do ponto de vista associativo, a exemplo de organizações como a ABAL, recomenda-se:
 Participação nos fóruns e eventos relacionados ao desenvolvimento de normas e
procedimentos que tenham aplicação no setor. Muitos destes grupos não têm
representantes que conheçam a realidade empresarial e os processos produtivos. Com
isso, questões conceituais podem gerar conflitos e até inviabilizar a aplicação destas
normas e padrões. Dificuldades técnicas podem ser interpretadas pela sociedade
como uma ação reativa/retrógrada das empresas se não houver esta discussão quando
do desenvolvimento das normas e padrões;
 Internalização desta discussão de forma intra e extra setorial, para alinhamentos dos
conceitos, troca de experiências, dentre outros;
 Mapeamento e acompanhamento das demandas e tendências de mercado.
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3.
CONTEXTUALIZAÇÃO
As questões de escassez e estresse hídrico permeiam os diversos segmentos da sociedade,
incluindo governos, investidores, sociedade civil, comunidades, setor produtivo, dentre outros.
Com isso, observam-se claramente mudanças de paradigma, conforme relatório recente
apresentando pelo Conselho Mundial de Desenvolvimento Sustentável (WSCSD). A figura a
seguir destaca as principais mudanças segundo este relatório (WBCSD a, 2012).
Figura 1. Mudanças de paradigma na gestão do uso da água (WBCSD a, 2012)
Estas mudanças causam desdobramentos importantes segundo a OECD (Organisation for
Economic Co-operation and Development), como a precificação deste recurso para reduzir a
demanda e sinalizar condições de escassez.
Abordagens similares também são mencionadas em outra publicação recente da WBCSD:
“Water valuation Building - the business case” (WBCSD b, 2012).
A valoração deste recurso e as métricas associadas ao uso da água permitem:
(a)
(b)
(c)
(d)
(e)
Identificação/quantificação de investimentos;
Mensuração da eficiência do uso da água;
Alocação do seu uso ao longo da cadeia produtiva;
Precificação da água e de seus serviços;
Avaliação de danos e de sua compensação;
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(f)
(g)
(h)
Identificação de investimentos sustentáveis;
Identificação de ações de conservação e mecanismos de compensação;
Reportar o desempenho.
Pode-se observar que alguns dos itens mencionados ainda requerem uma considerável
evolução em termos conceituais e de aplicação efetiva, como o mecanismo de compensação
para um recurso está associado a características locais. Esta situação é diversa do que ocorre
com a questão de emissões atmosféricas e seus mecanismos de compensação, por exemplo.
Entretanto, a despeito destes aspectos, em linhas gerais, observa-se que há oportunidades
importantes quando a questão do uso da água é internalizada na gestão dos negócios.
Estas oportunidades qualificam o processo decisório e seus desdobramentos conforme
indicado na figura 2.
Figura 2. Governança do uso da água e qualificação do processo decisório (WBCSD b, 2012).
Embora a demanda de uso racional da água nas empresas e produtos esteja configurada, ainda
não está definido de que modo os consumidores podem identificar produtos oriundos de
empresas com elevado padrão de desempenho no tocante ao uso racional da água.
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Nem as empresas tem ainda um padrão definido de inventário ou de indicadores consolidados
para este fim.
A publicação de 2010 da CERES (Coalition for Environmentally Responsible Economies),
denominada: MURKY WATERS? Corporate Reporting on Water Risk - A Benchmarking Study of
100 Companies - faz uma interessante avaliação da governança da água nas corporações.
Este trabalho definiu critérios de avaliação da “qualidade” desta governança e analisou o
desempenho de 100 diferentes corporações em oito segmentos produtivos. Os critérios
(categorias de avaliação) estão indicadas no Quadro 1.
Categorias de avaliação de divulgação de informações sobre uso da água
para indústrias e empresas da construção civil
1. Uso de água
Retirada ou captação
Lançamento de efluentes
Uso de água pelos fornecedores
2. Avaliação de riscos
Riscos de imagem
Riscos regulatórios
Riscos contenciosos
3. Uso ligado diretamente as atividades
Descrição do sistema de gestão e politica de uso
Informações sobre atendimento legal e multas
Descrição de programas e medidas de redução do uso corporativas e em nivel local para áreas sujeitas e estresse
hidrico
Metas quantitativas de redução dos impactos associados ao uso da água e ao lançamento de efluentes
4. Cadeia produtiva
Descrição de medidas para avaliar, treinar e melhorar a gestão do uso da água nos fornecedores
Descriação de medidas para identiificar e quantificar dados sobre os impactos assciados ao uso da água pelos
fornecedores
Metas quantitativas para reduzir os impactos associados ao uso da água pelos fornecedores
5. Envolvimento de partes interessadas
Colaboração com instituições governamentais e não governamentais e comunidade em programas e projetos
relativos ao uso racional da água
Colaboração com instituições governamentais e não governamentais e comunidade em programas e projetos
relativos ao lançamento de efluentes e recuperação da qualidade da água
Consultas a comunidades locais e ONGs sobre os impactos relativos ao uso da água quando da instalação ou
ampliação do empreendimento
6. Oportunidades*
Investimentos em tecnologia para uso racional de água em processos e em produtos
Descrição de ações voltadas ao uso mais eficiente da água e a redução dos impactos dos produtos existentes
Metas quantitativas para aumentar a eficiência e/ou para reduzir os impactos
TOTAL
Pontuação
36
24
27
7
6
12
112
*Esta categoria foi utilizada somente para os setores da construção civil e indústria química
Quadro1. Critérios de avaliação da governança segundo CERES (CERESa, 2010)
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A figura 3 a seguir apresenta os valores médios de cada setor segundo esta avaliação (CERES,
2010).
Avaliação da divulgação de dados sobre uso da água
Média setorial
100
80
60
40
28
24
19
20
19
19
8
21
9
i-c
on
du
tor
es
Se
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eg
ás
Pe
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Figura 3. Médias setoriais da avaliação feita pelo relatório CERES (CERES, 2010)
Segundo esta avaliação, para melhorar a governança das corporações é preciso integrar na
gestão financeira os aspectos econômicos e estratégicos relacionados ao uso da água. Ao
mesmo tempo, destaca que é necessário melhor qualificar, quantificar, avaliar e divulgar
informações sobre os impactos associados ao uso da água, tanto no âmbito corporativo e
quanto no âmbito local.
Em 2012, o relatório “ Clearing the Waters: A Review of Corporate Water Risk Disclosure in SEC
Filings “ faz uma avaliação mais atualizada dos aspectos de governança e publicidade
(transparência) de informações sobre o uso da água nas corporações. Segundo esta
publicação, a maioria dos dados reportados pelas empresas apresenta inconsistências em
relação ao uso da água, riscos associados às operações e aspectos correlatos na cadeia de
suprimentos (CERES, 2012).
As inciativas mais recentes voltadas à pegada hídrica enfrentam dificuldades associadas à falta
de dados primários (referenciais) e a abordagem metodológica – que pretende associar as
métricas aos impactos potenciais relacionados ao uso direto ou indireto da água para a
fabricação de produtos.
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Outras iniciativas estão associadas ao desenvolvimento de indicadores e padrões de
divulgação de dados sobre o uso da água. O GRI – Global Reporting Initiative é um exemplo,
onde o foco são as corporações. São mencionados indicadores (valores globais anuais
expressos em m3) de captação, lançamento de efluentes e de reuso.
Avaliações recentes indicam embora o padrão de divulgação dos dados de uso da água tenham
evoluído, os indicadores adotados são insuficientes para permitir que se possa avaliar a
governança de água nas corporações ou para permitir que se possam comparar o desempenho
de produtos ou empresas.
O projeto CDP Water Disclosure propõe indicadores relacionados à governança da água bem
como a divulgação de dados relativos ao uso da água pelas empresas.
A abordagem de normas voltadas ao manejo responsável da água pelas organizações (Water
Stewardship) também contempla estes aspectos, além de outros com abrangência na bacia
hidrográfica.
Outra dificuldade identificada é a falta de um padrão uniforme de quantificação e de
indicadores de dados de uso da água nos processos produtivos e do balanço hídrico no âmbito
destas unidades operacionais.
O setor de mineração, diferentemente da maioria dos processos industriais, apresenta uma
característica distinta no que se refere ao seu balanço hídrico. A existência/uso de
reservatórios e barramentos impede que se possa calcular de forma direta o consumo
(entrada de água fresca menos os lançamentos). Nestes casos é preciso considerar a questão
da armazenagem. Além disso, o balanço hídrico é mais complexo, já que existem extensas
áreas de contribuição que precisam considerar a contribuição da precipitação, bem como
efeitos da evaporação e infiltração nas barragens e reservatórios.
Neste contexto é muito difícil para o setor produtivo obter indicadores de uso da água e/ou de
emissões hídricas que permitam fazer “benchmarking” de boas práticas corporativas ou aos
indicadores de desempenho associados aos seus produtos.
Este relatório faz uma avaliação das principais iniciativas, práticas vigentes e ferramentas
voltadas ao uso racional da água e a redução das emissões hídricas. Além disso, são feitas
recomendações de diretrizes para a definição e implantação de um programa de boas práticas
voltadas à governança da água.
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4.
PRINCIPAIS INICIATIVAS E ABORDAGENS COM FOCO NA GOVERNANÇA E USO DA
ÁGUA E/OU REDUÇÃO DAS EMISSÕES HÍDRICAS
Um relatório recente publicado pelo Conselho Mundial do Desenvolvimento Sustentável
(WBCSD, 2012), identificou dezoito (18) iniciativas de métricas associadas ao uso da água em
diversos setores produtivos.
Este relatório pode ser acessado em: http://www.wbcsd.org/waterforbusiness3.aspx
Para fins de avaliação da abordagem de cada uma destas iniciativas, o processo de gestão do
uso da água foi dividido em 05 estágios, conforme indicado na figura 4. Por se tratar de um
processo interativo, é recomendável que o envolvimento das partes interessadas aconteça em
todas as etapas.
Figura 4. Representação esquemática de um modelo iterativo de gestão
Um quadro resumido das questões-chaves envolvidas em cada estágio é apresentado a seguir.
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Estágio
Questões - chaves
1. Avaliação de
condições globais e
locais
Há disponibilidade de água? A qual custo ?
Quais são as demandas legais?
Qual é a demanda de água?
Qual a perspectiva de variação no futuro?
Existem condições de estresse local?
Os serviços ecossistêmicos podem ser impactados pela
disponibilidade de água ou pela degradação da
qualidade?
As pessoas tem acesso à melhoria das condições
sanitárias?
Quais são as perspectivas dos negócios?
2. Medição e
entendimento dos
impactos
Quanta água é usada e consumida?
Que tipos de água?
Onde, quando e como é feito o consume/uso?
Quanto retorna (lançamentos/descartes)?
Quais contaminantes são descartados?
Quais são os impactos para outros usos da água, nos
3. Identificação de
riscos e
oportunidades
4. Definição de plano
de ação e metas
ecossistemas e comunidades?
Quantas unidades, fornecedores e clientes estão
localizados em áreas/países de estresse hídrico?
Quanto da produção é oriundo destes locais ?
Há fornecimento de água adequado para suprir as
demandas de água?
A disponibilidade de água pode afetar os empregados ou
consumidores?
O consumo de água para fins de processo em detrimento
de outros usos pode ser justificado?
Existem oportunidades para promover soluções para
mitigar o estresse hídrico?
Qual o nível de desempenho compatível com as melhores
práticas?
Quais as ações permitem a prevenção e controle dos
riscos?
Quais metas são adequadas e exequíveis?
5. Monitorar e
comunicar a
performance
Quais indicadores são necessários para avaliar,
monitorar, melhorar e divulgar a performance para as
partes interessadas?
Como dar credibilidade e robustez as ações com foco na
sustentabilidade?
Ferramentas
WBCSD Global Water Tool
WRI Aqueduct
Water Risk Filter
WFN Assessment Tool and Manual
BIER Practical Perspective on Water Accounting
GEMI™ Local Water Tool
ISO Water Footprint: Requirements and Guidelines
Water Accounting: An Australian
Framework for the Minerals Industry
WFN Assessment Tool and Manual
Water Impact Index
Water Use Assessment within Life Cycle Assessment
GEMI Local Water Tool™
UNEP Finance Initiative: Chief Liquidity Series
Water Impact Index
Water Risk Filter
WBCSD Global Water Tool
WRI Aqueduct
Alliance for Water Stewardship
Ceres Aqua Gauge
European Water Stewardship Standard
GEMI Local Water Tool™
UN CEO Water Mandate
Water Accounting: An Australian
Framework for the Minerals Industry
Water Impact Index
Water Stewardship Australia
Alliance for Water Stewardship
CDP Water
Ceres Aqua Gauge
European Water Stewardship
Standard
GRI Water Performance Indicators
ISO Water Footprint: Requirements
and Guidelines
UN CEO Water Mandate
Water Stewardship Australia
Quadro 2. Critérios de avaliação da governança segundo CERES (CERESa, 2010)
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É importante destacar que as iniciativas têm abordagens distintas no que se refere à
abrangência, foco e objetivos. Algumas têm foco na governança das corporações, outras têm
foco no desempenho de produtos e no seu ciclo de vida, enquanto outras nas métricas dos
processos/operações.
As iniciativas de pegada hídrica têm o foco em produtos, enquanto projetos como CDP (Carbon
Disclosure – Water Disclosure Project), CERES Aqua Gauge e Water Stewardship (uso
responsável) estão voltados para a governança da água nas corporações.
Esta profusão de iniciativas – que tenta responder as pressões de mercado - sinaliza também
para o desafio das métricas relacionadas ao uso da água.
O quadro 3 apresenta um resumo de como cada uma destas iniciativas se insere nos diferentes
estágios da governança.
Na sequência serão apresentados e discutidos alguns aspectos das principais iniciativas.
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Quadro 3 Iniciativas de métricas de água nas organizações (WBCSD, 2012)
Página 14
Quadro 3 Continuação. Iniciativas de métricas de água nas organizações (WBCSD, 2012)
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A descrição resumida das principais iniciativas, classificadas de acordo com o seu foco principal
(corporações, processos/operações e produtos) é mostrado nos itens a seguir.
4.1.
INICIATIVAS VOLTADAS ÀS ORGANIZAÇÕES (CORPORAÇÕES)
As principais iniciativas que abordam a questão do uso da água de forma específica ou como
parte de outros aspectos ambientais são: GRI (Global Reporting Initiative); CDP - Water
Disclosure; CERES Aqua Gauge; CEO Water Mandate, Water Risk Filter; WRI-Aqueduct e Water
Risk Framework.
A seguir é feita uma descrição das principais iniciativas já implementadas e em
desenvolvimento.
4.1.1. GRI- Global Reporting Initiative
A GRI, uma Organização Não-Governamental composta por uma rede multistakeholders, foi
fundada em 1997 pela CERES e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(UNEP).
O Global Reporting Initiative (GRI) estabeleceu um padrão de elaboração de relatórios de
sustentabilidade e de mensuração e divulgação do desempenho das corporações.
Indicadores GRI associados ao uso da água e as emissões são:
 EN8 – Total de água retirada (captada) por fonte;
 EN9 – Lista das fontes significativamente afetadas pela(s) retirada(s);
 EN10 – Percentagem de água reusada e reciclada;
 EN21 – Total de água descartada, tratamento e local de descarte;
 EN23 – Número e volume total de derrames significativos;
 EN25 – Situação dos corpos de água que recebem efluentes e/ou drenagem
superficial em relação à biodiversidade e condição hídrica.
A primeira versão orientadora para a elaboração de relatórios de sustentabilidade foi
publicada em 2000. A versão mais recente é a G3.1 (terceira geração) publicada em março de
2011. A quarta geração (G4) dos relatórios GRI está em fase de desenvolvimento.
Foram também desenvolvidos cadernos setoriais para mineração, processamento de
alimentos, dentre outros setores.
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Trata-se de um modelo que foi bem aceito pelo mercado e empresas e que tem o mérito de
estabelecer um padrão de divulgação abrangendo aspectos econômicos, ambientais, sociais,
questões de gênero, relações de trabalho, direitos humanos e responsabilidade sobre
produtos.
Por outro lado, a sua abrangência não permite que alguns aspectos sejam mais bem descritos
ou detalhados.
4.1.2. CDP – Water disclosure
A iniciativa CDP – Water Disclosure é desenvolvida pela organização sem fins lucrativos a CDP
(Carbon Disclosure Project) com o objetivo de obter informações relacionadas às emissões
atmosféricas associadas às mudanças climáticas e ao uso da água. Estes dados são
demandados por 551 instituições financeiras que gerenciam US$ 71 trilhões em ativos (CDP a,
2012).
A metodologia consiste no envio de um questionário padrão as empresas, cujas respostas são
analisadas e compiladas em um relatório anual. O relatório mais recente é de 2011 e
apresenta o resultado da análise de 190 questionários respondidos do total de 315
questionários enviados.
A seleção das empresas selecionadas para envio dos questionários tem por base índices como
o FTSE Global Equity Index Series (Global 500) e outros índices específicos de mercados, como
o Australian Secutities Exchange.
A avaliação é feita em módulos, conforme quadro 4 (CDP b, 2012):
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Módulo
a) Governança
b) Riscos (operações e
cadeia de
suprimentos)
Questões principais
A sua empresa possui uma política, estratégia ou
plano de ação para a gestão de água?
Quer destacar alguma ação adicional relativa à gestão
de água relacionada a gestão de recursos hídricos
envolvendo outras partes interessadas ?
As suas operações são realizadas em área de estresse
hídrico?
Existem outros indicadores de risco associados ao uso
da água?
Especifique a proporção das operações que está
sujeita a estresse hídrico? E justifique como foi feito o
cálculo desta proporção.
Seus principais insumos provêm de áreas de estresse
hídrico?
c)
Avaliação de Riscos
(operações e cadeia
de suprimentos)
d) Impactos no negócio
e) Oportunidades
f)
Inter-relação com
emissões de carbono
g) Captação e reciclo
h) Descartes
i)
Intensidade no uso
A empresa está sujeita a riscos associados ao uso da
água que podem comprometer as operações e/ou
afetar lucros e rendimentos?
Qual a metodologia e escala adotada para identificar
e quantificar estes riscos?
A empresa solicita informações dos fornecedores
relativas ao uso da água e riscos associados?
A cadeia de suprimentos está exposta a riscos
associados ao uso da água que podem afetar suas
operações e rendimentos?
Sua atividade sofreu algum impacto negativo em
função do uso da água e/ou as emissões hídricas?
Questões relacionadas ao uso da água podem
impactar o negócio ou alterar substancialmente as
operações?
A inter-relação do uso dos recursos hídricos com as
emissões de carbono é avaliada pela empresa?
A empresa mede ou estima valores de retirada de
água para suas operações?
A empresa mede ou estima os valores de água
reutilizados? Descrever a metodologia utilizada para
esta quantificação/estimativa.
Alguma fonte de água é significativamente afetada
pela retirada de água?
A empresa identifica e quantifica as
emissões/descartes para os corpos hídricos, bem
como o sistema de tratamento adotado?
A empresa foi penalizada em virtude de descartes em
desacordo com a legislação ou acordos durante o
período reportado?
Algum corpo d’água ou habitat é significativamente
afetada pelos descartes ou pelo runoff?
Fornecer dados de indicadores de uso da água
associados a indicadores econômicos (unidade
financeira/unidade volumétrica de água)
Fornecer dados de indicadores de uso da água
associados aos produtos e/ou serviços (unidade
volumétrica de água/unidade de produção)
Observações
Destaque para a existência de metas e indicadores
de desempenho. Recomenda seguir o padrão CEO
Water Mandate (CEO, 2012) que prevê abrangência
de ações além das operações diretas da empresa.
As principais ferramentas para análise de riscos e/ou
estresse hídrico são: Environmental Assessment;
FAO/AQUASTAT; GEMI Local Water Tool; Global
Water Tool for Oil & Gas; Internal company
knowledge; Life Cycle Assessment; Maplecroft’s
Global Water Security Risk Index; Regional
government assessments or databases; UNEP Vital
Water Graphics; WBCSD Water Tool; WRI water
scarcity definition; WRI Aqueduct e WWF-DEG
Water Risk Filter
Quantificar a proporção de insumos que provêm de
áreas de estresse ou, descrever ações previstas para
sua identificação/quantificação.
Identificação de riscos associados a demandas legais,
litígios, enchentes, qualidade e disponibilidade,
reputação e imagem, etc.
Descrever os aspectos/questões relacionadas a
estes impactos, ou justificar porque eles são
desconsiderados na governança da empresa.
Descrever os aspectos/questões relacionadas esta
avaliação ou justificar porque ela não e feita pela
empresa
Recomenda-se apresentar os dados por site e por
tipo de fonte de água utilizada. Há tabelas
orientativas de como descrever e apresentar os
dados.
Recomenda-se apresentar os dados por site e por
tipo descarte e local de descarte. Há tabelas
orientativas de como descrever e apresentar os
dados.
Quadro 4. CDP- Pontos chaves
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Mais detalhes desta metodologia podem ser acessados em:
https://www.cdproject.net/en-US/Pages/guidance.aspx
É importante destacar que esta iniciativa têm vínculos com outras iniciativas (como o GRI), no
sentido de tentar harmonizar os conceitos. Além disso, pode-se observar que se trata de uma
ferramenta que está em franca evolução, uma vez que há vínculos com outras metodologias
recentes como a Water Filter Risks, ou em desenvolvimento, como a WFN (water footprint
network assessment).
4.1.3. CERES Aqua Gauge
É uma ferramenta desenvolvida pela instituição CERES que é uma coalização de investidores,
fundações, associações de direito civil, organizações não governamentais com atuação
destacada na promoção de boas práticas voltadas a sustentabilidade.
Esta coalização foi à entidade que desenvolveu o modelo GRI (global reporting initiative), que é
utilizado como padrão para divulgação de dados relacionados ao desempenho das
organizações no que se refere a aspectos ambientais, sociais, econômicos, trabalhistas, dentre
outros.
O relatório “Murky Waters? Corporate Reporting on Water Risk” publicado em 2010 pela
CERES aborda a governança da água nas corporações e avalia a qualidade desta governança
da água em 100 empresas de oito setores representativos da economia global.
Em 2012, o relatório “Clearing the Waters: A Review of Corporate Water Risk Disclosure in SEC
Filings “faz uma avaliação mais atualizada dos aspectos de governança e publicidade
(transparência) de informações sobre o uso da água nas corporações. Segundo esta
publicação, a maioria dos dados reportados pelas empresas apresenta inconsistências em
relação ao uso da água, riscos associados às operações e aspectos correlatos na cadeia de
suprimentos.
A partir destas avaliações, foi desenvolvida uma ferramenta denominada “CERES Water Gauge
TM
” que além de uma detalhada abordagem metodológica tem uma planilha em excel para
aplicação da metodologia.
O objetivo do CERES Water GaugeTM é subsidiar empresas e investidores na avaliação e gestão
de riscos, na divulgação de dados e na promoção de boas práticas associadas ao uso da água.
A metodologia engloba quatro áreas: (1) mensuração, (2) gestão, (3) partes interessadas, e (4)
transparência.
É possível fazer uma avaliação rápida (Quick Gauge) ou uma avaliação compreensiva.
Página 19
A avaliação rápida pode ser utilizada como forma de identificar companhias com maior
potencial de exposição a riscos associados ao uso da água, bem como etapa inicial da avaliação
compreensiva.
A avaliação compreensiva permite avaliar a evolução da governança das empresas até atingir
o estágio de liderança.
Os estágios de evolução previstos são:
 Sem ação – sem evidências que a empresa tem ações nesta área;
 Estágio inicial - Desenvolvimento de ações e inicio de sua implementação;
 Progresso avançado – Implementação em nível avançado, sem atingir o estágio de
liderança;
 Liderança: Implementação de ações em um estágio compatível com empresas líderes
de mercado.
Esta metodologia tem inter-relação estreita com o modelo CDP –Water disclosure no que se
refere a abordagem e aos indicadores.
A planilha em excel [Ceres_Aqua_Gauge_PC (1)] detalha os indicadores de forma que é
possível avaliar/classificar o estágio da governança das corporações e está disponível em:
http://www.ceres.org/issues/water/aqua-gauge/aqua-gauge
Seu uso é bem simples e o resultado da avaliação é indicado como mostrado na figura a seguir.
As categorias e indicadores previstos neste modelo estão indicados no quadro 5.
Página 20
Mensuração
Categoria
Subcategoria
Descrição
Obtenção de
dados
Coleta e
monitoramento de
dados
Avaliação de
risco
Transparência
Envolvimento
Partes
Interessadas
Gestão
Governança
Identificação e
quantificação dos
riscos associados ao
uso da água
Atribuição de
responsabilidades por
meio de
Políticas e
padrões
Estabelecimento de
padrões de
desempenho e metas
Planejamento
e integração ao
negócio
Integração das
questões relacionadas
ao uso da água no
processo decisório
Envolvimento com partes interessadas
externas e internas
Atividade
Relativos a conformidade legal, retirada de água, uso da água
e descartes
Impactos ambientais e sociais associados ao uso da água
Fatores externos que afetam diretamente os recursos hídricos
Preocupações e percepções das partes interessadas relativas
as questões hídricas
Eficácia da gestão de fornecedores em relação ao uso da água
Operações diretas
Fornecedores (cadeia de suprimentos)
Conselho de administração
Alta administração e diretores
Políticas públicas e lobbies
Divulgação da política
Padrões e metas de retirada/consumo nas operações diretas
Padrões e metas de descartes (emissões) nas operações
diretas
Plano de ação/contingência para prevenir e mitigar riscos
Códigos, práticas, programas para compras e contratações
Planejamento e alocação de capital
Design e desenvolvimento de produtos
Identificação de oportunidades
Comunidade
Empregados
Fornecedores
Governo/órgãos públicos
Organizações não governamentais
Outras empresas ou usuários de água
Clientes
Informações relacionadas ao uso da água
Divulgação
Dados e avaliações relativas a água contidas nos relatórios e
demonstrações financeiras
Relatórios/informações auditadas relativas ao uso da água
Quadro 5. Resumo das áreas-chave identificadas na metodologia Water Gauge
O exemplo de desempenho segundo Aqua Gauge de uma empresa é mostrado na figura 5.
Página 21
Category
Subcategory
Description
The Company:
Company
Performance
Activity
1,1 Its own regulatory compliance, water use, and discharge
A
d
A
MEASUREMENT
1,2 Its own environmental and social impacts on direct water sources
Data Gathering
Collects and monitors data related
to:
1,3 External factors affecting direct water sources
A
1,4 Stakeholder perceptions and concerns related to water issues
In
iti
N
1,5 Effectiveness of suppliers' water management practices
Risk Assessment
Identifies and quantifies waterrelated risks for its:
1,6 Direct operations
A
d
N
1,7 Supply chain
In
iti
In
2,1 Board of directors
MANAGEMENT
Governance
Sets accountabilities for water
through:
2,2 Senior management
2,3 Public policy and lobbying positions
A
2,4 Publicly available water policy/statement
2,6 Standards and goals on wastewater discharge for direct operations
In
iti
A
d
A
2,7 Plans to address local watershed risks
N
2,8 Supplier standards and codes, procurement and contracting practices
N
o
In
iti
In
2,5 Standards and goals on water withdrawals/consumption for direct operations
Policies & Standards
Sets performance standards and
goals through:
2,9 Business planning and capital allocation
Business Planning
Integrates water in decision making related to:
2,10 Product design and development
2,11 Opportunity identification
3,1 Local communities
DISCLOSURE
ENGAGEMENT
3,2 Employees
Engages with internal and external stakeholders
on water-related issues :
Discloses:
In
iti
A
d
In
3,3 Suppliers
N
3,4 Governments and regulators
In
3,5 NGOs and community groups
A
3,6 Other industries/companies/water users
A
3,7 Customers
In
4,1 Water-related information
In
iti
4,2 Data and analysis related to water in financial filings / reports
In
4,3 Audited /assured water-related data
In
Figura 5 – Performance CERES Aqua Gauge – exemplo.
4.1.4. CEO Water Mandate
É uma iniciativa da secretaria geral das Nações Unidas e do Pacto Global que estabelece um
padrão para a divulgação de dados relativos ao uso da água. Ela tem como parceiros as
seguintes entidades: The Carbon Disclosure Project (CDP), World Resources Institute (WRI), e
Global Reporting Initiative (GRI).
Como já foi mencionado na contextualização deste trabalho, é percepção deste grupo que há
uma grande dispersão de recursos na obtenção e divulgação de dados de uso da água, sem,
contudo, permitir que estes dados tenham uma base comum e comparável (CEO, 2012).
Página 22
Segundo os proponentes, a consolidação e divulgação de relatórios empresariais relativos ao
uso dos recursos hídricos permite:
•
Ampliar o conhecimento das empresas quanto ao uso da água, identificar desafios e
riscos de forma direcionar seus esforços para melhoria do seu desempenho;
•
Demonstrar às partes interessadas a evolução do seu desempenho, bem como
divulgar o uso de boas práticas, gerando credibilidade perante instituições financeiras;
•
Estabelecer um diálogo criando credibilidade e viabilizando parcerias com atores
chave, para o estabelecimento de metas e objetivos comuns.
O resumo os modelos/práticas básicas e avançadas de comunicação de performances estão
indicados no quadro a seguir:
Página 23
Conteúdo
Escopo
Formato
Avaliação geral de situações de estresse hídrico
Perfil/lista de áreas críticas (hot spots)
Avaliação detalhada de bacias sob estresse
hídrico
Nível
global/geral
Dados quantitativos;
tabelas
Dados quantitativos;
tabelas
Contexto
Básico
Avançado
Nível de bacia
Situação atual
Performance
Básico
Avançado
Percentagem de retiradas/captações feitas em
área de estresse hídrico
Valor médio de intensidade do uso em áreas
de estresse hídrico
Retiradas por fonte; Intensidade do uso;
consumo; descartes por fonte
Retiradas de água na cadeia de suprimentos
Atendimento legal
Básico
Violações relativas ao atendimento legal
Avançado
Adoção de padrões voluntários
Nível
global/geral
Nível de bacia
Dados quantitativos;
tabelas
Cadeia de
suprimentos
Nível
global/geral
Dados quantitativos;
tabelas
Riscos
Básico
Relativos ao estresse hídrico
Riscos adicionais (relativos a outros fatores)
Implicâncias
Avançado
Riscos na cadeia de suprimentos
Oportunidades
Avaliação em nível geral de custos de
Básico
oportunidades
Avaliação detalhada de custos de
Avançado
oportunidades
Nível
global/geral e
bacia
Cadeia de
suprimentos
Nível
global/geral
Nível de bacia
Descrição; Dados
qualitativos
Descrição; Dados
qualitativos
Impactos externos
Básico
NA
NA
Respostas
Relacionados aos descartes,
captação/consumo
Avançado
Relacionados aos usos múltiplos
Relacionado à cadeia de suprimentos
Políticas, governança e metas
Básico
Compromissos e metas
Avançado
Políticas, governança e estratégias
Ações internas
Melhorias no desempenho das operações
Básico
diretas
Inovação a envolvimento da cadeia de
Avançado
suprimentos
Envolvimento de partes interessadas
Básico
NA
Uso consciente, participação e parcerias com
Avançado iniciativas globais,
Ações localizadas
NA
Descrição; Dados
qualitativos
Nível
global/geral
Descrição; Dados qualiquantitativos
Descrição; Dados
qualitativos
Nível
global/geral e de
bacia
Descrição; Dados
qualitativos
NA
Nível
global/geral
Nível de bacia
NA
Descrição; Dados
qualitativos
Quadro 6. CEO Water mandate
Página 24
O processo iterativo de gestão e a ferramenta CEO Water Mandate incluem etapas de
planejamento e execução, conforme mostrado na figura 6.
Figura 6. Representação esquemática das etapas de gestão (CEO, 2012)
Em termos de ferramentas para avaliação /identificação de áreas sujeitas a estresse hídrico,
esta metodologia faz algumas recomendações para auxiliar nesta escolha.
Em termos de facilidade de uso, se a abordagem for básica, podem ser usadas: WBCSD Global
Water Tool, WRI Aqueduct Water Risk Atlas, the WWF-DEG Water Risk Filter’s Quick View
function, or the WFN Water Footprint Assessment Tool. Todas requerem somente a locação do
site.
No caso de abordagem avançada, podem ser usadas: GEMI Local Water Tool ou WWF-DEG
Water Risk Filter’s Full Assessment Function, ambas têm questionários para complementar as
informações. Em dezembro de 2012, a ferramenta “WFN Water Footprint Assessment Tool”
será expandida para atender abordagem avançada.
Outros critérios podem ser utilizados para avaliação do estresse hídrico: escala geográfica;
escala temporal; estimativa de suprimento e de demanda de água.
Página 25
Os setores produtivos mais potencialmente expostos aos riscos associados ao uso da água
segundo estão indicados no quadro abaixo.
ALTA PRIORIDADE
MÉDIA PRIORIDADE
Agricultura
Construção
Bebidas
Transporte e lazer
Químico
Manufatura de bens de uso doméstico
Roupas e acessórios
Impressão
Alimentício
Distribuição de gás
Energia elétrica e hidrelétricas
Mineração
Óleo e gás
Farmacêutico
Tecnologia e semicondutores
Biomassa
Utilidades
Quadro 7. Setores mais expostos a riscos associados ao uso da água (CEO, 2012)
Como já observado em itens anteriores, esta proposta subsidia abordagens do CERES e da CDP
Water Disclosure.
4.1.5. Water Risk Filter
É uma metodologia de avaliação de riscos associados ao uso da água desenvolvido pela
instituição World Wide Fund for Nature (WWF) – e pelo Deutsche Investitions- und
Entwicklungsgesellschaft mbH (DEG).
A abordagem apresenta uma estreita relação com as demais metodologias de avaliação da
qualidade da governança das corporações em relação às questões hídricas.
O questionário base para a avaliação contempla 30 questões e considera os seguintes riscos:
 Físicos;
 Poluição (qualidade);
 Riscos na cadeia de suprimentos;
 Regulatórios; e
 Associados a reputação/imagem.
Ele pode ser acessado em:
http://waterriskfilter.panda.org/FullAssessment.aspx
Página 26
Os resultados são plotados em uma matriz de risco associando-se os riscos decorrentes da
localização aos riscos inerentes da empresa/site. São emitidos automaticamente três
relatórios:

Relatório geral - contém os riscos dos sites envolvidos na análise e apresenta uma
avaliação dos riscos gerais associados às questões hídricas. Apresenta a matriz de
riscos onde são mapeadas todas as unidades (sites) e mapas relacionados à escassez e
a poluição;

Relatório do site (unidade) - Apresenta dados individualizados e exemplos de medidas
mitigadoras para as situações de maior risco;

Relatório em word compatível com o padrão CDP Water Disclosure que facilita
responder o questionário CDP.
4.1.6. WRI-Aqueduct e Water Risk Framework
A metodologia desenvolvida em 2010 pelo instituto World Resources Institute (WRI) os riscos
associados à quantidade, qualidade bem como os riscos regulatórios e de reputação/imagem.
A versão mais recente pode ser acessada em: www.wri.org/aqueduct. A figura a seguir indica
a estrutura dos riscos considerada nesta metodologia/avaliação:
Figura 7. Riscos usados pelo WRI (WRI, 2012).
Página 27
Esta metodologia contempla duas escalas:

Mapa Global: considera aspectos como estresse, reuso, estiagens/secas a partir de
modelos de variação climática (IPCC- 2025, 2050, e 2095 para cenários B1, A1B, e
A21);

Mapa específico para as 10 bacias hidrográficas mais representativas em relação
ao estresse hídrico.
4.1.7. European Water Stewardship (EWP), Alliance for Water Stewardship (AWS) e Water
Stewardship Australia (WSA)
São iniciativas com abordagem similar. O objetivo é obter um padrão/norma certificável que
estabeleça diretrizes e critérios que evidenciem o uso responsável da água nas organizações.
As iniciativas europeia (EWP) já está implementada.
A versão internacional da norma que está sendo desenvolvida pela Alliance for Water
Stewarship, está na versão draft.
A iniciativa Australiana está em fase de consolidação.
Uma característica comum destas iniciativas é a sua vinculação estreita com a bacia
hidrográfica e com as condições locais.
European Water Stewardship (EWP)
A entidade responsável por esta norma/padrão é a European Water Partnership (EWP).
Ela têm quatro (04) princípios, 14 critérios que são desdobrados em 53 indicadores.
A estrutura básica do sistema de certificação e os princípios estão indicados na figura 8.
Página 28
Figura 8. Representação esquemática do sistema europeu de certificação do uso responsável
da água
Os indicadores são classificados em dois níveis de relevância (maior e menor) além dos
indicadores não obrigatórios. Similarmente a outras normas, o não atendimento a um
requisito obrigatório acarreta não conformidade, que poderá ser maior ou menor dependendo
do tipo do indicador.
A certificação requer que sejam atendidos 100% dos indicadores de maior relevância e, como
forma de estimular a melhoria contínua, estão previstos três tipos de certificados dependendo
do nível de conformidade aos requisitos menos relevantes, conforme se segue:
 Bronze =
>50% de conformidade para requisitos de menor relevância;
 Prata =
>70% de conformidade para requisitos de menor relevância;
 Ouro =
>90% de conformidade para requisitos de menor relevância;
Página 29
Alliance for Water Stewardship (AWS)
Está em fase de consolidação, sob a coordenação da AWS um padrão de abrangência
internacional denominado International Water Stewardship Standard (IWSS).
A versão draft deste padrão de março de 2012, publicada em português pode ser acessada em:
http://www.allianceforwaterstewardship.org/Certificacao_AWS_Primeira_Versao_v_13_03_2
012_Versao_1_Portugues_Brasil-LR.pdf
Os princípios da norma, previstos na versão draft estão mostrados no quadro a seguir:
Quadro 8. Princípios do AWS.
Página 30
Além dos princípios, são previstos 12 passos listados a seguir (AWSb, 2012):
1. Assumir um compromisso de liderança;
2. Medir o uso de água do empreendimento;
3. Medir o uso de água na área de influência definida;
4. Medir o status atual da água na área de influência definida;
5. Medir os impactos e riscos para a área de influência decorrentes do uso de água pelo
empreendimento;
6. Medir e gerenciar o uso indireto de água pelo empreendimento;
7. Formular planos para impactos decorrentes de situações contingenciais;
8. Formular e disseminar internamente um plano ou política robusta de uso responsável da
água;
9. Cumprir com a legislação vigente e respeitar os direitos de uso da água;
10. Reduzir os impactos relacionados à água no empreendimento e dentro da área de
influência definida;
11. Desenvolver e manter a capacidade necessária para promover o uso responsável da água;
12. Divulgar os planos, ações e resultados do uso responsável da água.
É possível observar que existem aspectos nesta norma que podem impactar o setor produtivo
e dificultar sua implementação. Em especial na questão da abrangência dos impactos e do
monitoramento– quando é mencionado “dentro da área de influência”.
4.2.
INICIATIVAS VOLTADAS ÀS OPERAÇÕES
Dentre as inciativas com foco nas operações, podemos destacar: Global Water Tool (GWT),
GEMI Local Water Tool, Water Accounting an Australian Framework for the Minerals Industry,
e BATs (Best Available Techniques - Integrated Water Pollution and Control IPPC)
4.2.1. Global Water Tool (GWT)
Esta metodologia foi desenvolvida pelo WBCSD (World Business Council for Sustainable
Development) em 2007. A versão em excel mais recente é de 2012 e está acessível em:
http://www.wbcsd.org/work-program/sector-projects/water/global-water-tool.aspx
A partir de dados do inventário de uso da água em diversos sites (operações diretas e cadeia
de suprimentos), esta ferramenta permite obter indicadores GRI, CDP Water, Bloomberg, Dow
Jones Sustainability Index, bem como indicadores de risco e de performance, que são
apresentados na forma de tabela e gráficos.
Página 31
Há também a possibilidade de correlacionar os locais onde é feita a retirada/consumo com a
disponibilidade hídrica de região. Esta disponibilidade é relacionada aos seguintes índices:






Environmental Water Stress Index
Physical and Economic Water Scarcity
Annual Renewable Water Supply per Person (1995)
Annual Renewable Water Supply per Person (Projections for 2025)
Mean Annual Relative Water Stress Index
Biodiversity Hotspot (2004)
4.2.2. GEMI Local Water Tool
Global Environmental Management Initiative (GEMI) coordenou o desenvolvimento desta
ferramenta em parceria com o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD)
e a associação global da indústria de petróleo e gás para assuntos ambientais e sociais (IPIECA).
O objetivo e auxiliar as empresas na gestão de riscos, impactos e outros aspectos relacionados
ao uso dos recursos hídricos nas organizações.
A ferramenta, desenvolvida em excel, contém 05 módulos ou estágios:





Módulo 1: Uso da água, impactos e avaliação das fontes utilizadas;
Módulo 2: Avaliação dos riscos;
Módulo 3: Avaliação das oportunidades;
Módulo 4: Diretrizes, objetivos e metas;
Módulo 5: Estratégia de implementação e planos de ação;
Estes módulos permitem:
•
•

Identificar e classificar impactos, riscos e oportunidades por site;
Elaborar e implementar planos de ação para o gerenciamento efetivo do uso da água
tendo-se por base os impactos e riscos;
Desenvolvimento de indicadores e relatórios compatíveis com os padrões Bloomberg,
CDP Water e Dow Jones, Sustainability Index e GRI.
Em termos de facilidade de utilização é mais complexa do que a ferramenta Aqua Gauge,
embora tenha mais funcionalidades.
Página 32
4.2.3. Water Accounting an Australian Framework for the Minerals Industry
Este modelo de contabilidade da água faz parte de um programa iniciado em 2005 pelo
Conselho Australiano de Mineração (MCA) e, a partir de 2007, foi realizado em parceria com o
Instituto da Universidade de Queensland – Sustainable Minerals Institute (SMI).
A demanda por este tipo de modelo já era bem estabelecida, tendo-se em vista os problemas
de contabilização do uso da água que permitissem a comparação de dados e avaliação e
divulgação de desempenho com relação ao uso da água para empresas do setor.
É importante distinguir a contabilidade da água da divulgação de dados sobre o uso da água. A
contabilidade da água permite consolidar o balanço hídrico, enquanto que a divulgação de
dados sobre o uso da água depende do público alvo e da sua utilização.
A figura a seguir apresenta de forma esquemática a questão das métricas (contabilidade) e
modelos de relatórios.
Figura 9. Representação das métricas da água e dos relatórios
O objetivo deste modelo de contabilidade da água é prover:
•
•
Uma abordagem consistente e sistemática para quantificação dos fluxos de entrada e
saída de água;
Uma abordagem consistente para divulgação das métricas de uso da água na
mineração que permitam comparação com outros usuários;
•
Página 33
•
•
Uma abordagem consistente para quantificação da reutilização de água e da sua
eficiência neste aspecto;
Uma alternativa para as empresas que ainda não tem um modelo de balanço de uso da
água.
Este modelo prevê a produção de 04 tipos de avaliações:
I - Quadro consolidado dos fluxos de água associados aos usos, entradas, saída
(descartes e perdas), desvios, variações de estocagens (reservação) no período
avaliado;
II - Determinação da eficiência operacional relacionada à reutilização da água;
II I- Estimativa da precisão dos dados;
IV - Informação contextualizada dos dados com as condições locais.
A representação esquemática deste modelo é mostrada na figura 10.
Figura 10. Modelo Operacional ( Australian Minerals Institute)
O modelo operacional também estabelece a metodologia para cálculo da eficiência
operacional ou de reutilização*, como se segue:
Página 34
* Para fins de simplificação, utilizou-se o conceito de reutilização, que neste caso é soma do
reuso e do reciclo. A metodologia original considera duas eficiências separadamente: de reuso
e de reciclo.
Como ferramenta auxiliar existe um arquivo em excel que permite compilar os dados básicos e
reportar os dados de uso da água segundo indicadores GRI.
Em relação ao balanço hídrico, a figura 11 apresenta o quadro da planilha excel onde são
tabulados os dados de entradas, saídas e desvios.
Página 35
Figura 11 . Quadro de entradas e saídas (SMI-MCA)
Página 36
O fluxograma básico resultante da aplicação deste modelo é bem simples e permite uma
visualização didática do balanço hídrico, conforme mostrado na figura a seguir:
Figura 12. Fluxograma de um balanço hídrico em uma unidade de mineração
A versão mais atualizada do guia para uso da metodologia foi publicada em abril de 2012 e
está acessível em:
http://www.minerals.org.au/file_upload/files/resources/water_accounting/WAF_UserGuide_v
1.2.pdf
Esta metodologia é a única (em relação as demais mencionadas nesta avaliação) que tem foco
no balanço hídrico considerando os aspectos de reservação e de desvios, que são situações
típicas da mineração.
É possível constatar que este modelo de balanço hídrico pode ser aplicado a outras tipologias,
pois é fácil entendimento e o fluxograma tem apresentação bem didática.
Página 37
Como aspecto negativo, o sistema de planilhas não permite exportar dados para um sistema
integrado de forma que o gestor possa acompanhar a evolução dos balanços, e/ou comparar
unidades entre si. Estas avaliações precisam ser feitas em separado.
4.3.
INICIATIVAS VOLTADAS AOS PRODUTOS (PEGADA HÍDRICA)
Dentre as iniciativas com foco nos produtos destacam-se a WFN (water footprint network) e a
norma em desenvolvimento no âmbito da ISO - a norma ISO/DIS 14046.2.
A abordagem voltada aos produtos é mais complexa, já que inclui usos/consumos indiretos ao
longo da cadeia produtiva, bem como a identificação e quantificação dos impactos ambientais
potenciais.
4.3.1.
WFN – Water footprint network
Trata-se de uma metodologia que considera os consumos volumétricos diretos e indiretos de
água azul, cinza e verde para a produção de bens.
Embora o material publicado em 2011 “The Water Footprint Assessment Manual” -Setting
the Global Standard, faça referência ao termo “standard” trata-se de uma metodologia.
Avaliações recentes indicam que esta metodologia requer uma maior consistência e
padronização de conceitos. Sua aplicação também é bastante discutível, já que embora os
dados de “pegada hídrica” tenham sido divulgados na mídia, eles não têm base para
comparação e podem gerar confusão para os consumidores.
Estas fragilidades, bem como seu processo de construção, consolidação e aplicação não
apresentam condições suficientes para a formação de um padrão e/ou norma de referência,
conforme exemplos de normas já criadas ou em desenvolvimento passíveis de
verificação/certificação (normas ISO, por exemplo).
Em termos conceituais as questões mais polêmicas desta metodologia são:

O conceito de água cinza. Embora a vazão de diluição possa ser um critério adotado
para “mensuração” de cargas lançadas tendo-se em vista as condições dos corpos
hídricos, sua agregação junto com os fluxos quantificados – é questionado por
especialistas. Fisicamente não é um valor retirado e/ou consumido de forma direta.
Portanto, estariam sendo “misturadas” grandezas de características diferentes. Outro
aspecto a considerar são os valores denominados de “concentração máxima permitida
nos corpos hídricos” usados para calcular a quantidade de água cinza. Esta fórmula
induz que para uma mesma condição de lançamento (carga) e condição natural,
dependendo da concentração limite máxima – ter-se-ão diferentes pegadas cinzas.
Página 38
Deste modo, para um mesmo produto e mesma condição natural, a pegada cinza será
maior no país que tiver um padrão ambiental mais restritivo. Isto é uma distorção que
obviamente compromete esta métrica.

Conceito e aplicação da “água verde” – que é a quantidade de água de chuva que
evapotranspira pelas plantas (não é a água de irrigação – que segundo esta
metodologia é água azul). Ao introduzir esta “fração” que representa na grande
maioria dos casos, mais de 90% do cômputo da pegada hídrica dos produtos, vinculase esta métrica (“pegada”) a um efeito/indicador que está muito mais associado ao
uso do solo do que ao impacto da desta “retirada” no balanço hídrico. Se o objetivo
desta métrica é associar a ação antrópica do plantio/uso do solo) aos impactos no
balanço hídrico, pergunta-se: A substituição do plantio por florestas causariam efeito
benéfico no balanço hídrico local em relação a evapotranspiração ? Muito
provavelmente não!!
Devido às distorções neste conceito, a pegada hídrica do etanol seria superior a da
gasolina (a grande diferença seria a água verde).
Segundo especialistas, este indicador está muito mais vinculado ao uso do solo do que
a água em si, causando, portanto, distorção na quantificação da pegada hídrica
(Ridoutt, B. e Pfister, S.,2009).
Talvez para deixar um pouco mais claro a questão da ação antrópica e o objetivo de se
mensurar e criar indicadores que permitam fazer um uso mais racional do recurso, seja
importante mencionar a água azul. Este indicador tem sua associação direta com ações
associadas à gestão e uso da tecnologia de irrigação, por exemplo.
Fica evidente que a redução do uso de água na irrigação gera um beneficio ambiental
de redução na retirada de água e nas suas perdas associadas. Não existe, sem a ação
antrópica um uso “natural/concorrente”de água azul. Quais seriam, em contrapartida,
as ações de controle para minimizar a pegada verde? Reduzir área plantada? E, se no
lugar da área plantada for plantado espécies nativas, a evapotranspiração seria menor
neste local?
Em relação à utilização desta metodologia para quantificar a pegada hídrica de produtos para
afirmações comparativas e ou como forma de associar padrões de desempenho de produtos,
os pontos questionáveis mais importantes são:



Falta de limites claros de escopo e abrangência;
Vinculação com características locais (água cinza) que distorce os valores não
permitindo comparação;
Ausência de um processo estruturado necessário para o desenvolvimento e validação
de uma norma que poderá ser aplicada nas organizações, sem o risco de se
transformar em barreiras não tarifárias ou de causar distorções para os consumidores
e empresas.
Página 39
Apesar destes aspectos conceituais e operacionais, a “pegada hídrica” tem boa inserção na
mídia e na sociedade em geral, ao mesmo tempo em que pode ser útil para sinalizar sobre a
importância do uso racional da água. Também pode ser usada como uma abordagem de
melhoria da gestão da água nas empresas, sem, contudo, focar na divulgação de dados ou em
afirmações comparativas.
4.3.2.
Water footprint – “Environmental management — Water footprint — Principles,
requirements and guidelines”. ISO/DIS 14046.2.
4.3.2.1. Contextualização
A partir de iniciativas da contabilização da pegada hídrica, foi criado um grupo de trabalho
(WG8 – Working group) no subcomitê de avaliação do ciclo de vida (SC5) no âmbito da ISO,
com o objetivo de criar uma norma para determinar a pegada hídrica.
Deste modo, a ISO 14046 tem previsão de publicação em 36 meses contatos a partir de julho
de 2011. A versão atual está no estágio DIS (Draft International Standard).
Esta proposta segue em linha com a avaliação do ciclo de vida de produtos, cuja questão
primordial é viabilizar uma metodologia de quantificação dos impactos potenciais relacionados
ao uso da água.
4.3.2.2. Avaliação de ciclo de vida (ACV)
Um estudo de ACV é composto por quatro fases:
a) a fase de definição de objetivo e escopo,
b) a fase de análise de inventário,
c) a fase de avaliação de impactos e
d) a fase de interpretação.
O escopo de uma ACV, incluindo a fronteira do sistema e o nível de detalhamento, depende do
objeto e do uso pretendido para o estudo. A profundidade e a abrangência da ACV podem
variar consideravelmente dependendo do objetivo do estudo em particular.
A fase de análise de inventário do ciclo de vida (ICV) é a segunda fase de uma ACV. Trata-se de
um inventário dos dados de entrada/ saída associados ao sistema em estudo. Essa fase
envolve a coleta dos dados necessários para o alcance dos objetivos do estudo em questão.
A fase de avaliação de impacto do ciclo de vida (AICV) é a terceira fase da ACV. O objetivo da
AICV é prover informações adicionais para ajudar na avaliação dos resultados do ICV de um
sistema de produto, visando ao melhor entendimento de sua significância ambiental.
Página 40
A interpretação do ciclo de vida é a fase final do procedimento de ACV, na qual os resultados
de um ICV e/ou de uma AICV, ou de ambos, são sumarizados e discutidos como base para
conclusões, recomendações e tomada de decisão de acordo com a definição de objetivo e
escopo.
Em alguns casos, o objetivo de uma ACV pode ser alcançado através da realização apenas de
uma análise de inventário e de uma interpretação. Esse procedimento é usualmente
denominado estudo de ICV.
Geralmente, as informações desenvolvidas em um estudo de ACV ou ICV podem ser usadas
como parte de um processo decisório muito mais abrangente. A comparação dos resultados de
diferentes estudos de ACV ou ICV só é possível se os pressupostos e o contexto de cada estudo
são equivalentes.
Estas fases estão indicadas na figura a seguir.
Para a fase de inventário, a falta de dados de processo ao longo da cadeia produtiva implica
em usar base de dados – normalmente mantidas por empresas privadas – que
necessariamente podem não ser verdadeiras para todas as empresas, considerando-se
aspectos tecnológicos, setoriais ou regionais. Com isso, os dados “finais” ou seja, a soma dos
fluxos elementares será estimada com base nestes valores, podendo-se ter distorções
importantes.
A fase de avaliação dos impactos consiste em relacionar os fluxos elementares quantificados
na fase de inventário com os indicadores de impacto associados à saúde humana, meio
ambiente e depleção de recursos.
Página 41
As categorias de impacto podem ou não estar associadas à questão da escassez do recurso- no
caso da depleção dos recursos naturais.
Categorias de impacto que usam características inerentes a um determinado composto
produzem fatores robustos, mas de baixa relevância ambiental, já que não estão associadas a
escassez.
A publicação da Comissão Europeia (EC - Joint Research Centre - Institute for Environment and
Sustainability): “International Reference Life Cycle Data System (ILCD) Handbook - Framework
and Requirements for Life Cycle Impact Assessment Models and Indicators” de 2010, destaca
estas dificuldades.
Em especial quando se trata de depleção dos recursos naturais é sugerido que seja criada uma
categoria de impacto para a água devido a sua “dependência regional”.
A quantificação dos impactos ambientais potenciais associados à fabricação de produtos é
portanto, um dos principais desafios da avaliação do ciclo de vida dos produtos.
A falta de dados locais e de modelos aplicáveis para o Brasil são dificuldades reais de aplicação
da metodologia de ACV para produtos brasileiros.
Em vista disso, a grande maioria dos estudos e avaliações do ciclo de vida fica restrita a
elaboração e análise de inventário. Esta limitação, entretanto, não compromete a ACV se o seu
propósito tem foco na melhoria do desempenho no processo produtivo e na identificação de
relevância ambiental das demais etapas ao longo do ciclo de vida.
Se o objetivo da ACV for à divulgação do desempenho ambiental de um produto ou para
afirmações comparativas (comparações entre produtos), estas limitações comprometem
obviamente sua utilização para estes fins.
4.3.2.3.
Norma ISO 14.046 e metodologia de ACV para a pegada hídrica
As normas desenvolvidas pela ISO têm como princípio evitar a criação de barreiras não
tarifárias, bem como estabelecer padrões que permitam a normalização das métricas, critérios
definidos de escopo, de função, etc., minimizando com isso distorções na sua aplicação.
Este aspecto é particularmente importante e desafiador em normas que pretendem mensurar
o desempenho ambiental de produtos por intermédio de ferramentas de avaliação do ciclo de
vida para divulgação ao público ou para comparação de produtos.
No caso da pegada hídrica, as dificuldades relativas à quantificação dos impactos ficam
amplificadas em função das características deste recurso, notadamente com influência local,
diferentemente da pegada de carbono, por exemplo.
Página 42
Cabe mencionar também que nos estudos de ACV a quantificação e avaliação dos impactos
associados ao uso da água são incipientes em relação ao aspecto de depleção dos recursos
naturais. O foco destes estudos usualmente consideram as categorias de impacto relacionadas
ao meio ambiente (eutrofização, toxicidade e acidificação) e à saúde humana.
A inclusão da disponibilidade no cômputo da pegada hídrica prevista nesta norma é outro
aspecto dificultador no desenvolvimento da metodologia. Uma pegada hídrica em uma região
de escassez será diferente da pegada calculada em uma região de abundância de água, quando
se considera o aspecto disponibilidade.
Em vista disso, as definições associadas à escassez e estresse hídrico ainda estão sendo
discutidas. O mesmo acontece com a definição de consumo, que afeta sobremaneira setores
como o da mineração, tendo-se em vista a questão dos desvios (água de rebaixamento o
lençol).
Apesar destas questões, um aspecto positivo desta norma será a padronização das métricas,
pelo menos no nível de inventário, bem como a definição de escopo, fronteiras, dentre outros
requisitos de ACV.
Entretanto, o seu uso para afirmações comparativas em relação ao uso da água dependerá
ainda da consolidação das questões conceituais e da disponibilidade de dados e de modelos de
impacto.
A complexidade da ferramenta ACV contribui para a falta de clareza das organizações em
relação à execução e aplicações da avaliação do ciclo de vida de produtos. Esta complexidade
também acarreta que seus conceitos e aplicações fiquem restritos a especialistas/academia
dificultando o entendimento de suas limitações.
Esta preocupação é mais relevante na norma de pegada hídrica, que têm um foco voltado a
demanda da sociedade em identificar produtos com melhor desempenho ambiental.
Dificilmente a pegada hídrica é entendida/vista como uma ferramenta associada a processos
internos avaliação e melhoria do desempenho ambiental.
Por fim, afirmações comparativas (entre produtos) devem ser vistas com cautela em relação à
pegada hídrica – mesmo que sua quantificação siga rigorosamente o padrão ISO 14046. Do
ponto de vista ambiental, não se pode afirmar que um produto é superior a outro usando-se
somente a pegada hídrica. Um produto com uma pegada hídrica menor pode apresentar
impactos potenciais muito maiores em relação às outras categorias de impacto, por exemplo,
impacto no uso do solo, impacto na qualidade do ar, etc.
Página 43
4.4.
OUTRAS INICIATIVAS
Ferramenta de Avaliação de risco para grandes usuários de água (Watershed Risk
Assessment Tool for Large Water Users)
É uma ferramenta de domínio privado que foi desenvolvida pela TNC - The Nature
Conservancy, com foco nos impactos no âmbito da bacia hidrográfica.
Não foi possível obter mais detalhes da metodologia e/ou da ferramenta.
http://www.conservationgateway.org/topic/corporate-water-use
Pegada hídrica, neutralidade e eficiência - Water Footprint, Neutrality & Efficiency (WaFNE)
Umbrella (UNEP)
Projeto de três anos (2009/10 – 2012/13) que conta com diversas instituições parceiras, dentre
elas: UNEP Finance Initiative - FI (Geneva), International Environmental Technology Centre IETC (Osaka) UN Global Compact – CEO Water Mandate Business & Industry, UN-Waters,
Pacific Institute, Water Footprint Network e UNEP/ SETAC International Life Cycle Initiative ILCI, Global Reporting Initiative – GRI, dentre outras.
http://www.unep.fr/scp/water/WAFNE.htm
O projeto tem quatro componentes principais:
• Componente 1: Promoção, aperfeiçoamento das metodologias e ferramentas de
contabilização do uso da água e dos seus conceitos;
• Componente 2: Aplicação dos conceitos e ferramentas em setores industriais
selecionados;
• Componente 3: Utilização das ferramentas e conceitos no setor financeiro;
• Componente 4: Aplicação da contabilização/pegada hídrica e seus conceitos em regiões
selecionadas.
Este projeto já publicou três relatórios específicos, que foram incorporados na publicação mais
recente denominada: Water Footprint and Corporate Water Accounting for Resource
Efficiency (2011) e disponível em:
http://www.unep.fr/shared/publications/pdf/DTIx1411xPA-WaterFootprint.pdf
Neste relatório, além de uma análise detalhada de aplicação da pegada hídrica, aborda as
ferramentas e iniciativas de contabilização da água e da sua governança.
Página 44
5.
USO DAS MELHORES TÉCNICAS – BATS (Best available techniques IPPC -Integrated
Water Pollution and Control)
Trata-se de uma abordagem tecnológica voltada aos processos produtivos para promover a
melhoria do desempenho ambiental.
É uma iniciativa da União Europeia, promovida pelo IPPC – Integrated Pollution Prevention
and Control estabelece padrões tecnológicos de produção para diferentes setores produtivos,
sob a forma de BATs – Best Available Techniques.
Estes padrões são referências para as diretivas europeias.
Para tanto são publicados diversos documentos de referência que tratam de conjuntos de
processos e tecnologias afins, denominados: BREF – BAT reference document.
Para o setor Alumínio estão incluídos no documento que contempla os processos produtivos
de metais não ferrosos (IPPCa, 2009):
• Cobre (incluindo Sn e Be) e suas ligas;
• Alumínio;
• Zinco, chumbo e cádmio, (+ Sb, Bi, In, Ge, Ga, As, Se, Te);
• Metais preciosos;
• Mercúrio;
• Metais refratários;
• Ferro-ligas;
• Metais alcalinos e alcalino-terrosos;
• Níquel e cobalto;
•Eletrodos de Carbono e grafite;
A fonte de consulta/download é:
http://eippcb.jrc.ec.europa.eu/
É importante destacar que a abordagem tecnológica do IPPC tem foco à redução das emissões
em geral (hídricas, atmosféricas e geração de resíduos). A questão do uso da água não é
muitas vezes bem detalhada.
Cabe mencionar também que existem referências transversais associadas a alguns processos
que são comuns a mais de uma tipologia, conforme quadro a seguir:
Página 45
Documento de referência
Grandes plantas de combustão (LCP)
Processamento de metais ferrosos (FMP)
Emissões em estocagem (EFS)
Sistemas industriais de resfriamento (ICS)
Princípios gerais de monitoramento (MON)
Eficiência energética (ENE)
Aspectos econômicos e ambientais associados com uso
das melhores técnicas disponíveis
Atividade
Com geração térmica superior a 50 MW
Revestimento, lingotamento, decapagem, etc.
Estocagem e armazenamento
Resfriamento
Monitoramento de emissões e consumos
Eficiência energética
Estabelece diretrizes para fazer esta avaliação
Quadro 9. Referências transversais de documentos
5.1.
PRODUÇÃO DE METAIS NÃO FERROSOS ASPECTOS COMUNS
A abordagem neste item é abrangente e voltada para aspectos comuns a todos os processos
produtivos.
5.1.1. Prevenção e controle das emissões hídricas
O controle das emissões deve ser estendido à estocagem e manuseio de matérias-primas além
do da prevenção e controle com foco no processo produtivo.
Este controle deve contemplar ações preventivas e corretivas (sistemas de tratamento – “endof-pipe”).
O reuso ou reciclo é sempre recomendável se houver condições técnicas, pois permite a
redução no uso de água fresca. A avaliação do custo-benefício da implantação destes sistemas
deve considerar os custos envolvidos na coleta, tratamento da água para verificar a taxa de
retorno destes investimentos. Aspectos associados à escassez e riscos de desabastecimento
também devem fazer parte do estudo de viabilidade.
O uso de boas práticas na estocagem e manuseio de matérias-primas permite reduzir as
emissões bem como a geração de efluentes. Na tabela a seguir estão indicadas algumas
técnicas recomendadas para manuseio e estocagem.
Página 46
Matéria-prima
Concentradas
Em pó ou
finamente
granulada
Secundárias
Fundentes
Combustíveis
sólidos
Combustíveis
líquidos
Solventes
Gases de
processo
Produtos,
catodos, lingotes,
tortas, etc.
Resíduos de
processo para
recuperação
Resíduos
Tipo de metal
Todos – geração
de pó
Todos – sem
geração de pó
Metais refratários
Manuseio
Transportadores
fechados
Transportadores
cobertos
Transportadores
fechados ou cobertos
Estocagem
Local fechado
Grandes
quantidades
Pequenas
quantidades
Finamente
dividido
Todos – geração
de pó
Todos – sem
geração de pó
Todos
Mecanizado
Local aberto
“Charge skips”
Baias cobertas
Sistema fechado
Local fechado houver
geração de pó
Local fechado
Todos
Transportadores
fechados
Transportadores
cobertos
Transportadores
cobertos se não há
formação de pó
Tubulação aérea
Comentários
Prevenção da
contaminação da água
Local coberto
Local fechado
Prevenção da
contaminação da água ou
reações com a água
Prevenção da
contaminação da água
Prevenção da
contaminação da água
Local coberto
Local coberto se não há
formação de pó
Estocagem seguindo
padrões de segurança
Tanques, tambores
“Back venting”
Estocagem seguindo
padrões de segurança
Local com piso
concretado ou coberto
“Back venting”
Todos
Tubulação aérea e
pressão reduzida
Depende da condição
Todos
Depende da condição
Prevenção da
contaminação da água
Todos
Depende da condição
Local aberto, coberto ou
fechado dependendo da
situação
Baias abertas, cobertas
ou fechadas, dependendo
da situação
Cu, Ni, Zn,Metais
preciosos e
carbono
Todos
Tubulação aérea
“Back venting”
Sistemas de drenagem
apropriados
Prevenção da
contaminação da água
Quadro 10. Técnicas comuns para redução das emissões na armazenagem e manuseio de
matérias-primas (IPPCa, 2009)
5.1.2. Geração e tratamento de efluentes
Os efluentes gerados nos sites de processo podem ter as seguintes origens:

Coleta e tratamento de gases;

Runoff;

Sistemas de resfriamento;

Processo;

Outros.
Página 47
A seguir serão descritos as principais fontes e seu controle.
Oriundos da coleta e tratamento de gases
Embora seja recomendado o uso de sistemas secos de purificação de gases, isto nem sempre é
possível. Deste modo, os efluentes gerados requerem tratamento antes do seu descarte.
Além de neutralização e/ou sedimentação, muitas vezes sistemas mais avançados são
requeridos para purificar estes efluentes ou mesmo, reaproveitar compostos de alto valor.
Os efluentes ácidos gerados em precipitadores eletrostáticos podem ser tratados e
reaproveitados de diversas maneiras:



Concentração e decomposição em alto-forno para recuperação posterior de SO2;
Tratamento e posterior reaproveitamento no sistema de lavagem;
Tratamento e reuso em outros processos.
Se a água de lavagem contiver cianetos, é preciso implantar sistemas de remoção, como por
exemplo, usar este efluente nos sistemas de “slag granulation”, onde o cianeto será evaporado
e/ou oxidado.
Outra fonte importante de efluente é originada nos sistemas de remoção de mercúrio
presentes nos gases. Neste caso, a remoção de mercúrio deve ser feita antes do seu envio
para a ETE.
O efluente gerado pelo “blowdown” dos sistemas deve ser encaminhado a ETE.
Oriundos do Runoff
Os efluentes gerados pelo contato da água da chuva com matérias-primas ou telhados podem
estar contaminados. Sua coleta, pré-tratamento e reaproveitamento é uma excelente forma
de reduzir o uso de água e minimizar o volume de efluente a ser tratado na ETE.
Oriundos dos Sistemas de resfriamento
Os efluentes provenientes de sistemas de resfriamento de contato indireto podem a maior
parte das vezes serem descartados sem prévio tratamento. Sistemas que operam em circuito
fechado precisam de descargas eventuais. Estas descargas devem ser encaminhadas a ETE.
Página 48
Sistemas de resfriamento de contato direto, normalmente carreiam muitos sólidos e
contaminantes, e, portanto, precisam de tratamento antes do seu descarte ou mesmo, antes
do seu encaminhamento a ETE.
Oriundos do processo
As principais fontes de geração de efluentes estão associadas aos processos de: lavagem de
gases, lixiviação, purificação e eletrólise.
Quando possível a recuperação de metais é recomendada para os efluentes do sistema de
lavagem de gases. Para os efluentes da lixiviação e purificação, recomenda-se o seu
reaproveitamento nas próprias unidades de processo. O efluente da eletrólise pode ser
reaproveitado no processo de purificação, ou retornar ao processo de eletrólise após
tratamento.
O processo de lixiviação consiste em transferir para a solução o(s) metal (ais) de interesse do
processo.
Os agentes utilizados para tal são compostos cujas características permitirão esta solubilização,
tais como:
 Compostos hidrossolúveis (ex. sulfato de cobre);
 Ácidos sulfúrico, clorídrico ou nítrico, ou hidróxido;
 Agentes complexantes (cianetos ou amônia);
 Agentes oxidantes ou redutores;
 Sistemas ácido-base de recuperação de compostos.
Os processos envolvidos na produção dos metais sãos diversos, sendo comum a necessidade
de descartes de soluções para manter as condições adequadas nos processos. Estes descartes,
conforme foi mencionado acima, podem ser reaproveitados em etapas iniciais, ou até mesmo
no próprio processo, se houver pré-tratamento.
Outras fontes de efluentes
As mais importantes são:
 Licores do processo de produção de alumina;
 Efluentes da decapagem;
 Efluentes ácidos (ex. produção de ácido sulfúrico).
Página 49
Efluente
Processo
Eletrólise
Processo
Produção de
alumina,
decapagem, etc.
Resfriamento de
fornos para a
maioria dos metais
e do eletrólito (Zn)
Fundição Al, Cu, Zn,
eletrodos de
carbono
Cu, Ni, Pb, Zn, ligas
metálicas, metais
preciosos
Cu, Ni e Zn
Descargas de fundo
Zn e Cd
Águas superficiais
Todos
Sistema de resfriamento
(contato indireto)
Sistema de resfriamento
(contato direto)
Trituradores/Britadores
Minimização
Retorno ao processo
sempre que possível
Tratamento
Neutralização, precipitação
e eletrólise
Sistemas selados ou
resfriados a ar;
detectores de
vazamento
Sedimentação e
sistemas em circuito
fechado.
Sedimentação
Sedimentação e
precipitação se necessário
Sedimentação e
precipitação se necessário
Sistemas fechados e
“electrowinning of
electrolyte bleed”
Reuso de águas ácidas
se possível
Boa estocagem de
matérias-primas e
prevenção de emissões
difusas
Neutralização e precipitação
Sedimentação e
precipitação se necessário
Sedimentação e
precipitação se necessário.
Filtração
Quadro 11. – Efluentes – Quadro resumo: fontes, minimização e tratamento (IPPCa, 2009)
5.1.3. Descrição das técnicas (BATs) para reduzir o uso de água e a geração de efluentes.
Para redução de água e de efluentes a recomendação é o fechamento dos circuitos, num nível
compatível com as propriedades requeridas no processo/produto.
BAT
a
Monitoramento e otimização do uso de água
b
Avaliação das oportunidades de reutilização
c
Simulação/avaliação dos impactos no processo decorrentes do fechamento dos
circuitos (reutilização)
d
Separação para posterior reuso da água de selagem das bombas de vácuo com menor
contaminação
e
Separação e reaproveitamento da água de resfriamento não contaminada
f
Reutilização da água de processo em substituição a água fresca
g
Tratamento da água de processo para viabilizar sua reutilização
Quadro 12. BATs para redução do uso da água (IPPCb, 2012)
Página 50
5.1.4. Sistemas de tratamento de efluentes
A abordagem integrada de prevenção à poluição e end-of-pipe devem ser usadas
simultaneamente.
O controle rigoroso de descargas acidentais é fundamental para manter a performance do
sistema de tratamento.
São carreados para os efluentes os compostos presentes na madeira e outros componentes
residuais de insumos do processo. O tipo de tecnologia usado no tratamento varia de planta
para planta.
5.2.
PRODUÇÃO DE ALUMÍNIO
Pode-se considerar que as principais fontes de emissão estão associadas aos descartes de
águas de refrigeração e águas de chuva, já que os demais usos são feitos em circuitos
fechados.
A contaminação estimada de águas de chuva (runoff) é de 0,03 kg/t Al para sólidos suspensos
e de 0,02kg /t Al para fluoretos dissolvidos.
Se, no entanto, forem utilizados sistemas úmidos de lavadores de gases serão gerados
efluentes que precisam de tratamento.
As concentrações típicas esperadas nos efluentes tratados gerados na produção de alumínio
(redução e planta de anodos) quando é feito o uso das melhores tecnologias estão indicadas
no quadro abaixo.
Composto
Emissão (concentração –
mg/l)
Sólidos suspensos
10
DQO
40
Fluoretos
15
Hidrocarbonetos
< 0,5
Quadro 13. Emissões BATs (IPPCa, 2009)
As emissões específicas para a água associadas a plantas de eletrólise de alumínio que usam
“ventilation air scrubbers or SO2 water scrubbers”.
Página 51
Composto
Fluoretos (kg/ton Al)
Sólidos Suspensos (kg/ton Al)
PAH – Boneff 6 (g/ton Al)
Emissão (concentração – mg/l)
Pre Baked
Søderberg
0,2 - 0,5
0,2 - 0,5
0 – 0,01
8 - 15
Quadro 14. Emissões específicas (IPPCa, 2009 e Socopse, 2009)
6.
ANÁLISE CRÍTICA DAS INICIATIVAS E METODOLOGIAS PARA SUPORTE A GOVERNANÇA
E BOAS PRÁTICAS NO USO DA ÁGUA
De forma resumida, pode-se observar que em relação às ferramentas e metodologias:
a) Não existe um padrão único que comporte métricas e governança (riscos e outros
aspectos);
b) Muitas metodologias ainda não em desenvolvimento;
c) Falta de alinhamento e consolidação de conceitos, a exemplo de
reuso/reciclo/reutilização, bem como consumo/retirada, dentre outros;
d) As ferramentas utilizadas nas iniciativas propostas têm como base planilhas em excel
que dificultam sua utilização no nível corporativo e sua interligação com sistemas de
controle de processo mais robustos;
e) Para a mineração, e qualquer outra tipologia que envolva grandes áreas, barramentos
e reservação, o balanço hídrico deve considerar estes aspectos. Isto significa que a
aplicação de modelos desenvolvidos para unidades industriais (GEMI LWT, por
exemplo) devem ser adaptados para o cálculo do consumo;
f) A norma de pegada hídrica quando publicada, poderá auxiliar na padronização do
inventário, entretanto, carreará as dificuldades existentes (desde 1999) na avaliação
do ciclo de vida no que se refere a o elevado grau de complexidade, mensuração dos
impactos e de sua interpretação.
Página 52
7.
RECOMENDAÇÕES PARA O PROCESSO DE ADOÇÃO DE BOAS PRÁTICAS PARA
CONSERVAÇÃO DA ÁGUA E REDUÇÃO DAS EMISSÕES HÍDRICAS E SUAS FERRAMENTAS
A partir de um PDCA conforme indicado na figura 13, é preciso identificar as ferramentas e
sistemas compatíveis com a política que será (é) adotada pela organização.
Figura 13. Representação do modelo CEO Water mandate
As diretrizes e ações para cada uma das etapas deverão ser estabelecidas e implementadas no
nível corporativo, desdobrando-se até as unidades de negócio.
Idealmente esta gestão deve ser integrada com as demais ferramentas e sistemas de gestão.
Em linhas gerais as diretrizes recomendadas no âmbito das empresas são:
 A padronização das métricas de uso da água, emissões hídricas, eficiência operacional,
índice de reutilização e de balanço hídrico nas unidades operacionais;
 Avaliação das ferramentas e modelos para subsidiar o programa estruturado de
governança da água;
 Definição de indicadores de desempenho;
Página 53
 Sistemática de monitoramento das metas e indicadores;
 Uso das melhores técnicas (BATs);
 Atuação sobre fornecedores;
 Gestão dos riscos associados ao uso da água;
 Divulgação do desempenho;
 Envolvimento da alta direção e atrelamento de metas associadas ao uso racional da
água em programas de remuneração variável;
 Verificação de 3ª parte dos relatórios e/informações sobre o uso responsável da água;
 Em bacias sujeitas e escassez ou estresse hídrico, ou em locais onde se faça uso
intensivo da água, é importante que as empresas participem dos fóruns de discussão
gestão dos recursos hídricos (de forma associativa ou individualizada);
 Participação e apoio por intermédio de parcerias a programas públicos ou privados
voltados a promoção do uso racional da água e melhoria da governança;
O processo iterativo de melhoria contínua deve prever o acompanhamento sistemático das
demandas de mercado, bem como das ferramentas de forma a atualizar o sistema existente.
Aspectos a considerar em relação ao diagnóstico da situação atual
Identificar a situação atual das unidades das unidades de negócio em relação a:










Padronização das métricas de uso da água, emissões hídricas, eficiência operacional,
índice de reutilização e de balanço hídrico;
Monitoramento quali-quantitativo;
Atendimento legal;
Participação em fóruns e programas atrelados ao uso da água;
Uso das melhores técnicas (BATs);
Identificação e quantificação dos riscos (escassez, estresse hídrico, conflitos, etc. );
Atuação sobre fornecedores;
Indicadores de desempenho e padrões de desempenho;
Divulgação do desempenho;
Demandas de mercado.
Página 54
Ferramentas e implementação das ações
A partir deste diagnóstico é possível estabelecer a política da empresa e seus desdobramentos
(ferramentas e implementação das ações) com vistas a uma governança efetiva do uso da
água.
As ferramentas desenvolvidas e em desenvolvimento, envolvem somente parte do processo de
governança, e/ou têm focos diferentes e complementares em parte dos casos.
Deste modo, conforme já mencionado, ainda não têm no mercado, uma única ferramenta que
possa ser referência para um processo de PDCA de boas práticas.
De forma mais abrangente, a figura 14 apresenta a arvore de decisão com as diversas
alternativas de modelos/ferramentas, a partir de demandas das empresas. Foram destacadas
com círculos vermelhos aquelas que têm maior potencial de uso, quer seja pela facilidade,
quer seja pelo grau de desenvolvimento e aplicação para o setor de mineração/alumínio.
Em termos de processo no âmbito das empresas, de forma resumida, sugerem-se as seguintes
etapas:
Etapa
Objetivo
1
Padronização das métricas (balanço
hídrico,
eficiência
operacional,
indicadores específicos)
2
Identificação da forma de tabulação e
armazenagem dos dados
Ferramentas
Avaliar a aderência do modelo proposto
pela Australian Minerals, além do GRI,
BATs, Gemi Local Water Tool
Identificar ferramentas compatíveis com o
padrão do sistema de gestão da
organização
3
Diagnóstico da governança e riscos
Aqua Gauge e Water risk filter
4
Definição das diretrizes para o programa CEO Water Mandate e CDP water
de boas práticas
disclosure
5
Definição de metas e plano de ação
Identificar ferramentas compatíveis com o
padrão do sistema de gestão da
organização
6
Sistematização do programa
Identificar ferramentas compatíveis com o
padrão do sistema de gestão da
organização
Quadro 15. Ferramentas indicadas
Página 55
Do ponto de vista associativo, a exemplo de organizações como a ABAL, recomenda-se:
 Participação nos fóruns e eventos relacionados ao desenvolvimento de normas e
procedimentos que tenham aplicação no setor. Muitos destes grupos não têm
representantes que conheçam a realidade empresarial e os processos produtivos. Com
isso, aspectos conceituais podem gerar conflitos e até inviabilizar a aplicação destas
normas e padrões. Estas dificuldades técnicas podem ser interpretadas pela sociedade
como postura reativa/retrógrada das empresas se não houver a participação efetiva
do setor produtivo quando do desenvolvimento das normas e padrões;
 Internalização desta discussão de forma intra e extra setorial para alinhamentos dos
conceitos, troca de experiências, dentre outros;
 Mapeamento e acompanhamento das demandas e tendências de mercado.
Página 56
Página 57
8.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEO, 2012 . CEO Water Mandate -CEO Water Mandate’s Corporate Water Disclosure GuidelinesAgosto/12.
Acessível em
http://ceowatermandate.org/files/DisclosureGuidelinesES.pdf
CDP, 2010 – CDP water disclosure.
https://www.cdproject.net/en-US/Pages/guidance.aspx
GRI – Global reporting Intiative https://www.globalreporting.org/languages/Portuguesebrazil/Pages/default.aspx
Ceres , 2010. MURKY WATERS? Corporate Reporting on Water Risk - A Benchmarking Study of 100
Companies
http://www.waterfootprint.org/Reports/Barton_2010.pdf
CERES Aqua Gauge
http://www.ceres.org/issues/water/aqua-gauge/aqua-gauge
Ghisi, E. 2004. Instalações prediais de água fria. Florianópolis, Março 2004
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SOCOPSE, 2009. Source Control of Priority Substances in Europe An Inventory and Assessment of
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WBCSD, 2010 –Water for business. Initiatives guiding sustainable water management
in the private sector Version 2 March
http://www.wbcsd.org/web/water4business.pdf
WBCSD a, 2012- Water for Business Initiatives guiding sustainable water management in the
private sector – Agosto 2012
http://www.wbcsd.org/work-program/sector-projects/water/water4biz.aspx
WBCSD b, 2012- Water valuation Building the business case– Outubro 2012
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Página 58
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http://www.ret.gov.au/resources/documents/lpsdp/lpsdp-waterhandbook.pdf
GRI –Global Reporting Initiative - Indicator Protocols Set Environment (EN) – Versão 3.1. 20002011.
https://www.globalreporting.org/resourcelibrary/G3.1-Environment-Indicator-Protocols.pdf
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Acessível em
http://eippcb.jrc.es/reference/BREF/nfm_2d_07-2009_public.pdf
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Ele pode ser acessado em:
http://waterriskfilter.panda.org/FullAssessment.aspx
WRI-Aqueduct e Water Risk Framework
Acessível em: www.wri.org/aqueduct.
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http://www.ewp.eu/activities/water-stewardship/
Alliance for Water Stewardship (AWS)
A versão draft deste padrão de março de 2012, publicada em português pode ser acessada em:
http://www.allianceforwaterstewardship.org/Certificacao_AWS_Primeira_Versao_v_13_03_2012
_Versao_1_Portugues_Brasil-LR.pdf
Página 59
Global Water Tool (GWT)
A versão em excel mais recente é de 2012 e está acessível em:
http://www.wbcsd.org/work-program/sector-projects/water/global-water-tool.aspx
GEMI local water Tool
http://www.gemi.org/localwatertool/
ERM, 2012 - Environmental Resources Management: Operational Water Source Vulnerability
Projeto da associação europeia de cervejeiros.
Disponível em
http://www.brewersofeurope.org/docs/publications/2012/water_library_tool.pdf
CERES, 2012 . Clearing-the-waters-a-review-of-corporate-water-risk-disclosure-in-sec-filings
Disponível em
http://www.ceres.org/resources/reports/clearing-the-waters-a-review-of-corporate-water-riskdisclosure-in-sec-filings
OECD, 2012 - OECD work on Water. Março 2012
http://www.oecd.org/env/resources/49854843.pdf
Ridoutt, B. e Pfister, S., 2009 -A revised approach to water footprinting to make transparent the
impacts of consumption and production on global freshwater scarcity –Elsevier- Global
Environmental Change.
Coordenação: Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da ABAL
Produção do conteúdo: APOENA Assessoria Ambiental
È permitida a reprodução total ou parcial dos dados, tabelas e fluxos
desta publicação, desde que citada a fonte.
São Paulo, agosto de 2013
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