aves de corte de pescoço pelado

Transcrição

aves de corte de pescoço pelado
Revista Brasileira de Ciência Avícola
Print version ISSN 1516-635X
Rev. Bras. Cienc. Avic. vol.3 no.1 Campinas Jan./Apr. 2001
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-635X2001000100002
Resistência ao Estresse Calórico em
Frangos de Corte de Pescoço Pelado
Resistance to Heat Stress of Naked Neck
Broilers
Autor(es) / Author(s)
RESUMO
Silva MAN1
Silva IJO2
Piedade SMS3
Martins E4
Coelho AAD5
Savino VJM6
Aves de duas linhagens, sendo uma portadora do gene
pescoço pelado (Na_) que determina redução no
empenamento, e outra não portadora, com
empenamento normal (nana), foram submetidas a
estresse térmico gradativo (38, 40 e 42ºC), em câmara
climática, nas idades de 28, 35 e 42 dias, com o intuito
de se verificar a resistência ao estresse térmico. Foram
verificadas diferenças significativas entre a temperatura
retal média e a taxa respiratória média da linhagem de
empenamento normal quando comparada com a
linhagem de pescoço pelado, em todas as idades e
períodos de estresse. Foram verificados valores mais
altos das aves de empenamento normal, demonstrando a
influência do conjunto temperatura de estresse térmico
e idade. Pôde-se constatar que houve diferença
significativa entre as linhagens para as médias de perda
de peso apenas aos 35 dias de idade. Os resultados
obtidos sugerem que a linhagem de pescoço pelado
(Na_) possui maior resistência ao estresse térmico em
relação à linhagem de empenamento normal (nana).
1, 4, 5, 6 -Depto. de Genética ESALQ/USP - Piracicaba
2-Depto. de Engenharia Rural ESALQ/USP - Piracicaba
3-Depto. de Ciências Exatas ESALQ/USP - Piracicaba
Correspondência / Mail Address
Marco Aurélio Neves da Silva
Depto. de Genética - Setor de
Aves / ESALQ Av. Pádua Dias, 11 - Caixa Postal
83
13400-970 - Piracicaba - SP Brasil
E-
ABSTRACT
Birds of two lineages, a carrier of the Naked Neck gene
(Na_) that determines reduction in the feathering and
mail:[email protected]
Unitermos / Keywords
estresse térmico, resistência,
frango de corte, pescoço pelado
thermal stress, resistance, broiler
naked neck
other non-carrier (normal feathering, nana), were
submitted to thermal stress (38, 40 and 42ºC) in
climatic chambers at 28, 35 and 42 days of age to verify
the resistance to the thermal stress. Significant
differences were verified among the mean rectal
temperature of the normal feathered lineage when
compared with the naked neck lineage, in all the ages
and stress periods, with higher values in the normal
feathered birds. The same result was found for mean
respiratory rate. Significant difference was found for
weight loss between the two lineages only at the age of
35 days. The results obtained suggest that the Naked
Neck lineage possesses higher resistance to the thermal
stress in relation to the normal feathered lineage.
INTRODUÇÃO
As condições climáticas de regiões tropicais (alta temperatura e
umidade) têm interferido negativamente na produtividade e na
qualidade da criação de frangos de corte devido, principalmente, ao
aumento da mortalidade, diminuição da ingestão de água e de
alimento e, conseqüentemente, piora na conversão alimentar (Silva &
Silva, 1998).
Estudos têm sido realizados com o intuito de diminuir o efeito
negativo de ambientes com alta temperatura e umidade na produção
de frangos de corte (Adams & Roegler, 1968; Chwalibog & Eggum,
1989; Howlider & Rose, 1989; Osman et al., 1989; Cahaner &
Leenstra, 1992; Leenstra & Cahaner, 1992; Yalçin et al., 1997).
Trabalhos relatam que frangos de corte portadores do gene Naked
Neck (Na), em função de uma redução de até 40% na plumagem, são
capazes de dissipar mais calor que aves não portadoras, diminuindo
assim a influência negativa da temperatura durante o período de
criação (Yalçin et al., 1997; Cahaner & Deeb, 1998; Yahav et al.,
1998) e melhorando os índices zootécnicos (Mérat, 1986; Mérat,
1990; Lou et al., 1992; Eberhart & Washburn, 1993; Cahaner et al.,
1993, 1994; Yalçin et al., 1997).
Em trabalho realizado, Mazzi (1998) constatou uma maior variação
da temperatura retal média em aves com empenamento normal do
que em aves portadoras do gene Na, de pescoço pelado, quando
expostas ao estresse térmico em relação às aves criadas em
temperatura termoneutra. Esse resultado também foi constatado por
Eberhart & Washburn (1993) e Yahav et al. (1998). Segundo
Eberhart & Washburn (1993) uma maior variação da temperatura
corporal sob condições de estresse térmico está associada à menor
resistência ao calor.
Segundo Mazzi (1998), aves de pescoço pelado, quando submetidas
a uma temperatura de estresse de 36ºC, apresentaram menores
perdas de peso, diferindo significativamente das aves de
empenamento normal. Já quando submetidas à temperatura de 42ºC,
a menor perda de peso das aves pescoço pelado não foi considerada
significativa quando comparada com a perda de peso das aves de
empenamento normal. Quando as aves são submetidas a estresse
térmico, ocorre um aumento da ofegação para estimular a perda
evaporativa de calor como mecanismo para manter o equilíbrio
térmico do corpo. Esse aumento da ofegação resulta em desidratação
e conseqüente perda de peso (Mazzi, 1998).
Estudos realizados na área de genética tentam desenvolver aves com
melhor adaptabilidade às condições tropicais, ou seja, às condições
de clima quente, visando a melhora dos índices zootécnicos da
criação. A introgressão do gene Naked Neck (Na) em linhagens
comerciais funcionaria então como uma ferramenta para tornar essas
linhagens mais adaptadas às condições tropicais de criação.
Sendo assim, realizou-se um experimento com o intuito de comparar
a resistência ao estresse térmico de duas linhagens, uma portadora
do gene Na e outra não portadora, submetidas à amplitude térmica e
tempo de estresse térmico diferentes.
MATERIAIS E MÉTODOS
No experimento foram utilizadas 40 aves, criadas em aviário
comercial, com temperatura mínima de 21ºC, máxima de 26ºC e
umidade relativa média de 60%, sendo 20 pertencentes à linhagem
portadora do gene Na (pescoço pelado), desenvolvida no Programa
de Melhoramento Genético Avícola do Departamento de Genética da
ESALQ/USP, e 20 aves de linhagem não portadora (nana), de
empenamento normal. Quando as aves atingiram 28 dias de idade,
foram alojadas, sem água e sem alimento, na câmara climática do
NUPEA (Núcleo de Pesquisa em Ambiência), com sede no
Departamento de Engenharia Rural da ESALQ/USP, a qual foi
programada para permanecer a 38ºC na primeira hora, a 40ºC na
segunda hora e a 42ºC na terceira hora. Ao término das 3 horas, as
aves foram retiradas da câmara e alojadas no aviário, à temperatura
ambiente. O mesmo procedimento foi realizado quando as mesmas
aves atingiram 35 e 42 dias de idade.
As aves foram dispostas na câmara em 4 boxes ao acaso, sendo 2
boxes para a linhagem de pescoço pelado e 2 boxes para a linhagem
de empenamento normal, a uma lotação de 10 aves/m2.
As características avaliadas foram: temperatura retal, taxa
respiratória, perda de peso e mortalidade. Cada característica foi
avaliada em temperatura ambiente, no aviário, ao término de cada
hora de estresse na câmara e após uma hora que as aves foram
alojadas no aviário em temperatura ambiente, usando-se 10 aves de
cada linhagem, escolhidas ao acaso.
A perda de peso foi obtida através da diferença entre o peso das aves
no início de cada hora de estresse e o peso das aves ao final de cada
hora. As aves foram pesadas em balança digital convencional, com
precisão de 0,01kg.
Os resultados de temperatura retal foram obtidos introduzindo-se o
sensor de um teletermômetro (Max-Min Thermo Hygro) 3cm na
cloaca das aves.
A taxa respiratória foi obtida através da avaliação visual, levando-se
em consideração o número de vezes em que as aves inspiraram ar
por minuto de tempo.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado
em esquema fatorial 3 x 2 x 3 (3 temperaturas, 2 linhagens e 3
idades) para perda de peso e fatorial 4 x 2 x 3 (4 temperaturas, 2
linhagens e 3 idades) para temperatura retal e taxa respiratória,
sendo 10 repetições por tratamento, considerando cada ave como
uma unidade experimental. Quando necessário, procedeu-se a
comparação de médias pelo teste de Tukey (p<0,01), através do
programa computacional SAS (1985).
A temperatura ambiente TA-1 (24ºC) foi utilizada como padrão para
se avaliar as características medidas antes do período de estresse em
todas as idades. Os dados coletados à temperatura ambiente TA-2
(24ºC), após o período de estresse, foram utilizados para se verificar
a tendência das aves de retornarem às condições iniciais de
temperatura retal e taxa respiratória.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As interações entre os fatores estudados para cada característica,
reveladas pela análise de variância, são apresentadas na Tabela 1.
Houve interação entre os fatores idade, temperatura e linhagem para
todas as características estudadas, exceto entre os fatores idade x
linhagem e linhagem x temperatura para a característica perda de
peso.
Pôde-se constatar que a temperatura retal média da linhagem de
empenamento normal apresentou diferenças significativas em relação
à da linhagem de pescoço pelado, mantendo-se mais elevada em
todas as idades e em todos os períodos de estresse (Tabela 2). O pico
máximo de temperatura retal das aves de empenamento normal foi
de 45,20ºC aos 42 dias, ao final do período de estresse a 42ºC,
enquanto que para as aves da linhagem pescoço pelado foi 44,62ºC,
também aos 42 dias de idade e ao final do período de estresse a
42ºC. Esses resultados mostram que a temperatura de estresse e a
idade influenciaram, em conjunto, a temperatura retal, concordando
com os resultados encontrados por Eberhart & Washburn (1993),
Mazzi (1998) e Yahav et al. (1998). Esses autores também relatam
que a menor temperatura retal apresentada pela linhagem de
pescoço pelado, durante períodos de estresse, é resultante de um
melhor mecanismo de termorregulação da temperatura corporal
apresentado por essas aves.
Houve diferenças significativas para as médias de taxa respiratória
entre as linhagens estudadas, em todas as temperaturas de estresse
e nas idades avaliadas (Tabela 3).
As aves da linhagem com empenamento normal atingiram pico
máximo de taxa respiratória aos 42 dias de idade, à temperatura de
estresse térmico de 42ºC, inspirando 158 vezes por minuto em
média. Já as aves da linhagem de pescoço pelado, nas mesmas
condições, inspiraram, aproximadamente, 139 vezes por minuto, em
média.
Bottje & Harrison (1985) e Furlan et al. (1999) associam o aumento
da taxa respiratória com o resfriamento corporal por evaporação, ou
seja, em situações de hipertermia, as aves aumentam a taxa
respiratória para elevar a evaporação e, conseqüentemente, resfriar
melhor o corpo.
O conjunto temperatura de estresse térmico e idade influenciou a
temperatura retal média, assim como a taxa respiratória média, ou
seja, quanto maior a temperatura de estresse térmico e maior idade,
maior é o número de vezes que a ave inspira ar por minuto.
Na Tabela 4, podem ser observadas as médias de perda de peso (g) e
de perda de peso relativa (%) das 2 linhagens nas 3 temperaturas de
estresse e nas 3 idades avaliadas. Pôde-se constatar que houve
diferença significativa entre as linhagens para as médias de perda de
peso (g), nas 3 temperaturas de estresse, apenas aos 35 dias de
idade. A perda de peso (g) foi significativamente maior aos 42 dias
do que nas idades de 28 e 35 dias, quando considerada apenas o
fator idade. Quando considerada a perda de peso relativa (%), as
aves da linhagem de empenamento normal apresentaram maior
perda (4,98 %) aos 42 dias de idade, enquanto que as aves da
linhagem de pescoço pelado apresentaram maior perda (3,81 %) aos
35 dias de idade. Porém, quando considerada apenas a idade, as
aves não apresentaram perdas de peso relativas (%)
significativamente diferentes aos 35 e 42 dias de idade. As aves da
linhagem de pescoço pelado demonstraram tendência de menores
perdas de peso relativas (%) do que as aves da linhagem de
empenamento normal, nas 3 idades avaliadas, resultado também
verificado por Mazzi (1998).
O comportamento diferenciado de perda de peso das linhagens nas
diferentes idades é, provavelmente, resultante de diferenças
fisiológicas conseqüentes da composição diferenciada (teor de água e
de gordura) que as aves apresentam em função da idade. Mazzi
(1998) relata que a perda de peso em situações de estresse calórico
está associada à desidratação resultante do aumento da taxa
respiratória.
Observou-se que tanto a linhagem de empenamento normal como a
linhagem de pescoço pelado tenderam a retornar aos valores iniciais
de peso, temperatura retal e taxa respiratória após o realojamento à
temperatura ambiente (TA-2), mostrando que em situações de
termoneutralidade as aves não precisam utilizar mecanismos como o
aumento da taxa respiratória para manter a temperatura corporal e,
conseqüentemente, não ocorre a elevação da temperatura retal e a
perda de peso resultante de desidratação.
O índice de mortalidade das linhagens foi zero em todo o período de
estresse e em todas as idades, contrariando os resultados de Mazzi
(1998), que observou mortalidade das aves quando submetidas a
estresse gradativo de 28 a 42ºC, com variação de 2ºC por hora.
Os resultados obtidos com os testes de temperaturas de estresse em
diferentes idades e os resultados existentes na literatura sugerem
que a linhagem de pescoço pelado possui maior adaptabilidade ao
estresse térmico do que a linhagem de empenamento normal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Adams RL, Rogler JC. Effects of environment temperature on protein
requirements and response to energy in slow and fast growing chicks.
Poultry Science 1968; 47(2): 579-586.
[ Links ]
Bottje WG, Harrison PC. The effect of tap water, carbonated water,
sodium bicarbonate, and calcium chloride on blood acid-base balance
in cockerels subjected to heat stress. Poultry Science 1985; 64(1):
107-113.
[ Links ]
Cahaner A, Deeb N, Gutman M. Effects of plumage-reducing naked
neck (Na) gene on the performance of fast growing broilers at normal
and high ambient temperatures. Poultry Science 1993; 72(5): 767775.
[ Links ]
Cahaner A, Leenstra F. Effects of high temperature on growth and
efficiency of male and female broilers from lines selected for high
weight-gain, favorable feed conversion, and high or low fat-content.
Poultry Science 1992; 71(8): 1237-1250.
[ Links ]
Cahaner A, Yunis R, Deeb N. Genetics of feathering and heat
tolerance in broilers. In: Proceedings of the 9th European Poultry
Conference 1994; vol.2. p.6-70.
[ Links ]
Chwalibog A, Eggum BO. Effect of temperature on performance, heatproduction, evaporative heat-loss and body-composition in chickens.
Archive Geflügelkd 1989; 53(1): 179-184.
[ Links ]
Eberhart DE, Washburn KW. Variation in body-temperature response
of naked neck and normally feathered chickens to heat stress. Poultry
Science 1993; 72(8): 1385-1390.
[ Links ]
Furlan RL, Macari M, Moraes VMB. Malheiros RD, Malheiros EB, Secato
ER. Alterações hematológicas e gasométricas em diferentes linhagens
de frangos de corte submetidos ao estresse calórico agudo. Revista
Brasileira de Ciência Avícola 1999; 1(1): 77-84.
[ Links ]
Howlider MAR, Rose SP. Rearing temperature and the meat yield of
broilers. British Poultry Science 1989; 30(1): 61-67.
[ Links ]
Leenstra F, Cahaner A. Effects of low, normal and high temperatures
on slaughter yield of broilers from lines selected for high weight-gain,
favorable feed conversion, and high or low fat content. Poultry
Science 1992; 71(12): 1994-2006.
[ Links ]
Lou ML, Quoi OK, Smoth WK. Effects of Naked Neck gene and feather
growth rate on broilers in two temperatures. In: Proceedings of the
9th World’ s Poultry Congress 1992; vol.2. p.62.
[ Links ]
Mazzi CM. Análise da expressão da proteína de estresse Hsp70 em
frangos de corte portadores do gene "Naked neck" (pescoço pelado)
submetidos a estresse térmico gradativo. [Dissertação]. Jaboticabal
(SP): Universidade Estadual Paulista; 1998.
[ Links ]
Merat P. Potential usefulness of the Na (Naked neck) gene in poultry
production. World’ s Poultry Science Journal 1986; 42(2): 124142.
[ Links ]
Merat P. Pleiotropic and associate effects of major genes. In:
Crawford, R.D. Poultry Breeding and Genetics 1990; p. 429541.
[ Links ]
Osman AMA, Tawfik ES, Klein FW, Hebeler W. Effect of
environmental-temperature on growth, carcass traits and meat
quality of broilers of both sexes and different ages.1. Report-growth.
Archive Geflügelkd 1989; 53(4): 168-175.
[ Links ]
SAS Institute. SAS User guide: Statistics. SAS Institute Inc., Cary,
NC, 1985; p. 956.
[ Links ]
Silva IJO, Silva MAN. Dicas de sucesso: fique por dentro de algumas
medidas simples, voltadas à climatização da produção de frangos,
que podem garantir o sucesso da criação neste verão. Avicultura
Industrial 1998; 88(1059): 46-47.
[ Links ]
Yahav S, Luger D, Cahaner A, Dotan M, Rusal M, Hurwitz S.
Thermoregulation in Naked Neck chickens subjected to different
ambient temperatures. British Poultry Science 1998; 39(1): 133138.
[ Links ]
Yalçin S, Testik A, Ozkan S, Settar P, Çelen F, Cahaner A.
Performance of Naked neck and normal broilers in hot, warm, and
temperate climates. Poultry Science 1997; 76(7): 930937.
[ Links ]