A mídia e a representação social dos Olympians

Transcrição

A mídia e a representação social dos Olympians
A mídia e a representação
social dos Olympians
Nelson Todt | [email protected]
Caio Bagaiolo Contador
Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil
Luis Henrique Rolim
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
0 | Abstract
In modern society sport has been transformed in a spectacle
and in a great potential product to business. Athletes have
influenced different social groups, specially beginning
athletes, non-Olympians and others. The media as a powerful
way of communication may influence the way people receive
and interpret the information that comes from the Olympic
athletes or Olympians. As a consequence, the media have
become a link between society and athletes. The present
research aimed to determine the influence of the media on
the social representation of the Olympians. This was a
qualitative investigation based on interviews with nonOlympian athletes. The data were submitted to ‘Content
Analysis’ and indicated that the media show what is
convenient to them, not taking into account the barriers
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athletes had to remove to be known in the sports world.
We argue that it is important to assume a critical position in
relation to the sports media because the news has showed
what is related to personal and commercial interests instead
of exposing the truth.
1 | Introdução
Os Jogos Olímpicos desde a Antiga Grécia sempre atraíram
o interesse de um expressivo número de espectadores.
Atualmente, esse interesse é visto como potencial de
comercialização e negócio.
O Olimpiônico, atleta vitorioso, foi durante muito tempo
considerado o ideal de homem grego, tido como herói. A ele
era colocada uma importante função social, pois ele não
apenas representava sua pessoa, mas também sua família
e cidade-estado.
A partir de 1896, com a nova era dos Jogos Olímpicos, os atletas
olímpicos ou Olympians são investidos de novos valores. Na
sociedade atual eles apresentam diversos tipos de representação e, muitas vezes, o resultado do esforço, dos grandes
sacrifícios, da disciplina, do empenho nos treinamentos que
fazem dessas pessoas “mercadorias” especiais.
A partir destes pressupostos buscamos identificar diferentes
tipos de representação do Olympian. O objetivo geral do
estudo foi identificar a representação social do Olympian
brasileiro sobre atletas não-olímpicos amadores.
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A técnica de coleta de dados proposta é a de entrevista semiestruturada, organizada a partir da idéia de uma metodologia
de paradigma qualitativo. O número de sujeitos da amostra
foi de 20 atletas não-olímpicos federados em idade anterior
à da categoria adulta de sua modalidade esportiva. Os dados
foram submetidos à Análise de Conteúdo.
2 | Pressupostos teóricos
a. O atleta como herói e/ou mito
Durante muitos anos o esporte vem sendo uma forma de
expressão cultural. Relatos de eventos esportivos podem
ser encontrados em diferentes povos da antiguidade. Os
eventos esportivos da antiguidade celebravam as colheitas,
os deuses, a chegada de um novo ano e outros.
Entretanto, os gregos davam grande importância para a
formação do cidadão através do esporte, eles acreditavam
que o homem perfeito seria aquele que se aproximaria dos
deuses,
sendo
um
ser
equilibrado
mentalmente,
espiritualmente e fisicamente. Rubio (2001) diz que a idéia
de herói no esporte surge na Grécia Antiga, onde o atleta
olímpico era tido como herói.
“Herói é o nome dado por Homero aos
homens que possuem coragem e méritos
superiores, favoritos entre os deuses; para
Hesíodo são filhos da união entre um deus
e uma mortal ou de uma deusa com um
mortal (Rubio, 2001 p. 87)”.
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O Olimpiônico se colocava nessa posição. Para a sociedade
helênica ter um homem na posição de herói tinha um
significado importante, pois esse poderia proteger e
representar sua cidade em qualquer desavença ou conflito.
Nesse caso nota-se que o herói transcende o aspecto físico
do homem comum ao atingir a característica de grandeza
de alma, magnânimo, através de seus feitos extraordinários.
Há também a condição de mito, que surge a partir do
momento em que o herói consegue repetir suas façanhas
heróicas, ele faz o ato heróico se tornar uma realidade
possível com facilidade. Mitos modernos são atletas que
ganham títulos importantes e ultrapassam recordes com
freqüência (Rubio, 2001).
A partir desta condição, a sociedade os tem com freqüência
em sua memória aumentando sua condição de mito, ou seja,
sua representação se torna cada vez mais importante para
ela. Adquirir a condição de herói é mais possível do que a de
mito em virtude dele ser um vencedor olímpico e o mito um
repetidor desses grandes feitos.
b. A representação do Olympian a partir da mídia
Na realização deste trabalho caracterizamos mídia como
diferentes meios de comunicação em massa, sejam estes:
televisão, rádio, jornais, revistas, internet e outros.
Nos dias de hoje a mídia possui um grande poder para
acompanhar e divulgar eventos esportivos, assim como,
situações de vida dos principais personagens deste mundo
esportivo: os atletas.
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O fenômeno da globalização também é conseqüência dos
meios de comunicação. A comunicação aproxima os
indivíduos, as mensagens chegam à população mais
rapidamente e com maior freqüência, exercendo influência
na maneira que o atleta é visto pela sociedade.
Com o fenômeno da globalização e um mundo multisensorial,
a imagem do atleta, por si só, ganha lugar de destaque,
pois a imagem do atleta, existente na mídia, expressa maior
importância do que a descrição verbal ou escrita (Ferreira &
Costa, 2002).
Analisando as idéias acima destacadas, pode-se dizer que
os meios de comunicação utilizam a imagem do atleta gerando
maior influência do que aqueles que não a usam. Conseqüentemente, contratos de patrocínio são realizados muitas
vezes, a partir da imagem corporal do atleta. O mundo dos
negócios utiliza o atleta como um produto de venda.
Pereira (2002) diz que a vida dos atletas passa a ser pública
através dos diferentes meios de comunicação, durante anos
de trajetória esportiva.
Falando sobre a influência da televisão, Ferreira & Costa
(2002) lembram a visão de Eco (1984), que coloca que esta
trabalha com a ficção e a realidade, construindo heróis e
mitos que se tornam verdades. Ela utiliza reportagens de
áudio e vídeo, durante os noticiários e os jornais, para
mostrar o indivíduo à sociedade em canal aberto ou fechado.
A partir desta visão, dizemos que a realidade do mito e do
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herói moderno é relativa, pois utiliza uma visão fictícia e real
do esportista.
“Não há uma fronteira perfeitamente identificável entre a
realidade e a ficção, entre o real e a representação que
dele podemos fazer” (Ferreira & Costa, 2002). Como
conseqüência, as imagens que chegam à sociedade
contribuem para a formação da identidade do atleta, porém
nem sempre esta corresponde à realidade.
c. O Olympian e a sociedade
A sociedade moderna é bombardeada por informações sobre
as diferentes modalidades esportivas, competições e
resultados. É inevitável que o atleta influencie a sociedade
pelos valores e características demonstradas pelos meios
de comunicação. Sendo assim, como afirma Rubio (2001),
não é de se estranhar que justamente este personagem
seja o alvo de projeção de grande parcela da população de
crianças e jovens na atualidade.
Sob a ótica do mundo dos negócios [...] atletas, em suas
mais diferentes atividades, com seus corpos-emblemas,
seduzem e vendem os mais variados produtos. [...] O
resultado do esforço, dos grandes sacrifícios, da disciplina,
dos empenhos nos treinamentos faz, daqueles corpos,
mercadorias premium, alvos de investidores e/ou de
especuladores (Ferreira & Costa, 2002).
Os mesmos autores mencionam ainda que os corpos dos
atletas/estrelas são investidos de novos valores e acabam
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assumindo uma função muito parecida com a devoção que
antes era própria da religião. No entanto isso tem um preço:
se a característica do sagrado é o sacrifício, os mecanismos,
que regulam a sociedade capitalista, impõem àqueles atletas
a idéia de que precisam se sacrificar para galgarem limites
mais altos no sonho/desejo de ultrapassarem a sua condição
de seres humanos, finitos e mortais.
3 | Análise e discussão dos dados
Os resultados apresentados a seguir estão separados por
categorias de análise:
Influência da mídia:
Os resultados indicam que há uma grande influência da mídia
na representação social do Olympian, e que a utilização da
imagem do atleta pela mídia é prioritariamente comercial e
varia de acordo com seus interesses. A mídia pode variar a
maneira de mostrar o atleta olímpico, podendo ajudá-lo de
uma maneira positiva transmitindo seus feitos e façanhas
ou então criticar dificultando sua vida profissional e pessoal.
Imagem – estética:
Pode-se salientar que o atleta masculino apresenta um maior
apelo de imagem, especialmente estética. Esse é um fato
cultural, já que o corpo esbelto e musculoso de atletas é
visto, muitas vezes, como exagerado para mulheres e ideal
para homens. Podemos observar nas respostas das atletas
entrevistadas que seu objetivo não é ficar forte nem
volumosa, pois acreditam que a sociedade não enxerga esse
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tipo de corpo como o ideal para o sexo feminino, deixando
muitas vezes de lado o resultado de suas performances.
Mito e o herói:
Quanto à questão do mito e do herói, é importante ressaltar
que muitos dos entrevistados afirmam identificar-se com
algum Olympian, mas não consideram que esse atleta tenha
que ser, necessariamente, um exemplo para a sociedade.
Os resultados sugerem que os atletas tendem a idealizar
os Olympians que praticam sua mesma modalidade esportiva,
porém isso não é determinante.
Olympian – sociedade:
Ressalta-se, como já referido anteriormente, que os
Olympians, mesmo sendo figuras públicas, não devem
satisfação de seu comportamento pessoal à sociedade.
Outros dados sugerem que o atleta passa a ser mais
representativo socialmente quando se torna um Olympian,
e este, quando obtém resultados significativos influencia a
adesão de novos praticantes ao esporte.
4 | Considerações finais
Considera-se, a partir desses resultados, que desde a era
antiga o Olympian e suas atividades esportivas têm lugar
de destaque na sociedade. Hoje, especialmente pela
influência da mídia, sua imagem torna-se ainda mais
representativa.
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Acreditamos que a mídia mostra aquilo que lhe convém, não
importando as dificuldades que os Olympians enfrentam para
alcançar uma posição de destaque no cenário esportivo.
Assim, é importante assumir uma posição crítica a respeito
da mídia esportiva, pois esta, muitas vezes, está relacionada
a interesses comerciais e pessoais, interpretando a seu
gosto informações já transformadas e codificadas por ela.
5 | Referências
FERREIRA, N.T.; COSTA, V.L.M. O Imaginário dos Atletas
Olímpicos Brasileiros: A Dança de Apolo e Dioniso. In:
TURINI, M.; DACOSTA, L.P. (Eds.). Coletânea de Textos
em Estudos Olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama
Filho, v. 2, p. 281-289, 2002.
PEREIRA, A. D. Depois do Esporte o Trabalho: O Caminho
encontrado por Atletas Brasileiras Profissionais de
Basquetebol após o Encerramento da Carreira Esportiva.
In: TURINI, M.; DACOSTA, L.P. (Eds.). Coletânea de
Textos em Estudos Olímpicos. Rio de Janeiro: Editora
Gama Filho, v. 2, p. 251-252, 2002.
RUBIO, K. O Imaginário Esportivo Contemporâneo: o
Atleta e o Mito do Herói. São Paulo: Editora Casa do
Psicólogo, 2001.
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